Post on 22-Aug-2020
TALISSA REZENDE MARTINS
Controle ultrassonográfico do sistema gastrointesti nal de cavalos
hospitalizados por queixas primárias de claudicação submetidos ou não a
cirurgia ortopédica
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Clínica Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de Mestre em Ciências
Departamento:
Clínica Médica
Área de concentração:
Clínica Veterinária
Orientador:
Profa. Dra. Carla Bargi Belli
São Paulo
2015
Autorizo a reprodução parcial ou total desta obra, para fins acadêmicos, desde que citada a fonte.
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO-NA-PUBLICAÇÃO
(Biblioteca Virginie Buff D’Ápice da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo)
T.3161 Martins, Talissa Rezende FMVZ Controle ultrassonográfico do sistema gastrointestinal de cavalos hospitalizados por
queixas primárias de claudicação submetidos ou não a cirurgia ortopédica / Talissa Rezende Martins. -- 2015.
68 f. : il. Dissertação (Mestrado) - Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia. Departamento de Clínica Médica, São Paulo, 2015.
Programa de Pós-Graduação: Clínica Veterinária. Área de concentração: Clínica Veterinária. Orientador: Profa. Dra. Carla Bargi Belli.
1. Equino. 2. Hospitalização. 3. Cólica. 4. Diagnóstico. 5. Ultrassonografia abdominal. I. Título.
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Autor: MARTINS, Talissa Rezende
Título: Controle ultrassonográfico do sistema gastrointesti nal de cavalos
hospitalizados por queixas primárias de claudicação submetidos ou não
a cirurgia ortopédica
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Clínica Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo para obtenção do titulo de Mestre em Ciência
Data: _____/_____/_____
Banca Examinadora
Prof. Dr._____________________________________________________________
Instituição:__________________________ Julgamento:_______________________
Prof. Dr._____________________________________________________________
Instituição:__________________________ Julgamento:_______________________
Prof. Dr._____________________________________________________________
Instituição:__________________________ Julgamento:_______________________
Dedicatória
Dedico esse trabalho aos meus pais: Marly e Jesuino (in memorian), e a minha irmã
Isabelle. A vocês, uma página inteira.
Agradecimentos
Ao meu pai, que apesar de não ter tido oportunidade de me acompanhar nessa
trajetória, sempre me apoiou em todas as minhas decisões e com quem sempre
compartilhei meus sonhos. À minha mãe, responsável por muito do que sou e do
que serei. A vocês, obrigada por todo amor e dedicação na minha formação. À
minha irmã Isabelle, pelo suporte e apoio nos momentos de maior tensão.
Ao Fefê, por todo amor, cumplicidade, ensinamento e parceria neste período.
Obrigada por me passar um pouco de sua espiritualidade, por me ensinar a superar
as dificuldades e mostrar que o no amor não existem diferenças. Agradeço também
às nossas cachorrinhas Clara, Madona e Tina.
À Elisinha, por todo amor e festa desde o momento que acordo até a minha volta
para casa. Obrigada por me ensinar a amar mais os animais e ter ainda mais
compaixão por eles.
Ao meu tio Wilson pela influência e carinho, e à minha tia Neide pela presença
constante em minha vida.
À Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP pelo acolhimento e
suporte durante esta trajetória.
À minha orientadora Profa Carla Bargi Belli, por ser inúmeras vezes compreensiva e
paciente comigo. Obrigada por sua orientação e por tornar meu período de mestrado
um momento prazeroso do qual sentirei saudades.
Ao Prof. Stefano Hagen, filósofo em todas as suas funções, me proporcionou não só
a orientação, mas também ótimas conversas e amizade.
Ao Prof. Wilson Fernandes, pela doçura e simplicidade com que trata os diversos
assuntos e que tanto nos inspira. Aos professores Luis Claudio, Raquel Baccarin,
Aline Ambrósio, André Zoppa e Rodrigo Romero, por compartilhar seus
conhecimentos e engrandecer meu aprendizado dentro da USP.
Àqueles que fizeram deste parágrafo um dos mais difíceis de confeccionar. Muito
obrigada Dayane Amorim, Maria Letícia Piffer e Paulinho Bogossian por serem
igualmente responsáveis por me proporcionarem memoráveis momentos de
amizade e alegria diária, apenas pelo fato de estarmos juntos. Nunca me esquecerei
de vocês. À Mônica Lente, por estar sempre presente, principalmente nos momentos
de maior dificuldade. Muito obrigada por sua amizade e pela representação que tem
em minha vida. À Joice Fülber pela amizade e companheirismo nessa trajetória; à
Juliana Junqueira pelos momentos de alegria e pela epígrafe.
Aos amigos Ayrton, Guilherme Fernandes, Tiago Oliveira e Fernanda Maschietto por
trazerem mais leveza e alegria neste desfecho na USP. Um agradecimento especial
à Fê, pela amizade, disponibilidade eterna e enorme ajuda que me deu.
Aos amigos e pós-graduandos Cristina Mantovani, Daniela Pereira, Dacio Castro,
Felipe Andrade, Leonardo Castro, Marilene Silva, Fernanda Stievani, Julio Spagnolo,
Kaio Bezerra, pela amizade e por compartilharem momentos memoráveis. Aos
amigos Camila Freitas, Renata Gomes, Kamila Reis e Ronaldo Gargano por me
proporcionarem momento de descontração enquanto eu finalizava este trabalho.
A todos os residentes e funcionários do HOVET-USP, em especial os amigos
Marcos Roberto e Cícero, por tornarem possível o impossível. Muito obrigada pela
amizade, disponibilidade, conversas e por permitirem contar sempre com vocês.
À querida Elza Faquim, quem normalizou e formatou esse trabalho com muito
carinho e paciência.
Aos amigos que não estiveram presente fisicamente, mas cuja amizade se fez
presente a todo momento: Beatriz Monteiro, Raffaella Teixeira, Juliana Campos,
Fernanda Abreu e César.
Aos “amigos da Itapemirim”: as famílias Hoover, Menna Barreto, Barbosa, Gomes e
Koury.
Às amigas do crossfit Anie, Camila, Daniela, Gabriela, Juliana, Mariana, Rafaela,
Rana, Valéria por toda energia e momentos de descontração.
À FAPESP pela ajuda financeira e apoio a essa pesquisa, na forma de bolsa de
Mestrado (2013/03206-9).
Por fim, a todos os cavalos que participaram deste trabalho. Obrigada pela paciência
e por suportarem o álcool gelado em dias frios.
“(...) A verdadeira viagem não está em sair à procura
de novas paisagens, mas em possuir novos olhos”
(Juliana Junqueira)
RESUMO
MARTINS, T. R. Controle ultrassonográfico do sistema gastrointest inal de cavalos hospitalizados por queixas primárias de cla udicação submetidos ou não a cirurgia ortopédica. [Ultrasonographic control of the gastrointestinal system of hospitalized horses with primary complaints of lameness undergoing or not orthopedic surgery]. 2015. 68 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
Dada sua complexidade e abrangência de fatores de risco, a síndrome cólica em
equinos é vista como um desafio na medicina veterinária devido ao efeito grave que
ela pode causar nos animais acometidos. Portanto, é vital identificar os casos que
necessitam de interferência cirúrgica. A ultrassonografia abdominal tem se mostrado
ser uma ferramenta de grande valia dentre os diversos métodos que auxiliam o
veterinário a encontrar um diagnóstico no paciente com cólica. Tal síndrome é
conhecida como uma complicação da internação, principalmente em animais com
queixas no sistem locomotor. Nesse contexto, estão envolvidos o transporte,
mudança de alimentação e de manejo, jejum, estresse, anestesia, sedação e
restrição de exercício físico, que têm uma alta relação com a cólica. A coisa mais
importante para o veterinário é reagir corretamente à complicação para evitar
prejuízos futuros ao animal e ao proprietário. O presente estudo foi motivado pela
alta ocorrência de cólica em animais internados em hospitais veterinários, e visou o
acompanhamento ultrassonográfico do sistema gastrointestinal de cavalos
internados por queixas primárias de afecção no sistema locomotor submetido ou não
à atroscopia, a fim de avaliar essa farramenta como indicador precoce da síndrome
cólica. Dessa forma, os animais foram divididos em dois grupos. O grupo 1
restringiu-se a animais internados para realização de artroscopia; o grupo 2,
compreendeu os animais internados com queixas de claudicação grau II ou III. A
ultrassonografia abdominal foi feita diariamente desde a entrada do animal ao
Hospital Veterinário da USP (HOVET/USP) até o quinto dia de internação. O grupo 1
teve avaliação pré e pós-operatória para avaliação do efeito cirúrgico sobre o
sistema gastrointestinal. Os resultados mostraram uma ocorrência maior de cólica
em animais submetidos à cirurgia, principalmente entre o segundo e terceiro dia pós-
operatório, e uma diminuição da motilidade de cólon maior e menor. Não foi
observado mudanças significativas em espessura de parede de todas as alças
avaliadas. A ultrassonografia não foi um indicador precoce da ocorrência de cólica,
no entanto ela pôde confirmar sua origem gastrointestinal.
Palavras-chave: Equino. Hospitalização. Cólica. Diagnóstico. Ultrassonografia
abdominal.
ABSTRACT
MARTINS, T. R. Ultrasonographic control of the gastrointestinal s ystem of hospitalized horses with primary complaints of lame ness undergoing or not orthopedic surgery. [Controle ultrassonográfico do sistema gastrointestinal de cavalos hospitalizados por queixas primárias de claudicação submetidos ou não a cirurgia ortopédica]. 2015. 68 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
Colic in horses presents a challenge in veterinary medicine because of its complexity,
wide variety of risk factors and the serious outcome for affected animals. Colic can
occur as a complication of hospitalization with increased risk in orthopedic patients,
usually undergoing general anesthesia. Abdominal ultrasound has proven to be a
valuable tool among the various methods that help the veterinarian to find a
diagnosis in patients with colic, but the use of abdominal ultrasound for prediction or
early detection of colic has not yet been fully explored. This study used serial
sonographic examinations in horses hospitalized for orthopedic conditions, submitted
and not submitted to arthroscopy in order to evaluate it as a tool for early detection of
colic. 40 horses were divided into two groups of 20 animals. Group 1 consisted of
horses admitted to the hospital for surgical management under general anesthesia.
Group 2 comprised horses admitted to the hospital for medically managed orthopedic
cases. Group 1 consisted of horses admitted to the hospital for surgical management
under general anesthesia. Group 2 comprised horses admitted to the hospital for
medically managed orthopedic cases. Group 1 consisted of horses admitted to the
hospital for orthopedic surgery. Group 2 comprised horses admitted to the hospital
for medically managed orthopedic cases. Abdominal ultrasonography was performed
daily from admission to fifth day of hospitalization. Group 1 animals also had pre- and
post-operative ultrasonographic evaluation to assess the effect of surgery on the
gastrointestinal system. Ultrasonography was not successful at early detection of
colic in any animal. The results also showed a higher incidence of colic in animals
undergoing surgery (with no statistical difference), particularly on the second or third
day postoperative, as well as a reduction in both large and small colon motility in
animals undergoing surgery. No significant changes in wall thickness of the
evaluated loops were observed. In conclusion, ultrasonographic examination could
not successfully predict colic but was useful for confirmation of gastrointestinal
originof clinical symptoms during the examination of affected animals.
