UM INQUÉRITO SOBRE INDUMENTÁRIA INDUSTRIAL · tal pode ser acompanhado de um gorro ou outra...

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UM INQUÉRITO SOBRE INDUMENTÁRIAINDUSTRIAL

KURT E. WEIL

"Vistam-me como quiserem", respondeu o servo doCavaleiro dos Leões. "De qualquer forma, serei sem-pre Sancho Pança". - "Dizeis a verdade, mas ostrajes devem estar de acôrdo com o ofício que setem", retrucou o Duque.

CERVANTES:Dom Quixcte

No decorrer do ano de 1962 interessamo-nos pela impor-tância econômica e social do uniforme e da indumentá-ria industrial. O nosso interêsse foi provocado por umagreve deflagrada numa indústria paulista e que visava for-çar a direção a conceder uniformes gratuitos aos operários.Verificou-se depois que tratava-se de um caso de direitosadquiridos. É que a emprêsa, durante algum tempo, dis-tribuiu macacões como presentes de Natal. Posteriormen-te, tornou obrigatório o seu uso para a entrada no serviço,vendendo-os pela metade do custo aos operários. Duzen-tos dêstes, mais antigos na casa, insistiram no direito dereceber gratuitaménte a indumentária, e tiveram ganhode causa.

Pouco ou nada tem sido escritosôbre êste assunto. Poressa razão, procuramos consultar diversas firmas por meiode um questionário (vide Anexo 1), entrevistando, aomesmo tempo, operários e industriais. Não houve a in-tenção de colhêr uma amostra estatística e sim de informaros interessados sôbre o que está sendo feito a respeito doassunto.

KURT E. WEIL '-- Professor-Adjunto, Departamento de Administração da Pro-dução da Escola de Administração de Emprêsas de São Paulo.

70 lNDUMENT ÂRiA iNDUSTRIAL R.A.E.fj

A AMOSTRA USADA NA PESQUISA

As emprêsas foram escolhidas subjetivamente entre aque-las localizadas no Estado de São Paulo. Procuramos, en-tretanto, dar uma representação adequada aos diversosramos industriais. Confessamos nossa preferência por fir-mas que já tinham tido algum contato com a Escola deAdministração de Emprêsas de São Paulo. Em 32 delasforam entrevistados os chefes de pessoal ou um dos dire-tores, e quando isso não foi possível, recebemos o questio-nário preenchido. Em cinco emprêsas, entrevistamos ope-rários, com pleno consentimento da administração. Alémdisso, elementos estranhos à amostra, como chefes de pes-soal ou engenheiros industriais, transmitiram suas opiniõese conceitos de terceiros, que foram de grande valor parao nosso trabalho.Para verificar a influência do tamanho da emprêsa sôbrea distribuição ou exigência do uniforme, dividimos empi-ricamente os estabelecimentos escolhidos em três grupos,quais sejam:

Empr~sas N.O de EmpregadosFábrica Total

PequenasMédiasGrandes

10-110111-500

acima de 500

até 150151-800acima de 801

No Quadro 1 registramos a distribuição das 32 emprêsaspor ramos de atividade e de acôrdo com o tamanho.

QUADRO 1: CLASSIFICAÇÃO DAS EMPR:ll:SAS POR RAMOSE TAMANHO

Ramo de Atividade Número de EstabelecimentosPequenos Médios Grandes Total

Metalúrgico 2 2 3 7Petróleo e derivados 1 4 1 6Eletrometalúrgico 1 4 5Químico 2 3 5Farmacêutico 2 2Eletrônico 1 1 2Têxtil 1 1Pneumático 1 1Automobilístico 1 1Vidro 1 1Energia Elétrica 1 1

Totais 6 11 15 32

R.A.E./8 INDUMENT ÁRIA INDUSTRIAL 71

DEFINIÇÃO

Chama-se de indumentária industrial a roupa usada pelofuncionário de determinada emprêsa durante seu períodode trabalho. A indumentária obrigatória é chamada, deuniforme de trabalho. A indumentária pode ser obrigató-ria, conforme a natureza do serviço especializado dentrode uma emprêsa. Assim, encontramos uniformizados todosos operários que executavam as seguintes funções:

1) Motoristas de carros de passeio ou peruas, como tam-bém de caminhões de entrega;

2) Pessoal do serviço médico, dentário, social e do refei-tório e da cozinha.

