Post on 18-Feb-2020
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
MESTRADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA AMBIENTAL
ÍTALA FARIAS ALMEIDA
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE ÁGUAS DE ABASTECIMENTO URBANO
DE JUAZEIRINHO-PB: ÁGUAS SUPERFICIAIS
Campina Grande – PB
2017
ÍTALA FARIAS ALMEIDA
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE ÁGUAS DE ABASTECIMENTO URBANO
DE JUAZEIRINHO-PB: ÁGUAS SUPERFICIAIS
Dissertação de Mestrado apresentada
ao curso de Pós-Graduação em Ciência
e Tecnologia Ambiental da
Universidade Estadual da Paraíba, em
cumprimento às exigências para
obtenção do título de Mestre.
ORIENTADOR: Prof. Dr. Rui de Oliveira
CO-ORIENTADORA: Profa. Dra. Celeide Maria Belmont Sabino Meira
Campina Grande
2017
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, por ter me dado forças para suportar todas as adversidades da vida para
chegar até aqui.
Ao meu esposo Ricardo, pelo apoio em todos os momentos da minha vida.
À minha mãe, por todo esforço e dedicação para me ver chegar até aqui.
Aos meus orientadores, professor Dr. Rui de Oliveira e professora Dra. Celeide Maria
Belmont Sabino Meira por terem aceitado o desafio de me ajudar a concluir mais uma
etapa da minha vida, contribuindo para o meu desenvolvimento intelectual e pessoal, a
vocês serei eternamente grata.
À professora, Dra. Ruth Silveira do Nascimento pelo apoio e ensinamentos.
Aos colegas do Laboratório de Eficiência Energética e Conforto Ambiental da
Universidade Estadual da Paraíba, pela companhia nas idas a Juazeirinho e pela realização
das análises. Obrigada a todos!
A todos os funcionários do Laboratório de Saneamento da Universidade Federal de
Campina Grande, pelo carinho e dedicação para conosco.
Ao NUPEA, por disponibilizar o laboratório para a realização das análises
microbiológicas.
Por fim, a todos os amigos e demais familiares que, de alguma forma, contribuíram para
que este sonho se realizasse.
Quero compartilhar com todos vocês a alegria desta vitória.
OBRIGADA!!!!!
RESUMO
A água é um recurso fundamental para a existência de vida na Terra, merecendo atenção de
modo a assegurar que a água utilizada para consumo humano atenda aos padrões de
potabilidade definidos pela Portaria MS nº 2.914/2011. O presente trabalho objetivou
avaliar a qualidade físico-química e microbiológica da água de 2 (duas) escolas públicas,
1(uma) creche municipal e o 1 (um) hospital do município de Juazeirinho-PB. A cidade
possui um sistema de abastecimento de água, por rede geral, operado pela Companhia de
Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa) e durante o período de coleta de amostras esse
abastecimento era feito quinzenalmente e complementado, aleatoreamente, por carros-pipa
mantido pela Prefeitura Municipal. As coletas ocorreram no período de março a dezembro
de 2016, com a determinação dos indicadores temperatura, pH, turbidez, condutividade
elétrica, fluoreto, alumínio, cloro residual livre, bactérias heterotróficas, coliformes totais e
Escherichia coli (presença e ausência). O conjunto de dados amostrais foi submetido à
análise estatística descritiva e à análise de variância (ANOVA). A água distribuída à
população da cidade de Juazeirinho não atende aos padrões de potabilidade estabelecidos
pela Portaria nº 2.914/2011, particularmente os padrões para os indicadores CRL,
alumínio, pH e turbidez. Em relação aos indicadores microbiológicos (contagem de
bactérias heterotróficas, determinação de presença/ausência de coliformes totais e
Escherichia coli) a situação é semelhante, pois foi constatado que, em todos os pontos, não
houve conformidade, sendo essa violação atribuída à baixa concentração de cloro residual
livre na água. A instalação predial de abastecimento de água, baseada numa cisterna
inferior alimentada tanto por água distribuída pela rede geral como por outras águas,
particularmente aquelas transportadas por carros-pipas, além das péssimas condições da
infraestrutura, contribui de modo especial para a degradação da qualidade da água o que
desafia a adoção de ações de controle e vigilância da qualidade da água.
Palavras-chave: Padrões de potabilidade. Sistema de abastecimento de água. Vigilância da
qualidade da água. Gestão da qualidade da água.
ABSTRACT
Water is a fundamental resource for the existence of life on Earth, deserving attention in
order to ensure that the water used for human consumption meets the standards of
potability defined by the Ordinance 2.914/2011 of Brazilian Ministry of Health. The
present study aimed to evaluate the physico-chemical and microbiological quality of water
from 2 (two) schools, 1 (one) nursery school and the 1 (one) Municipal Hospital, city of
Juazeirinho, Paraíba state, northernBrazil. The city has a water supply system, through a
general network, operated by the Water and Sewage Company of Paraíba (Cagepa) and
during the sampling period this supply was made fortnightly and complemented by kite-
cars maintained by City Hall. Sampling occurred from March to December 2016, with the
determination of temperature, pH, turbidity, electrical conductivity, fluoride, aluminum,
free residual chlorine, heterotrophic bacteria, total coliforms and Escherichia coli (presence
and absence). Data set was subjected to both descriptive statistical and analysis of variance
(ANOVA). The water distributed to the population of the city of Juazeirinho does not meet
the standards of potability established by Ordinance No. 2914/2011, particularly the
standards for CRL, aluminum, pH and turbidity indicators. Regarding the microbiological
indicators (counting of heterotrophic bacteria, determination of presence / absence of total
coliforms and Escherichia coli) the situation is similar, since it was found that, in all the
points, there was no compliance, being this violation attributed to the low concentration of
Free residual chlorine in water. The water supply system, which is based on a lower tank
fed by water distributed throughout the general network and other water, particularly those
transported by tanker trucks, in addition to the poor infrastructure conditions, contributes in
particular to the degradation of the quality of the water. Water that challenges the adoption
of water quality control and surveillance actions.
Keywords: Potability standards. Water supply system. Water quality monitoring. Water
quality management.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 3.1 – Esquema das cisternas dos estabelecimentos estudados.............................. 21
Figura 4.1 – Localização do município de Juazeirinho, estado da Paraíba...................... 33
Figura 4.2 – Vista aérea dos pontos de coleta de amostras.............................................. 34
Figura 4.3 – Creche Municipal Edvaldo Motta localizada na cidade de
Juazeirinho/PB.............................................................................................
35
Figura 4.4 – Sistema de abastecimento de água da Creche Municipal Edvaldo Motta 36
Figura 4.5 – Escola Municipal de Ensino Fundamental Frei Damião localizada na
cidade de Juazeirinho/PB.............................................................................
36
Figura 4.6 – Sistema de abastecimento de água da Escola Municipal de Ensino
Fundamental Frei Damião............................................................................
37
Figura 4.7 – Escola Municipal de Ensino Fundamental Severino Marinheiro
localizada na cidade de Juazeirinho/PB ......................................................
37
Figura 4.8 – Sistema de abastecimento de água da Escola Municipal de Ensino
Fundamental Severino Marinheiro...............................................................
38
Figura 4.9 – Hospital Municipal localizado na cidade de Juazeirinho/PB...................... 38
Figura 4.10 – Sistema de abastecimento de água Hospital Municipal............................... 39
Figura 4.11 – Pontos de coletas: cisterna da EMEF Severino Marinheiro (a), cisterna do
Hospital Municipal (b), cozinha da Creche Municipal Edvaldo Motta (c)
e cozinha da EMEF Frei Damião (d), localizados na cidade de
Juazeirnho/PB..............................................................................................
40
Figura 4.12 – Equipamentos utilizados na análise in loco pHmetro(a), turbidímetro (b)
e bancada para análise de cloro (c)..............................................................
41
Figura 4.13 – Equipamentos utilizados na análise em laboratório condutividade elétrica
(a), alumínio e fluoreto(b)............................................................................
42
Figura 5.1 – Gráficos box-plot da temperatura para os pontos de amostragem.............. 46
Figura 5.2 – Gráficos box-plot do pH para os pontos de amostragem............................ 47
Figura 5.3 – Gráficos box-plot da turbidez para os pontos de amostragem..................... 48
Figura 5.4 – Gráficos box-plot de CRL para os diferentes pontos de amostragem.......... 50
Figura 5.5 – Gráficos box-plot de fluoreto para os pontos de amostragem.................... 51
Figura 5.6 – Gráficos box-plot de alumínio para os pontos de amostragem.................... 52
Figura 5.7 – Gráficos box-plot da condutividade elétrica para os pontos de
amostragem.................................................................................................. 53
Figura 5.8 – Detalhes dos Pontos de coleta: cozinha da EMEF Frei Damião (a),
cisterna da Creche Edvaldo Motta (b), cisterna do Hospital Municipal (c)
e interior cisterna da Creche Edvaldo Motta (d) localizados na cidade de
Juazeirnho/PB..............................................................................................
55
Figura 5.9 – Gráficos GT-2 para o indicador turbidez e condutividade elétrica da
Creche Municipal Edvaldo Motta..............................................................
58
Figura 5.10 – Gráficos GT-2 para os indicadores temperatura, pH, turbidez,
condutividade elétrica e CRL da EMEF Frei Damião ..............................
60
Figura 5.11 – Gráficos GT-2 para os indicadores pH e condutividade elétrica da
EMEF Severino Marinheiro.......................................................................
62
Figura 5.12– Gráficos GT-2 para os indicadores condutividade elétrica, fluoreto,
bactérias heterotróficas e CRL do Hospital Municipal..............................
63
LISTA DE TABELAS
Tabela 3.1 – Doenças veiculadas por água contaminada e respectivos agentes
infecciosos......................................................................................................
18
Tabela 4.1 –
Estabelecimentos selecionados na cidade de Juazeirinho-PB para coleta de
amostra e respectivos pontos de coleta..........................................................
35
Tabela 5.1 –
Concentrações de pH, turbidez, alumínio e fluoreto em não conformidade
e em conformidade com a Portaria MS 2.914/2011.......................................
44
Tabela 5.2 – Estatística descritiva dos indicadores físico-químicos................................... 45
Tabela 5.3 –
Concentrações de CRL em não conformidade e em conformidade com a
Portaria MS 2.914/2011.................................................................................
49
Tabela 5.4 – Estatística descritiva do indicador bactérias heterotróficas............................ 54
Tabela 5.5 – Frequência de conformidade dos indicadores coliformes totais e
Escherichia coli com a Portaria MS 2.914/2011...........................................
56
Tabela 5.6 – Análise de variância das médias dos indicadores para a Creche Municipal
Edvaldo Motta................................................................................................
57
Tabela 5.7 – Análise de variância das médias dos indicadores para a EMEF Frei
Damião...........................................................................................................
59
Tabela 5.8 – Análise de variância das médias dos indicadores para a EMEF Severino
Marinheiro......................................................................................................
61
Tabela 5.9 – Análise de variância das médias dos indicadores para o Hospital Municipal
de Juazeirinho...............,,................................................................................
62
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
APHA American Public Health Association
AWWA American Water Works Association
CAGEPA Companhia de Água e Esgotos da Paraíba
CENEPI Centro Nacional de Epidemiologia
CRL Cloro Residual Livre
DNSP Departamento Nacional de Saúde Pública
ETA Estação de Tratamento de Água
FUNASA Fundação Nacional de Saúde
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MS Ministério da Saúde
ODM Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
pH Potencial Hidrogeniônico
PMSBJ Plano Municipal de Saneamento Básico de Juazeirinho
PSA Plano de Segurança da Água
SAA Sistema de Abastecimento de Água
SISAGUA Sistema de Informação de Vigilância e Controle da Qualidade da
água
SUS Sistema Único da Saúde
SVS Secretaria de Vigilância em Saúde
UFC/mL Unidades Formadoras de Colônia por mililitro
VIGIAGUA Programa Nacional de Vigilância da água para consumo humano
uT Unidades Nefelométricas de Turbidez
VMP Valor Máximo Permitido
WEF Water Enveronment Federation
WHO World Health Organization
SUMÁRIO
1.0 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 14
2.0 OBJETIVOS ................................................................................................................... 16
2.1 Objetivo geral ................................................................................................................... 16
2.2 Objetivos específicos ........................................................................................................ 16
3.0 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................. 17
3.1 Água e saúde ..................................................................................................................... 17
3.2 Abastecimento de água para populações urbanas............................................................. 19
3.2.1 Sistemas de abastecimento ............................................................................................ 19
3.2.2.1 Sistema de abastecimento de água em Juazeirinho .................................................... 20
3.3 Normatização da qualidade da água para consumo humano ............................................ 21
3.4 Programa nacional de vigilância da qualidade da água para consumo humano ............... 23
3.5 Plano de segurança da água .............................................................................................. 24
3.6 Parâmetros físico-químicos e microbiológicos para avaliação da qualidade da água ...... 25
3.6.1 Temperatura ................................................................................................................... 25
3.6.2 Turbidez ......................................................................................................................... 26
3.6.3 Cloro residual livre (CRL) ............................................................................................. 26
3.6.4 pH .................................................................................................................................. 26
3.6.5 Alumínio ........................................................................................................................ 27
3.6.6 Fluoreto .......................................................................................................................... 27
3.6.7 Condutividade elétrica ................................................................................................... 28
3.6.8 Bactérias heterotróficas ................................................................................................. 29
3.6.9 Coliformes totais e Escherichia coli .............................................................................. 29
3.7 Diretrizes para a formulação de Planos Municipais de Vigilância da Qualidade da
Água de Abastecimento ................................................................................................... 30
3.8 Medidas de proteção da qualidade da água de abastecimento.......................................... 31
4.0 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................... 33
4.1 Área de estudo .................................................................................................................. 33
4.2 Pontos de coleta ................................................................................................................ 34
4.2.1 Creche Municipal Edvaldo Motta.................................................................................. 35
4.2.2 Escola Municipal de Ensino Fundamental Frei Damião ............................................... 36
4.2.3 Escola Municipal de Ensino Fundamental Severino Marinheiro...........................37
4.2.4 Hospital Municipal de Juazeirinho ................................................................................ 38
4.3 Metodologia de coleta e preservação das amostras .......................................................... 39
4.3.1Temperatura .................................................................................................................... 40
4.3.2 pH .................................................................................................................................. 40
4.3.3 Turbidez ......................................................................................................................... 41
4.3.4 Cloro residual livre (CRL) ............................................................................................. 41
4.3.5 Condutividade elétrica ................................................................................................... 41
4.3.6 Alumínio ........................................................................................................................ 42
4.3.7Fluoreto ........................................................................................................................... 42
4.3.8 Bactérias heterotróficas ................................................................................................. 42
4.3.9 Coliformes totais e Escherichia coli .............................................................................. 43
4.4 Análise dos dados ............................................................................................................. 43
5. RESULTADOS ................................................................................................................. 45
5.1 Verificação de conformidade com a Portaria MS 2.914/2011 e estatística descritiva ..... 45
5.1.1 Temperatura ................................................................................................................... 47
5.1.2 pH .................................................................................................................................. 48
5.1.3 Turbidez ......................................................................................................................... 49
5.1.4 Cloro Residual Livre ..................................................................................................... 50
5.1.5 Fluoreto .......................................................................................................................... 51
5.1.6 Alumínio ........................................................................................................................ 52
5.1.7 Condutividade elétrica ................................................................................................... 54
5.1.8 Bactérias heterotróficas ................................................................................................. 55
5.1.9 Coliformes totais e Escherichia coli .............................................................................. 56
5.2 Análise de variância (ANOVA) ....................................................................................... 57
5.2.1 Creche Municipal Edvaldo Motta.................................................................................. 58
5.2.2 EMEF Frei Damião ....................................................................................................... 59
5.2.3 EMEF Severino Marinheiro .......................................................................................... 61
5.2.4 Hospital Municipal de Juazeirinho ................................................................................ 63
6.0 DISCUSSÃO ................................................................................................................... 65
6.1 A situação da qualidade da água de abastecimento de Juazeirinho .................................. 65
6.2 Plano Municipal de Vigilância da Qualidade da Água de Abastecimento de
Juazeirinho ....................................................................................................................... 65
6.3 Medidas de proteção da qualidade da água de abastecimento de Juazeirinho ................. 67
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 69
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 70
14
1.0 INTRODUÇÃO
A água é um recurso natural precioso e necessário para a existência de vida na Terra.
