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Universidade Federal de Mato Grosso
Instituto de Saúde Coletiva
Curso de Graduação em Saúde Coletiva
Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional em
adolescentes no estado de Mato Grosso, Brasil:
cobertura, estado nutricional e consumo alimentar
Andressa da Silva Marques
Cuiabá-MT
2016
Universidade Federal de Mato Grosso
Instituto de Saúde Coletiva
Curso de Graduação em Saúde Coletiva
Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional em
adolescentes no estado de Mato Grosso, Brasil:
cobertura, estado nutricional e consumo alimentar
Andressa da Silva Marques
Orientadora: Profª Drª Rita Adriana Gomes de Souza
Cuiabá-MT
2016
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal
de Mato Grosso, como requisito parcial para a
obtenção do Título de Graduada em Saúde Coletiva.
Aos meus pais...
que sempre me incentivaram a
prosseguir e superar os obstáculos.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus que é a minha Fortaleza, por ter me dado saúde e determinação
para superar as dificuldades.
Aos meus pais Angela e José pelo amor, incentivo e apoio.
Ao meu esposo Gederson por estar ao meu lado em todos os momentos.
À minha orientadora pela paciência e empenho dedicado à elaboração deste trabalho.
A todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha trajetória.
Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo
de vencer.
(Mahatma Gandhi)
Marques AS. Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional em adolescentes no estado
de Mato Grosso, Brasil: cobertura, estado nutricional e consumo alimentar
[monografia]. Mato Grosso: Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de
Mato Grosso; 2016.
Resumo
Introdução - A exposição a diversos fatores de risco comportamentais, como
alimentação inadequada e sedentarismo tem, com frequência, início na adolescência.
Dessa maneira é importante o monitoramento do estado nutricional e dos hábitos
alimentares nessa fase da vida, para que se possa identificar aqueles em situação de
risco visando a implementação de medidas efetivas de intervenção. Objetivo - Analisar
a situação alimentar e nutricional de adolescentes (10 a 19 anos) atendidos pelo sistema,
residentes no estado de Mato Grosso em 2010, assim como avaliar a cobertura do
Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) no estado. Métodos - Trata-
se de um estudo transversal utilizando dados secundários do referido Sistema.
Descreveu-se a cobertura populacional, o estado nutricional e o consumo de alimentos
marcadores de alimentação saudável e não saudável segundo as Regiões de Saúde de
Mato Grosso. Resultados - A cobertura geral do Sistema nessa faixa etária no estado de
Mato Grosso em 2010 foi de apenas 7%, sendo que o SISVAN Bolsa Família foi o
responsável pelo maior percentual da cobertura (5,9%). A Região de Saúde (RS) do
Centro Norte foi a que apresentou a maior cobertura total (14,2%) enquanto que a RS
Alto Tapajós foi a que apresentou a menor cobertura (3,1%). Os municípios com até
5.000 habitantes foram os que apresentaram a maior cobertura, em todos os sistemas do
SISVAN. A maioria dos adolescentes acompanhados apresentou estado nutricional
classificado como adequado, sendo que o desvio nutricional predominante foi o excesso
de peso, 24,1% de acordo com o sistema SISVAN Web e 19,4% de acordo com o
SISVAN Bolsa Família. Considerando o SISVAN Bolsa Família, a RS Norte
Matogrossense foi a que apresentou o maior percentual de adolescentes classificados
com baixo peso (4,8%) e a RS Garças Araguaia o maior percentual de adolescentes
classificados com sobrepeso (19,3%). O alimento marcador de alimentação saudável
mais consumido nos últimos sete dias foi o feijão, citado por 84% dos adolescentes,
enquanto que o alimento marcador de alimentação não saudável mais consumido foi o
grupo das bolachas/biscoitos salgados ou salgadinhos de pacote, reportado por 28% dos
adolescentes. Conclusões - A análise da cobertura do SISVAN em 2010 no estado do
Mato Grosso revela valores pouco expressivos. Apesar dessas limitações, os dados
registrados no sistema mostram percentuais preocupantes de excesso de peso entre os
adolescentes atendidos na atenção básica assim como consumo abaixo do recomendado
de alimentos considerados marcadores de alimentação saudável.
Descritores: Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional, cobertura populacional,
estado nutricional, consumo de alimentos, adolescente.
Marques AS. [Food and nutrition surveillance system in adolescents in the state of Mato
Grosso, Brazil: coverage, nutritional status and food consumption] [monograph]. Mato
Grosso: Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso; 2016.
Portuguese.
Abstract
Introduction - Exposure to several behavioral risk factors such as unhealthy diet and
sedentary lifestyle has often started in adolescence. Thus, the monitoring of nutritional
status and dietary habits in this phase of life is important, so that we can identify those
at risk for the implementation of effective intervention measures. Objective - To
analyze the food comsumption and nutritional status of adolescents registered in the
Food and Nutrition Surveillance System (SISVAN) in the State of Mato Grosso in
2010, and to assess the population coverage of this system in the state. Methods - This
is a cross-sectional study using secondary data from SISVAN. The population coverage,
nutritional status and food consumption of adolescents according to health regions of
Mato Grosso were described. Results - The overall coverage of the system for
adolescents in State of Mato Grosso was only 7% in 2010, and the SISVAN Bolsa
Família was responsible for the highest percentage of coverage (5.9%). The Health
Region (HR) North Center presented the highest total coverage (14.2%) while the HR
Alto Tapajós presented the lowest coverage (3.1%). Counties with up to 5,000 people
had the highest coverage in all SISVAN systems. Most adolescents presented nutritional
status classified as appropriate, and the prevalent nutritional problem was overweight,
24.1% for SISVAN Web system and 19.4% for SISVAN Bolsa Família. According to
the SISVAN Bolsa Família, the HR Northern Mato Grosso presented the highest
percentage of adolescents classified as underweight (4.8%) and the HR Garças Araguaia
presented the highest percentage of adolescents classified as overweight (19.3%). The
healthy food most consumed in the last seven days was the beans, reported by 84% of
adolescents, while the unhealthy food most consumed was the group of crackers or pack
snacks, reported by 28 % of adolescents. Conclusions - The SISVAN coverage in the
State of Mato Grosso in 2010 shows little significant values. Despite these limitations,
the data recorded in the system show worrying percentage of overweight among
adolescents attended in primary care as well as consumption below the recommended of
foods considered healthy food markers.
Descriptors: Food and nutrition surveillance system, population coverage, nutritional
status, food consumption, adolescent.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1- Classificação do estado nutricional de adolescentes para cada índice
antropométrico, segundo recomendações do SISVAN...................................................39
Quadro 2: Características dos municípios integrantes das Regiões de Saúde do
Estado de Mato Grosso em 2010...................................................................................45
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Cobertura populacional (%) dos adolescentes atendidos pelo SISVAN no
Estado de Mato Grosso de acordo com a origem do registro,
2010.................................................................................................................................46
Tabela 2: Cobertura populacional (%) dos adolescentes atendidos pelo SISVAN de
acordo com o número de habitantes do município e origem do registro, Estado de Mato
Grosso, 2010................................................................................................................... 47
Tabela 3: Estado nutricional dos adolescentes atendidos pelo SISVAN Web no Estado
de Mato Grosso, de acordo com a região de saúde, no ano de 2010...............................48
Tabela 4: Estado nutricional dos adolescentes beneficiários do Programa Bolsa Família
no Estado de Mato Grosso, de acordo com a região de saúde, no ano de 2010..............49
Tabela 5: Consumo de alimentos marcadores de alimentação saudável (%) maior ou
igual a cinco dias, nos últimos sete dias, dos adolescentes atendidos pelo SISVAN Web
no Estado de Mato Grosso (n=3.227), de acordo com a região de saúde, no ano de
2010.................................................................................................................................50
Tabela 6: Consumo de alimentos marcadores de alimentação não saudável (%) maior
ou igual a cinco dias, nos últimos sete dias, dos adolescentes atendidos pelo SISVAN
Web no Estado de Mato Grosso (n=3.227), de acordo com a região de saúde, no ano de
2010.................................................................................................................................51
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Classificação do estado nutricional de adolescentes brasileiros segundo
dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares.................................................................17
Gráfico 2: Classificação do estado nutricional de adolescentes brasileiros, por sexo e
região, segundo dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares.......................................18
Gráfico 3: Classificação do estado nutricional de adolescentes brasileiros por renda
mensal familiar per capita (salários-mínimos), segundo dados da Pesquisa de
Orçamentos Familiares..................................................................................................19
Gráfico 4: Evolução de indicadores antropométricos na população de 10 a 19 anos de
idade, por sexo, no Brasil – períodos: 1974-1975, 1989 e 2002-2003 e 2008-
2009.................................................................................................................................20
LISTA DE SIGLAS
ANS Agência Nacional de Saúde Suplementar
CadÚnico Cadastro Único
CAISAN Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional
CECAN Centros Colaboradores de Alimentação e Nutrição
CGAN Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição
CGPAN Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CONSEA Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
CRS Coordenadorias Regionais de Saúde
DATASUS Departamento de Informática do SUS
ENDEF Estudo Nacional da Despesa Familiar
ENSP Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca
Fiocruz Fundação Oswaldo Cruz
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICCN Incentivo ao Combate às Carências Nutricionais
IMC Índice de Massa Corporal
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
LOSAN Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional
MDS Ministério do Desenvolvimento Social e combate à Fome
MS Ministério da Saúde
NASF Núcleos de Apoio à Saúde da Família
OMS Organização Mundial de Saúde
PENSE Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar
PBF Programa Bolsa Família
PLANSAN Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
PNAN Política Nacional de Alimentação e Nutrição
PNSN Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição
POF Pesquisa de Orçamentos Familiares
RS Regiões de Saúde
SAN Segurança Alimentar e Nutricional
SISVAN Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional
SISVAN BF Sisvan Bolsa Família
SUS Sistema Único de Saúde
UNICEF Fundo das Nações Unidas
VIGITEL Vigilância de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico
SUMÁRIO
1.0. INTRODUÇÃO......................................................................................... 14
2.0. REVISÃO DE LITERATURA................................................................ 16
2.1. Perfil nutricional de adolescentes no Brasil.................................... 16
2.2. Consumo de alimentos e práticas alimentares entre os
adolescentes brasileiros...................................................................
22
2.3. Política Nacional de Alimentação e Nutrição e Segurança
Alimentar e Nutricional..................................................................
23
2.4 Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional.............................. 25
2.5. Programa Bolsa Família e a sua inserção no Sistema de
Vigilância Alimentar e Nutricional.................................................
30
2.6. Cobertura do Sistema de Vigilância Alimentar e
Nutricional......................................................................................
33
3.0. JUSTIFICATIVA..................................................................................... 35
4.0. OBJETIVOS............................................................................................. 37
4.1. Objetivo geral.................................................................................. 37
4.2. Objetivos específicos...................................................................... 37
5.0. METODOLOGIA..................................................................................... 38
5.1. Desenho e população de estudo...................................................... 38
5.2. Análise da cobertura do Sistema de Vigilância Alimentar e
Nutricional......................................................................................
38
5.3. Aferição das medidas antropométricas e classificação do estado
nutricional.......................................................................................
39
5.4. Avaliação dos alimentos marcadores de alimentação saudável e
não saudável....................................................................................
40
5.5. Análises estatísticas........................................................................ 40
5.6. Aspectos éticos................................................................................ 41
6.0. RESULTADOS......................................................................................... 42
7.0. DISCUSSÃO............................................................................................. 52
8.0. CONCLUSÃO........................................................................................... 58
9.0. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................... 59
14
1.0. INTRODUÇÃO
A adolescência é o período da vida compreendido entre 10 e 19 anos de idade
(WHO, 1995) sendo caracterizada pelo crescimento e desenvolvimento acelerados, por
alterações morfológicas e fisiológicas complexas, e mudanças psicológicas, como o
aumento da capacidade cognitiva e adaptações de personalidade, constituindo uma parte
da população com características fisiológicas e psicológicas específicas. Durante a
adolescência, o individuo começa a adquirir independência e responsabilidades e
experimenta profundas mudanças comportamentais, entre as quais se incluem os hábitos
alimentares (LERNER, 1994).
Tem sido observada elevada prevalência de adolescentes expostos a
comportamentos de risco à saúde, como os hábitos alimentares inadequados e níveis
insufucientes de atividades físicas, afetando jovens em diferentes países (FARIAS et al.,
2009). Esse cenário é preocupante, uma vez que os hábitos adquiridos nessa etapa da
vida são, muitas vezes, mantidos durante a vida adulta, tornando-os mais difíceis de
serem alterados (MIKKILA et al., 2004).
