Workshop-Arcos de Valdevez e as Escritas Do Passado

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Alexandra Vidal apresenta a Paleografia na necessidade de revisitar o passado para se entender o presente e projetar o futuro.

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À descoberta dos Forais do Soajo e

dos Arcos de Valdevez e das escritas do passado

Câmara Municipal dos Arcos de Valdevez em parceria com Alexandra Vidal

vidal.alexandra@gmail.com

Os Arquivos são um património único e insubstituível transmitido de uma geração a

outra.

Desempenham um papel essencial no desenvolvimento das sociedades ao contribuir

para a constituição e salvaguarda da memória individual e colectiva. O livre acesso aos

arquivos enriquece o conhecimento sobre a sociedade humana, promove a democracia,

protege os direitos dos cidadãos e aumenta a qualidade de vida.

Conselho Internacional de Arquivos, Declaração Universal sobre os Arquivos,

2010. 2

Da História Local a Património

da Humanidade

2

1. Dar a conhecer as escritas do nosso passado;

2. Explicar a sua evolução e características;

3. Descobrir os locais de produção dos documentos;

4. Conhecer a produção do pergaminho;

5. Contextualizar o reinado de D. Manuel I com os Forais Manuelinos;

6. Compreender o Sistema de Abreviaturas;

7. Experimentar a leitura dos Forais do Soajo e dos Arcos de Valdevez na escrita da sua

época.

SUMÁRIO:

3

1495

D. Manuel I sobe ao trono

1525

Ordenações Manuelinas

1514

Foral do Soajo

1515

Foral de Arcos de Valdevez

1504 a 1552

Organização do Arquivo

Real

Livros da Leitura Nova

1496 a 1520

Reforma dos Forais

4

5

“Paleografia é a parte da Diplomática que, pelo

carácter da letra em que se acham os

documentos antigos, nos ensina a julgar sua

idade, veracidade e ainda a determinar o

território ou a nação a que pertecem”

João Pedro Ribeiro

(Porto, 1758-1839)

Por PALEOGRAFIA compreende-se o estudo

da escrita antiga, conforme a etimologia grega

da palavra:

paleos (antiga) + graphein (escrita)

ALGUNS INSTRUMENTOS DE TRABALHO DO PALEÓGRAFO E DO HISTORIADOR

Elucidários

Álbuns

Dicionários

6

7

Cada escrita reflecte a

organização da sociedade

da sua época, serve para

espelhar as suas

necessidades.

Alfabeto­padrão tuscano

do século XII­ as iniciais A até D

Recriação de um texto escrito com cursiva

maiúscula romana segundo o modelo das

tabuinhas de Vindolanda, Transcrição:

(“Com esta grácil “caneta” os romanos

decoravam as tabuinhas com escrita, que

apenas hoje viram a luz.”).

http://vindolanda.csad.ox.ac.uk/exhibition/paleo-1.shtml

Algumas das escritas do Mundo Ocidental

Cursiva Maiúscula Romana (ca.

Século I)

Capital Quadrada Monumental (Baixo

Império)

Inscrição que se encontra na coluna de

Trajano. Ano 113-1114 d.c.

8

Unidade gráfica do Império Romano

Particularismo gráfico durante a Alta Idade Média

Escritas “nacionais”

Combinação da nova escrita comum com a uncial, a semi-

uncial e com elementos próprios da evolução gráfica de cada

reino:

França – escrita merovíngia

Ilhas Britânicas – escritas insulares

Itália meridional – escrita beneventana

Península Ibérica - escrita visigótica 9

Uncial Séculos III /VIII d. c.

10

Codex Alexandrinus, século V. Encontra-se no Museu Britânico, em Londres

Escrita Visigótica

Usada entre os séculos VIII / XII

Acta datada de 22 de Fevereiro de 1109. Origem: Biblioteca Nacional de

França, Paris 11

Carolina

Surge no final do séc. VIII e mantém-se até aos

séculos XI-XII;

Escrita redonda de formas simples e equilibradas, com

raros nexos e letras bem separadas;

Nascida da evolução das escritas merovíngia, semi-

uncial e pré-carolinas;

Manuscrito francês, segunda metade do século VIII

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Minúscula Diplomática

Usada desde finais do séc. XI até ao séc.