Entretanto, o uso desregrado da água, bem como o descuido com os lançamentos de efluentes
nos corpos hídricos e o uso que se faz do solo, desconsiderando a capacidade de
autodepuração do corpo hídrico, somado à crescente demanda por água, fez com que esta se
tornasse cada vez mais poluída e escassa, refletindo na qualidade de vida das populações
quando a mesma passou a não ser suficiente em qualidade e quantidade para diferentes usos
(ARAUJO; SANTAELLA, 2003).
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), todas as pessoas têm o
direito de acesso a um suprimento adequada de água potável e segura, que não represente
risco significativo à saúde (OPS, 2016). Ressalta-se, portanto, a necessidade de adoção de
certos cuidados com a sua qualidade, visto que várias doenças estão associadas à sua
contaminação.
Estudos demonstram que diversos agravos à saúde, relacionados à contaminação da
água, tiveram confirmação epidemiológica, atingindo tanto os países desenvolvidos quanto os
subdesenvolvidos ou em desenvolvimento (WHO, 2008). Algumas epidemias de doenças
gastrointestinais, a exemplo da cólera, têm como via de transmissão a água contaminada
(SCURACCHIO, 2011).
O estudo de Rocha et al. (2011) aponta que, no Brasil, vinte mil crianças menores de
cinco anos morrem anualmente por doenças diarreicas. Segundo Caubet (2006), dois milhões
de seres humanos, principalmente crianças, morrem anualmente nos países mais pobres por
causa de doenças gastrointestinais relacionadas à falta de água tratada.
A monitoração da qualidade da água utilizada para consumo humano distribuída
coletivamente por meio de sistema ou solução alternativa coletiva de abastecimento de água
deve ser objeto de controle e vigilância, devendo atender ao padrão de potabilidade que
dispõe a Portaria Nº 2.914/2011 do Ministério da Saúde, para que não ofereça riscos à saúde
da população. Nessa Portaria são estabelecidos parâmetros para a presença de coliformes
totais e Escherichia coli, necessitando haver ausência em 100 mL desses indicadores. Em
relação a parâmetros físico-químicos, é necessário que em toda a extensão do sistema de
distribuição haja a manutenção da concentração mínima de cloro residual livre de 0,2
mgCl2/L e da concentração máxima de 2,0 mgCl2/L de cloro residual combinado, devendo o
pH estar na faixa entre 6,0 e 9,5. O valor máximo de turbidez na saída de filtros rápidos deve
15
ser de 0,5 uT, na saída de filtros lentos 1,0 uT e em qualquer ponto da rede de distribuição de
água 5,0 uT.
Em todo o território nacional, após o tratamento convencional, a água deverá estar
com os parâmetros físico-químicos e microbiológicos de acordo com a referida Portaria
(BRASIL, 2011). No decorrer de todo o sistema de abastecimento, o controle da qualidade da
água para consumo humano deve ser realizado pelo serviço de abastecimento (empresa de
saneamento), sendo a vigilância da qualidade da água atribuição da autoridade de saúde
(D’AGUILA et al., 2000; BRASIL, 2011).
A qualidade da água de uma torneira do usuário pode ser distinta da qualidade da
água que deixou a estação de tratamento devido à sua susceptibilidade a diversas mudanças
no decorrer do sistema de distribuição (FREITAS et al., 2001). Estas mudanças são causadas
por variações químicas e biológicas, ou por perda da integridade do sistema (DEININGER et
al., 1992).
Fatores como a qualidade química e biológica do manancial, eficácia do processo de
tratamento, tipo, idade, projeto e manutenção da rede e a qualidade da água tratada
influenciam na ocorrência de mudanças (CLARCK; COYLE, 1989). Também, a
irregularidade do abastecimento de uma determinada área urbana pode modificar a qualidade
da água tratada com a introdução de agentes patogênicos na rede de distribuição (ROCHA et
al., 1998). Essa irregularidade de abastecimento é, frequentemente, determinada por eventos
ambientais críticos, a exemplo da estiagem, que afetam gravemente a qualidade dos serviços
públicos, em particular nas regiões áridas e semiáridas.
Com base nessas características, existe a preocupação de se monitorar as águas de
abastecimento público e verificar se as mesmas se encontram em condições de potabilidade,
de forma que não ofereçam risco à saúde da população (FREITAS et al., 2001).
Neste contexto, este trabalho buscará avaliar a qualidade microbiológica e físico-
química da água para abastecimento humano, fornecida por solução alternativa e por rede
geral, de uma creche, duas escolas municipais e de um hospital da cidade de Juazeirinho,
estado da Paraíba, considerados vulneráveis, por serem pontos de grande concentração e
circulação de pessoas e por atenderem grupos de risco.
16
2.0 OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Avaliar a qualidade da água de abastecimento urbano em estabelecimentos
municipais de Juazeirinho (PB), com base em indicadores físico-químicos e microbiológicos
selecionados, conforme a Portaria nº 2.914/2011 do Ministério da Saúde, podendo contribuir
para a formulação do Plano Municipal de Vigilância da Qualidade da Água de Abastecimento
fornecida por rede geral e soluções alternativas.
2.2 Objetivos específicos
Caracterizar a qualidade da água fornecida, por rede geral e soluções alternativas, em
estabelecimentos municipais de Juazeirinho (PB), com base em indicadores físico-
químicos e microbiológicos selecionados;
Propor medidas de proteção da qualidade da água de abastecimento de
estabelecimentos públicos municipais de Juazeirinho (PB);
Propor diretrizes para a formulação do Plano Municipal de Vigilância da Qualidade
da Água de Abastecimento de Juazeirinho (PB).
17
3.0 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 Água e saúde
A água é um recurso natural abundante e indispensável para a vida humana, o
desenvolvimento econômico e o meio ambiente, sendo considerado um recurso insubstituível.
O abastecimento de água em termos de quantidade e qualidade é uma preocupação crescente
da humanidade, devido à escassez da água e à deterioração de sua qualidade, interferindo na
proteção à saúde pública (MATTOS; SILVA, 2002).
Durante séculos, foi considerado que as fontes de água eram inesgotáveis, porém, o
desenvolvimento industrial e tecnológico, a urbanização, o crescimento da população mundial
e a expansão agrícola comprometem a capacidade de autodepuração das águas (BAGNARA
et al., 2014). Tais fatores contribuem para a poluição e contaminação dos recursos hídricos, o
que prejudica a disponibilidade, em quantidade e qualidade, de água para o consumo humano
(BOMFIM et al., 2007). Além da poluição direta das fontes de água, os sistemas de
distribuição e reservatórios também podem ser responsáveis pela transmissão de agentes
patogênicos, caso estejam em condições inadequadas de higiene e conservação (MICHELINA
et al., 2006).
Dentre os principais usos da água, o abastecimento público é o mais nobre e
exigente, devendo esta ser considerada potável, ou seja, deve atender aos parâmetros
microbiológicos, físicos, químicos e radioativos definidos pela legislação vigente e não
oferecer riscos à saúde do consumidor (SPERLING, 2005).
Visando assegurar a qualidade da água, o Ministério da Saúde estabeleceu os
procedimentos e responsabilidades referentes ao controle e à vigilância da qualidade da água
para consumo humano e seu padrão de potabilidade através da Portaria MS Nº 2914 de 12 de
dezembro de 2011 (BRASIL, 2011). Desta forma, em todo o território nacional, após o
tratamento, a água deverá atender aos parâmetros estabelecidos na referida Portaria.
O controle da qualidade da água para consumo humano no sistema de abastecimento
é de responsabilidade da empresa responsável pelo serviço de abastecimento de água local e a
monitoração de vigilância compete à autoridade de saúde pública, particularmente à
Secretaria Estadual de Saúde (D’ AGUILA et al., 2000).
Segundo Freitas et al. (2013), quando a água não passa por um tratamento prévio
adequado ela pode ser um meio de transmissão de doenças. Isto ocorre devido à propriedade
solvente da água que favorece a incorporação de impurezas, as quais definem sua qualidade
18
(SPERLING, 2005). Assim, o tratamento adequado da água é necessário para remover
organismos patogênicos e substâncias químicas que representam risco à saúde e atender ao
padrão organoléptico (cor, gosto e odor), estimulando a aceitação para o consumo sem causar
danos à saúde (CAMPOS et al.,2002).
As principais contaminações microbianas da água são bactérias patógenas, vírus e
parasitas (Tabela 3.1). Destas, as bactérias representam o agente patógeno de maior
morbidade, sendo responsáveis por enterites, diarreias infantis e doenças epidêmicas, podendo
apresentar alta taxa de mortalidade (D’AGUILA et al., 2000).
Tabela 3.1 – Doenças veiculadas por água contaminada e respectivos agentes infecciosos
DOENÇA AGENTE CAUSADOR
Cólera Vibrio cholerae
Disenteria bacilar Shigella sp.
Febre tifoide Salmonella typhi
Hepatite infecciosa Vírus da hepatite do tipo A
Febre paratifoide Salmonella paratyphi A, B e C
Gastroenterite Outros tipos de Salmonella, Shigella, Proteus sp.
Diarreia infantil Tipos enteropatogênicos de Escherichia coli
Leptospirose Leptospira sp.
Fonte: D’ AGUILA et al., 2000
A água tratada pode ser contaminada durante a sua distribuição e, mesmo, nas
instalações prediais, particularmente nos reservatórios. As causas mais frequentes da
contaminação da água em reservatórios são a vedação inadequada das caixas d’água e
cisternas, e falta de um programa de manutenção, incluindo limpeza e desinfecção regular e
periódica.
Entre as classes etárias mais atingidas por doenças de veiculação hídrica estão os
idosos e, particularmente, as crianças, pela fragilidade do seu sistema imunológico. Por isso, é
importante a realização sistemática de controle e vigilância da qualidade da água utilizada
para abastecimento de escolas e creches (CALAZANS et al., 2004).
Portanto, o monitoramento rotineiro das condições sanitárias da água para consumo
humano é um meio efetivo de realizar a vigilância da sua qualidade, relevante para determinar
a segurança para o consumo e ensejar a proteção à saúde pública (D’AGUILA et al., 2000;
FEITOSA NETO et al., 2006).
19
3.2 Abastecimento de água para populações urbanas
A água utilizada para consumo humano é um bem essencial que garante saúde e
qualidade de vida à população, quando distribuída em quantidade suficiente e com qualidade
que atenda ao padrão de potabilidade estabelecido na legislação vigente. No Brasil, os
potenciais de água doce são extremamente favoráveis para os diversos usos, no entanto, as
características de recurso natural renovável, em várias regiões do país, têm sido drasticamente
afetadas (DANIEL; CABRAL, 2011). Garantir a qualidade da água para consumo humano
fornecida por um sistema de abastecimento público, constitui elemento essencial das políticas
de saúde pública (RODRIGUES, 2014).
De acordo com o Relatório Nacional de Acompanhamento dos Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio – ODM, no Brasil, o acesso à água de abastecimento, por
canalização interna, proveniente de rede geral, pela população urbana, teve um crescimento de
89,6% em 1990 para 93,4 % em 2012; no Nordeste este aumento foi de 51,3% em 1990 para
79,6% em 2012. No entanto, existe uma distribuição desigual do serviço entre regiões do país.
Segundo estudos realizados junto aos serviços autônomos de água e esgoto,
incluindo os operados pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa), cerca de 50% dos sistemas
de abastecimento de água usavam algum tipo de tratamento e, destes, apenas 39% o faziam
por meio de estações de tratamento. O controle da qualidade da água era feito em apenas 59%
dos municípios que dispunham de laboratórios de análises.
Na Paraíba, do total de 223 municípios, 212, incluindo o município de Juazeirinho,
possuem serviço de abastecimento de água por rede geral de distribuição, sendo mananciais
superficiais citados como fonte de recursos hídricos usados nesse serviço (IBGE, 2010).
3.2.1 Sistemas de abastecimento
Segundo Castania (2009), as águas captadas dos mananciais, para consumo humano
e atividades socioeconômicas, possuem qualidades naturais variadas, que estão relacionadas
com o ambiente de origem, por onde percolam, circulam ou são armazenadas. Além disso,
fontes naturais de água podem ser poluídas pelas mais diversas atividades antrópicas como
despejos de esgotos domésticos e agroindustriais, passando a carrear contaminantes diversos.
