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Transmissões sem fio e campos
magnéticos prejudicam a saúde humana?
Computação Móvel
Gustavo Pinto Vilela
Julho de 2012
Instituto de Matemática e Estatística
Universidade de São Paulo
São Paulo, SP, Brasil
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Sumário
1. Introdução e motivação 2
1.1. Objetivo 3
2. Conceitos físicos 4
2.1. Campos eletromagnéticos 4
2.2. Radiação eletromagnética 4
2.3. Transmissões sem fio 6
3. Riscos e benefícios 8
4. Experimentos e resultados 9
4.1. Tipos de experimentos 10
4.2. Resultados em câncer 10
4.3. Projeto REFLEX 13
4.4. Projeto Interphone 14
4.5. Projeto AustinMan 15
4.6. LASR 2010 16
4.7. Outros estudos 18
5. Hipersensibilidade eletromagnética 21
5.1. Estudos e resultados 22
5.2. Tratamentos 23
6. Conclusões 24
7. Referências 26
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1. Introdução e Motivação
A tecnologia tem avançado cada vez mais rápido com o passar do tempo. Nos últimos
anos, uma tecnologia que tem evoluido consideravelmente é a transmissão sem fio, tornando-
se mais rápida e de mais fácil acesso ao público.
O crescimento da comunicação sem fio favorece a troca de informação em todo lugar e
a todo momento, encurtando as distâncias entre seus usuários e tornando-os mais conectados.
Como consequência dessa tecnologia, os dispositivos móveis também tem se desenvolvido
muito e mais rapidamente, tanto para acompanhar essa expansão como para explorar de forma
mais adequada os recursos que esse meio de comunicação em ascensão tem a oferecer.
Assim como acontece com todo novo paradigma ou tecnologia que passa a ser
largamente utilizado, essa disseminação dos dispositivos móveis acarretou um aumento na
preocupação relacionada ao impacto que essa tecnologia pode ter sobre a saúde humana.
Teme-se que possíveis danos aos usuários só apareçam com o surgimento de sintomas após um
longo período de exposição.
Por isso, diversos estudos foram e estão sendo realizados para tentar prever um
possível efeito nocivo dessa tecnologia sobre o homem e assim, caso necessário, desenvolver
um meio de combatê-la ou estabelecer medidas preventivas que limitem o seu uso. Alguns dos
motivos que agravam essa preocupação são os crescentes números de antenas de telefonia (ou
Estações Rádio-Base - ERBs) e de transmissões de dados sem fio que acompanham o
crescimento da tecnologia.
A preocupação referente à comunicação sem fio é decorrente dela ser baseada em
radiação eletromagnética e já é sabido que, quando emitida, parte dessa radiação pode ser
absorvida pelo corpo humano, ou mais especificamente, pela cabeça do usuário do dispositivo,
no caso da computação móvel. A maioria dos estudos na área foca na telefonia celular por esta
apresentar mais riscos à saúde do que as outras tecnologias de comunicação sem fio. A razão
deste risco elevado é que os celulares são os aparelhos que emitem sinais com as potências
mais elevadas e mais próximas da cabeça de seu usuário.
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1.1. Objetivo
Este trabalho tem por objetivo apresentar e analisar os estudos e resultados mais
recentes nessa área, mostrando o que tem sido feito, o que se deve ou não evitar e o que ainda
necessita de maior atenção ou novos estudos para atingir conclusões e medidas definitivas. A
análise das publicações recentes serve de base para tentar responder a questão sobre a
possibilidade das transmissões sem fio e dos campos magnéticos serem prejudiciais à saúde
humana.
A sequência deste texto está dividida da seguinte maneira: a próxima Seção faz uma
breve introdução dos conceitos físicos envolvidos, a Seção 3 aborda os risco e benefícios dessa
tecnologia, a Seção 4 apresenta os experimentos e resultados recentes e, por fim, a Seção 5
conclui o assunto em discussão com o estado da arte das pesquisas.
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2. Conceitos Físicos
A seguir serão apresentados brevemente e de forma simples alguns dos conceitos físicos
envolvidos nas tecnologias de comunicação sem fio. O objetivo desta Seção não é explicar
exatamente o funcionamento da tecnologia nem a física relacionada ao processo, mas apenas
situar o leitor no contexto físico envolvido para que possa obter mais detalhes em caso de
interesse.
2.1. Campos Eletromagnéticos
Um campo elétrico é um campo de força resultante da ação de um sistema de cargas
elétricas e a região invisível formada pela energia da movimentação dessas cargas é chamada
de campo magnético. O campo eletromagnético aparece quando ambos existem
simultaneamente e a movimentação de cargas é consequência da passagem de corrente
elétrica [1]. Ambos os campos tem como característica o rápido enfraquecimento conforme se
aumenta a distância da fonte [2].
Campos elétricos são enfraquecidos com o contato com a pele humana, enquanto
campos magnéticos são capazes de penetrar o corpo. Alguns estudos já associaram a exposição
a campos magnéticos com o aumento do risco de câncer [3] e por isso, diversos estudos que
buscam possíveis danos à saúde humana são focados na ação de campos ou radiação
eletromagnética.
2.2. Radiação eletromagnética
A radiação eletromagnética é composta de um campo elétrico e um magnético, que
oscilam perpendicularmente um ao outro e à direção da propagação de energia [4]. Essa
radiação consiste das ondas eletromagnéticas que propagam a energia em um campo
eletromagnético.
As radiações eletromagnéticas podem ser divididas em radiação de baixa frequência,
média frequência, radiofrequência, entre outras, de acordo com a frequência de emissão de
suas ondas (ver Figura 1). Quanto maior a frequência de emissão da onda, maior é a energia
que ela carrega.
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Figura 1. Espectro eletromagnético (Fonte [5]).
Além dessa divisão, os tipos de radiação eletromagnética também podem ser divididos,
de acordo com o espectro eletromagnético, em dois tipos: ionizante e não ionizante.
O primeiro é capaz de remover elétrons de átomos ou moléculas e assim causar danos
ao tecido, como é o caso do câncer. São exemplos de radiação ionizante os raios ultravioletas
invisíveis, raios X e raios gamma.
A radiação não ionizante, por outro lado, não possui energia suficiente para alterar a
matéria. Porém, causa um aumento na vibração das moléculas e, consequentemente, um
aumento na temperatura dos tecidos biológicos. A frequência desse tipo de radiação é baixa
para influenciar diretamente células vivas, porém pode causar mudanças significativas através
de correntes induzidas. Esse é o tipo de radiação que corresponde a maior parte do espectro e
alguns exemplos são os raios ultravioletas visíveis, infravermelho e as radiofrequências.