Diante do quadro epidemiológico e nutricional evidenciado no país nos últimos
anos, torna-se relevante identificar adolescentes em risco nutricional ou sob risco de
desenvolvê-lo, assim como conhecer os hábitos alimentares que possam estar
associados a essas condições. Um grupo que merece atenção especial são aqueles
beneficiários do Programa Bolsa Família (PBF) porque encontram-se em condições
socioeconômicas menos favoráveis, o que torna esses adolescentes grupo prioritário no
desenvolvimento de ações de vigilância alimentar e nutricional no país (PERES e
FREITAS, 2008).
O Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) é um sistema em
vigência no país desde 1990 e corresponde a um sistema de coleta, processamento e
análise contínua dos dados de uma população, possibilitando diagnóstico atualizado da
situação nutricional, suas tendências temporais e, também, de alguns fatores de sua
determinação como de hábitos alimentares. Contribui para que se conheçam a natureza
e a magnitude dos problemas de nutrição, caracterizando grupos sociais de risco e dando
subsídios para a formulação de políticas e estabelecimento de programas e intervenções.
Entretanto, o sistema tem sido subutilizado no país (VENÂNCIO et al., 2007).
15
Este estudo analisou a cobertura dos três sistemas do SISVAN (Sisvan, Sisvan
Web e Sistema de Gestão do Bolsa Família), o estado nutricional dos adolescentes
atendidos pelo sistema assim como o consumo alimentar dos adolescentes atendidos
pelo Sisvan Web, no estado de Mato Grosso em 2010. Espera-se que os resultados
deste estudo venham contribuir para a melhoria do sistema de atenção à saúde e para
substanciar a formulação de propostas de intervenções que visem à promoção da
alimentação saudável e a prevenção de distúrbios nutricionais em adolescentes.
16
2.0. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. PERFIL NUTRICIONAL DE ADOLESCENTES NO BRASIL
De acordo com a World Health Organization (Organização Mundial de Saúde-
OMS), a adolescência pode ser dividida em duas fases: a fase inicial (10 a 14 anos),
chamada de puberdade, quando ocorre o estirão de crescimento, o aumento rápido das
secreções de diversos hormônios e o aparecimento dos caracteres sexuais secundários
(maturação sexual) e a fase final (15 a 19 anos) caracteriza-se pela desaceleração destes
processos e pela finalização da maturação sexual (WHO, 1995).
A adolescência é um dos momentos em que o ser humano apresenta aceleração
na velocidade de crescimento linear e no ganho de peso (MURA e CHEMIN, 2007).
Aproximadamente 20% da estatura, 30% do peso corporal e 40% da massa óssea de um
indivíduo são adquiridos na adolescência. Além disso, todos os órgãos e tecidos, com
exceção do sistema nervoso central, encontram-se em crescimento, o que justifica o
aumento das necessidades nutricionais nessa fase (MURA e CHEMIN, 2007).
LERNER (1994) afirma que o crescimento e desenvolvimento acelerados, as
alterações morfológicas e fisiológicas complexas, e as mudanças psicológicas, como o
aumento da capacidade cognitiva e adaptações de personalidade, são características que
tornam os adolescentes um grupo populacional especial, e por isso deve ser alvo de
atenção especializada nos diversos campos de atividade.
No Brasil, os principais distúrbios nutricionais que atingem os adolescentes são
a obesidade e o sobrepeso, e inquéritos nacionais têm mostrado o perfil antropométrico
de adolescentes (IBGE, 2010). O último inquérito nacional avaliando o perfil
nutricional da população brasileira foi a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF)
2008-2009, uma pesquisa tradicionalmente realizada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE, 2010), que visa coletar dados associados à estrutura
orçamentária familiar, além de várias outras características dos domicílios e das famílias
como, por exemplo, dados que possibilitam a avaliação do perfil nutricional da
população residente no Brasil, incluindo os adolescentes, cujo estado nutricional foi
avaliado pelo índice antropométrico índice de massa corporal (IMC)-para-idade.
17
Dados da última POF, realizada em 2008 e 2009, que avaliou 55.970 domicílios
e cerca de 35.000 adolescentes, mostrou que, de um modo geral, a prevalência de déficit
de peso em adolescentes foi de apenas 3,4%, com pouca variação entre os sexos,
indicando assim baixa frequência de quadros atuais de desnutrição na população
adolescente brasileira. Nos dois sexos, o sobrepeso foi diagnosticado em cerca de um
quinto dos adolescentes, excedendo em quase seis vezes a frequência do déficit de peso.
A obesidade esteve ligeiramente mais presente no sexo masculino (5,8%) do que no
sexo feminino (4,0%). Somando-se os percentuais de sobrepeso e obesidade, pode-se
afirmar que cerca de um quarto (25,4%) dos adolescentes brasileiros apresentam algum
grau de excesso de peso (gráfico 1) (IBGE, 2010).
Gráfico 1: Classificação do estado nutricional de adolescentes brasileiros
segundo dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares.
Fonte: IBGE, 2010.
A comparação do estado nutricional por região mostra que a prevalência de
déficit de peso em adolescentes se manteve baixa em todas as regiões. A região norte foi
a única a apresentar prevalência de déficit de peso maior que a média nacional para os
dois sexos. Por outro lado, as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste foram as que
apresentaram as maiores prevalências de sobrepeso, oscilando, nos dois sexos, de 16% a
19% nas Regiões Norte e Nordeste (cerca de cinco vezes a prevalência do déficit de
peso) e de 20% a 27% nas Regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste (cerca de sete a dez
vezes a prevalência do déficit de peso). O sexo masculino apresentou as maiores
3,4 3,7 3,0
20,5 21,5 19,4
4,9 5,8 4,0
0
5
10
15
20
25
TOTAL MASCULINO FEMININO
Déficit de peso Sobrepeso Obesidade
18
prevalências com relação à obesidade, e isso foi particularmente importante nas regiões
Sul e Sudeste (gráfico 2) (IBGE, 2010).
Gráfico 2: Classificação do estado nutricional de adolescentes brasileiros, por sexo e
região, segundo dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares.
Fonte: IBGE, 2010.
0
1
2
3
4
5
6
Masculino Feminino
Déficit de peso Norte
Nordeste
Sul
Sudeste
Centro-Oeste
Brasil
0
5
10
15
20
25
30
Masculino Feminino
Sobrepeso Norte
Nordeste
Sul
Sudeste
Centro-Oeste
Brasil
0
1
2
3
4
5
6
7
8
Masculino Feminino
Obesidade Norte
Nordeste
Sul
Sudeste
Centro-Oeste
Brasil
19
Nos dois sexos, a prevalência de déficit de peso em adolescentes apresentou
relação inversa com a renda, variando de 4% a 6% na classe de menor renda e de 1% a
2% na classe de maior renda. A prevalência de sobrepeso mostrou forte aumento com a
renda, sobretudo no sexo masculino, onde aqueles pertencentes à maior classe de renda
apresentaram cerca de três vezes mais sobrepeso do que aqueles na classe de menor
renda. A prevalência de obesidade também aumentou com a renda no sexo masculino, e
no sexo feminino a relação entre obesidade e renda familiar se mostrou curvilínea, com
as maiores prevalências observadas nas classes intermediárias de renda (gráfico 3)
(IBGE, 2010).
Gráfico 3: Classificação do estado nutricional de adolescentes brasileiros por renda
mensal familiar per capita (salários-mínimos), segundo dados da Pesquisa de
Orçamentos Familiares.
Fonte: IBGE, 2010.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Déficit de peso Sobrepeso Obesidade
Masculino Até 1/4
Mais de 1/4 a 1/2
Mais de 1/2 a 1
Mais de 1 a 2
Mais de 2 a 5
Mais de 5
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Déficit de peso Sobrepeso Obesidade
Feminino Até 1/4
Mais de 1/4 a 1/2
Mais de 1/2 a 1
Mais de 1 a 2
Mais de 2 a 5
Mais de 5
20
A tendência secular do estado nutricional de adolescentes brasileiros pode ser
avaliada a partir dos inquéritos nacionais Estudo Nacional da Despesa Familiar
(ENDEF) realizado em 1974 e 1975 que avaliou cerca de 55 mil domicílios; da
Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN) realizada em 1989 que avaliou
14.455 domicílios; e das POFs 2002-2003 (48.470 domicílios) e 2008-2009 (55.970
domicílios). As estimativas do ENDEF não levam em conta os domicílios rurais das
Regiões Norte e Centro-Oeste e as estimativas da PNSN não levam em conta os
domicílios rurais da Região Norte. O Gráfico 4 descreve a tendência secular da
prevalência de déficit de peso, excesso de peso e obesidade na população brasileira de
adolescentes do sexo masculino e do sexo feminino no período de 1974 a 2009 (IBGE,
2010).
Gráfico 4: Evolução de indicadores antropométricos na população de 10 a 19 anos de
idade, por sexo, no Brasil – períodos: 1974-1975, 1989 e 2002-2003 e 2008-2009.
Fonte: IBGE, 2010.
10,1
3,7
0,4
5
7,7
1,5
5,3
16,7
4,1 3,7
21,7
5,9
0
5
10
15
20
25
Déficit de peso Excesso de peso Obesidade
ENDEF 1974-1975
PNSN 1989
POF 2002-2003
POF 2008-2009
5,1
7,6
0,7 2,7
13,9
2,2 4,3
15,1
3 3
19,4
4
0
5
10
15
20
25
Déficit de peso Excesso de peso Obesidade
ENDEF 1974-1975
PNSN 1989
POF 2002-2003
POF 2008-2009
21
A prevalência de déficit de peso em adolescentes mostra tendência de declínio
ao longo dos quatro inquéritos. De 1974-1975 a 2008-2009, a prevalência de déficit de
peso diminuiu de 10,1% para 3,7%, no sexo masculino, e de 5,1% para 3,0%, no sexo
feminino. A prevalência de excesso de peso aumentou continuamente ao longo dos
quatro inquéritos. Nos 34 anos decorridos de 1974-1975 a 2008-2009, a prevalência de
excesso de peso aumenta em seis vezes no sexo masculino (de 3,7% para 21,7%) e em
quase três vezes no sexo feminino (de 7,6% para 19,4%). A evolução da prevalência de
obesidade nos dois sexos repete, com frequências menores, a tendência ascendente
descrita para o excesso de peso (gráfico 4) (IBGE, 2010).
Tendência declinante do déficit de peso e aumento contínuo do excesso de peso
e de obesidade caracterizam a população de adolescentes de todas as regiões brasileiras.
Por exemplo, em adolescentes do sexo masculino da Região Centro-Oeste, a
prevalência de déficit de peso declina de 10,5%, em 1974-1975, para 3,3%, em 2008-
2009, enquanto, no mesmo período, a prevalência de excesso de peso aumenta de 4,1%
para 24,2% e a de obesidade de 0,5% para 5,5%. Em adolescentes do sexo feminino da
mesma região, o déficit de peso declina de 5,0% para 2,8%, o excesso de peso aumenta
de 9,4% para 20,1% e a obesidade aumenta de 1,0% para 3,6% (IBGE, 2010).
Em todos os estratos de renda, observa-se tendência de diminuição da
prevalência de déficit de peso e de aumento da prevalência de excesso de peso e de
obesidade. Por exemplo, em adolescentes do sexo masculino pertencentes ao quintil de
menor renda familiar, a prevalência de déficit de peso declinou de 13,9%, em 1974-
1975, para 5,2%, em 2008-2009, enquanto, no mesmo período, a prevalência de excesso
de peso aumentou de 1,6% para 12,7% e a de obesidade de menos de 0,1% para 2,1%.
Em adolescentes do quinto de maior renda, o déficit de peso declinou de 6,2% para
2,7%, o excesso de peso aumentou de 8,1% para 31,6% e a obesidade aumenta de 1,2%
para 9,2% (IBGE, 2010).
22
2.2. CONSUMO DE ALIMENTOS E PRÁTICAS ALIMENTARES ENTRE
ADOLESCENTES BRASILEIROS
A alimentação do adolescente tem sido marcada pela presença de alimentos com
excessivo conteúdo de açúcar, gorduras e sal, incluindo doces, bebidas com adição de
açúcar, biscoitos, fast food e pelo consumo reduzido de hortaliças, frutas e leite e
derivados. Essa seleção de alimentos resulta em consumo elevado de energia sendo
compatível com o ganho de peso e com possíveis repercussões metabólicas
desfavoráveis ao longo do tempo (FARIAS et al., 2009).
