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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE TURISMO E HOTELARIA
CURSO DE TURISMO
LUANA ALVES DA COSTA
TURISMO VOLUNTÁRIO: UM ESTUDO SOBRE RELATOS DE EXPERIÊNCIAS
NA ÁFRICA DO SUL
Niterói
2014
LUANA ALVES DA COSTA
TURISMO VOLUNTÁRIO: UM ESTUDO SOBRE RELATOS DE EXPERIÊNCIAS
NA ÁFRICA DO SUL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Turismo da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Turismo.
Orientador: Prof. D.Sc. Ari da Silva Fonseca Filho.
Niterói
2014
LUANA ALVES DA COSTA
TURISMO VOLUNTÁRIO: UM ESTUDO SOBRE RELATOS DE EXPERIÊNCIAS
NA ÁFRICA DO SUL
Trabalho de Conclusão do Curso de
Turismo da Universidade Federal Fluminense,
apresentado como requisito parcial para a
obtenção do grau de Bacharel em Turismo.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Prof. D.Sc. Ari da Silva Fonseca Filho, Orientador - UFF
_____________________________________________________
Professora D. Sc. Helena Catão, Convidada - UFF
_______________________________________________________
Professor M. Sc. José Carlos de Souza Dantas, STT - UFF
Niterói, maio de 2014.
Gostaria de dedicar esse trabalho à
todos os voluntários que se doam às
inúmeras causas sociais deste mundo.
Eles me fazem crer em dias melhores e
em um mundo menos injusto.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus amigos da faculdade que estiveram ao meu lado
por mais de quatro anos e além de terem feito desse período um dos melhores da
minha vida, sempre me incentivaram e me deram forças para prosseguir quando
pensei em desistir.
Agradeço aos meus pais que sempre me proporcionaram condições
psicológicas e financeiras para que pudesse fazer da faculdade um sonho possível.
Agradeço ao meu orientador Ari Fonseca que dedicou parte de seu
tempo para tornar esse TCC um trabalho concreto.
Agradeço também à todos os professores do curso de turismo que
participaram da minha formação, e fizeram, mesmo que indiretamente, parte desse
trabalho.
Por fim, agradeço à todos os meus familiares, amigos e namorado, que
entenderam minha ausência e, por vezes, aguentaram meu estresse, sempre me
motivando e me lembrando da minha capacidade.
RESUMO
O turismo é um fenômeno que vive em constante mudança na
sociedade. Atualmente, estamos passando por uma fase classificada como turismo
pós-moderno, onde os turistas são mais informados e não se preocupam apenas
com o os atrativos do destino. Nos dias atuais, o turista começa a se preocupar com
o bem estar dos moradores locais e com a preservação do meio ambiente do lugar
em questão. Nesse contexto surgem novas segmentações, que procuram ser mais
responsáveis com o destino que estão presentes. O turismo voluntário se encaixa
nesse contexto, e é dele que o presente trabalho tem como objeto de estudo. O
objetivo geral é fazer um estudo sobre o turismo voluntário, focando na Cidade do
Cabo, localizada na África do Sul. Além disso, pretendemos mostrar o potencial do
segmento para ser um turismo responsável. Para tal, o presente trabalho se baseou
na literatura sobre o assunto, em depoimentos de turistas voluntários e numa
pesquisa feita com turistas voluntários, conhecidos também como volunturistas.
Palavras chave: Turismo voluntário, volunturismo, voluntário, turismo responsável,
África do Sul.
ABSTRACT
Tourism is a phenomenon that is constantly changing in our society.
Nowadays, we are experiencing a different tourism stage, classified as postmodern.
In this moment, tourists are more informed and are not only concerned with the
attractiveness of the destination. They begin to worry about the wellbeing of local
residents and with the environment preservation. In this context there are new
segments appearing, the ones more concerned about being responsible with the
destination. Volunteer tourism fits in this context, and it is about this segment that we
will study in this work. Our main goal is to discuss about the segment, focusing on
Cape Town – South Africa. We also intend to show the segment potential to be a
responsible tourism. To achieve this goal, we based our studies on the subject
literature, on testimonials of volunteers and on a research made with voluntourists.
Key words: volunteer tourism, voluntourism, volunteer, responsible tourism, South
Africa.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 1: Tabela de artigos ............................................................................... 19
Ilustração 2: Quintal com playground ................................................................... 32
Ilustração 3: Dormitório das crianças de 3 a 5 anos ............................................ 33
Ilustração 4: Sala do pré escolar ........................................................................... 33
Ilustração 5: Banheiro crianças de 3 a 5 anos ...................................................... 34
Ilustração 6: Contação de estórias na creche ...................................................... 39
Ilustração 7: Cozinha onde o sopão é preparado ................................................. 40
Ilustração 8: Distribuição de sopa ......................................................................... 40
Ilustração 9: ONG Mother United ........................................................................... 41
Ilustração 10: Sala de leitura ................................................................................. 42
Ilustração 11: Voluntária entretendo crianças ...................................................... 46
Ilustração 12: Crianças com unhas pintadas ........................................................ 46
LISTA DE SIGLAS
ONG – Organização Não Governamental
HIV - Human Imunodeficiency Virus
OMT – Organização Mundial do Turismo
IVHQ - International Volunteer Headquarters
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 11
2 PANORAMA GERAL DO TURISMO VOLUNTÁRIO.......................................15
2.1 A EVOLUÇÃO DO PENSAR EM TURISMO: DO TURISMO DE MASSA AO
TURISMO HUMANIZADO ......................................................................................... 15
2.2 CONCEITUAÇÃO: TURISMO VOLUNTÁRIO ................................................... 17
2.3 CARACTERÍSTICAS DO TURISMO VOLUNTÁRIO ......................................... 20
3 A EXPERIÊNCIA DO VOLUNTARIADO...........................................................29
3.1 DEPOIMENTO I – ATUAÇÃO EM ORFANATO ................................................ 29
3.1.1 Operacionalização da viagem ....................................................................... 29
3.1.2 Descrição e percepção do projeto ................................................................ 31
3.1.3 Considerações sobre depoimento I .............................................................. 36
3.2 DEPOIMENTO II – ATUAÇÃO EM CRECHE .................................................. .37
3.2.1 Operacionalização da viagem ....................................................................... 37
3.2.2 Descrição e percepção do projeto ................................................................ 38
3.2.3 Considerações sobre depoimento II ............................................................. 42
3.3 DEPOIMENTO III – ATUAÇÃO EM HOSPITAL INFANTIL ............................... 44
3.3.1 Operacionalização da viagem ....................................................................... 44
3.3.2 Descrição e percepção do projeto ................................................................ 45
3.3.3 Considerações sobre depoimento III ............................................................ 47
3.4 ANÁLISE GERAL DOS DEPOIMENTOS. ......................................................... 48
4 PESQUISA COM VOLUNTÁRIOS E A ÉTICA NO SEGMENTO.....................51
4.1 ENTREVISTA TURISMO VOLUNTÁRIO. ......................................................... 51
4.2 ÉTICA E TURISMO VOLUNTÁRIO. .................................................................. 57
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 63
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 67
ANEXO A .......................................................................................................... 70
ANEXO B .......................................................................................................... 71
ANEXO C .......................................................................................................... 72
11
1. INTRODUÇÃO
O seguinte trabalho teve como temática de estudo o Turismo
Voluntário, uma modalidade que busca o bem comum e não é motivado por ganhos
financeiros. O foco do trabalho foi com base em experiências ocorridas na cidade do
Cabo, na África do Sul, sendo esta cidade com grande potencial para a prática.
A proposta principal foi desenvolver um estudo de como ocorre a
atividade na cidade, tendo como foco o próprio turista voluntário, seu perfil,
motivações e dia a dia.
O turismo voluntário pode ser bom para a cidade receptora não só por
esta receber ajuda de “mão de obra” em seus projetos, mas também por esse turista
geralmente passar mais tempo no destino, o que, naturalmente, faz com que se
conheça mais a cultura local. A cidade do Cabo possui grande potencial para o
turismo voluntário, por existirem muitas organizações que desenvolvem projetos de
voluntariado, e ainda, por ser uma cidade porta de entrada para turistas estrangeiros
no país da África do Sul.
Com este estudo pretendeu-se entender melhor como ocorre a
atividade “turismo voluntário” e quais vantagens esse segmento pode trazer no
contexto de um turismo mais responsável, a fim de que se possa tornar mais atrativa
essa modalidade.
Iniciamos a pesquisa partindo dos pressupostos que a Cidade do Cabo
possui majoritariamente dois tipos de projetos: os desenvolvidos junto a pessoas
carentes em comunidades, e os que lidam com reservas de animais; em uma rápida
pesquisa por uma agência brasileira que emite turistas para a cidade, pode-se
perceber isso. Outro pressuposto é que os turistas que mais procuram esses
projetos são turistas que buscam o turismo de experiências culturais efetivas, que
obtenham maior proximidade com a comunidade local, pois a pessoa que pratica o
turismo voluntário tem contato direto com moradores locais do país/comunidade, e
esse contato faz com que o turismo conheça efetivamente os costumes e maneiras
daquela localidade. Também será explorado o tempo de permanência desses
turistas, tendo em vista a disponibilidade de tempo destes para viajar, e ainda,
pressupõe-se que o turismo voluntário apresenta uma possibilidade de um turismo
12
mais responsável, já que o turista sai de seu país de origem com o objetivo de
ajudar a comunidade do país receptor.
O objetivo geral consiste em realizar um estudo sobre o turismo
voluntário, tendo a cidade do Cabo como principal foco.
Os objetivos específicos são: discutir o turismo voluntário em nível
internacional, buscando aproximar conceitos, características e exemplos de
sucesso; levantar perfil e projetos de turistas que buscaram praticar o turismo
voluntário; e, por fim, analisar as propostas para melhor desenvolvimento desta
prática.
O estudo teórico do trabalho se baseou em alguns autores com
temáticas próximas ao nosso estudo central, os quais apresentaram alguns
conceitos de importante relevância para o tema. Um dos livros principais deste
estudo foi Sociologia do Turismo, de Krippendorf (2009). O livro segue diretrizes da
sociologia do turismo e sinaliza alternativas para o turismo tradicional que temos
atualmente. O livro esclarece sobre a busca do turista: o que se procura ao viajar,
quais são as necessidades e motivações das pessoas ao comprar uma viagem. O
turismo voluntário se traduz como uma forma dessas buscas em que o sujeito que o
pratica o faz sem fins lucrativos e buscando o bem comum. Krippendorf (2009) critica
o ponto de vista de olharmos o turismo apenas pelo lado do turista e atenta sobre as
interações do local/turista, que é muito maior no turismo voluntário do que no turismo
tradicional, pode se dizer que o turista voluntário imerge mais intensamente no local
visitado.
O turismo voluntário também precisa ser compreendido pelo olhar
antropológico, já que há um constante contato do visitante com os moradores locais,
muitas vezes em suas próprias casas ou tribos. O livro de Barretto (2005) mostra o
olhar antropológico do turismo e investiga as relações do
ambiente/turista/comunidade.
Já na parte do conceito de turismo voluntário, nos baseamos em dois
estudos: Solidariedade e lazer? A experiência dos “turistas-voluntários” no Rio de
Janeiro de Nunes e Pacheco (2009) e Voluntariado: Uma dimensão ética de Ferrari
(2008), na procura para o marco teórico, ficou clara a falta de literatura brasileira
falando sobre o Turismo Voluntário. Nesses estudos foram encontrados conceitos
sobre o fenômeno assim como estudos de alguns casos de turismo voluntário. Com
13
estes estudos se compreenderá melhor os conceitos desse segmento, podendo,
assim, realizar a pesquisa com mais embasamento.
Na parte de pesquisa nos baseamos no livro Introdução à pesquisa
social de Blalock Jr. (1973) onde o autor dá diretrizes para como se fazer uma
pesquisa social, abordando estudos exploratórios, descritivos e mensuração.
O seguinte trabalho tem caráter exploratório com abordagem
qualitativa. Segundo Rodrigues (2007), a pesquisa exploratória é a caracterização,
classificação e definição inicial do problema e utiliza levantamento de dados ou
entrevistas.
A pesquisa em questão sugeriu estudar o fenômeno do turismo
voluntário, estudando seus conceitos, como ele ocorre e que tipos de pessoas ele
atrai.
Para tal, inicialmente foi feito um levantamento de dados, com
pesquisas bibliográficas para entender conceitos, casos de sucesso e características
do turismo voluntário.
No primeiro capítulo apresentamos um panorama geral do turismo,
buscando conceitos e levantamentos na literatura. Também percorremos um breve
histórico sobre a humanização do turismo, que foi um dos propulsores para os
segmentos mais responsáveis, como o turismo voluntário.
No segundo capítulo procuramos ter um maior entendimento do que a
experiência do voluntariado traz para a pessoa que a pratica. Para tal, fizemos uma
análise de depoimentos de três voluntárias que atuaram na Cidade do Cabo, na
África do Sul. Dois dos depoimentos foram coletados dos blogs das mesmas e um
foi produzido a partir do relatório de atividades complementares feito para a
faculdade.
O terceiro capítulo foi compreendido em duas partes: a primeira com os
resultados da entrevista feita com voluntários também atuantes na África do Sul e a
segunda onde estudamos o Código Mundial de Ética do Turismo e o apresentamos
com a finalidade de aproximar seus princípios e artigos com o segmento do turismo
voluntário.
As entrevistas foram feitas principalmente para se entender mais os
voluntários, e ainda como se organizam as ONGs e agências. Por parte dos
voluntários, visamos coletar opiniões destes e perfil, como nacionalidade e
motivação.
14
O tipo de entrevista adotada foi a semi-estruturada, onde imperou a
informalidade. Na entrevista com os voluntários foram feitas perguntas abertas, onde
buscamos obter informações espontâneas sobre a opinião dos turistas.
A partir das entrevistas foi feita a análise dos dados, para poder, enfim,
concluir os resultados. Os dados obtidos foram analisados indutivamente, como
sugere a pesquisa qualitativa.
