Post on 31-Dec-2018
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETO
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
BÁRBARA ALMEIDA CARVALHO
FORMAS DE MINIMIZAR O DESINTERESSE DO ALUNO DO ENSINO MÉDIO
NOTURNO NO ESTUDO DA LÍNGUA PORTUGUESA
ORIENTADORA: FLÁVIA CAVALCANTE
RIO DE JANEIRO
JULHO/2009
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Bárbara Almeida Carvalho
Formas de minimizar o desinteresse do aluno do ensino
médio noturno no estudo da Língua Portuguesa
Monografia apresentada à Universidade Cândido
Mendes como requisito parcial à conclusão do
curso de Pós-graduação “LATO SENSU” em
Psicopedagogia.
Rio de Janeiro, 11 de julho de 2009.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por permitir a realização desse trabalho.
Ao meu pai e minha madrinha pelo apoio, as minhas filhas que abdicaram do nosso tempo juntas em função dessa pesquisa.
Ao meu namorado que contribuiu para a conclusão desse trabalho.
As minhas amigas e irmãs dessa e de outras existências Bárbara e Dina e a todos aqueles que contribuíram direta e indiretamente para realização desse trabalho.
E a alguém que com certeza, ficaria muito feliz com essa conquista (Maria da Penha).
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DEDICATÓRIA
A todos que acreditam serem instrumentos de transformação social e que vêem na educação uma porta para a liberdade e aos meus alunos que serviram de inspiração para a pesquisa.
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RESUMO
O presente estudo tem como objetivo reconhecer a importância da
psicopedagogia no processo da aprendizagem como alternativa de tentar
minimizar as dificuldades dos alunos no estudo da Língua Portuguesa. Assim
sendo, ao realizar o estudo das teorias de construção do conhecimento da
linguagem e escrita há de se reconhecer os processos pertinentes à aquisição do
conhecimento.
Baseado nesses pressupostos é possível o reconhecimento das
dificuldades do processo, buscando resgatar a ressignificação da aprendizagem
em cada educando, com foco na aplicabilidade dos conteúdos visando uma
melhor interação social e melhores perspectivas no mercado de trabalho.
Para isso, utiliza-se a metodologia de pesquisa bibliográfica, apoiada em
conceitos teóricos de autores que apresentam trabalhos significativos nesse
campo de atuação e que darão suporte as idéias aqui apresentadas.
Nesse contexto, procura-se situar o educando enquanto sujeito epistêmico
da aprendizagem, trilhando momentos de constante conhecimento.
Pretende-se ainda, reconhecer o momento de desenvolvimento do
educando, agindo não somente como professor, mas como interventor do
processo, tentando minimizar essas dificuldades na construção do conhecimento e
aprendizagem da própria língua.
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METODOLOGIA
O processo metodológico utilizado nesse estudo baseia-se no referencial
qualitativo e exploratório, buscando maior aproximação quanto o real enfoque do
objeto de estudo.
Assim sendo, será feita consultas a livros de cunho científico nas áreas de
educação, pedagogia, psicologia e outras áreas afins, bem como a observação
dos alunos do ensino médio noturno.
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SUMÁRIO
• INTRODUÇÃO...............................................................................................8
• CAPÍTULO I – O processo da aquisição da linguagem escrita...................10
1. Métodos de ensino..........................................................................13
• CAPÍTULO II – A importância do afeto na construção do conhecimento....15
1. Educar com afeto............................................................................16
2. Mudanças de métodos....................................................................18
• CAPÍTULO III – Aplicabilidade do estudo da Língua Portuguesa................20
1. Princípio do desenvolvimento cognitivo..........................................20
2. Novas maneiras de aprender..........................................................21
3. Organizando situações de aprendizagem........................................22
4. Algumas sugestões para o trabalho da Língua Portuguesa,
segundo Celso Antunes..................................................................23
• CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................28
• BIBLIOGRAFIA............................................................................................30
• ÍNDICE.........................................................................................................31
• FOLHA DE AVALIAÇÃO..............................................................................32
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INTRODUÇÃO
O objetivo dessa pesquisa visa reconhecer que a abordagem
psicopedagógica pode atender educandos com dificuldades de aprendizagem,
viabilizando a orientação adequada na relação ensino/aprendizagem, criando-se
ajustes necessários para os diferentes modos de aprender do ser humano.
Valorizando assim, o vínculo entre o professor e o aluno em conjunto com a
escola e a família como forma de minimizar as dificuldades existentes.