A radiofrequência (RF) é a forma de radiação utilizada na telefonia móvel, na
transmissão de dados sem fio e na comunicação de celulares com as estações de rádio base
(ERB).
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2.3. Transmissão sem fio
Atualmente, toda e qualquer comunicação sem fio é baseada em ondas
eletromagnéticas não ionizantes. Em especial, no caso dos dispositivos móveis, são utilizadas as
radiofrequências e radiação infravermelha, que são radiações de alta energia.
As transmissões sem fio permitem que dispositivos geograficamente separados possam
se conectar e trocar dados e informações sem a necessidade de existir uma conexão direta
entre eles, por exemplo, via cabos. O alcance destas transmissões está diretamente relacionado
com a forma de transmissão sem fio associada, variando de alguns poucos metros até milhares
de quilômetros.
A capacidade de transmissão de dados em uma determinada onda está diretamente
relacionada com sua frequência. Quanto maior a frequência, maior a quantidade de dados que
podem ser enviados por intervalo de tempo. Além da capacidade de transmissão, a frequência
também é determinante no alcance da onda e nos meios nos quais ela é capaz de penetrar.
Tabela 1. Faixas de frequência de transmissões por rádios e aplicações (Fonte [6]).
Nome (Frequência...) Símbolo Frequência Aplicações
Extremamente Baixa ELF 3 a 30 Hz Comunicação com submarinos
Ultra Baixa ULF 300 Hz a 3 kHz Comunicação com minas
Baixa LF 30 a 300 kHz Transmissão de dados internacionais, torres de auxílio de navegação
Média MF 300 a 3000 kHz Torres de auxílio de navegação, rádios AM e comunicações
marítimas e aéreas
Alta HF 3 a 30 MHz Rádios HM
Muita Alta VHF 30 a 300 MHz Rádios FM, aviação e televisão
Ultra Alta UHF 300 a 3000 MHz Televisão aberta, aparelhos celulares e redes sem fio
Super Alta SHF 3 a 30 GHz Redes sem fio e satélites
Extremamente Alta EHF 30 a 300 GHz Micro-ondas em celulares, redes de computadores sem fio,
radares, radio-astronomia e sistemas de armas avançadas
Essas características tornam alguns intervalos de frequência mais adequados a
determinadas forma de transmissão, como os casos de ondas de rádio mostrados na Tabela 1.
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Além de ondas de rádios, outras formas de transmissões também são bastante utilizadas, como
por infravermelho, comum em controles remotos e outros equipamentos, e por luz, utilizadas
entre satélites [6].
Entre as tecnologias de transmissão sem fio mais comumente usadas na computação
móvel destacam-se o Bluetooth, a Wi-Fi e o WiMAX. O primeiro é uma tecnologia de curto
alcance e baixa taxa de transferência; a segunda é uma tecnologia de alta potência, permitindo
alta taxa de transferência e alcance semelhante às conexões Ethernet tradicionais; por fim, o
WiMAX é uma tecnologia de longo alcance empregada na área de telecomunicação como
alternativa ao acesso via cabos.
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3. Riscos e Benefícios
A maioria das pessoas está exposta a campos eletromagnéticos no seu dia-a-dia. A rede
elétrica ou mesmo os aparelhos elétricos utilizados normalmente geram esses campos sem que
as pessoas se deem conta do que está acontecendo. Entretanto, a potência destes campos é
baixa o suficiente para tornar segura a convivência em meio a eles.
O recente crescimento das transmissões sem fio e o avanço dos dispositivos móveis,
porém, tem aumentado significamente a exposição de seus usuários a campos
eletromagnéticos. Essa nova tendência coloca a necessidade de realizar estudos e
experimentos científicos que possibilitem avaliar a segurança da saúde de seus usuários em
relação à expansão da nova tecnologia.
Ao longo dos últimos anos, a grande maioria dos estudos que relacionam radiação
eletromagnética e saúde humana está focada na tentativa de encontrar ou reproduzir alguma
anomalia genética ou mesmo alterações no sistema biológico humano. Os estudos consideram
os riscos diretos e indiretos que o uso excessivo da emergente tecnologia pode ter sobre a
saúde dos usuários.
Apesar da crescente preocupação com os riscos que a exposição a esse tipo de radiação
pode causar na saúde humana, deve-se destacar que quando utilizadas de forma correta, em
ambientes controlados e com tempos de exposição curtos, a radiação trás diversos benefícios à
área médica [7].
Algumas aplicações bastante interessantes de campos eletromagnéticos de baixa
frequência podem ser citadas. Por exemplo, o tratamento de dores e a recuperação de fraturas
através do estímulo do crescimento ósseo e redução do tempo de recuperação; estimulação
magnética transcraniana (TMS, do inglês Transcranial Magnetic Stimulation); ou detecção de
tumores cancerígenos. Outras formas de radiação também apresentam utilidade médica como
é o caso da radiofrequência usada na recuperação de tecidos e tratamentos de câncer e no
exame de ressonância magnética ou ainda a aplicação de raios X e raios gamma na tomografia e
radioterapia, respectivamente.
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4. Experimentos e Resultados
As subseções seguintes apresentam importantes estudos, resultados e conclusões
recentes de alguns notáveis projetos que buscavam responder a pergunta sobre a radiação
eletromagnética ser ou não prejudicial à saúde humana. Por fim, na Seção seguinte é
apresentada a hipersensibilidade eletromagnética, que se refere a um conjunto de sintomas,
supostamente causados pela exposição a campos eletromagnéticos, apresentados por pessoas
hipersensíveis.
Os estudos apresentados focam em possíveis efeitos nocivos à saúde humana. É sabido
que o contato com o eletromagnetismo causa alguns efeitos temporários sobre o sistema
biológico, porém estes efeitos biológicos não são tidos como prejudiciais à saúde e por isso são
omitidos na maioria dos estudos.
Efeitos com essa característica, de desaparecem com o fim da exposição a campos
eletromagnéticos, são vistos apenas como alterações nas respostas biológicas dos voluntários.
Inclusive, muitos deles não foram encontrados em outros estudos e, portanto não são
considerados conclusivos. Alguns exemplos de efeitos biológicos observados em alguns estudos
foram os seguintes:
Redução de três a cinco batimentos cardíacos por minuto [8];
Pequena alteração na atividade cerebral durante o sono [9][10][11][12][13].
Mais tarde, outro estudo mostrou que a alteração é semelhante à proporcionada
pela cafeína e alguns hormônios;
Redução na liberação de melatonina após a exposição [14];
Efeitos temporários sobre os processos cognitivos [15][16][17].
