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Este cordel surgiu da minha vontade de fazer uma homenagem a minha avó, na comemoração

dos seus 100 anos de idade.

E como não poderia deixar de ser, a ela, Dona Ermínia, é dedicado este cordel.

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OSMINDA

Cordel de Dona Ermínia Pinto de

Oliveira

Hailton Pinto Vieira

2ª edição

Fevereiro de 2015

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Capítulo 1 – Osminda ................................................... 5

Capítulo 2 – Fazenda Avenida .................................. 13

Capítulo 3 – Vamos para a cidade ............................ 17

Capítulo 4 - Distância ............................................... 19

Capítulo 5 – Enfim, sós...............................................24

Capítulo 6 – Antônio Arteiro ...................................26

Capítulo 7 – Dona Ermínia – Seu Lunga ................28

Capítulo 8 - Mariazinha ............................................ 31

Capítulo 9 – 100 anos ..................................................34

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Capítulo 1 – Osminda

Eu vou contar agora

Para todo mundo saber

A história de uma senhora

Lá do interior de Minas

O lugar onde ela mora

É uma cidade bem pequenina

Boa parte da história

Está como me foi contada

Alguma coisa, eu confesso

É um pouco inventada

Mas eu precisava incluir

Para ficar mais animada

Essa senhora, bem vivida

É por todos muito querida

E até bem conhecida

Sem chegar a ser famosa

Vivendo em seu cantinho

Lá em Águas Formosas

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Para treze, ela é mãe

Para alguns, Minha Dindinha

Chamam-na até de Mãe Véia

O mais comum é Madrinha

Também a tratam por Vó

E os mais novos, Vó Bisa. Ou Bisavó

Em frente à sua casa

Sentada em um banquinho

Ela observa quem passa

Conversa com um vizinho

Gosta sempre de uma prosa

E de receber muito carinho

Com idade perto dos 100

Sua vitalidade é notória

E sua lucidez, também

Ela me contou sua história

Sem esquecer um porém

Valendo-se apenas da memória

Nossa história se inicia

Numa fazenda de Águas Belas

Na saída para Crisólita

Logo depois da Mutuca

Era ali onde sua família

Tinha dura labuta

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Essa fazenda a que me refiro

Fica ali perto do Zulmiro

Margeada pelo Rio Pampam

E num belo dia de manhã

Nasce, então, Ermínia

Essa nossa heroína

Então foi naquele lugar

Que Ermínia veio à luz

Vindo assim a alegrar

Dona Ana Maria de Jesus,

Todos os irmãos e o pai,

Tomaz Antônio da Cruz

Enquanto cresce a pequena

Logo ela fica sem o pai

Muito triste, uma pena

Com o pai indo tão cedo

Quem é que vai cuidar

Da nossa linda morena?

Mas sua família era bem grande

Morando ali naquele canto

Seus irmãos, eram cinco

Suas irmãs, outro tanto

Eram muitos para cuidar

Para ajudar no acalanto

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Cristino, Celestina

Tomaz, Silistrina

Antonio, Virgilina

José, Ursalina

Braz e Rosalina

Eram os irmãos da menina

Com Braz e Rosalina

Ermínia gostava de brincar

E também com outras meninas

Que sempre havia por lá

Elas diziam - Vem, Osminda!

Como costumavam lhe chamar

- Vem, Osminda, vem brincar!