Sua finalidade específica será definir como acontece a aquisição de
linguagem e escrita nos alunos, baseado em fundamentos teóricos e conceitos de
alguns autores e a partir daí, mostrar as dificuldades de aprendizagem. Para tanto
será relevante identificar algumas variáveis que podem caracterizar esse
desinteresse no estudo da Língua Materna, estabelecendo o reconhecimento de
que esses desinteresses podem estar associados a disfunções de leitura/escrita;
relação interpessoal professor/aluno; falta de aplicabilidade dos conhecimentos
adquiridos ou ainda dificuldade de aprendizagem.
Diante do exposto e com o intuito de compreender melhor o assunto fez-se
a opção de enfatizar uma abordagem reflexiva que trilha pelo caminho de uma
intervenção facilitada, no sentido da aplicação dos conhecimentos adquiridos,
proporcionando soluções capazes de minimizar esses desinteresses.
É importante ressaltar a diferença entre desinteresse e dificuldade de
aprendizagem. A dificuldade de aprendizagem se refere a um grupo de desordem
que se manifestam por deficiências particulares, na aquisição e uso das
habilidades de ouvir, falar, escrever e raciocinar de forma lógica. Essas desordens
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podem ser intrínsecas ao ser humano, pois muitos acreditam que sejam
disfunções do SNC (Sistema Nervoso Central). Já o desinteresse pode manifestar-
se por diversos fatores que iremos ressaltar ao longo do trabalho.
Existe uma concordância entre alguns estudiosos destacando que a
aprendizagem pode suscitar uma relação bilateral tanto da pessoa que ensino
como a da que aprende.
Assim, percebe-se que a forma de pensar a relação ensino/aprendizagem,
ora privilegia os fatores internos do aprender, ora os fatores externos, ou seja, o
meio cultural no qual está inserido o indivíduo. Tudo isso implica um processo
evolutivo e constante que envolve um conjunto de modificações no
comportamento do educando, tanto a nível físico, como biológico e do seu
ambiente onde tal processo emerge sob a forma de novos comportamentos.
Os alunos encaram o estudo da Língua Portuguesa como uma tarefa chata
e cansativa e o questionamento que surge é por que é chato estudar a própria
língua. É necessário deixar claro a diferença entre língua e gramática normativa. A
língua é um instrumento vivo de comunicação verbal que temos. Já a gramática é
um modelo descritivo de normas cultas. Desvincular a aplicação autoritária das
regras de maneira intolerante e repressiva e vincular o afeto à aplicabilidade das
informações práticas, tentando simplificar os conceitos, tornando-os acessíveis a
um público amplo é um desafio para o professor contemporâneo.
Espera-se concluir a apresentação do estudo apesar de não ter esgotado o
assunto, uma vez que o tema é amplo e está em constante processo de mudança.
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CAPÍTULO I
O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM E
ESCRITA
Toda prática pedagógica depende de uma concepção sobre a natureza do
conhecimento, assim como uma análise do objeto sobre o qual se realiza o
conhecimento. Tradicionalmente a ensinagem da leitura e da escrita acontece de
duas maneiras: método sintético (que parte de elementos menores que palavras)
e método analítico (que parte de palavras ou unidades maiores).
Segundo Ferreriano, a evolução da escrita passa necessariamente por
algumas etapas:
• Nível pré-silábico → Não existe uma preocupação com a propriedade
sonora da escrita, com isso não ocorre uma relação entre fonema/grafema,
as partes da escrita não correspondem ainda às partes do nome. Cada letra
pode valer pelo todo e não ter o valor de si mesma.
• Nível silábico → Caracteriza-se pela correspondência entre a
representação escrita e suas propriedades sonoras. É a descoberta de que
a quantidade de letras com o que vai se escrever uma palavra pode ter
correspondência com a quantidade de partes que se reconhecem na
emissão oral. A hipótese silábica é uma construção do sujeito, portanto, não
pode ser transmitida.
• Nível silábico-alfabético → A evolução para esse nível leva o sujeito a
estabelecer que as partes sonoras semelhantes entre as palavras se
exprimem por letras semelhantes. Nesse nível, existem duas formas de
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correspondências entre som e grafias: silábica (sílaba é o som produzido
por uma só voz) e alfabética (análise dos fonemas que são os elementos
sonoros da linguagem e tem nas letras seus correspondentes, o conjunto
de letras é o alfabeto). Ou seja, a criança escreve parte da palavra
aplicando a hipótese silábica de que para se escrever uma sílaba é
necessária apenas uma letra (tomate – omate).
• Nível alfabético → Caracteriza-se pela correspondência entre fonemas e
grafias. Existe a compreensão da escrita alfabética onde todos os fonemas
devem estar representados. A análise se aprimora e é possível a percepção
de que uma sílaba pode ter uma, duas ou três letras.