3) Pessoal em contato com o público ou exercendo fun ..ções de certa autoridade como porteiros ou guardas.

A exigência do uso do uniforme nesses serviços pode serbaseada na diretriz de certas emprêsas em apresentar aopúblico uma prova de sua disciplina. Assim, guardas, por-teiros, motoristas e até mensageiros menores trabalhamde uniformes semelhantes àqueles do militar ou do poli-cial. Há, inclusive, variações, como por exemplo, o uni-forme de verão e de inverno, o primeiro de gabardine e osegundo de casimira. Êsses uniformes são acompanhadosde camisas e gravatas especiais. Em duas emprêsas en-contramos ordens formais sôbre o "uniforme do dia" e emoutras observamos sugestões sôbre o uniforme do dia, que,geralmente, eram obedecidas.

TIPOS DE INDUMENTÁRIA INDUSTRIAL

Além dos uniformes já mencionados, que se assemelhamao militar ou ao policial, encontramos três tipos principaisde indumentária industrial: o macacão, o conjunto calça--blusão e o avental ou guarda-pó (vide os modelos repro-duzidos na Figura 1) .

72 INDUMENT ÂRIA INDliSTRIAL R.A.E./s

o avental difere do guarda-pó, porque êste é todo abo-toado na frente e aquêle nos lados ou nas costas, poden-do deixar de cobrir parte delas. O seu comprimento parahomens pode ser até bem abaixo dos joelhos, enquanto quepara as mulheres costuma ter o comprimento de uma saiaou ser de medida 3/4 que vai até os joelhos. Tanto oavental como o guarda-pó podem ter ou não cinto regu-lável. Pela própria natureza do serviço, o avental dosserviços médicos ou alimentares é sempre branco. O aven-tal pode ser acompanhado de um gorro ou outra coberturada cabeça.

o conjunto calça-blusão, por sua vez, que proporcionamaior comodidade no uso, teve sua origem no macacão.Entretanto, é muito mais caro que êste, usualmente de10 a 20%.

O macacão é vestimenta de uma só peça, abotoada na fren-te ou fechada por um zip (fecho eclair). Sua finalidadeé substituir calça e camisa, possuindo bolsos para guardarferramentas, instrumentos de medida, e estôpa para a lim-peza das mãos. O macacão foi idealizado para climas friosou temperados, para ser usado sôbre a roupa comum. Noclima brasileiro, entretanto, substitui calça e camisa.

ATITUDES E RESIST:ÊNCIAS AO UNIFORME

Para muitos, o uniforme tem um sentido de padronização.Esta, às vêzes, é intencional. Em uma das emprêsas en-trevistadas, por exemplo, o plano de uniformizar tôdasas funcionárias teve que ser abandonado devido à resis-tência das môças. É que as secretárias da diretoria exi-giam um uniforme que as distinguisse de outras funcio-nárias. Em outra emprêsa, uma môça espalhou o boatode que o plano de uniformização visava a evitar a distin-ção entre ricos e pobres, como em certas escolas, o quecriou um problema de relações humanas. Ainda em outraemprêsa, tôdas as funcionárias estavam uniformizadas,sem que isto, na opinião do gerente de pessoal, tivesse cria-do qualquer problema.