Keywords: Equine. Hospitalization. Colic. Diagnosis. Abdominal ultrasound.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Janela Nefroesplênica em animal do grupo 2 ...................................... 36
Figura 2 - Cólon menor em animal do grupo 2 .................................................. ...36
Figura 3 - Janela estômago em animal do grupo 2 .............................................. 36
Figura 4 - Intestino delgado em região ventral em animal do grupo ..................... 36
Figura 5 - Saculações em cólon ventral esquerdo em animal do grupo 2 ............ 37
Figura 6 - Janela renal em animal do grupo 1 ..................................................... .37
Figura 7 - Janela duodeno em animal do grupo 2 ............................................... .37
Figura 8 - Veia e artéria cecal lateral em animal do grupo 1 ............................... .38
Figura 9 - Saculação em cólon ventral direito em animal do grupo 1 .................. .38
Figura 10 - Região ventral com alças de intestino delgado distendidas em
animal com cólica do grupo 2 .............................................................. .43
Figura 11 - Flanco direito com alças de intestino delgado distendidas em
animal com cólica do grupo 2 ............................................................... 43
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Comparação entre os grupos para o uso de anti-inflamatório não
esteroidal (AINE) no dia da chegada do cavalo ao local do
estudo .................................................................................................. 45
Tabela 2 - Descrição dos valores de saculação, em centímetros, entre os
grupos no dia da chegada do cavalo ao local do estudo...................... 45
Tabela 3 - Descrição das espessuras, em centímetros, entre os grupos no
dia da chegada do cavalo ao local do estudo ...................................... 47
Tabela 4 - Comparação entre os grupos segundo motilidade em cólon
menor em momento pós-operatório (D1) do grupo 1 com D1 do
grupo 2 ................................................................................................. 47
Tabela 5 - Comparação entre grupos segundo presença de ID em janela de
cólon menor em momento pós-operatório (D1) do grupo 1 com
D1 do grupo 2 ...................................................................................... 48
Tabela 6 - Comparação entre grupos segundo presença de ID em região
ventral em momento pós-operatório (D1) do grupo 1 com D1 do
grupo 2 ................................................................................................. 48
Tabela 7 - Avaliação da motilidade do cólon ventral direito entre D0 e D1 no
grupo 1 ................................................................................................. 49
Tabela 8 - Avaliação entre D0 e D1 para presença de ID em região ventral,
no grupo 1 ............................................................................................ 49
Tabela 9 - Avaliação entre os dias D1 e D5 para motilidade de cólon
menor, no grupo 1 ................................................................................ 50
Tabela 10 - Avaliação entre os dias D1 e D5 para visibilidade da janela do
estômago no grupo 2 ........................................................................... 53
Tabela 11- Avaliação entre os dias D1 e D5 para distensão mínima de
duodeno no grupo 2 ............................................................................. 53
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Distribuição ao longo do tempo entre os grupos para uso de
analgésicos ............................................................................................ 44
Gráfico 2 - Distribuição ao longo do tempo entre os grupos para presença de
intestino delgado (ID) em região ventral ................................................. 50
Gráfico 3 - Distribuição da motilidade do cólon menor por dia e grupo .................... 51
Gráfico 4 - Motilidade de cólon ventral direito nos momentos D0 a D5 nos
grupos 1 e 2 ........................................................................................... 52
Gráfico 5 - Motilidade de cólon ventral esquerdo nos momentos D0 a D5 nos
grupos 1 e 2 ........................................................................................... 52
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Informações dos animais avaliados no grupo 1 ..................................... 39
Quadro 2 - Informações dos animais avaliados no grupo 2 ..................................... 40
Quadro 3 - Informações sobre os animais que apresentaram síndrome cólica
durante a internação .............................................................................. 41
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 19
2 REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................. 20
2.1 CÓLICA ............................................................................................................... 20
2.2 OCORRÊNCIA E FATORES PREDISPONENTES ............................................. 21
2.3 INTERNAÇÃO E ANESTESIA ............................................................................ 23
2.4 DIAGNÓSTICO ................................................................................................... 24
2.5 ULTRASSONOGRAFIA ABDOMINAL ................................................................ 25
2.6 PREVENÇÃO/ DETECÇÃO PRECOCE ............................................................. 26
3 OBJETIVOS ....................................................................................................... 29
4 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................... 30
4.1 PROTOCOLO ANESTÉSICO ............................................................................. 31
4.2 TRATAMENTO MEDICAMENTOSO .................................................................. 31
4.3 DIETA ................................................................................................................. 32
4.4 EXAME ULTRASSONOGRÁFICO ..................................................................... 32
4.5 ANÁLISE DOS RESULTADOS ........................................................................... 35
5 RESULTADOS ................................................................................................... 39
5.1 OCORRÊNCIA DE CÓLICA ............................................................................... 41
5.2 COMPARAÇÃO ENTRE OS GRUPOS NO MOMENTO D-ENTRADA
(GRUPO 1) E D1 (GRUPO 2) ............................................................................. 45
5.3 COMPARAÇÃO ENTRE OS GRUPOS NO MOMENTO D1 ............................... 47
5.4 COMPARAÇÃO ENTRE OS GRUPOS NO MOMENTO D1 E D5 ...................... 50
6 DISCUSSÃO ....................................................................................................... 54
7 CONCLUSÕES ................................................................................................... 61
REFERÊNCIAS .................................................................................................. 62
19
1 INTRODUÇÃO
O cavalo, em sua história, é um animal de vida selvagem. Sua evolução e luta
pela sobrevivência permitiu adaptações para se tornar rápido e, assim, fugir dos
predadores. Aos poucos, o homem passou a domesticá-lo e usá-lo para transporte,
trabalho e mesmo alimento, passando a ter, nos tempos atuais, maior valor
econômico. Com isso, muitos desses animais deixaram sua vida livre para viverem
estabulados nas diversas propriedades do mundo. Dentre as consequências dessa
mudança imposta vieram algumas disfunções do trato gastrointestinal.
A síndrome cólica é uma das principais causas de morte em cavalos, e o
prejuízo econômico é altamente significativo, principalmente quando requer
intervenção cirúrgica. Tendo isso em vista, os médicos veterinários têm se
aprofundado cada vez mais na prevenção e precisão do diagnóstico para assim
escolher a melhor decisão para o animal. A ultrassonografia abdominal nos equinos
é uma ferramenta diagnóstica de rápido acesso e que tem mostrado ser essencial
para a formulação de um diagnóstico correto, de um prognóstico e de escolha do
tratamento mais adequado (LE JEUNE; WHITCOMB, 2014).
O conhecimento do histórico e fatores de risco também são de suma
importância para definir o diagnóstico. A internação de equinos é um fator que
engloba outros causadores de cólica, como o transporte, mudança de manejo,
anestesia, restrição de exercício, estresse, sedação e jejum (PATIPA, 2012). Esses
ítens, separados ou em conjunto, podem desencadear disfunção do trato
gastroinstestinal nesse grupo de animais, resultando em dor. Dentre os diversos
tipos de causas de hospitalização, as que têm mostrado mais relação com o
desenvolvimento de tais complicações são as relacionadas com queixas primárias
do sistema locomotor, principalmente nos equinos que passam por período pós-
operatório de cirurgia ortopédica, (MIRCICA et al., 2003; SENIOR et al., 2004;
ANDERSEN et al., 2006).
Hipotetizou-se, no presente estudo, que o exame ultrassonográfico abdominal
diário em equinos hospitalizados pode indicar precocemente o animal que
apresentará síndrome cólica.
20
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 CÓLICA
As doenças agudas do abdômen em equinos, associadas a manifestações de
dor, são comumente chamados de cólica (TINKER et al., 1997a). Lesões associadas
com cólica foram anatômica e funcionalmente classificadas como obstrução,
estrangulamento, infarto não estrangulante, enterite, peritonite, ulceração ou ileus
(WHITE, 1990). A síndrome cólica é definida principalmente pela dor abdominal
aguda e pode ocorrer devido a muitos fatores, sendo relatada como a causa de
maior mortalidade entre os cavalos (TINKER et al., 1997a).
A porcentagem de casos fatais pode variar muito entre países, dependendo
assim da variabilidade de cuidados veterinários e da atitude dos proprietários em
relação ao sofrimento dos animais e à eutanásia (CHRISTOPHERSEN et al., 2014).
A lesão específica para muitos casos de cólica é desconhecida, seja porque a
cirurgia ou necropsia não foram executadas, ou porque as manifestações não eram
definitivas o suficiente para se fazer um diagnóstico específico ou mesmo para
identificar o segmento afetado do intestino (TINKER et al., 1997a). Estes casos de
cólica inespecíficos sem diagnóstico são frequentemente referidos como médica,
espasmódica, gasosa, ou cólica leve, podendo também ser atribuídas a parasitas
(PARRY, 1983).
Embora a maioria dos casos as cólica sejam leves e se recuperem
espontaneamente ou após tratamento clínico, é vital identificar aqueles animais que
podem exigir cirurgia, se essa é uma opção para o proprietário (ARCHER, 2004).
Para esses pacientes, a identificação precoce e o encaminhamento a um hospital
veterinário são fundamentais para obter um bom resultado (COOK; HASSEL, 2014).
Nesse contexto, o médico veterinário deve avaliar cuidadosamente o cavalo na
primeira visita e analisar devidamente os resultados e oferecer opções de tratamento
(COOK; HASSEL, 2014). Essa análise inclui a obtenção apropriada do histórico do
paciente, manifestações clínicas, um exame físico completo, incluindo palpação
transretal e intubação nasogástrica, e realização de testes de diagnóstico e
procedimentos adequados (FREEMAN, 2015). Essas informações irão fornecer a
21
direção a ser tomada em relação ao tratamento e ao prognóstico (ARCHER;
PROUDMAN, 2006). Prognosticar a sobrevivência em cavalos com cólica é um
desafio devido ao número de doenças e processos fisiopatológicos que podem
causar a síndrome cólica. Portanto, um prognóstico preciso é fundamental para as
decisões necessárias para a gestão de processos (DUKTI; WHITE, 2009).
2.2 OCORRÊNCIA E FATORES PREDISPONENTES
A cólica é uma das doenças mais prevalentes e desafiadoras enfrentados por
veterinários de equinos. Tem sido relatado o número anual de casos de cólica de 4 a
10 casos a cada 100 cavalos (KANEENE; ROSS; MILLER, 1997; TINKER et al.,
1997b). Índices maiores podem ser ocasionalmente encontrados em certas
instalações e populações, o que idealmente deveria levar a uma aplicação de
medidas preventivas baseadas em estudos epidemiológicos para um melhor controle
do problema (DURHAM, 2010).
Em um estudo retrospectivo sobre a avaliação de causas de morte em
cavalos franceses, 21% do total das mortes era devido a cólica (LEBLOND et al.,
2000). Outra pesquisa realizada em diversas fazendas dos estados de Virginia e
Maryland, nos Estados Unidos, obteve 28% de mortes causadas por cólica,
superando todas as outras causas (TINKER et al., 1997a). Os autores deste último
trabalho ressaltam, ainda, que animais em treinamento ou de exposição obtiveram
taxa de mortalidade estatisticamente maior do que os animais criados como pet ou
aposentados.
