Post on 11-Dec-2018
Informativo da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Assis
Ano VIII ed. 19 [outubro, novembro e dezembro de 2013]
Projeto de Extensão busca alertar população sobre os riscos da automedicação
FCL promove a quarta edição do Festival da Palavra
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Uma prática tão comum no nosso país, mas que pode causar problemas graves de saúde.Páginas 4 e 5
UNESP Assis realiza a segunda edição da Gincana Literária 6Semana da Liberdade
Criativa movimenta vida cultural no câmpus
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ARTIGO
Reitor: Julio Cezar DuriganDiretor: Ivan Esperança RochaVice-Diretor: Ana Maria Rodrigues de Carvalho Coordenação: Cláudia Valéria Penavel BinatoProfessor colaborador: Áureo BusettoEdição: Equipe do JNCTextos e Reportagens: Diogo Munhoz Sigari, Mayara PavanatoRevisão: Cláudia BinatoDiagramação: Mayara PavanatoColaboração Técnica: Lucas LuttiEsta é uma publicação da Faculdade de Ciências e Letras de Assis, Núcleo Integrado de Comunicação. Comentários, dúvidas ou sugestões, entre em contato pelo e-mail: jornal@assis.unesp.br
Expediente
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POESIA NO FEMININO: MARIA TERESA HORTA
de Isabel Lobinho. Sua trajetória como
poetisa, jornalista e feminista segue cau-sando impacto no cenário cultural por-tuguês, já que Teresa continua produzindo regularmente novos livros, não só de po-esia. Em 2011, por exemplo, publicou As luzes de Leonor, ro-mance em que conta a história da poetisa que ficou conhecida na literatura portu-guesa pelo nome de Marquesa de Alorna e de quem Teresa é des-cendente.
Para terminar com uma ilustração da po-ética de Maria Teresa Horta, transcrevo um poema sem título, que
integra o volume Os anjos e que tem pro-funda relação com o restante da obra da escritora:
Voamos a lua,menstruadas
Os homens gritam:- são as bruxas
As mulheres pensam:- são os anjos
As crianças dizem:- são as fadas
No cenário da li-teratura portuguesa contemporânea, há uma escritora infeliz-mente ainda pouco lida no Brasil. Falo de Maria Teresa Horta, que começou a publi-car sua longa lista de livros em 1960. Em sua obra vemos, final-mente, a voz de uma mulher que afirma sem meias palavras seu corpo, sua sexua-lidade, seus desejos.
Um de seus livros mais interessantes é Minha senhora de mim, de 1971, que traz em seus poemas ecos da literatura medieval portuguesa, tratados desta vez por um eu assumidamente femi-nino e consciente de
seu corpo e sexuali-dade. O livro foi cen-surado em Portugal, ainda sob ditadura, e a autora sofreu várias perseguições por cau-sa da ousadia de suas palavras, chegando mesmo a ser agre-dida fisicamente na rua. Quem diria que a poesia de uma mu-lher teria tanta força, a ponto de incomo-dar os truculentos de plantão?
Mas Teresa não de-sistiu: em 1972 publi-cou, com outras duas escritoras (Maria Isa-bel Barreno e Maria Velho da Costa), a obra coletiva Novas cartas portuguesas, livro que foi também censurado, por desa-
fiar a moral e os bons costumes da época, levando mesmo suas autoras à prisão. Esse livro pode ser con-siderado um divisor de águas na literatura portuguesa do século XX e é um dos poucos livros da autora com edição brasileira.
