TGI 2 | Ana Gambardella

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URBANIDADES comentários sobre o banal

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TGI II . ana luiza rodrigues gambardelladezembro . 2014

URBANIDADES comentários sobre o banal

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comissão de acompanhamento permanenteProf. Dr. Paulo Cesar Castral

Profa. Dra. Lucia Zanin ShimboProf. Marcio Minto Fabricio

orientador do grupo de trabalhoProf. Dr. Miguel Antonio Buzzar

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULOINSTITUTO DE ARQUITETURA E URBANISMOSÃO CARLOS - SP

TGI II . ana luiza rodrigues gambardelladezembro . 2014

URBANIDADES comentários sobre o banal

meus agradecimentos à minha família,aos queridos pela paciência,aos pitacos tão bem vindos,

e aos professores pelo questionamento constante

que a reflexão não se acomode

que esteja em constante inquietação

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[índice]

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objeto para-arquitetônico 12universo projetual 16objeto revisitado 22território 24áreas de intervenção 40leituras 50intervenções 62bibliografia 14264 comercial

82 ligação

100 desnível

114 praças

128 fundos

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Considero o espaço banal aquele esquecido pelo imaginário coletivo.

Diariamente, a cidade é habitada e utilizada por uma população em movimento que usufrui dos espaços ofe-recidos; essa movimentação urbana não é feita somen-te por grandes avenidas com grandes edifícios e espa-ços de importância latente para seus usuários, mas é feita por caminhos comuns com pessoas comuns em suas atividades triviais, banais.

Essas banalidades existentes na cidade contempo-rânea, assim como, os espaços em que acontecem, compõem uma narrativa de espaços e estruturas que representam, contam suas histórias e caem no esque-cimento, modificadas pelo ocorrido.

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[objeto para-arquitetônico]

Na disciplina Introdução ao TGI, desenvolveu-se um processo que pretendia encontrar disparado-res de projeto.

Questionamentos refinaram a inquietação inicial através de exercícios propostos pela disciplina, tendo como seu produto final, a formulação de um objeto síntese para-arquitetonico e sua pro-dução em texto.

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O questionamento inicial que desenvolvo na disciplina é a importân-cia da construção do olhar pelo banal, que repousa, neste caso, no exercício do flâneur, assim como no conceito de antimonumento e nas interações cotidianas do morador com a cidade. Pretendendo assim, utilizar imagens diárias a fim de mostrar a importância dos espaços que são muitas vezes esquecidos pelas logicas de constru-ção que encontramos atualmente.

Começo a trabalhar, então, com o conceito de “banal” tomando como o espaço banal aquele que não nos damos conta de sua existência no caminho percorrido diariamente, ou, o espaço trivial que é “es-quecido” pelo consciente coletivo, o que, no livro “Walkscapes, wa-lking as an aesthetic practice”, de Francesco Careri pode-se chamar de zonas inconscientes da cidade.

Esses espaços “esquecidos” me interessam.

Mas, como debater o banal? Qual ação tomar?

Como encontrar essas zonas inconscientes? Qual história essas paisagens nos conta?

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A ação é olhar com atenção e transformá-la

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a saga BIC

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[universo projetual]

Dentro da construção do universo projetual, as definições teóricas do trabalho foram sendo la-pidadas.

Impulsionadas pelos textos estudados, a com-preensão do espaço contemporâneo e seu es-tudo trouxeram consigo dados que ajudam a en-tender o espaço da banalidade.

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dentro do caos carregado pelo lugar sem história

extrair uma potência narrativa existente no encontro das camadas de leitura

trabalhar com o resíduo que as cidades geram e sua paisagem, trazendo a atenção aos lugares esquecidos pelo consciente coletivo

trazer novos significado para o comum/banal a fim de mostrar sua

importância simbólica

como trazer novos significados para lugares banais?

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Tudo isso de forma inconsciente e naturalizada

Com temporalidades distintas, olhamos a cidade dis-traidamente e tomamos ações inconscientes para com os espaços que se dispõem em nosso caminho, a ex-pressão pelos encontros e acidentes que nos causam estranhamento podem trazer elementos interessantes para o desenvolvimento de uma narrativa; tornando essas ações mais conscientizadas e trazendo novas importâncias simbólicas para determinados espaços. Podendo, desta maneira, refletir em seu conjunto, as lógicas internas à cidade que se perdem na percepção individual.