De boneca de pano

Ou de cavalo de pau

Também podemos cantar

Ou, então, você se esconde

Que nós vamos te encontrar

Mas o que ela mais gostava

Era de ir para a cidade

Gostava de namorar

Já chegara à mocidade

Mas namoro não era como hoje

Não tinha essa liberdade

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Podia-se trocar um olhar

E até segurar na mão

Foi assim com Cipriano

Seu primeiro namorado

Assim também foi depois

Quando ela namorou Tiago

Também namorou Lucílio

Que ela achava bonitão

Mas calma, minha gente

Ermínia era moça decente

Parece que foram muitos

Mas eram namoros inocentes

Quando chegavam à cidade

Rosalina e Ermininha

Eram sensação, de verdade

O povo, vendo passar as mocinhas

Admirava e dizia – São bonitas

Essas duas moreninhas

Aconteceu um casamento

Num sábado, depois da feira

Na casa de Dona Paula

Da família Cachoeira

Havia um moço lá

Que dela não tirou o olhar

Ela, com seu jeitinho tinhosa

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Também para o moço olhou

E ficando toda prosa

Chamou a irmã e falou

- Vê aquele moço, Rosa

Vai ser o meu grande amor

Outra vez, na cidade

Um leilão aconteceu

Ermínia foi para a festa

O moço também apareceu

O olhar dela encontrou o dele

E o dele encontrou o seu

E o moço naquele dia

No leilão lá na igreja

Dos muitos prêmios que havia

Arrematou uma cerveja

Que rapidamente ofereceu

Para a filha de Ana Maria, ora veja!

- Mas qual Ana Maria?

Quis saber o leiloeiro

- Você fala de Ana Maria

De Laurindo Fogueteiro?

- Não. Diz o moço audaz

- Falo de Ana Maria

A viúva do Seu Tomaz

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As amigas, sem inveja

foram contar a sua mãe

- Osminda ganhou cerveja

Disseram para Dona Ana

- Quem deu foi o namorado

Foi Antonio de Verdiana

Ermínia estava feliz

E depois de passado um tempo

Com o namoro indo bem

Chegara o grande momento

Os irmãos disseram - Convém

Marcar logo o casamento

Consumado o casamento

Antonio e Ermínia

Iriam formar um lar

Juntaram pequena mobília

E na fazenda de sua família

É que decidiram morar

Ainda não existia televisão

E no treme-treme do colchão

Seriam muitos herdeiros

Manoel foi o primeiro

Uma filha veio em seguida

Que se chamou Almerinda

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Nossa pequena Ermínia

Com os afazeres do lar

Uma mãe de família

Com filhos para cuidar

Ainda era uma menina

Que gostava de brincar

Das muitas brincadeiras

Daquela menina faceira

Uma delas era correr

Pelo meio do capim

Levando junto a Branquinha i

E também o Manoelzim

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Capítulo 2 – Fazenda Avenida

Com filhos para criar

Antonio cuida do roçado

Planta o feijão, tira o leite

Juntamente com os cunhados

Mas ele quer um canto só seu

Sente-se um pouco incomodado

Eles, então, resolvem um dia

Ter uma nova morada

A família pega tudo que havia

O Manoelzim e a Merita

E vão começar nova vida

Lá na fazenda avenida

Antonio foi na frente

Ajeitar o roçado e a moradia

Trabalhou de noite e de dia

E ainda que o trabalho fosse duro

Ele fez tudo muito contente

Pois preparava seu futuro

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Foi realmente dureza

Limpar toda aquela mata

Havia lá muito bicho, muita onça

Era preciso cuidado com a pintada

E por causa de tanta cobra

A cama tinha de ser bem alta

Para Ermínia não teve jeito

Ficar com medo era bobagem

Ela acompanhou Antonio

E foi para aquelas paragens

Mostrando para todo mundo

Que era mulher de coragem

Mais filhos vão chegando

Agora é a vez de Luciano

Também chega Sebastião

Em seguida, veio o João

E a história se repete

Pois logo chega Odete

Também houve Argenaro

Que com dez meses se foi

Ela recorda com carinho

Daquele que não vingou

- Meu filho era muito bonitinho

- Tinha o cabelo todo pretinho

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Assim, como a dos seus pais,