Seguindo com seus desafios às institui-ções, em 1975 Tere-sa publica Educação sentimental, com po-emas sobre a desco-berta do corpo e da sexualidade, de uma perspectiva feminina. Em 1983, com Os an-jos, cria poemas em que voam seres an-dróginos e mulheres aladas, com ilustra-ções bastante eróticas
*Ana Maria Domingues de Oliveira é professora doDepartamento de Literatura da UNESP/Assis
Nosso Câmpus out-nov-dez/2013
3 Nosso Câmpus out-nov-dez/2013
Diogo Sigari
II Gincana Literária incentiva a leitura de contos e crônicas
LITERATURA
A Biblioteca Acá-cio José Santa Rosa, da UNESP/Assis, realizou, de 01 a 25 de outubro, a “II Gincana Literá-ria: em busca dos con-tos perdidos”. A ginca-na, baseada nos jogos Riddle, que se propõe, por meio do raciocí-nio, resolver enigmas em imagens, frases ou ambas, todos relaciona-dos à literatura. O tema da segunda edição foi “contos, crônicas, con-tos de fadas e fábulas” e,
assim como a primeira, fez parte da XIV Sema-na da Biblioteca.
A Gincana é digital e consiste em solucionar enigmas por meio de dicas escondidas. Após descobrir a resposta, o participante deve colo-cá-la no final da URL da página do enigma. São, no total, 40 fases (enig-mas) a serem soluciona-das.
Os jogos da Gincana Literária ainda estão em atividade, disponíveis aos interessados, mas sem os prêmios ofere-
cidos durante a Semana da Biblioteca. Quatro jogadores finalizaram os 40 enigmas até o dia 25. Todos foram galar-doados com livros; ao primeiro lugar foi reser-vado o livro “Os Cem Melhores Contos do Sé-culo”, coletânea organi-zada por Italo Mariconi com contos de consa-grados autores, como Machado de Assis, Cla-rice Lispector, Dalton Trevisan, Lygia Fagun-
des Telles, entre outros. Além de disponi-
bilizarem os jogos da segunda edição da Gincana Literária, os funcionários da Biblio-teca pretendem resga-tar os jogos da primeira edição no blog: http://gincanaliteraria.word-press.com/.
A Gincana Literá-ria funciona como um desafio ao raciocínio e incentivo à leitura. Du-rante a XIV Semana
da Biblioteca também ocorreram outras ativi-dades, como mesas de RPG, oficina de mangá e a atividade “Contan-do, cantando e encan-tando com Vinícius de Moraes e Ruth Rocha”, tendo as crianças do Centro de Convivên-cia Infantil (CCI) como público-alvo. Durante a semana também foram apresentadas as obras em Braille pertencentes à Biblioteca.
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A Gincana Literária motiva a Universidade a se interar com a literatura e agregar conhecimentos
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Momento da premiação com a ganhadora, Giselli Hara Macedo
PROjETO DE ExTENSãO buSCA AlERTAR A POPulAçãO SObRE RISCOS DA AuTOMEDICAçãO
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Mayara Pavanato
A Organização Mun-dial de Saúde (OMS) não condena a auto-medicação de certos remédios, isto é, far-mácias podem ven-der medicamentos não tarjados, os de venda livre, sendo dispensá-vel a apresentação da receita médica. Con-tudo, é imprescindível que haja orientação de um farmacêutico, que saberá indicar a dose a ser tomada, o tempo do tratamento, bem como os seus efeitos resultantes e colaterais.
Porém, no Bras i l , o acesso a consultas ou atendimento mé-dico é muito dif íci l. As Unidades de Saúde têm poucos médicos e , às vezes , nem os têm. Quando eles se encontram nessas Uni-dades, nem sempre o paciente recebe a de-vida atenção. Muitas consultas não duram nem cinco minutos, tempo extremamente exíguo para o médico fazer um diagnóstico preciso e dar explica-ções. Os médicos ale-gam que são obrigados a se limitarem a esse tempo diminuto por-que a remuneração por consulta é desprezível. Além disso, o pacien-te quase sempre deve
aguardar meses, e até ano, para ser atendido por um especialista. Tudo isso faz com que a população se auto-medique recorrendo a um farmacêutico ou atendendo a sugestões de amigos, vizinhos ou parentes.
A UNESP de Assis desenvolve um Projeto de Extensão, coorde-nado pela professora Lucinéia dos Santos, ch am a d o “R i s c o s e Fatores associados à automedicação”, que busca justamente aler-tar acerca dessa prática tão comum no Brasil.
