Post on 27-Jan-2021
Pedro Vitor Sousa Ribeiro
Universidade Federal de Alagoas
pedrovsribeiro@gmail.com
VERTICALIZAÇÃO, LUZ E SOMBRA NA PRAIA DE GUAXUMA, LITORAL NORTE DE MACEIÓ
Nádia Milena da Silva Barbosa
Universidade Federal de Alagoas
nadiamilena@gmail.com
Danielle Maria Lamenha Santos
Universidade Federal de Alagoas
danielle.lamenha@fau.ufal.br
Leonardo Salazar Bittencourt
Universidade Federal de Alagoas
lsb54@hotmail.com
Gabriella Restaino
Universidade Federal de Alagoas
gabeyres@gmail.com
1165
8º CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEAMENTO URBANO, REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL (PLURIS 2018) Cidades e Territórios - Desenvolvimento, atratividade e novos desafios
Coimbra – Portugal, 24, 25 e 26 de outubro de 2018
VERTICALIZAÇÃO, LUZ E SOMBRA NA PRAIA DE GUAXUMA, LITORAL
NORTE DE MACEIÓ
P.V.S. Ribeiro, D. M. L.Santos, N.M.S. Barbosa, L.S. Bittencourt, G. Restaino
RESUMO
A pesquisa discute o impacto da verticalização na condição de sombreamento e insolação
nas edificações e na faixa de areia na praia de Guaxuma, cidade de Maceió - Alagoas. O
objeto empírico compreende um recorte espacial entre o limite sul do bairro e o clube
social Sesc Guaxuma. Foram escolhidas duas configurações de implantação: edifícios mais
próximos à rodovia e à faixa de areia. Foi realizada uma análise qualitativa e quantitativa a
partir da observação direta, pesquisa documental e simulação com as ferramentas Ecotect e
Revit. Os resultados mostram que os índices urbanísticos não promovem insolação direta
nas áreas não edificadas - entre os prédios, faixa de areia e rodovia, na maior parte do
tempo. Demonstram também que para área destinada ao acesso direto à praia, de convívio
coletivo, há predominância de insolação durante o ano. Verificou-se ainda um impacto na
paisagem, principalmente para a comunidade residente.
1 INTRODUÇÃO
O crescimento das cidades, aliado à especulação imobiliária, tem mudado o cenário de
regiões como Maceió, onde o litoral norte tem sido considerado vetor de expansão desde
que o Plano Diretor permitiu a construção de edifícios de até 20 pavimentos na região à
beira-mar dos bairros de Cruz das Almas, Jacarecica, Guaxuma, Riacho Doce, Pescaria e
Ipioca. A verticalização proposta para a localidade contempla edifícios multifamiliares,
áreas de lazer privativas e desfrute da paisagem paradisíaca associada à região.
Os recentes empreendimentos imobiliários – construídos e em fase de comercialização,
propostos para um novo perfil de moradores, considerados de classe alta, contrastam com
as residências já consolidadas da região. Como exemplo disso está o bairro de Guaxuma,
atualmente ocupado por uso, predominante, residencial horizontal e que está em iminente
transformação tipológica. Esses empreendimentos têm ocupado áreas planas, de encosta e
à beira-mar, alterando a configuração espacial e criando novas condições ambientais.
Conforme Pereira et al. (2011) ações urbanas deste tipo são capazes de obstruir o acesso ao
sol e à luz comprometendo a habitabilidade. Espaços onde as edificações são colocadas
próximas umas às outras e com múltiplos pavimentos, podem causar sombreamento,
comprometendo a insolação e a iluminação natural dos ambientes internos e externos.
Segundo Assis (2002), a qualidade físico-ambiental está associada aos recursos naturais. A
insolação, a iluminação e a ventilação naturais influenciam a condição de habitabilidade
tanto para o convívio humano quanto para a fauna e a flora. Isto acarreta em
responsabilidade ambiental sobre o clima local e conforto ambiental dos edifícios. Para a
autora, uma das maneiras de garantir o direito ao sol e à luz natural é dispor, na legislação
urbana, de dispositivos que garantam acesso a estes recursos naturais.