15
2. PANORAMA GERAL DO TURISMO VOLUNTÁRIO
O presente capítulo tem o objetivo de apresentar o segmento do
turismo voluntário, mostrando seus benefícios e desvantagens, e também quais
caminhos o turismo percorreu até que se pensasse num turismo mais humanizado e
sustentável, como o volunturismo por exemplo.
2.1 A EVOLUÇÃO DO PENSAR EM TURISMO: DO TURISMO DE MASSA AO
TURISMO HUMANIZADO
O turismo não é um fenômeno novo, existem indícios que já se viajava
desde anos a.C., como por exemplo as viagens que se faziam na Grécia antiga para
assistir as olimpíadas e as viagens com fins comerciais que faziam em Roma.
(KEMP e SILVA, 2008).
Outra motivação que permanece até hoje, e que também vem das
primeiras formas de turismo são as viagens de cunho religioso, muito frequentes na
Idade Média. Também nessa época, iniciaram-se as viagens a estudo, nas quais
muitos jovens eram enviados por seus pais para estudar em cidades mais
desenvolvidas com objetivo de ampliar conhecimento cultural. (KEMP e SILVA,
2008)
Porém, foi no século XVIII e XIX que as viagens com a finalidade de
estudo se expandiram, esse fenômeno foi chamado de grand tour, movimento de
jovens que buscavam aprofundar seus estudos nas cidades mais desenvolvidas da
Europa, o grand tour dava grande status social àqueles que o praticavam.
(ANDRADE, 1999).
O crescimento do turismo, que já começa a tomar a forma de como o
conhecemos hoje só foi acontecer em meados de 1950, por uma série de fatores
combinados, como o desenvolvimento de novos meios de transporte, melhorias das
condições de trabalho, com férias remuneradas e redução das jornadas de trabalho,
e da evolução do pensamento do ócio como algo positivo. O lazer passa, então, a
ser entendido como algo fundamental. (URRY, 1996).
Com isso a sociedade passa a querer cada vez mais viajar a lazer,
principalmente para fugir da rotina de trabalho, aumentando a procura do turismo de
16
sol e praia. E assim surge o turismo de massa, presente até hoje em nossa
sociedade.
O turismo de massa é um turismo que se contenta em consumir o que
há de mais simples e planejado num destino, geralmente se faz visitas guiadas e
com finalidade de se conhecer apenas o que se tem de mais famoso no local. O
turismo de massa surge de forma desordenada, sem planejamento no destino, e se
caracteriza como um turismo que esgota os recursos do local, sendo mais prejudicial
ao destino onde é praticado. (URRY, 1996).
Urry (1996) ainda afirma que o turismo acaba se tornando um pseudo
acontecimento, onde as atrações são sempre encenadas, e não há mais
autenticidade, porém o autor também afirma que atualmente, a maioria dos turistas
já têm a consciência que grande parte do que vê é encenado, e muitas vezes não se
preocupam com isso, já que muitas vezes querem apenas desfrutar dos atrativos e
manifestações culturais que já aprovaram previamente.
Com o tempo, o turismo de massa passou a ser estudado e muito
criticado. Em resposta a essa realidade, surge o turismo pós moderno, que segundo
Urry (1996), é praticado por um turista informado, que está entediado e quer mais do
que hotéis e resorts à beira-mar. O turista pós-moderno tem tanto contato com a
tecnologia, que as viagens não ficam apenas em seu imaginário. Ele pode viajar no
conforto de sua sala: visitando museus pela internet, lendo relatos de pessoas que já
foram a determinados destinos e esgotando tudo que um local tem de atrativo
apenas com informações coletadas da rede. Esse novo turista não se contenta com
um guia lhe dizendo o que ele deve fazer e ver; ele se interessa pelo novo e
inusitado.
Moesch (2002) também acredita no turista pós moderno, e explica que
ele surge da nova era da comunicações internacionais, que possibilitou maior
liberdade de locomoção, comércio e investimentos internacionais. E diz que a
principal motivação do turista pós moderno não é mais os novos lugares, e sim as
novas vivências, entregando-se à experiências diferenciadas, com cargas afetivas,
que os façam sentir-se melhores. Por procurarem um turismo vivencial, Moesch
(2007) acredita que esse turista seja mais respeitoso com a cultura e as tradições
dos locais que visitam.
Os estudiosos começam a dizer que o mundo precisa de um novo
turismo, mais sustentável, que não esgote os recursos dos destinos e não afete
17
negativamente às comunidades receptoras. Os turistas de massa criam um
estereótipo para os turistas em geral, que começam a ser hostilizados nos locais
onde o turismo está presente. Ainda segundo Moesch (2007) os próprios turistas já
não gostam de ser tidos como turistas, pois são sempre vistos como os outros, os de
comportamento agressivo, que querem ser bem tratados sem dar nada em troca. E
justamente por nascer esse sentimento de revolta com o turista que surge o turista
pós-moderno, aquele que quer ser visto como o turista responsável, que se
preocupa com o meio-ambiente e a comunidade local.
Porém Moesch (2007) afirma que não é apenas o turista pós-moderno
que criará sozinho um turismo sustentável e melhor para os destinos, que tantos os
visitantes quanto os visitados precisam criar um melhor comportamento e maior
comprometimento com a ética, a cidadania e solidariedade.
É nesse contexto pós-moderno que surge o segmento do turismo
voluntário, um segmento mais comprometido com a comunidade e o meio-ambiente
local. Sendo este tipo de turismo que nos concentraremos para aprofundar o
presente estudo.
2.2 CONCEITUAÇÃO: TURISMO VOLUNTÁRIO
O turismo voluntário se mostra na atualidade como um novo segmento,
que combina turismo com trabalho sem fins lucrativos, e pode ser uma variação do
turismo de experiência ou do alternativo, já que os voluntários têm uma experiência
diferenciada ao praticar o segmento, tendo muito contato com costumes e cultura do
local onde trabalham.
Wearing (2001, apud NASCIMENTO, 2012, p.275) conceitua o turista
voluntário como:
[...] àqueles turistas que, por vários motivos, voluntariam de maneirorganizada para empreender férias que envolva auxiliar ou aliviar a pobreza material de alguns grupos da sociedade, restabelecer certos ecossistemas ou pesquisar aspectos da sociedade ou do meio ambiente natural.
O ato de voluntariar-se existe há muito tempo. Segundo Nunes e
Pacheco (2009), podemos encontrar pessoas viajando para “fazer caridade” desde o
século XII, essas viagens aconteciam através de peregrinações religiosas. Outro
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traço do turismo voluntário percebido na história é o acontecido em 1960, com o
Peace Corps, um programa com finalidade diplomática que enviou jovens
americanos para trabalharem em países de terceiro mundo. (NUNES; PACHECO,
2009)
O turismo voluntário como se conhece atualmente só veio a se
consolidar há menos de 20 anos, com o surgimento de agências e ONGs que
abriram suas portas para pessoas interessadas em doar sua mão-de-obra. A partir
daí, segundo a Corporation for National & Community Service foi criado o termo para
tratar esse tipo de turismo: voluntourism, traduzido para o português como
volunturismo ou turismo voluntário, que é o termo que usamos nesse trabalho. Ainda
segundo a Corporation for National & Community Service, o termo
Voluntourism (Turismo voluntário) foi usado pela primeira vez em 1998, pelo
Governador de Nevada durante uma premiação para voluntários atuantes em seu
estado. (STEINBACH, 2013).
Os projetos de trabalho oferecidos são os mais diversos. O turista pode
escolher entre trabalhar com crianças, adolescentes, animais, portadores de
deficiência mental, órfãos, entre outros. Além de uma grande variedade de grupos
envolvidos, existem várias formas de atuação, como por exemplo, escolher entre ser
professor de futebol, surfe, de reforço escolar, auxiliar de enfermeiros em hospitais e
outros trabalhos que envolvem diferentes habilidades.
No site da Central de Intercâmbio (CI)1, que oferece programas de
voluntariado principalmente na África do Sul, Namíbia, Índia e alguns países da
América do Sul, podemos encontrar um número expressivo de projetos, o que torna
esse tipo de turismo mais atrativo, pois quanto mais projetos, mais fácil para os
turistas se identificarem com algum tipo de trabalho (INTERCÂMBIO, 2013).
Por ser um fenômeno novo, ainda temos poucos estudos tratando do
tema. No artigo “Turismo e Voluntariado um estudo sobre as publicações em
revistas” (NASCIMENTOb, 2012) é criticada a falta de literatura brasileira na área.
Em sua revisão não foi identificado nenhum artigo sobre: “turismo e voluntariado”,
“turismo voluntário” ou “voluntarismo”. Ele ainda ressalta que internacionalmente, o
_____________ 1 Informações coletadas no site da CI. Disponível em: http://www.ci.com.br/trabalhar-no-
exterior/trabalho-voluntario. Acesso em: 12 mar. 2014.
19
tema já tem mais destaque e é possível encontrar livros e artigos sobre o assunto,
como mostra a ilustração 1:
Ilustração 1: Tabela de artigos
Fonte: Nascimentob (2012, p. 271).
Mesmo tendo sido encontrados periódicos internacionais sobre o tema,
Nascimento (2012) destaca que o assunto ainda não possui uma nomenclatura
própria, sendo geralmente relacionado a outros segmentos como: Ecoturismo, que é
um turismo que incentiva a sustentabilidade e o contato com a natureza; o Turismo
Social que busca a inclusão social e a igualdade de oportunidades na sociedade; e o
Turismo Alternativo que é um turismo que foge dos roteiros tradicionais, procura
lugares menos explorados e se utiliza de acomodações mais simples, como casas
de família ou albergues.
20
Realmente o turismo voluntário pode se aproximar em alguns aspectos
dos três segmentos, principalmente do turismo social. Mas é importante
destacarmos o real significado do turismo social; segundo Almeida (2001) o turismo
social busca a inclusão das classes com menos poder monetário (até cinco salários
mínimos) no turismo. Assim, nesse segmento sempre temos uma agência custeando
parte ou toda a viagem do turista. Nesse contexto poderíamos pensar que muitos
voluntários são custeados para viajar, como ocorre com os missionários, que são
filiados a entidades religiosas e geralmente se hospedam em igrejas ou casas de
religiosos sem pagar nada por isso ou ainda, que tem toda sua viagem custeada
pelas igrejas. Mas vale ressaltarmos que estes não são enviados com a finalidade
de inclusão social, e sim por motivos de caridade, seguindo princípios religiosos.
De fato o turismo voluntário é muito comparado com o turismo
alternativo, por haver uma semelhança entre estes, segundo Krippendorf (2009,
p.60), os turistas alternativo são aqueles que “[...] querem ter mais contato com os
autóctones, renunciar a maioria das infraestruturas turísticas normais, alojar-se de
acordo com os hábitos locais e utilizar o meio de transporte público do país [...]”
E o turista voluntário geralmente se insere nesse contexto, tendo mais
contato com a população local, hospedando-se em casas de famílias ou alojamentos
em áreas mais periféricas e se deslocando através de transporte público. Porém o
turista alternativo não exerce nenhum tipo de trabalho no destino visitado.
O estudo nessa área é importante, não só para consolidar o
volunturismo como um segmento, mas também para um melhor desenvolvimento da
atividade, visto que o turismo voluntário tem se mostrado uma importante alternativa
como um turismo sustentável. Já que o voluntário viaja com o intuito de ajudar a
comunidade de seu destino e de imergir em sua cultura, respeitando as diferenças e
tentando fazer parte dela.
2.3 CARACTERÍSTICAS DO TURISMO VOLUNTÁRIO
Com o surgimento e entendimento do turismo voluntário como
segmento, surgem também características próprias da atividade, bem como um perfil
dos turistas que o praticam.
21
Nunes e Pacheco (2009) relatam o depoimento de uma funcionária da
Iko Poran, agência que recebe estrangeiros e os orienta no Brasil, que fala sobre a
proposta da empresa e das pessoas que o segmento atrai. Assim, o turismo
voluntário:
[...] não é um turismo dito normal, porque os voluntários são pessoas mais ‘descoladinhas’, que vão para Favela da Maré, para o Complexo do Alemão, que andam de ônibus. [...] Eles conhecem tudo, tanto os lugares tradicionais, como Cristo, Pão de Açúcar. [...] Eles vão para a Prainha, para ateliês, eles conhecem gente, eles tem um contato muito mais firme. Por estarem em uma comunidade, tendo que se comunicar, tendo que ‘se virar’, eles conseguem fazer contato com as pessoas muito mais fácil. (NUNES; PACHECO, 2009, p. 6).
Analisando a declaração da funcionária podemos perceber a mais fácil
imersão do turista voluntário na cultura do país visitado. Isso ocorre porque
geralmente o volunturista já é preparado antes de viajar sobre as diferenças culturais
e sobre as regras em que deverá respeitar no país de destino.
Isso é uma importante diferença entre o turista voluntário para os
outros turistas: como estão se prestando a trabalhar em outro país para ajudar o
destino visitado, eles já vão com a consciência que haverá um conjunto de regras a
se seguir, como em todo o trabalho. Antes de viajar, o turista já tem a informação de
onde o trabalho será realizado, como pode se portar, se vestir, quantas horas se
dedicará à atividade e algumas outras regras que deverá seguir. Um turista comum
geralmente não se informa sobre o que poderá fazer ou não no país que visitará, por
estar de férias, o turista geralmente tem uma atitude mais permissiva, por vezes
desregrada, fazendo coisas que não faria em seu país de origem, como jogar lixo no
chão ou se embriagar.
É importante que existam regras para os turistas em geral, pois, como
critica Guttentag (2009, apud NASCIMENTO, 2012), muitas vezes os anseios do
turista são priorizados frente às necessidades da população local. Como o ato de
voluntariar-se virou um produto comercializável, as empresas privadas, muitas
vezes, pensam mais nas necessidades dos turistas, visando tornar o pacote mais
atrativo para estes. Nesse caso, cabe ás ONGs receptoras não cederem a este tipo
de atitude, sendo clara quanto as suas regras. Além disso, as restrições também
servem para “filtrar” as pessoas que escolhem essa modalidade para viajar, quem
22
aceita essas restrições, geralmente possui mais sensibilidade a respeito das ações a
serem desenvolvidas no destino.