A passagem do indivíduo de um nível de conceitualização a outro está
diretamente relacionado a um conhecimento anterior. O tempo que ela
permanece num mesmo nível é muito variável; por outro lado, essa
evolução não é linear, pois o sujeito passa por avanços e recuos durante
todo o seu processo de construção da escrita.
Trabalhar a escrita como um sistema de representação da língua significa deslocar o eixo da compreensão para os aspectos significativos e não para os figurativos, como orientação da escrita, linearidade, perfeição da cópia e etc. Esses últimos são facilmente superáveis pelas crianças. (FERREIRO, 1985)
Nenhum conjunto de palavras, por mais vasto que seja, constitui por si
mesmo linguagem. Considera-se linguagem a combinação de elementos que
produzem orações aceitáveis estabelecendo comunicação.
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O processo de aquisição da linguagem inicia-se com a tendência de
imitação (a criança produz um som que se assemelha ao som da fala dos pais.
Dessa maneira o “meio” vai selecionando sons que estejam associados a um
significado, convertendo-se assim esse som em palavra).
Uma prova de que a criança tem conhecimento do seu idioma é possível
ser identificado na regularização dos verbos irregulares (eu comi, eu bebi e “eu
fazi”). Isso ocorre, pois a criança busca uma regularização na linguagem, algo que
seja lógico e coerente (pois ainda não é de seu conhecimento os paradigmas
verbais). Fato como esse acontece normalmente no desenvolvimento da
linguagem e demonstra que a aquisição da aprendizagem não ocorre através de
elementos isolados e sim através da construção de sistemas aonde o valor das
partes vão se modificando e construindo outros significados.
Esse estudo sobre a aquisição da linguagem e escrita, mostra que a escrita
é a maneira particular de transcrever a linguagem e o indivíduo possui um
conhecimento da língua materna. Com isso, a prática do ensino da língua começa
pelas vogais, seguidas das combinações de consoantes labiais com vogais e a
partir daí chega-se a formação das primeiras palavras por duplicação dessas
sílabas, e posteriormente se chega às orações (iniciando-se pelas declarativas
simples) que reproduzem de maneira eficaz as aquisições da língua oral.
Essa concepção da língua escrita como uma reaprendizagem da língua oral
fica claro quando a criança chega à escola com um notável conhecimento de sua
língua materna, um saber lingüístico que utiliza “sem saber” nos seus atos de
comunicação cotidiana, então, não se trata de transmitir um conhecimento que o
indivíduo não teria fora desse ato de transmissão, mas sim de conscientizá-lo de
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que ele já possui um conhecimento sem saber já possuí-lo e que esse
conhecimento precisa ser aprimorado para se transformar.
Precisa-se rever a necessidade de uma revisão sobre nossas idéias de
aprendizagem da língua.
1 - Métodos de Ensino
Existe uma busca do melhor e mais eficaz, com isso levantam-se dois tipos
fundamentais: o método sintético – fala sobre a correspondência entre o oral e o
escrito, som/grafia, estabelecendo a relação a partir dos elementos mínimos num
processo que consiste em ir das partes para o todo. Os elementos mínimos da
escrita são as letras. Posteriormente sob a influência lingüística desenvolve-se o
método fonético, propondo que se parta do oral, a unidade mínima do som da fala
é o fonema. Ensinava-se a pronunciar as letras, estabelecendo regras de
sonorização da escrita no idioma correspondente. Associando o fonema à
representação gráfica. É preciso que o sujeito seja capaz de isolar e reconhecer
os diferentes fonemas de seu idioma, para poder, a seguir relacioná-los aos sinais
gráficos (método fonético).
Tomando como base o método fonético, precisa-se enfatizar a análise
auditiva para se separar os sons e estabelecer as correspondências
grafema/fonema (letra/som). Para isso, é necessário que a pronúncia seja correta,
evitando assim confusões entre os fonemas; as grafias de forma semelhantes
devem ser apresentadas separadamente para evitar distorções visuais e deve-se
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ensinar um par de fonema/grafema por vez, sem passar ao segundo enquanto a
associação não esteja bem fixada.
Baseado nessas informações compreende-se que inicialmente a
aprendizagem da escrita e da leitura é uma questão mecânica; trata-se de adquirir
a técnica para decifrar o texto. Pois se concebe a escrita como a transcrição
gráfica da linguagem. Ler equivale a decodificar o escrito em um som.
