Post on 03-Dec-2018
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
DEPENDÊNCIA QUÍMICA NO CONTEXTO FAMILIAR
E A COLABORAÇÃO DA TERAPIA SISTÊMICA
PARA A RECUPERAÇÃO DO DEPENDENTE QUÍMICO
Por: Othon Hugo Pereira da Cruz
Orientadora
Profª. Fabiane Muniz
Rio de Janeiro
2009
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
DEPENDÊNCIA QUÍMICA NO CONTEXTO FAMILIAR
E A COLABORAÇÃO DA TERAPIA SISTÊMICA
PARA A RECUPERAÇÃO DO DEPENDENTE QUÍMICO
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como condição prévia para a
conclusão do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu
em Terapia de Família .
Por: Othon Hugo Pereira da Cruz:
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente ao Todo
Poderoso e ao Divino Espírito Santo .a
oportunidade de aprimorar meus
conhecimentos e também aos meus
pais, primo e à amiga Tania que
sempre esteve ao meu lado nos
momentos mais difíceis me
incentivando e acreditando no meu
potencial.
DEDICATÓRIA
Esta monografia é dedicada a todos
aqueles que buscam compreender o
universo da dependência química e aos
familiares dos adictos que sofrem com os
transtornos causados pelas drogas no
contexto familiar, social e psicológico.
RESUMO
O trabalho tem por objetivo analisar as conseqüências do uso de drogas no
contexto familiar e perceber a importância da terapia Sistêmica na ajuda à
família do dependente químico. A família tem responsabilidade e expectativa,
numa relação de cuidado, proteção, aprendizado dos afetos capaz de
promover melhor qualidade de vida. Com as transformações que a família vem
sofrendo ao longo do tempo, hoje já se reconhece que para ter uma família não
é necessário mais ter laço consangüíneo, pois existem grupos de pessoas que
moram juntas, havendo afinidade entre os membros. Nesta conjuntura as
representações nas redefinições de papéis sócias na reorganização familiar
dando o reconhecimento legal da igualdade entre homens e mulheres.As
drogas vem entrando no contexto familiar gerando um problema de ordem de
saúde pública e social tendo o reconhecimento que a drogadição é uma
doença que afeta a todos que participam direta ou indiretamente..Quando é
feita uma intervenção breve sistêmica na família dos dependentes químicos, o
terapeuta tem uma nova concepção, buscando em conjunto com a família do
adicto naquele momento, uma nova mudança de comportamento e
funcionamento de algumas regras, sendo possível a reconstrução de uma nova
realidade. A partir do momento que a família entende que todos estão
adoecidos pela a drogadição, a doença deixa de ser de um passa ser de todos
na solução do problema.
METODOLOGIA
A metodologia aplicada no desenvolvimento do presente trabalho de
monografia, foi a pesquisa com base em levantamento bibliográfico,
objetivando analisar as conseqüências do uso de drogas no contento familiar e
a importância da Terapia Sistêmica na recuperação do dependente químico.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - A família 10
CAPÍTULO II - A dependência química
18
2.1 – Conceito de drogas 18 2.2 – Apontamentos históricos 20 2.3 – O que é dependência química 23
CAPÍTULO III – A Terapia Sistêmica e a família
25
3.1 – Breve histórico da Terapia Sistêmica 25 3.2 – A família e as drogas 27
CONCLUSÃO 31
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 33 WEBGRAFIA 37 FOLHA DE AVALIAÇÃO 39
INTRODUÇÃO
O presente estudo tem como objetivo analisar as conseqüências do uso
de drogas no contexto familiar e perceber a importância da Terapia Sistêmica
na ajuda à família do dependente químico e conseqüentemente ao mesmo.
Pode-se dizer que a dependência química é uma doença que não atinge
somente ao usuário, mas também a toda sua família.
Atualmente percebe-se que o grupo familiar tem uma contribuição
fundamental na recuperação e na reintegração social do dependente químico,
por este motivo se faz necessário falar da entidade familiar para a recuperação
daqueles que se envolvem com substâncias ilícitas, visto que é na família que
o indivíduo aprende a se relacionar com o mundo. Este aprendizado, mesmo
comprometido pelo uso abusivo ou dependência de drogas, se impõe ao
paciente como referencial de comportamento e atitude diante da vida.
Desde a origem da humanidade pode-se dizer que o homem faz uso de
substâncias alucinógenas como forma de alterar o funcionamento de seu
organismo. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), drogas são
quaisquer substâncias químicas ou mistura delas que altera a função biológica
e possivelmente a estrutura do corpo, ou seja qualquer substância que tem a
capacidade de alterar as funções fisiológicas ou comportamentais da pessoa
A prática do uso de drogas está cada vez mais freqüente, atualmente
milhares de pessoas consomem diariamente diversos tipos de drogas ilícitas
como: maconha, cocaína, LSD, crak, haxixe, cheirinho da loló, heroína e as
drogas lícitas : álcool, cerveja, cachaça e outras. Este mercado da morte
cresce incontrolavelmente destruindo famílias e sonhos pelo uso abusivo por
parte dos viciados.
A família do dependente químico em sua maioria se desestrutura e não
sabe como proceder adequadamente com o mesmo, chegando a ficar
adoecida.
A Terapia Sistêmica não busca o culpado nas relações familiares. Na
visão relacional sistêmica quando, alguém na família apresenta um sintoma,
acredita-se que é a família que está precisando, naquele momento aprender
algum novo comportamento, fazer alguma remodelação no seu funcionamento
ou mudar comportamentos que mesmo que tenham sido úteis em outra etapa,
agora se apresentam disfuncionais.
Esta pesquisa visa mostrar que a interação familiar com o seu
dependente químico tem grande significado na recuperação do mesmo e
estando recuperado o dependente químico também estará a família.