Sua família também será grande

Ela verá nascer Rosalvo,

Luzia, Maria e Osmane

Agora, sim, a fila termina,

Com Zenólia, Euclides e Jesuína

São muitos filhos agora

E estes, sem demora

Também vão casando

A fazenda é bem grande

E a família por ali

Vai se espalhando

Manoel casa com Gertrudes

E a Merita acaba decidindo

E se encanta com José Placidino

Luciano casa com Elda

Sebastião com Eli

E João com Elba

Odete também está namorando

E logo se casa com Hidelbrando

E vai seguindo a fila

Todos cumprindo o seu papel

Rosalvo casa com Zilda

E Luzia casa com Manoel

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Com muitos filhos bem criados

Alguns, já casados

Outros, entrando na mocidade

E as crianças precisando estudar

Então é hora de mudar

Ter que ir para a cidade

Com a decisão tomada

As malas arrumadas

A fazenda ficará para trás

Lá ficarão os casados

As moças e os rapazes

Deverão seguir os pais

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Capítulo 3 – Vamos para a cidade

A cidade não é mais Águas Belas

Já houve a emancipação

E mudaram o nome dela

A cidade nem cresceu tanto

Mas está bem mais alterosa

Merece o nome de Águas Formosas

A casa da Rua Divaldo Viana

Foi a primeira parada

Ficava perto do Ginásio

Onde estudava a meninada

Mas eles terão uma nova casa

Para fixarem a sua morada

Novamente a família se move

Agora para a Rua Teófilo Otoni,

No número um-sete-nove

Na casa, perto de uma ladeira,

Eram vizinhos de Rosa e Rochael

Também da venda de Zé Vieira

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A casa é bem grande

Dá trabalho para cuidar

Ermínia tem suas filhas

Prontas para ajudar

Uma cuida da casa, outra do almoço

No quintal, Ermínia está a cantar

“Celina, meu bem

Celina, meu xodó

Celina foi embora

Eita pena, eita dó”

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Capítulo 4 - Distância

Os filhos chamam os pais

- Meu pai e minha mãe querida

A vida na roça é muito dura

É uma situação demais ardida

São dificuldades que ninguém atura

É preciso melhorar de vida.

Então chamam todos os filhos

Colhem o feijão, o arroz e o milho

Vendem o gado e os marrecos

Juntam todos os tarecos

E num instante, sem demora

Vão pelo mundo afora

Dessa forma, decide Manoelzim

Ele chama sua Gertrudes

Mulher cheia de virtudes

- Fia, pega os menininhos

Nós vamos pra Citrolândia

Lá perto de Betim

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Merita também quer mudar de ares

E com o José Placidino

Vão direto a Valadares

Mas a mudança um dia encerra

- Não dá. Resolve Merita

- Vou de volta pra minha terra

Dete chamou Hidelbrando

- Também cansei dessa paisagem

Pegou todos os filhos

E logo empreendeu viagem

Foram primeiro para BH

Depois foram para Contagem

Um dia vai Manim

Este ainda não casou

Por isso vai sozinho

Mas pouco tempo ficou

Logo voltou. Contudo

Estava bem mais cabeludo

Já Rosalvo não foi só

Levou sua Zilda

E junto, a pequena Ró

Luciano foi em seguida

E levou consigo sua Elda

Todos querem mudar de vida

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Mas não acabou ainda

Um dia também irá Joãozinho

E levará junto sua Binha

E aos poucos irão, assim

Fazendo com que a cada dia

A turma cresça lá em Betim

Com os filhos morando longe

Dona Ermínia sofre com a distância

Naqueles tempos sem internet

Sem Msn ou Orkut

E muito menos Facebook

Como ela terá noticias de Dete?

Mas existe o correio

E ela espera pelo carteiro

Eis que chega João Carreirinha

- Dona Erminia, olha o que veio

Carta para a Senhora.

- Mãe, deixa que eu leio.

- Vai, Zu. Leia para mim

Quem é que escreve assim?