Para a legislação urbana de Maceió, estes critérios apresentam-se na forma de
condicionantes para ocupação do solo, aproveitamento de área e parâmetros progressivos
associados ao número de pavimentos e recuos confrontantes. Para o bairro de Guaxuma, a
legislação prevê a verticalização associada à proposição de vazios conforme os recuos, as
taxas e os coeficientes de ocupação edilícia. Prevê, ainda, a implantação de edifícios
residenciais multifamiliares sendo restrita a ocupação por outras atividades.
Embora a verticalização na área altere a paisagem urbana, não se sabe ainda se é capaz de
interferir negativamente nas condições de habitabilidade acerca da insolação e do
sombreamento nas adjacências. Outro aspecto é a manutenção do acesso físico e público às
praias: hoje a chegada à praia dar-se pela circulação de pessoas nos terrenos baldios e,
considerando a plena ocupação destes lotes, haverá o comprometimento desse acesso.
Percebe-se, então, que a faixa litorânea do bairro de Guaxuma vivencia um processo de
verticalização e exploração imobiliária impulsionados pelo potencial paisagístico da região
e amparados por parâmetros urbanísticos propulsores para a ocupação residencial nesses
moldes. Assim, esta pesquisa discute o impacto da verticalização na condição de
sombreamento e de insolação nas edificações e na faixa de areia na praia de Guaxuma.
Utiliza-se como objeto um recorte espacial de 12 lotes compreendidos entre o limite sul do
bairro e o clube social Sesc Guaxuma.
2 OBJETIVO
Discutir o impacto da verticalização na condição de sombreamento e de insolação nas
edificações e na faixa de areia na praia de Guaxuma.
3 A LUZ E O MEIO AMBIENTE CONSTRUÍDO
Para Hopkinson et al. (1975) a luz natural possui vantagens como melhor qualidade,
efeitos estimulantes nos ambientes e valores mais altos de iluminação com menor carga
térmica. Embora varie constantemente ao longo do dia, as mudanças ocorrem de tal forma
que é possível uma boa adaptação visual.
Segundo Boyce (2003) é inegável a atuação da luz como condição ambiental, servindo
como fonte de estímulo fisiológico e emocional. Como afirmam Tregenza e Loe (2015),
“os padrões de luminosidade e cores afetam a saúde e o comportamento das pessoas”. E,
embora a entrada de luz solar nos edifícios seja importante, ela deve ser controlada,
defendendo o uso, para regiões tropicais, de aproveitamento máximo da luz do sol e
sombreamento ajustável.
4 VERTICALIZAÇÃO, ILUMINAÇÃO E SOMBREAMENTO GUIA PARA AS
REFERÊNCIAS
De acordo com Brandão (2004), na medida em que se adotam políticas de adensamento, a
verticalização surge como a alternativa mais viável, embora incida em problemas de
sombreamento e mesmo que os parâmetros urbanísticos em uso tenham regido a forma de
ocupação do solo, não garantem o melhor aproveitamento no controle de acesso ao sol. Esse
autor considera a radiação e a luz solares como recursos naturais, e, portanto, merecem
proteção ambiental. Nesse sentido, a legislação urbana é um instrumento capaz de preservar o
acesso a tais recursos, à medida que controla a geometria das edificações.
Em Maceió, destacam-se quatro parâmetros urbanísticos: coeficiente de aproveitamento;
taxa de ocupação; afastamentos mínimo e taxa de permeabilidade. Esses parâmetros não
oferecem garantias de acesso ao sol para as edificações vizinhas, mas taxas altas tendem a
reduzir a área edificada. Para Brandão (2004) dentre estes dispositivos, o uso de
afastamentos mínimos é o recurso tradicional para buscar a preservação do acesso ao sol.
