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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA – CT
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO – CAU
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
KARINA HATSUE SHIIKI DA SILVA
NATAL/RN
JUNHO, 2015
3
KARINA HATSUE SHIIKI DA SILVA
NEXUS – CENTRO DE CULTURA E EVENTOS:
ANTEPROJETO DE UM ESPAÇO FLEXÍVEL DE CULTURA E EVENTOS
COM FOCO NA CULTURA NERD
Trabalho Final de Graduação apresentado ao
Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal do Rio grande do Norte como requisito
para a obtenção do grau de Arquiteto e Urbanista.
Orientador: Prof. Msc. Aline Dantas de Araújo
D’Amore.
Natal/RN
Junho, 2015.
4
À minha mãe. Minha inspiração, melhor amiga,
companheira e maior motivadora e incentivadora dos
meus sonhos.
5
RESUMO
Este Trabalho Final de Graduação tem como objeto de estudo o anteprojeto
de um equipamento cultural e de eventos com foco na cultura nerd/geek para a
cidade de Natal/RN, com ênfase na multifuncionalidade e flexibilidade do
ambiente construído. A justificativa para a escolha deste projeto foi a observação
do rápido crescimento desta tribo urbana nos últimos anos, consequentemente
a baixa oferta de um espaço cultural voltado para este tema e que possa receber
apropriadamente os eventos com este foco. Além disso objetiva-se aplicar as
estratégias de multifuncionalidade e flexibilidade visando atrair não apenas o
público nerd/geek, mas também toda a população da cidade, sendo o espaço
projetado hábil para criar áreas de convivência, educação, cultura e
entretenimento, bem como para receber diversos tipos de eventos. Sendo assim,
conceber um espaço de cultura e eventos multifuncional visa valorizar a cultura
e incentivar o uso do espaço público, trazendo uma melhoria para a qualidade
de vida população.
Palavras-chave: multifuncionalidade; flexibilidade, público nerd/geek;
projeto de arquitetura; centro cultural e de eventos.
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ABSTRACT
This Final Graduation Project has as object of study the architectural project
of an equipment for culture and events focusing on nerd / geek culture for the city
of Natal/RN, emphasizing on multifunctionality and flexibility of the built
environment. The reason for choosing this project was the observation of the
rapid growth of this urban tribe in the recent years, hence the low offer of a cultural
space facing this issue and that could properly receive the events with this focus.
Furthermore the objective is to apply the multifunctionality and flexibility
strategies to attract not only the nerd/geek public, but also the entire population
of the city, and the skilled space designed to create coexistence, education,
culture and entertainment as well as for receiving various types of events. Thus,
designing a culture space and multifunctional event aims to enhance the culture
and encourage the use of public space, bringing an improvement to the life quality
of the population.
Keywords: multifunctionality; flexibility; nerd/geek public; architectural
Project; culture and events center.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Etapas do processo projetual ................................................................................ 18
Figura 2: Diferenças entre nerds e geeks ............................................................................ 20
Figura 3: Filmes preferidos dos nerds e geeks .................................................................... 21
Figura 4: Tipos de geeks ......................................................................................................... 22
Figura 5: Localização do Centro de Convenções de Natal/RN ......................................... 31
Figura 6: Pavilhão Parque das Dunas .................................................................................. 31
Figura 7: Situação do Pavilhão Parque das Dunas no lote ............................................... 31
Figura 8: Usos e fluxos do evento. ........................................................................................ 34
Figura 9: Palco principal do Saga Entretenimento .............................................................. 35
Figura 10: Acesso principal e segurança .............................................................................. 36
Figura 11: Localização do Centro de Eventos do Ceará ................................................... 38
Figura 12: Implantação e acessos do Centro de Eventos do Ceará ................................ 38
Figura 13: Fachada do Centro de Eventos do Ceará. ........................................................ 39
Figura 14: Pavilhão de Exposições sem divisórias ............................................................. 39
Figura 15: Pavilhão de Exposições com Divisórias ............................................................ 39
Figura 16: Salas de mezanino sem divisórias ..................................................................... 40
Figura 17: Salas de mezanino com divisórias ..................................................................... 40
Figura 18: Corredor Central do CEC durante o SANA 2015. ............................................ 41
Figura 19: Corredor Central do CEC durante o SANA 2015. ............................................ 41
Figura 20: Organização das atividades do Sana Fest 2015 - pavimento térreo. ........... 42
Figura 21: Organização das atividades do Sana Fest 2015 - mezanino. ........................ 42
Figura 22: Maid Café do Sana Fest. ...................................................................................... 43
Figura 23: Salão Art & Fest, SANA 2015. ............................................................................ 45
Figura 24: Salão Art & Fest, SANA 2015. ............................................................................ 45
Figura 25: Salão Art & Fest, SANA 2015. ............................................................................ 45
Figura 26: Mapa geral de atividades do Anime Friends. .................................................... 47
Figura 27: Área interna do Anime .......................................................................................... 48
Figura 28: Área interna do Anime Friends ............................................................................ 48
Figura 29: Flyer de divulgação das atrações oficiais do Anime Friends 2014. .............. 49
Figura 30: Pontos de banheiro químicos no Anime Friends 2013. ................................... 50
Figura 31: San Diego Convention Center ............................................................................. 51
Figura 32: Mapa geral de atividades da Comic-Con. ......................................................... 52
Figura 33: Situação do Centro cultural de eventos e exposições de Paraty. ................. 53
Figura 34: Pavimento térreo e primeiro andar do Centro Cultural de Paraty.................. 54
Figura 35: Esquemas volumétricos do Centro Cultural de Paraty .................................... 55
Figura 36: Detalhes estruturais, materiais e de conforto utilizados no Centro Cultural de
Paraty ......................................................................................................................................... 56
Figura 37: Opções de conformação do auditório ................................................................ 57
Figura 38: Sistema de praticáveis e plataformas pantográficas ....................................... 57
Figura 39: Perspectiva externa do Centro Cultural de Paraty ........................................... 58
Figura 40: Perspectiva externa do Centro Cultural de Paraty ........................................... 58
Figura 41: Implantação do Jardim Japonês de Buenos Aires ........................................... 59
Figura 42: Paisagem natural do Jardim Japonês ................................................................ 60
Figura 43: Paisagem natural do Jardim Japonês ................................................................ 60
Figura 44: Puente de Dios do Jardim Japonês .................................................................... 60
Figura 45: Puente Truncado do Jardim Japonês ................................................................ 60
8
Figura 46: Casa de Chá do Jardim Japonês ........................................................................ 61
Figura 47: Viveiro do Jardim Japonês ................................................................................... 61
Figura 48: Zombie Walk em 2011, na avenida Salgado Filho ........................................... 65
Figura 49: Locação do terreno. .............................................................................................. 67
Figura 50: Terreno escolhido. ................................................................................................. 67
Figura 51: Curvas topográficas do terreno ........................................................................... 68
Figura 52: Perfil topográfico do terreno ................................................................................ 68
Figura 53: Carta solar de Natal/RN ....................................................................................... 69
Figura 54: Esquema de insolação e ventilação natural no terreno .................................. 69
Figura 55: Modelo de calçada acessível .............................................................................. 73
Figura 56: Fluxograma do Centro de cultura e eventos ..................................................... 79
Figura 57: Tela do jogo Tetris ................................................................................................. 82
Figura 58: Peças do jogo Tetris. ............................................................................................ 83
Figura 59: Evolução da forma ................................................................................................ 83
Figura 60: Zoneamento do terreno ........................................................................................ 84
Figura 61: Zoneamento - subsolo .......................................................................................... 85
Figura 62: Zoneamento - térreo ............................................................................................. 85
Figura 63: Zoneamento: 1° andar .......................................................................................... 85
Figura 64: Zoneamento vertical do edifício .......................................................................... 85
Figura 65: Situação do lote no entorno ................................................................................. 86
Figura 66: Implantação geral .................................................................................................. 87
Figura 67: Vista da fachada posterior a partir do lado oeste ............................................. 88
Figura 68: Vista da fachada posterior a partir do lado leste .............................................. 88
Figura 69: Implantação ............................................................................................................ 89
Figura 70: Arquibancada sobre auditório .............................................................................. 90
Figura 71: Deck para contemplação e espera ..................................................................... 90
Figura 72: Área para contemplação ...................................................................................... 90
Figura 73: Jardim de convivência .......................................................................................... 91
Figura 74: Planta baixa - Subsolo .......................................................................................... 92
Figura 75: Plataformas pantográficas e telescópicas ......................................................... 93
Figura 76: Opções de layout para o auditório ...................................................................... 93
Figura 77: Planta baixa - pavimento térreo .......................................................................... 94
Figura 78: Forma de acionamento dos painéis ................................................................... 94
Figura 79: Armazenamento dos paineis retráteis em nicho na parede ........................... 95
Figura 80: Opções de layout para o Salão de Eventos 01 ................................................ 95
Figura 81: Área de entretenimento e espera ....................................................................... 96
Figura 82: Área de entretenimento e espera ....................................................................... 96
Figura 83: Área de convivência .............................................................................................. 97
Figura 84: Área de convivência] ............................................................................................. 97
Figura 85: Planta baixa - primeiro andar .............................................................................. 98
Figura 86: Detalhe de fechamento em cobogós e esquadrias em vidro ......................... 98
Figura 87: Opções de layout para o Salão 02 ..................................................................... 99
Figura 88: Design de cobogó para a edificação ................................................................ 100
Figura 89: Perspectiva externa do edifício ......................................................................... 101
Figura 90: Perspectiva externa do edifício ......................................................................... 101
Figura 91: Soluções de conforto ambiental a partir da fachada leste ............................ 102
Figura 92: Soluções de conforto ambiental a partir da fachada oeste ........................... 102
9
Figura 93: Exemplo de utilização de jardim japonês como estratégia de resfriamento
evaporativo .............................................................................................................................. 103
Figura 94: Detalhe de execução da laje verde .................................................................. 104
Figura 95: Divisórias retráteis ............................................................................................... 104
Figura 96: Painéis acústicos ................................................................................................. 105
Figura 97: Acabamento e instalação dos paineis .............................................................. 105
Figura 98: Sugestão de puxador .......................................................................................... 107
Figura 99: Modelos VE2 e VE3 - portas de vidro .............................................................. 107
Figura 100: Guarita tipo fole – estendida ............................................................................ 108
Figura 101: Guarita tipo fole, recolhida ............................................................................... 108
Figura 102: Forro cartonado perfurado ............................................................................... 109
Figura 103: Fixação e acabamento da ilha acústica......................................................... 110
Figura 104: Referências de acabamento do piso vinílico ................................................ 111
Figura 105: cobograma ......................................................................................................... 112
Figura 106: Piso intertravado retangular assentamento tipo espinha de peixe............ 112
Figura 107: Elevador modelo Gen2 - Otis. ......................................................................... 112
Figura 108: Bacia com caixa acoplada Quadrata P440, Deca. ...................................... 113
Figura 109: Mictorio M721, Deca ......................................................................................... 113
Figura 110: Cuba de semi-encaixe retangular L733 ......................................................... 113
Figura 111: Misturador para lavatório de parea 1878....................................................... 113
Figura 112: Cano do jogo Mario ........................................................................................... 115
Figura 113: Caixa de água estido taça ............................................................................... 115
Figura 114: Sugestão de condensador – Multi V IV, fabricante LG ............................... 116
Figura 115: Sugestão para evaporador - 4Way Cassete Geração 4 - fabricante LG .. 116
Figura 116: Pinheiro-de-buda ............................................................................................... 117
Figura 117: Ligustro ............................................................................................................... 117
Figura 118: Nandina ............................................................................................................... 117
Figura 119: Buxinho ............................................................................................................... 118
Figura 120: Ipê-roxo ............................................................................................................... 118
Figura 121: Pata-de-vaca ...................................................................................................... 118
Figura 122: Cássia-do-nordeste ........................................................................................... 118
Figura 123: Grama-esmeralda ............................................................................................. 119
Figura 124: Oiti ....................................................................................................................... 119
Figura 125: Acácia Mimosa .................................................................................................. 119
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Resumo dos procedimentos metodológicos....................................................... 17
Tabela 2: Subgrupos nerds/geeks da cidade de Natal....................................................... 64
Tabela 3: Recuos aplicáveis ao terreno. .............................................................................. 71
Tabela 4: Parâmetros para rampas de estacionamento .................................................... 72
Tabela 5: Valores mínimos para cada compartimento ....................................................... 73
Tabela 6: Programa de Necessidades .................................................................................. 78
11
SUMÁRIO
Introdução ........................................................................................................ 13
PARTE I - REFERENCIAL TEÓRICO E EMPIRICO ........................................ 16
1. Procedimentos Metodológicos ............................................................ 17
2. Referencial Teórico ............................................................................. 19
2.1. Nerds X Geeks ....................................................................................... 19
2.2. Centros De Cultura Como Espaço De Lazer Comunitário. .................... 23
2.3. Multifuncionalidade E Flexibilidade Na Arquitetura ................................ 27
3. Referencial Empírico ........................................................................... 28
3.1. Estudos Diretos ................................................................................... 29
3.1.1. Saga Entretenimento .................................................................... 29
3.1.2. Sana Fest ..................................................................................... 36
3.2. Estudos Indiretos ................................................................................ 46
3.2.1. Anime Friends............................................................................... 46
3.2.2. Comic Con Internacional - San Diego ........................................... 50
3.2.3. Centro Cultural De Eventos E Exposições De Paraty ................... 52
3.2.4. Jardim Japonês De Buenos Aires ................................................. 58
PARTE II - PRE-PROJETO .............................................................................. 62
4. Definindo O Público Alvo ..................................................................... 63
5. O Terreno ............................................................................................ 67
6. Condicionantes Físicos E Ambientais ................................................. 68
7. Condicionantes Legais ........................................................................ 70
7.1. Plano Diretor ....................................................................................... 70
7.2. Código De Obras ................................................................................ 71
7.3. Código De Segurança E Prevenção Contra Incêndio E Pânico Do
Estado Do Rio Grande Do Norte ................................................................... 74
7.4. Abnt Nbr 9050 ..................................................................................... 76
8. Metaprojeto ......................................................................................... 78
8.1. Programa De Necessidades E Pré Dimensionamento ........................ 78
8.2. Relações Programáticas ..................................................................... 79
PARTE III - ANTEPROJETO ARQUITETONICO ............................................. 81
9. Proposta Arquitetônica ........................................................................ 82
9.1. Definição Do Conceito De Projeto ....................................................... 82
12
9.2. Definição Do Partido ........................................................................... 82
9.3. Zoneamento E Evolução Da Forma .................................................... 83
9.4. O Projeto – Memorial Descritivo E Justificativo ................................... 86
9.4.1. Inserção Na Malha Urbana ........................................................... 86
9.4.2. Implantação No Lote ..................................................................... 89
9.4.3. Subsolo ......................................................................................... 91
9.4.4. Pavimento Térreo ......................................................................... 94
9.4.5. Primeiro Andar .............................................................................. 98
9.4.6. Soluções Formais ......................................................................... 99
9.4.7. Soluções De Conforto Ambiental ................................................ 101
9.5. Materiais ............................................................................................ 103
9.5.1. Estrutura E Vedação ......................................................................... 103
9.5.2. Cobertura .......................................................................................... 106
9.5.3. Esquadrias ........................................................................................ 106
9.5.4. Cobogós, Painéis E Detalhes Metálicos Da Fachada ...................... 108
9.5.5. Forro .................................................................................................. 109
9.5.6. Paredes ............................................................................................. 110
9.5.7. Piso ................................................................................................... 111
9.5.8. Elevadores ........................................................................................ 112
9.5.9. Louças E Metais ................................................................................ 113
9.5.10. Reservatório ...................................................................................... 114
9.5.11. Estacionamento ................................................................................ 115
9.5.12. Climatização ...................................................................................... 116
9.6. Indicações Botânicas ........................................................................ 117
Considerações Finais ..................................................................................... 120
Referências .................................................................................................... 121
Apêndices....................................................................................................... 124
Apêndice 01: Entrevista Realizada Com O Diretor Geral Do Saga
Entretenimento; ........................................................................................... 124
13
INTRODUÇÃO
O público nerd/geek da cidade de Natal vem apresentando um ritmo
rápido de crescimento nos últimos anos e com isso também se tem um aumento
da demanda por eventos culturais com este foco. Consequentemente, é
necessário que haja um espaço apropriado para tais atividades.
Inicialmente, se faz necessária uma definição do público nerd e
geek1. De acordo com Gisele Tammar (2012), citada por Janyffer Cavalcante de
Morais (2013), eles gostam de super-heróis, histórias em quadrinhos, games,
tecnologia, seriados e ficção científica, sendo, durante muito tempo,
ridicularizados. Porém, nos dias de hoje o diferente entrou na moda e os nerds,
ou geeks - como também são chamados -, ganharam até um dia em sua
homenagem (25 de maio) e movimentam um mercado lucrativo e que reserva
espaço para a abertura de negócios promissores.
Por outro lado, há uma ausência de equipamentos de cultura e lazer
gerais na cidade de Natal, não havendo muitas alternativas para a população,
que acaba por superlotar os shoppings da cidade. Esta falha no lazer e cultura
do município gera problemas graves, como o sedentarismo da população, sendo
Natal considerada uma das capitais mais sedentárias do país.
De acordo com Kelson de Oliveira Silva2 (2012), o espaço público
desempenha papel relevante na qualidade de vida da população, pois é nele que
ocorrem práticas sociais fundamentais à qualidade de vida da comunidade,
como atividades desportivas, jogos, diferentes formas de convivência e de lazer,
manifestações sociais, dentre outras. Compreende não apenas elementos
urbanos como ruas, praças, espaços de lazer, esporte e recreação, mas também
os espaços que, “ainda que possuam uma certa restrição ao acesso e à
circulação, pertencem à esfera do público, como as instituições públicas de
ensino, hospitais e os centros de cultura”. (SILVA, 2012, p. 50)
Lima, citado por Silva (2012), ressalta a função social dos espaços
públicos, considerando-os como locais que abarcam aspectos políticos e sociais
1 Conceitos a serem mais aprofundados no capítulo 2, sub-ítem 2.1. 2 Graduação e mestrado em Geografia (UFRN); membro/colaborador do Grupo Interdisciplinar
de Estudos Turismo e Sociedade (UFRN); professor da Secretaria de Estado da Educação e da Cultura do Rio Grande do Norte (SEEC/RN); professor/orientador na Especialização em Gestão Ambiental e Especialização em Mídias na Educação (UERN).
14
também, cumprindo papel de espaços de diálogo e de conflito, sendo
considerados como espaços onde as afinidades sociais e diferenças devem se
submeter às regras da civilidade. Sendo assim, o espaço público é tratado como
um lugar também de conflitos e problematizações da vida social, ou seja, um
local que permite o diálogo e o debate. (LIMA apud SILVA, 2012, p. 51)
No caso da cidade de Natal, é possível observar que os espaços públicos
de lazer estão depredados e em condições de uso precárias devido à falta de
regular e sistemática manutenção. “Essa situação de abandono dos
equipamentos de lazer implica na desmotivação de uso por parte da população,
aprofundando formas de socialização em espaços privativos fechados” (SILVA,
2012. Pg. 56). Como consequência, temos a superlotação de poucos espaços,
como os shopping centers da cidade, resultando no “recuo da cidadania”, ou
seja, o surgimento de espaços comuns, mas não públicos, como shoppings
centers, ruas fechadas, paredes cegas, entre outros.
Tendo estes problemas em vista, é possível buscar soluções através dos
princípios de multifuncionalidade e flexibilidade. De acordo com Giselle Luzia
Dziura3 (2003), a arquitetura multifuncional constitui um edifício, ou conjunto de
edifícios que satisfazem funções heterogêneas. Ou seja, são construções que
abrigam mais de uma função, seja habitação, trabalho, lazer, circulação, esporte,
cultura e educação. A multifuncionalidade, portanto, é consequência de uma
necessidade de diversidade urbana, na qual o convívio entre as distintas funções
urbanas é a base para a vitalidade urbana, matéria-prima da urbanidade.
A escolha deste tema de projeto, portanto, se justifica com base nos dois
fatores abordados: o grande crescimento da tribo geek / nerd e a ausência de
espaços públicos de qualidade na cidade. É proposto aqui, portanto, um espaço
multifuncional flexível apropriado para eventos de cultura nerd, mas que funcione
também como alternativa de lazer para a população natalense através de
espaços de convivência e ofertas de diversas atividades com o intuito de trazer
uma melhora na qualidade de vida da comunidade e da cidade.
