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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DA INTERDISCIPLINARIDADE DAS
MATÉRIAS TÉCNICAS NO CURSO SUPERIOR DE MODA
Por Viviane Nunes Castanheira
Orientador: Prof. Nilson Guedes de Freitas
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Niterói
2005
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DA INTERDISCIPLINARIDADE DAS
MATÉRIAS TÉCNICAS NO CURSO SUPERIOR DE MODA
O presente trabalho de monografia foi
elaborado como pré-requisito para obter o
título de especialista no Curso de Pós-
graduação “Lato Sensu” em Docência do
Ensino Superior, por Viviane Nunes
Castanheira.
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Aos meus filhos e ao meu marido, sem a
força dos quais não seria possível
concluir este trabalho.
DEDICATÓRIA
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Dedico esse trabalho aos meus alunos,
fonte de incentivo e aperfeiçoamento.
RESUMO
Esta pesquisa tem por objetivo mostrar a importância da interdisciplinaridade das matérias técnicas do Curso Seqüencial Superior em Estilismo da UCAM, e sua importância no processo de aprendizagem do aluno, enfatizando a montagem de protótipos ou peças piloto. Através de pesquisas bibliográficas, um breve panorama do mercado da Moda no Brasil e no mundo é traçado, considerando autores como Vincent Ricard e Moutinho, para em seguida diferenciar-se a conceituação de Alta Costura e Pret-a-Porter, na visão de Seeling, pretendendo fazer o leitor entender esses processos, tão complexos, porém ligados a problemas comuns na montagem de uma peça do vestuário. Em seguida, os problemas e sugestões para realização de projetos interdisciplinares, na abordagem de Fazenda, culminando com a sugestão de um projeto interdisciplinar, de acordo com as ementas do curso em tela, buscando um incremento no aprendizado dos alunos, com uma visão e abordagem mais profissionais desde os primeiros semestres.
Palavras chaves : Moda ; Ensino Superior ; Interdisciplinaridade
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 06
1. MODA 08
2. INTERDISCIPLINARIDADE 17
3. A INTERDISCIPLINARIDADE NO CURSO DE MODA 27
CONCLUSÃO 37
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 39
ANEXOS 40
ÍNDICE 41
FOLHA DE AVALIAÇÃO 42
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INTRODUÇÃO
A falta de integração das matérias técnicas do Curso Superior Seqüencial em
Estilismo (Moda) dificulta o aluno na aplicação de seu conteúdo teórico. Compromete,
além de seu aprendizado, o processo de montagem de uma peça qualquer do vestuário
contida nas ementas de modelagem.
O objetivo dessa pesquisa foi estabelecer a importância da interdisciplinaridade das
matérias técnicas desse curso e sua aplicação na montagem de um protótipo, também
chamado de peça piloto. Através de pesquisas bibliográficas, ficou clara a relação e a
importância da interação entre as disciplinas de Tecnologia Têxtil, Desenho e Ficha
Técnica e Modelagem.
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Matérias técnicas distintas como: tecnologia têxtil, (onde se aprende como são
fabricados os tecidos e os diversos tipos de matérias-primas utilizadas); modelagem
plana (onde o aluno aprende a fazer moldes em papel próprio para modelagem, moldes
estes que podem ser de qualquer ramo do vestuário - masculino, feminino, infantil, praia,
esportes, festas, onde usamos vários tipos de tecidos, que se comportam de modo
diferente quando cortados e costurados de acordo com o molde e o desenho técnico da
peça a ser executada); desenho técnico (matéria onde o aluno aprende a desenhar a peça
de roupa a ser confeccionada de forma bidimensional, ressaltando costuras, cortes,
botões, etiquetas, estampas, tipos de costura, enfim, tudo que houver de detalhes e
procedimentos para realização da montagem da primeira peça, a chamada peça piloto);
possuem estreita relação.
Em um primeiro momento será necessário colocar os professores das diferentes
disciplinas juntos, para conversarem. Isso porque a prática da troca de conhecimento
entre os professores das diferentes disciplinas não é feita, trazendo como conseqüência
planejamentos sobrepostos e muitas vezes contraditórios.
Mas só o fato de colocar os professores juntos não fará acontecer a interação. É
preciso deixar claro o que está sendo proposto, bem como estabelecer um conhecimento
mínimo sobre o que significa interdisciplinaridade. Para tanto será necessário distribuir
textos sobre a prática interdisciplinar e, em reuniões a serem realizadas, analisá-los à luz
da prática de cada um. Os planejamentos de aulas poderão ser revistos a partir de erros e
acertos, ora apontados pelos alunos ou pela coordenação e, depois de algum tempo,
pelos professores que estão trabalhando o projeto.
Desenvolvendo um projeto interdisciplinar e introduzindo um laboratório de
aprendizagem, observe-se, pois, que o simples exercício de elaborar peças piloto, usando
um conhecimento já existente, demanda por parte de quem o execute a aquisição desse
conhecimento, e com isso, as informações necessárias para concretizar o protótipo.
Entrando em contato com a aplicação prática de recursos técnicos, resgata-se o sentido
interdisciplinar na seleção dos meios a serem utilizados como instrumentos para uma
aprendizagem profissionalizante.
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No primeiro capítulo, um panorama da moda no Brasil e suas excelentes
perspectivas na área de criação de moda, tanto para o mercado interno quanto para o
externo, de acordo com revistas especializadas, detalhando, ainda, a diferença entre a
alta costura e o estilo prêt-à-porter, segundo Seeling.
No capítulo seguinte, uma breve introdução ao conceito de interdisciplinaridade,
suas aplicações e dificuldades de implementação em uma instituição de ensino, como
visto com Fazenda. Um rápido panorama da docência no ensino superior, suas
qualidades e problemas.
Finalmente, no capítulo 3, a grade curricular do Curso Seqüencial Superior em
Estilismo da UCAM, objeto desta pesquisa, com a intenção de mostrar a real
possibilidade de execução da proposta deste projeto interdisciplinar, que visa
incrementar o aprendizado do aluno, melhor preparando-o para o mercado de trabalho.
1. MODA
A moda surge no momento histórico em que o homem passa a valorizar-se pela
diferenciação dos demais através da aparência, o que podemos traduzir em
individualização. Todavia essa diferenciação de uns, visa uma identificação com outros,
pois a moda se dá através da cópia do estilo daqueles a quem se admira.
A moda é um fenômeno social de caráter temporário que descreve a aceitação e
disseminação de um padrão ou estilo, pelo mercado consumidor, até a sua massificação
e conseqüente obsolescência como diferenciador social.Uma moda é lançada como
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proposta de estilo. Sua origem pode estar na coleção de um estilista, num grupo de
jovens, em um detalhe de vestimenta idealizado pelo figurinista de um filme ou novela.
Todavia, independente de onde surja um estilo, seja das passarelas ou dos
subúrbios, para chegar a ser moda ele precisa ser aceito e imitado.
Ao atingir níveis elevados de consumo, uma moda torna-se massificada, ou seja,
de domínio geral. Neste ponto ela perde sua característica de diferenciador entre as
pessoas, já que todas possuem o mesmo bem, ou vestem o mesmo estilo. Logo um novo
item será eleito como preferido e o anterior considerado como obsoleto, fora de moda.
Pensadores como o sociólogo francês Gilles Lipovetsky e o antropólogo americano
Ted Polhemus, duas sumidades que vêm aprofundando o debate e a reflexão em torno
desse tema. Em visita ao Brasil em agosto de 2004, concederam uma entrevista a revista
Domingo do Jornal do Brasil. O francês passou uma semana aqui, proferiu palestras para
mais de setecentas pessoas na FAAP, em São Paulo, além de lançar seu novo livro
“Tempos Hipermodernos” da editora Barcarola. O americano veio a convite do SENAC-
SP, para discutir a presença do Brasil na cena internacional. Este é um trecho da
entrevista na qual a mesma pergunta foi respondida pelos dois:
Revista Domingo - Que novos caminhos o senhor apontaria para a moda na próxima década? Ted Polhemus - Em todo lugar do mundo as pessoas me perguntam qual será a próxima grande coisa na moda e eu digo que no futuro isso não existirá. A idéia de que cada ano haveria um new look é ultrapassada, antiga e não corresponde mais ao modo como as pessoas são. A moda não é mais uma ditadura. As pessoas não querem mais ser fashion victims, elas querem construir o próprio estilo. O futuro é a diversidade de opções e possibilidades vindas de todos os lugares. O Brasil tem grande oportunidade de influenciar o estilo de todo o mundo. Gilles Lipovetsky - Acredito que haja novas tecnologias que permitam criar novos tecidos. Como tendência, penso que cada vez mais o look esportivo e jovem ganhará importância. Tudo tende a ser mais natural e menos sofisticado. (REVISTA DOMINGO, 2004, p. 31).
A partir do momento em que o consumidor decide comprar suas roupas
respeitando seu modo de vida, ele passa a valorizar a figura do criador de moda, abrindo
espaço para novos talentos. Em meados dos anos 90, com a chegada ao mercado
brasileiro dos primeiros profissionais saídos dos cursos de moda e dispostos a não abrir
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mão do próprio estilo, o mercado brasileiro passou a oferecer várias novas marcas,
divertidas, diferentes, criativas e com grande variação de preços. O mais interessante é
que com o surgimento dos novos talentos, algumas grandes indústrias têxteis passaram a
oferecer os tecidos para os desfiles. A Rhodia trabalhou em parceria com onze estilistas
brasileiros, em 2003, na Semana de Moda de São Paulo, o que com certeza deu certo.
