Um poema e 56 haicais

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Poesia

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Fernando Gimenez

Agradecendo os

encontros que cada amigo me deu, lembro de

Cleufe que nesse ano

partiu.

Poesia

é silaba

é métrica

Sempre verso

talvez rima

Inverso proseio

sem rima poeto.

(Inspirado em Affonso

Romano de Sant’Anna)

Entardecendo,

no tear do destino

vivo tecendo.

Necessidade:

escolha ou destino

nessa idade?

Ensimesmado

pensava em si, em mi(m)

enmimesmado.

Na multidão,

vendo se multiplicar

tanta solidão.

De muitas partes,

tentei me fazer uno.

Não tive artes!

Para uns, sou um.

Para outros, outro sou.

Pra você, mais um?

Com sol poente,

no bosque decadente,

perdi sã mente.

Me dá um beijo,

sorrindo vai embora,

quedo saudejo.

Por ti vicio

te querendo mesmo sem

estar no cio.

Como dor fosse

meu gemido implora

por sua posse.

Mãos explorantes

sobre corpos tateiam,

são mendigantes.

Quando em versos

se finge um escriba?

Você vai saber?

Vem sem demora,

tempo esquecido que

sonho transforma.

Doce chuvisco

da terra traz cheiro

d'algum hibisco.

Vi realejo,

carrosel colorido,

sonho benfazejo.

Falo ereto,

mas você não me ouve.

Sofro concreto!

Acres odores

que sabem a desejo

de meus amores.

Foi no passado

vir a ser no presente

algo pensado?

Fado, destino?

Escolha de caminho?

Sorte ou tino?

Não sei se busquei,

ou acaso que trouxe,

enfim encontrei.

Um escafandro

ajuda o professor

falar profundo?

Discurso fraco

em tinta fosforescente

fica brilhante?

Sonha com ela,

acorda meio suado,

abre janela.

Nossa que susto!

Disse ao ver, da mulher,

cair o busto.

Com tanta graça,

sorrindo a velhota

a dor esgota.

Vou me tornando

um escriba tardio.

Em versos vicio.

Lembrei de meu pai,

com filhos no jóquei

da alma não sai.

Garça branquela

no topo da árvore

barco a vela.

Sei o que não quero

mas será que desejo

algo que não seio.

(após ler Décio Pignatari)

Ao acordar,

virar para o lado,

na pele relar.

Indo a esmo,

minha imaginação

comigo mesmo.

Imaginação

de poeta, saudade

do futuro tem.

Surge a lua

para, no horizonte,

render sol poente.

Se for com café

espere um pouco que

vai ter cafuné.

Busca memórias,

tantas vidas em fila,

cacos da história.

Sombra de peixe

na lâmina de água.

Gato espreita.

Lírio cheiroso,

em meio a rosas,

espirro gostoso.

Lâmina d´água

translúcida reflete da

moça anágua.

Desço do tubo,

caminho entre risos

feliz ao cubo.

No entardecer,

através do pinheiral,

tremeluz o sol.

Londrina me traz

no calçadão, à toa,

um pouco de paz.

Vadinho bole

na dona da moqueca

de siri mole.

(Lembrando Dona Flor)

Pingo a pingo

cai chuva grossa

ao fim do domingo.

Rascunhando a

vida, no improviso

sigo sonhando.

Menina sapeca

brinca no jardim tão

levada da breca.

Vai de flor em flor

borboleta atrás do

safo beija-flor.

As filhas se vão,

mas presentes ficam

em meu coração.

Somo pureza

unidade e verdade,

surge beleza.

(Após ler Appolinaire)

Nas andorinhas

de tua pele vejo só

belezas minhas.

(para Sara)

Um cão andaluz

vagando perdido na

Estação da Luz.

Jab do coração

à lona logo leva

a prática razão.

Fique na espreita!

No mundo acadêmico,

mente estreita?

Filhas? Só duas.

Por elas, meu coração

enfrenta as puas.

Mulheres? Uma por vez!

Por elas, meu coração

sempre se desfez!

Em versos livres,

com rimas diversas,

minha alma encanto.

Juntando versos escritos

ao longo dos anos

recentes, marco meus 57,

idade em que se firma a

busca de outros rumos.

Curitiba

Maio de 2014

Fernando Gimenez