A seguir, serão descritos experimentos e projetos desenvolvidos na última década ou
em ainda desenvolvimento que buscam descobrir se existem outros efeitos causados pelas
transmissões sem fio e telefones celulares sobre a saúde humana. O foco destes estudos está
em resultados prejudiciais à saúde de seus usuários.
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4.1. Tipos de experimentos
Os experimentos presentes na literatura podem ser divididos em quatro tipos distintos:
experimentos com células, com animais, clínicos ou epidemiológicos [7][3].
Os experimentos com células são também conhecidos como in vitro por utilizarem
células isoladas e são realizados em laboratório com o objetivo de obter um melhor
entendimento dos mecanismos biológicos.
Os experimentos com animais são também conhecidos como in vivo por serem
realizados com animais ainda vivos, normalmente ratos e camundongos. Estes são também
realizados em laboratório e em condições bem controladas.
Experimentos clínicos são realizados com voluntários que ficam expostos a campos em
níveis acima do normal para observar possíveis alterações fisiológicas que são monitoradas por
uma equipe especializada.
Por fim, experimentos epidemiológicos consistem da observação e comparação de
grupos de pessoas que já estiveram ou estão expostos a campos com grupos que não foram
expostos. Os grupos que de alguma forma já estiveram expostos vivem em ambientes não
controlados e, portanto as condições do ambiente e de exposição não podem ser previstas.
Entre essas formas de experimento, os epidemiológicos são os mais complicados de
serem analisados por não permiterem verificar instrumentalmente os resultados. Por este
motivo, muitos dos critérios de análise utilizados são estatísticos.
Os estudos apresentados a seguir abrangem as quatro formas de estudos descritas
anteriormente, escolhendo a que melhor se adequa ao objetivo do experimento e as condições
disponíveis no desenvolvimento do projeto.
4.2. Resultados em câncer
Muitos estudos focam na possibilidade da radiação eletromagnética gerar ou acelerar o
desenvolvimento de tumores cancerígenos. A razão dessa maior preocupação é por existirem
resultados que associaram a exposição a campos eletromagnéticos com o aumento do risco de
câncer [3].
Inclusive, a Organização Mundial da Saúde (OMS) possui um órgão específico dedicado a
pesquisas em câncer que é a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC, do inglês
International Agency for Research on Cancer).
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Em 1979, um estudo [18] realizado em Denver (Colorado, Estados Unidos) encontrou
uma associação entre um maior risco de leucemia infantil e a presença de altas correntes
elétricas. Este estudo, porém, não mediu a intensidade do campo eletromagnético para que
estudos posteriores pudessem confirmar o resultado. Muitos esforços de pesquisas foram
desprendidos na tentativa de reproduzir esse resultado e obter uma conclusão definitiva,
porém esse objetivo ainda não foi atingido.
Um dos resultados obtidos no estudo de câncer está presente em um relatório [19] do
Conselho Nacional de Proteção Radiológica (NRPB, do inglês National Radiological Protection
Board) do Reino Unido, que diz ter encontrado alguma evidência de que a exposição a campos
eletromagnéticos acima de 0.4 microtesla estariam associados a um aumento (quase o dobro)
no risco de leucemia infantil. O estudo não encontrou nenhuma evidência relacionada ao risco
em adultos e o relatório foi cuidadoso ao explicar que não foi encontrada nenhuma evidência
causal, aconselhando que mais estudos fossem realizados.
O Instituto Nacional de Câncer (NCI, do inglês National Cancer Institute) e o Grupo de
Oncologia de Crianças (COG, do inglês Children’s Oncology Group), ambos do Reino Unido,
avaliaram a incidência de câncer em crianças, focando em leucemia e tumores cerebrais que
são mais comuns, devido à exposição a campos eletromagnéticos em suas residências [20]. Os
resultados obtidos indicaram que mesmo as crianças que residiam próximas a fortes campos
magnéticos não apresentavam riscos superiores às demais crianças [17][21][22].
Um estudo australiano [7] verificou uma aceleração no desenvolvimento de tumores em
cobaias modificadas geneticamente para terem predisposição ao câncer [23]. Esse efeito só foi
observado em cobaias expostas à radiofrequência durante toda a sua vida. Porém, estudos
posteriores [24] realizados no mesmo local e utilizando mais animas não conseguiu reproduzir o
resultado. Alem disso, a generalização para a saúde humana a partir do resultado obtido com as
cobaias não é clara.
Estudos falharam em encontrar evidências que associassem o desenvolvimento do
câncer com a exposição a campos eletromagnéticos induzidos por correntes de alta voltagem
[17][25][26][27][28]. Também não encontraram qualquer outro efeito sobre a formação do feto
durante a gestação, nem em funções imunológicas, reprodutivas, comportamentais ou de
aprendizado [13].
Alguns estudos resultaram em indícios de um crescimento na taxa de câncer em
indivíduos que trabalhavam com eletricidade [29][30]. Esse resultado, porém, foi contrariado
recentemente [13][17].
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Houve também um estudo [31], na Dinamarca, que avaliou um grupo de pessoas por 13
anos para verificar a incidência de câncer e os resultados não encontraram nenhuma evidência.
Cinco anos depois, o estudo foi atualizado [32] e ainda assim não foi encontrado nenhum
resultado que levasse a concluir o aparecimento de câncer.
Em 2002, a IARC concluiu que os campos magnéticos não estão relacionados a qualquer
tipo de câncer exceto a leucemia. A exceção feita é decorrente do estudo citado anteriormente
que ainda não pôde ser reproduzido. Essa indefinição sobre causar leucemia infantil, fez a IARC
classificar os campos eletromagnéticos como “possivelmente carcinogênicos a humanos” [33].
Os pesquisadores concluíram não haver efeitos dos campos magnéticos que não estejam
relacionados ao câncer.
Em maio de 2011, IARC publicou uma revisão das evidências que relacionam campos
eletromagnéticos e câncer. Nessa revisão [34], a agência concluiu que haviam evidências
limitadas de que usuário de telefones celulares podem apresentar um risco elevado de glicoma
[35][36][37] e neuroma acústico [38], e que não haviam provas adequadas de quaisquer outros
riscos à saúde humana [39]. Ainda nesta revisão, como decorrência da evidência relacionada ao
neuroglicoma, a IARC classificou os celulares como “possivelmente cancerígenos”. A
classificação assusta quando mal interpretada, mas a interpretação que a agência dá é de que
há muito pouca evidência científica relacionada à carcinogenicidade do uso dos telefones
celulares [17].