Krippendorf (2009) também refere-se à importância de pensarmos mais
nas pessoas que estão sendo visitadas do que as que estão visitando, segundo o
autor o “bom” turismo deve sempre se inclinar para o desenvolvimento humano e
não para os bens materiais.
Medeiros, Campello e Nunes (2011), em suas entrevistas com turistas
voluntários atuantes no Rio de Janeiro, perceberam que há um consenso entre
estes, no sentido de que eles se consideram mais beneficiados com a atividade do
que as comunidades receptoras, pois com a experiência passam a ter “[...] uma
maior consciência de si mesmo e de seu lugar no mundo”. (MEDEIROS;
CAMPELLO; NUNES, 2011, p.167).
Esse pensamento é o que caracteriza o volunturista, ele se sente
beneficiado por estar ajudando, e não se importa em seguir as regras do país de
destino, sujeitando-se, muitas vezes, a situações que não seriam confortáveis para
viajantes que pagaram por um pacote comum. Os voluntários, muitas vezes, aderem
às comidas típicas do país, não se incomodam de dormir em camas menos
confortáveis e ainda assim, se sentem beneficiados.
Para os turistas não voluntários o sonho de férias é, geralmente,
aquela viagem em que tudo dá certo: hotel confortável; passeios ocorrem dentro do
combinado e planejado; viagem segura etc. Para Ferrari (2008), os volunturistas
buscam ser investidos afetivamente por parte de seu objeto de cuidado, sendo
amados e reconhecidos pela sua dedicação. A lembrança desse reconhecimento é o
que fará sua viagem ter sido perfeita.
Essa busca por afeto por parte dos voluntários também pode ser
negativa, uma vez que quando não acontece, desmotiva os turistas. O
relacionamento voluntário/beneficiário, para se manter saudável, depende das
recompensas que os cuidadores (voluntários) receberão, tais como, melhorias da
vida de quem se está ajudando ou afeto por parte dos mesmos (FERRARI, 2008).
As motivações desses turistas podem ser diversas, como criar uma
maior consciência de si mesmo, como já citado, ter férias diferentes, com uma maior
imersão cultural ou o simples desejo de “fazer algo pelo mundo”.
Segundo Ferrari (2008), os voluntários geralmente se sentem mal com
as injustiças do mundo, e ao se voluntariar, estão tentando mesmo que
23
inconscientemente, compensar a si mesmo pela culpa que sentem com as
desigualdades de nossa sociedade. Outro motivo que impulsiona as pessoas a se
voluntariar, seria o de obter reconhecimento social. De acordo com a autora, os
voluntários, em nossa sociedade, são vistos como pessoas de bem, desprovidas de
egoísmo, altruístas. Ela coloca o trabalho voluntário como uma forma de se distinguir
das outras pessoas, tendo em vista a famosa expressão popular: “fazendo o bem e
mostrando a quem”, como destaca Ferrari (2008, p.98). Ela também critica a visão
utópica que se tem sobre o voluntário, que é sempre positiva, e argumenta:
[...] as motivações inconscientes nas ações de voluntariado podem ser tanto altruístas quanto egoístas, mesmo que aparentemente se mostrem benevolentes, no sentido cultural, ainda que a primeira vista deem mostra de serem solidárias (FERRARI, 2008, p. 98).
Para o turismo voluntário como forma de um turismo responsável,
essas motivações egoístas, no sentido de estar se voluntariando apenas para ter
status numa sociedade, seriam negativas, visto que uma das formas que essa
modalidade se torna mais sustentável é por atrair pessoas mais conscientes, que se
preocupam com a comunidade local e o ambiente em que visitarão.
Em sua pesquisa, Ferrari (2008) ainda estuda o sentimento dos
voluntários, que geralmente se põem em uma posição de cuidado máximo,
querendo acabar com o problema de seus objetos de cuidado a todo custo. Ela diz
que é preciso sabedoria por parte dos voluntários, para não envolver tanto as
pessoas que estão ajudando a ponto de impedi-las de trilharem seu próprio
caminho.
Isso ocorre muito no turismo voluntário, o trabalho com órfãos, por
exemplo, requer muita atenção do turista para que este não dê demais de si para a
criança, pois como o voluntário fica só por um período, quando estes retornarem a
seus países de origem, os órfãos se sentirão abandonados, sendo difícil para eles
retornar à rotina que tinham antes de seus cuidadores chegarem. Por isso é tão
importante que as ONGs criem algumas regras, para que o voluntário saiba como se
portar quanto às crianças. Cabe às ONGs minimizar os efeitos negativos que a
presença do voluntário pode trazer à comunidade.
Além desse segmento atrair turistas com mais consciência social,
ambiental e cultural, o turismo voluntário também proporciona ao turista um tempo
24
maior no destino, ou seja, esse turista convive intensamente com outros voluntários
e moradores locais, o que pode despertar uma simpatia pelo local e a sociabilidade
cria laços de amizade, gerando um interesse em retornar futuramente ao país
visitado. Além disso, a maioria dos programas de trabalho voluntário tem um tempo
de permanência mínimo que deve ser obedecido para que as pessoas sejam aceitas
no projeto, as ONGs também podem controlar o tempo de estada dos turistas,
alguns projetos chegam a uma permanência mínima de seis meses no projeto
escolhido, assim o turista voluntário tende a passar mais tempo no destino do que o
turista comum.
Medeiros; Campello; Nunes (2011), explicam o interesse de retorno
dos volunturistas ao país em que atuaram, as autoras dizem que por integrar em alta
escala turista/comunidade, o turista cria vínculos de afeto que raramente ocorre em
outras formas de turismo, e para que ocorra a “manutenção” desses vínculos, é
necessário que se retorne ao país visitado. As autoras fizeram uma pesquisa com
voluntárias atuantes no Rio de Janeiro, onde três meninas que trabalharam em uma
comunidade foram acompanhadas durante o tempo que estavam se voluntariando.
Das três pesquisadas, duas delas regressaram ao Rio e trabalharam no mesmo
projeto, por mais tempo e sem a mediação da agência promotora.
Com o tempo, os turistas criam vínculos também com os funcionários e
coordenadores das ONGs, que podem aceitar o voluntário em uma próxima vez sem
a mediação de agências.
Em termos de organização, o segmento deve tomar algumas
precauções. Por promover maior contato entre turistas e comunidade, é importante
que o voluntário saiba o idioma local. Alguns países que adotam o inglês como
língua oficial exigem algum certificado que comprove que o turista tenha ao menos
nível intermediário da língua. Para esses destinos, o turismo voluntário pode se
desenvolver mais facilmente. Já em países com línguas menos universais como o
Brasil, por exemplo, isso pode ser uma barreira para o desenvolvimento do
segmento, uma vez que se torna muito difícil a comunicação entre os turistas e
comunidade. Isso limita até os tipos de tarefas que podem ser confiadas aos
voluntários. Medeiros; Campello; Nunes (2011), ainda no mesmo artigo, ressaltam
sobre esta dificuldade de comunicação que ocorre no Brasil, onde as voluntárias se
comunicavam com as crianças da favela em que estavam atuando por gestos e
mímicas, muitas vezes não sendo entendidas. As voluntárias declararam que a
25
comunicação era realmente difícil, e que por vezes desistiam de algumas atividades
que prepararam para as crianças por falta de entendimento destas. Em ONGs com
poucos recursos, raramente se tem alguma pessoa que fale pelo menos o inglês,
sendo difícil até mesmo algum “tradutor” que possa explicar as tarefas mais simples,
não dando alternativa aos voluntários, senão a de aprender a língua nativa, ou tentar
uma comunicação por gestos.
Podemos afirmar que com a organização correta e com o avanço de
estudos sobre o turismo voluntário, podemos aproximar o turismo voluntário do “bom
turismo”, termo utilizado por Krippendorf (2009).
Krippendorf (2009) cita algumas características que um segmento deve
ter para ser um novo tipo de turismo: mais sustentável, já que as sociedades do
mundo estão comumente revoltadas com o turismo, muitas vezes só enxergando a
parte ruim que a atividade traz. Essa revolta é como um grito de socorro, mostrando
que um novo “tipo” de turismo deve surgir.
É possível encaixar o turismo voluntário em várias dessas
características citadas por Krippendorf (2009), uma vez que o volunturismo pode ser
uma alternativa para o turismo que se está buscando.
O bom turismo deve trazer um bem estar subjetivo para a população
das áreas de destino. Podemos afirmar que o turismo voluntário contribui com a
melhorias sociais na comunidade das regiões em que se viaja, além do voluntário
causar benfeitorias na comunidade em que está trabalhando diretamente, ele
também causa admiração em toda população que, muitas vezes, reconhece seu
esforço em viajar exatamente para o seu país para tentar ajudar sua comunidade
(KRIPPENDORF, 2009).
Ainda nessa perspectiva de um bom turismo, o autor afirma que este
tipo de atividade deve deixar marcas no viajante:
[...] talvez as férias e o lazer experimentados longe de casa possam transformar-se realmente em um campo de aprendizados e experiência, não apenas uma fuga do cotidiano e dos problemas, mas também uma oportunidade de enriquecimento interior, de exercer a liberdade, a compreensão mútua e a solidariedade, e de poder descobrir um pouco de tudo isso no cotidiano. (KRIPPENDORF, 2009, p.40).
Observando a pesquisa de Medeiros; Campello; Nunes (2011) com
voluntárias no Rio de Janeiro, como já mencionado, percebe-se que os turistas
26
voluntários realmente encaram suas viagens como uma época de aprendizado, onde
exercem atividades humanitárias, e se sentem bem por serem solidários com quem
necessita de sua ajuda.
Krippendorf (2009) ainda destaca a importância de se utilizar
instalações e valorizar o trabalho da população de onde se visita. Ele argumenta que
uma boa alternativa é utilizar locação de quartos particulares ao invés de hotéis.
Analisando os projetos oferecidos pela Central de Intercâmbio, podemos perceber a
forte presença destes tipos de acomodações, sendo classificados como casas de
família. Esta é uma ótima alternativa não só para o turista ter mais contato com a
cultura local, mas para o autóctone ou morador se sentir parte do turismo que está
ocorrendo em sua região, tendo retorno social e econômico diretos.
A hospedagem também pode ter outras formas além do uso de casas
de família, não comerciáveis, como o couchsurfing2 e as comunidades/instituições
religiosas que oferecem alojamento para peregrinações religiosas. O couchsurfing
surgiu com a concepção de se oferecer hospedagem de graça, e em troca ganhar
enriquecimento cultural. A ideia virou uma rede social, onde as pessoas se
cadastram para oferecer e/ou procurar um sofá (em inglês, couch) onde possam se
hospedar durante suas viagens. A rede é bem completa e os perfis têm referências
que são dadas pelas pessoas que já foram hospedadas ou hospedaram um usuário.
Em troca, a pessoa que hospeda ganha enriquecimento cultural, já que tem contato
com inúmeras culturas, sem nem viajar.
Já as peregrinações ocorrem quando uma pessoa vai a outro país ou
cidade com fins religiosos, geralmente nesses casos, a igreja ou instituição religiosa
se encarrega da hospedagem de seu missionário, fazendo contato com igrejas do
destino a ser visitado ou até mesmo escolas, casas de família da comunidade,
mosteiros, entre outros. No destino, as igrejas captam pessoas dispostas a oferecer
sua casa sem nenhum custo aos turistas, atendendo a proposta religiosa do
momento. É importante percebermos que a arte de hospedar nem sempre vem
acompanhada de interesses mercadológicos, muitas vezes se entende que a troca
cultural já é ganho suficiente.
_____________ 2 Informações coletadas no site Couchsurfing. Disponível em: https://www.couchsurfing.org/. Acesso
em: 20 jan. 2014.
27
Mas a relação entre turista/comunidade vai muito além da econômica,
a comunidade influencia no modo de ver a vida do voluntário e vice versa. É
importante o papel da antropologia no turismo voluntário, assim como em todos os
outros segmentos do turismo.
Segundo Nash, (2001 apud BURNS, 2002) os antropólogos devem
estudar o turismo principalmente por este ser um fenômeno que envolve culturas e
subculturas e ainda pelo turismo ser identificável em todos os níveis da
complexidade humana.
Por sua vez, Barretto (2001) afirma que com os estudos da
antropologia no turismo, o benefício seria de todas as partes envolvidas no
fenômeno: comunidade receptora, turista, empresários e planejadores. Pois com a
antropologia poderiam ser identificados os impactos que o turismo traz ao destino,
podendo assim, após reflexão, serem criadas alternativas que desenvolvessem o
turismo harmonicamente, no aspecto econômico, social, cultural e ambiental.
No turismo voluntário, por haver maior contato entre turistas e
autóctones ou moradores, essa relação deve ser bem estudada, para que os turistas
não causem efeitos negativos à comunidade.
O turista muitas vezes é considerado como vilão, pois é o sujeito que
interfere na cultura das comunidades receptoras, comprometendo a integridade dos
atrativos locais. Porém, alguns autores defendem o turismo, mostrando que ele pode
sim ocorrer sem causar tantos danos na cultura, e ainda, apontando outros fatores
como os “vilões”, que seriam: modernização, mídia e urbanização.
Labate (1997, apud BANDUCCI JUNIOR, 2001) afirma que existem
vários tipos de turistas, e que o turismo pode ser algo positivo para a comunidade
quando as pessoas que o praticam vão com a motivação de uma convivência mais
próxima com a população receptora. A autora sugere que esses novos turistas são
turistas que:
[...] reivindicam para si um status e legitimidade diferenciados, através de um discurso relativamente articulado que enfatiza a busca de uma relação de troca menos mediada e mais direta e profunda com o outro e com a natureza. A viagem, portanto, não como uma atividade apenas de lazer ou ruptura com o cotidiano, mas como uma experiência de conhecimento do outro e da natureza e, ao mesmo tempo, como uma forma de autoconhecimento. (LABATE, 1997, p. 78-79).