A segunda edição da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar – PENSE, realizada
em 2012, avaliou fatores de risco e proteção à saúde dos adolescentes, pesquisados entre
os escolares do 9º ano do ensino fundamental das 26 capitais brasileiras e do Distrito
Federal. Foram pesquisados 109.104 escolares e um dos temas pesquisados foram os
hábitos alimentares. No que se refere à frequência de consumo em cinco dias ou mais na
semana anterior à da pesquisa, os dados da pesquisa apontaram que 69,9% dos escolares
consumiram feijão; 43,4%, hortaliças; 30,2%, frutas frescas; e 51,5%, leite. A menor
proporção de escolares que consumiram feijão foi obtida na Região Norte (41,4%).
Quanto ao consumo de hortaliças, também considerando a mesma frequência semanal,
os escolares da Região Centro-Oeste apresentaram o mais elevado percentual (51,2%).
O consumo de frutas frescas foi referido por 26,7% dos estudantes da Região Norte;
28,4%, do Sul; 28,9%, do Nordeste, 31,7%, do Sudeste; e 32,9%, do Centro-Oeste. O
consumo de leite entre os escolares da Região Nordeste (39,9%) foi menor em relação
àquele referido por estudantes das demais Regiões. O consumo de guloseimas (doces,
balas, chocolates, chicletes, bombons ou pirulitos) em cinco dias ou mais na semana foi
referido por 41,3% dos escolares. Em conjunto com o consumo de biscoitos salgados
(35,1%) e de refrigerantes (33,2%), estes foram os marcadores de alimentação não
saudável mais referidos pelos escolares, reafirmando o padrão regular e elevado de
consumo de alimentos não saudáveis por parcela significativa dos estudantes brasileiros
(IBGE, 2013).
Estudo publicado por SOUZA et al., (2013), que avaliou os dados do Inquérito
Nacional de Alimentação a investigar o consumo alimentar individual no Brasil em
2008 e 2009, mostrou que os adolescentes brasileiros não incluíram nenhuma hortaliça
23
entre os 20 alimentos mais prevalentes na sua alimentação e que incluíram doces,
bebida láctea e biscoitos doces entre os itens de maior prevalência de consumo. A
ingestão média per capita diária de frutas, legumes e verduras (FLV) observada na
adolescência foi abaixo de 100 g, estando muito aquém dos 400 g diários recomendados
para a proteção à saúde e diminuição do risco de ocorrência de enfermidades (VEIGA et
al., 2013).
A manutenção do baixo consumo de frutas, legumes e verduras tem sido
constatada na população brasileira em geral (LEVY et al., 2005) e pode explicar a
inadequação no consumo de vitaminas, principalmente a vitamina C, que tem nesses
alimentos suas principais fontes. Refrigerantes e salgados fritos e assados também
constaram entre os itens de maior prevalência de consumo entre os adolescentes
(SOUZA et al., 2013).
BIGIO et al., (2011) analisaram o consumo de FLV de 812 adolescentes de 12 a
19 anos em estudo transversal, multicêntrico, de base populacional em São Paulo
(“Inquérito de Saúde de São Paulo - ISA-Capital”). Estes autores observaram que
apenas 6,4% dos entrevistados consumiram a recomendação mínima de 400g/dia de
FLV e 22% não consumiram nenhum tipo de FLV.
Os dados apresentados evidenciam que entre os adolescentes são comuns as
escolhas alimentares inadequadas, as quais podem se relacionar ao aumento do risco de
surgimento de distúrbios metabólicos associados a doenças crônicas não transmissíveis
já nesta fase da vida.
2.3. POLÍTICA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO E
SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL
Anteriormente a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) a Vigilância
Epidemiológica praticamente se restringia à notificação compulsória dos casos de
doenças transmissíveis. No entanto, nos anos 80 e início dos 90, a promulgação da Lei
Orgânica da Saúde (Lei 8.080 de 19/09/1990), que regulamentou o SUS, tornou
evidente a necessidade de reorganização do Sistema Nacional de Vigilância
Epidemiológica para adequá-lo aos princípios e diretrizes do novo sistema de saúde.
24
Essa mesma Lei recomendou a adoção da Vigilância Nutricional no âmbito do SUS, no
Capítulo I, artigo 6, inciso IV (BRASIL, 1990).
Logo, a alimentação e nutrição estão presentes na legislação recente do Estado
Brasileiro, após o entendimento de que a alimentação é um fator condicionante e
determinante da saúde e que as ações de alimentação e nutrição devem ser
desempenhadas de forma transversal às ações de saúde, em caráter complementar e com
formulação, execução e avaliação dentro das atividades e responsabilidades do sistema
de saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015).
Compreendendo essas necessidades, foi aprovada pela portaria nº 710, de 10 de
junho de 1999, a Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), que vem sendo,
nos últimos anos, a responsável pela incorporação do enfoque da segurança alimentar e
nutricional (SAN) no SUS (BRASIL, 1999). A sua criação marca uma etapa importante
para a configuração da área no campo da saúde, projetando um modelo de SAN
fundamentado no direito humano à alimentação, destacando a alimentação e a nutrição
como requisitos de promoção e proteção da saúde. Encontram-se no seu campo de
atuação a vigilância alimentar e nutricional, a promoção da alimentação saudável,
prevenção e controle de carências nutricionais e outras doenças associadas à
alimentação, o controle de qualidade nutricional dos alimentos, a vigilância sanitária de
alimentos e a vigilância ambiental (RECINE e VASCONCELLOS, 2011).
Nesse sentido, o Estado Brasileiro, preocupado em reforçar a construção de uma
nova abordagem para atuar no combate à fome, à pobreza e na promoção da
alimentação adequada e saudável, publicou a Lei 11.346/2006 – Lei Orgânica de
Segurança Alimentar e Nutricional/LOSAN (BRASIL, 2006) e o Decreto 7272/2010 -
Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (BRASIL, 2010). Tanto a Lei
como o Decreto apresentam entre as suas bases diretivas o fortalecimento das ações de
alimentação e nutrição no sistema de saúde.
Segundo a LOSAN, a SAN consiste na realização do direito de todos ao acesso
regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem
comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas
alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam
ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis (BRASIL, 2006).
Em 2010, a alimentação foi reconhecida como direito pela Constituição Federal,
através da Emenda Constitucional n° 64, artigo 6° (BRASIL, 2010). Desde então o
governo tem empreendido esforços para garantir a SAN das populações. Uma das ações
25
é o Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PLANSAN) 2012-2015.
Elaborado pela Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional
(CAISAN), incluindo um processo de consulta ao Conselho Nacional de Segurança
Alimentar e Nutricional (CONSEA) e aprovado pelo Pleno Ministerial da CAISAN,
composto por 19 Ministérios, integrando dezenas de ações do conjunto destes órgãos
voltadas para a produção, o fortalecimento da agricultura familiar, o abastecimento
alimentar e a promoção da alimentação saudável e adequada. Possui como uma das
dimensões o monitoramento do percentual de adolescentes com excesso de peso e
avaliação do consumo de FLV.
2.4. SISTEMA DE VIGILÂNCIA ALIMENTAR E NUTRICIONAL
Os ideais da vigilância alimentar e nutricional surgiram em meados da década de
1960 e começaram a ser consolidados na década de 1970 em diferentes países
(ARRUDA, 1992; BATISTA e RISSIN, 1993; CASTRO, 1995). Entretanto, as
primeiras experiências da vigilância alimentar e nutricional no Brasil ocorreram na
década de 80, por iniciativa do Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição, vinculado
ao Ministério da Saúde. Nesta mesma década, três novos projetos surgiram com o apoio
do Fundo das Nações Unidas (UNICEF) nos estados de Pernambuco, São Paulo e
Ceará.
No Brasil, embora tenham sido descritas experiências incipientes e localizadas
de vigilância nutricional desde meados da década de 1970, o SISVAN foi implantado de
maneira mais contundente, em nível nacional, somente a partir da década de 1990. Em
1990, a partir da Portaria 1.156 (BRASIL, 1990), o SISVAN foi instituído pelo MS e, a
partir da Lei n° 8.080, de 19/09/1990 (artigos 3°, 6° e 12°), foi recomendada a adoção
do sistema no âmbito do SUS (BRASIL, 2009).
Nesse período, a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação
Oswaldo Cruz (ENSP/Fiocruz), com o apoio do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Programa de Apoio à Reforma
Sanitária, iniciou um projeto experimental de implementação do SISVAN na área de
Manguinhos, em Pernambuco (BATISTA E RISSIN, 1993).
26
Entretanto, a utilização do SISVAN como um sistema voltado à vigilância
alimentar e nutricional só recebeu caráter obrigatório para os municípios quando este foi
incorporado como pré-requisito para a transferência de recursos financeiros federais de
outras políticas e programas de alimentação e nutrição em 1993, com a criação do
programa “Leite é Saúde” (SANTANA E SANTOS, 2004) e em 1998 com o programa
de Incentivo ao Combate às Carências Nutricionais (ICCN) (COUTINHO et al., 2009).
Com relação ao ICCN, o principal critério de permanência do município no programa
era o envio regular de informações aos estados que posteriormente eram encaminhadas
às instâncias específicas de VAN do MS (ENES et al., 2014).
Com a criação da PNAN em 1999, o MS endossou o compromisso com a VAN,
estabelecendo-a como uma de suas sete diretrizes, com propósito de ampliação e
aperfeiçoamento do SISVAN (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004a e 2004b).
No início do ano 2000, um trabalho conjunto de representantes das
Coordenadorias de Planejamento em Saúde, do interior e da região metropolitana de
São Paulo, do Conselho de Secretários Municipais de Saúde de São Paulo e do Instituto
de Saúde, culminou na criação de um aplicativo denominado SISVAN. Este, consistia
em um sistema destinado à coleta de informações, processamento e análise de dados
nutricionais de crianças menores de 5 anos (VENÂNCIO et al., 2007).
A partir de 2002 iniciou-se um processo de reestruturação e informatização da
vigilância nutricional, atendendo a reivindicações dos estados e municípios que tiveram
início no ano 2000 e que apontavam a necessidade urgente de uniformização do sistema
em todo o território nacional (BRASIL, 2009). O processo de informatização da
vigilância nutricional foi concluído em 2004 sendo implantado em diversos municípios
brasileiros (ENES et al., 2014) ficando conhecido como VAN municipal. Esse processo
foi impulsionado pela criação do Programa Bolsa Família, onde o SISVAN passou a ser
o principal provedor de informações sobre a saúde das famílias beneficiadas a partir do
acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil (COUTINHO et al., 2009).
A adoção de um critério biológico para atender os segmentos mais vulneráveis
da população representou na prática, a utilização do SISVAN como um mero
instrumento de triagem da clientela, além de um requisito administrativo para
habilitação aos programas, o que durante muitos anos dificultou sua implantação mais
efetiva no país (BRASIL, 2009).
A partir de 2007, foi apresentado pela Coordenação-Geral de Alimentação e
Nutrição (CGPAN) o SISVAN Web, um novo sistema informatizado da VAN para
27
registro de informações do estado nutricional e do consumo alimentar da população
atendida pela Atenção Básica do SUS. O SISVAN Web foi criado para substituir o
programa VAN municipal, desenvolvido pelo Departamento de Informática do SUS
(DATASUS) em 2003. O acesso para todos os municípios foi disponibilizado a partir de
janeiro de 2008 (ENEs et al., 2014). Ainda nesse ano, a necessidade da utilização do
SISVAN na atenção primária à saúde do SUS foi reforçada pela Portaria nº. 154, de 24
de janeiro de 2008 (BRASIL, 2008), que cria os Núcleos de Apoio à Saúde da Família
(NASF) e cujas atribuições envolvem a VAN das famílias acompanhadas nesse nível de
atenção à saúde.
Atualmente, o SISVAN é um sistema de análise de informações que tem como
finalidade promover periodicamente o diagnóstico descritivo e analítico da situação
alimentar e nutricional de uma dada população vinculada geograficamente a uma
determinada unidade de saúde, consolidando sua vocação como sistema de informação
de base local para a segurança alimentar e nutricional. Operado a partir da atenção
básica à saúde, em especial das equipes de saúde da família, tem como objetivo
principal monitorar o padrão alimentar e o estado nutricional dos indivíduos atendidos
pelo SUS (em qualquer das três esferas de Governo - municipal, estadual e federal) em
todas as fases do curso da vida (BRASIL, 2008).
