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EXPOSIÇÃO CADÁVER ESDRÚXULO

De 11 de fevereiro a 13 de maio de 2017

Casa Porto das Artes Plásticas

Exdrúxulo quer dizer proparoxítono – isso é o que nos diz a gramática, com gê minúsculo, algo limitado pela história e pelo purismo intelectual, sempre discutível. O termo exdrúxulo, aqui e neste momento, vai além da fronteira da linguagem escrita ou falada. É linguagem, sim, mas tão visual quanto o cinema; tão gestual como a mímica. O diálogo entre as artes e as épocas – elemento tão frequente que, não fosse marcado pelo talento, seria chamado corriqueiro – é o mote desse cadáver que mais se mostra vivo e ativo. Os surrealistas são invocados; a seu lado, um quê de Dadaísmo que traria orgulho a Tzara. Isso sem contar as influências (provavelmente inconfessas) de Bacon, Rothko, de Kooning e outros que habitam nosso tão estreito cotidiano criativo. Junte-se a esses senhores distintos outros tantos, em número de 17, caseiros, domésticos, e fulminantemente criativos, capazes de, juntos, fazer brotar vida de uma extensa faixa de papel Kraft – algo que parece antitético se pensarmos na idéia cadavérica como elemento definitivo, sem vida. O material utilizado não poderia ser mais adequado à proposta: carvão, nanquim, tinta branca. O contraste, as pontas da existência, o início e o fim. E um recomeço. A Casa Porto reverbera a ação viva, concedendo espaço não somente aos artistas, mas àquilo que é perene: sua arte que inicia e não termina. Aliás, essa é a ideia, eis a função desse projeto: fazer algo vivo, misterioso, sombrio, espetacular – e nada definitivo. Ainda que cadáver, é organismo. E vive.

Francisco Grijó Secretário de Cultura de Vitória

A Casa Porto das Artes Plásticas museu de arte da Prefeitura de Vitória vem oportunizando a exibição de trabalhos artísticos para variados públicos na Cidade.

A exposição Cadáver Esdrúxulo apresenta de forma inusitada a produção de um único desenho de aproximadamente 62 metros de extensão, construído sobre papel fixado diretamente nas paredes do interior galeria por 17 artistas que em comum possuem o interesse na pesquisa sobre o desenho.

O método de criação utilizado, foi o mesmo utilizado por artistas dadaístas e surrealistas. Trazendo essa metodologia para nosso contexto atual a proposta de criação deste trabalho tornou-se um desafio pois estaria ali sendo construído coletivamente, trabalhos individuais que criariam diversas pontes dialógicas para imaginários e repertórios individuais, visto que inevitavelmente cada artista detém estilos e formas diferentes de expressar o desenho.

O “Cadáver Esdrúxulo” expressa a diversidade e a individualidade ao mesmo tempo, cada fragmento do desenho é importante para entendimento da integralidade, do contrário comprometeria seu sentido de existir. Ao observá-lo em detalhe é possível encontrar diversos signos e significados e analisando-o em totalidade é possível enxergar fluxos de continuidade podendo chegar a conclusão que tudo está interligado.

Enfim, este é um trabalho que vale a experiência do olhar.

Kênia Marques Lyra Coordenadora da Casa Porto das Artes Plástica

As primeiras vanguardas artísticas da arte ocidental no século XX surgiram durante o ápice – temporal – do mito progressista alicerçado no racionalismo e no maquinismo que caracterizou a última fase do positivismo. Época marcada pela ascensão definitiva da urbe enquanto conglomerado humano, pela constante sobreposição, obliteração e recalque das emoções, sentimentos e anseios do indivíduo em contraste com os meta-objetivos econômicos das metrópoles coloniais. Contexto esse pautado pela introdução da psicanálise, pelas descobertas de novas fontes de energia, pela diminuição das distancias geográficas graças aos novos meios de transporte, pelos dispositivos mecânicos de captação da realidade, pela divulgação da teosofia e do espiritismo, pelo surgimento da teoria da relatividade. Assim também como pela crescente apropriação estética da arte dos povos africanos e oceânicos, da art brut, pelo trabalho psicografado dos médiuns e também pelos trabalhos dos doentes mentais que começavam a ser estudados. Todos esses elementos constituíram a gênese que inspirou boas parte das vanguardas artísticas modernistas, com especial ênfase no Expressionismo, em Dadá, no Surrealismo, no Expressionismo abstrato e na Nova figuração.

Todas essas vanguardas coexistiram ou se sucederam umas às outras em um curtíssimo espaço de tempo. E inclusive, vários dos seus representantes participaram em mais de um movimento ou tendência. Contudo, aquela breve faísca criativa do primeiro quarto de século, significou uma explosão telúrica em virtude da

O CADÁVER ESDRÚXULO, UM MÉTODO CRIATIVO

sua magnitude: Grande parte dos movimentos artísticos posteriores aprofundaram aspectos do que nela fora esboçado. Segundo Micheli, o Expressionismo esteve marcado por uma tremenda inquietação social exprimível, instintivamente, apenas desde o interior do espírito humano. Isto é, desde o sujeito plausível de alienação. Já o Dadaísmo, esteve pautado pela negação anárquica e pela fabricação de objetos, dentre os quais destacam: a poesia como atividade do espírito por intermédio do método de chapéu de Tzara, o método das colagens, a fotomontagem e a performance. Por sua vez, o Surrealismo, tento levar a imagem plástica para além de uma débil representação visual1.