Em outra reportagem na Revista Domingo (2004, p.19) intitulada “Moda Brasileira
brilha em Manhattan”, contava que entre os grandes estilistas estavam os estilistas
brasileiros Francisco Costa, assinando a coleção Calvin Klein; Carlos Miéle, que tem fãs
como a cantora pop Christina Aguilera, e que tem seus vestidos de noite na vitrine da
Sacks da quinta avenida.
O fato é que moda gera empregos e muito dinheiro. É um mercado que está
atraindo centenas de jovens que estão buscando se profissionalizarem, e é nesse ponto
que entra a importância da aprendizagem, para que o futuro estilista ou designer de
moda crie excelentes coleções de moda.
1.1. Moda e Estilo
Tendência de moda é um conjunto de itens do vestuário considerados como
conceito de bem vestir. A tendência de moda é caracterizada pela temporalidade e pela
massificação. A tendência surgiu com o próprio fenômeno de moda, a partir do
Renascimento. Nessa época, a adoção de novos padrões visuais ainda não era vista com
uma constante e a quebra de tradições era vista com reservas. Todavia alguns grupos
vanguardistas enxergavam na adoção de novos valores não uma ruptura com o passado,
mas um processo de evolução. Desta maneira o surgimento de novos padrões no vestir
era visto positivamente, como valorização do “novo”. Por temporalidade, entendemos
que uma tendência terá um período de existência limitado, ela não tem a pretensão de
durar para sempre. O período de existência de uma tendência vai do lançamento por
grupos considerados de vanguarda até a total absorção pelo mercado e conseqüente
massificação de consumo. Na etapa final uma tendência de moda, que pode ter surgido
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como manifesto social de um determinado grupo, perde a característica de discurso
contestador tornando-se apenas efêmero padrão de vestir.
O movimento Punk, que surgiu em Londres a partir de 1976, representava a revolta
de jovens que não conseguiam colocar-se no mercado de trabalho. É fato que a grande
força empregadora de mão-de-obra jovem da Londres de então, consistia na indústria de
confecções. A resposta dos jovens que não conseguiam ingressar nessa indústria era
mais ou menos esta: “Se eu não tenho futuro nesta indústria, então esta indústria também
não tem futuro comigo”. Pensando assim, passavam a usar roupas destruídas e sujas, em
postura de desprezo à indústria da moda. Todavia essa antimoda acaba gerando um novo
padrão visual, capaz de ser adaptado e adotado por outros grupos que não os Punks
originais e, até mesmo, inspirando os criadores de moda. Esvazia-se o discurso rebelde e
o jeans rasgado vira chique, o couro preto e os cabelos coloridos perdem seu caráter de
pessimismo e agressividade, para se tornarem não mais que uma tendência de moda.
Ao ser adotado por celebridades da música e do universo pop e por jovens de
classes alta e média, que em nada estão relacionados ao desempenho dos ingleses, o
visual Punk exemplifica a segunda característica da tendência de moda: a massificação.
Um grande grupo passa a assumir um padrão visual como conceito de bem vestir
independente das ideologias que poderiam estar a ele associadas inicialmente.
A busca da identidade ocorre quando o indivíduo não se apropria de um padrão
vigente, mas imprime a sua marca pessoal, suas características de gosto e seu conceito
de harmonia e do belo. A capacidade de filtrar as tendências e transformá-las,
produzindo novas propostas que manifestam características pessoais é o estilo. O estilo
não rompe abruptamente com o passado, antes, busca ali, referências que legitimem o
novo como continuidade, como identidade.
Traçando um cenário para o futuro da moda, virá o fim da fidelidade à marcas, e na
valorização cada vez maior do estilo pessoal. O consumidor cria seus visuais com
liberdade, combinando peças de diferentes marcas, buscando expressar sua identidade.
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Como exemplo, a customização, que é a inferência do usuário, gerando alterações na
roupa de forma a personalizá-la e torná-la única.
1.2. Alta-Costura e Prêt-à-Porter
Existem duas maneiras para a produção e comercialização de artigos de moda: a
Alta-Costura e o Prêt-à-Porter.
A Alta-Costura é confecção artesanal, sob medida e com exclusividade. As grifes
(marcas) que hoje atuam no mercado de Alta-Costura são: Valentino, Chanel, Dior,
Lacroix, Givenchy, Balmain, Balenciaga, Versace e Lanvin. Trata-se de artigos de alto
custo e atendem a um mercado restrito de milionárias, celebridades e alta nobreza.
Estima-se que o mercado consumidor de Alta-Costura não seja maior do que duas mil
mulheres no mundo todo. O Prêt-à-Porter (pronto para vestir) surgiu depois da Segunda
Guerra Mundial, e logo se popularizou, por oferecer maior praticidade no adquirir de
roupas, variedade de estilos e preços mais acessíveis. Por Prêt-à-Porter podemos
compreender toda roupa que não é produzida para um consumidor específico e
exclusivo, mas sim um grupo de consumidores potenciais. Há, todavia, subdivisões de
maior ou menor exclusividade neste mercado, com marcas de Prêt-à-Porter de luxo, com
elaboração sofisticada e tiragens reduzidas, grifes, até marcas populares. O método
proposto na criação de peças-piloto no projeto do laboratório de aprendizagem, que será
explicado no último capítulo, serve tanto para a Alta-Costura como de Prêt-à-Porter.
1.3. Como são produzidos os artigos de Alta-Costura?
As roupas de Alta-Costura são produzidas com exclusividade e conforme as
medidas da cliente ou da manequim (no caso de peças confeccionadas para desfiles).
Normalmente são executadas três provas até que o modelo esteja concluído.
Criar uma coleção de Alta-Costura envolve não apenas o trabalho de um estilista e
sua equipe de colaboradores. Trata-se de um ritual que segue tradições que remontam ao
século passado e às rígidas normas da Chambre Syndicale de la Couture Parisienne.Os
modelos devem ser desenvolvidos artesanalmente e elaborados através da idéia inicial
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do estilista em um toile (molde em tecido de algodão ou forro) para depois ser
confeccionado no tecido que lhe for designado. No laboratório de aprendizagem, que é o
projeto que surgiu com a experiência em docência na área de modelagem do Curso de
Moda da UCAM, é utilizado o mesmo processo de montagem de uma peça-piloto, na
aula de atelier.
O que mais diferencia a Alta-Costura do processo industrial não é apenas a
exclusividade do modelo, mas a técnica como ele é construído. Nem todos os estilistas
de Alta-Costura dominam todas as etapas do processo que leva da concepção da idéia
até o modelo confeccionado.A maioria utiliza desenhos selecionados entre os esboços
realizados.Uma vez que o esboço é escolhido, o modelo deve ser redesenhado de forma
a fornecer o máximo de informações possível para quem irá executar a peça. Desenhos
ampliados de detalhamento, aplicações, bordados e acessórios fazem-se fundamentais
para que a idéia inicial do estilista não seja alterada.
A figura central neste processo, segundo Seeling (2000), é a première d’ateliê.
Trata-se do braço direito do estilista dentro do ateliê. Essa pessoa precisa interiorizar o
espírito da coleção, entender o que o estilista deseja transmitir. Cabe a première d’ateliê
a distribuição das tarefas que produzirão a roupa a partir do desenho, orientando o
trabalho de modelistas, costureiras e bordadeiras. Uma vez que o desenho é escolhido,
são tiradas as medidas do corpo da cliente ou manequim e é confeccionado um toile: um
molde prévio do vestido em tecido de linho ou algodão para definição de recortes,
pregas, detalhes e medidas. A primeira prova realizada é justamente deste toile. O toile
corresponde ao lado direito da peça, quando essa for simétrica, e não ao corpo total do
traje. Na Alta-Costura, o tecido definido para o modelo só é cortado depois do teste e
ajustes do toile. Nessa etapa, o toile é descosturado e usado como base para o corte do
tecido.
A segunda prova é realizada com o vestido ou traje alinhavado, no tecido
definitivo, e são examinados seu caimento, volumes e drapeados. Nessa prova são feitos
os ajustes necessários como linha de decote, comprimento de mangas e possíveis
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assimetrias do corpo que não são diagnosticadas na prova do toile apenas do lado direito.
A posição e o tamanho dos bordados também são definidos nessa etapa.
Entre a segunda e terceira prova, o vestido é deixado pendurado para esticar o
tecido, o que normalmente acontece em cortes godê ou modelos que receberam peso
extra em bordados. Desta maneira, quando a terceira prova é efetuada na cliente ou
manequim só restam os ajustes de bainha. O desfile, o show de Alta-Costura, serve mais
para a divulgação da marca e venda de produtos secundários do que para a
comercialização dos artigos de Alta-Costura.