O trabalho está dividido em 3 partes: a primeira aborda a fundamentação
teórica e empírica, onde são conceituados e analisados os temas dos centros
3 Doutora em Arquitetura e Planejamento Urbano pela Universidade de São Paulo. Professora na Universidade Positivo, em Curitiba, Paraná. Atuante no Programa de Pós-Graduação em Gestão Ambiental.
15
culturais, geeks x nerds e multifuncionalidade e flexibilidade na arquitetura; a
segunda apresenta os condicionantes de projeto e o metaprojeto, onde são
elaborados o programa de necessidades e as relações funcionais; e por fim, a
terceira contém a elaboração do anteprojeto arquitetônico, contendo o memorial
descritivo e justificativo da proposta.
16
PARTE I - REFERENCIAL TEÓRICO E EMPIRICO
17
1. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este capítulo aborda a metodologia de pesquisa e elaboração de projeto
que foi utilizada para poder chegar à concepção final deste trabalho.
Tabela 1: Resumo dos procedimentos metodológicos
Área de atuação: Projeto de Arquitetura
Tema: Equipamento para cultura, eventos e lazer.
Objeto de estudo: Espaço de cultura nerd, eventos e lazer a partir dos princípios de multifuncionalidade e flexibilidade
Objetivo Geral Objetivos Específicos Procedimentos Métodos e
Técnicas Fontes
Produzir um projeto de arquitetura de um
centro voltado para eventos de cultura pop
e nerd a partir dos princípios de
multifuncionalidade e flexibilidade, visando a apropriação do espaço
para lazer de toda a população.
Compreender as necessidades do público
frequentador dos eventos de cultura
japonesa e nerd, visando revertê-los para o
programa de necessidades de um
projeto arquitetônico ideal para tal;
Pesquisa bibliográfica, contato com frequentadores
e organizadores e análise dos eventos tradicionais desta
tribo urbana;
Realização de entrevistas e
questionários em meio virtual;
Livros, sites, público alvo,
equipe organizadora dos eventos para cultura
nerd.
Estudar estratégias projetuais que permitam a multifuncionalidade e flexibilidade do espaço;
Pesquisa bibliográfica, estudos
de referência;
Fichamentos, resumos,
levantamento fotográfico in
loco;
Livros, periódicos, trabalhos e
projetos selecionados para estudo;
Estudar estratégias projetuais de conforto
ambiental e paisagismo para tornar o espaço devidamente atrativo
para a população e adequado aos
frequentadores e participantes dos
eventos.
Pesquisa bibliográfica, estudos
de referência.
Fichamentos, resumos, visitas
in loco.
Livros, periódicos, trabalhos e
projetos selecionados para estudo.
Criar um centro de cultura nerd e eventos
destinados para tal, bem como um espaço de
lazer para toda a população utilizando de
estratégias de multifuncionalidade;
Reconhecimento do local de projeto e
suas especificidades através de estudo da legislação referente, desenvolvimento de pranchas projetuais
em AutoCAD, estudo volumétrico e elaboração de maquete em
SketchUp;
Levantamento fotográfico, análise de
fatores físico ambientais.
Local de projeto e legislação
pertinente.
Fonte: Acervo da Autora, 2015.
18
Como é possível analisar na Tabela 1 de resumo dos procedimentos
metodológicos seguidos, o trabalho foi organizado seguindo as etapas de
elaboração de projeto arquitetônico, onde inicialmente se fazem necessários os
estudos teóricos acerca do tema, público alvo e conceitos utilizados, para que
assim seja possível passar para a etapa de estudos práticos, com a montagem
do programa de necessidades, concepção de um conceito e partido de projeto e
então o desenvolvimento da proposta projetual em si.
Este procedimento (figura 1) é importante de ser seguido para que a
proposta arquitetônica final seja bem fundamentada, com a correta utilização dos
conceitos objetivados e a devida atenção ao usuário durante o processo de
concepção projetual.
Figura 1: Etapas do processo projetual
Fonte: Acervo da Autora, 2015.
19
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Este capítulo consiste na conceituação dos temas em estudo neste
trabalho. De início, faz-se uma abordagem dos termos nerd e geek com o intuito
de entende-los melhor e assim poder definir apropriadamente o público alvo e
suas necessidades, posteriormente são focados os temas de centros culturais
como espaços de lazer comunitário e a conceituação e estudo de estratégias
para a permitir a multifuncionalidade e flexibilidade do edifício projetado.
2.1. NERDS X GEEKS
Popularmente, as definições de geek e nerd se misturam. Este tópico de
estudo procura esclarecer as diferenças e semelhanças com o intuito de definir
devidamente o público alvo e seus interesses, para assim rebatê-los na proposta
de projeto.
Os desenvolvedores do site Masters in It4 criaram um infográfico
mostrando a diferença entre nerds e geeks, ressaltando que originalmente, a
palavra Geek era utilizada como termo depreciativo e ganhou popularidade no
circo. Os artistas de circo que apresentavam grandes proezas ou aberrações
como engolir insetos ou outros animais eram chamados de Geeks. Já o termo
Nerd foi cunhado por Dr. Seuss5 em 1954 no famoso trecho “A nerkle, a nerd
and seersucker too!”6, ou seja, o termo foi utilizado para definir alguém que usa
roupas de tecido de linho com listras brancas e azuis, mantém as luzes de natal
acesas o ano inteiro, utiliza cabelos compridos e não apresenta sinais de riso,
em suma um velho rabugento. Em meados dos anos 60 o termo de desenvolveu
para o significado de “antiquado” ou “não-descolado/legal”. Atualmente, os dois
termos se desdobraram em significados diferentes com conotação mais positiva.
O site diferencia os nerds e geeks da seguinte maneira: os geeks são
pessoas com um nicho, interesse e estilo de vida específico por terem se tornado
especialistas nestas variáveis, possuem tanto conhecimento de mundo que
4 Site que tem por objetivo informar o leitor sobre a variedade de opções disponíveis para Mestrado em Tecnologia da Informação e Ciência da Computação. 5 Foi um escritor e cartunista norte-americano. Publicou mais de 60 livros infantis. 6 Trecho do livro “If I Ran the Zoo”.
20
podem ser chamados de “enciclopédia ambulante” e seus interesses incluem
jogos, filmes, coleções, tecnologia, computação, programação, entre outros. Já
o nerd é extremamente inteligente, possui grande fascinação por assuntos
acadêmicos, física, ficção científica, fantasia e programação de computadores,
são introvertidos e ineptos socialmente. Em uma pesquisa, o site identificou que
41% dos americanos se sentem confortáveis sendo chamados de geek,
enquanto apenas 24% de intitula nerd e 35% dos entrevistados não se considera
geek nem nerd. Os resultados demonstram que 65% dos designers de vídeo
game, 50% dos engenheiros de tecnologia e 37% dos bloggers se identificam
como geeks.
Figura 2: Diferenças entre nerds e geeks
Fonte: Mastersinit.org, 2015.
21
Foram identificados alguns filmes que os geeks e nerds amam, dentre
eles estão os famosos Donnie Darko, Tron, Senhor dos Anéis, Battlestar
Galactica, Star Trek e Matrix, como é possível observar na imagem a seguir.
Figura 3: Filmes preferidos dos nerds e geeks
Fonte: Masterinit.org, 2015.
De acordo com o dublador Phil Lamarr, citado por Jannyfer de Morais
(2013), Nerd é uma designação intelectual, enquanto Geek é uma designação
social. Assim, você pode ser os dois ou apenas um deles, ou ainda nenhum.
(HOEVEL apud MORAIS, 2013).
Há nerds e geeks de teatro, de literatura, de computador, da tecnologia, da lei, de jardinagem, de fabricação e de todos os tipos que se possa imaginar, não restringindo esses termos apenas à área tecnológica ou aspectos da cultura pop. (MORAIS, 2013, pg. 36).
O cartunista Scott Johnson criou um pôster com 56 tipos de geeks/nerds
para exemplificar a grande variedade desta tribo.
22
Figura 4: Tipos de geeks
Fonte: Frogpants.bigcartel.com, 2015.
23
Com o advento e popularização da computação, que trouxe muitos avanços tecnológicos em diversas áreas, tudo foi facilitado para eles (nerds/geeks). A sociedade já não os ridicularizada tanto quanto antes. As pessoas começaram a perceber que os computadores e a internet podem significar muito dinheiro, e começou a dar mais crédito aos nerds e geeks em campos de tecnologia, ao ver exemplos como Bill Gates fazerem fortuna. Nessa mesma época, vários interesses que costumavam ser exclusivamente nerds começaram a se popularizar mais, como quadrinhos e super-heróis. (MORAIS, 2013, pg. 39-40)
A partir dos anos 2000 já era possível observar a grande popularização
dos nerds, quando o termo perdeu a conotação depreciativa e passou referenciar
conhecimento abundante e específico sobre determinado tema. Atualmente o
termo 25 de março é conhecido como o Dia do Orgulho Nerd, tendo sido
celebrada pela primeira vez em 2006 em toda a Espanha e na internet em
comemoração ao lançamento do primeiro filme da série Star Wars, em 25 de
maio de 1977. É perceptível, portanto, que a cultura geek/nerd tem se tornado
uma cultura de massa, ganhando grande popularidade e adquirindo milhares de
seguidores ao redor do mundo.
2.2. CENTROS DE CULTURA COMO ESPAÇO DE LAZER COMUNITÁRIO.
Originada da palavra latina licere, traduzida como algo lícito e permitido
(CAMARGO apud PINTO, PAULO, SILVA, 2012. Pg. 88), lazer é um dos fatores
mais influentes no desenvolvimento social da humanidade. Segundo Marcellino
(1996), não existe um consenso sobre o que seja lazer entre os estudiosos, o
que indica que se trata de um termo carregado de preferências e juízos de valor.
Grande parte da população ainda associa o lazer às atividades recreativas, ou a
eventos de massa. O autor, porém, entende que há outra possibilidade de
ocorrer o lazer, trata-se do desenvolvimento pessoal e social que acompanha a
atividade. No teatro, turismo, festa, entre outros, estão presentes oportunidades
privilegiadas, porque espontaneamente inferem percepção e reflexão sobre as
pessoas e as realidades nas quais estão inseridas. Assim, Marcellino afirma que
não é possível se entender o lazer isoladamente, ele influencia e é influenciado
por outras áreas de atuação numa relação dinâmica. Já Dumazedier (1976),
24
define lazer como um conjunto de ações as quais o indivíduo pode entregar-se
de livre vontade, seja para repousar, divertir-se, recrear-se e entreter-se, ou
ainda para desenvolver sua informação ou formação desinteressada e sua
participação social voluntária. Ou seja, o lazer opõe-se a obrigações. Porém, há
o que Dumazedier (1976) chama de similazer, ou seja, uma atividade mista onde
o lazer se mistura a uma obrigação institucional.
O conceito aqui adotado será o trazido por Gomes (2004), que reúne um
pouco das ideias de ambos os autores citados anteriormente e entende lazer
como:
(...) uma dimensão da cultura constituída por meio da vivência lúdica de manifestações culturais em um tempo/espaço conquistado pelo sujeito ou grupo social, estabelecendo relações dialéticas com as necessidades, os deveres e as obrigações” (GOMES apud PINTO, PAULO, SILVA, 2012. Pg. 88).
O Brasil tem sido apontado como um país onde há uma enorme
desigualdade social e, mesmo apresentando esta diversificação de realidades
sociais, as cidades, de um modo geral, não oferecem espaços suficientes de
lazer. Sendo assim, o lazer não é democrático, não sendo homogêneo para
todas as classes sociais e impossibilitando que as pessoas tenham livre acesso
aos diversos tipos de atividades integradoras, democráticas e de bem-estar
(SILVA, LOPES, XAVIER apud PINTO, PAULO, SILVA, 2012. Pg. 89).
Segundo Pellegrin (2004), a expressão espaço de lazer diz respeito a toda
rede de equipamentos de lazer, vazios urbanos e áreas verdes de uma cidade.
Nesse sentido, trata-se de uma edificação ou instalação onde acontecem
manifestações e atividades de lazer. Podem enquadrar-se nessa categoria geral
os clubes, ginásios, Centros Culturais, piscinas, cinemas, parques, bibliotecas,
centros esportivos, quadras, teatros, museus, entre outros, independentemente
de serem privados ou públicos. (PELLEGRIN apud PINTO, PAULO, SILVA,
2012. Pg. 90). O autor afirma que os equipamentos de lazer expõem os
contrastes urbanos existentes na cidade a partir do momento em que é possível
perceber a presença de áreas nas quais os equipamentos são abundantes,
variados e bem conservados e áreas nas quais são raros e mal conservados,
áreas de fácil acesso e áreas de difícil acesso, equipamentos superlotados e
esvaziados.
25
De acordo com Gabriela Pinto, Elizabeth de Paulo e Thaisa Cristina da
Silva (2012), os Centros Culturais são exemplo de participação, onde são
realizados diversos tipos de manifestações culturais como oficinas de música,
canto, arte, contação de histórias, dentre outros. Estas proporcionam momentos
de descontração, valorização, reconhecimento, prazer, ao mesmo tempo,
conscientizam a população de que indiferente da classe socioeconômicas, o
lazer é um direito de todos (SILVA, LOPES, XAVIER apud PINTO, PAULO,
SILVA, 2012. Pg. 87).
O lazer é considerado pelas autoras como um fenômeno social de grande
importância que pode ser analisado através das escolhas que os indivíduos
fazem e diz respeito às suas identidades, sendo necessária uma reeducação da
população fazendo-a entender que o lazer não é só viajar para um determinado
lugar, mas sim fazer algo por si, individual ou coletivamente. Porém, apenas a
educação não é o bastante para resolver o problema, as cidades não têm
oferecido espaços de lazer suficientes para que todos usufruam das
manifestações culturais existentes (PELLEGRIN apud PINTO, PAULO, SILVA,
2012. Pg. 87). Por isso é destacada a importância dos Centros Culturais como
um novo estímulo para a população, dando a oportunidade de viverem em uma
sociedade mais igualitária, se sobrepondo às barreiras que dificultam sua
inserção.
De acordo com Luciene Borges Ramos (2007), no Brasil, a história dos
centros culturais é recente, embora já houvesse interesse nestes centros desde
a década de 1960, os primeiros centros de cultura brasileiros surgiram apenas
na década de 80, na cidade de São Paulo. A partir daí, proliferaram pelas cidades
do país. Ramos utiliza-se de uma citação de Pérez-Rioja para afirmar que os
centros culturais são um desdobramento das bibliotecas e dos museus:
Em el aspect físico o estructural, ua se há visto como las Casas de Cultura suponen, em principio, la integración em um mismo edifício de in Archico Historico, uma Biblioteca Pública e um Cntro Provincial Coordinador de Bibliotecas, e incluso a veces, um Museo u otras Entidades como los Centro o Institutos de investihación local, añadiendo a la funcionalidade de tales servicios, outra complementaria pero muy essencial de difusión cultural. A la integración inicial de fondos documentales, bibliográficos e incluso museisticos, se há açnadido ultimamente la de los nuveos y pujantes médios audiovisuales como um excelente complemento de
26
aquéllos a la vez que como um poderoso y eficaz instrumento educativo (PERÉS-RIOJA apud RAMOS, 2007. Pg. 88).
Sendo assim, os autores deixam claro que dentro de uma concepção
contemporânea, instituições como bibliotecas, centros culturais e museus são,
na mesma prática, espaços muito semelhantes que adotam nomes diferentes.
Porém, aqui no Brasil começa a estabelecer-se uma distinção informal entre
casa de cultura, centro cultural e espaço cultural. De acordo com Teixeira
Coelho, citado por Ramos (2007), espaço cultural é um local mantido pela
iniciativa privada que se dedica a promover uma atividade cultural, não o
conjunto delas, como é o caso de espaços culturais de grandes bancos e
grandes empresas; já o centro cultural é uma instituição mantida por poderes
públicos, de porte maior, com acervo e equipamentos permanentes, como salas
de teatro, cinema, bibliotecas, etc., que orienta-se para um conjunto de
atividades que são desenvolvidas sincronicamente e oferecem alternativas
variadas a seus frequentadores, de modo permanente e organizado; as casas
de cultura, por sua vez, podem designar um centro cultural pequeno ou
pequenas instituições voltadas para a divulgação de uma modalidade cultural
específica, como poesia ou teatro, ou personalidades destacadas.
Em suma, sabendo que todos os níveis socioeconômicos podem e devem
ter acesso à riqueza de linguagens culturais, o lazer e os centros culturais podem
ser relevantes no processo de valorização e preservação do patrimônio,
preservando a identidade local e possibilitando o potencial turístico das cidades.
(BAHIA et al apud PINTO, PAULO, SILVA, 2012. Pg. 91).
Sabendo que “turismo cultural é o acesso ao patrimônio cultural, ou seja,
história, cultura e modo de viver de uma comunidade” (MOLETTA apud PINTO,
PAULO, SILVA, 2012. Pg. 92), temos que o turismo cultural estimula os fatores
culturais dentro de uma localidade e atrai visitantes, bem como desenvolve
economicamente uma região turística.
Dentro do turismo cultural, pode ser destacado um turismo de eventos,
onde os eventos culturais atraem turistas de várias localidades. É o exemplo da
Comic Con, um evento voltado para a cultura nerd que teve origem em 1970,
quando um grupo de 300 vendedores de quadrinhos da California, Estados
Unidos, resolveu fazer uma convenção para reunir leitores, vendedores e
27
pessoas que gostavam de trocar quadrinhos e revistas usadas. A convenção
acontece anualmente durante 4 dias em San Diego, na Californa e cresceu e
ganhou reconhecimento a ponto ganhar um local fixo, o San Diego Convention
Center, e todo ano recebe milhares de visitantes de todo o mundo. Devido ao
grande sucesso a Comic Con acontece também em vários outros países, tendo
o Brasil recebido a Comic Com Experience de 4 a 7 de dezembro de 2014, em
São Paulo.
A níveis locais, dois eventos voltados para a cultura pop se destacam no
Brasil, sendo eles o SANA7, em Fortaleza e o Anime Friends, em São Paulo.
Ambos atraem os nerds e geeks de várias localidades de todo o Brasil e de
outros países da América Latina exclusivamente para aproveitar os eventos,
sendo o Anime Friends a maior convenção direcionada a esta tribo do Brasil,
contando hoje com um público superior a 120 mil pessoas.
2.3. MULTIFUNCIONALIDADE E FLEXIBILIDADE NA ARQUITETURA
Considerando o conceito de Multifuncionalidade na Arquitetura
como um edifício que oferece várias opções de uso, atividades e serviços, Dziura
(2003) defende que os edifícios multifuncionais incitam as pessoas a se
encontrarem, a conversarem, a passearem. Trata-se de estimular, mais que
reprimir, o potencial humano dos cidadãos: têm função humanizadora.
Goitia, citado por Dziura (2003), caracteriza a cidade contemporânea pela
desintegração, sendo fragmentaria, caótica, dispersa, constituída por áreas
congestionadas e com zonas diluídas pelo campo circundante. “Do mesmo modo
que a multiplicação de funções na cidade compacta sugere edifícios
multifuncionais na busca da revitalização urbana, a cidade espalhada também
sugere edifícios multifuncionais como fator de intensificação urbana” (DZIURA,
2003. Pg. 32).
Brandão e Heineck (2007) estabelecem dois conceitos de flexibilidade: a
flexibilidade permitida, equivalente à personalização, e a flexibilidade planejada.
A primeira implica que apenas uma opção é dada atendendo aos pedidos viáveis
de modificação de projeto, enquanto a segunda implica que na etapa de projeto
7 Evento originado em 2001, no Ceará, já tendo realizado mais de 20 edições.
28
já são criadas mais de uma opção possíveis. Algumas estratégias são criadas
para alcançar a flexibilidade, sendo elas.
Divisórias internas não portantes e removíveis;
Ausência de colunas ou grandes vãos entre elementos estruturais;
Instalações e acessórios desvinculados da obra, evitando embuti-los na
alvenaria;
Marginalização da área úmida em relação à seca;
Utilização de formas geométricas simples;
Não locar aparelhos de iluminação em posição central;
Em somatório às estratégias aqui estudadas, é possível citar o
posicionamento do diretor geral do evento SAGA Entretenimento, que, em
entrevista cedida à autora, defendeu que o local mais favorável para a
organização do evento deve ter como principal característica a planta livre,
assim, é possível fazer a subdivisão das atividades de diversas maneiras
diferentes como mais convier à administração, levando em conta as atrações e
atividades que estejam em alta durante o período de organização do evento.