Nunes (2011) salienta que a verticalização pode provocar perda da insolação natural,
prejuízo no conforto térmico e lumínico nas edificações e áreas circunvizinhas, o que
acarretaria no aumento da umidade nas áreas sombreadas, proliferação de fungos, bactérias
e potencializa a manifestação de doenças respiratórias.
5 A VERTICALIZAÇÃO DAS EDIFICAÇÕES NO LITORAL NORTE DE
MACEIO
O Litoral Norte de Maceió possui aproximadamente 20km de extensão e é cortado pela
rodovia AL-101 Norte, importante eixo de ligação entre Maceió e os municípios vizinhos,
como pode ser visto na Figura 1 Vias de acesso a outras áreas da cidade, como
EcoViaNorte ampliam as possibilidades de mobilidade na região que compreende os
bairros de Cruz das Almas, Jacarecica, Guaxuma, Garça Torta, Riacho Doce, Pescaria e
Ipioca, sendo considerada uma área em expansão e incorporada ao perímetro urbano da
capital. Possui baixa ocupação territorial e tem como principal atrativo os ecossistemas
litorâneos com paisagens de praias, coqueirais e riachos.
Fig. 1 Imagem da aérea da cidade de Maceió, com destaque para o litoral norte
Para esta área percebe-se que o processo de verticalização já iniciado na faixa litorânea
contrasta com a forma e os padrões das construções locais, afetando a dinâmica de
ocupação e comércio imobiliário. Isto incorre em diversas alterações, tais como:
parâmetros sociais, paisagem urbana, fatores ambientais, sanitários e de infraestrutura.
Para Cavalcanti e Sousa (2000) e Faria e Robalinho (2009) os parâmetros apresentados no
código de urbanismo têm versado sobre quatro enfoques: a) a altura das edificações na
planície litorânea e a consequente obstrução da visibilidade do facho sinalizador do farol
oceânico; b) a ampliação do volume edificado com o bloqueio da ventilação natural e seus
impactos sobre dispêndio de energia e conforto térmico; c) a obstrução dos mirantes
naturais de contemplação da paisagem; e d) o devassamento da intimidade dos
apartamentos com a proximidade das edificações.
6 O RECORTE ESPACIAL
Guaxuma é um bairro distante cerca de dez quilômetros do centro de Maceió, capital
alagoana e faz parte do setor urbano costeiro considerado um vetor de expansão da cidade,
um recorte espacial dessa região pode ser visto na Figura 2. Atualmente, conta com
residências, comércio, serviços e clubes sociais. Sua área edificada situa-se tanto no
tabuleiro quanto na planície costeira. A diversidade dos aspectos naturais e a beleza cênica
fazem deste bairro, um dos principais atrativos para quem procura a proximidade com a
natureza litorânea e o distanciamento da região central da cidade.
Fig. 2 -Praia de Guaxuma no Litoral Norte de Maceió
Para Nascimento (2007), a reconfiguração do espaço em curso associa-se à mudança sócio
espacial, questionando a possibilidade de equidade no acesso aos recursos naturais. Como
exemplo, cita-se o acesso direto à praia que, atualmente, dar-se através dos terrenos
baldios. Embora os lotes sejam contíguos, a locomoção até a beira da praia acontece nos
espaços vazios e com características de abandono.
Nesse sentido, e baseado nas demandas da população e nas diretrizes estabelecidas pelo
Plano Diretor e pelo Código de Urbanismo e Edificações de Maceió, já existe um plano de
acessibilidade viária para o Litoral Norte, elaborado pela Secretaria Municipal de
Planejamento, com o objetivo de planejar esta área da cidade. Além disso, ações oriundas
do Ministério Público tentam preservar o direito ao acesso estabelecendo parâmetros
espaciais. Neste caso, a cada 500m deve haver um acesso direto entre a via e faixa de areia.