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CAPÍTULO II
A IMPORTÂNCIA DO AFETO NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
A cognição ocorre no cérebro. O produto do cérebro é o conhecimento que
pode ser endógeno (vem de dentro) ou exógeno (vem de fora). A base do
aprender estrutura-se sobre três forças: sentir/pensar/agir. Nesse capítulo será
tratado o fator endógeno da aprendizagem, que é o afeto (sentimento).
Para Vygotsky a aprendizagem acontece quando o sujeito é estimulado em
sua zona de desenvolvimento proximal, pois é nesta que a interferência de outros
indivíduos é mais transformadora. Encontra-se entre o desenvolvimento real (o
que eu faço sem ajuda) e o potencial (onde se pode fazer intervenção).
A interação social fornece matéria prima para o desenvolvimento
psicológico do indivíduo. A cultura não é pensada como algo pronto, um sistema
estático no qual o sujeito se submete e sim, um movimento de recriação e
reinterpretação de informações, conceitos e significados.
O nosso processo educativo consiste em educar o sensório e para se falar
em educação através da afetividade é importante conhecer o princípio dessa
relação afetiva (mãe/bebê).
A autoestima de uma criança surge, segundo Winiccot através da relação
da criança com a mãe, esta imprimirá naquele novo corpo o seu ritmo somático,
através da maneira de falar, embalar e amamentar. Esse ritmo é afetivo e dará a
esse ser uma sensação de pertencimento, pertencimento a um núcleo familiar que
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transmite afetos, expectativas, intenções e outras emoções, fazendo então, com
que essa pessoa se torne um ser social, pois o homem é um ser em relação, e é
nessa relação que se constrói enquanto sujeito.
O que aumenta a potência de um corpo pensar e agir é a alegria, o prazer
(processo de autoconservação da espécie) e o que diminui é a tristeza. Cada
encontro que temos produz uma emoção diferente, e o que move o pensamento é
a qualidade do emocionar-se, ou seja, sentir inaugura o modo de pensar e nós nos
emocionamos a cada instante com o que pensamos. Os encontros produzem
afetos e os afetos positivos aumentam a nossa capacidade de pensar e agir.
1 - Educar com afeto
Educar é enriquecer a capacidade de ação e de reflexão dor ser aprendente, desenvolver-se na biologia do amor que nos mostra que o ser vivo é uma unidade dinâmica do ser e do fazer. (MATURANA & NISIS, 1997; 49).
O aprendiz se transforma junto com os professores e os demais
companheiros com os quais convive em seu espaço educacional, e é na
convivência que as dimensões do ser e fazer vão modelando-se mutuamente,
influenciando ações, comportamentos e condutas dos alunos.
Segundo Maturana (1999), os afetos modelam o operar da inteligência,
abrindo e fechando caminhos para possíveis consensos a serem estabelecidos
em nossa vida cotidiana. Ele exemplifica dizendo que a inveja, o medo e a
ambição restringem a conduta inteligente porque estreitam a visão e a atenção.
Para ele, somente o amor amplia a visão na aceitação de si mesmo e do outro.
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Por esta razão, Maturana compreende que a educação é um processo de
transformação na convivência, através do qual o ser aprendente se conserva em
seu meio ou se perde, a partir da formação.
Aprender implica em transformar-se. Resulta de uma história de interações
recorrente a dois ou mais sistemas vivos que interagem. Sabemos que o indivíduo
aprendeu algo quando percebemos que a sua conduta mudou.
É através da biologia do amor, mediante a aceitação da legitimidade do
outro, que a tarefa educativa deve realizar-se e, como tal, priorizar a formação do
ser, tendo como foco principal a atenção no fazer. Assim, a educação deveria
corrigir mais o fazer e não diretamente o ser, convidando o educando, sempre que
possível, à reflexão, para que ele possa desenvolver sua autonomia, criatividade e
criticidade. Ao procedermos assim, estamos abrindo espaço e acolhendo o
indivíduo em sua essência.
Ao corrigir o ser, ao dizer como o sujeito deveria ser ou deixar de ser,
estamos, segundo Maturana (1990) negando o outro, destruindo a aceitação de si
mesmo e diminuindo sua autoestima. Ao negar o outro, ao desvalorizar suas
condutas, seus comportamentos e realizações com crítica, controle contínuo,
desconfiança e exigências, acabamos restringindo a sua inteligência no operar do
viver e conviver.