XIII;

Letras bem separadas, com corpo

pequeno e grandes hastes e caudas;

Parte superior das

hastes, por vezes, decorada com laços;

13

A LETRA GÓTICA

O termo Gótica,

criado pelos humanistas

italianos, designa o tipo

de escrita usada na

Europa entre os finais

do século XI e o século

XVI.

Fonte:

http://bibliotecadigital.jcyl.es/i18n/consulta/registro

.cmd?id=4553 14

Origem A escrita gótica nasceu na região anglo-normanda nos fins do século XI.

A escrita gótica resultou de uma profunda mudança operada na

forma de talhar o bico da pena de ave.

Algumas das escritas do mundo ocidental

15

“Entre os séculos VI e XII o acesso à cultura escrita foi limitado, praticamente, aos membros da Igreja, permanecendo analfabetas as populações leigas das cidades e dos campos.”

SANTOS, Maria José Azevedo - Ler e compreender a escrita na Idade Média. Lisboa : Colibri, 2000. 131. P. 82.

16

Os estilos

Escrita gótica cursiva

Usada pelos tabeliães* na

elaboração corrente, do dia a

dia, de emprazamentos,

aforamentos, cartas de foral,

sentenças, testamentos, etc.

* Notário ou oficial público cuja função é lavrar actos e

contratos que requeiram forma e autenticidade

legal e pública.

Algumas das escritas do mundo ocidental

17

Góticas Librárias (Solenes)

Próprias de manuscritos litúrgicos.

Letras de módulo (tamanho) grande, com

formas muito geometrizadas.

Algumas das escritas do mundo ocidental

18

Escrita Humanística Surge na Itália no início do séc. XV, em reacção às escritas góticas e

divulgadas por humanistas como, Petrarca, Niccoló Niccoli e Poggio Bracciolini

Escrita de Niccoló Niccoli (1364-1437) 19

Mas aonde se escrevia? No Scriptorium

Palavra de origem latina que

significa "lugar para a escrita” onde os

livros eram copiados e iluminados (pintados). Usavam folha de ouro e raras tintas e eram manuscritos porque eram feitos à mão. A escrita e a iluminura eram um verdadeiro trabalho de equipa de monges especializados, os monges copistas e iluminadores. Graças ao seu penoso trabalho, por vezes de uma vida inteira! O seu suporte, como vamos ver, era a pele de animal.

20

21

A chancelaria régia era a

repartição responsável pela redacção,

validação (mediante a aposição do selo

régio) e expedição de todos os actos

escritos da autoria do próprio Rei. Os

serviços da chancelaria régia podiam

também reconhecer e conferir carácter

público a documentos particulares que

lhe fossem submetidos para validação.

Fonte:

http://digitarq.dgarq.gov.pt/details?id=3813585

Manuscrito da Biblioteca do Arsenal, ms 5190,

http://medievalwriting.50megs.com/author1.htm

Mas aonde se escrevia? Na Chancelaria Régia

E qual era o suporte da escrita?

O QUE É O PERGAMINHO?

Pele de carneiro, cabra ou vitela, submetida a um

tratamento específico para ser utilizada como suporte gráfico.

22

A palavra PERGAMINHO deriva da cidade de Pérgamo (actual Bergama, região do Egeu, Turquia).

Pensa-se que foi nesta cidade que se aperfeiçoou o seu fabrico e se iniciou a sua produção em grande escala, a partir do século II a.c.

DE ONDE VEIO O PERGAMINHO?

23

• Lavagem em água corrente

• Banho com água de cal para facilitar a

raspagem dos resíduos de gordura

e pêlos

• Imersão em água de cal

O FABRICO DO PERGAMINHO

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1. Ciclos de molhagem e raspagem até obter a espessura desejada.