Para o trecho definido como objeto empírico deste estudo, há a necessidade de, no mínimo,
1 (um) acesso.
7 METODOLOGIA
Inicialmente foi feita uma visita exploratória ao litoral norte de Maceió para definir a área
de atuação desta pesquisa. Para ampliar mais os conhecimentos sobre a região realizou-se,
também, uma pesquisa documental utilizando os mapas digitais da Google Maps. Como
objeto de estudo, delimitou-se, o limite sul do bairro até o clube social Sesc Guaxuma.
Foi elaborado um cenário misto de implantação em que, considerando as edificações já
existentes e os parâmetros urbanísticos da cidade, estimou-se a tipologia e uma lâmina de
20 pavimentos para os prédios que serão construídos na região. Além disso, como
intervenção para melhorar as condições impostas pela verticalização das edificações da
região em foco, propôs-se uma área pública de convívio coletivo, que, além de um espaço
de lazer, também garanta o acesso à praia para a comunidade local e para as pessoas que,
de maneira geral, visitem a região.
Um modelo computacional foi construído para realizar as simulações de insolação e
sombreamento nas edificações e na faixa de areia. Realizou-se um estudo paramétrico, com
a utilização dos softwares Ecotect e Revit para verificar a influência da altura e do
posicionamento das edificações na quantidade de horas de sol ao nível do solo, bem como
o percentual de horas o dia em que há sombreamento decorrente dos edifícios.
Esta pesquisa tem caráter quantitativo a partir das análises realizadas nos dados obtidos
através da ferramenta computacional Ecotect e, qualitativo, tomando como base as
informações obtidas através do software de simulação Revit. No primeiro foi disposta uma
malha 140x140 pontos, e nestes calculados os valores de horas de sol e percentual de
sombreamento ao longo de todo o ano, do nascer ao pôr do sol. No Revit foram geradas
imagens em posições estratégicas, como a praça da comunidade, a fim de verificar a
influência da existência das edificações na paisagem.
A aplicação do método foi realizada em dois cenários urbanos virtuais, aqui chamados de
Modelo 1 e Modelo 2, compostos por edificações em formato homogêneo em
parcelamentos regulares e alternados. No Modelo 1, configurou-se o adensamento mais
afastado da faixa de areia, já no Modelo 2, o adensamento foi implantado mais próximo da
faixa de areia.
A análise da iluminação natural e da insolação em ambientes urbanos pode ser feita através
de diferentes técnicas específicas. Nesta pesquisa foram apreciadas apenas as que
consideram a parcela incidente destes recursos, sem avaliar a interação entre as superfícies,
visando a simplificação do método proposto.
8 ANÁLISE DOS RESULTADOS
8.1 Modelos projetados
Foram projetados dois modelos com o máximo de adensamento permitido para a região.
Os edifícios já existentes, ou já previstos, ficaram fixos, enquanto que nos lotes vazios
foram locadas edificações em duas configurações: Próximas à rodovia (Modelo 1) e
próximas à praia (Modelo 2), como apresentado na Figura 3. Em destaque, na mesma
figura, está a intervenção proposta neste estudo: uma área de convívio coletivo que
também tem a função de ser uma passagem de acesso à praia, como solução para garantir
aos moradores locais e aos que visitam a região o acesso à praia de Guaxuma, bem como,
uma área de convívio coletivo para todos. Na Figura 4 é possível ver um esboço da
proposta para a intervenção.
Fig. 3 Modelo 1 (M1), com edifícios mais próximos à rodovia e modelo 2 (M2) com
edifícios mais próximos à praia
Fig. 4 Esboço da proposta para a área de convívio coletivo e de acesso à praia de
Guaxuma
Essa proposta contempla acesso a pedestres e veículos (para situações de emergência). A
circulação foi definida a partir dos caminhos naturais existentes no próprio local. Já a faixa
central de circulação apresenta-se com dimensão de 6,0m de maneira que o acesso seja
imediato quando necessário. Esta dimensão beneficia também a ampla circulação de
grupos de pedestres - caso torne-se ponto turístico, como acontece em outros pontos à
beira-mar da cidade de Maceió.