Assim sendo, compete à tarefa escolar criar condições operacionais
necessárias, para que os educandos fluam na biologia do amor, eduquem-se
mutuamente, aceitem-se e, para isso é necessária uma convivência harmoniosa e
sadia, capaz de ampliar e mudar a capacidade de ação e reflexão de maneira que
os indivíduos tomem consciência de seus sentimentos sem perder o respeito por
si mesmo e pelos demais. Sem aceitação a si e auto-respeito é impossível aceitar
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e respeitar o outro, e sem aceitar o outro, em sua legitimidade na convivência não
há convivência social.
Essas questões e preocupações indicam que a tarefa docente é a formação
humana de aprendizes, onde os conteúdos são apenas veículos relacionais para a
sua consecução. O mais importante é que a educação seja capaz de criar
condições que permitam a cada aluno tornar-se um cidadão sério, responsável e,
sobretudo feliz.
O homem nasce com a possibilidade de “vir a ser”. Tornar essas
oportunidades efetivas vai depender da sua relação com o meio e com o outro, vai
depender do quanto esse indivíduo esteja aberto às mudanças, receptivo às
transformações e desejosos de se constituírem enquanto ser pensante e atuante
no mundo.
2 - Mudanças de métodos O princípio de toda a aprendizagem é o sujeito (definido em função de seus
esquemas assimiladores à disposição) e não o conteúdo a ser abordado, ou seja,
o aluno aprende porque deseja e não porque eu ensino.
Os processos de aprendizagem do ser não dependem do método, os
processos passam através do método, o método pode ajudar ou fracassar, facilitar
ou dificultar, porém não pode criar aprendizagem, pois a cognição é produto do
cérebro de cada um.
Nenhum aprendiz conhece um ponto de partida absoluto, já que pó mais
novo que seja um conteúdo a conhecer, este deverá ser assimilado pelo indivíduo
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a partir de sua disposição, ou seja, o conhecimento é uma aquisição e não um
dado inicial.
Para Piaget, um progresso no conhecimento só será obtido através de um
conflito cognitivo de assimilação e acomodação, ou seja, quando o objeto do
conhecimento não assimilável, force o sujeito a modificar seus esquemas
assimiladores realizando um esforço de acomodação que permita a incorporação
do que antes resultava inassimilável em algo assimilável. Para tanto, os
conhecimentos precisam ser sentidos.
Paulo Freire diz que nossa capacidade de aprender, decorre da nossa
habilidade de apreender a substantividade do objeto aprendido. A memorização
mecânica do perfil do objeto não é aprendizado verdadeiro do objeto ou do
conteúdo. Neste caso, o aprendiz funciona muita mais como paciente da
transferência do objeto ou do conteúdo do que como sujeito crítico,
epistemologicamente curioso, que constrói o conhecimento do objeto ou participa
da sua construção. É precisamente por causa desta habilidade de aprender a
substantividade do objeto que nos é possível reconstruir um mau aprendizado, o
em que o aprendiz foi puro paciente da transferência do conhecimento feita pelo
educador.
Mulheres e homens, somos os únicos seres que social e historicamente,
nos tornamos capazes de apreender. Por isso, somos os únicos em
quem aprender é uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, muito
mais rico do que meramente repetir a lição dada. Aprender para nós é
construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem
abertura ao risco e à aventura do espírito. (FREIRE, 1996, p.77)
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CAPÍTULO III
APLICABILIDADE DO ESTUDO DA LÍNGUA
PORTUGUESA
1 - Princípio do desenvolvimento cognitivo
Para Piaget, a aprendizagem universal do ser humano, válida para para
qualquer pessoa que se desenvolva através de uma série de estágios sucessivos,
qualitativamente diferente, através dos quais se aprende. Esses estágios são
chamados sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal.
Ao longo da passagem por esses estágios, a aprendizagem evolui da
transferência de esquemas simples e com concretos para complexos e abstratos.
O primeiro momento acontece quando o indivíduo capta uma nova
informação sobre o mundo, isto é a assimilação, e o segundo é o que muda o
pensamento original de modo a incluir o novo conhecimento, isto é acomodação.
Com o estágio operatório formal, que ocorre com a chegada da
adolescência, surge à capacidade de pensar com abstrações ( interpretar e criar),
testar hipóteses (fórmulas) e superar limites. A mente humana amadurece e está
na plenitude de seus equipamentos neurológicos. Seu cérebro já está pronto, seu
ambiente social está quase sempre definido dando-lhe oportunidades
desafiadoras.
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No entanto, o que se observa é um grande desinteresse em relação aos
conhecimentos, pois, se o aluno ouve alguma informação e reproduz essa
afirmação de maneira mecânica, ele na verdade não aprendeu, pois não construiu.
Aprender na sala de aula significa elaborar uma representação pessoal,
significativo e prático desse conteúdo, partindo de interesses e conhecimentos que
possam dar sentido a essa informação.