Existem poucos estudos epidemiológicos da ocorrência de cólica no Brasil.
Um estudo realizado por Laranjeira et al. (2009) sobre o perfil e distribuição de cólica
em equinos em três unidades militares do Estado do Rio de Janeiro, mostrou uma
incidência que variou de 0,12 a 0,95 casos/equino/ano, e atribuiram essa diferença
percentual às diferentes condições de manejo entre as bases militares.
Muitas causas e fatores de risco estão associados com o abdômen agudo
(MEHDI; MOHAMMAD, 2006) e a identificação desses fatores poderá viabilizar
estratégias de prevenção das doenças a serem desenvolvidas (ARCHER;
PROUDMAN, 2006). Por isso, um histórico completo e a consideração dos sinais e
22
comportamento do paciente fornecem informações fundamentais e úteis para ajudar
a identificar a causa específica da cólica. Este conhecimento pode levar a um
encaminhamento mais acelerado de cavalos com condições cirúrgicas e
provavelmente a um melhor resultado (COOK; HASSEL, 2014).
Alguns fatores tem sido reconhecidos por aumentar a chance de ocorrência
de cólica, como: mudanças repentinas na dieta (COHEN; GIBBS; WOODS, 1999),
dieta rica em concentrados (TINKER et al., 1997b), acesso restrito à água (REEVES;
SALMAN; SMITH, 1996; KANEENE et al., 1997), controle pobre de parasitas
(UHLINGER, 1990), restrição de exercício físico (COHEN; GIBBS; WOODS, 1999),
transporte (WHITE, 1997) e internação (PATIPA et al., 2012). Outros fatores como
acesso insuficiente a pasto (SCANTLEBURY et al., 2014) e fatores comportamentais
e de temperamento também tem sido reportados (HILLYER et al., 2002; ARCHER et
al., 2004; NADEAU; ANDREWS, 2009).
Em estudo epidemiológico da síndrome cólica em animais de vaquejada, Dias
et al. (2013) encontraram que a probabilidade de um animal apresentar cólica
durante esse tipo de prova foi de 0,6%. No entanto, este mesmo estudo revela razão
de chance de 2,1 para o aparecimento do desconforto naqueles animais que
apresentaram problemas locomotores, sendo que esta razão passou para 3,4
quando tais problemas ocorreram até 120 dias antes do episódio da cólica.
Segundo Senior et al. (2004), a prevalência de cólica ainda não foi
determinada em animais hospitalizados ou em cavalos submetidos à cirurgia. No
entanto, Tinker et al. (1997b) estimaram que a prevalência de cólica pós-anestésica
de cirurgias ortopédicas foi consideravelmente maior do que a prevalência de cólicas
iniciadas nas propriedades e sugerem que a internação e/ou a cirurgia aumentam a
probabilidade de cólica. Nesse mesmo estudo, os autores sugerem que o tipo e as
mudanças na dieta são importantes fatores de risco para cólica em uma população
de cavalos em uma fazenda. Hillyer et al. (2002) indicaram que o comportamento
dentro da baia, mudança recente na rotina de exercícios, claudicação e demais
problemas ortopédicos dentro do período de um mês, mais de 19 horas por dia de
confinamento em baia nas últimas quatro semanas, mudança recente de habitação e
aumento do consumo de concentrado nos últimos 7-14 dias estão correlacionados
com um risco mais elevado de cólica por distensão e obstrução simples.
23
2.3 INTERNAÇÃO E ANESTESIA
A cólica desenvolvida durante a internação em animais hospitalizados por
outras razões e, principalmente, em animais após cirurgias ortopédicas têm
preocupado alguns autores (SENIOR et al., 2004). A mudança de manejo, de
exercício, dieta, estabulação e transporte recente são apontados como principais
causas predisponentes em animais hospitalizados (PATIPA et al., 2012).
Da mesma forma, estudos descrevem sua prevalência e fatores de risco em
cavalos que desenvolvem síndrome cólica no período pós-operatório de cirurgias
não-abdominais (LITTLE; REDDING; BLIKSLAGER, 2001; MIRCICA et al., 2003;
ANDERSEN et al., 2006), e mostram que as manifestações de cólica pós-operatória
aparecem em até 72 horas após a recuperação anestésica (MIRCICA et al., 2003;
SENIOR et al., 2004, 2006).
Alguns estudos demonstraram que os alfa-2 agonistas inibem a motilidade do
intestino grosso (DAUNT; STEFFEY, 2002). Drogas anti-inflamatórias não-
esteroidais inibitórias seletivas de COX-2 mostraram ter efeito inibitório in vitro
predominante na contratilidade do intestino grosso dos equinos (VAN HOOGMOED;
SNYDER; HARMON, 2002). Da mesma forma, a fenilbutazona (inibidor não-seletivo
da COX) tem mostrado relação com úlceras ou colite (MCCONNICO et al., 2008). O
uso de opióides também tem sido relato como fator de risco para o desenvolvimento
de cólica (SENIOR et al., 2004; GOZALO-MARCILLA et al., 2013). No entanto,
Andersen et al. (2006) encontraram que a administração de morfina em período
perianestésico não foi associada ao aumento do risco de cólica; todavia, alegam a
necessidade de um estudo multicêntrico colaborativo para garantir os achados deste
estudo.
É muito comum identificar a compactação do ceco em cavalos que foram
hospitalizados por doenças não relacionadas ao trato gastrointestinal,
predominantemente em conjunto com as anormalidades musculoesqueléticas
(PLUMMER et al., 2007). Sua maior complicação é a progressão para ruptura, o que
coloca em risco a vida do animal (SMITH et al., 2010). Um estudo realizado por
Patipa et al. (2012) mostrou que 21,4% dos cavalos hospitalizados por doenças
oculares apresentaram síndrome cólica, sendo que desses, 13,9% dos casos era
devido a compactação de ceco. Tabar e Cruz (2009) relataram que de sete potros
24
que apresentaram ruptura de ceco, seis haviam sido submetidos a anestesia geral e
cinco a procedimentos ortopédicos. Esses autores ressaltam ainda que potros
submetidos a anestesia geral deveriam ser monitorados constantemente para
qualquer manifestação de cólica, principalmente após cirurgia ortopédica.
O íleo paralítico pós-operatório também é uma importante causa de cólica
pós-cirúrgica em equinos (HACKETT; HASSEL, 2008), no entanto sua causa exata
ainda não está totalmente esclarecida (KLOHNEN, 2009). Em estudo realizado por
Klohnen (2012) a imagem ultrassonográfica do ileus intestinal foi definida como o
segmento do intestino que possui diminuição de contração e motilidade, e presença
de múltiplas alças distendidas. Ainda nesse mesmo estudo, conclui-se que a
ultrassonografia abdominal parece ter maior precisão na detecção e diagnóstico de
ileus pós-operatório quando comparado ao refluxo obtido por via nasogástrica.
Existem poucos trabalhos relatando a compactação de cólon maior como
complicação de cirurgia ortopédica. Senior et al. (2004) relataram 3 casos de
compactação de cólon maior em 14 animais que desenvolveram cólica pós-
operatória de cirurgia ortopédica. Em outro estudo, 19 dos 147 cavalos com
compactação do cólon maior haviam sido submetidos à anestesia geral e artroscopia
antes de desenvolverem a compactação (DABAREINER; WHITE, 1995).
2.4 DIAGNÓSTICO
A avaliação para determinar a necessidade de tratamento médico ou cirúrgico
é baseada em parâmetros clínicos básicos determinados pelo histórico, exame físico
completo incluindo palpação transretal e intubação nasogástrica, realização de
testes de diagnóstico, procedimentos adequados ao caso e alguns exames
complementares (SINGER; SMITH, 2002), como a hematologia e bioquímica sérica
(ARCHER, 2004; PROUDMAN et al., 2006), radiografia abdominal (KELLEHER et
al., 2014) e ultrassonografia abdominal (FREEMAN, 2002a; SCHARNER et al., 2002;
REEF; WHITTIER; ALLAM, 2005). Uma anormalidade em qualquer um dos
parâmetros ou testes pode fornecer uma justificativa legítima para um tratamento
clínico ou para uma laparotomia exploratória; no entanto, uma combinação de
anormalidades fornece evidência mais forte (COOK; HASSEL, 2014).
25
Dentre os diversos métodos diagnósticos, a ultrassonografia abdominal tem
se destacado pelo seu uso cada vez mais presente na rotina (LE JEUNE;
WHITCOMB, 2014).
2.5 ULTRASSONOGRAFIA ABDOMINAL
A ultrassonografia abdominal tornou-se uma técnica de diagnóstico muito
comum na prática equina, utilizada principalmente para avaliar o trato reprodutivo de
éguas (SLOVIS, 2009), sendo também muito bem aplicada na detecção de
enfermidades não-abdominais (HEWETSON, 2006). Esse método diagnóstico
revolucionou a capacidade do médico veterinário para detectar a doença
gastrointestinal nos últimos 15 anos e está se tornando uma parte essencial dos
exames de cólica, mesmo no campo (COOK; HASSEL, 2014). É muito útil em
situações que necessitam ou não de intervenção cirúrgica (HART; SOUTHWOOD,
2010), sendo também utilizada para formulação de um prognóstico e para monitorar
respostas a um determinado tratamento (REEF, 2003). As limitações dessa técnica
em equinos incluem o tamanho e a profundidade abdominal, uma restrição parcial
de acesso devido à presença das costelas e o grau de distensão que acorre devido
a grande presença de gás formado na região (REEF, 1998; SCHARNER et al.,
2002).
Existem na literatura muitos relatos do uso do exame ultrassonográfico como
auxiliar no diagnóstico de abdômen agudo. Essa técnica permite a visualização do
trato gastrointestinal, incluindo alterações de espessura da parede gástrica e
intestinal (KIHURANI et al., 2009), estimativa do volume do fluido gástrico (LORES et
al., 2007), caracterização do conteúdo luminal, visualização da presença de areia em
alças intestinais (KOROLAINEN; RUOHONIEMI, 2002), enterite (BARTON, 2005),
deslocamento de alças (GRENAGER; DURHAM, 2011), encarceramento nefro-
esplênico (SANTSCHI; SLONE; FRANK, 1993; REEF, 2003), vôlvulo (NESS et al.,
2012), intussuscepções (FONTAINE-RODGERSON; RODGERSON, 2001),
compactações (REEF, 2003), enfermidades do intestino delgado(ID) (SCHARNER et
al., 2002) e característica do líquido peritoneal (FREEMAN, 2002). Demonstrou-se
26
também a boa utilização da ultrassonografia como guia para detecção e obtenção de
uma quantidade diagnóstica de líquido peritoneal (BECCATI et al., 2011).
A visualização da compactação de ceco ou cólon é facilitada quando há
presença de distensão proximal à área compactada, o que resulta em certo
isolamento da área a qual se pretende observar. A compactação pode ser
observada quando a porção compactada está adjacente à parede abdominal ou
quando há fluído interposto entre esta porção e a parede abdominal (REEF, 2003).