28
As características descritas deste tipo de turista, defendido por Labate
(1997), podem ser relacionadas ao perfil do volunturista, que é muito motivado pelo
contato com a comunidade local e que viaja em busca do autoconhecimento.
Bindá (1995 apud BANDUCCI, 2001) chama a atenção dos
antropólogos para os benefícios que o turismo pode causar na população receptora:
troca de valores e vivência emocional e espacial, segundo o autor, os estudos
antropológicos geralmente tem uma visão muito negativa do turismo, esquecendo-se
dos aspectos positivos que este pode acarretar.
Como qualquer segmento do turismo, o volunturismo também tem suas
vantagens e desvantagens, sendo que ainda precisa ser estudado, para que seus
pontos negativos sejam minimizados e esse segmento se desenvolva
sustentavelmente.
Guttentag (2009 apud NASCIMENTO, 2012) vê como vantagens do
turismo voluntário: os resultados alcançados pelo trabalho do turista; a receita
gerada para a comunidade local e para a organização que organiza trabalho
voluntário; a conservação ambiental, quando o voluntário escolhe voluntariar-se em
ONGs voltadas para a atividade; o crescimento pessoal do participante voluntário e
a experiência intercultural. Como desvantagens ele destaca a negligência em
relação aos anseios das comunidades hospedeiras; a diminuição do progresso dos
trabalhos e a realização de trabalhos insatisfatórios, já que os voluntários
geralmente não são treinados; a diminuição dos postos de trabalho para a
comunidade local e a dependência gerada com a presença dos voluntários; o
conceito e entendimento do “outro”; a racionalização da pobreza; e a mudança
cultural produzida pelo contato com os turistas.
Como citado anteriormente, o turismo voluntário pode trazer inúmeros
benefícios, não só para quem o pratica como para o local onde é realizado, porém, a
área ainda carece de estudos mais aprofundados, que reflitam sobre alternativas
que minimizem suas desvantagens. Assim, no próximo capítulo, destacaremos o
perfil e as atividades desempenhadas pelo volunturista em suas viagens, com a
finalidade de se revelar o presente objeto de estudo para análise.
29
3. A EXPERIÊNCIA DO VOLUNTARIADO
A finalidade desse capítulo é apresentar as experiências relativas ao
turismo voluntário, para tanto, o presente capítulo foi sistematizado em duas partes.
No primeiro momento foi feita uma análise de depoimentos de pessoas
que vivenciaram o turismo voluntário. Para tanto, analisou-se três depoimentos: o
relato de experiência da autora do presente trabalho, que atuou com crianças de
zero a cinco anos em um orfanato, a qual será identificada por L., a segunda será
M., que trabalhou com crianças em um hospital infantil e, por fim, o depoimento de
C., cujo trabalho foi com crianças em uma township (áreas urbanas, geralmente
subdesenvolvidas). Todas as pessoas passaram suas experiências na Cidade do
Cabo, África do Sul.
Esses depoimentos foram coletados em blogs, escritos enquanto as
voluntárias estavam vivenciando o trabalho voluntário. Alguns detalhes que não
foram possíveis de esclarecimento para autora deste trabalho foram perguntados
posteriormente através da internet, em redes sociais ou e-mails. Com exceção do
depoimento de L. que foi elaborado a partir do relatório produzido para a
Universidade como documento válido para Atividade Complementar.
Esses blogs foram escolhidos pelo fato de conterem depoimentos de
voluntárias atuantes na África do Sul, local escolhido para objeto de pesquisa. E,
ainda, pelo fato dos blogs conterem relatos de experiências de indivíduos que
atuaram em ONGs diversas, cujo foco é a experiência do turismo voluntário. Assim,
apresentam-se a seguir os três depoimentos selecionados, sendo estes
sistematizados a partir da operacionalização da viagem; descrição do projeto e
análise do depoimento.
3.1 DEPOIMENTO I – ATUAÇÃO EM ORFANATO
3.1.1 Operacionalização da viagem
O primeiro contato que L. teve com a atividade foi em janeiro de 2011,
com a pesquisa feita pela internet, momento em que escolheu uma agência pioneira
em viagens de trabalho voluntário para a África do Sul. A partir dessa seleção prévia
30
pela internet, ela realizou uma visita para se obter mais detalhes de como proceder
para a realização da viagem, bem como os custos totais do intercâmbio.
Na primeira visita, ainda em janeiro, a consultora a perguntou qual tipo
de trabalho preferia fazer: com crianças órfãs, com crianças carentes, com
adolescentes, com crianças com algum tipo de deficiência, com animais ou algumas
outras opções. A partir disso a consultora falou sobre alguns projetos que tinham a
ver com a opção escolhida, e mostrou o folder de três projetos que L. relatou à
atendente que eram os de maior interesse pelo que foi lido por meio do site da
agência. Nos folders continham informações como os custos, como era a
acomodação, em qual cidade seria, o tipo e horário de trabalho a ser realizado,
assim como algumas fotos e recomendações do próprio projeto. Com base nessas
informações, L. escolheu o projeto que mais se identificou e voltou alguns meses
depois para realizar a compra da viagem.
Em agosto L. foi comprar o pacote e começar a ver as documentações
e trâmites que deveriam ser feitos para a realização da viagem. Como o retorno foi
após seis meses, não foi a mesma consultora que havia informado inicialmente L.
sobre os programas. Diante disso, L. destaca como um ponto negativo já que havia
se simpatizado mais com a consultora anterior. Mas isso não foi algo que a impediu
de continuar com a proposta de viagem de intercâmbio para realização da
experiência de turismo voluntário.
Antes de pagar efetivamente a viagem, L. fez um teste de inglês, sem
custos, na própria agência, que verificava o nível do idioma, já que um dos requisitos
dos projetos é fluência em inglês. Após ter aptidão na língua comprovada, é
necessário informar a data desejada da viagem, que deve ser sempre numa quarta,
para que se chegue sempre numa quinta-feira, conforme planejamento da agência
com as instituições do país receptor. Se for confirmada disponibilidade, deve-se
efetuar o pagamento em até 48 horas.
L. optou por uma data depois das festividades de fim de ano, já que
muitas Organizações Não Governamentais (ONGs) tiram férias no final do ano, não
tendo necessidade da mão de obra voluntária.
Após o pagamento da viagem, deve se apresentar alguns documentos
para que a agência na África do Sul possa aprovar os voluntários para o projeto.
Esses documentos são: condições gerais da agência, comprovante de idioma
emitido pela própria agência, application form (formulário de inscrição) do projeto
31
escolhido, atestado de antecedentes criminais, currículo em inglês, cópia do
passaporte, seguro médico internacional e dados dos voos. Se a aprovação não
ocorrer, o dinheiro é devolvido integralmente para o contratante.
Depois disso, L. aguardou a aprovação, para só então, comparecer em
uma reunião na agência a fim de esclarecer algumas dúvidas. Nessa reunião, é
entregue o material que apoia os voluntários durante a viagem: a carta de
confirmação com os contatos da agência no exterior, uma carta para ser
apresentada à imigração e um guia com orientações gerais. Esse guia explica o que
será feito após a chegada ao país e contém dicas de comportamento e informações
culturais do destino em geral e dos projetos que serão realizados.
Assim que L. chegou ao destino, em janeiro de 2012, um motorista a
esperava com uma placa com seu nome e a levou para o alojamento. O motorista
era contratado da agência responsável pelos voluntários na África do Sul para a
função exclusiva de motorista, porém, assim que L. chegou ao destino, o funcionário
se apresentou também como guia de turismo legalizado pelo governo local,
oferecendo serviços de guiamento. Posteriormente, L. e seu grupo realizaram alguns
passeios guiados por ele, pagos individualmente e com o automóvel da agência.
Esses passeios foram culturais, o guia dava detalhes da história do país, se
mostrando apto ao serviço que oferecia.
No dia seguinte a chegada, L. teve um encontro com o responsável
pela agência da África do Sul, realizado em um restaurante, onde é feita uma breve
contextualização e caracterização do país e de alguns costumes. Os participantes
também recebem um kit boas vindas, que geralmente contém algo da ONG onde
será realizado o trabalho e um chip de celular pré pago.
No dia seguinte, é feito um city tour pela cidade, que inclui vários
pontos turísticos. Domingo é dia de descanso, para começar efetivamente as
atividades na segunda-feira.
3.1.2 Descrição e percepção do projeto
O projeto escolhido foi no orfanato Christine Revell que abriga crianças
de até 5 anos. O orfanato fica em um bairro chamado Athlone, localizado numa
região suburbana de Cape Town. Não era comum encontrar turistas por lá, então os
próprios funcionários do local a aconselhou a não andar pela vizinhança sozinha,
32
pois logo seria identificada como turista e poderia ser assaltada. L. explica que não
foi difícil acatar esse conselho, já que tinha um motorista que a levava e buscava
todos os dias no trabalho. A casa em que funcionava o orfanato tinha dois andares,
e um quintal com um playground. No andar de baixo ficavam as salas do pré
escolar, os dormitórios dos bebês até um ano de idade, o refeitório, a lavanderia e
as salas dos funcionários (diretoria, sala da assistente social etc.). No segundo
andar ficavam os dormitórios das crianças de um a cinco anos, os banheiros e a sala
de televisão. Como mostram as ilustrações a seguir:
Ilustração 2: Quintal com playground
Fonte: Acervo pessoal, 2012.
33
Ilustração 3: Dormitório das crianças de 3 a 5 anos.
Fonte: Site Christine Revell Children’s Home, 2013.
Ilustração 4: Sala do pré escolar
Fonte: Acervo pessoal, 2012
34
Ilustração 5: Banheiro crianças de 3 a 5 anos
Fonte: Site Christine Revell Children’s Home, 2013.
.
No primeiro dia L. foi apresentada aos funcionários e ao orfanato em si,
mostraram os cômodos, o que funcionava em cada local e onde ficavam as crianças.
Em seguida, levaram-na para conhecer as crianças, que são divididas em três
grupos: grupo A (bebês até dois anos), grupo B (crianças de dois e três anos) e
grupo C (crianças de 4 e 5 anos). Já no primeiro dia a pediram para escolher o
grupo em que desejaria trabalhar, porém foi dada a opção de passar um dia em
cada grupo para ver em que grupo ocorreria melhor adaptação.
As atividades desenvolvidas foram as mesmas que um funcionário
comum: supervisionar as crianças, ler, brincar, alimentá-las, trocá-las, e dar banho.
L. destacou que não teve nenhum preparo para tais atividades, era como se eles
partissem do princípio que estando ali com crianças, os voluntários já tinham alguma
habilidade com elas, então eles começavam a fazer seu trabalho e esperavam que
fizessem igual. Surgindo alguma dúvida, L. disse que todos eram muito atenciosos
em atender aos voluntários. A ONG passou algumas recomendações a serem
seguidas, como por exemplo: não pegar as crianças no colo se não houver uma
justificativa para tal, não tirar fotos dos órfãos sem assinar o termo de compromisso
que garante que não publicariam nenhuma das fotos e não fazer curativos ou mexer
em uma criança que estivesse sangrando. Esta última recomendação era feita
porque algumas crianças eram HIV positivo, porém eles não revelavam quais
35
crianças eram, para que não houvesse discriminação. Então quando havia risco de
infecção, os voluntários deveriam chamar um dos funcionários da Instituição.
A rotina do trabalho era iniciada com a assinatura do caderno de ponto,
com o horário de trabalho e o nome do voluntário. Em seguida L. ia às salas que
durante a manhã funcionavam como uma escola, lá ela ficava cerca de duas horas e
depois ia ao pátio até a hora do almoço. Depois do almoço, L. levava as crianças
para o banheiro onde eram trocadas e postas para dormir. Enquanto as crianças
dormiam, os voluntários tiravam o horário de almoço e às duas da tarde, acordavam
as crianças e as trocavam de novo. Depois iam novamente para o pátio, onde
permaneciam até a hora da janta, após a refeição, davam banho e botavam os
pijamas nelas. Esse era o fim do expediente.
L. destacou que os horários que tinha mais liberdade para conversar
com as crianças eram no tempo que passava no playground, como era uma hora de
lazer para os órfãos, L. podia conversar mais sobre sua vida, país e costumes. L.
frisou que os funcionários eram os que mais se mostravam interessados em saber
sobre a vida no país de origem dos voluntários.
Também era corriqueiro aparecer alguma tarefa diferente das rotineiras
para os voluntários realizarem, como levar as crianças na aula de natação (com um
motorista), acompanha-las ao hospital se alguma criança se adoentasse, enfim, se
alguma atividade fora do orfanato acontecesse, pediam aos voluntários para
acompanha-las.
L. frisou que quando pensava em sua rotina durante a semana, não se
considerava turista, pois tinha obrigações a cumprir e estava ali, todos os dias assim
como qualquer funcionário local. Porém, ela destacou que aos fins de semanas
sentia-se turista, pois ia conhecer os principais atrativos turísticos, tirava fotos de
tudo que lhe interessava, conhecia pessoas, conversava com moradores e
descobria elementos da cultura local como restaurantes e feiras gastronômicas
interessantes, principais locais para saídas noturnas e atrativos culturais
importantes.
Vale ressaltar que o relato de experiência indicou que os turistas
voluntários eram muito mais inseridos na cultura local por meio do trabalho
voluntariado, pois conviviam todos os dias com os moradores e chegavam até a
aprender palavras do dialeto falado no país. Ela disse que o turismo voluntário os
36
tornou turistas com um perfil diferenciado, com uma maior consciência sobre o
destino em que estavam inseridos.
Ao ter contato com outros turistas que estavam ali por outro motivo,
sem ser o de voluntariar-se, L. percebia como tinha mais conhecimentos sobre os
costumes da cidade, como por exemplo, os bares e restaurantes que eram mais
utilizados por cidadãos locais, bem como informações sobre transportes públicos,
vias de acesso, tais como ruas e estradas existentes dentro da cidade.