Tal fator acaba por remeter não apenas à funcionalidade, mas também à
multifuncionalidade e flexibilidade do ambiente projetado, uma vez que a planta
livre é um dos cinco pontos de Le Corbusier da arquitetura moderna, onde uma
estrutura independente permite a livre locação das paredes, já que estas não
mais precisam exercer a função estrutural. Sendo assim, a planta livre é a mais
desejada para que seja possível alcançar a flexibilidade no projeto arquitetônico
em desenvolvimento.
3. REFERENCIAL EMPÍRICO
Neste capítulo serão apresentados os estudos de referência realizados
em projetos que possuam temática parecida com o universo de estudo aqui
tratado. Os estudos de referências aqui realizados tiveram como objetivo
compreender melhor as demandas do público frequentador dos eventos de
cultura nerd, bem como observar padrões na escolha dos espaços para que
estes sejam realizados e o zoneamento dos mesmos para compreender a
29
organização espacial das atividades. Também foram escolhidos espaços e
referência de cunho estético e formal para o desenvolvimento da proposta.
A escolha dos espaços a serem estudados foi feita por possuírem
temática próxima à do projeto a ser elaborado ou por terem os mesmos conceitos
e princípios a serem utilizados durante o processo projetual, bem como aspectos
estéticos e formais. Os estudos foram tanto indiretos, ou seja, apenas através de
pesquisa bibliográfica, quanto diretos, onde foram feitas visitas in loco para
levantamento fotográfico. Com esta etapa visou-se compreender melhor como
utilizar as estratégias projetuais objetivadas e como proceder durante o processo
de concepção em termos de funcionalidade, sendo assim de grande ajuda para
as fases de montagem do programa de necessidades, pré-dimensionamento e
zoneamento.
Foram analisadas variáveis como caracterização do estabelecimento,
localização na malha urbana, ocupação do lote e área, número/categorias de
usuários, horário/turnos de funcionamento, vizinhança/entorno, acessos,
proposta projetual, condições de conforto, programa atual, evolução/alterações
do programa nos últimos anos, usos (público/restrito e variação de usos
conforme o horário) e fluxos, cômodos-chave (dimensão, número de ocupantes,
atividades realizadas, relação com outros cômodos, equipamentos e mobiliário),
aspectos complementares como acessibilidade, segurança e manutenção, bem
como aspectos tipológicos, construtivos e até estéticos que possam contribuir
para o desenvolvimento da obra.
3.1. ESTUDOS DIRETOS
Os estudos são aqueles realizados através de visitas in loco para a
observação das relações espaciais e programáticas, bem como sua inserção na
malha urbana. Os estudos diretos foram realizados em dois eventos: o Saga
Entretenimento e o Sana Fest.
3.1.1. SAGA ENTRETENIMENTO
- Caracterização geral.
30
Em 2004 foi realizado em Natal o I Festival de Cultura Japonesa do
CEFET-RN8, tratando-se de uma semana de atividades relacionadas a cultura
japonesa, como exibições de animes, gibiteca de mangás, oficina de origami,
workshops de língua japonesa, exposição de itens de famílias imigrantes, entre
outros. O sucesso percebido pelos comentários do público e a quantidade de
pessoas que visitou o CEFET no dia - mais de 600 pessoas no dia 08 de outubro
de 2004 - fez com que a equipe organizadora se interessasse por profissionalizar
o evento, que posteriormente se tornou o SAGA Entretenimento.
Sendo assim, o SAGA Entretenimento é um evento anual que ocorre na
cidade de Natal e teve sua primeira edição em 2005. O evento se realiza durante
dois dias no período das 9h da manhã até as 21h da noite, sem intervalos. Sua
última edição, realizada em 2014 no Centro de Convenções de Natal reuniu
cerca de 10.000 pessoas. O objetivo do evento é divulgar iniciativas locais que
visem à promoção de outras culturas, não como substituição à cultura popular
regional, mas como adição a um leque cultural diverso e multifacetado.
Proporcionando um fator integrador familiar, com atrações para todas as idades
em um ambiente saudável e seguro e fortalecendo as manifestações culturais
produzidas no estado do Rio Grande do Norte, assim como difundindo seu
acesso ao público. Além disso, o SAGA pretende fomentar a pluralidade cultural,
bem como fornecer uma alternativa de entretenimento para toda a família.9
- Localização na malha urbana, entorno, acessos e ocupação do lote.
Como descrito pelo diretor geral do SAGA Entretenimento em entrevista
à autora, a primeira edição do evento ocorreu em 2005 no CEFET, em 2006 e
2007 o evento foi levado para o estacionamento do antigo Shopping Orla Sul,
hoje UNP Roberto Freire) e em 2008, 2010 e 2011 foi firmada uma parceria com
o colégio CDF e a Faculdade Maurício de Nassau. Em todos os anos o evento
teve crescimento de público em relação à realização anterior. A edição de 2015
foi realizada no Estádio Arena das Dunas, porém, o presente estudo foi realizado
8 Centro Federal do Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte. Atual Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRN). 9 Texto cedido no site do evento.
31
no Centro de Convenções de Natal10, onde o SAGA Entretenimento aconteceu
nos últimos dois anos, no pavilhão Parque das Dunas.
Figura 5: Localização do Centro de Convenções de Natal/RN
Fonte: maps.google.com, editado
pela autora, 2015.
Figura 6: Pavilhão Parque das Dunas
Fonte: ccnatal.com.br, 2015.
Figura 7: Situação do Pavilhão Parque das Dunas no lote
Fonte: maps.google.com, editado pela autora, 2015.
Localizado na Via Costeira, s/n, no bairro de Ponta Negra, em Natal, o Centro
de Convenções de Natal foi projetado para sediar simpósios, congressos,
seminários, reuniões, eventos artísticos, feiras e exposições, é posicionado de
frente para o mar e próximo a vários hotéis de luxo, bares, restaurantes,
shoppings, ciclovia, agencia de turismo, locadora e diversos serviços em seu
entorno. Em 2010, o Centro recebeu o Jacaré de Ouro durante a décima edição
10 Escolha feita pelo fato de a edição de 2015 ter acontecido em abril, o que acabaria por atrasar o andamento do presente trabalho.
32
do Prêmio Caio11 como melhor centro de convenções de grande porte do
Nordeste, para eventos.
Com relação à ocupação do terreno, o Pavilhão Arena das Dunas é o
último pavilhão do Centro de Convenções de Natal, se localizando no fundo do
lote, como demonstrado na figura 07 anterior. Há um grande desnível entre o
nível da rua e o pavilhão, o que gera bastante desconforto para o usuário
conseguir acessar o local, uma vez que a maior parte deles utiliza o ônibus como
meio de transporte e precisa acessar o evento como pedestres.
O acesso ao Centro de Convenções se dá exclusivamente através da Via
Costeira e possui um grande estacionamento, porem este não é suficiente,
sendo comum vermos carros estacionamos na via externa. Para a massiva
quantidade de usuários que se utiliza do ônibus, o acesso acaba sendo bastante
desapropriado, pois a parada mais de ônibus mais próxima ao local é a do Praia
Shopping, que se localiza a 790 metros do local, distância esta que precisa ser
percorrida, portanto, a pé.
- Proposta projetual e Condições de Conforto Ambiental.
Na situação do SAGA Entretenimento, o Pavilhão Parque das Dunas
caracteriza-se por um grande ambiente sem divisórias, onde a equipe
organizadora pode subdividir o espaço da maneira que melhor lhe convier. Este
formato apresenta diversas problemáticas a serem enfrentadas, como: a grande
poluição sonora, uma vez que não há divisórias para isolar acusticamente cada
atividade; iluminação deficiente; sistema de condicionamento de ar insuficiente,
gerando extremo desconforto ambiental; ausência de locais para descanso e
convivência para os visitantes.
- Programa Atual e evolução ao longo dos anos.
Dentro do SAGA Entretenimento é possível destacar os sub eventos que
ocorrem com bastante destaque perante o público:
11 Grande premio brasileiro de eventos, considerado a coroação máxima do setor de turismo.
33
SAGA JaM – concurso de Animekê12 e shows de bandas;
SAGA K-POP Stage – concurso de coreografias covers de K-Pop13;
SAGA Games – torneios de games como Dota 214, League of Legends15,
Just Dance16, entre outros;
SAGA Talk – Palestras e bate-papo com artistas convidados;
SAGA Cosplay – Três diferentes categorias de concurso de Cosplay17,
sendo elas: desfile, apresentação livre e apresentação tradicional.
SAGA Cards – espaço para jogos de cartas colecionáveis, como
Pokemon, Magic: The Gathering, Game of Thrones, dentre outros.
Além destas atividades previstas no programa que acontecem no espaço
público do pavilhão, também estão presentes outros ambientes como os
banheiros, uma pequena lanchonete, os camarins para cosplayers, participantes
do concurso de K-Pop e artistas convidados e uma área destinada a stands para
lojas venderem seus produtos. De acordo com o diretor geral do evento, o SAGA
Entretenimento foi perdendo o aspecto de “Cultura Japonesa” para “Cultura
Oriental” com o tempo. E hoje vem deixando de ser relacionado à “Cultura
Oriental” para se definir como um evento de “Cultura Pop”. Saiu do nicho de
apenas anime, mangá, cosplay, entre outros, para tentar abranger mais temas
como séries, filmes, games, livros e internet, por exemplo. Quando questionado
sobre qual atividade atualmente não pode faltar no programa do evento, o diretor
afirmou que é imprescindível trazer a presença de convidados de renome
nacional, sejam produtores de conteúdo para internet (youtubers18), sejam
dubladores, cantores, etc.
Com o crescimento do público e a procura por um espaço mais amplo e
que comportasse a demanda, algumas atividades antes realizadas acabaram
por deixar de existir no SAGA Entretenimento por falta de um cômodo apropriado
12 Espécie de karaokê, porém apenas com músicas em japonês, geralmente trilhas sonoras de filmes e animes. 13 Pop coreano. 14 Sequência do jogo Defence of the Ancients, onde dois times compostos por 5 pessoas cada, se enfrentam com o objetivo de destruir o “ancião” inimigo, que se localiza no centro da base do oponente. 15 Jogo online semelhante ao Dota 2. 16 Jogo eletrônico de música onde os jogadores dançam com o objetivo de realizar a coreografia com perfeição e tirar a nota mais alta. 17 Abreviação de Costume Play, referente à arte de se vestir com fantasias de personagens de animes, filmes ou séries. 18 Pessoas que criam canais no youtube com o intuito de comentar sobre algum assunto em específico.
34
para tal. É o caso das salas de exibições de filmes, animes e séries, ausentes
no evento desde 2013.
- Usos e Fluxos.
Como já explanado anteriormente, o SAGA Entretenimento é divido em
sub eventos, cada um possuindo sua própria área dentro do pavilhão, não
havendo, portanto, a variação de usos onde uma atividade deve deixar de existir
para dar lugar a outra. O que existe é apenas o cronograma de cada atividade,
assim cada atração tem sua hora, por exemplo, na área do SAGA Games
ocorrem apenas campeonatos de games, porém há um cronograma a ser
seguido, uma hora para o campeonato de Dota 2, outra para o campeonato de
League of Legends e assim sucessivamente. O espaço onde se localiza o palco
principal do evento é onde ocorrem os shows de bandas e os concursos de
cosplays e k-pop.
O acesso se dá por duas entradas principais e por se tratar de um único
ambiente para o evento todo, tudo é bastante integrado.
Figura 8: Usos e fluxos do evento.
Fonte: Acervo da Autora, 2015.
- Cômodo Chave.
35
Considerando que o SAGA Entretenimento ocorre num espaço sem
divisórias, não há como identificar um cômodo chave, porém um espaço chave
que atrai a maior parte dos usuários. Trata-se do espaço onde se localiza o palco
principal (figura 9), um palco de dimensões consideráveis (14m x 6m x 5m) onde
se realizam as atrações mais esperadas dos eventos, como palestras e bate-
papo com convidados especiais e os concursos de Cosplay e K-pop.
Figura 9: Palco principal do Saga Entretenimento
Fonte: Acervo da Autora, 2015.
- Aspectos Complementares.
Dentro do pavilhão não há desníveis que possam atrapalhar a locomoção
de cadeirantes ou pessoas com mobilidade limitada, mas o fato de todas as
atividades acontecerem basicamente no mesmo local acaba superlotando as
circulações, tornando difícil um cadeirante se movimentar por espaços mais
estreitos, como dentro da área reservada para stands de lojas. Também não há
espaços adequados para cadeirantes nas plateias das atividades oferecidas e
não há a presença de sinalização tátil para deficientes visuais.
O acesso ao Pavilhão, porém, é completamente inacessível pois o limite
de estacionamento e acesso de carros é distante da entrada da edificação e não
há caminho acessível a seguir.
36
O SAGA Entretenimento sempre conta com vigilantes fazendo a
segurança do evento bem como integrantes do corpo de bombeiros (figura 10)
para atender a qualquer emergência e também dispostos a prestar atendimento
e primeiros socorros a usuários que possam vir a apresentar problemas de saúde
dentro do local.
Figura 10: Acesso principal e segurança
Fonte: Acervo da Autora, 2015.
Quando questionado sobre como seria o espaço ideal para a realização
do SAGA Entretenimento, o diretor geral do evento comentou sobre um espaço
que tenha um vão livre grande o suficiente para montar um palco de dimensões
consideráveis (14m x 6m x 5m) com atividades satélites no entorno, além de
salas bem equipadas para hubs de atividades diversas.
3.1.2. SANA FEST
- Caracterização geral.
O SANA, ou a Super Amostra Nacional de Animes, é um evento realizado
pela Fundação Cultural Nipônica Brasileira (FNCB) com o intuito de levar ao
público tudo de mais interessante em relação a cultura pop. Reunindo fãs de
37
anime, mangá, tokusatsu19, games e cultura geek em geral, bem como artistas
e ícones do gênero em uma convenção realizada na cidade de Fortaleza, no
estado do Ceará. O evento é o maior da categoria no Nordeste e um dos maiores
do Brasil, atraindo caravanas e visitantes de vários estados.
O Primeiro SANA ocorreu em 14 e 15 de dezembro de 2001 no auditório
da biblioteca da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) e reuniu cerca de 240
pessoas com presença de stands de arte japonesa e a realização de um
concurso desenho. Hoje, já foram realizadas mais de 20 edições, reunindo o
público ao redor de animações japonesas, espaços dedicados a cultura pop,
coreana e japonesa, dança, stands, videogames retrôs e de última geração,
Cosplay, música dos mais diversos estilos e atrações nacionais e internacionais.
A equipe do SANA se orgulha ao dizer que a cada ano expande suas
possibilidades de entretenimento para um público cada vez maior, tendo sua
edição de 2015, realizada nos dias 24 e 25 de janeiros, reunido cerca de 40 mil
pessoas durante os dois dias de evento, que abre às 9h da manhã e encerra
suas atividades às 21h da noite.
- Localização na malha urbana, entorno, acessos e ocupação do lote.
O SANA vem sendo realizado no Centro de Eventos do Ceará, o segundo
maior Centro de Eventos do Brasil em área útil, com 76.000 m². Se localiza
vizinho à Universidade de Fortaleza (UNIFOR), ocupando uma quadra inteira
entre a Avenida Washington Soares, Rua Firmino Rocha Aguiar, e Avenida
Paisagística, sendo que seus acessos se dão pelas duas últimas vias citadas.
Em seu entorno, além na UNIFOR, é possível apontar uma boa rede
hoteleira e fácil acesso ao Aeroporto Internacional Pinto Martins, bem como o
Shopping Iguatemi.
19 Abreviatura da expressão japonesa “tokushi satsuei”, traduzida como “filme de efeitos especiais”. Atualmente é sinônimo de filmes ou séries de live-action (termo utilizado para definir trabalhos que são realizados por atores reais trazendo a vida personagens de animações) de super-heróis produzidos no Japão com bastante ênfase nos efeitos especiais.
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Figura 11: Localização do Centro de Eventos do Ceará
Fonte: maps.google.com, 2015, editado pela
autora, 2015
Figura 12: Implantação e acessos do Centro de Eventos do Ceará
Fonte: maps.google.com, 2015,
editado pela autora, 2015
O equipamento se localiza no centro do lote, com o estacionamento ao
seu redor e é dividido em dois grandes blocos, o Pavilhão Leste e o Pavilhão
Oeste. O Sana, porém, é realizado no Pavilhão Oeste, que é composto por
salões de exposição com até 13,6mil m² ao todo e dois mezaninos com 18 salas
modulares, oito no primeiro mezanino e 10 no segundo. Os salões de exposição
são divididos por divisórias de 13,65 metros de altura e dobráveis, de modo a
ficarem completamente recolhidas em um nicho na parede. Apenas o primeiro
mezanino é utilizado pelo evento, sendo este composto por oito salas de 300m²
cada, que podem ser utilizadas sozinhas ou em conjunto, pois possuem o
mesmo sistema de divisórias dos salões. Estas salas são utilizadas para dar
lugar aos espaços temáticos do evento.
- Proposta Projetual
O Centro de Eventos possui 152,694m² de área construída e 21.000m² de
jardins em um terreno de 17 hectares. Apesar de o projeto ter originalmente
previsto execução inteiramente in loco, o prazo fez com que apenas o módulo
central fosse in loco e os pavilhões tiveram seu design e especificações
adaptados para estrutura pré-moldada. O projeto arquitetônico foi inspirado em
aspectos típicos da paisagem e do artesanato cearense e tem como prioridades
39
a multifuncionalidade e flexibilidade do espaço, bem como a sustentabilidade: o
sistema de refrigeração, iluminação e sanitários são adequados à preservação
do meio ambiente. A estrutura de metal que reveste a fachada do edifício foi
inspirada no bordado das rendeiras e disposta nas cores e formas das falésias
cearenses.
Figura 13: Fachada do Centro de Eventos do Ceará.
Fonte: Acervo da autora, 2015.
O espaço interno do salão de exposições é dimensionável livremente
através de divisórias retráteis que ficam completamente recolhidas em um nicho
na parede e podem ser facilmente desdobradas, proporcionando a multiplicidade
de exposições e eventos temáticos.
Figura 14: Pavilhão de Exposições sem divisórias
Fonte: youtube.com/secretariadoturimo,
2012.
Figura 15: Pavilhão de Exposições com Divisórias
Fonte: youtube.com/secretariadoturimo,
2012.
40
Já os mezaninos possuem diversas salas ideais para eventos paralelos
como seminários, workshops, rodas de negócio e outros. Estas salas de apoio
também são modulares e podem ser subdivididas com divisórias retráteis. Este
sistema visa a flexibilidade e otimização do espaço.
Figura 16: Salas de mezanino sem divisórias
Fonte:
youtube.com/secretariadoturimo, 2012.
Figura 17: Salas de mezanino com divisórias
Fonte:
youtube.com/secretariadoturimo, 2012.
- Condições de Conforto
O Pavilhão Oeste do Centro de Eventos possui os fechamentos externos em
vidro, porém com a proteção de um grande domo feito de metal e acrílico
transparente de alta resistência20 para permitir o aproveitamento da luz natural e
amenizar a insolação. A climatização de ar é eficiente o suficiente para tornar o
ambiente bastante confortável, todos os espaços são bem iluminados seja por
sistema artificial ou por iluminação natural abundante e o fato de os salões de
exposições serem separados uns dos outros evita o problema de poluição
sonora. Os banheiros e telefones públicos foram instalados em locais de fácil
localização e as instalações elétricas são abundantes para uso geral.
Há, porém, a ausência de mobiliário para descanso e convivência dos
usuários, contudo os largos corredores de circulação permitem que as pessoas
fiquem sentadas no chão tranquilamente sem atrapalhar o fluxo e a circulação.
20 Informação cedida pelo site oficial do Centro de Eventos do Ceará.
41
Figura 18: Corredor Central do CEC durante o SANA 2015.
Fonte: Acervo da Autora, 2015.
Figura 19: Corredor Central do CEC durante o SANA 2015.
Fonte: Acervo da Autora, 2015.
- Programa Atual e evolução ao longo dos anos.