Recentemente, o equipamento também se tornou menos caro, e oferece uma maior
versatilidade, principalmente através do uso de vários tipos de transdutores (REEF,
1998). A frequência do transdutor determina a profundidade em que o ponto focal da
imagem pode ser obtida. Portanto, um transdutor de 5 MHz permite a visualização
de estruturas a uma distância de 12 cm da superfície da pele, enquanto o de 3,5
MHz permite a visualização de estruturas a um raio de 25-30 cm de profundidade da
superfície da pele. Alguns transdutores oferecer a possibilidade de utilizar múltiplas
frequências (SLOVIS, 2009).
Busoni et al. (2011) determinaram um protocolo de exame ultrassonográfico
abdominal rápido para atendimento de abdômen agudo, onde a média de tempo do
exame completo foi de 10,7 minutos. Esse protocolo foi executado por clínicos que
não possuíam vasta experiência na técnica, concluindo que esses profissionais
também podem realizar o procedimento. Freeman (2003) relata que a
ultrassonografia transcutânea deve ser realizada em todos os aspectos da parede
abdominal externa, envolvendo o espaço delimitado pelo processo xifóide do esterno
ao púbis, ventralmente, e ao longo dos dois flancos, das margens dos pulmões à
extensão caudal da fossa paralombar.
2.6 PREVENÇÃO/ DETECÇÃO PRECOCE
Poucos são os estudos envolvendo a detecção precoce da síndrome cólica
em equinos. Sabe-se, no entanto, que a observação comportamental e de
alterações no apetite são de suma importância no momento de se obter o histórico
do animal (COOK; HASSEL, 2014).
27
A concentração de lactato no sangue na admissão hospitalar provou ser um
indicador útil da gravidade da doença, mas medições feitas em um único momento
normalmente não conseguem discriminar completamente sobreviventes dos não-
sobreviventes (TENNENT-BROWN, 2014). O lactato do líquido peritoneal é um
melhor preditor de isquemia secundária à obstrução estrangulativa do que o lactato
no sangue e pode ajudar na detecção precoce de lesões muito graves, como
estrangulamento intestinal e ruptura (LATSON et al., 2005). Outro estudo recente
correlaciona o mau prognóstico à elevação do cortisol sérico, mas apontam ainda
que mais estudos são necessários para evitar erros de interpretação (MAIR;
SHERLOCK; BODEN, 2014).
Outro estudo, o qual procurou associar a microbiota fecal e a cólica pós-parto
em éguas, mostrou que numerosas diferenças na microbiota fecal precediam a
cólica, como a associação entre as Firmicutes e as Proteobacterias com o
desenvolvimento de tal desconforto, podendo levar a medidas preventivas para
prever e/ou evitar a síndrome cólica (WEESE et al., 2014 no prelo)1.
Mesmo com o grande desenvolvimento da ultrassonografia abdominal em
equinos, ainda faltam estudos sobre a padronização dos protocolos utilizados, sobre
a interferência dessa avaliação para o estabelecimento do tratamento e do
prognóstico. Além disso, praticamente não há estudos sobre a utilização da
ultrassonografia abdominal como acompanhamento para detecção precoce dos
casos de síndrome cólica em ambiente hospitalar.
Também existe pouca informação na literatura sobre a prevalência e fatores
de risco associados a cólica adquirida em ambiente hospitalar (seja ela pós-cirúrgica
ou não), e uma necessidade clara de uma pesquisa sobre o desenvolvimento de
cólica em cavalos com queixas que inicialmente não envolvem o trato
gastrointestinal. Mesmo em nossa realidade, sabemos que o problema ocorre, mas
não sua magnitude e muito menos a importância de outros meios para a
identificação precoce do problema. Não são raras as vezes em que a evolução inicial
pode passar desapercebida no exame rotineiro, principalmente nos casos de
compactação de ceco.
1 WEESE, J. S.; HOLCOMBE, S. J.; EMBERTSON, R. M.; KURTZ, K. A.; ROESSNER, H. A.; JALALI, M.; WISMER, S. E. Changes in the faecal microbiota of mares precede the development of post partum colic. Equine Veterinary Journal , 2014. (No prelo).
28
Tem sido observado pelos veterinários do setor de cirurgia de equinos do
HOVET – USP (comunicação pessoal)2 uma ocorrência preocupante de cólicas pós-
operatórias em cirurgias no aparelho locomotor, levando esses animais, em alguns
casos, a uma laparotomia exploratória. A importância do estudo aqui proposto é
tentar identificar precocemente mudanças ultrassonográficas no trato gastrointestinal
de cavalos atendidos por problemas locomotores, e fazer um paralelo entre casos
pós-operatórios de cirurgias ortopédicas e casos clínicos de problemas no aparelho
locomotor, deixando como questão principal a relevância de um controle mais
acentuado nos cavalos com queixa primária de claudicação.
2 Comunicação com professor Dr. André Zoppa em janeiro/2013. São Paulo, SP.
29
3 OBJETIVOS
- Avaliar ultrassonograficamente o trato gastrointestinal de equinos
hospitalizados por alterações locomotoras, submetidos ou não a
procedimento cirúrgico;
- Identificar a utilidade da ultrassonografia como indicador precoce da
evolução de síndrome cólica nesses animais.
30
4 MATERIAL E MÉTODOS
Foram avaliados 40 equinos adultos, sem restrições de raça ou sexo, sem
histórico de abdômen agudo nos 12 meses antecedentes à entrada no Hospital
Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de
São Paulo (HOVET FMVZ–USP), encaminhados ao mesmo com queixa de alteração
locomotora para tratamento clínico e apresentando claudicação grau II ou III, e
aqueles encaminhados para artroscopia, e que permaneceram internados por pelo
menos cinco dias. Esses animais foram divididos em 2 grupos:
Grupo 1 (20 animais): equinos submetidos à artroscopia para correção de alteração
primária.
Grupo 2 (20 animais): equinos internados para tratamento clínico de claudicação.
Foram excluídos desses grupos aqueles cavalos que permaneceram em
decúbito devido a dor.
Além de toda a avaliação da causa primária e do acompanhamento de rotina
em casos de internação, todos os animais passaram por avaliação ultrassonográfica
abdominal diária.
A nomeação dos momentos de avaliação para o Grupo 1 foi D-entrada, D0,
D1, D2, D3, D4 e D5, sendo que o D0 refere-se ao momento pré-operatório, D1 ao
momento pós-operatório, D2 o segundo dia e assim sucessivamente até D5 (quinto
dia de internação). Já para o Grupo 2, essa nomeação foi D1, D2, D3, D4 e D5,
sendo D1 o equivalente ao D-entrada do Grupo 1, completando também cinco dias
de internação.
Os exames pré-operatórios foram realizados no mesmo dia da cirurgia,
momentos antes de seu preparo, e os exames pós-operatórios, no pós-cirúrgico
imediato, logo após a recuperação anestésica, seguindo-se exames diários.
Durante a internação, os animais foram avaliados diariamente pela equipe
responsável. Isso incluiu a avaliação das funções vitais (frequências cardíaca e
respiratória, temperatura, coloração de mucosas, tempo de preenchimento capilar,
esvaziamento íleo-cecal, motilidade intestinal), verificação de apetite, defecação e
31
micção, ao menos uma vez ao dia. Essa avaliação foi realizada em maior frequência
na dependência do caso clínico e acrescida de outras avaliações específica à
doença de base. Foi considerado (e anotado) também o protocolo anestésico,
tratamento medicamentoso e dieta.
Neste estudo, a disfunção gastrointestinal foi definida como qualquer forma de
desconforto que levasse à confirmação clínica feita pela equipe responsável, não
relacionado ao problema locomotor ou à cirurgia nas cólicas pós-operatórias.
4.1 PROTOCOLO ANESTÉSICO
Todos os animais do Grupo 1 receberam xilazina (0,6 mg/Kg, IV) como
medicação pré-anestésica e, 15 minutos depois, a indução anestésica foi realizada
com cetamina (2,2 mg/Kg, IV) associada ao diazepam (0,05 mg/Kg, IV) e éter gliceril
guaiacol 10% (100 mg/Kg, IV). Após a intubação com sonda orotraqueal de 26 mm
de diâmetro interno, os animais foram posicionados no decúbito que lhes era
pertinente. O plano anestésico foi mantido com isoflurano e 70% de fração de
oxigênio inspirado. No período transanestésico foi realizada a fluidoterapia IV com
solução de Ringer lactato na taxa de 10 ml/kg/hora. Como adjuvante da anestesia
inalatória, todos os animais receberam infusão contínua de cloridrato de lidocaína na
taxa de 0,05 mg/kg/min e bolus inicial de 1,3 mg/Kg, para manutenção de melhor
analgesia durante o transoperatório. Aos 30 minutos antes do término da cirurgia, foi
administrado tramadol intravenoso a uma dose de 3 mg/kg.
4.2 TRATAMENTO MEDICAMENTOSO
Os animais do Grupo 1 foram medicados com o anti-inflamatório
fenilbutazona (2,2 mg/kg), do momento prévio à cirurgia até o terceiro dia pós-
cirúrgico, sendo que este período foi estendido por mais dias de acordo com o grau
da dor do animal. Todos estes animais também receberam amicacina intravenosa
por cinco dias.
32
Os animais do Grupo 2 receberam anti-inflamatório conforme a necessidade,
havendo também aqueles que não receberam medicação durante a internação.
4.3 DIETA
Todos os animais foram alimentados com feno. O feno molhado foi ofertado
àqueles animais que apresentaram algum desconforto abdominal e aos animais que
passaram pelo período pós-cirúrgico. O jejum ocorreu nos momentos pré e pós-
operatório e previamente à sedação.
4.4 EXAME ULTRASSONOGRÁFICO
Durante o experimento, foi utilizado o aparelho ultrassonográfico usado na
rotina atual do HOVET – USP, da marca ESAOTE, modelo MyLab30 VetGold, e os
exames foram realizados com a probe macroconvexa de 3,5 – 6,6 MHz, que é a
mais indicada para avaliação transcutânea de abdômen. Não foi realizado exame
transretal.
A técnica foi realizada por apenas uma pessoa, treinada e capacitada
previamente ao experimento. A tricotomia não foi realizada em nenhum animal,
sendo necessário apenas o uso de álcool na região a ser avaliada e probe envolta
por gel acústico e plástico filme, a fim de manter o gel aderido à probe.
Os dados do animal (nome, número de registro, idade, raça), assim como a
data, foram devidamente registrados no computador do equipamento antes de dar
início ao exame.
Para a realização do exame ultrassonográfico, a cavidade foi dividida em 11
setores, além da avaliação do líquido peritoneal, com o objetivo de realizar um
exame mais prático e rápido, abrangendo todas as áreas importantes e
padronizando a localização, sendo elas:
33
LADO ESQUERDO
1. Janela nefro-esplênica: visualização do rim esquerdo;
2. Janela cólon menor: características e visualização de cólon menor e
visualização ou não de intestino delgado;
3. Janela do estômago: características e visualização de estômago;
4. Região ventral: visualização ou não de intestino delgado; identificação de
líquido livre;
5. Cólon ventral esquerdo: características e medida das saculações;
6. Região inguinal esquerda: visualização do intestino delgado e suas
características;
LADO DIREITO
7. Janela renal: características da base do ceco e visualização do duodeno;
8. Janela duodeno: visualização e características do duodeno e do cólon
dorsal direito;
9. Corpo do ceco: características do ceco e medida do diâmetro da veia cecal
lateral;
10. Cólon ventral direito;
11. Região inguinal direita: visualização do intestino delgado e suas
características.