CAPÍTULO I
A FAMÍLIA
O significado de família patriarcal no Brasil chega através da
influência da família real no Brasil colônia, agregando valores e costumes da
classe burguesa européia.
A família patriarcal desenvolveu-se principalmente nos engenhos de
açúcar nordestinos, no período colonial. Era uma família extensa, pois
agregava além do casal e de seus filhos, outros parentes, escravos, afilhados
e reproduzia-se com base no casamento por aliança econômica e política.
Essa família exercia grande influência política dividindo poder do Estado com o
clero, mas valorizava e centralizava no espaço privado (Rosas 2003 175).
Nos primeiros anos da República, a família patriarcal começa a dar
sinais de enfraquecimento. Com a proclamação da República foram
introduzidos no país um conjunto de modernizações que envolveram o fim do
trabalho escravo e a urbanização (inicio da industrialização), com projeto
republicano começa a serem traçadas as possibilidade de construir da ordem
burguesa no Brasil (CAMPOS, 2000:110).
A família nuclear, que é composta de mãe, pai e filhos começa a
delinear-se no século XVIII, em decorrência do movimento sócio-político e
econômico da época, caracterizando-se pela predominância da autoridade
masculina e a casa, como espaço feminino (CARVALHO,1995:66)
A gênese das sociedades modernas e de sua forma típica, aquela
formada pelo homem provedor financeiro, a mãe dona-de-casa e os filhos
solteiros vivendo sob o mesmo teto, foi marcada pela dicotomia entre papéis
públicos e privados atribuídos segundo o gênero ( CARVALHO,1995:66).
Falar de família constitui uma temática complexa, pois apresenta
diversos formatos e significações. A família representa o espaço primordial do
indivíduo, pois ela proporciona os aportes afetivos bem como o processo de
moralização e valores que são necessários para o bem estar de seus
integrantes.
O movimento feminista se intensifica no Brasil no ano de 1970. Ao
lutar pela igualdade entre gêneros, possibilitou a remodelação assimétrica
familiar conjugal para o casal igualitário, fortalecido pela produção e difusão de
anticoncepcionais, que permitiu o controle da contracepção e pela lei do
divórcio (ROSAS, 2003:183,184).
Entre as diversas expectativas que norteiam uma relação, uma
delas é que propicie ao indivíduo, cuidado, proteção, aprendizado dos afetos,
construção de identidades e vínculos relacionais de pertencimento, capazes de
promover melhor qualidade de vida aos seus membros e efetiva inclusão social
na comunidade e sociedade em que vivem (TEDESCO, 2001:20).
A família como uma instituição social, está sujeita às influências que
a realidade cultural e histórica determina, e por isso, freqüentemente, vem
atravessando crises. No entanto, tem se mostrado uma instituição muito
resistente capaz de adaptar-se e a sobreviver a esses diferentes momentos.
Porém novos valores e paradigmas se impõem em relação à família.
A idéia que se tem de família como um grupo relativamente bem
estruturada envolvendo o pai, a mãe e os filhos, em um grande número de
vezes, não corresponde à diversidade dos modelos existentes na atualidade.
Na contemporaneidade, existem famílias extensas que pressupõe
parentesco consangüíneo ou por afinidade ou por adoção de pessoas ligadas
entre si no tempo e no espaço (LAROUSSE CULTURAL, 1992:495).
Variadas circunstâncias conduzem a essa situação, desde a
pobreza, a liberdade sexual, o controle da natalidade, a independência
econômica das mulheres, a instabilidade das uniões afetivas, a possibilidade
de adoção por maior de 18 anos seja qual for o seu estado civil, e até mesmo o
desejo da maternidade independente, estimulado pelo desenvolvimento da
ciência no campo da inseminação artificial. Têm-se também as reconstituídas,
que são famílias constituídas nos recasamentos de mãe ou ambos.
Segundo Passos (2003:9), nos últimos vinte anos, essa mudança
que vem sofrendo a entidade familiar em sua base estrutural é em decorrência
das mudanças ocorridas na estrutura da economia, nos processos de trabalho
e nas relações sociais em geral. Assim expõe o autor: “as estruturas familiares
têm sido marcadas pelas mudanças ocorridas nas sociedades humanas, no
que diz respeito à tecnologia, divisão social do trabalho reordenado dos papéis
sociais e pela luta das chamadas minorias”.
A família mesmo sendo atingida em sua base estrutural, não pode
perder o liame que é ela a responsável pelo cuidado de seus membros, tendo
assim o dever de educá-los, criá-los, assistí-los, de acordo como dispõe o
capítulo VII da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que
positiva em seu art. 227 c/c art. 229 que “é dever da família, da sociedade e do
Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o
direito à vida, à saúde, à alimentação (...)”. E o art. 229: “os pais têm o dever
de assistir, criar e educar os filhos menores (...), têm o dever de ajudar na
carência ou enfermidade”.
Assevera Ackerman (1986:29), nenhum de nós vive sozinho.
Aqueles que tentam estão condenados de antemão; eles se desintegram como
seres humanos. Alguns aspectos da experiência de vida são mais individuais
que sociais, outros mais sociais que individuais, mas a vida é não obstante
uma experiência compartilhada e compartilhável. Nos primeiros anos essa
troca ocorre quase exclusivamente com membros de nossa família. A família é
a unidade básica de crescimento e experiência, desempenho ou falha. É
também a unidade básica de doença e saúde.
A Constituição Federal de 1988 está em sintonia com os tratados,
convenções e declarações das Nações Unidas ao reconhecer a igualdade
entre homens e mulheres na vida pública e privada. Esse reconhecimento tem
repercussões importantes no direito de nosso país, particularmente, no direito
civil. Até 1988, o Código Civil orientava todos os seus artigos relativos à família
marcando a superioridade do homem em relação à mulher, seja na parte
geral, no capítulo específico sobre família ou na parte relativa ao direito das
sucessões.