1.4. Como são produzidos os artigos de Prêt-à-Porter?
As roupas do Prêt-à-Porter são produzidas em escala industrial. A quantidade varia
conforme o tipo de mercado para o qual a peça será distribuída. Existe o Prêt-à-Porter de
luxo, com tiragens mínimas e limitadas por modelo e o extremo: a produção em massa
para distribuição nacional ou mundial. Segundo a revista Veja (13 de junho de 2001), a
rede de lojas Riachuelo produz em média 1300 peças de cada referência para distribuir
entre suas 73 lojas.
A produção de Prêt-à-Porter se classifica em três categorias: fabricantes,
atacadistas e faccionistas. O confeccionista fabricante é aquele que coordena todas as
operações, como a compra e venda de matéria-prima, criação ou compra de desenhos
para os modelos, manufatura das peças e venda. A vantagem desse sistema é a
exclusividade sobre os modelos e controle de qualidade, Podem existir grandes
indústrias com esse perfil, especializadas em um determinado tipo de artigo (ex:
camisaria). Essa estrutura é característica de estilistas em começo de carreira. Requer
mão-de-obra altamente especializada e realiza a contratação de serviços para algumas
etapas do processo, como bordados, lavanderia (ex: jeans).
Uma boa parcela das marcas mais conhecidas no mundo hoje atua como
confeccionista atacadista. Realiza as operações de criação, compra de matéria-prima,
modelagem e planejamento de corte, vendas e distribuição. Todavia a etapa de costura
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das peças é feita em empresas menores subcontratadas: as facções. Esse tipo de indústria
possui custos menores de pessoal e maquinário, mas costuma enfrentar problemas de
qualidade com maior incidência do que os fabricantes que controlam todas as etapas de
produção. Marcas internacionais setorizam a produção nos locais onde podem obter
menores custos, como Malásia, China, Taiwan e Coréia.
A terceira categoria são os faccionistas e esses podem ser divididos ainda em dois
grupos: o primeiro, apenas realiza as operações de costura, acabamento e embalagem a
partir dos cortes recebidos de confecções atacadistas. Este tipo de indústria muitas vezes
utiliza mão-de-obra familiar e depende das vendas de clientes para ter o que produzir. As
facções são bastante comuns no Brasil, onde o alto custo da mão-de-obra faz com que as
marcas optem por manterem-se como atacadistas com a força de trabalho subcontratada
conforme a necessidade.
O segundo tipo de faccionista representa um tipo de indústria ainda pouco
popularizado no Brasil. São confecções que possuem uma equipe de criação que
desenvolve modelos para diversas marcas. Os produtos são oferecidos e testados em
lojas laboratório antes que as ordens de pedido sejam emitidas. Quando um modelo é
aprovado, o faccionista o produzirá com a etiqueta da marca cliente. É o chamado
mercado private label. Nesse caso, não são desenvolvidas coleções, mas peças avulsas
ou famílias de produtos conforme o perfil da marca que as irá distribuir no mercado.
1.5. A Formação em Moda
Os mestres da profissão - Christian Dior, Balenciaga, Yves Saint Laurent, Pierre
Cardin - foram por muito tempo o laboratório dos jovens talentos. Mas a seleção é árdua.
Para ser um Jean Paul Gautier ou um Christian Lacroix não basta querer. Entre os
grandes estilistas, há hoje 24 casas de costura e poucos recém-chegados. Cerca de 40
criadores são responsáveis por um Prêt-à-Porter bastante divulgado. É um número muito
pequeno, considerando os milhares de alunos das escolas de estilo.
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Para chegar à notoriedade é preciso intuição, capacidade de adivinhar os futuros
simultâneos da sociedade, e depois transmiti-los a modelos únicos. Mas a aparente
desenvoltura dos grandes criadores está sempre vinculada à precisão do trabalho. Só o
verdadeiro profissionalismo dá margem a todas as ousadias de estruturas e elaboração.
Ante a eclosão de diversas modas e a necessidade de dominar os campos de atuação, é
imprescindível formar-se numa escola de estilo ou modelismo.
Ante a necessidade absoluta de um bloco multidisciplinar que englobe tecnologia, criação, administração-marketing e comunicação, a França criou um novo Instituto da Moda. O aluno, após um ciclo de estudos especializados em alguns dos quatro ramos, recebe durante mais um ano a formação complementar que o capacita a atuar de modo global dentro de um projeto administração-criação, única forma possível de aprender as novas comunicações interativas. O Instituto Francês da Moda iniciou suas atividades em janeiro de 1986, e sua importância já ficou evidenciada tanto pelo sucesso obtido como pela necessidade de evolução que nasce da nova pedagogia. No mesmo espírito, a Domus Academia de Milão propõe-se a ser uma escola muldisciplinar aberta à possibilidade de novas soluções para projetos criativos. (RICARD, 1996, p.236).
A formação em Moda vem se aproximando dos conceitos de design. As
habilidades do designer de moda são:
• Capacidade para pesquisar, organizar e inovar;
• Habilidade para desenvolver respostas apropriadas para problemas novos;
• Aptidão para testar essas respostas, através de peças-piloto;
• Treinamento para comunicar esses desenvolvimentos através de croquis,
modelos, modelagens e pilotagens;
• Talento para combinar forma, técnica, condições humanas e sociais;
• Compreensão para trabalhar em equipes multidisciplinares.
O designer de moda precisa conhecer as tecnologias disponíveis para o
desenvolvimento de produtos que possam ser absorvidos por um público determinado. O
designer de moda precisa conhecer a capacidade produtiva da empresa e por quais tipos
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de produtos ela é conhecida no mercado. Ele é responsável, não apenas pelo aspecto
estético dos produtos, mas também por sua viabilidade comercial, financeira e de
produção. Para prever quais artigos deverá criar, ele precisa familiarizar-se com a
capacidade produtiva da empresa e seus registros de vendas. A gestão estratégica do
designer é uma atividade que congrega a parte técnica da empresa com o setor de
criação.
2. INTERDISCIPLINARIDADE
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O pensar interdisciplinar parte da premissa de que nenhuma forma de
conhecimento é em si mesma exaustiva. Tenta, pois, o diálogo com outras fontes do
saber, deixando-se irrigar por elas. Assim, por exemplo, confere validade ao
conhecimento do senso comum, pois é através do cotidiano que damos sentido às nossas
vidas. Ampliado pelo diálogo com o conhecimento científico, o senso comum tende a
uma dimensão maior, ainda que utópica, capaz de enriquecer nossa relação com o outro
e com o mundo.
“O Projeto Interdisciplinar surge, às vezes, de uma pessoa (a que já possui em si a
atitude interdisciplinar) e espraia-se para as outras e o grupo” (FAZENDA, 2002, p. 18).
Geralmente nos deparamos com várias barreiras – de ordens materiais, pessoais,
institucionais – que, entretanto, podem ser transpostas pelo desejo de criar, de inovar, de
ir além. O que caracteriza a atitude interdisciplinar é a ousadia da busca pela pesquisa, é
a transformação da insegurança num exercício de pensar e construir novas perspectivas.
Uma das possibilidades de execução de um projeto interdisciplinar na
universidade é a pesquisa coletiva onde exista uma pesquisa nuclear que sintetize as
preocupações dos diferentes pesquisadores, e pesquisas satélites em que cada um possa
ter seu pensar individual. Pensar e realizar pesquisas tendo como objeto de investigação
a interdisciplinaridade requer a adoção de uma metodologia peculiar de trabalho, como
pesquisar a própria prática interdisciplinarmente.
Preocupações com as questões da interdisciplinaridade tiveram início na prática.
Como realizar um projeto com os alunos sem usar a interdisciplinaridade das matérias
técnicas do Curso Superior de Moda que estão totalmente envolvidas na montagem de
um protótipo ou peça piloto?
Faz-se absolutamente necessário haver trocas entre os especialistas, e a integração
das disciplinas num mesmo projeto de pesquisa. Em termos de interdisciplinaridade, ter-
se-ia uma relação de reciprocidade, ou melhor, um regime de co-produção, de interação,
que irá possibilitar o diálogo entre os interessados, dependendo basicamente de uma
atitude cujo objetivo será o estabelecimento dos pontos de conexão entre as matérias. A
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interdisciplinaridade depende, então, basicamente, de uma mudança de atitude perante o
problema do conhecimento, da substituição de uma concepção unidisciplinar por outra,
interdisciplinar.
Considerando a interdisciplinaridade como um instrumento que permitirá uma
reflexão mais aprofundada do tema analisado, ela pode ser considerada:
. Como meio de se conseguir uma melhor formação geral, pois somente o enfoque
interdisciplinar possibilitará a identificação entre o vivido e o estudado, resultado
da inter relação de múltiplas e variadas experiências;
. Como meio para se atingir uma formação profissional mais ampla, fruto da
abertura a novos campos do conhecimento e de novas descobertas;
. Como incentivo à formação de pesquisadores e novas pesquisas, pois o sentido
das investigações interdisciplinares é reconstituir a unidade dos objetos que a
fragmentação dos métodos separou e, com isto, permitir a análise das situações
globais e do diálogo entre as disciplinas.