Nas avaliações, levou-se em conta dados como motilidade, espessura de
parede, diâmetro de alça, conteúdo, distensão máxima e mínima de alças (quando
aparentes), distensão de estômago, visibilidade do rim esquerdo, quantidade e
características do líquido peritoneal, presença e ausência de intestino delgado em
determinadas regiões, mensurações referentes às saculações do cólon ventral
esquerdo (média de três saculações), diâmetro da veia cecal lateral e demais
observações como jejum, cirurgia, sedação e ocorrência de cólica. Essas
observações foram anotadas em fichas específicas, e acompanhadas e
interpretadas com base nos achados considerados normais pela literatura e nos
achados dos exames anteriores do mesmo animal.
As mensurações das saculações do cólon foram feitas no lado esquerdo
devido à melhor exatidão da estrutura analisada, já que no lado contralateral as
medidas se fazem prejudicadas devido ao gradil costal, que não possibilita a
34
orientação da probe de forma longitudinal. Já as mensurações de diâmetro da veia
cecal lateral se faz importante para acompanhar eventual compactação de ceco,
visto que existem relatos prévios apenas de congestão de vasos do mesentério em
casos de deslocamento dorsal direito descrito por Grenager e Durham (2011). A
artéria cecal lateral corre juntamente à veia, no entanto é menos visualizada devido
ao seu menor diâmetro e maior dificuldade de acurácia na mensuração. Essas
estruturas foram previamente identificadas por Color Doppler.
Tanto o cólon maior quanto o ceco foram identificados como uma estrutura
móvel delineada por uma linha hiperecogênica curvilínea, correspondente à linha de
gás ou à interface da ingesta com a mucosa. O conteúdo luminal e parede oposta
não são visualizados devido à sombra de gás acústico na maioria das vezes.
Diferentemente dessas estruturas, o intestino delgado é identificado como uma
estrutura tubular, cuja mensuração do diâmetro se faz possível devido ao seu
conteúdo hipoecogênico. A motilidade foi avaliada com base em contrações por 30
segundos, e foi classificada como aumentada, diminuída, normal ou ausente. A
motilidade diminuída foi definida como movimento intermitente e raro, a motilidade
normal como um movimento contínuo e constante, e a motilidade aumentada como
sendo o mesmo movimento anterior porém em maior frequência.
O rim esquerdo é visualizado entre a fossa paralombar e os espaços
intercostais 16 e 17 (16 EIC e 17EIC), tendo também como referência o baço (Figura
1). A visualização do rim esquerdo foi classificada como completa, parcialmente
completa ou não visualizado. Já o cólon menor é identificado pelas pequenas
saculações de conteúdo sólido, situado no flanco esquerdo e 17 EIC (Figura 2). Para
a identificação do estômago, toma-se como referência o baço e a veia esplênica
(Figura 3). É possível também diferenciá-lo das demais alças pela presença de uma
parede claramente mais espessada. Já na região ventral, foi feita apenas a análise
da presença e ausência de intestino delgado e líquido livre (Figura 4).
O cólon ventral esquerdo foi identificado pelo seu maior diâmetro, presença
de saculações, conteúdo hiperecóico, sombra acústica de seu conteúdo e
localização em região ventral lateral distal. Neste segmento foram feitas as medidas
das saculações, interpretadas como sendo o comprimento de cada linha curva
(Figura 5). Nessa janela foi analisada ainda a presença e ausência de intestino
delgado. Já nas regiões inguinais esquerda e direita foi identificada a presença e
ausência de alças de intestino delgado e suas características.
35
Na janela renal, além do rim, pôde-se identificar também a base do ceco e
duodeno (Figura 6). Essas estruturas em geral são encontradas nos espaços
intercostais 16 e 17 e flanco. O duodeno também pode ser identificado entre baço e
cólon dorsal direito na janela duodeno, conforme figura 7. Essa janela pode ser
identificada entre os espaços intercostais 13, 14, 15 e 16, dependendo do animal. O
corpo do ceco foi analisado em flanco direito, identificando a veia e artéria cecal
lateral em região ventral, próximo à virilha (Figura 8). As mensurações do cólon
ventral direito foram feitas em região ventral lateral proximal, justamente para isolar e
diferenciar bem esta estrutura do ápice do ceco (Figura 9).
Quanto ao peristaltismo, a avaliação deu-se pela observação da estrutura com a
probe estática por 20 a 30 segundos em modo B, levando em conta sempre a
possibilidade de interferência dos movimentos respiratórios. Em relação à avaliação
da espessura de parede, uma vez que as camadas se tornam difíceis para serem
analisadas com o transdutor de 5 MHz, a parede foi medida como a largura entre a
linha hiperecóica referente à serosa e a interface da ingesta com a mucosa.
4.5 ANÁLISE DOS RESULTADOS
As análises foram apresentadas por meio de estatísticas descritivas de
posição (média) e escala (desvio padrão) ou frequências absolutas e relativas, a
depender da natureza da variável (contínua ou categórica, respectivamente).
Comparações entre variáveis contínuas entre os grupos foram realizadas pelo
teste não paramétrico de Mann-Whitney, e comparações entre tempos específicos
dentro de um mesmo grupo pela extensão desse teste para medidas pareadas
(repetidas), conhecido como Wilcoxon (BUSSAB; MORETTIN, 2006). Já as
comparações entre variáveis de ordem categórica foram realizadas pelo teste exato
de Fisher e pelo teste de McNemar, utilizados, respectivamente, para comparar os
grupos em um determinado instante de Tempo e dois Tempos dentro de um Grupo
específico (AGRESTI, 2002).
Foram construídos gráficos de barra e linha para representar a distribuição
das medidas ao longo do tempo entre os grupos. Os cálculos foram realizados com
auxílio do software estatístico R 3.1.0 (R CORE TEAM, 2014). Os gráficos foram
36
construídos com o pacote ggplot2 (WICKHAM, 2009). E os testes consideraram um
nível de significância de 5%.
Figura 1 – Janela Nefroesplênica em animal do grupo 2
Fonte: (MARTINS, T. R., 2014) Legenda: B- Baço; R- Rim. Lado esquerdo
= dorsal
R
B
Figura 2 – Cólon menor em animal do grupo 2
Fonte: (MARTINS, T. R., 2015) Legenda: B- Baço; CM- Colon menor.
Lado esquerdo = dorsal
CM
B
Figura 3 – Janela estômago em animal do grupo 2
E
B
Fonte: (MARTINS, T. R., 2014) Legenda: B- Baço; E- Estômago. Lado
esquerdo = dorsal
Fonte: (MARTINS, T. R., 2014) Legenda: ID – Intestino Delgado. Lado
esquerdo = dorsal.
Figura 4 – Intestino delgado em região ventral em animal do grupo 1
ID
37
Figura 2 - Colon menor
Figura 6 – Janela renal em animal do grupo 1
R
D
BC
Fonte: (MARTINS, T. R., 2013) Legenda: R- Rim; D- duodeno; BC- Base do
ceco. Lado esquerdo = dorsal.
Fonte: (MARTINS, T. R., 2014) Legenda: B- Baço; CVE- colon ventral
esquerdo
Figura 5 - Saculações em colon ventral esquerdo em animal do grupo 2
CVE
B
Figura 7 – Janela duodeno em animal do grupo 2
CDD D
FIG
Fonte: (MARTINS, T. R., 2014) Legenda: FIG – fígado; D- duodeno; CDD-
colon dorsal direito. Lado esquerdo = dorsal.
38
C
v a
Figura 8 – Veia e artéria cecal lateral em animal do grupo 1
Fonte: (MARTINS, T. R., 2013) Legenda: v- veia cecal; a- artéria cecal; C-
ceco. Lado esquerdo = dorsal.
Figura 9 – Saculação em cólon ventral direito em animal do grupo 1
Fonte: (MARTINS, T. R., 2013) Legenda: FIG- Fígado; LL- Líquido livre;
CVD- Cólon ventral direito. Lado esquerdo = dorsal.
LL
DVC
FIG
39
5 RESULTADOS
As informações gerais dos 40 animais avaliados são apresentadas nas
quadros 1 e 2.
Quadro 1 - Informações dos animais avaliados no grupo 1
Animal Raça Sexo Idade (anos)
Afecção Apresentou cólica?
1 Puro Sangue Luzitano M 14 Fragmento interfalangeano
proximal Não
2 Puro Sangue Luzitano M 2 OCD Não
3 Brasileiro de Hipismo M 11 OCD Sim
4 Quarto de Milha M 5 OA Não
5 Sela Holandesa M 7 OCD Sim
6 Brasileiro de Hipismo M 4 OCD Não
7 Brasileiro de Hipismo M 4 OCD Não
8 Friesian F 2,5 OCD Não
9 Puro Sangue Luzitano M 4 OCD Sim
10 Quarto de Milha F 3 OCD Sim
11 Brasileiro de Hipismo F 4 OCD Não
12 Puro Sangue Luzitano M 6 OCD Não
13 Brasileiro de Hipismo M 13 OA Não
14 SRD F 6 OA Não
15 Brasileiro de Hipismo F 4 OCD Não
16 Brasileiro de Hipismo F 13 OA Não
17 Puro Sangue Luzitano M 3 OCD Não
18 Puro Sangue Luzitano M 6 OCD Não
19 Brasileiro de Hipismo F 4 OCD Não
20 Westfalen M 13 OA Sim
Fonte: (MARTINS, T. R., 2015) Legenda: M - macho; F - fêmea; S - sim; N - não
40
Quadro 2 - Informações dos animais avaliados no grupo 2
Animal Raça Sexo Idade (anos)
Afecção Apresentou cólica?
1 Brasileiro de Hipismo M 6 Tenossinovite Não
2 Crioulo M 5,5 Lesão ligamentar boleto Não
3 Brasileiro de Hipismo F 16 OA Não
4 SRD M 7 Fratura de quartela Não
5 Mangalarga F 7 OA Não
6 Quarto de Milha F 4 Tenossinovite Não
7 Mangalarga M 7 Ruptura parcial de tendão Sim
8 Quarto de Milha M 9 bursite Não
9 American Trotter M 7 Tenossinovite Não
10 SRD F 10 OA Não
11 Brasileiro de Hipismo M 12,5 OA Não
12 Puro Sangue Luzitano F 4 Tenossinovite Não
13 Mangalarga F 3 Corpo estranho em boleto Não
14 Quarto de Milha M 9,5 Tenossinovite Não
15 Quarto de Milha F 3,5 OA e laminite Sim
16 Mangalarga M 10 Síndrome do navicular Não
17 SRD M 8,5 Abscesso muscular Não
18 SRD M 15,5 Abscesso sub-solear Não
19 American Trotter F 4 OCD Não
20 Brasileiro de Hipismo F 2,5 Fratura de coxal Não
O restante dos resultados é apresentado em tópicos, para melhor
compreensão dos mesmos.