Mas se podemos apontar a manutenção da importância dada ao
núcleo familiar nos diferentes processos de organização social, não podemos,
também, ignorar como a noção e a estrutura familiar têm sentido o impacto
das mudanças culturais, legais, sociais e econômicas das últimas décadas.
Nesse conjunto de transformações, pode-se afirmar a importância fundamental
representada pela redefinição dos papéis de gênero na reorganização das
estruturas familiares. Assim, o aumento da participação das mulheres no
mercado de trabalho e na chefia familiar; o reconhecimento legal da igualdade
entre homens e mulheres na direção da família e a difusão dos direitos das
mulheres, dentre outros, certamente levaram a mudanças significativas para a
redefinição da família. (BARSTED,1999:12).
A família sofreu muitas mudanças nas últimas décadas, e hoje
encontramos famílias com variadas configurações. Isto leva à muitas dúvidas e
angústias sobre qual são as formas mais adequadas de lidar com as novas
situações familiares. Essas questões surgem nos integrantes das famílias, nos
terapeutas e em todos os profissionais que interagem com elas.
Novas configurações
Hoje encontramos famílias com configurações muito diferentes da tradicional
família pai, mãe, filhos.
• Famílias monoparentais
O número de famílias sob responsabilidade de um só dos progenitores cresce
mais a cada dia. Na maioria das vezes são mulheres que tomam cargo
sozinhas das tarefas de criar e educar seus filhos.
• Famílias de casais homossexuais
Também está crescendo o número de casais homossexuais que estão tendo
seus próprios filhos, assumindo os filhos do/da parceira ou adotando crianças e
formando uma família.
• Famílias com agregamento de muitos subgrupos
Não é raro encontrarmos famílias onde seus membros fazem parte de várias
outras famílias. PODEM SER DESDE o já quase tradicional “os meus, os seus,
os nossos” ATÉ algumas situações mais diferentes, como por exemplo o filho
de um rapaz, que após a separação do seu pai com sua madrasta ficou
morando com a madrasta e a filha dela, que não era filha do seu pai.
Novos problemas
Com essas novas configurações e situações, além das dificuldades com a
criação dos filhos e adaptações necessárias, inerentes a todas as famílias,
surgem também problemas novos.
• Afastamento na relação com pais
• Funções parentais confusas
• Envolvimento de crianças em guerras relacionais de adultos
• Distanciamento de vínculos familiares da família extensa
• Dificuldades nos sentimentos de pertencimento
• Confusões na estruturação de identidades pessoais e familiares
Novas soluções
Todas as propostas de soluções são um desafio a vencer, pois significam
encontrar uma forma nova para lidar com as situações, sem esquecer os
sentimentos desencadeados e as pessoas envolvidas. Isso significa:
• Aceitar um modelo de família diferente do padrão tradicional.
• Tomar consciência dos sentimentos e preconceitos.
• Flexibilizar, ter criatividade para possibilitar mudanças e arranjos necessários
e funcionais.
Divórcio
Cuidados importantes no divórcio formal e no divórcio emocional:
• Enxergar o divorcio como uma etapa, uma tarefa, e evitar transformar em
uma guerra;
• Assumir a decisão, aceitar sua parte no que aconteceu com o casamento;
• Planejar a separação do sistema. Isto inclui apoiar arranjos viáveis para todas
as partes do sistema, resolver cooperativamente os problemas da custódia,
manter a família unida apesar do divórcio;
• Continuar um relacionamento co-parental cooperativo e o sustento financeiro
dos filhos;
• Viver o luto pela perda da família intacta; ·
• Lutar para a reestruturação dos relacionamentos da díade progenitor-filhos e
das finanças;
• Adaptar-se a viver separado, mas mantendo o parentesco com a família
maior;
• Elaborar o divórcio emocional: superação de mágoa, raiva, culpa; luto pela
perda da família intacta; abandono das fantasias de reunião, permanecendo a
conexão com as famílias ampliadas;
• Para o cônjuge que fica com a custódia dos filhos existem várias tarefas e
aprendizagens: continuar com disposição para manter as responsabilidades
financeiras; continuar o contato com o ex-cônjuge e apoiar o contato dos filhos
com o ex-cônjuge e sua família; fazer arranjos flexíveis de visita com o ex-
cônjuge e sua família; reconstruir os próprios recursos financeiros; reconstruir a
própria rede social;
• Para o cônjuge que não fica com a custódia dos filhos, as tarefas e
aprendizagens são também importantes: continuar com disposição para manter
o contato com o ex-cônjuge e apoiar o relacionamento dos filhos com o
progenitor que tem a custódia; descobrir maneiras de manter uma
paternidade/maternidade efetiva; manter as responsabilidades financeiras com
o ex-cônjuge e os filhos; reconstruir a própria rede social.
Recasamento
• Planejar o novo casamento e a nova família aceitando os próprios medos e
os do novo cônjuge, como também os medos dos filhos, em relação ao fato;
• Aceitar a necessidade de tempo e paciência para o ajustamento às
complexidades e ambigüidades de: múltiplos papéis novos, fronteiras, espaço,
tempo, condição de fazer parte da família, autoridade, questões afetivas, culpa,
conflitos de lealdade, desejo de mutualidade, mágoas passadas não resolvidas;
• Trabalhar a honestidade no novo relacionamento, para evitar os mal-
entendidos;
• Planejar a manutenção de relacionamentos financeiros e de co-paternidade
cooperativos com os ex-cônjuges;
• Planejar uma forma de ajudar os filhos a lidarem com seus medos, conflitos
de lealdade e as condições de fazerem parte de dois sistemas;
• Reorganizar os relacionamentos com a família ampliada para incluir o novo
cônjuge e filhos;
• Planejar a manutenção das conexões das crianças com a família do(s) ex-
cônjuge(s);·
• Possibilitar fronteiras permeáveis para inclusão do novo cônjuge (padrasto ou
madrasta);
• Realinhar os relacionamentos e arranjos financeiros em todos os subsistemas
para permitir o entrelaçamento de vários sistemas;
• Criar espaço para os relacionamentos de todos os filhos com os pais
biológicos, avós e o restante da família ampliada;
• Compartilhar lembranças e histórias para aumentar a integração da nova
família;
Família uniparental
• Manter o contato dos filhos com a família do pai/mãe ausente;
• Estabelecer relações de apoio e ajuda;
• Manter vivos os dados e as histórias vividas com o pai ausente;
• Adequar a função e autoridade de avós que desempenham funções de pais;
• Manter a autoridade e a função parental do genitor presente.