Para a classificação do estado nutricional dos adolescentes, o sistema
disponibiliza dois índices: altura para idade e índice de massa corporal (IMC)-para-
idade, entretanto no presente trabalho será utilizado o segundo índice. O IMC-para-
idade é recomendado internacionalmente para diagnóstico individual e coletivo dos
distúrbios nutricionais na adolescência, já foi validado como indicador de gordura
corporal total nos percentis superiores, além de proporcionar uma continuidade da
utilização do mesmo entre os adultos (BRASIL, 2008).
Considerando o estado nutricional dos indivíduos acompanhados, o SISVAN
engloba três sistemas informatizados:
Todos: contém dados de todos os indivíduos acompanhados pelo sistema;
SISVAN Web: contém dados somente daqueles atendidos na unidade de saúde,
mas que não fazem parte do PBF.
Sistema de Gestão do Bolsa Família: contém dados daqueles atendidos na
unidade de saúde e que somente fazem parte do PBF.
O SISVAN apresenta como principais vantagens a incorporação das curvas de
crescimento da OMS de 2006 e 2007 para a avaliação do estado nutricional de crianças
28
e adolescentes, além de apresentar uma interface mais fácil para o usuário do sistema.
Pode-se selecionar o ano de interesse de análise (2008 a 2015); mês de referência;
agrupamento por Brasil, região, estado ou município; região de cobertura (todas,
Amazônia Legal, Semi-árido ou ANDI); fases da vida (criança, adolescente, adulto,
idoso ou gestante); sexo (todos, masculino ou feminino); povo e comunidade
(extrativistas, quilombolas, ribeirinhos etc); escolaridade (14 classificações);
acompanhamentos registrados (Todos, Sisvan-Web ou Sistema de Gestão do Bolsa
Família-DATASUS) e tipo de relatório (visualizar em tela ou exportar para excel).
Atualmente, os relatórios podem ser desagregados até os Estabelecimentos de Saúde
dos municípios, incluindo o acompanhamento do histórico individual.
Por outro lado, os dados de consumo alimentar estão disponíveis somente para o
sistema SISVAN Web, podendo ser obtido de acordo com as fases da vida (menores de
6 meses, entre 6 meses e 12 meses, entre 12 meses e 18 meses, entre 18 meses e 24
meses, entre 2 anos e 5 anos, 5 anos ou mais), sendo os dados coletados em formulários
próprios para essas fases. No caso de crianças a partir dos 5 anos e para as demais fases
da vida, os marcadores de consumo alimentar têm como objetivo identificar com que
frequência o entrevistado consumiu alguns alimentos ou bebidas nos últimos 7 dias, que
estão relacionados tanto a uma alimentação saudável (exemplo: consumo diário de
feijão, frutas, verduras) como a práticas pouco recomendadas (exemplo: consumo
frequente de alimentos fritos e guloseimas).
O instrumento adotado para avaliação dos alimentos marcadores de alimentação
saudável e não saudável dos adolescentes (Anexo 1) é semelhante às versões adotadas
em pesquisas de monitoramento de práticas de risco à saúde, como o Levantamento
norte-americano de Comportamentos de Risco entre Jovens (Youth Risk Behavior
Survey - YRBS), realizado pelo Centro de Controle de Doenças e Prevenção dos Estados
Unidos (Center for Disease Control and Prevention - CDC). Também foi considerado o
questionário adotado no VIGITEL (Vigilância de Doenças Crônicas por Inquérito
Telefônico), realizado pela Secretaria de Vigilância em Saúde do MS.
Recomenda-se a realização de, no mínimo, um registro por ano do
acompanhamento nutricional e dos marcadores do consumo alimentar do adolescente no
SISVAN Web até que este complete 20 anos (BRASIL, 2008).
Todas as informações registradas no sistema informatizado, referentes ao estado
nutricional e consumo alimentar, são apresentadas em relatórios, no formato de tabelas.
Estes servem de subsídio para a realização de ações voltadas ao restabelecimento das
29
condições adequadas de saúde e nutrição da população acompanhada. Recomenda-se
que para os adolescentes seja realizado, no mínimo, um registro por ano, adaptando esta
ação à realidade de cada local. Tais dados são importantes porque, além de permitirem
traçar o perfil epidemiológico e nutricional da população, refletem o impacto das ações
realizadas em determinadas comunidades.
Além disso, o SISVAN é, atualmente, utilizado para medir os resultados
alcançados pelos gestores de saúde das esferas estadual e municipal no cumprimento
das metas de alimentação e nutrição assumidas no Pacto Nacional de Saúde (RECINE E
VASCONCELLOS, 2011), possuindo o desafio de fornecer dados para a tomada de
decisão e planejamento. Deve ser dada particular atenção à retroalimentação, porque
estimula e reforça os níveis geradores a prestarem melhor atendimento e a manterem a
boa qualidade dos dados (ARRUDA,1992).
No intuito de apoiar o SISVAN no País, a Coordenação-Geral de Alimentação e
Nutrição (CGAN) do MS desenvolveu, no ano de 2005, onze capacitações
macrorregionais em VAN para os profissionais da atenção primária à saúde, com a
colaboração dos Centros Colaboradores de Alimentação e Nutrição (CECANE) e
pesquisadores de universidades. Tais eventos resultaram na publicação de um relatório
com a metodologia utilizada a fim de permitir sua implantação e/ou implementação
pelos recursos humanos na esfera municipal, segundo a realidade de cada local
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).
A CGAN também elaborou e distribuiu materiais de apoio técnico para todos os
municípios e regionais de saúde, universidades de Nutrição, CECANE e Áreas Técnicas
Estaduais de Alimentação e Nutrição, de modo a esclarecer os objetivos e normalizar os
parâmetros estabelecidos pelo SISVAN, tais como manuais técnicos com orientações
básicas para a coleta, o processamento, a análise de dados e a informação em serviços
de saúde, cartazes, álbuns seriados de antropometria, álbuns seriados sobre alimentação
saudável, dentre outros (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).
No âmbito da VAN, o aperfeiçoamento e a expansão do SISVAN respondem aos
esforços de programar um sistema operativo na rotina das unidades de saúde que possa
favorecer o planejamento racional de ações do nível local, contribuindo para a
efetividade da PNAN.
30
2.5. PROGRAMA BOLSA-FAMÍLIA E A SUA INSERÇÃO NO SISTEMA DE
VIGILÂNCIA ALIMENTAR E NUTRICIONAL
Criado em 20 de outubro de 2003, através da Medida Provisória nº. 132 e
regulamentado em 09 de janeiro de 2004, por meio da Lei nº 10.836, o PBF é um
programa federal de transferência direta de renda, sendo considerado o maior programa
nessa modalidade, na história brasileira (BRASIL, 2004). Tal iniciativa visa ao
enfrentamento da fome e da miséria, bem como a promover a emancipação das famílias
mais pobres do país. Sua operacionalização consiste no repasse mensal de valores em
dinheiro para famílias cadastradas. Na atualidade, o PBF é o maior programa de
transferência de renda e foi formulado para integrar e unificar o “Fome Zero”: o “Bolsa
Escola”, o “Auxílio Gás” e o “Cartão Alimentação” (BRASIL, 2004).
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social e combate à Fome
(MDS), serão habilitadas a entrar no PBF, as famílias:
Com cadastros atualizados nos últimos 24 meses;
As famílias em situação de extrema pobreza, com renda mensal de até R$ 60,00
(sessenta reais) por pessoa;
As famílias pobres, entendidas como aquelas com renda mensal de até R$
120,00 (cento e vinte reais) por pessoa, e que tenham em sua composição
gestantes, nutrizes, crianças entre 0 (zero) e 12 (doze) anos ou adolescentes até
15 (quinze) anos.
De acordo com o site do MDS (http://mds.gov.br/), os benefícios do programa
são baseados no perfil da família registrado no Cadastro Único (CadÚnico). Entre as
informações consideradas, estão: a renda mensal por pessoa, o número de integrantes, o
total de crianças e adolescentes de até 17 anos, além da existência de gestantes.
Existem seis diferentes tipos de benefícios que são concedidos às famílias
conforme suas características:
-Benefício Básico: concedido às famílias em situação de extrema pobreza, ou seja, com
renda mensal de até R$ 70,00 per capita, com ou sem crianças, adolescentes, jovens ou
gestantes. O valor do benefício básico é de R$ 70,00.
-Benefício Variável: concedido às famílias com renda mensal de até R$ 140,00 per
capita desde que tenham crianças, adolescentes de até 15 anos e/ou gestantes. O valor
31
do benefício variável é de R$ 32,00 e cada família pode receber até cinco benefícios
variáveis.
-Benefício Variável à Gestante: esse benefício é pago em nove parcelas às famílias que
tenham gestantes identificadas pelo Sistema de Gestão do Programa Bolsa-Família na
Saúde.
-Benefício Variável Nutriz: esse benefício é pago em seis parcelas às famílias que
tenham crianças até 6 meses de idade identificadas no Cadastro Único.
-Benefício Variável Vinculado ao Adolescente (BVJ): concedido às famílias que
tenham adolescentes de 16 e 17 anos, no valor de R$ 38,00. Cada família pode receber
até dois BVJs.
-Benefício para Superação da Extrema Pobreza na Primeira Infância (BSP): concedido
às famílias com crianças até 6 anos, que, mesmo recebendo os benefícios financeiros do
PBF, permanecem em situação de pobreza extrema (renda per capita mensal de até R$
70,00). O valor do benefício corresponde ao necessário para que a família supere os R$
70,00 mensais por pessoa.
O PBF possui três eixos principais: a transferência de renda que promove o
alívio imediato da pobreza; as condicionalidades que reforçam o acesso a direitos
sociais básicos nas áreas de educação, saúde e assistência social; e as ações e programas
complementares que objetivam o desenvolvimento das famílias, de modo que os
beneficiários consigam superar a situação de vulnerabilidade (SOARES E SÁTYRO,
2009).
O PBF atende atualmente mais de 13 milhões de famílias em situação de
pobreza e de extrema pobreza. Em 2003, 12% dos brasileiros estavam na condição de
pobreza extrema e, em 2008, esse percentual diminuiu para 4,8%, de acordo com o
MDS. Endossa ainda esses números o estudo do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA) no ano de 2013, que aponta o aumento de 14% na renda per capita
domiciliar entre os 10% mais pobres no período de 2011 a 2012 (SANTOS et al., 2014).
Segundo TRALDI et al., (2012) o PBF é um programa conhecido nacional e
internacionalmente. É alvo de muitas repercussões, positivas e negativas, pois seus
resultados apresentam inúmeras indagações nos diversos segmentos em que atua (renda,
saúde, educação, focalização, trabalho infantil, etc.).
Atualmente, a população coberta pelo SISVAN se refere à população atendida
pela Atenção Básica do SUS, incluindo os beneficiários do PBF.
32
A partir do segundo semestre de 2006, a possibilidade de registrar o estado
nutricional dos beneficiários do programa ampliou de forma expressiva o acesso aos
dados da vigilância nutricional, sendo que no segundo semestre de 2008, foram
recebidos mais de 7,3 milhões de registros de estado nutricional dos beneficiários em
todo o Brasil (COUTINHO et al., 2009).
O sistema informatizado do SISVAN referente aos beneficiários do PBF, chama-
se Sistema de Gestão do Bolsa Família, e é utilizado para o acompanhamento do
registro das condicionalidades de saúde dos beneficiários desse programa, avaliando o
acesso desse público às ações básicas de saúde. As condicionalidades na área da saúde
são: para as gestantes e nutrizes, o comparecimento às consultas de pré-natal e a
assistência ao puerpério, visando à promoção do aleitamento materno e dos cuidados
gerais com a alimentação e saúde da criança; e para as crianças menores de 7 (sete)
anos, o cumprimento do calendário de vacinação e o acompanhamento do crescimento e
desenvolvimento infantil (ESTRELLA e RIBEIRO, 2008).
Apesar desse aumento, há poucos estudos publicados sobre a situação alimentar
e nutricional dos beneficiários do programa, sobretudo dos adolescentes, adultos e
idosos.
Estudo realizado sobre as repercussões do PBF no município de Araraquara
(SP), que avaliou a temática segurança alimentar e nutricional dos beneficiários do
programa, mostrou que os principais gastos das famílias com os benefícios do Bolsa
Família são na maioria com a alimentação (69%), seguido de material escolar (14%) e
vestuário (5%) das crianças e adolescentes (roupas, uniformes e acessórios), mostrando
que o benefício está sendo bem direcionado (TRALDI et al., 2012).
DUARTE et al., (2009), avaliando o impacto das transferências sobre os gastos
com alimentos em famílias rurais, encontraram que 88% desse valor é utilizado para
consumo de alimentos e que, portanto, o programa de transferência Bolsa Família
exerce um impacto positivo sobre o consumo de alimentos das famílias selecionadas.
