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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A CONTRIBUIÇÃO DA NEUROCIENCIA E AS HABILIDADES
LÚDICAS – UMA PROPOSTA DE JOGOS E DINÂMICAS NA
EDUCAÇAO INFANTIL SOBRE O OLHAR DO NEUROPEDAGOGO
Por: Joilce Gomes Barreto Martins
Orientador
Profª. Marta Pires Relvas
Rio de Janeiro
2010
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A CONTRIBUIÇÃO DA NEUROCIÊNCIA E AS HABILIDADES
LÚDICAS – UMA PROPOSTA DE JOGOS E DINÂMICAS NA
EDUCAÇAO INFANTIL SOBRE O OLHAR DO NEUROPEDAGOGO
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como condição prévia para
A conclusão do Curso de Pós-Graduação
“Lato Sensu” em Neurociência Pedagógica.
Por: Joilce Gomes Barreto Martins
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter nos dado o dom da vida e a
oportunidade de crescermos profissionalmente com
força e determinação pra alcançar esse mérito.
Às minhas filhas Sâmia e Ghislene que sempre
ao meu lado me apoiaram com muito amor e dedicação.
A professora Marta Relvas pela orientação de nosso
estudo.
As nossas amigas de turma pelo
companheirismo durante este curso.
Aos nossos professores que colaboraram em
nosso crescimento acadêmico.
DEDICATÓRIA
Dedico ao meu pai e minha mãe (in memórian) que sem
sombra de dúvidas gostariam de estar desfrutando desse
momento junto a mim e que devido a circunstâncias da vida,
não puderam estar presente. A minha amiga Maria da Penha
que demonstrava sempre garra e determinação para superar
as dificuldades encontradas na vida e a todas as pessoas que
de alguma forma contribuíram para que mais esse sonho se
realizasse.
“A maturidade do homem significa ter
adquirido novamente a seriedade que a gente
tinha como crianças quando brincávamos”
Friedrich Nietzsche (1844-1900)
RESUMO
A neurociência tem como objetivo estudar o cérebro, incluindo suas
variações e suas disfunções, enquanto para a Neuropedagogia o objeto de estudo
é a vida humana, e especialmente o próprio cérebro, entendida não como um
computador, mas como um corpo que precisa do abraço, de lazer, social e jogar
para o seu desenvolvimento. Por esta razão a Neuropedagogia é uma ciência
emergente que irá empregar os melhores cérebros do terceiro milênio juntamente
com a neurociência na proposta de jogos e dinâmicas na educação infantil sobre o
olhar do neuropedagogo.
A neurociência desencadeia o processo de aprendizagem quando se utiliza
o processo lúdico, pois é de fundamental importância na educação infantil e por
isso, educadores e professores deverão desenvolver o pensamento crítico e
acadêmico sobre os estudos do funcionamento do sistema nervoso central sobre a
luz da neurociência, a fim de compreender como as atividades lúdicas fortalecem
a plasticidade neural do indivíduo.
Não é nenhum segredo que é muito mais fácil aprender o que nos dá prazer
e diversão, usando ferramentas lúdicas para o aprendizado, sendo que
acompanhadas pelo amor, carinho e compreensão de que necessitam os seres
humanos. Educação, neste sentido, deve ser interpretado como um processo de
cooperação e solidariedade, especialmente no desenvolvimento de atitudes de
compaixão.
METODOLOGIA
Foi procurado, na realização deste trabalho realizar uma pesquisa
bibliográfica sobre o assunto em estudo.
Na elaboração deste trabalho, foi encontrada certa dificuldade em achar
bibliografias concisas sobre a relação entre a Neurociência e o Lúdico.
Na primeira fonte de pesquisa a de elaboração e escrita foi recorrida a
consulta em artigos impressos atualizada como: Marta Pires Relvas, Roberto Lent,
e a grande obra de Michael gazzaniga, onde em se tratando de Neurociência,
essa obra é um verdadeiro Cérebro escrito, também em busca de artigos
referentes ao assunto entre vários outros.
Numa fase seguinte, além de revistas como Mente e Cérebro, American
Scientific, Ciências e Cognição.
A partir daqui, houve busca na relação entre a experiência profissional e os
trabalhos lidos e consultados na internet, para que o trabalho seja o mais próximo
da realidade. Os sites foram:
http://www.cienciasecognicao.org;
http//www.cerebromente.org.br/mente.htm;
httpwww.scientificamerican.com/sciammag/
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.....................................................................................08
CAPITULO I – As Origens da Inteligência Lúdica...............................11
1.1– Ação Lúdica: A Importância do Brincar na Educação Infantil........................13
1.2 - Representando Papeis, a Criança Constrói o Próprio Conhecimento............15
1.3 - A Utilização dos Jogos no Processo Ensino-Aprendizagem..........................20
CAPITULO II – Como se Aprende – Um Estudo das Competências e
Habilidades..........................................................................................24
2.1 - A Relação Entre o Cérebro e a Aprendizagem..............................................29
2.2 - Desenvolvimento Cognitivo da Criança na Educação Infantil........................34
2.3 - Contribuições da Neurociência: O Cérebro e o Brincar..................................37
CAPÍTULO III – Um Breve Histórico da Neurociência.........................45
3.1 - A neurociência no século XXI....................................................................... .47
3.2- Contribuições da Neurociência para o Desenvolvimento Lúdico....................49
3.3 - A Contribuição da Neurociência Lúdica Sobre o Olhar do Neuropedagogo..55
3.4 - O Conceito de Plasticidade Cerebral..............................................................59
CONCLUSÃO......................................................................................64
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................67
8 INTRODUÇÃO
O objetivo do presente estudo é saber se a neurociência desencadeia o
processo de aprendizagem quando se utiliza o processo lúdico, pois é de
fundamental importância na educação infantil e por isso, educadores e
professores deverão desenvolver o pensamento crítico e acadêmico sobre os
estudos do funcionamento do sistema nervoso central sobre a luz da neurociência,
a fim de compreender como as atividades lúdicas fortalecem a plasticidade neural
do indivíduo.
A Neurociência será de grande importância no auxilio e na compreensão do
que é comum a todos os cérebros e poderá nos próximos anos dar respostas
confiáveis a importantes questões sobre a aprendizagem humana, pode-se
através do conhecimento de novas descobertas da Neurociência, utilizá-la na
prática educativa. A imaginação, os sentidos, o humor, a emoção, o medo, o sono,
a memória são alguns dos temas abordados e relacionados com o aprendizado e
a motivação. A aproximação entre as neurociências e a pedagogia é uma
contribuição valiosa para o professor alfabetizador. Por enquanto os
conhecimentos das Neurociências oferecem mais perguntas do que respostas,
mas crê-se que a Pedagogia Neurocientífica esta sendo gerada para responder e
sugerir caminhos para a educação do futuro.
Os autores que embasarão este estudo são: Michael Gazzaniga (2006),
Marta Pires Relvas (2009), Santiago Ramón y Cajal (1904), entre outros.
Para esclarecer alguns conhecimentos básicos muito importantes para o
decorrer do trabalho. Marta Relvas (2009), diz que o universo biológico interno
com centenas de milhões de pequenas células nervosas que formam o cérebro e
o sistema nervoso comunicam-se umas com as outras através de pulsos
eletroquímicos para produzir atividades muito especiais: nossos pensamentos,
9 sentimentos, dor, emoções, sonhos, movimentos e muitas outras funções mentais
e físicas, sem as quais não seria possível expressarmos toda a nossa riqueza
interna e nem perceber o nosso mundo externo, como o som, cheiro, sabor.
Será mostrado que na relação entre o cérebro e a aprendizagem, o cérebro
armazena fatos separadamente, entre neurônios, e que a aprendizagem se dá
quando associados através das sinapses, essa associação ocorre quando novos
estímulos provenientes do meio através dos sentidos são propagados, daí a
importância do educador saber como proporcionar esses estímulos.
Outro objetivo da pesquisa será perceber como os fatores lúdicos
contribuem na formação da aprendizagem. Identificar qual a importância do
conhecimento da neurociência na proposta de jogos e dinâmicas nas séries
iniciais do ensino fundamental e verificar quais os avanços e descobertas na área
da neurociência ligada ao processo de aprendizagem são outros objetivos do
presente estudo.
O problema que norteará o nosso estudo será: qual a importância do
conhecimento da neurociência na proposta de jogos e dinâmicas na educação
infantil sobre o olhar do neuropedagogo?
Com o objetivo de orientar os professores na identificação de dificuldades
de aprendizagem, na busca de alternativas de solução e na elaboração de
relatórios sobre o problema, o neuropedagogo deverá, junto com os professores,
elaborar uma lista de aspectos que devem ser observados em relação aos seus
alunos: freqüência e circunstâncias em que as dificuldades da criança são
observadas, dados objetivos sobre o comportamento, contexto familiar, padrão de
sono, alimentação, saúde geral, características físicas peculiares, déficits
sensoriais e/ou motores, marcos do desenvolvimento, uso de medicamentos.
É necessário traçar uma linha entre a neurociência e a Neuropedagogia
porque seus métodos e objetos de estudo, mas isso não quer dizer que não pode
tecer ou regar as relações entre esses dois paradigmas, entender que os
10 adversários não estão opostos, mas complementares. Lado a lado, a partir de
pesquisa em neurociência e educação pode ser adquirido conhecimentos válidos
e significativos. Nenhuma dúvida sobre isso, agora que o homem é um processo
biológico, também um produto social e recreativo.
11 CAPÍTULO I – AS ORIGENS DA INTELIGÊNCIA LÚDICA
Para a construção dos conceitos de inteligências lúdicas, deve-se
inicialmente compreender alguns processos cognitivos que pode ocorrer no
ambiente intrauterino a que constituem os fundamentos psicológicos, biológicos e
sociais da personalidade e, por conseguinte, da inteligência humana.
O argumento da psiquiatria tradicional e da psicologia cognitiva levanta a
hipótese de que as crianças menores de dois anos dificilmente conseguem
pensar, devido à falta de estruturas cognitivas apropriadas. A neurociência
também coloca que as vias nervosas nesta idade não estão mielinizadas e em
consequência desse fato, não podem estabelecer conexões de mensagens devido
ao pensamento não estar ligado à linguagem.
Para muitos psicólogos e psicanalistas das linhas de Freud e de Lacan, o
ego começava a funcionar entre o segundo e o quarto ano de vida da criança.
Hoje em dia a medicina e a psiquiatria moderna levantam argumentos diferentes
como: que o ego da criança ainda no ventre materno começa aos seis meses, e o
sistema nervoso ainda se encontra em condições de transmitir sensações,
inclusive complexos a dos centros cerebrais superiores, o neo córtex. No entanto,
as fortes emoções da mãe como a ansiedade e a depressão, empurram o feto
para a ação, desta forma, a criança gira sobre seu corpo ou pelo contrário joga
com seu corpo para poder explorar o espaço que tem, são mecanismos de defesa,
cérebro reptílico e sistema límbico.
Segundo Carlos Alberto Gimenez Vélez, a capacidade lúdica
intelectual do bebê é certamente muito limitada devido a que
seu cérebro, apesar de ter seu sistema nervoso formado,
porém não tem a neuroplasticidade suficiente para um
completo desenvolvimento de todas as inteligências
humanas que requer para solucionar todo tipo de problemas
12
do seu dia-a-dia. As necessidades que o bebê apresenta
inicialmente são solucionadas de forma natural pela mãe que
tem capacidade de se identificar com o bebê para saber do
que ele necessita em um determinado momento (2005 - pág.
35).
Ainda segundo o autor, estas capacidades de compreensão da mãe são de
certa forma, um modelo mental do mundo lúdico que ela tem interiorizado, devido
a que quando ela foi uma menina, julgou a ser bebê durante muitas
oportunidades, até mesmo com seu pai ou sua mãe que lhe permitiu aprender de
forma natural o que é bom ou ruim para um bebê.
Desta maneira lúdica, a mãe compreende até os diferentes modos e usos
infantis da experiência do bebê relacionados a muitos casos.
Outros mecanismos que utiliza a mãe para suprir as necessidades do bebê
se dão através do jogo, pois os jogos que são praticados espontaneamente pelas
crianças nessa vida intelectiva, emocional, afetivas, estão de alguma forma
relacionada com o ambiente intrauterina.
Os jogos como: rolar e todos aqueles que implicam balanço e que de
alguma forma reproduzem movimentos naturais do embrião no ventre materno.
Neste sentido muitas crianças sentem atraídas instintivamente por estes jogos.
Ainda segundo este autor o ventre da mãe é a primeira escola lúdica do ser
humano, a qual se assiste e experimenta as primeiras emoções. Estas
aprendizagens intrauterinas ficam registradas na memória celular desta escola
biológica de onde o feto, com dez semanas, já tem formado o seu córtex cerebral.
As últimas investigações da neurociência demonstram que estas
aprendizagens se produzem no cérebro humano que proporciona a ele uma
espécie de atalho para as oportunidades, que registram diferentes saberes,
conhecimentos e habilidades.
13 1.1 – Ação Lúdica: A Importância do Brincar na Educação Infantil.
O elemento lúdico ou atividade lúdico-recreativa engloba o brinquedo, o
jogo, o brincar e a brincadeira. Cada um destes elementos tem uma objetividade
no desenvolvimento da criança.
O brinquedo é compreendido como qualquer objeto sobre o qual se debruça
a ação da atividade lúdica do brincar por meio da espontaneidade, imaginação,
fantasia e criatividade do brincante.