No SANA 2015, o programa foi composto pelas seguintes atividades e
ambientes:
Térreo:
-Arena Sana Games;
-Espaço Art & Fest;
-Sana Music;
-Espaço Animekê;
-Banheiros;
-Enfermaria.
Primeiro mezanino:
-Sala temática: Sana Nostalgia (exibição de animes e filmes
antigos);
-Sala temática: Tokusatsu;
-Sala temática: Cavaleiros do Zodíaco;
-Sala temática: Harry Potter;
-Sala temática: Toca –CE (com foco nas obras de J. R. R
Tolkien21 e Game of Thrones);
-Sala temática: Oficina e exposição de desenhos;
-Sala temática: Jogos de Card Games e tabuleiros;
-Cine Sana: Exibição de animes e filmes;
21 Sir John Ronald Reuel Tolkien, premiado escritor, professor universitário e filosofo britânico, autor de obras como O Hobbit, O Senhor dos Anéis e O Silmatillion.
42
-Banheiros.
Figura 20: Organização das atividades do Sana Fest 2015 - pavimento térreo.
Fonte: centrodeventos.ce.gov.br, 2015. Editado pela autora, 2015.
Figura 21: Organização das atividades do Sana Fest 2015 - mezanino.
Fonte: centrodeventos.ce.gov.br, 2015. Editado pela autora, 2015.
É importante salientar a presença de alguns espaços e serviços não
oferecidos nos eventos de Natal, como o espaço específico para enfermaria e
carrinhos de lanches presentes dentro do Espaço Art & Fest. Este também
comporta o Maid Café, uma subcategoria dos cafés Cosplay que surgiu no Japão
em 2001 quando estavam em alta os animes/mangás de famílias milionárias com
vários empregados vestidos com roupas vitorianas. As atendentes do café são
43
jovens meninas vestidas com uniformes de empregadas e tratam seus clientes
como “mestres” de uma mansão.
Figura 22: Maid Café do Sana Fest.
Fonte: Acervo da autora, 2015.
Todos os salões de exposição presentes no pavimento térreo se
subdividem em diversas atividades para entreter o público. O Arena Sana Games
conta com diversos stands com temas de jogos famosos, espaços para concurso
de jogos e um palco para palestras e bate-papo sobre games, bem como para a
realização de gincanas; Já o Espaço Art & Fest abriga o Palco Principal que
sedia as principais atividades, os stands de vendas de lojas, e os já citados maid
café e carrinhos de lanches; O Sana Music por sua vez é um espaço com um
grande palco para sediar os shows.
Trata-se de um programa bastante vasto e que procura abarcar um
público bastante diverso. O programa atual foi se moldando ao longo do tempo
e incluindo cada vez mais atividades. O pequeno evento que se realizava em um
auditório e contava com 240 pessoas para prestigiar concurso de desenho e
stands de lojas foi aumentando nos anos seguintes ao acrescentar as salas de
exibição de séries, filmes e animes, bem como a inclusão de shows
internacionais, até começar a sediar grandes concursos de K-Pop e Cosplay,
44
como é o caso da seletiva do WCS22, que ocorre no SANA Fest atualmente para
selecionar um campeão nordestino a ir competir na final brasileira em São Paulo.
- Usos e Fluxos.
Há dois acessos de entrada e saída do Pavilhão, sendo uma exclusiva
para caravanas e a outra para o público no geral. Como os espaços se
organizam lado a lado ao longo de longos corredores, o fluxo se dá facilmente
entre os cômodos, tendo o usuário que sair do ambiente anterior, andar pelo
corredor para poder acessar outro ambiente. Para pode acessar o mezanino, há
dois pontos de escadas rolantes e elevadores para permitir a acessibilidade
universal.
- Cômodo Chave
O cômodo chave pôde ser identificado claramente como o salão Sana Art
& Fest, pois como já mencionado, é o maior salão do pavilhão, contendo 4.500m²
e abriga o Maid Café, os carrinhos de lanche, os stands de lojas e ainda possui
o palco principal onde ocorrem os grandes concursos de Cosplay e K-Pop,
estando sempre cheio e com grande movimentação de público. Ele se localiza à
frente da entrada, possuindo grande visibilidade e facilidade de acesso.
22 World Cosplay Summit, maior concurso de Cosplay do mundo, organizado pela TV Aichi. A dupla selecionada por cada país participante é enviada para a grande final da competição, que ocorre na Cidade de Nagoya, no Japão.
45
Figura 23: Salão Art & Fest, SANA 2015.
Fonte: Acervo da autora, 2015.
Figura 24: Salão Art & Fest, SANA 2015.
Fonte: Acervo da autora, 2015.
Figura 25: Salão Art & Fest, SANA 2015.
Fonte: Acervo da autora, 2015.
- Aspectos Complementares
Com relação à acessibilidade, todos os espaços possuem rampas com
guarda corpo, há quatros elevadores e dois conjuntos de escadas rolantes por
andar, bem como a piso tátil necessário para os portadores de deficiência visual.
O acesso do estacionamento para o pavilhão também é acessível, possuindo as
vagas para cadeirantes e idosos bem próximos à entrada e devidamente
executados de acordo com a legislação. O pavilhão também possui banheiros
específicos para deficientes, separados dos demais.
Há vigilantes espalhados por todo o evento para fazer a segurança e há
uma pequena enfermaria com pessoal habilitado a atender e oferecer primeiros
socorros aos usuários se necessário.
46
3.2. ESTUDOS INDIRETOS
Os estudos indiretos são aqueles realizados através de pesquisas
bibliográficas, sem visitas in loco. Foram escolhidos para análise os maiores
eventos da categoria do Brasil e do mundo, sendo eles o Anime Friends e a
Comic Con – San Diego, respectivamente. Além disso, foram estudados também
o Centro Cultural de Eventos e Exposições de Paraty por sua temática e pelo
uso da flexibilidade em seu programa, bem como o Jardim Japonês de Buenos
Aires.23
3.2.1. ANIME FRIENDS
O Anime Friends teve sua primeira edição em 2003 e acontece uma vez
por ano em São Paulo, acumulando, portanto, 12 edições. Ao logo dos anos,
tornou-se o maior evento multitemático da América Latina, tendo como foco a
cultura oriental, principalmente a japonesa. Produzido pela Yamato
Comunicações e Eventos Ltda.24, o evento toma espaço durante 8 dias todo mês
de julho e atrai caravanas e visitantes de todos os lugares do Brasil, bem como
de outros países, pois apresenta concursos exclusivos como: o Yamato Cosplay
Cup Internacional25, onde são realizadas diversas seletivas em países e eventos
da América Latina e Europa, classificando os participantes para a grande final
do Brasil, no Anime Friends; o Yamato Cosplay Cup Brasil (YCC), primeiro
concurso de Cosplay que reuniu participantes de várias regiões do país,
realizando seletivas em vários estados e a grande final no Anime Friends,
elegendo assim um campeão nacional por ano; Animekê Show, considerada a
tração máxima do Animekê, pois além de ocorrer no Palco Principal ao invés de
na área temática, tem como prêmio uma viagem para o Japão.
23 Apesar de não ter sido feito o projeto do Jardim Japonês, viu-se necessário este estudo de referência para poder zonear apropriadamente o espaço para tal e para compreender se este tipo de paisagismo realmente se enquadra na temática do projeto e como utilizá-lo com estratégia de conforto ambiental. 24 Produtora de eventos de cultura pop japonesa em todo o Brasil. 25 Tradicionalmente conta com países da América Latina, mas atualmente está recebendo também países Europeus, como Espanha e Holanda.
47
- Programa Atual e evolução ao longo dos anos.
Procurando sempre evoluir e inovar, o Anime Friends tenta trazer a cada
ano uma novidade em termos de atração e também realiza dentro de seu espaço
alguns sub-eventos experimentais, como: o São Paulo Comic Fair, que teve sua
primeira edição em 2010 e se trata de um evento de histórias em quadrinhos,
abrigando também outros gêneros além do tradicional mangá; e a Brasil Comic
Con, que ocorreu em 2013 inspirada no San Diego Comic Con. Dentre as
diversas atrações trazidas pelo evento todos os anos tradicionalmente, se
destacam as apresentações de Cosplay, o Animekê, o Press Start26 e o Super
Friends Spirits27. Além disso há também outros tipos de atividades, como o
encontro Internacional de RPG, Jedicon28, covers de K-pop e apresentações de
artes marciais.
Figura 26: Mapa geral de atividades do Anime Friends.
Fonte: Animefriends.com.br, 2014
26 Atração voltada para os amantes de vídeo game, com campeonatos e apresentação dos consoles de última geração. 27 Show com artistas ou bandas japonesas populares entre o público por embalarem temas de animes ou filmes famosos. 28 Encontro de fãs de Star Wars.
48
As duas últimas edições do evento ocorreram em um grande espaço a
céu aberto, no Campo de Marte, em São Paulo. A edição de 2014 atraiu mais de
150 mil pessoas que puderam aproveitar diversas atividades e atrações desde
as já citadas anteriormente, até conhecer diversos ilustradores e mangakás29
famosos, bem como visitar a área de stands com lojas de produtos temáticos
atrativos ao público alvo do evento. É possível observar todas as atividades bem
como o zoneamento do espaço na figura 26. Tem-se todas as atrações em um
espaço único separado por stands (figuras 27 e 28).
Figura 27: Área interna do Anime
Friends
Fonte: vidadecosplayers.blogspot.com, 2013.
Figura 28: Área interna do Anime
Friends
Fonte: vidadecosplayers.blogspot.com, 2013.
Na rede social Facebook, os frequentadores podem avaliar o evento
aplicando notas de 0 a 5,0, sendo a média do Anime Friends de 2014 de 4,6,
demonstrando a satisfação do público. Além das notas, é possível ainda que os
visitantes deixem alguns comentários, sendo possível destacar alguns como:
“Muito bom, mas na minha opinião ele deveria ser todo coberto”, comenta uma
frequentadora sobre o fato de o evento ser a céu aberto. “Perfeito!
Principalmente os shows internacionais”, este comentário se repete diversas
vezes, mostrando o grande interesse do público pelas atrações internacionais
trazidas pelo Anime Friends (figura 27), incluindo grandes cantores de K-Pop e
bandas japonesas que embalaram trilhas sonoras de animes famosos, como a
banda Flow30, atração de 2014 que canta os temas originais de Naruto, Code
29 Desenhista e criadores de histórias em formato mangá. 30 Banda de rock japonesa formada em 1998.
49
Geass, Dragon Ball Z e Attack on Titan, entre outros animes de grande renome
entre o público brasileiro.
Figura 29: Flyer de divulgação das atrações oficiais do Anime Friends 2014.
Fonte: animefriends.com.br, 2014.
O blog Vida de Cosplayer, que traz postagens sobre o mundo dos
cosplayers, escreveu uma resenha sobre o Anime Friends 2013 onde algumas
críticas importantes podem ser retiradas em prol do desenvolvimento desta
proposta. A principal preocupação da autora foi com o fato de haverem apenas
dois pontos com banheiros, considerando as grandes dimensões do evento. Se
tratavam de pontos de banheiros químicos (figura 28), sendo totalmente
inapropriados para a parcela do público que precisa trocar de roupa ou se
caracterizar de alguma maneira, como é o caso não apenas dos cosplayers,
como de grupos que apresentam como covers de k-pop, equipes que fazem
demonstrações de artes marciais, dentre outros.
50
Figura 30: Pontos de banheiro químicos no Anime Friends 2013.
Fonte: vidadecosplayers.blogspot.com, 2013.
3.2.2. COMIC CON INTERNACIONAL - SAN DIEGO
A Comic Con International: San Diego é uma corporação educacional
dedicada a criar reconhecimento e apreciação por quadrinhos ou formas de arte
relacionadas através da realização de convenções e eventos que celebram a
história e contribuição contínua de quadrinhos para a arte e cultura.
A primeira edição ocorreu em 1970 quando um grupo de fãs de
quadrinhos, filmes e ficção científica se reuniram para montar sua primeira
convenção de quadrinhos no sul da Califórnia. Começou como um mini evento
de apenas um dia com o objetivo de juntar fundos e gerar interesse em um
evento maior. O sucesso levou ao primeiro evento de três dias da San Diego
Comic-Con. Tais primeiras edições ocorreram no Hotel El Cortez, no centro de
San Diego, até 1979 quando se mudou para o Convention and Performing Arts
Center (CPAP), onde se manteve até 1991, anos em que o San Diego
Convention Center (figura 29) abriu, sendo o lar do evento até os dias de hoje.
51
Figura 31: San Diego Convention Center
Fonte: hntb.com, 2015.
- Programa Atual e evolução ao longo dos anos.
Com o passar dos anos, a Comic-Con se tornou o ponto focal do mundo
das convenções de quadrinhos. O evento continua a oferecer a melhor
experiência em convenções: um enorme Salão de exposições (atualmente com
cerca de 460.000m²) apresenta quadrinhos e todos os aspectos das artes
populares, incluindo workshops e programações educativas e acadêmicas como
Conferências de Artes; exibição de animes e filmes (incluindo um festival de
filmes separado); jogos; o Will Eisner Comic Industry Awards - o “Oscar” da
indústria dos quadrinhos; um concurso de fantasias e máscaras com prêmios e
troféus; uma área de autógrafos; um show de arte; e reviews de portfolios,
reunindo artistas aspirantes e grandes companhias. Milhares de convidados
especiais e celebridades já passaram pelo evento, desde criadores de
quadrinhos, autores de ficção científica e fantasia, até diretores de cinema,
produtores, escritores, atores e criadores de todos os tipos de arte popular. O
público é crescente a cada ano, tendo a edição de 2014 atraído cerca de 150 mil
pessoas.
52
Figura 32: Mapa geral de atividades da Comic-Con.
Fonte: comic-con.org, 2014.
O salão de exposições é subdividido livremente pela comissão
organizadora (figura 30), organizando as atividades e atrações de acordo com
os temas, havendo stands para artistas, produtoras de quadrinhos, grandes
estúdios de filmes, entre outros.
3.2.3. CENTRO CULTURAL DE EVENTOS E EXPOSIÇÕES DE PARATY
Considerando que Paraty está implantada entre a mata e o mar, sendo
uma cidade harmônica e já consolidada, o escritório Dal Pian Arquitetos
Associados optou por locar a proposta para o Novo Centro Cultural de Paraty a
pouco mais de 400m da orla urbanizada da Praia de Jabaquara (figura 33), numa
área que não conta com rede viária e infraestrutura de abastecimento básico
construída, bem como sem qualquer edificação em seu entorno imediato. Tal
escolha de terreno foi feita para destacar o verde envoltório e a paisagem das
montanhas e da Mata Atlântica e principalmente para que o Centro possa servir
como qualificador urbano, gerando urbanidade. Assim, o projeto visa mais do
que apenas construir um edifício, mas construir um lugar.
53
Figura 33: Situação do Centro cultural de eventos e exposições de Paraty.
Fonte: concursosdeprojeto.org, 2014.
- Proposta Projetual e Programa de Necessidades
O Centro Cultural é descrito como uma grande Caixa de Acontecimentos,
envolvida por um fechamento transparente e protegida ambientalmente por
grandes beirais e muxarabis, reportando à tradição presente na arquitetura
colonial brasileira. O edifício é permeável visualmente valorizando a paisagem e
a integração com o entorno, objetivando estimular o encontro e a convivência e
instigar as mais diversas possibilidades de manifestações culturais e artísticas.
A implantação no centro do terreno plano e quase quadrado configura quatro
áreas externas com usos assim definidos:
- Esplanada de acesso (sudeste);
- Praça de exposições (sudoeste);
- Deck do bar (nordeste);
- Estacionamento (noroeste).
54
Figura 34: Pavimento térreo e primeiro andar do Centro Cultural de Paraty
Fonte: concursosdeprojeto.org, 2014.
Dentro da edificação, porém, destacam-se os volumes marcados por duas
caixas:
- Caixa do Espaço Transformável – onde se encontra um Teatro/Auditório
Experimental, versátil e de múltiplo uso, oferecendo diversas subdivisões e
configurações de palco e plateia. No pavimento superior se localizam uma parte
dos camarins e o depósito.
- Caixa das Salas de Conferência – Trata-se de cinco salas de conferência
localizadas no pavimento superior enquanto no térreo se localizam as áreas de
restaurante e bar.
O vazio central criado entre estas duas caixas configura um Espaço
Multiuso destinado às atividades de exposições e eventos, enquanto um volume
horizontal tangente às duas caixas abriga as áreas de serviços, carga e
descarga, administração e apoio, bem como a cozinha do restaurante e os
camarins do espaço transformável (figura 35).
Figuras: Plantas baixa pavimento térreo e superior e esquemas volumétricos, respectivamente.
55
Figura 35: Esquemas volumétricos do Centro Cultural de Paraty
Fonte: concursosdeprojeto.org, 2014.
Os materiais utilizados na edificação vão desde concreto armado e laje
maciça nas duas caixas internas, até pilares em concreto modulados que
recebem um sistema de cobertura em madeira laminada colada de eucaliptos,
composto por vigas treliçadas apoiadas nos pilares e travadas em um dos
sentidos por vigas vagonadas secundárias, em madeira e aço. Este último
sistema é utilizado na Caixa de Acontecimentos, desvinculado do sistema das
caixas internas.
A eficiência energética do edifício é garantida pelo aproveitamento dos
recursos climáticos locais. A ventilação e iluminação natural são priorizadas na
maior parte do ambiente interno e destaca-se a Caixa de Acontecimentos, onde,
sobre o espaço multiuso, um conjunto de sheds na cobertura – com presença de
painéis fotovoltaicos - se combina com aberturas inferiores e superiores ao longo
de toda a caixilharia, proporcionando, pela ventilação cruzada e pelo efeito
chaminé, boas condições de conforto aos ambientes. Para a insolação e
radiação solar, foram utilizados beirais generosos nos quatro lados da cobertura,
assim como a aplicação de brises reticulados nas fachadas sudoeste e noroeste.
56
Figura 36: Detalhes estruturais, materiais e de conforto utilizados no Centro Cultural de Paraty
Fonte: concursosdeprojeto.org, 2014.
O grande destaque do projeto para este estudo é o espaço transformável,
onde o Auditório / Teatro é compacto, versátil e de conformação flexível,
possibilitando uma grande multiplicidade de usos, se oferecendo às mais
diversas formas de apresentação e podendo também se transformar em um
espaço de exposições, como é possível observar na figura 37. Os pisos
modulares e os forros móveis permitem que as dimensões do ambiente sejam
variáveis para que seu volume interno ofereça múltiplas configurações de palco
e plateia, além de possibilitar sua subdivisão em duas ou três salas com usos
independentes e concomitantes. As paredes laterais compostas por painéis
ajustáveis controlam a absorção e reverberação do som, adequando o espaço
às variações acústicas necessárias, enquanto as portas localizadas nas quatro
faces perimetrais do Espaço Transformável alteram os acessos em função de
sua conformação, garantindo sempre a fruição e boa vazão do público.
57
Figura 37: Opções de conformação do auditório
Fonte: concursosdeprojeto.org, 2014.
A área de piso se divide em 30 praticáveis independente que se
movimentam verticalmente por um sistema telescópico de alçamento automático
(figura 38). Sobre cada praticável são fixadas 16 plataformas pantográficas
moduladas de acionamento manual. Este sistema é simples, eficiente,
economicamente viável e que proporciona a fácil e rápida adequação do Espaço
Transformável.
Figura 38: Sistema de praticáveis e plataformas pantográficas
Fonte: concursosdeprojeto.org, 2014.
58
Este projeto compreendeu a criação de um lugar que possibilita a
extensão do programa desejado para um Centro Cultura, de Eventos e
Exposições, atentando para o relacionamento com a paisagem e sem criação de
áreas cobertas de estacionamento ou escavações significativas.
Figura 39: Perspectiva externa do Centro Cultural de Paraty
Fonte: concursosdeprojeto.org, 2014.
Figura 40: Perspectiva externa do Centro Cultural de Paraty
Fonte: concursosdeprojeto.org, 2014.
3.2.4. JARDIM JAPONÊS DE BUENOS AIRES
Considerando a atenção que o presente projeto pretende dar ao espaço
externo, foi tomado como referência paisagística o Jardim Japonês, para assim
manter uma coerência com a proposta tão focada no aspecto cultural oriental.
Os jardins japoneses têm seu foco voltado para a contemplação e
transmissão de paz e espiritualidade. Os aspectos visuais tendem a ser menos
importante do que os elementos filosóficos, religiosos e simbólicos, como a água,
as pedras, as plantas e os acessórios do jardim.