A professora chama a atenção para vários procedimentos de ris-cos, por exemplo: a in-teração medicamento-sa, ou seja, influências recíprocas de medi-camentos, caso sejam administrados juntos; a ingestão de AAS (áci-do acetilsalicílico) por uma criança que está com febre ou virose pode desenvolver nela a Síndrome de Heye, doença encefalopática; o uso de paracetamol é hepatotóxico e, de-pendendo da dose e da sensibi l idade do paciente, pode levar a doenças do fígado, como hepatite e cirro-se; a ingestão de álcool com cer tos medica-mentos pode acarretar
ou potencializar pro-blemas. Uma pessoa com dengue não pode us ar me dicamentos que contenham ácido aceti lsal icí l ico, pois corre o risco de sofrer hemorragia. Também, não se pode ingerir
e s s e m e d i c a m e n t o com chá de camomila. A erva de São João é um fitoterápico com propriedades antide-pressivas, mas que não pode ser administrado com antidepressivos sintéticos, pois pode
provocar reações. Acerca dos fitoterá-
picos, também é cul-tural em nosso país adminis t rá- los s em prescrição médica e dosagem adequada. É comum serem eles usa-dos, por indicação de
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Imagem de dados do sistema do acervo digital
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Nosso Câmpus out-nov-dez/2013
PROjETO DE ExTENSãO buSCA AlERTAR A POPulAçãO SObRE RISCOS DA AuTOMEDICAçãO
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ESPECIAL
amigos ou familiares, sem nenhuma preocu-pação.
Para a coordenadora do Projeto, o excesso de propagandas de me-dicamentos também incentiva a prática da automedicação. As in-dústrias farmacêuti-cas reconhecem essa tradição brasileira e a
exploram. As farmá-cias, antigos estabe-lecimentos voltados à saúde, passaram, de fato, para lojas comer-ciais que praticam a “empurroterapia”, com o objetivo de vender medicamentos a todo custo. Na verdade, os laboratór ios farma-cêuticos, com maior
margem de lucro, cos-tumam premiar mé-dicos e farmácias que prescrevem seus pro-dutos.
Quarenta por cento das intoxicações no Bras i l são causadas por medicamentos, na maioria dos casos. Essa porcentagem pode ser ainda maior pelo fato
Nosso Câmpus out-nov-dez/2013
de que grande parte das ocorrências não é relatada e, portanto, não entra nas estatís-ticas. A automedica-ção é uma prática que pode levar à intoxica-ção e à morte.
Os p ar t ic ip antes do Projeto realizaram uma pesquisa com os profissionais da saúde de Assis para auferir seu conhecimento a respeito da autome-dicação. Todos reco-nheceram que essa prática é frequente e ocorre em todas as c lass es s o c iais . Os pesquisadores pude-ram p erceb er que , ainda para alguns de-les, há falta de co-nhecimento sobre o assunto.
A professora Luci-néia propõe o inves-timento no ensino e na formação de bons prof iss ionais como solução desse pro-blema. Para ela, tudo passa pela educação. Também as univer-s idades e o gover-no devem promover campanhas educati-vas sobre os riscos da automedicação. Além disso, é necessár io que as informações cont idas nas bulas sejam simplificadas e que sejam impressas
em letras maiores. Em sua opinião, os avisos sobre os riscos da au-tomedicação devem ser expostos como os alertas em maços de cigarros.
No Projeto, a divul-gação das informações tem sido feita pelas mídias: panfletos, jor-nais, revistas, televi-são e rádio. Palestras também são formas de conscientização. Uma delas foi realizada no dia 17 de outubro, no Câmpus de Assis, para a população idosa. A professora disse que os idosos têm o me-tabolismo mais lento, necessitando o orga-nismo de mais tempo para realizá-lo, razão por que os cuidados com os medicamentos sejam redobrados. As reações medicamento-sas também merecem atenção, uma vez que, em média, os idosos tomam, por dia, oito medicamentos di fe-rentes.