20
O sistema de abastecimento de água (SAA) para consumo humano é definido,
conforme a Portaria 2.914/2011 como sendo “uma instalação composta por um conjunto de
obras civis, materiais e equipamentos, desde a zona de captação até as ligações prediais,
destinada à produção e ao fornecimento coletivo de água potável, através de rede de
distribuição, sob a responsabilidade do poder público, mesmo que administrada em regime de
concessão ou permissão”. Compõem um sistema de abastecimento de água convencional as
seguintes unidades: captação, adução, tratamento, reservação e distribuição.
Segundo Freitas et al. (2001), a qualidade da água de uma torneira do usuário pode
ser distinta da qualidade da água que deixou a estação de tratamento, uma vez que a água
pode sofrer alterações químicas, físicas e/ou biológicas no intervalo entre o tratamento, a
reservação e a distribuição. Essas eventuais alterações na qualidade da água podem ocorrer
devido a fatores como a corrosão e formação de incrustações no interior das tubulações e
desenvolvimento de biofilmes na rede de distribuição (VENTURINI E BARBOSA, 2002).
Desta forma, a qualidade da água deve ser objeto de monitoramento contínuo com o intuito de
verificar sua potabilidade e proteger a saúde pública.
3.2.2.1 Sistema de abastecimento de água em Juazeirinho
O abastecimento de água da cidade de Juazeirinho ocorre por rede de distribuição,
por solução alternativa coletiva e solução alternativa individual. O SAA por rede de
distribuição é operado pela Companhia de Água e Esgotos da Paraíba – CAGEPA. As outras
formas de abastecimento que ocorrem são por carros-pipa, mananciais superficiais e
subterrâneos com tratamento simplificado ou sem tratamento, por cisternas individuais e por
meio de chafariz comunitário (PREFEITURA MUNICIPAL DE JUAZEIRINHO, 2015).
O SAA de Juazeirinho tem como principal manancial o açude Epitácio Pessoa, para
abastecimento de água por rede de distribuição, atendendo a este e mais 18 municípios e 5
distritos. A água chega ao município, através de linha adutora de água tratada (Adutora do
Cariri), sendo esta tratada na Estação de Tratamento de Água de Boqueirão. A estação de
tratamento é do tipo convencional (coagulação, floculação, decantação, filtração e
desinfecção).
No período entre março e dezembro de 2016, época de estiagem na região, a
CAGEPA adotou uma política de racionamento na cidade, em decorrência do baixo volume
de água armazenado no açude Epitácio Pessoa. Assim, a população atendida pelo
abastecimento feito pela empresa responsável, só recebeu água da estação de tratamento a
21
cada quinze dias. Tipicamente, os prédios residenciais e de estabelecimentos prestadores de
serviços, para atender às populações usuárias, nesse período de interrupção, dispõem de
cisternas, abastecidas alternativamente por carros-pipa; com o auxílio de bombas a água é
direcionada para caixas de polietileno para serem distribuídas para as torneiras, conforme o
esquema apresentado na Figura 3.1.
Figura 3.1 – Esquema das cisternas dos estabelecimentos estudados
3.3 Normatização da qualidade da água para consumo humano
Registros do Ministério da Saúde apontam que a atenção das autoridades de saúde do
Brasil sobre a qualidade da água para consumo humano surgiu no início do Século XX, no
ano de 1920, com a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) promove estudos toxicológicos e,
atualmente, é a instituição responsável por recomendar valores máximos permitidos e
metodologias analíticas para determinação dos parâmetros de qualidade da água (WHO,
2011). No Brasil, a preocupação com a potabilidade da água, assim como sua normatização e
padronização são atribuídas como responsabilidade do Ministério da Saúde (MS), através do
Decreto Federal nº 79.367 de 9 de março de 1977, devendo estas normas serem adotadas por
todos os órgãos e entidades, em esfera nacional, responsáveis pela operação dos sistemas de
abastecimento público (FORMAGGIA, 2007).
A partir desse decreto, foi criada a primeira norma de potabilidade da água para
consumo humano, a Portaria do MS nº 56 de 1977, que previa como competência das
Secretarias de Saúde dos Estados, do Distrito Federal e dos territórios federais, exercerem a
fiscalização e o controle do cumprimento das normas e do padrão de potabilidade da água
(FREITAS; FREITAS, 2005).
22
A referida Portaria foi revisada no ano de 1988, e, em 1990, foi substituída pela
Portaria do MS nº 36, publicada em 19 de janeiro. Nessa nova Portaria foram acrescentadas as
definições de controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano, não descritas
na Portaria n° 56 de 1977. Também apresentou como avanços a previsão de revisão a cada 5
anos, a definição de sistema de abastecimento e a inclusão e revisão de alguns parâmetros
químicos e microbiológicos (FREITAS; FREITAS, 2005).
A Portaria MS nº 1469 foi publicada em 29 de dezembro de 2000. Nesta Portaria
foram determinadas normas e responsabilidades relativas ao controle e vigilância da qualidade
da água para consumo humano. Foi também incorporada a pesquisa de novos parâmetros
microbiológicos para cianobactérias, cianotoxinas e de cistos de Giardia spp e oocistos de
Cryptosporidium sp (BRASIL, 2000; FREITAS; FREITAS, 2005).
Essa Portaria definiu que as soluções alternativas coletivas de abastecimento de água
para consumo humano compreendem toda modalidade de abastecimento coletivo de água,
distinta do sistema de abastecimento de água, incluindo, entre outras, fonte, poço comunitário,
distribuição por veículo transportador, instalações condominiais horizontais e verticais
(BRASIL, 2000).
A referida Portaria conceituou controle da qualidade da água para consumo humano
como o conjunto de atividades, exercidas de forma contínua pelo responsável pela operação
de sistema ou soluções alternativas de abastecimento de água destinadas a verificar se a água
fornecida à população é potável, assegurando a manutenção desta condição. A vigilância da
qualidade da água para consumo humano ficou definida como o conjunto de ações adotadas,
continuamente pela autoridade de saúde pública, para verificar se a água consumida pela
população atende a esta norma e para avaliar os riscos que os sistemas e as soluções
alternativas de abastecimento de água representam para a saúde humana (BRASIL, 2000).
Percebe-se que a Portaria n° 1469/2000 avança com uma definição mais abrangente para
controle da qualidade da água para consumo humano, pois reconhece a necessidade de
monitorar também as soluções alternativas de abastecimento de água.
Em 2003 ocorreram mudanças na estrutura do Ministério da Saúde, sendo criada a
Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), que passou a exercer as atribuições do Centro
Nacional de Epidemiologia (CENEPI), pertencente à Fundação Nacional de Saúde
(FUNASA). (DOMINGUES et al., 2007). Em virtude dessa reestruturação a Portaria n°
1469/2000 foi revogada e substituída pela Portaria n° 518, publicada em 25 de março de
2004. As alterações foram referentes à transferência de competências da Funasa para a SVS e
23
ao prazo máximo para que as instituições ou os órgãos, aos quais a Portaria se aplica,
promovam as adequações necessárias ao seu cumprimento (BRASIL, 2004).
A atual norma brasileira que regulamenta os procedimentos de controle e de
vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade é a
Portaria MS n° 2914 de 12 de dezembro de 2011. Nesta, o padrão de potabilidade é descrito
como o “conjunto de valores permitidos como parâmetro da qualidade da água para consumo
humano”, sendo definidos com o objetivo de prevenir os perigos decorrentes do uso da água
de má qualidade, devendo ser alcançado através da conformidade com os Valores Máximos
Permitidos (VMP) para os parâmetros especificados em seu texto para delimitar a presença de
características ou de elementos nocivos à saúde humana (BRASIL, 2011).
Diversos indicadores que anteriormente não eram analisados passam a ser avaliados
com a norma em vigor. Substâncias químicas que representam risco à saúde pública, como o
urânio e o níquel, agrotóxicos como carbendazim, carbofurano, tebuconazol e terbufós
também foram incluídos na Portaria n° 2914/2011. Coliforme termotolerante foi retirado e
substituído por Escherichia coli, como indicador de contaminação fecal. Foram estabelecidas
metas progressivas para que os valores de turbidez sejam reduzidos e novas metodologias
para desinfecção foram propostas, como a radiação ultravioleta e o ozônio (BRASIL, 2011).
3.4 Programa nacional de vigilância da qualidade da água para consumo humano
A qualidade da água para consumo humano deve ser garantida a partir de ações
alicerçadas nos conceitos de controle e vigilância da qualidade da água para consumo
humano, visando a prevenção e o controle de doenças e agravos transmitidos pela água, com
vistas a promover o bem estar da população, de acordo com as normas vigentes.
Em 1999, foi estruturado, pelo Ministério da Saúde, o Programa Nacional de
Vigilância da Água para Consumo Humano (VIGIÁGUA), que tem por objetivo garantir à
população o acesso à água em quantidade suficiente e qualidade de acordo com o padrão de
potabilidade estabelecido na legislação vigente e, ainda, identificar fatores de risco à saúde
(BRASIL, 2006). Este programa também tem a finalidade de mapear áreas de risco, em
determinado território, através da vigilância da qualidade da água consumida pela população,
seja ela distribuída por sistema de abastecimento ou proveniente de soluções alternativas,
coletada diretamente em mananciais superficiais, poços ou caminhões pipa (BRASIL, 2003).
O Programa Vigiágua institui ações integradas e norteadas pelos princípios e
diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), de forma abrangente, com execução
24
descentralizada, respeitando as peculiaridades político-administrativas, diferenças
socioeconômicas e culturais do país (BRASIL, 2004).
Os objetivos específicos do programa VIGIÁGUA são (BRASIL, 2006):
• Reduzir a morbi-mortalidade por doenças e agravos de transmissão hídrica, por meio
de ações de vigilância sistemática da qualidade da água consumida pela população;
• Buscar a melhoria das condições sanitárias das diversas formas de abastecimento de
água para consumo humano;
• Avaliar e gerenciar o risco à saúde associado às condições sanitárias das diversas
formas de abastecimento de água;
• Monitorar sistematicamente a qualidade da água consumida pela população, nos
termos da legislação vigente;
• Informar a população sobre a qualidade da água e os riscos à saúde;
• Buscar promover a educação, a comunicação e a mobilização social;
• Fornecer subsídios à definição de estratégias de ação nas três esferas do poder
público (federal, estadual e municipal).
Segundo Freitas e Freitas (2005), no Brasil as ações de controle e vigilância da
qualidade da água estão inseridas no SISAGUA (Sistema de Informação de Vigilância e
Controle da Qualidade da Água de Consumo Humano), que tem por objetivo coletar,
transmitir e disseminar os dados obtidos por ações rotineiras de vigilância e controle da
qualidade da água, disponibilizando informações norteadoras para as práticas de vigilância
das secretarias municipais e estaduais.
Para o melhoramento dos serviços de abastecimento de água deve haver integração
dos setores de saúde, meio ambiente e saneamento, tendo como base os indicadores
epidemiológicos e ambientais obtidos com o exercício da vigilância da qualidade da água para
destinação de recursos e orientação pragmática (DANIEL; CABRAL, 2011).
3.5 Plano de segurança da água
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os planos de segurança da água
(PSA) são procedimentos de avaliação e gerenciamento de riscos à saúde em sistemas de
abastecimento de água e de fontes alternativas que contemplam as boas práticas e
minimização dos riscos (BRASIL, 2011).
25
Os PSA atuariam como instrumentos facilitadores para implantação da Portaria nº
2.914/2011, tendo como objetivos específicos:
• Prevenir ou minimizar a contaminação dos mananciais de captação;
• Eliminar a contaminação da água através de processo de tratamento adequado;
• Prevenir a (re) contaminação no sistema de distribuição de água (reservatórios e rede
de distribuição);
• Auxiliar os responsáveis pelo abastecimento na identificação e priorização de perigos
e riscos em sistemas, desde o manancial até o consumidor.
A implantação de um PSA possibilita uma segurança efetiva da água para consumo
humano, representando um instrumento para detecção de possíveis falhas no sistema de
abastecimento de água, e estruturação de planos de contingência para minimizar a chance de
incidentes (WHO, 2011).
O PSA deve ser desenvolvido pelos responsáveis pelo sistema de abastecimento,
juntamente com o Comitê de Bacia Hidrográfica (CBH) e representantes do setor saúde da
esfera federativa. Neste plano, são abordados a avaliação do sistema, o monitoramento
operacional e a comunicação de risco, abrangendo todas as etapas do abastecimento de água,
desde a captação até o uso pelo consumidor, não se restringindo apenas ao controle
laboratorial para verificação do atendimento ao padrão de potabilidade, ponderando a
vulnerabilidade do sistema para a adoção de práticas de gerenciamento (WHO, 2011).
3.6 Parâmetros físico-químicos e microbiológicos para avaliação da qualidade da água
3.6.1 Temperatura
A temperatura é uma característica física relevante como parâmetro de qualidade da
água devido à sua influência nas reações das substâncias presentes nesse recurso. Elevações
da temperatura aumentam as taxas das reações químicas e biológicas, diminuem a
solubilidade dos gases e aumentam a taxa de transferência destes (SPERLING, 2005). Em
relação às águas para consumo humano, temperaturas elevadas aumentam também a
perspectiva de rejeição ao uso (BRASIL, 2006). Devido à influência deste parâmetro nos
demais, é recomendada a análise deste apesar de não ser estabelecido o VMP para
temperatura na Portaria MS nº 2.914/2011 (SANTOS, 2011).
26
3.6.2 Turbidez
A turbidez representa um indicador organoléptico, ou seja, indicador que comunica
estímulos sensoriais que se refletem na aceitação para consumo humano, mas não
necessariamente implicam em risco à saúde. A turbidez também é um indicador sentinela,
podendo estar associado à contaminação por microrganismos (BRASIL, 2011).
A turbidez da água pode ser definida como uma medida do grau de interferência que
a passagem da luz sofre ao atravessá-la. A alteração à penetração da luz na água decorre da
presença de diversas partículas de tamanho e natureza variados, podendo estar suspensas ou
constituírem dispersões coloidais, a exemplo de argila, silte, matéria orgânica finamente
particulada, matéria inorgânica, além de plâncton e outros microrganismos (APHA, AWWA,
WEF, 2012).
A Portaria MS n° 2.914/2011 estabelece, para garantia da qualidade da água, o
padrão de turbidez com um VMP de 5,0 uT, em qualquer ponto da rede de distribuição.