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74 INDUMENTÁRIA INDUSTRIAL R.A.E.Js

Quanto às nossas perguntas sôbre côres preferidas de uni-formes, nada de genérico podemos afirmar, pois estas re-sultaram em uma grande confusão de opiniões.

o calor é um dos principais problemas ligados ao aventalou ao guarda-pó utilizados por môças. Freqüentementeessas vestimentas são usadas diretamente sôbre as peçasinferiores do vestuário, ou, em alguns casos, estas são par-cialmente retirada. Diversas emprêsas resolveram êsteproblema por meio de ordens de serviço, outras incumbi ..ram o seu serviço social de advertir as môças que ofendamas boas normas.

o homem usa o guarda-pó especialmente em laboratóriosquímicos, em salas de desenho ou em trabalhos de mecâ-nica de precisão, de contrôle de qualidade e no almoxari-fado.

Mulheres usando macação foram encontradas somente emquatro estabelecimentos. Acreditamos, entretanto, quecom a difusão do trabalho da mulher na linha de monta-gem e nas máquinas industriais em geral, deve aumentaro uso feminino do macacão ou do conjunto calça-blusão.De quinze emprêsas consultadas e que utilizavam mulhe-res nas suas linhas de montagem, apenas onze distribuíamaventais. Êstes, contudo, são perigosos sempre que a pes-soa trabalha junto a máquinas em que essa vestimentapossa se enrolar.

o encolhimento das roupas profissionais não mais consti-tui problema, dada a ampla divulgação de tecidos pré-en-colhidos. Uma queixa comum, contudo, era aquela refe-rente ao tamanho das roupas entregues aos empregadosrecém-admitidos. Muitas môças, por exemplo, temem oencolhimento dos aventais e, por isso mesmo, costumam so-licitar tamanhos exagerados. Por sua vez, muitos homensrecém-contratados usam o macacão por cima da roupa co-mum ou pedem vestimentas "folgadas" para, no inverno,poder usar malhas debaixo delas.

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PREFER~NCIA PELO CONJUNTO CALÇA-BLUSÃO

OSoperários parecem ter preferência pelo conjunto calça--blusão em relação ao macacão. Em uma emprêsa, os ope-rários pleitearam e conseguiram a substituição do macacãopor um uniforme especial, fornecido gratuitamente. Emoutras quatro emprêsas os operários podiam optar pejouso de um macacão ou de um conjunto, ambos de brim.Também nestas emprêsas registrou-se uma preferênciapelo conjunto numa proporção que variava de dois ou trêspara um.

Na opinião de empregados e mestres, são as seguintes asvantagens do conjunto calça-camisa ou calça-blusão:

1) pede-se lavar a camisa mais vêzes do que a calça;

2) há maior comodidade no manuseio de objetos grandes;

3) há maior elegância - permitindo ir ao trabalho comuma camisa esporte e a calça de brim do conjunto;

4) pode-se trabalhar sem camisa, onde e quando isso fôrpermitido, como por exemplo, em fundições, em car-gas e descargas de objetos pesados em ambiente quen-te, montagens pesadas ao ar livre etc.

Entre os motivos, um aspecto óbvio deixou de ser men-cionado: o fato do conjunto permitir uma troca mais rá-pida de vestimentas do que o macacão. ( 1)

OBRIGATORIEDADE DO UNIFORME

A obrigatoriedade do uniforme foi estudada separadamen-te para o escritório e para a fábrica. Observações feitassôbre o resultado do nosso trabalho indicam que somente3 de 29 emprêsas exigem uniforme no escritório, enquantoque de 32 emprêsas 22 assim o fazem na fábrica, comodemonstra o Quadro 2.

1) É curioso notar que êste fato não fôra levado em conta na escolha demacacões para os marinheiros de submarinos atômicos. Vide: Time, ValoLXXXI, N.O 11, 15 de março de 1963, pág. 10.

