Post on 30-Mar-2016
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Fundamentação: A elaboração deste trabalho tem como objectivos principais fazer uma análise e abordagem critica, tendo em conta a nossa perspectiva e experiências de vida, sobre a evolução da sociedade portuguesa, nos seus mais variados aspectos; social, económico, urbanístico, e a interculturalidade existente no nosso país. Para além disso este trabalho pretende também abordar e evidenciar, alguns dos núcleos geradores dos referenciais de Competência - Chave, mais concretamente, Língua Cultura e Comunicação (CLC), nomeadamente o Núcleo Gerador de urbanismo e mobilidade, e o referencial de Cidadania e Profissionalidade (CP), no que diz respeito aos núcleos geradores de identidade e alteridade, reflexividade e pensamento critico, e abertura moral. O retrato social de Portugal Após o visionamento do filme da autoria de António Barreto, sobre o retrato da
sociedade portuguesa contemporânea. Tenta responder às
perguntas mais simples. Quem somos? Onde vivemos? Como
trabalhamos? Que saúde, que educação e que justiça temos?
Para isso, o autor recorre à comparação com o que éramos há três ou quatro décadas
e sublinha especialmente as grandes mudanças ocorridas desde então. É o mesmo
país, mas os portugueses já não são os mesmos.
Mudámos muito, em pouco tempo. Podemos viver melhor ou não, mas vivemos de
modo diferente.
Os portugueses são hoje muito diferentes do que eram há trinta anos. Vivem e
trabalham de outro modo. Mas sentem pertencer ao mesmo país dos nossos avós. É o
resultado da história e da memória que cria um património comum. Nascem em
melhores condições, mas nascem menos. Vivem mais tempo. Têm famílias mais
pequenas. Os idosos vivem cada vez mais sós.
O trabalho mudou muito nestas últimas décadas. A maioria dos portugueses trabalha
nos serviços. Poucos trabalham na agricultura e ainda menos nas pescas. Muitos
emigraram. As mulheres são metade das pessoas que trabalham, o que é uma grande
diferença com o passado recente. Com a integração europeia, a economia portuguesa
fez uma grande mudança. Todos vivem melhor, mas há muitas empresas que não
conseguiram adaptar-se às novas condições.
A sociedade contemporânea, urbana, era ainda há pouco tempo rural. Mudou muito
depressa. Muitos portugueses emigraram, a maior parte saiu
das aldeias e foi viver para as cidades e para o litoral. O campo
está despovoado. As cidades cresceram. As estradas
aproximaram as regiões. Nas áreas metropolitanas, organizou-
se uma nova vida quotidiana. Há mais conforto dentro das casas, mas as condições
de vida nas cidades são difíceis.
Há quarenta anos, havia só um povo, uma etnia, uma língua, uma cultura, uma religião
e uma política. Hoje, Portugal é uma sociedade plural. Primeiro a emigração e o
turismo, depois a democracia, finalmente os imigrantes estrangeiros, fizeram de
Portugal uma sociedade aberta. Falam-se todas as línguas, reza-se a todos os
deuses, há todas as convicções políticas. Os Portugueses aprendem a viver com os
outros.
Com a sociedade aberta, a democracia, a integração europeia e o crescimento
económico, os Portugueses são hoje cidadãos plenos pela primeira vez na sua
história. Têm os direitos políticos e sociais e as respectivas garantias. As mulheres são
iguais aos homens. Mas a justiça, que deveria acompanhar este progresso e adaptar-
se à nova sociedade, tem dificuldades em garantir os direitos dos cidadãos.
As famílias portuguesas têm hoje mais rendimentos e mais conforto. Em vinte ou trinta
anos, o bem-estar melhorou mais que nos cem anteriores. Cresceram as classes
médias. Desenvolveu-se a sociedade de consumo de massas. O comércio, as modas,
a escola, a televisão e a cultura fazem uma sociedade onde todos parecem iguais.
Mas subsistem diferenças muito importantes de classes, de poder económico, de
geração, de sexo e de região.
Portugal já não se distingue, na Europa, como o país da ditadura, da pobreza e do
analfabetismo. Embora ainda atrasado, os Portugueses são
hoje cidadãos livres e têm acesso aos grandes serviços do
Estado de Protecção Social. A educação, a segurança social
e a saúde são para todos. Mas ainda há insuficiências,
corrupção e desperdício. E deficiências na saúde, na educação, na segurança social e
na justiça.