3.6.3 Cloro residual livre (CRL)
A Portaria MS 2.914/2011, recomenda que deve ser garantida a manutenção de, no
mínimo 0,2 mgCl2/L e no máximo 2 mgCl2/L de cloro residual livre na rede de distribuição de
água.
O cloro aplicado nas estações de tratamento de água é o agente desinfetante mais
utilizado no Brasil e tem por objetivo a oxidação de compostos que alteram as características
da água, ou desativação de organismos patogênicos, ou ambas as ações simultaneamente. A
utilização do cloro se dá, entre outros fatores, pelo seu alto poder de oxidação e seu potencial
de desinfecção remanescente, prevenindo recontaminação na rede (BASTOS et al., 2008).
No entanto, não sendo o cloro um reagente conservativo, a concentração decai ao
longo da rede de distribuição, demandando monitoramento contínuo e recloração nos
reservatórios ou em outros pontos estratégicos, quando a concentração decair abaixo do
recomendado pela Portaria 2.914/2011.
3.6.4 pH
O pH representa a concentração ativa de íons hidrogênio (H+) e varia de 0 a 14.
Valores abaixo de 7 indicam aumento de acidez e valores entre 7 e 14 indicam aumento da
27
basicidade, influenciando em vários aspectos do tratamento (coagulação, desinfecção,
remoção de ferro, manganês e metais pesados), na solubilidade de produtos químicos e na
atividade microbiana (ARAÚJO, 2010).
A distribuição da água também é afetada pelo pH, visto que águas ácidas são
corrosivas, podendo danificar tubulações e conexões, enquanto que as básicas são incrustantes
(SILVA e OLIVEIRA, 2001). Assim, o pH da água precisa ser controlado, possibilitando que
os carbonatos presentes sejam equilibrados, para que não ocorra nenhuma das consequências
citadas (BRASIL, 2006). De acordo com o padrão de potabilidade estabelecido pela Portaria
MS nº 2.914/2011, o pH da água utilizada para consumo humano deve estar entre 6,0 e 9,5.
3.6.5 Alumínio
O alumínio é um dos elementos metálicos mais abundantes da crosta terrestre,
ocorrendo naturalmente no solo, na água e no ar, sendo redistribuído ou movido, através de
atividades naturais ou humanas. Além de se encontrar nas águas superficiais e subterrâneas, o
alumínio é um dos elementos presentes na chuva ácida, que contamina rios, lagos, peixes,
aves e, no fim da cadeia alimentar, os seres humanos (PANHWAR et al., 2015).
No tratamento das águas naturais, destinadas à produção de água para consumo
humano, o alumínio é utilizado, por vezes, na forma de sulfato, para promover a
coagulação/floculação de substâncias dispersas na água bruta, podendo gerar residuais de
alumínio na água de consumo humano. Quando a concentração de alumínio residual é alta e
esse se encontra dissolvido na água, tendo havido a correção final de pH anteriormente à
reservação da água, pode ocorrer a formação de precipitado, causando a formação de
incrustações nas paredes internas das tubulações da rede de distribuição (WHO, 2011).
Existe uma considerável preocupação no que diz respeito ao alumínio que é ingerido,
tanto nos alimentos como na água, por ser tóxico para o ser humano. Existe uma hipótese de
que a exposição ao alumínio é um fator de risco para o desenvolvimento ou aceleração da
Síndrome de Alzheimer em seres humanos (OMS, 2007).
O alumínio é um indicador constituinte do padrão organoléptico de potabilidade de
acordo com a Portaria MS 2.914/ 2011, a qual estabelece um VMP de 0,2 mgAl/L.
3.6.6 Fluoreto
28
A fluoretação da água para consumo humano é uma medida preventiva, de
comprovada eficácia, que reduz a prevalência de cárie dental entre 50% e 65%, em
populações sob exposição contínua desde o nascimento, por um período de aproximadamente
dez anos de ingestão da dose ótima. É um processo seguro, econômico e adequado (BRASIL,
2014).
Com a Lei Federal 6.050 de 1974, a fluoretação das águas para abastecimento onde
existe Estação de Tratamento de Água (ETA) se tornou obrigatória no Brasil, tendo a Portaria
nº 635 de 1975, do Ministério da Saúde, estabelecido padrões para operacionalização da
medida, como a determinação da concentração adequada de fluoreto para cada localidade em
função da média das temperaturas máximas diárias do ar, em graus Celsius (°C) (NARVAI,
2000). A partir de então, a cobertura populacional por esse processo tem aumentado, e, na
primeira década do Século XXI, atingiu cerca de metade da população brasileira. Atualmente,
considerando a presença de fluoreto agregado ou de ocorrência natural na água para consumo
humano, a Portaria MS 2.914/2011 estabeleceu um VMP de 1,5 mgF/L (FRAZÃO et al.,
2011). No entanto, acima dessa concentração, o fluoreto pode levar à ocorrência de fluorose,
particularmente no período de formação da dentição permanente, sendo caracterizada pela
ocorrência de manchas que comprometem a saúde e a estética dos dentes.
3.6.7 Condutividade elétrica
A condutividade elétrica da água indica sua capacidade de transmitir corrente elétrica
em função da presença de substâncias dissolvidas que se dissociam em ânions e cátions
(BRASIL, 2006). Quanto maior a concentração iônica da solução, maior é a capacidade de
ação eletrolítica e, portanto, maior a capacidade em conduzir corrente elétrica (SILVA e
OLIVEIRA, 2001). Muito embora não se possa esperar uma relação direta entre
condutividade e concentração de sólidos totais dissolvidos, já que as águas naturais não são
soluções simples, tal correlação é possível para águas de determinadas regiões onde exista a
predominância bem definida de um determinado íon em solução (BRASIL, 2006).
De acordo com Montenegro e Montenegro (2006), as características geológicas da
bacia hidrográfica influenciam na concentração de sólidos dissolvidos e sais que serão
carreados para o corpo aquático, influenciando no valor da condutividade.
Enquanto as águas naturais apresentam níveis de condutividade na faixa de 10 μS/cm
a 100 μS/cm, em ambientes poluídos por esgotos domésticos ou industriais os valores podem
chegar a 1.000 μS/cm (BRASIL, 2006). Mas, de acordo com o padrão de potabilidade
29
estabelecido pela Portaria MS nº 2.914/2011, não há valores estipulados para condutividade
elétrica.
3.6.8 Bactérias heterotróficas
Sua determinação é útil para avaliar as condições higiênicas nos sistemas de
distribuição de água para consumo humano, uma vez que, são responsáveis pela formação de
biofilmes nas redes de distribuição de água, que, por sua vez, fornecem proteção para
microrganismos patogênicos contra a inativação por agentes desinfetantes, levando à
contaminação das águas de abastecimento no sistema de distribuição (BARTRAM et al.,
2003).
Segundo Bartram et al. (2003) não há confirmação de que as bactérias heterotróficas
causem, isoladamente, doenças em indivíduos saudáveis que consomem águas contendo-as,
porém, a presença desses organismos indica também uma possível contaminação fecal.
Indivíduos com imunidade comprometida como pacientes de unidades de terapia intensiva, de
clínicas de hemodiálise, crianças menores de dois anos e idosos, estão sujeitos a efeitos
danosos da ingestão das bactérias heterotróficas. Desta forma, fica evidente que, do ponto de
vista microbiológico, a vigilância da qualidade da água deve priorizar localidades onde se
encontram os indivíduos susceptíveis.
Segundo disposição da Portaria Nº 2.914/2011, a contagem de bactérias
heterotróficas deve ser realizada em 20% das amostras mensais para análise de presença de
coliformes totais nos sistemas de distribuição (reservatório e rede) e que não sejam
extrapoladas 500 UFC/mL. No caso de alterações bruscas ou acima do usual na contagem de
bactérias heterotróficas, essas devem ser investigadas e providências adotadas para o
restabelecimento da integridade do sistema de distribuição.
3.6.9 Coliformes totais e Escherichia coli
Os coliformes totais são um grupo de bactérias constituído por bacilos gram-
negativos, aeróbios ou anaeróbio-facultativos, não formadores de esporos, oxidase-negativa,
capazes de crescer na presença de sais biliares ou outros compostos ativos de superfície, com
propriedades similares de inibição de crescimento, e que fermentam a lactose com produção
de ácidos, aldeídos e gás a 35± 0,5 oC em 24 a 48 horas. Incluem espécies dos gêneros
30
Klebsiella, Enterobacter e Citrobacter, sendo Escherichia coli a principal representante do
subgrupo termotolerante, estando constantemente presente na flora intestinal humana e de
animais homeotérmicos (ZULPO et al., 2006).
Zulpo et al. (2006) afirmam que os coliformes totais são encontrados no solo e nos
vegetais, possuindo a capacidade de se multiplicarem na água com relativa facilidade. A
detecção desses organismos pode revelar crescimento microbiano e, possivelmente, a
formação de biofilmes, assim como intrusão de material externo no sistema de abastecimento
de água.
A Escherichia coli, é considerada o indicador mais específico de contaminação fecal
e de possível presença de organismos patogênicos entéricos na água, tendo origem
exclusivamente fecal e capacidade de sobrevivência semelhante às bactérias
enteropatogênicas (OMS, 2006).
Para o atendimento aos padrões estabelecidos pela Portaria N° 2.914/2011, deve
haver ausência desse grupo em 100 ml das amostras na saída do tratamento e no sistema de
distribuição (reservatório e rede); em sistemas ou soluções alternativas coletivas que
abastecem a partir de 20.000 habitantes, ausência em 100 mL de 95% das amostras analisadas
no mês. Já em sistemas ou soluções alternativas coletivas que abastecem menos de 20.000
habitantes apenas uma amostra, entre as examinadas no mês, poderá apresentar resultado
positivo.
3.7 Diretrizes para a formulação de Planos Municipais de Vigilância da Qualidade da
Água de Abastecimento
A Portaria MS nº 2.914/2011 explicita a necessidade do responsável pelo sistema ou
pela solução alternativa de abastecimento de água para consumo humano manter avaliação
periódica do sistema sob a perspectiva dos riscos à saúde, com base na qualidade da água
distribuída, conforme os princípios dos planos de segurança da água recomendados pela
Organização Mundial da Saúde ou definidos em diretrizes vigentes no País, com finalidade de
oferecer água segura e de qualidade à população e, assim, proteger a sua saúde.
Segundo a Diretriz Nacional do Plano de Amostragem da Vigilância em Saúde
Ambiental relacionada à qualidade da água para consumo humano, são apresentadas
sugestões de informações mínimas voltadas à elaboração do plano da vigilância da qualidade
da água para consumo humano:
31
1º) Caracterização geográfica das áreas abastecidas;
2º) Caracterização dos sistemas e soluções alternativas de abastecimento de água;
3º) Definição dos pontos de coleta de amostras;
4º) Definição dos indicadores a serem monitorados;
5º) Definição da frequência de coleta e número de amostras a serem analisadas
3.8 Medidas de proteção da qualidade da água de abastecimento
A escassez hídrica no semiárido brasileiro é afetada não apenas pela quantidade,
como pela qualidade, pois leva a população a adotar medidas emergenciais para conviver com
a estiagem, dentre estas a construção de açudes, poços, cisternas, entre outras. Esses sistemas
alternativos de abastecimento, cuja água, em geral, não é tratada, podem aumentar a
prevalência das doenças de veiculação hídrica.
Por intermédio de programas de âmbito municipal, estadual e federal e de
organizações não governamentais, a disseminação da utilização de cisternas como alternativa
de abastecimento de água é notória em regiões que sofrem de pobreza hídrica. Construídas
com a finalidade de captar e armazenar água de chuva, as mesmas podem ser abastecidas por
água oriunda de carros-pipa, e, embora possa minimizar o problema da disponibilidade de
água, este tipo de abastecimento pode se constituir em fonte de contaminação por fatores
ligados à origem da água, pela vulnerabilidade a que a água está exposta durante o transporte
e condições de limpeza a que estes carros são submetidos. Portanto, tanto a água proveniente
da chuva como a transportada por carros-pipa precisam atender aos padrões de potabilidade
para o consumo humano.
A construção de cisternas próximas a fossas e esgotos, a falta de conservação e
manejo adequado das mesmas, tampas inadequadas, problemas de rachaduras e uso de cordas
e baldes para tirar a água da cisterna, também propiciam contaminação da água. A
manutenção da qualidade da água adequada para o consumo humano implica na adoção de
medidas a fim de evitar contaminações, as quais dividem-se, basicamente, em dois grupos.
Essas medidas podem ser baseadas em ações que visem a criação de barreiras físicas aos
possíveis contaminantes, bem como na manutenção e aplicação de tratamentos da água da
cisterna (AMORIM e PORTO, 2001).
Algumas medidas devem ser adotadas para garantir a potabilidade da água, como
cuidados de limpeza e manutenção do sistema de coleta de água de chuva, limpezas
32
periódicas da cisterna, verificação de rachaduras, problemas com as tampas e possíveis
entradas de contaminantes. Cuidados com a operação de retirada da água da cisterna para
consumo, evitando-se o uso de baldes e cordas, utilização de telas em todos os dispositivos de
entrada ou saída da cisterna, são medidas básicas que devem ser adotadas pelo usuário da
cisterna, na busca da manutenção da qualidade da água armazenada. No entanto, mesmo
adotados todos estes procedimentos, é prudente tratar a água da cisterna antes de usá-la,
adotando-se a filtração e a desinfecção como métodos de tratamento. O TEXAS GUIDE TO
RAINWATER HARVESTING (1997) recomenda a filtração e alguma forma de desinfecção
como tratamento mínimo da água para ser usada para consumo humano, podendo ser usado o
processo de fervura da água durante cerca de 5 minutos.
33
4.0 MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Área de estudo
Esta pesquisa foi realizada na cidade de Juazeirinho (7º 4’ 1” Sul e 36º 24’ 42”
Oeste), sede do município homônimo, localizado na Mesorregião da Borborema e na
Microrregião do Seridó Oriental do estado a Paraíba, distante 212 km da capital João Pessoa.
O município de Juazeirinho limita-se ao norte com os municípios de São Vicente do Seridó e
Tenório, a leste com os municípios de São Vicente do Seridó e Soledade, ao sul com Gurjão e
Santo André e a oeste com Assunção (Figura 4.1), possui área de 468 km2, população 16.776
habitantes (9124 - 54% residentes na área urbana) e índice de desenvolvimento humano
municipal (IDHM) de 0,567 (IBGE, 2010).