2. Polimento com gesso ou pedra-pomes

3. Esticamento num bastidor para secar ao sol

O FABRICO DO PERGAMINHO

25

INSTRUMENTOS DE PREPARAÇÃO DE PERGAMINHO

26

O Pergaminho contém colagénio responsável pela sua elasticidade

RESULTADO

27

INSTRUMENTOS DE ESCRITA

A preparação para a escrita no pergaminho

começava com a marcação do corpo de texto, traçando

o regramento com o auxílio de um estilete, um

esquadro, uma régua e um compasso.

Esta grelha compositiva, formada por um

conjunto de linhas rectas verticais e horizontais,

delimitava não só a área reservada à colocação do texto

(caixa de texto), mas definia também as linhas de escrita

que auxiliavam o copista na execução da sua tarefa

(pautado).

28

Para escrever, poderia ser usado um

cálamo ou uma pena. O cálamo, cana fina e

rígida com a extremidade trabalhada de modo a

possibilitar a escrita, é feito a partir de um caule

de uma planta (p.e., do papiro). Foi usado até à

Idade Média, época em que começou a ser

substituído por penas de aves, que

possibilitavam traços mais finos e precisos.

A pena de pássaro foi o meio de

escrita mais usado na Idade Média. Patos,

gansos, galos, corvos e pavões são algumas das

aves que poderiam fornecer penas para escrever.

INSTRUMENTOS DE ESCRITA

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Receita de Tinta

Receita descrita no Manuscrito de Pádua – Medieval and

Renaissance Treatises on the Arts of Painting, página

676.

Misturar uma porção de vinho bem forte com

bugalhas bem trituradas num vaso vidrado, e expõe-se

ao calor do sol durante 8 dias, mexendo frequentemente.

De seguida, separam-se as galhas do vinho, filtra-se e

mistura-se o vitríolo romano, por mais uma semana,

mexendo com frequência. De seguida, dissolve-se uma

porção de goma arábica em água de rosas, e espera-se

mais oito dias não esquecendo de mexer tudo com o

vinho. No final, usar a tinta com um pouco de vinho

fervido. 30

INSTRUMENTOS DE ESCRITA

A faca ou o canivete serviam para talhar as penas de ave ou os

cálamos, raspar o pergaminho, alisar ou apagar os erros.

Fonte: http://pt.scribd.com/doc/59984155/Iluminura-Medieval-Apocalipse-do-Lorvao-e-Livro-das-

Aves#scribd

31

A Leitura Nova

“Entre as medidas tomadas para a

organização do Arquivo Real, conta-se a

elaboração das cópias dos documentos,

considerados então mais importantes, numa

colecção intitulada Leitura Nova, ordenada

por D. Manuel I, e que teve início em 1504,

com o fim de preservar os documentos cujo

suporte estava demasiado danificado, ou cuja

leitura já não era acessível.”

FONTE:

http://digitarq.arquivos.pt/details?id=4223191

32

“ O uso da Humanística

Librária atingiu o ponto

culminante na

Leitura Nova (colecção de

volumes pergamináceos)”

Marques, José (2002)

• Com particularidade do

uso do u e do v, com

valor de consoante

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A Leitura Nova – Escrita Humanística Librária

O Foral do Soajo e o Foral dos Arcos de Valdevez

1514 1515 34

A importância dos Forais – Contexto e compreensão

Carta de Foral ( na sua origem):

Diploma concedido pelo rei ou por um senhor senhor laico ou

eclesiástico onde se estabeleciam regras e direitos de determinadas

povoações.

Diziam respeito a:

- Segurança, isenção ou redução de impostos;

-Exclusão de certos pagamentos;

- Concessão ou reconhecimento de governo próprio, etc. 35

• Reforma de D. Manuel I que afirmou: “Que se façam

entender”;

• Reforma a cargo do Chanceler-mor Rui Boto, Dr. Fernão Façanha e Fernão de

Pina, escrivão;

• Não são meras cópias dos Forais Antigos;

Mas foram importantes para:

Erradicar abusos dos senhores das terras;

Acautelar os direitos fiscais da Coroa;

Definir espaços, etc…

A importância dos Forais – Contexto e compreensão

Os Forais Manuelinos

Reinado de D. Manuel I

Período de Centralização Régia 36

Pistas para a Leitura

O português que se usava no passado é chamado de arcaico, ou seja, português antigo. Por isso, quando fazemos uma transcrição devemos respeitar e manter sempre o português da época!