Para fins deste estudo, foi analisado o Complexo Cultural e Ambiental
Jardim Japonês, que localiza-se na Cidade de Buenos Aires e é aberto para
visitação para assim levar um pouco da cultura japonesa para Argentina, sendo
este um objetivo similar ao deste projeto desenvolvido.
59
O Jardim Japonês de Buenos Aires foi construído no Parque Três de
fevereiro, no bairro do Palermo, em Buenos Aires, no ano de 1967 em
homenagem ao príncipe-herdeiro do Japão Akihito, atual imperador do Japão,
que visitou a Argentina neste período. O local funciona diariamente das 10h da
manhã às 18h da noite, a entrada é paga e o espaço é mantido com o dinheiro
arrecadado com os ingressos e outros serviços oferecidos no lugar, não
recebendo subsídios do governo da cidade e sendo organizado e administrado
apenas pela organização fundadora, a Fundação Cultural Argentino-Japonesa,
que além de cuidar do lugar também oferece cursos grátis no local ligados à
cultura nipônica, como literatura, bonsai31, pintura, dança, entre outros.
Figura 41: Implantação do Jardim Japonês de Buenos Aires
Fonte: http://www.jardinjapones.org.ar/
A paisagem natural do Jardim Japonês é composta por uma variada
vegetação do Japão, desde as antigas árvores autóctones32 como a Tipuana tipu
e a Paineira, até plantas como o Acer Palmatuny, Sakura e as Azaleias, bem
como outros elementos típicos que podem ser contemplados, como os lagos com
31 Pequenas e típicas plantas japonesas. 32 Árvores locais. No caso, argentinas.
60
suas carpas e as pedras (figuras 42 e 43). Todos os elementos do Jardim
buscam harmonia e equilíbrio.
Figura 42: Paisagem natural do Jardim Japonês
Fonte: http://www.jardinjapones.org.ar/
Figura 43: Paisagem natural do Jardim Japonês
Fonte: http://www.jardinjapones.org.ar/
Há duas pontes presente no local (figuras 44 e 45) que constituem
símbolos: a Puente de Dios33 é uma muito curva e extremamente difícil de
atravessar, representando o caminho para o paraíso; já a Puente Truncado é
mais extensa, plana e em ziguezague, conduzindo à Ilha dos Remédio
Milagrosos.
Figura 44: Puente de Dios do Jardim Japonês
Fonte: http://www.jardinjapones.org.ar/
Figura 45: Puente Truncado do Jardim Japonês
Fonte: http://www.jardinjapones.org.ar/
Além das caminhadas e da função de contemplação, várias atividades
podem ser realizadas pelos visitantes dentro do Jardim. Além dos cursos já
mencionados, há um prédio no qual funciona um centro de atividades culturais
33 Ponte de Deus.
61
incluindo biblioteca de assuntos japoneses com sala de leitura, um restaurante
que serve comida típica japonesa, uma casa de chá, um viveiro (figuras 46 e 47)
para os amantes de jardinaria, o Salão Yamanashi Ken - para a realização de
eventos - e uma tenda de artigos variados. Além disso, muitas performances
teatrais e recitais de música são realizados no jardim japonês.
Figura 46: Casa de Chá do Jardim Japonês
Fonte: jardimjapones.org.ar, 2015.
Figura 47: Viveiro do Jardim Japonês
Fonte: jardimjapones.org.ar, 2015.
62
PARTE II - Pre-projeto
63
4. DEFININDO O PÚBLICO ALVO
Considerando o aspecto multifuncional a ser alcançado nesta proposta,
bem como a grande variedade de tipos de nerds e geeks, como já visto
anteriormente, o público-alvo acaba por englobar não apenas a tribo urbana em
questão, mas toda a população que desejar utilizar-se do espaço como
alternativa de lazer. Porém, para poder compreender como projetar espaços
aptos a serem utilizados para as diversas atividades propostas em eventos de
cultura nerd, foram analisadas as entrevistas realizadas com os organizadores
dos eventos em Natal com o objetivo de averiguar as atividades pedidas pelo
público, bem como estudos de referência diretos e indiretos em eventos fora do
estado e do país para que assim seja possível abarcar todas as atividades
possíveis de serem ofertadas em um evento de cultura nerd.
Em seu Trabalho Final de Graduação, a autora Jannyfer Cavalcante de
Morais34 (2013) aplicou questionários em meio virtual com o intuito de
caracterizar o público frequentador de eventos de cultura nerd em Natal. Com
isso, ela concluiu que:
A maioria dos entrevistados se considera Geek, seguida dos que se intitulam simultaneamente Geek e Nerd. Embora o público feminino venha ganhando espaço nos últimos anos, o masculino ainda é bem maior entre os questionados. Quanto à idade, a grande maioria está localizada na faixa etária entre os 15 e 25 anos. O meio de transporte mais utilizado é o ônibus, seguido do carro. A grande maioria dos entrevistados reside em Natal, embora houvesse ainda muitos de cidades componentes da região metropolitana, muito de Parnamirim. Entre os residentes em Natal, a Região Administrativa Sul comporta bem mais entrevistados do que as outras. Sobre os principais interesses, os mais populares foram livros e cinema. Também foram consideravelmente apontados, em ordem, os seriados, jogos online e videogames, desenhos animados/animes/animações e quadrinhos/mangás. Grande parte dos entrevistados acredita que há, de fato, uma carência de espaços voltados para esse seguimento nerd/geek em Natal. E mais dois terços afirmam que frequentaria com certeza um espaço voltado para o público nerd e geek. (MORAIS, 2013)
34 Arquiteta e urbanista graduada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Trabalho Final de Graduação apresentado no primeiro semestre de 2013.
64
A autora também conseguiu algumas opiniões bastante específicas dos
entrevistados, que clamam por um espaço onde seja possível jogar, trocar
informações e fazer amizades, bem como usar cosplay livremente, assistir séries
favoritas e cantar seus temas favoritos. Também é desejado um espaço amplo
para que possam acontecer gincanas, brincadeiras e jogos, bem como locais
para divulgar trabalhos de fãs que fazem camisetas, bottons, bolsas, bonés,
chaveiros e outras coisas que remetem ao universo geek/nerd. Outra
observação feita pelos entrevistados foi a falta de design característico do lugar
e a necessidade do zoneamento no espaço para separar melhor as atividades
de cada público, uma vez que nerds e geeks se consideram bastante diferentes
mesmo entre si dentro da própria tribo.
De acordo com pesquisa feita por meio da rede social Facebook, foi
possível identificar os seguintes subgrupos na cidade de Natal:
Tabela 2: Subgrupos nerds/geeks da cidade de Natal
Liga RN de Cosplay 2.864
RPG em Natal/RN 1.073
Comunidade Gamer de Natal 782
Comunidade de Fighting Games do RN 118
Clube do Livro RN 3.302
Pokemon RN 1.055
Magic The Gathering Natal RN 665
Asian Style RN 650
Fun K-Pop Natal RN 266
Cosplayers RN 339
Pump Natal 302
Liga Mario Kart RN 93
Cinéfilos de Natal 1.629
Fonte: Facebook.com. Elaborado pela autora, 2015.
É importante também citar os pequenos eventos que ocorrem
periodicamente ou que ocorreram apenas uma vez com um tema específico:
65
Fun K-Pop – Evento anual voltado para a música pop coreana, havendo
concursos de coreografias entre grupos ou solistas;
Evento Lumus – Evento realizado no início de 2014 pelo fotógrafo e
estilista Andrey Lourenço com foco em Harry Potter, havendo exposição de
fotografias, decoração temática e desfile de moda com trejeitos baseados nos
figurinos do filme.
Cosmos One Piece Day – Organizado pela Cosmos Cia de Teatro
Cosplay35, o evento ocorreu em 2013 e, apesar de multicultural, teve como tema
de decoração e homenagem o famoso anime One Piece36.
Cosday: Piquenique Cosplay – Evento organizado pelos próprios
cosplayers de Natal para comemorar o dia do Cosplayer (21 de julho), onde os
mesmos se reuniram devidamente caracterizados no Parque das Dunas para
fazer um piquenique e se conhecer melhor.
Zombie Walk – uma passeata composta por um grupo de pessoas
vestidas e maquiadas como zumbis. A última edição em Natal ocorreu em 2013.
Figura 48: Zombie Walk em 2011, na avenida Salgado Filho
Fonte: Tribunadonorte.com.br, 2011.
35 Companhia de teatro que monta apresentações com cosplays em eventos e organizam eventos de cultura pop japonesa. 36 Obra de anime mangá criada pelo mangaká Eichiro Oda. Trata-se da série de mangá mais vendida de todos os tempos no Japão e uma das séries de mangá mais populares no mundo.
66
Atualmente, são dois os eventos de grande porte realizados anualmente
em Natal: O SAGA Entretenimento, no Pavilhão Parque das Dunas do Centro de
Convenções de Natal - já comentado no estudo de referências direto - e o Yujô
Fest, na área de convenções do Hotel Praia Mar, em Ponta Negra. É necessário
ressaltar que o público do primeiro é consideravelmente maior do que o do
segundo, porém nos dois casos os usuários demonstram insatisfações com
relação ao espaço.
No caso do Yujô Fest, o evento toma lugar no espaço de convenções do
Hotel Praia Mar, em Ponta Negra, e satisfaz os usuários, mas ainda assim gera
alguns desconfortos. O espaço é compartimentado, podendo haver a barreira
física entre atividades e com isso o isolamento acústico, porém, a presença de
corredores estreitos dificulta a livre circulação do público e principalmente dos
cosplayers37, que muitas vezes não conseguem transitar por tais localidades
quando estão utilizando fantasias grandes. O sistema de condicionamento de ar
é mais eficiente, tornando o ambiente bastante confortável, porém também não
há espaço de convivência e descanso para os usuários. Nos dois casos, não há
espaços para descanso e convivência dentro dos eventos, assim, os
frequentadores costumam sair para sentar nas calçadas ou espaços de
convivência fora das localidades do evento. Assim, é possível perceber as
principais deficiências nos espaços utilizados para a realização dos maiores
eventos voltados para a cultura nerd em Natal, tornando-os inapropriados para
tal.
37 Abreviação de Costume Player, termo que designa pessoas que gostam de se fantasiar e representar personagens, sejam de filmes, animes, séries, quadrinhos, dentre outros.
67
5. O TERRENO
O terreno escolhido possui dimensões de cerca de 203m x 106m e
localiza-se no bairro de Capim Macio, na Zona Sul de Natal/RN, ocupando uma
quadra inteira entre as ruas Professora Dulce Coutinho, e Rua Humberto Monte.
Figura 49: Locação do terreno.
Fonte: maps.google.com. Editada, 2014.
Figura 50: Terreno escolhido.
Fonte: maps.google.com. Editada, 2014.
Tal escolha foi feita devido às dimensões e características físicas do
terreno e à facilidade de acesso para os frequentadores que utilizam do
transporte público como principal meio de locomoção, estando próxima à
Avenida Engenheiro Roberto Freire. Trata-se de uma área de 21.291,75 m²,
sendo suficiente para a locação do edifício e para uso de área externa, recurso
desejado no projeto a ser desenvolvido com uso de paisagismo, mobiliário e área
para descanso e convivência no geral. Outro motivador para tal escolha foi o fato
68
do bairro de Capim Macio já ser uma região turística por si só, graças à sua
proximidade ao bairro de Ponta Negra e da praia homônima, porém a presença
deste espaço pode ajudar a estimular o turismo cultural.
O terreno localiza-se numa área de transição de gabaritos das
edificações, sendo vizinho de diversos edifícios verticais na porção próxima à
Avenida Engenheiro Roberto Freire e de residências de no máximo dois
pavimentos na porção mais interna do bairro.
6. – Condicionantes físicos e ambientais
Para o processo de concepção projetual, é indispensável analisar as
condições de insolação e ventilação natural, bem como a topografia do terreno
para poder proporcionar melhores condições de conforto térmico e eficiência
energética no edifício e aproveitar melhor os níveis naturais do lote para a
locação do edifício de maneira a não fazer grandes intervenções físicas.
O terreno apresenta um desnível de cinco metros, como é possível
observar nas figuras 51 e 52. É uma diretriz de projeto que a topografia natural
do terreno seja aproveitada ao máximo, objetivo que pode ser alcançado sem
maiores problemas, uma vez que considerando o desnível e as dimensões do
terreno, a inclinação acaba sendo muito baixa, de cerca de 2,5%.
Figura 51: Curvas topográficas do terreno
Fonte: natal.rn.gov.br/semurb, editado pela autora, 2015
Figura 52: Perfil topográfico do terreno
Fonte: Acervo da autora, 2015.
69
Figura 53: Carta solar de Natal/RN
Fonte: http://www.sunearthtools.com, editado pela autora, 2015.
Analisando a carta solar de Natal (figura 53), temos que o terreno é
inclinado cerca de 31° em relação ao norte, implicando que todas as fachadas
do lote acabam por receber radiação solar, com destaque para as fachadas
laterais leste e oeste, que são as maiores testadas do lote e são alvo de
insolação direta pela manhã e pela tarde, respectivamente.
Figura 54: Esquema de insolação e ventilação natural no terreno
Fonte: maps.google.com, editado pela autora, 2015.
70
A fachada leste, apesar de ser uma das maiores testadas do lote e receber
grande insolação no período da manhã, também é a que acaba por captar a
ventilação natural recorrente no terreno (figura 55), sendo assim, deve dispor de
grandes aberturas para aproveitamento dos ventos. Tais aberturas, porém,
devem bem protegidas da radiação solar. A testada oeste, por sua vez,
posiciona-se em uma situação mais crítica, recebendo a insolação do período da
tarde. Sendo assim, deve dispor de aberturas pequenas e devidamente
protegidas.
É indispensável para o projeto que haja a utilização de estratégias
bioclimáticas de maneira a trazer boas condições de conforto térmico aos
usuários da edificação, como o uso de vegetação e o lago do jardim japonês
numa técnica de resfriamento evaporativo38.
7. -Condicionantes legais
Neste capítulo serão abordadas as legislações vigentes que regem o
terreno de projeto em questão e demais exigências que regulamentam projetos
de arquitetura para possibilitar seu licenciamento. Foram analisados o Plano
Diretor e o Código de Obras da cidade de Natal, bem como Código de Segurança
Contra Incêndio e Pânico do Estado do Rio Grande do Norte e a Norma Brasileira
de Acessibilidade, NBR 9050.
7.1. Plano Diretor
De acordo com o Plano Diretor da Cidade de Natal, lei
complementar n° 082 (2007), o terreno para projeto encontra-se na Zona de
Adensamento Básico, onde se aplica estritamente o coeficiente de
aproveitamento básico 1,2 e gabarito máximo de 65 metros. Sabendo que:
38 O resfriamento evaporativo consiste em estratégias para diminuir a temperatura do ar. Pode ser alcançado com a utilização de vegetação, espelhos de água, chafarizes, entre outros, em espaços abertos.
71
Área construída = Área do terreno * Coeficiente de aproveitamento
Logo,
Ac = 21.291,75 * 1,2 = 25.550 m².
Ou seja, é possível construir até no máximo 25.550 m² no terreno em
questão, sabendo que área construída é a soma das áreas de todos os
pavimentos da edificação. Porém, é preciso atentar para a área permeável
exigida pelo Plano Diretor, que é de no mínimo 20%, ou seja, a taxa de ocupação
é de no máximo 80% do lote. Em suma, temos que:
Taxa de ocupação = Área construída da lâmina / Área do terreno
Onde a resultado da divisão não pode ultrapassar 80%.
Quanto aos recuos, sabendo que o projeto prevê dois pavimentos em um
dos lados e três em outro devido à topografia do terreno, os parâmetros utilizados
foram a de dois pavimentos para o recuo frontal e três pavimentos para os
laterais e posterior. Para tanto, o Plano Diretor estabelece as seguintes
distâncias mínimas:
Tabela 3: Recuos aplicáveis ao terreno.
RECUOS
FRONTAL LATERAL FUNDOS
Até 2° Pavimento Acima de Segundo
Pavimento Acima de Segundo
Pavimento
3,00 + H/10 1,50 + H/10 1,50 + h/10
Onde: H – a distância entre a laje de piso do 2° pavimento e a laje de piso do último pavimento útil.
Fonte: Plano Diretor de Natal, 2007. Editado pela autora.
7.2. Código de Obras
Consultando o Código de Obras, Lei Complementar n° 055, de 27 de
janeiro de 2004, é possível retirar as seguintes recomendações que
direcionaram o projeto em questão:
- Devem ser previstas áreas destinadas ao estacionamento ou à guarda de
veículos, cobertas ou não, e deve destinar áreas para carga e descarga, além
72
de local para embarque e desembarque de passageiros; devem ser respeitados
os espaços mínimos requeridos para as vagas e devem constar no projeto as
indicações gráficas de cada vaga bem como o esquema de circulação e acesso
de veículos; os acessos de veículos devem se dar nas vias de menor hierarquia;
- As áreas livres resultantes do recuo frontal podem ser consideradas para
efeito de cálculo de área de estacionamento ou guarda de veículos, desde que
esse recuo seja igual ou superior a cinco metros, respeitando área de passeio e
acesso ao lote;
- Nos estacionamentos rebaixados ou elevados em relação ao passeio, as
rampas de acesso devem ter início a cinco metros do alinhamento do recuo
frontal e devem atender aos seguintes parâmetros:
Tabela 4: Parâmetros para rampas de estacionamento
Fonte: Código de Obras da cidade de Natal, 2004.
- Toda calçada deve possuir largura mínima de 2,50m com faixa de, no
mínimo 1,20m para a circulação de pedestres – passeio – com piso contínuo
sem ressaltes ou depressões, antiderrapante, tátil, indicando limites e barreiras
físicas. São permitidos os rebaixos do meio fio apenas para dar acesso ao lote
e às vagas de estacionamento. Aqui, é possível fazer uso da referência da
calçada modelo apresentada pela Prefeitura de São Paulo (figura 55), a qual
também segue os padrões referidos nesta lei.
73
Figura 55: Modelo de calçada acessível
Fonte: Prefeitura de São Paulo, 2012.
- Todo compartimento da edificação deve ter dimensões e formas
adequadas, de modo a proporcionar condições de higiene, salubridade e
conforto ambiental, condizentes com a sua função e habitabilidade.
Tabela 5: Valores mínimos para cada compartimento
Fonte: Código de Obras da Cidade de Natal, 2004.
- Toda edificação deve ser projetada com a observância e orientação dos
pontos cardeais, atendendo, sempre que possível, aos critérios mais favoráveis
de ventilação, insolação e iluminação; para efeito de insolação, iluminação e
ventilação, todos os compartimentos da edificação devem dispor de abertura
direta para logradouro, pátio ou recuo, não podendo esta abertura ser voltada
74
para a divisa do lote com distancia inferior a 1,50m. A abertura voltada para o
exterior não pode ter área menor que 1/6 da área do compartimento, sendo o
mínimo de 1/8 quando se tratar de ambientes de uso transitório, sendo que estes
podem ser iluminados e ventilados por abertura zenital, que deve ter área
equivalente a 6% da área do compartimento. São dispensados de iluminação e
ventilação direta e natural os corredores e halls de área inferior a 5m², os
compartimentos cuja utilização justifiquem a ausência dos mesmos; e depósitos
de utensílios e despensas.
- Deve ser garantido o acesso, circulação e utilização por pessoas
portadoras de deficiências ou com mobilidade reduzida, atendendo às seguintes
condições e de conformidade com as normas da ABNT: NBR 9050.
- Toda edificação deve ter compartimento para disposição de resíduos
sólidos dentro do lote, com acesso externo para a via pública e interno para os
usuários, incluindo a previsão de instalações para a coleta seletiva. Estes
compartimentos devem dispor de piso e revestimento das paredes em material
impermeável e lavável na cor branca, ponto de água e ralo para escoamento,
tubo para ventilação, na parte superior, elevado a 1,0m, no mínimo, acima da
cobertura.