Figura 4.1-Localização do município de Juazeirinho, estado da Paraíba
Fonte: MEIRA et al., 2017.
A pesquisa contempla o estudo da qualidade de água distribuída pelo sistema de
abastecimento público da cidade de Juazeirinho-PB, considerando que atualmente apresenta
um sistema intermitente em sua totalidade, sendo alguns setores públicos e privados,
abastecidos também por solução alternativa, a exemplo de carros-pipa.
34
4.2 Pontos de coleta
Os dados usados para avaliar a qualidade da água foram obtidos a partir de análises
realizadas no período de março a dezembro de 2016. Os indicadores foram escolhidos para
caracterizar a água sob a ótica dos riscos físicos, químicos e microbiológicos.
Para levar a efeito esta pesquisa foram selecionados 4 (quatro) estabelecimentos
públicos (Figura 4.2), levando-se em consideração as recomendações da “Diretriz Nacional do
Plano de Amostragem da Vigilância em Saúde Ambiental relacionada à qualidade da água
para consumo humano” (BRASIL, 2006), a qual estabelece que esses pontos devam ser
escolhidos de acordo com alguns critérios como distribuição geográfica (pontas de rede e
zonas de diferentes altitudes) e locais estratégicos (áreas vulneráveis e que abastecem grande
número de pessoas, ou que sejam sujeitas a interrupções no fornecimento de água).
Nesses estabelecimentos foram escolhidos 10 (dez) pontos de coletas (Tabela 4.1)
onde foram analisados indicadores físico-quimicos, considerando especialmente os
“indicadores sentinelas” e indicadores microbiológicos.
Figura 4.2 – Vista aérea dos pontos de coleta de amostras
Fonte: Adaptado do Google Earth, 2016.
35
Tabela 4.1 – Estabelecimentos selecionados na cidade de Juazeirinho-PB para coleta de
amostra e respectivos pontos de coletas
ESTABELECIMENTO PONTO
Creche Edvaldo Motta P1 – Torneira do jardim
P2 – Torneira da cisterna
P3 – Torneira da cozinha
E. M. E. F. Frei Damião P4 – Cisterna
P5 – Torneira da cozinha
E. M. E. F. Severino Marinheiro
P6 – Cisterna
P7 – Torneira da cozinha
Hospital Municipal
P8 – Cisterna
P9 – Torneira da cozinha
P10 – Água para beber
4.2.1 Creche Municipal Edvaldo Motta
A Creche Municipal Edvaldo Motta (7° 4' 9,42" Sul 36° 34' 59,39" Oeste, 556m
acima do nível médio do mar), funciona na Rua Siqueira Campos, s/n, Centro desde 1998
abrigando, em tempo integral, 71 crianças entre 20 meses e 4 anos de idade (Figura 4.3).
Figura 4.3 – Creche Municipal Edvaldo Motta localizada na cidade de
Juazeirinho/PB
A alimentação predial da creche (Figura 4.4) é feita de forma mista (direta e
indireta), sendo a torneira do jardim (P1) e a cisterna (P2), com capacidade de 10000 litros
abastecidos diretamente da rede pública de abastecimento e a distribuição predial de água
feita por uma caixa d’água elevada de 1000 litros (Cx1).
36
Figura 4.4 – Sistema de abastecimento de água da Creche Municipal Edvaldo
Motta
4.2.2 Escola Municipal de Ensino Fundamental Frei Damião
A Escola Municipal de Ensino Fundamental Frei Damião (7° 4' 16,84" Sul 36° 34'
52,84" Oeste, 547m acima do nível médio do mar), situada na rua Francisco Manoel da Silva,
s/n, Conjunto Frei Damião da cidade de Juazeirinho-PB (Figura 4.5), atende um total de 140
alunos do ensino fundamental I (66 pela manhã e 104 à tarde),com faixa etária de 4 a 13 anos.
Figura 4.5 – Escola Municipal de Ensino Fundamental Frei Damião localizada na
cidade de Juazeirinho/PB
A alimentação predial (Figura 4.6) de água também é feita de forma indireta, sendo a
distribuição predial de água feita através de uma caixa d’água de 1000 litros (Cx1) que recebe
água da cisterna (P4), com capacidade de armazenamento de 10000 litros.
Torneira do jardim (P1)
Cisterna (P2)
Cx1
37
Figura 4.6 – Sistema de abastecimento de água da Escola Municipal de Ensino
Fundamental Frei Damião
4.2.3 Escola Municipal de Ensino Fundamental Severino Marinheiro
A Escola Municipal de Ensino Fundamental Severino Marinheiro (7° 4' 16,94" Sul
36° 34' 28,35" Oeste, 548m acima do nível médio do mar) está situada na rua Antenor
Navarro, 443 no centro da cidade de Juazeirinho-PB (Figura 4.7).
Figura 4.7 – Escola Municipal de Ensino Fundamental Severino Marinheiro
localizada na cidade de Juazeirinho/PB
A alimentação predial (Figura 4.8) é feita de forma indireta, de modo que a água da
rede pública abastece por gravidade a cisterna (P6) que possui capacidade de armazenamento
de 20000 litros e, em seguida, a água é bombeada para 5 caixas de água (nível superior) com
capacidade de armazenamento de 1000 litros cada, destas 2 caixas d’água (Cx1 e Cx2)
abastecem a cozinha e dois banheiros de um lado do corredor, 1 caixa d’água (Cx3) para os
Cisterna (P4)
Cx1
38
outros banheiros (corredor e quadra de esportes) e 2 caixas d’água (Cx4 e Cx5) para abastecer
os banheiros da secretaria.
A escola funciona no turno diurno com turmas do ensino fundamental I e II, com
aproximadamente 1.135 alunos, sendo 605 alunos pela manhã e 530 alunos à tarde e no turno
noturno com turmas de Educação de Jovens e Adultos com aproximadamente 150 alunos.
Figura 4.8 – Sistema de abastecimento de água da Escola Municipal de Ensino
Fundamental Severino Marinheiro
4.2.4 Hospital Municipal de Juazeirinho
Localizado na Rua Carmem Verônica Araújo Barbosa, 469, Bela Vista na cidade de
Juazeirinho – PB (7° 3' 53,30" Sul 36° 34' 38,13" Oeste, 569m acima do nível médio do mar),
o Hospital Municipal de Juazeirinho (Figura 4.9) é abastecido pela rede de distribuição
pública (CAGEPA).
Figura 4.9– Hospital Municipal localizado na cidade de Juazeirinho/PB
Cisterna (P6)
Cx1 e Cx2
Cx3
Cx4 e Cx5
39
O sistema de abastecimento do hospital (Figura 4.10) pela rede geral está projetado
de maneira convencional, a água abastece a cisterna (P8) que possui capacidade de
armazenamento de 24000 litros e desta é bombeada para uma caixa d’água superior (Cx1)
com capacidade de armazenamento de 1000 litros. Mas, há muitos anos, por conta de uma
divida com a Companhia de Água e Esgotos da Paraíba o fornecimento foi suspenso. Assim,
o hospital municipal é abastecido exclusivamente por carros-pipa.
Figura 4.10 – Sistema de abastecimento de água Hospital Municipal
4.3 Metodologia de coleta e preservação das amostras
As coletas foram realizadas manualmente (Figura 4.11), sendo as torneiras abertas
por cerca de 3 minutos, deixando-se escoar a água estagnada na tubulação, e em seguida feita
a assepsia das mesmas com álcool 70% para posteriormente ser realizada a coleta das
amostras.
Para as análises físico-químicas (temperatura, pH, turbidez, cloro residual livre,
condutividade elétrica, alumínio, fluoreto) as amostras foram coletadas em garrafa plástica
(PET) de 2L, coberta com uma capa preta para evitar a incidência direta de luz solar na
amostra e para as análises microbiológicas (bactérias heterotróficas, coliformes totais e
Escherichia coli) as amostras foram coletadas em frascos de vidro âmbar estéreis com
capacidade de 100 mL com boca larga, tampa rosqueada, e protegida com papel laminado,
sendo todas acondicionadas em caixa térmica com gelo.
Em seguida, as amostras eram analisadas em triplicata, sendo que as análises dos
indicadores temperatura, pH, turbidez e cloro residual livre eram realizadas in loco e as
demais análises (condutividade elétrica, alumínio, fluoreto) realizadas no Laboratório de
Qualidade de Água da Universidade Federal de Campina Grande, Campus I e as análises
Cisterna (P8) Cx1
40
microbiológicas realizadas no Núcleo de Pesquisa e Extensão em Alimentos da Universidade
Estadual da Paraíba. Nesta etapa, os métodos analíticos utilizados na pesquisa seguiram os
procedimentos padrões descritos no Standard Methods for the Examination of Water and
Wastewater (APHA, AWWA, WPCF, 2012), os quais são também descritos por Silva e
Oliveira (2001).
Figura 4.11 – Pontos de coletas: cisterna da EMEF Severino Marinheiro (a), cisterna do Hospital
Municipal (b), cozinha da Creche Municipal Edvaldo Motta (c) e cozinha da EMEF
Frei Damião (d), localizados na cidade de Juazeirinho/PB
4.3.1Temperatura
A temperatura foi determinada com o auxílio de um termômetro de filamento de
mercúrio, escala de 0 a 60ºC.
4.3.2 pH
O pH foi determinado pelo método potenciométrico (aparelho medidor de diferença
de potencial) que determina a atividade iônica do hidrogênio, com o auxílio de um pH-metro
portátil (Figura 4.12a) modelo TECNAL TEC 3MPp, calibrado com soluções tamponadas de
pH 4,0 e 7,0.
(a) (b)
(c) (d)
41
Figura 4.12 – Equipamentos utilizados na análise in loco pHmetro (a), turbidimetro (b) e bancada
para análise de cloro (c)
4.3.3 Turbidez
A turbidez foi determinada pelo método nefelométrico com a utilização de um
turbidímetro portátil modelo 2100 P TURBIDIMETER HACH (Figura 4.12b) provido de
fonte de luz de tungstênio. Este método é baseado na comparação da intensidade de luz
desviada pela amostra, com a intensidade da luz desviada por uma suspensão padrão de
referência (comumente formazina). A quantificação da turbidez é diretamente relacionada à
intensidade da luz desviada.
4.3.4 Cloro residual livre (CRL)
Para a determinação do cloro residual livre (Figura 4.12c) foi utilizado o método
titulométrico DPD – SFA (Figura 4.8c). Nesse método as espécies de cloro residual são
determinadas por titulação com sulfato ferroso amoniacal (SFA) usando oxalato ou sulfato de
N,N – dietil – p - fenilenediamina (DPD) como indicador. O procedimento de execução da
análise foi descrito por Silva e Oliveira (2001).
4.3.5 Condutividade elétrica
Para Silva e Oliveira (2001), condutividade é definida como a capacidade da água
em conduzir corrente elétrica dependendo diretamente da concentração das espécies iônicas
presentes, suas valências, e da temperatura. Pode-se associar a condutividade à concentração
de sólidos dissolvidos ou sais.
(a) (c) (b)
42
Para medição da condutividade elétrica foi utilizado o condutivímetro de bancada
QUIMIS (Figura 4.13a).
4.3.6 Alumínio
O alumínio foi determinado pelo método colorimétrico Eriocromo Cianina R,
utilizando o espectrofotômetro FEMTO 600 Plus a 535 nm (Figura 4.13b).
4.3.7 Fluoreto
O flúor foi determinado pelo método de SPADNS, baseado no desenvolvimento de
coloração produzida pela reação entre o fluoreto e o composto formado entre o zircônio e o
SPADNS, sendo a determinação da concentração de fluoreto feita por meio da medição da
absorbância da amostra através do aparelho espectrofotômetro FEMTO 600 Plus (Figura
4.13b) a 570nm (APHA, AWWA, WEF, 2012).
Figura 4.13 – Equipamentos utilizados na análise em laboratório: condutividade elétrica (a),
alumínio e fluoreto (b)
4.3.8 Bactérias heterotróficas
Para a determinação das bactérias heterotróficas foi utilizado o método de
plaqueamento em profundidade (“Pour Plate”), utilizando meio PCA (Plate Count Agar), e os
resultados expressos em unidades formadoras de colônia por mililitro (UFC/mL).
Este método consiste na transferência de 1mL da amostra, bruta ou diluída, para uma
placa de petri vazia, colocando-se, posteriormente, 10 a 20 mL do meio de cultura, fundido e
resfriado a cerca de 45 – 50°C sobre a amostra, homogeneizando-se suavemente com
movimentos circulares. Para as amostras analisadas, foi utilizada a diluição 10-1
, sendo as
placas incubadas a uma temperatura de 36°C. Após 48 horas, as placas eram retiradas da
(a) (b)
43
incubadora e realizada a contagem, sendo os resultados expressos em unidades formadoras de
colônias (UFC).
4.3.9 Coliformes totais e Escherichia coli
Para verificar a presença de coliformes totais e E. coli foi utilizada a técnica do
substrato cromogênico, baseado nas atividades enzimáticas específicas dos coliformes e E.
coli. Para cada frasco foi adicionado um flaconete de Colilert® contendo meio de cultura com
nutrientes indicadores que, hidrolisados pelas enzimas específicas dos coliformes totais e E.
coli, provocam mudança de cor no meio. Em seguida a solução foi incubada a 36ºC por 24
horas. Após este período de incubação, se a cor amarela é observada, coliformes totais estão
presentes. Posteriormente, se a fluorescência azul é observada sob luz ultravioleta E. coli está
presente (FUNASA, 2009).
4.4 Análise dos dados
Os diversos conjuntos amostrais dos indicadores quantificados nos pontos
amostrados foram estudados para a detecção e posterior remoção de outliers (valores atípicos
que não são representativos do universo amostral). Para isso foi aplicado o método de Grubbs,
com um nível de significância de 0,05. Esse método testa a existência de outliers num
universo amostral baseado na comparação do outlier suspeito com o valor estimado no
método.
A fim de verificar se os conjuntos dos dados amostrais apresentavam distribuição
normal, foi aplicado o teste não paramétrico de Kolmogorov-Smirnov a todos esses conjuntos
de dados, sendo utilizado o software Excel 2007. Para os dados que não apresentaram
distribuição normal foi necessária a utilização de transformações matemáticas simples, com o
objetivo de normalizá-los.