Para a profess ora Lucineia dos Santos é importante a partici-pação dos alunos nesse Projeto que propicia aos estudantes esten-derem o conhecimento além da universidade, tornando-se agentes de mudança.
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SEMANA EM quE ARTE E lIbERDADE SE uNEM NO CâMPuS DE ASSIS
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Diogo Sigari
De 14 a 19 de outubro, ocorreu a VII Semana de Liberdade Criativa, evento já tradicional. Desde 2007, foram re-alizadas 7 edições, uma a cada ano, na UNESP/Assis. O evento, o maior não- institucional do Câmpus, propôs uma semana dedicada à arte: música, teatro, interven-ções e oficinas de mini-cursos foram atividades que ocorreram durante a semana. O evento busca incentivar a arte, livre de opressões.
Foram realizadas ofi-cinas de teatro, dança, fotografia, haikai, dread, filtro dos sonhos, entre outras. Na quarta-feira
o Cineclube do Câm-pus exibiu uma mostra de filmes no Diretório Acadêmico (DA), o Noi-tão “Febre, Aspirinas e Tropicália. Já na sexta, as atenções se voltaram, principalmente, para a atração musical “Som no Ponto de Ônibus”, onde duas bandas se apresen-taram: Papoula e Boga Fire.
No sábado, dia 19, ocorreu o popular “Fes-tival da Transcendência”. Nove bandas e inter-venções seguidas foram apresentadas no Festival desde as 14h. Sarau Mi-litante, Heresia Blues, Vamo Vovô Big Band foram algumas das ban-das apresentadas. Houve também intervenções de
SEMANA DA LIBERDADE CRIATIVA
Os presentes puderam treinar técnicas de malabares
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Durante a semana aconteceram shows no Som do Meio DIa
Foto: Eder Capobianco - www.flickr.com/photos/antimidia
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SEMANA EM quE ARTE E lIbERDADE SE uNEM NO CâMPuS DE ASSIS
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SEMANA DA LIBERDADE CRIATIVA
pintura corporal duran-te os shows, e grafites em latões de lixo com o Coletivo Revolta dos Artistas: CeZinhA, Mai-sa Ettore e Fábio Nagate
Pirofagia durante o Festival da Transcendência
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foram os artistas convi-dados. Para a entrada, era necessário 1kg de alimento não perecível.
“A Semana de Liber-dade Criativa representa
um momento de fruição no Câmpus. É quando nos voltamos menos para a arte acadêmica e mais para a arte li-vre, sem amarras”, disse
Nayara, graduanda em Letras que participa pela segunda vez do evento.
Para a Semana de Liberdade Criativa vie-ram pessoas de outras
cidades e graduandos de outros câmpus da UNESP.
O Evento movimen-tou o Câmpus de Assis durante a semana.
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Nosso Câmpus out-nov-dez/2013
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Mayara Pavanato
UNESP/Assis realiza o IV Festival da PalavraFESTIVAL
A quarta edição do Fes-
tival da Palavra aconteceu
no Câmpus de Assis nos
dias 7 e 8 de novembro. A
programação foi extensa
e buscou contemplar arte,
cultura e discussões acerca
do tema “Arte e Loucura”.
O homenageado foi Gui-
marães Rosa, grande escri-
tor da literatura brasileira,
autor de obras muito ricas
e importantes.
O primeiro dia do even-
to iniciou-se com a mesa
de abertura, composta
pelos organizadores e par-
ceiros do Festival. Em se-
guida, houve conferência
poética, com Luís Sergui-
lha, poeta e crítico literário
de Portugal; leitura dramá-
tica com Alexandre Mello
e leitura do conto “A me-
nina de lá”, de Graciliano
Ramos, com Eliane Dauz-
cuk. Também foi montada
a Livraria UNESP Móvel,
da Editora UNESP. É uma
maneira bem interessante
de divulgar as publicações
que a Universidade tem e
levá-las até os estudantes e
público em geral.