O ensino interdisciplinar nasce da proposição de novos métodos, de uma
pedagogia cujo primeiro objetivo é a supressão do monólogo e a instauração de uma
prática dialógica. Para tanto, faz-se necessária a eliminação das barreiras entre as
disciplinas e entre as pessoas que pretendem desenvolvê-las. Isto se viabilizaria se
fossem transpostos certos obstáculos, tais como:
. Obstáculos institucionais - a interdisciplinaridade torna-se possível quando se
respeita a verdade e a relatividade de cada disciplina, tendo-se em vista um
conhecer melhor. Nesse sentido, a eliminação das barreiras entre as disciplinas
exigiria a quebra da rigidez das estruturas institucionais;
. Obstáculos psicossociológicos e culturais - o desconhecimento do real
significado do projeto interdisciplinar, a falta de formação específica, a
acomodação à situação estabelecida e o medo de perder prestígio pessoal impedem
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a montagem de uma equipe especializada que parta em busca de uma linguagem
comum;
. Obstáculos metodológicos - a instauração de uma metodologia interdisciplinar
postularia um questionamento das formas de desenvolvimento do conteúdo das
disciplinas, em função do tipo de indivíduo que se pretende formar, bem como
uma postura única com respeito à reflexão de todos os elementos indicados;
. Obstáculos quanto à formação - na interdisciplinaridade, passa-se de uma relação
pedagógica baseada na transmissão do saber de uma disciplina ou matéria à uma
relação dialógica em que a posição é de construção do conhecimento. É
necessário que ao lado de uma formação teórica se estabeleça um treino constante
no trabalho interdisciplinar;
. Obstáculos materiais - para a efetivação da interdisciplinaridade são primordiais
um planejamento de espaço e tempo, bem como uma previsão orçamentária
adequada.
Superados todos os obstáculos, dá-se início ao projeto interdisciplinar para
produção da peça piloto ou protótipo. Quando não se tem a experiência prévia em uma
confecção ou fábrica de roupas, que é um dos caminhos clássicos, onde se pode aprender
como assistente ou praticante e observar tudo o que fazem as pessoas que ali trabalham,
o aluno ou aprendiz pode, atualmente, optar por outro caminho, o das Escolas de Moda
existentes, das quais as confecções e fábricas de roupas recrutam os seus novos
colaboradores. Com a oportunidade do estágio, põe-se em prática toda teoria aprendida
e, com o benefício da interdisciplinaridade, exercita-se a compreensão do todo ainda
assim registrando-se as minúcias dos segmentos de montagem do protótipo com mais
rapidez e eficiência de execução.
2.1. O papel da coordenação
Em um primeiro momento, é necessário colocar os professores das diferentes
disciplinas juntos para conversarem. Isso porque a prática da troca de conhecimento
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entre os professores das diferentes disciplinas não é feita, trazendo como conseqüência,
planejamentos sobrepostos e, muitas vezes, contraditórios.
Mas só o fato de colocar os professores juntos não faz acontecer a interação. É
preciso deixar claro o que está sendo proposto, bem como estabelecer um conhecimento
mínimo sobre o que significa interdisciplinaridade.
Para tanto será necessário distribuir textos sobre a prática interdisciplinar e em
reuniões a serem realizadas, analisá-los à luz da prática de cada um. Os planejamentos
de aulas poderão ser revistos a partir de erros e acertos, ora apontados pelos alunos ou
pela coordenação e, depois de algum tempo, pelos professores que estão trabalhando o
projeto.
... cultivar o professor num projeto interdisciplinar é antes de mais nada, ajudá-lo a perceber-se interdisciplinar, pois um educar interdisciplinar não se constrói de noite para o dia; ele já se faz anunciar desde seu primeiro contato com o conhecimento... (FAZENDA, 1994, p.135).
Os erros e os acertos são vividos na cotidianidade do fazer pedagógico e eles
podem ser reconhecidos na medida em que o professor fica atento para o que acontece
em seu espaço de sala de aula e fora dele. É preciso que o professor fique também atento
para o que sente no processo e abra sua mente para o projeto que vive.
A cooperação é uma característica fundamental para interdisciplinaridade. É
preciso dizer que a cooperação precisa ser construída na participação responsável dos
parceiros, pois todos devem responder pelas ações propostas.
A aprendizagem fica a cargo do professor, que exerce seu papel de liderança em
sala de aula, mas ela é compartilhada com os outros professores e coordenador de curso,
que, juntos, planejam e revêem o planejado, conforme se dá a apropriação pelos alunos
ou surgem novas necessidades.
... O processo de cultivo do professor deu-se lentamente, como é próprio de um trabalho interdisciplinar, numa espera compartilhada e dinamizada, em que a escolha de estratégias adequadas convergia para a execução do projeto maior. (FAZENDA, 1994, p.136).
23
A busca da pesquisa se faz presente, pois quando se permite a participação ou a
atuação é cooperada, as questões, as dúvidas colocadas são ampliadas e isso exige que se
estude mais e mais. A pesquisa não é buscada por ela mesma como um ato arrogante de
saber mais que os outros, mas sim para que dúvidas possam ser superadas, com a
consciência de que novas dúvidas e novas buscas serão necessárias.Nesse constante
descobrir, descobre-se o prazer de conhecer.
Nessa caminhada, verifica-se que a especificidade das disciplinas é, muitas vezes,
relativa. O que é delimitado tem fronteiras muito frágeis e, apesar da atual estrutura
organizacional do curso que força, via grade curricular, a definição de disciplina, na
prática, os conteúdos se entrelaçam e se precisam para formar uma unidade maior. O
coordenador parece ter uma profissão naturalmente interdisciplinar. Isso porque, na sua
prática, ele lida com diferentes objetos e precisa de conhecimentos variados, como
desenho de moda, desenvolvimento de coleção, modelagem tecnologia têxtil, etc. O
desafio é fazer com que professores de supostamente tão diferentes disciplinas trabalhem
juntos e encontrem um conhecimento comum.
O trabalho interdisciplinar será proposto como uma tentativa de se juntar
conhecimento horizontalmente trabalhado, isto é, cada semestre seriam propostos
trabalhos que visassem integrar os conhecimentos trabalhados, para que passassem a
formar uma base à qual, no semestre seguinte, novos conhecimentos pudessem ser
acrescentados.
Nesse projeto, cada semestre terá uma peça piloto a ser executada, estabelecida de
acordo com a ementa e em conjunto com os professores daquele semestre.
Possivelmente teria-se de contar com a oposição de algum professor, porque a realização
desse projeto exigirá de cada um deles a revisão do conteúdo que é trabalhado, uma
mudança na ordenação deste conteúdo e uma abertura para que os outros professores
participem do planejamento de sua disciplina.
No ato de planejar, é possível fazer uma revisão do propósito e das etapas do
processo, a fim de criar uma base comum de conhecimento sobre novos objetivos.
24
Buscar a possibilidade de integrar o conhecimento trabalhado em cada disciplina de
modo fragmentado. O objetivo é conhecer a fragmentação, para, no momento seguinte,
superá-la, a partir da ação interdisciplinar.
A partir disso, ter a preocupação de se iniciar a discussão sobre
interdisciplinaridade. Distribuir pequenos textos para os professores. A expectativa é de
criar uma linguagem comum em que a interdisciplinaridade fizesse parte do pensar o
projeto.
Há a crença entre os professores, de que a integração dos conteúdos trabalhados se
dá no último semestre, resolvida através do trabalho de conclusão de curso, com a
realização de um projeto de monografia com o tema pré-definido e com a montagem de
peça piloto conceitual.
2.2. A docência
O exercício docente no ensino superior exige competências específicas que não se
restringem a ter um diploma de Bacharel, ou mesmo de Mestre ou Doutor, ou, ainda,
apenas o exercício de uma profissão. Exige isso tudo, além de outras competências
próprias.
A docência no ensino superior exige não apenas um domínio de conhecimentos a
serem transmitidos por um professor como também um profissionalismo semelhante
àquele exigido para o exercício de qualquer profissão.
Encontram-se exercendo função docente no ensino superior, basicamente, quatro
tipos de professores:
• Os profissionais de várias áreas do conhecimento que se dedicam à
docência em tempo integral;
• Os profissionais que atuam no mercado de trabalho específico e se dedicam
ao magistério algumas horas por semana;
25
• Os profissionais docentes da área pedagógica e das licenciaturas que atuam
na universidade e, paralelamente, no ensino básico (educação infantil,
ensinos fundamental e médio);
• Os profissionais da área de educação e das licenciaturas que atuam em
tempo integral na universidade.
À primeira vista, essa classificação parece ser uma caracterização do corpo
docente de quase todas as universidades, por isso, acredita-se na pertinência de comentar
as qualidades e as dificuldades que trazem cada um desses grupos para a formação dos
acadêmicos.
No primeiro grupo, encontram-se profissionais de várias das áreas do
conhecimento e que se dedicam integralmente à docência. A esse grupo caberia indagar:
Como você ensina o que não vivencia em sua prática diária?
Sem desmerecer essa grande massa de professores que estão envolvidos com sala
de aula e com a pesquisa nas universidades, um ponto de reflexão a ser debatido seria:
Como esse professor seleciona conteúdos a serem trabalhados com os alunos e a
significação desses referenciais na formação de acadêmicos?