Apesar dos esforços em reproduzir alguns resultados ou na busca por evidências de que
a radiação eletromagnética pode iniciar algum tipo de câncer ou mesmo influenciar no
desenvolvimento de tumores já existentes, nenhum resultado significante foi obtido [7][17][40]
[41][42].
Em abril de 2012, um relatório [43] publicado pela Agência de Proteção à Saúde do
Reino Unido concluiu que ainda não há indícios convincentes de que as transmissões sem fio
causem efeitos nocivos à saúde humana, porém o período considerado nos estudos
relacionados a câncer, de no máximo 15 anos, não são longos o suficiente para que resultados
conclusivos possam ser obtidos.
Ainda seguindo essa ideia da necessidade de estudos com períodos mais longos, existe
um estudo recente [44] que ataca os resultados existentes e afirma que o período considerado
não foi longo o suficiente para o aparecimento do câncer. Nesse estudo, o autor teme que a
radiação emitida por celulares seja mais perigosa que o cigarro. Segundo ele, o mesmo ocorreu
quando o tabaco começou a se tornar popular e somente muitos anos depois é que os reais
riscos à saúde foram comprovados por estudos, no início diziam que os riscos eram pequenos
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demais e nenhuma pedida preventiva foi tomada [45]. Um exemplo disso é uma publicação de
2006 disponibilizada pela Ericsson que informa ao usuário que não há necessidade de se
preocupar com os riscos dos telefones celulares [46].
4.3. Projeto REFLEX
O projeto REFLEX foi desenvolvido entre os anos de 2003 e 2005, com a colaboração de
doze pesquisadores em sete países europeus e destacou-se por ter obtido resultados
considerados significativos.
O foco das pesquisas do projeto REFLEX está relacionado a possíveis alterações
genéticas que poderiam ser causadas, direta ou indiretamente, pela exposição à radiação
eletromagnética. Os resultados, porém, ainda não estão completamente disponíveis, o que
dificulta a interpretação dos dados coletados durante o projeto.
Um dos estudos [7] do projeto, realizado em 2004, encontrou fortes evidências de
alterações no DNA de células humanas e de ratos expostas a sinais de intensidades
consideradas seguras pelos principais órgãos reguladores [47]. Além disso, os pesquisadores
encontraram que essas células apresentavam indicativos de aberrações cromossômicas e
divisão celular acelerada, o que poderia representar um início de câncer em um ser vivo [48]
[49][50][51].
Mais tarde, os resultados de danos em cromossomos de alguns tipos de células foram
contrariados por outros estudos [52]. Houve também a tentativa de reproduzir esses resultados
em outro estudo [53] para confirmar as observações, entretanto os pesquisadores não
obtiveram êxito.
Alguns dos resultados disponíveis dizem que os pesquisadores não encontraram efeitos
prejudiciais ao ciclo [54][55][56][57][58], proliferação ou diferenciação celular [17]. Assim como
na incidência de apoptose, na síntese de DNA ou em funções imunológicas [59][60][61].
Ainda nessa linha de estudo, algumas pesquisas recentes estão sendo desenvolvidas
com o objetivo de analisar os efeitos dos campos eletromagnéticos sobre os radicais livres do
DNA [62]. Os radicais livres são capazes de interagir com o DNA e outros componentes celulares
ao participar de importantes processos fisiológicos, incluindo funções imunológicas. Alguns
resultados preliminares indicam que os campos podem elevar os níveis de radicais livres [63]
[64][65], enquanto outros resultados sugerem que o DNA pode ser indiretamente afetado por
essa influência dos campos eletromagnéticos sobre os radicais livres [66][67]. Desconsiderando
esse possível efeito indireto, há quase um consenso quanto à incapacidade dos campos
afetarem diretamente o DNA.
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Atualmente, a influência da radiação eletromagnética sobre o DNA é considerada
improvável, porém incerta. Existem especulações de que a exposição poderia inibir a atividade
celular de reparação a danos normais de DNA e que isso afetaria indiretamente a sua estrutura.
Porém, nenhum estudo conseguiu obter esse resultado.
4.4. Projeto Interphone
O Interphone é o maior projeto epidemiológico já realizado, envolvendo estudos de
grupos localizados em 13 países (nove da União Europeia, Alemanha, Dinamarca, Finlândia,
França, Israel, Itália, Noruega, Suécia e Reino Unido, mais Austrália, Canadá, Japão e Nova
Zelândia) e coordenado pela IARC. O foco da maioria das pesquisas relacionadas ao projeto está
na busca em descobrir se existe alguma relação entre telefones celulares e o surgimento ou
desenvolvimento de tumores cerebrais.
Os resultados do projeto foram publicados recentemente e os pesquisadores não
encontraram uma sólida ligação entre tumores cerebrais e telefones celulares [7][39][40][68]
[69][70][71]. Porém, dois grupos do projeto, um sueco e outro canadense, obtiveram alguns
resultados diferentes.
O grupo sueco, em 2011, neuromas acústicos [72], que são tumores benignos que se
desenvolvem lentamente, além de analisou glicomas, meningiomas e câncer da glândula
parótida. O estudo [7][73] relatou o aumento de risco de surgimento destes tumores e um
aumento considerável no risco surgimento de glicomas após o uso dos celulares a longo prazo
[35]. As estimativas obtidas eram de que os riscos podem dobrar após dez anos de uso regular
dos aparelhos celulares [74], considerando sempre o lado da cabeça utilizado durante o uso do
celular [7][17][75]. O estudo, porém, sugere que os resultados necessitam ser replicados
[17][34].
O grupo de pesquisadores canadenses, da Universidade de Queens, descobriu que,
embora do uso do telefone celular parecer aumentar o nível de testosterona circulando no
organismo, pode também acarretar uma baixa qualidade do esperma e a diminuição na
fertilidade através da redução dos níveis do hormônio luteinizante excretado pela glândula
pituitária [17][76][77].
O projeto Interphone é considerado grande e rigoroso em relação aos experimentos
realizados e resultados obtidos, e ainda assim os dados não convenceram os cientistas de que
existe alguma evidência de uma associação entre o uso de telefones celulares e o
desenvolvimento de câncer [17]. Isso levou a conclusão de que se existe um efeito dos
telefones celulares sobre o risco de tumores no cérebro, então este efeito deve ser
15
extremamente pequeno para não ser detectado em um estudo do tamanho do Interphone
[40][78].