Em seguida foi feita a estatística descritiva dos conjuntos amostrais e aplicada a
análise da variância (ANOVA) de fator único, ao nível de significância de 5%, para
determinar a existência (P < 0,05), ou não (P > 0,05), de diferenças significativas entre eles.
Foi verificado que os resultados mostraram a existência de diferenças significativas em
algumas das variáveis estudadas. Foi aplicado, então, o método gráfico GT-2, no qual uma
igualdade estatística entre um par de valores médios é demonstrada pela intercessão dos
respectivos intervalos de comparação e a diferença significativa fica evidenciada pela não
intercessão desses intervalos.
45
5. RESULTADOS
5.1 Verificação de conformidade com a Portaria MS 2.914/2011 e estatística descritiva
Os resultados apresentados foram obtidos da análise de amostras coletadas entre
março e dezembro de 2016. Para as variáveis físico-químicas, os resultados foram,
inicialmente, submetidos à análise de conformidade com o padrão de potabilidade e à análise
estatística descritiva, sendo, também, elaborados gráficos do tipo Box-plot com o objetivo de
avaliar a distribuição empírica dos dados, expondo os aspectos mais importantes de um
conjunto de dados.
A Tabela 5.1 mostra a porcentagem de amostras em conformidade e não conformidade
com a Portaria MS 2.914/2011.
Tabela 5.1 – Concentrações de pH, turbidez, alumínio e fluoreto em não conformidade e em
conformidade com a Portaria MS 2.914/2011
Indicador/
ponto
pH turbidez alumínio fluoreto
NC
(%)
C
(%)
NC
(%)
C (%) NC
(%)
C
(%)
NC
(%)
C
(%)
P1 100 8 92 100 100
P2 100 100 7 93 100
P3 100 100 6 94 100
P4 5 95 100 6 94 100
P5 100 100 13 87 100
P6 100 6 94 100 100
P7 100 14 86 100 100
P8 100 6 94 7 93 100
P9 100 100 6 94 100
P10 100 100 100 100
Para o indicador fluoreto, todas as amostras analisadas apresentaram conformidade
com o valor máximo permitido pela Portaria 2.914/2011, ou seja, todos os valores observados
estão abaixo de 1,5 mgF/L. Por outro lado, ocorreu não conformidade para os indicadores pH
(5% no ponto P4), turbidez (entre 6 e 14%, nos pontos P6, P8, P1, P7) e alumínio (entre 6 e
13%, nos pontos P3, P4, P9, P2, P8 e P5), estando os valores determinados acima do
recomendado (0,2 mgAl/L) para o indicador alumínio.
A Tabela 5.2 apresenta as médias, desvios padrões (x± σn-1) e amplitudes (mínimo-
máximo) dos indicadores físico-químicos da qualidade das águas amostradas nos quatro
estabelecimentos investigados em Juazeirinho.
46
Tabela 5.2 – Estatística descritiva dos indicadores físico-químicos
Indicador/
Ponto Nº
T
(ºC) Nº
pH
Nº
Turbidez
(uT) Nº
Condutividade
(µS/cm) Nº
Alumínio
(mg/L) Nº
Fluoreto
(mg/L) Nº
CRL
(mg/L)
(x ± σn-1)
min- max
(x ± σn-1)
min -max
(x ± σn-1)
min- max
(x ± σn-1)
min - max
(x ± σn-1)
min - max
(x ± σn-1)
min - max
(x ± σn-1)
min - max
P1 12 27,5 ± 1,3
25,4 - 29,4 12
7,4 ± 0,46
6,4 - 7,8 12
1,15 ± 1,76
0,23 - 5,44 12
1598 ± 160
1366 - 1891 9
0,08 ± 0,05
0,00 - 0,16 11
0,73 ± 0,21
0,26 - 1,01 12
0,14 ± 0,30
0,00 - 0,97
P2 19 26,7 ± 1,3
24,2 - 28,9 19
7,7 ± 0,3
7,3 - 8,3 19
0,38 ± 0,18
0,14 - 0,90 19
1289 ± 227
957 - 1749 15
0,09 ± 0,07
0,00 - 0,22 18
0,74 ± 0,24
0,23 - 1,34 19
0,10 ± 0,23
0,00 - 0,87
P3 21 26,6 ± 1,3
24,0 - 8,6 21
7,7 ± 0,5
6,4 - 8,5 21
0,43 ± 0,27
0,15 - 1,07 20
1225 ± 236
867 - 1660 17
0,09 ± 0,07
0,00 - 0,22 20
0,70 ± 0,23
0,27 -1,44 21
0,08 ± 0,15
0,00 - 0,48
P4 21 26,7 ± 1,0
24,9 - 28,4 21
7,7 ± 0,5
5,9 - 8,1 20
0,25 ± 0,15
0,09 - 0,63 22
1278 ± 206
965 - 1644 17
0,11 ± 0,08
0,00 - 0,28 21
0,72 ± 0,18
0,28 - 1,02 21
0,01 ± 0,03
0,00 - 0,10
P5 19 26,3 ± 1,0
24,4 - 28,1 19
7,8 ± 0,4
6,6 - 8,2 19
0,40 ± 0,51
0,11 - 1,99 20
1257 ± 206
952 - 1534 16
0,21 ± 0,22
0,00 - 0,97 19
0,68 ± 0,18
0,23 - 0,87 19
0,00 ± 0,00
0,00 - 0,00
P6 17 26,8 ± 1,0
24,7 - 8,8 17
7,9 ± 0,2
7,6 - 8,4 17
1,20 ± 1,45
0,19 - 5,57 15
1241 ± 229
914 - 1545 10
0,06 ± 0,06
0,00 - 0,14 14
0,69 ± 0,25
0,34 - 1,43 18
0,06 ± 0,23
0,00 - 0,97
P7 22 26,8 ± 1,1
25,0 - 30,0 22
7,9 ± 0,3
6,6 - 8,3 22
2,00 ± 2,24
0,28 -7,37 22
1260 ± 219
933 - 1663 18
0,06 ± 0,05
0,00 - 0,14 21
0,66 ± 0,24
0,30 - 1,37 22
0,01 ± 0,02
0,00 - 0,06
P8 17 27,2 ± 1,1
24,2 - 28,6 17
7,8 ± 0,3
7,4 - 8,3 17
0,70 ± 1,61
0,11 - 6,87 18
980 ± 152
827 - 1383 15
0,06 ± 0,09
0,00 - 0,35 17
0,79 ± 0,24
0,45 - 1,35 17
0,25 ± 0,43
0,00 - 1,36
P9 21 26,9 ± 1,2
25,0 - 30,0 21
7,9 ± 0,3
6,7 - 8,3 21
0,59 ± 0,77
0,11 - 3,53 21
965 ± 98
833 - 1192 18
0,08 ± 0,08
0,00 - 0,33 20
0,70 ± 0,14
0,43 - 0,96 21
0,28 ± 0,42
0,00 - 1,40
P10 19 26,7 ± 0,9
24,4 - 28,4 19
7,9 ± 0,3
6,8 - 8,3 19
0,16 ± 0,11
0,06 - 0,45 21
162 ± 22
132 - 233 17
0,05 ± 0,04
0,00 - 0,11 20
0,36 ± 0,21
0,00 - 0,74 19
0,00 ± 0,00
0,00 - 0,02
Portaria
MS 2914/11
* 6,0 - 9,5 5 uT * 0,2 mg/L 1,5 mg/L
0,2 - 2,0
mg/L NOTA: Nº = número de dados; x = média; σn-1 = desvio padrão; min = valor mínimo; Max = valor máximo, * = não há padrão estabelecido na Portaria 2914/2011.
47
As Figuras 5.1 a 5.7 representam graficamente (box-plot) a distribuição dos dados das
variáveis físico-químicas.
5.1.1 Temperatura
Não houve grandes variações nos dados de temperatura medidos nos pontos de
coleta. O valor máximo encontrado foi de 30,0ºC nos pontos P7 e P9 e no ponto P3 foi
detectada a menor temperatura (24,0ºC). A temperatura média para todos os pontos ficou
entre 26 e 28 ºC, o que pode estar associado à localização dos reservatórios e à falta de
proteção contra radiação solar nos locais onde estão instalados, o que favorece o aumento da
temperatura e, consequentemente, a proliferação de bactérias e o aumento da velocidade de
degradação do cloro residual livre. Assim, mesmo com o risco de danos à saúde pública, não
há valores de temperatura estipulados pela Portaria MS 2.914/2011. Na Figura 5.1, pode ser
verificado que, com exceção da cisterna da EMEF Severino Marinheiro, a mediana, de cada
conjunto amostral, tendeu a descrever convenientemente o centro da amostra.
Figura 5.1- Gráficos box-plot da temperatura para os pontos de amostragem
48
5.1.2 pH
De acordo com a Portaria 2.914/2011 o pH da água potável deve estar situado no
intervalo de 6,0 a 9,5. Nas amostras analisadas, todos os valores obtidos se apresentaram
dentro do intervalo estabelecido, não ocorrendo valores extremos. Na torneira da cozinha da
EMEF Severino Marinheiro, a mediana (Figura 5.2) apresentou valor mais elevado o que
tende a influir negativamente sobre a manutenção de concentrações mais elevadas de CRL, o
que pode representar um nível menor de segurança da água.
Figura 5.2- Gráficos box-plot do pH para os pontos de amostragem
49
5.1.3 Turbidez
A turbidez é um indicador organoléptico de potabilidade e, em qualquer ponto do
sistema de distribuição de água, a Portaria 2.914/2011 estabelece 5uT como VMP (Valor
Máximo Permitido). Em 60% dos pontos amostrais foi verificada total conformidade com
esse VMP. O valor máximo observado (7,37 uT) foi na torneira cozinha da EMEF Severino
Marinheiro, ponto (P7), que apresentou o maior nível de não conformidade (14%) com o
padrão de potabilidade, indicando uma maior necessidade de cuidado com a manutenção da
instalação predial, particularmente na área da cozinha. Os gráficos box-plot da Figura 5.3
mostram a tendência da mediana não descrever adequadamente o centro amostral.
Figura 5.3 - Gráficos box-plot da turbidez para os pontos de amostragem
50
5.1.4 Cloro Residual Livre
Conforme a Portaria 2914/2011, as concentrações mínima e máxima de cloro residual
livre devem ser 0,2 mgCl2/L e 2 mgCl2/L, respectivamente, em toda a extensão do sistema de
distribuição, incluindo reservatórios e rede. Conforme observado na Tabela 5.3, durante o
período de análises foi verificado que, em todos os pontos estudados, mais de 60% das
determinações apresentaram valores para cloro residual livre abaixo do mínimo recomendado
pela Portaria MS 2.914/2011, caracterizando uma situação de risco à saúde da população,
principalmente, por ser tratar, na maioria dos casos, de pessoas doentes e crianças, com
imunidade debilitada. De fato, 4 dos 10 pontos amostrais apresentaram 100% de
concentrações de CRL abaixo do mínimo recomendado. A Figura 5.4 também ilustra a grave
situação de não conformidade com o padrão mínimo de CRL, estando as medianas dos
diversos conjuntos amostrais dessa variável muito próximas de zero.
Tal situação pode ser favorecida pela baixa frequência de abastecimento de água
através da rede geral determinada pela severa crise hídrica que vive a população dessa região,
fazendo-se necessário o abastecimento de cisternas por meio de carros-pipa, ocorrendo, por
muitas vezes, a mistura da água advinda da rede geral com as de soluções alternativas.
Tabela 5.3 – Concentrações de CRL em não conformidade e em conformidade com a
Portaria MS 2.914/2011
PONTO
N
Concentrações em não
conformidade < 0,2 mgCL2/L
Concentrações em
conformidade 0,2 - 2,0 mgCL2/L
Total % Total %
P1 12 10 83 2 17
P2 19 16 84 3 16
P3 21 17 81 4 19
P4 21 21 100 0 0
P5 19 19 100 0 0
P6 18 17 95 1 5
P7 22 22 100 0 0
P8 17 12 71 5 29
P9 21 13 62 8 38
P10 19 19 100 0 0
Nota: N = número de amostras coletadas.
51
Figura 5.4 - Gráficos box-plot de CRL para os pontos de amostragem
5.1.5 Fluoreto
Os valores de flúor ficaram abaixo do que preconiza a Portaria 2.914/2011 como
VMP de 1,5 mgF/L, indicando que a concentração detectada está relacionada com a
ocorrência natural deste íon na água. Apesar da Portaria MS 2.914/2011 não estabelecer valor
mínimo de flúor, a fluoretação representa uma relevante medida de saúde pública, devido à
abrangência coletiva desse método no controle da cárie dentária (RAMIRES e BUZALAF,
2007). A Figura 5.5 ilustra a distribuição dos dados de fluoreto com relação à mediana dos
conjuntos amostrais.
52
Figura 5.5 - Gráficos box-plot de fluoreto para os pontos de amostragem
5.1.6 Alumínio
Conforme observado na Tabela 5.1, durante o período de análises foi verificado que
4 dos 10 pontos amostrais apresentaram 100% de concentrações de alumínio em
conformidade com o padrão de potabilidade.
As fontes primárias de alumínio em água de beber são as águas naturais brutas e os
sais usados como coagulantes no tratamento da água. Embora a Organização Mundial de
Saúde recomende 0,1 mgAl/L como valor máximo permitido para águas produzidas em
grandes sistemas de abastecimento, submetidos a um nível elevado de operação, e o valor de
53
0,2 mgAl/L para sistemas mais simples, com nível de operação mais baixo, o padrão de
potabilidade ora em vigor no Brasil considera este último como VMP para a totalidade dos
sistemas operados no Brasil. A manutenção de uma concentração menor que o VMP é
importante, visto que este elemento tem sido citado como suspeito de ligação com doenças
neurológicas, particularmente em pacientes sob tratamento de hemodiálise (WHO, 2011).
De fato, sob boas condições de operação, concentrações de alumínio inferiores a 0,1
mgAl/L são verificadas em muitas circunstâncias, mas ainda de acordo com a OMS, não há
evidências toxicológicas que apoiem o estabelecimento de diretrizes baseadas em critérios de
saúde para a definição de um padrão seguro para o alumínio.
A Figura 5.6 ilustra a distribuição dos dados de alumínio com relação à mediana dos
conjuntos amostrais.