As teorias de Freud sobre o inconsciente individual e a psicanálise, assim como as teorias de Jung sobre o inconsciente coletivo e os arquétipos ajudaram a alicerçar teoricamente vários métodos criativos idealizados para se obter o automatismo psíquico ou se recuperar a espontaneidade do primitivo, da criança e do doente mental. Segundo Hughes, várias vanguardas valorizaram o papel do inconsciente enquanto substrato da imaginação por intermédio do automatismo psíquico que valorizava o acidente, o involuntário, a imagem impensada que emergia do caos2. O que permitiu que o primitivo fosse visto como uma estrada real para acessar o inconsciente e a livre associação. Isto vem de encontro com as ideias de Fineber, para quem o que importa é o altíssimo grau de autenticidade da arte selvagem e da arte bruta3.

Essas novas técnicas pictóricas e de desenho acabariam por integrar o repertório prático do ensino artístico, no qual abundam galicismos, como pode ser constatado

no catálogo da primeira mostra dedicada ao tema nas Américas, no MOMA, em 19364. Dentre os quais chegaram até hoje: O objeto surrealista (object trouvé), um objeto achado e/ou intervindo emparentado com os ready-mades de Duchamp (1); o frottage de Ernst; a colagem (collage) desenvolvida pelos dadaístas Anna Hoch e Schwitters (2) e que tradicionalmente tem sido adscrito a Ernst pelos surrealistas; a fotomontagem, pelos também dadaístas Haussmann e Heartfield (3); a decalcomania (4) – uma revisitação tanto do muro mofado de Da Vinci, do teste psiquiátrico de Rorschach e da monotipia quanto dos desenhos com manchas de nanquim e café de Victor Hugo (5)5; os affiches ou cartazes interpretados – emparentados com a monotipia de Breton pelo uso de solvente sobre a tinta –; o grattage, o fumage (*); e finalmente, o éclauboussage ou método de respingar tinta sobre uma superfície horizontal por intermédio de um recipiente com furos a oscilar sobre mesma – utilizado à guisa do automatismo por Ernst entre 1942-43, o qual seria elevado a um outro patamar por Pollock (*) entre 1946-47, adquirindo, desta vez, um nome anglo-saxão.

Uma breve lista cronológica de trabalhos feitos com ou a partir da metodologia do cadáver esdrúxulo inclui obras dos mais diversos gêneros. Assim, em literatura podemos mencionar o romance Cadavre exquis, do belga Félicien Marceau, publicado em 1942; a novela gráfica Narrative corpse: A chain story by 69 artists de Art Spiegelman (6), em 1995, e o gibi Cadavre exquis de Pénélope Bagieu, editado por Gallimard em 2000. Em cinema, um antecedente necessário o seriam o curta Um cão andaluz, de Buñuel e Dali (7), 1929, ou as várias curtas de Man Ray. No entanto, é o apelo do título que tem se mantido ao

longo das décadas, em uma série de produções, dentre as quais: o thriller italiano Cadavre exquis, de Francesco Rosi (8), 1976; o drama quebequense Cadavre exquis. Premiere edition, de Martin Bourgault e Virginie Brault (9), 2006; e a série de 12 episódios para TV Les Cadavre exquis de Patrícia Higsmith, 1990-92; o filme tailandês Misterious object at noon, um misto de documentário e ficção de Apichatpong Weerasethakul (10), lançado em 2000; a comédia de média-metragem The exquisite corpse Project, de Bem Popik (11), 2012, dentre outros. Há também músicas com essa temática, como por exemplo, Le cadavre exquis de Serge Gainsbourg ou álbum de idêntico título de Daedalus6.

Fernando Gómez Curadoria

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Referências bibliográficas

BISCHOFF, U. Max Ernst. Para além da pintura. Colônia: Taschen, 1993.

MINK, J. Joan Miró. Colônia: Taschen, 1994.

MOLINA, J. J. G. (org.) Estrategias del dibujo en el arte contemporáneo. Madrid: Cátedra, 2003.

DE MICHELI, M. As vanguardas artísticas do século XX. SP: Martim Fontes, 1991.

1 De Micheli, M. Las vanguardias artísticas del siglo XX. La Habana: UNEAC, 1966, pp. __.2 Hughes, R. American visions: the epic history of Art in America. NY, 1999, p. 467.3 Fineber, J. Art since 1940. Strategies of being. London: Laurence King Publishing, 1995, p. 18.4 Hugnet, G. Fantastic art, Dada, Surrealism. NY: MOMA, 1936.5 Nuñez, M. Jackson Pollock y las máquinas de dibujar em Molina, J. J. G. (org.) Estrategias del dibujo en el arte contemporáneo. Madrid: Cátedra, 2003, p. 370.6 Informações consultadas e contrastadas nas Wikipédias portuguesa, espanhola, inglesa e francesa e também no IMDB.

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