Uma tabela para os carotenóides RAQUEL DO … · de variedade de alimentos brasileiros e...

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11JORNAL DA UNICAMPCampinas, 18 a 24 de agosto de 2008

sileiras, além das composições dos alimentos in natura,processados e preparados para consumo, somando maisde 270 itens agrupados e com a indicação da categoriae quantidades de carotenóides presentes.

A professora Délia Amaya conta que, desde 1977,quando iniciaram os estudos na Unicamp, o tema ga-nhou força na comunidade científica e até mesmo jun-to à população em razão dos benefícios oferecidos poresses compostos no fortalecimento do sistemaimunológico e na diminuição do risco de doençasdegenerativas como câncer, doenças cardiovasculares,degeneração macular e catarata, além da atividade pró-vitamínica A de alguns deles. “Os carotenóides sãocompostos notáveis por possuírem ampla distribuiçãona natureza, estruturas químicas diversas e funções va-riadas”, explica. Os que já foram demonstrados impor-tantes para a saúde são: beta-caroteno, alpha-caroteno,licopeno, luteína, zeaxantina e beta-criptoxantina.

Outra classe de compostos presente em frutas ehortaliças com propriedades funcionais, os flavo-nóides, também está sendo estudada no Laboratóriocoordenado pela professora Délia. A idéia, segundo aprofessora, é elaborar uma tabela de composição se-melhante à criada com os carotenóides. “Trata-se depesquisas mais recentes, iniciadas em 2000. No en-

Uma tabela para os carotenóidestanto, já temos vários artigos publicados sobre a com-posição das fontes principais: chás, hortaliças e fru-tas”, destaca.

Délia lembra que “os alimentos eram tidos somentecomo fonte de nutrientes básicos. Hoje, há uma percep-ção de que os alimentos oferecem muito mais. São fon-tes de substâncias bioativas que proporcionam benefí-cios adicionais à saúde, como redução do risco de do-enças crônicas, fortalecimento do sistema imunológicoe amenização dos males do envelhecimento”, destaca.

A docente relata que o know how desenvolvido aolongo dos anos fez com que o grupo fosse requisitadopara proferir palestras e apresentar trabalhos em con-gressos nacionais e internacionais, além de ministrarcursos em vários países, entre os quais Tanzânia, Chi-na, Chile e México, treinando pesquisadores tanto depaíses desenvolvidos como de países em desenvolvi-mento. Mais recentemente, a pesquisadora recebeu oconvite para participar, como convidada, do Congressoda Sociedade Americana de Química, em comemora-ção aos cem anos da Divisão Química Agrícola e deAlimentos da entidade. (veja texto nesta página)

“Trata-se do reconhecimento internacional colhidopor anos de trabalho. O grupo é pioneiro no país e éreconhecido mundialmente. Tem contribuído para osavanços das pesquisas em diversos aspectos como nodesenvolvimento e validação de métodos analíticos;investigação dos fatores que influenciam na composi-ção dos carotenóides, inclusive os efeitos de proces-samento e estocagem de alimentos; na caracterizaçãode fontes alternativas; e na elucidação dos mecanismosde degradação”, destaca a coordenadora do Laborató-rio. O banco de dados da FEA, segundo a docente, su-pera os desenvolvidos na Europa e Estados Unidos, ten-do muitos alimentos que não aparecem nas tabelas ame-ricanas e européias.

PRAQUEL DO CARMO SANTOS

kel@unicamp.br

esquisadores da Faculdade de Engenhariade Alimentos (FEA) elaboraram a primei-ra Tabela Brasileira de Composição deCarotenóides em Alimentos. O guia, o maiscompleto em termos mundiais, reúne a pro-

dução científica de três décadas dedicadas ao estudo doscarotenóides, que são pigmentos naturais responsáveispela cor amarela, laranja ou vermelha, presentes em gran-de variedade de alimentos brasileiros e importantes pe-las propriedades benéficas à saúde humana.