- A carta é de Dete, mãe

E está dizendo aqui

- Mãe, aqui estamos bem

Espero que a Senhora, também

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Hidelbrando está trabalhando

Os meninos estão estudando

Os mais velhos já cresceram

Zuíta está namorando

Não demora muito

Já tem gente aqui casando

Mãe, quero ir te ver

Se não neste ano

No ano que vem

A Dora manda lembranças

Regina manda também

Beijo da filha que te ama

Agora ela está feliz

Gosta de receber notícia da filha

Em seguida, seu neto diz

- Mãe Véia, chegou outra carta

É do Tio Manoelzim

- O que está esperando, leia pra mim!

- Minha mãezinha querida

Minha vida anda corrida

Mas estamos todos bem

E espero que aí também

Escrevo para dar notícia minha

E também de sua comadre Fia

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- A saudade é angustiante

Vivendo neste lugar distante

Há horas que não aguento

Mas a vida quis assim

E não é de todo ruim

Pois aqui ganho o meu sustento

- Quero receber notícias daí

Não esqueça de escrever pra mim

Mãe, meus filhos estão bem

Eles mandam lembranças

Fia manda também

Beijos do filho que muito te ama

- Vai meu neto, querido

Escreve aí, bem bonito

- Para quem, Mãe Véia

Tio Manoelzim ou minha Madrinha

Para os dois, para Dete primeiro

Para Manoelzim, escreve depois

- Espero que esta carta

Encontre vocês todos bem

Aqui estamos bem também

A saudade é que quase me mata

Mas entendo que tiveram que ir

Mesmo sentindo tanta falta

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Capítulo 5 – Enfim, sós

A infância é tempo passado

Os mais novos já cresceram

É hora de arranjar namorados

E para eles, namoradas

Zenólia encontrou José Zito

Agora já é senhora casada

Zu tem um pretendente

Da cidade de Itaobim

Mas ele que não tente

Ela não está a fim

Que pena do coitado

Mas ela gosta é de Reginaldo

Quando Reginaldo chega

Dona Erminia para o neto fala

- Presta atenção Hailtinho

Não saia para comprar bala

- Fica o tempo todo na Sala

Não deixa eles sozinhos

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Mas Reginaldo é muito arteiro

E já separou o dinheiro

Ele só pensa em namorar

- Toma, Hailton, dois cruzeiros

Vai comprar bala no Zé Vieira

Não tenha pressa, pode demorar

Mas depois de passado um tempo

A caçula da família se foi

Teve festa de casamento

Kidim também casou

Ele encontrou a Márcia

E com a moça se encantou

Manim, o fazedor de gaiolas

Um dia encontra Fátima

E com ela vai embora

Maria é a última que ficou

Mas ela encontrou José

E finalmente se casou

Com Antonio e Ermínia

Resta somente o neto

Mas ele não vai ficar

Muito tempo com os avós

Cresceu, quer ir embora

E eles ficam, enfim, sós

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Capítulo 6 – Antônio Arteiro

Falei muito de Dona Ermínia

Afinal, é sua a história

Falei pouco de Antonio

Ele ficou um tanto sumido

Falarei um pouco mais agora

Ele não foi esquecido

Antônio, mesmo aposentado

Gosta de consertar coisas

Ele pega suas ferramentas

Não consegue ficar quieto

Coloca piso, janela e porta

Se deixar, pinta até o teto

Com mais de 80 anos

Não pode ficar facilitando

Mas um dia no quintal

Uma árvore ele resolve podar

Não vê que o galho é fraco

E se subir, pode quebrar

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E não é que naquele dia

Na mangueira, ele subiu

Foi cortar um galho, fazer a poda

O galho partiu e ele caiu

Machucou muito e sua companhia

Seria agora a cadeira de rodas

Mais uma vez Ermínia se muda

Agora para a Rua Jaime Moreira

Antonio precisa de tratamento

Ficando mais perto de Zenólia

De Luzia e também de Kidim

Vai facilitar o acompanhamento

Na cadeira de rodas, imóvel

Conta com a companhia de Ermínia

Mas sua saúde é fraca, ele definha

Assim, chega então uma hora

Que seu corpo não suporta

Tudo acaba, ele vai embora

Ermínia está só

Sente muito a falta de Antônio

Sente a falta de seu amor

Mas ela é mulher forte

Ele tem os seus filhos

E não reclama da sorte

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Capítulo 7 – Dona Ermínia – Seu Lunga