Cabe enfatizar que existem docentes que ensinam o que nunca experimentaram e,
nesse caso, não se coloca em questão a competência do professor, mas a pertinência da
proposta a ser desenvolvida com os alunos. Esse fato se torna desafiador quando o
docente está distante do mercado de trabalho e não está habituado a fazer leituras
especializadas, que tragam a produção de conhecimento moderno na área em que atua
no curso.
A opção pela programação a ser desenvolvida com os estudantes corre o risco de
não atender as exigências que o mercado de trabalho vem impondo aos profissionais. Se
o professor não atua de modo definitivo no mercado de trabalho específico, como se
aproximar das necessidades que os alunos vão encontrar como profissionais da área?
26
Em contrapartida, os professores desse grupo constituem o corpo docente com
jornadas de trabalho de 30 a 40 horas semanais nas universidades e apresentam um
envolvimento mais efetivo com os alunos, com seus pares, com o departamento e a
instituição. Inclui-se nas qualidades desse grupo o fato de serem os responsáveis pela
maioria das publicações científicas utilizadas no meio acadêmico.
Agrava-se a situação quando o professor não tem nenhuma formação pedagógica.
Sua ação docente, normalmente, reflete e reproduz a proposta dos professores que
atuaram em sua formação. Em alguns casos, superam as dificuldades e tornam-se
autodidatas em virtude do interesse e do entusiasmo que os envolve na docência.
No segundo grupo, encontram-se os profissionais liberais que atuam no mercado
de trabalho específico, o que ocorre com enorme porcentagem nos cursos de Moda.
Nesse caso, dedicam algumas horas ao magistério universitário, que dificulta a proposta
do projeto interdisciplinar, que tomaria mais tempo de dedicação do que estão
acostumados a dispor. São profissionais que se apresentam na comunidade, por
exemplo, como designers de moda, produtores de moda, figurinistas, confeccionistas,
artistas plásticos, empresários bem sucedidos, dentre outros, e optam pela docência
paralela à sua função de profissionais liberais.
Sua dedicação ao magistério restringe-se há poucas horas por semana e suas
jornadas não permitem um envolvimento com os alunos, com os companheiros que
lecionam no curso, com o departamento e com a própria instituição. Nesse grupo de
profissionais que atuam na docência, o destaque da contribuição assenta-se exatamente
na preciosidade das experiências vivenciadas em sua área de atuação. Como
profissionais em exercício, contaminam os alunos com os desafios e as exigências do
mundo mercadológico. Trazem a realidade para a sala de aula e contribuem
significativamente na formação dos acadêmicos.
Aliada a essa realidade, grande parte, senão a totalidade desses docentes, nunca
esteve em contato com uma formação pedagógica que atendesse ao papel de professor, a
27
menos que se dispusessem a se preparar pedagogicamente em serviço quando se
deparam com situações desafiadoras em sala de aula.
No terceiro grupo, encontram-se os profissionais docentes da área da educação,
envolvidos com os cursos de pedagogia e licenciaturas, que atuam na universidade e,
paralelamente, dedicam-se ao magistério, nos diferentes níveis de ensino. Acumulam
jornadas grandes de trabalho docente na universidade e ainda se dedicam a exercer
função docente na educação infantil, ou nos ensinos fundamental e médio.
Esse fato oportuniza uma vivência efetiva no magistério e possibilita compartilhar
com os acadêmicos a realidade cotidiana nos diferentes níveis de ensino. A jornada
dupla (dentro e fora da universidade) exige do professor dedicação integral ao trabalho.
Muitas vezes, cansativa, mal remunerada e que desafia o professor a ficar como um
timoneiro navegando de lugar em lugar durante toda a semana. O volume de trabalho
ocasionado por essa opção torna-se desafiador e questionador da qualidade a ser
oferecida aos alunos sob sua responsabilidade.
O quarto e último grupo envolve os profissionais da área da educação, da
licenciatura e da pós-graduação, que se dedicam em tempo integral ao ensino na
universidade. Aparentemente, seria uma situação ideal para o preparo e a formação de
professores para atuar no mercado de trabalho. Com tempo integral de dedicação ao
magistério de ensino superior, dedicam-se a orientarem licenciados e especialistas para
atuar nas escolas e universidades. Aqui cabe a mesma indagação: Como trocar
experiências e refletir sobre uma ação docente no nível de ensino em que o professor ou
o especialista nunca atuou?
Alguns professores universitários nunca exerceram as funções que apresentam aos
seus alunos. Falam de teoria sobre uma prática que nunca experimentaram. Esse fato
pode trazer alguns riscos para a formação dos alunos, pois a proposta metodológica que
o docente apresenta é fundamentada na teoria e, muitas vezes, desvinculada da realidade,
embora possa ser assentada em paradigmas inovadores na educação.
28
Colocar essas questões para reflexão demonstra o impasse que as universidades
têm encontrado para compor seu corpo docente. Caberia indagar: Para atuar na docência
deve-se optar pelo professor profissional ou pelo profissional professor?
A preocupação essencial não seria optar por um grupo, mas buscar compor o
quadro docente com profissionais de todos os grupos citados, garantindo a diversidade e
a riqueza de todos os profissionais envolvidos. O universo de conhecimento mesclado
por representantes de todos estes grupos enriquece a oferta dos currículos dos cursos.
O processo para tornar o professor reflexivo sobre sua prática pedagógica
demanda projetos que envolvam os docentes em encontros contínuos, aproximando os
professores de metodologias inovadoras que tenham possibilidade de discutir sobre elas,
aplicando-as e tendo com seus pares momentos de avaliação sobre as novas experiências
realizadas.
O que deve ser feito quando se trata de formar interdisciplinarmente os alunos?
Em primeiro lugar, não pretender formá-los no interdisciplinar, sem estudar previamente
a própria disciplina. Não se pode entremesclar o que não se conhece. Portanto, só nos
últimos semestres é possível manejar a interdisciplinar, os primeiros semestres são
unidisciplinares.
Para haver interdisciplinaridade deve haver estruturas permanentes que a
possibilitem, isto é, lugares de pesquisa interdisciplinar ou os laboratórios de
aprendizagem.
A grade de disciplinas deverá ser adaptada ao interdisciplinar. Isto quer dizer que a
última nota do período letivo deverá estar ligada à resolução de projetos concretos e que
exijam a aplicação conjunta de todos os conceitos das diversas disciplinas abordadas no
período. Por exemplo, no primeiro semestre o tema usado em Indumentária e Pesquisa
de Moda I terá o texto revisado na disciplina de Língua Portuguesa, usará o Desenho de
Observação e Desenho de Moda para expressar a sua idéia, desenvolverá uma base em
Modelagem que será testada com materiais complementares, no Laboratório de Criação
29
e usará a Técnica de Cores para escolher o tecido com a ajuda do módulo de Tecnologia
Têxtil I.
3. A INTERDISCIPLINARIDADE NO CURSO DE MODA
Em um curso de moda são várias as combinações de interdisciplinaridade entre as
disciplinas.Podem ser feitas por áreas, como, por exemplo, na área técnica, que é o
principal interesse deste projeto, mas também nas áreas específicas, culturais, artísticas e
de marketing. A seguir temos a grade curricular do Curso Superior Seqüencial
Específico em Estilismo da UCAM:
1º Período
• Laboratório de criação
• Materiais complementares
• Tecnologia têxtil I
• Desenho de observação
• Desenho de moda I
30
• Modelagem I
• Língua portuguesa
• Técnica de cores
• Pesquisa de moda I
• História da indumentária
2º Período
• Tecnologia têxtil II
• Desenho técnico
• Desenho de moda II
• Modelagem II
• Pesquisa de moda II
• História da moda II
• Desenvolvimento de coleções I
• Desenvolvimento de acessórios
• Psicologia da moda
• História da arte
3º Período
• Desenho de moda III
• Modelagem III
• Pesquisa de moda III
• História da moda III
• História da moda no Brasil
• Desenvolvimento de coleções II
• Sociologia
• Figurino para tv e cinema
• Produção de moda
• Marketing
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4º Período
• Desenho de moda IV - técnicas gráficas
• Modelagem IV - Técnicas de montagem
• Moda e cultura contemporânea
• Marketing
• Jornalismo de moda
• Figurino II
• Materiais novos
• Programação visual I
• Estamparia
• Compras
5º Período
• Desenho de moda V
• Modelagem V
• Desenvolvimento de coleções III
• Programação visual II
• Design têxtil
• Prática e ética profissional
• Informática aplicada
• Projeto em pesquisa
A partir dessas disciplinas temos as interdisciplinaridades por áreas:
• Técnicas: modelagem, tecnologia têxtil, design têxtil, desenho técnico,
informática aplicada, materiais novos, materiais complementares;
• Específicas: pesquisa de moda, desenvolvimento de coleções, compras, prática e
ética profissional;
32
• Culturais: história da moda, sociologia, história da moda no Brasil, português,
moda e cultura contemporânea, história da arte, figurino, jornalismo de moda,
indumentária;
• Artísticas: desenho de moda, desenho de observação, técnica de cores, desenho
de acessórios;
• Marketing: programação visual, produção de moda, marketing, psicologia;
A idéia de fazer um projeto interdisciplinar vem da experiência de cinco anos em
docência na disciplina de modelagem, no curso de estilismo da UCAM. Durante as aulas
de atelier da disciplina de modelagem, ficou claro que a falta de interação do
conhecimento das outras disciplinas, tecnologia têxtil e desenho técnico, principalmente,
deixou muitos alunos sedentos de informação na hora de escolher um tecido para
determinada peça a ser executada e também na clareza dos detalhes que deveriam
constar no desenho técnico para a costureira pilotista montar a peça corretamente.