Casamentos homossexuais
• Possibilitar que todos os envolvidos acessem e lidem com seus sentimentos
e/ou preconceitos;
• Manter as funções necessárias para o desenvolvimento e crescimento da
família.
Outros modelos de casamentos
• Aceitar as mudanças, lidando com os sentimentos, preconceitos e
dificuldades inerentes;
• Ficarem atentos às necessidades de renegociações, de reformulações para
as funções familiares serem cumpridas.
Sejam quais forem os modelos e configurações das novas famílias, o
foco deverá ser sempre possibilitar que as tarefas e funções parentais sejam
desempenhadas de forma adequada para o crescimento e desenvolvimento
físico e emocional das crianças e adolescentes. (ROSSET)
CAPÍTULO II
A Dependência Química
Neste capitulo sobre dependência química abordaremos inicialmente
dois assuntos: o conceito de drogas e a história dos entorpecentes . E por final
discutiremos o que é dependência química e seus efeitos no organismo.
2.1 Conceito de Drogas
O termo “drogas” que antes envolvia questões de saúde, hoje se
apresenta quase que exclusivamente relacionado ao tráfico, a violência, a
delinqüência, entre outros. Na verdade, o que poderia ser distinguido seriam as
chamadas “drogas ilícitas” (maconha, cocaína, entre outras) e as “lícitas”
(álcool e tabaco). Assim, esses grupos de “drogas”, cujos aspectos
farmacológicos coincidem em várias de suas propriedades são encarados de
modo distinto pela opinião pública (GOUVÉIA, 1999:87).
Para Gouveia, as drogas são substâncias, cujo uso inadequado, pode
levar a dependência, pois elas são substâncias entorpecentes, alucinógenas,
excitantes (GOUVÈIA, 1999:87).
Para Organização Mundial de Saúde (OMS), droga é qualquer
substância química ou a mistura delas, que altera a função biológica e
possivelmente a estrutura do corpo, ou seja, qualquer substância que tem a
capacidade de alterar as funções fisiológicas ou de comportamento da pessoa,
é considerada como droga.
Para Lonenecker (1998:37), droga é “toda e qualquer substância,
natural ou sintética que, introduzada no organismo modifica suas funções”.
As drogas naturais são obtidas através de determinadas plantas, de
animais e de alguns minerais. Exemplo a cafeína (do café), a nicotina (presente
no tabaco), o ópio (na papoula) e o THC tetrahidrocanabiol (da maconha). As
drogas sintéticas são fabricadas em laboratório, exigindo para isso técnicas
especiais.
O termo droga presta-se a várias interpretações, mas geralmente
suscita a idéia de uma substância proibida, de uso ilegal e nocivo ao indivíduo,
modificando-lhe as funções, as sensações, o humor e o comportamento. As
drogas estão classificadas em três categorias: as estimulantes, os depressores
e os perturbadores das atividades mentais.
A expressão droga envolve os analgésicos, estimulantes, alucinógenos,
tranqüilizantes e barbitúricos, além do álcool e substâncias voláteis. As
psicotrópicas são as drogas que tem tropismo e afetam o Sistema Nervoso
Central, modificando as atividades psíquicas e o comportamento. Essas drogas
podem ser absorvidas de várias formas: por injeção, por inalação, via oral,
injeção intravenosa ou aplicada via retal (supositório).
Entorpecente é toda substância que causa torpor, que entorpece, que
tira a energia e debilita. Em farmacologia, designa os psicotrópicos que têm por
principal função embotar ou insensibilizar. Trata-se principalmente dos
opiáceos designados também de narcóticos. Segundo Rossetti (2007),
“entorpecente é uma droga utilizada para adormecer uma parte do corpo ou
causar uma inércia geral”.
Conforme informa Venâncio (2005:178), as drogas utilizadas de forma
ilícita, causam, entre outras coisas: transtorno psicótico delirante, síndrome
amnésica crônica, perturbações do Sistema Nervoso Central, transtorno de
humor, transtorno psicótico com alucinação, tremores distais, insônia, náusea e
vômito, confusão mental (apatia, sonolência e confusão).
2.2 Apontamentos Históricos
Desde a origem da humanidade, pode-se dizer que o homem faz uso
de substâncias alucinógenas como forma de alterar o funcionamento de seu
organismo (VERGARA, 2002:48).
Não se pode dizer com precisão, quais as razões ou circunstâncias que
levaram a primeira pessoa a entrar em contato com as propriedades
alucinógenas. Pode-se deduzir que o contato com essas substâncias foi ao
acaso, isto é, algum nativo desgarrado do seu grupo, a procura de alimentos
para sobreviver, passou a ingerir qualquer coisa como forma de mitigar a fome,
levando-o a sentir-se envolto de visões fantásticas, de várias formas, cores e
aromas com os quais jamais sonharia (op.cit:48)
Na verdade, na história da humanidade, as drogas passaram muito
mais tempo liberadas que proibidas. O ópio é, provavelmente, a primeira droga
utilizada pelo homem. Informa o historiador Richard Davenport-Hines, que a
coca já era usada pelos habitantes dos Andes há 12.000 anos (Apud,
VERGARA, op.cit:49).