O olhar do usuário dessa cidade se perde no conjunto de informações, criando um limbo sem possibilidade de organização que traz nossa mente para um deserto de outros lugares, possibilidade que só se sustenta dentro das lógicas contemporâneas de construção e utilização da informação – espacial, visual e sensitiva.

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A revisitação do objeto para-arquitetônico traz a reflexão do início do discurso com uma maior quantidade de referências e inaugura a leitura das referencias com os trabalhos já desenvol-vidos, como ligação contínua ao projeto a ser definido.

[objeto revisitado]

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http://vimeo.com/98997159

No vídeo, é revisitado o objeto cotidiano acres-centado às questões levantadas até então, com a visão que o olhar despercebido tem da cidade que se confunde com suas atividades outras.

Instiga ao questionamento deste olhar e quais as ações que podem trazê-lo ao local presen-te, mostra que essa volta não o reconstitui, mas constroi uma terceira visão, nova.

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Como trazer essa importância simbólica para o entendimento do

usuário e do conjunto urbano?

Como trabalhar com o resíduo, o espaço esquecido e corriqueiro, a fim

de transforma-lo e ressignifica-lo?

Como lidar com a grande quantidade de informação dada e injetada no

espaço urbano diariamente, entendendo que o espaço não é

estático e imutável?

Interessa, a reconstrução de um significado que esses lugares carregam, mostrando os mesmos para o coti-diano urbano e fazendo com que a percepção e uso dele seja potencializado a partir de ações projetuais; acreditando que, por meio da arquitetura, esses espa-ços que não são evidentes em sua constituição tomem vitalidade e apareçam tanto em uma escala local, como no conjunto de cidade.

Entendendo que a leitura, utilização e interferência no espaço da cidade não se dá de forma neutra, a ação projetual desejada para fazer com que esse local “não monumental” retome um significado no imaginário cole-tivo também não será neutro e não tem como intenção retomar significados que podem ter sido dados ante-riormente, mas criarão novos significados pro local, se-gundo as interações ocorridas, tanto pela escala local com os usuários, quanto em uma escala territorial no entendimento e leitura da cidade como um todo a partir desses espaços.

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[território]

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Construída pela justaposição de camadas temporais, a metrópole apresenta uma complexidade em sua composição que abre cami-nho para a sobrevivência de espaços que escapam do projeto, não sendo acessível em sua vivência como espaço urbano presente no conjunto da cidade, ou mesmo passando despercebido na vivencia de espaços com grande fluxo de atividades na cidade. Esses espa-ços são muito presentes nos centros de metrópoles, sua consciência foi levantada pelos dadaístas e é assunto abordado também pelos surrealistas que aproximam-se a cidade em uma investigação psico-lógica da relação com o espaço urbano e falam de zonas inconscien-tes da cidade; segundo CARERI (2002, p.83) “aquelas partes que escapam do projeto e que constituem o que não é expresso e o que não é traduzível nas representações tradicionais.”

Há uma grande dificuldade de compreensão, memória, referência e relações subjetivas de aproximação do espaço urbano em uma me-trópole como São Paulo; palco de inúmeras intervenções urbanas, com o passar dos anos, reconfigura e cria-se uma dificuldade de caracterização e compreensão global, produzindo assim uma leitura fragmentária do seu total, dificuldade de entender as diversas cama-das que a compõem.

“Marcada pela expansão, pela descontinuidade, pelo ruído e pela transformação cons-tante [...] uma cidade como São Paulo tenderia a ser percebida como sucessão de

fragmentos nos quais a estrutura urbana se determina mais pela continuidade topoló-gica das infra-estruturas do que pelo padrão geométrico do tecido urbano’.”

(SOUZA, 2006. p.17)

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Demais extensa e fragmentada, marcada pela quantidade de infor-mação e poluição sensorial a cidade como espaço público, político e coletivo se esvazia de seu significado. O espaço urbano não é entendido como espaço público, mas sim como espaço de passa-gem entre pontos de interesse – casa, trabalho, lazer – exigindo do usuário uma percepção seletiva do seu redor. Esse processo aliena o habitante da metrópole do espaço urbano, assim como, da impor-tância do mesmo como espaço democrático.