4.5. Projeto AustinMan
É um projeto [79] em desenvolvimento na Universidade do Texas, localizada na cidade
de Austin, pela Fundação Nacional de Ciências dos Estados Unidos (NSF) e está previsto para ser
concluído em 2013. O objetivo do projeto é estudar os efeitos da radiação eletromagnética
emitida pelos telefones celulares e a possibilidade de causarem danos à saúde humana,
focando em estudos relacionados ao câncer. Para isso, o estudo utiliza uma abordagem
completamente diferente dos trabalhos anteriores em razão da criação e uso do AustinMan.
Desenvolvido neste projeto, AustinMan é o nome dado a um modelo eletromagnético
do corpo humano com uma resolução sem precedentes. Embora o estudo ainda não esteja
finalizado, o modelo já foi colocado à disposição de pesquisadores do mundo todo.
A motivação dos pesquisadores para desenvolver o modelo foi baseada em diversos
fatores que atualmente dificultam os estudos. Entre eles estão que usualmente estudos
epidemiológicos utilizam correlações estatísticas para estimar os riscos e estabelecer relações
de causa. Essa correlação deve ser especialmente forte em casos onde não existem
mecanismos conhecidos, biologicamente plausíveis, através dos quais a exposição ao agente
em estudo poderia causar o resultado observado. Assim, é necessário que muita gente deva
adoecer para que os estudos estatísticos fundamentem uma conclusão.
Existiram outras tentativas anteriormente de criação de um modelo eletromagnético
como este. Porém, estes outros modelos virtuais esbarravam no poder computacional
necessário para fazer simulações complexas e assim tinha um baixo poder preditivo. O
AustinMan surge como uma solução para essa barreira proporcionando um alto poder
computacional. Segundo os pesquisadores, o novo modelo possibilita:
Representar o corpo humano com alta fidelidade com uma resolução de um
milímetro cúbico. Isso significa que a qualidade da resolução seria superior do
que a obtida com tomografia computadorizada e ressonância magnética;
Estimar os efeitos da radiação nas diversas potências emitidas pelos mais
diversos equipamentos do tipo sem fio;
Obter evidências científicas, e não levantamentos estatísticos, do funcionamento
do corpo humano para balizar conclusões mais seguras.
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O projeto ainda está em andamento, porém um resultado preliminar publicado
recentemente diz “A evidência, embora ainda esteja se acumulando, é forte o bastante para
endossar uma conclusão: há risco”. Mesmo antes de concluir os estudos, os pesquisadores
acreditam que “a radiação eletromagnética gerada pela transmissão de dados por
equipamentos sem fios é preocupante”.
Uma ressalva feita pelos pesquisadores do projeto é de que modelos virtuais não
conseguirão responder taxativamente se os telefones celulares causam câncer ou não porque
os cientistas não sabem tudo sobre a dinâmica do câncer e outros efeitos adversos à saúde
induzidos por diversos fatores ambientais. Essa observação que dizer que não há como colocar
em um modelo virtual, mecanismos ou comportamentos que não são conhecidos pelos
cientistas. Porém, ainda assim a pesquisa é relevante porque permitirá o desenvolvimento de
dispositivos mais seguros.
4.6. LASR 2010
A revisão da literatura aponta uma considerável produção bibliográfica sobre o tema da
influência da radiação eletromagnética ser ou não prejudicial à saúde humana. Mostra também
que a maioria dos estudos e projetos desenvolvidos na área são provenientes dos Estados
Unidos ou de países europeus, enquanto é observada uma escassez de estudos no Brasil e
demais países da América do Sul.
Recentemente, em 2010, surgiu o projeto Revisão Científica Latino-Americana [80]
(LASR, do inglês Latin America Scientific Review) com o objetivo de inserir a América Latina no
contexto das pesquisas em campos eletromagnéticos de alta frequência e saúde humana.
A iniciativa partiu do Instituto Edumed para a Educação em Medicina e Saúde e de um
grupo de cientistas brasileiros independentes dedicados à investigação, desenvolvimento e
educação. Juntos, convocaram um painel de experientes cientistas latino-americanos com o
objetivo de produzir e publicar um relatório de consenso independente.
O LASR consistiu de uma revisão bibliográfica completa [80] e a elaboração de uma
síntese de tudo o que tem sido discutido na literatura mundial. O projeto tem como objetivo
final estimular o desenvolvimento de estudos semelhantes na América Latina e a criação de um
centro especializado onde os países latinos possam colaborar em prol do avanço das pesquisas
locais.
Os resultados obtidos na revisão bibliográfica estão disponíveis no site oficial [80] de
forma bastante completa e detalhada. A seguir, alguns dos resultados mais relevantes serão
17
apresentados e dessa forma é feita também uma síntese dos resultados mencionados nas
subseções anteriores.
A conclusão geral dos estudos in vitro é que existem muitas provas insuficientes e
faltam provas consistentes e válidas que permitam estabelecer uma relação de causa e efeito
entre a exposição à radiofrequência e efeitos de curto prazo sobre a regulação do ciclo celular,
mecanismos de transporte de membranas, apoptose, genotoxidade, taxas de mutação,
expressão de gene e proteína, danos ao material genético e proliferação celular e
transformação e diferenciação de células e tecidos [81]. Alguns dos efeitos relatados em
estudos parecem ter pouco significado quanto ao câncer ou ao impacto sobre os sistemas
celulares maiores, pelo menos enquanto a exposição é mantida abaixo dos níveis de segurança
recomendados, mesmo por longos períodos de tempo [81].
Nos estudos in vivo, um dos efeitos mais significativos da radiofrequência é o
rompimento da barreira hemato-encefálica, no entanto, estudos mais bem controlados não
obtiveram o mesmo resultado [82]. Não existem evidências convincentes sobre outros
parâmetros fisiológicos e bioquímicos em animais. Ademais, não se tem certeza se é válido
generalizar esses resultados aos seres humanos. A conclusão em [82] é que mesmo após mais
de 20 anos de estudo não encontraram efeitos consistentes ou importantes da radiofrequência
abaixo dos padrões internacionais de segurança em animais. Não parece haver nenhum efeito
fisiopatológico importante dos campos eletromagnéticos, mesmo daqueles mais fortes que os
presentes no cotidiano, além do efeito térmico.