O efeito euforizante da planta foi descoberto na Índia (entre 2.000 e
1.400 a .C) onde era utilizada para estimular o apetite, curar doenças venéreas
e induzir sono (LACERDA; NOTO, 2006:57).
No Brasil, as sementes da maconha foram trazidas por escravos, como
uma forma de ligação com a terra natal. Passou a ser cultivada para finalidade
têxtil, mas rapidamente seu uso, como euforizante, passou a dominar
(LACERDA; NOTO, op.cit:57).
A partir daí, o seu uso para objetivos não médicos e não científicos foi
crescente. Em poucas décadas, conseguiu atingir todas as camadas sociais e
todas as faixas de idade, inclusive a infância. Com a ajuda de moderna
tecnologia que lhe foi oferecendo bons laboratórios químicos farmacêuticos e
excelentes meios de transporte e de comunicação, difunde-se por todo mundo,
alimentando um mercado altamente lucrativo, que passou a ser disputado com
empenho e violência (LACERDA; NOTO, 2006:58)
Esta expansão gerou problemas internacionais, que, desde o início
deste século, foram exigindo acordos e convenções entre países, com vistas à
sua fiscalização, repressão e, atualmente prevenção. Entretanto, mesmo
causando sérios danos à saúde pessoal e ao convívio em grupo o uso indevido
de drogas continua crescendo.
O uso abusivo e o tráfico de substâncias entorpecentes tornaram-se um
sério problema social, atingindo a todos, em especial, a população jovem.
Porém atualmente, as drogas exercem um papel diferente da
antigüidade. Em busca de refúgio, ou estímulo, milhões de pessoas consomem
diariamente diversos tipos de droga. Esse mercado da morte cresce numa
proporção incontrolável, destruindo famílias e sonhos, lucrando bilhões às
custas de jovens sonhadores. O que antes era remédio, como a maconha,
criado para curar, hoje é droga.
De acordo com o Relatório Mundial das Drogas de 2006, elaborado pela
UNODC (sigla em inglês para Escritório das Nações Unidas Contra drogas e
Crimes), o Brasil ocupa o 6º lugar no ranking de apreensões de drogas. Em
todo o mundo, a produção de maconha aumentou. Em 1997, eram 42 mil
toneladas. Em 2004, foram 45 mil (BRAZULA, 2007).
O Paraguai é o principal fornecedor da maconha consumida no Brasil e
no Cone Sul (Argentina, Paraguai e Uruguai). Grande parte da maconha
consumida no Brasil é produzida no Nordeste. Estima-se que a região abrigue
3,5 mil hectares dedicados ao cultivo da erva. O esquema envolveria, inclusive,
trabalhos forçados.
Existem três tipos de drogas: as depressoras, as estimulantes e as
perturbadoras do Sistema Nervoso Central (SNC). No cérebro, existem milhões
de neurônios onde se veiculam as informações entre ele e as outras partes do
corpo. Os neurônios emitem e recebem informações através de substâncias
químicas denominadas neurotransmissores. As drogas atuam deprimindo,
estimulando ou perturbando a ação desses neurotransmissores. Entre as
drogas depressoras estão: a heroína, a morfina, os analgésicos, os ansiolíticos
(benzodiazepínicos), o éter, a gasolina, o thiner, a benzina, as colas, o esmalte
de unha. No grupo das drogas estimulantes estão: as anfetaminas, a nicotina, a
cocaína (o crack), a cafeína. As drogas perturbadoras englobam a maconha,
skank (mutação genética da Cannabis), o LSD, o cogumelo, a merla (folha da
cocaína adicionada ao querosene e/ou a gasolina).
Segundo o 1º Levantamento Domiciliar Nacional sobre o Uso de Drogas
Psicotrópicas realizado pelo CEBRID, a maconha é a droga ilícita mais
consumida no Brasil. Estudos mostram, no Brasil, o índice de uso de cannabis
na vida entre escolares variando de 6,6 a 19,9%, com a idade da primeira
experiência concentrada na faixa de 14 a 16 anos. O uso na semana ou uso
freqüente ficou entre 0,9 e 4,4%. Essa droga é utilizada por todas as classes
sociais em níveis elevados, quando comparada com as outras drogas ilícitas.
(PAVIANI,1990).
Os motivos que levam os indivíduos a consumirem drogas ilícitas são
vários, entre eles, está a desigualdade social. Mas, não quer dizer com isso
que adolescentes que possuem uma situação financeira média-alta não estão
envolvidos com drogas. Por exemplo, como a droga da moda é a droga
sintética, como o ecstasy, feito com substâncias químicas que requerem alta
tecnologia na manipulação, ela é muito cara. Assim, os traficantes têm de
pertencer a uma classe social mais abastada para poderem entrar nesse
maldito comércio. E aí aparecem os universitários das classes média e alta. O
comércio de drogas ilícitas movimenta no mundo US$ 321,6 bilhões ao ano e
abastece um mercado de aproximadamente 200 milhões de pessoas, o que
representa 5% da população mundial entre 15 e 64 anos. No Brasil, estimativas
indicam que cerca de 20% dos jovens, na faixa de 12 anos já experimentaram
drogas. Outros 8% dos jovens de classe média usam algum tipo de droga
periodicamente (BRASIL, 2007).
De acordo com pesquisas de organizações não-governamentais que
atuam no combate ao uso de drogas, 11,6% da população com mais de 12
anos já usaram algum tipo de drogas. De cada dez jovens que experimentam
drogas, dois se tornam dependentes. O tratamento legislativo dado ao controle
das substâncias entorpecentes produzidas é um espelho mais fiel da política
governamental adotada pelo Estado para a matéria. Na observação das leis,
pode-se aquilatar o cuidado com que o assunto é tratado e o grau de
intensidade existente para o controle dessas substâncias. O estudo
extremamente simples abrange desde a legislação ibérica do início do século
XVII, até a última legislação revogada do século XX, atingindo portanto, os
períodos do Brasil Colônia, Império e República. São destacadas leis, decretos-
leis e decretos que determinaram pontualmente a política adotada,
transcrevendo-se alguns trechos originais da legislação (BARROS, 2003:21).