76 INDUMENT ARIA INDUSTRIAL

QUADRO 2: A OBRIGATORIEDADE DO UNIFORME

No Escritório Na Fábrica

Empréses Exigido Não Exigido Exigido Não Exigido

Grupo I 6 6Grupo II 2 9 7 '\lGrupo 111 14 9 6

Tctais 3 29 22 10

Observamos que 2/3 das indústrias consultadas exigem autilização da indumentária; as outras, contudo, facultama aquisição da roupa profissional para todos os funcioná-rios e, geralmente, a exigem dos motoristas, do pessoal doserviço social, médico e dentário, dos empregados de re-feitórios e de outros, em caso de necessidade.

Quanto ao tipo da indumentária .de uso obrigatório cons-tatamos o seguinte:

em 18 emprêsas o macacão era obrigatório para os ho-mens;

em 4 emprêsas o conjunto calça-blusão era obrigatório;

em 4 emprêsas havia liberdade de escolha entre o macacãoe o conjunto, desde que o funcionário pagasse a diferençado custo;

em 6 emprêsas o avental era obrigatório para as mulhe-res e em 5 emprêsas as mulheres tinham o direito de es-colha entre avental, conjunto ou macacão.

VESTIMENTAS DE SEGURANÇA

Tôdas as emprêsas, sem exceção, distribuem gratuitamen-te vestimentas de segurança, que podem incluir botas (deborracha), luvas (isolantes elétricas, de couro contra cor-tes e de amianto contra o calor), óculos ou máscaras deproteção do rosto, capacetes de alumínio ou plástico, sa-

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patos de segurança contra a queda de objetos, aventais deamianto ou de couro etc. Tôdas essas peças permanecem,também sem exceção, como propriedade da emprêsa, sen-do devolvidas após o término do trabalho diário ou quan-do há necesidade de renovação pelo desgaste. São as luvasas peças que mais fàcilmente se extraviam. Em algumasemprêsas costuma-se tolerar um certo número de perdas,controladas anualmente, antes que a direção tome algumasmedidas de disciplina.

DISTRIBUIÇÃO DO UNIFORMEr:~Em nenhuma das emprêsas que visitamos constatou-se arevenda, por parte da administração, de uniformes aosfuncionários, visando lucro. A distribuição era feita ougratuitamente, ou pelo custo, ou ainda por uma porcenta-gem dêste , Além disso, várias emprêsas procuravam faci-litar a aquisição por meio de pagamentos em prestações,que variavam entre três a oito vêzes. Não constatamosnenhuma correlação entre tamanho de emprêsas e siste-ma de distribuição.

Exige-se geralmente o uso permanente da indumentárianas seções onde os funcionários a recebem gratuitamente.

Nas emprêsas que fornecem o uniforme gratuitamente, afreqüência de distribuição varia consideràvelmente, comose denota no Quadro 3 .

QUADRO 3: FREQÜ~NCIA DE DiSTRIBUIÇÃO GRATUITA

Freqüência Grupos de Emprêses(por ano) I 11 111 Total

1 vez 1 12 vêzes 2 2 6 10+ de 2 vêzes 1 3 3 7

Totais 4 5 9 18

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A DEVOLUÇÃO

Um outro ponto de interêsse para quem estuda o proble-ma do uniforme é a devolução. A tabulação dos dadossôbre êsse aspecto, revelam as seguintes diretrizes:

Não há exigência de devoluçãoDevolução exigida, de uniforme gratuito, nasaída do emprêgoDevolução ou não, de uniforme gratuito, perdecisão individualDevolução exigida de uniforme pagoSem resposta

11 emprêsas

11 emprêsas

2 emprêsas2 emprêsas2 emprêsas

Total 28 emprêsas

Observa-se, no levantamento, que duas emprêsas exigema devolução do uniforme apesar de vendê-lo. Num dês-ses casos, acreditamos tratar-se de um mal-entendido, en-quanto que no outro tivemos uma explicação cabal. Nestaemprêsa, o empregado recebe, anualmente, um uniformegrátis e outro que êle paga pelo custo em seis ou oitopres-tações. O uniforme gratuito deve ser devolvido. Entre-tanto, na tabulação o uniforme entrou como sendo pagopela metade do custo.