O brincar e o jogo, por sua vez, são compreendidos como atividades de
mesma natureza; no entanto, o brincar se constitui em ação, brincadeira,
divertimento, imitação, faz de conta, expressão livre; já o jogo, se constitui num
espaço de vivência diverso do universo habitual, no qual a fantasia e a realidade
se cruzam e existe um conjunto de regras e normas determinadas que, caso
quebrado, pode-se destruir este universo, um lugar de exercitação de habilidades
adquiridas por experimentação e vivência.
No decorrer desse trabalho, toma-se o elemento lúdico ou atividade lúdica
recreativa e o brincar como termos tocantes ao espaço da ludicidade.
O brincar é uma atividade essencial ao ser humano. O homem sempre
brincou sem distinção de regras, entre adultos, crianças e animais no decorrer da
história da humanidade. Dessa maneira, a ludicidade adquiriu um espaço de
excelência na formação humana.
Segundo Huizinga (1980), o elemento lúdico é algo presente desde a
gênese da civilização e desempenha papel importante na criação da cultura e no
desenvolvimento humano em sua totalidade. O lúdico é um fenômeno social,
anterior à cultura, fruto das relações da sociedade humana que, em sua essência,
promove divertimento, fascinação, distração, excitação, tensão, alegria,
14 arrebatamento, ação e emoções que perpassam as necessidades imediatas da
vida humana.
Educativo origina-se na antiguidade greco-romana; surge ligada à ideia de
relaxamento, necessário a atividades que exigem esforço físico e intelectual.
Neste sentido, Petri (2000) explicita que, se por um lado, Platão apontava a
importância de se aprender brincando em oposição à violência e a opressão, por
outro, Aristóteles sugeria que a criança aprendia brincando com os jogos que
imitavam atividades adultas como forma de preparo para a vida futura. Entretanto,
não se discutia, nessa época, o emprego do jogo no ensino da leitura e do cálculo.
Só posteriormente, no período da Renascença, essa preocupação aparece,
quando escritores como Horácio e Quintiliano, apresentam jogos de leitura, com
letras feitas de guloseimas por doceiras romanas, espécie do que hoje é
denominado alfabeto móvel, utilizado por eles no ensino da leitura e ingerido pelas
crianças como forma de introdução e digestão do conhecimento das primeiras
letras.
Na Idade Média, passa-se por um período em que o desenvolvimento de
atividades lúdicas: jogos, brincadeiras e exercícios físicos são equiparados com a
elevação da alma ao mundo das ideias.
Com o advento do Renascimento, surgem outras concepções pedagógicas,
nas quais a felicidade é considerada legítima. Assim, reabilitasse o brincar e o
jogo, que são incorporados, ao cotidiano dos jovens, como brincadeira como
conduta livre que favorece o desenvolvimento da inteligência e facilita o estudo,
divulga princípios de moral, ética e contemplam os conteúdos, o jogo torna-se
forma lúdica adequada para aprendizagem dos conteúdos escolares banindo,
neste momento, os processos verbalistas de ensino e a palmatória vigente no
cenário da educação infantil, pelo menos em tese.
No século XVIII, ocorre a popularização das brincadeiras e dos jogos
educativos. Nesse período, quando predominava a produção de bens rurais, o
15 brincar coletivo constituía uma atividade comum a adultos e crianças,
característico por ser corporal, socializado e prescindir de objetos e/ou brinquedos.
Ainda hoje, em regiões em que a sociedade rural é forte, esse brincar coletivo
persiste, como elemento da cultura, do riso e do folclore local.
Assim, o elemento lúdico é arrancado do cotidiano adulto e adquire lugar
apenas junto ao cotidiano infantil uma vez que a infância passa a se constituir
como fase importante do desenvolvimento do ser humano, do contexto social,
neste período.
Concomitantemente, por volta do início do século XIX, surge o brinquedo
industrializado, tão bem estudado por Brougère (2004), que transforma o brincar
em uma atividade solitária para criança, em função do apelo ao consumo de
brinquedos. Neste período, a escola, com objetivos educacionais demarcados,
passa a fazer uso pedagógico do brincar, didatizando-o de maneira forçada e
incoerente.
Nesse âmbito, no século XX, desabrocha a Psicologia Infantil com a de
brincar para o desenvolvimento infantil, como a psicogenética de Piaget (1978), a
teoria histórico cultural ou social de Vygotsky (1989) e a teoria comunicacional de
Bruner (1986).
1.2- Representando Papeis, a Criança Constrói o Próprio
Conhecimento.
O conhecimento se constrói, portanto, na inter-relação entre o sujeito e o
objeto; não existe um sujeito ou um objeto a priori, é na ação contínua que ambos
se constrói e se transforma mutuamente e continuamente.
Para Piaget (1973), a construção do conhecimento se dá através do
construtivismo, ou seja, exige uma interação entre o sujeito que conhece e o
16 objeto que é conhecido. Segundo Castañon (2005), há várias apropriações do
termo construtivismo, e a precisão do termo no sentido estritamente piagetiano
visa incorporar o papel da assimilação e da acomodação na construção do
conhecimento. Ciências & Cognição 2009; Vol 14 (1): 26-49 <http://www.cienciasecognicao.org>
Tão fundamentais ao ser humano como o alimento que o faz crescer são os
brinquedos e os jogos. Vão muito além do divertimento. Servem como suportes
para que a criança atinja níveis cada vez mais complexos no desenvolvimento
sócio-emocional e cognitivo.
Brincar e o jogar são atos indispensáveis à saúde física, emocional e
intelectual e sempre estiveram presentes em qualquer povo desde os mais
remotos tempos. Através deles, a criança desenvolve a linguagem, o pensamento,
a socialização, a iniciativa e a auto-estima, preparando–se para ser um cidadão
capaz de enfrentar desafios e participar na construção de um mundo melhor.
O lúdico possibilita o estudo da relação da criança com o mundo externo,
integrando estudos específicos sobre a importância do lúdico na formação da
personalidade. O jogo, nas suas diversas formas, auxilia no processo ensino-
aprendizagem, tanto no desenvolvimento psicomotor, isto é, no desenvolvimento
da motricidade fina e ampla, bem como no desenvolvimento de habilidades do
pensamento, como a imaginação, a interpretação, a tomada de decisão, a
criatividade, o levantamento de hipóteses, a obtenção e organização de dados e a
aplicação dos fatos e dos princípios a novas situações que, por sua vez,
acontecem quando se joga, quando se obedece a regras e quando se vivencia
conflitos numa competição, etc.
Depois da necessidade de afeto, de ser aceita, nenhuma outra é tão
intensa, na criança, como a necessidade do jogo. Através dele desenvolvem-se a
espontaneidade, a inteligência, a linguagem, a coordenação, o autocontrole, o
prazer de realizar algo, a autoconfiança . É a via para a criança experimentar,
17 organizar suas experiências, estruturar a inteligência para construir, aos poucos, a
sua personalidade.
O jogo para a criança é, antes de tudo, uma brincadeira. Mas é, também,
uma atividade séria onde o faz-de-conta, as estruturas ilusórias e a alegria têm
uma importância considerável. O surgimento do verdadeiro comportamento lúdico
está ligado ao despertar da personalidade. A busca da auto-afirmação manifesta-
se nos jogos sob duas formas: o apelo do mais velho, considerado como motor
essencial da infância, e o amor à ordem, à regra, levado até ao formalismo.
A criança, nos seus primeiros anos, gosta de “fazer-se de boba”, de divertir-
se, mas sabe a diferença entre jogo e brincadeira. O jogo é sério, quase sempre
tendo regras rígidas, incluindo fadigas e, às vezes, levando mesmo ao
esgotamento. Não é um mero divertimento; é muito mais. A criança que brinca de
médico leva tão a sério que briga se alguém interfere no brinquedo, não admitindo
zombarias. Ao observar uma criança brincando, a primeira coisa que chamará
nossa atenção será a seriedade dela. Observando sua fisionomia fazendo massa
de areia, edificando cubos ou brincando de barco, de cavalo, de trenzinho ou de
qualquer outra brincadeira, vê-se que dá toda sua alma ao assunto em questão e
que fica tão absorvida com tudo. Se as bonecas estão doentes, levam tudo tão a
sério que nada há de tão agressivo quanto intervir com palavras impróprias e
irônicas ou pedir para que se afaste do brinquedo predileto naquela hora.
O estudo do jogo oferece um verdadeiro laboratório de observações,
através do qual se pode ter uma visão global da infância: o jogo possibilita a
percepção total da criança nos aspectos anteriormente citados. O jogo, tal como a
linguagem, revela muito das estruturas sucessivas da criança. É uma boa maneira
de compreender certas atividades do adulto, como grandes criações do gênio
humano. O jogo tem um papel pedagógico. Daí a necessidade de trabalhá-lo no
desenvolvimento da criança e, até mesmo, no adulto.
18
Brincar não constitui perda de tempo nem é, simplesmente, uma forma de
preenchê-lo. A criança que não tem oportunidade de brincar sente-se deslocada.
O brinquedo possibilita o desenvolvimento integral da criança, já que se envolve
afetivamente, convive socialmente e opera mentalmente. Tudo isso ocorre de
maneira envolvente, sendo que a criança dispende energia, imagina, constrói
normas e cria alternativas para resolver imprevistos que surgem no ato de brincar.
O brinquedo facilita a apreensão da realidade e é muito mais um processo
do que um produto. É, ao mesmo tempo, a atividade e a experiência envolvendo a
participação total do indivíduo. Exige movimentação física, envolvimento
emocional, além do desafio mental que provoca.
Segundo PIAGET (1967 ), “O jogo não pode ser visto apenas como
divertimento ou brincadeira para desgastar energia, pois ele favorece o
desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo, social e moral.”
Através dele se processa a construção do conhecimento, principalmente
nos períodos sensório-motor e pré-operatório. Agindo sobre os objetos, as
crianças, desde pequenas, estruturam seu espaço e seu tempo, desenvolvem a
noção de casualidade, chegando à representação e, finalmente, à lógica. As
crianças ficam mais motivadas para usar a inteligência, pois querem jogar bem,
esforçam-se para superar obstáculos tanto cognitivos como emocionais. E,
estando mais motivadas, ficam mais ativas durante o jogo.
Através da atividade lúdica e do jogo, a criança forma conceitos, seleciona
idéias, estabelece relações lógicas, integra percepções, faz estimativas
compatíveis com o seu crescimento físico e desenvolvimento e, o que é mais
importante, vai se socializando.
Quando a criança brinca , ela joga, imita e representa. Não se pode
imaginar a infância sem seus risos e brincadeiras. Suponha-se que as crianças
parem de brincar, que os pátios de das escolas fiquem silenciosos. Ter-se-ia, aqui,
um mundo triste de seres calados, desajeitados, sem inteligência e sem alma. Ter-
19 se-ia seres que poderiam crescer, mas que conservariam, para sempre, as
características de seres sem vida.
“Pois é pelo jogo e pelo brinquedo que crescem a alma e
a inteligência. É pela tranquilidade do silêncio – pelos quais
anunciam freqüentemente no bebê as graves deficiências
mentais. Uma criança que não sabe brincar, uma miniatura
de velho, será um adulto que não saberá pensar”.
( Chateau,1908 ).
Observando uma criança nos primeiros anos, percebe-se que ela se
desenvolve tão bem em seu papel que se identifica com o personagem que
representa. Para compreender a natureza do jogo infantil, é necessário entender a
atitude lúdica tão misteriosa e tão cheia de encantos. É o caso de uma criança da
escola maternal que brinca com um pato de madeira, fingindo estar sendo bicada
pelo mesmo, embora o pato não tenha fenda no bico. Houve uma grande
confusão que testemunha, amplamente, a importância da atividade lúdica em sua
própria consciência infantil. A criança parece esquecer o real e se tornar um
personagem imaginário , e as pessoas à sua volta desaparecem, dando lugar,
apenas, ao objeto lúdico, apagando todo o resto. O jogo constitui, assim, um
mundo à parte, que não tem mais lugar no mundo dos adultos; é outro universo.
Nessa fase, o imaginário faz parte do mundo infantil, surpreendendo o
adulto, que não admite ser o jogo a fonte comum de todas as atividades
superiores. Nesse aspecto, o jogo pode ser evasão ou compensação. O próprio
adulto procura no jogo, às vezes, o esquecimento de seus problemas e uma
grandeza ilusória. A aposta, o bilhar e a caça são auxiliares da identidade do
adulto. A criança, reconhecendo-se pequena, também tenta se realizar no seu
mundo lúdico.
O jogo participa da natureza do projeto da vida. Brincar de papai e mamãe,
ou de mãe e filha, ou de aviador é exercitar-se no imaginário para a realização
20 concreta no futuro. O mundo do jogo é , então, uma antecipação do mundo das
ocupações sérias. A experiência do jogo concretiza, de fato, um treinamento
involuntário: a vida séria. “O jogo prepara para a vida, e é um artifício que conduz
à vida adulta e séria, como observou Groos” (Chateau, 1923). Através do jogo, a
criança conquista uma autonomia, uma personalidade e, até mesmo, aqueles
esquemas práticos, necessários à vida adulta. Não conquista através de coisas
concretas e pesadas para manipular, mas através de substitutos imaginários. Ela
opera como o futuro aviador que se exercita antes de se arriscar a pilotar um avião
real. O jogo é um artifício pela abstração: cozinhar pedras é uma conduta mais
simples que a da cozinha real; entretanto, nessa conduta mais simples vai se
formando a futura cozinheira. A personalidade adulta molda-se a cada experiência
vivenciada pela criança.