2 - Novas maneiras de aprender
Nosso cérebro precisa de informações que faça sentido, pois se vinga com
o recurso do esquecimento daquilo que não percebe significação.
Aprendemos não quando estocamos saberes, mas quando estes
reestruturam nossa forma de pensar, nossa expressão em opinar. É importante
que o aluno aprenda a se comparar a si mesmo (ou seja, como evoluiu), e não a
seus colegas; a se auto-avaliar pelas metas que traçaram e jamais pelos valores
absolutos que o outro colega alcançou.
Hoje em dia, diante da revolução digital, da nova política, da economia, dos
desequilíbrios familiares cada vez mais preocupantes, solicita-se aos professores
que façam dos conteúdos convencionais de suas disciplinas ferramentas ou
instrumentos que, ao qualificarem também para a vida, despertem capacidades e
competências, a fim de estimular em sala de aula todas as inteligência de seus
alunos, preparando-os para a competição do mundo globalizado.
Para que se existam respostas à aula algumas regras são essenciais e a
maior parte delas vem do professor. A ele cabe a ousadia de tornar a aula
interessante, curiosa e gostosa de devorar. Quem abre o “apetite” do aluno é o
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professor e, se não existir fome, de pouco vale dourar o cardápio. Isso ocorre
quando o professor emoldura momentos de alegria, envolve-os com seu
entusiasmo, mesmo se cansado e constrói com o conteúdo desafios e perguntas
curiosas. Mas se o interesse do aluno resiste a isso tudo, é necessário investigar
se esse educando tem Transtorno de déficit de atenção (Antunes, 2000).
Celso Antunes sugere algumas regras que podem facilitar o aluno a assistir
uma aula, são elas:
Mostrar ao aluno que sua compreensão estrutura-se relacionando o tema novo,
que chega ao conhecimento que ele já possui armazenado em sua mente; o
professor não aprende pelo aluno e este, para aprender precisa saber como sua
mente atua no resgate do antigo para ancorá-lo ao novo.
O aluno precisa construir de forma significativa perguntas pertinentes ao assunto
trabalhado. Para que eu vou usar isso? Como eu vou usar isso?
O educando precisa descobrir que as idéias não devem ser acumuladas, mas as
informações devem ser associadas.
Ele também deve aprender sintetizar o assunto de maneira que possa compará-
los a outros e contextualizá-lo à realidade de seu meio, pois um conhecimento que
não tem aplicabilidade cai no esquecimento.
Os alunos aumentam saberes, passam nos exames, mas não conseguem mobilizar que aprenderam em situações reais, no trabalho e fora dele. (PERRENOUD, 2001, p 25)
3 - Organizando situações de aprendizagens
Consiste em agir em sala de aula explorando as capacidades individuais.
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• Selecionar conteúdos, elegendo-os de acordo com o que se pretende,
abandonando a tradicional prisão ao livro didático e a quantidade de
saberes que deverão ser acumulados;
• Trabalhar a partir da realidade do aluno, das suas verdades e do seu meio
social. Ensinamento forçado não constrói aprendizagem e levam ao
desinteresse;
• Buscar nos erros um diagnóstico para a incompreensão;
• Planejar seqüências didáticas integrando o tema à realidade, pois aquilo
que se aprende precisa ter função prática;
• Aperfeiçoar a lingüística favorecendo uma melhor utilização das palavras, e
com isso construir sentenças com mais clareza, pertinência e lucidez.
Quando essa competência é desenvolvida melhor é o desenvolvimento do
indivíduo, seja no oral ou na escrita;
• Tentar minimizar o desinteresse do aluno conhecendo a sua história de
alfabetização.
4 - Algumas sugestões para o trabalho da Língua Portuguesa,
segundo Celso Antunes.
• Trabalho com a língua falada – Fazer com que o aluno perceba que
existem diferentes tipos de discurso e diferentes uso da fala e seleção de
palavras. É importante o reconhecimento de elementos não verbais em sua
comunicação.
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• Exercícios em hipertextos – Muitos alunos não apresentam dificuldades em
diferenciar uma página impressa em papel de uma outra que se apresenta
a forma de hipertexto, mas para a maioria existe apenas o domínio de uma.
É importante que possa descobrir i organizar lições, sínteses, temas e
idéias.
• Confecção de cartazes – É uma forma diferente de se trabalhar textos.
• Entrevistas – Permite ao aluno um aprimoramento da sua capacidade de
expressão, contextualizando o tema estudado com a realidade.