Inicialmente coloca-se a avaliação da ocorrência da síndrome cólica e depois
as análises comparativas entre os momentos de avaliação ultrassonográfica. Esta
última análise foi dividida em:
Fonte: (MARTINS, T. R., 2015) Legenda: M - macho; F - fêmea; S - sim; N - não
41
a) comparação entre os grupos no momento D-entrada do Grupo 1 e D1 do
Grupo 2.
b) comparação entre os grupos no momento D1, ou seja a comparação logo
após o procedimento do grupo 1 com o instante de chegada dos pacientes do
grupo 2;
c) comparação do momentos D0 e D1 do grupo 1, ou seja, pré e pós-
operatórios, analisando o efeito do procedimento nas medidas derivadas da
imagem;
d) comparação entre os grupos nos momentos D1 - D5, que compara o efeito
dessas medidas ao final do acompanhamento nos grupos 1 e 2.
5.1 OCORRÊNCIA DE CÓLICA
Dos 40 equinos avaliados, sete (17,5%) apresentaram síndrome cólica
durante o período de internação, sendo cinco no grupo 1 (25,0%) e dois (10,0%) no
grupo 2. Não houve diferença estatística entre os grupos (p= 0,407)
As informações gerais sobre esses animais encontram-se na quadro 3.
Quadro 3 - Informações sobre os animais que apresentaram síndrome cólica durante a internação Grupo Animal Dia da
cólica
Uso de
AINE
Jejum Sedação
até 2h
antes
Tratamento Detecção
prévia
pelo US
1 3 D 4 N N N clínico N
5 D 3 S S S clínico N
9 D 2 S S N clínico N
10 D 2 S N N clínico N
20 D 3 S S S clínico N
2 7 D 2 S N N clínico N
15 D 2 S N N clínico N
Fonte: (MARTINS, T. R., 2015) Legenda: AINE - anti-inflamatório não esteroidal; US - ultrassom; S - sim; N - não
42
A ocorrência de cólica nos animais do estudo foi relativamente alta (17,5%),
porém não foi o suficiente para poder realizar análises estatísticas comparativas
entre os grupos. Dois animais do grupo 2 apresentaram desconforto no segundo dia
de internação. Ambos estavam sob uso de analgésicos desde o dia anterior, não se
encontravam em jejum e nem haviam sido submetidos à sedação. Dos achados e
alterações ultrassonográficos do exame feito naquele momento, o animal 7
apresentou motilidade diminuída em base e corpo do ceco, cólon ventral direito e
cólon dorsal direito. O ceco ainda apresentava ausência de saculação e conteúdo
gasoso, indicando possível origem da dor. O animal 15 apresentava motilidade
diminuída em cólon ventral esquerdo e em intestino delgado em região inguinal
esquerda.
No grupo 1, cinco cavalos apresentaram desconforto abdominal. No entanto,
um cavalo ainda não havia sido submetido à artroscopia (animal 3), apresentando
dor no quarto dia de internação e véspera do procedimento cirúrgico. Este animal
não estava sob efeito de analgésicos ou sedativos. No momento do exame, o cólon
ventral esquerdo, cólon dorsal direito e ceco apresentaram diminuição de motilidade.
O animal 9 deste mesmo grupo foi o único a apresentar dor moderada a
severa e o único a necessitar de tratamento médico. Entre as alterações
ultrassonográficas, destacaram-se as alças de ID distendidas em ambos os flancos,
região inguinal direita e esquerda, e região ventral. Essas alças apresentavam
ausência de motilidade, distensão em torno de 6,5 cm e espessura de parede dentro
da faixa de normalidade (Figuras 10 e 11). A motilidade se apresentou reduzida nas
demais alças analisadas. O rim esquerdo e cólon menor não foram visualizados. O
animal foi tratado clinicamente, apresentando melhora dentro de 12 horas após o
início da dor.
43
Dos três animais restantes, um animal apresentou cólica no dia D2 (animal
10) e os demais no dia D3 (animais 5 e 20). Todos estavam sob efeito de
analgésicos, porém apenas o primeiro não estava em jejum e sob efeito de sedativo
dentro das últimas duas horas. O exame ultrassonográfico deste mostrou base do
ceco com motilidade diminuída e sem saculação, e motilidade do cólon dorsal direito
aumentada. O animal 5 apresentou apenas diminuição de motilidade em duodeno e
o animal 20 apresentou cólon ventral esquerdo com motilidade diminuída e pesado
(rente à parede abdominal e sem saculação). Nenhum cavalo teve mais do que um
episódio de desconforto abdominal. Nenhum animal apresentou vícios de
comportamento.
O uso de analgéscos (fenilbutazona) no grupo 1 foi notório nos primeiros dias
de pós-operatório (D1 a D3), onde todos os cavalos do grupo 1 estavam sob efeito
do medicamento (Gráfico 1). No grupo 2, seu uso foi menor mas se manteve
constante durante os cinco dias de internação.
Figura 10 - Região ventral com alças de intestino delgado distendidas em animal com cólica do grupo 2
Fonte: (MARTINS, T. R., 2015) Fonte: (MARTINS, T. R., 2015)
Figura 11 - Flanco direito com alças de intestino delgado distendidas em animal com cólica do grupo 2
44
Fonte: (MARTINS, T. R., 2015)
Gráfico 1 - Distribuição ao longo do tempo entre os grupos para uso de analgésicos
45
5.2 COMPARAÇÃO ENTRE OS GRUPOS NO MOMENTO D-ENTRADA (GRUPO 1)
E D1 (GRUPO 2)
As análises no momento de entrada no hospital visaram analisar o
comportamento gastrointestinal dos cavalos no primeiro dia de internação. Não
houve diferença significativa entre os grupos neste momento. Todavia, 12 animais
(60%) do grupo 2 já se encontravam sob uso de AINE (fenilbutazona), enquanto que
apenas 2 animais (10%) do grupo 1 estavam sob tal medicação, com diferença
estatística entre os grupos (p=0,002) (Tabela 1).
Tabela 1 - Comparação entre os grupos para o uso de anti-inflamatório não esteroidal (AINE) no dia da chegada do cavalo ao local do estudo
Variável
Grupo 1 (n=20) Grupo 2 (n=20) Total (n=40) Valor p¹
N % N % N %
Uso de AINE 2 10 12 60 14 35 0,002
As tabelas 2 e 3 apresentam, respectivamente, a estatística descritiva das
espessuras e saculação de cólon ventral esquerdo no primeiro dia de internação de
ambos os grupos. Todos os valores encontram-se dentro da normalidade da
literatura e não houve diferença estatística entre os grupos.
Tabela 2 - Descrição das espessuras, em centímetros, entre os grupos no dia da chegada do cavalo ao local do estudo
(continua) Espessura de parede Grupo N MIN MAX MÉDIA DP
Cólon menor
Todos 36 0,19 0,34 0,263 0,039
Grupo 1 17 0,20 0,34 0,271 0,038
Grupo 2 19 0,19 0,32 0,256 0,039
Janela do estômago
Todos 16 0,31 0,81 0,478 0,130
Grupo 1 9 0,31 0,67 0,469 0,112
Grupo 2 7 0,35 0,81 0,489 0,158
Fonte: (MARTINS, T. R., 2015) Legenda: (1) Teste exato de Fisher
46
(conclusão) Espessura de parede Grupo N MIN MAX MÉDIA DP
Cólon Ventral
esquerdo
Todos 38 0,22 0,35 0,277 0,036
Grupo 1 19 0,22 0,35 0,275 0,040
Grupo 2 19 0,22 0,33 0,278 0,032
Região inguinal
esquerda
Todos 28 0,19 0,44 0,308 0,047
Grupo 1 17 0,19 0,44 0,312 0,056
Grupo 2 11 0,26 0,36 0,302 0,03
Base do ceco
Todos 40 0,20 0,35 0,269 0,038
Grupo 1 20 0,20 0,35 0,278 0,046
Grupo 2 20 0,21 0,30 0,260 0,028
Duodeno
Todos 33 0,22 0,35 0,282 0,033
Grupo 1 16 0,22 0,35 0,286 0,040
Grupo 2 17 0,25 0,34 0,279 0,025
Cólon Dorsal direito
Todos 40 0,20 0,34 0,268 0,033
Grupo 1 20 0,20 0,34 0,263 0,036
Grupo 2 20 0,20 0,32 0,272 0,031
Ceco
Todos 40 0,20 0,40 0,270 0,035
Grupo 1 20 0,23 0,40 0,279 0,040
Grupo 2 20 0,20 0,31 0,261 0,028
Cólon Ventral direito
Todos 40 0,19 0,35 0,263 0,044
Grupo 1 20 0,19 0,35 0,272 0,049
Grupo 2 20 0,20 0,35 0,254 0,037
Região inguinal
direita
Todos 17 0,21 0,44 0,317 0,060
Grupo 1 13 0,21 0,44 0,329 0,062
Grupo 2 4 0,24 0,32 0,278 0,033
Fonte: (MARTINS, T. R., 2015) Legenda: N - número de animais; min. - mínimo; max. - máximo; DP - desvio padrão
47
Tabela 3 - Descrição dos valores de saculação, em centímetros, entre os grupos no dia da chegada do cavalo ao local do estudo
Grupo N MIN MAX MÉDIA DP
Todos 33 3,16 8,69 5,509 1,249
Grupo 1 16 3,16 7,49 5,572 1,078
Grupo 2 17 3,68 8,69 5,450 1,421
5.3 COMPARAÇÃO ENTRE OS GRUPOS NO MOMENTO D1
A comparação entre grupos em D1 visa avaliar o efeito da cirurgia sobre o
trato gastrointestinal do cavalo. Nesse instante, o grupo 1, em geral, apresentou
motilidade diminuída. No entanto, a estatística aponta diferença significativa apenas
para cólon menor (p<0,001), conforme tabela 4.
Tabela 4 - Comparação entre grupos segundo motilidade em cólon menor em momento pós-operatório (D1) do grupo 1 com D1 do grupo 2
Motilidade do Cólon
Menor
Grupo 1 Grupo 2 Total Valor
p* N % N % N %
Aumentada 0 0 1 5,3 1 2,8
<0,001 Diminuída 12 71 2 10,5 14 38,9
Normal 5 29 16 84,2 21 58,3
Total 17** 100 19** 100 36 100
Fonte: (MARTINS, T. R., 2015) Legenda: N - número de animais; min. - mínimo; max. - máximo; DP - desvio padrão
Fonte: (MARTINS, T. R., 2015) Legenda: N - número de animais; (*) Teste Qui-quadrado; (**) Cólon menor não foi visualizado em
todos animais
48
As tabelas 5 e 6 mostram, respectivamente, a presença de ID nas janelas de
visualização de cólon menor e região ventral.
Tabela 5 - Comparação entre grupos segundo presença de ID em janela de cólon menor em momento pós-operatório (D1) do grupo 1 com D1 do grupo 2
Presença de ID - Cólon
Menor
Grupo 1 Grupo 2 Total Valor p*
N % N % N %
Não 14 70 7 35 21 52
0,056 Sim 6 30 13 65 19 48
Total 20 100 20 100 40 100
Tabela 6 - Comparação entre grupos segundo presença de ID em região ventral em momento pós-operatório (D1) do grupo 1 com D1 do grupo 2
Presença de ID -
Ventral
Grupo 1 Grupo 2 Total Valor p*
N % N % N %
Não 5 25 15 75 20 50
0,004 Sim 15 75 5 25 20 50
Total 20 100 20 100 40 100
5.4 COMPARAÇÃO DO MOMENTO D0 E D1 DO GRUPO 1
A comparação do momentos D0 e D1 do grupo 1 (ou seja, momento pré e
pós-operatório) visou analisar o efeito do procedimento nas medidas derivadas da
imagem desses animais. O valor de p das tabelas 7 e 8 demonstram mudança
significativa de estado entre os momentos D0 e D1. Nesse tipo de tabela (onde se
realizam o Teste de McNemar), o N da coluna “Total” se refere às características dos
momentos D0. Como exemplo da tabela 7, dos 19 animais com motilidade normal
em D0, 1 animal teve motilidade aumentada, 8 diminuída e 10 permaneceram
normal em D1.