Por fim, L. destaca que ser turista voluntário é realizar uma imersão na
cultura e na vida cotidiana local, pois o grande contato que se tem com os
autóctones e os moradores locais proporciona hábitos praticados pelos cidadãos
que habitam a cidade visitada, tornando a experiência turística muito mais rica.
3.1.3 Considerações sobre o depoimento L.
A partir do depoimento de L., confirmam-se alguns posicionamentos
teóricos apresentados no primeiro capítulo. Primeiramente, percebe-se a presença
de requisitos para se participar do projeto, no caso foram citados a aptidão em
inglês, que foi testada na própria agência e a análise do currículo pela ONG ou
agência no país de destino, que envia a aprovação algum tempo depois. É
importante que a ONG conheça seus voluntários e os aprove previamente, já que
estes serão parte da organização no tempo em que estiverem na localidade, e
influenciarão tanto na vida dos funcionários quanto das crianças/idosos/animais,
dependendo do tipo de trabalho.
Através desse depoimento também se observa que a agência tem uma
política de preparação do turista a respeito do país que será visitado. Antes mesmo
de sair do país, o turista recebe um guia e assim que chega, aproveita os primeiros
dias para conhecer o local, que é muito importante, já que assim o voluntário vai
para seu primeiro dia de trabalho conhecendo um pouco da cidade e da cultura
local, podendo ter uma melhor interação com os autóctones e moradores em geral.
A autora do depoimento cita algumas regras recomendadas pelo
orfanato, como por exemplo, assinar um termo dizendo que não divulgaria as fotos
tiradas das crianças, mostrando que o estabelecimento tinha uma política de
proteger as crianças que cuidavam. Essa atitude por parte da ONG é muito
37
importante para um bom “funcionamento” do turismo voluntário. O bem estar dos
locais sempre deve ser levado em conta, como alerta Krippendorf (2009).
Um ponto negativo citado foi a falta de treinamento dos voluntários,
estes deveriam ter um treinamento antes de começarem a lidar com o trabalho
sozinhos, uma vez que pode haver pessoas despreparadas para a missão, e então
as crianças/idosos/animais podem ser prejudicados por isso. Uma ONG que recebe
voluntários, principalmente internacionais já deveria ter adotado uma política de
treinamento, mesmo que simples.
No depoimento citado nota-se que o turista voluntário, por ter
obrigações no destino, muitas vezes não se sente turista, apesar de ser. A OMT
(2001) define como turista aquele que visita um destino e que lá permaneça menos
de 360 dias desde que não exerça nenhuma atividade econômica no local. O que se
encaixaria no caso do turista voluntário, já que este não recebe por seu trabalho e
geralmente passa menos de um ano no destino. Isso pode ser um ponto positivo,
uma vez que sentindo-se menos turistas, os visitantes terão mais cuidado com o
destino em que estão atuando.
3.2 DEPOIMENTO II – ATUAÇÃO EM CRECHE
3.2.1 Operacionalização da viagem
C. resolveu não se associar a nenhuma agência brasileira, alegando
que prefere fazer suas viagens por conta própria. Depois de muita pesquisa na
internet, ela acabou comprando o programa por uma agência localizada na Nova
Zelândia, a International Volunteer Headquarters (IVHQ), que foi fundada em 2007 e
atende seus clientes além da forma presencial, online também.
Como C. comprou pela internet, ela consultou o folheto da agência, que
contém informações como: os países em que a empresa atua, tipos de programas e
trabalhos a realizar, e os passos para se inscrever nos programas.
As etapas a serem vencidas para entrar no programa são: Acessar o
site, escolher o programa e preencher o formulário online. Depois de preenchido, em
48 horas, a empresa entra em contato com o interessado, confirmando a
disponibilidade do programa. Se houver disponibilidade, paga-se a taxa de registro e
38
posteriormente, após esclarecidas todas as dúvidas com o consultor (via e-mail),
paga-se o valor estipulado pelo projeto escolhido.
Segundo C., após o pagamento, ela recebeu uma apostila contendo
informações como vacinas a serem tomadas; comportamento a ser adotado na casa
das famílias; como se vestir e como é a cultura do país. O pacote incluía
acomodação, alimentação, transporte de ida e volta para o projeto escolhido e uma
doação para a ONG que seria escolhida.
Assim que chegou no país, C. foi recebida por um motorista da
empresa que a levou para a casa dos voluntários, o que foi um problema para ela, já
que ela havia solicitado a acomodação em casa de família e não na casa de
voluntários, mas após C. reclamar, ela foi realocada para uma casa de família.
O dia depois de sua chegada foi o dia de orientação. Neste dia ela
visitou todas as ONGs parceiras da empresa para escolher onde queria trabalhar. C.
expôs um problema nesse ponto: a empresa não tinha parceria com nenhum
orfanato, e ela havia esclarecido desde o início que queria trabalhar com órfãos.
Apesar de que no folheto da empresa, está escrito que na África do Sul não é
oferecido trabalhos em orfanatos.
No dia de orientação a agência IVHQ também leva os voluntários para
conhecer o centro da cidade, já que realizam todas sua atividades num bairro
periférico da cidade de Cape Town.
As orientações sempre ocorrem aos domingos, por isso a IVHQ pede
que seus associados cheguem sempre aos sábados. E o trabalho efetivamente
sempre começa na segunda.
3.2.2 Descrição e percepção do projeto
A voluntária C. escolheu trabalhar em uma creche com crianças de 3 a
5 anos. A empresa disponibilizava transporte para mobilidade dos voluntários no
trabalho. As ONGs eram localizadas em townships (como já foi mencionado
anteriormente, são as áreas urbanas subdesenvolvidas) que é parecido com a favela
do Brasil, então era muito importante que houvesse um transporte seguro para o
deslocamento.
No primeiro dia de trabalho C. não ficou satisfeita, pois se sentiu inútil
para as crianças. Ela mencionou a falta de treinamento e disse que apenas a
39
levaram para sala em que ela deveria estar e lá estavam 30 crianças e quatro
professoras. Destacou que quando chegou as professoras e crianças continuaram
suas atividades sem dar muita atenção à voluntária. Ela disse que nem conseguiu se
enturmar muito, pois as crianças estavam falando em seu dialeto nativo.
Esse trabalho na creche era realizado todos os dias, até o meio dia.
Suas principais funções eram organizar a sala, dar comida, ler estórias, cortar e
servir frutas, levar as crianças ao banheiro, entre outras.
Ilustração 6: Contação de estórias na creche. Fonte: Blog C., 2013.
Adjacente à creche, havia o sopão, que era organizado por outra
creche, todas as quartas-feiras, onde C. também ajudava na distribuição.
40
Ilustração 7: Cozinha onde o sopão era preparado.
Fonte: Blog C., 2013.
Ilustração 8: Distribuição de sopa.
Fonte: Blog C., 2013.
41
Como o trabalho ocupava apenas as manhãs, C. resolveu procurar
outra ONG próxima de onde estava hospedada. Para sua surpresa, a maioria das
ONGs que encontrou, cobrava para que se pudesse trabalhar. Após muita procura,
ela encontrou a ONG Mother United, que funcionava como uma creche. C.
trabalhava nessa creche das 14 horas às 17 horas, duas vezes na semana,
ensinando inglês. Ela tinha total liberdade para preparar suas tarefas, e muitas
vezes, optava por atividades mais dinâmicas como palavras cruzadas ou jogo da
forca.
Ilustração 9: ONG Mother United.
Fonte: Blog C., 2013.
42
Ilustração 10: Sala de leitura.
Fonte: Blog C., 2013.
3.2.3 Considerações sobre o depoimento II
Através do depoimento de C. podemos entender melhor como funciona
a organização das viagens por parte da empresas receptoras.
A empresa IVHQ orienta seus voluntários, dizendo como se vestir e se
portar, assim como a You2Africa, do depoimento anterior.
Já vimos a importância da orientação do turista antes da viagem,
quando informado, o turista vai para o destino muito mais consciente de seus atos,
tendo noção do que é aceito e do que não é. Assim, o voluntário causa menos
problemas no destino visitado e, consequentemente, sua adaptação ao local é mais
positiva.
Outro ponto importante do depoimento é a presença de compra de
pacotes online, indicando que o segmento também já se inseriu no mercado da
internet, e que essa ferramenta se mostra muito importante para o turismo
voluntário, já que ONGs e empresas locais podem atingir pessoas de toda parte do
mundo, sem precisar de empresas mediadoras. É natural que alguns problemas
surjam, como mostra C., quando fica decepcionada com sua agência receptora pelo
43
fato de não ter convênio com nenhum orfanato, mesmo tendo deixado claro em seus
e-mails que era esse seu interesse.
C. cita alguns outros problemas que teve, como a primeira
acomodação em que ficou, a ausência de um horário de trabalho mais longo e a
falta de treinamento das creches.
Como só trabalhava de manhã, C. sentiu a necessidade de ter algo
mais para fazer, já que suas tardes ficavam ociosas, mas devemos entender que a
empresa pode ter adotado essa política para favorecer os voluntários, dando mais
tempo livre para que eles pudessem aproveitar a viagem para conhecer os atrativos
como um turista comum.
A falta de treinamento dos voluntários pode ser negativa não só para
as ONGs, que terão um funcionário despreparado para o atendimento, mas também
para os voluntários, que sem saber o que fazer, podem se frustrar com a viagem.
Muitas pessoas escolhem se voluntariar para fazer algo útil pelo mundo e quando
percebem que não são necessários no lugar que escolheram atuar, se dão conta
que o seu objetivo de ajuda humanitária não é alcançado.
Já o problema da acomodação ocorreu porque C. havia escolhido a
casa de família, e no início, a levaram para o alojamento dos voluntários, C.
reclamou e conseguiu o alojamento contratado. Como destaca Krippendorf (2009),
utilizar as casas de família como acomodação é um ponto importante, já que valoriza
o trabalho da população local, e os faz sentirem-se mais queridos por terem sido
escolhidos como anfitriões.
No depoimento de C. também é possível perceber as barreiras que o
idioma traz ao segmento, uma vez que no início ela não conseguiu se comunicar
com as crianças, que estavam falando apenas seu dialeto. Por isso, é importante
que as ONGs que recebem voluntários sempre tenham funcionários receptivos a
esses turistas, que tenham paciência de inseri-los na rotina da ONG, mesmo que
eles não entendam a língua nativa, até mesmo ajudando com conhecimentos
básicos sobre o dialeto local.
Outro problema que podemos perceber através de seu depoimento é o
da comercialização do turismo voluntário. Ao tentar encontrar um trabalho por conta
própria em uma ONG, C. foi surpreendida por não poder trabalhar sem pagar uma
taxa, mesmo oferecendo sua força de trabalho de graça. Essa exploração é muito
preocupante, pois o voluntário não deveria ser visto como um turista ávido por
44
consumir produtos turísticos, mas sim como uma pessoa engajada em causas
humanitárias e/ou ambientais, além de ser uma oportunidade positiva para
ampliação da cultura das pessoas inseridas na ONG e mão de obra grátis, que pode
melhorar o desempenho do trabalho no local. As ONGs deveriam saber aproveitar
melhor o trabalho desses turistas, e não vê-los apenas como uma ajuda financeira.
3.3 DEPOIMENTO III – M.
3.3.1 Operacionalização da viagem
M. realizou sua viagem pela mesma agência de L., então a parte
burocrática seguiu os mesmos trâmites da primeira participante. Porém, logo em sua
primeira visita a agência de intercâmbio, M. já expressou sua vontade de trabalhar
com crianças e disse o tempo que pretendia passar no destino. A consultora
mostrou-lhe alguns projetos e ela escolheu trabalhar em um hospital infantil com
crianças de zero a doze anos.
Após fazer o teste de inglês, enviar seus documentos e obter a
aprovação, M. foi a uma reunião na agência para receber informações sobre o
destino, além disso, ela ganhou um material que continha as informações
transmitidas na reunião para que levasse junto com ela durante a realização da
viagem.
Assim que chegou ao destino, ela foi levada ao seu hostel por um
motorista que a esperava no aeroporto. Existiam duas opções de acomodação, uma
em casa de família ou outra em casa de voluntário, que na verdade era um hostel
comum, mas que abrigava todos os voluntários atuantes na Cidade do Cabo que
tinham contratado os serviços da agência de intercambio local (You2Africa).
M. chegou à cidade numa quinta-feira, como a intercambista anterior,
identificada por L., e logo na sexta-feira se encontrou com o dono da agência, que
forneceu mais algumas orientações sobre o país e também sobre o projeto
escolhido.
No sábado foi feito um city tour pela cidade, oferecido pela própria
You2Africa, o que já estava incluso no pacote. O domingo foi dia livre para
descanso, tendo em vista que na segunda-feira começaria o trabalho no hospital.
45
3.3.2 Descrição e percepção do projeto
O projeto escolhido por M. foi em um hospital com crianças de zero a
doze anos. No primeiro dia, deve-se escolher em que ala prefere trabalhar, com os
bebês até dois anos, ou com as crianças mais velhas.
O trabalho começava às nove da manhã e terminava por volta das
quatro e meia da tarde, e sempre havia um motorista para o transporte do trabalho
para o local onde a voluntaria estava hospedada. As atividades exercidas pelos
voluntários eram brincar com as crianças, auxiliar na alimentação, trocar de roupa e
colocar pra dormir. As trocas de fraldas, dar remédios e banhos eram tarefas das
enfermeiras. M. destacou que o hospital era mais um centro de recuperação do que
um hospital para tratar de doenças, então as crianças não se encontravam em
estado grave, já que já tinham sido tratadas e estavam fora de perigo.
A rotina de trabalho dos voluntários no hospital se iniciava com a
distribuição dos voluntários para suas respectivas alas, que foram atribuídas logo no
início do trabalho no local. No início do dia era necessário verificar com as
enfermeiras se as crianças ou bebês já haviam sido trocados e alimentados, se sim,
podiam ir para a brinquedoteca localizada dentro do hospital, cada ala tinha uma
específica: uma para os bebês de até dois anos e outra para as crianças maiores.
Nesse espaço eles passavam a manhã até a hora do almoço. E era dever dos
voluntários entretê-los nos momentos que passavam lá. Para isso, os voluntários
podiam criar atividades recreativas com uso de materiais e acessórios tais como
CDs, tintas para pintar a pele, canudos e sabão para atividade de bolha e sabão,
dentre outras, porém tudo era proposto tendo a autorização das enfermeiras.
46
Ilustração 11: Voluntária entretendo crianças
Fonte: Blog M., 2014
Ilustração 12: Crianças com unhas pintadas
Fonte: Blog M., 2014
A parte reservada aos mais velhos possui duas alas, uma dentro do
hospital que funciona como uma escola, com brinquedos educativos, e uma área no
47
quintal. Antes do horário de almoço, os voluntários deveriam alimentar os mais
novos no berço ou ajudar os mais velhos no refeitório e posteriormente, colocá-los
em seus lugares para dormirem.
O horário de almoço durava cerca de duas horas, e os voluntários
tinham uma sala só para eles, para fazer a refeição, descansar ou ficar
conversando. Depois do almoço, os voluntários não podiam sair com as crianças
para a parte de fora, já que elas se sujariam mais. As atividades da tarde ocorriam
na área interna do hospital.
M. destacou que muitas crianças eram portadoras de HIV ou
tuberculose, mas como já foi mencionado anteriormente, as enfermeiras não diziam
quais crianças eram portadoras de HIV, porém, as regras de higiene eram muito
rígidas, se alguma criança vomitasse ou se machucasse, uma enfermeira deveria
ser chamada imediatamente para limpar e tirar a criança de perto das outras. Apesar
de os voluntários não terem recebido nenhum treinamento específico, no primeiro
dia, as enfermeiras informam as regras para que não haja contaminação.
M. percebeu que o principal trabalho dos voluntários era dar atenção às
crianças. E afirma que as enfermeiras não criavam nenhum laço emocional com as
crianças, não as abraçavam, beijavam ou manifestavam outras demonstrações de
afeto.
3.3.3 Considerações sobre o depoimento III
O primeiro ponto que podemos destacar e que já vimos no primeiro
capítulo é o da conduta da agência. Percebeu-se que a agência tenta preparar o
turista para o que será encontrado no país de destino, que cobra alguns requisitos
para enviar o turista para a ONG, como falar inglês, por exemplo.
Como nos outros depoimentos, percebemos que a voluntária não
recebeu nenhum tipo de treinamento para lidar com as crianças. E por se tratar de
um hospital, essa conduta pode ser perigosa, já que existem crianças em
recuperação e que exigem um tratamento especial. Porém, a saúde dos voluntários
foi prezada, quando são orientados a não entrarem em contato com fezes, vômitos e
sangue de nenhuma das crianças. A orientação também vale para as outras
crianças, se algum acidente ocorresse, os voluntários deveriam chamar as
enfermeiras e tentar retirar as outras crianças do local.
48
Outra parte interessante que podemos destacar é da parte do carinho
que os voluntários propiciam às crianças. M. diz que as enfermeiras tratam as
crianças muito profissionalmente, e que o trabalho de dar carinho fica para os
voluntários. Esse pode ser um dos motivos pelos quais se pensa que os voluntários
não precisam de treinamento. Por eles não serem vistos como funcionários
temporários, e sim como pessoas que estão ali apenas para tornar o dia das
crianças melhor, dando atenção. Mas ao mesmo tempo ocorre uma contradição,
pois no caso dos órfãos, foi indicado que os voluntários não poderiam se apegar às
crianças, por ficarem por um período já estabelecido, com data para término do
vínculo, o que poderia gerar mais um sofrimento e sensação de abandono para as
crianças.
Pelo depoimento de M. não percebemos nenhuma regra imposta pela
ONG. Através do blog podemos observar que divulgação de fotos era permitida, pois
há um número considerável de fotos com as crianças. E M. não cita, em momento
algum, restrição imposta pela ONG, apenas a orientação sobre os cuidados com a
contaminação.
3.4 Análise Geral dos depoimentos
Fazendo um panorama geral dos três depoimentos, podemos perceber
a preocupação que existe por parte das agências com o choque cultural. Por se
tratar de países de terceiro mundo, e pela atividade gerar muito contato com os
locais, as agências fornecem uma apostila para seus clientes, contendo informações
não apenas turísticas, mas de como se portar e se vestir, por exemplo.
No caso da escolha do trabalho, podemos perceber a diferença entre
M. e L. para C. Como C. comprou pela internet, ela só escolheu onde trabalhar
depois de chegar ao destino. Ela visitou algumas instituições para fazer a escolha.
Já M. e L. escolheram antes mesmo de pagar pelo programa.
Podemos perceber uma falha geral no quesito treinamento dos
voluntários, Nos três depoimentos destacados, observou-se que não se foi ensinado
como realizar o trabalho no seu local de atuação. Porém, M. levantou um ponto
importante, o de que os voluntários são mais para “dar carinho”, então muitas vezes
a ONG não se importa em explicar o trabalho exercido no local, deixando os
voluntários mais livres para mimar as crianças sob seus cuidados, o que é
49
preocupante no caso do atendimento prestado aos órfãos, que geralmente, por não
terem o afeto familiar, apegam-se mais facilmente, gerando um maior sofrimento ao
fim da viagem.
Outro ponto interessante foi a venda de pacotes on-line, a agência de
M. e L. não realiza a venda online, enquanto a de C. sim. Pode-se comprar o pacote
mesmo morando em outro país, o que seria muito interessante para a outra agência
também, já que assim, ela poderia atingir um público maior, mas para isso, deveria
passar por reformulações, como criar um site em inglês, por exemplo, ou treinar
seus consultores para atendimento on-line.
Pelos depoimentos também podemos questionar o fato de turistas
voluntários se sentirem menos turistas. Nos blogs das pessoas analisadas
percebemos informações turísticas que visam programações mais locais, tais como
recomendações de bares locais, transportes e atrativos turísticos em geral.
Outro ponto que vale destacar é a preocupação das ONGs com a
contaminação dos voluntários. As instituições os orientam logo nos primeiros dias, e
mesmo assim, não abrem mão de deixarem anônimas aquelas crianças portadoras
de doenças graves, como o HIV, por exemplo, para que não sofram discriminação.
Essa é uma conduta inteligente da ONG, se partir do princípio que se o preconceito
predominar, a criança será prejudicada.
Outro ponto a ser destacado é o fato da escolha das ONGs por parte
da agência. É importante que se escolha ONGs que realmente precisem da ajuda do
trabalho voluntário, já que C. relatou que visitou dois locais em que se sentiu inútil,
sem muita atividade para realizar. Segundo Ferrari (2008) os voluntários geralmente
procuram esse tipo de trabalho para se sentirem úteis e serem reconhecidos pela
sua dedicação, então se perceberem que não são necessários no local em questão
podem sentir-se frustrados com a viagem.
Vale destacar que pelos relatos, que os participantes escrevem em
seus blogs muito do dia a dia do trabalho, e pouco do turismo local. Todavia, isso
varia um pouco de pessoa para pessoa, por exemplo, M. escrevia muitas
informações turísticas, já C. praticamente não falava sobre o turismo na cidade.
No próximo capítulo, continuaremos com a segunda parte da análise
dos voluntários, a qual foi feita uma entrevista através da internet, com nove
volunturistas que atuaram na África do sul. Ainda no próximo capítulo, também
50
refletiremos sobre a relação do Código de Ética Mundial com o turismo voluntário, no
sentido de melhorar a atividade através do estudo do documento.
51
4. PESQUISA COM VOLUNTÁRIOS E A ÉTICA NO SEGMENTO
Neste capítulo apresentaremos os resultados da segunda parte da
análise de casos de turismo voluntário. Essa segunda parte consiste em uma
entrevista feita com brasileiros que se voluntariaram pela You2africa em Cape Town
(Cidade do Cabo) na África do Sul no período de janeiro de 2012 a março do mesmo
ano.
A You2africa é uma empresa que intermedia as relações entre
agências internacionais e ONGs que oferecem o trabalho. A empresa começou com
a idéia do Escocês Toby Dixon, que após viajar para a África do Sul e perceber o
potencial para o turismo voluntário no país, decidiu organizar a maneira de se
voluntariar no local.
A empresa tem variados projetos, com crianças, animais, meio-
ambiente, comunidade e esportes. Ela tem parceria com agências do mundo inteiro,
que vendem seus pacotes às pessoas e quando estas chegam na África do Sul,
passam a ser orientadas pela You2africa.
4.1 ENTREVISTA TURISMO VOLUNTÁRIO
O trabalho tem caráter exploratório, já que procura esclarecer conceitos
e levantar hipóteses que contribuam para estudos posteriores. O delineamento da
pesquisa foi feito com o levantamento, recolhendo informações dos objetos de
estudo, no caso, os turistas voluntários, e demos ênfase ás opiniões e pensamentos
das pessoas em questão.
Para o levantamento, realizamos entrevistas semi-estruturadas de
caráter misto, contendo perguntas abertas e fechadas. As abertas se mostraram a
melhor opção já que queremos explorar a opinião dos voluntários, tentando perceber
quais foram as consequências que a experiência do turismo voluntário trouxe aos
seus participantes.
As perguntas foram aplicadas através da internet, a ferramenta se
mostrou a mais adequada, já que não tínhamos contato direto com os entrevistados,
que são de variados estados do Brasil.
52
Após a aplicação da pesquisa, utilizamos a interpretação dos dados
para coletarmos os resultados. Por ser uma pesquisa que prioriza o ponto de vista
dos entrevistados, a interpretação se tornou a opção mais útil.
Foram 27 perguntas no total, sendo 19 abertas, seis fechadas e duas
de escala. Foram nove respondentes no total.
Na pergunta gênero, apenas dois dos pesquisados eram do sexo
masculino, esse baixo número pode ser explicado pelos tipos de projetos mais
predominantes no destino pesquisado. Lidar com crianças por exemplo, atrai mais o
público feminino, dar aulas de surf ou futebol, geralmente o masculino.
Cinco dos entrevistados se encaixavam na faixa etária de 19 a 21
anos, e quatro tinham entre 22 a 25 anos. Nenhum dos respondentes apresentou
faixa etária superior ou inferior a esse período de 19 a 25 anos. Podemos relacionar
isso ao fato de que jovens menores de 18 geralmente procuram intercâmbios de
high school já que geralmente ainda estão estudando e não podem passar um longo
período viajando. Outro fator relevante é que alguns projetos estipulam a faixa etária
para se participar do programa; analisando alguns folhetos explicativos de trabalhos
voluntários na Central de Intercâmbio podemos ver que geralmente se estipula que o
voluntário tenha entre 18 a 26 anos.
Quanto ao estado civil todos os respondentes se declararam solteiros,
o mesmo ocorreu com a escolaridade, onde todos responderam estar cursando o
ensino superior, ou ter o superior incompleto.
Quando questionados sobre a renda familiar, oito dos pesquisados
afirmaram ter renda familiar maior que oito salários mínimos, e apenas um declarou
ter entre cinco e oito salários. Pode se esperar do turista intercambista em geral ter
renda mais elevada, já que os programas não são baratos, e no caso dos voluntários
se torna mais caro ainda, já que têm que se manter em outro país sem trabalho
remunerado.
O tempo de permanência dos respondentes variou entre um e dois
meses. Sendo que quem permaneceu por um mês teve um número maior com seis
respondentes. Como vimos, muitos projetos exigem um tempo mínimo em que se
deve trabalhar na ONG, na maioria dos folhetos da Central de Intercâmbio, podemos
perceber a estadia mínima de um mês.
Quanto ao local de moradia, cinco dos voluntários moram em cidades
localizadas na região sudeste, dois no nordeste, e os outros dois no sul do brasil.
53
Na pergunta como viajou, oito responderam terem viajado sozinho, e
apenas um com amigos. Isso mostra que o turista voluntário não se importa em ter
companhia para viajar, talvez porque os voluntários tenham mais certeza de que irão
fazer amizades no destino, já que se hospedam em casas de famílias ou alojamento
de voluntários, onde certamente, irão conhecer outras pessoas, diferentemente dos
turistas comuns, que ao se hospedarem em hotel, dificilmente tem contato direto
com outros turistas.
Cinco dos respondentes declararam ter sido a primeira vez que
realizaram algum tipo de trabalho voluntário, dos outros quatro que afirmaram já ter
feito algum tipo de trabalho voluntário todos trabalharam no intercâmbio com o
mesmo tipo de trabalho já realizado no Brasil.
Quando questionados sobre como conheceram a modalidade turismo
voluntário, cinco declararam ter tido o primeiro conhecimento através da internet;
três por uma agência que oferece a modalidade; e apenas um disse ter visto
reportagens através da televisão. Por ser uma modalidade relativamente nova em
termos de segmentação de mercado, o turismo voluntário ainda não é muito
divulgado nos meios de comunicação de massa, como televisão e jornal.
Quanto ao tema turismo voluntário em artigos e revistas, oito
responderam já ter lido sobre, porém 50% dos que responderam já ter lido sobre
afirmam que leram após terem se interessado pelo intercâmbio, onde fizeram
pesquisas na internet. Essa resposta completa o levantamento acima, que o turismo
voluntário ainda não atingiu os meios de comunicação de massa.
Quanto à motivação, oito dos entrevistados afirmaram ter escolhido o
turismo voluntário por querer fazer algo melhor pelo mundo, algo produtivo, alguns
termos utilizados foram “fazer algo a mais que turismo”, “ajudar pessoas”, “buscando
o prazer que o voluntariado proporciona” e “deixar algo de positivo no destino”.
Podemos perceber que os voluntários acreditam que não estão apenas fazendo
turismo, e que estão indo além, deixando algo de positivo no local em que estão
visitando. Baseando se nessas respostas podemos concluir que o turista voluntário
se preocupa com a comunidade local, e espera ser útil no destino visitado. Outra
percepção que tivemos é que o voluntário não pensa estar contribuindo apenas com
o destino visitado, e sim com o mundo em geral. Como sugere Ferrari (2008), uma
das principais motivações dos voluntários é de diminuírem a culpa que sentem pelas
injustiças do mundo. Podemos perceber nas respostas dos entrevistados que muitos
54
querem se sentir úteis fazendo algo pelo mundo; eles não acreditam apenas estar
fazendo algo pela cidade onde estão trabalhando, ou o país; podemos perceber um
consenso de que o ato de utilizar suas férias para se voluntariar é visto como algo
de positivo para a humanidade.
Além desses termos, outros aparecem, como: “me conhecer melhor” e
“mergulhar mais na cultura local”. Como afirmam Medeiros, Campello e Nunes
(2011), o turista voluntário não só acha que está beneficiando o outro com sua
estadia, mas que também aprende algo com a experiência de se voluntariar.
Podemos perceber que algumas pessoas procuram esse trabalho também para
fazer o seu papel no mundo, e melhorar a si mesmo. Já Krippendorf (2009)
caracteriza o turista alternativo como aquele que têm mais vontade de ter contato
com a população local, o turista voluntário também se encaixa nesse perfil.
Outra pergunta que nos ajuda a traçar o perfil dos volunturistas é
quando pedimos para que destaquem os aspectos vivenciais da viagem. Podemos
perceber alguns termos mais turísticos como: “a cidade tem muito a oferecer”, “a
cidade é maravilhosa” ou “as belezas do país”. Mas em 100% das respostas, deu-se
maior destaque para a experiência do trabalho voluntário em si. Dizendo que foi
gratificante e que se aprendeu muito. Em menor escala, mas ainda presente, a
cultura africana também recebe destaque, sendo mostrada como um ponto positivo
da viagem.
Oito dos nove respondentes afirmaram ter recebido orientações antes
de viajar, ou por parte da agência no Brasil, ou por parte da agência estrangeira, a
maioria das informações eram sobre costumes do local a ser visitado e cuidados
com segurança pessoal. Por ser um país de terceiro mundo com desigualdades
sociais, a violência é muito presente, sendo importante alertar aos turistas os
cuidados que devem ser tomados.
Quanto à relação pessoal com as crianças e funcionários, as respostas
foram 100% positivas, todos afirmaram ter uma boa relação, tanto com as crianças,
quanto com os funcionários, porém, quanto a esse último quatro dos respondentes
afirmaram sentir um certo distanciamento no início, mas que com a convivência foi
se dissipando. Também podemos perceber que não se pode generalizar, um dos
respondentes afirmou que o tratamento variava de pessoa para pessoa, alguns eram
mais receptivos aos voluntários, e outros menos.
55
Quando questionados sobre a questão de comunicação, todos os
respondentes afirmaram não falar o dialeto local, mas possuir fluência no inglês, que
era como se comunicavam e não tiveram problemas. Segundo os entrevistados, a
maioria das crianças e todos os funcionários falavam em inglês com os voluntários.
Apenas um respondente mencionou o fato de não falar o dialeto como um problema.
E um dos respondentes frisou o fato de que os cuidados que precisavam ter com as
crianças muitas vezes não requeria muita comunicação, já que as principais tarefas
eram brincar, alimentar e entretê-los.
O tipo de trabalho realizado por todos os respondentes envolvia
crianças, mas em organizações diferentes, uns trabalhavam com órfãos em
orfanatos ou escolas e alguns em um hospital infantil.
Já o alojamento utilizado por todos os respondentes foi um albergue,
que funcionava como uma casa de voluntários. Quando questionados se havia
alguma reclamação sobre o local, cinco dos respondentes afirmaram terem se
sentido incomodados com algo. A maioria afirma que a presença de turistas comuns,
sem serem voluntários era um problema; outro ponto que deu pra perceber, foi que o
alojamento não oferecia exatamente o que estava descrito no programa, um dos
problemas relatados foi o número de pessoas no quarto, que ultrapassava o
prometido nos folhetos dos programas. Porém um dos respondentes que citou esse
problema afirmou que mesmo assim não se importou muito pois seu “maior objetivo
era praticar o voluntariado e conhecer a cidade”, nos mostrando nesse ponto um
turista mais tolerante.
Quanto ao nível de satisfação, foram feitas duas escalas, a de
satisfação com o trabalho voluntário, e com a viagem em geral. Com o trabalho
voluntário cinco dos respondentes deram a nota máxima (cinco) e quatro deram a
nota quatro. Já em relação a viagem oito deram a nota máxima e apenas um deu a
nota quatro.
Ao final do questionário foi pedido que dessem sugestões que
poderiam ter feito a viagem melhor. Dois dos respondentes responderam que
ficariam mais tempo e outros dois reclamaram dos altos custos do voluntariado. O
restante deu respostas distintas, como: criar um banco de dados de outros
voluntários para que os futuros turistas tenham mais informações, melhorar o inglês
ou procurar uma melhor acomodação. Apenas um dos respondentes declarou não
ter nenhuma sugestão a fazer.
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Apesar de terem sido mencionados alguns problemas na viagem, todos
os respondentes afirmaram que retornariam ao país para fazer trabalho voluntário,
afirmando que tanto a cidade quanto a experiência de se voluntariar seriam seus
maiores motivadores para o retorno.
Depois de algumas análises podemos perceber que muitas respostas
justificam ou tem relação com a resposta de outras perguntas.
A primeira relação encontrada foi entre o gênero predominante dos
respondentes com o tipo de trabalho realizado. Sete dos noves entrevistados eram
do sexo feminino, e quanto ao tipo de trabalho, todos os respondentes afirmaram
terem trabalhado com crianças. Como citado anteriormente, cada tipo de trabalho
pode atrair mais um gênero, como cuidar de crianças atrai mais o sexo feminino e
dar aulas de futebol atrai mais o sexo masculino. Se o mesmo questionário fosse
aplicado numa área onde o principal trabalho oferecido fosse dar aulas de futebol,
nosso resultado poderia ter sido diferente.
Já a escolaridade pode ter relação com a faixa etária. Todos os
respondentes estão entre a faixa etária de 19 a 25 anos, idade geralmente que as
pessoas terminam o segundo grau e ingressam em universidades.
É importante destacarmos essas relações para que não se generalize o
tipo de turista voluntário pesquisado nesse destino com todos os voluntários
espalhados pelo mundo. Dependendo do local pesquisado, podemos ter diferentes
resultados, por exemplo: missionários enviados de igrejas geralmente são de mais
idade, então se fizéssemos a pesquisa em uma ONG que recebe missionários o
resultado obtido na pergunta da idade poderia ser diferente, ou a renda, já que
missionários viajam custeados pela igreja.
O mesmo poderia ocorrer com os viajantes independentes, que podem
visitar um país com a finalidade de se voluntariar em projetos locais, porém o fazem
por conta própria, procurando eles mesmos uma ONG que aceite essa mão-de-obra.
Esse turista pode ser considerado volunturista, porém, segue uma logística diferente
dos volunturistas que estão utilizando os serviços de uma agência.
Frisamos que nossa pesquisa foi feita com voluntários intercambistas
que compraram seu pacote de viagens por uma agência.
57
4.2 ÉTICA E TURISMO VOLUNTÁRIO
Com o passar do tempo e da evolução tanto da atividade quanto do
conhecimento científico em turismo, surgiu a necessidade de criação de um código
de ética do turismo. Assim, este foi pensado a partir da decisão tomada em 1997, na
Assembleia Geral da Organização Mundial do Turismo (OMT) em Istambul, porém a
sua criação só foi efetivada em 1999, em Santiago do Chile.
Percebeu-se que o turismo crescia muito rapidamente, e que a
previsão é que cresceria ainda mais dentro dos próximos anos, e para minimizar os
efeitos negativos desse crescimento acelerado, criaram o Código Mundial de Ética
do turismo, o qual tem como finalidade:
[...] promover um turismo responsável e sustentável, acessível a todos, no
exercício do direito que qualquer pessoa tem de utilizar o seu tempo livre em lazer ou viagens e no respeito pelas escolhas sociais de todos os povos.” (Código Mundial do Turismo, 2014, p.1)
Nesta parte do presente trabalho temos como objetivo analisar os
princípios do Código de Ética do Turismo e aproximá-los com as propostas do
turismo voluntário, apontando seus pontos positivos e negativos à luz do código.
No primeiro princípio do código de ética que incentiva o respeito entre
turistas, locais e empreendedores podemos destacar algumas passagens que
relacionamos com o turismo voluntário. O código destaca que se deve ter tolerância
e respeito pela diversidade das crenças religiosas, filosóficas ou morais; tantos os
donos das empresas que promovem o turismo, quanto os turistas devem ter a
consciência que diferentes países têm diferentes tradições e práticas sociais. No
caso do turista voluntário, as diferenças culturais se tornam mais evidentes, visto
que o turista participará da rotina dos locais. Nesse caso, é muito importante que o
voluntário seja tolerante, e sinta mais vontade de explorar essas diferenças, do que
julgá-las. Ao fazer um trabalho de tanto choque cultural, o visitante já deve ser
informado dos principais comportamentos os quais podem estranhar no local. Na
pesquisa feita com voluntários atuantes na África do Sul, foi possível notar que tanto
a agência brasileira, como a estrangeira tenta preparar o turista para o que ele irá
encontrar no destino. Esse ponto é importante para minimizar o choque cultural e
para conservar a cultura dos moradores do destino.
58
É importante que o turista tenha consciência que seus atos podem
influenciar na cultura do outro, e que não se deve tentar interferir nos costumes do
local visitado. Por outro lado, os gestores de turismo também devem tentar preservar
a cultura da população em questão, evitando banalizar rituais e costumes. Segundo
Zacarelli (1984 apud ARAÚJO, 2001) essa banalização é muito comum em países
de terceiro mundo, já que estes encaram o turismo como uma forma superar a
pobreza. Este mesmo autor afirma:
[...] é preciso preservar a autenticidade e privacidade desses grupos – seus costumes, valores, hábitos e lendas – evitando-se que os movimentos turísticos os deformem, transformando-os no final em um espetáculo triste e vulgar. (ZACARELLI, 1974 apud ARAÚJO, 2001, p. 70).
Pelo fato do turismo voluntário geralmente estar presente em países de
terceiro mundo, devemos dar especial atenção a este fato, e não aceitar que os
gestores do turismo usem as comunidades e ONGs como um espetáculo de pobreza
e miséria para os turistas conhecerem. Caso que ocorre muito nas favelas do Rio de
Janeiro, onde se levam turistas para visitar pedaços desnecessários nas favelas,
como casas simples e locais precários. Nas townships da África do Sul o mesmo
ocorre, pois a atração principal do passeio, enfatizada pelos guias de turismo locais,
é mostrar as condições precárias onde se vive uma parcela expressiva da população
local, mostrando casas pequenas demais para o número de pessoas que nela
habitam e até banheiros coletivos em péssimo estado.
Outra passagem interessante nesse princípio aponta que as
comunidades receptoras também devem fazer o seu papel no sistema do turismo,
informando-se sobre os turistas que os visitam. No caso do turismo voluntário, esse
trabalho poderia ser realizado pelas ONGs receptoras, as quais selecionam seus
voluntários previamente, podendo assim, preparar algo para uma acolhida mais
hospitaleira e até profissional, como por exemplo, preparar um simples crachá com a
nacionalidade impressa, ensinar aos funcionários algumas coisas sobre o país em
questão ou até mesmo pedir que o turista fale sobre seus costumes, favorecendo
deste modo as trocas culturais.
Outro ponto importante que podemos destacar é o de que o código
afirma que os turistas devem ter consciência dos riscos que o país que estará
visitando oferece. É claro que nesse ponto as agências podem ajudar muito, sendo
59
claras quanto aos problemas de segurança que o país pode oferecer. A agência
nunca deve apresentar apenas o lado positivo, pois apesar de isso ser o mais
provável, já que as empresas tendem a valorizar seus produtos e se preocupam com
as vendas, a realidade do local deve ser exposta para evitar frustrações futuras,
inseguranças e medo, fatores que podem prejudicar a experiência turística e
principalmente o trabalho voluntário. Nesse contexto, Araújo (2001, p.64) pontua:
[...] os conceitos e imagens veiculados pelos departamentos de marketing de empresas ou órgãos públicos, devem primar pelo real, procurando evitar a veiculação de informação imprecisa e que possa confundir o turista.
Com isso, há necessidade de se cuidar da apresentação de destinos
que oferecem trabalhos voluntários, que por geralmente serem países de terceiro
mundo, apresentam altos índices de violência, sendo de grande importância alertar
as pessoas que o irão visitar.
No segundo princípio temos uma passagem interessante, que ressalta
que é importante que se encorajem os deslocamentos por motivos de religião,
saúde, educação ou intercâmbio cultural/linguístico por constituírem formas
interessantes de turismo. O volunturismo se encaixa no motivo de intercâmbio
cultural, onde o turista que procura esse segmento intenciona promover grandes
trocas culturais. Sendo importante que esse segmento seja encorajado, não só por
empresas privadas que geralmente visam mais o lucro do que o turismo ético, mas
também pelos órgãos que regulam o turismo, que são os mais interessados em
verem um turismo responsável acontecer em sua região.
No princípio cinco, o qual aponta formas para tornar o turismo benéfico
para os países de destino, podemos destacar a argumentação referente às políticas
de turismo que devem ser conduzidas para se elevar o nível de vida dos destinos
visitados, principalmente dando prioridade à contratação de mão-de-obra local.
Nesse ponto podemos sugerir que o turismo voluntário seja menos controlado por
empresas privadas, as quais montam seus pacotes baseados no lucro e pouco na
preocupação de se utilizar instalações turísticas locais, buscando desenvolvimento
mais igualitário das regiões visitadas. Para tanto, haveria necessidade de
planejamento, regulamentação e maior fiscalização por parte de órgãos regionais de
cada destino, o que não ocorre na prática estudada. Em nossos estudos, pudemos
perceber a presença de instalações como a casa de família, por exemplo, porém,
60
também há presença de albergues, que provavelmente foram escolhidos por
oferecerem mais vantagens mercadológicas aos empreendedores da proposta de
turismo voluntário na África do Sul. Com um maior controle dos órgãos reguladores
de turismo, poderíamos ter nesse segmento uma maior valorização e envolvimento
da população local, promovendo um desenvolvimento maior e mais distribuído nas
regiões receptoras de voluntários.
Araújo (2001) nos alerta para esse problema com a seguinte
argumentação:
[...] um dos grandes desafios dos gestores de turismo atualmente é compatibilizar as atividades turísticas com desenvolvimento sustentável. Isto pressupõe harmonizar as pressões exercidas pelos agentes que comercializam o turismo, com as premissas defendidas por aqueles que se preocupam com a preservação ambiental, histórica e cultural. (ARAÚJO, 2001, p.78)
No caso do turismo voluntário, os que mais se preocupam com a
preservação ambiental, histórica e cultural são os funcionários das ONGs e os
órgãos que regulam o turismo, já que muitas vezes as agências envolvidas são
controladas por grandes empresários que nem no país vivem. Por isso, para que o
turismo em geral seja mais harmônico, há necessidade de se fiscalizar e impor mais
restrições a entrada dessas empresas no país, estimulando iniciativas locais visando
um melhor aproveitamento e desenvolvimento da economia local por meio do
turismo voluntário.
No princípio nove, identificamos um trecho que menciona as
características do turismo voluntário. Este trecho apresenta que a troca de
experiência ocorrida entre trabalhadores de diferentes países contribui para o
desenvolvimento da indústria turística em nível mundial e devem ser incentivados.
Os trabalhadores não assalariados também são inclusos nessa categoria, como é o
caso dos voluntários.
Outro aspecto do princípio nove que vale destaque é o trecho que
aponta as multinacionais como as maiores detentoras de empresas turísticas e que
não devem abusar dessa posição dominante que têm. Com os depoimentos dos
voluntários, tanto nos blogs quanto nas entrevistas realizadas, ficou evidente o
abuso das empresas que oferecem os pacotes de trabalho voluntário, já que cobram
preços muito altos. Não nos aprofundamos na questão de preços no presente
trabalho (se o pacote cobra o justo para o que oferece ou não), mas já que os
61
turistas oferecem seu trabalho sem serem remunerados, logo se pensa que os
pacotes sejam menos caros, porém a situação real não se efetiva deste modo.
Ao estudar o Código Mundial de Ética do Turismo concluímos que na
teoria temos o que precisamos para um turismo mais responsável, mas nem toda
técnica é fácil de ser posta em prática. E isso ocorre muito com o turismo por ser um
fenômeno que está em constante mudança e envolve muitas pessoas, tanto os
clientes, como as empresas e órgãos planejadores da atividade. Para um turismo
responsável precisamos da conscientização de todos os envolvidos. Partindo
principalmente de seus gestores, para que posteriormente se conscientize os
turistas, tarefa cada vez mais difícil, já que atualmente muitas pessoas viajam por
conta própria e não utilizam mediadores em suas viagens. Com os mediadores seria
mais fácil de conscientizar os visitantes, já que os agentes de viagens passariam as
informações verídicas aos turistas. Mas infelizmente sabemos que grande parte dos
gestores e grandes empresários do turismo desconhecem o Código, muito menos o
tentam colocar em prática.
Por outro lado podemos ver que, aos poucos, esse novo turismo está
aparecendo, e que muitos turistas já tentam realizar esse turismo mais responsável.
Como afirma Araújo (2001, p. 51):
Sem dúvida, existem fortes evidências de que está em curso um processo de ampliação da consciência crítica dos consumidores, sendo que alguns já começam a fazer suas escolhas, baseados também nas posturas sociais e ambientais adotadas pelas empresas, o que seguramente irá beneficiar as organizações éticas e socialmente responsáveis, gerando ao final, efeitos altamente positivos para seus negócios.
Com isso, acreditamos que essa tendência crescerá cada vez mais, e
que novos segmentos irão surgir devido à procura por práticas de turismo de modo
mais responsável. Entendemos que é muito difícil que se consiga encontrar um
segmento totalmente ético em todas as suas atividades, porém há de se reconhecer
uma mudança de comportamento por parte de turistas que estão facilitando o
crescimento de segmentos como o deste presente estudo e, assim, há um incentivo
na promoção de tipos de turismo pautados em minimizar os efeitos negativos que a
atividade pode causar ao meio ambiente e às comunidades visitadas.
Compreendemos que o turismo voluntário é um desses segmentos,
cujas características centrais estão baseadas na ética, na responsabilidade e no
62
altruísmo, tendo o foco no trabalho humanitário ou mesmo em causas ecológicas
voltadas à fauna e flora. É claro que muito ainda deve ser feito, em questões de
estudo e ações propriamente ditas, mas esse é o caminho defendido por este
presente trabalho. Sabemos que essa mudança pode soar como utópica ou lenta e
gradual, porém tem força mobilizadora e sensibilizadora. E é esse o caminho para
se atingir a conscientização, sendo esta a chave para o fomento de um turismo mais
responsável.
63
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve como tema central o turismo voluntário,
estudamos alguns de seus conceitos e a forma como é organizado, tendo como foco
experiências ocorridas na África do Sul. Nos estudos pudemos perceber que as
agências localizadas no próprio país de destino são as maiores organizadoras da
viagem, são elas que criam os pacotes, decidindo sobre projetos a oferecer,
acomodação e alimentação (tendo função de operadora turística). As agências dos
outros países são apenas que atuam na comercialização dos pacotes turísticos,
responsáveis pela captação de clientes internacionais.
Não tivemos aqui a intenção de explorar as viagens independentes ou
organizadas por entidades religiosas. Apesar de ser importante ressaltar que esses
tipos se caracterizam também na modalidade de turismo voluntário, já que as
pessoas que as realizam vão a outro país com a finalidade de realizar trabalhos
voluntários sem qualquer forma de remuneração. As viagens religiosas geralmente
são organizadas pelas igrejas localizadas em diversos países, as quais criam algo
semelhante aos pacotes das agências, cuidando da hospedagem, alimentação e
passagem dos enviados. As hospedagens muitas vezes são feitas em casa de
devotos que se oferecem voluntariamente ou até mesmo nas próprias igrejas.
Os viajantes independentes também merecem destaque, eles
compram sua passagem, procuram um alojamento e o local onde desejarão
trabalhar, tudo sem mediadores. Se viajam a fim de trabalhar voluntariamente em
projetos sociais no destino se encaixam na modalidade do turismo voluntário. Mas
vale destacar que o turismo voluntário explorado aqui é o atuante em projetos
sociais, já que alguns hostels e hotéis oferecem trabalhos em troca de hospedagem
e nesse caso pode-se dizer que o turista está trabalhando sem remuneração e
voluntariamente. Também é importante atentarmos para a questão da dificuldade
em achar projetos que não cobrem pelo trabalho. Além de oferecer sua mão-de-obra
gratuitamente, muitas vezes o turista ainda é cobrado para que possa trabalhar na
ONG, esse problema nos foi levantado pela C. em seu blog analisado no segundo
capítulo. Como ela acabou ficando com suas tardes ociosas, resolveu se voluntariar
em outro projeto, e acabou encontrando muita dificuldade em achar um local que
não a cobrasse por querer trabalhar. Outro problema enfrentado pelos volunturistas
64
independentes é o problema de transporte, na África do Sul, por exemplo o
transporte público é precário e a maioria dos projetos são realizados em periferias,
então se torna extremamente perigoso esse deslocamento. É importante que
aqueles que pretendem viajar independentemente pesquisem antes as ONGs que
poderão atuar e resolvam antes a questão do transporte e segurança.
A questão que norteou todo o estudo foi entender melhor o turismo
voluntário e apresentar suas vantagens quando se pensa num turismo mais
responsável. No primeiro capítulo fomos mais a fundo na literatura, para aproximar
conceitos já existentes no turismo com a modalidade proposta, também vimos
alguns artigos e estudos de autores que estudaram o próprio turismo voluntário, o
que já nos deu um panorama geral da atividade, como por exemplo: suas
motivações, o perfil de turista que atrai e como é organizado. No segundo capítulo
começamos uma análise de blogs onde pudemos entender melhor a realidade dos
turistas, desde o primeiro interesse na modalidade, passando pela compra do
pacote, a chegada ao destino e até o final da viagem. Já no terceiro capítulo
buscamos mais o perfil do volunturista e procuramos estudar suas opiniões e
vivências, para isso fizemos uma entrevista. Além disso, também procuramos
entender o turismo voluntário no campo ético, o identificando através do Código
Mundial de Ética. Ao final do trabalho conseguimos enfim entender como o turismo
voluntário se dá, e quais são os aspectos que o tornam um turismo responsável.
Também passamos a ter um melhor conhecimento do turista que o pratica, quais
são as motivações e experiências que estão em busca.
Na primeira parte do trabalho tivemos como objetivo entender o turismo
voluntário através dos levantamentos já existentes na literatura, utilizamos alguns
autores como Krippendorf, Urry, Moesch, Barretto, Ferrari, entre outros. No campo
do turismo voluntário em si, vimos que ainda temos uma literatura fraca e no Brasil
encontramos apenas alguns artigos que falavam sobre o assunto. Nessa parte
discutimos o turismo voluntário como um todo e vimos que os turistas que o praticam
buscam algo além de apenas turismo, onde viajam para sentirem-se úteis, e também
a procura de maior contato com a população local. Além disso também discutimos
alguns problemas, como por exemplo: a agência dar mais atenção às necessidades
do turista ao invés da comunidade local e a falta de treinamento dispensada aos
voluntários.
65
No segundo capítulo analisamos três voluntárias que atuaram em
diferentes ONGs na África do Sul. Nessa parte tentamos relacionar o
comportamento das voluntárias com alguns levantamentos feitos anteriormente, e
ainda, fazer novos. Essa parte do trabalho foi muito importante para entendermos o
dia a dia do voluntário tanto em seu trabalho, quanto nos seus momentos de turismo
e também conhecermos melhor como são as pessoas que escolhem se voluntariar.
Com as análises vimos que os voluntários geralmente procuram mais contato com a
população local, e gostam de programas que não sejam puramente turísticos
(aqueles que nenhum morador faz). Outro ponto neste capítulo foi o fato de o
volunturista muitas vezes não se sentir turista, ou por estar em constante contato
com locais, ou por estar a muito tempo no destino. Também vimos como as
agências trabalham: como é feito o teste de inglês, o pagamento, as orientações, o
recebimento do turista e etc. E conhecemos melhor também o modo em que as
ONGs se organizam: como orientam os voluntários, e como os encaixam em suas
atividades.
Na terceira parte do trabalho tivemos duas etapas, a da pesquisa com
voluntários, a qual foi respondida através da internet e que se relacionou bastante
com os levantamentos feitos anteriormente, dando maior embasamento aos
pressupostos feitos nos demais capítulos. Vimos que o volunturista dá grande
importância a cultura local e ao fato de se voluntariar, e que uma de seus maiores
motivadores é a gratidão das pessoas que estão sendo ajudadas. Além disso,
pudemos ter mais conhecimento de alguns aspectos relativos ás agências,
funcionários das ONGs e relacionamento dos volunturistas com seus objetos de
cuidado (no caso, crianças) em geral.
Na segunda parte do capítulo propomos um estudo do Código Mundial
de Ética do Turismo, relacionando-o com o turismo voluntário, já que entendemos
que o volunturismo é uma ótima alternativa para um turismo mais responsável. E
para tal, é imprescindível que se olhe para o segmento pensando na Ética. Nesta
parte do trabalho percebemos que a atividade ainda precisa de muitos avanços,
como por exemplo: ter mais atenção dos órgãos reguladores de turismo, os quais
poderão intervir dando prioridade aos interesses das comunidades aos invés dos
turistas, e manter clareza quanto aos destinos que serão visitados por parte das
agências, já que por geralmente os destinos serem países de terceiro mundo, têm
muita violência, e podem se tornar menos atrativos. Ainda nesta parte vimos uma
66
tendência que nos dá esperança de que no futuro o turismo responsável seja o mais
procurado, já que as pessoas estão cada vez mais preocupadas com as posturas
sociais e ambientais que as empresas adotam. Também vimos que o primeiro passo
para se conseguir isso já está sendo dado (com a maior conscientização dos
turistas) e que é assim que devemos continuar, já que a maior mudança irá ocorrer a
partir dessa conscientização.
Por fim podemos destacar a relevância da pesquisa para a área
temática, que ainda carece muito de estudos, como pudemos ver no próprio
trabalho. De um modo geral, estamos buscando um turismo mais responsável e é
importante que surjam pesquisas acerca dos segmentos que podem contribuir para
esse turismo, trabalhos que mostrem os lados positivos e negativos do segmento em
questão, e ainda pense em formas de tornar a atividade mais ética. Esperamos que
a pesquisa seja um material para futuros interessados no tema, e que desperte a
vontade em outras pessoas de aprofundar nossos levantamentos ou até mesmo
debate-los. Nossa maior intenção é promover o estudo da área em questão, já que
ainda precisamos de novos trabalhos, que tenham como foco outros países e até
mesmo pesquisas mais voltadas para as ONGs e comunidades. A antropologia do
turismo voluntário ainda tem muito a ser estudada, é preciso entender como a
população local enxerga o voluntário, e orientá-los em como podem se beneficiar da
atividade, não apenas financeiramente. Também precisamos continuar buscando no
turismo voluntário um novo turismo, e para isso precisamos de novos e constantes
estudos na área, os quais darão maior diretriz à atividade.
67
REFERÊNCIAS
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70
ANEXOS
ANEXO A – Site You2Africa
71
ANEXO B – Site Central de Intercâmbio
72
ANEXO C – Site Internacional Volunteer Headquarters