Mais próximo à faixa de areia, tem-se área para quiosque (para posto de emergência e/ou
segurança), duas áreas para parques infantis circundadas por bancos. Jardim e vegetação
rasteira recobrem quase toda a área. Isso permite uma maior permeabilidade do solo e
reduz o aquecimento do local, uma vez que a análise demonstra insolação na maior parte
do tempo. Confrontando-se com os terrenos laterais, estima-se área para jardim e possível
área para galeria para instalações necessárias à infraestrutura.
8.2 Análise dos resultados do Modelo 1
Uma das preocupações quanto à verticalização da região é a obstrução da visão da praia a
partir da comunidade, e da praça de convívio. Na Figura 5 é apresentada a perspectiva de
visão a partir do ponto supracitado. Observa-se que mesmo a comunidade estando em uma
cota mais elevada que o nível do mar (34 metros na praça) a obstrução pelas edificações da
visão do mar é grande, restando desobstruído apenas o lote do acesso proposto.
Fig. 5 Perspectiva de visão do mar a partir da praça no Modelo 1
Na Figura 6 apresenta-se a perspectiva de sombreamento da região para os dias de solstício
e equinócio ao longo do ano para às 07h30min da manhã. É importante notar que a forma
como as sombras se dispõem varia conforme a época do ano. No inverno há uma tendência
de que as regiões entre as edificações recebam insolação direta em consequência da
posição que o sol assume nesse período. Já no restante do ano as regiões de recuo entre os
edifícios encontram-se na maior parte do dia sombreadas.
Fig. 6 Perspectiva de sombreamento da região às 07h30min da manhã
A região da praia recebe insolação na maior parte do dia, entretanto, após o meio dia,
algumas regiões da faixa de areia já começam a ser sombreadas, como pode ser visto na
Figura 7. Esse efeito é agravado pela proximidade das edificações com a faixa de areia.
Nos períodos de primavera e verão a região passa até 21,8% das horas de sol do dia sob a
influência da sombra dos edifícios, enquanto que no outono esse percentual aumenta para
28%. No período do inverno há uma tendência de que as regiões entre as edificações, na
parte da tarde, fiquem totalmente sombreadas, fazendo com que este seja o período em que
a influência da sombra na região da areia fique menor.
Fig. 6 Perspectiva de sombreamento da região após o meio dia
Para os modelos com o máximo de adensamento permitido para a região, observa-se a
presença de sombreamento ao longo de todo o ano tanto na faixa de areia quanto na
comunidade localizada atrás do conjunto de edificações. Na figura 8, apresentam-se as
ocorrências de sombra em 3 locais de análise: a praça de convívio da comunidade de
Guaxuma, a rodovia AL101 Norte e a faixa de areia da praia de Guaxima. Observa-se que
o período do dia em que a praça fica encoberta pela sombra das edificações compreende
uma pequena porção do dia. Nos períodos de outono e inverno o percentual de horas do dia
que a localidade se encontra sombreada é de aproximadamente 6,3%, na primavera e verão
essa faixa amplia-se para 7,9%.
Fig. 8 Gráfico da duração do dia e intervalos de sombreamento no modelo 1
Esse período de sombreamento acaba, em todos os dias, no máximo, às 06h20min, o que
não configura um prejuízo relevante à comunidade. O fato da praça estar localizada em
uma cota mais alta que o nível das edificações (34m) faz com que os edifícios localizados
ao longo da linha de praia não a afete de forma significativa. O fenômeno estende-se até a
rodovia AL101 ao longo de todo o ano, em um período bem maior de tempo. Nas estações
de outono e inverno a rodovia fica sombreada em 29,8% das horas de sol do dia, já na
primavera e verão, esse percentual aumenta para 35,4%.