Quanto ao aproveitamento dos uniformes devolvidos, cita-mos duas respostas típicas. Em uma indústria eletrome-talúrgica fomos informados de que "se a roupa é devolvi-da em bom estado de conservação ela continuará sendousada, a critério de encarregado, geralmente. por empre-gados recém-admitidos ou aprendizes para utilização pro-visória; se a roupa estiver em mau estado, será destruída".Uma outra indústria metalúrgica que distribui gratuita-mente a indumentária sem exigir normalmente a sua de-volução, adota a seguinte diretriz: "Em casos de demissão,os uniformes devem ser devolvidos em boas condições delimpeza; caso contrário, as despesas de lavagem são sub-traídas do salário. Tôda indumentária devolvida em bomestado é reaproveitada para novos empregados ou doadaa instituições de caridade" .

Convém acrescentar que, pelas entrevistas, observamosque nenhum operário apreciava receber um macacão usa-

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do, mesmo lavado. Conseqüentemente, as emprêsas evi-tam o reaproveitamento.

Em tôdas as emprêsas entrevistadas, o uniforme que se es-tragasse antes do período de uso prescrito era trocado semônus para o funcionário, desde que o estrago ocorressecomprovadamente em serviço. Algumas emprêsas prescre-vem prazos diferentes para a vida útil do uniforme, depen-dendo do tipo de serviço. Assim, em uma das firmas, osoperários que trabalham em contato com o fogo recebemseus macacões mais freqüentemente do que os mecânicos.Por sua vez, uma indústria química, distribui dois maca-cões ao ano para os seus operários, até três aventais aosfuncionários dos laboratórios e até quatro macacões aospintores.

o ct!iTO DA INDUMENTÁRIA"t"'"

Ao iniciarmos esta pesquisa (em fevereiro de 1962), ummacacão, comprado em quantidades industriais, custava,em São Paulo, entre Cr$ 1 200,00 a Cr$ 1 400,00, con-forme a côr, a qualidade do brim, do número de costurasaplicadas e do tipo de identificação por emblema. Umano mais tarde, os preços dos mesmos macacões variavamentre Cr$ 2 500,00 e Cr$ 3 000,00.

Conseqüentemente, um macacão fornecido gratuitamentecada seis meses a um empregado que percebia o saláriomínimo de Cr$ 21 000,00 resultava em uma despesa socialde Cr$ 3000,00/6 ou seja de Cr$ 500,00 ao mês, o quecorresponde a 2,4% do salário mínimo.

Baseando-nos nestes dados, podemos afirmar que o custoda indumentária gratuita aumenta a fôlha de pagamentoscom 1% ou mais, dependendo do salário médio da emprê-sa e do tipo de uniforme usado.

De 25, 23 compravam as roupas feitas por meio de umaconcorrência e apenas duas compravam o tecido e emprei-tavam a fabricação.

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TECIDO E CÔR DA INDUMENTÁRIA

Tôdas as 27 emprêsas que forneceram respostas sôbre otecido da indumentária, afirmaram que tanto os macacõescomo os conjuntos são feitos de brim, se bem que outrostecidos - alvoline, gabardine, surat, shantung e fustão- são usados para outras confecções.

A côr predileta dos uniformes de brim (13 dos 27 casos)é o azul, seguido por cinza, pois ambas estas côres c~p.tri-buem para "camuflar" as manchas. Todavia, o número deoperários que responderam não é necessàriamente repre-sentativo, pois várias emprêsas têm por hábito distinguiras seções ou os níveis de empregados pela côr da indumen-tária. Assim, por exemplo, em cinco -casos, as mulheresusavam côres diferentes dos homens, em quatro casos osmestres se distinguiam dos operários pela côr da

A côr contrastante dos aventais ou macacõesidentificação das funções dos empregados, como,plo, nas emprêsas em que operários e inspetores quali-dade trabalham no mesmo local. Contudo, encontramosduas emprêsas com mais de 2 000 pessoas na fábrica,onde esta distinção era feita exclusivamente pelo' em-blema.