Depois de analisarmos este filme, de um verdadeiro e profundo retrato nacional, no
que diz respeito à evolução do meio rural em Portugal
podemos concluir que: Pelos anos 50 Portugal tinha um
extenso e populoso "mundo rural", ou melhor, era ele
mesmo um país rural. Para além de Lisboa e Porto quase
só havia vilas grandes, não as cidades médias de hoje. Os
centros urbanos eram áreas minúsculas num espaço tomado e gerido pela população
agrícola. Esta estava compreendida entre dois pólos: uma minoria de famílias
senhoriais, proprietários, e lavradores abastados e uma legião de criadas e criados de
lavoura, que competiam por uma malga de caldo. Mais de metade da população vivia
no campo e a economia nacional dependia deste, poderemos dizer também que até
ao meio do século XX, Portugal estava ainda dividido entre a agricultura e uma
possível industrialização, no inicio da década de 60, desponta a grande ruptura na vida
do país. Este “cabaneiro” parte, aquele pastor faz o mesmo. Não para o Brasil mas
para a Europa. Nos anos 60, outros assalariados rurais, caseiros e pequenos
agricultores, cansados da enxada, fartos do carrego do estrume e da pobreza, abalam.
A guerrilha em África também estimula o salto de alguns. É a debandada geral. Nas
aldeias e campos ficam idosos, crianças e lavradeiras. Os campos distantes ficam
incultos e outros, mais na mão das viúvas de vivos.
Paris, Lisboa e Porto simbolizam o destino dos homens. As áreas em redor ganham
barracas e perdem humanidade. Mas só 11 meses no ano, pois as “vacanças,” e as
férias na terra, a par do trabalho agrícola que se retoma, fazem esquecê-la. Em cada
casa há braços abertos à espera, em igual número aos que voltam por pouco tempo.
E a ideia da conta no banco a crescer, da casa em construção, do lameiro debaixo de
olho, quiçá do café a abrir, enfim, do retorno um dia, também ajudam às agruras do
dia-a-dia em terra de falares e modos estranhos, alguns dos quais se assimilam. Ano
após ano, uns chamam e levam outros. Para quem vai a partida até custa menos.
Outros metem-se sós à aventura. E o povo despovoa-
se, desvitaliza-se e envelhece. Em suma, antes da
entrada de Portugal na CEE já os portugueses se
tinham precipitado legal e ilegalmente na Europa,
carente do seu trabalho aplicado e dócil. E a partida
para as terras ricas da Europa tornou-se um hábito, que se estendeu depois às
mulheres jovens e hoje mesmo às crianças, embora as estadas
tenham passado a ser de mais curta duração. E o impensável
ontem acontece hoje: aldeias, há onde já não se festeja o Santo
padroeiro.
A indústria inicia-se nos anos 50 e toma corpo, a olhos vistos, na década seguinte. Às
estradas, barragens, e empresas do ferro e cimentos segue-se a indústria
transformadora, onde pesa o investimento externo, que é atraído pelos baixos salários.
Do ponto de vista do emprego criado, porém, Portugal não chega a ser propriamente
um país industrial. Num repente o sector agrícola supera todos os outros. Em qualquer
caso, a indústria cresce a um ritmo anual vertiginoso. As trocas comerciais
intensificam-se. A mão-de-obra masculina falta e os salários sobem. À chamada do
trabalho nas fábricas e nos serviços respondem as mulheres. Instala-se e cresce a
pluriactividade, sobretudo com a industrialização difusa. A terra dá o pão de cada dia,
a fábrica o salário mensal.
Enquanto, inúmeros portugueses partem para trabalhar na Europa, chegam para férias
no Algarve os Europeus. Sol, praia, e comida portuguesa é quase quanto basta. No
entanto a construção civil explode e chegam a todo o litoral algarvio empreiteiros,
trolhas, e carpinteiros e erguem-se os bairros, torres de betão. No final dos anos 60,
as receitas do turismo mais as remessas dos emigrantes ajudam a tapar buracos
financeiros, do próprio país, entre elas podemos destacar as despesas militares, por
esta altura Portugal vivia em plena guerra colonial. Com os “franceses” chegam às
aldeias os carros nunca vistos, o Ricard, o leite UHT e outros bens desconhecidos, a
par de histórias e notícias sobre os modos de vida alheia. E em cada verão nas lojas
de electrodomésticos das vilas e cidades não há mãos a medir. Dá-se início a novos
rituais festivos, por exemplo nos casamentos, e as notas de francos passam a enfeitar
os andores dos santos da terra quando em procissão. Os “cabaneiros”, caseiros e
outros pobres sem terra viram ricos, mesmo que tão só, apenas a nível local.