Figura 5.6 - Gráficos box-plot de alumínio para os pontos de amostragem
54
5.1.7 Condutividade elétrica
A condutividade elétrica refere-se à capacidade que a água tem de conduzir corrente
elétrica em função da presença de substâncias dissolvidas dissociadas em ânions e cátions.
Não há valores de condutividade elétrica estipulados pela Portaria MS 2.914/2011. Na Figura
5.7, pode ser verificado que, com exceção das torneiras da cozinha e do jardim da Creche
Municipal Edvaldo Motta (P3 e P1), da cisterna e da torneira da cozinha da EMEF Severino
Marinheiro (P6 e P7), a mediana, de cada conjunto amostral, tendeu a descrever
convenientemente o centro da amostra.
Figura 5.7 - Gráficos box-plot da condutividade elétrica para os pontos de amostragem
55
5.1.8 Bactérias heterotróficas
A Portaria MS 2.914/2011 recomenda que a contagem de bactérias heterotróficas não
ultrapasse o limite de 500 UFC/mL e valores acima disso ou alterações bruscas devem ser
investigados (BRASIL, 2011).
Segundo Rocha et al. (2011), a contaminação microbiana pode estar associada à má
condição de higiene da tubulação e dos reservatórios (caixas d’água) que acondicionam a
água e alimentam as torneiras, já que esses reservatórios, algumas vezes, permanecem anos
sem manutenção, criando condições favoráveis para a presença e sobrevivência de
microrganismos patógenos.
Para o indicador bactérias heterotróficas, o valor máximo permitido foi violado em
todos os pontos monitorados, ocorrendo contagens máximas significativas, conforme
apresentado na Tabela 5.4, caracterizando a má qualidade da água.
Tabela 5.4 – Estatística descritiva do indicador bactérias heterotróficas
PONTO
Mínimo
(UFC/mL)
Máximo
(UFC/mL)
Nº de
dados
FNC
(%)
P1 7 4140 8 50
P2 0 2320 14 50
P3 70 2280 15 67
P4 20 2280 17 47
P5 20 5200 15 40
P6 10 5600 13 39
P7 100 2840 17 41
P8 0 2480 15 20
P9 0 2060 17 18
P10 2 4500 15 54
NOTA: FNC= frequência de não conformidade com o Padrão de Potabilidade
Como o indicador bactérias heterotróficas está associado à manutenção e limpeza das
estruturas que acondicionam a água para distribuir até as torneiras, o estado de conservação
das mesmas influencia nas variações que possam ocorrer. Em todas as coletas realizadas
pôde-se constatar péssimas condições de infraestrutura nos pontos analisados, como a falta de
conservação e manejo adequado, tampas impróprias, problemas de rachaduras, uso de cordas
e baldes para tirar a água da cisterna, comprometendo não apenas esteticamente, mas
possibilitando a contaminação microbiana, decorrente da falta de higiene. A Figura 5.8 ilustra
o estado de conservação dessas estruturas.
56
Figura 5.8 – Detalhes dos pontos de coleta: cozinha da EMEF Frei Damião (a),
cisterna da creche Edvaldo Motta (b), cisterna do Hospital Municipal
(c) e cisterna da creche Edvaldo Motta (d) localizados na cidade de
Juazeirinho/PB
5.1.9 Coliformes totais e Escherichia coli
A Portaria MS 2.914/2011 estabelece a análise de presença/ausência de coliformes
totais e Escherichia coli para água utilizada para consumo humano. Sendo esta última
indicadora da contaminação fecal, deve estar ausente em 100 mL de amostra enquanto que o
teste de coliformes totais pode indicar presença em somente uma amostra, mensalmente, para
sistemas de distribuição ou solução alternativa que abasteça menos de 20.000 habitantes.
Através dos resultados obtidos, conforme a Tabela 5.5 é possível observar que, com
exceção do ponto P10, todos os pontos estudados apresentaram não conformidade com relação
à presença de Escherichia coli e coliformes totais. Desta forma, pode ser afirmado que a água
utilizada em todas as instalações analisadas está sujeita à contaminação de origem fecal, em
virtude da falta de integridade do sistema.
Esta contaminação pode ser oriunda de esgotos e fossas situadas nas proximidades de
cisternas, falta de conservação e manejo adequado das mesmas, rachaduras e tampas
(a)
(c)
(b)
(d)
57
inadequadas, favorecendo a entrada de material exógeno, ausência de um processo de
desinfecção da água quando armazenada nas cisternas, fiscalização da água transportada por
carros-pipa, isto é, se são águas tratadas ou não e se podem ter sido contaminadas pelos
veículos transportadores. Esses problemas podem decorrer da falta de um sistema público de
vigilância da qualidade da água capaz de detectar possíveis contaminantes e recomendar a
construção de barreiras de segurança.
Tabela 5.5 – Frequência de conformidade dos indicadores coliformes totais e Escherichia coli com a
Portaria MS 2.914/2011
PONTO Nº total de
amostras
Coliformes totais Escherichia coli
Nº C(%) Nº C(%)
P1 9 4 45 7 78
P2 14 4 28 8 57
P3 16 5 32 8 50
P4 17 2 12 12 71
P5 15 0 0 10 67
P6 13 1 6 10 59
P7 17 1 8 11 85
P8 15 6 40 10 67
P9 17 7 41 10 59
P10 15 0 0 15 100
NOTA: Nº: número de amostras em conformidade; C: porcentagem em conformidade.
5.2 Análise de variância (ANOVA)
Foi aplicada análise da variância (ANOVA) de fator único, com nível de significância
0,05 para verificar a existência (p < 0,05), ou não (p > 0,05), de diferenças significativas entre
as médias dos diversos conjuntos amostrais de uma mesma variável, com o objetivo de
comparar a qualidade da água proveniente da rede geral, ponto P1, com os demais pontos
analisados. Desta forma, o ponto P1, foi utilizado na comparação dos conjuntos amostrais da
EMEF Frei Damião e EMEF Severino Marinheiro.
Os resultados da análise ANOVA mostraram que existe diferença significativa nos
conjuntos amostrais em todos os pontos analisados, essa diferença foi analisada graficamente
através do método Hochberg GT-2. É importante ressaltar que o ponto P1 é referente à água
da rede de distribuição e os demais pontos são referentes a águas reservadas que recebem não
apenas as águas da rede de distribuição como também de soluções alternativas de
58
abastecimento, particularmente as transportadas por carros-pipa.
5.2.1 Creche Municipal Edvaldo Motta
Como pode ser observado na Tabela 5.6, a análise de variância apontou diferença
significativa entre a água distribuída pela Cagepa (P1), a água reservada na cisterna (P2) e a
água da torneira da cozinha (P3) da Creche Municipal Edvaldo Motta para os indicadores
turbidez e condutividade elétrica.
Tabela 5.6 – Análise de variância das médias dos indicadores para a Creche Municipal Edvaldo
Motta
ANOVA SQ gl MQ F valorP Fcrítico
Temperatura
Entre Grupos 7,3250 2 3,6625 2,224 0,119 3,183 Dentro grupos 81,3330 50 1,6467
Total 89,6588 52
pH
Entre Grupos 0,6162 2 0,3081 1,699 0,193 3,187 Dentro grupos 8,8844 49 0,1813
Total 9,5006 51
Turbidez
Entre Grupos 5,0883 2 2,5442 3,450 0,040 3,187 Dentro grupos 36,1390 49 0,7375
Total 41,2274 51
Condutividade
elétrica
Entre Grupos 1108374,568 2 554187,2841 11,711 7,21E-05 3,191 Dentro grupos 2271502,138 48 47322,9612
Total 3379876,706 50
Alumínio
Entre Grupos 9,6029E-05 2 4,801E-05 0,011 0,989 3,252 Dentro grupos 0,1657 37 0,0045
Total 0,1658 49
Fluoreto
Entre Grupos 0,0129 2 0,0065 0,126 0,882 3,199 Dentro grupos 2,3599 46 0,0513
Total 2,3728 48
Bactérias
heterotróficas
Entre Grupos 5195641,936 2 2597820,968 2,547 0,093 3,276 Dentro grupos 34676493,04 34 1019896,854
Total 39872134,97 36
CRL
Entre Grupos 0,0247 2 0,0123 0,255 0,776 3,187 Dentro grupos 2,3758 49 0,0485
Total 2,4005 51 Nota: SQ = soma dos quadrados, gl = grau de liberdade, MQ = quadrado médio.
Para os indicadores que apresentaram diferença significativa foram construídos os
gráficos GT2, para identificar onde ocorreram as diferenças.
Na Figura 5.9 pode ser observado que ocorreu diferença significativa entre a turbidez da
água distribuída pela Cagepa (P1) e a turbidez da água da cisterna (P2), ou seja, a água da
Cagepa teve turbidez significativamente mais elevada que a água reservada na cisterna. No
entanto, a turbidez da água no ponto P1, embora significativamente maior que a da cisterna e
59
da cozinha, ficou abaixo do máximo permitido pela Portaria 2914/2011, para redes de
distribuição.
Figura 5.9 – Gráficos GT-2 para o indicador turbidez e condutividade elétrica da Creche Municipal
Edvaldo Motta
Na Figura 5.9 observa-se que, para a condutividade elétrica, há diferença significativa
entre a água distribuída pela Cagepa (P1) e as águas da cisterna (P2) e da cozinha (P3), ou seja,
a água da Cagepa teve condutividade elétrica significativamente mais elevada que as águas
reservada na cisterna (P2) e posteriormente distribuída na edificação (P3). Essa diferença pode
estar relacionada ao fato que a cisterna, além de receber água da Cagepa também recebe água
através de carros pipa, proveniente de outras fontes de água, que provavelmente possuem
condutividade elétrica diferente.
5.2.2 EMEF Frei Damião
A análise de variância apontou diferenças significativas para os indicadores
temperatura, pH, turbidez, condutividade elétrica, e CRL (Tabela 5.7).
O teste gráfico GT-2 apresentado na Figura 5.10 ilustra as diferenças significativas
para os indicadores.
Com exceção do indicador pH, a água da Cagepa (P1) apresentou valores
significativamente mais elevados que os das águas da cisterna (P4) e da cozinha (P5). Tal
comportamento tem relação direta com as características da água distribuída pela rede geral,
abastecida pela água tratada do Açude Epitácio Pessoa.
60
Tabela 5.7 – Análise de variância das médias dos indicadores para a EMEF Frei Damião
ANOVA SQ gl MQ F valorP Fcrítico
Temperatura
Entre Grupos 10,2644 2 5,1322 4,726 0,013 3,187 Dentro grupos 53,2131 49 1,0860
Total 63,4775 51
Ph
Entre Grupos 1,1935 2 0,5967 3,317 0,044 3,187 Dentro grupos 8,8147 49 0,1799
Total 10,0082 51
Turbidez
Entre Grupos 6,4755 2 3,2378 3,975 0,025 3,191 Dentro grupos 39,0955 48 0,8145
Total 45,5711 50
Condutividade
elétrica
Entre Grupos 1017676,918 2 508787,9589 13,141 2,50E-05 3,179 Dentro grupos 1974657,73 51 38718,77903
Total 2992233,648 53
Alumínio
Entre Grupos 0,1351 2 0,0675 3,028 0,060 3,238 Dentro grupos 0,8699 39 0,0223
Total 1,0050 41
Fluoreto
Entre Grupos 0,0237 2 0,0118 0,355 0,703 3,191 Dentro grupos 1,5998 48 0,0333
Total 1,6235 50
Bactérias
heterotróficas
Entre Grupos 2553236,15 2 1276618,075 0,472 0,628 3,252 Dentro grupos 100110027,7 37 275676,426
Total 102663263,9 39
CRL
Entre Grupos 0,1635 2 0,0817 3,996 0,025 3,187 Dentro grupos 1,0025 49 0,0204
Total 1,1660 51
Nota: SQ = soma dos quadrados, gl = grau de liberdade, MQ = quadrado médio.
Para os indicadores temperatura, pH e CRL foi observado que há diferença
significativa entre a água da Cagepa (P1) e a água da torneira da cozinha (P5), para o indicador
turbidez a diferença significativa ocorreu entre o ponto P1 e a água da cisterna (P4) e para
condutividade elétrica entre P1 e as águas da cisterna (P4) e da torneira da cozinha (P5).
61
Figura 5.10 – Gráficos GT-2 para os indicadores temperatura, pH, turbidez, condutividade elétrica, e
CRL da EMEF Frei Damião
5.2.3 EMEF Severino Marinheiro
A análise de variância apontou diferenças significativas para os indicadores pH e
condutividade elétrica, conforme os elementos apresentados na Tabela 5.8.
-0,08
-0,04
0,00
0,04
0,08
0,12
0,16
0,20
0,24
P1 P4 P5Li Med Ls
CR
L (m
g/L)
62
Tabela 5.8 – Análise de variância das médias dos indicadores para a EMEF Severino Marinheiro
ANOVA SQ gl MQ F valorP Fcrítico
Temperatura
Entre Grupos 4,2310 2 2,115 1,631 0,207 3,199 Dentro grupos 59,6542 46 1,297
Total 63,8853 48
pH
Entre Grupos 2,3833 2 1,192 10,190 0,000 3,191 Dentro grupos 5,6134 48 0,117
Total 7,9968 50
Turbidez
Entre Grupos 8,4007 2 4,200 1,166 0,320 3,191
Dentro grupos 172,9142 48 3,602 Total 181,3150 50
Condutividade
elétrica
Entre Grupos 1084327,33 2 542163,663 12,328 5,16E-05 3,199
Dentro grupos 2022975,20 46 43977,722 Total 3107302,53 48
Alumínio
Entre Grupos 0,0030 2 0,001 0,528 0,595 3,276
Dentro grupos 0,0964 34 0,003 Total 0,0994 36
Fluoreto
Entre Grupos 0,0401 2 0,020 0,363 0,697 3,214
Dentro grupos 2,3756 43 0,055 Total 2,4157 45
Bactérias
heterotróficas
Entre Grupos 4244756,653 2 2122378,327 1,125 0,336 3,267
Dentro grupos 66024989,24 35 1886428,264 Total 70269745,89 37
CRL
Entre Grupos 0,1407 2 0,070 1,843 0,169 3,186
Dentro grupos 1,8700 49 0,038 Total 2,0107 51
Nota: SQ = soma dos quadrados, gl = grau de liberdade, MQ = quadrado médio.