No ato da representação, o jogo muda de aspecto: torna-se intencional e
assume uma finalidade consciente. Não é um impulso de tendências, mas um
impulso de todo o ser consciente e voluntário. A história do jogo, na criança, é a
história de sua personalidade que vai se desenvolvendo e de sua vontade
conquistada aos poucos.
1.3 - A Utilização dos Jogos no Processo Ensino-
Aprendizagem.
O desenvolvimento infantil está em processo acelerado de mudanças, e as
crianças estão desenvolvendo suas potencialidades precocemente em relação às
teorias existentes.
Diante dos avanços tecnológicos, a criança deste novo milênio está
evoluindo. O cuidado com o recém-nascido, e os estímulos que o bebê hoje
recebe são muito diferentes dos cuidados de algumas décadas atrás. A mudança
21 de hábitos e atitudes dos adultos para com o recém-nascido ocasionou alterações
em todo o desenvolvimento infantil. As diferentes áreas do cérebro humano se
desenvolvem por meio de estímulos que a criança recebe ao longo dos sete
primeiros anos de vida.
Como os estímulos são diferentes, as reações também são. Os padrões de
comportamento para com o bebê e para com a criança na primeira infância se
modificaram, e as crianças de hoje são mais espertas e mais inteligentes do que
as crianças de algumas décadas atrás, gerando situações inesperadas.
Atualmente, pais trabalham fora , as famílias são menos numerosas, e as crianças
freqüentam, desde cedo, berçários, creches e escolinhas maternais, onde
recebem estímulos diferentes dos que recebiam aquelas que eram criadas em
casa pelos irmãos e que só eram levadas para a escola aos sete anos. É,
portanto, com essas crianças que o educador tem que saber lidar, tem que
reconhecer suas necessidades e procurar atendê-las dentro do contexto
educacional atual.
A criança, nos dias atuais, parece mais esperta e se desenvolve antes do
tempo previsto, pois algumas habilidades foram estimuladas. Já pode expressar
suas vontades, e seu intelecto é muito mais ativo. Porém, apresenta diferentes
formas de ansiedade, de medos e de insegurança com as quais o educador tem
que estar preparado para lidar.
Tem-se, hoje, educandos com características próprias de uma era
tecnologicamente desenvolvida; mas tem-se, também, grande número de crianças
imaturas e com dificuldades motoras que necessitam suprir as defasagens para o
desenvolvimento de suas potencialidades como pessoa. O desenvolvimento
infantil precisa acontecer, ao mesmo tempo, nas diferentes áreas para que haja o
equilíbrio necessário entre elas e o indivíduo como um todo. Quando o
desenvolvimento acontece apenas numa área, certamente outras ficarão em
atraso, e a criança ficará desequilibrada de alguma forma. Muitas crianças passam
22 a maior parte do seu tempo na frente da televisão ou com jogos eletrônicos. As
imagens hiperestimulam a área cognitiva, mas a criança não está desenvolvendo
as áreas afetivas e motoras.
É importante conhecer as características do aprendiz para se saber quais
são as potencialidades que estão sendo desenvolvidas e quais as esquecidas,
quais os transtornos que esse desequilíbrio pode causar no desenvolvimento do
indivíduo e como se pode estimular a criança para o processo ensino-
aprendizagem.
A criança deve ser vista sob três dimensões: a corporal, a afetiva e a
cognitiva, que devem se desenvolver simultaneamente. Se uma estiver sendo
desenvolvida em detrimento da outra, certamente haverá um desequilíbrio do
indivíduo em sua dimensão global. A criança utiliza, de forma eficiente, os
sentidos, e cabe aos educadores, vê-la como um ser completo, porém
inexperiente, que se tem de trabalhar e a quem precisa propiciar oportunidade de
pleno desenvolvimento. Se o educando mudou, igualmente o educador precisa
mudar. Os métodos tradicionais de ensino não atraem mais a criança: ela quer
participar, questionar e não consegue ficar parada horas a fio, sentada, ouvindo
uma aula expositiva.
A criança da atualidade é extremamente questionadora e não engole os
conteúdos despejados sobre ela sem saber o “por que” ou “para quê”. Portanto, o
professor deve saber como a criança aprende e como ensinar.
É muito mais fácil e eficiente aprender por meio de jogos. E isso é válido
para todas as idades, desde o maternal até a fase adulta. O jogo em si possui
componentes do cotidiano, e o envolvimento desperta o interesse do aprendiz,
que se torna sujeito ativo do processo; a confecção dos próprios jogos é, ainda,
muito mais emocionante do que apenas jogar. Muitos jogos ganham motivação
especial quando a criança os confecciona. As crianças devem iniciar o trabalho
por meio da escolha, o que é algo muito difícil para algumas. Aquelas crianças
23 muito tímidas, com baixa auto-estima, com sentimentos de inferioridade, possuem
grande dificuldade para escolher.
Crianças que não conseguem superar, nas séries iniciais, suas dificuldades
de aprendizagem ou emocionais vão, a cada ano, carregando um sentimento de
frustração e, muitas vezes, discriminadas pelos colegas e, às vezes, até pelos
professores, tornam-se crianças arredias e relaxadas com seu material, não se
relacionam consigo mesmas e nem com os demais, criando sérios problemas de
indisciplina em sala de aula.
Para a criança, o jogo é o exercício, é a preparação para a vida adulta. A
criança aprende brincando através de jogos que a faz desenvolver suas
potencialidades. O professor pode adaptar o conteúdo programático ao jogo, onde
estará trabalhando a motricidade, a área cognitiva e afetiva de seus alunos. Ao
inter-relacionar diversas áreas de conhecimento, o professor atende às
necessidades do educando de modo que o mesmo seja sujeito ativo do processo
ensino- aprendizagem.
24 CAPITULO II – COMO SE APRENDE – UM ESTUDO DAS
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES.
Ressalta-se nesse capítulo as habilidades e competências das idades de 0
a seis anos de idade, visto que, o processo da capacidade cognitiva, decorre dos
recursos aplicados na instituição, na família e na saúde da criança, em particular
aqueles com déficit de memória, o que leva a fazer uma pesquisa de como o
aprender pode auxiliar na manutenção da capacidade cognitiva e na prevenção
da queda da mesma.
Não importam quais sejam as diferenças individuais em relação à norma,
você pode ter certeza que o seu bebê se desenvolverá em um ritmo incrível
durante o primeiro ano de vida, da cabeça aos pés: ele adquire o controle sobre os
olhos, pescoço e mãos antes de aprender a usar suas pernas para andar. No
início, seu filhinho concentra-se bastante na própria boca porque as sensações de
sugar e enfiar coisas na boca são as que dão mais prazer. Logo, a habilidade de
usar as mãos se desenvolve. Com cerca de cinco meses, ele já pega brinquedos e
seu aprendizado se relaciona com a habilidade de manipular objetos. Quando
chega aos dez meses, ele reconhece e sorri para pessoas familiares e pode ficar
ansioso na presença de estranhos. Na mesma época, ele se torna um especialista
na arte de engatinhar (e de entrar em todos os lugares). Com cerca de um ano,
ele já começa a andar sozinho, um verdadeiro marco no desenvolvimento dele.
Segundo Gazzaniga; Ivry & Mangun, o
conhecimento sobre o desenvolvimento de
habilidades mentais é essencial para a compreensão
da organização e da função da mente. Para eles essa
investigação pode ser realizada em humanos e
25
animais. Nos humanos uma abordagem é
correlacionar à maturação de funções cognitivas
especifica com um estagio particular de
desenvolvimento neural. Se um comportamento
como, por exemplo, habilidade numérica aparece em
certo período pós natal, estruturas cerebrais que se
tornam funcionais ao mesmo tempo podem ser
associadas a esse comportamento (2006 – pág. 631).
Ainda segundo esses autores as diferentes abordagens do
desenvolvimento estão sendo aplicadas para investigar a percepção, a atenção,
as memórias, a linguagem, as habilidades motoras e os processos mentais
superiores como cognição numérica.
A diferença entre as capacidades dos recém nascidos e as dos adultos são
aparentes a qualquer um que tiver tempo para observar. Recém nascidos não
caminham, não seguram objetos, não falam, não compreendem quando fala com
eles. Essas diferenças podem ser explicadas de várias maneiras. Recém nascidos
podem ter todas as capacidades dos adultos, mas ainda não obtiveram – via
experiência – as habilidades dos adultos.
Jean Piaget é considerado por muitos o pai da psicologia moderna do
desenvolvimento. Ele propôs que, para alcançar a integração sensório motora e a
intermodalidade, as crianças em idade pré – escolar desenvolvem esquemas
sensório motores durante o período de inteligência sensório motora. Isto é,
aprendem a relacionar as aferências sensoriais com atos motores, e, assim,
podem apanhar, propositadamente, objetos que estejam olhando.
Durante esse estágio, Piaget argumentou que as crianças têm conceitos
rudimentares dos objetos de seu mundo. Mesmo quando é crescido o suficiente
para interagir com os objetos, não exibem habilidades como a permanência de um
26 objeto de acordo com o modelo de Piaget. Esconder um objeto de uma criança
durante esse período vai primeiramente levar a criança a ignorá-lo.
Posteriormente, a criança pode aprender a procurá-lo, mas não consegue integrar
novas informações sobre onde ele possa estar. Por exemplo, em testes repetidos,
se um investigador esconde um brinquedo de uma criança em sua frente, ela vai
explorar o lugar escondido para achar o brinquedo. Se o mesmo esconderijo é
usado em testes consecutivos, mas então um novo esconderijo e usado, ela vai
continuar procurando no original, locação bem praticada, embora veja que o
brinquedo está sendo escondido no novo esconderijo.
Com o crescimento da criança, esse comportamento perseverante diminui.
Piaget propôs que sucessos em tarefas como essa marca o fim do estágio e
inteligência sensório motora e que é o resultado de uma habilidade recém
desenvolvida para representar objetos e eventos internamente. Isto é, as crianças
podem pensar sobre objetos e atos que não estão mais em seu campo de visão.
Assim, as crianças são ditas a exibir a permanência de objetos quando não tem
mais dificuldade para conceitualizar a presença de um objeto fora do campo de
visão.
Muitos pesquisadores questionaram o conceito de Piaget sobre a natureza
limitada das capacidades de um recém nascido no domínio da integração
intermodal e da percepção de objetos. A natureza do questionamento depende de
quão rápido após o nascimento uma criança mostra uma habilidade particular. Os
críticos de Piaget argumentam que um recém nascido tem alguma forma de
integração de experiências sensoriais por meios das modalidades da visão, a
audição e do tato. Por exemplo, crianças recém nascidas, quando dado o suporte
de cabeça adequado, podem buscar localizar, visualmente, a origem e sons
emitidos no ambiente. Isso sugere uma habilidade bem desenvolvida de
integração intermodal visual e auditiva.
27 Se as crianças em idade de pré-escolar tivessem a permanência de objetos
bem desenvolvida, mesmo em um estágio precoce, como poderíamos explicar o
comportamento perseverante quando o investigador escondia o objeto. Uma
interpretação tem a ver com o córtex frontal. É sabido que adulto que sofre de
dano no lobo frontal, não podem mudar seu repertório motor, perseveram com
uma resposta prévia. Crianças em idade de pré-escolar com comportamento
motor perseverante comportam-se como se fossem pacientes com lesão no lobo
frontal. Essa semelhança de comportamento pode ser interpretada de uma
maneira surpreendente e gratificante: crianças em idade de pré-escolar não têm a
mielinização completa das projeções neurais para/ do córtex pré-frontal, e, assim,
seu córtex frontal não é completamente funcional.
Gazzaniga; Ivry & Mangun, apontam que na
realidade, é trabalho da ciência modificar teorias com novos
conceitos com base em novos dados. Nos desenvolvimentos
perceptivos e cognitivos, descobertas recentes sugerem
mais habilidades nos recém-nascidos e nas crianças
pequenas. Ainda uma linha de tempo de maturação cognitiva
é, com modificações adequadas, útil, porque um objetivo da
neurociência cognitiva é relacionar a linha de tempo de
desenvolvimento neural para elucidar as bases biológicas da
cognição (2006 – pág. 637).
Para trabalhar com competências vai se encontrar frequentemente o
conceito de habilidade que se refere ao plano de "saber fazer" e decorre das
competências que são capacidades de produzir uma conduta. Os cognitivistas
separam as estruturas e mecanismos mentais dos comportamentos observáveis,
optando pelos primeiros. Assim, a competência de percepção, motora, cognitiva,
amnésica e remetem àquilo que o sujeito está, idealmente, em condições de
28 perceber, de fazer com seus músculos, de conhecer, de lembrar, sem que os
comportamentos o traduzam necessariamente de forma perfeita.
Segundo Marta Relvas (2009 – págs. 49,50) pode-se encontrar várias
teorias sobre como se dá essa função. Até bem pouco tempo, existia a idéia de
que a falta de capacidade de os neurônios se dividirem supunha a impossibilidade
de se fazer algo quanto às conexões e neurônios, impedindo, assim, o indivíduo
de aprender.
As reconexões neurais são uma reorganização responsável pelas
modificações que são observadas no sistema nervoso do indivíduo. Por esses
meios, diz-se que o indivíduo pode aprender e reaprender atividades
desenvolvidas por ele previamente de forma espontânea e harmoniosa. Porém,
este processo é gradual, dependendo do desenvolvimento do sistema nervoso,
devendo ser valorizados os pequenos progressos de cada dia.