À noite, as atividades
continuaram com os sho-
ws de Emiliano Castro e
Elio Camalle. Também
houve um sarau, com a
participação especial do
professor Antônio Lázaro
de Almeida Prado e os de-
clamadores Fernanda de
Almeida Prado, Alexandre
Mello e Luís Serguilha.
No segundo dia, parte
da manhã, o Festival co-
meçou com uma oficina
ministrada por Clenir Bel-
lezi de Oliveira a respeito
do conto “A terceira mar-
gem do rio”, de Guimarães
Rosa. Em seguida os con-
vidados participaram de
um sarau aberto de poesia,
que teve a participação de
Clenir Bellezi de Oliveira,
Raiça Bonfim, Eduardo
Lacerda, Fernanda Almei-
da Prado e demais alunos
e professores da UNESP.
Além disso, houve lança-
mento e distribuição de li-
vros. Para animar o almo-
ço foi feito o “Som do meio
dia”, com a banda Pratas
da Casa. No período da
tarde, a convidada Márcia
Tiburi fez uma palestra a
respeito da filosofia poé-
tica, intitulada “Elogio da
Loucura - sobre uma certa
anormalidade”. Márcia é fi-
lósofa renomada e profes-
sora do programa de pós-
-graduação em Educação,
Arte e História da Cultura
O evento teve uma programação repleta de atividades artísticas e culturais
O Som do Meio Dia ficou por conta da banda Pratas da Casa
A convidada Clenir Bellezi de Oliveira falando a respeito do conto de Guimarães Rosa
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Nosso Câmpus out-nov-dez/2013
UNESP/Assis realiza o IV Festival da PalavraO evento teve uma programação repleta de atividades artísticas e culturais
da Universidade Macken-
zie. Após sua palestra foi
apresentado um show
musical intitulado “Som
dos meninos quietos”, com
Jean Garfunkel, Joana Gar-
funkel e Pichu Borelli, que
se reportou à infância de
Guimarães Rosa.
À noite, o público parti-
cipou de shows musicais no
“Buracanã”. O primeiro foi
com Guca Domenico com
a participação dos músicos
Liw Ferreiras e Neide Nell
e dos atores Alexandre
Mello e Raiça Bonfim. A
segunda apresentação foi
do Projeto Funkenstein,
com Randal Ortiz no sax,
Rafael Campo no trompe-
te, Juliano Boretti na gui-
tarra e Vinicius Cruz na
guitarra e voz. O show teve
a participação especial de
Mariele Correa e Serginho
Vasconcelos. Para encerrar
o Festival, apresentou-se o
grupo Rabutaio, composto
por André Oliveira na za-
bumba e voz, Fábio Bello
na viola, triângulo e voz, e
Márcio Dedéu no acorde-
on e voz.
O Festival da Palavra é
uma idealização de Ana
Maria Rodrigues de Car-
valho, Mário Sérgio Vas-
concelos, da UNESP de
Assis, e Fernanda de Al-
meida Prado , da Chama
Poética - Produções artísti-
cas. Nessa edição a comis-
são organizadora foi com-
posta por Alan Ricardo
Floriano Bigeli, Ana Maria
Rodrigues de Carvalho,
Eder Copabianco, Gean-
dra Parmigiani, Mário Sér-
gio Vasconcelos, Miriam
Alves de Oliveira Granero,
Sandra Aparecida Ferreira
e Sérgio Augusto Zanotto.