“Acredito que o trabalho seja de grande valia parapromover o consumo de frutas e hortaliças brasileirasnão apenas no país como também no exterior”, destacaa professora Délia Rodriguez-Amaya, principal autorada publicação. Os pesquisadores Mieko Kimura e Jai-me Amaya-Farfan também participaram da elaboraçãoda Tabela, que será publicada pelo Ministério de MeioAmbiente, uma vez que destaca a biodiversidade brasi-leira em carotenóides.

A previsão é que até o final de 2008 a publicaçãoesteja disponível, podendo ser usada, segundo a docente,por agricultores na seleção de variedades, pelas indús-trias alimentícia, farmacêutica e cosmética na escolhade matéria-prima, e por profissionais de saúde públicana promoção da saúde e bem-estar da população.

A versão em inglês do material foi publicada pelarevista científica Journal of Food Composition andAnalysis, publicação oficial da United NationsUniversity e da Food and Agricultural Organization(FAO), vinculadas à Organização das Nações Unidas(ONU). Na Tabela foram relacionados mais de 60 ali-mentos entre frutas e hortaliças, incluindo as diferen-ças de variedades produzidas em diversas regiões bra-

Outra vertente do estudo conduzido no Laboratório deCarotenóides e Flavonóides consiste na análise dos fatores queinfluenciam os níveis das substâncias bioativas desde o campoaté a mesa do consumidor, cobrindo, portanto, toda cadeiaalimentar. Segundo Delia, é possível otimizar, por meio daagricultura e tecnologia de alimentos, a produção de alimentosricos nestes compostos promotores da saúde e bem-estar.

No Brasil, o extenso território, especialmente as áreastropicais e sub-tropicais, tem o clima como um dos principaispromotores da biossíntese de carotenóides. A grandediversidade faz do país um dos mais ricos do mundo no quediz respeito a esses compostos. Neste sentido, argumentaDélia, as pesquisas desenvolvidas pela FEA se justificam paramelhorar a utilização destas fontes alimentícias brasileiras.

“Mais que um instrumental para pesquisas, adisponibilização dos dados sobre a composição dos alimentostorna acessível seu conteúdo aos profissionais de saúde epara a população em geral”, garante.

bioativas são afetadas por este processo”, expli-ca a pesquisadora.

Os estudos realizados na FEA focaram nas fo-lhas verdes como couve, rúcula e espinafre, mi-nimamente processadas embaladas com atmos-fera modificada. No caso dos flavonóides, ao con-trário do que se imaginava, as quantidades au-mentaram. Já no caso dos carotenóides, houveperda mínima, considerada insignificante. “Exis-tia a hipótese de que as perdas poderiam ser gran-des, uma vez que é conhecida a facilidade dedegradação das verduras quando elas são corta-das, perdendo a integridade celular”, explica.

No estudo, foram analisadas diversas amos-tras das verduras vendidas nos supermercados.Além disso, o processo foi acompanhado desdea matéria-prima até estocagem.

Os efeitos das tecnologiasNo dia 19 de agosto, a professora Délia Amaya

apresentará palestra sobre carotenóides e flavo-nóides no Congresso da Sociedade Americana deQuímica, nos Estados Unidos. A pesquisadora par-ticipa como convidada dentro das comemoraçõesdos cem anos da Divisão de Química Agrícola ede Alimentos. Para o evento foram convidados ci-entistas de diversos países para discorrerem sobresuas linhas de pesquisa mantidas nas instituições.

Para sua apresentação, Délia escolheu uma par-te da sua linha de pesquisa mais recente: os efei-tos das novas tecnologias nas substânciasbioativas. O processamento mínimo junto comembalagem em atmosfera modificada, comentaDélia, é uma tendência mundial na comer-cialização de frutas e hortaliças, “Por isso, deveser investigado até que ponto as substâncias

Os efeitos das tecnologias Substâncias bioativas, docampo até o consumidorSubstâncias bioativas, docampo até o consumidor

A professora Délia Rodriguez-Amaya, da FEA: guia reúne a produção científica de três décadas

Pesquisadores da FEAelaboram guia de

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Fotos: Antoninho Perri/Divulgação