2.3 O que é a dependência química
A dependência química é qualquer substância psicótica, ou seja,
qualquer droga que altera o comportamento que possa causar dependência
sendo e essência na vida daqueles que a usam como: maconha, cocaína ,
crack, afetamina, álcool, remédio para emagrecer, calmante etc.
Como as drogas de abuso aumentam a liberação de uma substância
neurotransmissora – a dopamina – no núcleo accumbens – que causa uma
sensação de prazer, as pessoas podem usar drogas porque querem sentir um
sensação de bem estar, de alegria ( reforço positivo). Mas elas também podem
usar porque estão tristes, deprimidas ou ansiosas e querem aliviar estas
sensações ruins, neste caso, procuram na drogas o reforço negativo. Esta
propriedade reforçadora das drogas, causam prazer ou aliviam sensações ruins
(por exemplo, a síndrome de abstinência de quem é fisicamente dependente de
droga), aumenta a chance da reutilização da droga.
Quando uma droga é administrada repetidamente e não provoca mais o
mesmo efeito, ou é preciso aumentar a dose para ter a mesma sensação, diz-
se que a pessoa está ‘’tolerante ‘’ aquele efeito da droga. Este fenômeno, a
tolerância, é comumente encontrado nas pessoas com drogas.
(FORMIGONI,2006:6).
A freqüência do uso repetido de drogas produz alterações no sistema
nervoso, tolerância e ou sensibilização que contribuem para aumentar a
‘’saliência” do incentivo e o desejo de consumir mais drogas.
Os fatores genéticos desempenham um papel importante na
dependência química. Estudos epidemiológicos têm estabelecido há muito
tempo que o alcoolismo, pro exemplo, possui um componente familiar
preponderante, com uma estimativa de 40 a 60% do risco para o
desenvolvimento desse transtorno. Parte dessa influência é devido a
características herdadas por genes. (FORMIGONI, 2006:8).
.O fato de existir uma influência genética, uma maior vulnerabilidade,
não significa que a dependência de álcool seja completamente herdada, que
seja algo pré-determinado. Entretanto, pessoas com histórico familiar de
dependência devem ser alertadas para o fato de que têm maior risco do que a
população em geral de desenvolverem um problema semelhante.
(FORMIGONI, 2006:8 )
Fissura, esse fenômeno é descrito como desejo urgente e quase
incontrolável, que invade os pensamentos do usuário de drogas, alterando o
seu humor e provocando sensações físicas e modificação do seu
comportamento Vários estudos relatam que a fissura está ligada tanto a
desencadeadores externos ( a própria droga, locais ou situação de uso) como
internos (humor deprimido, ansiedade ) (FORMIGONI, 2006:9 ).
A dependência química não é contagiosa, mas é contagiante, no sentido
de que, quando existe um membro da família usando drogas, este fato
estabelece comportamentos familiares em função do usuário, deteriorando o
bem-estar individual e coletivo. Geralmente o dependente químico nega ou
minimiza as conseqüências negativas do seu uso, de forma a manter protegida
a sua drogadicção. Em paralelo, a família também assume esse
comportamento, não para proteger a droga, mas para proteger-se da dor e do
sentimento de impotência diante do comportamento-problema de um ser
querido.
CAPÍTULO III
TERAPIA SISTÊMICA E A FAMÍLIA DO DEPENDENTE
QUÍMICO
3.1 – Breve histórico da Terapia Sistêmica
A psicoterapia familiar desenvolveu-se nos Estados Unidos da América,
na década de 1950, a partir do esforço de várias áreas da medicina, psicologia,
sociologia, antropologia etc. A psicoterapia familiar sistêmica parte da premissa
de que aquilo que ocorre com um individuo da família atinge todos os demais
direta ou indiretamente. Reciprocamente, o que acontece á família influência o
individuo. Por isso, sua proposta é tratar o sistema como um todo e não apenas
o individuo. (SILVA,2006:23).
Cada vez mais os terapeutas de família começaram a pensar realmente
de forma mais sistêmica. Essa mudança de paradigmas veio acompanhar toda
a revolução científica que surgiu com a ‘’cibernética ‘’ a teoria geral dos
sistemas, a teoria da comunicação e a biologia que constituíram o campo do
pensamento sistêmico não somente aplicada aos sistemas mecânicos mas
também biológico e cultural.(GROISMAN. 2003:111)
O termo cibernética vem do grego e significa a arte de pilotar (kybemete).
Ela nasce na década de 1950 aponta para leis de regulação e controle dos
sistemas ou máquinas. É dela que herdamos os conceitos de homeostase,
retroalimentação e outros tantos termos sistêmicos. Ela inaugura a questão da
circularidade, tão utilizado em terapia familiar. (GROISMAN.2003:112).
A Cibernética da primeira ordem acreditava que era possível um
conhecimento objetivo da realidade. Por isso, colocava o observador fora de
seu objeto observado e era chamado de cibernética dos sistemas observados.
Posteriormente deu-se mais um passo e surgiu o que se convencionou
chamar a cibernética de segunda ordem ou segundo grau, que se refere aos
sistemas vivos. Mantém as prioridades acima mas afirma ser impossível haver
neutralidade ou observação objetiva. Conseqüentemente, vai incluir o
observado (terapeuta) na descrição completa do sistema. Ensina que a
cibernética de segunda ordem enfatiza a inclusão e a participação do
observador no sistema e propõe conceito tais como a auto-referência, o
processo recursivo e a construção da realidade. ( GROISMAN, 2003:112 )
Alguns métodos usados pelos terapeutas sistêmicos são: o genograma,
o vídeo, a escultura, as prescrições, os rituais, os exercícios sistêmico-
vivenciais, as técnicas dramáticas e corporais e, principalmente, os terapeutas,
que movimentam a família. Estes instrumentos são aplicados no
solucionamento momentâneo dos problemas das famílias problemáticas tendo
uma ótima solução das causas das relações pessoais.