7.3. CÓDIGO DE SEGURANÇA E PREVENÇÃO CONTRA INCÊNDIO E
PÂNICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
Em se tratando de uma edificação de uso público e que atrairá grande
número de pessoas ao mesmo tempo, é necessária grande atenção ao
cumprimento o Código de Segurança e Prevenção Contra Incêndio e Pânico do
Estado do Rio Grande do Norte. De acordo com esta legislação, que trata da
classificação das edificações, o projeto a ser feito se enquadra na categoria de
ocupação Reunião Pública e deve atender aos seguintes às seguintes
exigências de dispositivos de proteção contra incêndio de acordo com a área
construída e altura da edificação:
I- Os espetáculos deverão ter a presença de pessoal habilitado nas
técnicas de prevenção e combate a incêndio e controle de pânico, devidamente
reconhecido pelo Corpo de Bombeiros Militar;
75
II- Todas as peças de decoração confeccionadas em material de fácil
combustão, deverão ser tratadas com proteção retardante à ação do calor
(ignifugação);
III- Deverá dispor de renovação de ar ambiente através de ventilação
natural;
IV - Deverá dispor de sistema de iluminação de emergência;
V - As portas de saída de emergência deverão ter abertura no sentido de
saída e destravamento por barra anti-pânico;
VI - Ambientes com mais de 100 lugares, além das aberturas normais de
entrada, deverão dispor de saídas de emergência com largura mínima de dois
metros e vinte centímetros (2,20m), acrescendo-se uma unidade de passagem
(cinqüenta e cinco centímetros) para excedentes de 100 pessoas;
VII - edificações com mais de um pavimento terão escadas com largura
mínima de um metro e sessenta centímetros (1,60m), para público de até 200
pessoas, acrescendo-se uma unidade de passagem de cinqüenta e cinco
centímetros (0,55 m), para excedentes de 200 pessoas;
VIII - nos cinemas, auditórios e demais locais onde as cadeiras estejam
dispostas em fileiras e colunas, os assentos obedecerão aos seguintes
requisitos:
a) distância mínima de 90cm (noventa centímetros) de encosto a encosto;
b) número máximo de 15 assentos por fila e de 20 assentos por coluna;
c) distância mínima de 1,20 m entre séries de assentos;
d) Não é permitido assentos junto à parede, devendo-se distanciar-se
desta de, no mínimo, um metro e vinte centímetros (1,20m).
IV- Deverão dispor de locais de espera com área obedecendo a proporção
de doze metros quadrados (12 m2) para público de 200 pessoas, acrescendo-
se dois metros quadrados (2m2) para excedentes de 100 pessoas;
V- é obrigatória a utilização de rampa em estabelecimentos com lotação
superior a cinco mil (5000) pessoas; considerando a largura de um metro e meio
(1,50m) para cada l000 pessoas, não podendo ser a rampa de largura inferior a
três metros (3,0)m;
VI- é obrigatória a utilização de guarda-corpo nas sacadas, rampas e
escadas, em material resistente, evitando-se quedas acidentais;
76
7.4. ABNT NBR 9050
Esta norma estabelece critérios e parâmetros técnicos a serem
observados quando do projeto, construção, instalação e adaptação de
edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos às condições de
acessibilidade. Os principais critérios aplicados ao projeto em questão estão
listados a seguir:
o O espaço livre necessário para passagem de uma pessoa em pé
foi tomado como referência pelo caso de pessoas com muletas, por ser o que
demanda maior espaço, de 1,20m de largura.
o O módulo de referência (M.R) para pessoa utilizando cadeira de
rodas é de 0,80 m x 1,20 m.
o Áreas de circulação:
0,90 m para cadeirante;
1,20m a 1,50m para cadeirante e pessoa em pé;
1,50m a 1,80m para dois cadeirantes;
o Largura mínima para transposição de obstáculos isolados:
0.80cm para obstáculos com extensão máxima de 0,40cm;
0,90cm para obstáculos com extensão acima de 0,40cm;
o Área para manobra de cadeira de rodas sem deslocamento:
1,20m x 1,20m para rotação 90°;
1,50m x 1,20m para rotação 180°;
1,50m de diâmetro para rotação 360°;
o As informações essenciais aos espaços nas edificações, no
mobiliário, nos espaços e equipamentos urbanos devem ser sinalizados de
forma visual, tátil ou sonora; Deve ser aplicado o símbolo internacional de acesso
principalmente nas entradas, áreas e vagas de estacionamento de veículos,
áreas acessíveis de embarque e desembarque e sanitários;
o Os pisos devem ter superfície regular, firma, estável e
antiderrapante sob qualquer condição que não provoque trepidação em
dispositivos com rodas; Desníveis devem ser evitados em rotas acessíveis,
devendo os desníveis superiores a 15mm ser tratados em forma de rampa; As
grelhas e juntas de dilatação devem ter vão resultante máximo de 15mm quando
instaladas transversalmente à rota acessível;
77
o Todas as entradas da edificação devem ser acessíveis, bem como
as rotas de interligação às principais funções do edifício;
o As rampas devem ter inclinação calculada de acordo com a fórmula
i= (h*100)/c, onde i é a inclinação em porcentagem (sendo o máximo permitido
de 8,33%), h é a altura do desnível e c é o comprimento da rampa em projeção
horizontal; Deve haver área de descanso a cada 50m de rampa; As escadas
deverão ter piso entre 38cm e 32cm e espelho entre 0,16cm e 0,18cm; Os
corrimãos devem se prolongar 30cm a partir do início ou do fim da rampa ou
escada;
o Os corredores devem ser dimensionados de acordo com o fluxo de
pessoas, assegurando uma faixa livre de barreiras ou obstáculos. As larguras
mínimas indicadas são:
0,90m para corredores de uso comum com extensão até
4,00m;
1,20m para corredores de uso comum com extensão até
10,0m e 1,50m para corredores com extensão superior a
10,0m;
1,50m para corredores de uso público;
Maior que 1,50, para grandes fluxos de pessoas
o As portas devem ter vão livre mínimo de 0,80m.
o O número de vagas para estacionamento de veículos que
conduzam ou sejam conduzidos por pessoas com deficiência deve ser de 1%
das vagas quando acima de 100 vagas e devem ser dotadas de espaço adicional
de circulação de no mínimo 1,20m;
o Um mínimo de 5% das peças sanitárias devem ser acessíveis,
sabendo que as dimensões mínimas de um boxe de bacia sanitária são de 1,50m
x 1,70m e para boxes de chuveiro são de 0,90 x 0,95;
o Os cinemas, teatros, auditórios e similares devem possuir 2% dos
espaços reservados para pessoas em cadeiras de rodas e 1% para pessoas com
mobilidade reduzida. As vagas especiais devem estar localizadas em rota
acessível e vinculadas a uma rota de fuga. O espaço para P.C.R deve possuir
dimensões mínimas de 0,80m x 1,20m acrescido de faixa mínima de 0,30m de
largura localizada na frente, atrás ou em ambas as direções.
78
8. METAPROJETO
8.1. PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ DIMENSIONAMENTO
O programa de necessidades e o pré-dimensionamento (tabela 6) do
projeto foi montado levando em consideração as definições do público nerd e
geek, bem como as informações colhidas nos estudos de referências, incluindo
estimativas da demanda de uso no local. Para dimensionar os ambientes, foi
utilizado o modelo de Emile Pronk (2001) em seu livro Dimensionamento em
Arquitetura, além da NBR 9050, o Código de Obras de Natal e as exigências do
Código de Segurança contra Incêndio e Pânico.
Tabela 6: Programa de Necessidades
79
Fonte: Acervo da Autora, 2015.
8.2. Relações Programáticas
As relações programáticas – ilustradas no fluxograma da figura 56 - dentro
do centro cultural e de eventos são planejadas de maneira a garantir o melhor
desempenho funcional e de conforto ambiental na edificação.
Figura 56: Fluxograma do Centro de cultura e eventos
Fonte: Acervo da autora, 2015.
80
Desde o início, um grande objetivo a ser alcançado na proposta projetual é
o de que todas os setores da edificação sejam conectados de forma a facilitar o
fluxo dentro do centro cultural, bem como instigar os visitantes a explorarem e
utilizarem todos os espaços do edifício, conhecendo suas atividades propostas
e assim tendo a possibilidade de torna-lo parte de suas rotinas. Sendo assim,
tem-se que através do acesso principal da edificação, por onde entrarão e sairão
principalmente os veículos, é possível descer ao subsolo e ter acesso direto para
o auditório, administração, área de convivência, setor educacional e pavilhões
de exposições e eventos.
Uma das principais áreas da edificação é o setor de convivência, que só
pode ser acessado diretamente, além do subsolo, pelos pedestres que
adentrarem o lote pelos acessos laterais. Trata-se de uma estratégia para induzir
os visitantes a adentrarem o centro e assim conhecerem suas propostas, uma
vez que é necessário percorrer outros setores para poder alcançar esta área. A
administração e setor de serviço, por sua vez, são áreas mais restritas,
possuindo um acesso separado para carga e descarga.
81
PARTE III - ANTEPROJETO ARQUITETONICO
82
9. PROPOSTA ARQUITETÔNICA
9.1. DEFINIÇÃO DO CONCEITO DE PROJETO
Algumas palavras chaves eram mantidas em mente enquanto o projeto
era idealizado, sendo elas: multifuncionalidade, flexibilidade e a diversidade –
seja de uso, cultura, idade, atividades. Sendo assim, unindo estas diretrizes ao
tema nerd, foi abstraído o conceito de Tetris. Trata-se de um jogo eletrônico
bastante popular lançado na década de 1980, que consiste em empilhar peças
que descem na tela de forma aleatória. São diferentes peças que o jogador deve
encaixar entre si e que geram bônus quando unidas perfeitamente numa linha
completa.
Figura 57: Tela do jogo Tetris
Fonte: telegraph.co.uk, 2015.
Este conceito, portanto, procura exaltar a multifuncionalidade e a
flexibilidade, além da diversidade cultural e de público, sugerindo a troca de
conhecimento e cultura.
9.2. DEFINIÇÃO DO PARTIDO
Desde o início, o partido arquitetônico se apoia, funcionalmente, em
algumas bases, tendo como objetivo principal alcança-las. É necessário projetar
visando a multifuncionalidade e a flexibilidade do edifício projetado, bem como a
relação com os espaços abertos verdes, incitando os usuários a utilizares o
83
espaço público e apropriar-se dele. Sendo assim, seguindo estas diretrizes e o
conceito apresentado anteriormente, pode-se fazer uma relação formal e
espacial com os blocos do jogo Tetris. Tais blocos vêm em formas diferentes e
podem ser utilizados de diversas maneiras.
Quando os blocos não se encaixam perfeitamente, geram espaços
abertos, o que no jogo pode ter efeito negativo, mas que no projeto será
agregado de maneira positiva, gerando interligação entre os blocos e com os
espaços verdes.
Figura 58: Peças do jogo Tetris.
Fonte: Telegraph.co.uk, 2015.
9.3. ZONEAMENTO E EVOLUÇÃO DA FORMA
Partindo das peças básicas do Tetris, várias tentativas foram feitas até
chegar a uma forma que fosse agradável esteticamente para o empreendimento,
levando também em consideração que o edifício deveria ter uma representação
icônica para os frequentadores e principalmente para o público nerd.
Figura 59: Evolução da forma
Fonte: Acervo da Autora, 2015.
84
As duas primeiras opções partiram apenas de duas peças (em forma de
“Z” e “T”) do Tetris elevadas em 3D, porém foram consideradas muito simples e
descartadas. A terceira opção partiu da segunda forma, tendo apenas a parte do
centro elevada a primeiro pavimento, ainda não sendo uma forma satisfatória. A
quarta tentativa misturou as duas primeiras formas testadas, sendo a forma “Z”
um possível pavimento térreo e a parte central da peça “T” como pavimento
superior, porém também não foi satisfatória esteticamente.
A quinta forma, por sua vez, utilizou a primeira peça duplicada e encaixada
em posições e rotações diferentes, porém considerando as proporções das
peças e as proporções do terreno escolhido, chegou-se à conclusão de que o
uso desta forma acabaria por descaracterizar muito algum dos blocos pelas
proporções que seriam tomadas. Já a sexta peça foi bastante satisfatória, unindo
a primeira peça em “Z” com o bloco do Tetris em forma de “L” como pavimento
superior rotacionada de maneira a gerar uma parte térrea e outra vazada.
Considerando as dimensões do projeto, optou-se então por elevar a primeira
peça também a primeiro pavimento, chegando assim, a uma forma final
satisfatória.
Figura 60: Zoneamento do terreno
Fonte: Acervo da autora, 2015.
O terreno foi zoneado (figura 60) de maneira a aproveitá-lo
funcionalmente da melhor maneira possível em conjunto com os condicionantes
de conforto ambiental. Sendo assim, a edificação foi locada ao centro, com o
estacionamento na testada frontal - que funcionará como acesso principal - e
cercada pelos jardins nas maiores testadas do lote, correspondendo às fachadas
leste e oeste. Estas estratégias acabam por situar a edificação entre áreas de
vegetação, contribuindo para trazer melhores condições de conforto térmico.
85
Figura 61: Zoneamento - subsolo
Fonte: Acervo da Autora,
2015.
Figura 62: Zoneamento - térreo
Fonte: Acervo da Autora,
2015.
Figura 63: Zoneamento: 1° andar
Fonte: Acervo da Autora,
2015.
O zoneamento do edifício, por sua vez, foi feito seguindo as relações
programáticas já apresentadas anteriormente em busca de aproveitar
devidamente a insolação e ventilação naturais, conectar as funções da melhor
maneira e instigar o uso e a exploração do edifício pelos visitantes. Sendo assim,
o subsolo (figura 61) conta com o estacionamento e o auditório com seu foyer; a
pavimento térreo (figura 62) inclui um salão de exposições, o setor educacional,
a área de convivência, administração e área de serviço; o pavimento superior
(figura 63), por sua vez, engloba apenas o setor de eventos com suas áreas de
apoio.
Este zoneamento vertical (figura 64) foi pensado para fazer com que os
visitantes sejam levados a percorrer todo o edifício, porém sem comprometer a
individualidade de cada área. Sendo assim, cada setor encontra-se em áreas
separadas, porém com conexões entre si. Os pavilhões de exposições e eventos
são foram locados de maneira que os participantes possam atravessar outras
áreas do centro cultural e assim conhecer melhor sua proposta.
Figura 64: Zoneamento vertical do edifício
Fonte: Acervo da autora, 2015.
86
9.4. O PROJETO – MEMORIAL DESCRITIVO E JUSTIFICATIVO
Este item apresenta o anteprojeto desenvolvido para o Centro Cultural e
de Eventos em questão, englobando as justificativas para as relações
socioespaciais, soluções funcionais, formais e de conforto ambiental, bem como
os materiais, estruturas e aspectos complementares considerados.
Inicialmente, destaca-se a escolha do nome como sendo Nexus – Centro
de Cultura e Eventos pois carrega um significado e identidade para o público
nerd. Nexus é a peça principal do mapa no jogo League of Legends39, cada time
deve defender o seu e ao voltar para perto dele, é possível recuperar pontos de
vida, magia e adquirir acessórios. Acredita-se que esta simbologia se encaixa
perfeitamente nos objetivos traçados para o centro cultural, considerando as
atividades oferecidas e é importante por permitir que o público alvo se identifique
com ela.
9.4.1. Inserção na malha urbana
Figura 65: Situação do lote no entorno
Fonte: maps.google.com, editado pela autora, 2015.
39 Atualmente um dos jogos de computador mais jogados do mundo, com grande popularidade entre o público brasileiro.
87
O projeto se insere na malha urbana numa relação de contraste, não
apenas pelo caráter icônico do edifício com suas cores primárias vibrantes e
tratamento estético característico, mas também por representar um componente
paisagístico para a região, uma vez que o lote situa seus jardins em suas regiões
periféricas, como é possível ver na figura 65. Este último fator, porém, apesar de
destacar-se do entorno, acaba por estabelecer um diálogo com o mesmo, já que
acaba funcionando como praça pública, atraindo os transeuntes e convidando-
os a entrar para utilizar das áreas de convivência e contemplação, bem como
para explorar o edifício.
Figura 66: Implantação geral
Fonte: Acervo da autora, 2015.
A partir da figura 66 é possível observar que outro recurso de atração
utilizado foi o posicionamento da entrada principal voltada para a área de uso
habitacional, ao invés de estar voltada para o eixo da Avenida Engenheiro
Roberto Freire, uma vez que assim a população residente na região pode sentir-
se inclusa no projeto e livres para utilizá-lo todos os dias, tornando-o parte de
suas rotinas. Tal objetivo poderia não ser alcançado com tanta eficiência se a
entrada principal se encontrasse voltada para a área já de uso comercial e de
88
serviço, criando um setor excludente do uso habitacional. É necessário enfatizar
também que com essa estratégia, a fachada voltada para a área residencial é a
que possui apenas dois pavimentos, deixando a de três pavimentos voltada para
a área já verticalizada, assim, não se cria uma interferência tão grande na
paisagem, integrando o edifício ao entorno de maneira coerente.
A preocupação nascida a partir desta decisão, foi a de que com isso, os
visitantes que acessam o edifício a partir da Avenida Engenheiro Roberto Freire
teriam o primeiro contato visual com a fachada posterior do edifício, portanto, foi
tomado o devido cuidado com o tratamento estético das fachadas em questão,
bem como com o zoneamento do terreno afim de tornar todas as testadas do
lote igualmente atraentes, convidativas e facilmente identificáveis.
Figura 67: Vista da fachada posterior a partir do lado oeste
Fonte: Acervo da autora, 2015.
Figura 68: Vista da fachada posterior a partir do lado leste
Fonte: Acervo da Autora, 2015.
89
9.4.2. Implantação no lote
De o início a implantação (figura 69) previa um estacionamento aberto no
nível térreo e a edificação situada no centro com o jardim ao seu redor. Porém,
após o cálculo da demanda de vagas do estacionamento, foi percebido que a
área necessária para o mesmo seria muito extensa, ocupando grande parte do
terreno. Portanto, optou-se por fazer um estacionamento em subsolo, deixando
no nível térreo apenas as vagas destinadas a pessoas com necessidades
especiais.
Figura 69: Implantação
Fonte: Acervo da autora, 2015.
O edifício então pôde estender-se e ocupar grande parte do terreno
longitudinalmente, tendo ao lado leste um jardim para convivência e uso diurno,
com mobiliário e sombra provida por árvores e pelo próprio edifício durante o
período da tarde. Deste lado também há o auditório, que se situa parcialmente
enterrado e possui cobertura verde em dois níveis dispostos de maneira aleatória
funcionando como uma arquibancada para convivência (figura 70).
90
Figura 70: Arquibancada sobre auditório
Fonte: Acervo da autora, 2015.
Do lado oeste, por sua vez, há o espaço destinado para o projeto de um
jardim japonês que terá uso prioritariamente noturno, acompanhado de uma área
para a contemplação do mesmo com deck em madeira, mesas e caramanchões,
também servindo como área de espera para os visitantes que forem utilizar o
auditório, já que o foyer possui acesso direto para o deck.
Figura 71: Deck para contemplação e espera
Fonte: Acervo da autora, 2015.
Figura 72: Área para contemplação
Fonte: Acervo da autora, 2015.
O jardim de convivência foi feito com apenas alguns bancos e árvores,
deixando assim, que seu uso seja livre para que os usuários possam apropriar-
se da área para deitar na grama ou fazer piqueniques, por exemplo.
91
Figura 73: Jardim de convivência
Fonte: Acervo da autora, 2015.
Há, no total, 4 acessos ao terreno, um por cada testada do lote. A entrada
norte é apenas para serviço, contando com um pátio para manobra de
caminhões de carga e descarga; já as entradas leste e oeste são apenas para
pedestres, que podem acessar a edificação através dos jardins e ir diretamente
para o setor de convivência com acesso a um balcão de informações. Ao Sul,
por sua vez, há a entrada principal do centro para pedestres e veículos, com uma
guarita de controle e acesso ao estacionamento em subsolo. As entradas leste
e oeste permanecerão abertas durante o dia, porém poderão ser fechadas
durante à noite, sendo permitido acesso apenas pela entrada principal, para
garantir maior segurança.
9.4.3. Subsolo
Devido ao desnível de cinco metros no sentido longitudinal do lote e a
decisão de aproveitar ao máximo a topografia natural do mesmo, o
estacionamento é totalmente enterrado no ponto mais alto do terreno e começa
a emergir ao longo deste, ao ponto de já estar totalmente ao nível da rua quando
chega ao ponto mais baixo do lote.
92
Figura 74: Planta baixa - Subsolo
Fonte: Acervo da autora, 2015.