A escolha seletiva de espaços de interesse na cidade, por sua vez, não se trata de uma questão individual, mas, simbolicamente dese-nha uma cidade a ser consumida com as imagens de seus monu-mentos e pontos de interesse previamente delimitados e com grande peso político na metrópole do capitalismo avançado. O espaço urba-no não é espaço de encontro, mas sim, um produto a ser consumido.

“Por sua fragmentação e tamanho inabarcáveis à percepção e à compreensão, sua destruição e reconstrução incessantes, sua privatização e segregação so-

ciais e a abstração e mercantilização de seu valor, tal cidade geraria dificuldades para compreensão e apropriação política de seu espaço.”

(SOUZA, 2006. p.14)

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Segundo Pallamin (2002), o fortalecimento de centros privados e a alteração das relações de trabalho – efetivadas a partir dos anos 1970 – processa uma recaracterização do que vem a ser o público, com a desinstitucionalização do seu espaço e o consequente distan-ciamento das experiências de âmbito social e coletivo. Em conjunto, as políticas direcionadas ao mercado como instituição reguladora da vida adotam processos de estetização da cidade, associados aos padrões de consumo, a cultura é também mercadoria e serve a uma função na ordem estabelecida. Quando atreladas ao exercício do lucro, as práticas e projetos culturais são moldadas e tendem a ser reduzidas de seu potencial crítico, atribuindo-as uma função pacifi-cadora das relações estabelecidas e funcionando como instrumen-tos de despolitização da vida nas cidades.

A relação do cidadão com esta cidade, no seu âmbito diário, é inti-mamente afetado pelas condições fragmentárias e imediatistas de-senvolvidas pela sucessão de mudanças, diminuição da vida públi-ca, excesso de estímulos sensoriais, espetacularização da cidade (a fim de torna-la produto consumível) e sua consequente higienização; fazendo com que o cidadão naturalize essas questões e crie uma imagem do espaço urbano, apagando de sua percepção o que se encontra atrás do naturalizado em uma leitura fragmentária e seleti-va do espaço urbano.

Tendo em vista este espaço plural encontrado nas grandes metrópo-les e em especial no objeto de estudo em questão – o centro de São Paulo – algumas questões pontuadas são de grande importância para a escolha do objeto de estudo e para o entendimento e inter-venção neste objeto.

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QUESTÃO FRAGMENTÁRIA espaço que não forma uma visão global de conjunto;

FOCO EM UMA CIDADE DO MONUMENTO em detrimento de sua base;

ESPAÇO MODIFICADO CONSTATEMENTE SOB A LÓGICA DO CAPITALISMO E DO ESPETÁCULO sob a intenção de torna-lo espaço consumível;

MULTIPLICIDADE DE ESPAÇOS RESIDUAIS NÃO-MONUMENTAIS espaços que dão suporte para os monumentos construídos simboli-camente na cidade contemporânea do espetáculo;

ESPAÇO DIVIDIDO POR POPULAÇÃO PLURAL E ABUNDANTE com diversas camadas de usos e temporalidades.

Esses espaços, não monumen-tais, podem se configurar de di-versas maneiras sendo desde o espaço residual causado pelas construções, até os espaços públicos subutilizados, espaços de grande fluxo de passagem sem permanecia ou mesmo espaços interiorizados, clima-tizados e assépticos. O que os trás para um mesmo conjunto é a falta de referência externa física, visual, histórica ou sen-sitiva e sua “não importância” como espaço construído para o usuário.

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a entropia oferecida pelo espaço que em todo momento sofre infil-trações dos mais diversos suportes de informações e ações huma-nas, mostra a irreversibilidade temporal do espaço construído e sua capacidade de englobar diversos dados a que se expõe diariamente;

s.f. Física. Grandeza que, em termodinâmica, permite ava-liar a degradação da energia de um sistema: a entropia de um sistema caracteriza o seu grau de desordem. / Lingüís-tica e Comunicação. Média da quantidade de informação das unidades lingüísticas.

o aparente caos que de alguma maneira se organiza e cria uma pe-lícula no olhar da cidade retirando nossa atenção do espaço presen-te e inserindo informações de maneira que a organização racional seria impossibilitada;

s.m. sing. e pl. Confusão geral dos elementos da matéria, antes da presumível criação do Universo. / Geologia Amon-toado de blocos de certas rochas, que se formam como con-seqüência da erosão. / Fig. Desordem.