Resultado semelhante foi encontrado por CABRAL et al., (2013) que avaliaram 204
famílias e 847 indivíduos beneficiários do PBF residentes em assentamentos
subnormais de Maceió. O estudo mostrou que a maioria das famílias relatou que
utilizava o recurso para a aquisição de alimentos (92,6%), roupas (59,3%), gás (32,3%)
e remédios (23,5%).
Por meio destes estudos foi possível perceber que as famílias utilizam a maior
parte do recurso do PBF com a alimentação, o que é um impacto positivo do programa.
33
Nesse contexto, o PBF pode auxiliar na promoção da segurança alimentar e nutricional
das famílias beneficiárias, ao propiciar às populações em vulnerabilidade social maior
capacidade de acesso aos alimentos.
Vale ressaltar que as informações referentes ao estado nutricional e o consumo
alimentar registradas no SISVAN são dados de serviço e refletem o perfil dos usuários
da atenção básica do SUS que recebem o benefício do PBF, não podendo ser
generalizados para toda a população.
2.6. COBERTURA DO SISTEMA DE VIGILÂNCIA ALIMENTAR E
NUTRICIONAL
O sistema informatizado do SISVAN foi implantado em 2007 e desde então
houve um aumento importante do número de acompanhamentos em todo o país,
alcançando a marca de 9 milhões em aproximadamente um ano e meio de utilização. O
sistema informatizado vigente apresenta como vantagens a possibilidade de
desagregação da informação no nível da unidade de saúde e a rapidez com que a
informação é coletada, consolidada, analisada e interpretada (COUTINHO et al., 2009).
Entretanto, mesmo com todos os esforços voltados para a ampliação e, sobretudo,
qualificação da VAN, estudos têm mostrado que a cobertura populacional tanto do
SISVAN Web quanto do SISVAN Bolsa Família permanece muito baixa (ENES et al.,
2014; JUNG et al., 2014).
A baixa cobertura do sistema (inferior a 10%) pode ser atribuída a (VENÂNCIO
et al., 2007; Brasil, 2009; ENES et al., 2014):
ausência do registro ou falta de regularidade no envio das informações coletadas
pelo município para o DATASUS, sendo que esta também não é exigida ou
definida em relação à população atendida por demanda espontânea;
falta de estrutura de computadores e equipamentos antropométricos;
dificuldades dos profissionais em relação à tomada de medidas antropométricas;
falta de comunicação com o sistema de vigilância epidemiológica;
divulgação e discussão insuficiente dos dados que gera nas três esferas do
sistema de saúde;
34
competição das ações de VAN com as demais atividades da atenção básica em
nível local;
alta rotatividade de pessoas que participam das capacitações;
falta de priorização política.
Parece que a exigência formal de implantação do SISVAN ainda não é suficiente
para garantir a geração e a utilização local de informações nos municípios, de forma que
a incorporação desta prática nos serviços de saúde demanda mudanças que não
dependem somente de normas. Este cenário compromete a utilização do SISVAN na
produção de mudanças efetivas nas políticas de alimentação e nutrição (ENES et al.,
2014).
35
3.0. JUSTIFICATIVA
A exposição a diversos fatores de risco comportamentais, como alimentação
inadequada e sedentarismo tem, com frequência, início na adolescência. Estes fatores
estão associados ao desenvolvimento da maioria das doenças crônicas não
transmissíveis, como as cardiovasculares, diabetes e câncer, que lideram as causas de
óbito na vida adulta, no País e no mundo (IBGE, 2009).
No Brasil, o alto consumo de alimentos com elevado teor calórico, ricos em
sódio, gorduras saturadas, açúcar, bebidas açucaradas e lanches do tipo fast-food, além
de baixo consumo de frutas e hortaliças é considerado importante fator de risco para
obesidade e co-morbidades. Consequentemente, o excesso de peso e a obesidade entre
os adolescentes brasileiros vêm aumentando expressivamente nos últimos 35 anos, além
das doenças associadas à obesidade.
Dessa maneira é importante o monitoramento do estado nutricional e dos hábitos
alimentares nessa fase da vida, para que se possa identificar aqueles em situação de
risco visando a implementação de medidas efetivas de intervenção. Nesse sentido, os
titulares de direito do PBF são considerados um grupo vulnerável a agravos da situação
alimentar e nutricional por se acharem em condições socioeconômicas menos
favoráveis, o que torna essas famílias grupo prioritário no desenvolvimento de ações de
vigilância alimentar e nutricional no País.
Por outro lado, para o fortalecimento das ações de monitoramento do estado
nutricional e dos hábitos alimentares é necessário ter um sistema informatizado de
dados nesse campo de modo a facilitar a tomada de decisões. Atualmente, o sistema
disponível com essa função é o SISVAN, que foi implementado da maneira como está
hoje desde 2007. Desde então, a cobertura do sistema tem sido significativamente
ampliada e o número de acompanhamentos nutricionais tem aumentado desde então.
Entretanto, ainda é necessária uma forte ampliação de monitoramento nutricional para
além das crianças, que tem sido o público-alvo do sistema, de maneira que alcance,
efetivamente, as outras faixas etárias.
Apesar do grande incentivo para utilização do SISVAN no SUS há poucos
estudos avaliando sua cobertura nos estados e no país, além, também, de poucos estudos
utilizando os seus dados para a avaliação nutricional de populações. Considerando-se a
escassez de pesquisas avaliativas acerca do desempenho do SISVAN, pode-se dizer que
36
o presente estudo viabilizou uma descrição ainda pouco explorada sobre a utilização e a
cobertura do aplicativo SISVAN em um estado brasileiro.
Baseado no exposto, o objetivo deste estudo foi analisar o estado nutricional e o
consumo alimentar de adolescentes atendidos pelo sistema, residentes no estado de
Mato Grosso em 2010, assim como avaliar a cobertura do SISVAN no estado. Espera-se
que este estudo possa orientar os gestores de saúde acerca de aspectos a serem
aperfeiçoados para tornar o SISVAN uma boa ferramenta prática de mapeamento
nutricional e norteamento de políticas públicas em alimentação e nutrição.
37
4.0. OBJETIVOS
4.1. OBJETIVO GERAL
Avaliar o SISVAN quanto a sua cobertura, além do estado nutricional e
consumo alimentar dos adolescentes atendidos pelo sistema no estado de Mato Grosso
em 2010.
4.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Avaliar a cobertura do SISVAN no estado de Mato Grosso de acordo com as
regiões de saúde e número de habitantes do município.
Analisar o estado nutricional dos adolescentes acompanhados pelo SISVAN de
acordo com as regiões de saúde.
Analisar os alimentos marcadores de alimentação saudável e não saudável
consumidos pelos adolescentes acompanhados pelo sistema SISVAN Web, de
acordo com a região de saúde.
38
5.0. METODOLOGIA
5.1. DESENHO E POPULAÇÃO DE ESTUDO
Trata-se de um estudo transversal utilizando dados secundários do SISVAN para
avaliar o estado nutricional e consumo alimentar de adolescentes atendidos na atenção
básica à saúde no estado do Mato Grosso em 2010. O SISVAN considera como
adolescente todos os indivíduos com idade entre 10 e 20 anos incompletos.
O estado de Mato Grosso possui 903.378,292 km² de extensão. É o terceiro
maior estado do país, ficando atrás somente do Amazonas e do Pará. Sua área urbana é
de 519,7 km2, o que coloca o estado em 11º lugar nos ranking de estados com maior
mancha urbana. Localizado no Centro-Oeste brasileiro, fica no centro geodésico da
América Latina e possui 141 municípios. Segundo o levantamento do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizado em 2010, Mato Grosso possui
3.035.122 habitantes, o que representa 1,59% da população brasileira. Do número total
de habitantes, 565.985 são adolescentes, o que corresponde a 18,6% da população total
do estado. Vivem na zona urbana 81,9% da população e 18,1% da zona rural. O
rendimento nominal mensal domiciliar per capita da população residente estimado em
2014 foi de 1.032 reais (IBGE, 2010).
Para a seleção da amostra do estudo considerou-se as regiões de saúde (RS) do
estado de Mato Grosso, definidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. As
RS são recortes territoriais inseridos em um espaço geográfico contínuo, identificadas
pelos gestores municipais e estaduais a partir de identidades culturais, econômicas e
sociais, de redes de comunicação e infraestrutura de transportes compartilhados do
território (BRASIL, 2006).
5.2. ANÁLISE DA COBERTURA DO SISTEMA DE VIGILÂNCIA
ALIMENTAR DE NUTRICIONAL
A estimativa da cobertura populacional do SISVAN foi calculada dividindo-se o
número de adolescentes de 10 a 19 anos acompanhados pelo sistema no estado em 2010
pela população de 10 a 19 anos que utilizam o serviço público de saúde.
39
Considerando-se que o setor de atenção básica não dispõe de dados relativos ao
número de usuários que utilizam seus serviços, a população de referência considerada
foi obtida pela diferença entre o número de adolescentes do município e o total de
adolescentes beneficiários de planos privados de saúde. O número de habitantes dos
municípios do estado obtido a partir dos dados do censo demográfico realizado em 2010
(IBGE, 2010). Informações disponibilizadas pela Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS) possibilitaram a identificação do total de adolescentes vinculados a
planos privados de saúde referente ao ano de 2010 (DATASUS, 2016).
5.3. AFERIÇÃO DAS MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS E
CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL
Os procedimentos utilizados para a aferição das medidas antropométricas
constam na “Norma Técnica do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional:
Orientações para a coleta e análise de dados antropométricos em serviços de saúde:
SISVAN” (BRASIL, 2011).
Após a tomada das medidas antropométricas de peso e estatura, foi calculado o
IMC dos adolescentes para obtenção do índice IMC-para-idade e posterior classificação
do estado nutricional. O SISVAN recomenda a adoção da referência proposta pela OMS
(WHO, 2007).
Para a classificação do estado nutricional, são adotados os seguintes critérios,
segundo os índices antropométricos:
Quadro 1: Classificação do estado nutricional de adolescentes para cada índice
antropométrico, segundo recomendações do SISVAN.
Nota:
Fonte: SISVAN, 2011.
40
5.4. AVALIAÇÃO DOS ALIMENTOS MARCADORES DE ALIMENTAÇÃO
SAUDÁVEL E NÃO SAUDÁVEL
O instrumento adotado para avaliação dos alimentos marcadores de alimentação
saudável e não saudável dos adolescentes foi um questionário de frequência de consumo
alimentar qualitativo que apresenta uma lista com dez alimentos e/ou grupos de
alimentos: salada crua; legumes e verduras cozidos (couve, abóbora, chuchu, brócolis,
espinafre, etc, não considerando batata e mandioca); frutas frescas ou salada de frutas;
feijão; leite ou iogurte; batata frita, batata de pacote e salgados fritos (coxinha, quibe,
pastel, etc); hambúrguer e embutidos (salsicha, mortadela, salame, presunto, linguiça,
etc); bolachas/biscoitos salgados ou salgadinhos de pacote; bolachas, biscoitos doces ou
recheados, doces, balas e chocolates (em barra ou bombom) e refrigerante (não
considerando os diet ou light). As opções de frequência de consumo alimentar são: não
comi nos últimos sete dias; um dia nos últimos 7 dias; dois dias nos últimos 7 dias; três
dias nos últimos 7 dias; quatro dias nos últimos 7 dias; cinco dias nos últimos 7 dias;
seis dias nos últimos 7 dias e todos os sete últimos dias (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2008).
O objetivo é identificar com que frequência o entrevistado consumiu alguns
alimentos ou bebidas maior ou igual a cinco dias, nos últimos sete dias, que estão
relacionados tanto a uma alimentação saudável (exemplo: consumo diário de feijão,
frutas, verduras) como não saudável (exemplo: consumo frequente de alimentos fritos e
guloseimas) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008).
5.5. ANÁLISES ESTATÍSTICAS
Foram calculadas as frequências absoluta e relativa para a descrição da cobertura
populacional do SISVAN segundo região de saúde e número de habitantes do
município. Essas frequencias também foram calculadas para a descrição do estado
nutricional e do consumo de alimentos marcadores de alimentação saudável e não
saudável segundo região de saúde.
41
5.6. ASPECTOS ÉTICOS
O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital
Universitário Júlio Muller (CAAE 54453416.5.0000.5541) (Anexo 2).