Ainda segundo a autora, o cérebro pode promover reconexões de circuitos
neurais até quando há uma pequena perda de conectividade, pois tende a uma
recuperação autônoma, enquanto uma grande perda altera permanentemente a
função, põem, para tanto, necessita de objetos precisos, mantendo níveis
adequados de estímulos facilitadores e inibidores, “possibilitando” alguma
reconstrução dessa conexão.
Os neurônios desenvolvem brotamentos
axonais, promovendo um aumento na habilidade
funcional e um aumento aparente na força por
intermédio do aprendizado. A prática de um exercício
ou uma atividade leva a uma melhora nas habilidades
e no desempenho dos indivíduos comprometidos com
lesões cerebrais. (2009 – pag. 50).
A aprendizagem, segundo LENT (2005) é o processo de aquisição de
novas informações que serão retidas na memória. A memória é a capacidade de
29 armazenar informações que possam ser recuperadas e utilizadas posteriormente.
O autor ainda define memória como o conjunto de processos neurobiológicos e
neuropsicológicos que permitem a aprendizagem.
2.1 - A Relação Entre o Cérebro e a Aprendizagem
Muitos fatores no cérebro não foram bem compreendidos, entre os
neurocientistas, mais se sabe que o cérebro possui uma plasticidade incrível, isso
é, sofre alterações a todo o momento. Essas alterações se dão principalmente na
ludicidade no momento em que o cérebro está sendo estimulado, modificando
assim a sua anatomia.
Segundo Paola Gentile (2005-p. 54) o cérebro possui bilhões de neurônios,
e cada neurônio pode ter até 100 mil contatos, essa áreas de contato entre
neurônios através de partículas de sódio, potássio, cálcio e cloreto é conhecida
como área sináptica onde ocorre a sinapse, isto é local onde ocorrem ligações
entre neurônios através de impulsos nervosos ou eletroquímico chamado de
potenciais de ação. Esse e um relatório que a autora faz com ralação a nossa
comunicação interna, que se da através de neurônios uma vez excitados por
estímulos.
Sabe-se hoje que o cérebro armazena fatos separadamente, entre
neurônios, e que a aprendizagem se dá quando associados através das sinapses,
essa associação ocorre quando novos estímulos provenientes do meio através
dos sentidos são propagados, daí a importância do educador saber como
proporcionar esses estímulos.
O homem deve saber que de nenhum outro lugar, mas do encéfalo, vem à
alegria, o prazer, o riso e a diversão, o pesar, o ressentimento, o desânimo e a
lamentação. E por isto, de uma maneira especial, adquire-se sabedoria e
30 conhecimento, e enxergando, ouvindo e sabendo o que é justo e injusto, o que é
bom e o que é ruim, o que é doce e o que é amargo... E pelo mesmo órgão
tornam-se loucos e delirantes, e medos e terrores assombram... Todas estas
coisas suporta-se do encéfalo quando não está sadio...
Segundo Fabio Barbirato e Gabriela Dias, durante o período pré-escolar, há
uma explosão de descobertas. Os padrões socioculturais de comportamento se
solidificam aos poucos. O desenvolvimento físico, motor e intelectual dá um salto.
A criança já pedala um triciclo, corre de um lado para o outro e reconhece seus
limites. Até outro dia um bebe sem autonomia, seu filho começa a se tornar uma
criatura complexa, capaz e ir e vir de acordo com a sua vontade, de dividir
pensamentos, emoções e intenções, de se expressar de modo abstrato, usando
símbolos, e até de ter empatia por outras pessoas (2009 – pag. 86).
A pré-escola é o espaço aonde a criança vai se socializar, desenvolver a
coordenação, aprender a lidar com tempo, espaço, percepção, desenvolver
linguagem, o pensamento lógico, aprender músicas, fazer artes plásticas, lidar
com a diversidade. E tudo isso de forma lúdica e saudável. É comum que a
criança fique ansiosa nos primeiros tempos dessa nova situação. É importante
tentar não passar preocupação à criança em relação às suas novas atividades, e
sim ressaltar os pontos positivos, falando bem da escola, das novidades, dos
amigos e brincadeiras. Dor de barriga, sono e manhas são atitudes freqüentes
nessa fase, que pode parecer dolorosa, mas é fundamental na construção da
personalidade da criança.
Gazzaniga; Ivry & Mangun (2006) enfatizam que há
controvérsias acerca do funcionamento cerebral; por um lado
alguns pesquisadores e cientistas acreditam que o cérebro
funciona como um todo; por outro existe um grupo que
defende que ele é formado por partes que trabalham
independentemente constituindo a mente. Estas convicções
foram responsáveis pelas pesquisas modernas, pois a visão
31
dominante acerca do funcionamento cerebral mudou muito
nos últimos 100 anos e continua a mudar. Atualmente o local
de uma lesão cerebral pode ser identificado em poucos
minutos através de métodos de imagem que mapeiam e
fotografam o encéfalo vivo.
A memorização é facilitada quando em eventos emotivos, pois, ativa o
sistema límbico. Mas de que forma isso ocorre? Liberando neurotransmissores,
fazendo com que os circuitos cerebrais ficam mais rápidos, facilitando a
armazenagem de informações e o resgate das que estão guardadas.
Segundo Dharma Singh (1998) as memórias são transportadas para o
armazenamento permanente pelo sistema límbico de duas formas:
Quando o sistema límbico emocional torna-se excitado ou estimulado em
relação a um acontecimento ou fato. Isso faz com que se produz neurotransmissor
excitador catecolamina, assim como a noradrenalina, que grava fortemente as
memórias no cérebro. A noradrenalina não só atua como um neurotransmissor
como também faz com que o organismo mande um suprimento extra de oxigênio e
glicose para o cérebro, ajudando-o sedimentar a memória.
Outra forma de mandar mensagem para um armazenamento permanente é
repetindo-as para si mesmo. Mesmo os estímulos mais tediosos podem ser
memorizados através da prática. No tocante a repetição, ler ou praticar algo por
várias vezes, consegue-se aprender o objetivo proposto, porém para facilitar a
aprendizagem deve-se trabalhar com fatores emotivos, como por exemplo,
música, teatro, charada dentro outros relacionados ao conteúdo proposto.
Em aulas diversas já foi observada a dificuldade de assimilação por parte
de alguns alunos, onde por falta de interesse ou até mesmo de motivação ficam
limitados a condicionamentos que inibem e até mesmo se excluem por questões
de gênero, raça ou até mesmo dificuldades motoras.
32
Então o que fazer? Sabe-se que a motivação é interna e que cabe ao
professor estimular para que de livre espontânea vontade, digo, por interesse
próprio participem, pois, quando praticando qualquer atividade com satisfação,
prazer, tem-se a liberação de glutamato que através das sinapses glutamérgicas
acessa uma rede inteira de neurônios pegando as partículas de memórias
juntando-as e promovendo a aprendizagem. Segundo Robert M. Sapolsky (1984)
as sinapses glutamérgicas tem duas propriedades essenciais para a memória:
1- Primeiro, sua função é não linear. Numa sinapse comum, um pouco de
neurotransmissor do primeiro neurônio faz com que o segundo fica um pouco
excitado; se um pouquinho de neurotransmissor ficar disponível, um pouquinho
mais de excitação ocorre, e assim por diante.
Nas sinapses glutamergicas, certa quantidade de glutamato é liberada, e
nada acontece. Mas, quando determinado limiar e ultrapassado, abrem se as
comportas do segundo neurônios, e que segue é uma onda maciça de excitação.
É essa onda que se torna essencial para o aprendizado.
2- A Segunda característica é ainda mais importante. Nas condições
adequadas, quando uma sinapses tem uma quantidade suficiente de experiência
superexcitatórias causadas pelo glutamato, ela se torna mais excitável
permanentemente. Essa sinapse acabou de aprender algo, ou seja foi
potencializada ou fortalecida. Daí em diante, basta um sinal mais sutil para
recordar uma memória.
No tangente a memorização, aprendizagem/desenvolvimento intelectual,
não se pode deixar de falar sobre Piaget, que contribuiu e contribui até hoje para a
educação, servindo de base para muitos autores.
O desenvolvimento intelectual resulta da construção de um equilíbrio
progressivo entre assimilação e acomodação, o que propicia o aparecimento de
novas estruturas motoras. Com todo esse processo descrito, não basta dar
estímulos aos alunos, crianças e até mesmo adultos. Tem de saber como fazer
33 acontecer todo esse caminho de forma suave e tranqüila, que todos sem exceção,
aprendam de formas diferentes. Mas, como isso ocorre?
Os educadores temos que criar harmonia (comunicação) com os alunos,
conversando na mesma língua deles, a língua que eles entendam. Essa é a forma
em que os mesmo interiorizam (interpretam), codificam as mensagens provindas
do meio.
Baseada na citação de Antotny Robbins todos têm qualidades diferentes de
como interpretar os estímulos, que são de três formas a se conhecer: visuais ,
auditivas e cinestésicas. São as qualidades interiores que as pessoas têm, de
apresentarem maior facilidade para aprender quando estimuladas sobre uma
dessas formas citadas acima.
As pessoas visuais têm maior facilidade de aprenderem vendo a cena
(estática), pode ser um conceito sobre algo ou uma foto sobre determinado
assunto.
As pessoas auditivas têm maior facilidade de aprenderem escutando sobre
o assunto, tem facilidades de memorização de sons.
Pode-se observar que ao aprender por associação, deve-se estimular ao
máximo as três formas de memorização afim, de otimizar posteriormente a
aprendizagem.
O cérebro é uma entidade que está em constante interação com o meio
através de estímulos que vem a facilitar ou dificultar a memorização. O cérebro
está sempre querendo fazer conexões entre as memórias novas e as já
existentes, trata-se de um sistema biológico aberto e flexível, que cresce e
transforma a si próprio em resposta a desafios e que encolhe na falta de uso.
Então não existem dois cérebros iguais, pois, uma vez que a aprendizagem
modifica-o quanto mais uma pessoa aprende, mais diferenciado torna-se o
cérebro.
34
Sendo o cérebro uma entidade biológica com uma fenomenal plasticidade,
deve-se estimular os alunos a desenvolver o poder de memorização através de
plano de aula que venha atender as necessidades, quanto ao armazenamento de
informações (experiência) para quando associadas, possibilitar a aprendizagem
sempre respeitando a maturação e dificuldades do individuo.
2.2- Desenvolvimento Cognitivo da Criança na Educação Infantil
Segundo Rebolo (1991, 2004), “aprendizagem é um processo que se
cumpre no sistema nervoso central, em que se produzem modificações mais ou
menos permanentes que se traduzem por uma modificação funcional ou
conductual, que permite uma melhor adaptação do indivíduo ao seu meio”. Dito de
outra forma: quando um estímulo é conhecido do sistema nervoso central,
desencadeia uma mudança. Isto é aprendizado, do ponto de vista neuropediátrico.
É evidente que o aprendizado não espera o período escolar para se iniciar.
De fato, começa junto com o processo neuromaturacional, que inicialmente está
fundido ao aprendizado e vai se separando e se individualizando.
O processo do desenvolvimento neuropsicomotor inicia-se já na vida intra-
uterina. Desde a terceira semana de gestação, já se tem evidências da formação
de estruturas nervosas.
A atividade nervosa da vida intra-uterina é predominantemente reflexa;
todavia, não impede uma rica vida de relação. O feto sente, ouve, dorme, acorda,
boceja urina, defeca.
O recém-nascido não é um ser inexperiente. Já vem com uma bagagem de
vivências pré-natal. Parte de seu repertório de atividades neurológicas é ainda de
atividades reflexas, mas o processo de aprendizado já é muito intenso.
35 A criança que demonstra prazer no brinquedo revela que seu organismo
está em vias de produção adequada de neurotransmissores que promovem a
integração entre as vertentes afetiva, conativa e intelectual, mobilizando
dispositivos que vão desde o tronco cerebral que regula a vida; o hipotálamo, que
preserva a memória e a continuidade do “self”; o sistema límbico, que rege a
afetividade (tálamo e córtices cingulados), até atingir as estruturas superiores
associativas neocorticais e os lobos frontais e neofrontais responsáveis pelo
pensamento, tomada de decisão, enfim, a mente consciente e criatividade.
Na construção do ser humano, o brincar representa um papel primordial em
suas diversas modalidades e manifestações universais. Desde o berço em contato
com a mãe e, posteriormente, com colegas, o brincar torna-se imperativo. A
mesma força que impele a comer e a amar, leva a criança a criar situações
lúdicas, sendo de tal magnitude o campo do brinquedo e dos jogos sazonais que é
impossível fazer um elenco de todos eles, com suas variações nas diversas
culturas. Mas o que chama a atenção é a repetição obsessiva e a coincidência
que se nota quanto aos brinquedos que são oferecidos a criança,
independentemente da situação econômica ou do ambiente cultural em que ela se
insere.
Durante os primeiros anos da vida escolar, na educação infantil ou na pré-
escola, os jogos ajudam na integração sensório motora, afetiva e intelectual,
integrando todos os setores da personalidade por sinapses bem fortalecidas e
aliando harmonicamente os lobos occipitais, temporais, parietais e estabelecendo
ainda conexões com setores subcorticais, como nos jogos de equilíbrio.
Na construção do cérebro e na construção do ser, é preciso lembrar que o
brincar desempenha um papel primordial em suas diversas modalidades e
manifestações que acompanham o bebe desde o berço.