Parte dos salários dos emigrantes fertilizam a própria agricultura, agora
progressivamente reduzida às terras mais produtivas e
próximas das aldeias, com o êxodo de muitos portugueses, na
década dos anos setenta as áreas de cultura, baixaram
drasticamente, relativamente, ao período da década de
sessenta. Entretanto, compram-se muito mais adubos, pesticidas, motores e tubos de
pvc para rega, e tractores. Em 40 anos a química e a mecânica instalam-se nos
campos. Da vila ou da cidade chegam também sementes, rações e gasóleo. Inicia-se
desta forma uma grande mudança tecnológica, na agricultura
portuguesa, no entanto os agricultores, descobrem áreas mais
rentáveis, tais como tratar de animais e passam a cuidar menos
dos terrenos. A sua presença no mercado de produtos começa a crescer. No entanto
com o avançar da guerra em África, existe uma grande falta de mão-de-obra, situação
esta que se faz notar, quer a nível social, económica e política do país.
Com ela chega a revolução não violenta de 74, (25 de Abril de 1974). O arcaico
edifício político do país é demolido e vai-se construindo um outro, com grandes portas
e janelas rasgadas. Neste cabem já a palavra livre, oral e escrita, os direitos das
mulheres, os partidos, os sindicatos, as eleições livres, etc. Além de tudo isto, num
repente, aprofundam-se e alargam-se então os sistemas de educação, saúde pública,
segurança social, pensões e reformas, etc. Entre a década de 70 e a de 80 a
demografia altera-se notoriamente, como revelamos indicadores da taxa bruta de
natalidade, da esperança de vida à nascença, e a taxa de mortalidade infantil. A crise
e a "normalização" política e económica são vividas a sério durante a década 1974-85
e, entretanto, sem conhecerem o Tratado de Adesão à CEE, os portugueses abrem
mais a porta à Europa. Esta não se faz rogada e Portugal vira bom aluno, fazendo
trabalhos de casa como auto-estradas, vias rápidas, mais obras de betão e muita
telecomunicação. A que se junta a progressiva abertura e privatização da economia. E
o que era outrora inesperado acontece agora: um país ontem envergonhado, fatalista
e na cauda da Europa surpreende-se hoje confiante e no pelotão da frente.
Com as deslocações pela Europa e pelo país, o Portugal dos pequeninos sai da aldeia
e espanta-se com a cidade, o mar, o verde do Minho, as serras e serras de Trás-os-
Montes e com os próprios conterrâneos das demais “províncias”. Então não são
mesmo estranhos, os falares algarvio e alentejano? Mas os
portugueses espantam-se mais com os europeus, patrões lá
fora e turistas cá dentro. Com as viagens transcontinentais a
que a tropa e a guerra obrigam os portugueses surpreendem-
se ainda mais com os povos africanos. Eles, todos, têm modos diversos de falar,
pensar, sentir e agir. As roupas, comidas e casas são outras. É a descoberta, a
comparação das grandezas e das misérias de todos, sociedades e territórios.
Inevitavelmente, rasgam-se os horizontes culturais, dilatam-se as aspirações. E, com
dinheiro na carteira e no banco, os modelos e níveis de consumo mudam. Nas aldeias
surgem casas novas e renovam-se as velhas, Põe-se a luz, a casa de banho e a água
canalizada na cozinha. A esta chega também a arca frigorífica. Dá jeito para congelar
borregos, ou mesmo um vitelo. Nos últimos 20 anos o poder local também fez obras.
Para uns tratar-se-ia de notório desenvolvimento local. Para outros tão só o
crescimento urbano, patentes nas grossas fatias do orçamento municipal consumidas
na sedes dos concelhos. Entretanto, na economia e na sociedade, a agricultura
perdeu imenso peso.
Entre 1950 e1990. A percentagem dos que trabalham na agricultura no conjunto da
população activa, diminuiu drasticamente, todos estes factores fazem com que a
nossa agricultura não seja competitiva, argumenta-se, não abastecendo, portanto, os
hipermercados, existindo na comunidade europeia países mais ricos e mais
competitivos, adjacente a todo isto estão também ligadas as cotas de produção a que
cada pais da C.E. está obrigada a cumprir e a respeitar.
Por meados do século, o ultramar era também uma porta que se abria aos filhos rijos
das famílias pobres e numerosas, embora fosse difícil achar a chave própria cujo
nome era “carta de chamada”. Esta migração cresce um pouco nos anos 60, como
resposta à eclosão da guerra em África e com vista ao desenvolvimento das colónias,
mas foi quase sempre muito fraca. Ela, porém, alimenta directa e indirectamente e
logo após Abril de 74, e sobretudo em 75, avinda dos retornados. Para seu próprio
espanto e dos demais, a integração no país, país natal só para alguns, foi, no geral,
célere e pacífica. A História, mesmo a mais distante, deixa marcas e a partir dos anos
80 observa-se outra novidade: a chegada de imigrantes legais africanos e brasileiros
em número superior ao dos emigrantes legais portugueses.
Se é verdade que Portugal se transformou, no início dos anos 90, num “país de
“imigração”, uma vez que os fluxos de entrada de estrangeiros
passaram a superar as saídas de portugueses para o exterior,
não é menos verdade que o pequeno Estado da Península
Ibérica continua a ser um “país de emigrantes”. É muito verdade
quando fazemos esta afirmação, isto porque os portugueses,
muito cedo se ligaram às rotas da emigração e poderemos até dizer que colonizamos
uma grande parte do mundo.
Entre 1820 e 1930 a América foi a terra do sonho e das oportunidades para milhões de
europeus. Na Europa a revolução industrial e a mecanização dos
campos produzia desemprego e fome. Na América o fim da
escravatura abriu milhões de postos de trabalho. Durante todo o
século XIX e primeira metade do século XX um milhão e meio de
portugueses abandonou o país em busca de trabalho nos
Estados Unidos e no Brasil. Foi a primeira grande vaga da emigração portuguesa.
A emigração de Portugal continental dirigia-se sobretudo para o Brasil. O comércio do
Rio de Janeiro e de outras cidades brasileiras foi, durante anos, dominado por
portugueses. O monopólio era alimentado pela chamada “rota dos caixeiros”. Os
caixeiros eram mão-de-obra de confiança educada no norte de Portugal, Porto e Alto
Minho. As famílias nortenhas preparavam os filhos para trabalharem no Brasil.
Enviavam-nos ainda crianças, com 13, 14 anos para se empregarem como caixeiros
por conta de familiares. Trabalhavam dia e noite amealhando para se tornarem mais
tarde proprietários das lojas. Esta é a história desconhecida de muitos portugueses
célebres como o Conde de Ferreira, o Barão de Nova Cintra, Ferreira de Castro.
A partir de 1850, com o fim do tráfico de escravos inicia-se um outro período, mais
negro, da emigração portuguesa para o Brasil conhecido como escravatura branca. Os
fazendeiros brasileiros das explorações de café para compensar a falta de mão-de-
obra financiaram redes de clandestinidade para atrair mão-de-obra europeia.
Emigrantes que depois, nas fazendas, eram explorados como se fossem escravos.
Por volta de 1850 muitos portugueses participaram na célebre corrida ao ouro.
Fundaram colónias na Califórnia e contribuíram para a ocupação do território índio. As
viagens demoravam quase quatro meses e os emigrantes percorriam metade do globo
para chegar ao local de trabalho. A comunidade portuguesa do Havai chegou a ter 20
mil emigrantes.
Nos anos 60 os portugueses abandonam os campos e partem para a Europa.
O atraso secular de Portugal, os entraves à modernização da agricultura, o início da
guerra colonial e o endurecimento político do regime, empurram para fora do país os
camponeses, sem perspectivas e cansados de uma vida de miséria.
Em apenas alguns anos, mais de um milhão e meio de pessoas sai de Portugal.
Dessas, perto de um milhão vai para a França. A “salto”, clandestinamente,
atravessam a Espanha e os Pirenéus e instalam-se aos milhares nos bairros de lata à
volta da cintura de Paris, na chamada Ile de France. Para além deste destino
migratório Os portugueses começaram a chegar em força ao
Luxemburgo no final dos anos sessenta. Vinham quase todos "a
salto", via França, fugidos à miséria. Os portugueses tornam-se
entretanto nos pedreiros e nas mulheres-a-dias de quase todo o
Luxemburgo.
Formam ainda hoje grande parte da mão-de-obra empregue na construção civil. Mas
os antigos trabalhadores, sem eira nem beira foram melhorando a sua situação e
diversos conseguiram estabelecer-se. Hoje há mil e oitocentos empresários e algumas
grandes fortunas. São em geral pessoas humildes, os descamisados europeus dos
anos sessenta e setenta. Tiveram de abandonar o torrão natal, mas deixaram a sua
marca no Luxemburgo. Os portugueses continuam entretanto a afluir em grande
número a este pais.
O crescimento da população urbana supera o da população rural e na década de 60
esse crescimento da população urbana foi intensificado em consequência do forte
êxodo rural verificado.
Esse forte movimento do campo para a cidade levou a uma forte concentração
populacional junto do litoral, particularmente em torno das áreas metropolitanas de
Lisboa e do Porto. Esta situação provocou uma situação de domínio de duas grandes
cidades relativamente aos restantes centros urbanos, na estrutura urbana de Portugal.