A criação de um laboratório de aprendizagem, visando principalmente a
interdisciplinaridade das disciplinas da área técnica, tem por objetivo maior oferecer aos
alunos a gratificante experiência de ver suas primeiras peças de roupas, criadas por eles
mesmos em todas as etapas, interagindo também com outras áreas, como a área
específica em pesquisa de moda, com a área cultural em história e figurino e a área
artística com os desenhos de moda e técnica de cores. Além dessa visão completa, o
aluno passa a ter a noção de tempo gasto para a realização de uma idéia, o que é muito
importante na hora de executar e desenvolver um pedido de um cliente. A seguir um
minucioso detalhamento dessas disciplinas, justificando esse projeto.
• Tecnologia Têxtil
Os tecidos são a matéria-prima do designer de moda. É através dos tecidos que as
idéias do designer serão transformadas em produtos de vestuário.
33
A realização plena do processo de transformação da criação em algo concreto, só
se dará mediante um profundo conhecimento dos tecidos e dos seus elementos
formadores, que são as fibras, fios e filamentos. Este conhecimento aliado à pesquisa de
novas propostas em curso na área é o diferencial que fará com que um profissional esteja
mais capacitado que outro.
Consta na ementa do Curso Superior Seqüencial Específico em Estilismo, da
UCAM, que a disciplina dará chance ao aluno, através de estudos teóricos e práticos, de
entrar em contato com os mais diversos tipos de tecidos existentes e também a conhecer
e reconhecer os seus elementos formadores. O desenvolvimento da disciplina se dará da
seguinte forma:
• Estudo das fibras;
• Estudo dos filamentos contínuos;
• Estudo dos fios;
• Estudo do tecido;
• Normas técnicas;
• Armações básicas: Tela, Sarja e Cetim;
• As armações e seus efeitos no caimento dos tecidos;
• Acabamentos;
• Beneficiamentos e seus efeitos no caimento dos tecidos;
• Acabamento têxtil em peças confeccionadas: stone, envelhecimento, clear,
siliconado, délavé, etc.
• Outros aspectos existentes.
O objetivo é levar o aluno a saber diferenciar os diversos tipos de fibras,
filamentos e fios existentes, conhecer seus comportamentos físicos e químicos, suas
formas de entrelaçamento, fazendo com que o produto final do processo criativo, esteja
respaldado de segurança e certeza da viabilidade de execução.
• Desenho Técnico
34
Também conhecido como desenho planificado ou desenho de especificação, o
desenho técnico tem por objetivo comunicar as idéias do designer ao setor de amostras
(modelagem e pilotagem).
No desenho técnico não aparece um corpo de manequim. No desenho técnico são
evitados distorções e alongamentos característicos do desenho de moda, pois sua
intenção é fornecer uma informação precisa sobre como deverá ser confeccionada a
peça. Por isso a riqueza em detalhes é importante e o modelo é desenhado frente e
costas. Não raro, partes do desenho técnico são ampliadas em um outro desenho para
mostrar detalhes de costuras ou acabamentos. O comprimento e a largura podem ser
especificados através de medidas.
No desenho técnico devem estar especificados os tipos e quantidades de
pespontos, o tamanho de aberturas (como bolsos), a posição e a quantidade de botões, o
traçado de recortes e pences, enfim, todo o tipo de informações que possa ser útil a
modelista ou pilotista (costureira que prepara o protótipo).
A ficha técnica é o documento descritivo de uma peça de coleção e acompanha o
desenho técnico. É a partir dela que o setor de custos e o departamento comercial
estipularão o preço de venda, que o setor de planejamento e controle da produção
calculará os insumos necessários para a fabricação conforme os pedidos, e que o setor de
compras efetuará a aquisição da matéria-prima (tecidos e aviamentos).
O preenchimento da ficha técnica é, geralmente, tarefa destinada a assistentes do
designer ou a estagiários, mas a supervisão desse trabalho é responsabilidade do
designer ou do setor de engenharia do produto. Erros ou falta de precisão no
preenchimento dos dados na ficha técnica podem acarretar inúmeros problemas, como
compra errada de insumos (referências trocadas, quantidade excedente ou insuficiente) e
falhas na determinação de custo do produto.
O formato da ficha técnica pode variar de uma confecção para outra, mas existem
campos fundamentais que devem ser preenchidos que dizem respeito ao tipo do produto,
coleção a que se destina e profissionais responsáveis pelo protótipo. São eles:
35
• Nome ou período da coleção (ex: verão 2004);
• Referência do modelo;
• Descrição do modelo (ex: blusa de gola chinesa);
• Designer responsável;
• Código do molde;
• Grade de tamanhos;
• Modelista responsável;
• Data de aprovação do modelo; desenho técnico.
• Estamparia
A disciplina dará chance ao aluno, através de estudos teóricos e práticos, de entrar
em contato com o conceito de design têxtil e os mais diversos tipos de técnicas de
estamparia e tingimento existentes e também a identificar, qualificar e criar projetos de
design têxtil.
Na composição de um modelo podem ser previstas as aplicações de estampas. A
estamparia pode ocorrer de duas formas: através de tecidos estampados (estampa
corrida) ou de motivos aplicados sobre a peça em lugares específicos (estamparia
localizada). Cada desenho deve receber um código. O designer é responsável pela
escolha ou criação desse desenho e pela determinação de suas variantes de cor conforme
o fundo em que é aplicado.
Na criação de desenhos para estampas é importante observar as tecnologias
disponíveis. Os desenhos de estamparia podem ser desenvolvidos à mão ou em
computador, através de programas específicos.
As diferenças entre os processos de estamparia corrida e localizada dizem respeito
ao tipo de desenho empregado e ao resultado final do processo.
O desenvolvimento da disciplina se dará partindo dos seguintes itens:
36
• Estudo da história da estamparia
• Estudo das cores
• Estudo das tintas e corantes
• Estudo das técnicas artesanais
• Estudo das técnicas industriais
• Oficina de criação
• Modelagem
A modelagem está para o design de moda como a engenharia está para a
arquitetura. Os desenhos selecionados na reunião de aprovação da coleção são
encaminhados ao setor de modelagem para a elaboração de protótipos. O protótipo é
confeccionado em tamanho próprio para a roupa e testado em manequins de alfaiate ou
em um modelo cujas medidas se enquadrem no padrão desejado pela empresa.
Geralmente, os protótipos são desenvolvidos nos tamanhos 40 ou 42 para as empresas
que trabalham com grade numérica.
A modelagem pode ser realizada através de dois processos: a moulage ou a
modelagem plana. A moulage é o método característico da alta costura, mas vem sendo
empregada no desenvolvimento de pacas para a confecção industrial, através do uso de
manequins de prova (manequim de alfaiate) confeccionados em medidas padronizadas.
Sobre o manequim é ajustado o toile de maneira a obter o caimento indicado no desenho
de moda ou desenho técnico.
Na modelagem plana, os modelos são traçados sobre papel, utilizando uma tabela
de medida e cálculos geométricos. A tabela de medidas representa as circunferências de
busto ou tórax, cintura e quadril, medidos com a fita métrica rente ao corpo. Nenhuma
das medidas inclui margens de costura ou folgas. As tabelas servem como referência
para a construção das bases de modelagem.
A partir de uma cópia do molde da base, o modelista fará a interpretação, ou seja,
adaptação do molde para incluir os detalhes expressos no desenho técnico. Uma tapa
37
importante da interpretação de modelagem é a determinação das folgas do modelo, ou
seja, a que distância a roupa ficará do corpo, pois o molde base representa o
mapeamento do corpo sem folgas para a movimentação. Para conferir qual a
determinação do estilista, se a peça deverá ser ajustada, reta ou ampla, o modelista
recorre novamente ao desenho, mas, nesse caso, o desenho de moda, que mostra a figura
humana dentro da roupa, pode ser mais elucidativo que o desenho técnico.
Definidas as folgas, são traçados os recortes determinados no desenho técnico e
marcada as pences quando existirem. As partes do molde são então separadas e
acrescidas das margens de costura, bainhas e marcação de piques de encaixe.
A modelagem plana também pode ser desenvolvida através de sistemas cad/cam.
Alguns programas permitem, além da manipulação de moldes prontos inseridos no
sistema, a interpretação de moldes na tela, através de medidas ou por movimentação dos
pontos com o mouse.
O sistema cad/cam pode, portanto, operar de duas maneiras: com a construção de
moldes através da alteração de bases arquivadas no sistema ou através da digitalização
de moldes produzidos fora do sistema.
Para inserção de moldes efetuados externamente ao sistema existem duas opções:
o scanner para modelagem ou a mesa digitalizadora. O primeiro realiza uma leitura das
linhas de contorno do molde, sendo necessário marcar a posição de pences e piques
depois do molde inserido no sistema. A mesa digitalizadora oferece a vantagem do
alinhamento perfeito do molde a ser inserido, pois a própria mesa possui grade de linhas
guia para posicionamento do molde. São digitalizados os pontos extremos das retas e
alguns pontos de curvas. Marcações como pences e piques podem ser inseridos no
momento da digitalização.