Outro ponto importante é lembrar-se de que toda cultura humana é
condicionada às funções cerebrais: os humanos aprendem aquilo que seus
36 cérebros permitem. Mais do que isto: na alfabetização, a criança poderá ter mais
sucesso na cópia, menor sucesso na leitura e grande dificuldade no ditado e
mesmo na redação.
O que exige a cópia? Segurar os utensílios de escrita; boa colocação do
papel; adequada postura; discriminação visual; padrões espaciais e viso-motor
não-verbal; habilidade de copiar figuras etc. isto envolve uma aprendizagem visual
e sinestésica, adequada noção de espaçamento, atenção, memória,
reconhecimento, consciência dos erros e possibilidades de retificá-los,
miniaturização e ampliação, atividades que se dão no plano das ações
automáticas ao ter de ajustar o tamanho das letras ao espaço do caderno. Há
relativamente pouca diferença entre as habilidades necessárias para a cópia de
desenhos e para a cópia de letras e dígitos. Se a criança possuir estas
habilidades, desenhará provavelmente bem e copiará; nada, porém garante que
ela conseguirá ler ou fazer uma redação, uma vez que estas envolverão outros
analisadores da informação, isto é, conexão do lobo occipital e temporal.
Cognitivamente, todos os jogos requerem uma fase de aprendizagem, em
que o conjunto das funções intelectuais entra em cena. Desde a instrução verbal
relativa à estrutura do jogo até as mais complexas regras que devem ser
seguidas, o plano intelectual é totalmente mobilizado. Funções perceptivas,
sobretudo visuais são também requisitadas, desde a simples observação quando
só os colegas jogam, na fase ainda de imitação, até as fases posteriores em que a
criança em plena função deve tomar decisões, estabelecer planos, perspicácias,
artimanhas em qualquer tipo de brincadeira.
Processos cognitivos e emocionais quase sempre dirigem o crescimento
exitoso das capacidades cognitivas. A emoção vai dando forma à cognição e à
aprendizagem. As crises emocionais, naturais ao desenvolvimento ou específica
da pessoa, vão influenciar de forma crônica a evolução desta mesma
aprendizagem. (RELVAS, 2008, p. 95).
37
Ainda sobre a emoção e a cognição RELVAS define que:
Educar a emoção é a habilidade relacionada com o motivar a si mesmo e
persistir mediante frustrações, controlar impulsos, canalizando emoções para
situações apropriadas; praticar gratificações prorrogadas, motivar pessoas,
ajudando-as a liberarem seus melhores talentos, e conseguir seu engajamento a
objetivos de interesses comuns. (RELVAS, 2008, p. 113)
2.3 – Contribuição da Neurociência: O cérebro e o brincar
O Sistema Nervoso exerce funções específicas, uma das mais importantes
de nosso corpo. Nos vertebrados é o conjunto do centro nervoso (cérebro, medula
e gânglios) e dos nervos que asseguram o comando e a coordenação dos órgãos
e do aparelho locomotor, a recepção de estímulos sensoriais e, nos humanos, as
funções psíquicas e intelectuais.
De acordo com Guyton (1993), o Sistema Nervoso é responsável por três
funções principais: a função sensorial, a função integrativa, que inclui os
processos de pensamento e da memória; e a função motora. Existem dois
componentes principais no Sistema Nervoso: 1) O Sistema Nervoso Central
(formado pelo encéfalo e pela medula espinhal) e 2) O Sistema Nervoso
Periférico. O encéfalo é responsável pelas memórias, no qual são concebidos os
pensamentos, onde as emoções são geradas, e outras funções executadas nesse
complexo relacionado ao corpo. O encéfalo é a região principal integrativa do
Sistema Nervoso que está contida no interior da cavidade craniana.
A anatomia macroscópica do sistema nervoso humano é constituída pela
medula, ponte e cerebelo, mesencéfalo, diencéfalo e o cérebro. Este é formado
por dois hemisférios: direito e esquerdo. Os hemisférios se dividem em córtex
cerebral, gânglios de base, hipocampo e amígdala. Estes últimos são importantes
38 para o processamento das emoções. No córtex cerebral encontram-se os lobos,
região onde estão às funções ligadas ao pensamento e a inteligência. A mente
humana, como explicita Del Nero (1997: 73):
A mente humana surge de um cérebro constituído por
neurônios e por ligações entre eles. Onde está a
mente? Está no cérebro, mas é um conjunto de
funções...Entre suas funções estão a consciência, a
vontade, o pensamento, a emoção, a memória, o
aprendizado, a imagem, a criatividade, a intuição.
Segundo Lieury (1997), como o cérebro não pode ser compreendido por
uma única ciência, as neurociências agrupam todas as disciplinas que envolvem
esse estudo, principalmente, a neurologia, seguida pela neurobiologia, a
neuropsicologia, a neurofarmacologia e, também a psicologia. Cada uma tem
papel fundamental nos estudos e nas descobertas sobre o cérebro.
O cérebro é tão complexo que não pode ser
compreendido por pesquisadores de uma única
especialidade, mas no âmbito de diferentes
disciplinas, dotadas de técnicas cada vez mais
refinadas, aparelhos médicos de produção de
imagem, eletrodos profundos, bioquímica e
farmacologia: é a perspectiva das neurociências, na
qual a psicologia se insere propondo modelos de
funcionamento (LIEURY,1997: 18).
A neurociência é a área da medicina que está contribuindo para dar maiores
esclarecimentos sobre o funcionamento do cérebro humano. Isto vem ajudar a
compreender o que ocorre no cérebro humano, enquanto está em contato com
novas informações, com novas situações, com a aprendizagem em si.
Pesquisas recentes sobre o esse assunto e a ludicidade tem enfatizado esse
elemento como estratégia do desenvolvimento, que interfere na vida do ser
39 humano mesmo antes do nascimento. Há tentativa de se compreender o
desenvolvimento do cérebro desde o período da gestação. Santos explicita que:
No estudo do mapeamento cerebral foi determinado
que o brincar está localizado no quadrante superior
do hemisfério direito do cérebro. Como se sabe, a
mente humana tem um potencial ilimitado e o homem
usa muito pouco deste potencial. Inúmeras pesquisas
apontam um percentual de utilização do cérebro que
varia de 1% a 10%. Portanto, há uma fonte
inesgotável de possibilidades a ser explorada. Destes
10%, analisando os paradigmas vigentes, percebe-se
que a racionalidade ocupa grande parte deste
percentual, ficando cada vez mais claro o quanto o
ser humano não se utiliza da ludicidade como uma
estratégia de desenvolvimento (2001: 12).
Segundo Gramingna (apud SANTOS, 2001), no hemisfério esquerdo há
predominância da razão e no direito da emoção. Observando sobre esse prisma,
quando se potencializa mais o hemisfério esquerdo, a pessoa tende a ser crítica,
disciplinada, utiliza mais a lógica, racionaliza, avalia, julga.As pesquisas em
neurociência têm revolucionado o ambiente científico, levando a grandes
repercussões na área da educação. Roger Sperry e Ned Herrmann estudiosos da
área provaram cientificamente que o cérebro humano tem funções diferenciadas
nos dois hemisférios (esquerdo e direito). Herrmann desenvolveu nova teoria
sobre a dinâmica cerebral, ao mapeá-la em quatro quadrantes (superior e inferior
direito e superior e inferior esquerdo) (apud SANTOS, 2001). Essas pesquisas
realizadas têm contribuído para o conhecimento nesta área, com novidades
cientificas principalmente, as que revelam, de uma forma surpreendente e veloz, a
anatomia do cérebro e seu funcionamento. Como assinala Sapolsky:
A neurociência progride a uma velocidade
surpreendente. Nós agora entendemos como os neurônios
40
se conectam uns com os outros e como morrem por lesões;
como nossos cérebros decodificam informações sensoriais e
coordenam o movimento dos músculos e, por fim, como os
humanos aprendem. E estamos descobrindo as bases no
cérebro de nosso comportamento: normal, anormal e
intermediário. Estamos mapeando uma neurobiologia sobre
o que nos faz ser o que somos (2004 : 96).
O cérebro de uma criança enquanto brinca, experimenta, explora, vivencia,
descobre, elabora suas descobertas, tem-se sem dúvida, um turbilhão de
neurônios a funcionar, a conectar, a interagir com a emoção manifestada pelo
momento lúdico. O neurônio é a célula especializada na captação e transmissão
da informação. Revela-se a aprendizagem e a ludicidade em cumplicidade a
trabalhar para o bem estar da criança, já que o homem, desde a sua origem,
busca a felicidade, independente da cultura, etnia, contexto sócio-histórico.
Parece distante e inatingível a conciliação entre neurociência e educação, no
entanto, já estão acelerados os estudos sobre o cérebro e a compreensão do
aprendizado humano. Os modernos métodos de neuroimagem, o mapeamento
das funções cerebrais, inauguram um novo momento, abrindo as portas para
várias descobertas. Novas técnicas e novos instrumentos de investigação
científica estão voltados para as aplicações da neurociência, haja vista a
complexidade da atividade cerebral e muito ainda há que se avançar (OCDE,
2003).
As pesquisas em neurociência revelam etapas para o desenvolvimento do
cérebro infantil, e a importância de que seja estimulado, tanto em casa, na escola
e no clube. A ginástica cerebral é fundamental, para que haja um bom
desenvolvimento. Aspectos como a musicalidade, o raciocínio lógico-matemático,
a inteligência espacial, a corporalidade e outros que dependem de circuitos que
são ligados logo na primeira infância, bem na época em que a criança aprende a
aprender.
41
Outro aspecto importante surge quanto à capacidade de adquirir uma língua,
que é uma característica da espécie humana. É necessário um equipamento
anatômico e neurofisiológico, em adequado estado de funcionamento. Somada à
formação da estrutura anatômica e neurofisiológica, está a especialização do
hemisfério esquerdo para a linguagem, que se estabelece progressivamente,
conforme as interações da criança com o meio, portanto, a aquisição da
linguagem é, sobretudo, um processo sócio-histórico (OLIVEIRA, 2002). Para
contribuir com a questão, Debortoli expõe:
A linguagem é o fruto dessa nossa rica experiência
humana partilhada. A linguagem é o que nos identifica como
atores (participantes e parceiros) nessa existência histórica;
é a forma através da qual nos ligamos uns aos outros,
expressando nosso entendimento de um mundo que é uma
construção nossa e, como linguagem pode ser
compreendido e comunicado (2002 :74).
Isso é o que se compreende como uma, dentre tantas experiências
humanas, pois, o ser humano possui a riqueza e a diversidade de sua existência
cultural, das infinitas possibilidades, enquanto seres capazes de interações e
manifestações culturais e sociais.
É necessário que as crianças sejam estimuladas, treinando e exercitando
permanentemente seu cérebro com as diversas atividades intelectuais ou lúdicas,
que possam aproveitar as oportunidades, e a partir daí lançar a semente para
encorajá-las aos exercícios elementares de reflexão e autonomia.
As crianças se envolvem em atividades diversas, que parecem, sempre,
ligadas à ludicidade. Essas atividades quando tornadas desafiadoras, aumentam
as conexões entre os neurônios por onde passam as informações cerebrais, as
sinapses, produzindo assim, novas combinações e criando maior expansão para
concentração e resolução de problemas para novas experiências.
42
Os jogos, as brincadeiras podem ser considerados atividades complexas
que exercitam o cérebro, levando as crianças à concentração e a capacidade de
inventar saídas para novas situações. Pode-se dizer que as crianças quando
colocadas diante de situações inovadoras, convidadas a criar e a pensar,
aumentam a capacidade do intelecto, de trocar informações consigo mesmas e
com o meio a sua volta.
Estão imbricadas na relação com os jogos e brincadeiras, as situações -
problema que fazem à criança desenvolver, o cognitivo quando precisam ir à
procura de soluções. Então brincar alarga as fronteiras do funcionamento mental
da criança. Os adultos não devem pensar que a brincadeira é uma forma
barulhenta ou desorganizada que ocorre no pátio da escola.
Nada mais enriquecedor do que propor atividades criativas e desafiadoras
na escola. A ludicidade, manifestada através de jogos, brincadeiras, músicas e
dramatizações, é muito significativa e motivadora, podendo proporcionar uma
aprendizagem em que a criança não desanime ou se sinta desmotivada, e o
aprender pode tornar-se verdadeiramente cativante e fascinante. A OCDE
questiona o modelo tradicional de educação:
Quanto mais conhecemos o cérebro humano, em
especial nos primeiros anos de vida, menos confortáveis
nos sentimos com o modelo tradicional de sala de aula e
com o currículo imposto da educação formal... Parece haver
dúvida de que o sistema atual de educação de jovens seja o
melhor para estimular a imaginação e a criatividade, a
autoconfiança e a auto-estima. Em todas as idades, mas em
especial na juventude, é preciso reconsiderar a importância
do brincar, o papel do estresse (tanto diante do desafio
quanto da ameaça) e as implicações da diversidade
humana (OCDE, 2003:26-27).
43
As descobertas sobre o cérebro permitiram que se soubesse mais sobre seu
funcionamento, de como ele opera e suas múltiplas possibilidades. As formas
distintas de pensar, criar e aprender leva-se a questionar se o atual sistema de
educação estaria acompanhando a complexidade e diversidade da plasticidade
cerebral que é encontrada, sobretudo nas crianças e nos jovens. A plasticidade
aqui entendida como a capacidade que o cérebro tem de mudar e aprender.