Para tanto, trago algumas características que ajudam na compreensão deste espaço contemporâneo:

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a perda de referência local que acontece quando o solo já não é responsável pela distribuição espacial e quando a visão não conse-gue englobar um espaço em sua totalidade, perde-se a perspectiva em função de caminhos erráticos, com pressa, sem atenção;

s.f. Ato ou efeito de referir. / Relação de umas coisas com outras. / Alusão. / Autoridade, texto a que se refere: in-dicar com referências. / Sinal colocado acima de uma letra ou palavra, com o qual se chama a atenção do leitor para uma nota explicativa. // Obra de referência, obra não para ler, mas para consultar. // &151; S.f.pl. Informações de pessoas idôneas em favor de um candidato a emprego etc.; recomendação: ter boas referências.

a insipidez que os espaços passam seguindo a monótona volume-tria e desenho, sem valorização dos seus vazios e com a lacração de seus espaços construídos que, consequentemente, se fecham para a cidade;

s.f. Estado do que é insípido: a insipidez da água, de um romance, de um espetáculo. / Qualquer coisa enfadonha.

Essas características escolhidas para tratar a cidade contemporânea do capitalismo e seus espa-ços residuais não-monumentais ajudam a construir a ideia de uma pluralidade de espaços e situa-ções cotidianas nos interstícios dessa lógica comercial a qual a cidade está submetida em anos de políticas públicas.

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Interessa compreender que, nesta pluralidade, situações diversas são encontradas e muitos espaços são naturalizados e esquecidos pelo inconsciente coletivo devido a escolha seletiva de interesses na cidade, e que, estes espaços têm importância na constituição da cidade como um todo e na história do território que sofre diversas modificações físicas e simbológicas ao longo de sua história.

Demarcar os espaços “apagados” ao longo do tempo, permite a re-construção de significado possível à esses lugares ordinários, mos-trando-os ao cotidiano urbano como espaços existentes em suas características. Tal ação interessa ao trabalho sob o viés de trazer ao usuário uma experiência de cidade que vai na contra mão da experi-ência ditada pela lógica da cidade como produto consumível.

A multiplicidade dos espaços escolhidos é uma das características que, quando vistos em conjunto, estampam a pluralidade de uma região da cidade, com sua percepção fragmentada e direcionada inconscientemente ao longo de sua constituição.

A potencialização desses espaços urbanos vem com a percepção da existência dos mesmos e com a exploração de características inerentes de cada espaço, não sendo portanto uma leitura neutra da cidade, mas uma ação projetual sobre o espaço urbano. A escolha, análise e intervenção, são ações por meio da arquitetura e suas in-terdisciplinaridades, nos espaços, que não são evidentes, apareçam para o cotidiano do espaço urbano tanto em escala local, quanto em conjunto.

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A intervenção nestes espaços, portanto, pretende criar uma nova camada de leitura e consequentemente novos significados e intera-ções do ambiente urbano com o usuário.

No caminho com o debate do espaço urbano, a arte urbana des-ponta como importante agente na produção simbólica do espaço. Seguindo contra os processos de estetização realizados pelo capital juntamente às políticas de comercialização do espaço da cidade, a arte urbana conversa diretamente com as contradições e conflitos presentes no espaço em que se coloca e “incitam o questionamento sobre como e por quem os espaços da cidade são determinados” PALLAMIN, 2002.

Situadas neste contexto, as intervenções urbanas podem ser enten-didas como instrumentos com o fim de produzir outros significados e subjetividades ao espaço e trazer visibilidade para as relações exis-tentes no espaço urbano, criando uma ruptura com a estabilidade dessas relações e contribuindo com a reflexão de valores, práticas e situações encontradas no espaço urbano.

“Destacamos a arte urbana como prática crítica exatamente neste momento em que o horizonte não possui mais a carga utópica que já teve um dia.”

(PALLAMIN, 2002)

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“Em meio aos espaços públicos, as práticas artísticas são apresentação e re-presentação dos imaginários sociais. [...] Pode criar situações de visibilidade e

presença inéditas, apontar ausências notáveis no domínio público ou resistências às exclusões aí promovidas, desestabilizar expectativas e criar novas

convivências, abrindo-se uma miríade de motivações.” (PALLAMIN, 2002)

A intervenção contextualizada com o ambiente em que se coloca aparece nas décadas de 1960 e 1970 com o trabalho de artistas que buscavam com sua arte, tecer comentários sobre os lugares, o cha-mado “site-specific”. Mesmo, muitas vezes, não sendo diretamente in-serida no contexto urbano, o trabalho desses artistas são referência nas discussões sobre intervenções nas cidades. A contextualização de uma intervenção em um determinado local pode tanto ser con-dizente com seu contexto como pode criar uma perturbação nele, como dito anteriormente.

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Com essas experiências, a discussão sobre o campo da escultura se expande e suas limitações são tencionadas e recolocadas, abrindo espaço para que a ação da arte e da arquitetura criem uma relação de interdependência, alimentada e relacionada com a paisagem em que se inserem.

Interessa a inserção da arte urbana como agente crítico do espaço urbano pois ela participa da composição da cidade com interven-ções e estabelece relações com a vida cotidiana da cidade partici-pando da produção simbológica do espaço, seja em conjunto com os processos vigentes, seja contra eles.

Neste contexto, a interdisciplinaridade entre produção artística e ar-quitetura se mostra importante agente na leitura da metrópole e em sua intervenção, abrindo caminho para que a arquitetura intervenha na cidade de forma mais livre.

Como referência para estas ações na cidade, tomo as experimenta-ções de artistas como Richard Serra, Ana Maria Tavares, Christo e Jeanne-Claude, Rubens Mano, Carmela Gross e grupos de arquite-tos como PKMN, DUS Architects e Foster + Partners, além de textos de Robert Smithson, Rosalind Krauss, Wim Wenders e Miwon Kwon.

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É escolhido como objeto de estudo o centro de São Paulo, devido sua complexidade e por se apresentar como um território onde todas as contradições e políticas públicas colocadas pela leitura da espetacularização da cidade tornando-a produto consumível é presente, além da mul-tiplicidade de intervenções realizadas ao longo do tempo e a rapidez com que o território se mo-difica.

Em um trabalho de procura, análise e classifi-cação destes lugares, foi produzido um material bruto de levantamento que inicialmente engloba 24 áreas de intervenção com potencial para co-mentários culturais qualitativos destes espaços, e que, visando uma proposta mais concisa do ambiente transformam-se em um produto final de 16 áreas.

[áreas de intervenção]

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áreas de intervenção | julho.2014

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intervenções | julho.2014

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Obs: Essa diminuição das áreas foi importante elemento de leitura da cidade, inclusive por comprovar algumas proposições colocadas no início do trabalho. Como exemplo, posso citar áreas que, existen-tes em uma primeira visita, depois de 5 meses já não mais estavam em utilização, sendo englobadas por obras de suas proximidades; ou então áreas que em diferentes momentos de leitura se compor-tavam de maneiras distintas pela utilização das pessoas que moram na mesma rua ou por atividades comerciais e institucionais de seu entorno, mostrando a mutabilidade da cidade e os rastros que se conformam com essa mutabilidade.

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Coloco então que, na prática de levantamento das áreas foi percep-tível a constante modificaçao do ambiente e que a cidade tem diver-sas camadas temporais conviventes. As diversas intervenções neste espaço de tempo têm temporalidades distintas de desenvolvimento e desaparecimento no ambiente urbano.

No estudo das áreas utilizadas neste trabalho, a organização por grupos de áreas referentes a seus fatos urbanos se viu necessário para identificar e atribuir uma intervenção referente a cada recorrên-cia.

Ocorreu um trabalho com o material bruto de experimentações utili-zando as diversas intervenções propostas durante o processo para as 24 áreas iniciais e de acordo com as ocorrências foram sendo afinadas e direcionadas tanto as áreas como a natureza das inter-venções; para o estudo e interpretação desta área, encontrou-se um número de 16 áreas que formam um conjunto condizente com a pro-blemática proposta e apresentam coesão com as leituras.

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áreas de intervenção

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[leituras]

Foi desenvolvido um conjunto de leituras das áreas de in-tervenção, reunindo 7 características base de uma leitu-ra padronizada e resulta em um sistema de códigos para cada local.

Essas leituras contribuem para o entendimento do conjunto a ser utilizado.

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A escolha das 16 áreas de intervenção que são propostas se baseia na identificação de 5 fatos urbanos contidos no grupo inicial, os gru-pos identificados através das leituras carregam questões corriqueiras no ambiente urbano e se configuram a partir da utilização diária da cidade.

Através das leituras de área observamos como esses fatos se configuram e vão desdobrar em intervenções no ambiente urbano.

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comercial

ligação

fund

os

desnível

praças

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[intervenções]C

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Neste grupo concentram-se as ruas com comércio. Todas as ocorrências desse fato urbano no trabalho aparecem em vias entre edifícios de grande porte, com salas comerciais em seus térreos.

Não se configuram como vias principais de comér-cio no centro, mas o comércio é expressão clara em sua configuração.

Neste grupo adotou-se o deslocamento semântico de um símbolo comercial, o boneco Mickey.

O deslocamento semântico do boneco pretende trabalhar com o estranhamento ao encontra-lo em meio urbano fazendo parte da paisagem urbana.

[comercial]

[mickey]

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RUA SENADOR PAULO EGÍDIO, entre o Largo São Francisco e a Rua José Bonifácio

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RUA DO EDIFÍCIO COPAN,rua no térreo do Edifício Copan.

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RUA GABUS MENDES,paralela a Avenida Ipiranga.

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RUA DOM JOSÉ DE BARROS,próximo ao Largo do Paiçandu.

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Neste grupo, concentram-se as vias de passagem de pedestres.

Todas as ocorrências desse fato urbano no trabalho aparecem em vias que fazem ligação entre espaços na cidade, o comércio, quando presente não ganha potência como estruturador da via.

Se configuram como vias adjacentes a vias de car-ros e transporte público.

A repetição de postes nas vias escolhidas pelo gru-po pretende, a partir da repetição de um elemento comum ao ambiente urbano, criar o estranhamento ora marcando uma direção para o olhar, ora criando uma barreira simbólica do espaço.

[ligação]

[postes]

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PRAÇA CARLOS GOMES,situada na Rua Dr. Rodrigo Silva.

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RUA FORMOSA,entre Viaduto do Chá e Largo da Memória.

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VIADUTO DONA PAULINA,passagem sobre Avenida 23 de maio.

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RUA DO CARMO,próximo a Praça do Carmo.

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Neste grupo, concentram-se as áreas que apresen-tam diferença de nível considerável.

Todas as ocorrências desse fato urbano no trabalho são áreas que apresentam diferença de nível venci-das por escadas no ambiente urbano, em decorrên-cia da acentuada mudança de nível.

Se configuram como extensão da via de pedestres, aliada ou não a espaços de estar.

Os volumes criados por chapas perfuradas carre-gam a intenção de evidenciar os desníveis e os vo-lumes que são criados no ambiente.

Sua associação com as escadas não é obrigatória, mas sua configuração visa criar uma relação com os espaços que se criam nesses ambientes.

[desnível]

[volumes]

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PRAÇA DA LIBERDADE,entrada da Estação Liberdade do metrô.

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RUA ANITA FERRAZ,encontro com Rua Conde de Sarzedas.

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RUA DR. FALCÃO FILHO,ao lado da Prefeitura Municipal de São Paulo.

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Neste grupo, concentram-se as praças.

Todas as ocorrências desse fato urbano no trabalho são praças criadas em espaços residuais de lotes ou espaços residuais de vias, sendo modificada com o tempo.

Não se configuram como praças de grande porte e/ou como pontos de referência na cidade como um todo.

A inserção de bexigas nas praças pretende tencio-nar a sensação de tato do piso das praças, o ele-mento escolhido para as intervenções trabalha com o deslocamento de um objeto comum e frágil para o ambiente urbano, trabalhando como a questão lú-dica do espaço.

[praças]

[bexigas]

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PRAÇA DES. MÁRIO PIRES,encontro das Rua da Consolação e Rua Martins Fontes.

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PRAÇA DR. JOÃO MENDES,atrás da Catedral Metropolitana da Sé.

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PRAÇA MIN. COSTA MANSO,encontros da Rua Oscar Cintra Gordinho e Rua Helena Zerrener.

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Neste grupo, concentram-se as áreas aos fundos de equipamentos culturais.

Todas as ocorrências desse fato urbano no trabalho são adjacentes a edifícios conhecidos por serem palco de atividades culturais na cidade, sendo de grande porte e tendo vista para o edifício.