Outras duas atividades
do Festival da Palavra fo-
ram as exposições monta-
das no saguão do Prédio I:
uma com fotografias reu-
niu as memórias do Fes-
tival: imagens das edições
passadas; a outra, com
cartazes, organizada pela
professora Brigitte Her-
vot e intitulada “Diga-me
dez palavras semeadas lá
longe”, foi uma atividade
relacionada à Semaine de
la langue française et de la
francophonie. Trata-se de
uma manifestação cultu-
ral organizada desde 1995
pelos países falantes da
língua francesa ao redor
de todo o mundo. A cada
ano, 10 palavras francesas
são selecionadas para figu-
rarem no projeto. Este ano,
as escolhidas foram: atelier,
bouquet, cachet, coup de
foudre, équipe, protéger,
savoir-faire, unique, vis-
-à-vis e voilá. Esta é uma
oportunidade para o pú-
blico conhecer uma das di-
versas formas de manifes-
tações da cultura francesa.
A exposição “Diga-me dez palavras semeadas lá longe”, da professora Brigitte Hervot
O cartaz do IV Festival da Palavra
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MEU PROJETO DE PESQUISA
A insustentável leveza do ser sob a perspectiva bakhtiniana: diálogo(s) entre a literatura e a vida
As reflexões do chamado Círculo de Bakhtin sobre a arte tem como uma de suas ideias principais a de ser esta construída de elementos da vida, num processo dialógico em que as duas instâncias en-tram em choque e interação. As diversas manifestações ar-tísticas, assim – incluindo aí a literatura –, são produto do diálogo entre a arte e a vida, no contexto da cultura em que tais instâncias estão inse-ridas, contexto este indissoci-ável de um espaço social e de um tempo histórico, em que se dá a produção do enuncia-do artístico.
Partindo desse pressupos-to é que a pesquisa de ini-ciação científica, financiada pela FAPESP e orientada pela Profª Drª Luciane de Paula, intitulada “A leveza e o peso, a alma e o corpo, a força e a fraqueza: relações de diálogo na compreensão de A insus-tentável leveza do ser”, pensa em como o diálogo entre as seis palavras-tema acima em-basa a construção do roman-ce de Milan Kundera que, por sua vez, dialoga com a vida, já que a semiotiza partindo da narração da vida das perso-nagens que, cada uma à sua maneira, vivenciam a leveza insustentável que é inerente a uma vida em que cada deci-são tomada não pode ter suas consequências previstas e, muito menos, alteradas.
O corpus da pesquisa é composto por seis palavras--tema (a leveza, o peso, a alma, o corpo, a força, a fra-queza), mais dezesseis capítu-los do romance de Kundera, dos quais é possível depreen-der nuances do diálogo en-tre os temas constitutivos da base para as reflexões filosó-ficas que orientam seu enre-
do. Tais temas são pensados como pares dicotômicos, vale dizer, como dualidades inse-paráveis, valorativamente, in-tercambiáveis e constituintes de conflitos inerentes à vida humana, semiotizada na vida das personagens do romance.
O método de análise proposto pelo Círculo de Bakhtin é sociológico, pois parte de princípios marxistas. Alguns pesquisadores da área o denominam “método dia-lógico-dialético”, sendo ainda possível considerá-lo como “translinguístico” ou “meta-linguístico”. A nomenclatura é o que menos importa, uma vez que o diálogo é o grande pilar sobre o qual tal método é calcado. Assim, na análise dos capítulos que constituem o corpus da pesquisa, visamos desconstruir o seu constituin-te linguístico para, mais tarde, pensarmos em sua qualidade translinguística, isto é, que remete para fora de si, trans-mite valorações e conteúdos ideológicos. Isso afirmamos com base na ideia segundo a qual a palavra é opaca e pas-sível de sentidos diversos, de-pendendo do seu emprego no enunciado; daí o caráter ide-ológico do signo linguístico ser ressaltado nesta pesquisa, conforme o pensamento do Círculo.
Os temas principais do ro-mance, a começar do seu títu-lo, são a leveza e o peso. Tais palavras têm, neste contexto, seus sentidos valorativamen-te invertidos: o narrador lan-ça, já nos primeiros capítulos do romance, a ideia de que a leveza comporta peso e vice--versa, podendo aquela se transformar num fardo in-sustentável. Tal ideia surge, em digressão filosófica, quan-do é colocado em destaque o
diálogo com o mito do Eter-no Retorno, de Nietzsche e a valoração dada por Parmêni-des à leveza e ao peso.