42
6.0. RESULTADOS
De acordo com os relatórios da Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição
(http://bolsafamilia.datasus.gov.br/w3c/bfa.asp), para o ano de 2010, todos os
municípios de Mato Grosso fizeram acesso ao site do PBF e informaram dados,
perfazendo um percentual de utilização de 100% para esse sistema do SISVAN (dados
não mostrados).
O quadro 2 descreve as características das Regiões de Saúde (RS) do Estado do
Mato Grosso em 2010. O Estado possui 141 municípios divididos em 16 RS (Anexo 3).
O Norte Araguaia Karajá é a RS com o menor número de habitantes (n=21.455)
enquanto que a Baixada Cuiabana apresenta a maior população (n=911.482 habitantes),
cerca de 42 vezes mais o número de habitantes que a RS do Norte Araguaia Karajá.
Cerca de 18,6% da população do Estado é composta por adolescentes, variando de
17,7% (Baixada Cuiabana) a 20,8% (Vale do Peixoto).
A maior parte dos adolescentes acompanhados no SISVAN estão cadastrados no
Sistema de Gestão do BF. Devido a esse fato, a cobertura do BF foi maior do que a do
SISVAN Web para todas as RS, com algumas regiões apresentando nenhum
adolescente cadastrado no SISVAN Web (Alto Tapajós, Norte Araguaia Karajá e
Sudoeste Matogrossense). Para esse sistema, com exceção da RS Centro Norte, que
apresentou cobertura de 5,3%, todas as outras RS apresentaram, no máximo, 2,0% de
cobertura. A cobertura do BF para o Estado foi de 5,9%, com a RS Teles Pires
apresentando a menor cobertura (2,5%) e a RS Araguaia Xingu a maior cobertura
(9,0%). Considerando ambos os sistemas, a RS Centro Norte foi a que apresentou a
maior cobertura total do SISVAN (14,2%), enquanto que a RS Alto Tapajós foi a que
apresentou a menor cobertura (3,1%). Entretanto, a maior parte das RS apresentou
cobertura inferior a 10% (Tabela 1).
Na Tabela 2 estão apresentados os valores referentes à cobertura populacional do
SISVAN considerando o número de habitantes por municípios. Observa-se que os
municípios com até 5.000 habitantes foram os que apresentaram a maior cobertura, em
todos os sistemas do SISVAN. Para o Sistema BF, a cobertura desses pequenos
municípios foi cerca de duas vezes maior que a cobertura apresentada para os
municípios que apresentaram 20.000 habitantes ou mais.
43
A Tabela 3, mostra o estado nutricional dos adolescentes acompanhados pelo
SISVAN Web em 2010. Para quatro RS, o número de adolescentes acompanhados foi
inferior a 10. A maioria dos adolescentes acompanhados apresentou estado nutricional
classificado como adequado (71,1%) e 4,7% apresentaram baixo peso. A RS Oeste
Matogrossense foi a que apresentou o maior percentual de adolescentes classificados
com baixo peso (8,3%). Cerca de 17,1% dos adolescentes foram classificados com
sobrepeso, e este percentual foi maior para a RS Garças Araguaia (19,3%). Com
obesidade se encontravam 7,0% dos adolescentes. Somando as categorias de sobrepeso
e obesidade, cerca de 24,1% dos adolescentes avaliados pelo SISVAN Web, em 2010,
apresentaram algum grau de excesso de peso.
Com relação ao estado nutricional dos beneficiários do PBF, a maioria dos
adolescentes acompanhados em 2010 apresentou estado nutricional classificado como
adequado (77,3%) e 3,2% apresentaram baixo peso. A RS Centro Norte foi a que
apresentou o menor percentual de adolescentes classificados com baixo peso (2,1%) e a
RS Norte Matogrossense o maior percentual (4,8%), ou seja, essa última região
apresentou cerca de 2,3 vezes mais adolescentes classificados com baixo peso do que a
RS Norte Matogrossense. Cerca de 14,8% dos adolescentes foram classificados com
sobrepeso, e este percentual foi maior para a RS Garças Araguaia (19,3%) e menor para
a RS Vale do Arinos (11,3%). Cerca de 4,6% dos adolescentes apresentaram obesidade,
sendo que a RS Norte Matogrossense apresentou o menor percentual (2,6%) enquanto
que as RS Norte Araguaia Karajá e Araguaia Xingu apresentaram os maiores
percentuais (6,1 para ambas as RS). Somando as categorias de sobrepeso e obesidade,
cerca de 19,4% dos adolescentes avaliados pelo SISVAN BF em 2010 apresentaram
algum grau de excesso de peso. Com exceção das RS Alto Tapajós e Norte
Matogrossense, em grande parte das RS a obesidade foi maior que o baixo peso (tabela
4).
A Tabela 5 apresenta o percentual de consumo de alimentos marcadores de
alimentação saudável maior ou igual a cinco dias, nos últimos sete dias, dos
adolescentes atendidos pelo SISVAN, de acordo com a RS, no ano de 2010. Destaca-se
o fato de seis RS não apresentarem esses dados no sistema (Alto Tapajós, Médio
Araguaia, Norte Araguaia Karajá, Norte Matogrossense, Sudoeste Matogrossense e
Vale do Peixoto). De acordo com a tabela, o alimento marcador de alimentação
saudável mais consumido foi o feijão (84%). Chama atenção o fato do consumo maior
ou igual a cinco dias nos últimos sete dias desse alimento, ser citado por somente 56%
44
dos adolescentes da RS Araguaia Xingu. Por outro lado, os legumes e verduras cozidos
foram os que apresentaram o menor percentual de consumo no total (19 %). Entretanto,
somando-se o consumo de salada crua (35%) e de legumes e verduras cozidos, tem-se
54% dos adolescentes relatando consumo de legumes, verduras e hortaliças.
A RS Araguaia Xingu foi a que apresentou os menores consumos de frutas
frescas ou salada de frutas (11%), feijão (56%) e leite ou iogurte (22%). A RS Garças
Araguaia foi a que apresentou o menor consumo de salada crua (19%), legumes e
verduras cozidos (3%) e maior consumo de feijão (90%). A RS Teles Pires foi a que
apresentou os maiores consumos de frutas frescas ou salada de frutas (45%) e leite ou
iogurte (58%).
Com relação aos alimentos marcadores de alimentação não saudável, o grupo
das bolachas/biscoitos salgados ou salgadinhos de pacote foi o que apresentou o maior
percentual de consumo maior ou igual a cinco dias, nos últimos sete dias (28%),
seguido do refrigerante comum (26%) e do grupo das bolachas/biscoitos doces ou
recheados, doces, balas e chocolates (24%). Por outro lado, o grupo da batata frita,
batata de pacote e salgados fritos foi o menos consumido (11%). A RS Centro Norte foi
a que apresentou maior consumo de bolachas/biscoitos doces ou recheados, doces, balas
e chocolates (29%) e menor consumo de batata frita, batata de pacote e salgados fritos
(2%), assim como o menor consumo de hambúrguer e embutidos (4%). A RS Sul
Matogrossense foi a que apresentou maiores consumos de hambúrguer e embutidos
(15%), de bolachas/biscoitos salgados ou salgadinhos de pacote (34%) e de
bolachas/biscoitos doces ou recheados, doces, balas e chocolates (29%). A RS Baixada
Cuiabana foi a que apresentou maior consumo de batata frita, batata de pacote e
salgados fritos (14%) e de refrigerante comum (35%). E, por fim, a RS Vale do Arinos
foi a que apresentou os menores consumos de bolachas/biscoitos doces ou recheados,
doces, balas e chocolates (14%) e de refrigerante comum (7%).
45
Quadro 2: Características dos municípios integrantes das Regiões de Saúde do Estado
de Mato Grosso em 2010.
Região de saúde Municípios População total % de adolescentes
1. Alto Tapajós 6 99.141 19,4%
2. Araguaia Xingu 7 76.578 20,5%
3. Baixada Cuiabana 11 911.482 17,7%
4. Centro Norte 7 93.238 19,3%
5. Garças Araguaia 10 118.207 18,3%
6. Médio Araguaia 8 81.650 18,9%
7. Médio Norte Matogrossense 10 206.840 19,0%
8. Noroeste Matogrossense 7 134.064 20,3%
9. Norte Araguaia Karajá 5 21.455 19,7%
10. Norte Matogrossense 6 67.874 19,4%
11. Oeste Matogrossense 12 185.991 18,7%
12. Sudoeste Matogrossense 10 108.961 19,4%
13. Sul Matogrossense 19 452.519 17,8%
14. Teles Pires 14 329.366 19,0%
15. Vale do Peixoto 5 95.925 20,8%
16. Vale do Arinos 4 51.921 19,4%
TOTAL 141 3.035.112 18,6%
46
Tabela 1: Cobertura populacional (%) dos adolescentes atendidos pelo SISVAN no Estado de Mato Grosso de acordo com a origem do registro,
2010.
Região de saúde Adolescentes acompanhados
no SISVAN Web
Adolescentes
acompanhados no PBF*
Cobertura
SISVAN Web
Cobertura
Bolsa Família
Cobertura
total
Alto Tapajós 1 587 0,0 3,1 3,1
Araguaia Xingu 247 1.407 1,6 9,0 10,6
Baixada Cuiabana 901 9.122 0,6 6,6 7,2
Centro Norte 934 1.564 5,3 8,9 14,2
Garças Araguaia 98 1.481 0,5 7,2 7,7
Médio Araguaia 8 920 0,1 6,1 6,1
Médio Norte Matogrossense 349 1.705 1,0 4,8 5,7
Noroeste Matogrossense 228 1.228 0,8 4,5 5,4
Norte Araguaia Karajá 1 328 0,0 7,8 7,9
Norte Matogrossense 104 724 0,8 5,5 6,3
Oeste Matogrossense 86 1.890 0,3 5,7 6,0
Sudoeste Matogrossense 1 1.145 0,0 5,6 7,0
Sul Matogrossense 1.489 3.327 2,0 4,4 6,4
Teles Pires 739 1.442 1,3 2,5 3,7
Vale do Peixoto 69 1.476 0,3 7,5 7,8
Vale do Arinos 126 523 1,3 5,2 6,5
Total 5.381 28.869 1,0 5,9 7,0
47
Tabela 2: Cobertura populacional (%) dos adolescentes atendidos pelo SISVAN de
acordo com o número de habitantes do município e origem do registro, Estado de Mato
Grosso, 2010.
Número de habitantes Número de
municípios
Cobertura
SISVAN Web
Cobertura
Bolsa Família
Cobertura
total
Até 5.000 habitantes 36 2,4 9,5 11,4
5.000 |- 10.000 habitantes 31 1,5 8,5 8,9
10.000 |- 20.000 habitantes 45 1,7 7,1 8,9
≥ 20.000 habitantes 29 1,3 4,7 7,5
48
Tabela 3: Estado nutricional dos adolescentes atendidos pelo SISVAN Web no Estado
de Mato Grosso, de acordo com a região de saúde, no ano de 2010.
Região de saúde Adolescentes
avaliados
Baixo peso
(%)
Normal
(%)
Sobrepeso
(%)
Obesidade
(%)
Alto Tapajós 1 0 0 100 0
Araguaia Xingu 247 2,7 71,0 18,9 7,3
Baixada Cuiabana 901 4,3 71,4 16,8 7,3
Centro Norte 934 4,3 70,3 17,8 7,4
Garças Araguaia 98 5,1 66,3 21,5 6,8
Médio Araguaia 8 0 87,5 12,5 0
Médio Norte Matogrossense 349 5,2 70,1 16,7 7,8
Noroeste Matogrossense 228 4,1 71,3 17,8 6,6
Norte Araguaia Karajá 1 0 57,1 14,2 28,5
Norte Matogrossense 104 6,7 70,1 14,1 8,9
Oeste Matogrossense 86 8,3 73,0 11,9 6,5
Sudoeste Matogrossense 1 0 0 0 100
Sul Matogrossense 1.489 5,1 70,6 17,6 6,5
Teles Pires 739 3,9 72,8 16,2 7,0
Vale do Peixoto 69 6,2 77,1 13,1 3,4
Vale do Arinos 126 4,6 72,0 17,8 5,4
Total 5.381 4,7 71,1 17,1 7,0
Fonte: MS/SAS/DAB/Núcleo de Tecnologia da Informação - NTI
49
Tabela 4: Estado nutricional dos adolescentes beneficiários do Programa Bolsa Família
no Estado de Mato Grosso, de acordo com a região de saúde, no ano de 2010.