Ao se potencializar o hemisfério direito do cérebro, a pessoa tende a ser inovadora
e, no processo criativo, brinca, experimenta, intui, interage com as outras. Quando
está aprendendo, se observa a exploração, a descoberta, internalização e
compartilhamento. Estas características demonstram o predomínio da emoção,
que contribui para a ludicidade.
Ser lúdico, portanto, significa usar mais o hemisfério
direito do cérebro e, com isso, dar uma nova
dimensão à existência humana, baseado em novos
valores e novas crenças que se fundamenta em
pressupostos que valorizam a criatividade, o cultivo
da sensibilidade, a busca da afetividade, o
autoconhecimento, a arte do relacionamento, a
cooperação, a imaginação e a nutrição da alma. Ë,
por isso, que as descobertas cientificas sobre a
dinâmica cerebral foram importantes para o estudo da
ludicidade como ciência (SANTOS, 2001: 13).
Nesse sentido, percebe-se a quebra de paradigmas, substituindo a velha e
tradicional educação, que reforça a instrução, por uma educação que valoriza e
respeita a emoção e o lúdico, tão peculiar às manifestações infantis. Embora a
ludicidade estivesse presente na história do homem, a educação, por muito tempo
recusou-se a reconhecê-la como estratégia viável para a prática pedagógica. As
inúmeras possibilidades que o cérebro apresenta quando acionado, também, o faz
pela via da ludicidade. O exercício do brincar leva a caminhos enriquecedores na
44 construção do conhecimento, de novas descobertas, e outros aspectos não menos
relevantes no processo do crescimento, da autonomia e da reflexividade.
Para tornar o aprender das crianças verdadeiramente cativante e fascinante,
é necessário utilizar brincadeiras e jogos, para que se estabeleça contato
prazeroso com os objetos e com o mundo, fazendo com que o papel das emoções
torne-se significativo e as experiências lúdicas passem a ser estratégias
pedagógicas compensadoras.
Para Gardner (1999) deve-se pensar sempre no cérebro como situado no
interior de uma mente, que está em desenvolvimento e inserido em determinada
cultura. Que adota os matizes de vida dessa cultura, que por sua vez se encontra
em permanente mudança.
45 CAPÍTULO III – UM BREVE HISTÓRICO DA
NEUROCIÊNCIA
A neurociência cognitiva, atualmente, representa um híbrido de disciplinas,
de maneira que um estudante da mente deve estar atento a ter conhecimento em
várias áreas para entender completamente os tópicos nela estudados, pois esta
área muda rapidamente.
O imageamento do cérebro tornou-se um ponto central no estudo da mente
nos últimos anos.
O campo científico da neurociência cognitiva recebeu este nome no final da
década de 1970, no banco traseiro de um táxi da cidade de Nova York. Michael S.
Gazzaniga, estava com o grande fisiologista cognitivo George A. Miller, a caminho
de um jantar de confraternização no Hotel Algonquin. O jantar era oferecido por
cientistas das Universidades Rockfeller e Cornell, que estavam se esforçando para
estudar como o cérebro dá origem à mente, um assunto que necessitava de um
nome. Desta corrida de táxi surgiu o termo neurociência cognitiva, que foi aceito
na comunidade científica.
Agora a questão é: O que isto significa? Para responder a essa intrigante
questão, precisa-se voltar atrás e olhar não somente para a história do
pensamento humano, mas também para as disciplinas científicas de biologia,
psicologia e medicina.
Para compreender as propriedades miraculosas das funções cerebrais,
você deve ter em mente que foi a Mãe Natureza que as criou, e não uma equipe
de engenheiros racionais. Apesar de a Terra ter sido formada há
aproximadamente 5 bilhões de anos, e da vida ter surgido há cerca de 3,5 bilhões
de anos, os encéfalos humanos, na sua forma final, apareceu há somente 100.000
anos. O encéfalo dos primatas apareceu há aproximadamente 20 milhões de
46 anos, e a evolução tomaram seu curso para construir o encéfalo humano de hoje,
capaz de todo o tipo de façanhas maravilhosas – e banais.
Durante grande parte da história, o ser humano esteve muito ocupado para
ter chance de pensar sobre o pensamento. Embora não se tenha dúvida de que o
encéfalo humano possa exercer tais atividades, a vida exigia atenção a aspectos
práticos, como a sobrevivência em ambientes adversos, a criação de melhores
maneiras de conviver, inventando a agricultura ou domesticando animais, e assim
por diante. Entretanto, logo que a civilização se desenvolveu a ponto de que o
esforço diário para sobreviver não ocupasse todas as horas do dia, os ancestrais
começaram a dedicar mais tempo construindo teorias complexas sobre as
motivações dos seres humanos.
Exemplos de tentativas de compreender o mundo e o lugar que nele se
ocupa incluem Oedipus Rex (Édipo Rei), a antiga peça do teatro grego que lida
com a natureza do conflito pai-filho e as teorias mesopotâmica e egípcia sobre a
natureza da religião e do universo. Os mecanismos cerebrais que possibilita a
geração de teorias sobre a característica da natureza humana prosperaram no
pensamento dos ancestrais humanos. Ainda assim tinham um grande problema:
não possuíam a habilidade de explorar a mente de forma sistemática por meio da
experimentação.
Em um trecho de um diário de 1846, o brilhante filósofo Soren Kierkegaard
escreveu: “Cognitiva, aquele que tem suas raízes na neurologia, na neurociência e
na ciência cognitiva. A neurociência cognitiva, atualmente, representa um híbrido
de disciplinas”.
Haveria microscópios pendurados do lado de fora das lojas para atrair
fregueses e teria uma placa dizendo: “Aprenda e veja através de um microscópio
gigante como um homem pensa (e, lendo esta placa, Sócrates teria dito: ‘Assim se
comporta um homem que não pensa’)”.
47
Alguns dizem que o cérebro tem um sistema especial para reconhecimento
de faces. Esse sistema especializado foi identificado porque pacientes com certas
lesões cerebrais tinham dificuldade em reconhecer faces de todo o tipo. Cientistas
imediatamente debateram sobre a possível existência de um sistema
especializado. Mas eis que surge um novo caso. Um paciente, com grande
dificuldade em identificar objetos do dia-a-dia, não tinha problema para identificar
faces! De fato, se a face era composta de frutas arrumadas de modo a parecer
uma face, o paciente dizia que via uma face, mas não reconhecia que ela era feita
de frutas! Incrível, mas real.
Parecia, então, que um sistema especial no cérebro reconhecia faces; esse
seria ativado para produzir a percepção em nossa consciência por meio da
configuração de elementos.
Este processador especial de faces não sabe e não se importa com os
elementos que as compõem: desde que os elementos estejam de acordo, uma
face é percebida.
O que poderia ser mais fascinante do que estudar como o cérebro faz tais
coisas?
3.1 - A neurociência no século XXI
Acredita-se que o século XXI será o século da informação, da sociedade do
conhecimento. Atualmente, os conhecimentos fornecidos pela Neurociência
servem de base para a funcionalidade cerebral do ser humano e para o
desenvolvimento da capacidade cognitiva. Portanto, o grande desafio do século
XXI é desvendar os enigmas cerebrais na esfera emocional e cognitiva do ser
humano.
48
Relvas diz que, [...] o universo biológico interno com centenas de milhões
de pequenas células nervosas que formam o cérebro e o sistema nervoso
comunicam-se umas com as outras através de pulsos eletroquímicos para
produzir atividades muito especiais: nossos pensamentos, sentimentos, dor,
emoções, sonhos, movimentos e muitas outras funções mentais e físicas, sem as
quais não seria possível expressarmos toda a nossa riqueza interna e nem
perceber o nosso mundo externo, como o som, cheiro, sabor. (2005, p.21).
Estas afirmações levam a crer que ações, sentimentos, sensações repostas
emocionais e motoras e pensamentos, isto é, informações sobre o estado interno
do organismo, não podem ser entendidas sem o fascinante conhecimento do
cérebro e suas múltiplas conexões. Para isso, precisa-se percorrer algumas
formas de comunicação que processam informações específicas ao ser humano.
Uma destas formas está relacionada aos neurônios que, através de suas células
especializadas recebem conexões, transportam sinais nervosos (elétrico e
químico), avaliam estas informações e, em seguida, coordenam atividades
apropriadas à situação e às necessidades das pessoas.
Quanto maiores são as buscas a respeito da Neurociência, mais
expectativas se tem de que a sua história ainda está sendo escrita.
Bear diz que:
A história demonstrou claramente que compreender
como o encéfalo funciona é um grande desafio. Para reduzir
a complexidade do problema, os neurocientistas o
“quebraram” em pequenos pedaços para uma análise
sistemática experimental. Isto é chamado de abordagem
reducionista. O tamanho da unidade a ser estudada define o
nível de análise. Em ordem ascendente de complexidade,
estes níveis são: moleculares (as moléculas permitem aos
neurônios comunicarem-se uns com os outros); celulares
(observam como as moléculas trabalham juntas para dar aos
49
neurônios propriedades especiais); de sistemas (estudam
como diferentes circuitos neurais analisam informação
sensorial, formam a percepção do mundo externo, tomam
decisões e executam movimentos); comportamentais (tipos
de memória, humor, sonhos...) e cognitivas (investiga como a
atividade do encéfalo cria a mente). (2006, p. 13- 14).
A partir desta perspectiva, Bear também descreve que a meta das
neurociências é compreender como o sistema nervoso funciona (2006, p. 20).
Portanto, estabelecer um diálogo e uma metodologia entre os vastos
campos destes níveis é um dos propósitos desta dissertação, até porque ela não é
voltada, especificadamente, a nenhuma especialidade médica, mas, volta os seus
olhares ao Ensino de Ciências, à formação de professores e à educação de
maneira global.
3.2 – Contribuições da Neurociência para Desenvolvimento
Lúdico.
A neurociência é a área da medicina que está contribuindo para dar maiores
esclarecimentos sobre o funcionamento do cérebro humano. Isto vem ajudar a
compreender o que ocorre no cérebro humano, enquanto está em contato com
novas informações, com novas situações, com a aprendizagem em si.
Pesquisas recentes sobre o esse assunto e a ludicidade têm enfatizado esse
elemento como estratégia do desenvolvimento, que interfere na vida do ser
humano mesmo antes do nascimento. Há tentativa de se compreender o
desenvolvimento do cérebro desde o período da gestação. Santos explicita que:
No estudo do mapeamento cerebral foi determinado
que o brincar está localizado no quadrante superior
50
do hemisfério direito do cérebro. Como se sabe, a
mente humana tem um potencial ilimitado e o homem
usa muito pouco deste potencial. Inúmeras pesquisas
apontam um percentual de utilização do cérebro que
varia de 1% a 10%. Portanto, há uma fonte
inesgotável de possibilidades a ser explorada. Destes
10%, analisando os paradigmas vigentes, percebe-se
que a racionalidade ocupa grande parte deste
percentual, ficando cada vez mais claro o quanto o
ser humano não se utiliza da ludicidade como uma
estratégia de desenvolvimento (2001: 12).
A Neurociência é e será um poderoso auxiliar na compreensão do que é
comum a todos os cérebros e poderá nos próximos anos dar respostas confiáveis
a importantes questões sobre a aprendizagem humana, pode-se através do
conhecimento de novas descobertas da Neurociência, utilizá-la na prática
educativa. A imaginação, os sentidos, o humor, a emoção, o medo, o sono, a
memória são alguns dos temas abordados e relacionados com o aprendizado e a
motivação. A aproximação entre as neurociências e a pedagogia é uma
contribuição valiosa para o professor alfabetizador. Por enquanto os
conhecimentos das Neurociências oferecem mais perguntas do que respostas,
mas crê-se que a Pedagogia Neurocientífica esta sendo gerada para responder e
sugerir caminhos para a educação do futuro.
Ao ignorar as peculiaridades da infância e as bases necessárias ao seu
adequado desenvolvimento, a educação infantil brasileira caminha entre acertos e
experimentações. É alvo fácil de propostas novidadeiras, por vezes apoiadas em
uma visão pseudocientífica, carente de sustentação mais sólida. A bola da vez são
as neurociências, mais precisamente as ciências cognitivas, que se propõem a
promover uma compreensão maior dos processos de ensino-aprendizagem.
51
Enquanto pesquisadores de todo o mundo reforçam a tese de que os
primeiros anos são fundamentais para a constituição cerebral, há quem aponte
para os perigos desse determinismo científico e de uma visão que induza à
hiperestimulação infantil.
O futuro da neurociência é brilhante. O perigo é que se está no pé da
montanha e muitas pessoas pensam que já se completou a escalada. É uma
grande montanha e vai levar um século para que se complete. Não se trata,
contudo, de negar a contribuição das neurociências para a esfera pedagógica. A
própria história da pedagogia como disciplina acadêmica construiu seus alicerces
a partir do diálogo com diferentes saberes. Traz em sua natureza contribuições
que vão da filosofia rousseauniana à Escola Nova da psicologia experimental; da
psicogênese descrita por Piaget (1983); aos estudos antropológicos e, no caso da
pedagogia infantil e, também, à visão recente da sociologia da infância, difundida
na década de 1990, com quase um século de atraso.
A questão não é condenar as neurociências. O importante é saber se serão
encontradas nelas as contribuições para o que parece central: conhecer o papel
da educação infantil. Seu agir educativo deve moldar-se a partir das referências do
ensino fundamental ou buscar caminhos para construir sua própria identidade,
enfatizar o que a criança já é ou valorizar o que lhe falta.