EMBLEMAS, NOMES E LAVAGEM

As normas de 27 emprêsas respondentes, quanto ao usode emblemas, podem ser assim tabuladas:

16 emprêsas colocavam o emblema na frente, usual-mente no bôlso;

5 o colocavam nas costas;'.:,>.,:,'

3 o colocavam na frente e nas Qo$tas, e

3 não usavam emblema.

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o empregado não aprecia muito ter um emblema nas cos-tas. Entretanto, êle considera normal a identificação daemprêsa no bôlso superior da frente. Muitos gostam deser identificados como funcionários de uma organizaçãode bom nome. Não conseguimos averiguar, no entanto, oque os empregados entendem por "bom nome".

A maioria das emprêsas não identificava o nome do em-pregado na roupa profissional, sendo que encontramosapenas uma firma em que as iniciais do portador erambordadas na roupa e uma outra em que esta era identi-ficada por um lápis-tinta.

Quanto à lavagem da roupa verificamos que de 27 em-prêsas apenas sete se encarregam desta função, que eraconsiderada onerosa na opinião dos gerentes de pessoal.Apenas as indústrias químicas e farmacêuticas costuma-vam'Tavar os uniformes na própria emprêsa, juntamentecom tecidos de filtros, toalhas ou panos em geral.

Como a maioria das firmas distribuía mais de um uni-forme a cada funcionário, elas exigiam que os seus em-pregados aparecessem CDm a roupa profissional ao en-trar na seção. Êsse quesito era obrigatório em 16 de24 emprêsas.

Das emprêsas consultadas, 24 afirmaram ter armários in-dividuais para guardar os uniformes; algumas reconhe-ciam, todavia, a falta de espaço para a colocação de ummaior número de armários. A sugestão de reduzir o ta-manho dêsses dificilmente é aceita pelos operários, paraos quais um armário antigo e grande é "direito adquirido" .Também a posse de uma chave do armário pela gerênciade pessoal era ressentida, mas justificável devido ao aban-dono de empregos com o armário fechado. Do outro lado,era compreensível a queixa de alguns operários sôbre asbuscas que algumas emprêsas realizavam na sua ausência,quando desapareciam objetos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar da importância que a indumentária possa ter, tantopara a gerência de pessoal, quanto para os funcionários,poucas são as emprêsas que têm se preocupado com o as-sunto. Também a atitude dos sindicatos é passiva, poisnão costumam pleitear a distribuição gratuita da roupaprofissional em suas reivindicações. Por exemplo, nemnas resoluções do IV Encontro Sindical Nacional dos Tra-balhadores (de agôsto de 1962), nem nas decisões do VIIICongresso Nacional dos Círculos Operários (de julho de1962) encontramos qualquer referência à distribuiçãogratuita da indumentária.

Acredita o líder sindical José Chediak (do Sindicato dosVidreiros) que as principais reivindicações da sua entida-de devem se concentrar nos problemas do salário, da insa-lubridade, periculosidade e segurança industrial.

Talvez devido a êsse interêsse ainda diminuto, apenas novedas emprêsas por nós investigadas, resolveram introduzirqualquer modificação na indumentária adotada original-mente.

Verificamos, também, que a indumentária é usada quaseque exclusivamente por horistas. Em somente três dasemprêsas da nossa amostra o uso da roupa profissionalera obrigatória nos escritórios. Em outras emprêsas, vá-rias tinham sido as tentativas de introduzir a indumentá-ria entre mensalistas, mas os atritos daí resultantes torna-ram pouco aconselhável a insistência em uniformizar osempregados.