Não se configuram como espaço de extensão do edifício, apesar da proximidade e extensão.

Utilizado como paredes que criam barreiras visuais e físicas no ambiente, os banheiros químicos são uma crítica a falta de equipamentos básicos no am-biente urbano, como é o caso dos banheiros públi-cos.

Também remete a um equipamento utilizado em bastidores de eventos públicos, trabalhando em conjunto com os fundos dos espaços.

[fundos]

[banheiro químico]

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RUA JACEGUAI,terreno ao lado da Associação Teatro Oficina Uzyna Uzona.

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PARQUE ANHANGABAÚ,atrás da Praça das Artes.

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[considerações]

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O trabalho desenvolvido mostra como as intervenções no espaço urbano podem ser utilizadas como prática que comenta, amplia uma consciência de cidade e se abre a apropriações diversas provindas dos usuários. Com o desenvolvimento das intervenções, interessa as reflexões que podem desencadear a partir de então.

Qual a relação que temos com os elementos urbanos? Como essas relações podem ser modificadas com a sua multiplicação e com a retirada de sua funcionalidade?

Qual a relação que um elemento externo ao ambiente urbano in-troduz ao debate das relações existentes nas metrópoles? Em qual medida esse primeiro descolamento não se naturaliza como imagem de cidade?

Como instrumentos interdisciplinares podem colaborar com o debate da cidade e de suas políticas públicas?

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Neste contexto, coloco o meu trabalho e meus questionamentos ini-ciais como questões abertas a diferentes interpretações e a constan-te modificação do espaço urbano.

A inserção dessas intervenções na cidade tem como intenção uma leitura que se tem dessas áreas em particular, mas, para além do re-sultado apresentado, representa um anseio de entendimento dessa complexidade inferida nas metrópoles.

A utilização de referências interdisciplinares, como o campo da pro-dução artística foi uma experiência muito rica por mostrar as diferen-tes interlocuções que a arquitetura pode apresentar. Trazendo no-vas inquietações para com o espaço urbano, a crítica que se coloca através da arte neste espaço é um vasto campo a ser estudado e pode ser instrumento de leitura e visualização da cidade; essa inter-disciplinaridade foi campo no qual o trabalho ensaia como uma das possíveis respostas das perguntas iniciais, perguntas estas que não se fecham em si, mas abrem um campo de possibilidades maior ao fim deste percurso adotado.

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No decorrer dos estudos, muitas outras questões foram encontra-das, como o papel das políticas públicas e do modelo adotado para as metrópoles e o papel da cultura e da arquitetura como impor-tantes agentes destas políticas e mesmo como utilizar elementos corriqueiros e conhecidos como instrumento de modificação da pai-sagem através de ações simples.

Essas ações pulverizadas na cidade podem criar novos entendi-mentos e chamar atenção para questões que não nos atentamos cotidianamente, indo de encontro com uma leitura de cidade previa-mente tida. Esses distúrbios na paisagem que se conectam não line-armente trazem questões da cidade à tona, mas, mais importante do que dar uma resolução, abrem novas questões a serem debatidas e apreendidas na cidade.

Espero que com o trabalho exposto, essas questões do espaço e da ação banal, surtem como reflexão dessa cidade em que atuamos como profissionais de arquitetura e urbanismo, e que a reflexão não se acomode, que esteja em constante inquietação. A cidade como um reflexo das atitudes políticas e das camadas temporais distintas, em constante modificação.

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[bibliografia]

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PALLAMIN, Vera. Arte urbana como prática crítica. In: Ci-dade e Cultura: esfera pública e transformação urbana. São Paulo. Estação Liberdade, 2002.

ROSA, Marcos L. Micro Planejamento: práticas urbanas criativas. São Paulo. Editora de Cultura, 2011.

SMITHSON, Robert. Um passeio pelos monumentos de Passaic, Nova Jersey. Trad. Pedro Sussekind. Arte & En-saios, Rio de Janeiro: Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, Escola de Belas Artes, UFRJ, n. 19, p. 162-167, dez. 2009. Tradução do texto: “The Monuments of Passaic”, Artforum, December 1967, p.48.

SMITHSON, Robert. Atopia Cinemática. Caderno Sesc Videobrasil / SESC SP. Associação Cultural Videobrasil. Vol. 3, n. 3. São Paulo, 2007.

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