A ausência de cidades portuguesas de média dimensão era a causa e a consequência
deste desequilíbrio.
Temos de admitir que somos um povo do “desenrasca”. Quando nos surge um
problema somos os melhores a resolvê-lo no instante, mas no entanto, sem pensar a
longo prazo. Vemos esta atitude aliada a praticamente tudo o
que fazemos e como não podia deixar de ser, os resultados
vêem-se, à distância! Somos um país com um território repleto
de particularidades: de um lado o mar, do outro as florestas; a
norte as montanhas e a sul as planícies. Quase que podemos
dizer que temos de tudo. Ora, com tanta diversidade geográfica presente dentro de
fronteiras, modelos não nos faltam de como gerir o território e planear o seu
desenvolvimento sustentável.
Com o regime do Estado Novo gera-se uma nova situação. A partir dos novos valores
defendidos, gerou-se um enorme centralismo no país que se reflectiu no
desenvolvimento das diversas cidades portuguesas. Lisboa passou a estar claramente
na proa do barco enquanto o resto de Portugal ficou esquecido bem ao fundo da ré.
Agravando o facto de se estar a incutir ao país uma ideia una do nacionalismo. Ora,
deste modo, tudo o que estava dentro de fronteiras teria de ser igual de norte a sul e
de este a oeste. Ignorou-se a extrema diversidade do nosso país e sucessivamente
construiriam-se obras que na sua coerência linguística não se integravam
geograficamente em lado nenhum a não ser apenas na ideia errada de que esses
modelos eram válidos para todo o país. A certa altura as cidades começaram a ser
cada vez mais semelhantes. Encontramos os mesmos elementos que as caracterizam
de norte a sul, numa tentativa de lhes dar uma unidade formal. E enquanto em Lisboa
se assistiu ao rasgar de enormes avenidas e à edificação das grandes obras do
estado, Portugal é quase deixado ao abandono perante tanta dedicação à capital.
Com a revolução de 1974 e com a descoberta de uma nova liberdade por parte do
povo português, as próprias cidades começaram também a respirar uma nova
liberdade formal. Uma vez que grande parte dos valores locais tinham sido já
castrados ao longo do século, desenvolve-se uma ideia de que se pode fazer qualquer
coisa e em qualquer sítio (agora tudo é possível). É preciso notar também que em
termos globais, estávamos numa fase em que o modernismo já não se conseguia
dissociar da ideia de que apenas servia para um sector da sociedade (mesmo que
contrário aos seus próprios princípios).
Numa época pós-moderna, que se estende até aos nossos dias, a evolução dos
nossos centros urbanos e dos modelos de ocupação territorial em Portugal encontra-
se em claro declínio. Durante décadas usamos e abusamos de
todo o espaço e bom-senso disponível e o resultado é bem
visível: poucos são os locais no nosso território que ainda
mantém, de alguma forma, um carácter de preservação natural,
cultural e histórica. A nossa demanda de evolução para acompanhar a Europa
desenvolvida é tão sôfrega que apenas nos vai distanciando cada vez mais desse
objectivo.
O Urbanismo é feito por interesses. Fazem-se planos democratas, baseados nos
melhores modelos urbanos, no entanto, aqui quem manda é quem fala mais alto. Se é
necessário mudar ou ignorar o plano para responder aos interesses de alguém em
particular, isso faz-se na maior das liberdades e perante todos os olhares. E o
resultado está à vista: se não se pode construir em determinada zona, então altera-se
a sua designação para que seja agora legal a
construção. Isto porque quem faz as leis
também tem o poder para as modificar. E com
tantos interesses, com tantas oportunidades, com tantas ocasiões, as nossas cidades
são hoje profundamente difusas e desenquadradas territorialmente. As atenções
focam-se continuamente nos seus centros históricos (quando ainda resistem), abrindo
espaço para o circo nas periferias, onde tudo é possível fazer, sem ordenamento, sem
previsões, sem planeamento. À medida que as cidades se distanciam dos seus
centros mais antigos, os valores mudam e as preocupações (erradamente) também
mudam ou apenas ficam esquecidas. A pouco e pouco uma enorme malha
desordenada habita o território nacional, de Norte a Sul, de Este a Oeste e sem que
percebamos, vivemos continuamente na urbanidade, seja ela difusa e desordenada ou
centrada e mais ou menos planeada. O Urbanismo constrói-se assim, a partir das
oportunidades e dos interesses maioritariamente privados, gerado em conflitos e
vivendo de forma autista perante o território.