Fonte: (MARTINS, T. R., 2015) Legenda: N - número de animais; (*) Teste Qui-quadrado
Fonte: (MARTINS, T. R., 2015) Legenda: N - número de animais; (*) Teste Qui-quadrado
49
Tabela 7 - Avaliação da motilidade do cólon ventral direito entre D0 e D1 no grupo 1
Grupo Motilidade Aumentada Diminuída Normal Total
Valor p* N % N % N % N %
Grupo 1
D0 D1
Aumentada 0 0 0 0 0 0 0 0
0,019 Diminuída 1 100 0 0 0 0 1 100
Normal 1 5,3 8 42,1 10 53,0 19 100
Total 2 10,0 8 40,0 10 50,0 20 100
Tabela 8 - Avaliação entre D0 e D1 para presença de ID em região ventral, no grupo 1
Grupo Presença de ID -
Ventral
Não Sim Total Valor p*
N % N % N %
Grupo 1
D0 D1
Não 4 27 11 73 15 100
0,009 Sim 1 20 4 80 5 100
Total 5 25 15 75 20 100
O gráfico 2 apresenta a presença ou não de visualização do ID em região
ventral nos vários momentos nos dois grupos. O grupo 2 notoriamente apresentou
um aumento considerável da presença de tal estrutura em região ventral no
momento D1.
Fonte: (MARTINS, T. R., 2015) Legenda: N - número de animais; (*) Teste de McNemar
Fonte: (MARTINS, T. R., 2015) Legenda: N - número de animais; (*) Teste de McNemar
50
5.4 COMPARAÇÃO ENTRE OS GRUPOS NO MOMENTO D1 E D5
A comparação entre os grupos nos momentos D1 e D5 avalia o efeito das
medidas no final do acompanhamento ultrassonográfico (quinto dia). O teste de
McNemar, aqui, nos permitiu afirmar que essa distribuição em D1 modificou-se
significativamente em D5 no grupo 1 (p = 0,046). Na tabela 9, dos 12 cavalos que
apresentavam motilidade diminuída em D1, oito voltaram à motilidade normal. Não
há variações significativas no grupo 2.
Tabela 9 - Avaliação entre os dias D1 e D5 para motilidade de cólon menor, no grupo 1
Grupo 1
Motilidade do
Cólon Menor
Aumentada Diminuída Normal Total Valor
p* N % N % N % N %
D1 D5
Aumentada 0 0 0 0 0 0 0 0
0,046 Diminuída 0 0 4 33 8 67 12 100
Normal 0 0 1 20 4 80 5 100
Total 0 0 5 29 12 71 17 100
Fonte: (MARTINS, T. R., 2015) Legenda: N - número de animais; (*) Teste de McNemar
Gráfico 2 - Distribuição ao longo do tempo entre os grupos para presença de intestino delgado (ID) em região ventral
Fonte: (MARTINS, T. R., 2015)
51
O gráfico 3 mostra a distribuição da motilidade do cólon menor nos vários
tempos avaliados, nos dois grupos.
Gráfico 3 - Distribuição da motilidade do cólon menor por dia e grupo
Apesar de não haver alterações significativas no tempo entre os grupos para
motilidade de cólon ventral direito e esquerdo, houve uma diferença estatística entre
ambos os cólon ventrais (p<0,001) desde o momento D0 para os dois grupos. Para
tal resultado, foi ajustado o modelo de regressão logística para medidas repetidas
por EEG (Equações de Estimação Generalizada). Os gráficos 4 e 5 mostram que,
enquanto a motilidade do cólon ventral direito se manteve relativamente normal
durante o tempo, o esquerdo mostrou momentos de prevalência diminuída.
Fonte: (MARTINS, T. R., 2015)
52
Gráfico 4 - Motilidade de cólon ventral direito nos momentos D0 a D5 nos grupos 1 e 2
Gráfico 5 - Motilidade de cólon ventral esquerdo nos momentos D0 a D5 nos grupos 1 e 2
Outras avaliações que apresentaram diferença estatística entre os tempos
foram a visibilidade da janela do estômago no grupo 2 (Tabela 10) e a distensão
mínima de duodeno no grupo 2 (Tabela 11).
Fonte: (MARTINS, T. R., 2015)
Fonte: (MARTINS, T. R., 2015)
53
Tabela 10 - Avaliação entre os dias D1 e D5 para visibilidade da janela do estômago no grupo 2
Grupo
Visibilidade da
janela do
estômago
Não visível Pouca Boa Total
Valor p*
N % N % N % N %
Grupo 2
D1 D5
Não visível 8 62 0 0 5 38 13 100
0,046 Pouca 2 67 0 0 1 33 3 100
Boa 0 0 0 0 4 100 4 100
Total 10 50 0 0 10 50 20 100
Tabela 11 - Avaliação entre dias D1 e D5 para distensão mínima de duodeno no grupo 2
Grupo Dia Distensão mínima - Duodeno
N Média DP Valor p*
Grupo 2 D1 17 1,760 0,330
0,002 D5 15 1,460 0,313
Todas as demais comparações entre tempos e grupos não apresentram
diferença estatística.
Fonte: (MARTINS, T. R., 2015) Legenda: N - número de animais; (*) Teste de McNemar
Fonte: (MARTINS, T. R., 2015) Legenda: N - número de animais; (*) Teste de Wilcoxon
54
6 DISCUSSÃO
A avaliação ultrassonográfica não foi capaz de detectar precocemente a
ocorrência de cólica. No entanto, nos cavalos que apresentavam desconforto, essa
ferramenta pôde confirmar sua origem gastrointestinal. Dos sete animais que
apresentaram sinais de desconforto, quatro estavam em período pós-operatório.
Apesar do número de animais examinados ser inferior ao encontrado na literatura, a
média de prevalência de desconforto dentro dos três dias de recuperação cirúrgica
(20%) foi maior do que os encontrados por Mircica et al. (2003); Senior et al. (2004)
e Senior et al. (2006), que foram, respectivamente, de 5,9%, 2,8% e 5,2%.
Existem muitos estudos sobre as fatalidades em equinos no momento pós-
anestésico, e eles apontam problemas ortopédicos como um dos maiores
causadores de morte (JOHNSTON et al., 1995, 2002; BIDWELL; BRAMLAGE;
ROOD, 2007) dentro desse período, apesar de não detalharem a causa dessas
mortes nesse grupo de pacientes. Johnston (2002), no entanto, relata que 13,1%
das mortes de pacientes submetidos a cirurgias diferentes de cólica eram de causa
abdominal.
A ocorrência de cólica neste período pode ser explicada tanto pelo efeito
anestésico como pelo estresse da manipulação para os animais do grupo 1.
Todavia, de uma forma geral, os cavalos deste grupo apresentaram uma mudança
siginificativa entre os momentos D0 e D1 para o cólon ventral direito, ou seja, dos 19
animais que tinham motilidade normal no momento D0, 10 (53%) mantiveram
normal, 1 (5,3%) aumentada e 8 (42,1%) apresentaram motilidade diminuída no
momento D1. Ainda, na comparação entre os grupos em momento D1 (pós-
operatório do grupo 1 com primeiro dia de internação do grupo 2), o referido grupo
obteve motilidade diminuída em cólon menor em 71% dos animais, enquanto que o
segundo grupo obteve essa diminuição em apenas 10,5% dos equinos.
Dos animais que apresentaram cólica no grupo 1, quatro foram operados por
OCD e 1 por OA. A prevalência de OCD entre os acometidos não pareceu ser um
fator predisponente, visto que a ocorrência de tal problema da rotina de artroscopias
no Hospital Veterinário da USP é alta.
A morfina tem sido apontada como principal opióide causador de cólica por
alguns autores (SENIOR et al., 2004; GOZALO-MARCILLA et al., 2013). Em nosso
55
estudo o opióide utilizado foi o tramadol na dose de 3 mg/kg intravenoso nos 30
minutos antes do término da cirurgia. Essa dose é inferior à dose relatada por
Guedes et al. (2014), onde apenas um de sete cavalos apresentou desconforto após
administração, no quarto dia consecutivo, de tramadol na dose de 10 mg/kg.
Daunt e Steffey (2002) demonstraram diminuição de motilidade de intestino
grosso após uso de alfa-2 agonistas. Senior et al. (2004) não encontraram relação
entre anestésicos voláteis e a cólica, porém Andersen et al. (2006) indicaram que a
manutenção da anestesia geral feita por isoflurano aumenta os riscos de cólica
quando comparados a outros agentes.
Por outro lado, o efeito procinético da infusão contínua de lidocaína utilizada
nas cirurgias pode ter colaborado favoravelmente com os animais, corroborando
com Tappenbeck et al. (2014) e Lefebvre et al. (2015 no prelo)3, que mostraram ser
esta droga eficiente em casos de íleo paralítico.
O único animal a apresentar dor moderada a severa apresentou início das
manifestações de desconforto no dia D2 pós-operatório. O exame físico e a
ultrassonografia abdominal indicaram compactação de íleo como causa, sendo
assim tratado clinicamente, com sucesso. Os achados do exame ultrassonográfico
corroboraram com Freeman (2003), que descreve a imagem de obstruções simples
de ID com aumento de diâmetro das alças, espessamento de parede dentro da faixa
de normalidade e motilidade normal a ausente, caso o tempo de obstrução se
prolongue.
A internação pareceu ter tido efeito no desconforto apresentado pelo animal
do grupo 1 no quarto dia de internação, porém no período pré-cirúrgico. Não existem
dados concretos na literatura sobre o efeito da internação em animais não
submetidos à cirurgia, mas esse é um fator de risco que preocupa muitos autores
(SENIOR et al., 2004; PATIPA et al., 2012). Uma mudança recente na rotina de
exercícios, principalmente após uma semana, associada à mudança de estabulação
ou de alimentação, foi indicada como fator de risco de cólica em cavalos (COHEN;
GIBBS; WOODS, 1999; HILLYER et al., 2002). Contudo, a estatística mostrou uma
3 LEFEBVRE, D.; PIRIE, R. S.; HANDEL, I. G.; TREMAINE, W. H.; HUDSON, N. P. H. Clinical features and management of equine post operative ileus: Survey of diplomates of the European Colleges of Equine Internal Medicine (ECEIM) and Veterinary Surgeons (ECVS). Equine Veterinary Journal , 2015. (no prelo).
56
mudança significante para motilidade de cólon menor entre os dias D1 e D5 para o
grupo 1, onde dos 12 animais que apresentavam motilidade diminuída em D1, 4 se
mantiveram diminuída e 8 apresentaram motilidade normal em D5.