Outra forma de análise dos efeitos de sombreamento e insolação é através dos gráficos
disponibilizados pelo software Ecotect, como apresentado na Figura 9.
Fig. 9 Percentual de sombreamento e horas de sol ao longo do ano, para o modelo 1
Neste é possível observar que na região entre as edificações há uma redução de até 92% no
tempo de insolação, estando elas totalmente sombreadas na maior parte do dia. A rodovia,
neste modelo, encontra-se sombreada em até 42% das horas do ano, no prior caso, e a faixa
de areia possui regiões em que o sombreamento ocorre em 47% do ano. Observa-se
também que a maior parte da redução das horas de sol localiza-se junto à edificação, e que
sua sombra se projeta de forma diferente em direção à praia e à rodovia, fato que pode ser
explicado pelo relevo do local. As sombras das edificações mais próximas à praia
projetam-se para dentro do mar, possuindo até 21% das horas do ano com algum tipo de
sombreamento.
8.3 Análise dos resultados do Modelo 2
No modelo 2 os edifícios previstos foram deslocados todos para o limite mais próximo à
praia. A visão do mar a partir da comunidade da guaxuma pouco se altera, como
apresentado na Erro! Fonte de referência não encontrada.10. Percebe-se que em ambas
as configurações, a praça da comunidade, que possui como um de seus atrativos a vista do
mar, fica com a visão amplamente obstruída, negando à população o acesso à paisagem.
Fig. 10 Perspectiva de visão do mar a partir da praça no Modelo 2
Na Figura 11 apresenta-se a perspectiva de sombreamento da região para os dias de
solstício e equinócio ao longo do ano, para às 07h30min da manhã para o adensamento
mais próximo da faixa de areia. Assim como no Modelo 1, nota-se, no Modelo 2, que a forma como as sombras se dispõem varia conforme a época do ano. Nesse case, no verão
há uma tendência de que as regiões entre as edificações recebam insolação direta em
consequência da posição que o sol assume nesse período. Já no restante do ano as regiões
de recuo entre os edifícios encontram-se na maior parte do dia sombreadas.
Fig. 11 Perspectiva de sombreamento da região às 07h30min da manhã
A região da praia recebe insolação na maior parte do dia, entretanto, após o meio dia,
algumas regiões da faixa de areia já começam a ser sombreadas, como pode ser visto na
Figura 12.
Fig. 12 Perspectiva de sombreamento da região após o meio dia
Esse efeito é agravado pela proximidade das edificações com a faixa de areia. A incidência
do sombreamento é percebida já no período do verão, aumentando no outono e sendo
agravada nos períodos de inverno e primavera. Na figura 13 apresentam-se as ocorrências
de sombra em 3 locais de análise: a praça de convívio da comunidade de Guaxuma, a
rodovia AL101 Norte e a faixa de areia da praia de Guaxima para o modelo 2.
Fig. 13 Gráfico da duração do dia e intervalos de sombreamento no modelo 2
Comparando essa situação com a anterior observa-se um aumento entre 26%, no verão, e
37%, no inverno, do período de sombreamento da faixa de areia da praia. O período em
que ela fica sombreada aumenta, atingindo valores de até 42%. O período crítico de
sombreamento é no inverno, devido à posição solar em relação às edificações.
O percentual de horas de sombreamento da rodovia diminui consideravelmente, fazendo
com que outras regiões, dentro do lote, sofram tal influência. Os resultados podem ser
atestados pelas imagens em falsa-cor obtidas no Ecotect, e apresentadas na Figura 12.
Fig. 12 Percentual de sombreamento e horas de sol ao longo do ano, para o modelo
Na figura é possível observar que a influência do sombreamento da faixa de areia pelas
edificações é bem mais evidente que no modelo anterior, e que sua sobra avança para
dentro do mar alcançando maiores distâncias. Interessante notar que no modelo 1 apenas
alguns edifícios, já existentes ou previstos, estavam na posição próximos à praia, fazendo
com que o seu efeito sobre a faixa de areia se limitasse ao seu entorno. Com todos os
edifícios nessa posição a amplitude do efeito se amplia para praticamente todos os lotes.
Vale observar que a área de acesso à praia e de convívio coletivo proposta neste estudo,
tendo em vista o grande afastamento entre as edificações, passa a maior parte do ano
recebendo insolação, principalmente na estação do outono. A presença das edificações,
nesse sentido, provê sombra em determinadas épocas do ano, mas permite que haja luz
natural nesses espaços de uso comum.
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme a análise acima exposta, destaca-se a importância da configuração espacial, a
relação entre a qualidade ambiental, o partido arquitetônico, a política urbana e o mercado
imobiliário, sobretudo referente às condições de insolação e de sombreamento para o
adensamento urbano.
Salienta-se que não foram esgotadas as possibilidades de configurações arquitetônicas,
sendo necessários estudos mais aprofundados para as condições formais edilícias e para
admissão e obstrução da luz solar com o intuito de otimizar os benefícios obtidos a partir
da luz direta do sol.
Para a área em questão, enfatiza-se que o adensamento conforme os parâmetros legais
permitidos, considerando uma nova abordagem de ocupação residencial e social e, ainda, o
contato mais próximo com a natureza, não são suficientes para garantir qualidade de vida
simplesmente a partir do lugar, conforme a ampla divulgação da propaganda e marketing,
visto que a incidência direta de luz solar pode ser comprometida em áreas com expectativa
de insolação contínua ao longo do ano ou do dia, como, por exemplo, na faixa de areia à
beira mar.
Para um melhor aprofundamento sobre o impacto das implantações residenciais verticais
recomenda-se considerar as características arquitetônicas dos novos empreendimentos
(dimensões, forma e revestimentos), a implantação e a sua relação entorno como elementos
imprescindíveis para a configuração das condições ambientais, inclusive, sobre a paisagem
a ser oferecida aos existentes e novos moradores. Ademais, se todos buscam a proximidade
com o mar de maneira privada (a partir da sua unidade residencial) ou coletiva (através dos
espaços de lazer), é possível que as obstruções oriundas dessa configuração afetem não só
o olhar contemplativo da natureza como, também, as condições propulsoras de ambientes
mais saudáveis e eficientes.
Destaca-se ainda que garantir o acesso físico à praia como área coletiva de ocupação
pública, embora subtraia a possibilidade de construção de mais unidades residenciais,
resgata não só o direito ao usufruto dos recursos naturais como a preservação de um lugar
ao sol na faixa de areia banhada pelo mar de Guaxuma.
10 REFERÊNCIAS
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São Paulo.
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sua conceituação e distribuição: multifuncionalidades na zona de expansão periférica de
Maceió. In: 7º congresso Luso Brasileiro para o planejamento Urbano, regional,
Integrado e sustentável. Contrastes, Contradições e Complexidades. Maceió: PLURIS.
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Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
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Maceió, nos Bairros de Jacarecica e Guaxuma. Mestrado. Universidade Federal de
Alagoas.
Nunes, N. (2011). Gestão Ambiental Urbana: Planejar Antes de Verticalizar. Revista
Complexus. Instituto Superior de Engenharia Arquitetura e Design -CEUNSP, 2(3).
Pereira, F., Venturieri, J. and Scalco, V. (2011). Desenvolvimento de equipamento para
verificação “in loco” da obstrução do entorno: iluminação natural e insolação. In: XI
Encontro Nacional de Conforto no Ambiente Construído – ENCAC. Búzios: ANTAC.
Tregenza, P. and Loe, D. (2015). Projeto de Iluminação. Porto Alegre: Bookman.