Região de saúde Adolescentes
avaliados
Baixo peso
(%)
Normal
(%)
Sobrepeso
(%)
Obesidade
(%)
Alto Tapajós 587 4,1 80,9 12,1 2,9
Araguaia Xingu 1.407 2,7 73,9 17,3 6,1
Baixada Cuiabana 9.122 4,3 79,8 11,7 4,2
Centro Norte 1.564 2,1 77,9 16,1 4,0
Garças Araguaia 1.481 3,2 73,1 19,3 4,5
Médio Araguaia 920 2,2 75,3 18,2 4,4
Médio Norte Matogrossense 1.705 3,2 74,0 17,2 5,6
Noroeste Matogrossense 1.228 3,9 80,9 11,5 3,8
Norte Araguaia Karajá 328 3,4 75,6 14,9 6,1
Norte Matogrossense 724 4,8 80,4 12,2 2,6
Oeste Matogrossense 1.890 2,6 74,7 17,1 5,7
Sudoeste Matogrossense 1.145 3,4 77,3 15,1 4,2
Sul Matogrossense 3.327 3,0 73,4 17,8 5,9
Teles Pires 1.442 2,6 78,6 14,3 4,6
Vale do Peixoto 1.476 3,1 81,2 11,5 4,1
Vale do Arinos 523 3,3 79,7 11,3 5,7
Total 28.869 3,2 77,3 14,8 4,6
Fonte: MS/SAS/DAB/Núcleo de Tecnologia da Informação - NTI
50
Tabela 5: Consumo de alimentos marcadores de alimentação saudável (%) maior ou igual a cinco dias, nos últimos sete dias, dos adolescentes
atendidos pelo SISVAN Web no Estado de Mato Grosso (n=3.227), de acordo com a região de saúde, no ano de 2010.
Região de saúde
Adolescentes
avaliados
Salada crua
(%)
Legumes e verduras
cozidos (%)
Frutas frescas ou
salada de frutas (%)
Feijão
(%)
Leite ou iogurte
(%)
Alto Tapajós 0 - - - - -
Araguaia Xingu 9 22 - 11 56 22
Baixada Cuiabana 499 30 19 39 77 50
Centro Norte 87 27 11 24 93 42
Garças Araguaia 59 19 3 30 90 30
Médio Araguaia 0 - - - - -
Médio Norte Matogrossense 423 46 15 29 83 44
Noroeste Matogrossense 175 28 15 35 74 46
Norte Araguaia Karajá 0 - - - - -
Norte Matogrossense 0 - - - - -
Oeste Matogrossense 189 25 27 24 89 52
Sudoeste Matogrossense 0 - - - - -
Sul Matogrossense 1.224 42 20 42 85 56
Teles Pires 504 42 20 45 86 58
Vale do Peixoto 0 - - - - -
Vale do Arinos 58 29 3 43 82 43
Total 3.227 35 19 38 84 52
Fonte: MS/SAS/DAB/Núcleo de Tecnologia da Informação - NTI
51
Tabela 6: Consumo de alimentos marcadores de alimentação não saudável (%) maior ou igual a cinco dias, nos últimos sete dias, dos
adolescentes atendidos pelo SISVAN Web no Estado de Mato Grosso (n=3.227), de acordo com a região de saúde, no ano de 2010.
Região de saúde
Adolescentes
avaliados
Batata frita, batata de
pacote e salgados fritos
(%)
Hambúrguer e
embutidos (%)
Bolachas/biscoitos salgados
ou salgadinhos de pacote
(%)
Bolachas/biscoitos doces ou
recheados, doces, balas e chocolates
(%)
Refrigerante
comum
(%)
Alto Tapajós 0 - - - - -
Araguaia Xingu 9 11 - - 22 11
Baixada Cuiabana 499 14 11 30 24 35
Centro Norte 87 2 4 21 29 8
Garças Araguaia 59 10 13 13 17 29
Médio Araguaia 0 - - - - -
Médio Norte Matogrossense 423 7 7 16 14 17
Noroeste Matogrossense 175 11 8 4 25 19
Norte Araguaia Karajá 0 - - - - -
Norte Matogrossense 0 - - - - -
Oeste Matogrossense 189 5 7 21 18 16
Sudoeste Matogrossense 0 - - - - -
Sul Matogrossense 1.224 13 15 34 29 30
Teles Pires 504 10 12 31 25 25
Vale do Peixoto 0 - - - - -
Vale do Arinos 58 5 5 14 14 7
Total 3.227 11 12 28 24 26
Fonte: MS/SAS/DAB/Núcleo de Tecnologia da Informação - NTI
52
7.0. DISCUSSÃO
Este estudo permitiu analisar, pela primeira vez, a cobertura de adolescentes
acompanhadas pelo SISVAN no estado de Mato Grosso (MT). Foi observada baixa
cobertura entre adolescentes de 10 a 19 anos nesse estado em 2010. Foram avaliados,
também, o estado nutricional e o consumo alimentar desses adolescentes. Considerando
o perfil antropométrico, o desvio nutricional predominante foi o excesso de peso de
acordo com o índice IMC-para-idade. Foi observado, também, elevado percentual de
consumo de feijão assim como de bolachas/biscoitos doces ou recheados, doces, balas e
chocolates.
Com relação a cobertura total do SISVAN, esta foi baixa para os adolescentes
(7%), sendo que os acompanhamentos do PBF responderam por quase toda a sua
totalidade (5,9%). Cabe lembrar, que algumas RS (3) de Mato Grosso, ainda não
alimentavam o SISVAN Web em 2010.
Encontramos somente dois estudos que avaliaram a cobertura do SISVAN para
os adolescentes. JUNG et al., (2014) descreveram a cobertura do SISVAN-Web nas 19
Coordenadorias Regionais de Saúde (CRS) do Rio Grande do Sul em 2010, nos
diferentes estágios da vida, e verificaram sua correlação com variáveis
socioeconômicas, demográficas e de organização do sistema de saúde. A cobertura do
SISVAN-Web foi de 1,6% para os adolescentes, resultado semelhante ao encontrado em
nosso estudo (1,0%). Entretanto, a maioria das CRS (84,2%) apresentou cobertura
inferior a 2% para esse grupo etário, sendo que a cobertura foi maior para as crianças de
0 a 5 anos (10,5%).
Estudo de ENES et al., (2014) estimou a cobertura populacional do SISVAN nos
seus três sistemas, também nos diferentes estágios de vida, e avaliou seu funcionamento
em 14 regiões (65 municípios) do estado de São Paulo. Considerando a cobertura total
do SISVAN para os adolescentes, esta variou de 2,0% a 10,4%, com uma média de
5,3%, sendo que o PBF também foi o responsável pela sua maior cobertura (4,4%),
enquanto que o SISVAN Web respondeu por somente 1,2% da cobertura. DAMÉ et al.,
(2011) também avaliaram a cobertura do SISVAN no Rio Grande do Sul, entretanto o
estudo só avaliou crianças. A cobertura do SISVAN na infância, encontrada no Estado,
foi de 10,5%, variando de 2,2% a 21%.
No presente estudo foi observado que, apesar dos esforços empreendidos para a
53
ampliação e, sobretudo, qualificação da VAN, a cobertura populacional tanto do
SISVAN Web quanto do SISVAN BF no estado de Mato Grosso permanece muito
baixa.
Em 2008, apenas metade dos municípios brasileiros registrava informações no
SISVAN Web, enquanto 95% enviaram dados antropométricos pelo sistema
informatizado do PBF (COUTINHO et al., 2009). Essa tendência, de maior registro no
SISVAN BF, sobretudo de crianças, pode ser explicada pelo fato do sistema ser o
responsável pelo registro das condicionalidades de saúde dos beneficiários do PBF.
Deve-se considerar ainda que, em razão das dificuldades para a implantação do sistema
em caráter universal, os municípios podem priorizar, inclusive para atender as
demandas do próprio Ministério, o acompanhamento da população beneficiária de
programas de suplementação alimentar, transferência de renda ou grupos populacionais
residentes em áreas de grande vulnerabilidade social (ENES et al., 2014).
Os resultados evidenciaram, também, que os menores municípios foram os que
apresentaram as maiores coberturas do SISVAN. No estudo de ENES et al. (2014),
embora as diferenças não tenham sido significativas, os municípios de pequeno porte
foram os que apresentaram a maior cobertura para o registro TODOS e SISVAN BF,
enquanto que os municípios de grande porte apresentaram a maior cobertura para o
registro SISVAN Web. Nos municípios de pequeno porte a cobertura populacional para
o registro TODOS e SISVAN BF foi duas vezes maior quando comparados aos
municípios de grande porte. O fato dos menores municípios registrarem com maior
frequência as informações nutricionais da população atendida pela atenção básica pode
ser explicado, em parte, pelo menor número de unidades de saúde existentes nos
municípios menores, o que facilitaria o treinamento de funcionários para coleta,
digitação e envio das informações, facilitando, consequentemente, a própria gestão do
sistema (ENES et al., 2014).
Esta baixa cobertura do SISVAN pode ser atribuída tanto à ausência do registro
de informações quanto à falta de regularidade no envio das informações coletadas pelo
município para o DATASUS, sendo que esta também não é exigida ou definida em
relação à população atendida por demanda espontânea, ou seja, aquela registrada no
SISVAN Web (ENES et al., 2014).
Tais resultados podem estar relacionados a diversos fatores como à pequena
apropriação por parte dos profissionais de saúde, de metodologias de planejamento de
base local (TEIXEIRA, 1995), uma vez que o modelo assistencial de saúde
54
predominante, frequentemente não valoriza linhas de atuação que utilizam a informação
como suporte gerencial do nível local. Nesse contexto, o monitoramento alimentar e
nutricional da população tem ficado em segundo plano frente aos demais compromissos
do município (ENES et al., 2014). SANTANA e SANTOS (2004) destacam também
como possível componente causal do incipiente uso da informação como ferramenta
para formulação de políticas públicas locais, a tradicional centralização dos processos
de formulação e gerenciamento das políticas sociais no país, que deixa para o município
apenas a função de executar algo pronto, concebido fora da sua realidade e imposto de
cima para baixo. Ainda, de acordo com ROMEIRO (2006), as capacitações dos gestores
e profissionais de saúde que lidam com o SISVAN também representam dificuldade, e
que são necessários maiores incentivos por parte da esfera federal na melhoria destas
capacitações.
Apesar da baixa cobertura em geral, os resultados do MS mostram elevado
percentual de utilização do SISVAN BF (100%) para o estado de Mato Grosso. O
estudo de JUNG et al., (2014) avaliou o percentual de utilização somente do SISVAN-
Web nas Coordenadorias Regionais de Saúde (CRS) do Rio Grande do Sul (RS) em
2010 e verificou que 324 municípios do RS alimentaram o aplicativo, correspondendo a
um percentual de utilização de 65,3%, sendo que a maior parte das coordenadorias
(n=10) apresentou percentuais de utilização entre 60 e 80% e somente uma teve 100%
de utilização do sistema. Estudo de DAMÉ et al., (2011) também avaliou o percentual
de utilização do SISVAN no RS e encontraram que, em 2006, 304 municípios do RS
alimentaram o aplicativo SISVAN, o que correspondeu a 61,3% dos municípios do
estado.
As discrepâncias encontradas entre os resultados da cobertura e os resultados da
utilização podem ser explicadas pelo fato de que foram considerados utilizadores do
sistema aqueles municípios que realizaram acompanhamento nutricional de pelo menos
um indivíduo. Dessa forma, sugere-se cautela ao observar o resultado da utilização
isoladamente, uma vez que, embora tenha obtido o melhor desempenho no indicador
utilização, as RS apresentaram uma taxa de cobertura pouco expressiva para os
adolescentes.
De modo geral, os adolescentes acompanhados pelo SISVAN BF apresentaram
melhor perfil nutricional do que os adolescentes acompanhados pelo SISVAN Web. Os
adolescentes do SISVAN Web apresentaram maior percentual de adolescentes
classificados com baixo peso (4,7% vs. 3,2%) assim como maior percentual de
55
adolescentes classificados com excesso de peso (24,1% vs. 19,4%). Entretanto, os dados
do SISVAN Web devem ser interpretados com cautela tendo em vista o baixo número
de adolescentes avaliados por esse sistema. Quando considerado os adolescentes
acompanhados pelo SISVAN BF, chama a atenção as RS Garças Araguaia e Sul
Matogrossense como as regiões com os maiores percentuais de adolescentes com
excesso de peso (23,8% e 23,7%, respectivamente), assim como a RS Norte
Matogrossense como a RS com o maior percentual de adolescentes classificados com
baixo peso (4,8%).