O molde final, independente do método pelo qual foi desenvolvido, deverá receber
inscrições que o identifiquem. São elas:
• Referência ou número do modelo
38
• Nome do componente da peça (ex: costas)
• Tamanho do manequim (ex: 38 ou p)
• Quantidade de vezes que deve ser cortado
• Tecido em que será cortado (ex: tweed, forro, entretela)
• Linhas de construção (ex: sentido do fio do tecido, pences e piques)
Com o molde final pronto, procede-se o corte e a montagem do protótipo. O
protótipo ou peça piloto é confeccionado por uma costureira pilotista, capaz de discutir
com o designer e o modelista as dificuldades encontradas ao costurar a peça e propor
alterações que a tornem de produção mais fácil.
É papel da pilotista apontar defeitos de modelagem que possam comprometer a
execução do modelo, e alertar para o comportamento do tecido na máquina de costura.
Não raras vezes, é preciso rever o molde após a confecção do protótipo, eliminando
excessos em partes do tecido que tendem a esticar ou franzir na máquina de costura, ou
acrescentar folgas para melhorar o caimento de mangas, por exemplo.
Quando um protótipo é diagnosticado com defeito, o molde deve ser corrigido e
outro protótipo deve ser produzido pelo novo molde. Por isso é muito importante que
designer e modelista acompanhem a montagem dos protótipos.
Os protótipos aprovados na costura seguem para finalização, recebendo estampa
localizada ou bordado quando for o caso, ou sofrendo processos de lavação (ex: jeans).
Protótipos confeccionados para jeans, sarja ou outros tecidos que sofrerão lavação,
só depois dessa etapa serão submetidos à prova, pois os processos supracitados
interferem na dimensão da peça, causando-lhe encolhimento. As peças com essas
características devem ter os percentuais de encolhimento já previstos no molde, para
que, depois de lavadas, vistam adequadamente o manequim para qual foram
confeccionadas.
3.1. O LABORATÓRIO DE APRENDIZAGEM
39
A idéia é propor aos alunos, trabalhos em pequenos grupos e individualmente,
montando peças-piloto do vestuário, que constam na ementa de modelagem, usando a
interdisciplinaridade nas disciplinas de tecnologia têxtil, design têxtil, desenho e ficha
técnica. Provar a teoria na prática. O simples exercício de elaborar peças-piloto, usando
conhecimentos já existentes, demanda, por parte de quem o execute, a aquisição desse
conhecimento. Entrando em contato com a aplicação prática de recursos técnicos e
tecnológicos, resgata-se o sentido interdisciplinar na seleção dos meios a serem
utilizados como instrumentos para uma aprendizagem profissionalizante.
A técnica não é qualquer uma. A escolha é feita com o compromisso ético de se
garantir uma aprendizagem adequada ao aluno e em sintonia com os objetivos propostos,
visando ampliar as possibilidades de cada proposta de treinamento. Fazendo em cada
período, na última nota, uma escolha específica (ex: linha praia, esportiva, masculino,
jeans, etc.), o aluno terá a experiência no laboratório de aprendizagem a lidar com
tecidos específicos de acordo com a linha de vestuário proposta.
Por fim, a indústria da moda pode projetar-se além fronteiras e revelar-se uma
consistente fonte de riquezas para a economia nacional. Segundo a revista Pequenas
Empresas Grandes Negócios, o mercado da moda faturou algo em torno de R$ 120
bilhões no ano de 2003. A partir dos anos 90, a moda internacional despertou para o
design e o estilo brasileiro, recebendo com entusiasmo a descontração de Gisele
Bündchen e a irreverência e criatividade de designers como Carlos Miele, Tufi Duek,
Alexandre Herchcovitch.
Com os instrumentos adequados e através de uma metodologia coerente e realista,
a indústria de confecção nacional tem tudo para reforçar a imagem do Brasil no mercado
externo, não apenas como centro de criação, mas também produção de moda. Acreditar
na criatividade dos profissionais de design de moda e oferecer métodos eficientes para
essa realização é um grande desejo dos docentes da moda.
40
CONCLUSÃO
A falta de integração das matérias técnicas no Curso Superior de Moda dificulta o
aluno na aplicação de seu conteúdo teórico, comprometendo, além de seu aprendizado, o
processo de montagem de uma peça qualquer do vestuário.
Maior ênfase interdisciplinar no aprendizado das matérias técnicas do curso em
tela implicará em um melhor aproveitamento do aluno, mostrando a real utilidade das
informações que lhe são passadas e suas melhores formas de aplicação.
O Curso Superior Seqüencial em Estilismo da UCAM envolve, a cada semestre, em
torno de dez disciplinas. Ao se depararem com a necessidade de montagem de uma peça
de vestuário, a falta de uma visão global, proporcionada pela interdisciplinaridade entre
as matérias técnicas do curso, tem desmotivado o aluno. Todos os estágios que
envolvem a criação de uma coleção de roupas (pesquisa de tendências, desenho de
croqui, cartela de cores, formas, desenvolvimento de coleção, custo...) ficam
comprometidos se a montagem das peças não for excelente, de nada adiantando o
trabalho inicial. É na hora de transformar o desenho em peça piloto que se saberá se o
tecido foi escolhido adequadamente, se os detalhes da roupa foram montados de acordo
com a ficha técnica, se a modelagem foi adequada. O envolvimento e acompanhamento
da montagem de uma peça piloto exigem conhecimento técnico imprescindível para
evitar erros muitas vezes custosos financeiramente, que podem comprometer todo um
cronograma de trabalho, atrasando entregas e prejudicando contratos.
Como visto no primeiro capítulo, a montagem de peças piloto ou protótipos no
prêt-à-porter passa por vários estágios, mas é nessa fase que surgem as principais
dúvidas. O problema começa com a escolha do tecido, o que é abordado no último
capítulo, aonde o detalhamento do conteúdo programático das disciplinas envolvidas na
41
montagem do protótipo deixa claro que precisa haver parceria, interação entre as
disciplinas, objetivando o suporte à montagem e execução da peça piloto.
A pesquisa feita aqui se originou nesse problema, com a intenção de despertar o
interesse de professores e alunos envolvidos neste processo. Este projeto foi concluído,
deixando ainda novas perguntas a serem analisadas:
• Como realizar o projeto interdisciplinar sem que haja real envolvimento da
instituição de ensino, equipando e arcando com as horas extras necessárias
dos professores? Esse é um problema de raízes profundas, cujo objeto não
diz respeito à pesquisa atual.
• Como realizar um projeto de execução de peças de vestuário sem um atelier
devidamente equipado? As dificuldades financeiras da instituição de ensino
impedem investimentos nessa área, podendo provocar evasão dos alunos.
• Como realizar essa montagem de peças fora da instituição, sem que a
mesma se responsabilize pelas idas e vindas das peças de roupa que
eventualmente precisem de acerto, bem como o deslocamento dos alunos?
A falta de responsabilidade e interesse da instituição quanto ao
deslocamento dessas peças defeituosas, apenas uma parte do todo,
impossibilita a contratação de facções externas para sua montagem.
42
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
- DUARTE, Sonia. Modelagem Industrial Brasileira, 1ª ed., Rio de Janeiro, Letras
e Expressões, 1998, 232 p.
- FEGHALI, Martha. Desenvolvimento de Coleções, Rio de Janeiro SENAI –
CETIQT, 2000, 37 p.
- FAZENDA, Ivani Catarina A. , Interdisciplinaridade história, teoria e pesquisa, 1ª
edição, Campinas, Editora Papirus, 1994, 140 p.
- JANTSCH, Ari. Interdisciplinaridade, 1ª edição, Rio de Janeiro, Vozes, 1995,
204 p.
- MOUTINHO, Maria. A Moda no Século XX,1ª ed.Rio de Janeiro, SENAC DN,
2000, 317 p.
- QUELUZ, Ana. Interdisciplinaridade, 1ª ed. São Paulo, Pioneira, 2003, 137 p.
- SEELING, Charlotte. Moda. O Século dos Estilistas, Colônia, Konemann, 2000,
654 p.
- VINCENT-RICARD,F; As espirais da moda. 3ª ed. Rio de Janeiro, Paz e terra,
1996, 249 p.
- CARAS ESPECIAL MODA, São Paulo, Editora Caras S/A, 2003, Edição
Especial n.º 60, p 6 e 7.
- DOMINGO, Rio de Janeiro, Editora JB, 2004, Revista semanal, 29/08/04, p 31.
- DOMINGO, Rio de Janeiro, Editora JB, 2004, Revista semanal, 26/09/04, p 19.
- PEQUENAS EMPRESAS GRANDES NEGÓCIOS, Rio de Janeiro, Editora
Globo S/A, 2003, Revista mensal, n.º 172, p22.
