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Pesquisa de Vitimização
VITIMIZAÇÃO EM MARÍLIA/SP: MEDO E PERCEPÇÕES DE
INSEGURANÇA1
Sueli Andruccioli FELIX
PALAVRAS-CHAVE: vitimização; crime; denúncia; subnotificação; medo;
polícia, exposição ao risco.
Este relatório é produto de três pesquisas de vitimização
em Marília/SP, entre os anos de 2001 e 2008, com apoios da FAPESP,
CNPq e FINEP/MCT, com o objetivo de conhecer a dinâmica do crime sob
a ótica da vítima real (objetiva) e captar os sentimentos de medo do risco
“potencial” da população (vítima ou não). Para o primeiro caso
real – constitui um instrumento auxiliar ao desenvolvimento de
programas de prevenção mais eficazes por abranger, inclusive, os crimes
1 Este relatório gerou um artigo intitulado Crime, Medo e Percepções de Segurança, encaminhado para
publicação à Revista Perspectiva da Unesp.
2 Docente do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Filosofia e Ciências, UNESP. CEP 17.525
Marília/SP- Brasil e-mail sueli.felix@pq.cnpq.br
OBS: Todos as figuras referentes a esta e às pesquisas de vitimização anteriores
encontram-se no Menu “mapas / tabelas / gráficos / Pesquisa de Vitimização”
1
VITIMIZAÇÃO EM MARÍLIA/SP: MEDO E PERCEPÇÕES DE
Sueli Andruccioli FELIX2
CHAVE: vitimização; crime; denúncia; subnotificação; medo;
Este relatório é produto de três pesquisas de vitimização realizadas
em Marília/SP, entre os anos de 2001 e 2008, com apoios da FAPESP,
CNPq e FINEP/MCT, com o objetivo de conhecer a dinâmica do crime sob
a ótica da vítima real (objetiva) e captar os sentimentos de medo do risco
ou não). Para o primeiro caso – vítima
constitui um instrumento auxiliar ao desenvolvimento de
programas de prevenção mais eficazes por abranger, inclusive, os crimes
Este relatório gerou um artigo intitulado Crime, Medo e Percepções de Segurança, encaminhado para
Graduação da Faculdade de Filosofia e Ciências, UNESP. CEP 17.525-900,
OBS: Todos as figuras referentes a esta e às pesquisas de vitimização anteriores
se no Menu “mapas / tabelas / gráficos / Pesquisa de Vitimização”
Pesquisa de Vitimização
subnotificados. De um modo geral, os resultados contribuirão para a
compreensão de alguns aspectos da dinâmica criminal, da relação entre a
polícia e a comunidade, da percepção do medo e da sensação de
(in)segurança.
Real ou imaginária, a violência amedronta e isola os homens em
suas próprias casas, é uma das mais citadas preocupações
pesquisa de opinião, até mesmo em locais de baixos índices de
criminalidade. Residências transformam-se em verdadeiras fortalezas
tanto pelas taxas de crimes quanto pelo medo que limitam as suas
atividades sociais. Embora tenha muitas faces e afete perversamente a
vida de cada um, a violência recai de forma mais aguda sobre classes
sociais desfavorecidas, carentes de políticas públicas de garantia de bem
estar social.
Estudar a dinâmica do crime sob a ótica da vítima, real ou
“potencial”, permite apreender além dos registros oficiais (sub
notificação) e captar as percepções do medo e as sensações de
(in)segurança. Se, por um lado, conhecer a cifra oculta é viabilizar o
desenvolvimento de programas de prevenção mais eficazes, por outro, os
motivos da subnotificação auxiliam a compreensão das expectativas da
vítima em relação a todo o sistema de justiça criminal.
No campo das representações sociais, captar as sensações de
insegurança através das percepções do crime e do medo é produzir
2
subnotificados. De um modo geral, os resultados contribuirão para a
e alguns aspectos da dinâmica criminal, da relação entre a
polícia e a comunidade, da percepção do medo e da sensação de
Real ou imaginária, a violência amedronta e isola os homens em
suas próprias casas, é uma das mais citadas preocupações em qualquer
pesquisa de opinião, até mesmo em locais de baixos índices de
se em verdadeiras fortalezas
tanto pelas taxas de crimes quanto pelo medo que limitam as suas
afete perversamente a
vida de cada um, a violência recai de forma mais aguda sobre classes
sociais desfavorecidas, carentes de políticas públicas de garantia de bem-
Estudar a dinâmica do crime sob a ótica da vítima, real ou
te apreender além dos registros oficiais (sub-
notificação) e captar as percepções do medo e as sensações de
(in)segurança. Se, por um lado, conhecer a cifra oculta é viabilizar o
desenvolvimento de programas de prevenção mais eficazes, por outro, os
s da subnotificação auxiliam a compreensão das expectativas da
No campo das representações sociais, captar as sensações de
insegurança através das percepções do crime e do medo é produzir
Pesquisa de Vitimização
reflexões das sociabilidades e dos problemas e conflitos sócio
gerados pela “fala do crime” no sentido definido por Teresa Caldeira
(2000)3.
A violência e o medo, ou a percepção de ambos, compõem
também de forma real ou simbólica o cenário cotidiano dos suje
suas representações no mundo e caracterizam um novo paradigma da
violência: a crescente relevância do seu aspecto subjetivo
fenômeno no que ele apresenta de mais concreto, de mais objetivo, mas
as percepções que sobre ele circulam, nas representações que o
descrevem”. Essa alteração acompanhou a perda de legitimidade da
violência no espaço político como forma de resistência a partir de 1960 e
obrigou uma nova compreensão da violência pelas ciências sociais, na
visão de Michel Wierviorka (1997, p.16).
As interpretações do crime e do medo encontram suporte teórico
na Teoria da Percepção4, associadas às análises das condições e
manifestações sócio-espaciais. Crime e medo determinam uma geometria
sócio-espacial, provocam mudanças nos valores e nas percepções
espaciais, deterioram os espaços urbanos, alteram os níveis de
3 Para Caldeira (2000 p. 27), a “fala do crime” engloba “[...] todos os tipos de conversas, comentários,
narrativas e piadas que têm o crime e o medo como tema, apontando exemplos empíricos e casos individuais”
4 As percepções do crime e do medo estão baseadas em YI-FU TUAN, 1980; GREENBERG & ROHE, 1984;
HASSINGER, 1985; PATTERSON, 1985; SMITH, 1987; HERBERT, 1993; e demais estudos de BUTTIMER, ENTRIKIN,
João Baptista F. MELLO e outros.