Estudo de PEREZ et al., (2013) avaliou o estado nutricional de usuários
cadastrados nas Unidades Básicas, por Departamento Regional de Saúde do estado de
São Paulo, utilizando o SISVAN, no ano de 2010. Foram avaliados 160.311
adolescentes e 2,8% apresentavam magreza/magreza acentuada, 72,9% eram eutróficos,
porém, o percentual de adolescentes que estavam acima do peso atingiu 24,3%.
Por outro lado, estudo de CABRAL et al., (2013), que avaliou 204 famílias e
847 indivíduos beneficiários do PBF residentes em assentamentos de Maceio, mostrou
que quanto à avaliação antropométrica dos adolescentes (n=200) 8,5% apresentaram
baixa estatura e 11,5% baixo peso, e apenas 2% possuíam excesso de peso.
PERES e FREITAS (2008) realizaram estudo cujo objetivo foi analisar o estado
nutricional da população beneficiada com o PBF, a partir do SISVAN. A população
pesquisada constitui-se dos beneficiários do PBF em Sobral-CE, avaliados no período
de junho de 2006 a junho de 2008. Foram analisadas 22.241 adolescentes do sexo
feminino. Os resultados mostraram que, dentre as adolescentes acompanhadas, 6,7%
apresentam baixo peso, enquanto que o sobrepeso afetou 11,9% das adolescentes
beneficiárias do PBF.
Com relação ao consumo alimentar, os dados se referem apenas ao SISVAN
Web e, por isso, apresentam certa insipiência de seus registros no sistema. De maneira
geral, os alimentos marcadores de alimentação saudável foram mais consumidos do que
os alimentos marcadores de alimentação não saudável, sobretudo o consumo de feijão
(84%). Por outro lado, estudo de MAIA et al., (2014), que avaliou a frequência de
consumo de alimentos saudáveis e não saudáveis de 10.514 adolescentes de 13 a 14
anos de idade da Região Centro-Oeste, comparando-a às demais regiões, verificou que
os adolescentes apresentaram alta frequência de consumo de alimentos marcadores de
uma alimentação não saudável e baixa frequência de consumo de alimentos marcadores
de uma alimentação saudável.
56
Dados da PeNSE (2013) evidenciaram que, dentre os marcadores de alimentação
saudável, o feijão apresentou o maior percentual de consumo em cinco dias ou mais na
última semana (69,9%). De maneira similar, no estudo de MAIA et al., (2014)
verificou-se que os adolescentes da Região Centro-Oeste foram os que apresentaram
maior frequência de consumo de feijões em cinco dias ou mais na semana (66,2%).
Entretanto, nessas duas pesquisas o percentual de consumo de feijão foi inferior ao
encontrado em nosso estudo.
No presente estudo, o consumo de frutas frescas ou salada de frutas maior ou
igual a cinco dias, nos últimos sete dias, foi referido por 34% dos adolescentes. Porém,
esse percentual foi próximo ao encontrado na PENSE (2013), onde as frutas frescas
foram consumidas em cinco dias ou mais por 30,2% dos escolares, e também próximo
ao encontrado no estudo de MAIA et al., (2014), onde o percentual encontrado foi de
36,8%.
O Guia Alimentar para a População Brasileira preconiza o consumo diário de
três porções de frutas e três porções de legumes e verduras nas refeições diárias.
Entretanto, no nosso estudo o consumo desses alimentos foi referido por 73% dos
adolescentes em cinco dias ou mais nos últimos sete dias, ou seja, abaixo do
recomendado (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008).
Segundo as estimativas da OMS, no Relatório Mundial da Saúde apresentado em
2003, a baixa ingestão de FLV está entre os dez principais fatores de risco que
contribuem para mortalidade no mundo, aumentando o risco de doenças crônicas não
transmissíveis, como as cardiovasculares, e alguns tipos de câncer (WHO, 2003).
O consumo de leite reportado em cinco dias ou mais nos últimos sete dias no
presente estudo foi de 52,0%, abaixo também do que é preconizado pelo Guia
Alimentar para a População Brasileira, cuja recomendação é de consumo diário de três
porções. Na PeNSE (2013) o consumo de leite foi relatado por 51,1% dos adolescentes,
percentual próximo ao encontrado em nosso estudo. O leite e seus derivados são uma
fonte importante de riboflavina (vitamina B2) e importantes fontes de cálcio na
alimentação (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008), contribuindo para o processo de
mineralização óssea durante a puberdade (MAIA et al., 2014).
Estudo realizado com adolescentes paulistas constatou que o consumo de leite e
derivados é responsável por 56,5% do cálcio dietético presente a alimentação dos
adolescentes (LERNER et al., 2000). Portanto, a ingestão de leite contribui para uma
57
vida saudável e deve ser estimulada, sobretudo nessa faixa etária, uma vez que ainda
está aquém do recomendado.
Dentre os alimentos marcadores de alimentação não saudável, as
bolachas/biscoitos salgados ou salgadinhos de pacote, assim como o refrigerante
comum e as bolachas/biscoitos doces ou recheados, doces, balas e chocolates foram os
mais consumidos. Dados da PeNSE (2013) mostraram que o consumo de guloseimas
(doces, balas, chocolates, chicletes, bombons ou pirulitos) em cinco dias ou mais na
semana foi referido por 41,3% dos escolares. Em conjunto com o consumo de biscoitos
salgados (35,1%) e de refrigerantes (33,2%), estes foram os marcadores de alimentação
não saudável mais referidos pelos escolares, reafirmando as conclusões já observadas na
PeNSE 2009 acerca do padrão regular e elevado de consumo de alimentos não
saudáveis por parcela significativa dos estudantes brasileiros.
O consumo excessivo desses alimentos, que possuem alto teor de gordura e
açúcar, está associado ao crescimento e ao risco de incidência de várias doenças, como
as dislipidemias e as doenças cardíacas. Eles possuem elevada densidade energética e
quando as dietas de populações sedentárias contêm mais de 25% de gordura, por
exemplo, as pessoas tendem a ter excesso de peso ou obesidade (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2000).
Com relação às limitações do estudo, estas estão relacionadas aos potenciais
vieses inerentes ao uso de dados secundários, tais como diversidade na confiabilidade
da informação, sub-registro e erros decorrentes da coleta, preenchimento e digitação dos
dados (JUNG et al., 2014). Além disso, o sistema não permite a análise por município,
somente por regiões de saúde, sendo possível o agrupamento, em uma mesma região, de
municípios com diferentes perfis de saúde e desenvolvimento. Isso pode dificultar a
localização dos municípios que apresentem maiores prevalências de problemas
alimentares e nutricionais.
Espera-se que os resultados desse estudo sirvam, sobretudo, ao setor estadual de
alimentação e nutrição de Mato Grosso, sensibilizando os gestores quanto à necessidade
de maior ampliação de cobertura do sistema, assim como das capacitações em
antropometria e avaliação nutricional.
58
8.0. CONCLUSÃO
A análise da cobertura do SISVAN em 2010 no estado do Mato Grosso revelou
valores pouco expressivos. A baixa cobertura geográfica e populacional do SISVAN,
assim como a subutilização dos dados, tem sido apontada como um problema
permanente que compromete o conceito de VAN. Sabe-se que um sistema de VAN
sustenta-se quando fornece dados úteis à tomada de decisão de modo a subsidiar a
formulação das políticas públicas e o desenho dos programas de nutrição. Por dados
úteis entende-se uma informação confiável e representativa. Nesse contexto, a cobertura
do sistema destaca-se como um dos mecanismos de avaliação e aprimoramento da
representatividade dos dados gerados. De fato, com uma cobertura total de apenas 7,0%,
a representatividade dos dados provenientes do sitema torna-se questionável. Portanto, é
recomendável cautela na avaliação do estado nutricional e do consumo alimentar e na
extrapolação desses resultados para a população em geral.
Apesar dessas limitações, os dados registrados no sistema mostram percentuais
preocupantes de excesso de peso entre os adolescentes atendidos na atenção básica
assim como consumo abaixo do recomendado de alimentos considerados marcadores de
alimentação saudável.
Assim como nos adultos, entre os adolescentes, a obesidade, a hipertensão
arterial e as dislipidemias já se revelam como problemas importantes de saúde e se
mostram fortemente associadas às condições de nutrição e ao estilo de vida adotado
e/ou imposto pela sociedade moderna. Dessa forma, torna-se necessário que os
profissionais e as equipes de saúde, assim como os gestores do SUS nas diferentes
esferas, encontrem meios de efetivar o acompanhamento nutricional sistemático dessa
população, sobretudo através do SISVAN.
Espera-se que este estudo possa orientar os gestores de saúde com relação aos
aspectos a serem aperfeiçoados para tornar o Sistema uma boa ferramenta prática de
mapeamento nutricional e norteamento de políticas públicas em alimentação e nutrição,
ou seja, que possa ser reconhecido como um instrumento de saúde e de prevenção de
agravos à saúde, e menos como uma obrigatoriedade.
59
9.0. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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65
Anexo 1: Questionário adotado pelo SISVAN para investigação do consumo alimentar
em adolescentes.
66
Anexo 2: Aprovação do Projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Júlio
Muller.
67
Anexo 3: Regiões de Saúde do Estado de Mato Grosso e seus respectivos municípios.
Regiões de Saúde Municípios
Alto Tapajós Alta Floresta, Apiacás, Carlinda, Nova Bandeirantes, Nova
Monte Verde, Paranaíta.
Araguaia Xingu
Canabrava do Norte, Confresa, Porto Alegre do Norte, Santa
Cruz do Xingu, Santa Terezinha, São José do Xingu, Vila Rica.
Baixada Cuiabana
Acorizal, Barão de Melgaço, Chapada dos Guimarães, Cuiabá,
Jangada, Nossa Srª do Livramento, Nova Brasilândia, Planalto
da Serra, Poconé, Santo Antonio do Leverger, Várzea Grande.
Centro Norte Alto Paraguai, Diamantino, Nobres, Nortelândia, Nova
Maringá, Rosário Oeste, São José do Rio Claro.
Garças Araguaia
Araguaiana, Barra do Garças, Campinápolis, General Carneiro,
Nova Xavantina, Novo São Joaquim, Pontal do Araguaia, Ponte
Branca, Ribeirãozinho, Torixoréu.
Médio Araguaia
Água Boa, Bom Jesus do Araguaia, Canarana, Cocalinho,
Gaúcha do Norte, Nova Nazaré, Querência, Ribeirão
Cascalheira.
Médio Norte
Matogrossense
Arenápolis, Barra do Bugres, Campo Novo do Parecis, Denise,
Nova Marilândia, Nova Olímpia, Porto Estrela, Santo Afonso,
Sapezal, Tangará da Serra.
Noroeste Matogrossense
Aripuanã, Brasnorte, Castanheira, Colniza, Cotriguaçu, Juína,
Juruena.
Norte Araguaia Karajá Alto Boa Vista, Luciara, Novo Santo Antonio, São Félix do
Araguaia, Serra Nova Dourada.
Norte Matogrossense
Colíder, Itauba, Marcelândia, Nova Canaã do Norte, Nova
Guarita, Nova Santa Helena.
Oeste Matogrossense
Araputanga, Cáceres, Curvelândia, Glória D'Oeste, Indiavaí,
Lambari D'Oeste, Mirassol D'Oeste, Porto Esperidião, Reserva
do Cabaçal, Rio Branco, Salto do Céu, São José dos Quatro
Marcos.
Sudoeste Matogrossense
Campos de Júlio, Comodoro, Conquista D'Oeste, Figueirópolis
D'Oeste, Jauru, Nova Lacerda, Pontes e Lacerda, Rondolândia,
Vale de São Domingos, Vila Bela da Santíssima Trindade.
Sul Matogrossense
Alto Araguaia, Alto Garças, Alto Taquari, Araguainha, Campo
Verde, Dom Aquino, Guiratinga, Itiquira Primavera do Leste,
Rondonópolis, Santo Antonio do Leste, São José do Povo,
Jaciara, Juscimeira, Paranatinga, Pedra Preta, Poxoréo, São
Pedro da Cipa, Tesouro.
Teles Pires
Cláudia, Feliz Natal, Ipiranga do Norte, Itanhangá, Lucas do
Rio Verde, Nova Mutum, Nova Ubiratã, Santa Carmem, Santa
Rita do Trivelato, Sinop, Sorriso, Tapurah, União do Sul, Vera.
Vale do Peixoto
Guarantã do Norte, Matupá, Novo Mundo, Peixoto de Azevedo,
Terra Nova do Norte.
Vale do Arinos Juara, Novo Horizonte do Norte, Porto dos Gaúchos, Tabaporã