Há conflitos de sobra que precisam ser resolvidos e proposições que
parecem transcender a esfera pedagógica e caminhar para um debate que é
também ideológico. Afinal, quais são os mitos e as verdades extraídos das
recentes descobertas das neurociências e o que de tudo isso interessa à
educação, em particular à educação infantil?
Por enquanto, os conhecimentos oferecem mais perguntas do que
respostas, mas pode-se crer que a pedagogia neurocientífica está sendo gerada
para responder e sugerir caminhos para a educação do futuro, mas, como alertou
o pensador Morin (2007) em palestra realizada em São Paulo, a neurociência,
52 como outros aspectos da evolução humana, carrega em si uma promessa e uma
ameaça. A promessa é de um melhor entendimento dos processos cerebrais. A
ameaça é bastante cinzenta: a de que esse conhecimento possa levar à pior
manifestação totalitária, a de controlar seres humanos com informações advindas
do conhecimento científico.
Entretanto, proporcionar uma boa aprendizagem para o aluno não depende
só do professor, pois é fundamental para uma educação que pretende ajudar o
aluno a perceber sua individualidade, tornando-o também responsável pelo ato de
aprender, proporcionar a otimização de suas habilidades, facilitar o processo de
aprendizagem e criar condições de aprender como aprender. Nesse contexto
conhecer o seu padrão de pensamento pessoal e saber como usá-lo é o primeiro
passo para ser um participante ativo no processo de aprender. A compreensão de
como se pode lidar com certas características pessoais ajudará o aluno a
identificar, mobilizar e utilizar suas características criativas e intuitivas, pois cada
um aprende no seu próprio ritmo e à sua maneira.
É fundamental que professores estimulem individualmente a inteligência
das crianças, empregando técnicas que permitam a cada aluno aprender da
maneira que é melhor para ele, aumentando sua motivação para o aprendizado,
pois cada pessoa tem de encontrar seu próprio caminho, já que não existe um
único para todos (STERNBERG & GRIGORENKO, 2003). Considerando que
alunos diferentes lembram e integram informações com diferentes modalidades
sensoriais, analisar como as pessoas se relacionam, atuam e solucionam
problemas, identificar os estilos específicos da aprendizagem, torna-se bastante
útil (WILLIAMS, apud MARKOVA, 2000).
Partindo desse pressuposto, ao professor cabe oferecer, através de sua
prática, um ambiente que respeite as diferenças individuais permitindo que os
aprendizes se sintam estimulados do ponto de vista intelectual e emocional. Daí a
necessidade do educador, consciente de seu papel de interventor responsável
53 pela mediação da informação, buscar estruturar o ensino de modo que os alunos
possam construir adequadamente os conhecimentos a partir de suas habilidades
mentais. E para isso, é imprescindível que conheçam os significativos estudos da
neurociência, uma vez que esses, sem dúvida, influenciam na compreensão dos
processos de ensino e de aprendizagem.
No cérebro humano existem aproximadamente cem bilhões de neurônios
(unidade básica que processa a informação no cérebro) e, cada um destes pode
se conectar a milhares de outros, fazendo com que os sinais de informação fluam
maciçamente em várias direções simultaneamente, as chamadas conexões
neurais ou sinapses (BEAR, CONNORS, PARADISO, 2002, p. 704).
Se os estados mentais são provenientes de padrões de atividade neural,
então a aprendizagem é alcançada através da estimulação das conexões neurais,
podendo ser fortalecida ou não, dependendo da qualidade da intervenção
pedagógica.
A pesquisa e o interesse em neurociências tem crescido em resposta à
necessidade de, não somente entender os processos neuropsicobiológicos
normais, mas também para respaldar a ciência da educação.
É sabido que ocorrem dificuldades de comunicação entre neurocientistas e
educadores devido à linguagem diversa empregada em suas terminologias
específicas profissionais, bem como a utilização de temas, métodos, lógicas e
objetivos diferentes. No entanto, novos desafios históricos têm redimensionado e
emergidos novos paradigmas, os quais impulsionam a ciência e a todos aqueles
que se preocupam com a integridade humana, nos aspectos físico, emocional e,
em particular, sócio-cultural. Nesse âmbito atuam os processos sócio-
educacionais, cujos reflexos encontram eco na plasticidade das células cerebrais.
Todas as reflexões desta pesquisa tiveram como intuito maior
compreender e ainda que minimamente, contribuir na discussão e na procura de
respostas de como instrumentalizar o professor do ensino fundamental, através do
54 conhecimento das conexões neurais e plasticidade cerebral envolvidos no
processo de aprendizagem, visto ser este de vital importância para todos os seres
humanos. Através da aprendizagem, o indivíduo constrói e desenvolve os
comportamentos que são necessários para sua sobrevivência, pois não há
realizações ou práticas humanas que não resultem do aprendizado.
O estudo dos processos de aprendizagem e de todos os fatores que os
influenciam, constitui um dos maiores desafios para a educação, pois ao entendê-
lo e explicitá-lo, ocorre o desenvolvimento do sujeito dentro do contexto sócio-
histórico, e é através dele que se forja a personalidade e a racionalidade humana
para que o indivíduo esteja apto a exercer sua função social.
Durante todo ensino fundamental I, o professor é visto pelo aluno como um
exemplo a ser seguindo e sua opinião é de extrema consideração para o aprendiz.
Assim, todo e qualquer parecer do professor em relação ao aluno, torna
proporções determinantes para a formação da auto-estima do estudante.
Para a sala de aula, para a educação a Neurociência é e será uma grande
aliada para identificar cada ser humano, como único e para se descobrir a
regularidade, o desenvolvimento, o tempo de cada um.
A Neurociência traz para a sala de aula o conhecimento sobre a memória,
o esquecimento, o tempo, o sono, a atenção, o medo, o humor, a afetividade, o
movimento, os sentidos, a linguagem, as interpretações das imagens que faz-se
mentalmente, o "como" o conhecimento é incorporado em representações
dispositivas, as imagens que formam o pensamento, o próprio desenvolvimento
infantil e diferenças básicas nos processos cerebrais da infância, e tudo isto se
torna subsídio interessante e imprescindível para a compreensão e ação
pedagógica. Os neurônios espelho, que possibilitam a espécie humana
progressos na comunicação, compreensão e no aprendizado. A plasticidade
cerebral, ou seja, o conhecimento de que o cérebro continua a desenvolver-se, a
aprender e a mudar, até à senilidade ou à morte também altera a visão de
55 aprendizagem e educação. Ela faz rever o fracasso e as dificuldades de
aprendizagem, pois existem inúmeras possibilidades de aprendizagem para o ser
humano, do nascimento até a morte.
3.3 – A Neurociência Lúdica Sobre o Olhar do Neuropedagogo.
Não é nenhum segredo que muito facilmente aprender aquilo que dá prazer
e diversão, usando ferramentas lúdicas para o aprendizado, espera-se que
acompanhadas pelo amor, carinho e compreensão de que necessitam os seres
humanos. Educação, neste sentido, ser interpretado como um processo de
cooperação e solidariedade, especialmente no desenvolvimento de atitudes de
compaixão e altruísmo, ao invés de processos relacionados ao ensino ou
comunicação dentro do modelo unidirecional (emissor - receptor), que têm feito
muito dano aos pedagógicos e que, infelizmente, são validados paradigmas
atualmente na escola e na faculdade.
O jogo, como o desejo, o prazer, ou qualquer outra emoção, é um produto
mental do cérebro humano. Durante todo o processo do jogo em si produzir
neurotransmissores, hormônios peptídeos, moléculas de emoção que,
necessariamente, ativam alguns portadores do cérebro, especialmente todos
aqueles ligados ao sistema límbico. Lembre-se que o sistema límbico é composto
de uma série de núcleos localizados na lateral interna e dos dois hemisférios
cerebrais. De lá, ás longas fibras nervosas são conectadas a várias partes do
cérebro e, em seguida, todo o corpo através da medula espinhal. Nesta equipe
emocional por trás da alegria, medo, prazer, fuga e ataque o ser humano faz
quando visto em uma situação estressante.
No sistema límbico é a amígdala lateral, o que afeta o carinho, cooperação
e solidariedade que produz o jogo na aprendizagem. O mesmo vale para o septo,
56 a área límbico, que está intimamente ligado ao prazer e à diversão. Além disso, o
hipocampo também é ativado através do reforço de todos os processos
relacionados com a memória. Agora, não se aprende a jogar, o jogo nasceu como
qualquer informação cognitivos subjacentes memória filéticas lúdico do ser
humano, graças a isso que a criança nasce com a capacidade de saltar e jogar a
partir do ambiente intra-uterino.
Há outras áreas relacionadas com o jogo, e principalmente o carinho e
amor, que envolvam a aplicação na escola, vários conjuntos de papel cultural e
social que faz com que o núcleo caudado produz um grande número de moléculas
de emoção, como endorfinas e outros neurotransmissores, que causam o sujeito a
entrar em estados de sedação e embotamento-como drogas psicodélicas ou
substâncias psicotrópicas.
O simples fato de que os processos evolutivos do desenvolvimento humano
e intelectual, áreas do cérebro, e as áreas ligadas ao prazer (septo - o núcleo
caudado - amígdala lateral), em outros ligados à agressividade e depressão, ajuda
a entender as questões relacionadas com a aprendizagem, a criatividade e a
aplicação do conhecimento. Também o prazer, carinho, solidariedade e
cooperação produzindo atividades recreativas, permitem a construção de uma
vida social e comunitária.
Em humanos, existem três tendências básicas de comportamento (afeto,
prazer e agressividade), que, como já foi dito, uma relação direta com certas áreas
do cérebro que têm reforçado, entre outras coisas, todos os processos
relacionados socialização, educação e culturalização. Isto permitiu um verdadeiro
processo de desenvolvimento humano, o que acaba poderá exceder a agressão
humana e animal. Protin em conta, com muita sabedoria nos diz que o meio
humano está suspensa entre deuses e animais, o que faz sentido, pois apesar de
estar na primeira década do século XXI ainda muitas coisas Os seres humanos
são o comportamento hostil e criminal.
57
Com relação ao anterior, a nova educação deve ser responsável não
apenas para a construção do conhecimento e da cultura, mas as estratégias de
lazer regulares, em particular, utilizando o jogo, todos os instintos, impulsos ou
unidades associadas com agressão ou morte. O novo smart ambientes lúdico na
educação, vai fortalecer o campo dos valores, em especial, carinho, criatividade e
solidariedade, para facilitar a vida cultural na sociedade humana. Também
evidência no campo da neurociência neurofisiológicos nível do córtex show neo -
se expandido para os poderes sujeito intelectual e lhe permite neuromoduladores
e regular as unidades básicas relacionadas com o animal. Lembre-se que também
na memória do neo-cortex são armazenados por processos relacionados à
neuroplasticidade e aprendizagem.
Se educar é promover a aquisição de novos comportamentos e os
comportamentos resultam do funcionamento do cérebro, poder-se-ia dizer que o
conhecimento das bases neurobiológicas do processo ensino-aprendizagem seria
fundamental na formação do educador.
Com o objetivo de orientar os professores na identificação de dificuldades
de aprendizagem, na busca de alternativas de solução e na elaboração de
relatórios sobre o problema, o neuropedagogo deverá, junto com os professores,
elaborar uma lista de aspectos que devem ser observados em relação aos seus
alunos: freqüência e circunstâncias em que as dificuldades da criança são
observadas, dados objetivos sobre o comportamento, contexto familiar, padrão de
sono, alimentação, saúde geral, características físicas peculiares, déficits
sensoriais e/ou motores, marcos do desenvolvimento, uso de medicamentos.
A pedagogia, no entanto, tem outros métodos (fenomenológica,
hermenêutica, etc), e pode existir independentemente. Por isso, considera-se
pertinente para mediadores e processos complexos que nos permitem introduzir
um novo paradigma em construção, denominado Neuropedagogia.
58
No entanto, é necessário traçar uma linha entre a neurociência e a
Neuropedagogia porque seus métodos e objetos de estudo, mas isso não quer
dizer que não pode tecer ou regar as relações entre esses dois paradigmas,
entender que os adversários não estão opostos, mas complementares. Lado a
lado, a partir de pesquisa em neurociência e educação pode ser adquirido
conhecimentos válidos e significativos. Nenhuma dúvida sobre isso, agora que o
homem é um processo biológico, também um produto social e recreativa.
Para Neuropedagogia quanto para as Neurociências no processo de
desenvolvimento do cérebro era a prioridade surgimento e desenvolvimento dos
núcleos ligados ao afeto, prazer, ao lúdico (septo, núcleo caudado, coruleus
Locus) com relação ao relacionados núcleos com a agressão e a violência. Na
verdade o ser humano animais reorientados (cérebro reptiliano), às atitudes
construtivas, tal como se relacionam com a aquisição de conhecimentos e
experiências, especialmente para a vida social e cultural, onde Neuropedagógicos
processos em torno do jogo são essenciais para formação de atitudes de apoio,
compaixão e fundamentos do desenvolvimento humano. Cabe ressaltar que
Gadamer diz que "a primeira coisa a ficar claro é que o jogo é uma característica
fundamental da vida humana, tanto que você não pode pensar de toda a cultura
humana sem um componente de lazer.
Em resumo, a neurociência tem como objetivo estudar o cérebro, incluindo
suas variações e suas disfunções, enquanto para o Neuropedagogia o objeto de
estudo é a vida humana, e especialmente o próprio cérebro, entendida não como
um computador, mas como um corpo que precisa do abraço de lazer, social e
jogar para o seu desenvolvimento. Por esta razão Neuropedagogia é uma ciência
emergente que irá empregar os melhores cérebros do terceiro milênio
59 3.4 - O Conceito de Plasticidade Cerebral
Plasticidade [...] significa a posse de uma estrutura débil o bastante para
ceder a uma influência, mas forte o bastante para não ceder tudo de uma só vez.
Cada fase relativamente estável de equilíbrio em tal estrutura é marcada pelo que
Se pode chamar de um novo conjunto de hábitos. A matéria orgânica,
especialmente o tecido nervoso, parece provida de um grau extraordinário de
plasticidade desse tipo; e assim podemos estabelecer sem hesitação como
primeira proposta o seguinte: que os fenômenos do hábito nos seres vivos se deve
à plasticidade (p. 68).
Segundo Carlos Veléz (2008), ao nascer, a criança já está equipada com
cem bilhões de neurônios, que não aumentem na vida adulta, no entanto,
diminuindo em número. No entanto, no momento do nascimento o cérebro do
bebê pesa aproximadamente 360 gramas, em comparação com o de adultos
(1.400-1.500 gramas), o crescimento do volume do cérebro na infância (0-5 anos)
é, portanto, não aumento do número de neurônios, mas o grande aumento das
interligações entre os dendritos dos neurônios, devido ao desenvolvimento de
axônios e ramos eferentes e aferentes, e, finalmente, todos os processos que
permitem que as sinapses (incluindo o dez gritante aos quatorze anos), e
processos neuronais de parcerias em que cada neurônio pode se comunicar com
mais dez mil, ao mesmo tempo, ou seja, tocar e, por sua vez, é interpretada por
dez mil, mostrando as conexões que podem se Comparar quantitativamente, com
todos os átomos no universo. Em resumo, temos cerca de um trilhão de trilhões de
contatos neural com um único pensamento. Essa é a complexidade humana.
Santiago Ramón y Cajal (1904), em Textura Del Sistema Nervioso,
argumentou que a mutabilidade comportamental deve ter uma base anatômica no
cérebro, e assim estendeu a noção de plasticidade para o substrato neural.
Considerando a aquisição de novas habilidades, escreveu Cajal:
60
O trabalho de um pianista [...] é inacessível para o homem leigo, já que a
aquisição de novas habilidades requer muitos anos de prática mental e física. Para
entender plenamente este complexo fenômeno é necessário admitir, além do
reforço de vias orgânicas pré-estabelecidas, a formação de novas vias por
ramificação e crescimento progressivo da arborização dendrítica e dos terminais
nervosos (p. 296).
A plasticidade é uma propriedade intrínseca do sistema nervoso
conservada por toda a vida, e que não é possível entender a função psicológica
normal nem as manifestações ou conseqüências da doença sem invocar o
conceito de plasticidade cerebral. O cérebro, enquanto fonte do comportamento
humano é moldado projetivamente por modificações e pressões do meio
ambiente, mudanças fisiológicas e experiências. Este é o mecanismo para a
aprendizagem, o crescimento e o desenvolvimento – modificações no input de
qualquer sistema neural, ou nas metas ou exigências de suas conexões eferentes,
levam a uma reorganização do sistema que poderia ser demonstrável nos níveis
de comportamento, anatomia e fisiologia, até os níveis celulares e moleculares.
Portanto, a plasticidade não é um estado ocasional do sistema nervoso; ao
invés, é o estado contínuo normal do sistema por toda a duração da vida. Uma
descrição completa e coerente de qualquer teoria sensorial ou cognitiva tem que
inserir em sua estrutura o fato de que o sistema nervoso, e particularmente o
cérebro, passa por contínuas mudanças em resposta a modificações em seus
aferentes de input e metas de output. Implícito na noção comumente aceita de
plasticidade está o conceito de que há um ponto de partida definível após o qual
se pode ser capaz de registrar e avaliar a mudança.
De fato, não há tal ponto de início porque qualquer evento atinge um alvo
móvel, isto é, um cérebro passando por constantes mudanças acionadas por
eventos anteriores ou resultando de uma atividade de remodelagem intrínseca.
Portanto, não se deve conceber o cérebro como um objeto estacionário capaz de
61 ativar uma torrente de mudanças que chamamos de plasticidade, nem como um
fluxo ordenado de eventos guiados pela plasticidade.
Deve-se pensar no sistema nervoso como uma estrutura continuamente em
mudança, da qual a plasticidade é uma propriedade integral e conseqüência
obrigatória de cada input sensorial, ato motor, associação, sinal de recompensa,
plano de ação, ou percepção. Nesta estrutura, noções tais como processos
psicológicos enquanto distintos das funções ou disfunções de base orgânica
cessam de ser informativas. O comportamento levará a modificações no sistema
de circuitos do cérebro, que levarão a modificações do comportamento.
A correspondência da modificabilidade comportamental (James 1890) e da
plasticidade cerebral (Cajal 1904) não se dá em escala 1:1. Portanto, dependendo
das circunstâncias, a plasticidade neural pode não conferir qualquer modificação
perceptível no output comportamental do cérebro, pode levar a modificações
demonstradas apenas sob condições especiais de teste, ou pode ocasionar
modificações comportamentais que forcem o paciente a procurar assistência
médica. Pode haver perda de uma habilidade comportamental adquirida
previamente, liberação de comportamentos normalmente suprimidos no cérebro
não lesionado, tomada de uma função perdida por sistemas vizinhos (ainda que
talvez incompletamente ou através de estratégias e computações diferentes), ou o
surgimento de novos comportamentos que podem se revelar adaptativos ou
inadaptativos para o indivíduo.
A plasticidade em nível neural não diz nada sobre a questão da
modificação comportamental, e por certo não implica necessariamente em
recuperação funcional ou mesmo modificação funcional. O desafio que se enfrenta
é aprender o suficiente sobre os mecanismos da plasticidade e as relações de
correspondência entre a atividade cerebral e o comportamento para se ter a
capacidade de dominá-los, suprimindo modificações que possam levar a
62 comportamentos indesejados, acelerando ou aperfeiçoando ao mesmo tempo
aquelas que resultem em benefício comportamental para o sujeito ou paciente.
Cajal (1904) previu que com a aquisição de novas habilidades o cérebro se
modificaria através de um rápido reforço de vias orgânicas pré-estabelecidas e de
uma formação posterior de novas vias. Ao hipotetizar que o primeiro destes
processos é de fato um requisito necessário para o desenvolvimento do segundo.
A formação de novas vias só é possível depois do reforço inicial de
conexões pré-existentes. Portanto, a gama de mudanças plásticas possíveis é
definida por conexões existentes, que são o resultado do desenvolvimento neural
geneticamente controlado e eventualmente diferentes entre os indivíduos. O
reforço de conexões existentes, por outro lado, é conseqüência de influências
ambientais, do input aferente e da demanda eferente.
Estes dois estágios da plasticidade são ilustrados pelo seguinte
experimento (Pascual- Leone 1996, Pascual-Leone et al. 1995). Sujeitos normais
foram ensinados a tocar com uma das mãos um exercício para cinco dedos no
teclado de um piano conectado a uma interface musical computadorizada. Os
sujeitos recebiam instruções para tocar a seqüência de movimentos dos dedos
fluentemente, sem pausas, e sem pular qualquer tecla, enquanto prestavam
especial atenção em manter constantes o toque das teclas e também a duração
de cada toque. Um metrônomo forneceu um tempo de 60 batidas por minuto, que
os sujeitos deviam acompanhar enquanto executavam o exercício com feedback
auditivo. Os sujeitos foram estudados em cinco dias consecutivos, e em cada dia
tinham uma sessão de treinamento de duas horas seguida por um teste. O teste
consistia na execução de 20 repetições do exercício dos cinco dedos. O número
de erros seqüenciais diminuiu, e a duração, precisão e variabilidade dos intervalos
entre os toques nas teclas melhorou significativamente no decurso dos cinco dias.
Segundo Marta Relvas com atividades físicas regulares, o
sangue passa a circular e levar mais oxigênio às áreas
63
menos irrigadas do cérebro, aumentando a quantidade de
conexões neurais, melhorando a memória e a capacidade de
raciocínio. (2009, p.54)
Mesmo considerando-se esta mudança de limite, o tamanho da
representação cortical para os dois grupos de músculos aumentou
significativamente. Entretanto, este aumento só pôde ser demonstrado quando os
estudos de correspondência cortical foram conduzidos depois de um período de
descanso de 20 a 30 minutos depois da sessão de treino (e do teste) (Pascual-
Leone 1996). Nenhuma modulação foi notada nos mapas de output quando eles
foram obtidos antes de cada sessão diária de treinamento.
Notavelmente, o treino mental resultou em uma reorganização dos outputs
motores similar àquela observada no grupo de sujeitos que treinaram os
movimentos fisicamente. A estimulação mental dos movimentos ativa algumas das
mesmas estruturas neurais centrais requeridas para o desempenho dos
movimentos reais (Roland et al. 1987, Decety & Ingvar 1990). Sendo assim,
apenas o treino mental pode ser suficiente para promover a modulação plástica
dos circuitos neurais, colocando os sujeitos em vantagem por causa de um
aprendizado mais rápido com um treinamento físico mínimo, presumivelmente
tornando mais fácil o reforço das conexões existentes e talvez acelerando o
processo de emergência e consolidação de memórias.
64 CONCLUSÃO
Com base no objetivo geral que foi verificar como se dá a plasticidade e as
conexões neurais no processo de aprendizagem lúdica na educação infantil, foi
fácil entender que esses processos relacionados ao cérebro, a diversão e a
criatividade exigem uma visão mais ampla, ou seja, o cérebro passa por contínuas
mudanças em resposta a modificações em seus aferentes e enquanto fonte do
comportamento humano ele é moldado projetivamente por pressões do meio
ambiente. Este é o mecanismo para a aprendizagem, o crescimento e o
desenvolvimento que levam a uma reorganização do sistema que poderia ser
demonstrável nos níveis de comportamento.
A participação do neuropedagogo como especialista na área da
neuroeducação é entendida como uma conquista de orientar os professores na
identificação de dificuldades de aprendizagem, na busca de alternativas de
solução e na elaboração de relatórios sobre o problema, ele deverá, junto com os
professores, elaborar uma lista de aspectos que devem ser observados em
relação aos seus alunos: freqüência e circunstâncias em que as dificuldades da
criança são observadas, dados objetivos sobre o comportamento, contexto
familiar, padrão de sono, alimentação, saúde geral, características físicas
peculiares, déficits sensoriais e/ou motores, marcos do desenvolvimento, uso de
medicamentos.
De acordo com o objetivo que foi perceber como os fatores lúdicos
contribuem na formação da aprendizagem, ficou claro que o lúdico, por sua vez, é
compreendido como atividade que se constitui em ação, brincadeira, divertimento,
imitação, faz de conta, expressão livre e que a criança tem num espaço de
vivência diverso do universo habitual, no qual a fantasia e a realidade se cruzam e
existe um conjunto de regras e normas determinadas que, caso quebrado, pode
65 destruir este universo, que é um lugar de exercitação de habilidades adquiridas
por experimentação e vivência.
Outro objetivo foi verificar quais são os avanços e descobertas na área da
neurociência ligada ao processo de aprendizagem. Com este trabalho, visa-se
identificar que através do emprego de técnicas avançadas de neuroimagem,
permite importante evolução a respeito do conhecimento de circuitos cerebrais
responsáveis por distintas operações da cognição humana. A localização de
algumas funções cerebrais possibilita relacionar funções cognitivas com estruturas
mentais. As técnicas de neuroimagem despertam enorme interesse, pois, para
além dos dados estruturais, vislumbram a possibilidade de obter informações
fundamentais do funcionamento cerebral de atividades complexas. Quando
associadas a uma bateria selecionada de provas neuropsicológicas, podem
auxiliar na obtenção de um diagnóstico muito mais preciso.
De acordo com a problemática que foi: qual a importância do conhecimento
da neurociência na proposta de jogos e dinâmicas na educação infantil sobre o
olhar do neuropedagogo? Conclui-se que tanto para a Neuropedagogia quanto
para as Neurociências no processo de desenvolvimento do cérebro que a
prioridade e o surgimento do desenvolvimento lúdico estão ligados ao afeto e ao
prazer. Não é nenhum segredo que é muito mais fácil aprender o que dá prazer e
diversão, usando ferramentas lúdicas para o aprendizado, acompanhadas pelo
amor, carinho e compreensão. O desejo, o prazer, ou qualquer outra emoção, é
um produto mental do cérebro humano. A partir dessas perspectivas
Neuropedagógicas, um processo educativo seria possível através de ferramentas
lúdicas.
O uso do lúdico pode ser uma forma intencional de promover a
aproximação entre o docente e o discente, aumentando a afetividade e facilitando
os processos cognitivos destes. A Neurociência e suas áreas afins entoam a
66 interferência da emoção sobre a cognição. O professor pode fazer o uso da
ferramenta lúdica, primeiro como forma de aproximação.
O uso do lúdico está presente em todos os níveis da educação básica e não
somente nas series iniciais, onde é mais notório. A aula descontraída como ouvir
histórias, desperta o imaginário e favorece a aprendizagem, principalmente se for
dramatizada com jogos e brincadeiras, tornando a aprendizagem prazerosa,
aconchegante e desafiadora, pois o clima na sala de aula pode favorecer o
incremento da aprendizagem.
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