3
s sociabilidades e dos problemas e conflitos sócio-espaciais
gerados pela “fala do crime” no sentido definido por Teresa Caldeira
A violência e o medo, ou a percepção de ambos, compõem
também de forma real ou simbólica o cenário cotidiano dos sujeitos e
suas representações no mundo e caracterizam um novo paradigma da
violência: a crescente relevância do seu aspecto subjetivo - “não mais o
fenômeno no que ele apresenta de mais concreto, de mais objetivo, mas
representações que o
descrevem”. Essa alteração acompanhou a perda de legitimidade da
violência no espaço político como forma de resistência a partir de 1960 e
obrigou uma nova compreensão da violência pelas ciências sociais, na
As interpretações do crime e do medo encontram suporte teórico
, associadas às análises das condições e
espaciais. Crime e medo determinam uma geometria
s e nas percepções
espaciais, deterioram os espaços urbanos, alteram os níveis de
Para Caldeira (2000 p. 27), a “fala do crime” engloba “[...] todos os tipos de conversas, comentários,
os empíricos e casos individuais”
FU TUAN, 1980; GREENBERG & ROHE, 1984;
HASSINGER, 1985; PATTERSON, 1985; SMITH, 1987; HERBERT, 1993; e demais estudos de BUTTIMER, ENTRIKIN,
Pesquisa de Vitimização
concentração ou esvaziamento e criam espaços de medo
urbanos advêm dos valores numéricos crescentes – pessoas, distribuições
espaciais irregulares, níveis de concentração – mas advêm, sobretudo, do
grau de velocidade dessas transformações. (FELIX, 2002).
O medo de ser vítima condiciona o nível de exposição ao risco. A
estimativa do “crime não ocorrido” é um indicador de difícil mensuração,
relaciona-se à exposição ao risco e subjetivamente pode indicar o grau de
vulnerabilidade à violência. Paradoxalmente, altas taxas de criminalidade
em uma região podem indicar alta exposição ao risco em função de
acentuada “sensação de segurança” dos moradores. Por outro lado,
baixas taxas podem não indicar, necessariamente, um excesso de
segurança, mas ser o resultado de uma “sensação de insegurança” que
restringe acentuadamente as atividades e, por conseguinte, reduz o nível
de exposição das pessoas ao risco (FELIX, 2002)
Antropólogos6 interpretam o medo do crime não como uma faceta
da personalidade, mas como um fenômeno social advindo de experiências
que não se distinguem ou se delimitam claramente, mas provocam um
persistente e recorrente senso de mal-estar. O medo advém da p
do perigo e de incertezas, o que reduz as atividades sociais de alguns
5 Nessa linha de análise estão as Teorias do Espaço Defensável: Defensible Space, Crime Prevention Through
Environmental Design (CPTED), Target Harding etc.,); e pregam a reestruturação urbana como forma mais
adequada de prevenção criminal.
6 MERRY, 1981a e SMITH, 1984b, Apud FELIX, 1996, p.141
4
concentração ou esvaziamento e criam espaços de medo5. Os problemas
pessoas, distribuições
mas advêm, sobretudo, do
grau de velocidade dessas transformações. (FELIX, 2002).
O medo de ser vítima condiciona o nível de exposição ao risco. A
estimativa do “crime não ocorrido” é um indicador de difícil mensuração,
ão ao risco e subjetivamente pode indicar o grau de
vulnerabilidade à violência. Paradoxalmente, altas taxas de criminalidade
em uma região podem indicar alta exposição ao risco em função de
acentuada “sensação de segurança” dos moradores. Por outro lado,
baixas taxas podem não indicar, necessariamente, um excesso de
segurança, mas ser o resultado de uma “sensação de insegurança” que
restringe acentuadamente as atividades e, por conseguinte, reduz o nível
interpretam o medo do crime não como uma faceta
da personalidade, mas como um fenômeno social advindo de experiências
que não se distinguem ou se delimitam claramente, mas provocam um
estar. O medo advém da percepção
do perigo e de incertezas, o que reduz as atividades sociais de alguns
Nessa linha de análise estão as Teorias do Espaço Defensável: Defensible Space, Crime Prevention Through
Environmental Design (CPTED), Target Harding etc.,); e pregam a reestruturação urbana como forma mais
Pesquisa de Vitimização
subgrupos (mulheres e idosos), torna a sociedade menos ativa
comunitariamente e, por extensão, mais vulnerável à criminalidade e às
explorações psicológicas. De políticos a empresários, o medo é
amplamente explorado. Enquanto a indústria de segurança privada está
entre as que mais crescem no Brasil, o setor imobiliário valoriza e
desvaloriza bairros inteiros com análises positivistas e levianas dos
indicadores criminais.
A relação crime/insegurança, traduzida no medo da vitimização, é
apenas uma das mazelas do homem urbano que, nessa neurose cotidiana,
reivindica ações públicas de prevenção criminal como a intensificação do
policiamento ostensivo e a pena de morte, além da adoção
mecanismos de proteção individual. Entretanto, o medo do crime
também está associado à prática policial, tornando indispensável a análise
dos mecanismos formais de proteção social nos estudos do crime e do
medo.
Em qualquer análise criminal é imprescindível considerar que as
estatísticas refletem três situações: a descoberta do delito, a atitude da
vítima e a atitude da polícia. O desempenho do Sistema de Justiça
Criminal, mais particularmente da polícia que é o ponto de contato com a
população, e a sua disposição em dar respostas à questão criminal, inspira
a notificação criminal.
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subgrupos (mulheres e idosos), torna a sociedade menos ativa
comunitariamente e, por extensão, mais vulnerável à criminalidade e às
resários, o medo é
amplamente explorado. Enquanto a indústria de segurança privada está
entre as que mais crescem no Brasil, o setor imobiliário valoriza e
desvaloriza bairros inteiros com análises positivistas e levianas dos
ão crime/insegurança, traduzida no medo da vitimização, é
apenas uma das mazelas do homem urbano que, nessa neurose cotidiana,
reivindica ações públicas de prevenção criminal como a intensificação do
policiamento ostensivo e a pena de morte, além da adoção de
mecanismos de proteção individual. Entretanto, o medo do crime
também está associado à prática policial, tornando indispensável a análise
dos mecanismos formais de proteção social nos estudos do crime e do
dível considerar que as
estatísticas refletem três situações: a descoberta do delito, a atitude da
vítima e a atitude da polícia. O desempenho do Sistema de Justiça
Criminal, mais particularmente da polícia que é o ponto de contato com a
disposição em dar respostas à questão criminal, inspira
Pesquisa de Vitimização
Sub-notificação: o papel da vítima e dos controladores sociais
Assim como o “crime não ocorrido”, os níveis de sub
são indicadores difíceis de serem avaliados. Embora antigo, há um
interessante estudo desenvolvido nos EUA por DAVIDSON (1982)
estimando que apenas 10% dos incidentes criminais eram registrados pela
polícia e classificados no relatório do Home Office. Den
recusa dos policiais em proceder ao registro por duvidar do reclamante e
o adiamento do registro por considerar a ocorrência trivial e assim ganhar
tempo para desistências. O maior volume de registros encontra
comunidades com boas relações com a polícia e, no extremo oposto, nas
comunidades compostas por grupos raciais minoritários, para desviar
acusações de preconceito.
A propensão em registrar queixas altera-se conforme a tipologia
criminal e o estrato social e cultural dos envolvidos. Os
costume, os sexuais, ainda são considerados danos privativos e raramente
comunicados, especialmente se a vítima e/ou o agressor são de classe
média ou alta.
No extremo oposto, com grande volume de registro estão os
crimes que envolvem prejuízos materiais (exceto os de pequena monta),
especialmente os sujeitos à cobertura de seguros.