NOMES DE PESSOAS

= JOHAM=JOÃO

= PEDR’EANNES = PEDRO EANES

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Pistas para a Leitura

Abreviaturas por suspensão

38

Dizem-se abreviadas por

suspensão as palavras das quais

não é expressa senão a primeira

parte, sendo as letras finais

substituídas por um sinal de

abreviatura.

Hum = Um

Abreviaturas por contracção

Dizem-se abreviadas por contracção as palavras a que

faltam uma ou mais letras intermédias, usando-se um sinal geral de

abreviatura para o indicar.

Deus

Pistas para a Leitura

= CHRISPTO = CRISTO

39

Abreviaturas por contracção

Pistas para a Leitura

= DIREITOS

= MARTINZ = MARTINS

40

Sinais que indicam os

elementos que faltam na palavra

abreviada. Alguns, seja qual for a letra a

que se encontram sobrepostos ou

ligados, têm um valor constante.

quatrocentos

Pistas para a Leitura

Sinais abreviativos

41

Representa-se colocando acima da

letra determinante uma letra ou letras,

de módulo menor, correspondentes a

letras intermédias ou finais da palavra.

Pistas para a Leitura

Abreviaturas por letras sobrescritas

= O QUINTO = TRIGO

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Pistas para a Leitura

Sinais Especiais

= E

= A SABER

43

Letras do alfabeto latino usadas pelos

romanos para exprimir a quantidade:

I, i = 1

V, v = 5

X, x = 10

L, l = 50

C, c = 100

D, d = 500

M, m = 1000

Pistas para a Leitura

44

45

Pequeno Glossário

Bragal – termo que não tem apenas o sentido de tecido de linho. Podia constituir uma medida linear = 8 varas = 8,80m. Canada – medida de capacidade para sólidos e líquidos. 1 canada = 4 quartilhos ou 2 litros. Ceitil – moeda que surgiu no início da expansão portuguesa, em alusão à tomada de Ceuta em 1415. Direituras – pensões miúdas que o foreiro deveria pagar, além do foro principal. Fossadeira – imposto pela isenção de integrar a expedição militar (fossado). Leira – rego que o arado abre na terra; elevação de terra entre dois sulcos. Lutuosa – imposto que se pagava pela morte de alguma pessoa. Atingia a família do foreiro defunto. Marrã – entende-se como a parte do porco ou um presunto. Real – moeda corrente no período designado como Idade Média. Existiram os brancos e os pretos, sendo este último a primeira forma de moeda de cobre que surgiu em Portugal.

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Vem à tua Biblioteca e descobrirás muito mais…

Bibliografia e Recursos online

CALDAS, Eugénio de Castro, (1994). Terra de Valdevez e Montaria do Soajo. S/L: Verbo. COSTA, Paula Pinto, (2014). Soajo. 500 anos do foral manuelino. Arcos de Valdevez: Câmara Municipal de Arcos de Valdevez. MARQUES, José, (2002). Práticas paleográficas em Portugal no século XV. Porto: Revista da Faculdade de Letras. Disponível em: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/artigo3501.pdf OLIVEIRA, César, dir. (1996). História dos Municípios e do Poder Local: dos finais da Idade Média à União Europeia. Lisboa: Temas & Debates. REIS, António Matos. História dos Municípios. Disponível em: https://sites.google.com/site/historiadosmunicipios/. SANTOS, Maria José Azevedo dos, (2009). Ler e compreender a escrita na Idade Média. Coimbra: Edições Colibri.

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Vamos ler e compreender os nossos Forais como bons investigadores que somos?