O mito do Eterno Retorno remete a uma vida na qual tudo o que é nela vivido se repete um número infinito de vezes e de maneira idêntica. Tal ideia, para o narrador do romance de Kundera, é atroz: nesse mundo, cada gesto e cada decisão carregam um peso insuportável: o peso da eternidade. Contudo, o Eter-no Retorno não existe – nem na vida, nem na ficção retra-tada em A insustentável leve-za do ser – e, sendo assim, a vida é efêmera; o que faz com que ela se torne leve.
A contradição entre a leve-za e o peso é, contudo, ambí-gua e passível de inversão de sentidos. Essa segunda ideia parte de outra reflexão do narrador, desta vez orientada pelo pensamento de Parmê-nides, segundo o qual a leveza é positiva e o peso, negativo. A formulação de Parmênides é colocada em cena e refutada no discurso romanesco. Se-gundo o narrador, a aparente dicotomia entre a leveza e o peso comporta mais misté-rios do que aparenta e pode passar por transformações: a mudança do positivo em ne-gativo, ou seja, do pesado em leve.
As formulações do nar-rador acerca da leveza, do peso e da dualidade ambígua existente entre tais instâncias da vida são postas à prova no que é narrado por ele acerca das personagens do romance, que são apresentadas ao lei-tor em momentos de conflito existencial, sendo tais confli-tos sempre relacionados aos temas do romance. Dessa maneira, o entendimento dos
temas é enriquecido pela experiência semiotizada no romance e vice-versa.
Assim, Tomas, a certa al-tura do romance, é apresen-tado ao leitor num momen-to de reflexão a respeito do acerto ou do erro de decisões que tomara e está prestes a tomar, levado à melancolia decorrente da impossibili-dade de verificar o acerto ou o erro dessas mesmas de-cisões. O mesmo acontece com Sabina, atingida após tomar uma decisão aparen-temente leve, por um fardo paradoxalmente desprovido de peso da insustentável le-veza do ser.
As reflexões presentes no romance acerca de seus dois temas principais é, cla-ramente, mais complexa do que as breves considerações feitas aqui; contudo, devi-do à delimitação espacial que se impõe à escrita deste pequeno artigo, é-nos ne-cessário (ao menos, tentar) resumi-la. O(s) diálogo(s) presente(s) na construção desses temas são infinitos e remetem a discursos e a enunciados anteriores e pos-teriores, que constituem um enunciado dialógico, um elo na cadeia discursiva, bem à maneira como o Círculo os pensa.
O diálogo, assim, é o que dá forma ao romance de Kundera, uma vez que seus temas são sempre retoma-dos, de maneira que a cada momento o sentido atribuí-do à insustentável leveza do ser é enriquecido, na inte-ração estabelecida entre o enunciado, seu autor-cria-dor e seu leitor. Tal interação é condição indispensável à concretização do romance como unidade comunica-
tiva. O leitor pode, assim, estabelecer diversas relações dialógicas na construção do sentido do texto. O diálogo com Nietzsche e Parmênides, que é explícito no romance, é enriquecido quando coloca-do no contexto de um reper-tório cultural ligado ao tempo e ao espaço em que o leitor se encontra.
Desse modo, o leitor, com base naquilo que vivencia na vida, sempre de maneira res-ponsável, atribui sentido à arte. Pois, quem nunca tomou uma decisão e, como Tomas, se perguntou se estaria fa-zendo a coisa certa? Quem nunca, como Sabina, sentiu o fardo leve do vazio existen-cial tomar conta de seu ser? A insustentável leveza da vida, parafraseando-se Riobaldo, de Grande Sertão: Veredas, está exatamente no fato de que não se sabe viver, até que se viva; e o eterno aprender--a-viver é que é, mesmo, vi-ver, sem que se possa, nunca, saber o que está por vir.
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*Aline Aleixo SoaresGraduanda do 2º anode Letras
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