Estudos com voluntários têm investigado principalmente possíveis efeitos da radiação
emitida pelos telefones celulares sobre o sistema nervoso, incluindo muitas respostas
cognitivas e comportamentais, tanto em adultos como em crianças. A conclusão em [83] é de
que não existem efeitos significativos do uso de telefone celular ou de proximidade razoável de
ERBs e que outros efeitos investigados sobre a dor, visão, audição e da função vestibular, bem
como sobre os sistemas endócrino e cardiovascular, foram majoritariamente negativas. Estudos
com imagens funcionais do cérebro e de termografia infravermelha profunda mostraram que
não há nenhum aquecimento significativo sobre o osso ou no cérebro causado diretamente
pela exposição à radiofrequência [83]. A ressalva que deve ser feita é que ainda não se sabe os
resultados de exposição a longo prazo.
Em relação à exposição a partir de antenas de estações rádio-base especificamente,
existe um consenso científico de que esses níveis são milhares de vezes abaixo dos padrões
internacionais de segurança, mesmo a curtas distâncias das antenas [84] [85]. Entretanto, há a
necessidade de estudos de longa duração. Com exceção do discutível risco ligeiramente maior
de gliomas e neuromas acústicos para usuários com mais de 10 anos de uso, os estudos
18
epidemiológicos de associação entre a exposição das populações a radiofrequência de
telefones celulares ou estações rádio-base e vários outros problemas de saúde, como doenças
neurodegenerativas, doenças cardiovasculares, catarata, alterações de saúde reprodutiva,
mudanças de comportamento e sintomas inespecíficos, entre outros, resultou em sua maioria
sem associações estatisticamente significativas [84].
Por fim, a revisão sobre os efeitos prejudiciais concluiu que as tecnologias de
comunicação sem fio com potência suficiente e em grande proximidade com dispositivos
médicos de vários tipos, inclusive dispositivos implantados, por exemplo, marca-passos e
desfibriladores implantados, têm a possibilidade de causar interferência eletromagnética com
efeitos perigosos sobre o bem-estar e suporte de vida de pacientes críticos [7][13]. No entanto,
as tecnologias usadas, de baixa potência e espectro de frequência, pelos dispositivos atuais de
comunicação digital e os filtros eletrônicos instalados em modernos dispositivos médicos têm
reduzido muito a probabilidade de ocorrência de tais riscos [39].
4.7. Outros estudos
A literatura é bastante vasta em quando se trata da busca por danos a saúde humana e,
assim, existem muitos outros estudos realizados recentemente que não foram abordados ou
citados nas subseções anteriores.
Alguns deles obtiveram resultados e conclusões diferentes dos que foram explicados
acima. Dentre os principais efeitos citados nestes estudos estão:
Possibilidade de a radiofrequência causar cefaleias ou tumores cerebrais,
considerando o tempo de uso do dispositivo móvel, a distância da orelha e a
posição relativa do dispositivo e a ERB [13];
Aumento da proteína transtiretina no sangue. Esta é uma proteína presente na
barreira sangue-cerebroespinhal que é a barreira de proteção do cérebro contra
agentes externos. O estudo [86] é da Universidade de Orebro, na Suécia, e
afirma que esse aumento não é causa de preocupação, mas demonstra que o
cérebro é de fato afetado pelo uso do telefone celular;
Pequena alteração na membrana celular com a radifrequência [7];
Redução temporária da eficiência da memória do voluntário após exposição à
radiofrequência [15][87][88];
19
Possibilidade de ondas eletromagnéticas afetarem o equilíbrio [89] (em razão
dos sensores estarem localizados próximos a orelha), a sensação de dor e o
funcionamento cerebral em geral [90]. Em outro estudo, um experimento com
pacientes bipolares mostrou que a exposição a um determinado padrão de
ondas eletromagnéticas é capaz de aliviar os sintomas da doença [91];
Elevação do fluxo sanguíneo [92][93] e da temperatura na cabeça do usuário ao
utilizar o dispositivo móvel próximo a orelha [94][95]. Mais tarde, outro estudo
mostrou que a elevação da temperatura é inferior as observadas após a
realização de exercícios físicos;
Possibilidade de campos eletromagnéticos suprimirem o metabolismo da glicose
no cérebro [96]. O estudo foi realizado por neurocientistas finlandeses na
Universidade de Turku. Mais tarde, outro estudo mostrou que flutuações muito
maiores ocorrem naturalmente, sob o efeito de álcool, por exemplo [97].
Diversos outros estudos buscaram evidências de danos ao sistema auditivo [7][98][99]
[100][101][102] ou alterações no nível hormonal [103] ou no sistema imunológico [103][104]
ou cardiovascular [103], incluindo pressão sanguínea e ritmo cardíaco, porém não obtiveram
resultados conclusivos [42].
Os níveis de radiofrequência aos quais um usuário de telefone celular está exposto
variam de acordo com o tempo de uso, a proximidade do dispositivo do corpo e a posição
relativa da ERB. As ERBs emitem um nível de radiofrequência relativamente constante e
quando o sinal de uma estação está baixo, os celulares aumentam seu nível de emissão para
compensar essa perda, chegando a ficar de 100 a 1000 vezes mais intenso do que o nível das
ERBs [13]. Estudos falharam na busca por algum efeito adverso da radiofrequência sobre
padrões de ondas cerebrais, cognição e comportamento [17][42]. A favor dessa emissão por
parte das ERBs, ainda há o fato de que com o avanço das novas tecnologias de telefonia celular,
como é o caso das transmissões de dados 3G, as antenas de transmissão utilizam potências de
emissão cada vez menores [17].
Devido à distância em que os telefones celulares se encontram da cabeça de seus
usuários, existe também uma grande preocupação com as possíveis consequências sobre o
sistema nervoso central [7][104][105][106]. Essa preocupação levou a muitos estudos
relacionados aos efeitos neurotóxicos da radiação emitidas pelos aparelhos celulares, como
relatado em [103]. Os resultados obtidos não apontaram nenhuma evidência prejudicial ao
sistema nervoso central, porém não descartam a possibilidade e acreditam que mais estudos
são necessários [42].
20
Existe ainda uma grande quantidade de estudos relacionados ao tema que investigam a
chamada hipersensibilidade eletromagnética, que é o nome atribuído a pessoas que dizem
sofrer de diversos sintomas quando estão expostas a campos eletromagnéticos. Essa condição
física, por assim dizer, foi tida alguns anos atrás como a doença da moda [45] em razão do
crescimento das transmissões sem fio e da utilização de dispositivos móveis. A partir do
aumento no número de pessoas que se dizem eletrossensíveis, diversos estudos passaram a dar
mais atenção e a analisar a real causa dos sintomas. Mais detalhes sobre esses estudos podem
ser encontrados na próxima seção.
Com base nos estudos citados acima e em diversos outros e também como uma forma
de precaução, existem normas que regulamentam os limites de exposição considerados
seguros para seus usuários. Muitos dos estudos mais recentes, em seus experimentos,
consideram essas normas na forma de analisar o risco sobre a saúde humana. Alguns dos
estudos focam apenas nos risco de exposições superiores as estabelecidas nas normas como
uma forma de julgar os reais riscos da tecnologia e da exposição, enquanto outros olham
apenas para os riscos de exposições abrangidos pelas normas para verificar se as regras são
adequadas ou para estudar os riscos reais dos usuários do dia-a-dia que utilizam dispositivos
dentro das regras estabelecidas.
A ICNIRP, do inglês International Commission on Non-Ionizing Radiation Protection, é
uma organização independente e reconhecida pela OMS e foi responsável por definir limites de
exposição à radiação eletromagnética com base nas taxas de absorção de energia (SAR, do
inglês Specific Absorption Rate) [13]. Essa medida é definida como a absorção por massa do
tecido e é expressa em unidade de watts por quilograma. Os limites adotados hoje são de 1.6
W/kg nos Estados Unidos e 2 W/kg na Europa. [7]
No Brasil, a proposta para adoção dessas normas foi aprovada na Câmara dos
Deputados por meio do projeto de lei no 031/2008 [1]. O objetivo ao definir essa medida é
garantir que a potência média de emissão dos dispositivos fique razoavelmente abaixo dos
picos e reduza a possibilidade de causar algum dano ao usuário. Inclusive, os novos modelos de
dispositivos móveis precisam ser testados e aprovados de acordo com as normas antes de
chegarem ao mercado.
Por fim, a OMS afirma que a exposição a campos eletromagnéticos de baixo nível, ainda
que por longos períodos, não oferecem risco à saúde humana. Este é o caso das redes de
transmissão de dados sem fio, por exemplo.
21
5. Hipersensibilidade Eletromagnética
Hipersensibilidade eletromagnética ou EHS, do inglês Electromagnetic HyperSensitivity,
é a denominação atribuída à pessoas que afirmam apresentar alguma forma de sintoma
quando expostas a campos elétricos ou magnéticos, ou mesmo quando colocadas próximas a
algum equipamento elétrico.
Estimativas atuais mostram que 3% da população mundial se diz eletrossensível [107].
Entre essas pessoas, a maioria está localizada na Suécia, mas também existem grandes grupos
nos Estados Unidos, Austrália e Japão. Por isso, na Suécia foi fundada a Associação Sueca para
Eletrossensíveis (FEB, do sueco Elöverkänsligas Riksförbund), que é uma fundação de grande
reconhecimento mundial.
A razão dessa maior incidência suéca não é conhecida, porém a presidente da FEB,
Birgitta Knape, atribui este fato à localização do país ser no extremo norte do planeta e,
portanto sujeito a temperaturas bastante baixas. Segundo a pesquisadora, essa característica
acarreta um maior consumo de energia elétrica para iluminação das casas, uso de aquecedores
e outros equipamentos, sujeitando seus habitantes a exposições acima do normal.
Os sintomas associados à eletrossensibilidade são muito diversos e variam muito de
uma pessoa para outra [108][109][110], de forma que são praticamente únicos [17]. Muitos
deles, inclusive, podem ser facilmente confundidos com sintomas típicos de estresse, como é o
caso de problemas de pele, sensibilidade à luz, visão distorcida, cansaço, dores de cabeça,
dificuldade de concentração, perda de memória, enjoos e palpitações [17][111][112].
Essa diversidade e inexistência de uma padronização dos sintomas é um dos motivos
responsáveis pela eletrossensibilidade eletromagnética não ser mundialmente reconhecida
como uma doença ou incapacitação. Alguns profissionais a consideram uma condição física com
uma causa não clara, enquanto outros sugerem que são em algum aspecto, psicológicas [113]
[114]. A doença é reconhecida com tal na Suécia e as pessoas doentes recebem ajuda do
governo para tentarem se proteger de alguma forma.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), porém, não a reconhece como doença e
inclusive recomenda tratamento psicológico às pessoas que se dizem eletrossensíveis [115].
Mesmo com o não reconhecimento, a OMS afirma que os sintomas são reais e podem variar
muito em sua severidade.
No Brasil a divulgação das eletrossensibilidade é bastante escassa e ainda não existem
grandes esforços, pra não dizer nenhum, em pesquisas e estudos relacionados a esta condição
física. Talvez em razão do desconhecimento da população sobre o tema, também não existem
22
casos registrados de diagnósticos de eletrossensíveis ou pessoas que afirmam sofrer de
hipersensibilidade.
5.1. Estudos e resultados
Diversos estudos, como em [17][114][116][117], tem sido realizados para determinar se
a hipersensibilidade eletromagnética é de fato uma doença e para buscar respostas para
questões como a capacidade de um hipersensível detectar se está na presença de um campo
magnético. Dentre estes, destacam-se alguns estudos bem controlados que foram conduzidos
pela OMS [114] que buscavam verificar a veracidade dos sintomas e identificar se a origem dos
mesmos é realmente a radiação eletromagnética.
Como resultado desses estudos, em 2005 a OMS concluiu [114] que a hipersensibilidade
realmente existe e pode ser um grande problema para a saúde [118], porém não detectou
nenhuma evidência de que a causa está relacionada a alguma forma de campo eletromagnético
[17][108][119]. Esse último resultado contraria um estudo [111] realizado na Suécia que havia
concluído que o fator com maior potencial para desencadear a eletrossensibilidade seria o uso
do computador.
Os estudos mostraram também que pessoas que se dizem hipersensíveis são incapazes
de detectar a presença de campos magnéticos com uma precisão muito melhor do que pessoas
não hipersensíveis [17][113][120][121], e que alguns sintomas aparecem, e outros se agravam,
quando a pessoa tem o conhecimento de que está sob radiação eletromagnética [122],
reforçando a teoria de que existe algum fator psicológico ligado aos sintomas. Estes últimos
resultados foram decorrentes de estudos na Universidade de Essex.
Além disso, um levantamento de um hospital britânico encontrou uma forte conexão
entre eletrossensibilidade e toxidade química. Segundo o estudo, quando um paciente remove
de seu organismo substâncias tóxicas, a eletrossensibilidade também desaparece. Esse
resultado foi, mais tarde, comprovado por diversos outros estudos [123].
O Estado da Virgínia, nos Estados Unidos, possui uma região chamada de Green Bank
que serve de local para realizar estudos sobre hipersensibilidade [124]. A região foi declarada
“zona livre de ondas de rádio” porque nesta área existe uma enorme instalação de
radiotelescópios que não podem sofrer interferências eletromagnéticas [45]. Um estudo
recente nessa região demonstrou, pela primeira vez, que existe uma relação entre as dores e
queimaduras na pele dos pacientes hipersensíveis e a frequência eletromagnética dos campos
aos quais estão sujeitos [125].
23
5.2. Tratamentos
O desconhecimento da causa exata da hipersensibilidade e a falta de padronização dos
sintomas dificulta a existência de um tratamento com certeza de cura. Aos eletrossensíveis o
que resta é manter-se afastado de campos eletromagnéticos.
Devido à forte relação da sensibilidade com a presença de substâncias tóxicas no
organismo, um dos tratamentos possíveis é a desintoxicação química dos pacientes. Esse
método é adotado por dois centros de tratamento de destaque: o Hospital Breakspear,
localizado no Reino Unido, e o Centro de Saúde Ambiental de Dallas, nos Estados Unidos.
Segundo [1], o primeiro deles recomenda o tratamento baseado na ideia que da mesma
forma que o organismo é capaz de se desintoxicar de sensibilidades alimentares ou químicas,
também pode superar os sintomas da exposição a campos eletromagnéticos. O segundo centro
utiliza a técnica de “sobrecarga total do organismo”, na qual a avaliação do paciente se dá pela
exposição à radiação, substâncias químicas e outros fatores. De acordo com o Dr. William Rea,
um premiado especialista do centro, estudos apontam que a maioria dos hipersensíveis
apresenta também alguma forma de sensibilidade química.
Houve um estudo [17][126], em 2006, realizado em nove clínicas diferentes que testou
alguns tratamentos e medidas de precaução para a eletrossensibilidades. Dentre elas estavam
proteções de tela para computadores, acupuntura, vitaminas e terapias cognitivo
comportamentais (CBT, do inglês Cognitive Behavioural Therapy). Segundo o estudo, o CBT foi o
tratamento que apresentou melhores resultados.
As pessoas hipersensíveis possuem um modo bastante peculiar de utilizar o telefone
celular para amenizar os riscos dos sintomas: a bateria somente é colocada no aparelho no
momento em que se deseja fazer uma ligação [1]. Além desse cuidado, para manter maior
distância da radiação eletromagnética emitida pelo dispositivo, as conversas são realizadas
utilizando os fones de ouvido.
24
6. Conclusão
Após leitura e análise da vasta coleção de estudos na literatura que abordam a questão
da radiação eletromagnética ser ou não prejudicial à saúde humana, não é possível chegar a
uma conclusão definitiva que dispense a necessidade de novas investigações.
A análise dos resultados mostra que grande parte dos estudos que obtiveram como
conclusão algum efeito nocivo à saúde humana foram contrariados mais tarde ou estudos
realizados sob as mesmas condições não conseguiram reproduzir os resultados iniciais. Houve
ainda alguns resultados considerados inconsistentes em razão da metodologia aplicada ou da
forma de avaliação escolhida. Por outro lado, muitos dos estudos que não encontraram
evidências de riscos à população também não descartaram a possibilidade de que possam
existir tais riscos.
Ainda assim, podem-se obter algumas conclusões otimistas aos usuários. Existem
evidências de que campos magnéticos de frequência muito baixa não prejudicam a saúde
humana. Em relação à radiofrequência, são poucos os resultados que realmente obtiveram
algum efeito prejudicial e que não foram contrariados, e ainda assim, muitos deles não
apresentam uma evidência clara e necessitam ser replicados.
A ausência de resultados que comprovam algum risco à saúde humana, não dispensa a
necessidade de novos estudos e pesquisas, principalmente em se tratando de estudos de longa
duração para determinar a existência de riscos a longo prazo decorrentes das exposição dos
usuários.
Uma conclusão que é consenso entre os pesquisadores é que pessoas portadoras de
dispositivos médicos, implantados ou não, deve tomar um maior cuidado por estarem sujeitas a
interferência eletromagnética causada pela exposição a campos eletromagnéticos.
Mesmo com a ausência de evidências que comprovem algum risco real à saúde humana,
algumas recomendações podem ser tomadas para reduzir o contato com os campos
eletromagnéticos sem a necessidade de restringir o uso da tecnologia. A própria IARC adota
uma forma de precaução ao classificar os celulares como possivelmente cancerígeno, portanto
os usuários que desejarem se precaver de possíveis riscos podem seguir algumas das seguintes
recomendações:
Utilizar telefones tradicionais quando acessíveis;
Fazer ligações de curta duração;
25
Utilizar acessórios que mantenham o aparelho mais longe da cabeça, como fones
de ouvido;
Evitar carregar o celular muito próximo ao corpo;
Verificar o valor SAR do dispositivo móvel;
Evitar utilizar o dispositivo móvel dentro do carro em movimento. Além de
reduzir a atenção, o carro estar em movimento faz com que o nível de sinal da
transmissão fique mais baixo e com isso o dispositivo passa a operar em uma
potência elevada.
No que diz respeito às normas estabelecidas atualmente, os estudos mostram que os
efeitos relacionados às emissões dentro dos limites estabelecidos não são nocivos ao homem e,
portanto, pode-se considerar que as normas em vigor são adequadas.
Por fim, pode-se concluir que assim como toda tecnologia, a transmissão sem fio
também possui a sua cota de risco. Por isso, estes riscos devem ser contrabalançados por um
estudo cuidadoso de seus benefícios e cabe ao usuário ter conhecimento do uso adequado da
tecnologia para evitar que isso se torne prejudicial a sua saúde. A interação com meios de
transmissão sem fio causam sim alterações no sistema biológico humano, porém em níveis
bastante baixos de forma a não apresentarem riscos reais à saúde. Assim, com base nos
resultados avaliados, pode-se considerar que atualmente as transmissões de dados sem fio e o
uso de telefone celular são tecnologias seguras.
Em relação à hipersensibilidade eletromagnética, os resultados dos estudos não
obtiveram sucesso ao tentar relacionar os sintomas descritos pelos eletrossensíveis com a
exposição a campos eletromagnéticos. O que ficou demonstrado é que a hipersensibilidade
existe, os sintomas apresentados são reais e que os hipersensíveis não são capazes de detectar
a presença de campos eletromagnéticos. Estudos mostraram também que existe uma grande
possibilidade dos sintomas decorrerem de alguma causa psicológica e desencadeados por
alguma forma de toxidade química. A diversidade e falta de padronização dos sintomas
impossibilita a existência de um tratamento com certeza de cura e, portanto a opção mais
apropriada aos eletrossensíveis é manter a distância de campos eletromagnéticos.
26
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