• Uso de gravadores – O aluno pode ouvir a sua fala com a intenção de
aperfeiçoá-la, buscando sinônimos adequados, aprendendo pronúncias
corretas e enriquecendo seu vocabulário.
• Histórias interativas – Pode-se sugerir que os alunos inventem histórias
envolvendo o tema trabalhado.
• Literatura de cordel e textos teatrais – Explicam-se e exemplificam-se as
características dos versos que estruturam a literatura de cordel, ou mesmo,
a versão em prosa dos contadores de história ou ainda trechos de diálogos
extraídos de peças teatrais podem ser uma ferramenta interessante.
• Jogo de palavra, jogo do telefone ou trava línguas – Uma tema descrito
com palavras fora de ordem e um estímulo para a sua estruturação léxica
configuram-se um valioso recurso em sala de aula. Jogo do telefone é uma
estratégia para o pensamento criativo e um estímulo às contextualizações
representando um eficiente recurso para desenvolver a oralidade.
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• Textos jornalísticos, publicitários e científicos – Os alunos podem gravar
trechos de programas de rádios, caracterizado por frases breves e
variações específicas de entonações, debates televisionados e expressões
de certos anúncios.
• Uso de debates – Todo tema escolar pode ser transformado em uma idéia
polêmica e prestar-se a interessante debate.
• Organização de um júri popular – Em torno de algumas idéias, é possível
criar em sala de aula um júri popular com promotores de acusação,
advogados de defesa e um corpo de jurados para “atribuir a sentença”.
Essa sessão pode ser gravada e em outra aula, analisadas, eventuais
dificuldades orais.
• Caça aos erros - O professor pode estimular uma caça aos erros em
anúncios, avisos, recados e eixos temáticos, solicitando aos alunos que
busquem imprecisões, generalizações ou práticas reducionistas.
• Painel aberto sobre temas específicos – Os alunos divididos em pequenos
grupos fazem uma exposição de idéias favoráveis ou contrárias a um
determinado tema.
• Concurso para múltiplas explorações textuais – Não importa qual o tema se
trabalhe ou o nível de sua destinação, o mesmo pode sugerir desafios
através da interpretação de textos, desenvolvimento da analogias ou
através da criação de um concurso de manchetes contextualizadas.
• Invenção do texto didático em novo estilo – O professor seleciona um
gênero ou um autor e apresenta uma síntese de sua obra para que os
alunos identifiquem o seu estilo.
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• Fantasiando com a verdade – O enredo de uma história pode ser mantido e
os personagens inventados.
• Uso de poesias e paródias – Os alunos podem ser estimulados a inventar
poemas, trovas ou construir paródias sobre os fatos, hipóteses ou teorias
que pesquisaram.
• Uso criativo do dicionário – O dicionário pode ser utilizado não apenas para
tirar dúvidas específicas, mas como uma interessante maneira de construir
novas sentenças. Uma sugestão é que os alunos elaborem um dicionário
específico da disciplina que estão aprendendo.
• Apresentações teatrais – Embora difícil é importante que os alunos realizem
apresentações teatrais contextualizando temas desenvolvidos em
exposições verbais ou textos literários.
• Atividade de transcrição – Os alunos podem ser solicitados a transcrever
um texto escolhido pelo professor e apresentá-lo oralmente. Ao transpor a
linguagem oral para a escrita o aluno pode ser estimulado a explorar
diferentes habilidades.
• Mini jornal falado – Ajuda a dar vida aos temas e a transferir para a
linguagem oral aprendizagens escritas.
• Slogans – Textos, frases, sentenças e idéias podem transformar-se em um
interessante e criativo concurso de slogans.
• Novas incursões pelo universo lingüístico – É uma prática interessante levar
os alunos a escreverem cartas, enviar e-mails, preparar manifestos,
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idealizar folders. Uma boa sugestão é comentar o resultado do jogo de
futebol por e-mail.
• Exploração de escritas cooperativas – É um engraçado exercício linguístico
um tema cobra uma redação com diferentes participações seqüenciais.
• Relatório diário e agenda – São ferramentas que educam o hábito da
escrita e seu aprimoramento.
• Exploração do pensamento dedutivo – É interessante dar um conteúdo e
fazer com que o aluno chegue às conclusões através de pistas.
• Utilização de novas tecnologias – É essencial a exploração dos recursos
que o computador e outras ferramentas tecnológicas nos permitem.
• Mensagem significativa – Levar um anúncio comercial de um produto
específico e solicitar aos alunos que recriem esse comercial sem utilizar
palavras de mesmo campo semântico (comercial de pasta de dente sem
falar em dentes claros e limpos).