Em nossa pesquisa, dois animais do grupo 2 apresentaram desconforto no
segundo dia de internação, mostrando diminuição de motilidade em alguns
segmentos de intestino grosso ao exame ultrassonográfico. Apesar de ser um
número pequeno, pode-se atribuir esse fato ao transporte do dia anterior e à
mudança de manejo. Hillyer et al. (2002) mostraram que as primeiras 24 horas após
o transporte correspondem a um período de alto risco para obstrução simples e
distensão de cólon. Um dos animais apresentava ruptura parcial de tendão, e o
segundo apresentava OA e laminite. Ambas afecções são conhecidas por causar
estímulos dolorosos muitas vezes importantes, dependendo de sua graduação. Os
dois animais estavam sob efeito de fenilbutazona, a qual é conhecida por estar
associada à presença de úlceras e colites (COHEN et al., 1995; MCCONNICO et al.,
2008). Porém, essa não pareceu ser a causa da cólica nesses equinos.
A motilidade de ambos os cólons ventrais se mostrou estatisticamente
diferente durante o tempo, mostrando uma prevalência de motilidade diminuída no
cólon ventral esquerdo. Nota-se, no entanto, que essa diferença começa em D0,
concluindo-se que não houve influência do tratamento. Sabe-se que a localização
mais comum para compactação de cólon maior é a flexura pélvica, seguida do cólon
dorsal direito e cólon transverso (HARDY, 2009). Schusser e White (1997) avaliaram
morfológica e quantitativamente o plexo mioentérico do cólon maior dos cavalos, e
mostraram que existe uma diminuição dos neurônimos da flexura pélvica e cólon
dorsal direito em animais com obstrução crônica de cólon, a qual pode criar
alterações de motilidade e predispor a futura obstrução.
O jejum causou alterações significantes observadas ultrassonograficamente
na atividade e visibilidade intestinal em estudo realizado por Mitchell et al. (2005)
quando comparado com animais alimentados. Ainda neste estudo, avaliaram
também o efeito do jejum em animais sadios com e sem xilazina, mostrando
mudanças significantes quando esta última estava associada ao jejum. Em nossa
pesquisa, o jejum não pareceu ser um fator de risco a nenhuma das ocorrências de
cólica.
57
Há necessidade de mais estudos epidemiológicos multicêntricos por tempo
prolongado. Com maior número de animais e ocorrências seria possível identificar
melhor os fatores predisponentes em nossa realidade.
A avaliação ultrassonográfica foi bem tolerada e não foi preciso utilizar
sedação para contenção. Devido à falta de disponibilidade de tronco de contenção
em alguns momentos, houve animais que foram examinados na própria cocheira. O
protocolo de avaliação utilizado no presente estudo foi considerado válido e de fácil
execução. No entanto, sabe-se que nos exames de abdômen agudo, muitas vezes
deve-se optar por pontos-chave dependendo do tempo disponível e das
manifestações clínicas do animal. A identificação dos segmentos do intestino foi
baseada na localização topográfica e na aparência visual. A avaliação do diâmetro
só é possível ser realizada no intestino delgado, o qual é considerado distendido
quando estiver acima de 5 cm. O cólon e o ceco são estruturas de maior diâmetro,
cuja mensuração se torna impossível pela presença de gás.
Recentemente foi descrito um protocolo rápido e localizado (FLASH) baseado
na técnica usada em emergências em humanos chamada FAST (do inglês focused
assessment with sonography in trauma). É realizada usando-se álcool sobre o pêlo e
dividindo o abdômen do animal em sete locais topográficos: região ventral, janela
gástrica, janela nefroesplênica, terço médio do abdômen esquerdo, janela do
duodeno, terço médio direito do abdômen e janela torácica (BUSONI et al., 2011).
Essa técnica não foi utilizada no presente estudo, pois teve-se como intuito a
realização de um exame detalhado e completo, e não necessariamente rápido.
A ultrassonografia transretal requer um preparo do paciente e, assim como a
palpação retal, o animal deve ser devidamente contido e, ainda, deve-se tomar
cuidado para não causar nenhum trauma ou dano iatrogênico ao reto. Como os
animais utilizados no estudo eram encaminhados apenas por problemas do sistema
locomotor, não foi utilizada a ultrassonografia transretal visto que sua utilização,
além de poder causar algum dano ao animal, não era o que se pretendia - ou seja,
um exame rápido, fácil, não invasivo e que pudesse ser incorporado à rotina diária
de exames dos cavalos. O uso dessa via, no entanto, foi descrita por Freeman,
Boswell e Smith (2001) para diagnosticar estrangulamento de cólon menor. Schmidt
(1989) também utilizou a ultrassonografia transretal para avaliar rim esquerdo, baço,
bexiga, uretra, órgãos acessórios masculinos, porções do trato intestinal, porção
58
caudal da artéria aorta e artérias ilíacas e, em animais menores, artéria mesentérica
cranial.
Dentre as demais observações do exame, foi avaliada a presença e ausência
de intestino delgado (ID) em determinadas áreas, como em região ventral, na janela
de visualização do cólon menor e cólon ventral esquerdo, e regiões inguinais direita
e esquerda. A frequência de visualização dessas alças ainda não havia sido
investigada, e poderia ser útil para avaliar diferenças entre animais saudáveis e
animais com cólica, assim como verificar diferenças entre os sujeitos a tratamento
médico e os encaminhados para cirurgia. Foi observado neste estudo que a cirurgia
foi um determinante para o surgimento dessas alças em região ventral. Dos 15
animais que não tinham ID nessa região em momento pré--cirúrgico, 11 passaram a
ter em D1. Ainda, na comparação entre grupos neste mesmo momento (D1), essa
estrutura foi visualizada em um total de 15 animais do grupo 1 e 5 animais do grupo
2. A região de cólon menor também mostrou uma diferença significativa entre os
grupos em D1, sendo que o grupo 2 mostrou ID nessa janela em 65% do animais, e
o grupo 1 em 30%. Não existem dados na literatura que comprovem essa afirmação,
mas a hipótese é que o decúbito e a movimentação do animal no período peri-
operatório poderia ter levado a esse deslocamento entre alças. Por outro lado, o
jejum de 24 horas demonstrou ser um importante aliado na obtenção de imagens de
alta qualidade de ID em estudo realizado por Norman, Chaffin e Schmitz, (2010).
Na janela do estômago avaliou-se tanto o espessura quanto a própria
visualização dessa estrutura. Para esse último, o grupo 2 mostrou uma mudança
significativa entre os dias D1 e D5. Em D1 a identificação dessa estrutura foi
possível em apenas 4 animais, e em D5 esse número passou para 10.
Provavelmente, a visualização do estômago no primeiro dia de internação muitas
vezes se torna difícil devido ao tempo de jejum a que esses animais são submetidos
devido ao transporte, exame físico e de imagem. A pouca quantidade de alimento no
estômago pode permitir a sobreposição do pulmão sobre ele, impedindo a
passagem de som até o órgão devido ao ar contido nele. Um estudo que avaliou o
padrão de atividade das alças gastrointestinais sob condições que podem predispor
à cólica, mostrou que o jejum causou um deslocamento do estômago para região
ventral à junção costocondral (MITCHELL et al., 2005). Em nossa pesquisa, a janela
do estômago a ser avaliada se limitou aos espaços intercostais 10 a 14, na altura da
tuberosidade isquiática, não sendo, portanto, avaliado em regiões mais ventrais.
59
A motilidade é um aspecto importante para analisar a funcionalidade do trato
gastrointestinal, podendo ser mensurada pelo modo B ou M do ultrassom. Nesse
estudo, este parâmetro foi acessado através do modo B e conforme a experiência do
examinado, de acordo com a constância e periodicidade dos movimentos, resultando
em uma análise subjetiva. Essa pode ter sido uma falha no estudo, visto que a
utilização do modo M para essa avaliação poderia trazer uma resposta mais objetiva,
como descrito por Freeman (2002b) que utilizou desse modo para descrever
normalidade de motilidade nos diversos segmentos de intestino. O Doppler pulsado
foi utilizado por Mitchell et al. (2005) para avaliar a atividade peristáltica de jejuno em
animais saudáveis.
A avaliação das espessuras foi dificultada em estruturas mais profundas,
como no cólon menor, duodeno e cólon dorsal direito. Poucas foram as vezes em
que foi possível visualizar todas as camadas, sendo necessário identificar apenas a
serosa para fazer a medição com o cursor até a interface da mucosa. Uma probe
com maior frequência poderia ser mais útil nessa questão, porém torna inviável a
localização dessas estruturas.
Não houve mudança significativa das espessuras de parede no tempo, ou
mesmo uma diferença significativa entre os grupos. Foram, portanto, feitas as
médias no dia D1 a fim de padronizar os grupos. Sabe-se que um espessamento
maior que 0,4 cm é consistente com espessamento anormal, e geralmente é
resultado de infiltração por edema, hemorragia ou células inflamatórias (FREEMAN,
2002a). Nenhum cavalo obteve medidas superiores a essa, a não ser para o
estômago, cuja média de todos os animais neste momento foi de 0,47 cm (± 0,13),
que está dentro da faixa de normalidade (até 0,75 cm) descrita pela literatura (REEF,
1998).
Apesar das médias estarem dentro dos valores descritos pela literatura, em
nossa opinião, com base no número limitado de medições realizadas neste estudo, é
difícil medir com precisão a espessura da parede dos segmentos intestinais no
cavalo normal utilizando probe de baixa frequência.
A análise das saculações do cólon é importante tanto para identificar o cólon
ventral (FREEMAN, 2002b) quanto para verificar tendência dessas saculações a se
tornarem planas em ocorrências como, por exemplo, compactação de cólon ventral
(REEF, 1998). Em nosso estudo, a média das saculações obtidas entre os dois
60
grupos em D-entrada foi de 5,5 cm (± 1,25), menor do que a média de 7,72 (± 0,31)
obtida por Hendrickson, Malone e Sage (2007).
A avaliação da distensão máxima e mínima foi um dos parâmetros avaliados
no estudo, resultando em uma diferença significativa entre os dias D1 e D5 para o
grupo 2 (p=0,002). Não foi possível encontrar explicação na literatura para o fato, ou
mesmo alguma importância clínica que justificasse tal diferença, visto que neste
mesmo período não houve diferença estatística na motilidade de duodeno em
ambos os grupos.
A veia e artéria cecal lateral têm sido descritas como estruturas importantes
para se identificar e diferenciar de outros vasos mesentéricos nos casos de
deslocamento de cólon maior (GRENAGER; DURHAM, 2011). Em nossa pesquisa,
essa avaliação procurou não só mensurar o diâmetro desses vasos, mas como
avaliar se há um aumento dessa medida em situações de cólica. Não houve
nenhuma diferença estatística no tempo ou entre os grupos, sendo que a média
encontrada no primeiro dia de internação para ambos os grupos foi de 0,51 (±0,08).
Não foram encontrados na literatura estudos que mensurem o diâmetro da veia
cecal lateral em cavalos sadios.
61
7 CONCLUSÕES
A ocorrência de síndrome cólica em cavalos internados com queixas no
sistema locomotor é alta, principalmente nos animais submetidos à artroscopia.
Todavia, o exame ultrassonográfico abdominal não foi um indicador precoce da
ocorrência de cólica antes de sua sintomatologia clínica, sendo útil apenas durante o
examedos animais já acometidos.
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