6
notificação: o papel da vítima e dos controladores sociais
Assim como o “crime não ocorrido”, os níveis de sub-notificação
são indicadores difíceis de serem avaliados. Embora antigo, há um
interessante estudo desenvolvido nos EUA por DAVIDSON (1982)
estimando que apenas 10% dos incidentes criminais eram registrados pela
Office. Dentre os motivos, a
recusa dos policiais em proceder ao registro por duvidar do reclamante e
o adiamento do registro por considerar a ocorrência trivial e assim ganhar
tempo para desistências. O maior volume de registros encontra-se em
elações com a polícia e, no extremo oposto, nas
comunidades compostas por grupos raciais minoritários, para desviar
se conforme a tipologia
dos. Os crimes contra o
costume, os sexuais, ainda são considerados danos privativos e raramente
comunicados, especialmente se a vítima e/ou o agressor são de classe
No extremo oposto, com grande volume de registro estão os
vem prejuízos materiais (exceto os de pequena monta),
Pesquisa de Vitimização
Mesmo os casos de mortes estão sujeitos aos desvios estatísticos.
Ainda hoje, em adiantado estágio de informatização, a maioria das
ocorrências classificadas como “tentativa de homicídio”, “lesão corporal”
dolosa ou culposa (acidental), por exemplo, permanecem como tal nos
BO´s, mesmo após a morte da vítima.
Para os casos de suicídio/homicídio e acidentes, é necessário
repensar os critérios definidores da causa mortis, como já ocorre em
outros países, considerando possíveis flutuações paralelas futuras: os
registros de acidentes de trânsito devem respeitar um intervalo após a
ocorrência para a sua caracterização, tendo em vista as possíveis
mudanças no tempo (uma lesão corporal culposa pode se transformar em
homicídio culposo). Em alguns estados dos EUA, o intervalo entre o fato
(acidente, tentativa de homicídio, lesão corporal, por ex.) e o registro
definitivo da causa mortis é de um ano, levando em conta
outras implicações direta ou indiretamente relacionadas.
As estatísticas estão sujeitas aos procedimentos policiais, políticos
e, também, às regras de interpretação – a multiplicação de delitos pode
significar mais esforços por parte da polícia ou maior eficiência dos
tribunais, ao invés de um aumento real. A análise da criminalidade deve,
assim, ampliar-se para os controladores sociais. A participação crescente
de membros da polícia nos indicadores de violência indica, para Paul
Chevigny (EUA), “uma inferência de que a polícia não está reagindo aos
7
Mesmo os casos de mortes estão sujeitos aos desvios estatísticos.
Ainda hoje, em adiantado estágio de informatização, a maioria das
cadas como “tentativa de homicídio”, “lesão corporal”
dolosa ou culposa (acidental), por exemplo, permanecem como tal nos
Para os casos de suicídio/homicídio e acidentes, é necessário
como já ocorre em
outros países, considerando possíveis flutuações paralelas futuras: os
registros de acidentes de trânsito devem respeitar um intervalo após a
ocorrência para a sua caracterização, tendo em vista as possíveis
mpo (uma lesão corporal culposa pode se transformar em
homicídio culposo). Em alguns estados dos EUA, o intervalo entre o fato
(acidente, tentativa de homicídio, lesão corporal, por ex.) e o registro
é de um ano, levando em conta as seqüelas e
outras implicações direta ou indiretamente relacionadas.
As estatísticas estão sujeitas aos procedimentos policiais, políticos
a multiplicação de delitos pode
ícia ou maior eficiência dos
tribunais, ao invés de um aumento real. A análise da criminalidade deve,
se para os controladores sociais. A participação crescente
de membros da polícia nos indicadores de violência indica, para Paul
EUA), “uma inferência de que a polícia não está reagindo aos
Pesquisa de Vitimização
incidentes numa sociedade violenta, mas sim usando da violência para
propósito de controle social”7.
São inúmeras as variáveis que interferem no sub
destaque às produzidas pelo Estado: arbitrariedade policial, as questões
técnicas que envolvem as formas de registros, o despreparo dos
funcionários que atendem as ocorrências e até as atitudes de
administradores públicos mais preocupados em mascarar as taxas reais
usando subterfúgios estatísticos, do que com o arrefecimento real da
criminalidade.
Com o intuito de saber o que os dados oficiais escondem, surgiu
nos EUA, na década de 1960, a ciência da vitimização, revelando
dinâmicas criminais, medos, expectativas e crimes que afetam
diretamente as pessoas, mas que não fazem parte dos registros, portanto,
fora das interpretações e das políticas públicas.
Para conhecer um pouco mais as atitudes das vítimas, investigar as
formas de proteção adotadas e o seu comportamento no contexto legal
(denunciar ou não, os seus motivos, a sua relação com os órgãos de
segurança e outros), desde 2001 o Grupo de Pesquisa GUTO/Unesp
realiza pesquisas de vitimização em Marília/SP (distante 450 quilômetros
de São Paulo), conscientes de que nesta cidade média d
impactos da violência na sensação de insegurança da população não
7 Folha de São Paulo, 15 dez. 1992, Cotidiano, p.1.
8
incidentes numa sociedade violenta, mas sim usando da violência para
São inúmeras as variáveis que interferem no sub-registro, com
do: arbitrariedade policial, as questões
técnicas que envolvem as formas de registros, o despreparo dos
funcionários que atendem as ocorrências e até as atitudes de
administradores públicos mais preocupados em mascarar as taxas reais
tatísticos, do que com o arrefecimento real da
Com o intuito de saber o que os dados oficiais escondem, surgiu
nos EUA, na década de 1960, a ciência da vitimização, revelando
dinâmicas criminais, medos, expectativas e crimes que afetam
tamente as pessoas, mas que não fazem parte dos registros, portanto,
Para conhecer um pouco mais as atitudes das vítimas, investigar as
formas de proteção adotadas e o seu comportamento no contexto legal
denunciar ou não, os seus motivos, a sua relação com os órgãos de
segurança e outros), desde 2001 o Grupo de Pesquisa GUTO/Unesp
realiza pesquisas de vitimização em Marília/SP (distante 450 quilômetros
de São Paulo), conscientes de que nesta cidade média do interior os
impactos da violência na sensação de insegurança da população não
Pesquisa de Vitimização
encontram paralelos tão aterradores quanto os percebidos nas
metrópoles ou grandes cidades.
Após diversas pesquisas de “geografia do crime urbano” em
Marília8, consideramos importante abordar os elementos mais subjetivos
desse fenômeno na experiência cotidiana dos sujeitos, estabelecendo
relações entre os resultados de pesquisas sobre as condições sócio
espaciais e da dinâmica criminal na cidade com dados qualitativos
recolhidos em três pesquisas de vitimização realizadas em 2001 e 2008
As Pesquisas – Metodologias 10
As pesquisas de vitimização foram realizadas pelo Grupo de
Pesquisa e de Gestão Urbana de Trabalho Organizado –
se nortearam por informações que permitissem traçar o perfil sócio
econômico e demográfico das vítimas, a criminalidade (tipos de crimes
8 Ver todas as pesquisas realizadas nos últimos 10 anos em www.levs.marilia.unesp.br/GUTO
9 No intervalo dessas pesquisas, no final de 2003 e início de 2004, realizamos outra pesquisa entrevistando
apenas vítimas através da pergunta filtro “O (a) senhor (a) foi vítima de algum crime nos últimos anos”. O
objetivo era otimizar a aplicação dos questionários e estabelecer relações mais aproximadas e qualificadas com
as vítimas. Porém, devido à diversidade da metodologia, os seus resultados não serão utilizados neste texto,
exceto em caráter ilustrativo. Foram entrevistadas 197 vítimas com 224 crimes relatados
10 Como as metodologias se diferenciam um pouco, os resultados das pesquisas não compõem uma série
histórica passível de análises comparativas. Sempre que ocorrerem, as comparações serão relativizadas.