43
ÍNDICE
RESUMO 04
SUMÁRIO 05
INTRODUÇÃO 06
1. MODA 08
1.1 – Moda e Estilo 09
1.2 – Alta-Costura e Prêt-à-Porter 11
1.3 – Como são produzidos os artigos de Alta-Costura? 11
1.4 – Como são produzidos os artigos de Prêt-à-Porter? 13
1.5 – A formação em Moda 14
2. INTERDISCIPLINARIDADE 17
2.1 – O papel da coordenação 19
2.2 – A docência 22
3. A INTERDISCIPLINARIDADE NO CURSO DE MODA 27
3.1 – O laboratório de aprendizagem 35
CONCLUSÃO 37
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE
PLANO DE PROJETO DE PESQUISA
NOME DO ALUNO: Viviane Nunes Castanheira
CURSO: Docência do Ensino Superior
TURMA 710
TEMA:
A importância da interdisciplinaridade das matérias técnicas no Curso Superior de
Moda.
PROBLEMA:
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A falta de integração das matérias técnicas no Curso Superior de Moda dificulta o
aluno na aplicação de seu conteúdo teórico, comprometendo, além de seu aprendizado, o
processo de montagem de uma peça qualquer do vestuário?
JUSTIFICATIVA:
Matérias técnicas distintas como: tecnologia têxtil, (onde se aprende como são
fabricados os tecidos e os diversos tipos de matérias-primas utilizadas); modelagem
plana (onde o aluno aprende a fazer moldes em papel próprio para modelagem, moldes
estes que podem ser de qualquer ramo do vestuário - masculino, feminino, infantil, praia,
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esportes, festas e “homewear”, onde usamos vários tipos de tecidos, que se comportam
de modo diferente quando cortados e costurados de acordo com o molde e o desenho
técnico da peça a ser executada); desenho técnico (matéria onde o aluno aprende a
desenhar a peça de roupa a ser confeccionada de forma bidimensional, ressaltando
costuras, cortes, botões, etiquetas, estampas, tipos de costura, enfim, tudo que houver de
detalhes e procedimentos para realização da montagem da primeira peça, a chamada
peça piloto); possuem estreita relação.
Em um primeiro momento será necessário colocar os professores das diferentes
disciplinas juntos, para conversarem. Isso porque a prática da troca de conhecimento
entre os professores das diferentes disciplinas não é feita, trazendo como conseqüência
planejamentos sobrepostos e muitas vezes contraditórios.
Mas só o fato de colocar os professores juntos não fará acontecer a interação. É
preciso deixar claro o que está sendo proposto, bem como estabelecer um conhecimento
mínimo sobre o que significa interdisciplinaridade. Para tanto será necessário distribuir
textos sobre a prática interdisciplinar e, em reuniões a serem realizadas, analisá-los à luz
da prática de cada um. Os planejamentos de aulas poderão ser revistos a partir de erros e
acertos, ora apontados pelos alunos ou pela coordenação e, depois de algum tempo,
pelos professores que estão trabalhando o projeto.
Desenvolvendo um projeto interdisciplinar e introduzindo um laboratório de
aprendizagem, observe-se, pois, que o simples exercício de elaborar peças piloto, usando
um conhecimento já existente, demanda por parte de quem o execute a aquisição desse
conhecimento, e com isso, as informações necessárias para concretizar o protótipo.
Entrando em contato com a aplicação prática de recursos técnicos, resgata-se o sentido
interdisciplinar na seleção dos meios a serem utilizados como instrumentos para uma
aprendizagem profissionalizante.
OBJETIVO GERAL:
Estabelecer a importância da interdisciplinaridade das matérias técnicas no Curso
Superior de Moda e a sua aplicação na montagem de uma peça piloto do vestuário.
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OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
O.E.1- Ressaltar o que é Moda e sua profissionalização.
O.E.2- Estabelecer a conceituação de interdisciplinaridade.
O.E.3- Estabelecer a interdisciplinaridade no Curso Superior Seqüencial em Moda
da UCAM.
HIPÓTESE:
Maior ênfase interdisciplinar no aprendizado das matérias técnicas do curso em
tela implicará em um melhor aproveitamento do aluno, mostrando a real utilidade das
informações que lhe são passadas e suas melhores formas de aplicação.
DELIMITAÇÃO:
A importância da interdisciplinaridade das matérias técnicas no Curso Superior
Seqüencial Específico de Moda da UCAM e sua aplicação na montagem de uma peça
piloto do vestuário.
PROCEDIMENTO METODOLÓGICO:
Pesquisa bibliográfica.
ÁREA DA CIÊNCIA:
Pedagógica.
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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA:
1ª CITAÇÃO -
Este fenômeno cultural que se chama moda envolve, como todas as artes, muita mão-de-
obra. Principalmente no delicado momento que o tecido vai se transformar em roupa,
cortado seguindo um molde preciso. Nesta hora, decide-se até onde vai o minimalismo,
de onde sai a manga, para onde vai a altura da cintura.
(DUARTE, 1998, p.7).
Comentário:
Todos os estágios que envolvem a criação de uma coleção de roupas (pesquisa de
tendências, desenho de croqui, cartela de cores, formas, desenvolvimento de coleção,
custo...) fica claro que se a montagem das peças não for excelente, de nada terá
adiantado o trabalho inicial. É na hora de transformar o desenho em peça piloto que se
saberá se o tecido foi escolhido adequadamente, se os detalhes da roupa foram montados
de acordo com a ficha técnica, se a modelagem foi adequada.
2ª CITAÇÃO -
A função mais importante no atelier pertence a premiere d’atelier. É o braço direito do
estilista, é a ela que ele explica as suas idéias, havendo espaço para interpretações. A
premiere d’atelier tem de interiorizar o espírito da coleção. Estilistas como Pierre
Cardin, que sabem desenhar, cortar e costurar, são raros. Por isso, a premiere é a
intermediária entre o costureiro e o atelier. É responsável por transmitir as idéias,
comunicar as tarefas e distribuí-las conforme as capacidades de cada um. Tem de saber
explicar cada passo da execução. Na maior parte das vezes, o braço direito é também a
modéliste, a desenhadora dos modelos, a pessoa que dá vida a um vestido, que corta o
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linho, que o experimenta no manequim, que alinhava, que prepara o modelo do corte
básico e confecciona o protótipo.
(SEELING, 2000, p.305).
Comentário :
O envolvimento e acompanhamento da montagem de uma peça piloto exige
conhecimento técnico imprescindível para eviter erros muitas vezes custosos
financeiramente, que podem comprometer todo um cronograma de trabalho, atrasando
entregas e prejudicando contratos.
3ª CITAÇÃO -
O projeto interdisciplinar surge, às vezes, de uma pessoa (a que já possui em si a atitude
interdisciplinar) e espraia-se para as outras e o grupo. Geralmente deparamos com
múltiplas barreiras – de ordem material, pessoal, institucional e gnosiológica – que,
entretanto, podem ser transpostas pelo desejo de criar, de inovar, de ir além.
(FAZENDA, 2002, p.18)
Comentário :
É preciso boa dose de disposição por parte dos professores envolvidos no projeto de
interdisciplinaridade em tela, em específico os das disciplinas de tecnologia têxtil,
desenho técnico e modelagem, para a execução de um bom projeto piloto, que produza
um bom protótipo, com a intensão de aproximá-lo ao máximo da realidade, ressaltando a
necessidade de precisão das informações envolvidas no processo produtivo.
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BIBLIOGRAFIA
- EMENTAS das disciplinas: Tecnologia Têxtil I e II, Modelagem II e III,
Desenho Técnico, todas do Curso Seqüencial Específico de Moda da UCAM, RJ,
2004.
- DUARTE, Sonia. Modelagem Industrial Brasileira, 1ª ed., Rio de Janeiro, Letras
e Expressões, 1998, 232 p.
- FEGHALI, Martha. Desenvolvimento de Coleções, Rio de Janeiro SENAI –
CETIQT, 2000, 37 p.
- FAZENDA, Ivani Catarina A. , Interdisciplinaridade história, teoria e pesquisa, 1ª
edição, Campinas, Editora Papirus, 1994, 140 p.
- JANTSCH, Ari. Interdisciplinaridade, 1ª ed. Rio de Janeiro, Vozes, 1995, 204 p.
- MOUTINHO, Maria. A Moda no Século XX,1ª ed.Rio de Janeiro, SENAC DN,
2000, 317 p.
- QUELUZ, Ana. Interdisciplinaridade, 1ª ed. São Paulo, Pioneira, 2003, 137 p.
- SEELING, Charlotte. Moda. O Século dos Estilistas, Colônia, Konemann, 2000,
654 p.
- VINCENT-RICARD,F; As espirais da moda. 3ª ed. Rio de Janeiro, Paz e terra,
1996, 249 p.
- DOMINGO, Rio de Janeiro, Editora JB, 2004, Revista semanal, 29/08/04, p 31.
- DOMINGO, Rio de Janeiro, Editora JB, 2004, Revista semanal, 26/09/04, p 19.
- CARAS ESPECIAL MODA, São Paulo, Editora Caras S/A, 2003, Edição
Especial n.º 60, p 6 e 7.
- PEQUENAS EMPRESAS GRANDES NEGÓCIOS, Rio de Janeiro, Editora
Globo S/A, 2003, Revista mensal, n.º 172, p22.
CRONOGRAMA DE ATIVIDADES
ATIVIDADE AGO SET OUT NOV DEZ