Dona Ermínia, vou te dizer

Também tem dias de Lunga

Sujeito folclórico, nordestino

Que a todos excomunga

Seja com homem ou menino

O cabra é bruto como nunca

Numa segunda-feira

Passeava o Seu Lunga

E na coleira, seu cachorro

Aparece, então, alguém

Que já faz pergunta bunda

Esse vai ganhar esporro

- Passeando com o cachorro?

Quer saber o infeliz

Seu Lunga já se irrita

Olha para o sujeito e diz

- Não. Estou soltando pipa

E para o alto joga o bicho

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Seu Lunga é mesmo bruto

Sua ignorância, um espanto

Dona Ermínia não é brava

Não, ela não chega a tanto

Não vai chegar a acontecer

De alguém ficar em pranto

Até quando ela apronta

Às vezes ninguém nota

Ou só vira uma anedota

Há uma pra se levar em conta

Essa, acho que posso contar

Que ela não se zangará

Sua festa de aniversário

Estava sendo arrumada

Todos cuidando do preparo

Zenólia, Zu e Kidim

Também estava Fátima,

A esposa de Manim

Já estava ficando tarde

Fátima viu que na bancada

Ainda havia muita carne

Fresca, não salgada

E com o dia chegando ao fim

Ela ficaria estragada

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Fátima era diligente

E ficou preocupada

Mas o mais inteligente

Era ser mais cuidadosa

Ela não viu que no momento

A velhinha estava bem nervosa

Ela perguntou na hora

- Dona Ermínia, essa carne

Vai dormir aí fora?

E a velhinha, não escondo

Respondeu, sem demora

- Só se ela tiver sono

Mas como eu disse

Dona Ermínia não é má

Ela até fica bem triste

Pois gostava muito da nora

Que não está mais cá

Já teve a sua hora

Ela se lembra de Fátima

E conta, com saudade

Ela fazia macarrão pra mim

Colocava uns temperos assim, assim

Adicionava um pouquinho de sal

O macarrão dela não tinha igual

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Capítulo 8 - Mariazinha

A vida não é somente comédia

Temos muitas alegrias

Mas também temos tragédia

E acaba chegando um dia

Isso aprendemos desde menino

Não há como fugir do nosso destino

Em mais um final de ano

A casa está bem cheia

A família sempre unida

Como Dona Ermínia anseia

No natal vai ter missa do galo

Logo depois da ceia

Mas Dona Ermínia está

Um tanto preocupada

E motivo ela tem para estar

Uma de suas filhas está doente

Muito fraca e acamada

Na Capital a se tratar

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Mas está perto de sua gente

Mesmo lá longe em Beagá

Zu está sempre no hospital

Dete também está lá

Elas rezam para que neste natal

Nenhum mal aconteça

O telefone toca todo o dia

E Dona Ermínia quer saber

Luzia não sabe como dizer

Mesmo assim, ela noticia

-Mãe, os médicos nada puderam fazer

Por minha irmã Maria

Ainda não era manhãzinha

Nem chegara o dia a ficar alvo

Da capital chegou o caixão

Com ele, Joãozinho e Rosalvo

Vieram cumprir uma missão

Acompanhando o carro funerário

De dia segue o velório

Com direito a choro e pranto

Alguns ficam em silêncio

Outros, rezam para algum santo

Dona Ermínia tem seu oratório

E ela também reza em seu canto