11 Essas pesquisas compõem o projeto “Geografia do Crime: diagnósticos para uma ação social comunitária”
com apoio FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – Programa de Políticas Públicas
de 2001 a 2004 e apoio FINEP/MCT - Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério da Ciência e Tecnologia
a partir de 2007. Para os resultados ver WWW.guto.marilia.unesp.br/GUTO e www.levs.marilia.unesp.
9
encontram paralelos tão aterradores quanto os percebidos nas
Após diversas pesquisas de “geografia do crime urbano” em
portante abordar os elementos mais subjetivos
desse fenômeno na experiência cotidiana dos sujeitos, estabelecendo
relações entre os resultados de pesquisas sobre as condições sócio-
espaciais e da dinâmica criminal na cidade com dados qualitativos
s em três pesquisas de vitimização realizadas em 2001 e 20089.
As pesquisas de vitimização foram realizadas pelo Grupo de
GUTO/UNESP11, e
rmitissem traçar o perfil sócio-
econômico e demográfico das vítimas, a criminalidade (tipos de crimes
www.levs.marilia.unesp.br/GUTO
valo dessas pesquisas, no final de 2003 e início de 2004, realizamos outra pesquisa entrevistando
apenas vítimas através da pergunta filtro “O (a) senhor (a) foi vítima de algum crime nos últimos anos”. O
e estabelecer relações mais aproximadas e qualificadas com
as vítimas. Porém, devido à diversidade da metodologia, os seus resultados não serão utilizados neste texto,
exceto em caráter ilustrativo. Foram entrevistadas 197 vítimas com 224 crimes relatados.
Como as metodologias se diferenciam um pouco, os resultados das pesquisas não compõem uma série
histórica passível de análises comparativas. Sempre que ocorrerem, as comparações serão relativizadas.
Essas pesquisas compõem o projeto “Geografia do Crime: diagnósticos para uma ação social comunitária”
Programa de Políticas Públicas –
de Estudos e Projetos do Ministério da Ciência e Tecnologia
www.levs.marilia.unesp.br.
Pesquisa de Vitimização
sofridos e encaminhamentos dados), as percepções de segurança, os
mecanismos de proteção e a relação da população com os órgãos de
segurança locais, além de opiniões sobre a pena de morte, dentre outras.
Na primeira edição (2001) os questionários foram aplicados no
Terminal Rodoviário Urbano e nos dois Shoppings Center da cidade, no
período de pagamento de salários, abrangendo uma população mais ativa
e, portanto, mais sujeita à vitimização. A amostragem foi
proporcionalmente distribuída nos diversos segmentos da população,
conforme sua representatividade no contexto geral, utilizando
informações prévias sobre a faixa de renda (por salário mínimo) dos
freqüentadores dos espaços pesquisados12. Do total de pessoas
entrevistadas, 29% admitiram ter sido “vítimas de algum crime nos
últimos 05 anos”. 13
A última pesquisa (2008) foi aplicada em toda a cidade nos finais
de semana, respeitando a distribuição da população no espaço. Para
manter a integridade da amostra e da aleatoriedade foram sorteadas
quadras e casas para a aplicação dos questionários14.
12 Os questionários foram distribuídos na seguinte proporção: 77% no Terminal Rodoviário Urbano e 23% nos
Shoppings Centers, no total de 826 entrevistas, para 189.000 habitantes, margem de erro 3,5%.
13 Foram 826 abordagens para 240 vítimas, com um desvio estatístico de 3,5%.
14 Foram entrevistas 741 pessoas para 165 vítimas, permanecendo o desvio estatístico de 3,5%.
10
sofridos e encaminhamentos dados), as percepções de segurança, os
mecanismos de proteção e a relação da população com os órgãos de
de opiniões sobre a pena de morte, dentre outras.
Na primeira edição (2001) os questionários foram aplicados no
Terminal Rodoviário Urbano e nos dois Shoppings Center da cidade, no
período de pagamento de salários, abrangendo uma população mais ativa
ortanto, mais sujeita à vitimização. A amostragem foi
proporcionalmente distribuída nos diversos segmentos da população,
conforme sua representatividade no contexto geral, utilizando
informações prévias sobre a faixa de renda (por salário mínimo) dos
. Do total de pessoas
entrevistadas, 29% admitiram ter sido “vítimas de algum crime nos
A última pesquisa (2008) foi aplicada em toda a cidade nos finais
população no espaço. Para
manter a integridade da amostra e da aleatoriedade foram sorteadas
Os questionários foram distribuídos na seguinte proporção: 77% no Terminal Rodoviário Urbano e 23% nos
Shoppings Centers, no total de 826 entrevistas, para 189.000 habitantes, margem de erro 3,5%.
Foram entrevistas 741 pessoas para 165 vítimas, permanecendo o desvio estatístico de 3,5%.
Pesquisa de Vitimização
Vitimização e percepção do crime
Os dados oficiais de criminalidade não abrangem expressivo
volume de crimes que compõem um universo oculto e a pesquisa de
vitimização configura-se importante instrumento norteador de políticas
preventivas ao delinear as cifras obscuras. Neste contexto, o perfil das
vítimas e a espacialização da criminalidade são referenciais rele
para compreender a dinâmica criminal e traçar políticas públicas
ciência, auxilia no desenvolvimento de hipóteses e teorias que levam à
compreensão de crimes altamente subestimados como os sexuais,
especialmente cometidos por pessoas próximas (familiares e amigos).
A omissão de denúncias está ligada à falta de confiança no Sistema
de Justiça Criminal, à banalização do crime e ao medo de represálias.
Sexo e Vitimização
No universo da criminalidade, a mulher sempre esteve
numericamente em posição secundária, especialmente como autora de
crimes. Este fato se repete na posição de vítima. Embora nas duas
pesquisas as mulheres tenham a mesma vitimização dos homens (por
volta de 50% cada segmento), quando a análise é relativa ao total de cada
segmento pesquisado (em relação ao universo de mulheres
entrevistadas), pela média das duas pesquisas, 21% das mulheres e 33%
15 O perfil das vítimas e a dinâmica criminal, com detalhes, podem ser vistos em www.levs.mar
11
Os dados oficiais de criminalidade não abrangem expressivo
que compõem um universo oculto e a pesquisa de
se importante instrumento norteador de políticas
preventivas ao delinear as cifras obscuras. Neste contexto, o perfil das
vítimas e a espacialização da criminalidade são referenciais relevantes
para compreender a dinâmica criminal e traçar políticas públicas15. Para a
ciência, auxilia no desenvolvimento de hipóteses e teorias que levam à
compreensão de crimes altamente subestimados como os sexuais,
as (familiares e amigos).
A omissão de denúncias está ligada à falta de confiança no Sistema
de Justiça Criminal, à banalização do crime e ao medo de represálias.
No universo da criminalidade, a mulher sempre esteve
numericamente em posição secundária, especialmente como autora de
crimes. Este fato se repete na posição de vítima. Embora nas duas
pesquisas as mulheres tenham a mesma vitimização dos homens (por
de 50% cada segmento), quando a análise é relativa ao total de cada
segmento pesquisado (em relação ao universo de mulheres
entrevistadas), pela média das duas pesquisas, 21% das mulheres e 33%
www.levs.marilia.unesp.br
Pesquisa de Vitimização
dos homens entrevistados se declararam vítimas. Os resultados
confirmam as estatísticas oficiais de menor exposição ao risco e
envolvimento com a criminalidade, mesmo em se tratando de uma
pesquisa de vitimização (total por sexo/pesquisa na Figura 1).
Entretanto, analisando a vitimização feminina por tipologia
criminal, aparecem alguns indicadores interessantes:
• Embora a vitimização da mulher seja equivalente à do homem no
total de crime contra o patrimônio, ela é mais vítima de furto. O roubo,
que envolve mais violência pela abordagem direta do criminoso,
vitimou mais os homens: média de 58,5% (56%, 2001 e 61%, 2008).
38,60%
27,60%
23,20%19,10%
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
35,00%
40,00%
45,00%
vitimização 2001 vitimização 2008
HOMENS MULHERESMédia 2001 Media 2008
12
dos homens entrevistados se declararam vítimas. Os resultados
confirmam as estatísticas oficiais de menor exposição ao risco e
envolvimento com a criminalidade, mesmo em se tratando de uma
pesquisa de vitimização (total por sexo/pesquisa na Figura 1).
Entretanto, analisando a vitimização feminina por tipologia
Embora a vitimização da mulher seja equivalente à do homem no
total de crime contra o patrimônio, ela é mais vítima de furto. O roubo,
que envolve mais violência pela abordagem direta do criminoso,
ais os homens: média de 58,5% (56%, 2001 e 61%, 2008).
29,40%
21,90%
MULHERESMedia 2008
Pesquisa de Vitimização
• Se no crime contra o patrimônio as diferenças numéricas são
pequenas, no crime contra a pessoa a mulher lidera com mais de 70%
(2001) das vítimas do total dessa modalidade criminal (Lesão Corporal,
Tentativa Homicídio, Agressões e violências sexuais que ainda são
classificadas como crime contra os costumes).
• Lesão corporal foi denunciada por 61,5% dos homens e apenas
43% das mulheres vítimas. A violência sexual foi integralmente omitida
a denúncia.
• Normalmente, o crime de lesão corporal sofrido pela mulher é
uma violência doméstica e, neste caso, ainda é considerado um dano
privativo que a mulher acredita poder resolver privativamente.
Quando a mulher denuncia uma agressão às autoridades, esse crime já
é recorrente em sua vida16.
• No caso do homem, a lesão corporal ocorre com muito mais
freqüência em ambientes externos, públicos, de confronto com o
mesmo sexo, portanto, passível de ser denunciado pelas condições de
igualdade entre os envolvidos e até com o objetivo de intimidação. O
contrário ocorre quando ele sofre violência de alguém do sexo oposto,
quando ainda impera a cultura machista de superioridade, portanto, da
não admissão pública da vitimização.
16 Entrevistas de vítimas na DDM – Delegacia de Defesa da Mulher – e Rede Mulher de Marília mostraram que
a denúncia ocorre depois de agressões sucessivas (4ª ou 5ª agressão).
13
Se no crime contra o patrimônio as diferenças numéricas são
pequenas, no crime contra a pessoa a mulher lidera com mais de 70%
(2001) das vítimas do total dessa modalidade criminal (Lesão Corporal,
ntativa Homicídio, Agressões e violências sexuais que ainda são
Lesão corporal foi denunciada por 61,5% dos homens e apenas
43% das mulheres vítimas. A violência sexual foi integralmente omitida
rmalmente, o crime de lesão corporal sofrido pela mulher é
uma violência doméstica e, neste caso, ainda é considerado um dano
privativo que a mulher acredita poder resolver privativamente.
Quando a mulher denuncia uma agressão às autoridades, esse crime já
No caso do homem, a lesão corporal ocorre com muito mais
freqüência em ambientes externos, públicos, de confronto com o
mesmo sexo, portanto, passível de ser denunciado pelas condições de
o objetivo de intimidação. O
contrário ocorre quando ele sofre violência de alguém do sexo oposto,
quando ainda impera a cultura machista de superioridade, portanto, da
e Rede Mulher de Marília mostraram que
Pesquisa de Vitimização
Vitimização e Denúncia
Com exceção dos homicídios ocorridos por encomenda, os crimes
violentos (que atingem as pessoas, diretamente) ocorrem entre pessoas
próximas, inclusive com características sócio-econômicas, demográficas e
culturais semelhantes. O contrário ocorre nos crimes cometidos contra o
patrimônio, caracterizando a distância social entre os envolvidos.
Com perguntas sobre o tipo do crime que sofreram, quais
denunciaram e o relacionamento com o criminoso, o objetivo era compor
um panorama da criminalidade (vitimização) passível de avaliações s
os tipos de crimes mais freqüentes, os mais omitidos dos registros oficiais
e perceber o grau de parentesco dos envolvidos. Pelos resultados das
duas pesquisas, têm-se as seguintes MÉDIAS de ocorrências:
Tabela 1: Vítimas e Denúncias por Sexo
Ano Total
Entrevistas
Total
Vítimas
% Denunciantes
2001 826 240 29,1% 139
2008 741 179 24,2% 111 FONTE: Pesquisa Direta De Vitimização/Marília/SP – 2001 e 2008
• Quase um terço da população foi vítima de algum crime.
• A vitimização de crimes contra o patrimônio foi absurdamente
maior que a de crimes contra a pessoa e os costumes (quase 90% do
total), seguindo a tendência das estatísticas oficiais.
14
s ocorridos por encomenda, os crimes
violentos (que atingem as pessoas, diretamente) ocorrem entre pessoas
econômicas, demográficas e
culturais semelhantes. O contrário ocorre nos crimes cometidos contra o
imônio, caracterizando a distância social entre os envolvidos.
Com perguntas sobre o tipo do crime que sofreram, quais
denunciaram e o relacionamento com o criminoso, o objetivo era compor
um panorama da criminalidade (vitimização) passível de avaliações sobre
os tipos de crimes mais freqüentes, os mais omitidos dos registros oficiais
e perceber o grau de parentesco dos envolvidos. Pelos resultados das
se as seguintes MÉDIAS de ocorrências:
Denunciantes %
58,0%
62,1% 2001 e 2008
Quase um terço da população foi vítima de algum crime.
de crimes contra o patrimônio foi absurdamente
maior que a de crimes contra a pessoa e os costumes (quase 90% do
Pesquisa de Vitimização
• 60% das vítimas denunciaram o crime à polícia.
• Pouco mais de 1% admitiu ter sofrido crimes sexuais, sem
nenhuma denúncia.
• Em 2001, mais de 40% e em 2008, ¾ dos crimes contra a pessoa
(Lesão Corporal Dolosa e Tentativa de Homicídio) foram cometidos
por pessoas conhecidas.
• Enquanto o crime contra a pessoa demonstra um relacionamento
próximo entre os envolvidos (em 2008, nos crimes de Lesão Corporal
tem-se: 42% eram conhecidos, 25% tinham relação conjugal e 8%
eram da mesma família), o crime contra o patrimônio ratifica a
distância social (em 2008, mais de 80% dos crimes contra o
patrimônio foram cometidos por desconhecidos).
15
imes sexuais, sem
Em 2001, mais de 40% e em 2008, ¾ dos crimes contra a pessoa
(Lesão Corporal Dolosa e Tentativa de Homicídio) foram cometidos
Enquanto o crime contra a pessoa demonstra um relacionamento
ntre os envolvidos (em 2008, nos crimes de Lesão Corporal
se: 42% eram conhecidos, 25% tinham relação conjugal e 8%
eram da mesma família), o crime contra o patrimônio ratifica a
distância social (em 2008, mais de 80% dos crimes contra o
Pesquisa de Vitimização
Observando a Figura 2, motivos para não denunciar, destacam
o “descrédito da polícia” e o “fato sem importância”. Se a confiança na
polícia aumentou, paralelamente cresceu a banalização da violência,
trazendo subjacentes indícios de deterioração e de na
convivência social com a violência.
Somando-se as justificativas, os motivos para a não
dos crimes à polícia são majoritariamente o “descrédito” no Sistema de
Justiça Criminal (polícia, justiça e medos), com a média de 2/3 das
subnotificações, considerando que o medo de represálias (dos
autores/companheiros, da polícia) também denota descrença na punição.
A combinação descrença na polícia e na justiça é um caso histórico,
agravado por um sistema judiciário deteriorado que contribu
aumento da insegurança. Entretanto, no universo pesquisado, o medo
explícito da polícia não se aplica.
Percepção sobre a polícia
Seguindo a mesma metodologia de aplicação da segunda pesquisa
(2008), foram inseridas duas questões com o objetivo de
desempenho e o grau de confiança na Polícia Militar. As respostas
corroboram as observações anteriores: a soma das percepções positivas
totaliza 82%.
16
Observando a Figura 2, motivos para não denunciar, destacam-se
o “descrédito da polícia” e o “fato sem importância”. Se a confiança na
polícia aumentou, paralelamente cresceu a banalização da violência,
trazendo subjacentes indícios de deterioração e de naturalização da
se as justificativas, os motivos para a não-reportagem
dos crimes à polícia são majoritariamente o “descrédito” no Sistema de
Justiça Criminal (polícia, justiça e medos), com a média de 2/3 das
bnotificações, considerando que o medo de represálias (dos
autores/companheiros, da polícia) também denota descrença na punição.
A combinação descrença na polícia e na justiça é um caso histórico,
agravado por um sistema judiciário deteriorado que contribui para o
aumento da insegurança. Entretanto, no universo pesquisado, o medo
Seguindo a mesma metodologia de aplicação da segunda pesquisa
(2008), foram inseridas duas questões com o objetivo de avaliar o
desempenho e o grau de confiança na Polícia Militar. As respostas
corroboram as observações anteriores: a soma das percepções positivas
Pesquisa de Vitimização
Figura 3. Sentimento que a Polícia Militar lhe transmite
FONTE: PESQUISA DIRETA DE VITIMIZAÇÃO –
Esses resultados confirmam pesquisas de muito maior amplitude,
como a realizada em âmbito nacional nos EUA que encontrou 80% da
população com grande confiança nos policiais de sua comunidade.
Conforme informações de José Pastore, o Public Attitudes Toward the
Police (Wilson Huang e Michael Vaughn, 1996) 17 revelou que 73% dos
americanos consideram “excelente” e “muito bom” o trabalho da polícia,
23% consideram "regular" e "pobre" e 4% "muito pobre". O mesmo
acontece na Inglaterra: em Londres, 90% dos ingleses acham que os
policiais realizam um trabalho "muito bom".
17 www.josepastore.com.br/artigos/ac/ac_005.htm, retirado em 24 março 2009 (publicado no Jornal da Tarde,
05/04/1997)
4%
30%
30%
12%
2%
Admiração Respeito Confiança Nenhum Desconfiança
17
Sentimento que a Polícia Militar lhe transmite
– 2008
Esses resultados confirmam pesquisas de muito maior amplitude,
como a realizada em âmbito nacional nos EUA que encontrou 80% da
população com grande confiança nos policiais de sua comunidade.
Attitudes Toward the
revelou que 73% dos
americanos consideram “excelente” e “muito bom” o trabalho da polícia,
23% consideram "regular" e "pobre" e 4% "muito pobre". O mesmo
, 90% dos ingleses acham que os
, retirado em 24 março 2009 (publicado no Jornal da Tarde,
22%
Desconfiança Medo
Pesquisa de Vitimização
Os resultados de Marília, 2001, são muito análogos. Questionados
sobre a “forma como os policiais se relacionam com os moradores do
bairro”:
• 58,3% responderam com “respeito” e “cortesia”,
• 36,5% apenas “cumprem sua obrigação”,
• 3,3% responderam com “abuso de autoridade”, com
“desrespeito” e “violência” e
• 2,0% não responderam;
• 0,2% responderam “com violência”.
Ainda, segundo PASTORE (1997), os estudiosos da sociologia
criminal classificam de "coprodução dos serviços policiais" a relação
simbiótica de interação e interdependência que existe entre polícia e
público.
Em quase todos os países, a grande maioria das intervenções
policiais ocorre por chamadas das pessoas. Assim, cidadãos e
policiais estão do mesmo lado. Um vê o outro como
elemento de apoio. Os policiais dependem da iniciativa das
pessoas e estas dependem da proteção dos policiais.
(PASTORE, 1997 s/p)
Embora a bibliografia brasileira sobre polícia ainda seja escassa, o
que se apreende dela é que a construção conceitual sobre as instituições
policiais seguem paralelamente à desconstrução deste conceito por meio
18
Os resultados de Marília, 2001, são muito análogos. Questionados
sobre a “forma como os policiais se relacionam com os moradores do
58,3% responderam com “respeito” e “cortesia”,
3,3% responderam com “abuso de autoridade”, com
s estudiosos da sociologia
criminal classificam de "coprodução dos serviços policiais" a relação
simbiótica de interação e interdependência que existe entre polícia e
Em quase todos os países, a grande maioria das intervenções
r chamadas das pessoas. Assim, cidadãos e
policiais estão do mesmo lado. Um vê o outro como
elemento de apoio. Os policiais dependem da iniciativa das
pessoas e estas dependem da proteção dos policiais.
sobre polícia ainda seja escassa, o
que se apreende dela é que a construção conceitual sobre as instituições
policiais seguem paralelamente à desconstrução deste conceito por meio
Pesquisa de Vitimização
de algumas de suas práticas. As instituições policiais tentam ao longo de
sua história encontrar uma identidade concisa, que otimize conceito e
prática. A confusão sobre os elementos que envolvem a Segurança
Pública é grande, pois as noções e conceitos populares de segurança
pública se confundem com a segurança interna, a defesa
judiciário, o que torna a segurança um tema privilegiadamente Estatal.
Instaura-se uma conjuntura, onde o cidadão não se enquadra como
'cliente' da polícia e de outros órgãos de segurança pública. Nesta
situação, o 'cliente' dos mecanismos de regulação social é seu próprio
provedor, o Estado (MUNIZ, 2001)18
Resumidamente, pode-se afirmar que a população não tem
discernimento sobre o papel das polícias (confunde as funções da Polícia
Militar com as da Civil), da Justiça e nem tem conhecimento sufi
sobre a dinâmica criminal. Este desconhecimento pode resultar em
opiniões positivas ou negativas pela população a respeito dos serviços
prestados ou sobre a própria instituição, recaindo sobre a PM, braço
último e mais próximo da comunidade, todas as críticas que se dirigiriam
ao Sistema de Justiça Criminal.
Porém, a partir de meados da década de 1990, as instituições
policiais procuraram estabelecer um novo paradigma, buscar sua
identidade enquanto instituição que deve proteger o cidadão e garantir 18 MUNIZ, J. de O. Polícia brasileira tem história de repressão social. Com Ciência. [S.l.], 2001]. Acessado em:
15 jun. 2002.
19
de algumas de suas práticas. As instituições policiais tentam ao longo de
ua história encontrar uma identidade concisa, que otimize conceito e
prática. A confusão sobre os elementos que envolvem a Segurança
Pública é grande, pois as noções e conceitos populares de segurança
pública se confundem com a segurança interna, a defesa nacional, o
judiciário, o que torna a segurança um tema privilegiadamente Estatal.
se uma conjuntura, onde o cidadão não se enquadra como
'cliente' da polícia e de outros órgãos de segurança pública. Nesta
egulação social é seu próprio
se afirmar que a população não tem
discernimento sobre o papel das polícias (confunde as funções da Polícia
Militar com as da Civil), da Justiça e nem tem conhecimento suficiente
sobre a dinâmica criminal. Este desconhecimento pode resultar em
opiniões positivas ou negativas pela população a respeito dos serviços
prestados ou sobre a própria instituição, recaindo sobre a PM, braço
s críticas que se dirigiriam
Porém, a partir de meados da década de 1990, as instituições
policiais procuraram estabelecer um novo paradigma, buscar sua
identidade enquanto instituição que deve proteger o cidadão e garantir a
MUNIZ, J. de O. Polícia brasileira tem história de repressão social. Com Ciência. [S.l.], 2001]. Acessado em:
Pesquisa de Vitimização
este cidadão a sua liberdade e os seus direitos, através de um protocolo
vinculado a uma prática cidadã. Resgatando, assim, sua função essencial,
instituída em sua origem e que procura se reafirmar desde processos de
reestruturação que originaram a polícia moderna, tentando romper com
as práticas abusivas.
Desagregando a análise dos resultados sobre o desempenho da polícia,
entre as pessoas que já recorreram e os que nunca solicitaram a sua
presença, na pesquisa realizada em 2001, tem-se a seguinte dist
da percepção comunitária (tabela 2)
Tabela 2: Sentimentos que a PM transmite a Vítimas e Não
Sentimento que a polícia
transmite Precisou chamar
a polícia Não precisou chamar
Segurança 52,3% Nenhum sentimento especial
24,3%
Proteção total 13,8% Medo 7,3% Não soube responder 2,3% TOTAL 100,0% FONTE: Pesquisa Direta De Vitimização/MARILIA/SP – 2001
Apesar de pequena diferença percentual, as pessoas que já
tiveram algum contato com a polícia admitiram sentir mais medo e menos
segurança que aquelas que nunca recorreram diretamente à instituição.
Se esse sentimento fosse de pessoas que nunca precisaram
polícia, poder-se-ia especular que é uma percepção produzida pelo
imaginário da população, permeado por noticias de abusos cometidos
20
este cidadão a sua liberdade e os seus direitos, através de um protocolo
vinculado a uma prática cidadã. Resgatando, assim, sua função essencial,
instituída em sua origem e que procura se reafirmar desde processos de
cia moderna, tentando romper com
Desagregando a análise dos resultados sobre o desempenho da polícia,
entre as pessoas que já recorreram e os que nunca solicitaram a sua
se a seguinte distribuição
Tabela 2: Sentimentos que a PM transmite a Vítimas e Não-Vítimas
Não precisou chamar
a polícia 56,8% 23,8%
11,3% 5,0% 3,1%
100,0%
Apesar de pequena diferença percentual, as pessoas que já
tiveram algum contato com a polícia admitiram sentir mais medo e menos
segurança que aquelas que nunca recorreram diretamente à instituição.
Se esse sentimento fosse de pessoas que nunca precisaram chamar a
ia especular que é uma percepção produzida pelo
imaginário da população, permeado por noticias de abusos cometidos
Pesquisa de Vitimização
pelas polícias brasileiras e pelo histórico repressivo que possuem. Como
ocorre entre os que já necessitaram da polícia, a insignificância estatística
toma outra dimensão que deve ser considerada na relação
polícia/comunidade. Na contrapartida, “proteção total” é um sentimento
acentuado entre os que já acionaram a polícia.
Em abril de 1997, o IBOPE realizou em âmbito nacional o mesmo
tipo de pesquisa com resultados assustadores: cerca de 70% dos
brasileiros disseram não confiar "nenhum pouco" na polícia; a maioria
considerou que a qualidade dos serviços da policia piorou ultimamente e
92% temem que os policiais façam mal a algum de seus parentes
(PASTORE, 1997)
Essa desconfiança é velha e se estende também à justiça. E
não é para menos. Quando se combina a ineficiência das
duas instituições, tem-se o quadro atual. Para cada mil
cidadãos presos em flagrante, apenas um ch
julgado, condenado e preso. Se levarmos em conta que
poucos são os contraventores presos em flagrante,
conseguimos entender porque a criminalidade no Brasil
ultrapassou as piores marcas mundiais. . (PASTORE, 1997
s/p)
21
pelas polícias brasileiras e pelo histórico repressivo que possuem. Como
lícia, a insignificância estatística
toma outra dimensão que deve ser considerada na relação
polícia/comunidade. Na contrapartida, “proteção total” é um sentimento
nacional o mesmo
tipo de pesquisa com resultados assustadores: cerca de 70% dos
brasileiros disseram não confiar "nenhum pouco" na polícia; a maioria
considerou que a qualidade dos serviços da policia piorou ultimamente e
al a algum de seus parentes
Essa desconfiança é velha e se estende também à justiça. E
não é para menos. Quando se combina a ineficiência das
se o quadro atual. Para cada mil
cidadãos presos em flagrante, apenas um chega a ser
julgado, condenado e preso. Se levarmos em conta que
poucos são os contraventores presos em flagrante,
conseguimos entender porque a criminalidade no Brasil
ultrapassou as piores marcas mundiais. . (PASTORE, 1997
Pesquisa de Vitimização
Conclusões
Este artigo é uma pequeníssima mostra de uma grande tarefa de
buscar resultados em pesquisas que circunscrevem a vitimização para
além dos limites impostos em uma coleta dos dados “objetivos” dos
boletins de ocorrências criminais e inquéritos policiais.
Não há mais dúvida que os surveys de vitimização, apesar de
recentes, são metodologias cada vez mais adotadas em todo o mundo,
justamente por vislumbrar qualitativamente aspectos não revelados de
experiências humanas de exposição ao risco, de vitimização real e de
avaliação dos serviços públicos de segurança. Tão difícil quanto medir os
sentimentos, é a medição da percepção de segurança e da violência não
consumada.
Os resultados das pesquisas conformam mecanismos de superação
dos problemas com as cifras ocultas da criminalidade e devem nortear
políticas preventivas, implementadas pelos organismos de segurança e
por iniciativas da sociedade civil como dos Conselhos Municipais de
Segurança, além de instrumentos para pesquisas acadêmicas e
referenciais para as cidades médias.
Apesar dos resultados de todas as pesquisas (03 de vitimização e
03 de avaliação do desempenho da PM) serem relativamente favoráveis
ao trabalho da Polícia Militar de Marília, não confirmam grande parte dos
22
ma pequeníssima mostra de uma grande tarefa de
buscar resultados em pesquisas que circunscrevem a vitimização para
além dos limites impostos em uma coleta dos dados “objetivos” dos
de vitimização, apesar de
recentes, são metodologias cada vez mais adotadas em todo o mundo,
justamente por vislumbrar qualitativamente aspectos não revelados de
experiências humanas de exposição ao risco, de vitimização real e de
ão dos serviços públicos de segurança. Tão difícil quanto medir os
sentimentos, é a medição da percepção de segurança e da violência não
Os resultados das pesquisas conformam mecanismos de superação
alidade e devem nortear
políticas preventivas, implementadas pelos organismos de segurança e
por iniciativas da sociedade civil como dos Conselhos Municipais de
Segurança, além de instrumentos para pesquisas acadêmicas e
Apesar dos resultados de todas as pesquisas (03 de vitimização e
03 de avaliação do desempenho da PM) serem relativamente favoráveis
ao trabalho da Polícia Militar de Marília, não confirmam grande parte dos
Pesquisa de Vitimização
resultados das pesquisas realizadas com o mesmo fim das que temos
conhecimento. Uma das explicações é a inexistência dessa prática de
pesquisas de vitimização em cidades médias ou, no caso de existirem, a
falta de divulgação para uma comparação do desempenho da PM em
cenários urbanos similares. Outra explicação, em uma análise bastante
subjetiva, seria o fato de as pessoas não se dispuserem a refletir
consistentemente sobre os problemas que lhes atingem ou pensam que
não atingem diretamente por não terem sido vítimas de qualquer crime.
Violência afeta diretamente todas as pessoas, independente de já terem
sido dela vítimas ou não.
Uma terceira explicação seria o reconhecimento de que a PM de
Marília realmente desempenha um bom trabalho, conforme a percepção
dos cidadãos. Porém, deve-se destacar que o fato das pessoas vitimadas
por algum tipo de crime, ou que tiveram contato com a polícia por
problemas pessoais, posicionarem-se de maneira mais crítica quanto à
sua atuação, é um dado preocupante dentro de toda essa subjetividade.
Um fato a ser considerado que pode decisivamente contribuir para
essa relação conflituosa é a questão das prioridades definidas pela polícia
para atender as solicitações da população. Oferta e procura não mantêm
um equilíbrio e, conseqüentemente, provocam reações negativas. Para
quem se sente vítima, o seu problema será sempre prioritário. Para a
polícia, a prioridade está na classificação penal. Nesse sentido, urge a
23
fim das que temos
conhecimento. Uma das explicações é a inexistência dessa prática de
pesquisas de vitimização em cidades médias ou, no caso de existirem, a
falta de divulgação para uma comparação do desempenho da PM em
xplicação, em uma análise bastante
subjetiva, seria o fato de as pessoas não se dispuserem a refletir
consistentemente sobre os problemas que lhes atingem ou pensam que
não atingem diretamente por não terem sido vítimas de qualquer crime.
iretamente todas as pessoas, independente de já terem
Uma terceira explicação seria o reconhecimento de que a PM de
Marília realmente desempenha um bom trabalho, conforme a percepção
to das pessoas vitimadas
por algum tipo de crime, ou que tiveram contato com a polícia por
se de maneira mais crítica quanto à
sua atuação, é um dado preocupante dentro de toda essa subjetividade.
que pode decisivamente contribuir para
essa relação conflituosa é a questão das prioridades definidas pela polícia
para atender as solicitações da população. Oferta e procura não mantêm
um equilíbrio e, conseqüentemente, provocam reações negativas. Para
em se sente vítima, o seu problema será sempre prioritário. Para a
polícia, a prioridade está na classificação penal. Nesse sentido, urge a
Pesquisa de Vitimização
necessidade de mudanças de atitude de todos os envolvidos e, mais
ainda, a necessidade de mudança de sentimentos, arraigados por uma
prática de anos.
Tais elementos conduzem à busca de novos paradigmas, propostas
e teorizações sobre o assunto, reunidos no conceito de Segurança
Democrática:
A noção de segurança democrática coloca em relevo a
imbricada relação entre justiça social e ordem social. Faz ver
que a atenção e cuidado com as relações político
são base para qualquer teoria sobre segurança pública que
pretenda deslocar o eixo da discussão da função de garantia
dos dispositivos de governo para a função de
proteção do tecido societário. Finalmente, Segurança
Democrática é o reconhecimento dos diferentes que
precisam ser envolvidos na negociação do espaço de
convivência societária. Ao invés da culpabilização individual,
pressupõe a responsabilização coletiva. Coloca os atores
sociais com relações horizontalizadas do ponto de vista do
valor das pessoas, de suas crenças e de seus desejos
(MENDONÇA Fº, 2001, p. 8).
Esse é o grande desafio que as ciências e as instituições de ordem
pública deverão abraçar para a melhoria das condições de vida dos
homens e mulheres que habitam as nossas cidades.
24
necessidade de mudanças de atitude de todos os envolvidos e, mais
raigados por uma
Tais elementos conduzem à busca de novos paradigmas, propostas
e teorizações sobre o assunto, reunidos no conceito de Segurança
A noção de segurança democrática coloca em relevo a
iça social e ordem social. Faz ver
que a atenção e cuidado com as relações político-afetivas
são base para qualquer teoria sobre segurança pública que
pretenda deslocar o eixo da discussão da função de garantia
dos dispositivos de governo para a função de estruturação e
proteção do tecido societário. Finalmente, Segurança
Democrática é o reconhecimento dos diferentes que
precisam ser envolvidos na negociação do espaço de
convivência societária. Ao invés da culpabilização individual,
zação coletiva. Coloca os atores
sociais com relações horizontalizadas do ponto de vista do
valor das pessoas, de suas crenças e de seus desejos
Esse é o grande desafio que as ciências e as instituições de ordem
braçar para a melhoria das condições de vida dos
Pesquisa de Vitimização
BIBLIOGRAFIA
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Pesquisa vitimização – apresentação (2001 e 2003/4)
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Percepção espacial, crime e medo: entre o real e um estudo sobre as evidências sócio-espaciais e
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Relatório Completo
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