Para os indicadores pH e condutividade elétrica foi verificado que a água da Cagepa
(P1) foi significativamente diferente das águas da cisterna (P6) e da cozinha (P7), sendo que o
pH do P1 foi significativamente menor e a condutividade elétrica foi significativamente maior
(Figura 5.11).
63
Figura 5.11 – Gráficos GT-2 para os indicadores pH e condutividade elétrica da EMEF
Severino Marinheiro
5.2.4 Hospital Municipal de Juazeirinho
A análise de variância apontou diferenças significativas para os indicadores
condutividade elétrica, fluoreto, bactérias heterotróficas e CRL (Tabela 5.9).
Tabela 5.9 – Análise de variância das médias dos indicadores para o Hospital Municipal de
Juazeirinho
ANOVA SQ gl MQ F valorP Fcrítico
Temperatura
Entre Grupos 2,2431 2 1,121 0,926 0,402 3,168 Dentro grupos 65,4267 54 1,212
Total 67,6698 56
pH
Entre Grupos 0,0530 2 0,026 0,254 0,777 3,168 Dentro grupos 5,6453 54 0,104
Total 5,6983 56
Turbidez
Entre Grupos 3,0327 2 1,516 1,527 0,226 3,168 Dentro grupos 53,6153 54 0,993
Total 56,6480 56
Condutividade
elétrica
Entre Grupos 8958055,579 2 4479027,790 431,031 3,86E-35 3,159 Dentro grupos 592310,754 57 10391,417
Total 9550366,333 59
Alumínio
Entre Grupos 0,0081 2 0,004 0,855 0,432 3,195 Dentro grupos 0,2233 47 0,005
Total 0,2314 49
Fluoreto
Entre Grupos 2,0001 2 1,000 26,028 1,22E-08 3,168 Dentro grupos 2,0747 54 0,038
Total 4,0748 56
Bactérias
heterotróficas
Entre Grupos 8218344,28 2 4109172,139 4,618 0,015 3,209 Dentro grupos 39155028,27 44 889887,006
Total 47373372,55 46
CRL
Entre Grupos 0,8903 2 0,445 3,624 0,033 3,168
Dentro grupos 6,6329 54 0,123
Total 7,5232 56 Nota: SQ = soma dos quadrados, gl = grau de liberdade, MQ = quadrado médio.
64
Nos indicadores condutividade elétrica e fluoreto (Figura 5.14) a água para beber (P10)
teve seus valores significativamente menores que a água da cisterna (P8) e a água da torneira
da cozinha (P9). Já para o indicador BHM (Figura 5.14) foi observado que a água par beber
(P10) apresentou valores significativamente maiores que os da água da cozinha (P9) e o
indicador CRL (Figura 5.12) valores significativamente menores também para a água da
cozinha (P9).
Figura 5.12 – Gráficos GT-2 para os indicadores condutividade elétrica, fluoreto, bacterias
heterotróficas e CRL do Hospital Municipal
65
6.0 DISCUSSÃO
6.1 A situação da qualidade da água de abastecimento de Juazeirinho
Analisando os resultados dos indicadores monitorados na pesquisa foi observado que,
na maioria dos pontos, ocorreram violações do padrão de potabilidade estabelecido na
Portaria n° 2.914/2011 do Ministério da Saúde, principalmente para cloro residual livre,
alumínio, pH e turbidez. Quanto aos indicadores microbiológicos, ocorreu violação do VMP
para contagem de bactérias heterotróficas e determinação de presença/ausência para
coliformes totais e Escherichia coli. Desta forma, a qualidade da água da cidade de
Juazeirinho não atende aos padrões de potabilidade, podendo causar efeitos severos à saúde
da população. Os resultados da pesquisa comprovam que a água utilizada pelos
estabelecimentos estudados apresenta baixo nível de cloro residual livre, ou seja, a água não
está totalmente protegida o que pode ser comprovado pela presença de microrganismos
indicadores de contaminação. Essa situação também pode estar relacionada ao fato de ocorrer
mistura de água proveniente da rede geral com outros tipos de água, por exemplo, água
transportada por carros-pipa sem que ocorram ações de controle e vigilância da qualidade das
águas não provenientes da rede geral. Também, é preciso considerar a grande distância (98,5
km) do transporte da água tratada na ETA de Boqueirão até a cidade de Juazeirinho, através
da Adutora do Cariri, além da intermitência do abastecimento. Outro fator que favorece essa
situação é a falta de cuidados com a manutenção das instalações prediais nesses locais, tanto
nas torneiras e pias das cozinhas como também, nas estruturas das cisternas.
Desta forma, o sistema de abastecimento de Juazeirinho requer atenção especial por
parte das autoridades e para isto deve ser implantado, imediatamente, pela Secretaria
Municipal de Saúde um plano de amostragem para vigilância da qualidade da água para
consumo humano, para a redução do risco à saúde da população. Segundo Freitas e Freitas
(2005), o diagnóstico obtido a partir da vigilância, teoricamente, possibilita aos gestores
tomarem as decisões em torno dos sistemas de abastecimento coletivos, no sentido de se
exigirem as intervenções adequadas, quando ocorrerem não conformidades com a qualidade
da água.
6.2 Plano Municipal de Vigilância da Qualidade da Água de Abastecimento de
Juazeirinho
66
Segundo a Diretriz Nacional do Plano de Amostragem da Vigilância em Saúde
Ambiental relacionada à qualidade da água para consumo humano (BRASIL, 2006), todos os
municípios brasileiros, independentemente de seu porte, devem implantar plano de
amostragem de vigilância da qualidade da água o qual deve definir os pontos de coleta de
amostras, número e frequência de coleta de amostras e os indicadores a serem analisados. A
Diretriz também recomenda que o plano deve prever a análise dos indicadores sentinelas
turbidez e cloro residual livre.
Nesta pesquisa, os pontos de coleta de amostras para monitorar o sistema de
abastecimento da cidade de Juazeirinho foram, conforme a Diretriz Nacional referida,
escolhidos em locais estratégicos como escolas, creches e hospitais, locais de grande
concentração de pessoas, particularmente crianças e doentes. Os responsáveis pela elaboração
do plano de amostragem de vigilância da qualidade da água podem eleger esses locais para a
implementação desse conjunto de ações.
Outro aspecto relevante diz respeito à especificação de amostragem e análise dos
diferentes tipos de águas em cada local monitorado os quais são abastecidos por água tratada
distribuída por rede geral e por águas, tratadas e não tratadas, supridas por soluções
alternativas, como previamente descrito neste estudo.
No presente trabalho, além dos indicadores sentinelas, recomendados pela Diretriz,
também foram feitas análises de pH, condutividade elétrica, alumínio, fluoreto, contagem de
bactérias heterotróficas e determinação de ausência/presença de coliformes totais e
Escherichia coli.
Como, geralmente, em cidades de pequeno porte, os recursos (financeiros e humanos)
são limitados, as análises de turbidez e cloro residual livre são de fácil execução, rápidas na
resposta e baratas, quando comparadas às análises microbiológicas. Mas, é de grande
importância que o Poder Público Municipal de Juazeirinho mantenha convênios com
instituições de pesquisa para que sejam realizadas as análises de ausência/presença de
Escherichia coli, por ser um indicador exclusivo de contaminação fecal, indicando risco para
a saúde humana, e coliformes totais, indicador da integridade do sistema de abastecimento,
que aponta para medidas de manutenção. Neste estudo, essas análises apresentaram não
conformidade em 9 dos 10 pontos monitorados.
Diante do exposto, o presente trabalho propõe a elaboração de um Plano Municipal de
Vigilância da Qualidade da Água de Abastecimento para a cidade de Juazeirinho baseado na
monitoração dos indicadores sentinelas (cloro residual livre e turbidez) e microbiológicos
(ausência/presença de E. coli e coliformes totais). Também, pela sua relação com a eficiência
67
do agente desinfetante, o pH deve ser incluído. Deve ser observado que as amostras devem ser
coletadas semanalmente em cada ponto de amostragem.
6.3 Medidas de proteção da qualidade da água de abastecimento de Juazeirinho
Para a cidade de Juazeirinho, a escassez hídrica que atinge a população, não apenas em
quantidade, mas em qualidade, leva os seus moradores a adotar medidas emergenciais de
abastecimento, dentre as quais a construção de cisternas. Esses sistemas alternativos de
abastecimento, cujas águas, em geral, não são tratadas, podem contribuir para aumentar a
probabilidade da ocorrência de danos à população, incluindo a prevalência de doenças de
veiculação hídrica.
As cisternas são abastecidas tanto por água tratada da rede de distribuição, em
esquema de racionamento, como por águas de diferentes fontes, transportadas por carros-pipa,
que, embora possam minimizar o problema da disponibilidade de água, podem se constituir
em fonte de contaminação por fatores ligados à origem da água, pela vulnerabilidade a que a
água está exposta durante o transporte e condições de limpeza a que estes carros são
submetidos. Mas, tanto a água proveniente da rede geral como as transportadas por carros-
pipa precisam atender aos padrões de potabilidade, estabelecidos pela Portaria MS nº
2.914/2011.
A manutenção da qualidade da água adequada para o consumo humano implica na
adoção de medidas visando evitar contaminações, as quais dividem-se, basicamente, em dois
grupos. Tais medidas podem ser baseadas em ações que visem a criação de barreiras físicas
aos possíveis contaminantes, bem como na manutenção e aplicação de tratamentos da água da
cisterna.
Segundo Grigoletto et al. (2016), a vigilância da qualidade da água para consumo
humano deve ser desenvolvida, através das seguintes ações:
• Elaborar, em conjunto com os responsáveis pela operação do sistema ou solução
alternativa coletiva de abastecimento de água, plano de ação contendo a definição de
estratégias e atividades para a minimização de risco à saúde;
• Realizar inspeções sanitárias das formas de abastecimento de água, em especial
das soluções alternativas utilizadas para abastecimento emergencial como poços, cacimbas,
chafarizes e carros-pipa e, quando necessário, proibição temporária do uso da água, até que
sejam realizadas melhorias das condições sanitárias;
68
• Identificar outras fontes seguras para a população, quando necessário, mesmo que
em outros municípios;
• Realizar o monitoramento da qualidade da água para consumo humano,
priorizando os locais mais vulneráveis;
• Estabelecer, em articulação com a vigilância sanitária e outros parceiros, barreiras
sanitárias para realizar a fiscalização dos veículos responsáveis pelo fornecimento de água, a
exemplo dos carros-pipa;
• Apoiar, juntamente com profissionais de saúde e os responsáveis pelo
abastecimento de água por meio de carros-pipa (pipeiros), ações de educação em saúde, em
especial na orientação da população quanto ao manuseio e armazenamento adequado de água,
limpeza e desinfecção de reservatórios e tratamento intradomiciliar da água para consumo
humano (filtração e adição de duas gotas de solução de hipoclorito de sódio, a 2,5%, por litro
de água ou, em caso de indisponibilidade deste produto, realização de filtração seguida de
fervura);
• Definir fontes prioritárias para o abastecimento dos carros-pipa, priorizando a
captação em Estação de Tratamento de Água com tratamento convencional e, quando não for
possível, priorizar a captação em mananciais subterrâneos ou superficiais e realizar o
tratamento mínimo por meio de filtração e desinfecção, antes da distribuição para a
população;
• Participar dos Comitês de Combate à Seca nos locais onde estiverem instituídos;
• Manter articulação com as unidades de emergência (hospital e pronto
atendimento) para alertar sobre o possível aumento no número de casos de doenças de
veiculação hídrica, especialmente doenças diarreicas agudas (DDA), e aumento do número de
casos de transtornos psicossociais e comportamentais.
Outras medidas devem ser adotadas a fim de garantir a potabilidade da água. Limpezas
periódicas da cisterna, verificação de rachaduras, problemas com as tampas e possíveis
entradas de contaminantes, prevenção do uso de baldes e cordas para retirar água da cisterna,
utilização de telas em todos os dispositivos de entrada ou saída da cisterna, são medidas
básicas que devem ser adotadas pelo usuário da cisterna, na busca da manutenção da
qualidade da água armazenada. No entanto, mesmo adotados todos estes procedimentos, é
prudente tratar a água da cisterna antes de usá-la, adotando-se a filtração e a desinfecção
como métodos de tratamento.
69
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A água distribuída à população da cidade de Juazeirinho não atende aos padrões de
potabilidade estabelecidos pela Portaria nº 2.914/2011, particularmente os padrões para os
indicadores CRL, alumínio, pH e turbidez. Em relação aos indicadores microbiológicos
(contagem de bactérias heterotróficas, determinação de presença/ausência de coliformes totais
e Escherichia coli) a situação é semelhante, pois foi constatado que, em todos os pontos, não
houve conformidade, sendo essa violação atribuída à baixa concentração de cloro residual
livre na água.
A água tratada distribuída por rede geral apresenta má qualidade em consequência de
fatores que vão desde o racionamento em vigor, à grande extensão da adutora que a transporta
da estação de tratamento para a cidade, bem como a precariedade do controle e a falta de
vigilância da qualidade da água, contribuindo para as baixas concentrações de cloro residual
livre.
A instalação predial de abastecimento de água, baseada numa cisterna inferior
alimentada tanto por água distribuída pela rede geral como por outras águas, particularmente
aquelas transportadas por carros-pipas, além das péssimas condições da infraestrutura,
contribui de modo especial para a degradação da qualidade da água o que desafia a adoção de
ações de controle e vigilância da qualidade da água.
O plano municipal de vigilância da qualidade da água para consumo humano deve ser
baseado em plano de amostragem abrangente, privilegiando pontos estratégicos
caracterizados por grande concentração de pessoas, particularmente grupos de risco, conforme
recomendação da Diretriz Nacional do Plano de Amostragem da Vigilância em Saúde
Ambiental relacionada à qualidade da água para consumo humano. Devem ser monitorados os
indicadores sentinelas, particularmente cloro residual livre, e a presença de coliformes totais e
Escherichia coli.
As medidas de proteção da qualidade da água devem refletir o princípio de múltiplas
barreiras proposto no plano de segurança da água, sendo implementadas através da seleção de
fontes protegidas, manutenção e melhoria das instalações prediais e coletivas, bem como
através de medidas educativas e de conscientização da população para a participação no
processo de gestão da qualidade da água.
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