• Vídeos e filmagens – Os vídeos são recursos altamente motivadores,
porém jamais devem ser passados sem um exame prévio.
• Música como referência cultural – A música é uma excelente ferramenta
pedagógica.
• História em quadrinhos e charges – Um recurso utilizado é esvaziar o
balão, permitindo ao aluno recontar aquela história.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não há dúvidas de que já se descobriu que na educação está a esperança
do futuro e toda a perspectiva de crescimento. No entanto, é evidente que um
novo tipo de educação está surgindo e negar esse fato é fechar os olhos para a
internet, é ignorar que portais eletrônicos substituirão livros didáticos tradicionais
fazendo de conta que o computador é só uma ferramenta.
As mudanças quebram padrões de valores sobre igualdades e
desigualdades, alteram a função tradicional da família e seu papel complementar
na educação e para a escola responsabilidades e papeis jamais imagináveis.
Algo novo está surgindo e não se enquadra nos antigos pressupostos e
paradigmas transmitidos de geração em geração. As informações em um mundo
globalizado chegam a todo o momento e de todos os lugares. O professor não é
mais aquele responsável em acumular informações na mente de seus alunos. Ele
é um facilitador, um questionador, um instrumento que deverá levar aos alunos a
função e aplicabilidade desses conhecimentos, é respeitar a variedade lingüística
de toda e qualquer pessoa.
Durante anos de escolaridade os alunos aprendem conteúdos que não
sabem como relacionar às situações de seu cotidiano.
É tarefa de o professor contemporâneo conscientizar seus alunos que todo
falante nativo de uma língua é um usuário competente dessa língua, é explicar a
diferença e as alternativas em relação à regra proposta pela gramática normativa,
é mostrar ao educando que toda língua muda e o que hoje é visto como certo já foi
erro no passado. É importante ficar muito claro a diferença existente entre a
gramática normativa e a língua. A língua é viva, mutável, já a gramática normativa
é a tentativa de descrever regras consideradas como padrão de norma culta, é
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claro tem seu valor, no entanto não deve ser aplicada autoritariamente a todo o
resto da língua.
É importante saber que a Língua Portuguesa segue seu rumo de evolução
e transformação. A língua que falamos molda nosso modo de ver o mundo e
nosso modo de ver o mundo molda a língua que falamos, por isso cabe aos
profissionais de educação mostrar aos educandos qual a aplicabilidade real
daquilo que se aprende, tentando dessa maneira minimizar o desinteresse dos
alunos, suscitando e renovando o gosto pelo saber.
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BIBLIOGRAFIA
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1996.
ANTUNES, Celso. Novas maneiras de ensinar, novas formas de aprender. Porto
Alegre: Artmed, 2002.
MATURANA, Humberto. Ontologia da realidade; Cristina Magra, Mirian Graciano
e Nelson Vaz (organizadores). Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999.
PERRENOUD, Philippe. A pedagogia das diferenças. Porto Alegre: Artmed, 2001.
MORAES, Maria Cândida. Educar na biologia do amor e da solidariedade.
Petrópolis: Vozes, 2003.
FERREIRA, Emília. Psicogênese da língua escrita; Diana Myriam Lichtenstein,
Liana de Marco e Mário Corso (tradutores). Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.
BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico o que é, como se faz. São Paulo: Editora
Loyola, 1999.
VIGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
PIAGET, Jean. O nascimento da inteligência na criança. Rio de Janeiro: Zahar,
1970.
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ÍNDICE
• FOLHA DE ROSTO.......................................................................................2
• AGRADECIMENTO.......................................................................................3
• DEDICATÓRIA..............................................................................................4
• RESUMO.......................................................................................................5
• METODOLOGIA............................................................................................6
• SUMÁRIO......................................................................................................7
• INTRODUÇÃO...............................................................................................8
• CAPÍTULO I – O processo da aquisição da linguagem escrita...................10
1. Métodos de ensino..........................................................................13
• CAPÍTULO II – A importância do afeto na construção do conhecimento....15
1. Educar com afeto............................................................................16
2. Mudanças de métodos....................................................................18
• CAPÍTULO III – Aplicabilidade do estudo da Língua Portuguesa................20
1. Princípio do desenvolvimento cognitivo..........................................20
2. Novas maneiras de aprender..........................................................21
3. Organizando situações de aprendizagem........................................22
4. Algumas sugestões para o trabalho da Língua Portuguesa,
segundo Celso Antunes..................................................................23
• CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................28
• BIBLIOGRAFIA............................................................................................30
• ÍNDICE.........................................................................................................31
• FOLHA DE AVALIAÇÃO..............................................................................32