Quando é feita uma intervenção sistêmica na família dos dependentes
químicos, o terapeuta tem uma nova concepção, buscando em conjunto com a
família do adicto naquele momento, uma nova mudança de comportamento e
funcionamento de algumas regras, sendo possível a reconstrução de uma nova
realidade.
Conforme expõe Duarte (2000:17), ‘’ É na família que o individuo
aprende a se relacionar com o mundo. Este aprendizado, mesmo
comprometido pela dependência de álcool e outras drogas, se impõe ao
paciente como referencial de comportamento e atitude diante da vida’’. A
família é um sistema que move-se continuamente, passando por diversos
estágios, através do ciclo vital familiar, o terapeuta encontra subsídio para
trabalhar com a família, identificando em que estágio do desenvolvimento ela
se encontra e assim trabalhar no sentido de restaurar a crise que se caracteriza
por conflitos diversos e que exigem mudança na organização familiar e ajuste
dos seus membros.
3.2 – A família e as drogas
Falar sobre dependência química ainda hoje nas famílias brasileiras é
encarada de maneira preconceituosa pela sociedade tendo uma visão errônea
que o adicto tem de desvio de comportamento ou de caráter. Hoje já sabe que
a dependência química é uma doença reconhecida pelo Ministério da Saúde e
tem vários tipos de tratamento no uso abusivo de drogas.
A drogadicção serve, de vários modos, para resolver o dilema do adicto
quanto a ser um individuo independente. Não é a toa que o uso de drogas
geralmente começa na adolescência, época em que se inicia o processo de
separação da família. O dependente químico é pseudo-individualizado, estando
ao mesmo tempo dentro e fora da família. Aparentemente é independente,
porém, com seu problema, ele depende cada vez mais da atenção da família.
(GROISMAN, 2003:190).
A família por sua vez mantém o problema como um segredo para evitar a
dor e a vergonha, já que se sente culpada e teme julgamentos preconceituosos
de parentes e amigos (GROISMAN, 2003: 210).
O que percebe-se segundo Groisman (2003:186); é que a família por sua
vez, finge não ver o problema ou que é só uma fase difícil, que vai passar com
o tempo. Ainda assim a família geralmente percebe a dependência química
muito antes do próprio dependente, que tende a só buscar ajuda após algum
tipo de pressão externa, quase nunca por iniciativa própria.
O uso de álcool e outras substâncias ilicitas adoecem todo o conjunto
familiar, Foram criados grupos de ajuda aos familiares, centros de tratamento e
os grupos de ajuda mútua Al-Anon e Nar-Anob oriundos dos Alcoólicos e
Narcóticos Anônimos, destinados aos parentes e amigos do dependente
químico. Quando a família busca orientação para alguém de sua família com
problema com uso de álcool e outras drogas, as principais queixas dos
responsáveis são: sentimento de culpabilização, cansaço, impotência,
estresse, raiva e medo da situação que acontece dentro das residências.
A família, aos poucos, vai reagindo ao problema de uma forma muito
semelhante ao dependente químico, pois passa a abandonar toda a sua rotina
para tomar conta dele. Assim da mesma forma que o dependente fica
obcecado pela droga, a família fica obcecada pelo dependente químico tendo
danos no trabalho, saúde etc. (GROISMAN, 2003:186).
A disfunção familiar, quer dizer que a família causa ou é culpada pela
dependência química, pois não se trata de uma causalidade linear, e sim
circular na qual todos os membros (inclusive de outras gerações ) estão
envolvidos, cada um com sua parcela de responsabilidade, sem existência de
carrascos ou vitimas .(GROISMAN, 2003:188).
Em geral, a família do paciente que faz uso abusivo ou é dependente de
álcool e outras drogas, é uma família em crise, cuja solução vai depender da
disponibilidade de seus componentes para aceitar um processo de mudança.
Tal como o paciente, a família pode aprender novas maneiras de viver,
abandonando comportamentos negativos e assumindo comportamento positivo
em relação a si e ao paciente. (SILVA, 2007:11).
O padrão familiar clinicamente mais observado nas famílias dos adictos
(nas quais um dos seus membros é adicto ou seja dependente químico ), tem
como característica indefinição hierárquica ou ausência de barreiras entre
gerações, regras e limites ausentes ou ambíguos e vínculo de dependência
simbiótica entre os membros .É comum também a mãe do dependente químico
ter um perfil superprotetor, controladora e hiper funcionante, enquanto a figura
paterna é ausente ou periférica e sem autoridade embora possa ser autoritário
(.GROISMAN, 2003:187,188).
O padrão simbiótico das famílias adictas faz com que exista nelas uma
dificuldade em relação à imposição de limites. Dar limites implica dizer não,
contrariar, o que acarreta o risco de separação, desunião, ainda que
momentânea, ocasionada por uma pequena briga. No “não” vem sempre
embutido um risco de perda: para quem o recebe, que frustra ao perder a
esperança de ter o que pediu, quem dá teme decepcionar e ser abandonado
pela pessoa querida. (GROISMAN, 2003:194).
Os pais estão sendo chamados para participar na educação dos filhos, e
isto pode ser uma grande vantagem para eles, no entanto não foram treinados
para isso e, em geral, acabam não sabendo a melhor forma de colocar limites.
Na grande maioria das vezes, acabam por não querer repetir a educação
repressora que receberam, ou mesmo por comodismo, sabemos que educar é
mesmo desgastante e trabalhoso. (BOECHAT, 2007:17).