O subsolo conta com o estacionamento na parte completamente
enterrada e a entrada de serviço, o auditório e o foyer na porção que se encontra
ao nível da rua, podendo o auditório contar com uma saída de emergência direta
para a área externa e o foyer ter acesso e vista direta para o jardim japonês. Os
acessos para o térreo se dão por uma rampa ou diversas escadas e elevadores
dispostos ao longo do pavimento, onde o núcleo I dá acesso direto ao setor
educacional e de entretenimento no térreo e ao salão de exposições no primeiro
andar enquanto os núcleos II e III dão acesso direto às áreas de convivência.
O auditório faz uso da estrutura pantográfica (figura 75) para permitir
diversas opções de usos e layouts. Serão utilizados 46 praticáveis
independentes de dimensão 2,40m x 9,60m que se movimentam verticalmente
com o uso de um sistema telescópico de alçamento automatizado. Sobre cada
praticável serão locadas 16 plataformas pantográficas moduladas de dimensões
1,20m x 1,20m e acionamento manual.
93
Figura 75: Plataformas pantográficas e telescópicas
Fonte: feelingeventos.wordpress.com
Assim, com o uso deste sistema é possível modificar o posicionamento de
cada praticável e suas plataformas de maneira a permitir diversas conformações
de palco e plateia no auditório (figura 76), como: salão de exposições livre, palco
logitudinal de canto, palco central transversal, palco central de canto, palco
central e conformação de desfile, por exemplo. Ao todo, são 4 os acessos ao
auditório que podem ser utilizados ou mantidos fechados de acordo com a
conformação escolhida.
Figura 76: Opções de layout para o auditório
Fonte: Acervo da autora, 2015.
94
9.4.4. Pavimento térreo
Figura 77: Planta baixa - pavimento térreo
Fonte: Acervo da autora, 2015.
Seguindo o zoneamento previsto, o pavimento térreo conta com as áreas
educacionais, de eventos, serviço, administração, entretenimento e convivência.
A entrada principal dá acesso direto à área educacional e ao salão de exposições
01.
Os salões de exposições e eventos da edificação farão uso do sistema de
painéis retráteis (figura 78) que podem ser estendidos para dividir o espaço como
melhor convier à organização do evento a ser realizado, ou, quando não forem
necessários, ficarão recolhidos em um nicho na parede (figura 79). Os painéis
correm através de trilhos localizados no teto com fixação sob a viga de concreto,
portanto, foram locados os trilhos no projeto onde se achou mais conveniente e
funcional de maneira a facilitar a flexibilidade de uso do espaço.
Figura 78: Forma de acionamento dos painéis
Fonte: dimoplac.com.br, 2015.
95
Figura 79: Armazenamento dos paineis retráteis em nicho na parede
Fonte: dimoplac.com.br, 2015.
O salão 01 possui quatro opções de acesso que poderão ser fechados ou
utilizados como entrada ao espaço dependendo do layout proposto com o uso
dos painéis. É um salão de menores dimensões, podendo ser utilizado para
eventos de curta duração como palestras e atividades de apenas um turno,
porém em dias de eventos nerds pode ser utilizado para as salas de temas
específicos.
Figura 80: Opções de layout para o Salão de Eventos 01
Fonte: Acervo da autora, 2015
96
A área educacional e de entretenimento funcionará diariamente, possui
uma entrada independente e é composta por salas de oficinas para cosplayers
ou atividades diversas, dança e arte marciais, fotografia e biblioteca, todas
podendo ser utilizadas em dias de eventos nerds como camarim cosplay, ensaio
para participantes de concursos de danças, demonstrações de artes marciais,
entre outros usos. Além disso, conta com uma área central separada por
divisórias feitas em painéis vazados de madeira (figuras 81 e 82). Este módulo
conta com áreas de fliperama, RPG e jogos de Card games no geral, barcade e
uma pequena área de espera, podendo, portanto, servir tanto para
entretenimento dos frequentadores como para apoio ao salão de exposições
vizinho, uma vez que os participantes podem entrar para fazer lanches rápidos
ou mesmo utilizar os banheiros.
Esta distribuição de cada função e atividade desta área foi feita como uma
estratégia para que os visitantes dos eventos rápidos possam adentrar o centro
para ter a oportunidade de conhece-lo e vivenciá-lo, uma vez que a necessidade
de entrar para fazer um lanche ou ir ao banheiro fará com que tomem
conhecimento das atividades realizadas e que vejam a área de convivência que
existe na parte posterior, já que a divisão entre este setor e o de convivência é
feito através de um pano de vidro, permitindo a permeabilidade visual. A
necessidade de se atravessar a área de educação e entretenimento para chegar
à área de convivência, bem como à escada e elevadores que dão acesso ao
pavimento superior a também é uma estratégia de integração.
Figura 81: Área de entretenimento e espera
Fonte: Acervo da autora, 2015.
Figura 82: Área de entretenimento e espera
Fonte: Acervo da autora, 2015.
Saindo do setor educacional, tem-se acesso à área de convivência
(figuras 82 e 83), trata-se de uma área aberta sobre pilotis que conta com lojas
97
para venda de artigos nerds e variedades, livraria, Maid Café, restaurante e uma
pequena enfermaria. No centro deste espaço há um balcão de informações para
que os transeuntes que acessem o edifício pelas entradas laterais advindas dos
jardins possam se localizar e conhecer um pouco da proposta do edifício e suas
atividades. Este setor é um dos principais da edificação, uma vez que encontra-
se em contato direto, seja de acesso ou visual, com os jardins e por organizar os
fluxos através da edificação. As circulações, por sua vez, são largas para permitir
a passagem de grande quantidade de transeuntes previstos para dias de
eventos.
Figura 83: Área de convivência
Fonte: Acervo da autora, 2015.
Figura 84: Área de convivência]
Fonte: Acervo da autora, 2015.
Devido ao desnível do terreno, esta área de convivência já não encontra-
se mais a nível térreo, devendo ser acessada pelas laterais através de rampas,
98
o que contribui para um maior controle de acesso e segurança, uma vez que as
entradas laterais não possuem guaritas.
9.4.5. Primeiro andar
Figura 85: Planta baixa - primeiro andar
Fonte: Acervo da autora, 2015.
O último pavimento é destinado apenas para eventos e exposições (figura
85). Possui uma área com banheiros, foyer e salas de exibição e conferência. A
fachada leste é bastante aberta, possuindo fechamento duplo em cobogós na
parte externa e portas de vidro na parte interna que podem ser abertas para
permitir a entrada de ventilação natural e fechadas para proteção de chuvas
(figura 86). Acima delas será instalado um pano de vidro fixo.
Figura 86: Detalhe de fechamento em cobogós e esquadrias em vidro
Fonte: Acervo da autora, 2015.
O acesso a esse pavilhão se dá através da escada ou elevadores locados
na área educacional, descendo até o estacionamento em subsolo, ou através de
99
rampas localizadas em diversos pontos da edificação. Ao todo, são sete acessos
ao pavimento, cuja utilização pode ser organizada de acordo com o layout que
estará sendo utilizado pelos eventos através do uso dos painéis retráteis (figura
87).
Figura 87: Opções de layout para o Salão 02
Fonte: Acervo da autora, 2015.
A utilização de rampas na parte externa do edifício foi escolhida para
facilitar a evacuação do edifício em casos de emergência. Assim, tem-se
diversas saídas ao longo do pavilhão que dão acesso direto para a área externa
em segurança.
9.4.6. Soluções Formais
Considerando a grande vontade de seguir o partido formal adotado, era
sabido que o edifício acabaria originando um volume bastante pesado e
ortogonal, sendo assim, foram adotadas estratégias para gerar mais movimento
100
e leveza nas fachadas, como o uso do cobogós na fachada leste, gerando uma
grande área vazada e mais leve sem alterar a forma original.
Para manter identidade visual da edificação, os cobogós (figura 88)
utilizados possuem um design específico também inspirados nas peças do jogo
Tetris, assim como a edificação. Serão utilizados tanto na fachada leste como
fechamento das aberturas, como na oeste em forma de painéis e também na
fachada frontal, para quebrar a dureza do volume e manter a identidade da
entrada principal.
Figura 88: Design de cobogó para a edificação
Fonte: Acervo da autora, 2015.
Outra estratégia foi o uso das rampas como acessos principais locadas do
lado de fora do edifício, quebrando a ortogonalidade das fachadas e gerando
mais movimento. A diferenciação de gabarito entre os blocos também foi feita
para destacar os volumes separadamente, e manter o partido formal como duas
peças do jogo tetris que possam ser facilmente identificadas pelo visitante.
101
Figura 89: Perspectiva externa do edifício
Fonte: Acervo da autora, 2015.
Figura 90: Perspectiva externa do edifício
Fonte: Acervo da autora, 2015.
9.4.7. Soluções de Conforto Ambiental
Considerando que todas as testadas do lote recebem sol devido à
inclinação do mesmo em relação ao norte, algumas estratégias foram tomadas
para tornar a edificação climaticamente mais confortável.
Na fachada leste, que recebe os ventos predominantes e o sol da manhã,
foram feitas grandes aberturas para captar a maior quantidade de ventilação
possível, como é pode ser observado na figura 91, os fechamentos são feitos
com o uso de cobogós e o jardim de convivência foi situado à sombra da
edificação durante a tarde e com árvores também para sombreamento, para que
assim possa ser bastante utilizado pelos visitantes durante qualquer período do
dia. A utilização de pilotis também é uma estratégia de aproveitamento da
ventilação natural, uma vez que o grande espaço aberto permite a passagem do
vento para a porção oeste da edificação.
102
Figura 91: Soluções de conforto ambiental a partir da fachada leste
Fonte: Acervo da autora, 2015.
A fachada oeste, por sua vez, necessitava de mais atenção por receber
maior quantidade de insolação no período da tarde. Por isso, foram feitas
aberturas pequenas que foram devidamente protegidas da insolação com o uso
de brises em bambu e painéis em cobogós. Além disso, a locação do jardim
japonês deste lado é uma estratégia de resfriamento evaporativo40, devido à
presença da vegetação e do espelho de água (figura 92 e 93).
Figura 92: Soluções de conforto ambiental a partir da fachada oeste
Fonte: Acervo da autora, 2015.
40 Trata-se de uma estratégia utilizada para aumentar a umidade relativa do ar e diminuir a sua temperatura. Pode ser alcançado através do uso de vegetação e espelhos de água, dentre outros, em espaços abertos. A evaporação da água em regiões de clima quente proporciona uma maior sensação de conforto.
103
Figura 93: Exemplo de utilização de jardim japonês como estratégia de resfriamento evaporativo
Fonte: Acervo da autora, 2015.
9.5. MATERIAIS
9.5.1. ESTRUTURA E VEDAÇÃO
A estrutura será toda em concreto, sendo utilizada a laje nervurada
protendida apoiada sobre vigas em concreto armado, que por sua vez serão
apoiadas em pilares de concreto armado disposto em uma malha de 10m x 10m.
Seguindo recomendações da NBR 6118, que regulamenta os projetos em
concreto armado, deverão ser previstas juntas de dilatação devido à grande
dimensão longitudinal do edifício. São recomendadas juntas a cada 15 metros,
porém, para este projeto, elas foram locadas a cada 20 metros devido à
modulação dos pilares, sendo assim, é recomendado pela norma que neste caso
seja feito um cálculo apropriado para dimensionar corretamente as juntas de
dilatação a esta distância uma da outra.
O auditório possuirá laje verde para convivência, por isso, a mesma será
mais espessa para suportar os esforços extras e a composição e cuidados para
a execução da laje verde (figura 92) serão devidamente tomados: será
necessária uma manta impermeabilizante, manta de drenagem, uma camada de
concreto, palha de arroz, terra e a grama.
104
Figura 94: Detalhe de execução da laje verde
Fonte: Acervo da autora, 2015.
As vedações são variadas. As externas e de divisão de ambientes
permanentes serão em blocos de concreto, devendo ser executadas com
argamassa impermeável até a altura de 30cm acima do piso finalizado. Já as
vedações das áreas de eventos serão em painéis retráteis da Dimoplac, linha
Divisória Retrátil Dimoflex (figura 95). Cada painel possui espessura 8
centímetros, miolo de lã de rocha, resultando numa atenuação acústica de cerca
de 40 dB. O revestimento dos painéis será em lâminas de madeira. Algumas
áreas possuem vedações em pano de vidro e, no caso da fachada leste do
primeiro pavimento, as vedações são feitas com cobogós que geram maior
leveza e permeabilidade à edificação.
Figura 95: Divisórias retráteis
Fonte: Dimoplac.com.br, 2015.
O auditório, por sua vez, possuirá um revestimento em painéis acústicos
nas paredes, referência Nexacustic. Tais painéis são confeccionados em
105
madeira de reflorestamento e possuem alta resistência mecânica bem como
elevado coeficiente de absorção sonora e melhorando a qualidade do som,
proporcionando maior conforto acústico ao ambiente.
Figura 96: Painéis acústicos
Fonte: owa.com.br, 2015.
O sistema de instalação dos painéis é modular seguindo o encaixe tipo
“macho-fêmea” com fixação nas paredes com perfil metálico. O acabamento será
em Athena.
Figura 97: Acabamento e instalação dos paineis
Fonte: owa.com.br, 2015.
106
9.5.2. COBERTURA
o Telhas
As telhas serão do tipo termoacústicas compostas pelo sistema telha +
isolante + telha, sendo bastante vantajosas por proteger térmica e acusticamente
as coberturas. Outra vantagem é o fato de evitar o gotejamento que ocorre com
a condensação da umidade interna quanto entra em contato com as coberturas
aquecidas pelo sol em regiões úmidas, como Natal por sua proximidade com o
mar.
As telhas recebem uma injeção de isolante feito em poliuretano, que se
molda entre as telhas e forma uma camada isolante entre elas, proporcionando
grande eficiência termoacústica.
o Calhas e Rufos
As calhas e rufos serão locadas de acordo com o projeto de cobertura,
devendo haver calhas sempre que houver encontro entre telha e parede ou duas
telhas descendentes. Já os rufos deverão ser locados rentes às paredes com
silicone para uma perfeita vedação.
Ambos deverão ser confeccionados em alumínio galvanizado devido à
sua alta durabilidade e resistência.
9.5.3. ESQUADRIAS
o Portas
As portas serão executadas conforme especificação no quadro de
esquadrias, sendo em madeira ou vidro, uma ou duas folhas. Todas as
maçanetas serão do tipo alavanca em alumínio e cilindro com chaves em latão
cromado para o caso de portas de madeira, e inox polido duplo 20 x 40
milímetros, referência Trava Forte, no caso das portas de vidro.
107
Figura 98: Sugestão de puxador
Fonte: travaforte.com.be, 2015.
As portas paralelas aos cobogós do primeiro pavimento, especificamente,
serão do tipo VE2 e VE3 – duas ou três folhas, respectivamente - sem fechadura,
da linha Versatik, patenteada da empresa Tec Vidro. Trata-se de uma linha de
esquadrias que utiliza duas folhas móveis ou três folhas de vidro, sendo duas
móveis e uma fixa, que correm em paralelo, garantindo abertura de mais de 60%
do vão. O modelo de duas folhas VE2 escolhido possui 1,60m de largura por
2,00 metros de altura, enquanto o modelo de três folhas VE3 possui largura de
2,00 metros e altura também de 2,00 metros. Os puxadores são do tipo concha,
que permitem melhor aproveitamento do espaço quando as 2 das 3 peças estão
recolhidas. Sendo assim, quanto todas as portas estiverem abertas, será
possível captar grande quantidade de ventilação natural, porém protegerão das
chuvas ao serem completamente fechadas.
Figura 99: Modelos VE2 e VE3 - portas de vidro
Fonte: tekvidro.com.br, 2015.
108
o Janelas
Todas as janelas terão caixilho em alumínio com pintura eletrostática
preta e vidro liso temperado incolor. As dimensões são variadas de acordo com
o quadro de esquadrias, podendo ser de correr ou basculantes.
o Vidros
Os vidros existentes no projeto serão todos do tipo temperado, devendo
os das áreas externas, como portas e painéis, serem em vidro temperado
reflexivo.
o Portões
Os portões da guarita principal serão em metalon pintado na cor branca,
já as entradas laterais para pedestres e a entrada de serviço terão fechamento
com um painel em madeira tipo fole, podendo ser totalmente recolhido e retirado
sem ocupar muito espaço.
Figura 100: Guarita tipo fole – estendida
Fonte: custojusto.pt, 2015.
Figura 101: Guarita tipo fole, recolhida
Fonte:
custojusto.pt, 2015.
9.5.4. COBOGÓS, PAINÉIS E DETALHES METÁLICOS
DA FACHADA
A fachada oeste possuirá quatro painéis metálicos. Trata-se de grades
metálicas com malha de 30 x 30 centímetros para a fixação dos quatros painéis
de cobogós. Já os elementos de sombreamento próximos às janelas deverão ser
109
em metal pintados de cores variadas indicadas nas fachadas. Todos os
elementos metálicos deverão ter tratamento anti-corrosivo.
Os cobogós por sua vez deverão ser confeccionados em cerâmica
esmaltada na cor branca.
9.5.5. FORRO
Os forros serão em placas de gesso cartonado perfurado nas
dimensões 120 x 120 centímetros e espessura 10 milímetros. O sistema de
fixação será do tipo forro removível, fazendo uso de perfis de aço galvanizado
suspensos por meio de pendurais rígidos reguláveis, sendo assim é possível que
as placas de gesso sejam facilmente removidas para possíveis manutenções.
Figura 102: Forro cartonado perfurado
Fonte: cliquearquitetura.com.br, 2015.
Para o auditório, será utilizado um forro diferenciado. Sonic Arc são ilhas
acústicas curvas fabricadas pela Knauf AMF, podendo ser côncavas ou
convexas, formando uma composição fluida. Cada peça é composta por uma
moldura curva de alumínio e um painel AMF Thermatex revestido por um fino
véu acústico que confere ao produto um acabamento completamente liso e com
alto índice de absorção sonora. Tanto a moldura quanto a placa serão
confeccionadas na cor creme. A fixação se dá por meio de tirante, como
ilustrador a seguir na figura 103.
110
Figura 103: Fixação e acabamento da ilha acústica
Fonte: knaufamf.com.br
9.5.6. PAREDES
o Pintura
Para paredes em ambientes internos: Pintura Acrílica Fosca,
duas demãos nas cores indicadas no projeto.
Para ambientes externos: Pintura Acrílica Semi-Brilho nas
cores vermelha e amarela, conforme indicado no projeto das fachadas.
o Cerâmica
Para paredes em ambientes internos: cerâmica 10 x 10
centímetros na cor branco da linha Cristal da marca Elizabeth ou similar.
111
- Para paredes em ambientes externos: cerâmica 10 x 10
centímetros nas cores branco, cristal vermelho e lux cardinal da linha Pastilha
da marca Elizabeth ou similar.
9.5.7. PISO
Para áreas internas: piso em manta vinílica 3mm de espessura Tarkett,
referência 3242850. Para áreas com padrões desenhados no piso, serão
utilizadas as cores da linha IQ Optima nas cores de referências 3242869,
3242843 e 3242824. O piso tátil para áreas internas também deverá ser vinílico.
Figura 104: Referências de acabamento do piso vinílico
Fonte: tarkett.com.br, 2015.
o Para áreas externas:
Para rampas: Piso antiderrapante de borracha na cor cinza.
Para banheiros: Piso em cerâmica categoria PEI 5 1.00 x 1.00
metros, cor branca.
Para demais áreas externas: Nas vagas externas de
estacionamento será utilizado o piso intertravado do tipo cobograma, sendo
um bloco de concreto intercalado com grama. Para as áreas de calçada
será utilizado o piso intertravado de forma retangular nas cores verde,
amarelo, vermelho e azul, com assentamento tipo espinha-de-peixe.
112
Figura 105: cobograma
Fonte: lajestimbi.com.br, 2015.
Figura 106: Piso intertravado retangular assentamento tipo
espinha de peixe
Fonte: equipedeobra.pini.com.br,
2015.
9.5.8. ELEVADORES
Considerando que os elevadores utilizados na edificação percorrerão no
máximo três pavimentos, sugere-se o uso do elevador sem casa de máquina,
modelo Gen2, referência Otis. Este tipo de elevador ocupa menos espaço possui
baixa interferência no processo construtivo.
Figura 107: Elevador modelo Gen2 - Otis.
Fonte: otis.com.br, 2015.
Especificações:
Fabricante: Otis
Capacidade: 10 passageiros
Velocidade: 1m/s
Paradas: 4
Dimensão da cabine: 1,35 x 2,30 x
1,10 (LxAxP)
Dimensão do poço: 1,40m no mínimo
113
9.5.9. LOUÇAS E METAIS
Aqui, são apresentadas algumas sugestões de louças e metais a serem
utilizados nos banheiros de acesso ao público.
Figura 108: Bacia com caixa acoplada Quadrata P440, Deca.
Fonte: deca.com.br, 2015.
Figura 109: Mictorio M721, Deca
Fonte: deca.com.br, 2015.
Figura 110: Cuba de semi-encaixe retangular L733
Fonte: deca.com.br, 2015.
Figura 111: Misturador para lavatório de parea 1878
Fonte: deca.com.br, 2015.
114
9.5.10. RESERVATÓRIO
O cálculo para a quantidade de água necessária para a edificação foi feito
considerando os seus diversos usos separadamente para posteriormente soma-
los. Multiplica-se a área ou número de usuários correspondentes pela
quantidade de litros diários constantes na NBR 5626/98 – Instalações Prediais
de Água Fria. Após consulta à norma, foram retirando os seguintes valores
aplicados ao projeto:
- Prédios públicos / Escritório: reserva de 50L por pessoa. Estimando cerca
de 60 servidores ao todo, temos que 60 x 50 = 3000L;
- Para cinemas, teatros e auditórios: reserva diária de 2L/lugar. Para um
público de 5000 pessoas por dia em eventos de cultura nerd/geek em somatório
aos servidores tem-se 5060 x 2 = 10120L;
- Restaurantes: reserva de 25L/refeição. Estimando uma média de 200
refeições servidas por dia entre Maid Café, restaurante e barcade, calcula-se
200 x 25 = 5000L;
- Áreas educacionais: reserva de 50L por pessoa. Estimando 100 alunos
por dia: 100 x 50 = 5000L ;
- Fliperama / RPG: 50L por pessoa. Estimando 60 usuários diários: 60 x 50
= 3000L;
- Jardins: 1,5L por m². Onde: 4870m² x 1,5 = 7308L;
- Considerar reserva mais dois dias e acréscimo de reserva para incêndio.
Assim, temos que a capacidade total do reservatório deve ser de 80.227,2L,
correspondentes ao somatório 3000 + 10120 + 5000 + 5000 + 3000 + 7308 =
33428 x 2 x 1,2 (reserva para dois dias e incêndio, respectivamente) = 80.227,2L.
Por fim, optou-se por considerar uma quantidade final maior de 100.000L.
Considerando a grande quantidade de água a ser reservada, optou-se pelo
uso do reservatório externo elevado, sendo uma caixa de água tipo taça, por
ocupar pouco espaço e por poder ser utilizada como recurso estético para o
projeto devido à sua similaridade com o cano que faz parte do famoso jogo
Mario41. Sendo assim, o modelo pode receber um tratamento estético de maneira
a ficar mais parecido com o elemento de referência.
41 Série e franquia de jogos eletrônicos da Nintendo. Hoje é uma das séries de vídeo game mais vendida de todos os tempos, estando atualmente no primeiro lugar.
115
Figura 112: Cano do jogo Mario
Recordsoff.blogspot.com, 2015.
Figura 113: Caixa de água estido
taça
Fonte:
fazforte.com.br, 2015.
Especificações:
Fabricante: Faz
Forte.
Capacidade:
100.000L
Altura coluna:
4,80m
Altura taça:
7,60m
Diâmetro
coluna: 1,91m
Diâmetro taça:
3,82m
Altura cone:
1,00m
Altura total:
13,80m
9.5.11. ESTACIONAMENTO
O cálculo para a quantidade de vagas necessário para estacionamento foi
feito de acordo com a tabela constante no Código Obras da cidade de Natal.
Para o cálculo, foram consideradas as áreas de cada uso e depois somadas para
obtenção do número total de vagas. Após consulta ao código tem-se que:
- Para empreendimento de educação em geral, incluindo escolas de arte e
dança deve ser prevista 1 vaga / 60m². Logo, 2400 / 60 = 40 vagas.
- Locais de reunião pública, cinema, auditório, teatro e similares: 1 vaga /
50m². Temos que: 1100 / 50 = 22 vagas.
- Pavilhão de feiras e exposições: 1 vaga / 50m². Logo, 7652 / 50 = 154
vagas.
Ao todo, portando, devem existir 216 vagas (40 + 22 + 154), considerando
a reserva de 1% para portadores de necessidades especiais. Como o
estacionamento encontra-se em subsolo, optou-se por situar as vagas especiais
no nível térreo, próximo à entrada principal.
116
9.5.12. CLIMATIZAÇÃO
Devido à grande extensão do edifício e pela quantidade de painéis de vidro
como fechamentos externos, optou-se pelo uso do VRF – Volume de
Refrigerante Variável. Trata-se de um tipo de sistema de ar condicionado central
comumente conhecido com Multi-Split que funciona com uma unidade externa
de condensamento ligada a várias unidades internas de evaporação, podendo
chegar a 64 evaporadoras por condensador. Neste sistema, cada ambiente pode
funcionar independentemente de acordo com as programações do usuário.
A versatilidade do VRF é a grande vantagem considerada para a escolha
deste sistema para o projeto, uma vez que permite maior distância entre a
unidade externa e as internas, podendo variar entre 100 e 1000 metros de
comprimento máximo de tubulação e de até 50 metros de desnível, conforme
fabricante.
As máquinas serão acomodadas na cobertura do edifício, em lajes
técnicas indicadas na respectiva prancha de projeto.
Figura 114: Sugestão de condensador – Multi V IV,
fabricante LG
Fonte: lg.vrf.com, 2015.
Figura 115: Sugestão para evaporador - 4Way Cassete Geração 4 - fabricante LG
Fonte: lg.vrf.com, 2015.
117
9.6. INDICAÇÕES BOTÂNICAS
Neste item serão sugeridas algumas espécies botânicas a serem utilizadas
nas áreas verdes do projeto.
IMAGEM DADOS LOCAL DE
IMPLANTAÇÃO
Figura 116: Pinheiro-de-buda
Fonte: jardineiro.net,
2015
Nome Científico: Podocarpus macrophyllus. Nome Popular: Pinheiro de Buda, Pinheiro budista, Podocarpo, Podocarpus. Família: Podocarpaceae. Categoria: Arbustos, árvores, árvores ornamentais, bonsai, cercas vivas. Clima: Oceânico, Subtropical, Temperado, Tropical. Origem: Ásia, China, Japão. Altura: 4,7 a 6,0 metros. Luminosidade: Meia sombra, sol pleno. Ciclo de vida: Perene.
Entrada de pedestres.
Figura 117: Ligustro
Fonte: jardineiro.net,
2015
Nome Científico: Ligistrum sinense. Nome Popular: Ligustro-arbustivo, ligustro, alfeneiro da china. Família: Oleaceae. Categoria: Arbustos, cercas vivas. Clima: Tropical, Subtropical, Temperado, Mediterrâneo, Oceânico. Origem: Ásia, China, Coreia de Norte e Coreia do Sul. Altura: 1,2 a 1,8 metros. Luminosidade: Sol pleno. Ciclo de vida: Perene.
Cerca viva entrada principal.
Figura 118: Nandina
Fonte: jardineiro.net,
2015
Nome Científico: Nandina domestica. Nome Popular: nandina, avenca japonesa, bambu celeste, bambu do céu. Família: Berberidaceae. Categoria: Arbustos, cerca viva. Clima: Tropical, Subtropical, Continental, Oceânico. Origem: Ásia, China, Japão. Altura: 1,2 a 2,4 metros. Luminosidade: Meia sombra, sol pleno. Ciclo de vida: Perene.
Cerca Viva jardim de convivência e
de contemplação.
118
Figura 119: Buxinho
Fonte: jardineiro.net,
2015
Nome Científico: Buxus semperviren. Nome Popular: Buxinho, árvore da caixa, buxo. Família: Buxaceae. Categoria: Arbustos, bonsai, cercas vivas. Clima: Mediterrâneo, Subtropical, temperado, tropical. Origem: Ásia, Europa, Mediterrâneo. Altura: 1,8 a 2,4 metros. Luminosidade: Meia sombra, sol pleno. Ciclo de vida: Perene.
Jardim de contemplação.
Figura 120: Ipê-roxo
Fonte: jardineiro.net,
2015
Nome Científico: Tabebuia impetiginosa. Nome Popular: Ipê Roxo Família: Bignoniaceae. Categoria: Árvores, árvores ornamentais. Clima: Equatorial, Subtroprical, Tropical. Origem: América do Sul. Altura: 6.0 a 9.0 m. Diâmetro: 8m. Luminosidade: Sol Pleno. Ciclo de vida: Perene.
Jardim de convivência.
Figura 121: Pata-de-vaca
Fonte: jardineiro.net,
2015
Nome Científico: Bauhinia variegata. Nome Popular: Pata de vaca. Família: Fabaceae. Categoria: Arbusto, árvore. Clima: Subtropical, Tropical, Tropical de altitude, Tropical úmico. Origem: Índia. Altura: 9m. Diâmetro: 6m. Luminosidade: Sol pleno. Ciclo de vida: Semi-perene.
Estacionamento da entrada principal.
Figura 122: Cássia-do-
nordeste
Fonte: jardineiro.net,
2015
Nome Científico: Senna spectabilis. Nome Popular: Cássia do Nordeste. Família: Fabaceae. Categoria: Árvores. Clima: Tropical. Origem: Região Nordeste. Altura: 9m. Diâmetro: 6m. Luminosidade: Sol pleno. Ciclo de vida: Perene.
Jardim de Convivência.
119
Figura 123: Grama-esmeralda
Fonte: jardineiro.net,
2015
Nome Científico: Zoyzia japônica. Nome Popular: Grama esmeralda. Família: Poaceae. Categoria: Gramados. Clima: Tropical, Temperado, Subtropical, Mediterrâneo, Equatorial. Origem: Ásia, China, Japão. Altura: Menos de 15cm. Luminosidade: Sol Pleno. Ciclo de vida: Perene.
Áreas verdes e de convivência.
Figura 124: Oiti
Fonte: jardineiro.net,
2015
Nome Científico: Licania tomentosa.. Nome Popular: Oiti. Família: Chrysobalanaceae.. Categoria: Árvores, árvores ornamentais. Clima: Tropical, Oceânico, Equatorial. Origem: América do Sul, Brasil. Altura: 9.0 a 12 metros. Diâmetro: 8m. Luminosidade: Sol pleno. Ciclo de vida: Perene.
Jardim de convivência.
Figura 125: Acácia Mimosa
Fonte: jardineiro.net,
2015
Nome Científico: Acacia podalyriifolia. Nome Popular: Acácia mimosa. Família: Fabaceae. Categoria: Árvores, árvores ornamentais. Clima: Tropical e Subtropical. Origem: Austrália. Altura: 6.0 a 9.0 metros. Diâmetro: 6m. Luminosidade: Sol pleno. Ciclo de vida: Perene.
Jardim de Convivência
120
Considerações Finais
A escolha de um projeto de grande porte com uma temática tão específica
como um Centro Cultural e de Eventos com foco na cultura nerd foi bastante
gratificante, dada a identificação pessoal com o tema e a possibilidade de
estudar algo novo, considerando que durante a graduação não foi tido nenhum
tipo de contato com este tema. Também foi bastante engrandecedor poder
estudar os conceitos e estratégias de multifuncionalidade e flexibilidade do
ambiente construído, assim como aplica-las ao projeto elaborado.
A já citada identificação pessoal da autora com a temática constituiu uma
grande vantagem para a concepção deste espaço, uma vez que por fazer parte
do público alvo há anos, foi possível estudar e elaborar a proposta projetual mais
a fundo, partindo de dentro da tribo urbana e não apenas de estudos de
referências.
Como principal dificuldade, houve a falta de referências de espaços
similares ao objetivado neste trabalho, bem como o grande porte do projeto, uma
vez que durante a graduação não foi tida a oportunidade de trabalhar com o
projeto arquitetônico dessas proporções e lidar com suas especificidades.
Deve ficar registrada uma certa insatisfação por não ter sido possível
elaborar o projeto do Jardim Japonês, porém, tem-se consciência de que este
tipo de paisagismo requer um estudo muito aprofundado e exato, dadas as suas
simbologias e filosofias. Isto ocuparia muito tempo da fase de estudos teóricos e
de referência, bem como da concepção de projeto em si, o que acabaria
resultando numa incapacidade de dar a devida atenção tanto ao edifício quanto
ao jardim. Por isso, as prioridades necessitavam ser traçadas, sendo a maior
delas o espaço do centro cultural em si.
Contudo, os objetivos traçados ainda no Plano de Trabalho elaborado
para este Trabalho Final de Graduação foram alcançados, pois foi possível
conceber um espaço de cultura e eventos multifuncional e flexível com foco na
cultura nerd e bastante atenção à conexão com os espaços verdes, podendo
funcionar como um espaço público de convivência, contemplação e cultura não
apenas para a tribo urbana em questão, mas para toda a população da cidade
de Natal.
121
REFERÊNCIAS
Associação Brasileira de Normas Técnicas NBR 9050: 1994.
Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências a edificação, espaço
mobiliário e equipamentos urbanos / Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Rio de janeiro: ABNT, 1994.
Associação Brasileira de Normas Técnicas NBR 9050: 1994.
Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências a edificação, espaço
mobiliário e equipamentos urbanos / Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Rio de janeiro: ABNT, 1994.
BRASIL, Natal. Lei Complementar n°055, de 27 de janeiro de 2004. Institui
o Código de Obras e Edificações do Município de Natal e dá outras providências.
Prefeitura de Natal. Natal, 2004.
BRASIL, Natal. Lei Complementar n° 082, de 21 de junho de 2007. Dispõe
sobre o Plano Diretor de Natal e dá outras providências. Prefeitura de Natal.
Natal, 2004.
BRANDÃO, Douglas Queiroz; HEINECK, Luiz Fernando Mählmann.
Estratégias de flexibilização de projetos iniciadas na década de 1990 no Brasil:
tão-somente um recurso mercadológico? Ambiente Construído, Porto Alegre, v.
7, n. 4, out.
/dez. 2007. Disponível em:
<http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/6850/1/2007_art_lfmheinec k.pdf>.
Acesso em: 16/03/2015.
BRANDÃO, Douglas Queiroz; HEINECK, Luiz Fernando Mählmann.
Formas de aplicação da flexibilidade arquitetônica em projetos de edifícios
122
residenciais multifamiliares. 1997. Disponível em:
<http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/7126/1/1997_eve_lfmheineck.PDF
>. Acesso em: 16/03/2015.
CÓDIGO DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO DE PÂNICO DO
ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE. Disponível em <
adcon.rn.gov.br/ACERVO/cbm/doc/DOC000000000076902.PDF>. Acesso em:
13/03/2015.
COMIC CON. Comic Con International: San Diego. Disponível em <
http://www.comic-con.org/about> Acesso em: 14/03/2015.
CONCURSOS DE PROJETO. Centro Cultural, de Eventos e Exposições
de Paraty. Disponível em < http://concursosdeprojeto.org/2014/03/22/premiados-
centro-cultural-de-eventos-e-exposicoes-de-paraty-rio-de-janeiro/> Acesso em:
14/03/2015.
DZIURA, Giselle Luzia. Arquitetura Multifuncional como Instrumento de
Intervenção Urbana. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Curitiba. 2003.
JARDIM JAPONÊS DE BUENOS AIRES. Disponível em <
http://www.jardinjapones.org.ar/> Acesso em: 14/03/2015
MORAIS, Janyffer Cavalcante de. Check Point: Centro de Lazer e Cultura
Nerd. 2012. Trabalho Final de Graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo
– Universidade Federal do Rio Grande do Norte;
PINTO, Gabriela Baranowski; PAULO, Elizabeth de; SILVA, Thaisa
Cristina. Os Centros Comunitários como espaço de lazer comunitário: O caso de
123
Belo Horizonte. Revista de Cultura e Turismo – CULTUR, ano 06 – n° 02. Junho,
2012. Belo Horizonte.
SILVA, Kelson de Oliveira. Lazer, Espaço Público e Qualidade de Vida na
Capital Potiguar: Ensaio Exploratório. In: Revista Turismo – Estudos e Práticas.
Mossóro, 2012.
124
APÊNDICES
Apêndice 01: Entrevista realizada com o diretor geral do SAGA
Entretenimento;
1. Como surgiu o SAGA Entretenimento e como foi sua evolução até se
conformar da maneira que é hoje? Quantas edições já foram realizadas?
R: O SAGA surgiu de uma parceria que foi firmada um ano antes da primeira
realização; Em 2004 tomei a iniciativa de organizar o “I Festival de Cultura
Japonesa do CEFET-RN”, foi uma semana de atividades relacionadas a cultura
japonesa (exibições de animês, gibiteca de mangás, oficina de origami,
workshops de língua japonesa, exposição de itens de famílias imigrantes, etc.
Em 2005, o grêmio da instituição (Grêmio Estudantil Djalma Maranhão) estava
desenvolvendo um evento voltado para o público jogador de RPG e me convidou
para auxiliar, trazendo atividades relacionadas à cultura japonesa pro evento. Ao
longo da organização, o RPG foi perdendo espaço à medida que o interesse dos
organizadores originais do evento reduzia. Quando foi realizado, a única
característica que havia restado dos “Role Playing Games” no SAGA era o nome
(Saga significa uma sucessão de histórias, aventuras, contos, etc.) O nome do
evento durante sua primeira realização era “Saga de Entretenimento”.
O sucesso percebido pelos comentários do público e a quantidade de
gente que visitou o CEFET no dia (mais de 600 pessoas no dia 08 de outubro de
2005) fez com que eu tivesse interesse em profissionalizar o evento. Em 2006 e
2007 levei o SAGA para o antigo Shopping Orla Sul (hoje UNP Roberto Freire)
e em 2008, 2010 e 2011 firmei uma parceria com o Colégio CDF e a Faculdade
Maurício de Nassau. Em todos os anos o evento teve crescimento de público em
relação à realização anterior.
Desde 2013 o SAGA e o Re:SAGA (evento spin-off que surgiu da
demanda do público por atividades no segundo semestre) ocorre no Centro de
Convenções de Natal.
SAGA 2005
125
SAGA 2006
SAGA 2007
AnimeSun (2008)
SAGA 2010
SAGA 2011
SAGA 2013
Re:SAGA 2013
SAGA 2014
(Re:SAGA 2014)*
Total de 10 eventos até agora.
2. Quais as principais transformações no público e
atrações/atividades com o passar dos anos? É possível perceber alguma
tendência de transformação futura?
R: O evento foi perdendo o aspecto de “Cultura Japonesa” para “Cultura
Oriental” com o tempo. E hoje vem deixando de ser relacionado à “Cultura
Oriental” para se definir como um evento de “Cultura Pop”. Saiu do nicho animê,
mangá, cosplay, etc. para tentar abranger mais temas: séries, filmes, games,
livros, internet, etc.
3. Qual atração/atividade pode ser considerada a principal? Quais
não podem faltar de maneira alguma?
R: Convidados de renome nacional: sejam produtores de conteúdo para
internet (youtubers); dubladores, cantores, etc. Tem de ter grandes convidados.
4. Quais os fatores considerados no momento de fazer o zoneamento
do espaço do evento? Ou seja, que motivos levam à escolha da localização de
cada atividade?
R: O espaço físico em que o SAGA se realiza hoje restringe bastante nossa
área de atuação. No entanto, levamos em consideração a circulação do público;
E prevemos que ele tenha que andar o máximo possível até chegar a um grande
126
hub de atividades (League of Legends, Vídeo Games, Palco Principal); Levamos
em consideração também a poluição sonora gerada por cada atividade.
5. Já foi necessário retirar alguma atividade/atração do programa por
falta de um espaço adequado para tal?
R: Sim, desde abril/2013 não há salas de exibição de filmes, animes, séries,
etc.
6. Como deve ser um espaço para que seja considerado apropriado
para a realização do SAGA? (caso já considere o local atual apropriado é só
desconsiderar essa pergunta).
R: Para mim, um espaço que tenha um vão livre grande o suficiente para
montar um palco de dimensões consideráveis (14m x 6m x 5m) com
atividades satélites no entorno; Além de salas bem equipadas para hubs de
atividades diversas. Em Natal, especificamente, o uso do complexo ABC
junto com o Pavilhão Morton Mariz do Centro de Convenções de Natal.