Alguns pais, entretanto, confundem autoridade com autoritarismo, a
postura agressiva por parte dos pais, chegando por exemplo á violência física
para que sejam respeitados, denuncia falta de autoridade, já que não
conseguem se impor pelos meios naturais. O papel do pai é confundido como
amigo e irmão, ele não consegue se colocar no patamar superior como
autoridade e isso traz uma confusão na educação dos filhos..
É comum a família buscar ajuda nos centros de tratamento
especializado, desesperada porque o dependente químico não aceita se tratrar.
Ela será orientada, em grupo com outras famílias ou separadamente, a dizer
não, dando limites ao adicto como objeto de ele deparar com as conseqüências
negativas do uso da droga. Como o dependente químico nega a sua condição,
ele acaba aceitando tentar algum tipo de ajuda a partir de limites externos
como :ameaça de demissão no trabalho, problemas graves de saúde, pressão
familiar , ausência de dinheiro, problema com a lei. A família precisará se impor
em relação a dinheiro, horário, enfim determinar as regras da casa para que o
dependente químico se sinta disfuncional, desadaptado e marginal no seu
próprio meio. Percebendo-se excluído e sem conseguir da família dinheiro e
outras facilidades para continuar consumindo o álcool e/ou drogas, ele fica
cada vez mais propenso a aceitar o tratamento para se sentir novamente
pertencendo ao grupo. (GROISMAN, 2003:195).
A Terapia Familiar Sistêmica caracteriza-se por ter como seu cliente a
família, diferenciando -se dos métodos tradicionais por seu tempo de duração
breve e objetivos específicos: recuperação social do individuo através da
redistribuição do papel de cada um no contexto familiar .A doença deixa de ser
de um para ser de todos, é a responsabilidade repartida.
O fortalecimento da família problemática com droga é a confiança entre
os membros envolvidos tendo uma comunicação aberta na colaboração da
crise existente tendo a capacidade de aumentar sua resiliência, assim tendo a
capacidade de suportar as recaidas do dependente químico enfrentando os
desafio da vida.
A resiliência é construída através da crise e da adversidade e não apesar
delas. É preciso se dar conta de que a capacidade inerente à resiliência, de
recuperar-se dos golpes da vida, não reside meramente em ultrapassar a crise
como se fosse o preço para livrar-se de uma experiência penosa. Ao contrário,
a resiliência implica em integrar a totalidade da experiência na identidade
individual e familiar e na forma como os membros da família continuam
vivendo.
CONCLUSÃO
A família brasileira tem passado por muitas transformações,
acompanhando os acontecimentos históricos, econômicos, sociais e
demográficos, no decorrer do último século. A idéia que se tem de família como
um grupo relativamente bem estruturado envolvendo o pai, a mãe e os filhos,
em um grande número de vezes, não corresponde à diversidade dos modelos
existentes na atualidade.
A família mesmo sendo atingida em sua base estrutural não pode
perder o sentido de que ela é responsável pelo cuidado de seus membros,
tendo assim o dever de educá-los, criá-los e assistí-los.
Hoje já se reconhece que a drogadição é uma doença e que o
dependente químico precisa de ajuda de profissionais especializados na busca
da recuperação, quando alguém se torna dependente químico não consegue
ficar sem se drogar pois a substância que age no cérebro, provoca alteração
nas funções mentais, produzem este efeito modificando a comunicação entre
as células cerebrais chamadas neurônios.
Dessa forma, as drogas usadas abusivamente alteram as funções como
do raciocínio, emoções, os sentimentos e audição, o desejo incontrolado de
usar droga pode leva a pessoa ter vários comportamentos de humor deprimido
ou ansioso, e por isso geralmente o tratamento da recuperação do adicto é
muito difícil por saber que ao longo do tempo poderá ter várias recaídas.
A família é a base de sustentação capaz de tolerar os problemas
advindos desta situação, pois a existência do uso de drogas por um membro da
família promove um desequilíbrio na estrutura familiar.
O que se percebe é que o usuário de drogas tem um papel de agente
catalisador que adoece para proteger o grupo familiar, mantendo sua
homeostase .
Um dos membros é rotulado como bode expiatório, com a mesma
finalidade impedindo que haja mudança nos padrões rígidos de
relacionamento do grupo e assim se constrói o paciente identificado.
�� O porta voz das dificuldade emocionais da família�� passa a ter uma
intervenção direta do terapeuta sistêmico que propõe a reestruturação em
suas relações e seus papéis, a fim de produzir uma melhor qualidade de vida.
O terapeuta sistêmico assume uma intervenção breve, diferenciada de
outros métodos tradicionais, tendo papel de agente de mudança no grupo
familiar dos adictos sem buscar culpados nas relações.
Nos grupos de orientação,os membros da família são estimulados a se
comunicar de forma mais eficaz , mais assertiva , sem agredir o outro.
O terapeuta busca prescrever algumas tarefas para se chegar ao
objetivo final estimulando as famílias mudar de comportamento e trazendo a
reflexão das fronteiras nas suas relações, dando responsabilidade para cada
um dos membros sem ter uma pessoa adoecida.
A doença deixa de ser de um para ser de todos, a responsabilidade é
repartida dentro do conjunto familiar.
Enfim, a família precisa conscientizar-se e engajar-se no tratamento da
dependência, participando do processo de tratamento dos adictos por meio do
comparecimento nos grupos de ajuda mútua e viabilizando o comparecimento
nas terapias.
Assim a família mostrará seu apoio ao dependente químico durante
esse difícil processo de tratamento, o que auxiliará a reconstrução de vínculos
temporariamente interrompidos por problemas da drogadição.
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes
Título da Monografia: Dependência química no contexto familiar e a
colaboração da Terapia Sistêmica para recuperação do dependente
químico.
Autor: Othon Hugo Pereira da Cruz
Data da entrega:
Avaliado por: Fabiane Muniz
Conceito: