· 2 PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA Presidente: Luiz Inácio Lula da Silva Vice-Presidente: José...

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PPRREESSIIDDÊÊNNCCIIAA DDAA RREEPPÚÚBBLLIICCAA Presidente: Luiz Inácio Lula da Silva Vice-Presidente: José Alencar Gomes da Silva MMIINNIISSTTÉÉRRIIOO DDOO MMEEIIOO AAMMBBIIEENNTTEE ((MMMMAA)) Ministra de Estado: Marina Silva SSEECCRREETTAARRIIAA--EEXXEECCUUTTIIVVAA ((SSEECCEEXX)) Secretário-Executivo: Cláudio Langone SSEECCRREETTAARRIIAA DDEE CCOOOORRDDEENNAAÇÇÃÃOO DDAA AAMMAAZZÔÔNNIIAA ((SSCCAA)) Secretária: Muriel Saragoussi PPRROOGGRRAAMMAA PPIILLOOTTOO PPAARRAA AA PPRROOTTEEÇÇÃÃOO DDAASS FFLLOORREESSTTAASS TTRROOPPIICCAAIISS DDOO BBRRAASSIILL ((PPPPGG77)) Coordenadora Geral: Nazaré Soares RREELLAATTÓÓRRIIOO CCOONNSSOOLLIIDDAADDOO DDEE AAVVAALLIIAAÇÇÃÃOO DDOO PPPPGG77

Copidesque e edição: Arlete Bonelli Capa: Milton Goes Fotos (região): Corredor Ecológico Central da Mata Atlântica e Corredor Ecológico Central da Amazônia (Cyro Soares - acervo PPG7/GTZ); Reserva Chico Mendes/AC, Benjamin Constant e Manacapuru/AM (Juan Pratginestós - acervo PPG7/GTZ); e projetos Ambé, Oficina Cabocla e Couro Ecológico, na Floresta Nacional do Tapajós, no Pará (Jefferson Rudy - acervo PPG7/GTZ) Foto da capa: Manacapuru/AM (Juan Pratginestós - acervo PPG7/GTZ), com detalhe do Corredor Ecológico Central da Mata Atlântica (Cyro Soares - acervo PPG7/GTZ)

DDEEPPAARRTTAAMMEENNTTOO DDEE AARRTTIICCUULLAAÇÇÃÃOO DDEE AAÇÇÕÕEESS DDAA AAMMAAZZÔÔNNIIAA ((DDAAAAMM//SSEECCEEXX)) SEPN 505 - Bloco B - Ed. Marie Prendi Cruz - 2º. Andar

CEP 70730.542 - Brasília (DF) Tel.: (61) 3105.2091 e 3105.2092 - FFAAXX: (61) 3105.2094

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SSUUMMÁÁRRIIOO

  SSIIGGLLAASS  EE  AABBRREEVVIIAATTUURRAASS   8  AAPPRREESSEENNTTAAÇÇÃÃOO   12  CCAAPPÍÍTTUULLOO  II     13CCOONNTTEEXXTTOO  DDAA  AAVVAALLIIAAÇÇÃÃOO,,  OOBBJJEETTIIVVOOSS,,  EESSTTRRUUTTUURRAA  EE  CCOONNTTEEÚÚDDOO  DDOO  RREELLAATTÓÓRRIIOO 13    CCAAPPÍÍTTUULLOO  IIII     15  MMEETTOODDOOLLOOGGIIAA  DDAA  AAVVAALLIIAAÇÇÃÃOO   15    CCAAPPIITTUULLOO  IIIIII     19  BBRREEVVEE  HHIISSTTÓÓRRIICCOO  EE  PPEERRFFIILL  DDOO  PPRROOGGRRAAMMAA  PPIILLOOTTOO  PPAARRAA  AA  PPRROOTTEEÇÇÃÃOO  DDAASS  FFLLOORREESSTTAASS  TTRROOPPIICCAAIISS  DDOO  BBRRAASSIILL  ((PPPPGG77))   19    CCAAPPÍÍTTUULLOO  IIVV     24  OOBBJJEETTIIVVOOSS,,  EESSCCOOPPOO  EE  EESSTTRRAATTÉÉGGIIAA  DDOO  PPPPGG77   24    CCAAPPÍÍTTUULLOO  VV     28  IIMMPPLLEEMMEENNTTAAÇÇÃÃOO  DDOO  PPPPGG77::  RREESSUULLTTAADDOOSS,,  IIMMPPAACCTTOOSS  EE  LLIIÇÇÕÕEESS 28 1. Ordenamento territorial e gestão ambiental 28 1.1. Modelos e soluções referentes à gestão ambiental e ao ordenamento territorial 28  2. Gestão ambiental  28 3. Ordenamento territorial  29 3.1. Análise de impacto: influências do PPG7 na formação das políticas públicas 32 3.2. Dimensão de ordem  33 3.3. Autoridade  35 3.4 Conhecimento  36 3.5. Lócus da política  40 3.6. Aprendizado em relação ao diálogo, negociação e tomada de decisões  40 3.7. Políticas públicas formuladas   41 3.8. Fragilidade da estratégia para a formulação de políticas públicas 44 3.9. Caráter demonstrativo em atividades produtivas e de manejo dos recursos naturais 45 3.9.1. Interfaces da gestão ambiental com o caráter demonstrativo do PPG7 45 3.9.2. Conservação restrita ou manejo?    45 3.10. Cartografia e estratégia territorial  45 3.10.1. Impactos em escala territorial e sustentabilidade dos resultados 46 3.10.2. Lições para manter a escala e qualidade dos resultados 47 4. Manejo florestal  48 4.1. Sistemas agroflorestais (SAFs) e silvopastoris (SSP) 50 4.2. Comunicação ou extensão rural? Lições do PPG7 50 4.3. Cadeias produtivas e o PPG7  52 5. Contribuições do Subprograma Ciência e Tecnologia (SPC&T) 53 5.1. Lições da C&T  54 5.2. Pesquisa, monitoramento e sistematização nos projetos demonstrativos 54 5.3. Lições de pesquisa, monitoramento e sistematização 56 6. Desenvolvimento comunitário (DC): condição para a produção sustentável 57 6.1. Componentes do DC presentes no PPG7 57 6.2. Sentimento de pertencer a um território 57 6.3. Capacidade de gestão social  58 6.4. Construção de projeto coletivo de desenvolvimento alicerçado na produção sustentável: melhoria de renda 60 6.5. Outros elementos integrantes do DC   64 6.6. Lacunas do PPG7 no DC  67 6.6.1. Ambigüidade de propósitos  67 6.6.2. Falta de integração programática e operacional com outros programas e projetos 67 6.6.3. Falta de uma estratégia municipal  68 

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6.7. Conclusão: ações comunitárias, característica do PPG7 686.8. Lições aprendidas  69 CCAAPPÍÍTTUULLOO  VVII     71AARRRRAANNJJOOSS  IINNSSTTIITTUUCCIIOONNAAIISS  EE  GGEESSTTÃÃOO  DDOO  PPPPGG77   711. Passos iniciais  712. Coerência inicial dos objetivos e pressupostos com a arquitetura institucional (AI): o marco lógico  723. Participação e governança institucional do PPG7: a liderança do governo brasileiro 744. A complexidade do multifinanciamento  765. A complexidade dos procedimentos operacionais dos projetos 786. Reformas institucionais do PPG7  807. Instrumentos de monitoramento, análise e assessoria internacional 837.1. O Projeto AMA  837.2. O Grupo Internacional de Assessoramento (IAG) 858. Lições aprendidas. Síntese da experiência institucional do PPG7 868.1. Síntese das lições aprendidas  88 CCAAPPÍÍTTUULLOO  VVIIII       89AARRRRAANNJJOOSS  DDEE  CCOOOOPPEERRAAÇÇÃÃOO  IINNTTEERRNNAACCIIOONNAALL  NNOO  PPPPGG77 891. Resultados e lições da governança transnacional do PPG7 951.1. Lições da cooperação técnica   1001.2. Comparação entre arranjos bilaterais e multilaterais de cooperação 102 CCAAPPÍÍTTUULLOO  VVIIIIII     104IINNIICCIIAATTIIVVAASS  IINNTTEERRNNAACCIIOONNAAIISS  DDEE  CCOONNSSEERRVVAAÇÇÃÃOO  DDAASS  FFLLOORREESSTTAASS  TTRROOPPIICCAAIISS  SSUULL‐‐AAMMEERRIICCAANNAASS  EE  OO  PPPPGG77 1041. Arranjos internacionais de florestas: múltiplos atores, objetivos e estratégias 1042. Conservação de florestas e biodiversidade na África Central: contexto, resultados e aprendizados  107 CCAAPPÍÍTTUULLOO  XXIIXX     115CCOONNCCLLUUSSÕÕEESS  GGEERRAAIISS   115  CCAAPPÍÍTTUULLOO  XX       118RREECCOOMMEENNDDAAÇÇÕÕEESS  FFIINNAAIISS   1181. Recomendações para uma estratégia global 1181.1. Definição de áreas geográficas para atuação 1191.2. Incremento da renda mediante a gestão sustentável dos recursos naturais 1192. Construção da integração programática e institucional 1203. Recomendações específicas por dimensões temáticas 1203.1. Dimensão política  1203.1.1. Esclarecer a natureza de políticas e projetos 1203.1.2. Comprometer outras áreas de políticas públicas em todos os níveis federativos 1213.1.3. Promover ações que podem ser transformadas em políticas publicas 1213.1.4. Evidenciar, no debate internacional, a dimensão de interdependência na gestão dos bens ambientais globais  1213.1.5. Incorporar instituições locais   1223.1.6. Comunicação institucional   1223.1.7. Comunicação para o desenvolvimento 1223.2. Dimensão econômica  1223.2.1. Dinâmicas econômicas e desenvolvimento regional 1223.2.2. Direitos de propriedade  1233.2.3. Análise financeira e de negócios   1243.3. Dimensão ambiental   1243.3.1. Ter presentes as causas do desmatamento  1243.3.2. Ampliar o foco em conectividade e trocas genéticas  1243.3.3. Incentivar o sistema de licenciamento  1243.3.4. Ampliar a pauta, incluindo energia  1243.4. Dimensão social   1243.4.1. Modelo de desenvolvimento social pretendido 1243.4.2. Organização social dos beneficiários   125

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3.4.3. Estudos de impacto social   1253.4.4. Retrabalhar projetos que tiveram impacto social negativo 1253.4.5. Utilização do caráter demonstrativo face às demandas sociais 1263.4.6. Incluir a dimensão de gênero  1263.4.7. Conter a fuga de cérebros  1263.5. Dimensão de gestão   1263.5.1. Ampliar atividades de capacitação  1263.5.2. Prever a formação de gestores  1273.5.3. Flexibilidade e foco em biomas   1273.5.4. Monitoramento  1273.6. Dimensão metodológica   128  3.6.1. Assumir rigor metodológico   1283.6.2. Incluir métodos de analise e gestão de conflitos 1283.7. Dimensão científica  1283.7.1. Pesquisa aplicada e direcionada às políticas públicas 128  3.7.2. Pesquisa para a produção sustentável 129 3.7.3. Pesquisa para a sustentabilidade de atividades degradadoras 129 3.8. Dimensão institucional   1293.8.1. Arquitetura institucional (AI)   1293.8.2. Simplificar o ciclo de projetos: mais foco em qualidade e resultados 1303.8.3. Facilitar mecanismos financeiros  1303.9. Dimensão internacional   1303.9.1. Aprimorar a cooperação técnica   1303.9.2. Permanência da experimentação e demonstração  1303.9.3. Explorar novos mecanismos de valoração e remuneração dos serviços ecológicos das florestas tropicais   1303.9.4. Fortalecimento da cooperação pan‐amazônica  132RREEFFEERRÊÊNNCCIIAASS  BBIIBBLLIIOOGGRRÁÁFFIICCAASS   134AANNEEXXOOSS   141

QQUUAADDRROOSS EE DDIIAAGGRRAAMMAA

QQUUAADDRROO 1. Participação de parceiros internacionais  90QQUUAADDRROO  2 (A/B). Contribuição financeira da RFA  93QQUUAADDRROO 3. Contribuição financeira da GTZ   94QQUUAADDRROO  4. Instituições internacionais e regionais dedicadas à conservação e uso dos recursos florestais   105QQUUAADDRROO 5. Principais iniciativas de conservação, na África Central, com apoio internacional 108DDIIAAGGRRAAMMAA  1. Perfil institucional para a sucessão do PPG7 154

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SSIIGGLLAASS EE AABBRREEVVIIAATTUURRAASS AAFI    Agentes agroflorestais indígenas ABC   Agência Brasileira de CooperaçãoADA   Agência de Desenvolvimento da AmazôniaAI   Arquitetura institucional AIMT   Acordo Internacional de Madeiras TropicaisAMA   Projeto de Apoio ao Monitoramento e AnáliseANA   Agência Nacional de Águas Arpa   Programa Áreas Protegidas da AmazôniaAT   Assistência técnica Ater   Assistência técnica e extensão ruralATO   Organização Africana da MadeiraAWF   Fundação Africana para Vida SilvestreBid   Banco Interamericano de DesenvolvimentoBird   Banco Mundial C&T   Ciência e tecnologia  C&T&I   Ciência e tecnologia e inovaçãoCarpe   Programa Regional Centro Africano para o Meio AmbienteCBFP   Parceria Florestal da Bacia do CongoCBM   Corredor Biológico MesoamericanoCCB   Comissão de Coordenação Brasileira     CCC   Comissão de Coordenação Conjunta CCD   Comissão de Coordenação dos DoadoresCDB   Convenção sobre Diversidade BiológicaCDS   Conselho da ONU para o Desenvolvimento Sustentável    CEC   Comissão Européia de CooperaçãoCEFDHAC    Conferência sobre os Ecossistemas de Florestas Densas e Úmidas da África Central Ceplac    Comissão Executiva de Planejamento da Lavoura CacaueiraCGU   Controladoria Geral da UniãoCHM               Clearing House Mechanism/Mecanismo de FacilitaçãoCI                 Conservação Internacional/OSCCifor              Centro Internacional para Pesquisa FlorestalCites              Convenção Internacional sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e FloraCMDS            Célula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável ‐ Rio+10CNPT             Centro Nacional para o Desenvolvimento Sustentado das Populações Tradicionais CNS                Conselho Nacional dos SeringueirosCnumad      Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e DesenvolvimentoCoiab              Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia BrasileiraComifac         Comissão de Florestas da África CentralConab            Companhia Nacional de AbastecimentoCop                Conferência das Partes CPI‐Acre        Comissão Pró‐Índio do Acre  CT                Cooperação Técnica CTA   Centro dos Trabalhadores da AmazôniaCTA/ZM   Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da MataCTI   Centro de Trabalho IndigenistaDC   Desenvolvimento comunitárioDeas   Departamento de Água e Saneamento do AcreDfID   Departamento para o Desenvolvimento Internacional ‐ Reino UnidoDRI   Departamento de Relações InternacionaisDRP   Diagnóstico rural participativoEderba   Empresa de Desenvolvimento Rural da BahiaEmater   Empresa de Assistência Técnica e Extensão RuralEmbrapa   Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuáriaEPB   Embaixada do Reino dos Países BaixosFAO   Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura  Fase   Federação dos Órgãos para Assistência Social e Educacional

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FBOMS   Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desenvol. SustentávelRFT   Fundo Fiduciário de Florestas Tropicais do Programa PilotoFI   Fortalecimento institucional Flona   Floresta nacional FNMA   Fundo Nacional do Meio AmbienteFOE                 Friends of the Earth/Amigos da TerraFSC                  Conselho de Certificação FlorestalFunai              Fundação Nacional do Índio Funasa            Fundação Nacional de SaúdeFunbio            Fundo para Conservação e Uso Sustentável da BiodiversidadeFuntec   Fundação de Tecnologia e Ciência ‐ AcreFVPP   Fundação Viver, Produzir e PreservarG‐7   Grupo dos Sete G ‐77   Grupo dos Setenta e Sete GEF   Fundo para o Meio Ambiente GlobalGP   Grupo de Participantes GT   Grupo de trabalho GTA   Grupo de Trabalho AmazônicoGTTP   Grupo de Trabalho Técnico PermanenteGTZ   Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit/Agência de Cooperação Técnica/AlemanhaIAG   Grupo Internacional de AssessoramentoIbama   Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais RenováveisIBDF   Instituto Brasileiro de Desenvolvimento FlorestalIBRD   International Bank for Reconstruction and Development/Banco MundialIDF   Fundo de Desenvolvimento Institucional/BM/Institutional Development Fund Iepa   Instituto de Pesquisas e Tecnologia do AmapáIFF   Fórum Internacional de FlorestasIIEB   Instituto Internacional de Educação do Brasil/atual IEBImac   Instituto de Meio Ambiente do Acre Inacper   Instituto Capixaba de Pesquisa Agropecuária e Extensão RuralInpa   Instituto Nacional de Pesquisas na AmazôniaIpaam   Instituto de Proteção Ambiental do AmazonasIpam   Instituto de Pesquisas Ambientais da AmazôniaIsa   Instituto Socioambiental MRE   Ministério das Relações Exteriores/ItamaratyITTO   Organização Internacional para o Comércio de MadeiraIUCN   União Internacional para a Conservação da NaturezaJica   Agência Japonesa de Cooperação InternacionalKfW   Kreditanstalt für Wiederaufbau/Banco Alemão para ReconstruçãoLBA   Experimento de Larga Escala da Atmosfera‐Biosfera/AMM&A             Monitoria e avaliação MPA   Madre de Diós ‐ Acre ‐ PandoMCT              Museu de Ciência e TecnologiaMDA             Ministério do Desenvolvimento AgrárioMDL              Mecanismo de desenvolvimento limpoMir               Manejo florestal de impacto reduzido MJ                 Ministério da Justiça MMA            Ministério do Meio AmbienteMP                Ministério Público MPE              Ministérios públicos estaduaisMPEG           Museu Paraense Emilio GoeldiMPF              Ministério Público Federal MPOG          Ministério de Planejamento, Orçamento e GestãoMZSEE          Macrozoneamento Social e Ecológico‐EconômicoOCDE            Organização para Cooperação Econômica e DesenvolvimentoOemas          Órgãos estaduais de meio ambienteOMC             Organização Mundial de ComércioONGs            Organizações não‐governamentais

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Opiac            Organização dos Professores Indígenas do AcreOSC                Organização da sociedade civilOTCA             Organização do Tratado de Cooperação AmazônicaP&D               Pesquisa e desenvolvimento PA                  Programa Amazônia PAD               Project Appraisal Document/Estudo de Avaliação do ProjetoPAFT              Programa de Ação Floresta TropicalPAS                Plano  Amazônia  SustentávelPCA   Programa de Capacitação AmbientalPCT  Projeto de Cooperação TécnicaPDA   Subprograma Projetos DemonstrativosPDPI   Projetos Demonstrativos dos Povos IndígenasPDSA   Programa de Desenvolvimento Sustentável do AmapáPEEs   Planos estratégicos estaduaisPFM   Produtos florestais madeireirosPFNM   Produtos florestais não‐madeireirosPGAI   Projeto de Gestão Ambiental IntegradaPMF   Plano de Manejo Florestal PNF   Programa Nacional de FlorestasPNS   Projeto Negócios SustentáveisPnud   Programa das Nações Unidas para o DesenvolvimentoPnuma   Programa da ONU para o Meio AmbientePoa   Plano Operativo Anual Poema   Programa Pobreza e Meio Ambiente/Universidade Federal do ParáPPG7   Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do BrasilPPA   Plano Plurianual PPD   Projeto Pesquisa Dirigida PPTAL   Projeto Integrado de Proteção às Populações e Terras Indígenas da Amazônia Legal ProManejo     Projeto de Apoio à Conservação e Desenvolvimento da VárzeaProteger   Projeto Mobilização e Capacitação para Prevenção de Incêndios Florestais na Amazônia ProVárzea    Projeto de Apoio à Conservação e Desenvolvimento do manejo FlorestalPTA   Projeto Tecnologias SustentáveisResex   Projeto Reservas ExtrativistasRFA  República Federal da AlemanhaRFT      Fundo Fiduciário de Florestas Tropicais do Programa PilotoRFU   Unidade de Florestas Tropicais/BirdRG   Recursos genéticos RGV   Recursos genéticos vegetais RI   Revisão institucional RMA   Rede de ONGs da Mata AtlânticaRMT   Revisão de Meio Termo SAFs   Sistemas agroflorestais SBF   Secretaria de Biodiversidade e FlorestasSCA   Secretaria de Coordenação da AmazôniaSDS   Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento SustentávelSeain/MPOG   Secretaria de Assuntos InternacionaisSeater   Serviço de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do AcreSecex   Secretaria‐Executiva Sectam/PA   Secretaria de C&T e Meio AmbienteSema   Secretaria de Estado do Meio AmbienteSema/PR   Secretaria Especial de Meio Ambiente da Presidência da RepúblicaSeplan   Secretaria Estadual de PlanejamentoSigma   Sistema de Informações Gerenciais do Meio AmbienteSP/P     Subprogramas/projetos relativos ao PPG7SMA   Subprograma Mata AtlânticaSPRN   Subprograma Política de Recursos NaturaisST   Secretaria técnica Sudam   Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia

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Sudene   Superintendência de Desenvolvimento do NordesteSudepe   Superintendência de Desenvolvimento da PescaSudevea   Superintendência de Desenvolvimento da BorrachaSWAP   Sector Wide Approach ‐ Abordagem SetorialTAC     Termo de Ajuste de CondutaTDR   Termo de Referência TI   Terras indígenas TNC    The Nature Conservancy Trips   Acordo sobre Direitos de Propriedade Intelectual Relacionado ao Comércio Internacional UA   Unidade de apoio UC   Unidade de conservação UCLA   University of California/Los Angeles/EUAUE   União Européia UFPA   Universidade Federal do ParáUFTB   Unidade de Florestas Tropicais do Brasil ‐ Representação do BM no BrasilUnamaz   Associação das Universidades da AmazôniaUnesco   Organização da ONU para Educação, Ciência e CulturaUNFF   Fórum de Florestas da ONU Usaid   Agência de Desenvolvimento Internacional dos EUAWBI    World Bank Institute ‐ Instituto do Banco MundialWCS     Sociedade para Conservação da Vida SilvestreWHRC   The Woods Hole Reserch CenterWRI   World Resources Institute WWF   Fundo Mundial para Natureza ‐ Brasil  

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AAPPRREESSEENNTTAAÇÇÃÃOO  

 presente  Avaliação  é  uma  análise  independente  contratada  pelo  Ministério  do  Meio Ambiente (MMA) para contribuir com o aprofundamento de conhecimentos a respeito dos 

principais  impactos  e  lições  estratégicas  do  Programa  Piloto  para  a  Proteção  das  Florestas Tropicais do Brasil (PPG7). O resultado da análise busca facilitar os esforços de aproveitamento dessas experiências em políticas públicas para conservação das florestas tropicais do Brasil e em iniciativas de cooperação internacional. 

Para  garantir  a  transparência  do  processo,  o  MMA  sugeriu  a  formação  de  um  comitê  de acompanhamento  da  Avaliação  com  participação  de  parceiros  do  Programa,  como  o  Banco Mundial, doadores e o próprio governo brasileiro. O objetivo da criação do comitê foi de acom‐panhar e analisar se os métodos adotados eram adequados e se o Termo de Referência definido para a avaliação estavam sendo cumprido. 

A contratação dos consultores  foi  feita após um processo de seleção competitivo, em que  foi selecionada uma equipe composta por cinco membros com especialização nas áreas de Manejo de Recursos Naturais, Políticas Públicas e Desenvolvimento Comunitário, Ordenamento Territo‐rial, Arranjos institucionais e Gestão de Programas e Ciência Política e Relações Internacionais. A Equipe de consultores contratada formulou um plano de trabalho, que incluiu análise documen‐tal, visitas aos projetos, entrevistas com atores‐chave e a produção de relatórios parciais e finais como método prioritário deste estudo. 

À medida que os  relatórios parciais  iam  sendo apresentados pelos  consultores,  foram exami‐nados pelo Comitê de Acompanhamento, que por  sua vez  registrou  seus pontos de vista. Em alguns casos, os métodos utilizados para  interpretação de resultados, conclusões e fundamen‐tações  foram  questionados, para  garantir uma maior  segurança  sobre  as  afirmações. Na  sua maioria, as mudanças sugeridas pelo Comitê tratavam de esclarecimentos ou de explicitação de fontes. 

Essa  forma de proceder permitiu que os pontos de  vista dos  consultores  fossem mantidos  e fortalecidos com esclarecimentos pertinentes, solicitados pelo Comitê,  imprimindo à avaliação um  caráter  participativo  entre  os  consultores  e  membros  do  Comitê,  apropriado  devido  à natureza  complexa  do  trabalho,  por  tratar‐se  de  um  Programa  grandioso  em  números  de Projetos e recursos. 

De uma forma geral, a responsabilidade pelo conteúdo deste Relatório é dos consultores, não representando o posicionamento institucional de nenhum dos parceiros da Avaliação. 

 

 

A equipe de consultores. 

           

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CCAAPPÍÍTTUULLOO II CCOONNTTEEXXTTOO DDAA AAVVAALLIIAAÇÇÃÃOO,, OOBBJJEETTIIVVOOSS,, EESSTTRRUUTTUURRAA EE CCOONNTTEEÚÚDDOO DDOO RREELLAATTÓÓRRIIOO

 

 Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil, doravante Programa Piloto ou PPG7, é um empreendimento dos governos federal e estaduais, e da sociedade civil brasileira, com apoio dos 

governos do G‐71, da Comunidade Européia de Cooperação  (CEC) e dos Países Baixos, em operação desde 1992. Este programa constituiu‐se na última década como um eixo central de experimentações e suporte da política  ambiental  e  um  dos  principais  instrumentos  de  cooperação  internacional  desenvolvida  na Mata Atlântica e na Amazônia Legal. 

Os objetivos do Programa Piloto  foram  formalmente estabelecidos em Resolução do Fundo Fiduciário das Florestas Tropicais: "O objetivo geral do PPG7 é maximizar os benefícios ambientais das florestas tropicais do Brasil, consistentes com as metas de desenvolvimento do país, por meio da implantação de metodologia de desenvolvimento sustentável que contribuirá com a redução contínua do índice de desmatamento". 

A  presente Avaliação  é  a  terceira  que  se  realiza  sobre  o  PPG7,  após  a  Revisão  Institucional  de  1999  e  a Revisão de Meio Termo de 2000. O objetivo geral desta Avaliação é contribuir para o aprofundamento de conhecimentos a respeito dos principais  impactos e  lições estratégicas do PPG7,  facilitando os esforços de aproveitamento  dessas  experiências  entre  políticas  públicas  relacionadas  à  conservação  das  florestas tropicais do Brasil e iniciativas semelhantes de cooperação internacional. 

A  Avaliação  enfatizou  o  PPG7  como  um  todo  e  não  projetos  individuais,  e  apresenta  um  conjunto  de recomendações com vistas à definição dos próximos passos, como resultado dos esforços de organização e sistematização das experiências analisadas. 

Foram  definidos  aspectos  específicos  e  um  amplo  conjunto  de  questões  de  especial  interesse  para  a Avaliação, organizadas a partir de cinco especialidades temáticas, com os respectivos consultores: Manejo de Recursos Naturais, por  Jorge Vivan; Políticas Públicas e Desenvolvimento Comunitário, por Rafael Pinzón; Ordenamento  Territorial,  por  Laura  Guarnieri  e  Olympio  Barbanti;  Arranjos  Institucionais  e  Gestão  do Programa, por Rogério Pinto; e Ciência Política e Relações Internacionais, por Fábio Abdala2. A integração e a síntese de análises individuais foram realizadas pela equipe de consultores e resultou no presente Relatório Consolidado. 

Este  relatório  consolidado  de  avaliação  está  estruturado  em  dez  capítulos.  O  primeiro  trata  desta apresentação. O  segundo  capítulo explica a metodologia da avaliação, distinguindo diferentes abordagens conforme a temática em  foco. No terceiro capítulo se apresenta um breve histórico e perfil do PPG7, com vista a contextualizar os marcos nos quais se insere a avaliação. No quarto capítulo se procede à análise dos objetivos, bem como das estratégias empreendidas pelos diversos participantes nacionais e  internacionais, governamentais e civis. 

A parte mais substantiva da Avaliação encontra‐se entre os capítulos quinto ao décimo; ao final dos capítulos quinto ao oitavo são apresentados os aprendizados e lições estratégicas do Programa. 

O quinto capítulo apresenta os resultados, impactos e lições do PPG7 aferidos na avaliação, organizados em dois subcapítulos: 

1. Ordenamento territorial e gestão ambiental; e 2. experimentação e demonstração em atividades produtivas  sustentáveis, no qual  são abordadas as 

questões de políticas públicas e desenvolvimento comunitário. 

O sexto capítulo  trata dos arranjos  institucionais e gestão do PPG7.  Inicialmente se examina o diagnóstico institucional  levado  a  cabo  ao  preparar‐se  o  PPG7  e  a  avaliação  de  capacidade  institucional  para  a  sua execução;  bem  como  se  reconstrói  a  evolução  dos  arranjos  institucionais  da  implementação  do  PPG7, 

1 O G‐7 reúne os chefes de Estado e de governo dos sete países mais  industrializados do mundo: Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido. 2  Os trabalhos foram coordenados, inicialmente, por Laura Guarnieri e, na fase final, por Rafael Pinzón. 

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examinando  sua  formulação  inicial  e  sua  coerência  com  os  objetivos  do  Programa. Aborda‐se  o  impacto desta evolução nas recentes iniciativas do governo federal para a Amazônia. Em seguida examina a questão da participação de atores na formulação e execução do PPG7 e a liderança do governo brasileiro ao longo da vida do Programa. 

Tratam‐se,  também, aspectos de  financiamento, desdobramentos organizacionais e procedimentos opera‐cionais do PPG7, com vistas a aferir a sua eficiência de gestão e eficácia de  impacto. São tratadas as refor‐mas  institucionais  introduzidas  no  PPG7,  além  de  examinar  dois  elementos  institucionais  críticos  para  a extração,  consolidação  e  divulgação  da  aprendizagem  do  Programa, mediante  a  função  de monitoria  e avaliação  (M&A)  exercida  pelo  Projeto  AMA,  e  da  assessoria  técnica  recebida  por meio  do Grupo  Inter‐nacional  de  Assessoramento  (IAG).  Finalmente,  são  recolhidos,  seletivamente,  os  principais  pontos  das seções anteriores em forma de síntese da experiência institucional do PPG7 e a conclusão mostra o resumo das lições aprendidas. 

O sétimo capítulo aborda os arranjos de cooperação  internacional no PPG7, com ênfase nas estratégias de participação dos diversos atores  internacionais, destacando  lições da cooperação  técnica e da governança transnacional do Programa, além de comparar os arranjos bilaterais e multilaterais nele empreendidos3. 

No capítulo oitavo são destacadas  lições úteis à análise do PPG7, a partir do debate sobre gestão  florestal desenvolvido  na  experiência  internacional,  nas  duas  últimas  décadas.  Por  fim,  abordam‐se  iniciativas  de conservação de florestas realizadas na África Central para comparação com o PPG7. 

No  nono  capítulo  apresentam‐se  as  conclusões  gerais  de  avaliação  e,  no  décimo,  um  conjunto  de recomendações tendo em vista o ganho de escala em políticas públicas das experiências empreendidas no PPG7,  e  o  futuro  da  cooperação  regional  em  meio  ambiente,  com  ênfase  nos  temas:  governança  e participação; ciclo de projetos; mecanismos financeiros; M&A; e cooperação técnica.   

O conteúdo descrito acima está disponível em um Resumo Executivo que agrupa as principais  reflexões e recomendações desta Avaliação. 

3 A complexidade do multifinanciamento é abordada no capítulo anterior. 

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CCAAPPÍÍTTUULLOO IIII MMEETTOODDOOLLOOGGIIAA DDAA AAVVAALLIIAAÇÇÃÃOO  

 metodologia  incluiu as seguintes etapas: preparação; análise bibliográfica e documental; entrevistas e pesquisa de campo; sistematização e consolidação de informações, com conclusões, lições aprendidas e 

recomendações.   a. Preparação e análise de dados secundários  A preparação foi iniciada com a elaboração de planos de trabalho individuais e plano de trabalho da equipe de consultores, com base nos termos de referência. Em seguida, procedeu‐se à revisão de documentos do Programa Piloto e de literatura pertinente às diferentes áreas temáticas. A revisão foi balizada pelos termos de referência (TdRs), buscando responder a cada uma das questões relativas às áreas temáticas. 

  b. Catalogação dos aspectos relevantes encontrados na revisão e sistematização dos

mesmos por área temática  

Nessa  etapa  foram  iniciados  contatos  para  verificar  as  possibilidades  de  entrevistar  as  pessoas‐chave. Buscou‐se apoio  logístico em cada Estado para preparar agendas e concretizar as entrevistas4. Finalmente, fez‐se a seleção dos entrevistados e agendamento das entrevistas. A escolha dos entrevistados considerou a representatividade  de  participante‐chave  e,  evidentemente,  aspectos  logísticos  relacionados  a  custos, tempo, entre outros fatores.  Na análise de dados secundários procedeu‐se a uma revisão da documentação e bibliografia sobre o PPG7 incluindo acordos de cooperação técnica e financeira; documentos de planejamento e projetos, relatórios de progresso e monitoramento; revisões de meio termo; avaliações independentes, entre outros.    c. Realização de entrevistas e visitas de campo  Utilizaram‐se entrevistas (individuais e coletivas) e enquetes eletrônicas como  instrumentos metodológicos para  a  avaliação.  Pessoas‐chave  foram  entrevistadas  em  cinco  capitais  amazônicas  e  no Distrito  Federal, cujos nomes e instituições às quais pertencem estão nos Anexo III. 

A  estrutura  orientadora  das  entrevistas  foi montada  de  acordo  com  as  características  de  cada  grupo  de atores entrevistados, tendo com temas‐chave o processo demonstrativo e seus passos (diagnóstico, propos‐tas, experimentação, monitoramento, disseminação, capacitação), impactos documentados e/ou percebidos em  termos  de  métodos  e  processos,  e  vetores  atuantes  sobre  os  dois  primeiros  pontos.  O  limite  de exploração de cada tema foi o foco do TdR. 

Entrevistaram‐se: a) dirigentes governamentais (nacionais – das esferas federal, estadual e municipal ‐ e dos países  do  G‐7)  e  participantes  das  instâncias  de  coordenação  do  PPG7;  b)  gerentes  de  subprogramas  e projetos; c) beneficiários; d)  lideranças das redes socioambientais e OSC; e) dirigentes e técnicos do Banco Mundial;  f)  peritos  da  Cooperação  Técnica  e  Financeira;  g)  representantes  do  setor  empresarial;  e) consultores diversos que ocuparam posições de destaque no governo e em  representações dos doadores, durante a preparação e execução do PPG7. 

Buscou‐se equilibrar o número de entrevistas e visitas de campo, por organização, em função da participação no  PPG7,  particularmente  nas  instâncias  de  coordenação,  e  equilibrar  o  número  de  entrevistas  em Brasília/DF  (de novembro/2005 a março/2006) e nas  capitais amazônicas  (Rondônia, Acre, Amapá, Pará e Amazonas, no período de 22/01 a 10/02/2006). 

Em  complementação  ‐  além  das  entrevistas  ‐  foram  respondidos  questionários  por  participantes  das instâncias de coordenação do Programa Piloto (CCC, CCB e CCD), além de membros do  IAG, OSC e especia‐

4 Essa contribuição foi prestada por Francisco de Assis Teixeira (Ibama/RO), Josemar Caminha (Ibama/AC), Luis Miguel Silva (Sema/PGAI/AP), Nelson Chada (consultor independente) e Francisco Fonseca (SPRN), no Pará, e Alberto Martins de Freitas (governo do Estado/AM) 

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listas. As entrevistas e questionários respondidos cobriram, satisfatoriamente, o conjunto das organizações participantes do PPG7.   d. Sistematização de entrevistas e documentos  A  análise  do  PPG7  buscou  descrever  e  explicar  os  processos  decisórios  e  de  gestão  interinstitucional,  a mediação  de  interesse  na multiplicidade  de  atores  públicos  e  privados,  nacionais  e  internacionais,  e  a implementação do Programa no mosaico de projetos de conservação e uso dos recursos florestais5. 

Foram  definidos  aspectos  específicos  e  um  amplo  conjunto  de  questões  de  especial  interesse  para  a avaliação, organizadas em três grupos: 1) objetivos, escopo e estratégia do PPG7; 2)  impactos e  lições; e 3) arranjos  institucionais  e  gestão  do  PPG7.  Além  dos  grupos  de  questões  orientadoras  foram  formuladas, também, questões para a comparação do PPG7 com  iniciativas semelhantes na experiência  internacional. A lista de questões orientadoras da Avaliação está no Anexo IV. 

Sabendo‐se que, nas entrevistas, se trata muitas vezes do universo das impressões e percepções localizadas sobre o Programa, ou seja, a história oral de quem está em suas bases executivas ou beneficiárias, buscou‐se equilibrar os dois elementos discursivos utilizados na  avaliação: documentação  institucional e percepções dos atores nas bases6. 

Procedeu‐se  à  análise  comparativa  entre os  aspectos  relevantes  catalogados por  temas, os  resultados da sistematização  das  entrevistas,  além  das  experiências  e  conhecimentos  adquiridos  pelos  consultores  que atuaram no PPG7.   e. Reflexões analíticas  Uma  vez  sistematizado  o  acervo  de  informações,  os  consultores  trabalharam  em  grupo:  analisaram  os pontos‐chave  e  debateram  os  conceitos  e  conclusões  que  deveriam  constar  no  documento,  à  luz  das orientações dos TdRs, seguindo a estrutura definida e assegurando a coerência conceitual. Essas  reflexões trataram, ainda, das  lições aprendidas e dos aspectos que deveriam ser recomendados. Foram definidos os limites  para  tratar  assuntos  que  emergiram  em  outros  temas  tratados  pelos  consultores,  como monito‐ramento, participação da  sociedade  civil, políticas públicas,  gestão  territorial  e desenvolvimento  regional, complexidade gerencial, e caráter piloto e demonstrativo. 

As questões relacionadas ao segundo grupo de perguntas ‐ impactos e lições ‐ foram respondidas tanto sobre os  aspectos  de  experimentação  e  demonstração  em  manejo  dos  recursos  naturais  quanto  de desenvolvimento comunitário, políticas públicas, gestão ambiental e desenvolvimento territorial no PPG7. 

A  abordagem  sobre  as  atividades  demonstrativas  de  conservação  e  de  caráter  produtivo  tomou  como referenciais um amplo conjunto de subprogramas e projetos. A Avaliação teve como foco o estabelecimento de  ligações entre o que foi e está sendo executado no campo, e como os diferentes aspectos, estratégias e atividades temáticas foram formuladas e executadas em um perfil do PPG7. Ficou evidente a necessidade de vincular o desenvolvimento comunitário (DC) à produção sustentável, salientando ser ele condicionante para que a produção aconteça. O DC compreendido como “um método de ajuda às comunidades locais para fazê‐las mais conscientes de suas necessidades, apreciarem seus recursos em forma mais realista, organizar a si mesmas e aos seus recursos de tal forma que satisfaçam algumas das necessidades por meio dos projetos de 

5 No caso da análise de relações internacionais no PPG7 faz‐se uma ressalva: há uma limitação importante, ou seja, não há um projeto ou subprograma, ou atividades e  iniciativas explicitamente destinadas a tal objetivo. Há um esforço de acompanhamento técnico e documentação institucional por parte de alguns participantes, notadamente daqueles que coordenam o PPG7, mas não existem “marcos zeros” estabelecidos que permitam uma verificação mais confiável de metas e resultados atingidos no que se refere à constituição de um “modelo de cooperação internacional” com o PPG7. 6 Como de costume, em relatórios de avaliação, as opiniões, conclusões recomendações aqui expressas são dos autores e  baseiam‐se  em  suas  percepções  e  compreensão  da  documentação  consultada  e  dos  depoimentos  de  pessoas entrevistadas,  cujas  fontes  podem  não  estar  todas  explicitadas  no  relatório.  Naqueles  casos  em  que  se  julgue apropriado revelam‐se as fontes das afirmações contidas no relatório, ressaltando‐se algum aspecto de indagações com as  quais  estejam  em  acordo,  desacordo,  em  dúvida,  ou  para  ilustração  do  leitor. As  fontes  documentais  e  lista  de entrevistados encontram‐se anexadas. 

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ação e, ao mesmo  tempo, adquiram atitudes, experiências e destreza  cooperativas para  repetir este pro‐cesso uma e outra vez por iniciativa própria” (SOUZA, 2000).  A  produção  sustentável  e  a  melhoria  de  renda  foram  entendidas  como  partes  de  um  processo  mais abrangente,  isto  é,  como  componentes  do  desenvolvimento  comunitário  que  foi  analisado  nos  seus componentes essenciais:  

1. Sentimento de pertencer a um território; 2. capacidade de gestão social; e 3. integração de esforços coletivos para construção do planejamento comum de desenvolvimento. 

 Avaliou‐se  o  esforço  realizado  pelo  PPG7  para  fortalecer  a  sociedade  civil  organizada,  o  papel  desta  na formulação e  implementação de subprogramas e projetos e as  lições trazidas por esta participação. Foram analisados aspectos referentes à gestão e controle social com ênfase na contribuição do PPG7 à formulação e implementação  de  políticas  públicas,  e  nos  resultados  alcançados  no  desenvolvimento  das  comunidades onde atuou, especialmente com referência à melhoria de qualidade de vida a partir do incremento da renda. A  análise  considerou  todos  os  elementos  que  suprem  as  necessidades  familiares  evitando  despesas monetárias, isto é, os benefícios econômicos, entendidos como “os ganhos relacionados à redução de custos de produção, o  incremento da dieta familiar, a redução de despesas com saúde e a redução de gastos com alimentação.” 7 

Os grupos de questões sobre objetivos, estratégias, arranjo institucional e gestão do PPG7 foram abordados, inicialmente, no contexto da evolução dos arranjos institucionais da implementação do PPG7, examinando a sua  formulação  inicial  e  coerência  com  os objetivos  definidos.  Também  foi  considerado  o  impacto  dessa evolução  nas  recentes  iniciativas  do  governo  federal  para  a  Amazônia.  Avaliaram‐se  aspectos  de financiamento,  seus  desdobramentos  organizacionais  e  procedimentos  operacionais,  além  de  elementos institucionais críticos para a extração, consolidação e divulgação da aprendizagem do Programa. 

As questões de relações  internacionais receberam um duplo tratamento: de um  lado, os aspectos  interna‐cionais do PPG7 "por dentro”, particularmente nos seguintes tópicos participação e estratégias dos setores interessados, governança, arranjos bilaterais e multilaterais, e cooperação  técnica, com destaque para um conjunto de  lições e aprendizados nesses temas; de outro  lado, a avaliação trata de iniciativas comparáveis ao PPG7 e busca responder o quê poderia ser aprendido com essas iniciativas com capacidade de utilização em benefício do PPG7 e/ou para o futuro da cooperação regional.   f. Consolidação de informações e formulação de relatórios  Nesta etapa procedeu‐se aos seguintes passos metodológicos:  

Definição da estrutura do documento para atender às diretrizes dos termos de referência, observando as perguntas formuladas. 

Aprofundamento de cada tema e sistematização dos resultados da análise comparativa. 

Redação de relatórios preliminares (individuais) e consolidado (coletivo). 

Ao longo da Avaliação, cada consultor produziu três versões de relatórios preliminares e individuais que, após  trabalho  em  equipe,  resultaram  no presente  relatório  consolidado. Os  relatórios  individuais  e o consolidado foram analisados por equipes ad hoc do MMA que aportaram valiosas contribuições. 

A metodologia utilizada para avaliação da gestão ambiental e ordenamento territorial encontra‐se anexa. 

Na  avaliação  sobre manejo  dos  recursos  naturais,  devido  à  natureza  do  tema,  agregaram‐se  os  procedi‐mentos descritos abaixo, considerando o reagrupamento de perguntas analíticas: 

7  MMA/PPG7 ‐ Estudos da Amazônia: Avaliação de Vinte Projetos PDA. p. 71. 

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    Construção  de  um  modelo  teórico,  considerando  como  foco  programas  de  uso  e  conservação  de recursos naturais que adotem uma postura adaptativa e evolutiva, em que a conservação seja um dos pressupostos do desenvolvimento sustentável. 

    Construção, a partir da revisão, entrevistas e respostas de questionários e entrevistas eletrônicas, de um modelo percebido do funcionamento atual do PPG7, considerando a mesma perspectiva (aprendizado e capacidade de evoluir) do modelo teórico. 

    Contraste dos dois modelos utilizando, para o PPG7,  revisão de  informação disponível pelo critério de região geográfica e suficiente documentação. Incluíram‐se componentes de estratégia, processos e ações (impactos), dentro dos limites de tempo e objetivos da avaliação. 

Discussão de resultados do contraste, considerando as variáveis orientadoras do modelo e as perguntas analíticas definidas no TdR.  

  Apresentação de resultados em forma descritiva, seguindo a seqüência de passos, atributos e demandas expressadas nas perguntas analíticas.  

g. Participação na avaliação  Mais do que uma típica avaliação  independente, este trabalho se caracterizou pelo diálogo constante entre os consultores e o Comitê de Acompanhamento da Avaliação e, particularmente, a Coordenação do PPG7. Durante o percurso da Avaliação  foram  realizados quatro encontros com o Comitê, nos quais se discutiam versões preliminares de relatórios individuais‐temáticos e do consolidado. 

Um encontro para a discussão da versão preliminar do Relatório Consolidado  foi realizado em Brasília, em agosto de 2006, com amplo grupo de representantes das organizações envolvidas no PPG7. Esses processos de participação contribuíram, substancialmente, para a formulação do produto final desta Avaliação. 

As conclusões envolvem, assim, sínteses sobre lacunas, métodos e processos promissores, buscando refletir a  interação estrutural entre componentes e no perfil do PPG7. Finalmente, coube aos atores nas  instâncias gerenciais, de cooperação, doadores e observadores externos  fornecerem suas perspectivas,  fundamentais para  agregá‐las  à  análise  dos  processos  e  aspectos  superestruturais  que  envolveram  o  caráter  piloto  do PPG7. Também ajudaram a gerar a visão do PPG7 que emerge deste  texto,  como  instrumento do Estado brasileiro e da cooperação  internacional para a construção de novos modelos de conservação das florestas tropicais, tendo como perspectiva o desenvolvimento sustentável. 

 

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CCAAPPÍÍTTUULLOO IIIIII BBRREEVVEE HHIISSTTÓÓRRIICCOO EE PPEERRFFIILL DDOO PPRROOGGRRAAMMAA PPIILLOOTTOO PPAARRAA AA PPRROOTTEEÇÇÃÃOO DDAASS FFLLOORREESSTTAASS TTRROOPPIICCAAIISS DDOO BBRRAASSIILL ((PPPPGG77))

urante a década de 1980, os riscos e a manutenção das florestas tropicais foram evidenciados como um dos  problemas  ambientais  globais mais  graves.  Segundo  dados  da  Fao,  anualmente,  4,6 milhões  de 

hectares  (ha)  de  florestas  tropicais  convertiam‐se  em  terras  para  outros  usos,  em  todo  o  planeta.  Os desmatamentos no Brasil e na  Indonésia  representavam, aproximadamente, 45% das perdas mundiais de florestas tropicais. Ao mesmo tempo, o reflorestamento manteve um ritmo bastante inferior: uma média de seis ha  foi desflorestada para cada ha plantado. Somava‐se a  isso a perda em biodiversidade  florestal e a emissão de dióxido de carbono na atmosfera, devido às queimadas. Estimativas  sugeriam que as  florestas tropicais continham entre 50% a 90% das espécies mundiais; considerando o ritmo do desmatamento, até 2015,  13%  das  espécies mundiais  estariam  condenadas  à  extinção.  A  queima  de  biomassa  das  florestas tropicais emitiria 4,6 giga toneladas de CO2 (gás carbônico) na atmosfera (FAO, 1993). 

Diante desse quadro, um conjunto de iniciativas nacionais, internacionais e intergovernamentais foi levado a cabo para conformar tanto os  interesses pró‐conservação de florestas e controlar danos ambientais globais provocados pela desflorestação, quanto para regular a extração e o comércio madeireiro. Nesse ambiente, foram  constituídos  diversos  segmentos  dos  regimes  e  arranjos  internacionais  para  florestas  tais  como  o Programa  de  Ação  Florestal  Tropical  (PAFT),  sob  a  liderança  da  Fao  (coordenador),  Pnud,  Bird  e WRI;  o Acordo Internacional de Madeiras Tropicais (AIMT); a Convenção Internacional sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora (Cites, na sigla em inglês). 

A  Conferência  da  ONU  para  o Meio  Ambiente  e  Desenvolvimento  (Cnumad),  também  conhecida  como Conferência  do  Rio,  realizada  em  1992,  no  Rio  de  Janeiro,  gerou  uma  Declaração  de  Princípios  sobre Florestas e o principal documento da conferência, a Agenda 21, que dedicou um capítulo ao tema florestal. Apesar da mobilização  internacional, seus  resultados estão  longe do ponto de consenso e uma convenção internacional com foco em florestas não aparece como objetivo de curto prazo (UNFF, 2005/FAO, 2005). 

O  PPG7  foi  concebido  nesse  ambiente  de  mobilização  e  controvérsia  internacional  orientada  para  a conservação  e  uso  dos  recursos  florestais.  O  Programa  é  contemporâneo  do momento  de  ascensão  de políticas  ambientais  globais  no  início  dos  anos  1990,  inclusive  no  que  diz  respeito  à  convergência  entre conservação  e uso  sustentável  dos  recursos  florestais,  e  à participação de  atores múltiplos  e  suas  redes: local,  regional,  nacional,  inter  e  transnacional.  O  Brasil  liderava  posições  favoráveis  à  distribuição mais eqüitativa  de  benefícios  gerados  pelo  uso  da  biodiversidade  e  florestas.  Ali  se  cunhou  o  conceito  de “responsabilidades  comuns,  porém  diferenciadas”  na  cooperação  internacional  orientada  para  os  temas ambientais globais (GUIMARÃES, 1994), e o PPG7 parece ter se orientado neste princípio.  O PPG7  foi  idealizado na Reunião de Cúpula dos Chefes de Estado e de Governo dos países  integrantes do Grupo dos Sete (G‐7), que ocorreu em Houston (EUA), em 1990. Em março de 1992, portanto alguns meses antes da Conferência do Rio, o governo brasileiro, representantes do G‐7 e do Bird anunciaram, oficialmente, a criação do Fundo Fiduciário das Florestas Tropicais  (RFT) para apoiar projetos pilotos na Amazônia e na Mata Atlântica. Inicialmente, foram depositados US$ 53,6 milhões nesse Fundo, estimando‐se um orçamento total da primeira fase em US$ 250 milhões. As doações seriam amparadas pelos governos federal e estaduais (Amazônia Legal), e pela sociedade civil brasileira, utilizando contratos de natureza pública e privada. 

Na fase antecedente ao PPG7, as motivações para frear o desmatamento da Amazônia convergiam com os interesses dos governos do G‐7.  Politicamente, o assassinato do líder sindical Chico Mendes, em 1988, foi o estopim  de  uma  série  de  manifestações  nos  países  europeus  e  nos  EUA,  desde  passeatas  até pronunciamentos de parlamentares contra o desmatamento e a favor dos direitos de populações indígenas e tradicionais  das  florestas  brasileiras.  Apurou‐se,  nas  entrevistas,  que  a  preocupação  com  taxas  de desmatamento é um dos mais importantes fatores pelos quais os doadores serão avaliados pelas lideranças políticas e opinião pública de seus países. 

 

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A Comissão Européia teve papel destacado na mobilização internacional e formulação inicial do PPG7, tanto os  governos  quanto  organizações  da  sociedade  civil.  Para  a  Alemanha,  que  liderou  o  processo  inicial  no interior do G‐7, o PPG7 representaria uma resposta ao desafio de deter a destruição de bens globais (global commons):  florestas,  biodiversidade  e  mudanças  climáticas8.  Uschi  Eid,  ex‐vice  ministra  de  Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha declarou: “A sua proteção [das florestas tropicais] não pode ser garantida  apenas  por  meio  de  de  uma  cooperação  bilateral.  Isso  também  não  seria  justo,  já  que  a preservação dos espaços brasileiros é de significância para toda a humanidade e para todas as nações. Por isso,  a  Alemanha  conseguiu  convencer  as  grandes  nações  industrializadas  a  realizar,  com  o  governo brasileiro,  um  programa  abrangente  para  a  proteção  e  o  manejo  sustentável  das  florestas  tropicais brasileiras”.9 

Para a Usaid, a  referência em 1992  fora a  iniciativa “Florestas para o Futuro”, cujo  foco, no Brasil, estava concentrado na geração de conhecimentos científicos e tecnológicos orientados para o desenvolvimento, em contraponto às visões mais conservacionistas, e buscava apoiar diretamente a sociedade civil. 

Quanto ao Banco Mundial (Bird), inicialmente, cumpriu a convocação pelo G‐7 para montar e operar o RFT, que  não  constava  em  sua  estratégia  para  o  Brasil.  Por  outro  lado,  o  PPG7  seria  uma  oportunidade  para fortalecer  a  nova  imagem  de  responsabilidade  ambiental  do  Bird  no  país,  buscando  superar  os  danos ambientais  e  sociais  provocados  por  empreendimentos  financiados  com  empréstimos  em  rodovias  e desenvolvimento rural, realizados nos anos 1970 e 1980, na Amazônia (REDWOOD III, 2003). 

Dentre os  atores nacionais  constataram‐se percepções  ambíguas quanto  à  cooperação  internacional para meio ambiente, no  início dos anos 1990,  tanto no governo quanto na sociedade civil. No campo governa‐mental, por um  lado,  setores mantinham  rejeição histórica a este  tipo de ajuda externa para  resolver um problema ambiental do país, desde militares até gestores ambientais. Ao mesmo tempo, e por outro lado, as administrações da Nova República, particularmente a de Collor de Melo  (1990‐1992), buscavam  se  inserir mais positivamente nos arranjos  internacionais para o meio ambiente, a exemplo da realização da Cnumad no país. No campo civil, as redes sociais como GTA e Fórum Brasileiro de ONGs passaram de uma posição inicial de rejeição ao PPG7 para o engajamento nas discussões e participação na execução de alguns projetos. Tal mudança  expôs o debate  sobre  a  formulação  “externa” do PPG7  e  sua posterior  internalização pelos atores nacionais. 

Em perspectiva histórica, aborda‐se o PPG7 em três etapas, a saber: 

1. Entre 1992  a 1996,  etapa marcada pelo processo de desenho, negociações  e  início dos primeiros projetos, envolvendo os múltiplos atores do Programa. 

 2. De  1997  a  2002,  iniciada  com  a  Reunião  de  Participantes  realizada  em Manaus,  onde  emergem 

recomendações  para  uma  revisão  institucional  e  de  meio  termo  do  PPG7,  cujas  conseqüências resultariam em maior  institucionalização do processo decisório e empoderamento da coordenação brasileira. Nessa etapa, os projetos  começam  a  apresentar os primeiros  resultados,  torna‐se mais clara  a necessidade  de  articulação  com políticas públicas,  e uma  segunda  fase  é proposta para  a continuidade do Programa, baseada em linhas temáticas. 

 

8   A  idéia de bens globais  refere‐se àqueles bens  compartilhados por  todos, quaisquer que  sejam as distâncias, não existindo  exclusões  fronteiriças de uso,  cujos benefícios  atingiriam mais que  um  único  país,  grupo  populacional,  ou geração. Por exemplo, a paz mundial, a segurança alimentar e a sustentabilidade ambiental, e do ponto de vista terri‐torial, os exemplos seriam o alto mar, o espaço sideral, como também a Antártida. Para aqueles recursos ou atividades localizadas dentro das fronteiras do Estado, mas com  impactos ou  implicações globais, e para os quais a humanidade direcione  interesse  coletivo  de  proteção,  evidentemente  emergem  divergências  entre  países,  notadamente  no  eixo Norte‐Sul. Os países pobres  e  em desenvolvimento  temem que  esse princípio  converta  suas  estratégias de uso dos recursos naturais excessivamente sujeitos aos controles externos. Em contrapartida, os industrializados temem que os ganhos  e  benefícios  oriundos  do  seu  desenvolvimento  estejam  sujeitos  a  um  compartilhamento  internacional. Nas atuais negociações sobre arranjos  internacionais discutidos no Fórum de Florestas da ONU  (UNFF), o Brasil manifesta oposição em tratar  florestas como “bem global”, também é contrário à constituição de uma convenção  internacional para  conservação  florestal  que  implique  em  obrigações  formais  e  sanções  internacionais  delas  decorrentes  (UNFF, 2005). 9  Cooperação entre Brasil e Alemanha nas Florestas Tropicais Brasileiras.  Brasília, KfW, GTZ, 2002. Folheto. 

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3. Etapa de 2003 a 2006, marcada pela mudança de administração no governo federal, com uma nova visão estratégica sobre a política ambiental, transformações institucionais na coordenação do PPG7 e na percepção sobre cooperação internacional. 

 Na etapa inicial do Programa, a criação do RFT, em 1992, estabeleceu as responsabilidades fiduciárias do Bird para os projetos que recebessem recursos do fundo, definindo suas atribuições de coordenação, assistência financeira  e  técnica,  e  conferindo‐lhe,  inicialmente,  um  papel  de  liderança  na  governança  dos  espaços multilaterais do PPG710. Durante os quatro anos subseqüentes, setores do governo brasileiro em  instâncias federal  e  estaduais,  com  a  inicial  participação  civil,  trabalharam  com  o  Bird  e  a  CEC  na  negociação  e formulação dos subprogramas estruturantes do PPG7.  Entre  1995  e  1999,  os  primeiros  projetos  foram  partilhados  com  alto  grau  de  dispersão  entre  os  atores nacionais (RMT, 2000): a SCA constituiu o PDA e o SPRN; o  Ibama se ocupou do Resex; a área de ciência e tecnologia  constitui  um  subprograma  próprio;  a  Funai  operou  recursos  para  a  demarcação  de  terras indígenas; os governos estaduais “receberam” os projetos de  fortalecimento  institucional via SPRN, com a coordenação  do MMA;  a  sociedade  civil  teve  participação  no  PDA  e  Resex,  e  depois  constituiu  projetos institucionais próprios. A  rigor, da maneira como  foi criado, o PPG7 não operou como programa concate‐nando  projetos,  atividades  e  orçamentos,  com metas  comuns,  coordenação  e monitoramento  articulado organicamente, o que originou a imagem de um “mosaico de projetos”.  Os primeiros resultados dos projetos  iniciais apontavam para contradições entre os objetivos e estratégias sustentáveis do PPG7 e as macropolíticas  implementadas pelo Estado brasileiro particularmente na Amazô‐nia, expressas em planos plurianuais de caráter mais “desenvolvimentistas” como o “Brasil em Ação” (1996‐1999),  baseados  na  implantação  de  obras  de  infra‐estrutura  rodoviária,  energética  e  de  expansão  da fronteira agrícola. Os  resultados expressaram,  também, a necessidade de ampliar os diálogos políticos do PPG7 nas  instâncias estaduais e  locais, levando o MMA a organizar as chamadas “Agendas Positivas” com a participação  de múltiplos  atores  voltados  para  definição  de  ações  de  contenção  do  desmatamento  e  de alternativas para sustentabilidade.  Ao  final  desse  período,  dois  projetos  importantes  do  PPG7  foram  iniciados  sob  a  liderança  do  Ibama: ProManejo,  em  1999,  e  ProVárzea,  em  2000,  cujas  secretarias  técnicas  se  instalaram  em Manaus  (AM), alterando a tendência de concentração na capital federal.  Em outubro de 1999, a SCA apresentou na reunião dos Participantes uma “Proposta do Governo Brasileiro para  um  Novo  Programa  Piloto”,  cuja  reformulação  era  sustentada  pelas  cinco  diretrizes  apresentadas durante a Reunião dos Participantes, em Paris, em março do mesmo ano:  

1. Liderança do governo brasileiro sobre o PPG7; 2. ênfase em políticas públicas; 3. integração entre os projetos e destes com o PPG7; 4. agilidade administrativa e financeira; e 5. melhor cooperação entre o governo, parceiros internacionais e sociedade. 

 A proposta centrava a reformulação em cinco temas: políticas públicas, proteção, economia sustentável, pes‐quisa aplicada e cooperação exemplar. Propunha‐se, ainda,  fazer de  imediato a Revisão de Meio Termo e criar uma Comissão de Transição para preparar os  instrumentos administrativos e institucionais necessários às  mudanças,  rever  e  aperfeiçoar  a  proposta  de  integração  matricial  do  PPG7.  Ainda  em  outubro (26/10/1999),  o  Bird  apresentou  um  “Resumo  Comentado  da  Proposta  Brasileira  para  Reformulação  do PPG7”. 

A Comissão de Transição  funcionou e a Revisão de Meio Termo  foi  realizada, mas as mudanças não acon‐teceram na dimensão em que tinham sido propostas. Dando continuidade a essas idéias, em abril de 2001 foi divulgado  o  documento  “Rumo  a  uma  Estratégia  para  o  PPG7”  que  propunha  cinco  conjuntos  de  ações 

10 Conforme estabelecido na Resolução 92‐2 do Bird, acordada entre os doadores e o governo brasileiro. 

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estratégicas: geração e disseminação de conhecimento; ajuste de políticas e mobilização de atores; ganhos de  escala  (mainstreaming);  criação de  capacidade  e  coordenação  e monitoria do PPG7.  Propunha,  ainda, “considerar a localização do PPG7 em uma organização mais autônoma com fortes vínculos com o MMA”. 

A Revisão  Institucional  (1999),  a Revisão de Meio  Termo  e os  resultados  da Reunião  de  Participantes de Cuiabá, em 2000, recomendaram maior concatenação entre as partes internas e externas ao PPG7, e maior empoderamento da liderança brasileira na coordenação conjunta. A partir de então, a coordenação brasileira se organizou para exercer maior controle sobre a agenda e as estratégias do PPG7. Os demais participantes brasileiros reforçaram seus meios de  interação e de diálogo com outras áreas de governo com a criação de uma coordenação nacional (CCB), reuniões de secretários técnicos, e a constituição de grupos estaduais para o encaminhamento dos projetos. A criação de uma coordenação conjunta (CCC) institucionalizou a ampliação da participação dos diversos atores interessados (nacionais e doadores) na coordenação geral do PPG7, bem como tornou sua pauta mais abrangente buscando atender aos diferentes  interesses em jogo, inclusive das redes sociais e representantes dos governos estaduais. 

Em dezembro de 2001, durante seminário  realizado para  tratar da segunda  fase do PPG7,  foram apresen‐tadas  e  discutidas  seis  linhas  temáticas:  gestão  pública  e  comunitária  de  áreas  protegidas;  produção sustentável; monitoramento, prevenção e controle ambiental de queimadas e desflorestamento; desenvol‐vimento territorial; gestão ambiental municipal e desenvolvimento  local sustentável; e ciência e tecnologia para o desenvolvimento sustentável. É  importante salientar que foi dada continuidade ao conceito de linha temática e, em  junho de 2002, o MMA apresentou cinco "linhas temáticas" no documento “Proposta para Estruturação da Segunda Fase do PPG7”: gestão pública e comunitária de áreas protegidas; uso sustentável dos  recursos  naturais; monitoramento,  prevenção  e  controle  de  desmatamentos  e  queimadas;  desenvol‐vimento territorial sustentável; e ciência e tecnologia. 

A  partir  de  2003,  com  a  chamada  “estratégia  da  transversalidade”  (MMA,  2005d),  o  MMA  buscou, internamente, reposicionar o papel da coordenação brasileira (a SCA), e (re)inserir o Programa no MMA, por meio da transferência das coordenações dos projetos para secretarias temáticas: Desenvolvimento Susten‐tável (SDS) e Biodiversidade e Florestas (SBF). Externamente, o MMA se mobiliza na formulação de planos de ação  interministeriais,  tais  como  o  Plano Amazônia  Sustentável  (PAS)  e  o  Plano  BR‐163  Sustentável,  que pretendem redefinir as diretrizes para o desenvolvimento sustentável na região amazônica (MMA, 2006). 

Em 2006, o MMA  retoma as  linhas  temáticas na proposta para discussão do Programa Amazônia: conser‐vação e gestão ambiental; fomento à produção sustentável; participação social e cidadania; e  instrumentos ambientais para  infra‐estrutura de desenvolvimento. Considera‐se, assim, que embora de 1999 a 2002 não tenha havido a implementação das mudanças sugeridas, as idéias não foram abandonadas e mantiveram‐se como orientações estratégicas de 2003 em diante. 

O PPG7, ao  longo de sua  implementação, conta com uma carteira de 28 componentes, dos quais 12 foram concluídos.  Atualmente,  é  composto  por  16  subprogramas  e  projetos  organizados  em  cinco  áreas  de atuação: 

I. Experimentação  e  Demonstração  ‐  apoio  a  experiências  inovadoras  em  conservação,  produção sustentável e educação ambiental, desenvolvidas por comunidades  locais e órgãos governamentais, por meio dos projetos ProManejo, ProVárzea, Proteger II, PDPI, PNS e PDA.  

II. Conservação  de Áreas  Protegidas  ‐  proteção  e manejo de  recursos  naturais  em  terras  indígenas, reservas  extrativistas  e  outras  reservas  naturais  com  a  participação  das  comunidades  locais, desenvolvidos pelos projetos PPTAL, Resex, Subprograma Mata Atlântica e Corredores Ecológicos.  

III. Fortalecimento  Institucional  ‐ apoio às  instituições públicas na  formulação e na  implementação de políticas  ambientais,  sob  a ótica da  gestão  compartilhada entre União, estados e municípios e de maior participação e controle social, por meio do SPRN e do apoio às redes GTA e RMA.  

IV. Pesquisa Científica ‐ geração e disseminação de conhecimentos científicos e tecnológicos relevantes à conservação e ao desenvolvimento sustentável no SPC&T.   

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V. Lições e Disseminação  ‐  sistematização e divulgação das  lições do PPG7, no  intuito de  influenciar políticas públicas, mediante ações do Projeto AMA. 

Estima‐se que, até 2008, os recursos atualmente disponíveis para a maior parte dos projetos em execução estarão encerrados. 

Considera‐se que o PPG7 está no cerne do embate entre visões divergentes sobre o modelo de desenvolvi‐mento para o país e suas florestas tropicais. Uma das lições do Programa, nos últimos anos, é a percepção da limitação para atuar frente às questões ambientais estruturantes. A redução das taxas de desmata‐mento e mudanças nos sistemas de exploração florestal, por exemplo, são variáveis mais dependentes de alterações estruturais em fatores socioeconômicos e políticos de larga escala (MMA, 2005b/IAG, 2003 e 2004).  

Deve‐se  considerar,  também,  o  predomínio  regional  de  uma  visão  de  desenvolvimento  que  privilegia  a expansão da fronteira agrícola convencional, em busca de uma  inserção internacional baseada no comércio de produtos primários (commodities), notadamente no Pará e Mato Grosso. Ganhos de médio e longo prazo estão  previstos  em  políticas  de  conservação  e  uso  sustentável  com  aproveitamento  das  potencialidades florestais  (manejo  florestal,  agroextrativismo e  “indústrias da  vida”:  alimentos,  fármacos, energia,  silvicul‐tura). Por outro  lado,  confrontam  com ganhos  imediatos daqueles que buscam  a máxima exploração dos recursos florestais com as seguintes atividades: madeireira, mineração, agricultura monocultural, produção de energia, por meio de empreendimentos nacionais e multinacionais. 

Por volta de 1996, as cifras estimadas de perdas anuais que o desmatamento causava, somente na  região amazônica, giravam em torno de US$ 6,5 bilhões a 10,8 bilhões, por ano, (NISTCH, 2001). Em 2005, somente no Estado do Acre, foram calculadas perdas em torno de R$ 150 milhões de prejuízos em função dos eventos de queimadas. Projeções de Lawrence et al. (2001 Science), Carvalho et al. (2001 Nature) e Cox et al. (2000 Nature), bem  como os novos dados do  Inpe  sobre desmatamento no  "Arco de  Fogo" demonstram que o tempo para começar a reorientar os investimentos é agora, com investimentos, em todas as áreas, em torno de 7% do PIB, e redobrados se o objetivo for conferir sustentabilidade na  integração das florestas tropicais ao desenvolvimento nacional (CLEMENT & VAL, 2003). 

A  reorientação  dos  vetores  que  definem  os  rumos  do  desenvolvimento  no  espaço  de  atuação  do  PPG7 dependerá tanto de  investimentos significativos em infra‐estrutura e capital humano ‐  incluindo a presença mais ativa do estado brasileiro no ensino, pesquisa e extensão ‐ quanto em políticas públicas que fortaleçam a ação de  redes sociais e  técnicas que atuam na região, em conservação e manejo dos recursos  florestais. São elas que poderão fazer a diferença, ao se tornarem mais amplas, eficientes em seus resultados, além de influentes e eficazes na disseminação de suas experiências. 

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CCAAPPÍÍTTUULLOO IIVV OOBBJJEETTIIVVOOSS,, EESSCCOOPPOO EE EESSTTRRAATTÉÉGGIIAA DDOO PPPPGG77  

 PPG7, inicialmente, foi concebido como uma parceria internacional entre o Brasil e múltiplos doadores com base no princípio de que a “preservação da biodiversidade, a redução da emissão de carbono, e os 

novos  conhecimentos  adquiridos  sobre  as  atividades  sustentáveis  nas  florestas  tropicais  representam benefícios  cujo  escopo  é  global  e  justificam  as  transferências  técnicas  e  financeiras  da  comunidade internacional para o Brasil”. 

A conservação da biodiversidade e dos ecossistemas passa pela geração de novos modelos e conceitos do que seja o desenvolvimento, demonstrados e experimentados concretamente. Foi este o eixo em torno do qual o PPG7 se estruturou ao longo de sua existência. A definição de “sustentável”, adotada pelo PPG7, por sua vez, acompanhou a noção herdada da  linha eco‐desenvolvimentismo de  Ignacy Sachs, ou seja, “melho‐rar  as  condições  de  vida  das  comunidades  humanas, mantida  a  capacidade  de  suporte  do  ecossistema” (NITSCH, 2001). Para Philip Fearnside, este conceito (capacidade de suporte) tinha conotações mais amplas para os objetivos do PPG7 do que aquelas que o campo ecológico lhe empresta formalmente11. 

O  PPG7  foi,  portanto,  pensado  para  promover  ações  de  conservação  e  de  desenvolvimento  integrando ambas as perspectivas, e enfrentar os vetores políticos, sociais e econômicos que condicionam tal  integra‐ção. Estes aspectos, aliados às  características do  território brasileiro, emprestam aos desafios do PPG7 as mesmas escalas e características das florestas tropicais do país: imenso, extremamente diverso e complexo. 

O Programa apresenta, na sua concepção, objetivos que refletem os vetores políticos e de visões que nele atuaram, desde sua criação até a operacionalização por meio dos diferentes componentes. A Reunião dos Doadores  de Genebra,  de  1991,  detalhou  como  atividades:  (a)  estimular  iniciativas  locais  de  compatibili‐zação de objetivos ambientais com a melhoria do padrão de vida da população da Amazônia brasileira; (b) salvaguardar  a  biodiversidade  e  proteger  parques,  reservas  e  áreas  indígenas  promoção  da melhoria  da vigilância e supervisão ambientais; (c) fortalecer as  instituições de meio ambiente nas  instâncias estadual e federal; (d) desenvolver e disseminar conhecimento científico e tecnologias aplicadas ao uso sustentado de recursos; e (e) promover a vigilância e supervisão ambientais. 

Paralelamente, o documento elaborado pelos governadores da Amazônia Legal nas etapas de negociação do PPG7 mencionava  a  idéia  de  desenvolvimento  endógeno,  e  prioridade  para  as  populações  locais,  suas características e valores12. Chamava atenção especial, também, às comunidades indígenas, à preservação de sua  identidade  cultural  e  à  demarcação  de  suas  terras.  Finalmente,  o  documento  criticava  uma  visão imediatista, “que consome recursos e empobrece o futuro”, e enfatiza a visão de que as políticas “tenham, em  última  análise,  no  homem  sua  justificativa”.  De  certa  forma,  pode‐se  aferir  que  o  pensamento  dos governadores, na época, fazia o contraponto com a abordagem dos doadores, em 1991, de perspectiva mais conservacionista. 

A perspectiva dos governadores convergia para a maior parte dos movimentos sociais que buscavam alianças com  os  setores  ambientalistas  e  pretendiam  gerar  mudanças  nos  cenários  de  desenvolvimento, principalmente, da Amazônia. O Grupo de Trabalho Amazônico  (GTA), nesse  sentido,  foi um vetor  impor‐tante. No caso, o foco dos movimentos era gerar alternativas aos modelos predatórios representados pela grilagem  de  terras,  exploração  madeireira,  conversão  permanente  da  floresta  em  grande  escala  para produção agropecuária.  Fundamental  seria,  também, garantir outra ordenação  fundiária diferente da que imperava  e  ameaçava  expulsar  ou  degradar  os  recursos  que mantinham  indígenas,  castanheiros  e  serin‐gueiros na região. A questão da conservação per se não era central para a base social que discutia o PPG7, mas esta a considerava como parte da equação que poderia mudar o cenário da Amazônia. 

11 Para ele,  “estimar a  capacidade de  suporte é um  trabalho que demanda abarcar a grande  variedade de  sistemas produtivos  em  uso  e presentes na Amazônia,  e  ser  capaz de  interpretar  esta  informação  em  escalas que  variam  de comunidades  locais até regiões como um todo.  Isto demandará não somente estudos sobre os diferentes sistemas de uso da terra nas áreas rurais, mas também deverá  integrar‐se com estudos de demandas energéticas e dos  limites de suporte para populações urbanas”. Citado em NITSCH, M., 2001. 12  Comunicado/Declaração sobre a reunião com os Governadores dos Estados Amazônicos, mimeo, 1992. 

O

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Em função do espaço aberto para influenciar o debate e abertura para decisões, o PPG7 passou a incorporar elementos de estratégia que não estavam presentes nas suas  formulações  iniciais. A Mata Atlântica, que a princípio  foi  uma  incógnita  quanto  à  sua  inclusão  no  PPG7,  teve  na  Rede  Mata  Atlântica  (RMA)  a representante para a defesa de fundos e projetos. A RMA, diferentemente do GTA, tinha seu foco principal na conservação, considerada a estratégia fundamental para barrar o processo de destruição completa do que havia restado da Mata Atlântica. 

Conquistada uma  fatia do espaço, essas duas perspectivas passaram  a  conviver e  co‐evoluir  (mesmo que para buscar melhores espaços para suas posições). A convivência e o debate gerado ficaram mais claros com a  entrada  da  Rede  PTA  na  RMA,  que  congrega ONGs de  perfil mais  social  do que  ambiental. Da mesma forma,  o  GTA  aumentou  os  parceiros  ambientalistas  nas  suas  lutas.  As  diferenças  de  perspectiva  ainda coexistem  com  convergências  e  sinergismo  em  diferentes  momentos  e  fóruns,  em  que  se  concebem componentes, editais, estratégias do Programa e mesmo critérios de aprovação de projetos13. 

A “luta evolutiva” entre as posições ambientalistas e as sócio‐ambientais dentro do PPG7 produziu meios de um aprendizado de convivência e  interfaces entre posições. Certamente a convivência de ambientalistas e movimentos  sociais nas  redes apoiadas pelo Programa, e mesmo entre aqueles nos governos  focados em proteção  integral diante dos partidários do manejo sustentável, ajudou a evidenciar diferenças e colocá‐las em um mesmo espaço de decisão. 

As diferentes motivações dos participantes afetaram a formulação dos objetivos e estratégias do Programa na  medida  em  que  se  buscou  compatibilizar  expectativas  conservacionistas,  sobretudo  da  parte  dos parceiros externos, com aquelas mais voltadas para responder à agenda de desenvolvimento local e regional que  se  “esverdeava”,  sob  a  liderança  dos  atores  brasileiros  no  governo  e,  posteriormente,  nas  redes socioambientais.  Formalmente  os  objetivos  específicos  do  PPG7  estabelecidos  nos  documentos  em  sua criação14  são  os  seguintes:  i.  conciliar  o  desenvolvimento  econômico  sustentável  com  a  conservação  das florestas tropicais; ii. preservar a biodiversidade das florestas; iii. reduzir a contribuição das florestas tropicais brasileiras na emissão global de gases que  causam o efeito estufa; e  iv.  criar um exemplo de  cooperação entre países industrializados e nações em desenvolvimento em matéria de problemas ambientais globais. 

Definiu‐se,  ainda,  a  busca  de  metodologias  para  geração  de  experimentos  que  reduzissem  de  modo progressivo a  taxa de desmatamento, explicitando a busca do  “desenvolvimento  sustentável”. A  interpre‐tação  destes  objetivos  na  formulação  de  subprogramas  e  projetos  indica  que  os  atores‐chave  do  PPG7 priorizaram estratégias múltiplas, orientados por interesses institucionais e oportunidades de ação conjunta. Ao  longo das diferentes etapas do PPG7, a perseguição de estratégias de  redução de desmata‐mento, de alternativas  produtivas,  fortalecimento  institucional,  desenvolvimento  comunitário, manejo  dos  recursos naturais, criação e consolidação de áreas protegidas, e a geração de conhecimentos receberam as maiores atenções. Nesse sentido, atuaram a maior parte dos subprogramas e projetos.  As  estratégias  do  PPG7  foram  formuladas  em  função  dos  objetivos  programados  e  dos  interesses  dos participantes  brasileiros  e  internacionais.  A  participação  brasileira  no  PPG7  envolveu  diversas  instâncias ministeriais,  governos  estaduais,  comunidades  científicas  e  organizações  da  sociedade  civil,  sob  a coordenação da SCA/MMA. Houve pequena participação de prefeituras e setores de negócios em atividades pontuais.   As principais estratégias dos organismos federais empreendidas no PPG7 foram as seguintes:  

Fortalecimento  Institucional  e  projetos  de  Gestão  Ambiental  Integrada  (PGAIs),  em  parceria  com  os estados,  incluindo  a  contratação  de  pessoal  especializado,  aquisição  de  equipamentos  e  meios operacionais,  e  a  promoção  de  programas  de  capacitação  ambiental,  por meio  do  Subprograma  de Política de Recursos Naturais (PRN).  

13  DIETENBACH, Armin. ‐ PROTER. Entrevista telefônica, em 15 de março de 2006. 14 O RFT foi estabelecido pela Resolução No. 92‐2, do Conselho de Administração do Banco Mundial, em março de 1992, acompanhada de um anexo técnico (background note) que lhe definiu os meios operativos. O governo brasileiro institui o PPG7, por meio do Decreto 563, em junho de 1992. 

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Criação  e  fortalecimento  da  Secretaria  de  Coordenação  da  Amazônia.  Fortalecimento  de  setores  do Ibama e Funai.  

Promoção do manejo florestal e de várzeas amazônicas.  

Fomento aos centros de excelência em ciências e projetos de pesquisa dirigida.  

Demarcação de terras indígenas e projetos demonstrativos de populações indígenas.  

Criação de reservas extrativistas e determinação de corredores ecológicos.  

Projetos demonstrativos com ênfase na experimentação de sistemas agroflorestais e extrativistas.   

Incentivo aos chamados “negócios sustentáveis”.  

Acompanhamento de resultados, identificação e disseminação de aprendizados.  Os governos estaduais  igualmente  se dedicaram à  criação e ao  fortalecimento de Oemas e outras organi‐zações de gestão ambiental: batalhões militares ambientais e ministérios públicos. Viabilizaram a contrata‐ção de pessoal especializado, aquisição de equipamentos e meios operacionais, operações de zoneamento ecológico‐econômico (ZEE), e sistemas de licenciamento ambiental estiveram entre as prioridades.  As  redes da  sociedade  civil participaram em  instâncias de  coordenação do PPG7,  inclusive  como meio de interface com outras  instâncias governamentais.  Investiram,  igualmente, no fortalecimento  institucional de OSCs e  suas  redes,  incluindo a  contratação de pessoal especializado,  aquisição de equipamentos e meios operacionais.  Priorizaram  a  participação  na  coordenação  de  projetos  demonstrativos  de  produção agroextrativista  e  indígena,  reservas  extrativistas,  execução  de  projetos  institucionais  e  atividades  de educação ambiental15.  A  participação  dos  atores  internacionais  no  PPG7  está  definida  em  acordos  de  cooperação  bilateral  e multilateral,  que  sobrepõem  mecanismos  de  doação  financeira  e  colaboração  técnica.  A  inserção  dos diversos doadores e parceiros  internacionais do Programa não é homogênea e, além de convergências de princípios e metas, expõe distintas estratégias de atuação.  Inicialmente, houve grande convergência no âmbito multilateral a partir da criação do RFT, com destaque para  RFA,  CEC, Usaid  e  Reino Unido,  tanto  financeira  quanto  técnica,  e  contribuição  em menor  volume, sobretudo financeira, dos demais países do G‐7 e EPB. Nesse ambiente, atuaram também o Bird, Fao, Pnud e assessoria do  IAG, cumprindo papéis diferenciados. Paulatinamente, a RFA, CEC e Reino Unido passaram a atuar com maior vigor em arranjos bilaterais de co‐financiamento, que hoje representam a maior parte dos valores  comprometidos no PPG7. Contudo, quase  sempre, os projetos  co‐financiados  receberam  recursos bilaterais e do RFT.  A cooperação alemã priorizou os Projetos Demonstrativos, Proteção das Terras Indígenas, Manejo Florestal e da  Várzea,  Descentralização  da  Política  de  Recursos  Naturais,  Análise  e  Monitoramento  e  Corredores Ecológicos. A cooperação européia apoiou Reservas Extrativistas, Ciência e Tecnologia, Projetos Demonstra‐tivos, Subprograma da Política de Recursos Naturais e Corredores Ecológicos. A cooperação britânica apoiou componentes  de  Ciência  e  Tecnologia,  Manejo  Florestal  e  da  Várzea,  Descentralização  da  Política  de Recursos  Naturais  e  Projetos  Demonstrativos  Indígenas.  A  cooperação  norte‐americana  investiu  no Subprograma de Ciência e Tecnologia e de Prevenção às Queimadas e aos Incêndios Florestais (Proteger). A cooperação holandesa apoiou a Coordenação do PPG7 e o Projeto Negócios Sustentáveis. Todos os demais contribuíram financeiramente no fundo multilateral (RFT). 

15 Apesar de  formalmente não haver  um projeto de  educação  ambiental no  PPG7,  diversas  atividades do  Proteger, Resex e projetos institucionais são consideradas pelas redes sociais como iniciativas de educação ambiental. 

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Paulatinamente,  as  dificuldades  para  lidar  com metas  ambiciosas  de  redução  do  desmatamento  e  ações estruturantes foram dando lugar à maior racionalidade dos participantes na interpretação dos objetivos: não alegar  a  resolução do problema do desmatamento,  com  sua perda de diversidade  e  emissão de  gases,  e reconhecer a escala piloto e experimental do PPG7. Alternativamente, buscou‐se gerar lições que pudessem ser introduzidas em políticas públicas ou mesmo dar escala aos experimentos bem sucedidos de conservação e manejo de recursos florestais (RMT, 2000/IAG, 2001/MMA, 2005a).  

  

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CCAAPPÍÍTTUULLOO VV IIMMPPLLEEMMEENNTTAAÇÇÃÃOO DDOO PPPPGG77:: RREESSUULLTTAADDOOSS,, IIMMPPAACCTTOOSS EE LLIIÇÇÕÕEESS

11.. OORRDDEENNAAMMEENNTTOO TTEERRRRIITTOORRIIAALL EE GGEESSTTÃÃOO AAMMBBIIEENNTTAALL

ste  capítulo visa a analisar as dimensões de gestão ambiental e ordenamento  territorial presentes em dois subprogramas ‐ SPRN e SPC&T ‐ e em cinco projetos do PPG7, ProManejo, ProVárzea, Resex, PPTAL e 

Corredores Ecológicos. 

1.1. Modelos e soluções referentes à gestão ambiental e ao ordenamento territorial  Embora diversos processos iniciados no âmbito do PPG7 ainda estejam em andamento e necessitem de mais tempo para se tornarem “modelos” e “soluções”, alguns elementos despontam como amálgama que reúnem vários  aspectos  do  Programa  e  ganham  concretude,  fixidez.  Eles  são  apresentados,  a  seguir,  para  as dimensões de gestão ambiental e ordenamento territorial.  2. Gestão ambiental  Pode‐se  dizer  que  foi  somente  após  a  implementação  do  PPG7  que  a  região  amazônica  ganhou  uma estrutura de gestão ambiental por meio dos órgãos estaduais de meio ambiente (Oemas). Ainda que tenham deficiências, na maior parte dos estados esses órgãos passaram a ter competência gerencial como resultado direto do investimento do Programa, em especial do subcomponente SPRN. Dos caminhos percorridos, três temas parecem  ter  sido  incorporados  como modelos a  serem  futuramente utilizados em ações de gestão ambiental: a planificação das ações, o envolvimento público, e a adaptabilidade.  Antes  do  PPG7,  os  Oemas  não  possuíam  conhecimento  gerencial  e  técnico  suficiente  para  conceber, implementar  e  avaliar  projetos.  Essa  capacidade  de  concepção  de  intervenções  na  forma  de  projetos, qualquer que  seja  a metodologia  adotada,  é uma  importante  contribuição do PPG7 para  a  área de meio ambiente e encontra‐se, hoje,  inserida no modus operandi dessas organizações. Esses projetos, tal como o próprio PPG7, podem contribuir efetivamente no processo de  influência  sobre, ou de criação, de políticas públicas. Existe, obviamente, o risco de eles serem apenas projetos ‐ o que não é um mal em si, pois projetos são necessários para testar, pesquisar, aperfeiçoar idéias.  O  envolvimento  público  ganhou  espaço  desde  o  início  do  PPG7,  por meio  do  GTA,  CNS,  Coiab  e  RMA. Posteriormente, diversos  subprogramas  e projetos do  PPG7 desenvolveram modelos de  envolvimento de partes  interessadas‐chaves nos processos de discussão e definições das ações a serem adotadas: no âmbito do  SPRN,  houve  a  criação  dos  grupos  de  trabalho;  no  projeto  Resex  ocorreu  a  criação  de  conselhos deliberativos e a elaboração de planos de manejo de uso múltiplo, que têm sido fundamentais para a gestão das  áreas;  e  no  projeto  ProVárzea,  membros  das  comunidades  passaram  a  trabalhar  na  fiscalização ambiental. Estes são apenas alguns exemplos que certamente não esgotam as experiências que ocorreram nos subprogramas, mas ilustram como o envolvimento público tornou‐se importante. Hoje, por exemplo, tal dimensão está presente nas consultas públicas que ocorreram no plano de ordenamento da BR‐163. 

 Adicionalmente,  a  gestão  ambiental  ganhou  em  adaptabilidade  às  necessidades.  Historicamente,  a administração federal tem sido pouco sensível às necessidades dos estados. No PPG7, o fortalecimento dos Oemas, a realização de estudos de zoneamento com metodologias  locais, e busca de soluções pontuais de fiscalização e licenciamento ‐ e a abertura de canais de diálogo entre o MMA e por meio da representação da SCA  ‐ passaram a compor um novo modelo de gestão pública ambiental, mais aberto, mais  flexível. Ainda que não esteja completamente incorporado à administração pública ‐ e por certo nunca o estará totalmente, devido às características de determinadas decisões ‐ essa forma de gestão é agora possível de ser aplicada, especialmente na forma da gestão compartilhada e não da imposição de modelos16. 

 

16 Projeto AMA ‐ Construindo a Sustentabilidade: Lições Aprendidas no PPG7. Brasília, 2002. Textos para Discussão n°. 1. 

E

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Esses  são, pois, modelos encontrados – o que não quer dizer que  sejam modelos amplamente aplicados. Trata‐se de um processo, no qual, todavia, foi lançada a semente de mudança. 

 Apesar dos avanços, a gestão ambiental não evoluiu na sua capacidade de coordenação no âmbito federal. As  ações  do  MMA  ainda  não  estão,  adequadamente,  articuladas  com  outros  órgãos  da  administração federal, tal como o  Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), ou mesmo o  Ibama. Nesse sentido, o PPG7 dedicou‐se aos aspectos operacionais da gestão ambiental nos estados e relevou uma visão estratégica que gerasse capacidade de  liderança política na esfera federal ‐ problema que também ocorreu na dimensão de ordenamento. 

 No outro extremo, pode‐se verificar que a gestão ambiental teve relevantes ganhos na dimensão micro, com inúmeras  atividades  de  capacitação  ocorrendo  nos municípios,  aumentando  a  qualificação  dos  gestores locais e sua preocupação com a sustentabilidade do desenvolvimento. Embora não exista estudo que levante mudanças  na  consciência  na  população  da  região  amazônica  sobre  questões  ambientais,  esse  ganho  foi apontado pelos técnicos  inseridos nos projetos  locais em diversos estados e é tido como um dos principais benefícios do PPG7.  Apesar de tal ganho, a gestão ambiental não soube superar os conflitos derivados da própria promoção da sustentabilidade, que  requer mudanças no padrão de apropriação e  transformação dos  recursos naturais. Parece ter havido a suposição que a técnica de gestão, por meio da criação de sistemas de controle, seria suficiente para  se  lidar  com uma dimensão que, afinal,  requer negociação política em  todas as  instâncias federativas. Tal visão técnica refletiu‐se nas atividades de monitoramento, nas quais houve capacitação dos Oemas. Porém, não foram criados instrumentos de troca de dados entre órgãos do mesmo Estado, ou entre estados – o que requer negociação política. Assim, o PPG7 conseguiu progressos apenas limitados na esfera de monitoramento.  Houve ganho significativo de controle ambiental, principalmente com a criação de resoluções no âmbito dos conselhos estaduais e municipais de meio ambiente. Adicionalmente, em diversas ocasiões ocorreram ações de  fiscalização  integradas nos estados, unindo membros da administração ambiental e da  trabalhista, por vezes com a participação de membros dos ministérios públicos estaduais. No entanto, parece que tais casos de compartilhamento da fiscalização constituem‐se eventos pontuais,  isolados, e não se transformaram em um modo de operação. O controle ambiental ainda é, eminentemente, uma atividade, por vezes  falha, de controle de documentos. 

 Ocorreram, enfim, ganhos  tangíveis derivados do PPG7 em  relação à gestão ambiental, os quais apontam para  um  novo  modelo.  No  entanto,  após  os  anos  de  implementação  do  PPG7  ainda  parece  claro  a necessidade de se criar rotinas entre órgãos federais, aumentando‐se a capacitação de recursos humanos e melhorando‐se as estruturas de gestão.  3. Ordenamento territorial  Aparentemente, o que se tem hoje no campo do ordenamento territorial é um modelo em gestação. Sinais dessa  situação  transitória  refletem‐se,  por  exemplo,  da  ausência  de  uma  definição  sobre  o  que  seja ordenamento territorial até a existência de diversos órgãos nas diversas esferas federativas com capacidade para implementar políticas que levam aos impactos no uso do solo. Em parte, tal situação seria conseqüência de  uma  falta  de  segurança  jurídica  no  arcabouço  institucional  brasileiro17,  em  parte,  parece  refletir dificuldades de coordenação próprias de um planejamento de nível macro18.  No início das atividades do PPG7, o ZEE encontrava‐se na Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, onde permaneceu até que a Medida Provisória 1.911‐8/1999  “transferiu a  responsabilidade pelo ordenamento territorial da SAE/PR para o Ministério da Integração Nacional e atribuiu ao Ministério do 

17  Roberto Vizentin, entrevista pessoal, Brasília, 21 de agosto de 2006. 18  Cássio Alves Pereira, entrevista pessoal, Brasília, 21 de agosto de 2006.  

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Meio Ambiente a responsabilidade pelo ZEE." 19  

A partir da transferência, teve início, no MMA, um estudo sobre o “estado da arte” da confecção do ZEE. Foi então  percebido  que  haviam  “projetos  fragmentados  em  pequenas  áreas,  metodologias  diferentes, informações  indisponíveis  e  engavetadas,  nenhuma  referência  nacional."  20  Foram  realizados  cinco seminários  regionais  (um  para  cada  região  do  país),  além  de  dois  seminários  nacionais,  a  partir  dessa constatação.  Após  ampla  consulta,  chegou‐se  ao  documento  “Diretrizes  Metodológicas  para  o  ZEE  do Território Nacional" 21, cujos principais avanços ‐ além da definição de uma metodologia para o zoneamento por meio do estabelecimento de regras gerais dirigidas à execução de projetos  ‐  foram a  incorporação dos temas biodiversidade e recursos hídricos, atualizações de dados referentes ao uso e ocupação da terra, e a busca  de  indicadores  qualitativos. Na  etapa  seguinte,  criou‐se  o  Consórcio  ZEE  Brasil  que  testou  o  novo enfoque de ZEE na região denominada Baixo Rio Parnaíba. 

 Esse avanço foi, de certa forma, contrabalanceado pelo fato de que o ZEE não proporcionou condições para estimular a participação de outros atores do processo, em especial os estados. Um exemplo disso é que “até hoje, apenas o ZEE de Rondônia  foi submetido à apreciação  federal e  incorporado ao sistema, segundo as regras existentes." 22 Na esfera federal, o ZEE deu mais alguns passos ao construir, com apoio do SPRN, bases cartográficas na escala 1:100.000, que podem passar a  integrar o Sistema Cartográfico Nacional. Houve um esforço de construção da primeira aproximação de um macrozoneamento do território nacional. No entanto, o esforço de ZEE realizado no MMA foi, eminentemente, direcionado ao zoneamento de áreas destinadas às unidades de conservação, e “perdeu‐se o contato com  forças políticas e econômicas."  23 Recentemente, o MMA tem procurado o comprometimento de agentes do sistema financeiro para que o ZEE seja levado em consideração quando da concessão de crédito.  Segundo análise do MMA/Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável  (MMA, 2006: 24), “o mérito do MMA foi transformar o ZEE em um  instrumento efetivo de gestão do território, não obstante as contradições e  incompreensões disso dentro do próprio poder público. Até então, o ZEE era visto apenas como  um  instrumento  de  ordenação  do  território,  com  uma  perspectiva  extremamente  normativa  e mandatária, voltado à regulação, comando e controle. Sem deixar de lado essa função, a gestão territorial é muito mais ampla, pois envolve uma concepção renovada sobre os recursos naturais e as possibilidades de desenvolvimento de maneira pactuada  entre os  agentes  envolvidos. Por  esse modo, os  recursos naturais passam a ser concebidos como ativos ambientais, cuja proteção não é mero preservacionismo ou reserva de riquezas, mas uma estratégia conservacionista para minimizar custos sociais e ambientais. Nesse sentido, o ZEE passa a ser um  instrumento  indicativo e propositivo, orientador do planejamento (planos, programas e projetos) e da gerência (administração do território).”  Ou  seja,  a  coordenação  do  ZEE  no MMA  associa  essa  atividade  a um processo de  gestão  territorial que, embora  não  definido,  é  apresentado  como  sendo  mais  amplo  do  que  um  processo  de  ordenamento territorial  ‐  seria mais próximo de uma perspectiva de  formulação de  "subsídios  técnicos para o planeja‐mento regional e a formulação de um conjunto de políticas públicas necessárias ao ordenamento territorial em bases sustentáveis." 24  Tal  visão mais  ampla  se  configura  em  diversas  iniciativas,  como  a  demarcação  de  terras  indígenas  e  de unidades de conservação, e medidas como o uso do instrumento de intervenção pública que é denominado Área  sob  Limitação Administrativa Provisória  (Alap). Cooperam para essa visão ampliada de ordenamento territorial  iniciativas de gestão de paisagem adotadas pelo subprograma Corredores Ecológicos e, especial‐ 19 MMA ‐ Caderno de Referência ‐ Subsídio ao Debate. Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável. p. 20. Brasília, 2006. mimeo 20 MMA ‐ Caderno de Referência ‐ Subsídio ao Debate. Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável. p. 20. Brasília,  2006. mimeo. 21  MMA ‐ Diretrizes Metodológicas para o ZEE do Território Nacional. Brasília, 2001. 22 MMA ‐ Caderno de Referência ‐ Subsídio ao Debate. Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável.  p. 23. Brasília, 2006. mimeo. 23 Roberto Vizentin ‐ Entrevista pessoal. Brasília, 21 de agosto de 2006. 24 Projeto AMA ‐ Construindo a Sustentabilidade: Lições Aprendidas no PPG7. Brasília, 2002. Textos para Discussão n°. 1. 

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mente, o Sistema de Licenciamento Ambiental em Propriedade Rural, iniciativa inovadora desenvolvida pela Fundação Estadual de Meio Ambiente (Fema) de Mato Grosso. 

 O  elemento‐chave  é  “a  adoção  do  conceito  de  licenciamento  ambiental  como  ferramenta  para  a  gestão integrada dos recursos naturais na propriedade rural, em contraste com a prática tradicional de autorização pontual de atividades como o desmatamento e exploração madeireira”, em associação com “tecnologias de sensoriamento  remoto  e  geoprocessamento  de  fácil  acesso  e  baixo  custo  no  licenciamento,  no monito‐ramento e na  fiscalização de  atividades de uso dos  recursos  florestais.”  25 Certamente, o  Slarp  indica um modelo  a  ser  seguido  em  termos de ordenamento  territorial, mas  sua  aplicação  em parceria  com outras instituições ainda precisa ser aperfeiçoada (caso da integração do Incra ao sistema).26  Esta visão de ordenamento territorial emana do MMA e, no entanto, não é consensual entre atores do PPG7. Há, por exemplo, francas divergências entre membros do governo brasileiro, do Bird e de financiadores em relação à definição do que seja o planejamento para atividades de ordenamento territorial, bem como em relação  ao  impacto  do  programa  sobre  políticas  públicas.  É  tangível  no  debate  o  fato  de  que,  embora positivas, as iniciativas do MMA têm impacto limitado, visto que esbarram em um conflito de competências sobre as atividades de ordenamento territorial.  As ações de planejamento e implementação do ordenamento foram destinadas, pela Lei 10.683, de 2003, ao Ministério da  Integração Nacional  e  ao Ministério  da Defesa. Assim,  as  atividades de  ZEE  realizadas  pelo MMA representam apenas uma dentre outras  iniciativas de zoneamento de uso dos recursos naturais com interface  econômica,  e  compõem  apenas  uma  das  diversas  dimensões  de  ordenamento  territorial.  Tais dimensões aparecem na proposta de uma Política Nacional de Ordenamento Territorial (PNOT), apresentada, em 2004, pelo Ministério da Integração Nacional, incluindo os seguintes instrumentos de ordenamento:  

Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC);  Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU);  Planos Diretores Municipais (e seus instrumentos de gestão territorial urbana);  Plano Nacional de Recursos Hídricos;  Planos Diretores de Bacias Hidrográficas;  Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável;  Programa Nacional de Desenvolvimento dos Territórios Rurais (Pronat);  Programa de Proteção de Terras Indígenas, Gestão Territorial e Etnodesenvolvimento;  Programa de Zoneamento Ecológico‐Econômico (PZEE); e  Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento (Enids). 

 Além desses  instrumentos de  implementação direta do ordenamento, o Ministério da  Integração Nacional identificou outros 50  instrumentos que possuem algum  impacto no ordenamento,  tais como: a Política de Desenvolvimento Rural  Sustentável, Política Nacional de Recursos Hídricos, Plano de Desenvolvimento do Centro‐Oeste, o Plano BR‐163 Sustentável, o Plano Nacional de Logística e Transportes, o Plano Nacional de Energia e o Programa de Apoio às Comunidades Quilombolas – os quais  são desenvolvidos por diferentes órgãos federais e possuem diversos arranjos entre os níveis federativos, com arcabouços legais específicos.  No Ministério  da  Integração Nacional,  a  política nacional  de  desenvolvimento  regional  é  competência  da Secretaria de Políticas de Desenvolvimento Regional  (SDR), órgão que “responde pela  formulação, concep‐ção e  iniciativas gerais de  implementação da Política Nacional de Desenvolvimento Regional  (PNDR), e por seus  instrumentos básicos,  como os planos  regionais estratégicos". Responde,  também, pela definição de diretrizes e prioridades e pelo acompanhamento de mecanismos de apoio ao desenvolvimento  regional, a exemplo dos créditos concedidos ao setor privado mediante os fundos constitucionais de Financiamento do Norte (FNO), Nordeste (FNE) e Centro‐Oeste (FCO), e da concessão de incentivos fiscais para a realização de 

25 AMA ‐ Construindo a Sustentabilidade: Lições Aprendidas no PPG7. Brasília, 2002. Textos para Discussão n°.1. 26 Adolfo Della Pria Pereira. Entrevista pessoal, Brasília, 26 de junho de 2006. 

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empreendimentos na Amazônia Legal e no Nordeste. ”27 Dessa  forma, o Ministério da  Integração Nacional possui competências políticas e controle de instrumentos de financiamento às atividades de ordenamento. 

 Em  agosto  de  2006,  a  Secretaria  de  Políticas  de  Desenvolvimento  Regional  do Ministério  da  Integração Nacional  promoveu  um  debate  sobre  a  proposta  da  PNOT,  com  a  participação  de  representantes  dos ministérios da Defesa, Meio Ambiente, Desenvolvimento Agrário, Planejamento, das Cidades, Turismo e da Casa Civil. A proposta possui  como elemento  central  a  criação de um  Sistema Nacional de Ordenamento Territorial (Sisnot), que seria gerido por uma entidade autárquica ou agência a ser criada. A coordenação do sistema  seria  feita  pelos  ministérios  da  Integração  Nacional,  da  Defesa,  e  do  Planejamento  com  a participação da Casa Civil da Presidência da República. O MMA seria um órgão participante.  Dessa  forma, observa‐se  que  a dimensão de ordenamento  territorial presente no  PPG7  esteve, majorita‐riamente,  contida  na  dimensão  de  conservação  ambiental,  e  que,  na  esfera  política,  o  tema  ganhou proeminência entre outras pastas da administração pública federal. Parece, então, relevante o fato de que o PPG7  não  tenha  instrumentalizado  o MMA  para  que  este  pudesse  exercer  influência  decisiva  sobre  as políticas de ordenamento, as quais  têm  impacto direto  sobre as políticas de desenvolvimento  sustentável para a Amazônia. É, então,  importante que o ZEE/MMA  transcenda o planejamento cartográfico de áreas prioritárias para,  sem  se  esquecer delas, passe  a dialogar  com maior peso político  com outros  atores do processo de ordenamento territorial.  3.1. Análise de impacto28: influência do PPG7 na formação das políticas públicas  O  texto  a  seguir  apresenta uma  série de  ações,  eventos  e  “produtos” que  configuram uma mudança  em relação ao que se tinha antes da  implementação do PPG7. Tais mudanças configuram a noção de  impacto exploratório, que se adota neste trabalho (ver item Metodologia).  Ao  tratar das questões estratégicas para o  futuro do PPG7, no Documento para Discussão, elaborado em agosto de 2004, pelo MMA,  seus autores afirmam que  “existe um amplo  consenso entre os parceiros do PPG7 de que, na atual  fase de  implementação, o principal enfoque deve  ser a  consolidação de  iniciativas inovadoras e a  sistematização e aplicação de  seus  conhecimentos em outros  contextos, especialmente na formulação de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento sustentável na Amazônia e Mata Atlântica”.29 

 Embora o PPG7, nos  seus dez primeiros anos, não  tenha atuado explicitamente na promoção de políticas públicas, suas iniciativas geraram distintos níveis de influência nas mesmas. Por outra parte, o PPG7 conviveu com as enormes dificuldades que aparecem no processo de consolidação de uma política pública. O estudo realizado pelo Projeto AMA, sobre as contribuições do SPRN à formulação de políticas de desenvolvimento sustentável,  no  Estado  do  Acre,  constata  que  “embora  houvesse  uma  expectativa  por  parte  do  governo federal,  do  Bird  e  dos  países  doadores  de  que  o  SPRN  contribuísse  efetivamente  para  a  criação  e implementação de políticas públicas ambientais, os parceiros prioritários do SPRN  (os órgãos estaduais de meio  ambiente)  possuíam  sérias  limitações  operacionais  e  tinham  pouco  peso  político. O  SPRN  somente apresentou progressos palpáveis nos estados nos quais havia  interesse constante ou momentâneo entre as instâncias políticas superiores”.30  A correlação de  forças necessária à  formulação de políticas públicas não  foi prioridade para o PPG7 que  ‐ devido à sua dimensão e pluralidade de ações no campo  ‐ dedicou todas suas forças à operacionalização e não dedicou tempo à  interlocução com o setor agrícola, agrário, viário, energético, sanitário e educacional como condição para assegurar a sustentabilidade mediante uma orientação política mais adequada. 

 

27 Ministério  da  Integração  Nacional.  www.integracao.gov.br/desenvolvimentoregional/index.asp.  Acesso  em  01  de outubro de 2006. 28 Recomenda‐se a leitura do item Metodologia, antes da leitura desta seção. 29 MMA/PPG7 ‐ Arquivos: Questões Estratégicas sobre o Futuro do PPG7: Documento para Discussão ‐ Versão 05.08.2004. p. 10. 30  MMA/PPG7 ‐ Série Estudos 5. p. 24. 

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3.2. Dimensão de ordem

Adequação institucional  

Os  diversos  subprogramas  e  projetos  do  PPG7  tiveram  um  impacto  fundamental  na  dimensão  de constituição  de  políticas  ao  propiciar  uma melhor  definição  de  limites  entre  o  público  e  o  privado,  que resultou de uma maior presença pública na região, da definição de direitos em relação às terras da União, e de  um  maior  empoderamento  da  sociedade  civil.  No  mesmo  sentido,  o  processo  de  capacitação  e envolvimento do Ministério Público, na região, contribuiu decisivamente para esse processo de definição da fronteira público/privado, e para a promoção do diálogo e da negociação entre atores sociais ‐ o que, em si mesmo, também é uma dimensão importante na formulação de políticas.  Negociações geraram a dimensão de ordem no âmbito dos Oemas, que passaram a fazer uso de termos de correção de conduta (algo similar aos termos de ajustamento de conduta, do MP), como primeira alternativa para a correção de atividades. Em vários estados, a correção de conduta aproximou o setor empresarial do setor ambiental governamental.  A  dimensão  de  ordem  também  apareceu  nas  diversas  atividades  que  contribuíram  para  estabelecer instituições na Amazônia e na Mata Atlântica  (instituições entendidas como conjunto de constrangimentos que regulam a ação coletiva). Exemplos advêm da consolidação da figura  jurídica da reserva extrativista no país, da elaboração da Lei Florestal do Acre31 e um projeto de  lei  federal sobre o “Regime de Concessão e Permissão de Acesso e Exploração de Bens e Serviços de Florestas Nacionais, Estaduais e Municipais”, como também do suporte legal para a criação do Centro Nacional de Apoio ao Manejo Florestal (Cena‐flor/Ibama) 32,  órgão  catalisador  e  fomentador  de  atividade  de  treinamento,  capacitação  e  divulgação  do  manejo florestal.  As ações do ProManejo contribuíram para estabelecer as bases jurídicas que permitiram que fosse criada a legislação  federal que dispõe  sobre o uso  sustentável das  florestas públicas. O ProVárzea  contribuiu para sistematizar  processos  de  diálogo  e  negociação  das  políticas  públicas  da  seguinte  forma:  i.  institucio‐nalizaram‐se os acordos de pesca como  instrumentos de ordenamento pesqueiro  (Instrução Normativa do Ibama nº 9) e a  figura do Agente Ambiental Voluntário  (Instrução Normativa do  Ibama nº 19); e  ii.  Imple‐mentou‐se a Unidade  Integrada de Defesa Ambiental (Unida) que ‐ por meio da cooperação entre governo do Estado do Pará (Polícia Militar, Polícia Civil),  Ibama, Ministério Público Estadual e Federal, Capitania dos Portos e Prefeitura de Santarém ‐ propiciou melhor gestão ambiental. 

 A Rede Mata Atlântica, por sua vez,  incentivou o processo de geração de políticas públicas mediante vários eventos, dentre os quais se destaca a Primeira Oficina de Articulação para Intervir no Plano Plurianual (PPA) 2004‐2007,  a  qual  incluiu  como  um  de  seus  objetivos  “estabelecer  as  bases  de  uma  estratégia  para  a sociedade  civil  atuar  no  processo  de  elaboração  do  PPA.”  A  rede  também  acompanhou,  na  Câmara  dos Deputados, as discussões da Lei da Mata Atlântica, com financiamento do PPG7. 

 Apesar  desses  avanços,  um  elemento  fundamental  da  dimensão  ordem  em  políticas  públicas  não  foi suficientemente atendido: a capacidade de o Estado prover ações sistemáticas que tornem a sua ação, bem como a dos outros, estável e previsível. Houve de fato um ganho, na medida em que a ação de diversas áreas de governo, dentro do MMA, passou a se guiar por critérios mais bem definidos, tais como a elaboração de termos de referência, de critérios mais objetivos de monitoramento e avaliação. Ainda assim, muito ficou por ser feito e, acima de tudo, não se obteve a sistematização da gestão interna aos subprogramas e com outros órgãos  da  administração  pública.  O  funcionamento  de  programas  e  projetos  ainda  depende  mais  de indivíduos do que da instituição.  31 Lei n.° 1.426, de 27 de dezembro de 2001, que “Dispõe sobre a preservação e conservação das florestas do Estado, institui  o  Sistema  Estadual  de  Áreas Naturais  Protegidas,  cria  o  Conselho  Florestal  Estadual  e  o  Fundo  Estadual  de Florestas e dá outras providências”. 32 O Centro Nacional de Apoio ao Manejo Florestal (Cenaflor) foi criado pela Portaria 56, de 7 de outubro de 2003, do Ministério do Meio Ambiente. 

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Previsão de consulta (para que a dimensão horizontal ocorra)  O PPG7 inseriu, desde o início, o apoio à formação e ao fortalecimento institucional de redes de política que, ao  longo  de  todo  o  tempo  de  implementação  do  Programa,  têm  participado  do  debate  sobre  planos  e projetos de governo, e estreitado  relacionamento  com a  iniciativa privada na  região. São exemplos dessa dimensão de ordem  constituinte de políticas públicas a  criação e o  fortalecimento das  redes GTA e Mata Atlântica,  além  de  outros  grupos,  como  inúmeras  ONGs  que  foram  se  agregando  ao  processo  de implementação dos projetos.  Esses  projetos,  com maior ou menor  grau,  sempre  fizeram  previsão de  consulta  pública  ‐  algumas  vezes considerada por  representações da  sociedade  como  insuficiente, outras vezes  considerada demasiada por representações da  iniciativa privada e de governos estaduais e  locais. De qualquer  forma, a dimensão de consulta sempre esteve presente nos projetos do PPG7 e contribuiu para criar uma cultura de contribuições às decisões das  autoridades públicas, o que  eleva  a ordem  e  cria  condições para que  se  identifiquem os grupos/indivíduos que são partes interessadas‐chaves.  

Segurança de execução (enforcement)  Houve, em parte, um aumento na segurança da execução das decisões dos órgãos públicos (enforcement), derivado do melhor planejamento e conhecimento (veja a seguir), além das constantes avaliações realizadas ao longo dos anos. Embora o desembolso tenha sido menor do que o esperado, ele foi, todavia, superior ao da média das administrações públicas, no Brasil.  Em alguns casos, houve ganho de enforcement derivado de novos e exemplares arranjos cooperativos, como no  caso  da  criação  dos  Agentes  Ambientais  Voluntários  e  das Unidades  Integradas  de  Defesa  Ambiental (Unidas),  no  âmbito  do  ProVárzea.  No  Projeto  Corredores  Ecológicos,  buscou‐se  realizar  fiscalização  em parceria com órgãos que têm poder de polícia33, para fiscalização mais detalhada e que as autuações feitas chegassem de fato a juízo. Experiência semelhante à realizada pelo SPRN nos PGAIs, pela qual o Oema atuava em parceria com a Polícia e o Ministério Público. 

 No  entanto,  não  parecem  ter  sido  registrados  avanços  significativos  no  PPG7,  em  sua  totalidade,  e  no relacionamento  entre  o MMA  e  outros  órgãos  da  administração  pública,  especialmente  com  a  própria administração  federal:  avanço  que  possibilitasse  um  ganho  de  escala,  eficiência  e  efetividade  na implementação de políticas públicas.  

Consulta interna à burocracia pública  Ao  longo dos anos de  implementação do PPG7 houve uma série de eventos de capacitação e de avaliação que  possibilitaram  aos  órgãos  públicos  travar  contato  com  a  sua  própria  burocracia.  No  entanto,  esses eventos não significaram um processo  formal de consulta à própria burocracia pública, especialmente aos funcionários de carreira e que tenham contato direto com as atividades de implementação das políticas34. Se bem conduzido, tal processo de consulta poderia ter efeito positivo resultando em políticas públicas melhor concebidas. 

  Momento (timing de elaboração e implementação)

 A dimensão de ordem é mais bem obtida quando políticas públicas são concebidas no momento adequado ‐ nem  antes nem depois do  tempo propício.  “Na prática,  até 1999, os participantes não  foram  capazes de implementar, em tempo e de forma coordenada, o conjunto previsto de projetos. Mesmo após um período de cinco a sete anos de PPG7, pelo menos quatro projetos de importância estratégica para a consecução dos objetivos  do  Programa,  relacionados  ao  manejo  florestal  (ProManejo),  manejo  de  várzea  (ProVárzea), controle de queimadas e desmatamento  (Prodesque) e gerenciamento de parques e  reservas  (Corredores Ecológicos) ainda estavam por ser iniciados. O projeto de maior envergadura, o SPRN, que desempenha um  33  Militão Ricardo, entrevista pessoal. Brasília, 26 de julho de 2006. 34 Também chamados em street‐level bureaucrats.  

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papel destacado na condução do fortalecimento institucional para a formulação e implementação da gestão ambiental integrada estadual e municipal, ainda não havia alcançado um impulso significativo." 35 Dessa  forma, o PPG7,  literalmente, “perdeu o momento/timing” das ações necessárias. Muitas ocorreram, mas  não  no melhor momento  e  nem mesmo  da melhor  forma,  pois  a  demora  nas  fases  de  concepção, implementação e análise,  invariavelmente, estão  ligadas a  ineficiências que geram desperdícios e conflitos. Diversos fatores contribuíram para o problema de “perda de momento”, dentre os quais podem ser citados três:  

1. Primeiramente,  houve  uma  dificuldade  de  representantes  do  governo  brasileiro  em  lidar  com  as demandas administrativas advindas de um novo arranjo de  cooperação  internacional nunca antes implementado.  

 2. Também ocorreram  restrições de  representantes do governo brasileiro em  relação à aceitação de 

doações e financiamentos internacionais em função do significado para decisões soberanas do Brasil sobre políticas nacionais.  

 3. Um  terceiro  fator  refere‐se  ao  fato de que organizações  internacionais mantiveram  seus procedi‐

mentos  específicos,  demandando  que  beneficiários  nacionais  atendessem  procedimentos  particu‐lares. A falta de um procedimento único de cooperação foi objeto de longas negociações e dificultou os procedimentos de prestação de contas ao longo de todo o período de execução do PPG7. 

 3.3. Autoridade

  Legitimidade do formulador da política na sociedade

 Embora os  temas preservação e uso  sustentável dos  recursos naturais  sejam uma preocupação da maior parte dos brasileiros, estes não depositam grande legitimidade nos órgãos ambientais, quer sejam estaduais ou federais – enquanto cresce a percepção da importância dos órgãos ambientais municipais.36 No entanto, devido  à maior  capacitação de Oemas,  a partir das  ações do PPG7, é possível que em breve ocorra uma maior atribuição de  legitimidade a esses órgãos estaduais, apesar da visão  ‐ que  também  requer análise e comprovação  ‐  segundo  a  qual  os  Oemas  “viraram minis MMAs  e  não  foram  integrados  aos  governos estaduais." 37 Seria adequado verificar o que de fato ocorreu com o poder político dos Oemas.  

Legitimidade do formulador da política na própria burocracia pública  Esta análise considera, segundo Colebatch (2002) que “quanto maior o grau de legitimidade dos tomadores de decisão  envolvidos, maior deverá  ser o  caráter democrático da política  e  as  chances  de  a mesma  ser implementada.“ Uma dimensão problemática ao longo da maior parte do período de execução do PPG7 foi a substituição de funcionários públicos por consultores que, invariavelmente, negociaram políticas públicas em nome do Estado brasileiro. 

  Embora  tal dimensão de  (falta de)  legitimidade não  tenha sido contestada, na maior parte dos casos, ela ocorreu em negociações mais sensíveis,  relativas a  temas de  interesse nacional. Nessas situações, aparen‐temente, ministérios que apresentam carreiras próprias de Estado  ‐ como os militares e o MRE  ‐,  tiveram restrições à negociação ser conduzida por consultores (embora o próprio MRE tenha feito uso deles). 

  Capacidade de comando superior (top-down)

 Um problema estrutural do poder público no Brasil refere‐se à baixa performance no que tange às dimen‐sões  de  eficiência,  efetividade,  transparência  e  accountability.  Aparentemente,  os  mesmos  problemas estiveram  refletidos no PPG7, ainda que o Programa  tenha produzido  inúmeros estudos e avaliações, em uma tentativa de atingir uma performance bastante superior à da média da administração federal no Brasil.  35  Nota da consultora Laura Corrêa Guarnieri. 36 MMA e ISER ‐ O que o Brasileiro pensa do Meio Ambiente. Pesquisa de Samyra Crespo e Eduardo Novaes. 2006 37 Garo Batmanian, entrevista pessoal, Brasília, 25 de julho de 2006. 

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Na opinião de um especialista internacional, que por anos acompanhou o projeto, ao menos no que tange ao SPRN,  o  PPG7  se  rendeu  “ao  normal  da  burocracia  brasileira."  38  Embora  existam  resultados  positivos  e momentos  de  maior  eficiência  na  administração  federal,  os  problemas  estruturais  do  serviço  público estiveram acima da capacidade de mudança de um  simples programa que, afinal, não  logrou  superar  tais barreiras em sua própria estrutura. Tais problemas estruturais indicam a baixa capacidade da administração pública brasileira de fazer cumprir as suas decisões e prestar contas – elementos que por certo contribuem para melhores políticas públicas.  

Capacidade de influência inferior (botton-up)  Um dos principais resultados positivos do PPG7 foi sua relação com a sociedade. Desde o início, o Programa incentivou a participação pública, especialmente por meio da constituição do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA),  uma  organização não‐governamental que  representa  inúmeras  outras ONGs  e movimentos  sociais atuantes na Amazônia. Também foi criada a Rede Mata Atlântica, constituída de organizações e movimentos sociais que trabalham naquela região. 

 Além dessas duas redes de maior expressão, o PPG7 abriu espaço para que o movimento ambientalista não‐governamental  se  expandisse  e  se  especializasse.  Houve,  sem  dúvida,  uma  expansão  da  capacidade  de influência das organizações e movimentos da sociedade na formulação de políticas públicas. Paralela‐mente, diversos estudos sobre grupos sociais mais diretamente ligados ao uso dos recursos naturais, especialmente na Amazônia, ampliaram o entendimento sobre a composição e organização da sociedade, amplificando a capacidade de envolvimento por parte dos projetos de intervenção39.  3.4. Conhecimento  

Fundamentação teórica  Diversos  subprogramas  do  PPG7  geraram  conhecimento  que  serve  de  elementos  fundamentais  para  a formulação de políticas públicas. Além das suas publicações, o ProVárzea também gerou uma série de vídeos em  DVD  e  VHS,  além  de  programas  de  rádio  sobre  manejo  comunitário  e  outras  atividades  de desenvolvimento de grupos de base, na várzea, que mostraram ser elementos importantes para a divulgação do conhecimento gerado nos projetos. 

 Por sua vez, o ProManejo ‐ por meio do Componente Estudos Estratégicos ‐ gerou dois grandes estudos nas áreas de políticas agrárias e  indústria madeireira. Em 2003, na nova  fase deste  componente, definiu‐se  a realização de estudos mais pontuais, priorizando temas urgentes relativos ao manejo florestal. A estratégia de  execução  do  componente  assumiu  as  seguintes  linhas  temáticas:  i.  alterar  políticas  públicas  que estimulem a oferta de produtos de origem predatória; ii. políticas públicas que favoreçam o manejo florestal; iii. estatística florestal na Amazônia; iv. zoneamento florestal; e v. arcabouço Institucional. 

 Outra conquista alcançada, com base no exercício de implantação do ProManejo foi a implantação do Grupo Interinstitucional  de  Monitoramento  da  Dinâmica  de  Florestas  da  Amazônia  Brasileira  e  da  Rede  de Monitoramento da Dinâmica de Florestas da Amazônia Brasileira, geradores de conhecimentos para a região. 

 A atividade em rede é aquela desenvolvida pela pesquisa apoiada no Subprograma de Ciência e Tecnologia (SPC&T). Em sua fase I, o SPC&T estava constituído por dois componentes: Centros de Ciência, com objetivo de fortalecimento institucional do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e do Museu Paraense Emílio Goeldi; e por projetos de Pesquisa Dirigida (PPD) apoiando 53 projetos de pesquisa. Muitos destes projetos, no entanto, não foram direcionados à formulação de políticas públicas40.  “A Fase II do SPC&T/PPG7”, segundo o Ministério de Ciência e Tecnologia41, “tem como objetivo promover e  38  Hanz Krüger. Entrevista por telefone, abril de 2004. 39 Lima, Deborah (Org.) ‐ Diversidade Socioambiental nas Várzeas dos Rios Amazonas e Solimões ‐ Perspectivas para o Desenvolvimento da Sustentabilidade. Brasília: Ibama, 2005. 40  Eric Stoner e Ernani Pilla. Entrevista pessoal. Brasília, 26 de julho de 2006. 41  MCT/SPC&T/PPG7. Acessado em 01 de agosto de 2006: www.mct.gov.br/index. php/content/view/8327.html 

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disseminar,  de  forma  coordenada,  pesquisas  científicas  e  tecnológicas  em  áreas  relevantes  do  conhe‐cimento.”  Nesta  fase,  foram  definidos  três  componentes  (Projetos  de  Pesquisa  em  Temas  Estratégicos, Divulgação de  Informações e Resultados das Pesquisas, e Gerenciamento, Monitoramento e Avaliação), os quais  são operacionalizados por meio de 11  redes de pesquisa nos  seguintes  temas: manejo  integrado de ecossistemas e  recuperação de áreas degradadas, manejo  integrado de bacias hidrográficas, ecossistemas aquáticos e recuperação de áreas degradadas. Outros subprogramas, como Corredores Ecológicos, PPTAL e Resex estiveram mais  ligados à produção de conhecimento de natureza tradicional, segundo a classificação adotada neste trabalho.  

Fundamentação técnico-metodológica  Políticas públicas não podem estar desconectadas de estudos que, fazendo uso de metodologias, apontem possíveis  caminhos a  seguir.  Inúmeros estudos  realizados pelo PPG7  cooperaram para que houvesse uma maior  preocupação  com  a  aplicação  de métodos  nas  etapas  de  desenho,  implementação  e  avaliação  de políticas.  Paralelamente  ao  conhecimento  teórico,  o  conhecimento  que  enfoca  aspectos  técnicos  e metodológicos coopera para melhores desenhos de  intervenção e  fornece  argumentação para  instruir o debate político. Hoje,  o  debate  sobre  reservas  extrativistas  (resex),  por  exemplo,  possui  uma  visão  bem mais  nítida  dos benefícios e  custos  a elas associados. Tal  conhecimento  foi  sendo acumulado, durante os  anos de  imple‐mentação das reservas, e de observação da dinâmica socioeconômica e ambiental que afeta seus moradores.  Sabe‐se, por exemplo, que o sucesso de uma  resex depende de sua  integração a projetos estratégicos de proteção  e  desenvolvimento,  que  evitem  a  vulnerabilidade  das  áreas.  Ao  mesmo  tempo,  a  criação  de conselhos deliberativos e elaboração de planos de manejo de uso múltiplo  têm  sido  fundamentais para a gestão  das  áreas,  de maneira  a  atender  às  necessidades  das  populações  residentes  e  de  conservar  os ecossistemas amazônicos42. O Projeto Resex também  inspirou a criação de uma nova categoria de unidade de conservação ‐ a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) ‐ e motivou o Incra a criar os Projetos de Desenvolvimento Sustentável (PDS). 

 No  caso  do  ProManejo,  o  Componente Controle  e Monitoramento  desenvolve  e  testa métodos  e  instru‐mentos para controlar e monitorar a atividade madeireira, além apoiar a capacitação em práticas de controle da atividade. Dessa maneira, foi instituído o Sistema Integrado de Controle e Rastreamento da Produção de Madeiras em Toras (Sirmat), cuja finalidade é controlar, de forma eficiente, a origem da madeira em toras, visando garantir a execução do manejo sustentável dos  recursos madeireiros. Uma medida que permite a gestão da  informação em  tempo  real, de  forma  transparente dos dados de produção e de  transporte de madeira em  tora, além de  identificar de  forma eficaz os  indícios de  fraude quanto  ao  volume e espécies exploradas/autorizadas, acesso a áreas não autorizadas.  Como sistema complementar, o ProManejo favoreceu a instituição da Declaração de Origem Florestal (DOF), que tem como meta controlar a origem do produto florestal madeireiro nas áreas autorizadas pelos órgãos ambientais. No  campo dos processos de gestão, o ProManejo propiciou a padronização de metodologias, formação de um banco de dados, geração e disponibilização de conhecimentos sobre a produtividade das florestas da Amazônia (taxas de crescimento, simulações sobre ciclo de corte, entre outros). Aparentemente, as conseqüências diretas de tais medidas foram significativas mudanças ocorridas nas condições de financia‐mento e nos itens financiáveis da linha de crédito do Banco da Amazônia (Basa) para o manejo florestal.  Adicionalmente, o conhecimento do ProManejo contribuiu para a estruturação e consolidação do Programa Nacional de Florestas (PNF/MMA), e para a elaboração da Lei de Gestão de Florestas Públicas, nº 11.284 de 02/03/06. Adicionalmente, o  Ibama  incorporou  a metodologia de  gestão de  flonas e de manejo  florestal, desenvolvida a partir dos trabalhos do ProManejo. Em 2006, os ministérios do Desenvolvimento Agrário e do Meio  Ambiente  lançaram  um  edital  com  investimento  de  R$  16  milhões  para  a  formação  de  agentes 

42  MMA/Banco Mundial ‐ Lessons from the rain Forest: Experiences of the Pilot Program to conserve the Amazon and the Atlantic Forest of Brazil. Brasília, 2002. 

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multiplicadores, assistência técnica e extensão rural em atividades florestais direcionada aos agricultores da região amazônica.43  Outro exemplo relevante de conhecimento metodológico tem origem no Projeto Corredores Ecológicos, que desenvolveu novos modelos de uso e ocupação do solo nas áreas situadas entre as unidades de conservação, com  incentivo  ao  ecoturismo,  ao manejo  agroflorestal,  à  criação  de  reservas  particulares,  entre  outras atividades  econômica  e  ambientalmente  sustentáveis.  O  PPTAL  apoiou  o  desenvolvimento  de  estudos, manuais técnicos e realizou capacitações de servidores com o propósito de promover a melhoria técnica e operacional da Diretoria de Assuntos Fundiários (DAF), da Funai. Adicionalmente, a implementação do PPTAL trouxe mudanças  profundas  nas metodologias  de  planejamentos, monitoria  e  avaliação  da  Funai:  foram desenvolvidos  modelos  de  planos  operacionais  para  planejamento  dos  grupos  de  trabalho  em  campo, modelos de termos de referência, e critérios de priorização das terras indígenas para regularização fundiária.  O SPRN obteve vários impactos em políticas públicas nacionais e regionais. Os Oemas ganharam capacidade de  planejamento,  acompanhamento  e  avaliação,  como  a  realização  de  parte  do  ZEE  e  o  georrefe‐renciamento no âmbito dos PGAIs, o que resultou em legislação estadual em cada um deles. No Amapá, por exemplo, a implementação do PGAI possibilitou a criação da Lei Estadual de Ordenamento Espacial. Em Mato Grosso, surgiu o Sistema Licenciamento Ambiental em Propriedades Rurais (Slarp), posteriormente comple‐mentado pelo Sistema Compartilhado de  Informações de Licenciamento Ambiental em Propriedades Rurais na Amazônia Legal (Siscom), em parceria com o Ibama. 

 Em parte, alguns bons resultados do ProVárzea, por exemplo, são devidos ao  interesse em compreender a dimensão  legal‐econômica na sua área de atuação. Estudos como “A  Indústria Pesqueira na Amazônia" 44 e “A Questão Fundiária e o Manejo dos Recursos Naturais da Várzea" 45 são exemplos de como estudos técni‐cos sobre a dinâmica econômica e os aspectos  legais que regulam a propriedade (o fator de produção mais importante na região) ajudam no planejamento e intervenção em defesa da sustentabilidade. 

 A  atuação  do  SPRN,  no  Acre,  ensejou  a  criação  da  Assistência  Técnica  e  Extensão  Rural  em  Sistemas Agroflorestais, em parceria com a ONG Grupo de Pesquisa e Extensão em Sistemas Agroflorestais do Acre (Pesacre). O  projeto  ‐  primeira  iniciativa,  neste  sentido no  país  ‐  capacita  extensionistas  especializados  e dedicados ao manejo florestal. Também no Acre, o SPRN possibilitou a revitalização do Instituto Estadual de Pesquisa do Amapá  (Iepa) e  segundo  seu diretor,  “houve um  clima de  trabalho que permitiu ao  Instituto consolidar sua metodologia e missão no Estado, voltando suas pesquisas para servir à sociedade." 46 Ainda sob o patrocínio do SPRN, o Ministério Público encontrou condições de aperfeiçoar a sua atuação na área ambiental, e criou um fórum regional para trocar experiências.  No caso do PPTAL, é  relevante que a Funai  tenha  incorporado metodologias para demarcação de  terras a partir da experiência adquirida no Projeto, o que contribuiu para o reconhecimento e demarcação de novas terras indígenas.  Por sua vez, o ProVárzea ‐ por meio de seus estudos, influência política e acordos de pesca ‐ possibilitou  uma melhor  ocupação  racional  de  várzeas  e  lagos,  gerando  um  ordenamento  territorial  no sentido  de  criação  e melhor  definição  dos  contornos  das  instituições  que  regulam  o  uso  dos  recursos pesqueiros na várzea. Os acordos de pesca  foram  regulamentados pelo  Ibama, e assim  transformados em políticas públicas.   Como  impacto  restrito, mas  de  relevante  efeito  demonstrativo,  destaca‐se  a  consolidação  do  Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável, cujos integrantes foram capacitados pelo subprograma e criaram um plano municipal, incorporado pela Prefeitura no seu Planejamento Plurianual (PPA). O plano tem foco no custo‐benefício das opções de desenvolvimento e está sendo referência para a elaboração do Plano Diretor do Município47. Por sua vez a experiência da Unida, que ajudou a criar um melhor ambiente  institucional, 

43  Jornal do Comércio. Informação para Imprensa, 15/02/2006: www.amazonia.org.br/noticias/noticia. cfm?id=198940  44  Almeida, Oriana Trindade de (Org.). A Indústria Pesqueira na Amazônia. Brasília: Ibama, 2006. 45 Benatti, José Helder et. al. A Questão Fundiária e o Manejo dos Recursos Naturais da Várzea. Brasília: Ibama, 2005. 46 Diretor do Iepa. Entrevista. 47 Mauro Rufino. Entrevista por telefone, Belo Horizonte, 17 de julho de 2006. 

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também representa importante ganho nas políticas de controle e fiscalização de sete municípios.  Apesar de todos esses avanços, os ganhos têm sido muito mais lentos do que o necessário ‐ inúmeras outras políticas poderiam ter sido criadas ou influenciadas. Ademais, deixou‐se de utilizar um amplo conhecimento acumulado a partir de outras  intervenções para o desenvolvimento, que ocorreram no Brasil e em várias outras partes do mundo ‐ caso das experiências do Prodeagro e Planafloro.  O fato de que o PPG7 começou sem um marco zero tem sido repetido à exaustão como um problema sério que poderia  ter  sido evitado. No entanto, mais  sério ainda é o  fato de que  tal  crítica havia  sido  feita em relação  a  diversos  subprogramas,  como  ocorreu  no  caso  do  relatório  de  lições  aprendidas  do  SPRN:  “A implementação do SPRN  sinaliza a necessidade de  se aprofundar nos estados e no MMA o conhecimento sobre metodologias."  48  Passaram‐se  os  anos  e  o  PPG7  não  adotou  procedimentos  para  inserir métodos rigorosos  de monitoramento  e  avaliação  para  o  Programa,  na  sua  totalidade  e  para  cada  um  dos  sub‐programas, o que é mais sério no caso das  iniciativas que  lidam com comercialização da produção agroflo‐restal. A  falta de  rigor metodológico, que  forneça  resultados palpáveis  ‐ positivos ou não  ‐ é  fundamental para que a área ambiental possa dialogar com outras áreas, tais como a indústria e a agricultura. 

  Fundamentação social/conhecimento tradicional

 Políticas  também  podem  se  beneficiar  de  conhecimentos  derivados  da  prática  cotidiana  de  grupos  que possuem  contato direto  com  a natureza e  aprenderam  a  se  relacionar  com ela  sem destruí‐la. Dentre os subprogramas  do  PPG7,  o  PPTAL  e  o  Resex  são  os mais  diretamente  ligados  ao  tema,  ainda  que  outros subprogramas,  como  o  ProManejo  e  o  ProVárzea,  também  tenham  dialogado  com  o  conhecimento tradicional, ora dele se beneficiando, ora com ele interagindo a partir do conhecimento acadêmico. 

 No caso do PPTAL, houve a institucionalização da participação indígena na sua gestão, por meio da Comissão Partidária Deliberativa, o que possibilitou inserir no processo de avaliação do projeto as necessidades desses grupos. Um evento marcante ocorreu em dezembro de 2005, quando lideranças  indígenas de 55 etnias dos estados do Pará, Maranhão e Amapá participaram da Conferência Regional dos Povos Indígenas, organizada pela Funai e com participação do PPTAL, onde foram discutidas formas de intervenção em poli‐ticas públicas nas áreas de saúde e educação, além do próprio Estatuto do Índio, para que pudessem receber tratamento diferenciado em função da diversidade cultural de suas comunidades.49 

 O Componente Gestão da Flona do Tapajós, do ProManejo propiciou a construção de canais de diálogo com comunidades  locais, a  fim de  se  conduzir a gestão de  forma participativa. As práticas de manejo  florestal comunitário  desenvolvidas  pelo  PPG7  auxiliam  nas  ações  de  ecoturismo,  educação  ambiental,  controle, vigilância e fiscalização. O mesmo subprograma propiciou que, em 2005, 92 moradores de 14 comunidades dos rios Curuçá e Manaquiri (AM) recebessem aulas teóricas e práticas sobre o manejo florestal, reforçando o impacto de tais iniciativas na estrutura política.50  Adicionalmente, várias atividades do ProVárzea têm procurado dialogar com o conhecimento tradicional, de forma a fazer uso do mesmo para construir alternativas de gestão local dos recursos naturais. Por vezes, as iniciativas vão além do uso de recursos naturais, ampliando o campo de atuação do projeto para a área de promoção  do  desenvolvimento  social.  Em  Parintins  (AM),  por  exemplo,  o  ProVárzea  apóia  um  sistema comunitário integrado de produção que inclui criação de capivara, manejo de abelhas sem ferrão, promoção de  acordos  de  pesca, melhor  aproveitamento  de  produtos  agrícolas  e  recursos  pesqueiro,  entre  outras atividades51.  As comunidades locais, especialmente no Corredor Central da Amazônia, estão sendo envolvidas no processo 

48 MMA ‐ Relatório de Lições Aprendidas. Subprograma de Políticas de Recursos Naturais (SPRN). Brasília, 2002. 49 O Liberal ‐ Informação p/imprensa, 12/12/2005: www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=190549 . 50  Radiobrás ‐ Informação para Imprensa, 17/10/2005: www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=183116 . 51 ProVárzea ‐ Sistema Comunitário Integrado de Produção de Parintins (AM). Manaus: AmazonSat, 2006. Vídeo. 

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de  planejamento  que  também  contribui  para  a  divulgação  do  conceito  de  Corredores  Ecológicos52.    Os estudos estão  levando ao “Planejamento Biorregional”, no qual se aplicam  instrumentos de conservação e ordenamento  territorial  participativo  envolvendo  atores  locais. Há,  portanto,  alguns  indicativos  de  que  o conhecimento tradicional tem estado presente do PPG7, ajudando a moldar o Programa e, paulatinamente, ganhando  relevância  diante  de  políticas  públicas. No  entanto,  falta  uma  avaliação  criteriosa  sobre  essas experiências e influências.  3.5. Lócus da política  Esta  seção  cita  brevemente  resultados  concretos  da  relação  de  subprogramas  do  PPG7  com  políticas públicas,  nas  dimensões  vertical  (decisão  da  autoridade  pública),  horizontal  (construção  conjunta)  e processual  (na criação de  rotinas). Não  se  faz uma  separação clara dessas  três dimensões porque, muitas vezes, elas acontecem de forma interligada e/ou concomitante.  O ato de fazer política pública obteve grandes ganhos ao longo do PPG7. Na dimensão vertical, ressalta‐se o aumento da capacidade de discussão existente no MMA que, embora não totalmente devida ao PPG7, sem dúvida foi parcialmente por ele influenciada.  A dimensão horizontal, relativa ao envolvimento público, foi a de maior ganho ao  longo dos anos, uma vez que o PPG7  contribuiu,  substancialmente, para uma nova postura de  construção de políticas públicas, ao considerar os processos de consulta como integrantes das atividades de implementação dos subprogramas, ainda que com certa diferença nos níveis de envolvimento entre eles.  A  dimensão  processual  está  intimamente  ligada  ao  estabelecimento  de  rotinas  que  derivam  do  conhe‐cimento  sobre  técnicas e métodos,  citado anteriormente. Ademais, a  cooperação  internacional  contribuiu decisivamente para a implementação de metodologias de planejamento e organização aplicadas ao desenho, gestão e avaliação de projetos. 

 3.6. Aprendizado em relação ao diálogo, negociação e tomada de decisões  Todos os subprogramas do PPG7 lidaram, em maior ou menor grau, com situações de promoção do diálogo e de  negociação.  A  tomada  de  decisão,  estrito  senso,  ocorre  a  partir  da  concepção  do  subprograma  e  da escolha  dos  projetos  beneficiários  e  se  estende,  posteriormente,  interligando‐se  com  as  outras  duas dimensões citadas. Do  início da  segunda metade do PPG7 em diante, os  temas de  formação de consenso (diálogo) e gestão de conflitos (negociação) receberam maior atenção dos gestores. Especialmente relevante foi  a  experiência  de  construção  de Agendas  Positivas53.  Exemplos  de  negociação  também  ocorreram  nos grupos de trabalho do SPRN, que  foram analisados no documento "Lições Aprendidas" do subprograma. A análise permanece válida e pode ser recuperada, ampliando sua profundidade. 

 No  entanto,  o  subprograma  que  provavelmente  mais  se  aprofundou  em  termos  de  negociação  foi  o ProVárzea, por meio dos chamados acordos de pesca (APs). Para a compreensão dos APs, é necessária uma breve descrição dos mesmos mostrando que os acordos não ocorreram de forma isolada no subprograma54.  Diante de uma situação de conflito sobre opções de uso dos  recursos naturais  ‐ quer sejam eles públicos, 

52 Corredores Ecológicos são definidos, nesse projeto, como áreas que contém ecossistemas florestais biologicamente prioritários e viáveis para a conservação da biodiversidade na Amazônia e Mata Atlântica, composto por conjuntos de unidades de conservação, terras indígenas e áreas de interstício.   52  Projeto AMA ‐ Construindo a Sustentabilidade: Lições Aprendidas no PPG7. Brasília, 2002. Textos para Discussão nº 1. 52 Essa descrição é modificada do texto original de Mauro Rufino para o Projeto AMA, não publicado. 52 Refere‐se à distinção entre bens públicos, privados e comuns/tipo “clube”. Ostrom, Elinor Governing the Commons: The Evolution of Institutions for Collective Action. Cambridge: Cambridge Univesity Press, 1990.    53  Projeto AMA ‐ Construindo a Sustentabilidade: Lições Aprendidas no PPG7. Brasília, 2002. Textos para Discussão n°. 1. 54 Essa descrição é modificada de texto original de Mauro Rufino para o Projeto AMA, não publicado. 

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privados  ou  comuns55  ‐,  o  subprograma  ProVárzea  favoreceu  a  criação  de  conselhos  regionais  de  pesca (associações civis de base comunitária) para promover a preservação e conservação dos recursos naturais, principalmente  a  pesca,  por meio  da  produção  de  conhecimento  da  realidade,  planejamento,  execução, controle, avaliação e  redimensionamento das ações a partir das demandas  locais. Obviamente, as popula‐ções  ribeirinhas  precisam  elas mesmas,  e  suas  entidades, passar  por um  processo  de  capacitação/empo‐deramento. Adicionalmente, precisam ser capacitadas para  lidar com os conflitos no âmbito comunitário e intercomunitário, preferencialmente de maneira construtiva. 

 Os  conselhos  têm  fortalecido as  comunidades, dando‐lhes melhores  condições de participar das ações de manejo  tradicional da pesca,  localmente  conhecidos  como Acordos de Pesca. Um  conjunto de demandas formuladas por comunitários ribeirinhos definem suas prioridades em relação ao acesso e ao uso do recurso pesqueiro de determinada área geográfica. As regras são fortemente baseadas em conhecimento ecológico local e o monitoramento está relacionado com as éticas sociais locais56. Para o Ibama57, os Acordos de Pesca representam  um  conjunto  de  normas  específicas  decorrentes  de  tratados  consensuais  entre  os  diversos usuários dos recursos pesqueiros, em uma determinada área definida geograficamente.  Para manter  a  credibilidade  do  processo  de  gestão  participativa  em  desenvolvimento,  foi  fundamental  a regulamentação dos APs pelo Ibama58. O acordo de pesca é fruto de um processo de discussão envolvendo membros  das  comunidades  que  utilizam  um  determinado  sistema  de  lagos.  Na maioria  dos  casos,  não existem  critérios  para  definir  a  representação  no  processo  de  elaboração  dos  acordos,  o  que  tem  sido freqüente  fonte de  conflito na  implementação dos acordos, porque pescadores de  fora e outros que não participaram do processo não se consideram  responsáveis pelo seu cumprimento e, muitas vezes, de  fato não os cumprem, gerando conflitos com aqueles que o respeitam. 

 3.7. Políticas públicas formuladas  A seguir, está a síntese das políticas públicas que foram formuladas contando com a contribuição do PPG7. 

  a. Política florestal

  Definição  do  Programa Nacional  de  Florestas  (PNF):  as  experiências  conquistadas  na  implantação  do ProManejo  serviram  de  base  para  estruturar  este  Programa,  que  se  configura  em  um  instrumento norteador da política florestal. Durante mais de um ano foi estabelecido o diálogo e mútua cooperação entre a Diretoria de Biodiversidade e Florestas do MMA e o ProManejo, na formulação do PPG7.  

Impedimento, graças à atuação do GTA e RMA, da tentativa de revisão do Código Florestal para aumen‐tar os desmatamentos mediante a redução da reserva legal. Setores ligados ao agronegócio iniciaram, no Congresso Nacional, uma campanha para modificar a Lei, mas a sociedade conseguiu reagir e reverter o processo.  

Elaboração  da  Lei  de  Gestão  de  Florestas  Públicas,  nº  11.284  de  02/03/06.  O  Componente  I  do ProManejo apoiou todo o processo de formatação e discussão da proposta do projeto de lei, mediante a realização de estudos estratégicos, reuniões, visitas técnicas, consultas e trabalhos preparatórios.  

Criação  do  Programa  de  Crédito  para  o  Agroextrativismo  (Prodex)  para  implantar  alternativas econômicas ao desmatamento ‐ uma conquista a partir das experiências do Resex  I, do PDA com apoio do GTA. O Prodex foi criado por voto do Conselho Monetário Nacional e passou a ser operacionalizado pelo Basa. Financiou em torno de 10 mil agroextrativistas. 

55 Refere‐se à distinção entre bens públicos, privados e comuns/tipo “clube”. Para as  respectivas definições procure: Ostrom, Elinor. Governing the Commons: The Evolution of Institutions for Collective Action. Cambridge: Cambridge Uni‐versity Press, 1990. 56 Castro, F. & McGrath, D. ‐ O Manejo Comunitário de Lagos na Amazônia. p. 112‐126. Parcerias Estratégicas, 12. 57 Ibama ‐ Administração Participativa: Um desafio à gestão ambiental. 8 p. Brasília, 1997. mimeo. 58 Instrução Normativa do Ibama, nº 9. 

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Criação  de  linha  de  crédito,  no  Basa,  para  exploração  florestal:  Pronaf  Florestal  e Manejo  Florestal Comunitário.  Estas  duas  linhas  de  crédito  foram  totalmente  negociadas  a  partir  do  ProManejo,  com apoio do GTA e Proambiente, em inúmeras reuniões de trabalho, seminários e consultas populares.  

Prevenção  e  Controle  de  Incêndios  Florestais  ‐  Proteger:  conseguiu  estabelecer  metodologias  e estratégias válidas para a prevenção de  incêndios  florestais e uso controlado do  fogo, que podem  ser consolidadas em políticas públicas.  

Criação do Centro Nacional de Capacitação Florestal  (Cenaflor): o centro é uma realidade e poderá ser um ponto de referência para o manejo florestal. 

  b. Política de ocupação espacial

  Zoneamento  Econômico‐Ecológico/Georreferenciamento:  política  iniciada  pelo  SPRN  nos  estados  está formalmente consolidada, com legislação própria em cada um deles.  

Criação de  novas  unidades  de  conservação de  uso  direto,  por  influência  do Resex. Hoje,  existem  em torno de 40 reservas extrativistas. A experiência inspirou a criação de uma nova categoria de unidade de conservação  ‐ Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) ‐ e motivou o  Incra a criar os Projetos de Desenvolvimento Sustentável (PDS).  

Reconhecimento  e  demarcação  de  novas  terras  indígenas  por  influência  do  PPTAL:  uma  experiência piloto  transformou‐se em  linha programática da Funai, que passou a alocar  recursos próprios e esten‐deu a ação à maioria das terras indígenas. 

  Ocupação  racional  de  várzeas  e  lagos  por  influência  do  ProVárzea:  nas  áreas  de  atuação  do  projeto houve o ordenamento  territorial e de  recursos pesqueiros, mostrando o  caminho para uma  legislação que formalize a experiência como política pública. A regulamentação é feita por portarias do Ibama.  

Criação do Projeto de Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa): projeto totalmente concebido no âmbito do PPG7, a partir de suas experiências. 

  Lei Estadual de Ordenamento Espacial do Estado do Amapá: está orientando a ocupação territorial e foi gestada no âmbito do PGAI e Iepa, apoiadas pelo SPRN. 

  c. Política de proteção da Mata Atlântica  

Criação do  Subprograma Mata Atlântica e do PDA Mata Atlântica:  são dois  instrumentos  importantes como políticas regionais que nasceram e cresceram no seio do PPG7. 

  Lei da Mata Atlântica, nº. 3.286: até o momento da aprovação pela Câmara Federal, todos os trabalhos foram acompanhados pela Rede Mata Atlântica (RMA), com financiamento do PPG7. 

  Reconhecimento  da  RMA  como  interlocutora  qualificada  nos  fóruns  de  discussão  de  políticas  para  a Mata  Atlântica,  em  audiências,  reuniões  e  seminários,  com  capacidade  para monitorar  e  influenciar processos legislativos e de políticas públicas, e mobilizar a sociedade. 

d. Política de gestão e educação ambiental

  Planejamento integrado das questões ambientais, com maior ou menor sucesso nos diferentes estados, que assimilaram esta linha de trabalho como algo necessário. 

  Sistema  de  Licenciamento Ambiental  em  Propriedades Rurais  (Slarp): o  SPRN  apoiou  este  sistema  de licenciamento que, iniciado em Mato Grosso, aos poucos caminha para se transformar em uma política pública  para  a  Amazônia.  A  criação  do  Sistema  Compartilhado  de  Informações  de  Licenciamento 

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Ambiental em Propriedades Rurais na Amazônia Legal (Siscom), em parceria com o Ibama, consolidou o Slarp. 

  Fortalecimento do Ministério Público  (MP): com o apoio do SPRN, o MP passou a  trabalhar a questão ambiental como algo prioritário, formando um fórum regional para troca de experiências. 

  Institucionalização  dos  Agentes  Indígenas  Ambientais,  no  Acre:  “O  PPG7  por meio  dos  projetos  PDA contribuiu muito para a capacitação dos Agentes Ambientais Indígenas que hoje constituem uma política pública ao serem contratados pelo Estado,  reconhecendo‐os como gestores ambientais. Hoje, são 150 em 20 territórios  indígenas e formam a Associação do Movimento de Agentes Ambientais  Indígenas do Acre.” 59 

  Criação  de  secretarias  e  conselhos municipais  de meio  ambiente,  planos  diretores  e  leis  ambientais municipais.  

Influências do PPG7 na  formulação de políticas públicas para  gestão  ambiental, no  âmbito municipal, estadual e federal.  

e. Política de serviços públicos  

Reativação,  por  parte  do  Incra, da política  de  agroextrativismo mediante  a  revitalização  dos  assenta‐mentos agroextrativistas e criação dos Assentamentos de Desenvolvimento Sustentável, por  influência do Resex I. 

  Criação da Ater Florestal no Acre, um novo paradigma de extensão  rural. Por  influência do SPRN e de outros  projetos,  o  Estado  sentiu  a  necessidade  de  ter  extensionistas  especializados  e  dedicados  ao manejo florestal. É o primeiro caso no país. 

  Revitalização do  Instituto Estadual de Pesquisa do Amapá (Iepa): o diretor do  instituto afirma: “O PPG7 contribuiu não só com recursos materiais, mas favoreceu um clima de trabalho que permitiu ao Instituto consolidar sua metodologia e missão no Estado, voltando suas pesquisas para servir à sociedade”.60 

  f. Políticas regionais  

Programa Amazônia  Fique  Legal: para prevenção e  fiscalização dos desmatamentos e das queimadas, reunindo o  Ibama, outras entidades do governo  federal, Forças Armadas, governos estaduais, munici‐pais e a sociedade civil. 

  Plano Amazônia Sustentável (PAS): em elaboração, mas com algumas diretrizes sendo  incorporadas em outros planos. 

  Plano de Desenvolvimento Regional para a Área de Influência da rodovia BR‐163. 

  Programa Amazônia: em formatação. 

 A ministra Marina Silva afirmou que “a experiência acumulada do PPG7 tem servido de base para as políticas públicas  do  governo  federal  para  a  Amazônia.  O  marco  maior  dessas  políticas  é  o  Plano  Amazônia Sustentável (PAS), que constitui o marco para a continuação do PPG7 e que irá coordenar as ações federais e estaduais para o desenvolvimento  integrado da  região. É para o PAS que devem  ser direcionados  tanto o precioso  acúmulo  de  conhecimentos  sobre  como  lidar  com  a  Amazônia,  quanto  o  apoio  da  cooperação 

59  Renato Antônio Gabazzi, coordenador da Comissão Pró‐Índio (CPI) executora de projetos do PPG7. Entrevista. 60  Diretor do Iepa. Entrevista.  

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internacional.  O  compromisso  do  governo  é  que  o  PAS  estará  em  funcionamento  no  prazo mais  curto possível, ainda este ano no que depender do MMA e da Integração Nacional”.61 (...)  "O  desafio  enfrentado  pelo  PPG7  ao  contribuir  para  a  construção  de  políticas  públicas  sustentáveis  na Amazônia, a partir de suas experiências piloto ainda se mantém como questão central a ser superada pelos diferentes participantes do PPG7. A proposta do Plano Amazônia Sustentável (PAS) pensada como a instância para dar escala às experiências do PPG7, embora constitua um modelo desejável de articulação de todas as políticas públicas para a região, demonstrou ainda ser inviável na atual conjuntura político‐institucional. (...) Apesar  dos  esforços  para  implementar  uma  agenda  ambiental  transversal  no  governo,  alguns  órgãos governamentais aos quais caberia promover o desenvolvimento da região amazônica, em bases sustentáveis, o fazem de forma subsidiária. A maior parte dos investimentos ainda é, prioritariamente, voltada ao fomento de atividades baseadas no modelo tradicional de ocupação da região, muitas delas predatórias, sem que a variável da sustentabilidade socioambiental esteja considerada. Parte das  instituições públicas não  leva em conta princípios básicos da noção de  sustentabilidade. Assim, projetos que utilizam  recursos naturais  sem promover  desmatamento  são  considerados  sustentáveis,  mesmo  quando  não  consideram,  de  forma adequada, as variáveis sociais e ambientais”.62  3.8. Fragilidade da estratégia para a formulação de políticas públicas  Não obstante o aumento da esfera de  influência do governo brasileiro na governança do PPG7, a  liderança de  iniciativas  de  desenvolvimento  regional,  infra‐estrutura,  segurança  e  desenvolvimento  sustentável,  na Amazônia,  ficou,  essencialmente,  nas  mãos  dos  ministérios  da  esfera  econômica,  planejamento  e  de desenvolvimento regional, com apenas participação do MMA.  As  inúmeras  boas  experiências  levadas  a  bom  termo  pelo  PPG7  constituem  a  matéria‐prima  para desencadear  um  processo  de  formulação  de  políticas  públicas.  O  PPG7,  desde  o  início,  deveria  ter potencializado sua capacidade de influenciar políticas públicas a partir da sistematização e disseminação dos conhecimentos  gerados,  incentivando  a  replicação  das  principais  experiências.  Todos  os  relatórios  dos projetos  apontam  os  resultados  alcançados  e  as  lições  aprendidas,  mas  a  decisão  para  replicar  tais experiências começou a ser  tomada apenas, a partir de 2004, mediante a negociação de parcerias com os governos federal, estaduais e municipais para transformar as experiências em programas de governo.  A avaliação dos projetos do PDA, na Amazônia e na Mata Atlântica, mostrou que 50% conseguiram alguma influência sobre políticas públicas 63. Entretanto, essa  influência não chegou às políticas estratégicas,  isto é, àquelas  que  provocam mudanças  substanciais  como  seria  uma  política  fiscal,  tributária,  de  crédito  espe‐cífico, de ocupação territorial, de  fortes  investimentos na área ambiental, de manejo de recursos florestais ou hídricos. Basta examinar a condução dos programas “Brasil em Ação” e “Avança Brasil”, de 1996 a 2003, que,  na  sua  formatação,  sequer  consultaram  o MMA,  situação  reconhecida  pelo ministro  Sarney:  “...  as forças econômicas e  sociais  são  interlocutoras privilegiadas na definição das políticas para a Amazônia...”. Mais adiante, depois de enumerar todos os programas e esforços que o MMA aplica à questão ambiental, o ministro  reconhece que  “...  temos  consciência de que essas  iniciativas não  atingem o  sistema econômico regional...”; (...) as políticas públicas de corte macroeconômico, aquelas que permitem instaurar as condições imprescindíveis para o desenvolvimento sustentável  (...) são definidas e executadas sem a participação do MMA e, em alguns casos, sem considerar critérios ambientais e sociais.64  Situação  semelhante é encontrada em 2006, por ocasião das discussões  sobre a  formatação do Programa Amazônia:  “Historicamente,  os  investimentos  em  infra‐estrutura  na  Amazônia,  (...)  têm  se  baseado  em análises  socioambientais  estanques  (...)  Somente  nos  últimos  anos,  a  idéia  de  impactos  ambientais  vem sendo  discutida, mas  ainda  com  poucos  resultados  práticos,  em  conseqüência  disto,  a  decisão  sobre  a 

61  MMA/PPG7 ‐ Arquivos: XXIII Reunião do IAG. Agosto, 2005. 62  Idem. Item 8. 63  MMA/PPG7 ‐ Relatório de Progresso 2001‐ 2004. p. 37. 64  MMA/SCA ‐ Instrumentos Econômicos para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia. p. 9 ‐ 11. 

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construção de  infra‐estrutura na região tem se dado por meio de batalhas  judiciais e não pelo seu sentido estratégico dentro de uma visão de desenvolvimento sustentável”.65  Muriel Saragoussi afirma:  “A análise da  influência do PPG7 nas políticas públicas permite  constatar que o Programa foi um quisto dentro do governo. A partir de 1997, houve tentativas para que o Programa fosse do governo, mas só com a gestão da ministra Marina é que o PPG7 começa ser visto como política pública. Um passo significativo neste sentido foi o reforço que recebeu a Coordenação do PPG7, repassando os projetos para  as  áreas‐fins dentro do Ministério. Começa  a  existir uma possibilidade do  PPG7  influenciar políticas nacionais”.66 

3.9. O caráter demonstrativo em atividades produtivas e de manejo dos recursos naturais

Neste item abordam‐se atividades demonstrativas de conservação e de caráter produtivo, dentro do espírito e  dos  objetivos  do  PPG7.  Foram  incluídos  como  referenciais  os  seguintes  subprogramas/projetos:  PDA, PPTAL, PDPI, ProVárzea, ProManejo, SPC&T, Resex I e II, Corredores Ecológicos (de forma indireta), Proteger I e II e PNS. A avaliação centra seu foco no estabelecimento de ligações entre o que foi e está sendo executado no campo, e como os diferentes aspectos, estratégias e atividades temáticas foram formuladas e executadas de acordo com o perfil do PPG7.  3.9.1. Interfaces da gestão ambiental com o caráter demonstrativo do PPG7 Antes de explorar os impactos do caráter demonstrativo do PPG7, no que se refere às atividades produtivas e de  manejo  de  recursos  naturais,  é  necessário  analisar  algumas  interfaces  como  gestão  ambiental  e ordenamento territorial que geram vetores positivos e também negativos no sentido da sustentabilidade das ações promovidas pelo Programa.  3.9.2. Conservação restrita ou manejo? A necessidade de esforços de integração de políticas públicas aparece no relatório do IAG, com foco no Plano BR‐163  Sustentável.  Entre  outros  aspectos,  ele  cita  que  “gera  preocupação  especial  a  perspectiva  de asfaltamento da BR‐319, contraditória ao PAS e de difícil justificação por critérios técnicos ou econômicos. O mero anúncio pode desencadear processos semelhantes aos da BR‐163" 67. Os “processos semelhantes” aos quais o  relatório se  refere, no caso da BR‐163, é que o mero anúncio de asfaltamento  foi um dos vetores para invasões de unidades de conservação (UCs), terras indígenas (TIs), criando até mesmo uma situação de confronto aberto com o estado de direito, e conseqüências bastante óbvias para programas que defendem sistemas sustentáveis de uso da terra.  Com base nessa constatação, o IAG definiu uma série de indicadores de evolução do quadro (leia‐se ações e providências  do  Estado)  que  deveriam  ser  checados  e  contrastados  com  a  situação  na  região.  Assim,  é fundamental a definição em  consenso e  com  transparência de  critérios para ações,  sejam elas de  conser‐vação ou de implantação de infra‐estrutura. De outra forma, é difícil que ocorra a costura política necessária para neutralizar os vetores de desmatamento e a promoção de soluções apropriadas regionalmente.  3.10. Cartografia e estratégia territorial Para alguns atores do PPG7, não existe uma base  territorial cartográfica da atuação dos  seus projetos, no sentido de orientar estratégias  integradas. Essa é uma percepção parcialmente  correta,  já que ProVárzea, ProManejo,  PPTAL,  Resex  têm  processos  de  mapeamento  e  o  PDA  está  avançando.  Um  esforço  de mapeamento e  identificação/contraste dos critérios usados para a  territorialização dos projetos seria uma condição para a sua integração; sua ausência contribui para que ações de subprogramas e projetos (SP/P) se 

65  MMA/SCA ‐ Programa Amazônia ‐ Proposta para Discussão. Fevereiro, 2006. 66  Muriel Saragoussi, Secretária de Coordenação da Amazônia do MMA. Entrevista. 67 Grupo de Assessoria Internacional (IAG) ‐ O Plano BR‐163 Sustentável no quadro das políticas governamentais para a Amazônia. Brasília, 26 de julho a 6 de agosto de 2004. Relatório da XXI reunião. 

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sobreponham.  Este  seria  o  caso,  por  exemplo,  dos  Corredores  Ecológicos  e  os  territórios  de  atuação  do ProManejo, PDPI, e ProVárzea. 

Assim,  embora  existam  iniciativas  e  exemplos  bem  sucedidos  de  cartografia  dos  projetos,  o  que  é questionado é se a base cartográfica está sendo gerada para compor e apoiar a articulação estratégica dos componentes, ou  se  tem  surgido de maneira  compartimentada, apenas  como um  registro  cartográfico. A Avaliação concluiu que a articulação da atuação de SP/P em uma visão estratégica de desenvolvimento local e desenvolvimento territorial é ainda incipiente. 

Outro  aspecto  refere‐se  à utilidade dos mapas, que  só  é  consistente quando  eles  são o produto  final de processos  participativos  de  reconhecimento  de  estratégias,  ações,  impactos,  lacunas  e  desafios  a  serem enfrentados pelos diferentes atores envolvidos. Um exemplo é a necessidade de aumentar a participação indígena no planejamento do Projeto Corredores Ecológicos, face à  importância das TIs, pois os indígenas e ribeirinhos, embora sintam que estão fazendo sua parte, não conseguem visualizar o que está sendo feito na escala maior. 

Uma maior integração permite enxergar esse grande mosaico como um só. O desafio é, portanto, integrar os diferentes níveis das ações, desde o plano local até a visão proporcionada por um Sistema Georeferenciado de  Informações  (SIG).  É  preciso  integrar  a  tradição  cultural  e  institucional  (que  é  o  foco  local)  para  uma compreensão  de  foco  alto, mais  estratégico.  Para  isso,  é  necessária maior  comunicação  entre  os  SP/P, definindo em conjunto o que deve ser feito no tema ambiental. 

Os  levantamentos etnoecológicos ainda são realizados dentro de escala,  logística e prática muito  inferior à sua  importância  real.  Processos  de  mapeamento  participativo  ecológico,  cultural  e  econômico  podem contribuir não apenas para enriquecer as informações com finalidade de gestão territorial e ambiental, mas também contribuir para a apropriação de elementos de gestão ambiental e ordenamento  territorial pelas populações  indígenas,  tradicionais  e mesmo  de  assentados  e  agricultores  familiares.  Algumas  entidades acumularam experiências, como a CPI‐AC e o Imac, a Organização dos Professores Indígenas do Acre (Opiac), que realiza oficinas  itinerantes para discutir e elaborar propostas sobre questões estratégicas de cada TI. O PPTAL produziu o "Guia para Levantamentos Etnoecológicos". O etnomapeamento e demais ferramentas de diagnóstico participativo deveriam estar  integradas e gerar cartografia viva e capilarizada, que vai além do registro geográfico e quantitativo de ações realizadas.  3.10.1. Impactos em escala territorial e sustentabilidade dos resultados  A execução do PPG7 comprovou que as terras indígenas (TIs) e as unidades de conservação (UCs) são áreas demonstrativas  em  atividades  produtivas  e  de manejo  de  recursos  naturais.  É  reconhecido  que  em  um quadro de  taxas de desflorestamento altas e que  têm subido  recentemente,  imagens de satélite mostram que  a  degradação  ambiental  encontra  uma  barreira  eficaz  onde  TIs  foram  legalmente  reconhecidas  e protegidas. Análises realizadas a partir de imagens de satélite, comparando a eficiência relativa de TIs e UCs, tanto  de  proteção  integral  como  de  uso  sustentável,  na  prevenção  de  desmatamento  e  de  incêndios florestais, demonstram efeitos inibitórios comparáveis, a despeito da tendência das UCs de proteção integral sofrerem riscos menores por ficarem localizadas longe da fronteira agrícola.  Existe, portanto, necessidade de maiores  inversões em programas e projetos voltados para as populações indígenas.  Uma  matriz  de  seleção  de  prioridades  poderia  recomendar  que  UCs  e  TIs  mais  próximas  à fronteira  agrícola  recebessem maior  apoio.  Durante  a  última  década,  “os  programas  internacionais  têm apoiado o meio ambiente e a conservação da biodiversidade não indígena entre 12 e 21 vezes mais do que a conservação das  terras  indígenas e a sustentabilidade dos povos  indígenas, sendo que as TIs  representam áreas de ecossistemas naturais muito maiores do que todas as unidades de conservação juntas, e representa um tema crucial para a conservação da Amazônia, no Brasil". 68  

68 LAURIOLA, V. M.  ‐ De quem é o Monte Roraima? Terras  Indígenas e Unidades de Conservação entre os dilemas da conservação na Amazônia Brasileira. Etnobiologia. Inpa. Texto preliminar, não publicado. 

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Já o relatório de João Pacheco, de 2001, sobre o PPTAL,69 também ressalta a necessidade de fortalecimento das alternativas que  contribuem para o  fortalecimento da  “governança”  indígena,  como os mapeamentos participativos.  Ele  cita  a  necessidade  de  apoiar  as  redes  que movem  capacidades  e  recursos  nacionais  e internacionais  em  diferentes  áreas  de  demanda  (saúde,  educação  e  infra‐estrutura).  Todo  esse  processo deveria  estar  alavancando  as  organizações  indígenas  com  a  definição  do  espaço  jurídico  do  índio,  e  da estrutura da agência indigenista.  A enorme contribuição do PPTAL, PDPI, Resex e de trabalhos com grande capilaridade e empoderamento, na linha  da  CPI‐Acre,  podem  constituir‐se  em  massa  crítica  para  políticas  de  formação  e  aprendizado progressivo,  conectadas  à  gestão  ambiental.  No  seu  conjunto,  são  contribuições  que  têm  resultados concretos  com  sua  adoção  como  estratégia  em políticas públicas de  gestão  e ordenamento  territorial na Amazônia, particularmente no Acre  3.10.2. Lições para manter a escala e qualidade dos resultados  A  criação  das  reservas  extrativistas  ‐  assim  como  o  componente  encarregado  do  reconhecimento  e demarcação de terras  indígenas no PPTAL ‐ é um  imenso passo na  inclusão dessas populações como atores que demandam uma perspectiva diferenciada em um processo de desenvolvimento sustentável. Entretanto, algumas  tendências devem  ser notadas e avaliadas  tanto do ponto de vista de  resultados positivos atuais quanto de seu sinergismo com vetores de entorno,  resultando em ameaças à sua sustentabilidade  futura. Um caso‐exemplo é explicitado pelo artigo de Manuel Ruiz‐Pérez e colabora‐dores70, que enfoca a Resex do Alto  Juruá. Ele analisa a diversificação e o crescimento principalmente da atividade pecuária, em  segundo plano da agricultura, e as aspirações e primeiros projetos em atividade madeireira. Essas mudanças apontam para  as  limitações  da  percepção  das  Resex  como  sustentadas  por  um  extrativismo  baseado,  apenas,  em produtos florestais não‐madeireiros, regulamentados por planos de manejo. 

Entre as tendências apontadas nesse estudo estão a substituição da borracha pelo feijão como a moeda de troca e o aumento da criação de suínos e de gado. A taxa de desmatamento inicial foi reduzida, se conside‐rado o período que se seguiu à criação da resex, e é bastante inferior aos assentamentos da reforma agrária. São levantadas as questões da sustentabilidade futura caso se reduzam ou inviabilizem aportes técnicos e de recursos, devido ao papel fundamental do PPG7. O couro vegetal passou a ser uma fonte de renda, mas os salários recebidos por agentes estaduais de saúde e professores, aliados às aposentadorias, criaram outras fontes  de  renda  não  ligadas  ao  extrativismo  ou  agricultura  e  pecuária,  em  um  quadro  demográfico  de população  estável  e  em  ligeiro  declínio.    De modo  geral,  o  estudo  vê  um  quadro  positivo  e  reforça  a importância  da  regulamentação  de  atividades  agrícolas  e  de  pecuária.  Considerando  as  alterações  de cobertura florestal, a conclusão geral é de que as resex são uma alternativa  importante como estratégia de conservação e desenvolvimento. 

Em contraponto a esse cenário otimista, em agosto‐setembro de 2005, um manto de fogo e fumaça cobria pastagens em fazendas e a Resex Chico Mendes teve dezenas de milhares de hectares afetados, com queima total ou comprometimento de copas71. Ao mesmo tempo, a vizinha Terra Indígena Mamoadate, de mais de 300 mil ha, que é habitada por uma população de cerca de mil pessoas ‐ dos povos Manchineri e Jaminawa ‐ tinha  focos de fogo e calor circunscrito a seus roçados e pequenos pastos, sem descontrole. Uma primeira análise mostra que a existência de áreas ainda  intactas ou  com  impactos pouco  significativos no entorno colaborou nesse  sentido, mas é visível a  fragilidade da conservação de áreas como as  resex em episódios climáticos extremos, principalmente onde o entorno e a própria área apresentam espaços significativos de ambientes alterados72, como é o caso da Resex Chico Mendes. 

No caso citado, fica claro como as mudanças climáticas podem atuar em sinergia com vetores internos e de entorno.  Este  é,  de modo  sintético,  o  grande  desafio  enfrentado  pelo  Projeto  Resex  e  por  outro  que  o 

69 OLIVEIRA, J. P. ‐ As demarcações participativas e o fortalecimento das organizações indígenas. Rio de Janeiro: Museu Nacional, março, 2001.  70  RUIZ‐PEREZ, M.  ALMEIDA, M.  Disse,  S.;  COSTA,  E.M.L.;  PANTOJA, M.C.;  PUNTODEWO,  A.;  POSTIGO,  A.A.;  ANDRADE,  A.  G.  ‐ 

Conservation and Development in Amazonian Extractive Reserves: The case of Alto Juruá. Ambio, v. 4. nº  3. May, 2005. 71  BROWN, I. F. ‐ Entrevista em Rio Branco, Acre, janeiro de 2006. 72  No caso, muitas das áreas antropizadas na Resex Chico Mendes são anteriores à criação dessa unidade. 

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substitua. Francisco Pianko73, secretário Especial para Povos Indígenas do Estado do Acre, acrescenta que as alternativas e experiências que estão sendo desenvolvidas necessitam de confirmação se querem substituir atividades tradicionais que eram o esteio do entorno das TI. 

Ao se  inviabilizar a estratégia de manter as necessidades externas das TIs mediante  trocas que envolviam madeira e carne de caça ‐ tanto pela questão da legislação como pela necessidade de administrar os recursos delimitados na TI ‐, o que restou como opção permitida foi a agricultura. Entretanto, ela é uma atividade que devora bastante floresta, desperdiça muita madeira e recursos para produtos de curto prazo e preço baixo. Alternativas como o artesanato e o próprio murumurú74 têm surgido. Este último, como atividade prioritária (do  seu óleo obtêm‐se muitos produtos). Os desafios destas alternativas são estrutura,  tecnologia e  infra‐estrutura. 

No sentido da sustentabilidade de produtos como o murumurú, os planos de uso resultantes dos processos participativos  são  um  forte  componente  de  gestão  ambiental  em  uma  perspectiva  de  território.  Nos trabalhos  realizados pela CPI‐Acre, na TI do Amonea, o plano de uso define quantidades de murumurú e localização  de  plantas  que  devem  ser  deixadas  para  consumo  da  fauna,  além  de  estimular  o  plantio  ou regeneração  nas  capoeiras  e/ou  pastos  degradados.  A  execução  e monitoramento  é  função  de  toda  a comunidade, com papel predominante dos agentes agroflorestais  indígenas75. Como  tais processos produ‐zem mapas georreferenciados, podem formar o necessário detalhamento para o ZEE.   4. Manejo Florestal O  ProManejo  é  um  projeto  exemplar  em  vários  aspectos:  possui  uma  atitude  propositiva  baseada  em argumentos  e metodologias  sólidas,  e  conseguiu  gerar  pontes  entre  posições  e  visões  de madeireiros  e conservacionistas  que  costumavam  estar  em  lados  opostos.  O  projeto  integrou  as  visões  de  diferentes atores:  com  foco  bastante  definido,  sistemas  de  monitoramento  implantado,  programas  de  formação, grupos  de  pesquisa  para  apoio,  conexões  com  o  setor  privado  em  grande  escala,  e  um  grande  “experi‐mento” em gestão participativa de florestas (Floresta Nacional do Tapajós) que é referência nacional. 

O projeto enfrenta o desafio, entretanto, de trabalhar com decisões que afetam a floresta primária de modo direto  e,  no  curto, médio  e  longo  prazo,  de  como  as  populações  locais  vêem  a  floresta.  Como  uma  das definições  de  propósitos  do  PPG7  trata  de  “conservação  dos  recursos  genéticos  das  florestas  tropicais brasileiras”,  reconhece‐se  que  as  lacunas  de  conhecimento  nesse  campo,  embora  sendo  tratadas  por programas como o Dendrogene, seguem sendo um dos maiores desafios para a sustentabilidade, no  longo prazo, do manejo madeireiro preconizado atualmente. 

O grau de dificuldade envolvido nessa tarefa é compreensível, quando se lida com espécies que têm ciclos de vida entre 200 e 1400 anos, o que acrescenta um grau de complexidade ao estudo dos impactos do manejo sobre a base genética das florestas manejadas. Tal fato não deve justificar extremos: uma atitude imobilista ou um otimismo  tecnológico que aumente a velocidade da  transformação de capital ecológico em capital financeiro, em prazo curto demais para que suas implicações sejam devidamente avaliadas. O que deve estar na base das  ações é o princípio da precaução, pautando qualquer  intervenção que  se proponha  “susten‐tável”. 

O princípio da precaução deve estar embutido tanto nas operações, considerando uma relação entre a escala de corte e a capacidade de monitorar e avaliar os  impactos, que permita aperfeiçoar, rever ou  interromper operações em curso. A escala de monitoramento deve se constituir em uma  rede ampla  (em dimensões e diversidade de  ambientes e  situações  socioecológicas) de  amostragem, possibilitando que decisões  sejam tomadas  com  probabilidades  progressivas  de  gerarem  sustentabilidade  e  conservação  da  diversidade genética das florestas tropicais. 

73  PIANKO,  Francisco.  ‐  Secretário  Especial  para  os  Povos  Indígenas, Governo  do  Estado  do Acre.  Entrevista  em Rio Branco, janeiro, 2006. 74 Astrocaryum murumuru Mart, palmeira comum em todos os estados amazônicos, em áreas de boa umidade, ocor‐rendo tanto em formações florestais densas como semi‐abertas. 75  GAVAZZI, R., CPI‐Acre. ‐ Comunicação pessoal. Abril, 2006. 

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Considerando o estado da arte do manejo  florestal madeireiro  (roteiros consolidados,  incertezas e pontos obscuros),  é  recomendável  que  a  ênfase  de  apoio  seja  para  projetos  que  exibam  procedimentos  de monitoramento adaptativos e evolutivos, no sentido de que possam testar, refutar, consolidar e aperfeiçoar técnicas, métodos e parâmetros durante o tempo do projeto, e não apenas como resultado posterior. Um monitoramento e abordagem que devem incluir toda a cadeia produtiva. 

É nessa equação de delicado equilíbrio entre a pressão social, política e econômica versus a sustentabilidade de longo prazo que o ProManejo poderá fazer a diferença. Para isso, a questão fundamental é aprofundar o monitoramento e as informações que poderão garantir a conservação genética de espécies florestais. 

A coordenação atual do ProManejo concorda que a questão da conservação é uma preocupação em função da falta de informação sobre espécies individualmente. Assim, defende “a necessidade de pesquisa em áreas naturais na qual se avalie crescimento, mortalidade,  incremento, dispersão de sementes, germinação, tudo isto é  auto‐ecologia. A experiência da  Flona do Tapajós,  com o projeto Dendrogene,  ainda não nos disse como  sair  do  manejo  florestal  de  impacto  reduzido  (Mir)  para  a  conservação  de  recursos  genéticos. Apostamos  em  uma  escala  de  adoção  de  Mir,  que  implica  em  conservação  da  floresta,  mas  não  da conservação dos RG, pois isto demanda conhecimentos sobre a auto‐ecologia das espécies, individual‐mente, que ainda não temos (...) e precisamos de mais projetos como o Dendrogene”. 

O processo do Mir e da promoção e apoio à certificação  florestal  (por meio do Forest Stewardship Council /FSC), por exemplo, partem do pressuposto que haverá ampliação de exigências, por pressão da sociedade, sobre  a  sustentabilidade  do manejo  florestal,  gerando  um  aumento  de  demanda  de madeira  certificada mundialmente76. Outras perspectivas, porém  consideram que o  crescimento do mercado  (madeira  certifi‐cada) é limitado e aquém das projeções atuais77. Este ponto merecerá um amplo estudo. 

A certificação de produção florestal madeireira obteve sucesso em projetos e iniciativas no Acre, Pará e Ama‐zonas,  e  abriu mercados  e  assegurando  a qualidade dos processos  em  andamento, porém  ainda  existem limitações de abordagem, na medida em que um dos projetos expoentes do manejo comunitário e que adota o Mir (Fase‐Gurupá) considera o processo de certificação incompatível com a maior parte das condições das comunidades. Argumentam que os custos, a ética fundamentalmente comercial da certificação, e sua baixa legitimidade nas comunidades não entusiasmam. Para esta organização, as prioridades atuais são agregação de  valor  local,  redução  de  perdas  e  de  impactos  na  floresta,  ao mesmo  tempo  em  que  são  construídos instrumentos de gestão e monitoramento adequados ao manejo florestal comunitário78.  A exemplo do que acontece nas  redes da Mata Atlântica, é  recomendável conectar  iniciativas de monito‐ramento participativo  como embriões de processos de  certificação  com maior  capilaridade, acessibilidade em seus procedimentos e custos compatíveis com a realidade das comunidades onde é realizada.  A  necessidade de  regularização  fundiária  foi  um  elemento  fundamental  que  avançou  a  passos  largos  em função da ação do ProVárzea e ProManejo, mediante o diálogo estabelecido entre diversos atores e o Ibama. No entender das organizações, a  regularização  fundiária e uma organização  social  robusta  levarão  a uma menor  fragilidade  das  comunidades  frente  aos  intermediários  e  compradores  de  madeira.  Uma  maior eqüidade nas negociações  irá gerar agregação de valor e menor pressão sobre a  floresta. Como estes são pressupostos de sustentabilidade que orientam ações importantes, devem ser monitorados e reavaliados de forma sistemática e dinâmica, pois também são dinâmicos os fatores envolvidos da relação causa‐efeito que está  sendo  estabelecido.  Entre  as  variáveis  dinâmicas  desta  relação  está  o  comportamento  de mercado, mudanças  nos  parâmetros  das  demandas  sociais  que  deverão  ser  satisfeitas  pela  venda  da madeira,  e aspectos ecológicos e de produtividade da floresta que garantam essas aspirações para as gerações atuais e futuras.   

76  MAENNLING, W. ‐ GTZ/ProManejo/Ibama. Entrevista em Manaus, 30 de janeiro de 2006. 77  LASCHEFSKY, K.; FRERIS, N. ‐ Seeing the wood from trees. The Ecologist, v. 31, no. 6, July/August 2001. 78  Equipe FASE‐Gurupá/Manejo Florestal Comunitário. Entrevista telefônica, março, 2006. 

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4.1. Sistemas agroflorestais (SAFs) e silvopastoris (SSP)  Em 1996,  segundo Moreira e  colaboradores,79 20 milhões de hectares  compunham pastos degradados na Amazônia, áreas potenciais para a implantação de SAFs, uma das atividades mais populares como estratégia complementar em projetos demonstrativos, pois atendem objetivos de produção e são recomendados como promotores de serviços ecológicos, principalmente em termos de proteção de solo e água. 

No PPG7, esses sistemas de produção têm, por parte dos agricultores, apropriações e desempenhos diferen‐ciados  e  as  avaliações  ecológicas  e  econômicas  ainda  são  bastante  frágeis  em  termos  de  publicações  e estudos. As conclusões são apenas aproximadas para esses sistemas de uso da  terra. Entretanto, em uma percepção  amparada  por  extensiva  bibliografia  acumulada,  os  SAFs  desempenham  um  papel  importante como estratégia de segurança alimentar, conservação de agrobiodiversidade e mesmo de biodiversidade, em outros países tropicais. Um dos estudos realizados sobre SAFs apoiados pelo PDA, na Amazônia, mostrou que vários aspectos positivos ‐ melhoria de qualidade de cultivos, café e mesmo de pastagens ‐ foram alcançados. Um dos pontos de  interesse geral é analisar os vários  fatores que  contribuem para que eles não  tenham ainda este mesmo papel de forma institucionalizada no Brasil, embora estejam presentes nas estratégias de algumas populações tradicionais e indígenas. 

Do ponto de vista da ênfase e  influência dos SAFs nas políticas públicas do Programa Nacional de Florestas, os  dados mostram  que  a meta  de manejo  florestal  é  de  15 milhões  de  hectares,  enquanto  a meta  do reflorestamento, em pequenas e médias propriedades, é bem mais modesta: entre 800 mil a um milhão de hectares, se incluída a meta de 200 mil hectares de recuperação de áreas alteradas80. Tais números revelam não falhas do PPG7, mas uma conjuntura em que serviços de extensão e mecanismos de fomento ainda não conseguem mover os vetores que definem os sistemas de uso da terra, o que deve ser um esforço conjunto de políticas públicas. 

De modo geral, o sucesso dos projetos piloto com SAFs depende, para alcançar maior escala, de ajustes ou, como  é  o  caso  de  algumas  regiões  da  Amazônia,  de  uma  reconversão  de  prioridades  nos  sistemas  de produção.  Estes, por  sua  vez, dependem de  cenários de  investimentos  em C&T,  infra‐estrutura  e  cadeias produtivas  de  produtos  agroflorestais.  Um  sério  esforço  em monitoramento  econômico  e  ecológico  dos resultados positivos em SAF seria um ponto positivo para dar maior segurança aos tomadores de decisão. O potencial  foi provado e poderia contribuir para os objetivos maiores do PPG7, principalmente em  locações estratégicas, como ao longo das rodovias BR‐163, Trans‐Pacífico (no trecho Rio Branco‐Assis Brasil, no Acre) e no Noroeste do Mato Grosso.  4.2. Comunicação ou extensão rural? Lições do PPG7 Esta pergunta,  título de uma das obras primordiais de Paulo Freire, é pertinente aos  resultados do PPG7. Afinal,  o  que  se  esperaria  do  PPG7?  Transferência  de  tecnologia  ou  construção  social  de  práticas apropriadas?  De  certo modo,  ambas  as  formas não  são  excludentes,  se  a  transferência  é de práticas  e ocorre  em um contexto em que significados e princípios são compartilhados entre todos os atores. Nesse contexto está a maior contribuição do PPG7, e o PDA é um exemplo que pode ser analisado como caso: é um dos subprogra‐mas com trajetória mais longa dentro do PPG7, e influenciou as estratégias de outros componentes demons‐trativos, como o ProManejo e o ProVárzea. 

Por meio das redes sociais e técnicas geradas, amparadas, ou consolidadas, o PPG7 mostrou uma postura de não fugir do conflito socioambiental.  Isto é relatado nas sistematizações e é um dos atributos principais de projetos que buscam gerar modelos de comunicação rural. No caso, modelo gerado foi apoiar a identificação e o gerenciamento de conflitos sociais, econômicos e ambientais ligados ao desenvolvimento sustentável e à conservação. Os  processos  participativos  que marcam  a  atuação  do  PPG7  têm,  assim,  permitido  que  as 

79 MOREIRA, A.; RAMOS, A.; ANDERSON, A.; BENSUSSAN, N.; FREITAS, A. ‐ Presença Humana em Unidades de Conser‐vação: Anais do seminário Internacional sobre Presença Humana em UCs. Brasília, 26 a 29 de novembro, 1998. 80  MMA/SCA/Diretoria do PNF ‐ Programa Nacional de Florestas. Brasília. Folder. 

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fragilidades internas, as ameaças externas e vetores atuantes sejam identificados nos contextos dos projetos beneficiários. 

Como  caso‐exemplo, a organização de acordos de pesca mostrou que,  tanto mapas de poder  local  foram desafiados  e  redesenhados  como  o  refinamento  do  debate  sobre  o manejo  de  pesca  e  defeso  de  cada espécie de peixe envolveu  todo o saber ecológico acumulado81. Como  foi  ressaltado, o grande desafio é a aplicação concreta do saber ecológico e sua  identificação com estratégias adaptativas e evolutivas comple‐mentares aos processos sociais, políticos e econômicos. 

O PDA é um componente que abrigou os dois pólos do PPG7: a  idéia de conservação estrita e a  idéia de práticas  agrícolas,  florestais  e  agroflorestais  sustentáveis,  em  um  cenário  de  eqüidade  social,  como  peça fundamental  da  conservação.  Hoje,  esse  cenário  acumula  um  legado  em  apoio  e  “paternidade  compar‐tilhada”  de  um  sem‐número  de  organizações  e  redes  sociais  e  técnicas  envolvidas  tanto  na  conservação restrita  como  nos  enfoques  de  desenvolvimento  sustentável,  aliando  a  conservação  e  recuperação ambiental. Do mesmo modo, criou oportunidade para que representantes de ambas as posições dialogassem e tivessem apoio para articular ações em rede. 

Considerando a  sua dimensão e  importância, existe um descompasso entre a escala e a  imensa área que cobre, e sua capacidade de investir em reflexão e comunicação. Tal lacuna pode ser atribuída tanto a condi‐cionantes estruturais e metodológicos como à  imensa diversidade e complexidade com a qual as organiza‐ções do setor privado interagem em três dos maiores biomas brasileiros. Mesmo sem o acúmulo de reflexão e  comunicação que  seria desejável  em um programa piloto,  sua  capilaridade  e base  social,  entretanto, o qualificam como uma iniciativa que é convergente e desejada como parceria em diferentes setores da esfera governamental e da sociedade civil. 

Por  sua  vez,  o  ProVárzea  e  o  ProManejo  não  apenas  aprenderam  com  os  erros  e  acertos  do  PDA, mas lograram sistemas de comunicação mais eficientes em função da escala e foco mais reduzidos, e de equipes que não sofreram com a transitoriedade que tem sido uma característica do PDA. De modo geral, em termos da geração e apoio a  redes de desenvolvimento  rural  sustentável e  redes de conservação, o PPG7 é uma referência  (com  críticas  e  elogios)  da maior  parte  das  organizações  e  redes,  como  a  Rede  Projetos  em Tecnologias  Alternativas  (PTA),  que  congrega  inúmeras  organizações  com  alto  nível  de  capilaridade  nos movimento  sociais  em mais  de  15  estados  da  federação. O mesmo  é  válido  para  as  inúmeras  ações  em conservação  no  âmbito  da  Rede Mata Atlântica  e  da  reunião de  ambas  as  redes  (e  da  negociação  entre abordagens e articulação) com o apoio do PDA. 

Na  Amazônia,  a  semeadura  de  propostas  e  projetos  foi  imensa  apoiando  algumas  das  mais  sólidas experiências  em  sistemas  agroflorestais,  produtos  florestais  não‐madeireiros  e  abordagens  complexas  e integradoras com populações indígenas. Todo esse legado é um resultado significativo. A avaliação de Sérgio Sauer82  sobre o Proteger, por exemplo, aponta  vários aspectos positivos que  criaram uma expectativa de continuidade que pode ser assumida pela Ater oficial. Entre eles está a delimitação de público‐ alvo com a agricultura  familiar, o conteúdo e  forma das capacitações, os eventos com ações por meio de coletivos, o fortalecimento  e  estímulo  às  iniciativas  e  redes  locais  de  caráter  socioambiental.  Também  há  o questionamento das  regulamentações  sobre  comunicação, que  restringem o  impacto que o  rádio poderia representar  com  difusão  e  sensibilização  dos  métodos  de  planejamento  participativo,  e  a  memória institucional. 

Por  outro  lado,  o  caráter  emergencial  que marcou  a  primeira  parte  da  capacitação mostrou  os mesmos problemas  da  Ater  convencional.  Em  outras  palavras,  o  Projeto  foi  concebido  com  a  visão  de  que  as queimadas  podiam  ser  controladas  considerando  um  leque  de  vetores menor  e  bem menos  complexo daquele que atua na realidade. Isso não se constitui tanto em falha como revela o limite intrínseco de ações nos moldes  de  Ater,  principalmente  quando  falta  a  conexão  entre  pesquisa  e  poder  público  estadual  e municipal83.  No  caso,  fatores  externos,  tanto  sociais  como  ecológicos,  aumentam  riscos  e  reduzem  a governabilidade de processos voltados à redução e eliminação de queimadas. Nesse sentido, os eventos de 

81 MMA/SCA/SPDS/DADS/PPG7  ‐ Cametá: As experiências nas  localidades de Joroca de Baixo e Cuxipiari Carmo. Série Sistematização: Comunidades Construindo sua Sustentabilidade. Brasília, dezembro, 2005. 82 SAUER, S. ‐ Prevenção de incêndios florestais na Amazônia: lições aprendidas no Projeto Proteger. p. 19‐23. In: MMA. Brasília, 2005. Série Estudos 1. 

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descontrole de  fogo  em  agosto‐setembro de 2005, no Acre,  foram  exemplares  e deveriam  ser mais bem analisados, em seu potencial de aprendizado. O desafio, portanto, não é apenas amenizar o problema com técnicas  e  ações  localizadas,  mas  convencer  outras  esferas  de  tomadores  de  decisão  sobre  as  conse‐qüências, em cadeia, do uso do fogo e sua sinergia com as mudanças climáticas.  4.3. Cadeias produtivas e o PPG7 De maneira geral, apesar de iniciativas como o Projeto Negócios Sustentáveis (PNS) e do apoio em editais a atividades de cadeia produtiva, o PPG7 subestimou a cadeia produtiva como vetor de sustentabilidade das ações e resultados dos projetos. Tal fato sobrecarregou um projeto de pequenas dimensões (em termos de recursos e pessoal) e grande  território, como o PNS. Assim, apesar do PNS  ter produzido um portfólio de experiências  bem  sucedidas,  ainda  é  tímida  a  escala  com  que  os  produtos  florestais  e  agroflorestais (principalmente os não‐madeireiros) colaboram nos fluxos de renda das comunidades envolvidas no PPG7. A própria dificuldade em produzir dados de monitoramento econômico (uma das lacunas do PPG7) sobre esses produtos é um sintoma da lacuna de enfoque em cadeias produtivas. 

Tendo a qualidade de produtos florestais como a castanha, óleo de copaíba e outros, como  limitantes para ampliar mercados, o PNS acabou apoiando atividades muito semelhantes ao PDA e ao agroextrativismo, de forma a  complementar e  cobrir  lacunas desses  componentes. Um projeto  como o PNS,  considerando  seu enfoque e dimensões de pessoal e recursos, só seria realmente eficiente se pudesse apoiar os projetos de forma mais  focada, na parte  final da cadeia produtiva, sem  ter que se preocupar com as ações voltadas à melhoria dos processos de produção84. 

Por outro  lado, os  investimentos governamentais em ciência &  tecnologia e pesquisa & demonstração, na Amazônia, que poderiam ajudar a reverter lacunas de qualidade na cadeia produtiva, são historicamente da ordem de 2%, quando deveriam ser, no mínimo, três vezes maiores que isso para manter, pelo menos, uma relação com o PIB da região comparável com o resto do país. Essa assimetria no investimento resulta em um fosso  inter‐regional  comparável  apenas  àquele  observado  entre  um  país  de  primeiro mundo  e  um  país realmente subdesenvolvido85. 

Dessa forma, a reduzida participação de políticas públicas no que se relaciona às cadeias produtivas flores‐tais e agroflorestais gera um vetor negativo sobre  iniciativas como as do PPG7. Enquanto  isso, a soja está invadindo áreas de  florestas densas na Amazônia, onde o  índice pluviométrico é alto e,  tradicionalmente, não  se explorava essa  cultura. Para os pesquisadores da área agroflorestal e  florestal do  Inpa,  “a  invasão depende de C&T&I e P&D para este agronegócio – o que é uma prova clara que investimentos em P&D valem à pena! (...) a “invasão” (da soja) é um sucesso sob qualquer ótica, menos uma: a taxa e a quantia absoluta de desmatamento." 86 

Outro caso  ilustrativo é a experiência do PNS na Floresta Estadual do Antimarí, no Acre. A  idéia segundo a qual  ter  o  controle  de  toda  a  cadeia  facilitaria  o  processo  e  geraria  aprendizados mostrou  que  vetores externos  e  negativos  podem  ser  decisivos87.  Assim,  o  efeito  negativo  de  invasões,  falta  de  regularização fundiária e falta de fiscalização corroboram a idéia de que múltiplos vetores não suficientemente dimensio‐nados ou  enfrentados  com  poucos  recursos  afetam  e muitas  vezes  decidem  o  futuro  de metodologias  e processos promissores. 

Os casos de sucesso em abordagem de cadeias produtivas que fazem parte dos projetos apoiados pelo PPG7, como o couro vegetal, a pesca e comercialização do camarão no Amapá ou a castanha no sudoeste do Acre têm, em comum, um histórico anterior ao PPG7, ou uma rede de colaboradores e apoios que os viabilizaram. Fica evidente que tanto o PNS como outros subprogramas e projetos (SP/P) dependem de fatores externos que poderiam ser vantajosos com uma retaguarda em termos de políticas públicas convergentes, em uma 

83 Projeto Proteger ‐ Relatório Técnico Anual. 01 de outubro de 2004 a 30 de setembro de 2005. 84  SOARES, N. Secretaria de Coordenação do PPG7. Entrevista em fevereiro de 2006. 85  CLEMENT,  C.  R.;  VAL,  A.  L.  ‐  Soja  versus  Desenvolvimento  Sustentável  na  Amazônia?  Jornal  da  Ciência.  2003: www.jornaldaciencia.org.br 86  CLEMENT, C. R.; VAL, A. L. ‐ Obra citada. 2003. 87  SOARES, N. Secretaria de Coordenação do PPG7. Entrevista, em fevereiro de 2006. 

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visão  de  desenvolvimento  regional  sustentável. O  PNS,  dentro  do  PPG7,  teve  o mérito  de  evidenciar  as lacunas existentes, e gerar uma amostragem do potencial de sucesso quando tais lacunas são preenchidas.  5. Contribuições do Subprograma Ciência e Tecnologia (SPC&T) A principal questão em relação ao SPC&T é como analisar se as metas consignadas interagiram com os pro‐pósitos  gerais  do  PPG7.  Considerando  as metas  do  SPC&T  em  termos  de  centros  de  referência,  alguns progressos  infra‐estruturais geraram frutos importantes para os dois centros beneficiados, trazendo ganhos de produtividade aos pesquisadores do Inpa e do MPEG. A atualização da informatização foi, nesse contexto, outro  aspecto que  trouxe enormes ganhos de produtividade do  trabalho e  conectividade entre  centros e pesquisadores, dentro e fora do Brasil.88 

No Componente de Pesquisa por Demanda, do SPC&T, entretanto, a forma de qualificação para os editais se constituiu  em  um  filtro  em  que  o  peso  de  titulação  acadêmica  foi  decisivo.  Por  este  critério,  algumas capacidades específicas e necessárias à abordagem de pesquisa aplicada e participativa não têm peso, o que inviabilizou  o  aproveitamento  do  capital  humano  e metodológico  construído,  por  exemplo,  por  algumas ONGs ou pesquisadores competentes, mas  isolados em unidades de pesquisa desaparelhadas em recursos ou afetadas pela falta de atualização das equipes de pesquisa.89 

A segunda fase do Projeto de Pesquisa Dirigida (PPD) passou por consultas e estimulou redes, mas a forma como  são gerenciados os projetos de pesquisa ainda  se  constitui em um problema para os objetivos dos projetos  demonstrativos  do  PPG7.  No  caso,  são  as  dificuldades  dos  pesquisadores  tradicionais  de  se ajustarem às necessidades que envolvem os estudos estratégicos necessários, e o hábito metodológico gera certa  timidez  desses  setores  em  produzirem  indicativos  e  linhas. Outro  aspecto  dos  editais  envolveu  os recursos do PPD: por não contemplarem pagamento de pessoal foi necessário contar com outras fontes, sob pena de  inviabilizar o projeto, mas tal alternativa nem sempre é possível para  instituições que não estejam consolidadas.90 

Quanto  à  disseminação  de  resultados  de  pesquisa,  o  fluxo  de  informação  entre  o  SPC&T  e  os  projetos demonstrativos (PD) foi e é ínfimo. A informação produzida pelo SPC&T deveria chegar ao público que define ações  na  base,  como  nas  resex  que,  junto  com  as  TIs,  na  Amazônia,  são  áreas  prioritárias  para  a  con‐servação. A informação produzida é, entretanto, direcionada, majoritariamente, aos veículos acadêmicos ou de pesquisa especializada, de acordo com o critério que valoriza os profissionais de ciência. Esses veículos têm  tiragem  reduzida,  distribuição  restrita  e  seus  leitores  são,  em  sua maioria,  da  própria  comunidade científica. O SPC&T deveria lançar mão de outras estratégias de divulgação que alcançassem o público‐alvo e a rede social e técnica do PPG7, de maneira mais ampla. As formas de avaliação de pesquisadores ‐ padrão do MCT ‐ não conferem peso significativo à pesquisa participante e atividades de extensão e popularização de ciência, o que prejudica pesquisadores que se dedicam a estas atividades. 

Como síntese, o Componente de C&T acumulou pontos e excelentes resultados para a pesquisa nacional em geral, mas muito pouco nasceu articulado ou desceu para os projetos demonstrativos. A maior parte dos entrevistados demonstrou o sentimento de que o problema não é o MCT estar no comando do componente. A questão de fundo é a desarticulação entre estratégias de ministérios e suas ações, e mesmo as dificuldades de comunicação entre os componentes do PPG7 e a pesquisa. Um exemplo: na fase II do Proteger, operavam o SHIFT‐Pecuária, o Funtec 1, o Funtec 2 e o Embrapa‐082000‐54, e se iniciava (2001) o Projeto Tipitamba91. A importância da articulação com tais fontes de informação e ações ‐ e de outras atuando em outras frentes correlatas  ‐ será  fundamental em qualquer projeto de continuidade. Diante da  falta de comunicação entre estas duas iniciativas é preciso reavaliar como se deve buscar a aproximação. 

88  OVERAL, W. L. ‐ Museu Paraense Emílio Goeldi. Belém, Pará. Entrevista em 13 de março de 2005.  89  FERREIRA, Evandro. ‐ Inpa. Rio Branco, Acre. Entrevista em 24 de janeiro de 2006.  90  BROWN, I.F. ‐ Entrevista em Rio Branco, Acre, janeiro de 2006. 91 Embrapa Amazônia Oriental ‐ Projeto Tipitomba:  intensificando o manejo de capoeira com sustentabilidade. Belém, 2002. Folder 

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5.1. Lições da C&T

A  pesquisa  formal  é  enriquecida  quando  valoriza  os  saberes  gerados  na  base  e  quando  internaliza  a abordagem etnobiológica e etnoecológica. Métodos convencionais de experimentação em parcelas são fundamentais, mas limitados para a complexidade que é a demanda de iniciativas como o PPG7. 

  Mediante o estímulo de pontes entre diferentes  instituições e técnicos é possível chegar a uma ciência interdisciplinar, “civil” e heterodoxa, em oposição a uma ciência formal e ortodoxa. Assim, é possível que os  atores da ponta  ‐ pesquisadores,  técnicos de ONGs ou de Ater, ou o que  se  conceitua  aqui  como “público  beneficiário”‐  sejam  transformados,  também,  em  formadores  e  experimentadores  participa‐tivos  de  qualidade.  É  útil  a  identificação  de  uma  rede  de  referência  em  termos  de  pesquisadores, técnicos e de agricultores motivados e dispostos a  se  incorporarem nos processos de pesquisa,  tendo como  foco o  aprendizado, o  crescimento profissional,  e  como  suporte o  apoio  financeiro para  cobrir diárias e renumerar serviços. 

É  importante prestar  atenção e  fazer esforços de pesquisa para  setores  relegados  ao  segundo plano, como pesca artesanal, PFNM e SAF, que  recebem pouca atenção em P&D, apesar de serem aplicáveis como  estratégias  em  uma  dimensão  social  e  ecológica  nacional,  considerando metas  de  desenvolvi‐mento sustentável. 

É possível melhorar e revisar os métodos de diagnóstico e definição de focos de interesse de pesquisa, de forma  que  sejam  compartilhados  por  pesquisadores,  técnicos  e  população  participante,  tendo  como pano  de  fundo  os  propósitos  de  conservação  e  desenvolvimento  sustentável. Uma melhor  sistemati‐zação  e  reflexão  coletiva  dos  resultados  e  lacunas  dos  projetos  beneficiários  apoiados  pelo  PPG7 auxiliarão nesta tarefa. 

A  comunidade  e  suas  organizações,  contemplando  gênero  e  faixa  etária,  podem  se  integrar  em estratégias de pesquisa participante. 

 5.2. Pesquisa, monitoramento e sistematização nos projetos demonstrativos  A análise do PPG7 revela que um ciclo de aprendizado progressivo em projetos opera, ainda que de modo desarticulado, trabalhando com:  

Pressupostos, como os evidenciados pelo caso da Fase‐Gurupá, os quais possam ser testados, o que leva ao ponto seguinte. 

Pesquisa ou experimentação em algum nível, envolvendo monitoramento de variáveis que possam ser verificadas de modo quantitativo e/ou qualitativo. 

Periódica sistematização, interpretação e comunicação de resultados, de forma que desde técnicas até pressupostos  possam  ser  revisados  e  evoluam  de  forma  progressiva  com  o  conhecimento  que  se constrói, de forma a atingir o objetivo maior, que é a sustentabilidade. 

A questão central é: Qual o  legado e  lições do conjunto PPG7 neste sentido? Um TdR elaborado em 2001, pelo PDA, definia a sistematização como “uma reconstrução/reflexão sobre uma ou várias experiências que, a partir de seu ordenamento e reconstrução, descobre ou explicita a lógica do processo vivenciado ao longo da  experiência,  os  fatores  que  intervieram  no  processo,  como  se  relacionam  e  porque"  92.  Porém,  tanto vetores externos como o entendimento do que é monitoramento no PPG7  influenciaram para reduzir, em muitos casos, “a sistematização como um produto de vitrine, quando deveria ser primeiro um  instrumento de reflexão interna e, por isso, necessariamente amparado por monitoramento local e continuado, com foco em  indicadores relevantes para o planejamento e gestão  local"  93. Este pressuposto da sistematização não tira o valor do acervo que se encontra nos bancos de dados dos vários SP/P, considerando desde estudos e análises patrocinadas pelo Projeto AMA até as  iniciativas dos próprios SP/P, como o componente “Estudos Estratégicos” do ProVárzea, ou as publicações sobre sistematizações e análise de casos do PDA. 

92  MMA/SCA/PPG7/PDA ‐ Para Sistematizar Experiências Demonstrativas. 12 p. Brasília, novembro, 2001.  93  MEIRELLES, L. ‐ Centro Ecológico Litoral. Entrevista em Torres, Rio Grande do Sul, março, 2006. 

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De modo  geral,  o  protagonismo  dos  atores  locais  de  projetos  beneficiários  no monitoramento,  análise  e comunicação de resultados é raro e tem poucas exceções, como a Fase‐Gurupá e os Agentes Agroflorestais Indígenas/CPI‐Acre. O que  transparece nestes dois exemplos mostra a viabilidade da abordagem. Neles, o histórico, a capilaridade e  infra‐estrutura mais consolidada colaboram efetivamente para viabilizar sistemas de monitoramento assumidos localmente, mesmo quando outros vetores ‐ como acessibilidade, instrução e situação  socioeconômica  ‐  colocariam estes atores  com baixa probabilidade de protagonizarem atividades como monitoramento. Considerando que desenvolver  estratégias  e métodos de monitoramento protago‐nizado pelos projetos beneficiários é uma preocupação atual e central, por exemplo, do PDA, casos como estes devem ser amplamente analisados e difundidos no âmbito do PPG7. 

No PPG7, existe uma relação entre a motivação que gerou os SP/P, seu desenho operativo e sua capacidade de gerar e incorporar, de maneira eficiente, os resultados dos sistemas de monitoramento e aprendizado. A coordenação do ProVárzea e do ProManejo ressalta que a menor escala, em termos de território e número de projetos, além da menor diversidade de temas nas propostas, facilitou o monitoramento como iniciativa sistemática,  ainda  que  sendo  atividade  das  equipes  técnicas.  Tais  fatores  explicam melhor  porque  seria inviável que o PDA adotasse, com sucesso, um modelo de monitoramento protagonizado apenas pela equipe técnica, considerando a escala do subprograma e os atuais recursos financeiros e de pessoal94. 

Outro aspecto relevante na abordagem de monitoramento é como ele é entendido, internamente, no PPG7. A “monitoria” de projetos no PPG7 é, basicamente, um processo executado por consultores contratados ou pela equipe base mediante avaliações periódicas focadas na verificação da execução de ações programadas, processo que conta com certo compartilhamento de atores  locais. É uma abordagem  limitada, entretanto, para produzir medidas de qualidade de processos ou medir impactos ecológicos. Pode revelar que o recurso foi investido na atividade prevista e para o público previsto e, assim, é possível inferir se houve disseminação de informação. 

Porém, pouco oferece sobre impactos ecológicos da utilização da informação disseminada. O ProManejo, por suas  próprias  características  de  foco,  tem mais  registros  sobre  impactos  ecológicos  de  atividades  e  de possíveis  benefícios  das  ações  financiadas.  Mesmo  para  este  projeto,  entretanto,  ainda  são  muitas  as perguntas  não  respondidas,  o  que mostra  o  quanto  se  deverá  investir  em  sistemas  de monitoramento ecológico e econômico, em uma nova fase do PPG7. 

Um dos exemplos de como o monitoramento pode ser desenvolvido,  localmente, é do Estado do Acre: nas condições extremas de  terras  indígenas  (TIs)  surge uma definição bastante precisa do que é um plano de monitoramento ambiental, concebido e executado com participação de populações locais, e entendido como “controle do futuro, utilizando corretamente os recursos naturais, com sabedoria e qualidade, empregando registros, diagnósticos,  análise da  situação  e  estabelecendo  formas  de manejo”. A  atividade  surgiu  como prática de reflexão na formação dos agentes agroflorestais, na forma de exercícios realizados no Centro de Formação dos Povos da Floresta e repetidos nas aldeias, exercitada por ocasião de oficinas  itinerantes nas aldeias, ou incluída na formação escolar indígena, pelos professores indígenas. 

Em um segundo momento, surgiu a demanda pela geração de planos de uso das TIs, com a necessidade de enfrentar os desafios de gestão de recursos que acentuou a utilidade concreta das habilidades conquistadas em termos de cartografia, geografia, levantamentos de flora e fauna, de agrobiodiversidade, de costumes e histórias, e de manejos  tradicionais de  recursos. Os processos de etnomapeamento  também  fazem parte dessa trajetória, iniciados como atividade de reflexão‐na‐ação durante os cursos de formação. O caso da CPI‐Acre mostra  o  plano  de monitoramento  participativo  como  um  elemento  completamente  processual  e orgânico,  em  uma  perspectiva  de  aprendizado  progressivo,  conectado  a  metas  concretas  geradas  e compromissadas junto com a comunidade. 

Em relação à disseminação dos resultados para aprendizado, o PPG7 foi eficiente nas primeiras instâncias, ou seja, no plano dos atores  locais e das redes sociais  locais, mas falhou na ponte entre estas e os setores de C&T,  P&D.  Os  modelos  de  disseminação  mais  exitosos  envolveram  cursos  e  visitas  acompanhadas  por atividades práticas, ou com uma seqüência lógica em módulos que não foram afetados por problemas como interrupção  de  repasse  de  recursos.  A  existência  de materiais  escritos,  para  orientar  a  reprodução  das 

94  RUFFINO, M. ‐ ProVárzea. Entrevista em Manaus, 30 de janeiro de 2006. 

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atividades que estavam sendo disseminadas foi um ponto crítico para a multiplicação dos conhecimentos, e funcionaram como um apoio às equipes técnicas e monitores locais. 

A  viablização  de  um  fluxo  dinâmico  da  informação  foi  realizada mediante  redes  de  apoio  para  difusão, utilizando diferentes mídias e envolvendo parcerias junto ao setor público (prefeituras e órgãos de governo) e  sociedade  civil,  como  é  o  caso  do  ProVárzea.  Ainda  assim,  novamente  estas  formas  concentraram  a disseminação entre agricultores e organizações de base, e persiste a desconexão  com os  setores de C&T, com raras exceções. A participação do Inpa no projeto de meliponicultura do Granave, em Parintins (AM) é um  exemplo,  assim  como  a  integração  construída  no  GT‐Monitoramento  que  apóia  as  atividades  do ProManejo. 

A experimentação aplicada diretamente às demandas dos projetos demonstrativos foi uma grande lacuna, e também  foram  raras as exceções. Um dos casos de sucesso  (sistemas agroflorestais em bananicultura, no litoral norte do Rio grande do Sul) foi viabilizado com fundos estaduais de pesquisa (denominado, na época, RS‐Rural/Pesquisa  por  Demanda)  e  aconteceu  por  uma  conjugação  específica  de  apoio  técnico  de consultores e parceiros simpáticos ao projeto. A experimentação e abordagem participativas se mostraram como  estratégias  de  grande  potencial  nos  PD, mas  que  deveriam  ter  outro  tratamento,  nível  de  investi‐mentos e formas de capacitação em futuras ações demonstrativas. 

A  título de  síntese, para  a  evolução dos  sistemas de monitoramento  e  aprendizado, mostrou‐se  crítico o próprio universo do Programa: sua complexidade e a  falta de  referências anteriores, na medida em que o PPG7  é  único  em  suas  dimensões  e  abordagem.  Para  compatibilizar  uma  abordagem  de monitoramento entre SP/P e o PPG7, em sua totalidade, faltou coordenação continuada no Programa e, mesmo o AMA, que deveria  ter esta  função, não  conseguiu manter uma equipe. Onde houve  sucesso,  como no ProManejo, a maior  eficiência  veio  não  apenas  pela  qualidade  das  pessoas,  mas  pela  continuidade  que  o  Ibama proporcionou  com  equipes.  No  caso,  equipes  permanentes  e  nas  quais  se  investe  em  aprendizado progressivo são, sem dúvida, um atributo de qualidade fundamental para os objetivos do monitoramento.  5.3. Lições de pesquisa, monitoramento e sistematização A  carência  generalizada  em  infra‐estrutura  física  e  social,  e  em  apoio  à  produção  cria,  continuamente, vetores para um engajamento mais desenvolvimentista do PPG7. Porém, é a  integridade do ambiente, sua funcionalidade e serviços que conectam questões globais e  locais de conservação e viabilizam modelos de desenvolvimento  realmente  sustentáveis. O  ciclo  de  diagnóstico, monitoramento,  reflexão  e  aprendizado está associado, no PPG7, aos seguintes fatores facilitadores: 

A existência de focos prioritários, em um conjunto de atividades promovidas em projetos beneficiários, direcionando o aprendizado. 

A presença (caso de manejo madeireiro e empresas) de uma cadeia produtiva em que parte dos atores envolvidos domine o conhecimento básico necessário ou  tenham disponível alguma  infra‐estrutura de processamento, e mesmo alguma infra‐estrutura para facilitar a formação de outros atores locais. 

A previsão de  renda no  curto e médio prazo,  conectada a um grupo de produtos  com uma previsibi‐lidade (estabilidade de produção e mercado) mínima garantida. 

No caso de SAFs ou produtos não‐madeireiros, com os quais os ganhos são progressivos a médio e longo prazo e oriundos de múltiplas fontes ‐ e nem sempre existe uma estabilidade de oferta ‐, o planejamento para aprendizado é mais exigente e refinado, e demanda profissionais interdisciplinares, melhor articula‐ção entre o trabalho desenvolvido localmente e formação continuada de médio e longo prazo de atores locais. 

A manutenção de um quadro técnico estável (pelo Ibama, no caso do ProManejo e ProVárzea) permite construção e acúmulo de conhecimento, e viabiliza planejamento mais efetivo do que em projetos que se apóiam, apenas, em quadros técnicos temporários. 

É  fundamental a construção de um modelo  inicial de manejo baseado em um conjunto de parâmetros que orientem ação e foco do aprendizado, na forma de indicadores a serem monitorados. 

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Finalmente,  contar  com  o  apoio  financeiro  da  iniciativa  privada  pode  ser  viável  em  alguns  casos,  a exemplo da ITTO, nas atividades de manejo florestal madeireiro. 

 6. Desenvolvimento comunitário (DC): condição para a produção sustentável  A seguir, avalia‐se o esforço realizado pelo PPG7 para fortalecer a sociedade civil organizada, o papel desta na formulação e implementação de subprogramas e projetos, e as lições trazidas por esta participação. São analisados  os  resultados  alcançados  no  desenvolvimento  das  comunidades  nas  quais  o  PPG7  atuou, especialmente, com referência à melhoria de qualidade de vida a partir do incremento da renda, e à luz dos elementos  integrantes  do DC. A  análise  enfatiza  a  gestão  e  controle  social,  e  trata  de  outros  elementos integrantes do DC, como gênero, cultura tradicional e capacitação. Apresenta algumas  lacunas do PPG7 em relação ao DC, principalmente, a  falta de clareza quanto à estratégia que deveria  ter  sido  seguida, a qual conota uma ambigüidade de propósitos, falta de integração programática e operacional com outros progra‐mas e projetos, e falta de visão municipal. 

A análise busca, também, responder a perguntas analíticas referentes à adequação dos objetivos do PPG7 às reais necessidades apresentadas pela sociedade civil; à flexibilidade para ajustar a estratégia em decorrência de  aprendizados,  novos  entendimentos  e  eventos;  aos  impactos  obtidos  mediante  os  conhecimentos gerados  a partir da  capacitação  e da  execução dos projetos, de  acordo  com  leis  e políticas propostas ou criadas, e mediante o fortalecimento da sociedade civil. 

O reconhecimento geral de que a produção sustentável é fundamental para a conservação ambiental levou o PPG7 a apoiar iniciativas que criassem condições para inserir novos sistemas de produção no âmbito de um processo mais  amplo, o do desenvolvimento  comunitário. Múltiplos  esforços  foram  realizados pelo  PPG7 para fortalecer os elementos que compõem este processo, tomando como ponto de partida uma visão clara do  desenvolvimento  desejado.  Os  trabalhos  realizados  nos  diferentes  subprogramas  e  projetos  visavam permitir que os beneficiários  se  tornassem os principais atores na escolha das estratégias para usufruir o progresso social, em  função das suas necessidades. Tal visão do desenvolvimento  identifica‐se com aquela que passou a ser chamada de “desenvolvimento sustentável”, porque não contempla apenas “crescimento” econômico  e  aumento  de  renda, mas  leva  em  conta  o  aspecto  solidário  dos  cuidados  com  os  recursos naturais, a fim de que não cheguem a faltar “para as presentes e futuras gerações”.  6.1. Componentes do DC presentes no PPG7  A  comprovação  do  esforço  do  PPG7  na  construção  do  desenvolvimento  comunitário  pode  ser  obtida mediante a constatação da presença dos seus elementos essenciais ‐ territorialidade, gestão social e projeto comum ‐, nos diferentes subprogramas.  6.2. Sentimento de pertencer a um território  Este elemento esteve presente nos projetos do PDA, nos projetos financiados pelo ProManejo, ProVárzea e Proteger,  porém  em  um  âmbito microterritorial,  isto  é,  no  pequeno  grupo que  recebia o  financiamento. Nesses projetos, houve o fortalecimento de um sentimento existente, mas que não foi ampliado para outras comunidades ou para o município como um todo.  Os  projetos  Resex  I,  PPTAL  ‐  posteriormente  apoiado  pelo  PDPI  ‐  e  o  ProManejo,  na  Flona  do  Tapajós, conseguiram  os maiores  avanços  porque  se  atuavam  em  comunidades  inseridas  em  um  “território  bem definido”, isto é, a reserva extrativista, a flona ou a terra indígena, onde era mais propício trabalhar o senti‐mento de “pertencimento” e de “coesão”, a partir dos problemas comuns e afinidades ambientais, sociais, econômicas e culturais.  Pode‐se, então, concluir que a territorialidade ‐ meso ou macro ‐ não foi uma marca do PPG7, visto que, em escala piloto, tal perspectiva não fez parte de seu escopo inicial. 

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6.3. Capacidade de gestão social  O PPG7 buscou  construir  a  “Gestão  Social”,  entendida  como  a  capacidade  adquirida pela  sociedade para gerir seu próprio destino, isto é, a capacidade de controlar os fatos sociais relacionados com o seu dia‐a‐dia.  Apoiar a sociedade para a gestão social dos recursos naturais exigiu um trabalho de controle social sobre o acesso e uso do patrimônio ambiental, que consistiu em fazer aplicações práticas à realidade  local, visando ao uso sustentável do recurso, contando com a vigilância e monitoramento dos próprios usuários,  lideran‐ças,  agentes  paraflorestais,  agentes  ambientais  voluntários  (AAV), membros  de  comissões  de  “puxiruns”, signatários dos acordos de pesca, presentes em fóruns, conselhos e comissões, como aconteceu nos projetos Resex  I,  PPTAL,  PDPI,  SPRN,  PDA,  ProVárzea,  ProManejo,  Proteger,  RMA,  Mata  Atlântica  (Napma)  e Corredores Ecológicos. 

O PPG7  trouxe uma proposta de  construção da  cidadania, na medida em que as pessoas  foram  tomando consciência  dos  seus  direitos  e  obrigações,  e  foram  traduzindo  tal  consciência  em  comportamentos  que conduziram ao uso sustentável dos recursos naturais e maior democracia.   O meio ambiente deixou de ser algo distante e indecifrável e passou a ser entendido como patrimônio coletivo, merecedor de cuidados, uma vez que nele se encontram os meios para trabalhar, melhorar a renda e as condições de vida. 

Em virtude do caráter piloto do PPG7, a gestão alcançada pela sociedade civil ficou  limitada ao âmbito dos projetos e não atingiu, totalmente, a esfera do desenvolvimento comunitário, embora o projeto fizesse parte desse todo. Por outro lado, não foi nítida nem bem definida a construção da institucionalidade que deveria responder pela condução do processo de gestão social, nesse espaço mais amplo que poderia ter sido uma comissão, fórum ou conselho municipal. 

Pode‐se afirmar que foram colocados os alicerces para a gestão social e, em diferentes medidas, percorridos os ciclos da mesma, mas não de forma sistêmica, planejada e integrada. Houve, em parte, a sensibilização e mobilização  dos  atores  locais,  o  esforço  para  se  ter  uma  visão  comum  de  futuro,  foram  diagnosticados entraves  ao  desenvolvimento  e  alguns  projetos  chegaram  a  superar  os  problemas  diagnosticados. Parcialmente, chegou‐se ao planejamento participativo, mas não houve a construção de  instrumentos para execução,  acompanhamento  e  controle  dos  projetos  constantes  nesse  planejamento.  Também  não  foi construída a coordenação desse processo.  

Participação da sociedade civil na gestão social  A participação da sociedade civil na gestão do seu desenvolvimento pode ser considerada como o elemento mais vital para a construção da gestão social.  

I. Participação da sociedade civil no delineamento do PPG7  A participação da sociedade civil na formulação e execução dos projetos que integraram o PPG7 cresceu ao longo dos anos. Nas primeiras discussões, o governo  recusou sua participação. Com a criação do GTA, em julho de 1991, tal contexto começou a mudar. O Decreto 563/92 criou a Comissão de Coordenação Nacional do PPG7 e abriu três vagas para as organizações da sociedade civil, duas ocupadas pelo GTA e uma pela Rede Mata Atlântica. 

A  resistência do governo brasileiro às ONGs pode ser explicada, em parte, pelo  fato do  tema da proteção ambiental no  lançamento do PPG7 ainda ser matéria de “Estado”, sensível ao governo brasileiro e tratado como  questão  de  soberania  e  segurança  nacionais. O  fato  de muitas  dessas ONGs  estarem  associadas  a movimentos  de  esquerda  também  reforçou  a  resistência,  que  gerou  a  reserva  no  seu  tratamento  e  a morosidade das decisões iniciais, principalmente em relação a órgãos da sociedade civil95. 

A participação do GTA na formulação da primeira proposta do PDA conseguiu instituir o repasse de recursos financeiros  diretamente  às  organizações  da  sociedade  civil.  A  evolução  desse  entendimento  foi  de  tal maneira positiva que o PPG7 passou a alocar fundos específicos para construção da capacidade operacional do GTA e da RMA. No  início do PDA, as discussões com o GTA e, posteriormente, com a RMA garantiram a 

95  Entrevista com funcionários do MMA, na época. 

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implantação do mecanismo desburocratizado dos desembolsos e a  implantação do Comitê Executivo com 50% de representantes das organizações da sociedade. O PPG7 fortaleceu essa participação incluindo as duas redes  ‐  GTA  e  RMA  ‐  nas  decisões  do  dia‐a‐dia,  nos  dois  planejamentos  anuais  e  nas  discussões  para nomeação da secretaria técnica.  O  clima  de  mudanças  descrito  anteriormente  permitiu  que  os  diferentes  projetos  evoluíssem  na  sua concepção  e  implantação,  adequando‐se  às  necessidades  e  exigências  da  sociedade,  o  que  é  uma  prova concreta do esforço adaptativo do PPG7, mesmo obrigado a dialogar com muitos  interlocutores: doadores, Banco Mundial, governo federal, governos dos estados, entidades executoras e beneficiários. Essa nova visão fez  com  que  os  novos  projetos  incluíssem  elementos  fortalecedores  do  próprio  processo  participativo:  o ProVárzea e o ProManejo  incluíram ações  comunitárias; o Proteger, a educação ambiental; os Corredores Ecológicos, as consultas populares e comitês executivos; e o PDPI, o desenvolvimento comunitário de grupos indígenas.  Os projetos desenhados mais recentemente  incluíram um esforço sistemático de participação da sociedade civil  desde  as  etapas  iniciais  de  preparação,  possibilitando,  assim, maiores  condições  para  que  os  atores sociais  influenciassem  a  tomada de decisões. O Proteger  II envolveu, na  sua execução, o Movimento dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais  (MSTR). O Projeto Corredores Ecológicos  foi concebido não como uma simples  conexão  de  unidades  de  conservação  ou  de  fragmentos  florestais,  mas  como  estratégia  de participação dos atores  locais na conservação e ordenamento  territorial. O Projeto Corredores Ecológicos começou  com  características meramente  técnicas, mas  a  realidade mostrou  a  necessidade  de  incluir  a sociedade  civil,  o  que  foi  feito:  tanto  na  equipe  como  no  grupo  de  trabalho  que  concebeu  o  projeto. O resultado  dessa  participação  é  o  atual  desenho  do  projeto  com  decisões  descentralizadas,  por meio  de comitês paritários dos quais participam atores locais.  

II. Participação da sociedade civil no âmbito do desenvolvimento comunitário (DC)  Na medida em que a sociedade consegue que seus anseios e aspirações sejam levados em conta no processo decisório,  está  construindo  as  bases  para  atender  às  suas  reais  necessidades.  Exemplo  concreto  dessa conquista:  os  projetos  demonstrativos  propostos  pelas  próprias  comunidades  e,  na  maioria  das  vezes, visando melhoria de renda.  Foi observado por alguns entrevistados que, no  início do PPG7, o caminho traçado foi “preservacionista” e, se dependesse do governo, essa posição teria sido ampliada, mas a influência da sociedade civil, da questão agrária, questão indígena e a herança de Chico Mendes levaram a uma mudança importante que consistiu na compreensão da importância do ser humano na conservação da natureza. Projetos como Resex, ProVárzea e ProManejo provaram a importância de aproximar os conceitos de conservação com a presença humana, um grande avanço no PPG7.  Alguns  projetos  foram modificados  visando  a  favorecer  o  DC. O  desenho  do  ProManejo  era  totalmente diferente: o nome era florestas nacionais e visava fortalecer o Ibama no desenvolvimento de flonas. Muitos eventos, reuniões e seminários com a participação da sociedade civil mostraram que era mais conveniente orientar  o  projeto  para  uma  política  de manejo  florestal mais  amplo,  que  permitisse  demonstrar  o  uso sustentável e a geração de renda, base para o DC.   O Projeto Resex era apenas um componente do projeto florestas  nacionais, mas,  devido  à  pressão  dos  extrativistas,  foi  desmembrado  como  projeto  específico, possibilitando estabelecer estratégias próprias para promover o DC no meio extrativista.  Os  projetos  formulados  a  partir  do  quarto  ano  de  execução  do  PPG7  propõem  objetivos  diretamente voltados para o DC. O desenho do Proteger II, em 2000, incluiu no seu Manual Operacional objetivos bastan‐te explícitos sobre qualidade de vida e organização social:  

Contribuir  para  a  conservação  do  ecossistema  amazônico,  a  partir  da  disseminação  do  conceito  de sustentabilidade que faz da conservação ambiental uma oportunidade de melhoria da qualidade de vida das populações locais.  

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Auxiliar a organização e a mobilização dos agricultores e agricultoras familiares, extrativistas e indígenas nas áreas atingidas pelo projeto. 

 O  PDPI  declarou  como  objetivo  “buscar  sustentabilidade  econômica,  social  e  cultural  para  os  povos indígenas da Amazônia Legal, associadas à conservação dos recursos naturais existentes em suas terras”. De forma  semelhante,  o  Subprograma Mata  Atlântica  definiu  como  segundo  objetivo  “promover  o  desen‐volvimento sustentável”.  6.4. Construção de projeto coletivo de desenvolvimento alicerçado na produção sustentá-vel: melhoria de renda  O  terceiro elemento  fundamental do DC é o planejamento entendido como movimento capaz de  levar ao alcance de uma situação desejada, de modo eficiente e eficaz com o maior aproveitamento de esforços e recursos disponíveis. O planejamento requer conhecimento da realidade (diagnóstico), propósito de mudar para melhor essa realidade mediante programas e projetos (estratégias) que levem ao futuro desejado (visão de  futuro), organização para dar  suporte  à operacionalização das  estratégias  e  integração de programas, projetos e instituições.  Considerando que o PPG7 não tinha como objetivo montar e executar uma estratégia de DC, a atuação na construção de um projeto coletivo de desenvolvimento foi limitada. Na Flona do Tapajós (ProManejo) e nas s extrativistas  chegou  a  ser  elaborado  um  plano  de  desenvolvimento  local.  Com  apoio  do  ProVárzea  e  do ProManejo,  várias  comunidades elaboraram planos  setoriais  comunitários e o  SPRN  contribuiu em  alguns municípios para a construção da Agenda 21 Local. Houve, também, atuação nas esferas essenciais do projeto coletivo, a organização, a integração e a melhoria de renda.  

I.  Organização para construção de um projeto coletivo 

O amadurecimento do processo mostrou que não bastava o conhecimento e a capacitação para construir um projeto  coletivo  de  desenvolvimento,  mas  ficou  evidente  que  os  representantes  da  sociedade  civil precisavam de  legitimidade, do respaldo das suas comunidades. Surgiu a necessidade de  investir em  forta‐lecimento institucional e organização social, pois a sociedade civil não consegue participar no planeja‐mento, tomando decisões legítimas e válidas para toda a comunidade se não existir certo grau de organização. 

Desde o  início, o PPG7 percebeu a necessidade de fortalecer a organização social e de  imediato financiou a estruturação e operacionalização das redes GTA e Mata Atlântica, que se tornaram parceiras indispensáveis para a implantação de vários projetos. Ambas tiveram um crescimento exponencial e melhor atuação local. O GTA  chegou a  se organizar em 18 unidades  regionais. Mais  recentemente  foram aprovados projetos para apoio  institucional das redes que abrigam 257 entidades na Mata Atlântica e 600 no GTA, as quais buscam defender, preservar,  conservar  e  recuperar  as  florestas  tropicais.  Percebe‐se,  então, que o  PPG7  investiu bastante  naquilo  que  constitui  a  essência  do  desenvolvimento  comunitário,  a  organização  da  sociedade, processos  intimamente  ligados  e  interdependentes,  pois  na medida  em  que  se  organiza  a  comunidade, desabrocha o desenvolvimento comunitário.  

II. Integração interinstitucional para o projeto coletivo  A  integração  interinstitucional  deve  ser  um  dos  principais  resultados  da  construção  do  projeto  coletivo, entretanto o PPG7 não  lhe deu  importância, pois se considerou auto‐suficiente e não  se  integrou a ações coordenadas por outras esferas da administração pública, voltadas também ao desenvolvimento das regiões de  florestas  tropicais.  Apenas  tardiamente  houve  preocupação  de  integrá‐lo  a  programas  executados  no âmbito do MMA. Em 2004, devido às crises provocadas pelos crimes ambientais cometidos na região do Arco do Desmatamento e à decisão de pavimentar a rodovia BR‐163 é que se pensou em articular ações do PPG7 com outros ministérios.  A  falta de orientação  integradora  limitou o  alcance de  todos os projetos  executados. Pode‐se  imaginar  a eficácia  dos  investimentos  realizados  se  tivessem  sido  integrados  programática  e  operacionalmente  aos realizados  pelos  Ministérios  da  Integração  Nacional,  do  Desenvolvimento  Agrário,  Educação,  Saúde, 

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Desenvolvimento Social, e aos programas e projetos estaduais e municipais.  Infelizmente, a visão foi outra: suprir o Estado onde ele não atuava, tentando solucionar apenas determinados entraves, deixando supos‐tamente  para  outras  áreas  do  governo,  sem  prévio  pacto  cooperativo,  a  solução  dos  demais  problemas impeditivos do DC.  Em que pese essa falha do PPG7, no dia‐a‐dia dos projetos, nos municípios e até nos estados ‐ por imposição às vezes da própria conjuntura, às vezes por iniciativa da lucidez dos executores ‐ houve ações integradoras de programas e projetos sem alcançar, porém, a repercussão necessária no âmbito do PPG7, por se tratar de casos pontuais. Tais iniciativas são mais perceptíveis no Resex I, ProManejo, ProVárzea, PDA e SPRN.  Alguns documentos do PPG7 deixam transparecer uma vaga vontade integradora, recomendada nos fóruns e avaliações, mas que não  foi suficientemente  traduzida em decisões e determinações práticas. Aliás, houve inúmeros seminários, workshops, capacitações para equacionar aspectos relativos aos vários projetos, com a participação praticamente de todas as instituições e ONGs voltadas à questão ambiental, mas, mesmo assim, passados os eventos, não aconteceu a integração programática e operacional.  

III. Melhoria de renda  A questão da renda é tão importante que 64% dos entrevistados sugeriram ações para o seu fortalecimento em programas  futuros, semelhantes ao PPG7. Essa  foi a sugestão que  recebeu maior número de adesões. Todos  os  projetos  direcionados  às  comunidades  trouxeram  elevação  de  renda,  conforme  indicadores  de melhoria  da  qualidade  de  vida  que  permitem  inferir  a  melhoria  de  renda,  e  constam  nas  diferentes avaliações anteriores, como:  

Conhecimento:  as  capacitações  trouxeram  conhecimentos  sobre diversificação da produção,  transfor‐mação para agregar valor, organização para alcançar economia de escala, melhoria de qualidade para melhorar o preço, que incidem diretamente na melhoria de renda. 

  Organização:  as  comunidades  passaram  a  constituir  associações  e  cooperativas  para  dar  eficiência  à produção, à comercialização e ao beneficiamento dos produtos, trazendo ganhos sensíveis na renda. 

  Novas  tecnologias:  as  comunidades  implantaram  Sistemas  Agroflorestais  (SAFs),  sistemas  de manejo florestal e de manejo de  recursos aquáticos; passaram a conhecer e  implantar a piscicultura, a apicul‐tura, a melhoria genética de pequenos animais  (galinhas e suínos); passaram a produzir couro vegetal, folha de defumação  líquida  (FDL), palmito  industrializado  e  castanha‐do‐brasil  tipo dry;  começaram  a utilizar  despolpadeiras  de  frutas  e  frigorificação  das mesmas; máquinas  de  beneficiamento  do  arroz, “casas  de  farinha”  melhoradas  e  engenhos  para  produção  de  rapadura;  conseguiram  melhorar  a qualidade  do  artesanato  e  chegaram  à  produção  sofisticada  de  instrumentos  musicais.  Tudo  isto significou agregação de valor e melhoria de renda. 

  Diversificação da produção:  aqui o  ganho  foi  significativo, pois,  em muitas  comunidades  a economia girava em torno, apenas, da farinha de mandioca. Visando à melhoria da renda, os projetos apoiaram as famílias  no  plantio  de  cacau,  guaraná,  café,  fruteiras,  hortaliças,  criação  de  pequenos  animais  como galinhas e suínos ou introduziram a piscicultura e a apicultura. 

  Redução  de  custos  de  produção:  com  a  introdução  de  tecnologias  foi  possível  abaixar  custos  de produção  que  incidem  na melhoria  de  renda,  como  a  não  utilização de  agrotóxicos,  a  diminuição  de capinas, o beneficiamento, transporte e comercialização conjunta da produção. 

  Redução de despesas: mediante produção familiar de itens de custo alto como o café, peixe e carne. 

  Introdução do crédito  rural: além dos  recursos  financiados pelo PPG7, nos diferentes subprogramas e projetos, as comunidades acessaram recursos de crédito dos programas Prodex e Pronaf para aumentar a produção e renda. 

 

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Exploração  de  recursos  não‐madeireiros:  os  projetos  apoiaram  o  incremento  da  renda mediante  a exploração de castanha‐do‐brasil, borracha, andiroba, copaíba, açaí, pupunha, palha, cipó e madeira para artesanato. 

  Saneamento básico: em muitas  comunidades, por meio de  trabalhos  coletivos e  apoio das entidades especializadas,  foi possível melhorar os hábitos higiênicos  e  a  captação de  água,  e  construir privadas higiênicas, com repercussão direta sobre a melhoria da saúde e aumento da renda pela produtividade no trabalho. 

  Habitação: vários projetos conseguiram constatar, em suas avaliações, que houve sensível melhoria nas habitações,  com  construções  em madeira  (e não palha). Com o  apoio de um programa  específico do Incra, todas as casas dos moradores das Resex estão sendo melhoradas. 

  Segurança alimentar: foi alcançada pela diversificação da produção e por meio de outras medidas como os acordos de pesca nos lagos e rios, a introdução de sistemas de captura ambientalmente corretos que permitiram o aumento da disponibilidade de alimento. 

  Meios de transporte: boa parte das comunidades melhorou seus meios de transporte, fator que  incide diretamente no escoamento da produção e obtenção de melhor preço, levando ao aumento da renda. 

  Utensílios  domésticos:  durante  12  anos  do  PPG7,  muitas  famílias  obtiveram  meios  para  adquirir utensílios  fundamentais  como  fogão  a  gás,  geladeira,  armário,  cama,  mesa,  televisão  com  antena parabólica e bateria, e aparelho de som. 

 Os projetos demonstrativos (PDA) implantados na Mata Atlântica (44) e na Amazônia (144), na sua maioria, foram  direcionados  para  demonstrar  a  viabilidade  do  aumento  de  renda  e  alcançaram  o  objetivo.  “O aumento de renda é um resultado concreto que aparece claramente em quinze relatórios, dos 20 projetos avaliados  na  Amazônia. Mas  há  também  ganhos  econômicos  com  redução  de  gastos  tanto  na  produção quanto na casa, e ganhos em alimentação e saúde que as comunidades valorizam muito.” 96  A avaliação de 12 projetos PDA na Mata Atlântica e 20 na Amazônia corroboram as afirmações anteriores. Citamos apenas alguns exemplos: 

Aumento do valor mediante a certificação orgânica do café ‐ Simonésia (MG);  Ganho adicional com a comercialização direta da banana ‐ Ivaporunduva (SP);  Comercialização direta de produtos agroecológicos ‐ Apremavi (SC);  Ecoturismo: pousadas e pesque‐pagues ‐ Apremavi (SC);  Organização e comercialização coletiva e agroindústria ‐ Centro Ecológico (RS);  Classificação das ostras e marca regional para aumentar valor ‐ Cananéia (SP);  Aumento da produção de erva‐mate com nova tecnologia ‐ AS‐PTA (PR);  Supressão de agrotóxicos e redução em 40% da mão‐de‐obra no trabalho com café ‐ Simonésia (MG);  Abastecimento de lenha (combustível) mediante poda do SAF (Reflorar) ‐ Recôncavo Baiano (BA);  Geração de 40 novos empregos ‐ APA Ouro Preto do Oeste (RO); e  Tanques de peixes são a caderneta de poupança ‐ Cametá (PA). 

 A  sistematização de experiências  feitas pelo PDA  revela que uma delas  ‐ comercialização mediante venda direta pelos produtores, coordenada pelo Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá, na feira de Serra Talhada  (PE) e no Bairro das Graças, em Recife, por meio do Espaço Agroecológico  ‐ constatou a elevação média da renda mensal dos participantes em 192%, durante 4 anos. Alguns produtores chegaram a aumentar sua renda em 378%.   A  renda mensal evoluiu, por exemplo, de R$ 240,00 para R$ 1.200,00; de R$ 600,00 para R$ 1.300,00; ou de de R$ 200,00 para R$ 1.000,00.  

96 MMA/PPG7 ‐ Estudos da Amazônia: Avaliação de Vinte Projetos PDA. p. 50. 

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As  iniciativas  tomadas pelo Resex,  certamente,  incidiram na melhoria de  renda:  instalação de 21  cantinas comunitárias  com um  fundo  rotativo de R$  540 mil para  evitar  lucros  abusivos dos  intermediários;  cons‐trução de 36 armazéns comunitários para assegurar a qualidade da produção; instalação de 170 unidades de beneficiamento para  agregação de  valor  ao produto  ‐ mandioca  (72), borracha  (65),  grãos  (19),  rapadura (12), palmito (uma) e castanha‐do‐brasil (uma); implementação de 734 hortas comunitárias, 123 novos gali‐nheiros e 35 pocilgas; implantação de 72 viveiros com produção de 200 mil mudas, especialmente frutíferas.  De forma semelhante, o ProManejo implantou 35 projetos produtivos para melhorar a renda familiar, sendo nove na Flona do Tapajós no valor de cerca de R$ 2,5 milhões, e 26 no valor de cerca de R$ 8 milhões nos estados da Amazônia. Os projetos foram direcionados ao manejo florestal, manejo comunitário e manejo de uso múltiplo.   O ProManejo  também  financiou 42 projetos de  capacitação e organização  social para o manejo  florestal, visando à melhoria de renda, no valor aproximado de R$ 4,6 milhões.  O ProVárzea não limitou seus objetivos aos cuidados da fauna e flora, mas contribuiu de forma efetiva para a melhoria  da  qualidade  de  vida  das  comunidades  ribeirinhas.    O  trabalho  de  ordenamento  pesqueiro mediante os  acordos de pesca  foi um processo educativo que motivou o desenvolvimento  comunitário e deixou, em vários lugares, comunidades organizadas e com planos para melhorar suas condições de vida.  As  iniciativas comunitárias de desenvolvimento sustentável priorizaram a gestão participativa dos  recursos naturais da várzea, buscando a melhoria de  renda. Houve concentração de projetos e esforços que muito contribuíram para tal objetivo em Gurupá e Santarém, no Pará; e nos municípios do Alto Solimões, Silves e Tefé (AM).  O  ProVárzea,  por meio  do  Componente  Iniciativas  Promissoras,  financiou  16  comunidades,  com  valor  de cerca de R$ 3 milhões para  incrementar a renda mediante o manejo de recursos naturais de várzea. Finan‐ciou, ainda, oito projetos de capacitação e organização para o manejo sustentável dos recursos de várzea, no valor aproximado de R$ 1,3 milhão e um projeto de turismo ecológico com R$ 635 mil.  O Projeto Negócios Sustentáveis  (PNS) potencializou vários grupos e atores  sociais para melhorar a  renda promovendo  as  seguintes  iniciativas:  formação  de  arranjo  institucional  para  Central  de  Cooperativas, pesquisas  de mercado,  estudos  de  viabilidade  econômica,  apoio  à  comercialização, melhoria  na  apresen‐tação e divulgação de produtos, apoio à gestão empresarial, promoção de feiras de produtos e intercâmbio de experiências entre produtores, além de apoio às iniciativas promissoras e ao artesanato regional.  O  Projeto Mata  Atlântica  implantou  SAFs  em  várias  comunidades  com  fruteiras  tropicais,  cacau  e  café, fazendo,  simultaneamente,  recuperação  agroflorestal  de  nascentes. O  testemunho  das  pessoas  entrevis‐tadas mostrou  um  alto  grau  de  satisfação  devido  à  segurança  alimentar  conquistada  e  à  diversificação econômica conseguida. Ressalte‐se que esses trabalhos foram apoiados com a produção de mudas.  No PPTAL houve um grande esforço para que a intervenção do PPG7 não fosse simplesmente a demarcação, mas  incluísse capacitação, planejamento e execução de projetos complementares voltados à melhoria das condições de vida. A complementação foi alcançada com a o PDPI ‐ projetos demonstrativos para atividades econômicas sustentáveis, valorização cultural e fortalecimento institucional das organizações indígenas.  Os depoimentos dos entrevistados podem ser resumidos da seguinte forma: nos lugares onde atuou, o PPG7 conseguiu melhorar a qualidade de vida das  comunidades, evidenciada pelos ganhos na  saúde, na  renda, manejo  dos  recursos  naturais,  qualidade  ambiental,  consciência  política,  organizacional  e  ambiental,  na formação de capital social mediante capacitação de muitas lideranças e aquisição de conhecimentos trazidos pelos repetidos cursos. A maioria das atuais  lideranças foi formada pelo PPG7 e algumas ocupam cargos no governo.  Quanto ao desenvolvimento comunitário, o PPG7  influenciou mudanças que  foram  iniciadas por pequenos projetos que vão provando a viabilidade das  inovações, mesmo em uma estrutura  regional extremamente 

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concentradora de  terras e onde predominam as oligarquias. Pode‐se até afirmar que o PPG7 aplicou uma estratégia diametralmente oposta àquela aplicada pela Sudam que apenas apoiou grandes  investimentos, distantes  da  cultura  e  economia  local,  que  fracassaram  totalmente. O  Programa  Piloto  atuou,  principal‐mente, com as comunidades, provando que é possível gerar riquezas e construir mudanças positivas.  6.5. Outros elementos integrantes do DC  Transversalmente, vários temas fazem parte do DC.  Serão analisados apenas três: um por constar no Termo de  Referência,  a  cultura  tradicional;  outro  pela  sua  atualidade,  gênero;  e  o  terceiro  por  ser  a  fonte  que alimenta todos os processos, a capacitação.  

I. Gênero e desenvolvimento comunitário  

É  impossível pensar em DC sem pensar na eqüidade de gênero, elemento  fundamental para o verdadeiro desenvolvimento. Em 2005, o PPG7 patrocinou um estudo sobre o  tema: "Fazendo Gênero na Amazônia  ‐ Ações pela Inclusão e Igualdade" 97, que registra abordagem sobre as relações de gênero de maneira pontual, em  alguns  programas  e  projetos.  O  Proteger  destaca‐se  no  conjunto,  pois  vem  pensando  o  papel  das mulheres de  forma estrutural e  revelou que há uma grande  lacuna em  termos de  formação  técnica para mulheres, especialmente nas áreas de produção e gestão de recursos naturais. O Proteger, então,  investiu bastante na formação técnica de mulheres no campo. (....) Uma das estratégias adotadas, nesse sentido, foi estabelecer  uma  cota  para mulheres  nos  seus  cursos  de  formação  técnica. O  estudo  demonstra  que  as mulheres, freqüentemente, são desvalorizadas naquilo em que têm um papel importantíssimo: a segurança alimentar. Em um projeto para a produção de alimentos, como os projetos de SAFs, as mulheres têm sido excluídas. Trata‐se de mais um reflexo da separação entre o técnico e o doméstico, o primeiro visto como uma esfera de domínio masculino, vetado às mulheres.  Apenas o ProVárzea conta com uma experiência de microcrédito dirigido às mulheres. Essa é uma  iniciativa muito  interessante, pois o acesso das mulheres aos  recursos simbólicos e materiais em nossa sociedade é restrito. No Projeto Resex, não obstante as associações‐mães das reservas serem espaços de predominância masculina, pequenas associações de mulheres têm sido criadas, a cada ano.  Constata‐se, ainda, que não é um tema de reflexão e não conta com ações específicas no âmbito da gestão das  equipes  do PPG7. Carência que  vai  se  refletir  na  execução de  grande  parte de  seus  subprogramas  e projetos. De um modo geral, conclui‐se que o PPG7 não dispõe de uma política de estímulo à adoção de um olhar atento às relações de gênero, em suas ações em campo.  O  resultado  das  entrevistas  revela  que  apenas  um  terço  de  seus  subprogramas  e  projetos  apresenta preocupação  e  interesse  pela  temática. Mas mesmo  entre  esses,  as  ações  desenvolvidas  com  o  fim  de contribuir para a redução de desigualdades nas relações de gênero não são sistemáticas. Em grande parte dos casos, essas ações também decorrem da sensibilidade de alguns secretários  (as)‐técnicos  (as), coorde‐nadores (as), técnicos (as), não estando, assim, enraizadas na estrutura dos subprogramas e projetos.  O documento apresenta quatro sugestões a serem incorporadas pelo PPG7:  

1. Criação de linha específica de projetos para fortalecimento das organizações de mulheres;  2. Criação  de  editais  específicos  para  apoio  aos  projetos  que  fortaleçam  e  ampliem  o 

empoderamento das mulheres, como agentes do desenvolvimento sustentável;  3. Desburocratização das linhas de apoio aos projetos de produção sustentável; e  4. Adoção de estratégias que garantam a abordagem de gênero, de forma estrutural, em todos os 

subprogramas e projetos do PPG7.98  

 

97 MMA/PPG7/GTA/Proteger ‐ Fazendo Gênero na Amazônia. Ações pela Inclusão e Igualdade. 2005. 98 Idem. p. 44. 

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   II. Preservação da cultura tradicional  No mundo  inteiro é  reconhecido o  valor das  culturas  tradicionais  como uma  riqueza, uma diversidade na visão  e  interpretação  da  vida,  que  encerra  muitos  conhecimentos,  muitas  vezes  restritos  a  pequenas comunidades. Ao mesmo  tempo, é  reconhecido que esses conhecimentos perdem‐se com a destruição do habitat dessas populações, como é o caso das florestas tropicais, onde a  importância da cultura tradicional diz respeito, especialmente, aos conhecimentos que ela abriga sobre a conservação e utilização sustentável da  diversidade  biológica.  Os  especialistas  na  matéria  nos  dizem  que  essas  culturas  abrigam  parte considerável do saber sobre diversidade biológica conhecido hoje pela humanidade.  O PPG7 ‐ consciente do seu papel de proteção da diversidade biológica ‐ apoiou a manutenção das culturas tradicionais com projetos específicos para atender populações tradicionais, como o PPTAL, o PDPI e o Resex: com projetos  financiados pelo PDA, Negócios  Sustentáveis, ProVárzea  e ProManejo, buscando  valorizar  a cultura  tradicional,  aperfeiçoando  técnicas  tradicionais  como manejo  de  recursos  florestais  e  faunísticos, meliponicultura, artesanato  tradicional, e beneficiamento de alimentos  locais, óleos vegetais, artesanato e plantas medicinais.  O  PDA  levou  em  consideração  a  participação  e  o  conhecimento  das  populações  locais  em  todos  os momentos da execução dos projetos, especialmente nos aspectos de produção e gestão.  O  ProManejo,  além  de  apoiar diretamente  comunidades  tradicionais no  fortalecimento  da  sua  economia mediante o manejo sustentável,  financiou atividades para manter e  fortalecer a cultura  local, promoveu a publicação  de  livretos  e  cartilhas  com  o  objetivo  de  preservar  contos,  lendas  e  tradições,  e  história  das comunidades. Foram gravados CDs com músicas criadas e cantadas por membros das comunidades locais.  O ProVárzea  ‐ na sua estratégia de comunicação  ‐ divulgou a cultura  local e apoiou publicações que valori‐zassem  cantos, histórias,  lendas  e  tradições,  contribuindo,  assim, para  a preservação da  identidade  local. Vale à pena mencionar a criação de uma coleção de publicações intitulada “Retrato Regional”, entre as quais está “Amazônia: pescadores contam histórias”, que resgata e documenta histórias de pescador. Foi possível chegar aos acordos de pesca graças aos conhecimentos tradicionais dos pescadores, que serviram de marco de referência.  Desde  o  início  da  elaboração  do  PPG7  foi  priorizado  o  atendimento  às  populações  tradicionais  parti‐cularmente vulneráveis às  formas de ocupação e de exploração da região. Um exemplo é a prioridade nas negociações  do  PPTAL  e  Resex,  projetos  que  atingiram  a meta mais  importante:  garantir  às  populações tradicionais a terra, seu habitat, condição  indispensável para que elas possam manter viva sua cultura. Em segundo  lugar,  os  trabalhos  de  proteção  dos  recursos  naturais  realizados  pelo  PPG7  nessas  áreas  foram planejados e executados com a participação das populações, exatamente com o objetivo de  respeitar sua cultura. O Plano de Utilização das Reservas Extrativistas é um exemplo, pois nele constam as atividades que podem ser feitas e as que não podem ser feitas, conforme os usos tradicionais e o interesse na conservação dos recursos naturais. Esta estratégia fortalece a consciência política e os laços da coletividade.  O  PPTAL promoveu  levantamentos  etnoecológicos  visando  gerar  conhecimento  ambiental  e  cultural  inte‐grado, a ser aplicado pelas comunidades  indígenas na gestão de  suas áreas. O PDPI executa curso de  for‐mação de gestores de projetos indígenas, com duração de um ano, indicados pelas organizações indígenas.  Outra  forma de valorização cultural das populações  tradicionais,  incentivada pelo PPG7,  foi a aplicação de métodos participativos no  trabalho de proteção e defesa dos  recursos naturais dos seus  territórios. Assim aconteceu  na  demarcação  de  terras  indígenas  e  gestão  de  reservas  extrativistas,  e  nos  projetos  comuni‐tários do ProVárzea e ProManejo.  Outro  avanço  a  favor  da  cultura  tradicional  foi  a  participação  do  PPG7  em  trabalhos  promovidos  pela Coordenação Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), resultando em um documento que orienta, com nova mentalidade, os serviços de assistência técnica 

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que devem ser prestados às populações  tradicionais, com  técnicos qualificados que  respeitem e valorizem sua cultura.  

   III. Capacitação e formação de lideranças comunitárias  A  capacitação  é  outra  etapa  indispensável  para  construção  da  gestão  social  e  38%  dos  entrevistados afirmaram  que  a  capacitação  foi  o melhor  resultado  do  PPG7,  pois  promoveu,  nas  áreas  onde  atuou,  o desabrochar de uma nova mentalidade, mais  favorável ao desenvolvimento  sustentável. Algumas pessoas afirmaram que foi formada uma massa crítica e um capital humano capazes de dar continuidade ao esforço pela  sustentabilidade.  Outros  consideraram  a  capacitação  um  dos  melhores  investimentos  do  PPG7  e afirmaram que, se não tivesse sido assim, bem poucos resultados teriam sido alcançados.  As populações beneficiadas pelo PPG7, geralmente, moravam  isoladas dos meios de comunicação e como tal, precisavam de muita  informação e capacitação. Na Mata Atlântica existem algumas diferenças: as exi‐gências de capacitação são menores do que na Amazônia, dado que a maioria das pessoas conta com infor‐mações e deseja conservar a floresta remanescente. O que falta é tecnologia para aumentar a produtividade nas áreas antropizadas e evitar avanços sobre aquelas que ainda conservam seus recursos naturais.  Essa massa crítica e a nova mentalidade foram resultados do conjunto de capacitações dos subprogramas e projetos, dentre as quais vale a pena citar:  O SPRN criou o Programa de Capacitação Ambiental (PCA) que, implementado entre 1999 e 2003, promoveu cerca de 450 ações entre cursos e treinamentos, atingindo diretamente mais de 10 mil pessoas. Estão sendo implementados os Programas Estaduais de Capacitação Ambiental (Peca).  O PDPI executou um amplo programa de capacitação para acompanhamento  indígena das demarcações e para  implementação de ações de vigilância e proteção das  terras  indígenas, além de montar um curso de duração de um ano para formação de gestores de projetos indígenas.  O Proteger II buscou trabalhar a formação de lideranças de entidades locais que, por sua vez, multiplicariam a  formação  para  outros  atores  com  o  objetivo  de  prevenir  incêndios  florestais  e  promover  práticas sustentáveis  de  produção  (puxiruns  ambientais). O  Proteger  atingiu mais  de  54 mil  pessoas,  a  partir  da realização de seminários, reuniões, cursos, visitas domiciliares e puxiruns.  O Resex  I  chegou  a  capacitar  1.718  famílias,  200  lideranças  e  137  agentes  ambientais  voluntários  abran‐gendo aspectos diversos, como gestão das associações, participação social e cidadania, técnicas agroecoló‐gicas,  tecnologias  para melhorar  a  qualidade  da  produção  e  agregar  valor  ao  produto,  associativismo  e cooperativismo, gênero, liderança e solução de conflitos, vigilância e fiscalização das reservas.  Praticamente  todos  os  beneficiários  dos  projetos  PDA,  ProVárzea  e  ProManejo  participaram  de  vários eventos  de  capacitação,  especialmente  as  lideranças.  Pode‐se  afirmar  que  quase  todos  os  subprojetos financiados  por  estes  projetos  continham  componentes  de  capacitação.  A  partir  do  número  de  projetos financiados ‐ inclusive seminários, oficinas e cursos ‐ o PDA realizou mais de 200 eventos de capacitação.  Além  dos  42  projetos  de  capacitação  e  organização  social,  patrocinados  pelo  ProManejo,  no  valor aproximado  de  R$  4,6 milhões,  foram  realizados muitos  seminários  e workshops  para  compreensão  das estratégias de manejo  florestal.  “De 1999  a 2004, o ProManejo havia  capacitado e  sensibilizado  cerca de 4.600 pessoas na Amazônia Legal, a partir da prática de “dias de campo”, palestras e seminários "99.  Os  inúmeros eventos de  capacitação patrocinados pelo ProVárzea  sempre  tiveram  a marca do  “aprender fazendo” à procura de modelos de gestão do rico ecossistema onde tudo estava por ser feito. Tratava‐se de descobrir e  consolidar  sistemas para uso  sustentável. O projeto  todo  foi uma aprendizagem  contínua. No subcomponente  co‐gestão, boa parte das  ações  tratavam da  capacitação  junto  ao Grupo de  Trabalho de 

99  MMA/PPG7 ‐ Série Estudos 3. p. 19. 

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Várzea  (GTV), aos agentes ambientais voluntários  (AAV), à Unidade  Integrada de Defesa Ambiental (Unida) ou às associações e conselhos municipais.  6.6. Lacunas do PPG7 no desenvolvimento comunitário  Para facilitar a análise são apontadas três principais lacunas: ambigüidade de propósitos; falta de integração programática e operacional com outros projetos e programas; e falta de uma estratégia municipal 

 6.6.1. Ambigüidade de propósitos  A ambigüidade aparece no mais alto nível de concepção do PPG7 quando no seu objetivo geral propõe‐se “implementar uma abordagem de desenvolvimento sustentável”, mas não é definido exatamente qual é seu grau de  comprometimento  com  tal desenvolvimento.  Esta definição permitiria delimitar,  também, qual o comprometimento  com o DC. Tudo  indica, e aqui está a ambigüidade, que o pressuposto  colocado  como base de tudo, a posteriori mostrou‐se vulnerável,  isto é, que o governo brasileiro, os governos estaduais e municipais, automaticamente,  fariam sua parte alocando, por exemplo, a  infra‐estrutura necessária para o desenvolvimento acontecer.  A  ambigüidade persistiu por não  terem  sido definidos,  exatamente, quais  eram  as obrigações do PPG7  e quais as dos governos. Tanto é verdade que, em alguns municípios, os prefeitos não  investiram em certas áreas porque eram "responsabilidades do PPG7”, quando sabemos que este não dispunha de recursos para ações fundamentais como saneamento, educação, saúde, transporte e eletrificação.  A  situação ambígua  repete‐se no bojo dos projetos. É verdade que houve avanços, como  foi visto, com a incorporação, na  formulação dos projetos mais recentes, da  intenção explícita de realizar desenvolvimento comunitário e formular políticas públicas. Mas aqui, novamente, há a impressão de que os projetos tomaram tal propósito como algo que se alcança automaticamente executando os componentes do projeto, pois as intenções não foram acompanhadas por orientações claras e ações estratégicas.  A  ambigüidade  poderia  ter  sido  reduzida  se  tivesse  havido  debates,  com  seminários  e  oficinas,  para harmonização conceitual dos temas desenvolvimento sustentável, desenvolvimento comunitário e políticas públicas. Isto não aconteceu e cada um fez de acordo com o seu entendimento.  6.6.2. Falta de Integração programática e operacional com outros programas e projetos  Levantamentos feitos demonstram que mesmo nos municípios mais afastados dos centros de decisão, como por exemplo, Brasiléia  (AC),  funcionam, no mínimo, 20 programas ou projetos dos diferentes ministérios: Educação, Saúde, Desenvolvimento Social, Desenvolvimento Agrário,  Integração Nacional, Cidades, Minas e Energia, Comunicações, mais os projetos do próprio Estado e os projetos de algumas autarquias como Incra, Caixa Econômica e Banco do Brasil.   Sabe‐se  que  cada  subprograma  ou  projeto  do  PPG7,  para  alcançar  seus  resultados,  quando  necessário, procurou  integração, mais por necessidade operacional que por  convicção  filosófica e metodológica, pois novamente faltaram, por parte da Coordenação do Programa, ações mais enérgicas: definição de estratégia de  integração,  alocação  de  recursos  para  tal,  estudos  para  tornar  a  integração  eficaz,  alianças  ínterins‐titucionais  e  programáticas  mediante  convênios,  acordos  de  cooperação,  consórcios,  isto  é,  arranjos institucionais.  Ao  que  parece,  este  foi  o  ponto mais  fraco  do  PPG7,  ao menos  do  ponto  de  vista  do  desenvolvimento comunitário e das políticas públicas,  temas essencialmente  integradores e que exigem  a  convergência de programas e projetos para poder alcançar resultados. 

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6.6.3. Falta de uma estratégia municipal  A partir da Constituição Brasileira de 1988, a descentralização buscando o protagonismo dos municípios é a tônica  do  desenvolvimento,  uma  vez  que  inúmeros  exemplos mostram  que  tudo  acontece  no município, sendo que  as esferas estaduais e  federal  têm  como objetivo  apoiar os municípios. A municipalização das ações  está  sendo procurada por  todos os ministérios, mas,  infelizmente, não  aconteceu  com o PPG7, ou melhor, as atividades  foram executadas nos municípios, mas sem uma estratégia municipal de desenvolvi‐mento. Em alguns municípios, vários projetos atuaram, porém de forma isolada e sem coordenação.  Pretende‐se  que,  na  segunda  fase,  “o  PPG7  possa  viabilizar  experiências  de  gestão  ambiental  local, envolvendo  conjuntos  de  municípios  de  forma  integrada  e  estimulando  a  formulação  de  instrumentos tributários que  incentivem  a proteção dos  recursos naturais,  a exemplo das experiências  já existentes na implantação  do  ICMS  ecológico  em  alguns  estados  e  na  discussão  de  instrumentos  similares  no  âmbito federal. Tais demandas serão integradas às ações estratégicas voltadas ao desenvolvimento territorial" 100.  Com exceção do SPRN, criado para fortalecer os órgãos estaduais de meio ambiente e criar um modelo de gestão  ambiental  no  estado,  os  relatórios  de  progresso  dos  projetos,  em  raríssimos  casos, mencionam algumas articulações com os governos estaduais e as prefeituras. Colhe‐se a impressão de que as atividades eram realizadas sem levar em conta a existência de programas e projetos estaduais e municipais.  Uma  forma de se aproximar dos municípios é direcionar as ações para o desenvolvimento  local/territorial, como é reconhecido e expresso ao selecionar as Linhas Temáticas para uma segunda etapa do PPG7, durante o  Seminário  ad  hoc  realizado  em  dezembro  de  2001.  Naquela  ocasião,  uma  das  linhas  escolhidas  foi  o desenvolvimento territorial para “contribuir com uma maior  integração entre as políticas ambientais e de‐mais políticas de desenvolvimento  ‐  fundiário, agrícola e de  transportes  ‐  incluídas nos PPAs  federal, esta‐duais e municipais.” 101  

Apenas  no  SPRN‐Consolidação,  em  2005,  apareceram  ações  com  enfoque  de  território,  embora  não intencionalmente  buscando  este  tema  e  sim  buscando  a  solução  de  um  problema  que  atinge  vários territórios vizinhos. Trata‐se do Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável para a área de Influência da rodovia Cuiabá‐Santarém, conhecido como Plano BR‐163 Sustentável. 

 6.7. Conclusão: ações comunitárias, característica do PPG7  O desenvolvimento comunitário, alcançado pelo PPG7, é mais visível em dois de seus aspectos: 

1. A inclusão de populações na socioeconomia do país; e 2. organização dessas comunidades que estavam excluídas. 

 Esses aspectos foram evidenciados por vários projetos. A não utilização da economia monetária e a falta de medição de um “marco zero” inicial não impediram a verificação de melhoria da qualidade de vida, que não alcançou patamares maiores porque faltou integração entre as políticas públicas.  Por  se  tratar  de  um  programa  piloto, mesmo  que  seu  objetivo  fosse melhorar  as  condições  de  vida  das populações, seu enfoque é ambiental, de proteção e diminuição do desmatamento, e como tal conta com o pressuposto  de  que  a  infra‐estrutura  e  demais  exigências  para  possibilitar  o  DC  seriam  supridas  pelo governo. Não se pode, portanto, responsabilizar o PPG7 pelo desenvolvimento das comunidades onde atuou, devido ao seu papel, apenas, de colaborador e apoiador do processo.  A análise dos diferentes projetos permite afirmar que todos procuraram “contribuir”, “apoiar” e “fortalecer” setores econômicos ou  camadas  sociais, apenas  alguns  componentes específicos da  comunidade. O PPG7 não  é  um  programa  de  desenvolvimento  integrado,  local  ou  territorial.  A  contribuição  para  o  desen‐volvimento  dirige‐se,  sempre,  a  um  segmento  da  economia  ou  da  sociedade. Mesmo  nos  casos  em  que 

100 MMA ‐ Proposta de Estrutura da Segunda Fase do PPG7. 12 p. Brasília, junho, 2002. 101  MMAPPG7 ‐ Arquivos: Relatório do Seminário sobre Linhas Temáticas para a Segunda Fase. 

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trabalhou com áreas bem definidas, como é o caso do Projeto Resex e do PPTAL, os  investimentos  foram direcionados, apenas, para aspectos específicos.  Por exemplo, não havia recursos ‐ oriundos de outros parceiros ‐ para resolver importantes problemas como saneamento,  saúde, educação e  infra‐estrutura de estradas, pontes, eletrificação. No  caso do Resex, após vários anos de negociação, apenas em 2001 começaram a ser aplicados recursos provenientes de parcerias com o Incra e Funasa. Posteriormente, entraram parceiros como Luz para Todos, Eletronorte, Embratel e os movimentos sociais.  Mesmo assim, os resultados obtidos permitem concluir que os projetos tiveram, na sua  intencionalidade e execução,  espaços  e momentos  de  “ações  comunitárias”,  entendidas  como  “as  atividades  desenvolvidas pelas  comunidades  a  partir  da  tomada  de  consciência  dos  seus  problemas,  organização  para  resolvê‐los, utilização dos seus recursos e potencialidades, contando com a colaboração das entidades existentes”.  Por outra parte, a mudança substancial não depende apenas de um “programa piloto” e sim da articulação de um  conjunto de políticas públicas,  situação explicitada por um dos  entrevistados:  “Todo o  esforço do PPG7 com  inúmeras pequenas experiências, contribuiu muito pouco para o combate à pobreza, pois essas pequenas  coisas  não  modificam  o  grande  mercado.  Um  programa  que  pretenda  modificar,  substan‐cialmente, a situação da Amazônia deve ter a ótica do mercado. A ótica do PPG7 era outra ‐ a solução estava a partir das  comunidades,  lá dentro da  floresta,  e  a  solução  está  fora. A  verdadeira  solução  consiste  em encontrar arranjos produtivos que liguem a cidade com o setor florestal. As pequenas experiências positivas devem ganhar escala e se transformar em políticas públicas."  6.8. Lições aprendidas

I. Sobre a participação  

Todos  os  projetos  recomendaram  a  participação  da  sociedade  civil  e  criaram  comissões  para  tomar decisões,  incluindo membros da  sociedade civil. Entretanto, estas medidas não  foram  suficientes para uma verdadeira participação porque as comissões só tratavam de assuntos muito genéricos. 

  Para o governo é muito importante contar com o respaldo popular na tomada de decisões, respaldo que é assegurado pelas organizações da sociedade civil. 

  A participação da sociedade civil foi possível onde esta fez pressão e para tanto, precisou de certo grau de organização. Onde não houve organização, também não houve participação. A pressão foi mais forte onde a sociedade vislumbrava a possibilidade de melhorar as condições de vida (DC), como é o caso do PDA, PPTAL, Resex I, ProVárzea, ProManejo, PDPI e Proteger. 

  A participação da sociedade civil faz com que o projeto seja desenhado e implementado para atender às reais necessidades do grupo, mas o espaço para participar depende muito da compreensão dos técnicos que coordenam os projetos. 

  A participação da sociedade civil na tomada de decisões exige dotação orçamentária para capacitação, organização, deslocamentos,  atividades de  campo. O  simples  repasse de  recursos  financeiros para  as organizações não significa que estas vão adquirir a capacidade decisória.   

  As  vantagens  da  participação  da  sociedade  civil  na  gestão  dos  projetos  não  se  reduzem  ao  respaldo político  e  ao  atendimento  das  reais  necessidades,  pois  incluem,  também,  as  pessoas  cujos  conheci‐mentos e capacidades permitem a diminuição de custos e a execução correta das tarefas, bem como a “apropriação” do projeto.  

  Uma das principais vantagens da participação é que ela é o verdadeiro caminho para o  fortalecimento das organizações locais e formação de lideranças, e tais objetivos não se alcançam com a simples capa‐citação ou transferência de recursos financeiros. Um projeto ‐ ao permitir a participação nas decisões e 

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investir na capacitação ‐ alcança o objetivo de empoderamento da sociedade civil. Assim, a participação é uma espécie de capacitação “em serviço”. 

  A participação da sociedade civil não deve ficar limitada a consultas ou fiscalizações, mas deve criar um diálogo entre os diferentes atores que permita definir o rumo dos projetos. 

      II. Sobre capacitação 

  Graças ao grande empenho na capacitação é possível fazer crescer a consciência ambiental, a vontade de participar  na  conservação  do  meio  ambiente  e  o  esforço  para  fazer  uso  sustentável  dos  recursos naturais. 

Nas comunidades onde o PPG7 atuou, por vários anos, foi possível estabelecer um diálogo que compre‐endeu  diagnóstico  da  realidade  rural,  construção  coletiva  de  projetos  (planejamento),  acompanha‐mento  da  execução  (monitoramento)  e medição  de  resultados  (avaliação),  visando  a  uma melhoria contínua. Existem exemplos no ProManejo, ProVárzea e Resex I. 

Há maior alcance de resultados quando a capacitação é direcionada às lideranças comunitárias. 

A  capacitação é  fundamental no apoio aos projetos em  suas várias etapas, desde a  sensibilização das pessoas,  a  construção  de  objetivos  comuns,  a  identificação  de  áreas  de  atuação,  a  construção  de parcerias, e a execução participativa do monitoramento e avaliação. Avaliações de programas  implan‐tados na região concluíram ter sido a  falta de conhecimentos  ‐ ambientais, tecnológicos e gerenciais  ‐, uma das principais causas do fracasso de muitos projetos. 

  São alcançados melhores resultados quando os procedimentos são práticos, a partir de realidades con‐cretas, de troca de saberes com pessoas que vivenciavam situações concretas.  

Há maior eficiência quando se pratica uma aprendizagem social e coletiva, formando uma “comunidade de  aprendizagem”.  Estabelecem‐se,  assim,  compromissos  solidários  entre  as  pessoas  envolvidas  no processo,  possibilitando  construir  soluções  compartilhadas.  As  “comunidades  de  aprendizagem” amadurecem  e  assumem  o  papel  de  colaboradores  na  gestão  dos  recursos  naturais  e  no  próprio desenvolvimento comunitário. 

  Uma  grande  dificuldade  para  a  capacitação  é  a  dispersão  populacional,  aliada  à  falta  de meios  de comunicação e transporte eficientes, e entidades e programas educacionais existentes são  insuficientes para atingir essa população.  

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CCAAPPÍÍTTUULLOO VVII

AARRRRAANNJJOOSS IINNSSTTIITTUUCCIIOONNAAIISS EE GGEESSTTÃÃOO DDOO PPPPGG77

ste  capítulo  aborda,  inicialmente,  a  evolução  dos  arranjos  institucionais  da  implementação  do  PPG7, examinando  sua  formulação  inicial  e  coerência  com  os  objetivos  do  PPG7,  além  do  impacto  desta 

evolução  nas  recentes  iniciativas  do  governo  federal  para  a  Amazônia.  Em  seguida,  analisa  aspectos  de financia‐mento, seus desdobramentos organizacionais e procedimentos operacionais. São examinados  três elementos  institucionais críticos para a extração, consolidação e divulgação da aprendizagem do PPG7, por meio da função de monitoria e avaliação (M&A), exercida pelo Projeto AMA, e da assessoria técnica recebida por  meio  do  Grupo  Internacional  de  Assessoramento  (IAG)  102.  Finalmente,  recolhe  seletivamente  os principais pontos apresentados com uma síntese da experiência institucional do Programa Piloto. 

1. Passos iniciais  A Resolução nº 92‐2 do Conselho de Administração do Bird, de março do mesmo ano, foi acompanhada de um Anexo Técnico  (Background Note) que a  fundamenta e define aspectos gerais da operacionalização do PPG7, principalmente em  relação ao  financiamento pelo RFT.103 Este anexo técnico, preparado após várias missões  de  técnicos  do  Bird,  não  constitui  um  estudo  de  avaliação  ex‐ante  de  viabilidade,  como normalmente  praticado  pelo  Bird.  Entretanto,  é  o  que mais  se  aproxima  ao  Project  Appraisal Document (PAD)  que  fundamenta  a  justificação  técnica  das  operações  de  empréstimo  do  banco.  Existe,  ainda,  a interpretação  de  que,  por  se  tratar  do  lançamento  do  Fundo  Fiduciário  e  não  de  um  projeto,  não  havia motivos para aplicar a praxe administrativa do banco, que foi obedecida nos projetos. 

 Esta circunstância explica três elementos críticos do lançamento do PPG7. Primeiramente a ausência de um diagnóstico de capacidade  institucional do governo brasileiro para assumir a  implementação de tal progra‐ma.  Em  segundo  lugar,  a  preocupação maior  do  banco  em  definir,  claramente,  no  anexo  o  dispositivo operacional interno para gerir o RFT, apoiar os projetos do PPG7 e prestar contas aos doadores. Com efeito, o anexo  indica que o governo brasileiro necessita de ajuda  técnica e  financeira para preparar os projetos identificados  e  que  isso  é  competência  do  Bird.  Em  terceiro  lugar,  a  ausência  no  anexo  do  tratamento sistemático da arquitetura institucional (AI) para o PPG7, que nos PADs constitui um componente essencial.  Confirmando  a  sua  preocupação,  principalmente  com  os  projetos  e  não  com  a  sua  AI,  o  anexo  atribui também  ao  Bird  a  responsabilidade  de  “filtragem”  e  fixação  de  condições  de  participação  no  PPG7  dos projetos submetidos pelos doadores em regime de co‐financiamento, fora da alçada do RFT. 104 O anexo deu à Unidade de Florestas Tropicais do Brasil (UFTB), do Bird, o papel de zelar pela custódia do PPG7, mediante competências que iam além da sua função de mero agente fiduciário do RFT. Esta atribuição foi interpretada pelo  banco  como  parte  da  responsabilidade  assumida  e  cumprida  com  bastante  rigor.  Alguns  parceiros interpretaram tal conduta como uma “intromissão indevida” do Bird no PPG7. 

 Quanto  aos  aspectos  institucionais  e  organizacionais,  no  seu  artigo  40,  o Anexo  prevê  uma  comissão  de coordenação que  congrega  as  entidades  federais  envolvidas no PPG7,  sob  a presidência da  Secretaria de Meio  Ambiente  da  Casa  Civil  da  Presidência  da  República  (Sema)  e  identifica  suas  funções  típicas  de coordenação nacional do PPG7:  

1. Coordenar e acompanhar a execução do PPG7; 2. consultar os governos estaduais e ONGs; 3. em consulta com o Bird e os doadores, definir arranjos financeiros de cada projeto; e 4. acompanhar o fluxo de fundos externos e assegurar fundos de contrapartida nacional. 

102  Outros casos são cobertos no Componente sobre Relações Internacionais desta avaliação. 103  Referido neste capítulo como o Anexo. 104 Com efeito, no seu artigo 18, o Anexo diz que “os doadores proporcionarão ao Bird informação técnica e financeira detalhada com respeito a qualquer projeto proposto para inclusão no PPG7. O Bird, então, examinará esses projetos e determinará se e em que condições poderiam ser incluídos no PPG7”. 

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Entretanto, não se fixa nenhum mecanismo de engajamento mútuo entre a Secretaria Executiva e a UFTB.105  

No  seu  artigo  26,  o  anexo  indica  que  o  governo  brasileiro  analisaria  os  seus  critérios  e  procedimentos internos de aprovação de projetos com o propósito de assegurar a aprovação  rápida do co‐financiamento dos projetos de caráter bilateral. Esta medida não foi tomada de uma só vez, mas mediante aproximações sucessivas,  em  vista  dos  obstáculos  que  a  sua  aprovação  encontrou  ao  transitar  pelas  várias  entidades. Evidência da morosidade das deliberações, naquela época, por exemplo, foi o fato de que o Acordo Qua‐dro do PPG7 entre o Bird e o governo brasileiro só veio a ser firmado dois anos mais tarde, em fevereiro de 1994, e pouco antes da aprovação dos primeiros projetos. 

 Baseado  na  presunção,  não  fundamentada,  de  que  as  entidades  executoras  do  governo  brasileiro  não estariam  à  altura  de  implementar  o  PPG7  ‐  em  lugar  de  prever  dispositivos  com  o  intuito  de  elevar  a capacidade institucional das entidades centrais do governo brasileiro que implementariam o PPG7 ‐ o anexo estabelece  um  precedente  de  dependência  institucional:  previu  que  o  governo  brasileiro  recorresse  aos serviços do PNUD, no Brasil, para apoiar a  implementação dos projetos do PPG7. Como uma medida para assegurar condições mínimas de execução, pode ter sido justificada na época. Para tal, veio a ser firmado um acordo amplo de “cooperação técnica” entre o governo brasileiro e o PNUD complementado com convênios semelhantes por projeto, arranjo que  até hoje perdura, embora  a  competência das entidades executoras tenha evoluído.  Houve pouca convergência entre o Bird e o governo brasileiro na  construção dos arranjos  institucionais e fraca interface entre os dois. O banco, no seu Anexo Técnico, se concentrou principalmente na definição de seus arranjos  internos,  com escassas  referências às medidas  institucionais a  serem  tomadas pelo governo brasileiro que, por sua vez, abordou o desafio  institucional de  forma convencional sem maior preocupação estratégica de capacitação do ponto focal da execução. 

 Em resumo, o desenho  inicial dos arranjos  institucionais pelo Bird, para o PPG7 em sua totalidade, foi feito sem maior esforço de diagnóstico de capacidades dos executores centrais do governo brasileiro e à  luz de sua  pouca  experiência  com  programas  piloto  dessa  natureza.106  Do  lado  do  governo  brasileiro,  os compromissos  da  Resolução,  fixados  no  seu  anexo  foram  tratados  de  forma  legalista  com  a  emissão  de instrumentos jurídicos sem maiores desdobramentos operacionais.107 

  2. Coerência inicial dos objetivos e pressupostos com a arquitetura institucional (AI): marco lógico  O marco  lógico  é  um  instrumento  de  planejamento  de  programas  ou  projetos  destinado  a  estabelecer relações explícitas entre objetivos, resultados, metas, meios de verificação, mensuração e insumos. Quando construído  de  forma  participativa  é  um  excelente  instrumento  para  gerar  adesão  aos  seus  objetivos. No lançamento  do  PPG7,  o marco  lógico  ainda  não  era  prática  comum  na  preparação  dos  projetos  no Bird, portanto o desenho do Programa não se beneficiou da formulação de um, embora ao longo de sua execução tenham sido feitas duas tentativas para formulá‐lo, sem êxito.  Duas  iniciativas  para  desenvolver  indicadores  de  desempenho  dos  projetos  foram  ensaiadas,  mas  sem evidência de que tivessem sido utilizadas com êxito. Esse dado é importante, pois mostra a dificuldade que seus  formuladores  tiveram  em  chegar  a  um  consenso  com  relação  à  lógica  programática  do  PPG7  e  à 

105 Entretanto, mediante Memorando da Diretoria da Divisão de Meio Ambiente e Agricultura 1a. da Região da América Latina (Laiea), do Bird, de junho de 1993, fixam‐se regras detalhadas para o processamento dos projetos. O artigo 33 do Anexo faz referência a “uma longa tradição de colaboração entre os doadores bilaterais e o Bird e a um acordo quadro sobre co‐financiamento com regras flexíveis e bem entendidas por todos os parceiros”. 106  Algum  esforço  diagnóstico  realizado,  em  1994,  na  preparação  do  SPRN  quando  se  analisaram  as  condições institucionais e organizacionais dos órgãos estaduais de Meio Ambiente (Oemas) e caracterizaram várias debilidades.  107 A Revisão  Institucional  (RI), discutida mais adiante, assinala no  seu parágrafo 41 que, na preparação de projetos individuais, não  foi dada  a devida  atenção  às  complexidades  administrativas decorrentes da  estrutura  financeira de financiamento dos mesmos. 

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conseqüente  tentativa de  construir  indicadores após o escopo do Programa e de alguns projetos estarem definidos.  Há várias explicações para o  fato de que as tentativas de construir um marco  lógico não prosperaram. Por um lado, o PPG7 engloba uma temática muito variada e, conseqüentemente, interesses também variados e, portanto,  de  difícil  consenso  em  torno  a  uma  lógica  programática.  Por  outro  lado,  como  o  PPG7  foi formulado após a identificação de vários projetos que aspiravam ao seu financiamento, a lógica intrínseca e os  interesses  institucionais em  torno de projetos  individuais predominavam e não deixaram muito espaço para que se desenvolvesse, de forma "consensuada", uma lógica programática.108 Finalmente, o fato de que a  intervenção do banco  se dava principalmente como agente  de um  fundo  fiduciário e não no  seu papel normal de prestatário, em cujo caso um quadro lógico seria exigido.  Na ausência de um marco lógico tornou‐se difícil formular um arranjo institucional que refletisse a lógica e a cadeia  de  causalidade  que  deveria  estar  respaldada  por  estruturas  institucionais  e  organizacionais  que assegurassem  a  sua  implementação  de  forma  consistente.  Predominaram,  então,  múltiplos  arranjos institucionais que respondiam aos projetos, às suas fontes de financiamento e às exigências procedimentais e de prestação de contas que  cada uma exigia. O  resultado  foi um mosaico organizacional complexo  sem muita coerência e funcionalidade global, e que explica, em grande medida, as dificuldades de execução que o PPG7  vem  experimentando.  109  Por  outro  lado,  de  início  recorreu‐se  ao  dispositivo  de  apoio  do  PNUD mediante  “projetos  de  cooperação  técnica  internacional”,  o  que  diminuiu  a  importância  do  objetivo  de reforçar a capacidade institucional das entidades executoras, além de lhes conferir, ao médio ou longo prazo, maior autonomia de gestão e eficácia de impacto. 

A escolha dos arranjos institucionais e organizacionais para a execução dos projetos foi objeto de estudos de viabilidade, conforme os critérios do Bird, para a preparação de projetos e sua inserção institucional definida pela afinidade da temática do projeto com a vocação da entidade federal à qual foi confiado o projeto. Por exemplo, o PPTAL ‐ cujo tema é a situação fundiária de populações indígenas ‐ foi alocado à Funai (Ministério da  Justiça).  Tal  deficiência  estratégica  prejudicou  o  impacto  institucional  "finalístico"  do  PPG7  e, principalmente, a sua tradução em instrumentos de política governamental. 

Com efeito, os dispositivos institucionais e organizacionais estavam orientados aos objetivos mais imediatos da  implementação dos seus projetos, o que  levou a múltiplos arranjos especiais desvirtuando mais ainda a unidade programática do PPG7. A ênfase em uma estratégia de projeto e a fraca estratégia programática não chegou a caracterizar a inconsistência total dos objetivos do PPG7 com sua arquitetura institucional, mas sim o  seu  desajuste  conforme  argumentado  acima,  com  conseqüências  de  ineficácia  e  ineficiência  no  seu funcionamento. 

Devido  à  ênfase  na  preservação  do  seu  bioma,  o  projeto  da Mata  Atlântica  foi  alocado  à  Secretaria  de Biodiversidade e Florestas (SBF) do MMA. Somente o ProManejo, o ProVárzea e o Resex foram alocados ao Ibama, que cobria as  respectivas áreas  temáticas. O  Ibama é o braço executivo do MMA, usufrui de certa autonomia administrativa e é munido de uma rede de delegacias (gerências), em todo o território nacional. Cabe questionar a razão pela qual teve um papel limitado na execução do PPG7 e porque não foi objeto de maiores esforços de  reforço  institucional para habilitá‐lo para  tal. A  resposta a esta  indagação  remonta às suas origens, já que o Ibama foi produto de uma fusão de quatro entidades pré‐existentes. 

Para alguns, a diversidade de experiências e conhecimentos que o seu pessoal representava, constituía um acervo que poderia redundar em grande benefício para a execução do PPG7. Para outros, esta diversidade temática  e  cultural  levou  consigo  certa  fragmentação  institucional,  propensão  ao  conflito  entre  grupos profissionais e dificuldade de alcançar a necessária integração em torno de sua nova missão.110 

À medida que a temática socioambiental vinculada às florestas tropicais adquiria maior relevância e projeção social, maior pressão  sobre os  arranjos  institucionais  era  exercida, no  sentido de  recorrer  a modalidades 

108 Embora o Anexo da Resolução mencionado refletisse uma certa lógica programática, tampouco a formulou em ter‐mos de um quadro  lógico de  forma participativa.  Indufur Oy, Mid Term Review of  the Pilot Program  to Conserve  the Brazilian Rain Forest, 31, October, 2000. 109  Esse ponto é central na análise crítica feita pela RI e reiterada na RMT. 110  Entrevista com altos funcionários do MMA e do Ibama, no início do PPG7. 

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institucionais de execução mais abertas e menos burocráticas. Os ajustes se verificaram, principalmente, no uso crescente de mecanismos de “auditoria social” para controlar os projetos e seus benefícios e custos. Tal evolução  pode  ser  considerada  um movimento  de maior  coerência  entre  os  arranjos  institucionais  e  a vocação socioambiental do PPG7, fator que significa crédito a seu favor, embora não tenha sido desenhado dessa  forma  desde  o  início.  Assim,  ONGs,  organizações  de movimentos  socioambientais  e  comunitárias tiveram  papel  preponderante  na  execução  de  projetos  que  tinham  lugar  junto  às  comunidades  no meio florestal. Em alguns casos, houve participação de governos municipais, mas sem maior expressão.111 

O  ponto  focal  da  AI  do  PPG7  foi  a  Comissão  Interministerial  de  Coordenação  do  Programa,  prevista  no Decreto 563, de 1992, do governo brasileiro. A comissão era formada por representantes de nove entidades federais  e  uma  ONG  da  Amazônia.  A  sua  secretaria  baseava‐se  no  Departamento  Técnico‐Científico  de Cooperação  da  Sema  que,  por  sua  vez,  apoiava  as  secretarias  técnicas  (STs)  dos  vários  projetos  e subprogramas  do  PPG7.  Na  documentação  pertinente  não  há  referência  alguma  ao  detalhamento  e reconciliação de procedimentos internos com os externos dos doadores, conforme aludido no Anexo Técnico da  Resolução  do  Bird.  Só  em  1997,  a  comissão  se  reestrutura  e  formula  seu  regimento  interno,112 incorporando  dois  representantes dos  governos  estaduais  da Amazônia  Legal, por  rodízio,  e  a  SCA/MMA assume a sua secretaria‐executiva que, até então, cabia à Secex/MMA.  Há evidência de incoerência específica entre os objetivos do PPG7 e sua AI no que se refere à crítica função de monitoramento e avaliação (M&A). As referências desencontradas no Anexo Técnico (Artigos 11, 29 e 40) sobre M&A refletiam certa incoerência do desenho institucional, pois esta função foi atribuída diversamente à Secretaria Técnica da Comissão Coordenadora Brasileira, à UFTB no escritório do Bird, em Brasília (DF). À Comissão  Européia de Cooperação  (CEC)  incumbiu‐se  a  tarefa de  apoiar o Bird  e o  governo brasileiro no desenvolvimento desse sistema, devido à sua vantagem comparativa na matéria. Devido à sua  importância houve hesitação na definição de  sua  inserção  institucional. Após várias  iniciativas, ainda hoje a  função de M&A continua sendo objeto de controvérsia e críticas sem ser levada a cabo, efetivamente, pelo Programa, como veremos mais adiante.   33. Participação e governança institucional do PPG7: a liderança do governo brasileiro A governança do PPG7 baseia‐se em um sistema de múltiplos níveis e  formas de  regulação.  Inclui micro e macrorregiões, assim  como diferentes modalidades de articulação  institucional e política. Considerando o ciclo do Programa como negociação, desenho de projetos,  implementação, coordenação, monitoria, avalia‐ção, prestação de contas, disseminação e renegociação, tem‐se no PPG7  instâncias diferenciadas de gover‐nança e participação nesse ciclo.  Dadas as circunstâncias em que foi lançado o PPG7, não surpreende que os arranjos institucionais para a sua implementação não tivessem sido objeto de maior participação das entidades que estariam envolvidas em sua implementação. Quanto à participação de ONGs, destaca‐se o lobby das internacionais, principal‐mente da Friends of the Earth (FOE) junto ao G‐7, pressionando para a criação do PPG7. Quanto à participação das ONGs nacionais, no princípio foi limitada devido à pouca experiência do governo brasileiro em lidar com tais entidades.    Por  estas  e outras  razões, na  reunião dos participantes, de Genebra,  em 1991,  as ONGs não participaram.  A  resistência  do  governo  brasileiro  foi  superada  ao  longo  da  execução  do  PPG7  e, principalmente, devido ao processo de redemocratização do país. 

 A  capacidade  organizacional  limitada  das  ONGs  ‐  principalmente  as  da  Amazônia  ‐,  no  início  do  PPG7, também contribuiu para sua participação  limitada. As ONGs da Mata Atlântica estavam mais avançadas em organização e haviam criado a sua rede, a RMA. Mesmo com respeito aos governos do G‐7, que propuseram o PPG7 ao governo brasileiro e  se propunham  financiá‐lo, as  relações  se caracterizaram,  inicialmente, por cautela e presença ostensiva do Ministério de Relações Exteriores (MRE).113   

111  Essas  modalidades  institucionais  são  discutidas  em  maior  profundidade  no  Componente  de  Desenvolvimento Comunitário desta avaliação. 112  Comissão de Coordenação do PPG7. Regimento Interno, 11 de maio de 1997. 113  Esse aspecto é desenvolvido no estudo sobre Relações Internacionais, desta avaliação. 

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Tais circunstâncias tolhiam uma maior abertura participativa do PPG7. O Anexo Técnico da Resolução, no seu artigo 39, expressa a expectativa do Bird de que as ONGs brasileiras e  internacionais pudessem contribuir com a busca dos objetivos do PPG7, devido aos seus importantes acervos de conhecimentos e experiências acumuladas. O anexo prevê a possibilidade de doações para tal fim, que seriam administradas pelo Pnud.  No que diz  respeito à participação dos doadores no desenho da arquitetura  institucional do PPG7, estes  ‐ além de participarem ativamente nas reuniões do Grupo de Participantes ‐ haviam dado delegação ampla ao Conselho de Administração do Bird onde tinham representação permanente e, portanto, a sua participação foi efetiva ao aprovar a Resolução e o Anexo Técnico do PPG7. Por outro lado, os doadores também atuaram na preparação de projetos. 

 Desde a sua criação até as mudanças que ocorreram em 1999, a governança do PPG7 caracterizou‐se pela pró‐atividade do Bird dentro de sua esfera de competência, e pela concentração de decisões operacionais no MMA. O pró‐ativismo do Bird foi conseqüência do acúmulo das funções inerentes ao seu papel como agente fiduciário do RFT, de sua responsabilidade pela preparação dos projetos do PPG7, de supervisor dos mesmos que  levava consigo um papel de provedor de assistência técnica (AT) e de controle de qualidade. Condição que  levou o Bird a ocupar um espaço considerado pelos parceiros como excessivo, na época, e, em alguns casos, visto como “uma postura intervencionista”.114  Tal  situação  levou  a  Revisão  Institucional  a  recomendar que o  espaço ocupado  pelo Bird  fosse  reduzido, dando  lugar  a  uma maior  liderança  do MMA.  Segundo  depoimento  da  Secretaria‐Executiva  do MMA,  a perspectiva é de: 1)separar decisões de política e de estratégia daquelas  relacionadas aos procedimentos operacionais dos projetos; e 2)aumentar a inserção da Amazônia na Esplanada, como tema de governo, em que a cooperação internacional cumpriria um papel específico e complementar. A nova tendência é a de não adentrar em  temas sensíveis à  soberania nacional  (fundiário, marcos  legais, exploração da biodiversidade) para focar e apoiar elementos mais frágeis da gestão ambiental: “agenda verde” em geral e desenvolvimento comunitário 

 Embora o MMA tivesse sido criado em 1992, foi em 1995 que a Coordenação do PPG7 passou da Secretaria Executiva (Secex) do MMA à SCA/MMA, quando o governo brasileiro começou a assumir maior liderança do Programa,  o  que  foi  reforçado  pela  Revisão  Institucional  de  1999.  Esta  transferência,  embora  trouxesse maior abertura do PPG7 à  sociedade  civil, o  foco  regional da SCA parece  ter  criado  certa dissonância das demais secretarias, além da incongruência com a abrangência do PPG7, extensiva à Mata Atlântica. A SCA era a única secretaria com vocação regional e especializada na Amazônia. 

 A  transferência,  em  2004,  das  STs  para  as  secretarias  temáticas  afins  do MMA  descongestionou  a  SCA, aproximando as STs das suas respectivas áreas temáticas, mas as afastou do centro de gravitação do PPG7, dificultando  a  solução  de  problemas  operacionais  com  os  doadores  para  o  qual  a  SCA  estaria mais  bem posicionada. A sua capacidade de arbitragem, entre projetos ou entidades executoras, também foi reduzida, pois  a  SCA  tem hierarquia equivalente às  secretarias  temáticas do MMA. A  transferência ocorreu em um momento no qual o MMA, em geral, e o PPG7, em particular, estavam sofrendo o  impacto dos Termos de Ajuste de Conduta (TAC) por força de uma ação trabalhista movida pelo Ministério Publico do Trabalho, em Junho de 2002, que proibia a contratação de pessoal de base mediante contratos com o PNUD.  Dentre os fatores que vem prejudicando o desempenho da governança  institucional destacam‐se: excessos burocráticos  e morosidade na  liberação de  recursos;  instabilidade  institucional,  com  alta  rotatividade dos responsáveis  pelos  projetos  ambientais,  especialmente,  os  estaduais;  prevalência  de  uma  “cultura  de projetos”  relativamente  isolados,  em  detrimento  de  políticas  públicas  ambientais  de maior  escala;  politi‐zação excessiva da governança dos projetos, associados ao baixo grau de monitoramento e conhecimento técnico‐científico capaz de gerar ganhos de escala. Somam‐se a esses fatores: opção mais geral do governo brasileiro  pelo modelo  de  desenvolvimento  convencional,  baseado  na  conversão  de  florestas  em  pastos, monoculturas agrícolas, mineração e produção de energia, com baixa consideração dos custos e oportuni‐dades ambientais. Desse contexto derivaria a falta de recursos financeiros, técnicos e tecnológicos para lidar 

114  B. Millikan, Marta A. Irving. ‐ Avaliação Preliminar da Gestão Institucional do SPRN. PPG7/SPRN, 25 de maio de 1998. 

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de maneira mais consistente com a gestão ambiental na Amazônia, resultando em reduzido peso poli‐tico do MMA, relativamente às demais áreas de governo (IAG, 2003 e 2004). 

4. A complexidade do multifinanciamento  O PPG7 caracteriza‐se pela complexidade de sua estrutura de financiamento que, por sua vez, se traduz em complexidade de seus procedimentos de aprovação e operacionais, tanto dos doadores quanto do governo brasileiro.  As  regras  e  critérios  estabelecidos,  no  início  do  PPG7,  evoluíram  à  medida  que  iam  sendo encontradas  soluções  para  cada  problema  gerado.  Isso  faz  com  que  não  exista  um  corpo  de  normas uniformes aplicado a todos os projetos, como, por exemplo, a supervisão e regras de  licitação quando um projeto é financiado por mais de um doador.  Os projetos do PPG7  se  financiam mediante duas modalidades básicas, a multilateral e a bilateral que  se desdobram em quatro  fontes de  fundos distintas.  115 A primeira  (multilateral) é o RFT, com contribuições totais de US$ 73,2 milhões, que  representam cerca de 20% do  total das contribuições dos doadores.  116 A responsabilização  do Bird  como  agente  fiduciário  do RT  foi‐lhe  conferida pela Resolução do Conselho de Administração do Bird, de 1992, sobre o PPG7, avalizada pelo governo brasileiro pelo Decreto 562 que criou o PPG7.  A  segunda  fonte de  financiamento de projetos  (bilateral) é  formada pelos  fundos  fiduciários de doadores bilaterais geridos pelo Bird, que financiam alguns de seus componentes.117 Os fundos fiduciários são objetos de acordos administrativos entre os doadores e o Bird, que por sua vez, dão lugar a acordos de doação com entidades  “recebedores”  (grant  recipients)  no  Brasil  (Banco  do  Brasi  e  Caixa  Econômica  Federal).  As entidades são meras  intermediárias financeiras entre o Bird e o beneficiário final, objeto dos projetos, com os quais este celebra convênio de execução.  A terceira fonte (bilateral) consiste de co‐financiamento mediante acordo bilateral para projetos financiados pelo  RFT.  A  quarta  (bilateral)  consiste  de  projetos  associados  ao  PPG7,  geridos  inteiramente  pelos  seus doadores bilaterais, que também se pautam por arranjos contratuais semelhantes.118  Dada esta estrutura, um doador pode, ao mesmo tempo, co‐financiar um projeto com fundos do RFT e ser o financiador  de  um  projeto  bilateral  associado.  A  cada  fonte  de  financiamento,  ou  sua  combinação, correspondem  as  regras  dos  doadores  envolvidos.  Em  muitos  casos  os  doadores  aceitam  como recomendação o uso das  regras do Bird,  com algumas variantes, o que  leva à aplicação das mesmas, em nome  da  flexibilidade.  Em  conseqüência  de  tal  estrutura  financeira  estabelece‐se  uma  complexa  e concatenada hierarquia de acordos e convênios que incluem:  

1. O Acordo‐Quadro entre o Bird e o governo brasileiro; 2. acordos de distribuição dos recursos do RFT e seus doadores; 3. acordos de doação entre doadores e o governo brasileiro; 4. acordos  administrativos  entre  os  doadores  bilaterais  co‐financiadores  mediante  fundos 

fiduciários especiais (e submundos) com o Bird; 5. acordos entre o Bird, KfW e os recebedores/intermediários dos subfundos do RFT; e 6. acordos de execução destes com seus beneficiários finais.  

 

115 Rain Forest Unit, WB, Financial report, 2004 116 Estabelecido, originalmente, com US$ 50 milhões e confiado ao Bird como agente fiduciário. O financiamento global dos doares, na sua origem, era de US$ 280 milhões. Com novas contribuições, atualmente está em US$ 350 milhões, um aumento de 40%. Relatório Financeiro do PPG7 de dezembro de 2005, para o ano fiscal do Bird, julho 2004‐julho 2005. 117 Fundos fiduciários geridos pelo Bird, em um total de US$ 142 milhões: RFT com 19 subfundos, dos quais oito estão fechados; um fundo Holandês, fechado; cinco fundos da União Européia (EU), dos quais três fecharam; um fundo japo‐nês com dois subfundos para preparação de projetos do PDPI, ambos  fechados; um  fundo dos EUA para projetos de C&T, com dois subfundos, ambos para projetos de prevenção e controle de Incêndios florestais, também fechados. 118 Principalmente em beneficio da Mata Atlântica. 

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Em  vista  de  que  a  confecção  destes  acordos  e  convênios  requer  um  procedimento  de  verificação  de congruência  legal e múltiplas aprovações, cada etapa nesta cadeia  toma seu  tempo, e no cômputo  final o custo transacional é elevadíssimo em tempo e recursos. Será visto mais adiante, a título de exemplo, o caso da montagem do convênio dos PGAIs, do Pará e Amapá (dispositivos de gestão do SPRN), que representam apenas um dos elos desta  complexa cadeia. Excetuam‐se destas exigências contratuais os  subfundos para gastos correntes de gestão do RFT e apoio à coordenação do programa pelo governo brasileiro, quando não estão atados a acordos de “cooperação técnica” do Pnud.119  Os acordos de “cooperação técnica” com o PNUD são uma forma de gestão usada pelo governo federal, há vários anos, especialmente para prover os ministérios de meios (pessoal e equipamento) mediante métodos mais ágeis dos que os prescritos pela legislação da administração pública.  O Tribunal de Contas da União (TCU) e a Secretaria Federal de Controle estabeleceram normas e restrições limitando a flexibilidade almejada por tais projetos. Em fevereiro de 2001, estabeleceram‐se regras a serem seguidas pela Administração Pública Federal ‐ tanto direta como indireta ‐ que regulam a gestão de “projetos de cooperação técnica” com organismos internacionais. Com base neste novo regime, uma ação civil pública movida pela Advocacia Geral da União e do Ministério Público do Trabalho estabeleceu, em julho de 2002, o Termo de Ajuste de Conduta que determinou mudanças fundamentais nos procedimentos que vinham sendo praticados. Foram incluídas as seguintes etapas:  

Funções de caráter permanente, executadas nos projetos de cooperação técnica  internacional deverão ter seus cargos providos por concurso, com base no artigo 37, II da Constituição Brasileira.  

As atividades de caráter auxiliar não podem ser objeto de contratação via organismo internacional.  

Pessoal técnico‐administrativo das equipes de base dos projetos de cooperação  internacional deve ser contratado  pela União, mediante  processo  seletivo  simplificado120  (e  ou  concurso  público  como,  por exemplo, concurso para analistas ambientais para executar funções administrativas e financeiras).  

A arquitetura  financeira do PPG7 é conseqüência da opção adotada, no seu  início, para dar ampla  flexibi‐lidade  aos  doadores  de  participarem  no  Programa,  da  forma  que melhor  conviesse  às  suas  preferências administrativas  e  políticas.  Alguns  doadores,  como  a  Alemanha,  optaram  por  financiar  principalmente atividades da linha de frente dos projetos, evitando o financiamento de gastos administrativos, o que não foi o caso da Holanda que financiou atividades de apoio administrativo e coordenação. Tais preferências, asso‐ciadas  às  exigências  legais  da  burocracia  federal  e  seus  controles,  levam  essa  complexidade  a  reduzir ineficiências do PPG7. 

 Os casos concretos de alguns projetos de maior complexidade servem para ilustrar o descrito acima. Tome‐se  exemplo  do  SPRN  que  se  destaca,  institucionalmente,  pelo  seu  propósito  de  descentralizar  a  gestão ambiental.121 Depois de oito  anos de  implementação, o  SPRN  foi prorrogado por  três  anos  adicionais  (de julho de 2003 a  junho de 2006), com o propósito de consolidar as ações desenvolvidas e  introduzir maior rigor nos seus procedimentos de execução, principalmente os  financeiros. Durante a consolidação, o SPRN recebeu financiamento, simultaneamente, pelo RFT e por um fundo especial mediante acordo administrativo entre a CEC e o Bird ‐ ambos para cobrir alguns estados da Amazônia ‐, e pela cooperação bilateral por meio da  KfW  para  outros  estados  da  região,  com  cooperação  técnica  da GTZ. Há,  também,  financiamento  de contrapartida do governo federal, e dos governos estaduais em escala crescente. O SPRN tem, portanto, um financiamento  baseado  em  uma  repartição  geográfica,  embora  tenha  sido  preparado  e  avaliado,  em conjunto, pelos mesmos doadores. 

119 Esse emaranhado de acordos e convênios ocupa o Departamento de Articulação  Institucional da Secex/MMA que, por sua vez, trabalha estreitamente com a ABC, que também intervém nesses acordos. Ponto ressaltado no relatório da revisão institucional, em seu parágrafo 11, considerado um aspecto crítico na análise feita. 120  Projeto AMA ‐ Modelos Alternativos de Gestão: Análise de Cenários. Brasília, novembro, 2003.  121 O SPRN é tomado como referência pelas razões indicadas, entretanto não é e nem deve ser considerado represen‐tante do conjunto de projetos do PPG7, em suas dimensões institucionais e operacionais. 

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5. A complexidade dos procedimentos operacionais dos projetos   Considera‐se que o processo de elaboração dos projetos, em termos da participação de grupos interessados e  dos  métodos  utilizados,  obedece  à  lógica  de  diferentes  concepções  entre  os  atores  do  PPG7.  A complexidade de procedimentos relacionados ao ciclo de preparação e contratação de projetos individuais, e a  persistência  de  entraves  administrativos  na  fase  de  implementação  ‐  especialmente  no  âmbito  dos governos federal e estadual ‐, e os procedimentos dos diversos parceiros internacionais, constituem fatores limitantes para o alcance de objetivos do PPG7 e, conseqüentemente, de sua efetividade.   Múltiplos  interesses em  jogo na  formulação do Programa geraram um arranjo  institucional complexo, com baixa capacidade de concatenação. A integração dos projetos, inicialmente, não se mostrava factível devido à multiplicidade  de  demandantes  e  interesses  envolvidos,  e  diagnósticos  fragmentados.  Não  há  padrão organizacional para os projetos do PPG7, além daqueles exigidos pelos circuitos de  financiamento que, às vezes,  variam  de  projeto  a  projeto.  Pela  sua  natureza,  os  projetos  do  PPG7  têm  base  operacional descentralizada em zonas florestais remotas, com relação à jurisdição da União, estados ou municípios.  O SPRN é um caso de organização de procedimentos operacionais na base periférica e central, que  ilustra essa complexidade, pois se trata de um projeto que transita administrativamente nas instâncias federal (pelo MMA),  estadual  e municipal. O  SPRN  possui  vários  componentes que,  de uma  forma  ou  de  outra,  estão vinculados ao precário “federalismo ambiental”, cuja execução exige organização e procedimentos rigorosos.   Os  quatro  propósitos  do  SPRN  são:  objetivo  geral,  objetivos  específicos,  diretrizes  e  linhas  de  ação,  com superposições  parciais  entre  elas.  Além  do mais,  o  SPRN  requer  planos  estratégicos  trienais  de  gestão ambiental ou planos estratégicos estaduais  (PEEs), pautados pelo PPA estadual e planos operativos anuais (POAs), documentos onde deve  estar  refletida,  corretamente,  tal hierarquia  intencional. Um desafio para operadores  sem  competências analíticas de programa que  são obrigados a  respeitá‐las na  sua  fundamen‐tação e propostas de convênios.  Adicionalmente, a estratégia de execução do SPRN está definida por  três  instrumentos organizacionais: os projetos  de  Gestão  Ambiental  Integrada  (PGAIs)  de  cada  estado;  Projeto‐piloto  de  Descentralização  de Gestão  Ambiental Municipal,  orientado  por  editais  via  Fundo  Nacional  do Meio  Ambiente  (FNMA);  e  o projeto  BRA  95/026,  do  PNUD,  em  apoio  à  coordenação  do  SPRN  atendendo  às  demandas  dos  estados, acompanhando  e  avaliando  as  atividades  executadas  no  âmbito  do  SPRN,  como  apoio  à  Comissão  de Projetos  (CP)  e  ao  Grupo  Técnico  de  Trabalho  Permanente  (GTTP).122  Destaca‐se,  no  caso  do  SPRN,  a dificuldade de definir um modus operandi de  gestão  compartilhada baseado  em um diálogo permanente entre os atores envolvidos: MMA, Bird, KfW, DfID, CEC, GTTP e GTs, que permita consenso na resolução de conflitos e questões estratégicas do subprograma.  Os arranjos  institucionais para  levar os efeitos do SPRN aos  seus beneficiários, na base estadual, não  são menos complexos. Nos estados há GTs, geralmente, coordenados por um representante do respectivo Oema apoiado  por  uma  Unidade  de  Apoio  (UA)  que  coordena  o  planejamento  dos  seus  três  instrumentos  de execução.  Regionalmente,  existe  o  GTTP,  um  fórum  técnico  regional  do  SPRN  que  congrega  os coordenadores dos GTs, Oemas, MPEs e da sociedade civil, e que articula os acordos estratégicos do Fórum dos Secretários das Oemas, na região. Na esfera federal existe a Secretaria Técnica (ST) do SPRN/MMA que, originalmente, estava inserida na Secretaria‐Executiva do MMA e, posteriormente, na SCA. Em 2004, a ST foi transferida para a SDS/MMA. 

 Há,  também, uma Comissão de Projetos  (CP) que  funciona  como a  instância deliberativa mais elevada do SPRN, aprova os PGAIs e outros documentos afins. Vários  interlocutores nos estados confirmaram que nem todos dispositivos organizacionais operam  com  a  regularidade prevista e  alguns  teriam  sido efetivamente abandonados,  devido  aos  custos  da  sua  ativação.  Essa  arquitetura  leva  à  necessidade  de  múltiplas 

122  Os  PGAIs  são  implementados mediante  convênios  entre  o MMA  e  as  Oemas,  as  secretarias  de  Planejamento, ministérios públicos estaduais (MPEs), entre outras entidades ambientais estaduais, e devem pautar‐se pelas diretrizes complementadas por linhas de ação, também definidas pelo SPRN.  

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aprovações  e  interações  dos  instrumentos  operacionais  como  os  planos  estratégicos  estaduais  (PEEs)  de gestão ambiental sustentável, a partir de 2003, e as propostas de Convênio sobre PGAIs e seus POAs.123  O SPRN  tem  ‐ como propósito principal  ‐ a descentralização da gestão ambiental para a esfera estadual e municipal, onde está o lócus privilegiado da gestão operacional. Tal avaliação constatou, em vários estados, que as atividades operacionais  revertem  com  freqüência às STs devido à  limitada  capacidade dos Oemas, condição que desloca a gestão operacional da periferia para o centro. Um quadro, naturalmente, contrário ao que se propõe o SPRN. Outro paradoxo chamou a atenção da equipe de avaliação: nos estados visitados (Acre, Amapá, Amazonas, Rondônia, Tocantins e Pará), os projetos do PPG7 operam em relativo isolamento uns dos outros. As entidades estaduais beneficiárias do PGAI  também estão um  tanto  isoladas, umas das outras,  o  que  sugere  que  os  GTs  dos  PGAIs  não  são  efetivos.124  Um  fato  é  agravado  porque  o  MMA estabelece convênios de execução com cada uma das entidades beneficiárias estaduais e não um convênio único com os Oemas, removendo o instrumento de coordenação das atividades do PPG7, no Estado. 

 Os  depoimentos  de  vários  coordenadores  de GTs,  nos  estados,  deixaram  a  impressão  de  que,  em  geral, mesmo diante do  aperfeiçoamento das Oemas,  ainda há dependência em  relação  à  ST, no MMA, para o cumprimento de algumas exigências normativas no repasse de recursos do governo federal. Os problemas, portanto, não são especificamente de desenho dos sistemas organizacionais, mas, em parte, devido a uma cultura de centralização no MMA que parecia estar sendo superado à medida que a estrutura  institucional do PPG7 se consolida e os governos estaduais desenvolvem suas capacidades. 

 A necessidade dos projetos passarem por um ciclo de gestação e depois pela supervisão técnica e prestação de contas ‐ devido ao uso de recursos e aos seus resultados ‐ são exigências inevitáveis que levam a alguns determinantes  da  organização.  Apesar  da  ampla  dotação  de  recursos  e  apoio mediante  contrato  com  o PNUD, os projetos têm registrado atrasos na execução e tal fato gera um sentimento de frustração por parte daqueles gerentes e técnicos que não são sensíveis ao caráter piloto do PPG7. A frustração se agrava porque o  Programa  está  no  final  do  seu  ciclo  piloto,  com  a  tolerância  sensivelmente  diminuída  para  esta característica. 

 A  arquitetura  institucional  (AI)  e  o modelo  organizacional  do  PPG7  são  determinados  pela  estratégia  de intervenção  de  seu  financiamento  e  sensíveis  à  sua  condição  de  um  projeto  piloto,  em  cujo  caso  a experimentação  com  modelos  administrativos  deve  ser  estimulada,  dentro  de  limites.  Entretanto,  a passagem  a  uma  escala  ampliada  do  PPG7  deverá  incluir  maior  preocupação  com  a  uniformização  e universalização de modelos por categorias de projetos. Embora racional em termos abstratos, a operação da AI é onerosa e desafia as  capacidades existentes nas  instâncias estaduais e municipais, o que explica, em grande parte, as contínuas dificuldades de execução enfrentadas pelo SPRN. 

 A racionalidade do detalhamento de sua organização e procedimentos tem valor como meio “pedagógico” para introduzir disciplina organizacional na execução do projeto. Se o objetivo é usar o projeto como meio de reforço  institucional  ‐ o que  seria  justificado  em um projeto piloto  ‐ poderíamos  entender  e  aceitar  este desenho de AI. Entretanto, os contatos desta Avaliação com operadores na base estadual e mesmo na ST, com uma  exceção,  indicam que  este  sistema organizacional não  contribui para maior  eficácia do  SPRN  e melhores  resultados  e,  portanto,  não  é  percebido  como  um  modelo  a  ser  aprendido  e  estimulado. Entretanto,  na  secretaria  técnica  do  SPRN,  o  aprendizado  parece  ser  ostensivo  devido  ao  sentido  de autocrítica construtiva que observado.  Com efeito, se forem medidos resultados pelo ritmo de desembolso de recursos do SPRN, que a cinco meses de sua conclusão, não passa de 67% (dos saldos reciclados da sua primeira fase de oito anos), o balanço não 

123  Os convênios do PGAI têm um teto de R$ 6 milhões. 124   No Acre, há 12 entidades estaduais que, direta ou  indiretamente, estão envolvidas em proteção ambiental, o que poderia ser excessivo por causar uma pulverização institucional, dificultando a sua integração horizontal e diluindo a sua efetividade. Não  foi possível a esta Avaliação determinar em que medida a proliferação de entidades é atribuível ao SPRN. Governo do Estado do Acre, Lei Complementar no. 115, de 31 de dezembro de 2002. 

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é  positivo.125  Constatou‐se,  também,  que  vários  dispositivos  contidos  no  manual  operacional  foram, simplesmente,  abandonados  pela  exigência  de  sua  aplicação:  o  PGAI  do  Pará,  por  exemplo,  estava paralisado, em abril de 2006, devido aos problemas com aprovação de seu convênio que, na ocasião da visita desta  Avaliação,  ainda  estava  pendente  após  um  longo  processamento,  agravado  por  inadimplência  do Estado com o Cadastro Único da União (CAU). Tais observações levam a concluir que a morosidade devido à complexidade  do  sistema  organizacional  não  pode  ser  atribuída  somente  às  exigências  dos  doadores, embora estes contribuam parcialmente com a situação.  A  Avaliação  procurou  evidência  de  aprendizagem  da  aplicação  deste  modelo  de  organização  e  de procedimentos. A conclusão é de que, nos estados, a evidência é escassa, pois a frustração com o ônus do processo  para  resultados  fracos  desestimula  qualquer  aprendizado  institucional. Vários  operadores  locais atribuíram o ônus de procedimentos,  indistintamente, ao MMA e aos doadores. Entretanto, um operador manifestou a sua preferência por operar diretamente com os doadores, eliminando toda a complexidade de tramitar  o  apoio  pelas  instâncias  estaduais  e  federais.    Isto  implicaria,  por  exemplo,  em  recorrer  aos empréstimos  concessionais dos bancos de desenvolvimento  internacionais  (Bird  e Bid). Nessas operações paradoxalmente, a  intervenção do governo  federal se  limita à da Secretaria de Assuntos  Internacionais do Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão (Seain/MP) para aprovação da “carta consulta” dos acordos de crédito, além dos controles do Ministério da Fazenda  sobre as questões macroeconômicas de volume, capacidade de endividamento que em muitos estados já está esgotada.  6. Reformas institucionais do PPG7  Embora a partir da reunião de Manaus, do Grupo de Participantes, em 1997, tenham sido adotadas várias medidas destinadas  a  agilizar e  tornar mais efetiva  a gestão do PPG7, havia, na época, manifestações de insatisfação  com  o  desempenho  do  Programa.  Isto  levou  o  Grupo  de  Participantes  a  decidir,  por recomendação do IAG, pela realização da Revisão Institucional (RI), em 1999, pouco antes da Revisão a Meio Termo (RMT) do PPG7.  A revisão  institucional  (RI)  focou, mais  intensamente, os problemas de gestão que  foram atribuídos a uma deficiente alocação de responsabilidades entre os principais parceiros e conseqüente ambigüidade, conflito de papéis e  indecisão por parte dos mesmos.126 A estratégia que  sustentou as  recomendações da RI para uma  parceria  gerida  baseava‐se  na  crítica  que  transparece  de  seu  relatório:  o  PPG7  estava  insuficien‐temente gerenciado, pois os órgãos de governança dedicavam pouca atenção a tais problemas e muito mais à articulação política, estratégia que elevava a gestão do PPG7 a um nível de maior intensidade e autoridade. A proposta da RI trocava representatividade na composição da Comissão de Coordenação Conjunta (CCC) por agilidade executiva, o que não foi aceito pelos parceiros.  A  proposta  da  RI  de  fundir  a  função  de  superintendência  com  a  de  gestão  ‐  criando  uma  Comissão  de Coordenação Conjunta apoiada por um Grupo de Gestão liderado pela SCA/MMA ‐ mereceu fortes críticas do IAG  por  sua  ambigüidade  e,  portanto,  não  foi  aceita  pelo  Grupo  de  Participantes.127  Foram  rejeitadas, também,  as propostas de  criar um  comitê  intersetorial  ligado  ao Conselho da Amazônia  Legal  (Conamaz) para coordenar políticas e aprendizados do PPG7 e um grupo de  trabalho especial  liderado pelo Bird para assessorar a CCC.  A  proposta  da  revisão  institucional  eliminava  a  numerosa  e pesada  Comissão  Interministerial  de  Coorde‐nação do PPG7 que  ‐ embora  sendo um  fórum amplo de discussão e participação da  temática  ambiental principalmente da Amazônia ‐, segundo a RI, era ineficaz na sua capacidade de dar coerência ao PPG7 e diluía a  liderança  do MMA.  A  revisão  institucional  julgou  que,  para  assegurar  a  liderança  efetiva  do  governo 

125 Para os projetos do PPG7, em geral, o desembolso acumulado em  junho de 2005 é de 50%.   RFT/UFTB/Bird. 2005. Relatório Financeiro. 126 O foco da análise crítica da RI foram os problemas da gestão programática e cobre problemas nas áreas de estratégia e objetivos do PPG7, estratégia de aprendizagem, gestão da informação, participação dos estados, relação com outros projetos, e apoio do IAG. 127  Ver parte III do XII Relatório do IAG, de julho de 1999. 

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brasileiro,  a  SCA/MMA  deveria  ser  reforçada  na  sua  função  gerencial  de  programa,  liderando  o  Grupo Gerencial, deixando a articulação política para a  instância focal que era a CCC (liderada pela Secex/MMA e com participação das entidades brasileiras executoras e dos doadores).   Conforme analisadas acima, as recomendações da RI foram parcialmente aceitas e adotadas, em outubro de 1999. Coube à SCA assegurar a sua internalização e efetiva conversão institucional e de procedimentos, com base nas recomendações dos grupos de trabalho da 5a. Reunião do GP de Brasília, também em outubro de 1999.128  Por  inúmeras  razões  de  transição  política  e  reformas  no  MMA  e,  principalmente,  devido  às profundas alterações no sistema de contratação de pessoal, até o presente, poucas recomendações  foram efetivamente adotadas.129  Como conseqüência da Revisão Institucional, foi alterada a estrutura de governança do PPG7, em 1999, com a criação da CCC e a Comissão de Coordenação Brasileira (CCB), que substituiu a Comissão interministerial de Coordenação do PPG7, dois  fóruns deliberativos com o governo brasileiro na sua presidência, além da sua participação  destacada  no  Grupo  de  Participantes,  que  foi  mantido.  Com  tal  reforma  da  estrutura  de governança do PPG7, a  liderança do Bird se reduziu, substancialmente, e passou a  limitar‐se a assegurar o secretariado‐executivo  da  Comissão  de  Coordenação  dos Doadores  (CCD),  também  criada  nesta  ocasião, além  da  gestão  do  RFT  e  dos  projetos  por  ele  financiados,  papéis  mais  condizentes  com  o  contexto institucional do PPG7, nessa altura.   Embora o Bird, antes,  tivesse competência para atuar como  interme‐diário entre os doadores e o governo brasileiro, este papel tem sido gradualmente assumido pelo MMA que possui uma relação fluida com eles.  A CCC foi criada como instância deliberativa e de decisão que atuaria nos interstícios das reuniões de Cúpula dos Participantes. Somente assuntos de maior transcendência de política e  financiamento seriam tratados, na  sua  reunião  bianual. De  fato,  a  CCC  institucionalizou  a  ampliação  da  participação  dos  diversos  atores interessados na  coordenação geral do PPG7, e  tornou  sua pauta mais  abrangente, buscando  atender  aos diferentes interesses em jogo. Os tradicionais coordenadores do PPG7 passaram a compartilhar a tomada de decisões com outros atores, como as redes sociais e representantes de governos estaduais. 

 As amplas  competências que  foram atribuídas à CCC e  incorporadas no  seu novo Regimento  Interno  (RI), aprovado na mesma  reunião do GP de Brasília,  incluem: deliberar  sobre a estratégia do PPG7, aprovar as idéias básicas de novos projetos, alocar o uso de recursos do RFT, planos de trabalho, orçamentos e relato‐rios de atividades e  financeiros, além de critérios e procedimentos a serem seguidos no ciclo dos projetos. São atribuições, de forma geral, que colidem com as competências da UFTB na gestão, não só dos projetos financiados inteiramente pelo RFT, como dos projetos com co‐financiamento dos doadores bilaterais, o que torna  os  termos  do  Anexo,  obsoletos.  Ainda  não  se  deram maiores  conflitos  institucionais  em  torno  do choque de competências, pois, ultimamente, o papel da UFTB tem sido consideravelmente reduzido para dar lugar à maior liderança do governo brasileiro. 

 No  que  se  refere  à  CCB,  o  seu  Regimento  de  1997  ampliou  a  sua  composição  em  relação  ao  da  antiga Comissão  Interministerial  de  Coordenação,  que  possui  competências  complementares  às  da  CCC,  mas restritas aos assuntos relativos à programação das atividades do PPG7 e à aprovação de projetos, antes da aprovação pela CCC. A SCA assegura o secretariado‐executivo da CCB por meio da Coordenação do PPG7, função que requer uma equipe técnica robusta e com grande agilidade de gestão. A CCD  ‐ que opera com base em um memorando de entendimento entre os seus membros ‐ não possui regulamento interno com a formalidade das demais e na nova estrutura  institucional parece ter um papel acessório como se reflete no organograma abaixo. Suas reuniões ocorrem a cada três meses, acompanhando a freqüência das reuniões da CCC,  sendo  anterior  a  estas,  para  discutir  a  sua  agenda. A  CCD  tem presidência  rotativa  e  a UFTB  é  sua secretaria‐executiva. 

 

128 Durante essa reunião, os TdRs do IAG também foram reformulados, com a introdução de regras para evitar conflitos de interesse e reduzir os custos de operação, e aprovada a preparação de um subprograma para a Mata Atlântica, com financiamento inicial do RFT. 129  Entrevista com a atual coordenadora do PPG7. 

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A nova arquitetura  institucional  introduziu algumas mudanças de estrutura e competências. O PPG7, nesta etapa, estruturalmente,  tinha uma  configuração que  contrasta  com o organograma do  seu  lançamento: o comando do governo brasileiro é explícito, presidindo dois dos órgãos deliberativos, o CCC e o CCB. Também contrasta  com o organograma original a  inserção do Projeto AMA na Coordenação do PPG7, o que pode comprometer a independência da função de avaliação do Programa.  Alguns observadores criticaram as recomendações da RI e reiteraram a esta Avaliação que a nova estrutura de governança criada é pesada e onerosa, com o potencial para superposição e redundâncias, pois decisões tomadas  em  instâncias  superiores  são  referidas  a  instâncias  inferiores para novo  tratamento. A CCC, por exemplo, possui vários membros que integram, respectivamente, a CCB e a CCD, ou seja, a representação da instância inferior na superior se faz replicando os seus membros. Alternativamente, as instâncias superiores poderiam  ter,  apenas,  um  ou  dois  representantes  da  inferior,  assegurando  representatividade  sem redundância.  Esta Avaliação, entretanto, não  teve meios de aferir  ‐ empiricamente e com  segurança  ‐ o efeito da nova arquitetura institucional na eficácia da gestão do PPG7 após a sua adoção, devido à redução de atividade dos órgãos deliberativos durante o período de 2000‐2003 e à transição governamental, entre outros fatores. As evidências indicam que não houve melhoras sensíveis, prova é que o sistema de governança está em reforma e não seria preservado na sua forma atual para um sucessor do PPG7. Os efeitos das mudanças na eficiência operacional serão examinados mais adiante. 

 Além  das  definições  formais  contidas  no  RI  da  Comissão  Interministerial  de  Coordenação  Brasileira,  esta Avaliação procurou compreender em que consistia, em termos práticos, a gestão central  do PPG7 pela SCA e pelas  STs.  A  informação  recebida  veio  fortemente  influenciada  por  explicações  sobre  as  mudanças institucionais  do MMA  ocorridas  em  2000  e,  logo  após,  pelas  conseqüências  da  transição  de  governo. A informação também foi  influenciada pela perda e recuperação parcial de uma parte das equipes técnicas e administrativas, devido à nova  legislação discutida acima, que  limita o recurso aos “acordos de cooperação técnica  do  Pnud”  para  cobrir  parte  de  suas  funções  administrativas  e  de  gestão  de  projetos.  Houve  a substituição  dos  “consultores”  da  equipe  base  contratados  pelo  Pnud,  devido  ao  TAC,  pelos  técnicos temporários  concursados  em  2003  e  por  funcionários  também  contratados  para  os  cargos  de  analistas ambientais, em 2005.130 O governo brasileiro custeou  todas as contratações com  recursos próprios, sendo que os recursos para os contratos temporários foram contabilizados como contrapartida nacional do PPG7. 

 Devido  à  dificuldade  de  uma  análise  da  atualidade  institucional  em  tais  circunstâncias,  esta  Avaliação concentrou‐se  em  um misto  da  experiência  retrospectiva  e  perspectivas  de  organização  para  um  PPG7 renovado. Por outro  lado, embora a partir das reformas do aparelho de governança do PPG7  (de 1999) as competências  dos  principais  atores  tenham  sido  demarcadas,  o  protocolo  de  compartilhamento  de responsabilidades entre a SCA e a UFTB ainda não está claro. O que ficou claro ‐ e gerou maior preocupação ‐ refere‐se ao papel dos vários sistemas  informatizados de apoio gerencial utilizados pelo MMA (Sigma, SAP, SGP, Siafi) no processamento dos projetos do PPG7: tais sistemas deveriam ser unificados. A intervenção das unidades de apoio gerencial ao MMA também foi objeto de alguma observação, mas longe de constituir uma análise detida da qual fossem extraídas conclusões mais sólidas a seu respeito.131  Um elemento a destacar aqui é o papel dinâmico do IAG refletido nos relatórios de suas reuniões, nos quais alerta,  constantemente,  sobre  os  vários  problemas  institucionais  e  substantivos  do  PPG7,  recomendando soluções.   De outra  forma, pareceria que  a CCB dava  cobertura  adequada  à  temática  socioambiental das florestas tropicais, mas pouco às questões estratégicas  institucionais. As questões relacionadas com micro‐gestão dos projetos ‐ embora tratadas ‐ não se traduziam em medidas corretivas devido à desconexão entre 

130 Anteriormente,  houve  o  concurso  para  contratação  de  técnicos  e  administrativos,  por  tempo  determinado,  cuja vigência dos  respectivos contratos poderá  ir até dezembro de 2007 e, em outros casos, até agosto, quando houve a última chamada de temporários de 2008.   131 Esta Avaliação não pode analisar a interface do MMA com a ABC no que diz respeito aos convênios de cooperação internacional sobre os quais a ABC tem ingerência e, portanto, não pode emitir uma opinião sobre o valor agregado à eficácia do PPG7. 

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a instância deliberativa e a operacional.  Chamou  a  atenção  que,  em  junho  de  2001,  por  ocasião  da  Reunião  dos  Participantes  de  Cuiabá  (MT)  ‐ quando se discutiu uma etapa de transição de 2001‐2002, anterior ao  lançamento de uma segunda fase do PPG7, a  iniciar‐se em 2003  ‐,  já se mencionavam “novos arranjos  institucionais”. O  fato sugere que a nova estrutura  de  governança  do  PPG7,  produto  das  reformas  de  2000,  já  estaria  sendo  objeto  de  novas mudanças. No momento desta Avaliação, em abril de 2006, discute‐se uma proposta de sucessão do PPG7, com  uma  nova  arquitetura  institucional.  As  constantes mudanças  lembram  certa  “descontinuidade”  dos órgãos  de  governança  do  PPG7,  o  que  excedeu  a  busca  do  desejável  aperfeiçoamento  institucional  do Programa.  Estas  reformas  ‐ principalmente  a  transferência das  secretarias  técnicas da  SCA/MMA para  as  secretarias temáticas (ocorrida no final de 2004) e o esvaziamento de pessoal qualificado da SCA/MMA  ‐ têm tido um impacto considerável no PPG7 que, em 2004, com a finalização de vários de seus projetos, entrou em uma fase de redução no seu ritmo de execução.132 

 7. Instrumentos de monitoramento, análise e assessoria internacional  7.1. O Projeto AMA

 Um dos aspectos de maior vulnerabilidade  institucional do PPG7 vem sendo a evolução e desempenho do Projeto  de  Apoio  ao  Monitoramento  e  Análise  (Projeto  AMA),  iniciado  em  dezembro  de  1998,  com financiamento de US$ 2 milhões do RFT e US$ 600 mil de contrapartida do governo brasileiro, e cooperação técnica da GTZ.133 No seu desenho original, avaliado em março de 1998, consistia de três componentes: 

  Monitoramento  integrado  dos  projetos  do  PPG7  para  extrair  lições  da  experiência  acumulada  do Programa, para o qual indicadores serão desenvolvidos, os dados coletados e ingressados em uma base de dados. 

  Realização  de  estudos  especiais:  sobre  casos,  avaliações  de  desempenho  dos  projetos,  e  fatores condicionantes dos seus  resultados. Os temas desses estudos são definidos por meio de consultas aos projetos do PPG7 e ao IAG. 

  Divulgação para audiências‐alvo por meio de publicações, da mídia e outros. 

 O  IAG  foi,  inicialmente,  convocado para participar das atividades do AMA: analisar propostas de estudos, sugerir estratégias de divulgação das lições aprendidas, e atuar como conselho editorial de suas publicações técnicas. Como vimos anteriormente, no Anexo Técnico, a  função de Monitoramento e Avaliação não teve localização institucional definida. Hoje, o Projeto AMA está lotado na Coordenação do PPG7, na SCA, e a sua função  de monitoramento  e  avaliação  (M&A)  continua  sendo  um  desafio  que  deverá  se  estender  à  sua próxima etapa, e continuará a requerer assistência técnica.  O êxito do PPG7 ‐ como um programa piloto ‐ é função, em grande parte, da efetividade do AMA, pois deste depende a incorporação das suas lições às políticas públicas para a proteção ambiental das florestas tropicais brasileiras, o que tem sido feito com e sem o apoio do AMA que, em alguns casos,  limita‐se a divulgar tais lições. O AMA foi objeto de várias consultorias para reforçar o seu desenho e sistemas de  informação (em 1999 e 2001). A consultoria de 1999 procurou construir uma matriz de  indicadores de desempenho para o Programa, na  sua  totalidade,  cuja  aplicação não  foi  generalizada  e  efetiva.  Em  2001, um  estudo  aferiu  a contribuição dos projetos aos objetivos do PPG7, em função da aplicação dos indicadores desenvolvidos.134 O 

132 De acordo com o Relatório Financeiro do RFT, o ano fiscal do Bird (julho de 2004 a julho de 2005) registrou o menor ritmo de desembolsos do PPG7, desde 1996: apenas US$ 7.6 milhões.  133  PPG7/Projeto AMA ‐ Modelos Alternativos de Gestão: Análise de Cenários. Novembro, 2003. 134 PPG7/Projeto AMA ‐ Relatório sobre aplicação preliminar dos indicadores do AMA para o monitoramento do PPG7. Março, 2001. 

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estudo procurou, também, conhecer o grau de aplicabilidade de cada indicador aos projetos, as informações necessárias para o monitoramento, e a possibilidade de que as  informações fossem geradas pelos próprios projetos ou por métodos paralelos. 

 Considerando o PPG7 tal como ele é ‐ um programa piloto dedicado a documentar experiências e tirar lições ‐, argumentam alguns  interlocutores que o seu sucesso não seria medido somente em  função do  impacto causado nos indicadores mencionados, mas em função das lições aprendidas que viessem a ser adotadas no alcance de metas medidas pelos referidos  indicadores. Este não é o caso dos  indicadores dos projetos, que deveriam ter o seu desempenho orientado e medido pelos indicadores. O contra‐argumento seria que, para distinguir  lições  de  experiências  com  êxito  das  que  fracassam,  há  necessidade,  também,  de  contar  com metas e indicadores.135  Há evidência de incoerência específica entre os objetivos do PPG7 e sua arquitetura institucional, no que se refere à crítica função de M&A. As referências desencontradas no Anexo Técnico (Artigos 11, 29 e 40) sobre M&A refletiu certa incoerência do desenho institucional, pois foi atribuída diversamente à Secretaria Técnica da  Comissão  Coordenadora  do  governo  brasileiro,  à UFTB  no  escritório  do Bird,  em Brasília. À  Comissão Européia de Cooperação  (CEC)  foi atribuída a tarefa de apoiar o Bird e o governo brasileiro no desenvolvi‐mento  desse  sistema,  devido  à  sua  vantagem  comparativa  na matéria.  Pareceria  ser  que,  devido  à  sua importância, houve hesitação na definição de sua inserção institucional. Após várias iniciativas, ainda hoje a função de M&A continua sendo objeto de controvérsias e críticas, sem ser levada a cabo efetiva‐mente pelo PPG7, como veremos mais adiante.  Dadas as circunstâncias, o AMA tem adotado uma estratégia mais resguardada e talvez realista, que consiste em enfatizar o seu programa de publicações e continuar apoiando tecnicamente os projetos que tem ou que estão desenvolvendo seu sistema de M&A, mediante consultorias, treinamento e eventos de intercâmbio de experiências.  Uma  verificação  rápida,  entre  alguns  leitores  de  várias  de  suas  publicações,  revelou  uma impressão  favorável. Critica‐se,  entretanto que o programa de publicações  não possui  uma  estratégia de divulgação que permita ampliar o seu público além daquele ligado ao PPG7. Chamou atenção, também, que parece  não  haver  coordenação  e  sintonia  entre  as  publicações  do  AMA  e  as  do  Bird,  sobre  as  florestas tropicais brasileiras.  Ficou  claro  que  a  Unidade  do  AMA  não  tem  autoridade  para  orientar  a  função  de M&A  das  entidades executoras dos projetos. Por outro  lado, o  fato de estar subordinada à Coordenação do PPG7  limita a sua isenção  para  conduzir  avaliações  totalmente  “independentes”  do  PPG7,  não  obstante  a  participação  dos parceiros externos. Os doadores, por sua vez, têm seus protocolos de M&A internos aos projetos que exige a realização de avaliações anuais e a meio termo dos projetos.136 

 Um  dos  grandes  desafios  do  AMA  tem  sido  inserir  a  prática  de monitoramento  de  forma  orgânica  nos projetos, pois é a partir de  informações de monitoramento que pode desempenhar as demais funções. Isto só  pode  ser  alcançado  operando  diretamente  sobre  o  eixo  de  supervisão  dos  projetos  pelas  STs,  e  não somente a partir da Coordenação do PPG7, o que é um grande desafio: não há  cultura, nem  tradição de monitoramento  e  avaliação  nas  entidades  executoras  dos  projetos.  Por  outro  lado,  tais  entidades  estão absorvidas  no  atendimento  da  pesada  carga  administrativa  que  representam  os  complexos  sistemas  de aprovação e execução financeira. 

 Finalmente,  de  uma  forma  geral,  as  STs  não  têm  cobrado,  suficientemente,  aos  projetos  a  prestação  de contas  de  resultados,  para  os  quais  um  sistema  de  monitoramento  é  necessário.  Tendem  a  cobrar informação,  principalmente,  sobre  o  uso  de  insumos  e  atividades.  Tal  fato,  acrescido  do  problema  dos indicadores,  tem  impedido  que  o AMA  desenvolva uma  base  de  dados  cumulativa  para  o  Programa  que 

135  Comentários feitos durante a apresentação da versão preliminar deste relatório, no MMA. 136 A Unidade do AMA, atualmente, conta com um coordenador do projeto e três analistas ambientais, técnicos con‐cursados  temporários, além de um perito  residente,  financiado pela GTZ e  recursos para consultorias pontuais como esta Avaliação  do  PPG7.  Como  no  caso  das  outras  secretarias  técnicas,  o AMA  possui  um  convênio  de  cooperação técnica do PNUD para apoio nas suas funções administrativas. Entrevista com a coordenadora da Unidade do AMA. 

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permita, efetivamente, a extração de lições das experiências. Para que a informação sobre o aprendizado do PPG7 possa fluir para pontos de análise e formulação de políticas, seria necessária uma postura mais proativa do AMA no sentido de, com o apoio das lideranças do MMA, fazer um lobby junto a esses pontos. 

 Outro desafio importante com o qual se confronta o Projeto AMA é o desenvolvimento de uma estratégia de divulgação que  leve o aprendizado dos projetos do PPG7 não somente às audiências especializadas, mas a um público mais amplo que possa ter participação e/ou influência na formulação de políticas para a região. É nesse sentido que se pretende orientar a atuação do AMA, no quadro do apoio que a Coordenação do PPG7 acaba de receber do RFT.137 

 7.2. O Grupo Internacional de Assessoramento (IAG)

 O propósito do IAG foi explicitado no Anexo à Resolução do Conselho de Administração do Banco Mundial, que  lançou o PPG7: estabelecer um corpo consultivo de composição  técnica de alcance  internacional para rever o progresso no avanço do PPG7 e estimar o  impacto de sua  implementação. Papel ‐ um tanto vago e muito  próximo  ao  do  Projeto AMA  ‐  que  foi  definido  com maior  precisão  nos  seus  primeiros  termos  de referência (de fevereiro de 1993), que lhe atribuíam a função de opinar com independência técnica também sobre os projetos individuais, além de sobre a eficácia de todo o Programa. Originalmente, o IAG respondia ao Grupo de  Participantes, mas  ao  criar‐se,  em  1999,  a Comissão de Coordenação Conjunta  (CCC) o  IAG passou a  responder a ela. Atualmente, embora  continue  como órgão assessor, presta  contas e apresenta seus relatórios à CCC. 

 Entre  as  suas  principais  contribuições  iniciais  ao  PPG7,  o  próprio  IAG  lista  as  seguintes:  ajudou  (a) descentralização  da  UFTB  de  Washington  (EUA)  para  Brasília;  (b)  na  integração  de  quatro  projetos independentes e com pouco êxito em um só, o SPRN; (c) na concepção dos PGAIs com participação municipal em todos os estados da Amazônia Legal; (d) no deslocamento da ênfase exclusiva do PPG7 em conservação para  uma  ênfase  em  desenvolvimento  sustentado;  e  (e)  no  lançamento  do  Projeto  AMA  amparado  nos termos  do  Anexo  e  na  proposta  da  Revisão  Institucional.  Atribui‐se  ao  IAG,  também,  a  aproximação  do governo brasileiro  aos doadores e, principalmente,  a  ajuda na  transferência das  competências do Bird  às entidades  executoras do Brasil, na  área de pré‐investimento  e  investimento  em projetos.  São  realizações cujo valor agregado ao PPG7 é considerável, se forem efetivamente atribuídas ao IAG. 

 Em dezembro de 2001, foram aprovados pela CCC os novos TdRs do IAG com alcance mais estratégico e foco no aumento do impacto do PPG7, apoio ao AMA para dar amplitude e qualidade à função de monitoramento e avaliação, aprendizagem, e divulgação das lições do PPG7.138 Os seus oito membros nomeados pelo Grupo de Participantes e escolhidos em conjunto pelo Bird e o MMA ‐ ad referendum do CCC ‐ teriam um mandato de  três  anos,  renovável. O  IAG  reunir‐se‐ia uma  vez por  ano, em Brasília,  ao  término dos  trabalhos  seria preparado um relatório a ser submetido à CCC e apresentado à seguinte reunião do Grupo de Participantes. Na prática, as reuniões ocorreram, aproximadamente, duas vezes por ano. O orçamento anual de operações do IAG foi fixado, em 2001, em US$ 100 mil, provenientes do RFT e o apoio logístico para seu funcionamento seria proporcionado pelo MMA. 

 A partir de 2001, as práticas do IAG foram alteradas e seus relatórios, preparados em português, passaram a ter circulação mais ampla. Por outro lado, suas atenções se voltaram às questões estratégicas do PPG7 e não mais  se  limitaram  ao  acompanhamento  de  projetos,  e  passou  a  ter  um  maior  número  de  membros brasileiros,  que  em  2000‐2004  ocuparam  sua  presidência  e  vice‐presidência.  As missões  e  inspeções  de campo  descobriram  aspectos  até  então  desconhecidos  do  público  e  dos  especialistas,  como  o  caso  do esquema de grilagem de Anapu (PA) e o desmatamento em trechos da estrada de Lábrea (AM). Entre suas propostas  inovadoras  destacam‐se  novos  negócios  de  consultoria  florestal,  pagamento  de  royalties  de compensação por atividades econômicas e povoamento científico‐tecnológico.139 

 

137  PPG7 ‐ Projeto de Apoio à Coordenação do PPG7 (ACPP). Agosto, 2005. 138  PPG7 ‐ Revised Terms of Reference for the IAG. Brasilia, junho, 2000. 139  PPG7 ‐ Relatório de Progresso 2000‐2004. 

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No  início  do  PPG7,  a  definição  ambígua  dos  papéis  dos  diversos  atores  do  Programa  deu  lugar  a  alguns conflitos  interinstitucionais e  tensão entre eles, devido a  impacto adverso sobre a execução do Programa. Pela natureza de sua composição e a credibilidade e confiança conquistada, o IAG foi chamado em diversas oportunidades para  intermediar a  solução desses conflitos. Embora meritório no  início do PPG7,  tal papel não seria necessário, nem recomendável a esta altura do desenvolvimento institucional dos seus parceiros. A simples leitura dos relatórios de suas reuniões anuais e extraordinárias indica a amplitude de cobertura dos debates sobre a temática do PPG7 e os aportes técnicos de seus membros.  Por outro lado, o relatório da RI na  sua  análise  do  IAG  conclui  que,  na  sua  etapa  inicial,  em  vista  da  falta  de  um  “cliente”  para  as recomendações de  caráter estratégico que  seus  relatórios  continham,  levou‐o a, progressivamente, voltar sua atenção às questões mais específicas relativas aos projetos. 

 A  leitura de seus relatórios também revela que são numerosas e ricas de conteúdo técnico e estratégico as contribuições  do  IAG  ao  PPG7.140  De  uma  forma  geral,  suas  recomendações mereceram  a  atenção  dos participantes  e  das  entidades  executoras  e  constituíram  um  complemento  efetivo  à  divulgação,  embora restrita, do avanço e dos debates em torno aos temas centrais do PPG7. Há que ressaltar que o trabalho do IAG  foi,  normalmente,  apoiado  e  enriquecido  com  os  relatórios  que  a UFTB  e  informações  colhidas  pelo Projeto  AMA,  apresentadas  em  suas  reuniões  anuais.  Ultimamente,  os  relatórios  têm  sido  feitos  pela Coordenação  do  PPG7,  na  SCA/MMA.  Vários  interlocutores  desta  Avaliação  manifestaram‐se  favorável‐mente ao IAG, mas começa a haver opiniões sobre sua importância decrescente. Ao final da etapa eminen‐temente  piloto  do  PPG7,  sua  função  poderia  ser  transferida,  gradualmente,  às  entidades  especializadas nacionais. 

 8. Lições aprendidas. Síntese da experiência institucional do PPG7

 Entre os fatores  limitantes da AI do PPG7, destaca‐se a falta de continuidade provocada pelo diferencial de temporalidade entre o Programa e os mandatos dos governos federal e estaduais. O amadurecimento de um projeto  piloto  como  o  PPG7  requer mais  do  que  os  quatro  anos  que  tiveram  os  respectivos ministros  e secretários estaduais de meio ambiente. Assegurar a continuidade do PPG7 foi, portanto um grande desafio para evitar que o ritmo de sua execução não se subordinasse ao ritmo dos tempos políticos. Com efeito, as transições governamentais tiveram um efeito pernicioso sobre o Programa, já que este praticamente parava na etapa final do governo que se encerrava e demorava a arrancar com o governo iniciante. Em um desses períodos, o lapso de tempo chegou a nove meses.141 

 Outro  fator  limitante diz respeito à cultura  institucional dos distintos ministérios, de suas prioridades e de seus desdobramentos operacionais. Este componente da Avaliação mostra como a cultura  institucional do MMA e os interesses dos parceiros afetaram o PPG7 e a causa ambiental das florestas tropicais, Finalmente, há  o  conhecido  problema  que  é  operar  dentro  das  inúmeras  restrições  de  contratação,  utilização  e remuneração de pessoal,  aspecto que  afetou negativamente o PPG7, principalmente, na  sua  atual etapa. Todos estes fatores apontam para a necessidade de criar uma  AI com “blindagem institucional” que proteja o sucessor do PPG7 destas graves limitações.  Principal  lição da experiência  institucional do PPG7: o sucesso de qualquer projeto ou programa depende, em  grande medida,  da  adequação  do  seu  desenho  institucional  aos  seus  objetivos,  e  de  uma  avaliação realista  de  capacidade  acompanhada  de  medidas  para  reforçá‐la  onde  estiver  carente.  Outra  lição importante é que a geração de conhecimentos e sua aplicação tecnológica ‐ vocação de um programa piloto ‐ foram  deslocadas  devido  ao  debate  em  torno  de  uma  agenda  substantiva mais  ampla  e  a  gestão  das múltiplas demandas  sobre o PPG7,  tendo como conseqüência um desempenho de execução programática fraca, principalmente  com  respeito  à  função de M&A. A  experiência  institucional do PPG7,  tratada neste estudo, oferece uma plataforma que poderia ser útil na escolha entre alternativas de arranjos institucionais para uma eventual ampliação ou sucessão do PPG7. 

  

140  Relatórios das Reuniões I a XVIII do IAG. 141  Observação de um entrevistado próximo ao PPG7. 

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As perspectivas institucionais do PPG7 devem ser tratadas em função da natureza e alcance de sua próxima etapa. Portanto, importantes constatações ainda estão por ser feitas e decisões correspondentes ainda estão por  ser  tomadas.  Primeiramente,  deve‐se  determinar  se,  nos  seus  15  anos  de  existência,  o  PPG7  terá acumulado suficiente experiência e acervo de conhecimentos para fundamentar uma estratégia de aumento de  escala  baseada  na  aprendizagem  dos  seus  projetos.  Caso  o  inventário  de  conhecimentos  acumulados revele que essa massa crítica ainda não foi alcançada, será necessário que o trabalho do Projeto AMA seja concluído.  Um esforço sério, portanto, deve  ser  feito no sentido de  resenhar e catalogar  tais experiências, extraindo seus  desdobramentos  ‐  insumos  para  um  corpo  coeso  de  políticas  públicas  amplas  e  desenvolvimento sustentável  ‐ que  reflitam  a  variedade dos projetos do PPG7. Para nutrir o  corpo de políticas públicas,  a alternativa  seria  prosseguir  com  o  caráter  piloto  do  PPG7  após  os  ajustes  institucionais  sugeridos  neste estudo. Naturalmente, se ainda houvesse  interesse dos doadores e do governo brasileiro em  financiar, de forma substancial, a extensão do PPG7 como projeto piloto, após 15 anos de experiência.  Entretanto,  sendo  constatação deste  trabalho  complementar de  inventário do  saldo de  aprendizagem do PPG7 que existe uma massa crítica  traduzível em políticas públicas, a natureza do PPG7 ampliado, ou seu sucessor, mudaria  radicalmente.  Tratar‐se‐ia,  então,  de  um  projeto  de  escala muito maior  e  baseado  no legado da aprendizagem do PPG7.   As dimensões dos recursos deveriam ser de ordem de magnitude capaz de  causar  impacto  em  termos  de  desenvolvimento  sustentável,  com  índices  decrescentes  de  comporta‐mentos  predatórios  de  áreas  alvo  nas  florestas  tropicais  brasileiras.  Neste  caso,  seria  necessária  uma estratégia de desenho programático mais aperfeiçoado do que a utilizada no seu lançamento. Por exemplo, em uma escala cujo objetivo seria maximizar o impacto de desenvolvimento sustentável, haveria que pensar na  possibilidade  de montar  uma  bateria  de  intervenções múltiplas  (inspirada  no  elenco  dos  projetos  do PPG7)  concentrada  em  áreas  ou  sub‐regiões  das  florestas  que  apresentem  condições  e  capacidade institucional de absorção.  A análise desenvolvida neste último módulo coincide, em grande medida, com o que o avaliador encontrou no documento do MMA  “Questões  estratégicas  sobre o  futuro do PPG7: documento para discussão”, de agosto de 2004, que tinha em vista a  implementação do PAS. No documento, visualizam‐se duas hipóteses semelhantes às nossas: a primeira considera o piloto virtualmente encerrado e propõe que se concentre  ‐ tanto as ações governamentais quanto os recursos financeiros e técnicos da cooperação  internacional  ‐ na implementação do PAS; a segunda acredita que a definição da política para a Amazônia em  torno do PAS, não exclui, pelo  contrário,  aumenta,  a  importância da  continuidade do PPG7 em uma  segunda  fase,  com características  diversas  que  ‐  não  excluindo  novas  experiências  piloto  ‐  ajudaria  a  implementar  o  PAS  e promover a ampliação de escala das experiências bem sucedidas. 

 A estratégia proposta seria diametralmente oposta à do PPG7, que consistiu na dispersão das  intervenções em vários pontos dos vastos territórios florestais. Tal estratégia se  justifica em um programa piloto, mas o mesmo não ocorre quando o propósito é gerar massa crítica para desencadear desdobramentos produtivos ambientalmente responsáveis. A massa crítica a que nos referimos  ‐ além da convergência e concentração geográfica  das  intervenções  herdadas  dos  projetos  do  PPG7  ‐,  incluiria  infra‐estrutura,  mobilização  e coordenação de  recursos muito  superior  ao que o PPG7  conheceu.142 A pulverização dos projetos no PP‐piloto  daria  lugar  à  concentração  estratégica  no  PP‐escala,  com  uma  estratégia  verdadeiramente programática em que os projetos se complementem. Em termos institucionais, deveriam ser substituídos os arranjos organizacionais para o “varejo” dos pequenos projetos por arranjos institucionais para o “atacado” dos  grandes  investimentos  integrados,  cujo propósito  seria desencadear processos de desenvolvimento  e geração de emprego e renda, ambientalmente sustentáveis.  8.1. Síntese das lições aprendidas

O diagnóstico e a avaliação da capacidade  institucional de  implementação é um requisito  indispensável ao desenho de qualquer programa ou projeto. O PPG7 não  levou  a  cabo  este diagnóstico. O  reforço 

142  A abordagem do Projeto BR‐163 Sustentável aproxima‐se do que se propõe aqui. 

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institucional  das  entidades  executoras  centrais  merece  atenção  prioritária.  Houve  excessiva  depen‐dência  do  PNUD  para  substituir  e  não  desenvolver  a  capacidade  institucional  e  organizacional  das entidades executoras.  

A arquitetura institucional (AI) do PPG7 estava mais voltada para a implementação e não refletiu grande preocupação  com o  impacto  finalístico  institucional do Programa, que, explicitamente, não aspirava a alterar a estrutura institucional das entidades operando na área de proteção ambiental do Brasil, o que prejudicou sua  implementação. Trabalhou‐se com o “que havia  institucionalmente”, o que poderia ser aperfeiçoado ao longo da execução do Programa.143 

  A  governança do  PPG7 não deu  acesso  adequado  dos  seus  executores  às  entidades  formuladoras de políticas,  no  Executivo  ou  Legislativo,  para  que  divulgassem  os  resultados  do  aprendizado  dos  seus projetos. Entretanto, a participação da sociedade civil teve um impacto salutar na AI do PPG7, pois abriu a sua execução e incorporou mecanismos de controle/auditoria social. 

  Nos estados, o PPG7 contribuiu para o  reforço das entidades públicas e alguma aproximação do setor privado. No âmbito nacional, não incorporou este setor que possui grande capacidade de lobby junto ao Executivo e ao Legislativo, além de controle da agenda de desenvolvimento sustentável.144 

  O  multifinanciamento  cruzado  dos  projetos  contribui,  substancialmente,  para  a  complexidade organizacional  do  PPG7,  com  impacto  negativo  sobre  os  incentivos  das  entidades  executoras  dos projetos para gestão eficiente dos recursos e eficácia na busca dos objetivos do Programa. 

  A multiplicidade de regras associadas ao multifinanciamento eleva, consideravelmente, o custo transa‐cional  da  gestão  e  desestimula  a  adoção  de  um  regime  normativo  universal.  Isto  apontaria  para  a conveniência de um sistema único de regras financeiras e maior economia de sistemas informatizados de gestão financeira. O custo transacional elevado da gestão dos projetos é justificado pela natureza  experimental/piloto  que  se  estende  às  suas modalidades  de  financiamento.  Portanto,  deveria  tolerar certos índices de ineficiência e constante mutação, parte da experimentação de todo regime piloto.  

Um corpo consultivo como o IAG, com a qualidade e prestígio internacional de seus membros teve papel importante e agregou valor ao PPG7, em sua primeira fase. 

143 Com efeito, pode‐se afirmar que há alguma evidência de aperfeiçoamento  incidental na modelagem  institucional do PPG7, conforme tratado no início do Capítulo IV. 144 Segundo alguns observadores, o PPG7 ficou muito encerrado nas comunidades científica e "socioambiental”, iden‐tificadas com o setor “contestatório” das ONGs, sem ter conseguido acessar e/ou controlar os operadores predatórios das florestas tropicais.    

89

CCAAPPÍÍTTUULLOO VVIIII AARRRRAANNJJOOSS DDEE CCOOOOPPEERRAAÇÇÃÃOO IINNTTEERRNNAACCIIOONNAALL NNOO PPPPGG77  Neste capítulo, são avaliados aspectos  internacionais do PPG7 "por dentro”, particularmente nos seguintes tópicos: participação e estratégias dos setores interessados, governança, arranjos bilaterais e multilaterais, e cooperação técnica, com destaque para um conjunto de lições e aprendizados.  O PPG7 ‐ visto como iniciativa típica de assistência ao desenvolvimento concebida sob a premissa de que o Brasil deveria ser assistido por países desenvolvidos no processo de conservação das florestas tropicais, por meio de cooperação técnica, financeira e científica ‐ é um experimento institucional dos mais desafiadores. O Programa pretendeu organizar a ação coletiva internacional para lidar com tema ambiental de repercussões globais (conservação de florestas), construindo arranjos multilaterais de negociação e decisão sobre projetos, com base nas contribuições depositadas no RFT, além de compatibilizá‐los com os arranjos bilaterais e co‐financiamentos.  O Programa pode ser  identificado, também, como uma coalizão ambiental transnacional para conservação de florestas, ou seja, uma ação do Estado, em cooperação internacional, responsável pela articulação de um conjunto de redes e relações globais atravessando os limites territoriais nacionais: emergiram novas formas de  ação  e  governança  sobre  políticas,  e  seus  programas  e  projetos,  organização  social,  coordenação  de recursos  e  informações  (e  conhecimento),  além  de  influenciar  espaços  de  poder  político, manifestações culturais, econômicas e tecnológicas. Como proposição política, implicaria na constituição de fundos públicos transnacionais, tal qual o RFT, que permitiriam financiar e produzir bens públicos considerados estratégicos (floresta em pé, por exemplo), seus mecanismos de regulação e de sanção.  Desde 1992, o PPG7 mobilizou um  conjunto expressivo de doadores e parceiros  internacionais: RFA, CEC, Reino Unido, Japão, EPB, EUA, França, Itália e Canadá, além do IAG, Pnud e Bird. Os participantes internacio‐nais  não  desempenham  papel  homogêneo  no  Programa,  manifestam  interesses  próprios  e,  por  vezes, divergentes entre si. Tal participação está definida em acordos de cooperação bilateral e multilateral, que sobrepõem mecanismos de doação financeira e colaboração técnica.  A  complexidade  do  multifinanciamento  do  PPG7,  conforme  destacado  no  capítulo  anterior,  buscou compatibilizar  fontes de recursos externos, tanto multilateral  ‐ com base no RFT  ‐ quanto por meio de co‐financiamentos  advindos  de  doações  bilaterais  a  projetos  que,  por  sua  vez,  representam  a  inversão  dos maiores volumes financeiros, particularmente advindos da RFA e da CEC.  A cooperação técnica ao PPG7 também envolveu mecanismos bilaterais e multilaterais. No âmbito bilateral foram acordadas ações com as agências GTZ e DfID, e a participação da GTZ foi a mais expressiva em termos de  recursos  financeiros,  técnicos e  tecnológicos. No âmbito multilateral, a Unidade de Florestas do Bird é responsável  pelo  acompanhamento  técnico  dos  projetos  financiados  pelo  RFT.  Utilizou‐se,  também,  a cooperação técnica do PNUD no campo da contratação de serviços técnicos especializados para o governo brasileiro  na  operação  de  projetos  (atividades  de  coordenação  e  de  campo).  Diversas  organizações executaram papéis diferentes no PPG7, por vezes complementares: por exemplo, o Pnud é “subcontratado” por projetos e  atua  como  agente  contratador de  serviços; o papel do Bird, definido na  criação do PPG7, envolve  aspectos  técnicos  e  fiduciários. A  inserção dos diversos participantes  internacionais do Programa está expressa no quadro abaixo. 

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QQUUAADDRROO 11 -- PPAARRTTIICCIIPPAAÇÇÃÃOO DDEE PPAARRCCEEIIRROOSS IINNTTEERRNNAACCIIOONNAAIISS

DOADORES: ESTRATÉGIAS, PROJETOS E SUBPROGRAMAS BILATERAIS E MULTILATERAIS

   

RFA 

Participa do PPG7 mediante cooperação financeira e técnica em vários componentes, dentre os  quais:  Projetos  Demonstrativos,  Proteção  das  Terras  Indígenas, Manejo  Florestal  e  da Várzea,  Descentralização  da  Política  de  Recursos  Naturais,  Análise  e  Monitoramento  e Corredores  Ecológicos.  O  governo  alemão  também  é  parceiro  em  oito  projetos  bilaterais associados, apoiando dez dos quatorze projetos do PPG7. O  trabalho do governo alemão é coordenado pela embaixada, em Brasília, implementado pelo Banco Alemão de Reconstrução (KfW) e pela Agência de Cooperação Técnica Alemã  (GTZ). A Alemanha  também  contribuiu com recursos para formação do Fundo para a Floresta Tropical (RFT). 

 CEC 

Atua no PPG7 por meio de cooperação financeira, apoiando os componentes de Reservas Ex‐trativistas, Ciência e Tecnologia, Projetos Demonstrativos, Subprograma da Política de Recur‐sos Naturais e Projeto Corredores Ecológicos. 

 Reino Unido 

Atuou por meio de cooperação  técnica, nos componentes de Ciência e Tecnologia, Manejo Florestal e da Várzea, Descentralização da Política de Recursos Naturais e Projetos Demons‐trativos  Indígenas.  Cooperação  britânica  realizada  pelo  Departamento  para  o  Desenvol‐vimento Internacional (DfID). O Reino Unido também contribuiu com recursos para formação do RFT. 

MULTILATERAIS  

Japão Participou mediante cooperação  financeira, por meio do Fundo  Japonês, administrado pelo Bird  para  preparação  dos  Projetos  Demonstrativos  Indígenas. O  Japão  também  contribuiu com  recursos para  formação do RFT. Atualmente, participa da  cooperação  técnica em dois projetos bilaterais associados. 

 EPB 

Por meio  de  cooperação  financeira,  apoiaram  componentes  do  Projeto  Negócios  Susten‐táveis,  finalizado em 2005, do ProManejo  (Cenaflor e Flona), e o  fortalecimento da Coorde‐nação do PPG7. 

 EUA 

Por  meio  da  Agência  Norte‐Americana  para  o  Desenvolvimento  Internacional  (Usaid),  os Estados Unidos apoiaram os componentes de Ciência e Tecnologia e de Prevenção às Queima‐das e aos Incêndios Florestais (Proteger). Contribuíram com recursos para formação do RFT, e recursos comprometidos para fase 2 do SPC&T. 

 França 

O governo francês, mediante cooperação financeira, apoiou o PPG7 na área de Projetos De‐monstrativos. 

 Itália 

 Participou com recursos na formação do RFT. 

 Canadá 

 Participou com recursos na formação do RFT.  

PARCEIROS PARA COOPERAÇÃO TÉCNICA E FINANCEIRA MULTILATERAL  

IAG Corpo  técnico  consultivo  com  composição  internacional  dedicado  ao  acompanhamento  do desempenho do PPG7, seus  impactos na gestão ambiental regional e  interação com políticas públicas. 

 PNUD 

Responsável pela administração dos recursos de vários dos projetos da carteira do PPG7 é o encarregado da contratação de pessoal e de consultores de curto prazo e da contabilidade dos gastos relativos aos projetos. Também oferece apoio na identificação e recrutamento de consultores nacionais e internacionais 

 Bird 

O Banco Mundial administra o RFT cujos recursos provêm de doação dos países membros do G‐7. Além do papel de fiduciário do RFT, também é responsável pela supervisão dos projetos financiados pelo fundo e pela Secretaria‐Executiva da CCD. 

FFOONNTTEE:: Adaptado de:1) MMA, 2005 d; 2) Sistematização das entrevistas; e 3) Histórico do PPG7/MMA. mimeo. Sem data. 

91

O  arranjo  organizacional  do  PPG7  configurou  alto  grau  de  complexidade  e  representa  um  mosaico  de acordos  e  convênios,  que  sobrepõe  diferentes  regimes  de  gestão  financeira,  com  diversos  processos operativos,  controles  e prestações de  contas,  tanto  externos quanto nacionais. No  âmbito multilateral,  a criação do RFT, em 1992, estabeleceu as primeiras bases para a cooperação no PPG7, e definiu as responsa‐bilidades fiduciárias do Bird para os projetos que recebessem recursos do fundo, demarcando suas atribui‐ções de coordenação, assistência financeira e técnica, e lhe conferindo, inicialmente, um papel de liderança na governança dos espaços multilaterais do PPG7.145 

O Bird desempenhou papel expressivo em  todo o ciclo do PPG7, desde negociações prévias, desenho dos projetos e definição de procedimentos operativos,  até  coordenação,  apoio  e envolvimento na  implemen‐tação, disseminação de  informações,  internalização de  resultados e mobilização de  recursos e parcerias. A rigor, as regras aplicáveis ao RFT são as mesmas aplicadas aos empréstimos para empresas e governos, com certo grau de simplificação em  relação às  regras gerais do Banco. Para os padrões do Bird, os projetos do PPG7  são  financeiramente  pequenos,  porém  com  alta  complexidade  técnica  e  institucional,  e  exigem  a mesma dedicação gerencial conferida a grandes projetos com impactos mais mensuráveis.146 

Os custos de assistência financeira e técnica do Bird representaram 35,31% dos valores depositados no RFT. Segundo o Relatório de Progresso do Programa (MMA, 2005 d), o RFT operou US$ 73,2 milhões, enquanto os recursos executados para administração do  fundo, pelo Bird, corresponderam a US$ 25,85 milhões.147 Em contrapartida, o RFT gerou mais de US$ 20 milhões com aplicações no sistema financeiro que cobririam, em parte, os custos do Bird. O Banco argumenta que nem todos os seus custos seriam, de fato, administrativos, pois  se  refeririam  à  assistência  técnica,  organização  de  reuniões,  funcionamento  do  IAG,  entre  outras atividades. 

Ainda  em  âmbito multilateral,  ressaltam‐se  as  participações  da  Comissão  Européia  de  Cooperação  (CEC), Usaid e RFA. A participação da CEC no PPG7 ocorreu durante as primeiras negociações realizadas no  início dos anos 1990, no âmbito dos encontros do G‐7 e, em seguida, no desenho  inicial do Programa elaborado com  o  governo  brasileiro  e  o  Bird.  A  CEC  participa,  financeiramente,  tanto  com  contribuições  ao  fundo multilateral do PPG7 quanto em co‐financiamentos. O volume global da contribuição da CEC e de cerca de US$  70 milhões. Os co‐financiamentos foram direcionados para quatro subprogramas e projetos:  

 

Apurou‐se,  nas  entrevistas,  que  os  representantes  da  CEC  foram  bastante  ativos  no  processo  de  revisão institucional e de meio termo do PPG7, entre 1999 e 2000, posicionando‐se favoravelmente à reformulação das estruturas de governança multilateral. O objetivo era o maior empoderamento da coordenação brasi‐leira e ampliação do processo de tomada de decisões, por meio de mecanismos de consultas regulares entre as  autoridades  locais,  doadores  e  outros  financiadores. Nos  documentos  consultados,  a  CEC  considera  o PPG7  “a maior  parceria multilateral  jamais  realizada  em  busca  de  solução  para  um  problema  ambiental específico de relevância global” e manifesta interesse em continuar tal parceria nas bases do Plano Amazônia Sustentável (CEC, 2005/MMA, 2005 d). 

A  participação  da Usaid  combinou  a  convergência  no  espaço multilateral  do  PPG7,  pela  contribuição  de recursos no RFT, com a tendência à ação direta junto a beneficiários, sem mediações por agências governa‐mentais,  que  tende  a  predominar  em  suas  futuras  estratégias. O  espaço multilateral  foi  decisivo  para  a atuação da Usaid, em apoio ao SPC&T e ao Proteger, devido à inexistência de acordo bilateral com o Brasil. O  145  Conforme estabelecido na Resolução 92‐2, do Bird, acordada com doadores e o governo brasileiro. 146 Com exceção dos maiores subprogramas operando no RFT ‐ como SPRN e SPC&T, que mobilizaram US$ 38 milhões e US$ 13 milhões, respectivamente ‐ os demais projetos envolveram recursos entre US$ 0,5 a 5,0 milhões. Entre 1992 a 2002, outros projetos do Bird, na Amazônia, movimentaram fundos de maior porte: Planafloro (em Roraima) com US$ 167 milhões, e Prodeagro (em Mato Grosso) com US$ 205 milhões (REDWOOD III, 2003). 147 A título de comparação, segundo o mesmo relatório, foram alocados US$ 2,8 milhões no MMA para a coordenação do PPG7, representando 3,82% do RFT.  

PDA: US$ 3,92 milhões  SPRN: US$ 18,41 milhões 

Resex: US$ 14,44 milhões  SPC&T: US$ 10,36 milhões 

92

SPC&T  foi  implementado,  em  sua  primeira  fase,  com  contribuições  de  US$  1,85 milhões  da  Usaid,  que comprometeu mais US$ 5,1 milhões para a segunda fase do subprograma. 

O  Projeto  Proteger  foi  um  exemplo  positivo  para  a  Usaid:  inicialmente  motivado  pela  necessidade  de enfrentar os incêndios florestais em Roraima, em 1998, a Agência ‐ em acordo com o Ibama ‐ concluiu que o meio mais efetivo para buscar soluções duradouras seria trabalhar com os sindicatos de trabalhadores rurais, afiliados  à Rede GTA. Com o apoio do PNUD, para  canalizar o  investimento de  forma mais  rápida,  foram doados US$  2,2 milhões,  em duas  fases,  em  apoio  ao  Proteger para  educação  ambiental,  viabilização de alternativas produtivas, e manejo no uso do fogo, atuando de maneira mais direta com grupos de mulheres e jovens  rurais. Os  técnicos da Usaid  também  atuaram diretamente na  supervisão  e  acompanha‐mento do projeto, ao lado do gerente do Bird, porque operavam recursos do RFT. 

A experiência no PPG7 permitiu à Usaid explorar oportunidades para gerar sua estratégia qüinqüenal (2003‐2007) da atuação com consórcios socioambientais, e participação de organizações civis brasileiras (líderes) e dos EUA: 

1. ALFA, coordenado pelo IEB; 

2. Amazoniar, coordenado pelo Programa Amazônia do WWF/Brasil; e 

3. Estradas Verdes, coordenado pelo Ipam.  

Para  alcançar  o  objetivo  comum  ‐  atuar  sobre  a  governança  socioambiental  em  territórios  amazônicos  ‐ anualmente,  são  mobilizados  entre  US$  1,5  a  2  milhões,  nessa  estratégia.  Recentemente,  a  Usaid estabeleceu uma iniciativa regional para a Bacia Amazônica também influenciada pela experiência no PPG7, incluindo  a  Bolívia,  Colômbia,  Equador,  Peru,  e  Brasil,  com  orçamento  qüinqüenal  de  US$  50  milhões destinados a projetos com OSCs, universidades e fundações (Usaid, 2005).148 No âmbito bilateral destacam‐se as participações do governo do Reino Unido e da RFA. O Reino Unido dirigiu sua cooperação técnica ao PPG7 ‐ SPC&T, SPRN, PDA, ProVárzea e ProManejo ‐ pelo Department for International Development (DfID), que enfatizou a reconciliação entre a proteção ambiental com meios de vida sustentáveis.  Destaca‐se o apoio a estudos no âmbito do ProVárzea,  sobre a democratização do processo de decisão e políticas  públicas,  na  área  ambiental.  Os  estudos  realizados  permitiram  verificar  que  o  incremento  no número e tipos de mecanismos participativos não resultou, necessariamente, em mais e melhores políticas públicas. No âmbito do SPRN, a cooperação técnica e financeira do DfID apoiou a implementação do método Gestão Participativa para o Desenvolvimento Local, com a mobilização da população local para elaborar uma visão  realista  do  futuro,  treinamento  dos  governantes  locais  orientando‐os  para  o  interesse  público, articulação com serviços públicos por meio dos PGAIs, além do Programa de Capacitação Ambiental (PCA).  A característica da cooperação técnica do DfID foi a flexibilidade e disposição para  inovar. Por esta razão, os programas  eram  concebidos  e  desenhados  sobre  a marcha  do  aprendizado  dos  seus  próprios  técnicos  e consultores que adaptavam a sua assistência à medida que melhor conheciam o contexto da demanda. Tal abordagem contribuiu para maior empoderamento dos beneficiários, ao contrário do que ocorreu nos casos em  que  a  assistência  dada  respondia  a  uma  lógica  de  oferta  dos  doadores.  Em  2003,  a  agência  britânica encerrou sua participação no PPG7.    A cooperação financeira alemã representa 45% do total dos fundos disponibilizados no PPG7, 149 e a soma dos investimentos nos projetos bilaterais associados alcança o volume de € 260 milhões, dos quais € 200 milhões alocados diretamente pelo KfW, € 45 milhões executados pela GTZ, e € 16,4 milhões alocados no RFT.150 O quadro a seguir apresenta a contribuição alemã distribuída por subprogramas e projetos.  

148 Cabe notar que a ausência de acordo de cooperação bilateral entre os governos do Brasil e dos EUA, somado à rea‐lização de projetos da Usaid em  território nacional, exclusivamente  com atores não‐estatais, ou ainda  sem acompa‐nhamentos governamentais  ‐  locais ou federal ‐, pode se transformar em objeto de controvérsia entre as diplomacias dos dois países. 149 Com base no Acordo sobre a Cooperação Financeira para a Execução de Projetos para a Preservação das Florestas Tropicais 1997‐2000, firmado entre o governo brasileiro e a RFA (MRE, 2006). 150  RFA/KFW/GTZ ‐ Cooperação entre Brasil e Alemanha nas florestas tropicais brasileiras. Brasília, 2002. Folheto. 

93

QQUUAADDRROO 22 ((AA//BB)) -- CCOONNTTRRIIBBUUIIÇÇÃÃOO FFIINNAANNCCEEIIRRAA DDAA RRFFAA

AA

BB

 

          FFOONNTTEE:: RFA, 2002.  

 

 

 

 

  Cooperação: bilaterais associados

em milhões de euros

14,420,5

9,27,7

7,76,16,1

71,7

Unidades de Conservação

Proteção Mata Atlântica - SP

PMA - PR

PMA - MG

PMA - RJ

PMA - SC

PMA - RS

Total

Cooperação financeira em milhões de euros

15,4 35,8

15,4

20,5

4,1

13,3

16,4

7,7

128,6

PPTAL

PDA

ProManejo

SPRN

ProVárzea

PDPI

CorredoresEcológicos

Arpa

Total

94

As  formas de  atuação da  cooperação  técnica  teuto‐brasileira, no  PPG7,  foram  as  seguintes:  assessoria para  ações  conjuntas,  execução  direta  de  ações  de  projetos  como  integrantes  de  equipes  nacionais, atendimentos  a  demandas  locais  por  produtos  ou  serviços  especializados,  e  provimento  de  produtos entendidos como estratégicos.152 No arranjo atual, excluindo os bilaterais associados, a GTZ coopera em sete projetos, mobilizando valores da ordem de € 32, 324 milhões, distribuídos conforme o quadro abaixo:

 QQUUAADDRROO 33 -- CCOONNTTRRIIBBUUIIÇÇÃÃOO FFIINNAANNCCEEIIRRAA DDAA GGTTZZ

 

 

 

 

           FFOONNTTEE:: RFA, 2002. A GTZ atua, também, como “consultora  independente” no controle do uso dos recursos providos pelo KfW nos projetos do PPG7,  conforme definido no  acordo de  cooperação  financeira  supracitado. A  cooperação técnica realizada pela GTZ teve importante inserção nos projetos de gestão ambiental integrada, executados nos  estados,  particularmente  no  Acre  e  Pará,  que  complementaram  ações  de  desenvolvimento  rural efetuados em projetos bilaterais associados, como o Projeto Prorenda.   Destaca‐se,  também,  a  participação  da  cooperação  técnica  e  financeira  alemã  no  PDA,  em  apoio  à experimentação  de  alternativas  ambientais  no  campo  da  produção  agroextrativista  e  proteção  de  terras indígenas ‐ tanto do ponto de vista de fortalecimento institucional dos setores da Funai, envolvidos no PPTAL quanto no estabelecimento de métodos participativos de demarcação de terras com organizações indígenas. A dupla contribuição permitiu à GTZ formular, posteriormente, o Projeto Demonstrativo dos Povos Indígenas (PDPI) orientado para apoiar iniciativas econômicas dessas populações.  Dentre os elementos facilitadores da cooperação alemã em campo, outro destaque é a forma de  interação dos  peritos,  em  relação  direta  com  tomadores  de  decisão,  a  pertinência  de  suas  propostas  buscando  a construção  conjunta de  soluções a partir das necessidades das bases e boa governança dos projetos. Por outro  lado, uma melhor  visão  sobre  a  sustentabilidade  econômica  foi  um  dos  temas  importantes  para  a agenda de desenvolvimento local, que pouco teria avançado na pauta dos cooperantes.  O  investimento  na  participação  qualificada  foi  outro  aspecto  da  contribuição  alemã,  particularmente  na promoção e incentivo ao uso de processos e metodologias participativas, em diálogos políticos e descentra‐lização da gestão ambiental nas  instâncias estaduais e municipais. A estabilidade  institucional provida pela 

151 Conforme o II Acordo Básico de Cooperação celebrado entre o Brasil e a RFA, em 1996. 152 Conforme o II Acordo Básico de Cooperação celebrado entre o Brasil e a RFA, em 1996.

Valores em mil euros

5545

9314

4908

35782933

3566

2480

0

1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000

10000

PDA-PDPI

Oemas/SPRN

PPTAL ProManejoProVárzea

AMA Cor.Ecológicos

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cooperação  com  a  RFA  no  PPG7  conferiu‐lhe  a  estrutura  básica  e  duradoura  da  cooperação  técnica  e financeira  no  PPG7,  e  constituiu  meios  estáveis  de  documentação,  memória,  monitoria,  avaliação  e disseminação.  O  orçamento  da GTZ  para  o  PPG7,  em  2005,  atingiu  seu  ponto mais  alto  e,  desde  então,  tem  projeção decrescente com previsão para término em dezembro de 2006. Em campo, constata‐se a redução do número de peritos. Há, entre os parceiros  locais visitados, a percepção geral positiva diante da cooperação técnica alemã,  com  a  recomendação  do  aumento  do  número  de  peritos  e  sua  presença  local:  tanto  em  tempo integral no apoio aos municípios que buscam fortalecer seus meios de gestão ambiental quanto em questões técnicas  específicas,  por  exemplo,  para  apoiar  os  executores  no  uso  de  instrumentos  de  sensoriamento remoto e metodologias participativas.  O  aumento  da  demanda  considera,  também,  a  necessidade  de  articulação  da  cooperação  no  interior  de políticas públicas seguindo suas orientações, com maior adaptação e flexibilidade dos cooperantes externos às condições  locais para  implementação dos projetos. Considera‐se, ainda, certo grau de  imprevisibilidade, sobretudo quando os executores são prefeituras e OSC,  impondo mudanças e reorientações relativamente freqüentes.  A avaliação brasileira é  favorável à manutenção da cooperação técnica e financeira realizada com a RFA e, em  particular,  no  PPG7.  Alguns  ajustes  são  propostos  para  aportar maior  eficiência  à mesma,  tais  como maior transparência no processo de planejamento das ações de cooperação e a definição clara dos papéis dos  peritos  que  atuam  de  forma  descentralizada.  No  futuro,  segundo  o  Protocolo  de  Negociações Governamentais Brasil‐Alemanha para a Cooperação Técnica e Financeira,153 as diretrizes para a cooperação da RFA estabeleceram uma orientação com base em três linhas temáticas: áreas protegidas e uso sustentável dos  recursos  naturais;  demarcação  e  proteção  de  terras  indígenas;  e  ordenamento  territorial  e desenvolvimento regional.  Tais  linhas determinam os marcos da colaboração teuto‐brasileira com o novo Programa Amazônia, que se encontra em gestação sob a liderança da SCA/MMA.  1. Resultados e lições da governança transnacional do PPG7154  O PPG7 configurou uma parceria  internacional com arranjos bilaterais e multilaterais  jamais  realizados no Brasil, em busca de soluções para um problema complexo (conservação de florestas) de relevância global. O Programa  não  partiu  de  um  diagnóstico  consensuado  e  articulado  coletivamente  sobre  problemas prioritários e soluções viáveis. Entretanto, ao  longo do processo de execução,  foi relativamente bem suce‐dido  na mobilização  de  parcerias  e  formulação  de  estratégias  nacionais  e  internacionais,  no  governo  e sociedade civil, buscando soluções para harmonização do uso e conservação dos  recursos  florestais, ainda que em escala piloto e, sobretudo, no campo socioambiental.  A coalizão  internacional construída no Programa constituiu um meio de maior convergência e complemen‐taridade dos apoios externos, com maior capacidade de fortalecimento institucional interno para lidar com a proteção florestal. O PPG7 também permitiu reduzir críticas dos ideólogos da “internacionalização” regional, supostamente  promovida  pelos  cooperantes  externos:  o  Programa  conferiu  maior  transparência  à cooperação, que resultou em maior legitimidade interna da cooperação internacional em temas ambientais, e  compartilhou  responsabilidades,  transnacionalmente,  para  criar  soluções  visando  à  conservação  das florestas tropicais brasileiras.  No entanto, a complexidade da matriz de financiamento e dos ciclos de projetos, com custos de transação inerentemente altos e morosos, a rigidez administrativa e a sobreposição de  instâncias de poder e tomada de decisão, mantêm‐se como elementos críticos do PPG7. O empoderamento brasileiro na coordenação do PPG7  e  a  constituição  de  instâncias  de  governança  conjunta  (CCC,  CCD  e  CCB)  representam  avanços  na 

153 Negociações governamentais Brasil‐Alemanha para a Cooperação Técnica e Financeira, 2005.  154 O termo “cooperação regional”, a seguir, refere‐se ao continente sul‐americano. 

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ampliação  da  participação  no  Programa,  mas,  não  necessariamente,  garantiram  mais  efetividade  nas decisões.  A  estrutura  complexa  mantém  barreiras  para  aumentar  a  eficiência  de  implementação  e efetividade, sobretudo naqueles casos em que estão, de fato, sobrepostos gerências e executores federais, estaduais e municipais, com recursos do RFT e co‐financiamentos intermediados pelo PNUD e Bird e, ainda, com  transferências  para  OSCs.  As  recomendações  por  maior  simplificação  e  flexibilização  dos  procedi‐mentos  do  PPG7  ainda  são  pertinentes,  sem  desconsiderar  a  utilização  de mecanismos  de  desembolso alternativos. Por outro  lado, permanece a  insatisfação com situações nas quais quantias de financiamentos ficam  ociosas  devido  à  implementação  excessivamente  lenta,  como  ocorre  na  execução  descentralizada pelos estados no PGAI/SPRN.  A  falta  de definição mais  clara  sobre  o  papel,  atribuições  e  limites  dos  parceiros  internacionais  no  PPG7 gerou  conflitos  e  tencionou negociações  entre  as partes  envolvidas em  sua  governança. As  controvérsias sobre  a  participação  do  Bird  são  emblemáticas.  No  início  do  PPG7,  os  doadores  conferiram  ao  Bird atribuições de coordenação, controles técnicos e financeiros, com capacidade de não‐objeção (veto) sobre a utilização  dos  recursos multilaterais. Com  a  implementação do  Programa,  os  doadores  buscaram  exercer maior  liderança,  em detrimento das  atribuições  conferidas  ao banco,  com  críticas  ao papel,  aos  custos  e procedimentos,  inclusive,  explicitadas  na  Revisão  de Meio  Termo  (RMT):  o  banco  estaria  excessivamente empoderado na governança do PPG7 ‐ em especial na fase de preparação dos projetos ‐ e dificultaria maior apropriação (ownership) brasileira. 155  Ocorreu um processo de adaptação parcial do papel do Bird de  líder e coordenador do PPG7 para apoiador da  coordenação pelo  governo brasileiro,  como  recomendou  a RMT. Ao mesmo  tempo  em que  a  coorde‐nação brasileira conquista maior ascendência, o banco ainda é duplamente empoderado no sistema PPG7, tanto em  sua governança quanto na gestão de projetos: exerce  forte  influência na agenda e decisões das instâncias de  coordenação  conjunta  (conforme  constatado nas  entrevistas  e  em  atas da CCC);  e mantém atribuições  fiduciárias  e  controle  técnico  sobre  os  subprogramas  e  projetos  no  ambiente  multilateral, inclusive com capacidade de objetar sobre suas estratégias, atividades, contratações e aquisições.   Alterar  o  papel  do  Bird  e  o  regime  operativo  dos  projetos  financiados  pelo  RFT  exigirá  um  conjunto  de negociações e acordos  formais entre os doadores e o governo,  sem os quais  se manteria  a  tendência de fortalecimento  de  estratégias  bilaterais  dos  doadores,  que  geram  certa  dispersão  dos  participantes,  e reforçam  a  complexidade do multifinanciamento. Por outro  lado, em geral,  infere‐se das entrevistas uma avaliação positiva quanto à participação do Bird no PPG7, particularmente na capacidade institucional que o possibilitou atingir resultados satisfatórios, dentro de procedimentos confiáveis.   O MMA manifestou  interesse  em  continuar  a  aliança  com  o  Bird,  no  futuro  do  Programa,  porém  “com mecanismos  diferenciados,  um  regime  especial  para  operar  as  doações,  ciclo  de  projetos mais  ágeis  e flexíveis”. Haveria, também, disposição dos doadores em agilidade e simplificação operacionais no uso das doações, facilitando a chegada dos recursos aos beneficiários. Porém, conforme aferido nas entrevistas, os pares  dos  doadores  no  Conselho  de  Administração  do  Bird,  em  Washington,  mantém  exigências  para procedimentos e controles rígidos, se opõem à flexibilização de regras ou afrouxamentos, diante de caso de desvios de recursos, de objetivos, ou mesmo corrupção.  O  regramento  institucional  dos  parceiros  internacionais  do  PPG7  ainda  é  objeto  de  tensão  diante  das condições dos executores e beneficiários para a execução de projetos. Um exemplo é o caso da participação dos bancos de desenvolvimento (KfW e Bird) que, tradicionalmente, operam empréstimos para empresas e governos,  e  no  PPG7  se  depararam  com  doações  destinadas  a  apoiar  projetos  com  a  participação  de movimentos  sociais  e OSCs de pequeno porte.    É um quadro de  execução de projetos  com  alto  grau de informalidade e  fragilidades  institucionais, para quem as regras e procedimentos dos bancos, bem como o perfil  de  seus  gerentes,  resultariam  em  imposições  e  inflexibilidade  operativa  em  situações  diversas, conforme manifestado em entrevistas (ALMEIDA, 2001/GTA, 2005 b/RMA, 2005). Segundo a Coordenação do 

155 Houve,  também,  restrições  ao  sistema que  consistia  em  gerenciar  programas  a partir de Washington,  posterior‐mente superado pela internalização da Unidade de Florestas do Bird, em Brasília. 

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PPG7, a soma das burocracias do Bird, dos doadores e governo brasileiro constituíram um emaranhado de regras que atrasou e dificultou o funcionamento eficiente e eficaz dos projetos e subprogramas. 

Enfim, faltou maior entendimento sobre o papel da cooperação no ambiente multilateral, ao mesmo tempo em  que  os  cooperantes  operaram  em meio  a  diferentes  instâncias  governamentais  (federal  e  estadual) compartilhando  diversos  papéis:  da  assessoria  técnica  ao  controle  financeiro  e  comando  sobre  projetos. Nesse contexto, manifestaram‐se interesses e ideologias divergentes, particularmente aqueles mais focados na conservação, em disputa com os mais interessados em desenvolvimento e inclusão social. 

O PPG7  também  foi positivo para os parceiros  internacionais, na medida em que  gerou desdobramentos internos em sua reflexão ambiental e florestal. Para o Bird, por exemplo, mostrou‐se um importante meio de aprendizagem  sobre  como  lidar  com  novos  parceiros  (OSCs)  e  reformular  estratégias  com  parceiros tradicionais (estados), permitindo, ao banco, constituir uma nova unidade técnica e gerencial, a de florestas (REDWOOD III, 2003). 

Dentre  os  fatores  que  prejudicaram  a  participação  dos  agentes  externos  destaca‐se  a  intensidade  de atividades paralelas na Amazônia e o co‐financiamento bilateral na Mata Atlântica, resultado parcial de certa rigidez  inerente  a  seus  procedimentos,  relativamente  autocentrados.  Surgem,  então,  problemas  com  a adequação  ao  novo modelo  de  cooperação  para  o  desenvolvimento  experimentado  no  PPG7,  que  busca consolidar mecanismos de colaboração multilateral. 

Outro fator complicador: nos últimos anos, a indefinição sobre a fase II do PPG7 (a partir de 2002) provocou certa preocupação,  entre os doadores,  sobre  a  inversão de  recursos novos  e  adicionais  para o  futuro da cooperação na área florestal, conforme manifestações expressas nas atas da CCC (entre 2003 e 2005) e no Seminário  do  PPG7  (Santarém/PA,  em  2005). Nesse  período,  também  ocorreram  cortes  substanciais  nas contribuições  dos  doadores,  por  razões  que  podem  ter  sido  motivadas  tanto  por  mudanças  em  suas estratégias  institucionais156 quanto pela  insatisfação com o desempenho do governo brasileiro na execução do  PPG7  e de  seu possível  sucessor. O MMA,  em 2006,  apresentou o  Programa Amazônia que pretende definir o papel da cooperação internacional na área ambiental, e onde manifesta o interesse em continuar e aprimorar mecanismos de cooperação técnica e financeira, bilateral e multilateral. 

O  quarto  objetivo  do  PPG7  ‐  de  experimentação  de  um modelo  de  cooperação  internacional  ‐  expressa expectativas  de  que  configuraria  um  conjunto  de  iniciativas  inovadoras  em  sua  estratégia  de  implemen‐tação, resultados e impactos, podendo servir como exemplo (senão modelo), para programas deste porte em outras  florestas  tropicais.  A  avaliação  do  quarto  objetivo,  porém,  aponta  certa  controvérsia  segundo resultados  das  entrevistas  e  da  enquete:  para  a maior  parte  dos  parceiros  externos  o  objetivo  foi  bem sucedido,  enquanto para  outros participantes  teria  sido  irrelevante.  Em  geral, os participantes brasileiros entrevistados  demonstram  relevância  reduzida  ao  objetivo  de  constituir  um  exemplo  de  cooperação internacional por meio do PPG7. A coordenação brasileira e os doadores conferem maior prioridade a esse ponto, inclusive com maior vigor quanto à apropriação, promoção e disseminação de resultados em âmbito internacional, o que, por sua vez, tende a gerar conflitos de autoria sobre o PPG7. 

De  fato, o objetivo de  tornar o  PPG7  um modelo  internacional  é o menos  explicitamente buscado pelos participantes, como algo sistematicamente monitorado e avaliado, gerador de lições e aprendizados capazes de  originar  novos  modelos.  As  contribuições  do  Programa  à  implementação  dos  compromissos  in‐ternacionais  do  Brasil  estarão  associadas,  sobretudo,  às  questões  substantivas  da  gestão  ambiental,  com ênfase  na  participação  e  controle  social.  Internacionalmente,  o  PPG7  ainda  se  apresenta  como  uma experiência sem precedentes, porém não poderia ser considerado exatamente como modelo para a coope‐ração  internacional, em questões como arranjo  institucional e governança. O desenho de “atendimento às demandas”  gerou  segmentação  institucional  e de  implementação,  e,  conseqüentemente, precarização da governança do PPG7.  O arranjo constituído concentrou‐se na implementação de experimentação e demonstração de inovações no uso e conservação de recursos naturais, mas pouco se dedicou à inovação e consolidação de novos arranjos de  relacionamento  internacional.  Ao  contrário,  reforçou  o  convencional,  sobrepondo  regras  e  práticas 

156 Por exemplo, o DfID reorientou seu foco para a resolução de conflitos no Iraque, e a Embaixada do Reino dos Países Baixos (EPB) converteu seus projetos para países com desenvolvimento relativamente menor do que o Brasil. 

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rotineiras, e pouco harmonizou  regimes de operação de diversos participantes nacionais e  internacionais. Houve pouca adaptação e integração de procedimentos, constatando‐se que, em média, cada projeto opera com dois a quatro documentos de cooperação. 

Por outro  lado, o PPG7 é mais exemplar em  temas  como descentralização da gestão ambiental em áreas prioritárias  dos  estados  amazônicos;  implementação  de  áreas  protegidas,  como  reservas  extrativistas; demarcação  de  terras  indígenas;  incentivo  à  produção  sustentável;  prevenção  de  desmatamento  e  quei‐madas; produção de conhecimento científico e tecnológico; fomento à participação e controle social sobre políticas  públicas;  e  experimentação  e  demonstração  da  viabilidade  de manejo  sustentável  de  recursos florestais, com capacidade de replicabilidade em outros países tropicais. 

O PPG7 gerou uma nova dinâmica na gestão pública ambiental e regional, e produziu aprendizados  institu‐cionais que não são triviais, pois muitos servidores, ambientalistas e empreendedores passaram a ter algum tipo de inserção e formação na área internacional.  A criação de uma nova cultura institucional no trato com a cooperação, antes  inexistente, abriu caminhos para  iniciativas nas demais áreas de  interesse do Estado e da sociedade, para a circulação de pessoas, bens e serviços nas fronteiras e internacionalmente.  

A mobilização de  recursos é, sobretudo, uma atividade política para a qual o Estado e a sociedade devem estar preparados e capacitados em formulação de projetos coerentes com os seus princípios e objetivos. Ao lado das  contribuições  financeiras,  considera‐se  a  cultura organizacional uma das principais  contribuições dos  parceiros  internacionais  do  PPG7,  no  contexto  das  políticas  públicas  regionais:  aprimorou‐se  a capacidade de planejamento,  com maior  racionalidade  (organização e métodos) na execução, práticas de controle e avaliação. 

Nos  últimos  vinte  anos,  diversos  organismos  governamentais  e  não‐governamentais  beneficiaram‐se  e investiram,  cada  vez mais,  na  cooperação.  Verificou‐se,  porém,  certa  fragmentação  das  ações  governa‐mentais  expressa na departamentalização de  atividades, projetos  e programas que, por  sua  vez, provoca ainda mais  desencontros  na  ação  internacional  no  setor  público.  Corre‐se,  sempre,  o  risco  de  um  dado produto,  ou  certa  região,  envolver  uma  dezena  de  projetos,  com  suas  quase  dezenas  de  objetivos  e executores  que  não  se  comunicam  e  não  convergem,  de  fato,  para  algum  tipo  de  execução  integrada, dispersando os sempre reduzidos recursos disponíveis. Resultados promissores podem ser aferidos na maior parte  dos  processos  cooperativos.  No  entanto,  muitos  se  apresentam  isolados,  sem  articulações  com políticas de desenvolvimento  local que permitam alcançar maiores  impactos nas esferas socioambientais e econômicas.  Em  se  tratando  de  cooperação  internacional  para  o meio  ambiente,  a  experiência  demonstrou  que  há, sempre, o  risco de  transformar o que deve  ser  complementar às políticas em algo que as  substitua, pela ausência do aparelho do Estado ou de meios mais ágeis no governo. De  fato, parte dos  serviços  técnicos providos pelas agências de cooperação bilateral e multilateral não foram ações complementares ao Estado, mas  substitutas:  seja  pela  ausência  de meios  públicos,  seja  pela  necessidade  de  contratação  de  bens  e serviços com maior agilidade, dentro de padrões aceitáveis para evitar contingências governamentais.  Soma‐se a isso, o risco da fragmentação e sobreposição de projetos no interior da política ambiental gerando múltiplas  iniciativas  desconexas,  ineficiência  no  alcance  de  metas,  e  descoordenação  dos  participantes brasileiros. O  exemplo  do  PPG7  demonstrou,  também,  que  no  ambiente  de  governança multilateral,  na ausência  de  forte  liderança  brasileira,  os  doadores  e  as  organizações  internacionais  e  multilaterais  de cooperação  técnica  e  financeira  assumem maior  capacidade  de  influência  e  tomada  de  decisão,  coorde‐nando projetos em um ambiente de  fragmentação política.157 Tal  situação  se altera, paulatinamente, com fortalecimento  institucional  dos  participantes  nacionais,  e  implementação  de  políticas  de  governo mais coerentes com os objetivos do Programa, que vão além do setor ambiental. 

O  futuro mais efetivo da cooperação para o meio ambiente deve  fortalecer as capacidades do Estado em operar  os  programas  internacionais  ‐  inclusive  a  execução  financeira  e  a  gestão  técnica  ‐,  reduzir  a 

157 Durante a primeira etapa, até meados de 2000, o PPG7 apresentara “vácuos” em governança da liderança brasileira no MMA que, por sua vez, enfrentava dificuldades gerenciais, instabilidade institucional e baixa inserção nos programas de  governo.  Tal  situação  permitiu  ao  Bird  ocupar  espaços  de  coordenação  de  maneira  mais  consistente,  como organismo mais sólido, institucionalmente, e pouco impactado pelas mudanças governamentais. 

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pulverização  de projetos,  além de  aumentar os mecanismos de  complementação  e  integração  com  setor privado. Tais capacidades devem estar concatenadas com políticas públicas. É desejável que se aponte, com clareza, qual a estratégia brasileira para a conservação das florestas tropicais, onde o PPG7 se  insere como programa de governo e, conseqüentemente, qual o papel reservado aos participantes externos.158 

Tal exercício será mais bem realizado à  luz de uma redefinição da cooperação  internacional no Brasil, pro‐movendo um enxugamento da carteira de projetos e, ao mesmo tempo, buscando fortalecer o Estado, suas políticas, recursos humanos e  financeiros, e conferindo à cooperação externa um papel complementar, de acordo com os documentos governamentais  (ABC, 2006). Esta proposição deriva da constatação de que o Brasil está perdendo competitividade na captação de recursos da ajuda  internacional, pois trata as doações como empréstimos, com todas as complexidades administrativas para sua internalização no país. 

Ao  longo  dos  anos,  se  por  um  lado  o  PPG7  representou  a  construção  de  experiências  piloto  de  uso sustentável dos  recursos naturais, por outro  lado esteve aquém das expectativas de  inserção em políticas públicas e articulação com outras áreas de governo. A atual estratégia da “transversalidade” tem sido bem sucedida na  formulação de planos  interministeriais, porém, não podem ser desprezadas as dificuldades de implementação e negociação com partes  interessadas nos estados e no Congresso Nacional, que poderiam inviabilizar a efetividade dos planos ambientais. 

Recomenda‐se a definição de um programa brasileiro de engajamento de doadores com a maior brevidade, com garantias de que os mecanismos de  implementação serão efetivos,  inclusive com valores significativos em termos de contrapartidas nacionais articuladas às políticas públicas. Espera‐se que este seja o caminho do Programa Amazônia, recentemente anunciado pelo MMA. 

O PPG7 acumulou resultados cujo potencial pode contribuir com as políticas públicas e a implementação de compromissos  internacionais do país, particularmente com a Agenda 21, CDB, UNFF,  ITTO, a Convenção de Mudanças Climáticas e o Protocolo de Quioto. Entre os temas estão alternativas ao desmatamento, proteção e uso sustentável de florestas, direitos humanos e indígenas e, em especial, com as iniciativas no âmbito da OTCA.159 Em contrapartida, ainda é válida a proposição segundo a qual o PPG7 atua tanto como provedor de lições estratégicas, experiências e demonstrações bem sucedidas quanto receptor delas, reconhecendo seu caráter  “piloto” de quem está mais  aprendendo do que ensinando. Assim, a experiência  internacional do PPG7 seria um caminho de “mão dupla”, de quem dá e recebe conhecimentos sobre temas inovadores como a gestão florestal sustentável. 

As  iniciativas  de  fortalecimento  do  capital  social  e  institucional  do  PPG7  são  elementos  com  as maiores capacidades de replicabilidade regional. A área de gestão florestal é, ao mesmo tempo, um desafio geral e um meio pelos quais os intercâmbios podem gerar os maiores benefícios coletivos, particularmente na troca de experiência  sobre concessões  florestais, capacitação em manejo de  recursos madeiráveis e não‐madei‐reiros  (inclusive  comunitários),  certificação  florestal  e  remuneração  por  serviços  ambientais,  controle  e monitoramento ambientais, novos mecanismos de financiamento, e formulação de programas nacionais de florestas.  

Direitos, produção e regularização de terras indígenas e populações tradicionais são elementos históricos na agenda regional. É possível atuar, também, sob a definição de acordos e regulação sobre recursos comuns (hídricos  e  florestais)  regionais  e  transfronteiriços,  tal  qual  o  acúmulo  de  experiência  substantiva  e institucional  efetivado  nos  acordos  de  pesca  promovidos  pelo  ProVárzea.  Os  temas  de  ordenamento territorial  e  fundiário,  assistência  técnica,  empreendedorismo  e  gestão  de  negócios,  beneficiamento  e 

158 Destaca‐se que, entre os doadores, há interesse em discutir não apenas questões operacionais da implementação do PPG7, mas, sobretudo, influenciar as estratégias das políticas ambientais e de desenvolvimento regional. Esse interesse remete a outra questão, a saber: quanto o governo brasileiro estaria disposto a negociar com parceiros externos sua pauta de definições estratégicas (que lhe é soberana) sobre o uso dos recursos florestais e desenvolvimento regional, e as  restrições  ambientais  dele  decorrentes.  Neste  caso,  não  podem  ser  desconsideradas  as  implicações  poli‐ticas  e ideológicas, e os conflitos de interesses na definição de objetivos nacionais de desenvolvimento por parte do governo e da sociedade brasileira, diante de parceiros internacionais. 159 A efetividade dos esforços domésticos de  redução do desmatamento  tropical  teriam significativa  relevância  inter‐nacional, pois se  trata de um dos elementos‐chave do pacote que determinará o  formato do  regime de mudança do clima, após 2012. Poderia, ainda, representar pressão adicional sobre países industrializados para aumentar o corte em suas emissões de gases de efeito estufa. 

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comercialização  da  produção  agroflorestal  são  temas  de  grande  interesse  para  a  sustentabilidade  das estratégias  de  desenvolvimento  regional.  Deve‐se  considerar,  também,  a  capacidade  de mobilização  de recursos, a melhoria de coerência, transparência e flexibilidade da cooperação internacional promovida pelo PPG7. 

O Programa demonstrou que o sucesso sobre a formulação de políticas relaciona‐se à habilidade e prestígio das  lideranças  tanto  em  termos  técnicos  quanto  na  interlocução  e  comunicação  com  as  diversas  partes interessadas. A comunicação no plano regional pode se apropriar de estratégias múltiplas como experimen‐tado no PPG7: disponibilização de base de dados sobre temas de interesse comuns; realização de seminários e  planejamentos  estratégicos  pan‐amazônicos  e  sul‐americanos;  intercâmbios  e  troca  de  experiências; criação de páginas eletrônicas, publicações e  fomento à comunicação popular, notadamente  radiodifusão; capacitação de pessoas e instituições para gestão de recursos comuns; e disseminação de informações para a opinião pública regional. 

As  interfaces entre meio ambiente e  infra‐estrutura  regional compõem outro tema sensível para a susten‐tabilidade  dos  recursos  naturais  das  florestas  tropicais  brasileiras.  O  PPG7  demonstrou  o  quão  difícil  é articular as duas dimensões na estratégia de desenvolvimento nacional: o programa sul‐americano de infra‐estrutura regional é, predominantemente, um  instrumento de caráter econômico com baixa capacidade de internalização dos custos ambientais (IIRSA, 2006). 

Outro aspecto que merece atenção é o controle sobre o uso dos recursos da biodiversidade e de direitos de populações pelo uso de conhecimentos tradicionais, com vistas a evitar biopirataria e biogrilagem. Poucos são os projetos de cooperação técnica e científica adaptados às regras de acesso a recursos genéticos e de proteção à propriedade intelectual de populações tradicionais, sobretudo nos casos dos projetos de pesquisa científica  e  do  setor  agroindustrial,  cujos  produtos  resultam  da  manipulação  de  folhas,  raízes,  plantas, pigmentos, entre outros.  É necessário  refletir,  também,  sobre o  impacto  institucional do Programa Piloto na diplomacia  ambiental brasileira, com reflexo nas posições regionais defendidas nos arranjos internacionais de florestas. Apesar de o Brasil  ter  internalizado programas  internacionais de ajuda para a conservação  florestal,  tal qual o PPG7, lideranças da diplomacia brasileira parecem desconfortáveis  ‐ senão apreensivas  ‐ diante da  intensidade e extensão  da  participação de  recursos  financeiros  internacionais para  conservação  (doações  e  cooperação técnica). As lideranças afirmam que o país teria condições de “comprar” recursos internacionais, com maior poder de gerência, mediante empréstimos com juros reduzidos.  Sem desconsiderar a viabilidade de tal raciocínio, entende‐se que os operadores da política externa de meio ambiente do país nem sempre estão bem informados sobre os resultados da cooperação e podem expressar posições mais negativas do que os resultados encontrados em campo. Ou seja, ainda é necessário aprimorar o  diálogo  interno  entre  os  operadores  de  política  externa  e  os  de  cooperação  internacional  na  área ambiental, visando a convergir avaliações, conceitos e estratégias comuns.  Por fim, vale destacar a permanência da diversidade de opiniões e interesses na grande “mesa redonda” que é o Programa Piloto, onde participantes e parceiros têm opiniões divergentes, por vezes contraditórias, sobre várias  questões  estratégicas. Opiniões  e  interesses  variam  sobre  o  que  poderia,  ou  não,  ser  considerado impacto  positivo,  com  capacidade  de  replicabilidade  e  transferência  para  beneficiar  futuras  iniciativas  de conservação florestal promovidas pela cooperação internacional. 

 1.1. Lições da cooperação técnica A  revisão  da  documentação  avaliada  sobre  a  cooperação  técnica  (CT)  no  PPG7  permite  identificar  lições relativas  aos  pontos  fortes  e  fracos  da  cooperação,  tais  como:  a  permanência  de  peritos  de  longo prazo permitiu  enfrentar  casos  de  descontinuidade  institucional  e/ou  de  pessoal  local/nacional;  a  contribuição técnica e crítica dos peritos externos, quando bem articulada com os parceiros  locais, permite desenvolver soluções inovadoras pela convergência de conhecimentos externos e locais; a solução ou gestão dos conflitos entre  peritos  e  cooperantes  locais  é  uma  função  da  mútua  habilidade  de  interação,  flexibilidade  e envolvimento na busca de objetivos comuns; e os resultados são mais bem apropriados quando espelham 

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conquistas das partes implicadas na cooperação em um modelo de soma positiva no relacionamento interno‐externo. 

Constatou‐se, em campo, alto grau de interesse e certo grau de desconhecimento dos atores locais sobre as estratégias mais  gerais,  os  recursos  disponíveis  e  seu  emprego  promovido  pelas  agências  de  cooperação técnica. Por exemplo, há  interesse em conhecer melhor os orçamentos e prioridades das agências nos di‐versos projetos em campo, e discutir possibilidades de racionalização de esforços em direções mutuamente acordadas. O  déficit  de  informações  tende  a  provocar  receios  sobre  os  “reais”  interesses  da  cooperação internacional nas florestas tropicais. Aprimorar os esforços e meios de transparência das agências externas de cooperação seria, portanto, um elemento facilitador do diálogo com os atores locais. 

A  confiança  mútua  na  relação  entre  executores  locais  e  cooperantes  externos  gera  maior  grau  de flexibilidade  nos  procedimentos  operativos  dos  projetos  que,  por  sua  vez,  incrementam  as  chances  de interação  e  empoderamento  dos  atores  locais.  Mesmo  quando  as  agências  detêm  recursos  técnicos  e financeiros de maior volume ‐ além de interesses e agendas próprias ‐ devem buscar utilizá‐los no empode‐ramento dos beneficiários locais e de políticas públicas. 

Essa é uma equação nem sempre fácil de manejar, pois impõe aos cooperantes externos manter a disposição para negociação de atividades e prioridades, ampliação de parceiros, respeito às normas, práticas e liderança locais, que, por vezes, apresentam ideologias ambientais controversas às das agências externas. Trata‐se de um trabalho constante de mediação de diferenças e adaptação às condições nacionais e locais. 

A  característica  de  “substituição”  do  Estado  pela  cooperação  internacional  também  foi  identificada  em projetos do PPG7: na ausência de atividades e/ou recursos dos executores  locais (estados e municípios), os cooperantes externos emprestam os seus serviços. Tal  fato tanto pode viabilizar a continuidade de proces‐sos importantes na gestão ambiental ‐ que de outra maneira não seriam executados ‐ quanto prejudicar ou atrasar soluções duradouras. É uma característica que  também contraria a  função genuína da cooperação internacional que é complementar o papel do Estado e não o substituir. 

Com o  fortalecimento das  capacidades  locais e da  coordenação brasileira no  ciclo de  implementação dos projetos  ‐  da  gestão  e  execução  ao monitoramento  e  análise  ‐,  a  tendência  seria  reduzir  a  inserção  de aspectos da  cooperação  técnica provida pelo PNUD e Bird. Primeiro, pela  contratação de pessoal perma‐nente para  realizar  atividades  típicas de Estado e,  segundo, pelo melhor  regulamento do  recurso a  “não‐objeção” atribuída ao Bird. 

O controle  técnico exercido pelo banco sobre os projetos por meio de “não‐objeções” sobre uma série de atividades  poderia  ser  mais  bem  enquadrado,  reconhecendo‐se  que,  em  muitos  dos  casos,  tanto  os executores quanto os gerentes tratam de matérias sob as quais detém conhecimento e experiência limitada: estão,  claramente,  aprendendo  por  experimentação  sobre  o  funcionamento,  ou  não,  de  ampla  gama  de temas  relativos ao desenvolvimento  regional  sustentável  (por exemplo, aprimoramento da  capacidade de gestão  e  comunicação,  articulação  e  influência  sobre políticas públicas,  educação  ambiental  e manejo de recursos das florestas tropicais).  

Dessa  forma, seria conveniente  investir em  inovação e adaptação  institucional do Bird para  trabalhar com parceiros e mecanismos não‐tradicionais, como no caso de  fundos de doação para execução por meio de OSCs e prefeituras, o que  fortaleceria o  caminho para o  conhecimento e aprendizado mútuo de questões operativas de projetos e das mais gerais relacionadas à visão de desenvolvimento regional. Seria pertinente a introdução de mecanismos de  flexibilização de processos administrativos, com maior ênfase no alcance de resultados dos projetos do que em  seu processo operativo, mantidos padrões básicos de boa governança acordados mutuamente. 

A ambigüidade do papel de assessor técnico e controlador fiscal dos recursos providos pela cooperação com a  KfW,  exercido pelos  peritos da GTZ,  é  um  ponto  a  ser mais  bem  equacionado,  preferencialmente  pela separação destas atividades entre diferentes peritos. 

O PPG7 provocou o encontro de práticas operativas distintas, gerando um “choque de culturas” organiza‐cionais ‐ sejam elas os modos “caboclos” das OSC operarem projetos, sejam os regimes governamentais com suas práticas administrativas mais  convencionais  ‐,  com  as práticas das  agências externas de  cooperação, organismos  internacionais e o Bird. Estas (como provedoras de recursos financeiros ou supervisoras de seu uso)  tendem  a hegemonizar o  regime de operação dos projetos. Vale destacar que  a  introdução de uma 

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“cultura”  de  planejamento,  de meios  de monitoria  e  avaliação,  de maiores  controles  de  implementação, enfim,  de  elementos  de  desenvolvimento  organizacional  e  institucional  é  uma  das  contribuições  mais importantes do PPG7, no contexto das políticas ambientais na Amazônia Legal.  A adaptação mútua às culturas institucionais é um fator tanto facilitador (quando bem equacionada) quanto bloqueador  (quando  mal  encaminhada).  Bem  manejada,  tende  a  gerar  um  poderoso  processo  de aprendizagem institucional, como a adoção de novos métodos e técnicas de gestão, execução e monitoria de projetos,  e  introdução  de meios mais  participativos. Diversos  depoimentos  apontam  o  espaço  de  apren‐dizagem institucional e de troca entre agentes locais, nacionais e internacionais como característica do PPG7. Por  outro  lado,  se  esta  característica  for  mal  encaminhada,  os  conflitos  dela  decorrentes  produzem desentendimento e  comunicação precária, alta‐rotatividade nas equipes  técnicas externas, e uma  conjun‐tura política desfavorável, inclusive, com rejeição local aos projetos de cooperação.  1.2. Comparação entre arranjos bilaterais e multilaterais de cooperação  Uma  questão  importante  na  análise  de  relações  internacionais  é  a  comparação  de  efetividade  entre  as estratégias bilaterais e multilaterais de assistência financeira e técnica no PPG7.  Os projetos bilaterais apresentam qualidades operacionais: podem gerar maior eficácia quanto aos custos de  transação  com  administração mais  simples,  reduzindo  trâmites  operativos  dos  projetos  e  evitando  a superposição de  regras. Poderiam  ser mais diretos quanto à definição de objetivos e alcance de metas, e tendem a permitir uma  tomada de decisão e  implementação mais  rápida e  focalizada. Do ponto de vista político, o espaço multilateral reduz a autonomia dos estados e das autoridades  locais sobre algumas deci‐sões “ambientais” em troca de aumentar contrapartidas técnicas e financeiras externas. Ou seja, o processo decisório  de  projetos  e  recursos,  desenvolvido  coletivamente,  implicaria  em  negociações  com  diversos parceiros, tenderia a ser mais moroso e exigiria maiores recursos financeiros, técnicos e tecnológicos.  A  sobreposição  de  procedimentos  institucionais,  o  longo  processo  negociador  e  a morosidade  operativa reduzem os argumentos favoráveis ao multilateralismo. E, conforme o momento político, as motivações ao multilateralismo se alteram. No  início dos anos 1990, predominava o sentimento de ação coletiva no con‐texto  internacional, mais  globalista; hoje, há uma  tendência  ao bilateral e  regional em  algumas  agências, como a Usaid. Caso o PPG7 atuasse somente com modelos bilaterais os resultados teriam sido inferiores, por diversos motivos.   No ambiente multilateral, o peso político das decisões seria  incrementado, pois resultaria de maior capaci‐dade  de  concertação  e  consenso.  Tal  ambiente  tende  a  gerar  efeitos  sinergéticos,  evitar  duplicidades  e facilitar a identificação de lacunas entre os participantes internacionais. O espaço multilateral permite assu‐mir posturas coletivas mais fortes e reduz limitações financeiras de doadores bilaterais com dificuldades em engajar  pequenas  doações:  embaixadas,  OSCs  e  outras  instituições.  O  RFT  se mostrou  um  instrumento conveniente para  internalização de doações eventuais e de menor porte, de parceiros tradicionais e novos, que de outra forma não se internalizariam no PPG7.  Do ponto de  vista político,  a  ação multilateral  confere maior  transparência e  reduz especulações  sobre  a “internacionalização”  e  ingerência  em  assuntos  internos.  No  ambiente  multilateral,  existem  ganhos  de coordenação e comunicação, capacidade de  influenciar políticas públicas, abrangência, articulação e visibi‐lidade institucional. O caráter inovador do PPG7 atraiu a “comunidade internacional” para a preservação das florestas tropicais brasileiras, e não somente a ação isolada de um ou outro país, ressaltando o caráter global do problema e das soluções possíveis, concertada transnacionalmente. Enfim, o modelo multilateral poderia gerar maior eficiência de alocação e peso político mais qualificado.  Considera‐se  que  os  arranjos  (bilateral  e multilateral)  não devem  ser  avaliados  como  excludentes  para  a constituição de  futuros programas de cooperação na área ambienta: seja porque ambos detêm qualidades distintas  e  podem  ser  mantidos  e  aperfeiçoados  (internalização  dos  recursos,  facilitação  dos  ciclos  de projetos  e  de  governança  compartilhadas,  e  aperfeiçoamento  de M&A),  seja  porque  as  oportunidades  e 

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obrigatoriedades  institucionais dos parceiros  internacionais, muitas vezes,  impõem a utilização de acordos nos dois formatos estabelecidos entre os países envolvidos. 

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CCAAPPÍÍTTUULLOO VVIIIIII IINNIICCIIAATTIIVVAASS IINNTTEERRNNAACCIIOONNAAIISS DDEE CCOONNSSEERRVVAAÇÇÃÃOO DDAASS FFLLOORREESSTTAASS TTRROOPPIICCAAIISS SSUULL--AAMMEERRIICCAANNAASS EE OO PPPPGG77

sta parte da avaliação trata de iniciativas comparáveis ao PPG7 e busca responder à seguinte questão: o que pode ser aprendido com essas iniciativas que seriam utilizados em benefício do Programa e/ou para 

o futuro da cooperação regional. 

O estágio de conhecimento atual sobre a extensão e qualidade das  iniciativas e fundos  internacionais para conservação de biodiversidade e  florestas é  relativamente  limitado devido, principalmente, às dificuldades para acompanhar e monitorar os programas bilaterais e multilaterais que se proliferaram, nas últimas duas décadas. Não há uma padronização nos procedimentos de monitoria, avaliação e disseminação das agências executoras e, mesmo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente  (Pnud), enfrenta dificuldades para mapear e analisar o conjunto das ações destinadas ao enfrentamento dos problemas ambientais globais (PRESTRE, 2004). Entretanto, tais condições não impedem a exploração de iniciativas semelhantes e compa‐ráveis ao PPG7, que poderiam prover lições para seu aprimoramento, no futuro.    

Uma tipologia das diferentes iniciativas internacionais e intergovernamentais para conservação e manejo de florestas, apresentado pelo WRI, identificou os seguintes mecanismos:  

1. Iniciativas  de  articulação  internacional  em  torno  da  definição  de  critérios  e  indicadores  nacionais para o manejo florestal; 

 2. mobilização  política  nacional  e  internacional  em  torno  das  estratégias  para  usos  e  conservação 

florestal;  3. acordos sobre o comércio de produtos florestais, especialmente madeira;  4. fomento a participação social e grupos de interesses na formulação de políticas florestais; e  5. programas de ação em cooperação internacional para proteção florestal, tal qual o PPG7. 

 Para fins desta avaliação serão abordados elementos dos recentes arranjos internacionais para conservação de florestas e, em particular, as iniciativas realizadas na África Central.  1. Arranjos internacionais para florestas: múltiplos atores, objetivos e estratégias  Nos últimos vinte anos, ocorreu certa politização do tema florestal no ambiente internacional resultando na mobilização de um  conjunto de  arranjos  institucionais  e programas orientados para  a  conservação  e uso sustentável  de  recursos  florestais.  Dentre  as  iniciativas mais  expressivas  podemos  citar  as  seguintes:  a Declaração  de  Princípios  sobre  Florestas  da  Conferência  Rio‐92  e  as  iniciativas  decorrentes  do  Fórum  de Florestas da ONU (UNFF), em operação desde 2000, e da Parceria Colaborativa para Florestas (CPF); o Acordo e Organização Internacional de Madeira Tropical (ITTA e ITTO); Componente de Implementação Conjunta da Convenção  de  Mudanças  Climáticas;  GT  Intergovernamental  sobre  Florestas  (IWGF);  Conselho  de Certificação  Florestal;  Comissão  Mundial  sobre  Florestas  para  o  Desenvolvimento  Sustentável;  Diálogo Internacional Cifor sobre Manejo Florestal Sustentável; Reunião de Ministros e Funcionários de Alto Nível da Fao; Corredor Biológico Mesoamericano (CBM); e os processos que levaram à Parceria Florestal da Bacia do Congo (CBFP).  Além do PPG7, regionalmente, destacam‐se iniciativas promovidas tanto no âmbito da OTCA quanto aquelas de gestão ambiental coordenada no Mercosul; o Processo de Tarapoto: GT sobre Critérios e Indicadores para Conservação das Florestas Tropicais; a Iniciativa Amazônica (CPATU/Embrapa); Experimento de Larga Escala da Atmosfera‐Biosfera da Amazônia  (LBA);  e processos de  cooperação  fronteiriça  como o  realizado  entre Brasil, Bolívia e Peru, promovido por meio da iniciativa Madre de Diós ‐ Acre‐Pando (MAP). A relação abaixo 

E

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apresenta as  instituições  internacionais e  regionais dedicadas ao  tema da conservação e uso dos  recursos florestais, direta e indiretamente, atuantes nos últimos anos.160 QQUUAADDRROO 44.. IINNSSTTIITTUUIIÇÇÕÕEESS IINNTTEERRNNAACCIIOONNAAIISS EE RREEGGIIOONNAAIISS DDEEDDIICCAADDAASS ÀÀ CCOONNSSEERRVVAAÇÇÃÃOO EE UUSSOO DDOOSS RREECCUURRSSOOSS FFLLOORREESSTTAAIISS Parceria Colaborativa para Florestas (CPF) Fundo Comum para Commodities (CFC/Unctad)Convenção da Diversidade Biológica (CDB)Organização Africana da Madeira (ATO) Associação das Nações do Sudoeste Asiático (Asean) 

Centro Internacional para Pesquisa Florestal (Cifor)Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (Fao) Fórum de Florestas da ONU (UNFF) Observatório de Florestas Globais (GFW) Sociedade Internacional sobre Ecossistemas de Mangue (Isme)Conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad)Convenção Internacional sobre Comércio de Espécies Ameaçadas (Cites) Organização Internacional de Pesquisa Florestal (IUFRO)Centro de Comércio Internacional (ITC) Convenção de Mudanças do Clima (UNFCCC) Organização Mundial para Conservação (IUCN)Comitê de Madeira Unece Grupo Banco Mundial (WB) Organização Mundial de Comércio (OMC) Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA)  

 

A  análise  sobre  políticas  internacionais  e  intergovernamentais  para  conservação  e  manejo  de  florestas permite identificar um conjunto de lições interessantes, sobre o PPG7: 

1. Os programas nacionais derivados dos regimes internacionais orientados para a conservação florestal têm  sido  concebidos  como  um  exercício  de  planejamento  ambiental,  sem  considerar adequadamente  as  causas e dinâmicas do desmatamento. A  coordenação  com os demais  setores produtivos  e  infra‐estrutura  (agricultura,  turismo,  C&T, mineração,  transportes  e  energia)  perma‐neceu  limitada,  de  onde  deriva  a  maior  parte  das  dificuldades  de  efetividade  dos  programas internacionais de proteção florestal e planos de redução de desmatamento. 

 2. A efetiva  resolução de conflitos sobre  recursos  florestais  ‐  tanto  locais quanto  regionais e  interna‐

cionais ‐ é uma variável de diálogos e concertação política entre os setores interessados, mesmo com interesses divergentes, na formulação de soluções acordadas mutuamente. Populações tradicionais e indígenas, produtores agroextrativistas, empresários e proprietários de  terras, gestores públicos e comunidades  epistêmicas  têm  sido  os  principais  atores  de  governança  sobre  recursos  e  políticas florestais.  No  âmbito  internacional,  o  processo  decisório  é  bem  mais  restrito  a  representações diplomáticas, organismos e agências financeiras internacionais, e um número limitado de empresas, OSCs e especialistas, principalmente dos países industrializados. 161  

3. Embates entre posições nacional‐desenvolvimentistas quanto ao uso dos  recursos  versus posições internacional‐preservacionistas  têm  gerado  o  bloqueio  de  negociações  para  efetivar  programas 

160  As atuais iniciativas internacionais orientadas para florestas podem ser acessadas nas páginas do Fórum de Florestas da ONU e do World ResourcesInstitute, respectivamente: www.un.org/esa/forests/e www.earthtrends.wri.org/ 161  Recentemente, algumas delegações (EUA e Brasil) incluíram a participação de OSCs nos arranjos internacionais de florestas  

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internacionais mais  consistentes. De  fato, uma exceção neste  sentido é o PPG7, um programa de cooperação  internacional  que  ‐  apesar  de  não  ter  superado,  totalmente,  a  dicotomia  entre meio ambiente e desenvolvimento e divergências entre os países participantes  ‐ demonstrou capacidade de geração de um conjunto de resultados na gestão florestal.  

4. Do ponto de vista político, acordos regionais  ‐ tal qual a OTCA  ‐ são meios de empoderamento dos participantes  em negociações  internacionais,  e  também melhoram  a  coordenação das  estratégias nacionais de desenvolvimento reduzindo conflitos sobre recursos comuns, tais como o acesso, uso e conservação de material genético de alto valor e recursos de  interesse à  indústria farmacêutica. Os países amazônicos têm atuado em conjunto no Fórum de Florestas da ONU (Uniff) e buscam articular posições comuns na Organização Mundial de Comércio (OMC).  

5. De forma geral, internacionalmente, os incentivos e restrições ao desenvolvimento do setor florestal serão determinados pelas obrigações comerciais e ambientais produzidas nos acordos multilaterais e regionais.  As  políticas  e  acordos  de  cooperação  internacionais  podem  incidir  positiva‐mente  no manejo sustentável, por meio de redução de tarifas de importação e restrições à exportação, melhor adequação de medidas sanitárias e fitossanitárias, além de normas ambientais e sociais.  

6. A  ajuda  internacional,  financeira  e  técnica  pode  ser mais  efetiva  se  atuar,  diretamente,  sobre  a redução da pobreza nas áreas florestadas articulando‐se com estratégias de desenvolvimento local, e reduzindo incentivos para a maximização de ganhos de curto prazo na exploração florestal. Ao lado da criação de taxas e impostos sobre produtos oriundos de produção não sustentável, os incentivos positivos para  gerar maior  rentabilidade do  setor  têm  sido os  seguintes:  subsídios e  crédito mais barato,  assessoria  técnica pública ou  a baixo  custo,  apoio  à  certificação,  redução de  impostos de produção e exportação para os manejadores sustentáveis (tanto grandes empreendimentos quanto o  manejo  comunitário).  Um  tema  novo  é  a  remuneração  por  serviços  ambientais  e  pelo desmatamento evitado.  

7. O  êxito de políticas nacionais  e  internacionais  está  relacionado  à  capacidade de  tornar o manejo florestal sustentável mais benéfico e rentável do que as práticas não sustentáveis e a conversão de florestas para outros usos. Tal prática significa, também, conferir maior valor agregado aos produtos florestais  sustentáveis, madeiráveis  ou  não,  e  aos  serviços  ambientais  deles  decorrente,  além  de ampliar  os  hábitos  de  consumo  desses  produtos,  em  detrimento  daqueles  produzidos  fora  dos padrões de sustentabilidade.  

8. A  viabilidade  econômica  do  setor  florestal  é  requisito  imprescindível  para  garantir  as  funções ambientais,  sociais  e  culturais  das  florestas  tropicais.  Por  outro  lado,  o  incentivo  ao  manejo sustentável  é  mais  bem  sucedido  no  longo  prazo  quando  ‐  além  de  valorizar  a  capacidade  de produção de madeira de certo território florestado ‐ valoriza outros benefícios como a conservação de bacias hídricas e de espécies de fauna e flora com alta importância para a biodiversidade, além de reconhecer  e  valorizar  componentes  estéticos,  culturais,  espirituais  e  religiosos  das  florestas, conferindo‐lhe apoio social e político.  

9. As práticas de concessão de áreas públicas se expandiram globalmente, porém, em muitos casos, os acordos de concessão têm sido mais benéficos aos concessionários do que aos países que outorgam as concessões. São conhecidos os fracassos no monitoramento e fiscalização das áreas concedidas.  

10. A  criação  de  mecanismos  de  controle  social  e  técnico,  como  conselhos  consultivos  com  ampla participação e capacidade técnico‐científica é um atributo necessário à maior parte dos programas, para promover maior transparência, reflexões independentes e recomendações consistentes com os objetivos dos programas que, muitas  vezes,  fogem ao  seu espaço de ação ou  são  capturados por interesses particulares.  

11. O  exercício  pleno  da  disseminação  de  informações  aos  diferentes  setores  interessados  torna  as políticas  florestais mais  efetivas, enquanto  a  informação deficiente  entre  agências,  empresários  e 

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comunidades resulta em retrabalho, gastos desnecessários e morosidade na execução de projetos. O acesso à informação sobre fontes de financiamento, oportunidades de negócio e de capacitação são temas  de  grande  interesse  para  a maior  parte  dos  governos, OSCs  e  empresários  envolvidos  na gestão florestal. 

 2. Conservação de florestas e biodiversidade na África Central: contexto, resultados e apren-dizados Desde os anos 1990, um conjunto de  iniciativas em cooperação  internacional e regional  foi  iniciado com o intuito de conservar  florestas e a biodiversidade na África Central, região que  representa a segunda maior área contínua de floresta tropical do planeta, assim como uma de suas regiões mais pobres e instáveis, com cerca de 95 milhões de habitantes.162 Embora relativamente em melhores condições de conservação do que as florestas tropicais brasileiras (considerando o fato de sua taxa de desflorestamento manter‐se em níveis menores), as  florestas centro‐africanas estão,  também, sujeitas às pressões múltiplas, particular‐mente da extração madeireira, mineral  e  de  animais  silvestres.  Assim  como  na  Amazônia,  as  populações  locais  se mantêm com alto grau de dependência dos recursos florestais. 

Dentre as principais iniciativas operadas na África Central destacam‐se as seguintes: 

Em 1995, a Usaid inaugurou o Programa Regional Centro Africano para o Meio Ambiente (Carpe), planejado para  20  anos  de  duração  (atualmente  encontra‐se  na  terceira  etapa).  Em  1996,  na  República  do  Congo, realizou‐se a Conferência sobre os Ecossistemas de Florestas Densas e Úmidas da África Central (CEFDHAC), que  resultou no  chamado Processo de Brazzaville, ou  seja, uma plataforma de  concertação e de  troca de experiências entre diversos atores interessados na conservação da Bacia do Rio Congo. 

Em 1999, na reunião de Cúpula dos Chefes de Estado da África Central, realizada em Camarões, seis deles assinaram a Declaração de Yaoundé, em busca de maior coordenação regional para conservação de florestas e biodiversidade. Tal processo originou a Conferência Ministerial de Florestas da África Central, a Comissão de Florestas da África Central (Comifac) e seu Plano de Convergência sub‐regional, definindo uma estratégia para  o  desenvolvimento  de  objetivos  comuns  de  conservação  florestal  e  inaugurando  novos  esforços  de cooperação  regional  transfronteiriça,  e  atraindo  colaboração  de  outros  parceiros  da  comunidade internacional. 

Como  conseqüência  desses  processos,  durante  a  Cúpula  Mundial  sobre  Desenvolvimento  Sustentável (CMDS/Rio+10), realizada em 2002, em Johanesburgo (África do Sul), foi lançada a Parceria Florestal da Bacia do  Congo  (CBCP)  com  o  intuito  de  racionalizar  esforços  das  diversas  iniciativas  de  campo  e  otimizar investimentos na conservação de florestas nessa região. Trata‐se de uma ampla coalizão de 29 organizações, públicas e privadas, que busca alcançar as metas estabelecidas na Declaração de Yaoundé: desenvolvimento econômico e social, fortalecimento dos meios de governança e conservação de recursos naturais, com apoio ao manejo de parques, reservas, áreas de concessões e comunidades florestais. 

Os arranjos institucionais dessas iniciativas mobilizaram os estados, organizações da sociedade civil africanos, doadores  e  suas  agências  de  cooperação  técnica  e  financeira,  organizações  intergovernamentais,  e OSCs internacionais.  O  quadro  abaixo  destaca  os  principais  objetivos,  estratégias  e  atores  envolvidos  nesse processo: 

 

 

 

 

 

 

 

162  Inclui os países notadamente  a  área da Bacia do Rio  Congo: Burundi; Camarões; Repúblicas Centro Africana,  do Congo, e Democrática do Congo; Guiné Equatorial; Ruanda; São Tomé & Príncipe. 

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QQUUAADDRROO 55 -- PPRRIINNCCIIPPAAIISS IINNIICCIIAATTIIVVAASS DDEE CCOONNSSEERRVVAAÇÇÃÃOO,, NNAA ÁÁFFRRIICCAA CCEENNTTRRAALL,, CCOOMM AAPPOOIIOO IINNTTEERRNNAACCIIOONNAALL

 Programa Regional Centro Africano para o Meio Ambiente (Carpe) ‐ Maior programa de conservação da Usaid, na África Central. Na 1a. fase, o foco estava na estratégia de planejamento de paisagem. Sua 2a. fase, iniciada em 2003, é considerada um “programa  guarda‐chuva”  do  governo  americano  em  apoio  à  implantação  do  CBFP  em  estratégias  de  redução  de  taxas  de degradação  florestal e perda de biodiversidade, por meio do aprimoramento da gestão de  recursos naturais em âmbito  local, nacional  e  regional. Cerca de US$  15 milhões,  anuais,  foram planejados para o Carpe,  com US$  12 milhões para  a 1a.  fase  e executados parcialmente. Diante das perspectivas do CBFP, o governo americano se comprometeu em aplicar US$ 53 milhões, entre  2002  a  2005.  Principais  parceiros: Usaid  (líder),  Nasa, Universidade  de Maryland,  Departamento  de  Agricultura  (EUA), Sociedade para Conservação da Vida Silvestre (WCS), Innovative Gestão de Recursos (IRM), Fundação Africana para Vida Silvestre (AWF), WWF, CI e IUCN.    Processo Brazzaville (CEFDHAC) ‐ É um fórum de articulação política sub‐regional, cujo objetivo geral é encorajar os atores da gestão  de  florestas  africanas  a  conservar  e  utilizar,  de  forma  sustentável,  os  seus  ecossistemas.  Isto  inclui  compartilhar informações  interministeriais,  realizar programas de conservação conjuntos, disseminar experiências bem‐sucedidas, promover fóruns e diálogos políticos orientados para a melhor governança ambiental, definir planos de operação contra a exploração ilegal dos recursos florestais. Sua secretaria executiva é exercida pelo escritório regional da IUCN. O CEFDHAC é aberto a todos os que subscrevam a Declaração de Brazzaville, incluindo governos e parlamentares, organizações educativas e de P&D, setores privados, OSCs e organizações de base. Atualmente, dez países são membros: Burundi, Camarões, Congo, República Democrática do Congo, Gabão, Guiné Equatorial, República Centro‐Africana, Ruanda, São Tomé & Príncipe, e Chad. O CEFDHAC constituiu‐se também em um espaço de tolerância, mesmo em períodos de conflitos armados entre participantes, para a gestão florestal. Como parceiros internacionais incluem‐se o BSP e Carpe/Usaid, Cifor, Cirad, Comifac, GEF/Pnud, e IUCN/CEC. Financiamento: 785.000 ECU (CEC), 1.095.710 ECU (Países Baixos) e US$ 215, 000 (Usaid).  

 Cúpula de Yaoundé (Comifac) ‐ Uma organização intergovernamental sub‐regional que agrupa dez países que compartilham a Bacia do Congo. Objetivos: estabelecer um corpo de coordenação e orientação política e técnica para o processo decisório sobre a conservação e uso sustentável dos ecossistemas florestais regionais; incluindo a harmonização de políticas ambientais dos países membros.  Seu  plano  estratégico  é  conhecido  como  “Plano  de  Convergência”,  que  apresenta  dez  objetivos  dentre  os  quais: harmonização de políticas florestais e fiscais; regeneração e reflorestamento; valorização de recursos florestais; alternativas para a redução da pobreza; fortalecimento institucional público e privado; P&D; estabelecimento de mecanismos de financiamento e parcerias. Este Plano requer um orçamento global aproximado de US$ 1,5 bilhão para implementação em 10 anos. Cerca de 40% do orçamento é compartilhado pelos países membros, e os demais captados na comunidade  internacional. Dentre os parceiros internacionais estão  incluídos a Fao, a  cooperação  francesa, o Bird, WWF, GTZ, PNUD, GEF e CEC. O Plano prevê,  também, a colaboração com outras organizações  regionais e  sub‐regionais,  tais  como Organização Africana da Madeira  (ATO)  ‐ economia florestal, certificação e comércio; Agência Intergovernamental para o Desenvolvimento da Informação Ambiental (ADIE) ‐ gestão da informação e disseminação de aprendizados; Organização para a Conservação da Vida Silvestre na África (OCFSA) ‐ controle de tráfico  de  biodiversidade  transfronteiriça;  Rede  de  Áreas  Protegidas  da  África  Central  (Rapac)  ‐  gestão  de  áreas  protegidas; CEFDHAC ‐ mediação de interesses e consensos em diálogos políticos nos níveis regional e sub‐regionais. .  Parceria Florestal da Bacia do Congo  (CBFP)  ‐ Uma  iniciativa  conjunta de governos e  instituições da Bacia do Rio Congo, organizações bilaterais  e multilaterais, OSCs,  empresas  e organizações de P&D. Missão:  viabilizar  a  coordenação dos diversos parceiros,  estabelecer  um  fórum  de  discussão  integrando  diversas  iniciativas,  e mobilizar  novos  fundos  para  conservação  de florestas  regionais,  consistentes  com os  compromissos estabelecidos na Declaração de Yaoundé e  seu Plano de Convergência (Comifac).  Trata‐se  de  uma  instituição  baseado  no  arranjo  de  parceria  Tipo  II  da  CMDS:  associação  informal  mutuamente acordada entre governos, corporações privadas e organizações civis. O governo dos EUA assumiu a facilitação desse processo até 2005,  quando  foi  substituído  pelo  governo  da  França  até  o  presente  momento.  Dentre  as  principais  estratégias  do  CBFP destacam‐se: prover à população de meios  sustentáveis de  vida por  via do bom manejo  florestal  (concessões), da agricultura sustentável,  integrados a programas de ecoturismo; apoiar os países da região no desenvolvimento de redes para o manejo de parques nacionais, áreas protegidas e corredores ecológicos; e aprimorar a governança sobre os recursos naturais por meio do manejo comunitário, combate à extração ilegal de madeira e tráfico de animais silvestres. Há particular interesse em fortalecer o financiamento às políticas florestais na região, para qual foram estabelecidas cinco ferramentas principais: uso de direitos, taxas e royalties  coletados  pelos  governos;  fundos  fiduciários  para  o  meio  ambiente;  mecanismos  de  redução  de  dívida  externa; compensação pelo  seqüestro de  carbono;  e  iniciativas de  envolvimento do  setor privado. Um dos  fatores  considerados bem‐sucedidos pelo CBFP  foi o de estimular e ampliar a participação de doadores  (tradicionais e novos) em conservação e manejo florestal. A base  financeira do CBFP, além das contribuições dos países africanos, conta com os  recursos do Governo dos EUA alocados  no  CARPE  e €  400 mil  providos  pelo Governo  da  França. Há  um  projeto GEF/Pnud  para  a  Secretaria  Executiva  do Comifac, e um projeto adicional do Fundo Francês para o Ambiente Global (FFEM), no modelo MDL/Protocolo de Quioto para o setor florestal, que beneficiará alguns países da região. Dentre os principais parceiros incluem‐se aqueles elencados no processo Comifac além de agências do governo dos EUA e da França, WWF, WCS, AWF e CI.   

FFOONNTTEESS: Usaid, 2001 e 2005/CEFDHAC & IUCN, 2003/RIDDAC, 2006/CBFP, 2005.

 

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O  contexto  institucional,  socioeconômico e  ambiental enfrentado por  tais  iniciativas apresentava  ‐ grosso modo  ‐  os  seguintes  diagnósticos  iniciais:  autoridade  da  política  florestal  centralizada  nos  governos,  e autoridade ‐ de fato  ‐ sobre o acesso e uso dos recursos, dominada pelo setor privado,163 ambos exercidos com  pouca  transparência  e  em  detrimento  da  sociedade  civil  em  geral,  cujas  organizações  sofriam  com fragilidades organizacionais e falta de  informações. Do ponto de vista do uso da terra, dentre as atividades mais  impactantes destacavam‐se:  conversão  convencional de  floresta para  agricultura;  e manejo  florestal descontrolado,  inapropriadamente  concentrado na extração de madeira,  cuja  infra‐estrutura estimulava a superexploração  de  animais  silvestres  o  que  representava  uma  ameaça  à biodiversidade maior  do  que  o desflorestamento.164 

O capital natural mantinha‐se explorado para concentrar seus benefícios, e a riqueza do ambiente tornara‐se proporcional  aos  padrões  de  pobreza  rural  e  urbana.  Conflitos  armados  entre  grupos  étnicos  e  países mantinham  fortes vínculos com disputas pelo controle dos bens e recursos naturais  (água e rios, minérios, madeira  e  outros  recursos  florestais),  locais  e  transfronteiriços  (CARPE,  2001  e  2005/CEFDHAC  &  IUCN, 2003/Comifac, 2002/CBFP, 2005). 

Diante desse cenário, os temas de governança ambiental com participação civil, fortalecimento dos sistemas de  áreas  protegidas,  engajamento  ambiental  do  setor  privado,  superação  da  crise  provocada  pela sobreexploração  da  fauna  e  minimização  da  degradação  florestal,  aliados  ao  desenvolvimento  social  e redução  da  pobreza,  tornaram‐se  conceitos‐chave  das  iniciativas  colocadas  em  prática,  na África  Central, com  apoio  da  comunidade  internacional.  Também  foram  desenhadas  atividades  para  contribuir  com  a superação de deficiências em conhecimentos sobre conservação e manejo  (estudos, pesquisas e desenvol‐vimento de novos métodos e técnicas).   Na  maior  parte  dos  casos,  as  diversas  iniciativas  vislumbravam  se  tornar  fontes  de  disseminação  de aprendizados por meio de reunião sistemática de experiências, informações, ferramentas e abordagens que permitissem  à  região  mover‐se,  efetivamente,  na  direção  do  manejo  sustentável.  De  forma  geral,  os principais  resultados e aprendizados  institucionais do conjunto de  iniciativas voltadas à conservação e uso sustentável das florestas centro‐africanas são resumidos abaixo:   

A  alta  demanda  por  consumo  de  recursos  florestais,  somada  à  ausência  de mecanismos  efetivos  de regulação  do  acesso  e  uso  desses  recursos  levam  à  insustentabilidade  no  uso  das  florestas  centro‐africanas.165  Estas  florestas  são  importantes  por  seus múltiplos  valores:  econômico  e  de  subsistência (madeiras,  produtos  florestais  não‐madeireiros,  alimentos  de  fauna  e  flora,  e  nutrientes  para agricultura);  ecológico  (biodiversidade  e  serviços  ecossistêmicos);  e  cultural  (sistema  de  crenças  das populações  rurais e urbanas). Algumas das  formas de uso das  florestas  têm se mostrado mutuamente incompatíveis quando mal geridas ou sobreexploradas.   

Diversas decisões sobre o acesso e exploração dos recursos florestais favorecem certos atores e práticas em detrimento de grupos sociais, bens e serviços, gerando conseqüências de injustiça socioeconômica e ambiental, com repercussões na concentração política. Quando o poder de determinar as utilidades para florestas (para quem, com quais propósitos, sob quais condições) está desigualmente distribuído, têm‐se como resultados o abuso da autoridade, a freqüência de conflitos sobre o uso dos recursos florestais, e a satisfação de interesses de curto prazo, em detrimento dos interesses societários de mais longo prazo. 

 

 

163  Cabe destacar  que,  excluindo‐se  às  áreas protegidas, mais  de  50 % das  florestas  da  região  foram  alocadas  para concessões às madeireiras. 164 Estima‐se que, entre os anos 1980 e 1990, mais de um milhão de  toneladas de carne de animais silvestres  foram consumidas, na África Central (Carpe, 2001). 165 Globalmente, a ampliação  (em números absolutos) do consumo de madeiras  tropicais e  seus derivados  tem  sido atribuída ao  incremento populacional, ao rápido crescimento econômico de países emergentes e ao desenvolvimento de serviços intensivos no consumo de papel (CANDY & RADITZ, 2005). 

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A experiência centro‐africana demonstra que a conservação  foi mais bem‐sucedida quando ocorreram mudanças  e  se  estabeleceram  compromissos  entre  as  três  partes  básicas  envolvidas  na  equação  do problema:  o  setor  público,  as  empresas  e  a  sociedade  civil,  tanto  locais  e  nacionais  (produção  e consumo) quanto internacionais (consumo e financiamento). 

As  estruturas  legais  e  institucionais  para  a  descentralização  e  desconcentração  da  gestão  florestal quando pouco desenvolvidas, normalmente estão associadas a um reduzido compromisso político para com  reformas  que  empoderam  organizações  civis.  Na  região  centro‐africana,  a  governança  florestal participativa ainda é um desejo maior que a realidade em campo, porém as organizações civis ampliaram sua experiência e confiança na atuação sobre políticas florestais, e aumentaram o acesso aos meios de comunicação e à produção de informações. 

O  maior  acesso  à  informação  não  significa,  necessariamente,  que  os  recursos  serão  mais  bem manejados,  ou  estarão  disponíveis  em  benefício  da  maioria.  No  entanto,  a  experiência  africana demonstra que a  falta de  informação é  fator determinante do uso desigual e  injusto dos  recursos. Foi demonstrado,  também, que  a pressão por maior  transparência  governamental  e o  fortalecimento da descentralização  pública  representou  um  passo  consistente  em  direção  ao  aprimoramento  da  gestão florestal regional. 

O  controle  comunitário  sobre  o  uso  da  terra  e  dos  recursos  florestais  ‐  por  si  só  ‐  não  reduz  a desflorestação  ou  a  sobreexploração  dos  recursos  florestais.  Entretanto,  o  fortalecimento  das  ins‐tituições civis para controle e participação nas políticas florestais é um meio  importante para balancear os poderes do Estado e do setor privado, buscando conferindo maior bem‐estar à maioria dos cidadãos, em detrimento do padrão que beneficia uma minoria de atores nacionais e internacionais. 

O monitoramento ambiental pode se constituir em elemento essencial para um manejo de recursos mais efetivo, mas  é  pouco  significativo  se  não  levar  ao  aprimoramento  ou mudanças  nas  práticas  gover‐namentais,  do  setor  privado  e  sociedade  civil.  Conseqüentemente,  o monitoramento  se mostra mais efetivo  quando  responde  às  demandas  destes  atores  por  informação  ambiental,  utilizada  de  forma transparente e efetiva na formulação de políticas e comportamentos sociais. 

A produção madeireira tem grande  impacto sobre as economias da África Central.166 Além de constituir um  dos  meios  mais  significativos  de  geração  de  orçamento  público,  a  produção  madeireira  gera empregos e, em muitos casos, provê serviços sociais (educação e saúde) na ausência de políticas públicas nas  áreas  rurais.  Por  outro  lado,  devido  à  ausência  do  Estado  e  de  governança  compartilhada,  as companhias  privadas  (madeireiras  e mineradoras,  principalmente)  são  freqüentemente  os  principais controladores do acesso e uso dos recursos florestais na maior parte dos países centro‐africanos.  

Em  Camarões,  por  exemplo,  às  concessões  madeireiras  representam  80%  das  florestas  do  país, excetuando‐se as áreas protegidas.  As madeireiras buscam maximizar seus lucros, com pouca atenção às externalidades  ecológicas:  por  exemplo,  há  descontrole  no  uso  da  infra‐estrutura  de  produção (notadamente  as  estradas)  implantada  em  áreas  florestais  isoladas,  provendo  acesso  para  caçadores comerciais  e  alimentando  crescentes  demandas  de  carne  de  animais  silvestres  para mercados  adja‐centes às áreas de concessão e centros urbanos. 

As práticas das madeireiras catalogadas nas áreas de concessão foram identificadas em sua maior parte como  inadequadas ou  insustentáveis, sobretudo porque o padrão técnico ali praticado  fora qualificado como  abaixo  do  procedimento  estabelecido  internacionalmente.  Poucas  empresas  empregavam trabalhadores  qualificados  e  equipamentos  adequados,  resultando  em  grande  perda  de  árvores, produtos florestais não‐madeireiros e biodiversidade por madeira coletada. Além disso, há grande perda de  florestas  antigas,  pois  o  ciclo  de  corte  das  árvores,  normalmente,  é  feito  aos  30  anos  ou menos, enquanto a média de idade das árvores coletadas ou perdidas, freqüentemente excede 400 anos. 

Os produtos  florestais não‐madeireiros  (PFNMs), nessa  região, constituem  fontes de alimentação, medica‐mentos e renda comunitária, mas sua contribuição na economia nacional e regional é limitada se comparada  166 Estima‐se que setor o florestal na Bacia do Rio Congo contribua com uma média de 5% a 13% do PIB, dependendo do país, e em 10% do comércio internacional (GTNFT, 2005). A economia da madeira, nos anos 1990, gerava, por meio de impostos e  taxas, cerca de US$ 60 milhões, anuais, em Camarões e US$ 31 milhões, no Gabão, constituindo um dos principais meios de financiamento do setor público regional (Carpe, 2001/ATO, 2004).

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a  outros  produtos  agrícolas.  Por  outro  lado,  estudos mencionados  demonstraram  que  onde  a  floresta  já havia  sido explorada, pelo menos uma vez, os PFNMs  freqüentemente  rendiam economicamente mais do que a madeira ali disponível (Carpe, 2001). Quando a valoração dos PFNMs crescia havia tendência para sua sobreexploração em detrimento dos produtos agrícolas, e o aumento da lógica de extração comercial sobre a comunitária.  Isso  sugere  que  ‐  em  condições  de  baixa  regulação  e  governança  ‐  a  exploração  de  PFNMs também se apresenta insustentável ao médio e longo prazo.  Novamente, a  fragilidade  institucional e a  limitação da  implementação da  legislação  florestal  são conside‐radas fatores que resultam na exploração ilegal de produtos florestais, com significativa perda de renda para as economias locais, nacionais e regionais, e com impactos ambientais muitas vezes irreversíveis (extinção de espécies).   O manejo  florestal  sustentável  na  África  Central  requer  a  coexistência  de  diferentes  usos  das  florestas. Diferentes atores negociam seus interesses com isonomia e transparência, seu plano de manejo é resultado do  planejamento  sociopolítico  e  técnico  em  escala  suficiente  para  permitir múltiplos  usos.  São  decididas quais áreas de florestas serão utilizadas para esta e aquela atividades, em quais períodos, em benefício dos múltiplos  atores  em negociação,  cujos  resultados  legitimam  a divisão de poderes  (ainda que  assimétrica) entre eles. Exemplo:  as estratégias mais bem  sucedidas de minimização dos  impactos da  crise provocada pela caça de animais silvestres foram aquelas que melhor se integraram aos projetos de redução da pobreza, agricultura  e medicina  populares. As  atividades de manejo  dos  recursos  naturais  nos  entornos  das  áreas protegidas foram capazes de reduzir a caça de baixa escala. 

Os  projetos‐piloto  de  “esverdeamento”  do  setor  privado  demonstraram  que  a  efetiva  colaboração  entre ambientalistas e madeireiras pode  reduzir o  impacto deste setor sobre a exploração de animais silvestres, gerando benefícios  significativos para  a  conservação. Por outro  lado, é um  caminho  longo e  tortuoso, na maior parte dos casos: segundo a avaliação do CARPE  I, o progresso no  trabalho com as madeireiras para estabelecer um sistema de manejo dos recursos naturais de base comunitária, nas áreas de concessão, teve resultados limitados (Weideman, 2006). 

O comércio internacional dos produtos florestais ‐ fonte significativa da balança comercial dos países centro‐africanos  ‐  também  pode  impactar,  negativamente,  o  capital  ambiental  e  as  perspectivas  de desenvolvimento sustentável na região, na medida em que este sistema reproduz a causa e efeito de uma condição  de  fragilização  econômica:  as  economias  permanecem  dependentes  dos mercados mundiais  de commodities  (sempre voláteis); a agregação de valor à produção  interna permanece mínima, assim  como gera pouco  incentivo à especialização e diversificação das economias domesticas,  reproduzindo o ciclo de exploração da produção primária com baixo grau de desenvolvimento; e companhias européias dominam o setor madeireiro na África Central, secundadas, recentemente, pelas asiáticas. 

Sem progressos significativos no controle do uso dos produtos florestais tanto para o comércio internacional quanto  para  o  consumo  doméstico  (principalmente  animais  silvestres),  seriam maiores  as  tendências  de erradicação da fauna (primatas e grande mamíferos) nas regiões florestais próximas às cidades e, potencial‐mente, nas demais regiões florestadas. 

Experiências com  financiamento para  reforma do setor  florestal, como experimentado em Camarões, com recursos  do  Bird,  demonstraram  que  condicionalidades  ambientais  atadas  aos  empréstimos  tendem  a incentivar melhores práticas de  gestão.  Tais  condicionalidades  são  limitadas no  tempo  e  devem  ser  apli‐cadas em consonância com a  implementação de outras políticas que tornem o manejo sustentável viável e efetivo. Por outro lado, constatou‐se, também, a importância do controle exercido pela sociedade civil nesse processo, que permitiu a  identificação de empresas que acessavam o  financiamento do Bird e, ao mesmo tempo, descumpriam  regras de manejo  sustentável acordadas, além de explorar áreas para além de  suas concessões.167 

As áreas protegidas centro‐africanas também lidam com o desafio da sustentabilidade financeira. Programas de  conservação  de  florestas  e  biodiversidade,  historicamente,  não  são  totalmente  autofinanciáveis, produzindo para as economias  locais e nacionais tanto custos diretos de gestão quanto custos  indiretos de 

167 Declaration des ONG d’Afrique Centrale  sur  l’Amelioration de  la Gouvernance et de  l’Application des  Lois dans  le Secteur Forestier. Yaounde, 24 Janvier, 2003. 

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oportunidades. Na região, as rendas do turismo, pesquisa, safáris e os recursos públicos disponíveis não têm sido  suficientes  para  cobrir  os  investimentos  requeridos  para  a  gestão  florestal.  Nesse  contexto,  são necessários mecanismos  de  financiamento mais  robustos  para  fazer  face  tanto  aos  crescentes  custos  de gestão quanto para compensar as economias  locais e nacionais, pelos custos de oportunidade da conserva‐ção global de plantas e animais. 

Cabe destacar, portanto, a discussão  sobre novos meios de valoração dos  recursos e bens  florestais, e as novas estratégias de  financiamento para  sua  conservação e manejo experimentados na África Central. No presente sistema econômico  ‐ excluindo‐se os minerais  ‐, os recursos  florestais são valorados basicamente em  termos  de  produtos madeireiros,  PFNMs,  e  animais  silvestres,  ou  seja,  produtos  primários  (na maior parte dos casos), cujos preços tendem a se depreciar no comércio internacional. A agregação de valor seria uma das poucas soluções que permitiria o crescimento mais sustentável desta cadeia de produtos. 

Os processos de certificação florestal podem representar ganhos na renda da produção florestal, bem como na qualidade ambiental e social da produção. Segundo estimativas da Fao, entre 2004 e 2005, ocorrera um crescimento global de 30% na certificação de florestas (241 milhões de hectares). Estimou‐se, também, que as  florestas  certificadas  representam 22% da oferta mundial de  chapas de madeira, porém  somente uma parcela  reduzida  de  produtos,  dessas  florestas,  recebe  selos  de  certificação  que  não  garantem, necessariamente, vantagens em termos de preço de venda e a demanda de consumidores mantêm‐se baixa. Tais  fatores  são  considerados obstáculos ao desenvolvimento desse mercado. No entanto, a  sensibilidade pública para as questões florestais, a visibilidade e credibilidade dos produtos certificados têm incentivado as indústrias cada vez mais a buscar a certificação (GTNFT, 2003). 

Por outro  lado, os serviços ecológicos das  florestas  tropicais  têm despertado grande  interesse dos setores públicos e privados, e há algum tempo adentrara na pauta de pesquisa e desenvolvimento. Porém, apesar dos diversos métodos desenvolvidos pela economia, ainda é difícil determinar o valor econômico de bens e serviços ecológicos das florestas tropicais, para os quais não há um mercado consolidado ou algo próximo a isso, onde existam provedores e consumidores em larga escala. Gradualmente, novos instrumentos têm sido testados para a valoração de tais serviços, e a dimensão econômica desse potencial não deve ser ignorada. 

Um instrumento concreto é a oportunidade criada pelo Protocolo de Quioto sobre Mudanças Climáticas para a remuneração por estoque de carbono. O Protocolo de Quioto entrou em vigor, em 2005, e seu Mecanismo de Desenvolvimento  Limpo  (MDL)  estará  em  vigor  até  2012. O MDL  apresenta  ‐  ao  setor  florestal  ‐  dois instrumentos de remuneração: para  florestamento e para reflorestamento. Após 2012, outros mecanismos poderão  ser  incluídos,  conforme  os  interesses  negociados  entre  as  partes  da  Convenção  de Mudanças Climáticas. 

O  mercado  de  serviços  ambientais,  estabelecido  no  MDL,  tende  a  oferecer  oportunidades  aos  países florestados na medida em que poderiam prover o seqüestro de carbono e projetos de redução de emissões aos países industrializados, a preços abaixo dos custos de mitigação de emissão realizados nestes países. Se tais projetos se articulam ao melhoramento da performance da gestão florestal, poderiam constituir vetores de mudança positiva nas políticas de conservação e práticas de manejo da região. 

A experiência do processo Parceria Florestal da Bacia do Rio Congo (CBFP) pode ser tida como exemplar em termos de  formulação de estratégia  regional para  aproveitar  as oportunidades em questão.  Seu primeiro passo  foi  criar  um GT  de  Financiamento  Sustentável  (WGSF)  que,  por  sua  vez,  estabeleceu  um  plano  de mobilização de recursos sob cinco eixos:  

1. Uso de direitos, taxas e royalties coletados pelos governos;  2. fundos fiduciários para o meio ambiente;  3. mecanismos de redução de dívida externa;  4. iniciativas de envolvimento do setor privado; e 5. compensação pelo seqüestro de carbono. 

 O primeiro item trata de um sistema de alocações de pagamentos e contribuições para a constituição de um fundo autônomo para conservação e manejo. O fundo fiduciário, tal qual o RFT do Programa Piloto, está em processo de formulação de seu plano de negócios para captação de recursos. Os mecanismos de redução da dívida envolvem a avaliação do potencial de mobilização de  recursos por esse  instrumento, esquemas de treinamento na área, e contam com a colaboração da equipe do Bird para  integração do setor florestal no 

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uso  dos  Papéis  de  Estratégias  de  Redução  da  Pobreza.  O  envolvimento  do  setor  privado  foca  a  área industrial,  inclui mecanismos  de  “fundos  de  garantia”  e marketing  com  base  no  plano  de  captação  de recursos para o fundo fiduciário.  Vale destacar o plano de  implementação  relacionada ao MDL, composto de apoio ao desenvolvimento de estratégias  nacionais  relacionadas  ao  seqüestro  de  carbono,  análise  de  experiências  de  campo  bem‐sucedidas na área, formulação de projetos elegíveis no MDL, e treinamentos para os atores‐chave envolvidos no tema florestal relacionado ao MDL.  Segundo o WGFS, além do seqüestro de carbono há outras oportunidades para o setor florestal relacionadas às  mudanças  climáticas,  que  poderiam  ser  alcançadas  com  uma  abordagem  integrada  à  redução  das emissões, principalmente por meio de melhores práticas de manejo com redução de desperdícios de árvores, otimização do consumo de energia, entre outras atividades. Recomenda‐se um plano de via dupla: por um lado,  investir em  formações e capacitações nacionais e regionais sobre reflorestamento e  florestamento e, por outro lado, desenvolver as estratégias de negociação para a inclusão da remuneração aos ecossistemas florestais pelo seqüestro de carbono. 

Apesar da constatação de que ainda há pouca manifestação de interesse pelos compradores dos créditos de carbono  ‐  no MDL,  pelo  setor  florestal  ‐,  uma  aproximação  do  CBFP  com  as  tendências  do mercado  de carbono para  florestas  tem sido experimentada no diálogo com o Fundo Biocarbono gerido pelo Bird, por meio  da  troca  de  informações  entre  suas  equipes  e  capacitações  para  participantes  do  CBFP  (governos, empresas e OSCs), sobre os microprojetos em execução com recursos advindos dos EUA e de países da União Européia. 

Por fim, como conclusão geral dos programas e projetos‐piloto colocados em prática na África Central, pode‐se afirmar que houve mudanças no manejo e governança florestal na região ‐ maior transparência e controle social, melhoria nas  técnicas de manejo, melhor acesso às  informações  ambientais, e aprimora‐mento na coordenação  política  ‐,  cujos  impactos  ainda  não  alteraram  os  principais  vetores  dos  riscos  ambientais  à conservação  de  florestas  e  biodiversidade  destacados  no  diagnóstico  exposto  acima.  Ainda  permanecem com  maior  destaque  lacunas  de  conhecimentos  e  capacidade  de  gestão  que  podem  comprometer  os resultados  alcançados,  se  houver  grande  descontinuidade  na  atual  estratégia  de  ganhos  incrementais  na gestão de florestas e biodiversidade. 

Dentre os  fatores que  facilitaram o  alcance de metas das diversas  iniciativas destacam‐se:  a presença de longo  prazo  de  organizações  da  sociedade  civil  (locais  e  internacionais),  investimentos  prévios  em  infra‐estrutura e construção de parcerias locais; uma base estabelecida de informação e meios de planejamento e gestão;  capacidade  de  mobilização  de  recursos  dos  diversos  parceiros  para  além  dos  garantidos  pelos doadores externos; e  compromisso político e  social dos participantes  com os  conceitos e metas estabele‐cidas entre eles (locais, nacionais e regionais). 

Dentre os fatores que ‐ grosso modo ‐ prejudicaram a efetividade dos programas são destacados: situação de isolamento  das  áreas  protegidas  e  de  comunidades,  prejudicando  o  acesso,  controle,  fiscalização  e investimento;  falta de  informação e  infra‐estrutura para  a  ação  coletiva  (planejamento,  implementação e gestão); baixa  capacidade de  gerar  consensos e parcerias entre os diversos  atores envolvidos na questão florestal  (governos, empresas e OSCs); e pouca  viabilidade econômica de  atividades  florestais não‐madei‐reiros (turismo e PFNMs). Em algumas áreas, os conflitos armados inviabilizavam a realização de atividades. 

Um  aspecto  importante diz  respeito  à baixa  capacidade de prover  estabilidade de  ação  coletiva  e  gover‐nança, o que foi atribuído à inabilidade das lideranças públicas e privadas para a gestão de conflitos e certo desinteresse  real  pela  gestão  coletiva  dos  recursos  naturais.  Os  mecanismos  que  compartimentam  os diversos fundos (nacionais e  internacionais) destinados à conservação estimularam a competição  ‐ mais do que  cooperação  ‐,  entre  as diversas partes  envolvidas nos programas.  Soma‐se  a  isso um dos problemas identificados  na  estratégia  predominante  da  Usaid,  na  primeira  fase  do  CARPE:  em  suas  atividades  de planejamento deu ênfase à participação de OSCs e comunidades de base, em detrimento da participação dos governos  nacionais  (quando  não  os  ignorara),  reduzindo  as  chances  de  efetividade  dos  projetos  que requerem a coalizão de múltiplos atores. 

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Recomenda‐se, portanto, que os novos programas  se articulem mais organicamente  com as  instâncias de governança  existentes  e  busquem  incluir  autoridades  responsáveis  pela  implementação  de  políticas  no processo decisório dos programas. 

É recomendável, também,  incorporar no planejamento estratégias de maior envolvimento dos empresários (concessões florestais e mineradores) e das comunidades, para além do foco em áreas protegidas, incluindo os atores que mais contam na equação de como a terra e seu uso pode ser zoneada e regulada para fins de conservação. Assim, se incluiria os principais vetores de pressão sobre a floresta e biodiversidade no sistema de governança da gestão florestal. 

Diante do exposto, conclui‐se que a estratégia regional centro‐africana para a mobilização de recursos para a conservação  regional  de  floresta  é  um  bom  exemplo  a  ser  seguido  pelas  novas  iniciativas  planejadas  no âmbito da OTCA. Em uma região onde a guerra e os conflitos ambientais estão diretamente relacionados, a cooperação e a integração regional são fundamentais ‐ tanto para minimizar riscos de conflitos quanto para aprimorar  a  gestão  transfronteiriça  dos  recursos  naturais  ‐,  incluindo  o  regramento  e  harmonização  de políticas de extração madeireira e de concessões, assim como políticas  fiscais, que promovam o comércio regional e o desenvolvimento econômico, com responsabilidade ambiental e justiça social. 

 

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CCAAPPÍÍTTUULLOO XXIIXX CCOONNCCLLUUSSÕÕEESS GGEERRAAIISS  

 presente Relatório Consolidado na sua essência é uma conclusão sobre as análises  feitas pelos vários consultores. Mesmo assim, para facilitar uma visão geral, neste capítulo é feito um esforço de síntese, 

tentando reunir as principais conclusões.  1. Os objetivos gerais do PPG7  ‐ gerar modelos para  conciliar o desenvolvimento  com a  conservação das florestas,  preservando  sua  biodiversidade,  reduzindo  a  emissão  de  gases  e  criando  um  exemplo  de cooperação  internacional  ‐  foram alcançados parcialmente: o Programa viabilizou o  fortalecimento  institu‐cional para a gestão ambiental  integrada, promoção do manejo  florestal  sustentável,  fomento à pesquisa dirigida, projetos demonstrativos de experiências  inovadoras de  conservação e uso dos  recursos naturais, conservação  de  áreas  protegidas,  fortalecimento  da  organização  e  participação  social,  a  constituição  de mecanismos  de  governança  coletiva  compartilhados  pelos  parceiros  nacionais  e  internacionais,  e  a disposição de cooperação técnica e financeira. 

2. “O PPG7 gerou uma base de conhecimento e experiências, tão ricas, que transbordaram os seus objetivos iniciais. Pode‐se dizer, sem medo, que as atuais macropolíticas do governo federal para a região amazônica bebem na fonte do Programa Piloto: o Plano Amazônia Sustentável (PAS), o Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento, o Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável da Área de  Influência da BR‐ 163, e a Lei de Gestão de Florestas Públicas.” (MMA ‐ Programa Amazônia ‐ Proposta para Discussão). 

3. As  experiências do  PPG7 motivaram o MMA  a  ampliar o diálogo político  e,  assim,  formular, de  forma participativa,  as  “Agendas  Positivas”  para  todos os  estados  da Amazônia.  Foi possível,  também,  formular políticas públicas: na área  florestal  (Programa Nacional de Florestas e a  Lei 11.284/2006  sobre Gestão de Florestas Públicas); na ocupação espacial  (ZEE,  criação do Arpa, demarcação de TI); na proteção da Mata Atlântica  (Lei  da Mata  Atlântica  em  andamento,  reconhecimento  da  Rede Mata  Atlântica  e  criação  do Subprograma Mata Atlântica); na gestão e educação ambiental  (licenciamento ambiental em propriedades rurais e fortalecimento do Ministério Público); e nos serviços públicos (criação da Ater florestal e reativação do agroextrativismo, no Incra). 

4. Os esforços desenvolvidos, nos  vários  subprogramas e projetos, provaram que  a  redução das  taxas de desmatamento  e mudanças  nos  sistemas  de  exploração  florestal  são  variáveis  que  dependem mais  de alterações  estruturais  em  fatores  socioeconômicos  e  políticos  de  larga  escala.  Pode‐se  concluir  que  a reorientação dos vetores que definem, atualmente, os rumos do desenvolvimento no espaço de atuação do PPG7  dependerá  tanto  de  investimentos  significativos  em  infra‐estrutura  e  capital  humano  ‐  inclusive  a presença mais ativa do estado brasileiro no ensino, pesquisa e extensão  ‐ como nas políticas públicas que fortaleçam a ação de  redes sociais e  técnicas atuantes, na  região, em conservação e manejo dos  recursos florestais.  São  elas  que  poderão  fazer  a  diferença,  ao  se  tornarem  mais  amplas,  eficientes  em  seus resultados, influentes e eficazes na disseminação de suas experiências. 

5.  O  PPG7  promoveu  enormes  avanços  favorecendo  a  compreensão  da  importância  do  ser  humano  na conservação  da  natureza,  aproximando  conservação  e  presença  humana,  concepção  que  ao  início  do Programa era rejeitada por muitos. 

6. A capacitação  foi um dos melhores  resultados do Programa, com a  formação de massa crítica e capital humano  capazes  de  dar  continuidade  ao  esforço  pela  sustentabilidade,  pois  melhorou  grandemente  a consciência ambiental na Mata Atlântica e na Amazônia, graças à contribuição das variadas intervenções dos projetos. 

7.  O  PPG7  favoreceu  e  impulsionou  o  surgimento  de  um  novo  modelo  de  gestão  pública  ambiental, descentralizado,  mais  aberto,  mais  flexível,  adaptado  às  necessidades  locais  e  com  participação  social. Colocou em prática  instrumentos de gestão ambiental, dentre os quais o ZEE  (que passou a ser um apoio efetivo de gestão do território) e o Proteger (responsável por grandes contribuições na prevenção de incên‐dios florestais).  

8. “Houve, ao longo do Programa, uma clara melhoria da articulação da sociedade civil, com a consolidação das redes de movimentos sociais e organizações não‐governamentais. Além disso, a base social definiu uma 

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agenda, mais completa e complexa, com propostas de mudança do modelo de desenvolvimento no qual a questão ambiental está  intrinsecamente articulada à questão social. Seus  representantes diversificam suas interlocuções,  dentro  e  fora  do  Brasil,  e  com  diferentes  ministérios  e  instâncias  do  governo.”  (MMA‐Programa Amazônia‐ Proposta para Discussão) 

9. Muitas populações tradicionalmente excluídas passaram a participar da socioeconomia regional. A renda das  comunidades  beneficiadas  foi  incrementada  com  apoio  do  PPG7  nas  seguintes  áreas:  acréscimo  de conhecimentos  e  novas  tecnologias,  organização  social,  diversificação  da  produção,  redução  de  custos, utilização de crédito para projetos agroextrativistas e sua articulação com a segurança alimentar. 

10.  Por  meio  dos  trabalhos  nas  comunidades  foram  colocados  os  alicerces  para  que  os  beneficiários assumam a gestão social do próprio desenvolvimento, contribuindo com a construção da cidadania, a partir da tomada de consciência sobre direitos e obrigações. 

11. Constatou‐se que projetos como PPTAL, Resex, PDA, ProManejo e ProVárzea podem ser bem sucedidos, tanto na produção  sustentável quanto na  conservação ambiental. Consolidar  tais  resultados  implicará em maior articulação entre iniciativas que incluam visão territorial e estratégica, no fortalecimento e aperfeiçoa‐mento dos sistemas de monitoramento  já gerados, e pela articulação dos  investimentos de C&T&I com as demandas identificadas. Isto será fundamental para alavancar a escala piloto nas políticas públicas dentro de uma moldura de sustentabilidade econômica, ecológica e social. 

12. O PPG7 conseguiu mobilizar um conjunto expressivo de doadores ‐ em uma parceria  internacional pela primeira vez exercitada no Brasil  ‐, buscando a proteção florestal, problema de relevância global. Por meio do Programa, foi possível compartilhar responsabilidades técnicas e financeiras para a proteção da floresta tropical  brasileira  com  a  comunidade  internacional,  conferindo,  inclusive,  maior  legitimidade  interna  à cooperação internacional nas áreas de atuação do Programa. 

13. O PPG7 contribuiu bastante para a criação de uma cultura institucional no trato com a cooperação, antes inexistente, abrindo caminho para iniciativas nas demais áreas de interesse do Estado e da sociedade. 

14. O PPG7 introduziu, entre os gestores das políticas ambientais, uma “cultura” de planejamento, de meios de monitoramento e avaliação, maiores  controles de  implementação, enfim, de elementos de desenvolvi‐mento organizacional e institucional. 

15. O Banco Mundial desempenhou papel expressivo em  todo o ciclo do PPG7, especialmente mediante a sua capacidade institucional que possibilitou atingir resultados satisfatórios. 

16. O PPG7 deixou a desejar na maneira como tratou as questões de gênero. Não se integrou, devidamente, com outros programas e projetos, e trabalhou sem uma visão de estratégia municipal. 

17.  Dentre  os  fatores  que  prejudicam  o  desempenho  da  governança  institucional  destacam‐se:  excessos burocráticos  e morosidade na  liberação de  recursos;  instabilidade  institucional,  com  alta  rotatividade dos responsáveis  pelos  projetos  ambientais,  especialmente  nos  estados;  prevalência  de  uma  “cultura  de projetos” relativamente isolados, em detrimento de políticas públicas ambientais de maior escala; politização excessiva da governança dos projetos, associados ao baixo grau de monitoramento e conhecimento técnico‐científico capaz de gerar ganhos de escala. 

18.  A  complexidade  da  matriz  de  financiamento  e  dos  ciclos  de  projetos,  com  custos  de  transação inerentemente  altos  e morosos,  a  rigidez  administrativa  e  a  sobreposição  de  instâncias  de  poder  e  de tomada de decisão, mantêm‐se como elementos críticos do PPG7. 

19.  Faltou  maior  entendimento  sobre  o  papel  da  cooperação  no  ambiente  multilateral,  resultando  no adensamento de estratégias bilaterais, ao contrário do que se esperava no início do Programa. 

 

 

 

 

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CCAAPPÍÍTTUULLOO XX RREECCOOMMEENNDDAAÇÇÕÕEESS FFIINNAAIISS  

s  propostas  visam  concretizar  políticas  públicas  de  conservação,  uso  e  produção  sustentável  com  a participação social, o que exige a definição de áreas geográficas para atuação, o  incremento da  renda 

dos moradores das florestas tropicais, mediante a gestão sustentável dos recursos naturais e a construção de uma  estratégia  de  desenvolvimento  territorial  que  inclua  a  gestão  ambiental.  Recomenda‐se melhorar  a arquitetura  institucional  e  apresenta‐se,  por  fim,  um  conjunto  de  proposições  para  cooperação  interna‐cional. 

 1. Recomendações para uma estratégia global  

Visão estratégica  Algumas opiniões apontam que faltou ao PPG7 uma “estratégia”, ou “visão estratégica" 168, e que a falta da mesma  teria  comprometido  o  alcance  de  resultados  considerados melhores  do  que  aqueles  obtidos. No entanto, também foi ponderado que a falta de uma estratégia e um elemento de amálgama, possibilitou que diversas ações  fossem  realizadas, evitando que o Programa sofresse  restrições mais  fortes do que aquelas defendidas pelos que vêem na ajuda  internacional ao desenvolvimento sustentável uma possível perda de soberania.169   Recomenda‐se que ações de intervenção na realidade social tenham uma estratégia clara, mas que a mesma não  seja monolítica:  deve  ser  adaptável  às  incertezas  próprias  do  conhecimento  sobre  sustentabilidade ambiental, às dinâmicas políticas e à necessidade de  incorporar novos atores e agendas. Ou seja, necessita de flexibilidade, um termo usado por vários dos entrevistados, principalmente da cooperação internacional. Entretanto, tal visão e flexibilidade não nascem espontaneamente: precisam de vontade política e aplicação de uma sofisticada metodologia para prever possíveis cursos de ação em situações de elevada  incerteza.170 Por sua vez, a vontade política precisa ser fomentada ‐ onde lideranças políticas estiveram comprometidas, a gestão ambiental e o ordenamento territorial alcançam melhores resultados. Programas de desenvolvimento precisam estar atentos às possibilidades de coadunar seus objetivos com agendas políticas locais que sejam compatíveis com a promoção da sustentabilidade em um ambiente democrático.  Recomenda‐se  que  a  estratégia  siga  as  orientações  constantes  em  documentos  oficiais  como  o  Plano Amazônia Sustentável (PAS), o Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento e o Plano de Desenvolvimento  Regional  Sustentável  da  Área  de  Influência  da  BR‐163.  Estes  documentos  estabelecem, como eixos temáticos, a gestão ambiental e o ordenamento territorial, um novo padrão de financiamento, produção  sustentável,  inclusão  social  e  infra‐estrutura  para  o  desenvolvimento  sustentável.  Preconizam como  estratégias  a  valorização da  floresta,  a utilização de  áreas  já desmatadas  em bases  sustentáveis, o ordenamento  fundiário e  territorial  fortalecendo  instrumentos de  gestão, o  aprimoramento do monitora‐mento, licenciamento e fiscalização, e o estímulo à participação social.   Estabelecem, ainda, como instrumentos de trabalho (Decreto Presidencial de 23/07/03):   

Ordenamento fundiário;   incentivos fiscais e creditícios para áreas já desmatadas;   implantação de infra‐estrutura ambientalmente sustentável;   geração de emprego e renda em atividades de recuperação de áreas degradadas;   incorporação ao processo produtivo de áreas abertas e abandonadas e o manejo de áreas florestais; e 

168  Cristopher Diewald. Entrevista por telefone. Belo Horizonte, 18 de julho de 2006. 169  Eric Stoner e Ernani Pilla, entrevista pessoal, Brasília, 26 de julho de 2006. 170  Veja a literatura sobre “integrated assessment”, de autoria de Jan Rotmans e outros, disponível em: www.eur.nl/fsw/english/staff/homepages/rotmans/selection  

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atuação integrada no monitoramento e fiscalização.  

Recomendam‐se três vertentes para a estratégia global:   

1. Definição de áreas geográficas para atuação;  2. incremento da renda mediante gestão sustentável dos recursos naturais (produção sustentável); e 3. construção da integração programática e institucional. 

 1.1. Definição de áreas geográficas para atuação  A extensão e as complexidades das florestas tropicais trouxeram a lição de que é impossível, com um único programa, atender todos seus municípios e comunidades. Para a continuidade das ações, uma condição sine qua  non  é  a  delimitação  geográfica  das  áreas  de  atuação.  Com  toda  a  experiência  acumulada,  hoje,  a sociedade civil e o governo, ajudados pela pesquisa e a academia têm condições de definir critérios para a escolha de tais áreas. Aliás, muitas vezes as emergências obrigam a isso, como foi o caso da concentração de ações na BR‐163, que não deixa de ser um macroterritório.  Assim  como  as pessoas não  se  desenvolvem  sozinhas, mas precisam de  um  ambiente  social,  também  as localidades e os municípios precisam de um entorno territorial; o desenvolvimento engloba características e exige condições que são alcançadas apenas no âmbito territorial.  Para o  futuro, é  fundamental negociar com os estados, com outros ministérios e outros programas, áreas geográficas precisas para implementação das ações, sem fechar as possibilidades de atingir todas as áreas de florestas  tropicais  com programas  como  conscientização,  educação  ambiental  e disseminação  de práticas ambientalmente  corretas,  utilizando métodos  de  alcance  de massa,  como  campanhas,  rádio,  televisão  e materiais didáticos.  Uma vez definidas as áreas, é necessário que nelas se trabalhe com enfoque territorial, abordando de forma integrada as potencialidades e problemas de cada unidade territorial, entendida como aquela que conta com certa coesão e  identidade ambiental, econômica, política e sociocultural. Tal enfoque permite aproveitar a proximidade  social  para  apoiar  a  cooperação,  a  solução  de  interesses  comuns,  articular  os  diferentes projetos e iniciativas públicas e privadas, e planejar uma estratégia de integração para o uso sustentável dos recursos naturais do local.  A atuação em áreas geográficas específicas inclui: 

Continuidade e prioridade ao ordenamento territorial, aprofundando informações locais e dando ao ZEE um caráter de gestão mais capilarizado. 

Ampliação, consolidação e valorização das TIs e UCs, mediante apoio aos planos de manejo e gestão e a mecanismos de crédito e assistência para o etnodesenvolvimento. 

Elaboração  de  mapas  temáticos  que  possam  servir  mais  do  que  à  interpretação  dos  impactos  do Programa  por  sua  simples  presença  geográfica,  mas  serem  elementos  de  visualização,  negociação, construção conjunta de estratégias e tomada de decisões. 

Compatibilização  da  escala  dos  investimentos  futuros  ‐  não  apenas  com  as  demandas  de  produção sustentável das populações beneficiárias  ‐ mas,  também,  com os  serviços  ambientais prestados pelas áreas que as populações autóctones,  tradicionais, os assentamentos ou  territórios de agricultura  fami‐liar estejam conservando. 

Melhor identificação e articulação de ações de conservação em curso em grandes propriedades, tanto do ponto de vista de aspectos técnicos quanto políticos. 

 1.2. Incremento da renda mediante a gestão sustentável dos recursos naturais  Propõe‐se,  como base  do  futuro  programa  para  proteção  das  florestas  tropicais,  dar  prioridade  à  gestão sustentável  dos  recursos  naturais,  por  se  tratar  de  um  programa  da  área  ambiental  e,  principalmente, 

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porque os recursos naturais do  local devem ser o pivô do processo de desenvolvimento. Para que o acesso aos  recursos  naturais  seja  ambientalmente  correto,  socialmente  justo  e  eqüitativo,  há  necessidade  de percorrer três momentos, que se interligam em um único processo: o uso sustentável, a capacitação para o uso sustentável, e a organização para manter o equilíbrio entre conservação e uso. Três momentos que não podem ser tratados como etapas estanques e seqüenciais, e sim como espaços de atuação que acontecem de forma cíclica e progressiva, em espiral ascendente, enriquecendo o processo com novos elementos.  O  uso  sustentável  dos  recursos  locais  deve  contar  com  espaços  para  inclusão  de  arranjos  produtivos  e participação não,  só dos excluídos, mas do  capital privado, pois o desenvolvimento não acontece  só  com recursos  públicos.  É  extremamente  importante  prever  negociações  e  alianças  para  que  o  capital  privado entre, também, no uso sustentável dos recursos naturais e geração de emprego e renda.  2. Construção da integração programática e institucional  A integração de projetos e programas é o reconhecimento de que o desenvolvimento não é resultado de um “programa  para  as  florestas”,  mas  dos  múltiplos  projetos  e  programas  que  atuam  no  município.  Este reconhecimento  deve  levar  a  acordos  de  cooperação,  ao  planejamento  e  execução  das  ações  de  forma integrada.  Esta pode  ser  a  etapa mais difícil do processo, mas  é  a única  forma de potencializar  as  ações governamentais e não‐governamentais nos municípios. 

A estratégia deverá ser flexível, incluindo, pelo menos, os seguintes elementos: 

Diagnóstico do local (município ou grupo de municípios) onde serão executados os trabalhos;  mobilização e sensibilização;  planejamento participativo de ações prioritárias, com base no diagnóstico;  efetivação de parcerias, acordos de cooperação, arranjos institucionais, divisão de tarefas;  fomento à produção sustentável, conforme sugerido no item anterior; e  fortalecimento ou criação de institucionalidades que assegurem continuidade ao processo. 

 

3. Recomendações específicas por dimensões temáticas  As  recomendações  estão  divididas  em  nove  dimensões:  política,  econômica,  ambiental,  social,  gestão, metodológica, científica, institucional e internacional.  3.1. Dimensão política  3.1.1. Esclarecer a natureza de políticas e projetos  Não há clareza entre diversos atores sobre o que seja uma política pública, nem tão pouco sobre como se verificar o  impacto  (ainda que exploratório171) de projetos em políticas. Esta consultoria  recomenda  forte‐mente que seja debatida a distinção e se estabeleça um posicionamento claro para futuras cooperações, e recomenda, ainda,  como  referências acadêmicas básicas as publicações de Rebecca Sutton172 e de Dennis Rondinelli.173  3.1.2. Comprometer outras áreas de políticas públicas em todos os níveis federativos Houve ganho na desejada transversalidade, com maior aproximação do MMA ao MDA e MI. No entanto, há elevado  grau  de  consenso  sobre  a  necessidade  de  incorporar  ao  debate  ‐  se  possível  à  coope‐ração/coordenação de  ações  ‐ os outros órgãos públicos, principalmente de  áreas que, hoje,  apresentam maior resistência às práticas de sustentabilidade. Também é de especial importância a construção de canais 

171  Ver seção sobre metodologia. 172  Sutton,  Rebecca  ‐  The  Policy  Process  ‐  An Overview. ODI Working  Paper  118.  London:ODI,  1999. Disponível  em www.odi.org.uk/publications/wp118/pdf 173  Rondinelli,  Dennis.  ‐  Development  Projects  as  Policy  Experiments:  an  adaptive  approach  to  development  adm‐inistration. London: Routledge, 1993 

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permanentes de diálogo entre MMA e Oemas. Recomendam‐se cinco principais ações para que isso ocorra:  1. Que  o MMA  faça  um  significativo  compromisso  orçamentário  para  as  requeridas  contrapartidas, 

dando clara mostra do seu comprometimento político. 

2. Que o MMA incorpore instituições locais ‐ estaduais e municipais ‐ em todas as fases do projeto. 

3. Que todos os envolvidos procurem mostrar alternativas viáveis àquilo que se quer proibir ou mudar (não basta dizer que não pode, é preciso dizer como pode). 

4. Que exista dentro do MMA uma unidade responsável pelo relacionamento  institucional com outros órgãos de governo, e que a mesma seja capacitada, teórica e tecnicamente, para este difícil diálogo. 

5. Que  o  conhecimento  seja  construído  pelo  diálogo  informado  teórica  e  tecnicamente,  em  um moderno processo de  gestão. A  consultoria  acredita que o  IAG deve  ter  continuidade de  alguma forma, talvez como um “think‐tank”, mas recomenda que este deva ter uma maior interação com os gestores  de  programas  e  projetos,  e  que  construa  o  conhecimento  também  pela  audição  das experiências de quem está na ponta. 

 3.1.3. Promover ações que podem ser transformadas em políticas públicas  

Ordenamento do  território das várzeas e gestão dos  seus  recursos naturais. Há elementos  suficientes para criar um arcabouço de políticas para esse importante ecossistema. 

  Política  de  compensação  de  serviços  ambientais  (CSA), mediante  a  concretização  e  regulamentação oficial das propostas do Proambiente. 

  Metodologia de prevenção de incêndios florestais aproveitando as experiências do Proteger II. 

  Instituição do Sistema de Licenciamento Ambiental em Propriedades Rurais (Slarp) em todos os estados 

da Amazônia Legal, a partir da experiência do Mato Grosso.  

Sistema de Assistência Técnica e Extensão Rural Florestal: criação por meio de lei e implantação em toda a região florestal. 

  Fundo  para  Produção  Sustentável,  compreendendo  também  a  educação,  capacitação,  processos 

produtivos e comerciais e gestão administrativa, aproveitando os ensinamentos do PDA, ProManejo e ProVárzea, especialmente. 

  Ordenamento territorial com estabelecimento de um programa com fundos próprios para ampliação da 

ocupação espacial por meio do modelo Resex,  reservas de desenvolvimento  sustentável, projetos de desenvolvimento  sustentável  (Incra)  e  atendimento  às  terras  indígenas  mediante  demarcação  e recursos para produção sustentável. As experiências do Resex, PPTAL e PDPI devem ser ampliadas. 

 3.1.4. Evidenciar, no debate internacional, a dimensão de interdependência presente na gestão dos bens ambientais globais  Parece não ter sido superada a resistência de alguns setores ‐ da política e iniciativa privada ‐, que se opõem à promoção do desenvolvimento sustentável, à proteção das minorias sociais e à cooperação  internacional.  As mesmas teses de “internacionalização” continuam a aparecer. Em parte, parece ser devido ao fato de que o  conhecimento  sobre  relações  internacionais no Brasil  e  a  inserção do país no  cenário  internacional  ser bastante recente. Isso impede que atores com voz e voto compreendam as dimensões de interdependência e de bens ambientais globais presentes no caso da Amazônia e Mata Atlântica. Recomenda‐se que o MMA participe  deste  debate,  dando‐lhe  visibilidade  por meio  de  sua  interação  com  outras  áreas  de  políticas públicas.   

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3.1.5. Incorporar instituições locais  Atividades de enlace precisam ser substancialmente ampliadas para que a gestão ambiental  tenha melhor desempenho entre os níveis federativos.  A experiência de um ponto focal do MMA nos Oemas mostrou‐se válida. Recomenda‐se ampliá‐la de tal forma que a mesma pessoa também trabalhe com municípios‐chave. Uma nova estrutura de gestão deve ser criada para viabilizar a contratação desse profissional.  3.1.6. Comunicação institucional  A estrutura  interna ao MMA dedicada à  interação com outros órgãos de governo deve ser capaz de dar os insumos necessários à produção de material gráfico e audiovisual de cunho  institucional/educacional   para dar suporte às ações políticas que prevêem a construção da transversalidade.  3.1.7. Comunicação para o desenvolvimento  Uma  importante área na promoção do desenvolvimento é a comunicação.174 Inúmeros conflitos e  impactos sociais e ambientais são gerados por comunicação falha ou manipulada (como ocorreu no caso da BR‐163). Adicionalmente, aqueles que  são  contra a promoção da  sustentabilidade  fazem  freqüente uso de boatos. Com base na estratégia de comunicação  institucional, o MMA deve  inserir como componente de cada um dos seus programas uma estratégia de comunicação,175 para construção de um diálogo ambiental.176 

3.2. Dimensão econômica  3.2.1. Dinâmicas econômicas e desenvolvimento regional  As diversas intervenções realizadas pelo PPG7 não estiveram adequadamente vinculadas a uma perspectiva econômica,  nem mesmo  às  atividades  de  ZEE.  Recomenda‐se,  enfaticamente,  que  a  “visão  estratégica” (sugerida no item 1.2.) seja informada por uma análise de economia regional, que deve criar incentivos para que o ZEE seja adotado. O desenvolvimento sustentável da Amazônia precisa passar por uma análise rigorosa das alternativas de regionalização, o que significa definir com clareza prioridades para determinadas áreas, com ênfase naquelas já seriamente antropizadas. Deve‐se também compreender que não se pode discutir o uso  sustentável  dos  recursos  naturais  sem  se  discutir  a  economia  urbana,  pois  rural  e  urbano  não  são sistemas isolados.177 A adoção da perspectiva de economia regional não significa um retro‐cesso, a inserção de uma visão estreita, autoritária de  zoneamento, mas sim a ampliação do  foco para que os programas e projetos sejam compatíveis com a dinâmica socioeconômica que ocorre na realidade. 

  a. Cadeias produtivas  

O  principal  investimento  para  a  produção  sustentável  é  o  fortalecimento  de  cadeias  produtivas  que considerem uma produção diversificada e sustentável, em uma escala compatível com o PIB regional.178 

A exemplo do que a Conab fez com diversos produtos, para fortalecer suas cadeias produtivas, também devem ser beneficiadas as cadeias produtivas de produtos florestais. 

É  recomendável  gerar  um  estudo  de  capacidade  de  gestão  e  experiência  necessária,  a  partir  de estratégias de agregação de valor a PFNM e produtos agroflorestais, como é o caso do sudoeste do Acre (com castanha) e do sul da Bahia (com cacau orgânico). 

174  Veja em www.dfid.gov.uk/aboutdfid/organisation/icd/asp  175  Sugere o uso de video em DVD, seguindo o formato do CPT (www.cpt.com.br), da Universidade Federal de Viçosa. 176 Usaid ‐ Environmental Policy Dialogue: Lessons Learned. The EPIQ Technical Adivsory Group. Washington, 1998.  177  Polese, Mario. ‐ Economia Urbana e Regional. Coimbra: Edições APDR, 1998. 178 Nesse processo, seria adequado contrastar os investimentos necessários com os gastos governamentais atuais para cobrir perdas originadas em práticas e sistemas de produção insustentáveis, ou para o arrolamento de dívidas do setor agrícola empresarial, incluindo o passivo ambiental e social criado, acumulado desde o ciclo da borracha. 

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Um  estudo  de  viabilidade  para  um  programa  nacional  de  compras  institucionais  para  PFNM  e  PFM deveria ser conduzido dentro desta perspectiva, atendendo aos principais ecossistemas. 

   b. Fortalecimento do manejo florestal  

Fortalecer mecanismo de legalização, manejo de impactos e agregação de valor, e qualificar os planos de manejo, os sistemas de acompanhamento e fiscalização179 e os técnicos de campo. 

  Definir  sistemas  de  conservação  da  integridade  genética  florestal,  acessíveis  aos  comunitários,  como reservas  genéticas  com matrizes protegidas pela  comunidade, mapeamento participativo de matrizes, entre outras estratégias básicas. 

  Estimular  o  reflorestamento  e  formas  de manejo  sucessional  com  enfoque  silvicultural  e  de  agroflo‐restas,  incluir  nos  princípios  de  manejo  os  conhecimentos  adquiridos  sobre  dinâmica  de  clareira, identificar melhor os fatores que fazem com que algumas espécies se tornem “raras”.  

Incrementar e implementar processos de agregação de valor da madeira, incluindo tecnologia de design e equipamentos adequados.   

Permitir  um  processo  de  continuidade  e  envolvimento  maior  nas  parcelas  permanentes  de  moni‐toramento, já que não existem, atualmente, dados de monitoramento de impacto confiáveis.  

Avançar as pesquisas sobre exploração seletiva de madeira (corte, arraste e transporte), processa‐mento da madeira  (sortimento,  anatomia, propriedades  e  transformação),  sistema  silvicultural  (inventários  e tratamentos  silviculturais),  estrutura  (distribuição,  autoecologia  e  genética),  processos  (ciclagem, ecofisiologia e produtividade), interações ecológicas (água, solo e clima), impacto ambiental (microclima e solos), e impactos sobre fauna & flora. 

        e. Sistemas agroflorestais e agrosilvopastoris  

Gerar um mapa de demandas de formação continuada para SAF e SSP em todo o contexto da rede social e técnica gerada pelo PPG7. 

Mapear os recursos genéticos vegetais e animais já manejados, conservados e manipulados nessa rede, identificando  fluxos e ameaças, potenciais não explorados,  fontes de oferta e demanda de produtos e conectando  a  rede  com bancos de dados, mercados potenciais,  tanto privados  como  institucionais,  e atores governamentais (Cenargen, Inpa, Embrapa, universidades e pesquisa estadual). 

Mapear  temas  e  ofertas  para  ações  em  parceria  com  pesquisa,  ensino  e  extensão,  dentro  de  uma abordagem ecossistêmica e participativa. 

Gerar um sistema de monitoramento específico para essas experiências, tanto no sentido de aperfeiçoá‐los, como para identificar e valorizar os serviços ambientais que esses sistemas podem fornecer. 

3.2.2. Direitos de propriedade  Uma questão fundamental no processo de ordenamento territorial na Amazônia é a definição de direitos de propriedade, e a respectiva capacidade de defesa desses direitos. Sem tal base, pouco atingir‐se‐á na gestão ambiental e ordenamento territorial. Eventualmente, pode ser relevante envolver o Colégio Notarial Brasilei‐ro180 e a Secretaria de Patrimônio da União nessas iniciativas. Deve‐se, distinguir direitos de propriedade de direitos de uso, aplicáveis a populações que possuem direitos à terra, definidos na Constituição Federal.  179 Muitos PMF são recusados ou então, mesmo quando aprovados, dão margem a erros que geraram, por exemplo, um passivo em multas para madeireiras certificadas (como as empresas Mil Madeireira e   Gethal Amazonas) da ordem de milhões de reais. 180  Veja em  www.notariado.org.br/his.asp 

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3.2.3. Análise financeira e de negócios  Subsídios têm caráter social e não são sustentáveis em atividades de produção e comercialização no médio e longo prazos. Recomenda‐se que novos programas incluam uma unidade de suporte à análise financeira e de negócios, de tal forma que projetos de cunho produtivo apresentem um plano de negócios e comprovem ter viabilidade  financeira,  mantido  o  critério  de  sustentabilidade.  Projetos  que  lidam  com  produção  e comercialização de recursos naturais precisam ser competitivos. Embora existam benefícios sociais, eles não podem servir de argumento para se desconsiderar a viabilidade financeira de empreendimentos.  Embora  gerem  benefícios  sociais  e  ambientais,  as  resex  precisam,  também,  considerar  a  viabilidade econômica relativa aos meios de vida de seus moradores. Alternativas que agreguem valor à produção local devem  ser buscadas para se  tentar dar sustentação econômica àquelas populações,  sem o que os demais benefícios  podem  ser  perdidos.  Recomenda‐se,  especificamente,  que  as  resex  busquem  alternativas produtivas que façam uso de tecnologias sociais.181  3.3. Dimensão Ambiental  3.3.1. Ter presentes as causas do desmatamento  O Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento, elaborado pelo MMA, aponta as causas do desmatamento, que devem ser consideradas para que o Programa Amazônia e outros tenham sucesso.  3.3.2. Ampliar o foco em conectividade e trocas genéticas  A pauta de conectividade e trocas genéticas está mais associada aos corredores ecológicos. Recomenda‐se que, pela importância da mesma para a conservação da biodiversidade, seja incorporada ao planejamento de políticas.  3.3.3. Incentivar o sistema de licenciamento  O Slarp mostrou ser um  importante  instrumento de apoio à gestão ambiental e deve ter seu uso ampliado dentro da atual perspectiva e, se possível, para incluir também a atividade agropecuária. É fundamental que este sistema de licenciamento atue em conjunto com os órgãos de terra da federação e dos estados.  3.3.4. Ampliar a pauta, incluindo energia A pauta ambiental pode ser ampliada para outros temas associados à sustentabilidade e que têm interface, tanto na  conservação  como nas  atividades de uso dos  recursos naturais.  Temas  como  tecnologias  sociais aplicadas ao desenvolvimento  sustentável, e energias  renováveis  são  importantes para  tornar econômica‐mente  viáveis  atividades  produtivas.  No  entanto,  a  perspectiva  de  expansão  na  produção  de  plantas oleaginosas para a produção de energia pode ter efeito contrário, causando enorme  impacto negativo pela expansão de monoculturas, não apenas em áreas de Cerrado, mas  também de  floresta densa  (no caso do dendê). Nesse sentido é importante o MMA ter ciência dos possíveis efeitos positivos e negativos que virão com  a  implementação  do  Plano  Nacional  de  Agroenergia,  que  já  está  em  implementação  e  prevê  uma profunda alteração na matriz energética brasileira, em direção à energia de biomassa.182  3.4. Dimensão social 3.4.1. Modelo de desenvolvimento social pretendido Ao longo dos anos de implementação do PPG7, ganhou ênfase a incorporação da dimensão social na agenda ambiental.  No  entanto,  não  ficou  claro  qual  modelo  de  desenvolvimento  social  deve  ser  usado. 

181  Experiências nesse sentido têm sido conduzidas por ONGs como: www.tecnologiasocial.org.br/ 182  Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento ‐ Plano Nacional de Agroenergia. Brasília, 2005. Disponível no endereço  www.embrapa.br/a_embrapa/unidades_centrais/acs/publicacoes/institucional/outros/Agroenergia.pdf) 

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Aparentemente, optou‐se por um modelo coletivista, baseado na promoção do associativismo. No entanto, existe  ‐  também  no  campo  teórico  do  desenvolvimento  social  ‐  uma  vertente  baseada  no  empreende‐dorismo individual. Ou seja, pode‐se financiar uma associação de produtores ou apenas alguns produtores a ela  ligados. Portanto,  recomenda‐se que  se  tenha maior  clareza  sobre  alternativas de  intervenção e  seus impactos sociais, especialmente no caso de atividades produtivas. Adicionalmente, é de extrema importância que os projetos de intervenção socioambiental tenham como foco grupos jovens especialmente na faixa dos 16 aos 25 anos. São grupos que estão entrando no mercado de trabalho, como aprendizes ou profissionais, e podem adotar, ou não, os valores da sustentabilidade a partir deste ponto de suas vidas. 183  3.4.2. Organização social dos beneficiários Mais uma vez deve‐se tirar proveito das lições do PPG7 que nos mostrou a importância da organização social, passo prévio para a  implantação dos projetos. A organização tem como objetivo possibilitar a participação, entendida  como  capacidade  de  tomar  decisões.  Por  sua  vez,  decisões  coletivas  só  podem  ser  tomadas quando existe organização.  Deverá ser  implantada uma estratégia para fortalecer e/ou apoiar o surgimento de  iniciativas no campo do associativismo  e  cooperativismo,  que  tenham  relação  com  a  dinamização  econômica  dos  municípios selecionados e possibilitem a criação de redes sociais de cooperação,  incrementando a capacidade técnica, gerencial e articuladora dos atores sociais, além do empoderamento das comunidades. Essas redes deverão facilitar a circulação das informações e conhecimentos, ampliando as capacidades humanas e institucionais e facilitando o mútuo relacionamento. 

 3.4.3. Estudos de impacto social  Ações de desenvolvimento  têm grandes  impactos  sociais184  ‐ desde um projeto do  tipo PDA que não deu resultado até o anúncio de pavimentação de uma estrada, que eleva o preço da terra e gera  intenso  fluxo migratório, alterando o balanço rural/urbano e o perfil de assentamentos humanos. É preciso  incorporar a técnica de impacto social, associadas às medidas de mitigação e compensação pelo impacto social adverso.  3.4.4. Retrabalhar projetos que tiveram impacto social negativo  Projetos podem funcionar como testes para futuras políticas, ou como um fim em si mesmos. Qualquer que seja a alternativa poderá gerar impactos negativos. O que para o PPG7 e o MMA é apenas um experimento, uma tentativa que, provavelmente, vai gerar  lições aprendidas, para as pessoas envolvidas no projeto que experimentaram  impactos  negativos  será  um  grande  impacto  social.  Programas  de  desenvolvimento precisam ter responsabilidade social e incluir formas de retrabalhar projetos que causaram impacto negativo, ou, pelo menos, compensar as pessoas que forem prejudicadas.  3.4.5. Utilização do caráter demonstrativo face às demandas sociais  

Viabilização  da manutenção  de  um  PPG7  nacional  e  biorregionalizado185,  com  o  papel  de  promover projetos  demonstrativos  de  vanguarda,  que  funcionem  como  mecanismo  orientador  para  um aprendizado progressivo dos programas de larga escala, como o PAS e o BR‐163 Sustentável.  

Investimentos para  aumentar  a  capacidade  “demonstrativa” dos projetos para uma  clara direção  aos objetivos e metodologias a serem empregadas. 

183  Panayiotopoulos, P. and Gerry, C. ‐ Approaching Youth & Business: Entrepreneur Promotion Versus Sustainable Employment. Commonwealth Youth Programme, Croos Reference Series, London, 1991. 184  Barrow, Cris.  ‐ Social Impact Assessment ‐ An Introduction. Oxford: Hodder Arnold, 2001. 185  No  sentido  de  uma  territorialização  e  de  políticas  associadas  que  leve  em  conta  a  resistência  e  resiliência  dos ecossistemas nos quais intervém. 

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Mapeamento das  redes  sociais e  técnicas geradas para promover melhor articulação das experiências apoiadas. Disseminar essas experiências nas  instituições que  lidam diretamente  com o público  rural e indígena sejam Ater, escolas de ensino médio ou técnico. 

Estímulo e apoio aos processos que permitam às  instituições oficialmente envolvidas com a questão  ‐ secretarias municipais  de  Agricultura,  Emater  e  Embrapa  ‐  formular  e  programar  ações  e  formação adequadas do uso sustentável dos recursos naturais. 

Consolidação de metodologias participativas de  identificação e priorização de demandas  junto às redes sociais e técnicas, promovendo a coleta e organização de  informações por meio de metodologias  incor‐poradas aos projetos beneficiários, e não como processo a posteriori, conduzido por agentes externos. 

Investimentos  fortes em processos participativos para diagnóstico e ação, visando elevar o padrão de organização  social  e  compromisso  entre  Estado,  facilitadores  de  processos,  lideranças  e  técnicos  de projetos. 

Mobilização de recursos humanos e financeiros do Estado para aplicação da lei e regularização fundiária em áreas piloto, aumentando a governabilidade ambiental de projetos demonstrativos. 

Apoio às prefeituras que contem com participação e representatividade compatível, oferecendo‐se uma capacitação para lideranças, conselheiros e gestores,186 para aumentar o efeito demonstrativo. 

Realização  de  estudo  específico  de  análise  de  redes  sociotécnicas,  para mapear  a  rede  gerada  e/ou amparada  pelo  PPG7,  estabelecendo  quais  os  pontos  frágeis  e  dependentes,  e  quais  os  mais consolidados e resilientes, visando melhorar o efeito demonstrativo. 

 3.4.6. Incluir a dimensão de gênero  O  tema de  gênero, praticamente, não  esteve presente nas  ações do PPG7. Alguns projetos  abordaram o tema de forma pontual, principalmente ao envolver mulheres em atividades produtivas. Recomenda‐se que o tema esteja presente em todas as novas iniciativas do MMA. 

 3.4.7. Conter a fuga de cérebros  É  praticamente  impossível  conter  a  fuga  de  cérebros  resultante  da melhor  capacitação  do  funcionalismo público nos  estados  e municípios. No  entanto,  é possível  instituir um  sistema de  incentivos  associado  ao cumprimento de obrigações derivadas do ato de o funcionário ter se beneficiado de capacitação – a mesma lógica que o CNPq aplica aos seus bolsistas que vão ao exterior.  3.5. Dimensão de gestão  3.5.1. Ampliar atividades de capacitação  A capacitação de recursos humanos não foi realizada de forma sistemática e inserida na estrutura do PPG7. Recomenda‐se que  futuros programas tenham um componente de capacitação  inserido no seu desenho, e que  essas  atividades  dialoguem  com  o  conhecimento  existente  no  campo  da  educação  ambiental,  que precisa ser promovida seriamente. Deverá ser estruturado um verdadeiro sistema de capacitação, em uma visão  integradora  e  formativa  que  busque  não  só  objetivos  funcionais  para  operacionalizar  processos produtivos e tecnologias, mas que se preocupe, principalmente, com a emancipação humana.  A capacitação é uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento econômico, social, cultural e político de  seus  protagonistas,  e  para  a  construção  de  uma  participação mais  crítica.  Seu  objetivo  é,  também, instrumentalizar  as  pessoas  para  a  gestão  social,  a  troca  e  produção  de  conhecimentos,  visando  à dinamização  econômica  das  áreas  selecionadas. O  ideal  é que  ‐  além  de  cada  projeto  ter  sua  equipe  de capacitação ‐ haja uma coordenação geral orientando todos os projetos nos aspectos didáticos, educativos e estratégicos, mantendo o caráter sistêmico do processo. 

186 Programas como o Gestar, por exemplo, apontam nesse sentido e constituem uma estratégia convergente. 

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3.5.2. Prever a formação de gestores  Um problema dos órgãos públicos no Brasil é a falta de capacitação em gestão daqueles que estão em cargos de  chefia.  Esse  problema  é maior  quando  o  cargo,  como  ocorre  em  projetos,  exige  bom  desempenho operacional. Recomenda‐se que o MMA estabeleça um programa de formação gerencial para todos aqueles que ocupam  cargos de  chefia,  com  análise de performance e  institucionalização da  troca de experiências entre gestores de projeto, evitando a formação de “igrejinhas”.  3.5.3. Flexibilidade e foco em biomas  O poder público deve se concentrar na dimensão política, encontrando formas de gestão que tenham mais flexibilidade  para  gerir  programas  e  projetos.  É  preciso  realizar  correções  de  rumo  ao  longo  do  tempo, incluindo a possibilidade de o executor buscar novos recursos financeiros. Nesse sentido, recomenda‐se que se  faça uma  análise  comparativa  com outras experiências existentes em  alguns países  selecionados, para orientar mudanças no sistema de gestão. A necessidade de se encontrar alternativas que sejam mais flexíveis foi defendida por diversos entrevistados e, por vezes, ilustrada pelas especificidades de ação na Amazônia e na Mata Atlântica. Recomenda‐se, adicionalmente, que  se discuta a oportunidade das novas  intervenções possuírem  desenho misto  –  com  elementos  comuns  informando  todos  os  projetos, mas  onde  as  ações específicas estejam focadas nas necessidades específicas do bioma ao qual se referem. 

 3.5.4. Monitoramento

Investir  na  formação  dos  gestores  e  técnicos  envolvidos,  considerando  as  abordagens  adaptativas, evolutivas e que privilegiam o protagonismo local para monitoramento e aprendizado. 

Fortalecer processos  locais mediante  investimentos em  formação e ação progressiva, que viabilizem a apropriação de mecanismos de monitoramento, e reduzam a ênfase na monitoria externa. 

Investir mais na organização, formação de lideranças e infra‐estrutura institucional local para socializar e ampliar os resultados alcançados nas comunidades. 

 Prioridades de foco recomendadas para o monitoramento: 

  Monitoramento econômico  ‐ necessário porque  a maior parte das atividades  fomentadas pelos  com‐ponentes do PPG7 são sistemas complexos com muitas interações e bastante voltados ao autoconsumo, o  que  demanda  abordagens multidisciplinares,  bem  além  do  que  foi  a  prática  na maior  parte  dos subprogramas e projetos.  

Monitoramento  ecológico  ‐  apoiar  as  capacidades  locais  para maior  apropriação  de  ferramentas  de avaliação ecológica e etnobotânica, inclusive onde elas são mais necessárias, como no âmbito das ações em  Resex,  PDPI,  PPTAL  e  em  todos  os  projetos  demonstrativos  que  lidam  com  populações  e conhecimento tradicional. 

Monitoramento cultural  ‐ reforçar nos editais e TdRs a composição de equipes  interdiscilinares ou, no mínimo, multidisciplinares. A menos que os currículos comprovem a capacidade interdiscilinar. 

Interdisciplinaridade  ‐  é  preciso  investir  em  cursos  de  pós‐graduação  em módulos  que  viabilizem  a participação  de  profissionais  atuantes  na  área  socioambiental,  e  ofereçam  formação  e  abordagens interdisciplinares destinados a  técnicos que atuam nos  contextos  sociogeográficos estratégicos para o PPG7, consultores, lideranças, e equipes de projetos governamentais. 

Detalhamento metodológico  ‐  incluir  nos  editais  e  TdRs  recursos  e  condicionantes  que  viabilizem  a sistematização das experiências com qualidade permitindo ganho, não apenas em  informação, mas em metodologia de sistematização. 

Mudanças neste contexto devem considerar que é necessário:  

Prever orçamento e cronograma para apoio à  formulação de diagnósticos e projetos pelas populações locais. 

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  Os orçamentos,  cronogramas  e operacionalização de projetos devem  considerar  as desigualdades  em termos de capacidade de se expressarem na linguagem de projetos, pois elas ocorrem mesmo dentro de uma comunidade aparentemente sem distinções. 

Criar  programas  regionais  (Mata Atlântica  Sul,  Sudeste  e Nordeste; Amazônia Oriental  e Ocidental,  e Cerrado)  de  formação  com  o  sentido  de  capacity  building,  ou  aprendizado  progressivo  baseado  na reflexão‐na‐ação que articule as diferentes  formas e ações de participantes do PPG7 e seus desdobra‐mentos  futuros.  Isto demandará  reconhecer, organizar, sistematizar e avaliar os  formatos pedagógicos atualmente em uso e os profissionais possivelmente envolvidos com docentes em tais programas. 

Uma  nova  dimensão  aos  objetivos  de  análise  e  aprendizado  dentro  do  PPG7  pode  obter‐se  com  a ampliação e maior capilaridade de estruturas de monitoramento e análise, com funções semelhantes às do IAG e do AMA, porém atuando de modo independente. 

A  rede  envolvida neste processo e/ou  espaço  institucional deverá  incluir  representantes dos projetos beneficiários  por  áreas  temáticas  e  biorregiões/territórios,  sem  o  que  o  processo  não  atingirá  seu principal objetivo: aprendizado progressivo dos múltiplos atores e tomadores de decisão envolvidos. 

 3.6. Dimensão metodológica  3.6.1. Assumir rigor metodológico  Novos programas e projetos precisam assumir rigor metodológico que garanta condições  ideais e desenho, implementação, monitoramento e avaliação de atividades. Essa necessidade é, ainda, mais relevante diante da  possibilidade  de  flexibilização,  com  terceiras  partes  executando  atividades.  Recomenda‐se  que  algum projeto de monitoramento e análise dê continuidade ao trabalho iniciado pelo AMA. Sugere‐se, com ênfase, que  sejam  estabelecidos  critérios  para  estudos  de  caso  e  que  os  mesmos  sejam  feitos  com  base  em metodologia  já  consagrada;187  definida  uma  metodologia  para  se  obter  lições  aprendidas;  as  análises busquem a  integração metodológica entre métodos quantitativos188 e qualitativos;189 e esse conhecimento em metodologias informe os termos de referência de que solicitam análise de consultores.  3.6.2. Incluir métodos de análise e gestão de conflitos  A intervenção em conflitos precisa ocorrer de forma qualificada, a partir da compreensão de diversas teorias que  formam  o  campo  multidisciplinar  chamado  conflict  resolution,  o  qual  possui  diversas  técnicas  de intervenção.190  Recomenda‐se  a  avaliação  da  oportunidade  do  incentivo  à  criação  de  uma  entidade especializada em gestão de conflitos, na forma de uma Oscip. Uma referência para a mesma é o U.S. Institute for  Environmental  Conflict  Resolution.191  Também  há  sugestão  de  que  as  experiências  internacionais,  no campo  de  conflitos  ambientais,  sejam  adequadas  à  realidade  brasileira  e  agreguem  conhecimentos  de peacebuildiing.  3.7. Dimensão científica 3.7.1. Pesquisa aplicada e direcionada 'as políticas públicas  Recomenda‐se  que  qualquer  estratégia  adotada  em  ciência  e  tecnologia  esteja  vinculada  à  produção intelectual, e tenha melhor divulgação entre gestores de projetos. Sempre que possível, deve ser aplicada e 

187 Yin, Robert K. ‐ Case study research: design and methods. 3. ed. Thousand Oaks: Sage Publications, 2003. 188 De especial utilidade são os  testes estatísticos não paramétricos. Uma publicação que é referência na área é: Siegel, Sidney & Castellan Jr., N. John, ‐ Nonparametric Statistics for The Behavioral Sciences. London: McGraw‐Hill Humanities, 1988. 189 Sugere‐se o livro: Bulmer, Martin & Warwick, Donald P. ‐ Social Research in Developing Countries. London: UCL Press, 1993. 190 Uma excelente referência é o web site: www.beyondintractability.org. 191 Veja em www.ecr.gov/ 

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direcionada à formulação de políticas públicas, tornando‐se tangivelmente útil ao trabalho dos Oemas.192  

3.7.2. Pesquisa para a produção sustentável

Fortalecer  a pesquisa, na  sua  totalidade, e não  apenas nos  centros de excelência  ‐  iniciativa que não deveria  recair,  apenas,  sobre  programas  como  o  PPG7  ‐,  incluindo  a  atualização  profissional  de pesquisadores, para que eles possam contribuir com novas informações sobre a região amazônica. 

Criar maior articulação e  comunicação entre as  iniciativas de geração de modelos  sustentáveis para a Amazônia, especialmente na área florestal, agroflorestal e agrícola. 

Consolidar  linhas de pesquisa que busquem o uso racional dos recursos naturais,  incluindo as áreas de Ecologia Humana e Educação Ambiental. 

 3.7.3. Pesquisa para a sustentabilidade de atividades degradadoras  A tônica deve ser “não basta dizer que não pode, é preciso dizer como pode”. A pesquisa precisa ajudar o objetivo  político  de  aumentar  o  diálogo  com  setores  refratários  à  tese  de  sustentabilidade,  buscando aumentar o grau de sustentabilidade das atividades que degradam o meio ambiente, como, por exemplo, o agronegócio.193  3.8. Dimensão institucional 3.8.1. Arquitetura institucional (AI)  

O  desenho  institucional  deve  refletir,  minimamente,  a  aplicação  das  seguintes  lições  da  experiência institucional do PPG7: 

Proteger‐se das vicissitudes da burocracia da administração pública, do "descontinuísmo" político, e dos caprichos e preferências dos doadores. 

Aumentar a escala do financiamento, de forma que se alcance massa crítica de recursos e uma relação de custo/benefício capaz de manter o interesse das entidades executoras de projetos. 

Estabelecer  arranjos  de  governança  que  assegurem  ao  MMA  um  papel  de  destaque  que  permita mobilizar efetivamente seu capital político, em benefício do PPG7. 

  Assegurar prestação de contas dos executores com base, tanto em resultados quanto no uso apropriado de recursos.  

Elevar  a  credibilidade  institucional do PPG7 e o perfil dos  seus órgãos de  governança,  assegurando o interesse dos doadores para que contribuam com recursos em uma escala pós‐piloto do PPG7.  

A participação dos doadores deve se orientar pelo princípio de que a lógica da demanda define a lógica da oferta, e não o oposto.  

Assegurar participação da sociedade civil no processo deliberativo do PPG7, discernindo entre o papel de representação de interesses socioambientais pelas ONGs do papel de prestação contratual de serviços. 

A  contribuição  de  doadores  a  um  PPG7  em  escala  ampliada  deve  ser  feita  de  forma  a minimizar  o financiamento cruzado, direcionado e com modalidades múltiplas e condicionalidades. A  influência dos doadores deve ser exercida nos órgãos de governança do PPG7, e não alavancando suas contribuições. A escala  de  um  novo  programa  deve  ser  de  tal magnitude  que  a  relação  entre  custos  transacionais  e benefícios, em termos de recursos e resultados, seja suficientemente rentável para manter o  interesse dos participantes nacionais e doadores. 

192 Uma bibliografia completa sobre o tema está endereço www.odi.org.uk/rapid/Projects/R0040a/Biblio_Index_A.html.  Experiências podem ser conhecidas em www.gdnet.org/middle.php?primary_link_id=3&secondary_link_id=13. 193 Marques, João Fernando et. Al (ed.) ‐ Indicadores de Sustentabilidade em Agrossistemas. Jaguariúna: Embrapa.   

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  A inserção da prática de M&A de forma orgânica nos projetos tem sido o grande desafio do AMA. As suas demais  funções dependem da geração sistemática de  informação. Para tal, a  função de M&A deve ser sistêmica e estar próxima da  função de  supervisão dos projetos pelas  STs, e não  isolada na  instância central. O trabalho do AMA ainda não está concluído e a lição obtida é que só podem ser aplicadas lições aprendidas se essas forem extraídas de  informação sistemática e traduzidas nos seus desdobra‐mentos de políticas públicas ou práticas produtivas. A função de M&A deveria, portanto, continuar a operar no quadro de um novo PPG7, inserida em um contexto mais amplo de gestão do conhecimento. A função de avaliações dos projetos e de um eventual novo Programa deve ser genuinamente independente e, para tal, estar  inserida adequadamente na sua estrutura de governança respondendo direta‐mente ao órgão deliberativo máximo. 

3.8.2. Simplificar o ciclo de projetos: mais foco em qualidade e resultados O ciclo de projetos estabelecidos pelos participantes internacionais do PPG7 não é um problema em si e, na maior parte dos  casos, parece adequado. O problema  reside,  sobretudo, na  sobreposição de mecanismos operacionais, que deveriam ser simplificados e aprimorada sua agilidade. O desenho e execução de projetos podem ser mais ágeis sem perder a qualidade e o rigor. Atualmente, há certa fixação nos fatores processuais dos projetos. O ideal seria implementar ciclos mais atentos à viabilidade e qualidade finalísticas dos projetos, ao alcance dos resultados, mantidos padrões de governança mutuamente acordados entre os participantes. Ou seja, os ciclos poderiam ser mais orientados por objetivos e  resultados, não apenas por  linhas de ação genéricas e foco nos processos.  3.8.3. Facilitar mecanismos financeiros  O PPG7 seria beneficiado se o governo brasileiro adequasse sua legislação para facilitar a internalização e uso de doações para organizações públicas brasileiras, estatais ou não, tornando sua internalização facilitada em relação ao atual regime baseado nas regras de empréstimos. O estabelecimento de um fundo único para a operação  do  PPG7  facilitaria  mecanismos  internos  de  funcionamento  financeiro.  Deve‐se  considerar, igualmente,  a  necessidade  de  maior  flexibilidade  e  otimização  de  recursos  em  atividades  finalísticas, diminuindo a cadeia de repasses e intermediários. Recomenda‐se:  

Desembolsos atrelados mais  claramente aos planos estratégicos e  indicadores quantitativos e qualita‐tivos, sob os quais seriam  tomadas decisões para  transferências de  recursos, baseados em metas pré‐estabelecidas.  Acompanhamento  do  desempenho  financeiro  (anticorrupção)  por  instituições  inde‐pendentes do doador e do recebedor. 

  Utilizar mecanismos financeiros que OSCs  internacionais usam para apoiar projetos na Amazônia, assim como os arranjos financeiros para o trabalho com a sociedade civil (PDA‐Bird‐doadores) têm se mostrado eficientes e pouco burocráticos, o que deve ser mantido e ampliado. Estudar,  inclusive, a possibilidade de  constituição  de  uma  Oscip  para  execução  de  partes  do  PPG7,  sobretudo  daqueles  projetos  e subprogramas  cujas  principais  lideranças  executivas  já  sejam,  ou  poderiam  ser,  as  redes  sociais,  tais como PDA, PDPI, Proteger, Resex e projetos de fortalecimento institucional. 

Aumentar a participação de contrapartida brasileira no PPG7 faria crescer as chances de mobilização de recursos  internacionais,  e  conferiria maior  confiança  aos  parceiros  externos  sobre  os  reais  compro‐missos do país com os projetos propostos. 

 3.9. Dimensão internacional  3.9.1. Aprimorar a cooperação técnica A cooperação técnica deve ser cuidadosamente selecionada e aplicada a partir de articulação com progra‐mas  de  desenvolvimento  local,  que  apresentem melhor  disseminação  de  resultados  e  oportunidades  de intercâmbio. Recomenda‐se:  

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Elaborar planos operacionais anuais para  implementação da cooperação  técnica: os projetos deveriam cumprir  determinação  segundo  a  qual  as  alterações  em  serviços,  cronograma  e  pessoal  requerem  a concordância brasileira. Estabelecer fluxo de  informações entre peritos e executores ministeriais, o que proveria meios para maior  transparência e participação no processo decisório da  cooperação  interna‐cional. 

  Reorganizar  as  formas  de  cooperação  com  o  fortalecimento  da  categoria  de  “contratados  locais”, considerando a atual disponibilidade de  técnicos e gestores  capacitados para exercer papéis de espe‐cialistas, não sem harmonizar as discrepâncias de remuneração dos peritos nacionais e internacionais. 

  Rever a situação na qual os peritos técnicos detêm atribuições de controladores financeiros que, a rigor, deveriam ser atividades autônomas, ainda que inter‐relacionadas. 

  Readequar as atribuições de “não‐objeção” para simplificar e agilizar processos operativos dos projetos, reconhecendo o caráter experimental e de inovação de uma série de atividades. 

  Definir  as modalidades  de  cooperação  a  partir  dos  interesses  e  condições  das  partes  envolvidas  no planejamento  e  execução  dos  projetos,  e  compatibilizar  a  permanência  de  peritos  de  longo  prazo, sempre desejável, com aqueles de curto prazo. Para tanto, é possível atuar de forma mais específica e mais flexível que permita aperfeiçoar e otimizar as contribuições da cooperação técnica. 

  Investir não  apenas  nos  peritos  enviados, mas  aproveitar mais  o  uso  flexível de  instrumentos  novos: peritos nacionais, peritos internacionais integrados (CIM), programas de intercâmbio e contatos, bolsas, capacitação acadêmica e não‐acadêmica. Investir nos vínculos com universidades, também no ensino. 

 O  balanço  entre  “apropriação  interna”  e  “adicionalidade  externa”  sempre  é  difícil:  apropriação  excessiva significa  que  as  mesmas  coisas  poderiam  ser  feitas  com  recursos  próprios,  exclusivamente,  e  muita adicionalidade significa pouco  interesse no  lado receptor. Uma saída seria  investir em  inovações, nas quais ambos os lados sejam interessados a experimentar, o que demandaria certa dose de “pilotagem” em ciência & tecnologia, e curiosidade acadêmica.  3.9.2. Permanência da experimentação e demonstração Diante  do  desafio  da  sustentabilidade  das  florestas  tropicais  brasileiras,  recomenda‐se  compatibilizar estratégias de cooperação, tanto para a ampliação dos resultados atingidos pelo PPG7 em políticas públicas quanto para a manutenção de iniciativas “piloto”. Tais iniciativas ainda poderiam ter um caráter de inovação, experimentação e demonstração da viabilidade do manejo sustentável dos recursos florestais, sobretudo em se tratando de sua ampliação para o escopo da Bacia Amazônica e para a consolidação do Programa na Mata Atlântica.  3.9.3. Explorar novos mecanismos de valoração e remuneração dos serviços ecológicos das florestas tropicais  A  exemplo da experiência centro‐africana recomenda‐se uma estratégia dupla:  

Em curto e médio prazo, aproveitar os instrumentos de remuneração florestal possibilitados pelo MDL.  

Preparação para a  segunda  fase do Protocolo de Quioto, após 2012, atualmente em negociação, com particular  interesse  em  incluir  mecanismos  que  financiem  gestão  e  conservação  de  ecossistemas florestais da América do Sul. 

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3.9.4. Fortalecimento da cooperação pan-amazônica  

No âmbito da OTCA, considerando os objetivos comuns ao do PPG7 em proteger as florestas e utilizá‐las com sustentabilidade, reduzir o desmatamento e proporcionar meios mais efetivos de cooperação internacional, recomenda‐se as seguintes atividades: 

Iniciar  processos  bilaterais  e  multilaterais  de  pesquisa  e  desenvolvimento  de  projetos  em  1)  áreas críticas; e 2) áreas com potencial de oportunidades para conservação da bacia, sejam elas fronteiriças ou impactadas por processos  intensos de desmatamento, de queimadas, assoreamento de  rios, ocupação acelerada da terra, extração predatória de recursos produtos florestais e fluviais, a exemplo da Iniciativa Amazônica  liderada  pela  Cpatu/Embrapa.  A  gestão  florestal  ‐  incluindo  as  concessões,  controle  & fiscalização, e  incentivos públicos e privados para o manejo  sustentável  (comunitário e empresarial)  ‐ poderia ser priorizada na agenda regional. 

Viabilizar,  prioritariamente,  projetos  conjuntos  de  P&D  sobre  recursos  hídricos,  incluindo  a  análise  e prospecção  das  condições  sobre  fluxos  e  qualidade  da  água,  assoreamento  e  trechos  navegáveis, particularmente  sobre  as  condições  (oportunidades  e  situações  críticas)  dos  recursos  pesqueiros, buscando  contribuir  com  a  formulação  dos  acordos  de  pesca, ou  estabelecer  ajustes necessários  aos existentes. 

Viabilizar  o  estudo  sobre  a  compatibilização  de  normas  e  legislações  existentes  para  proteção  da biodiversidade, incluindo a disseminação das melhores práticas sobre a constituição de áreas protegidas e os meios de seu financiamento. 

Intercâmbio de  informações em áreas de alto  interesse para  conhecimentos e ações conjuntas: biodi‐versidade e biotecnologia, cultivos alternativos e agroecologia, conhecimentos tradicionais, ecoturismo e negócios sustentáveis. 

Estudar a constituição de um fundo de financiamento para o desenvolvimento regional sustentável, com recursos  dos  países  amazônicos  e  da  cooperação  internacional,  inclusive,  internalizando  recursos provenientes  dos  mecanismos  de  remuneração  dos  serviços  ambientais  prestados  pela  Floresta Amazônica ao clima global. 

Incluir o processo Madre de Diós ‐ Acre ‐ Pando (MAP) de consócio transfronteiriço entre Peru, Brasil e Bolívia  nas  iniciativas  parceiras  no  arranjo  futuro  do  PPG7,  como  meio  de  formular  e  disseminar conhecimentos  sobre  aspectos  relevantes  ao  desenvolvimento  regional,  e  promover  a  participação popular  em  decisões  coletivas.  Dessa  forma,  é  possível  aproveitar  a  atual  mobilização  dos  apoios federais,  de  OSCs  locais  e  internacionais,  universidades,  fundações,  organizações  internacionais multilaterais e de cooperação bilateral, como OTCA, Pnud, Bid, Bird, Usaid e GTZ. 

 

 

      

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IINNTTEERRNNEETT:: PPÁÁGGIINNAASS EELLEETTRRÔÔNNIICCAASS CCOONNSSUULLTTAADDAASS  MCT/Agência Brasileira de Cooperação: www.abc.mre.gov.br/  Banco Mundial (Bird): www.worldbank.org  CBFP: www.cbfp.org  CEC, 2005 e 2006: www.delbra.cccrc.eu.int  Fao, 2005: www.fao.org   IIRSA, 2005:  www.iirsa.org  ISSD:  Earth Negotiations Bulletins: ITTO Archives: www. iisd.ca/vol24/index.htm  ITTO: Documents and Publications: www.itto.or.jp/live/index.jsp  Jornal do Meio Ambiente: www.jornaldomeioambiente.com.br/txt_importante/downloads/cadast_fontes_financ.pdf  Map: http://map‐amazonia.net/  Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT): www.mct.gov.br/Fontes/internacionais/GEF/Estrutura.htm  Ministério do Meio Ambiente (MMA): www.mma.gov.br  Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG): www.planejamento.gov.br  MRE ‐ Coletânea de atos de cooperação bilateral e multilateral ‐ 2006: www.mre.gov.br  Riddac: www.riddac.org/  UNFF: Documents and Compilation of Proposals ‐ www.un.org/esa/forests/  WRI, 2005 e 2006, documentos diversos em Earth Trends acessado em: www.wri.org  WRI: Earth Trends: Environmental Information. Forest Issues: www.earthtrends.wri.org/  

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AANNEEXXOOSS

AANNEEXXOO  II.. Metodologia e definições conceituais, e dimensionamento do Componente Ordenamento Territorial  142 AANNEEXXOO  IIII.. Perspectivas Institucionais para o sucessor do PPG7   149 AANNEEXXOO  IIIIII..  Lista de entrevistados  (as)     155 AANNEEXXOO  IIVV..  Perguntas analíticas do Termo de Referência (TdR)   158 

 

142

AANNEEXXOO II MMEETTOODDOOLLOOGGIIAA EE DDEEFFIINNIIÇÇÕÕEESS CCOONNCCEEIITTUUAAIISS,, EE DDIIMMEENNSSIIOONNAAMMEENNTTOO DDOO CCOOMMPPOONNEENNTTEE OORRDDEENNAAMMEENNTTOO TTEERRRRIITTOORRIIAALL  A metodologia  da  avaliação  deste  componente  é  compreensiva  (interpretativa),  fazendo  uso  de  análise documental e de entrevistas com informantes‐chave. Algumas definições conceituais são necessárias para o trabalho:  1. Análise de impacto

Esta análise adota a classificação do Banco Mundial194 (1993) em relação aos tipos de estudos de impacto existentes: os explicativos e os exploratórios. 

A  análise  explicativa  de  impacto  procura  chegar  a  uma  explicação  sistemática  e  à  quantificação  das mudanças que são o foco da análise, ou seja, procura‐se estabelecer relações de causalidade por meio de métodos experimentais que idealmente deveriam envolver grupos de controle. 

A análise exploratória de  impacto, por sua vez, procura documentar as mudanças que ocorreram, sem tentar estabelecer uma relação de causalidade direta. 

2. O entendimento da natureza da política pública

Há uma grande quantidade de enfoques teóricos sobre políticas públicas. No entanto a grande maioria diz respeito  a modelos  (tipos) de  concepção  e  de  implementação  de  políticas.  Poucos  abordam  os  atributos intrínsecos  da  ação  política.  Talvez  por  isso  exista  certa  dificuldade  de muitos  analistas  compreenderem diversas dimensões de uma política pública. 

a. Enfoques dominantes

Há dois enfoques dominantes na análise de políticas: a abordagem do estilo americano e a abordagem de “ciclo  de  políticas”.  A  abordagem  norte‐americana  de  “análise  política”  (policy  analysis)  põe  foco  no desenvolvimento de uma metodologia para determinar resultados de uma política específica, normalmente por meio de cálculo custo‐benefício entre alternativas possíveis. Por sua vez, a abordagem de “ciclo/etapas de política”, entende que a mesma é uma sucessão de passos seqüenciais, os quais seriam: 

Determinação de objetivos;  escolha dos cursos de ação;  implementação desses cursos de ação;  avaliação de resultados; e  modificação da política. 

 Esta é a abordagem dominante na discussão da política, entendida como exercício da autoridade para atingir objetivos coletivos. Portanto, a abordagem de “ciclo/etapas de política” pressupõe a  idéia de política como um curso de ação intencional, ou seja, o processo político é visto como um número de estágios sucessivos. 

b. O enfoque deste estudo sobre políticas públicas

Esta análise adota uma perspectiva que não procura identificar relações de custo‐benefício, da mesma forma que  se afasta da  concepção de política pública  como  sendo uma  seqüência de passos  tomados de  forma racional e seqüencial. Adota‐se a perspectiva apresentada por Colebatch195, para quem o conceito de política deve ser compreendido para além da  idéia que prevalece no senso comum, a que de política é um objeto, uma  declaração  clara  de  intenções  da  parte  de  uma  organização.  Neste  estudo  o  termo  “política”  será utilizado para se referir a quatro dimensões não excludentes da manifestação política: 

194  World Bank (1993) ‐ Expanding OED´s Program of Impact Evaluations: proposed Principles and Procedures, Report of Interim Working Group, World Bank, Washington DC, In E. Cracknell Evaluating Development Aid. Sage. London, (2000) 195 Colebatch, H. K. – Policy. Concepts in the Social Sciences. Bukingham: Open University Press, 2002. 

143

Uma declaração de valores (p.ex.: diretriz);  

uma orientação ampla (p.ex.: plano);  

uma indicação de prática corriqueira (por exemplo: instrumento de ação); e  

um compromisso específico (por exemplo: lei, decreto, norma, entre outros).  Essas quatro dimensões significam “resultados”, ou seja, algo a que se chegou (uma diretriz, um plano, um método ou uma lei, por exemplo). No entanto, como se verá a seguir, considera‐se também como elemento constituinte  da  política  os  atos  relacionados  ao  processo  de  se  chegar  a  essas  dimensões,  bem  como  a estrutura essencial para que tais atos ocorram. Por exemplo, o envolvimento público, por meio de consultas ou  troca de  informações, é uma dimensão de processo.  Igualmente, a estrutura necessária para  se obter informações  sobre  técnicas  imprescindíveis à  formulação de uma diretriz, plano, método ou  lei é  também parte constituinte da política, pois sem tal estrutura, como um georreferenciamento, por exemplo, a política não existiria. 

3. Atributos da política

A análise de política que se faz neste estudo parte de outra visão sobre o que é política. Pressupõe‐se que para  se analisar política é necessário  tecer algumas considerações sobre  três atributos da política: ordem, autoridade e conhecimento.  a. Ordem O primeiro  atributo  implica que política  requer  ações  sistemáticas  e  consistentes para  tornar  a  atividade organizada,  estável  e previsível. Assim,  a  aplicação universal de uma  fórmula  geral  evita  arbitrariedade  e casuísmo,  e  coloca  limites  para  o  comportamento  dos  atores,  delimitando  as  opções  de  escolha  e determinando um quadro comum de referência – cria‐se pela ordem um melhor ambiente institucional.  Nas organizações públicas, a criação de ordem refere‐se ao conjunto de medidas que asseguram que uma determinada  política  criada  seja  executada  pela  organização.  Ordem,  porém,  não  implica  em  rigidez burocrática ou, de outro  lado, em falta de controle. Ordem também não  implica em rigidez hierárquica ou comando de cima para baixo196.  A ordem também está relacionada à segurança de execução de uma decisão197, a qual deve estar aberta a alterações por contribuições feitas no processo e deve ocorrer dentro de um prazo adequado. A execução não pode ser exageradamente lenta de forma que novos fatos superem a realidade considerada para efeito de  formulação política, nem exageradamente  rápida de  forma que  a  realidade não  seja  adequadamente analisada e as partes interessadas ouvidas.  As  contribuições  ao processo  podem  advir  de  vários  setores da  sociedade  (público  externo  à burocracia pública), mas deve também considerar o público  interno, com especial atenção ao grupo de burocratas de baixo  escalão,  normalmente  negligenciados,  pois  se  entende  que  os mesmos  também  fazem  política  ao entrar em contato direto com os usuários do serviço público.  Ao se estabelecer uma política por meio da ordem, alguns interesses serão incluídos e outros serão deixados de fora, pois embora se busque o entendimento coletivo, nem todos os interesses são conciliáveis. Porém é importante saber quais interesses não podem ser deixados de fora, pois a exclusão de interesses de atores relevantes pode causar o fracasso da política. 

b. Autoridade

O  segundo  atributo  implica que  uma política necessita  ser  formulada  e  ter o  endosso de  tomadores de 

196 Refere‐se ao chamado comando “top‐down”. 197 Refere‐se ao conceito “enforcement”. 

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decisão autorizados e  legítimos para  com  seus constituintes e entre  si mesmos. Quanto maior o grau de legitimidade dos tomadores de decisão envolvidos, maior deverá ser o caráter democrático da política e as chances de a mesma ser implementada. 

No  entanto  é  preciso  ter  em mente  que  o  termo  “autoridade”  não  é  neutro.  A  auto‐proclamação  de autoridade  pode  ser  usada  como  recurso pelos  atores,  pois  este  termo  estrutura  uma  visão de mundo, conferindo a certos atores uma posição privilegiada no processo político e dificultando o acesso a outros. 

É  importante notar que o  fluxo de autoridade ocorre em dois  sentidos, qualquer que  seja a organização envolvida. Atores com autoridade passam orientações de cima para baixo, enquanto participantes de baixo escalão buscam o endosso das autoridades para seus planos. 

    c. Conhecimento (expertise) 

O terceiro atributo, conhecimento, refere‐se ao fato de que uma política não existe  isolada de outros fatos sociais, mas  é  criada  e  implementada  em  função  de  algum  objetivo  concreto.  Por  isso,  a  construção  e implementação de políticas implicam em três dimensões de conhecimento198: 

1. O teórico, que permite generalizar; 

2. o conhecimento metodológico, que permite enfocar e planejar intervenções; e 

3. o conhecimento específico, que permite recortar o objetivo segundo dimensões específicas daquilo sobre o que  se pretende atuar. Este  conhecimento específico pode  ser  técnico, no  sentido de  ser estruturado por análise  formal e acadêmica, ou  conhecimento  tradicional, estruturado pelo  saber individual e coletivo, construído pela prática através dos tempos. 

4. O lócus da política

Há três dimensões associadas ao lócus, ou seja, onde a política se realiza: a dimensão vertical, a horizontal e a  processual.  As  três  dimensões  não  são  excludentes;  elas  convivem.  As  três  são  necessárias:  a  vertical implica em comando, a horizontal em consulta, e a processual em organização. As dimensões precisam estar equilibradas para que não se caia ou no consultismo, resultado de excesso de uma dimensão horizontal; no autoritarismo, resultado de excesso da dimensão vertical; ou se tenha um resultado aleatório, resultado de uma falta de processo. 

  a. Dimensão vertical 

Em parte, a política é feita no topo da hierarquia burocrática, quer seja do Poder Executivo, do Legislativo ou mesmo do Judiciário, e se manifesta em  leis, decretos, normas, orientações e outros atos dos Poderes que regulamentam a ação dos atores na sociedade. As autoridades devem buscar a escolha equilibrada e justa, e procurar colocar suas decisões em prática de forma a obter o cumprimento da ordem. 

  b. Dimensão horizontal 

A  política  também  ocorre  na  reunião  entre  partes  interessadas,  sejam  elas  governamentais  ou  não, refletindo  a  interação  entre  elas.  Essa  perspectiva  admite  que  o  Estado  não  é  uma  autoridade  única  e centralizada, e confere certa autonomia às organizações que fazem parte da máquina estatal, bem como as organizações não‐governamentais. 

Deve ser considerada a  influência de autoridades externas no processo político nacional, quer sejam essas autoridades representantes de governos subnacionais (estaduais e municipais), ou de autoridades e gover‐nos internacionais. Estes últimos não possuem legitimidade para elaborar políticas nacionais, mas, por meio de sua ajuda ao desenvolvimento, influenciam no debate entre nacionais que resulta em políticas públicas.  198 Não  se  quer,  aqui,  propor  uma  divisão  formal  em  “tipos”  de  conhecimento, mas  apenas  uma  classificação  para efeitos didáticos e da avaliação que se pretende fazer.   

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c. Dimensão processual 

A  política  também  acontece  no  ato  de  se  criar  rotinas.  Toda  organização  envolve  rotinização,  ou  seja,  o desenvolvimento  de  maneiras  previsíveis  e  conhecidas  de  se  lidar  com  os  eventos.  A  política  também resultaria  do  ato  de  se  criar  regularidades  reconhecidas  no  processo  organizacional,  ou  procedimentos padrão de operação. Política, portanto, é também estrutura, ou seja, a natureza das formas organizacionais por meio das quais ela ocorre. Portanto, é difícil delimitar onde exatamente a política é feita, pois se trata de um processo contínuo, e ambíguo, de negociação entre as partes envolvidas.  5. Dimensionamento do trabalho (análise de impacto de subprogramas em políticas) Idealmente, uma análise de  impacto dos  subprogramas em políticas públicas deveria correlacionar as  três dimensões próprias de  impacto  (identificação, medição e atribuição) com cada uma das variáveis de cada dimensão  da  política  para  cada  subprograma.  Isso  seria  feito  por meio  da  identificação  da  presença  de indicadores, tanto de gestão ambiental como de ordenamento territorial, nas atividades desenvolvidas nos subprogramas.  Desta  forma,  se  teria  uma  análise  exploratória  de  impacto  com  adequado  grau  de confiabilidade.  No  entanto,  esta  análise  completa  se  torna  impossível  de  ser  realizada  nas  condições  de  prazo  deste trabalho, bem como devido à  impossibilidade de se realizar as viagens necessárias para visita a projetos, e ainda devido ao fato de que diversos coordenadores de subprogramas encontravam‐se viajando no período de realização deste trabalho.  Portanto,  infelizmente, um detalhado nível de análise não pode ser empregado dadas as circunstâncias nas quais  se  insere  este  trabalho.  Assim,  a  metodologia  proposta  (análise  documental  e  entrevista  com informantes‐chaves)  deve  identificar  de maneira  exploratória  os  impactos  sobre  políticas  públicas.  Desta forma,  elementos  de  política  distinguíveis  por  meio  do  emprego  da  metodologia  seriam  associados  às variáveis/dimensões  de  políticas, mas  sem  a  composição  de  indicadores.  Este,  aliás,  seria  um  passo  que deveria de qualquer forma ser dado para que se chegasse, no futuro, a indicadores de impacto em política. Como não há  indicadores,  as dimensões de  impacto  relativas  à  identificação, medição  e  atribuição  ficam também prejudicadas, ainda que, por meio da experiência de pessoas que ao longo dos anos participaram do processo, alguns impactos podem ser identificados.  Uma segunda  limitação refere‐se ao  item “b” do título ”questões analíticas” do termo de referência, o qual solicita que se faça análise a respeito da compatibilidade das políticas entre si, bem como se identifique se a hierarquia das políticas está definida de maneira adequada. Ocorre que a resposta a estas indagações necessariamente dependem de entrevistas com os executores das políticas, pois se a política não é apenas o produto, mas também o processo e a estrutura, somente por meio de entrevistas com os administradores públicos é que se chegaria a este resultado, o que não é possível na atual consultoria. 

Para que se tenha uma melhor dimensão do trabalho, relaciona‐se a seguir o conjunto de variáveis de análise para  identificação de  impactos em políticas públicas,  com base na perspectiva  teórica de Colebatch. Este trabalho  deveria  ser  seguido  pela  definição  de  indicadores  para  cada  variável. Ocorre  que  a  seleção  de indicadores  é  tarefa  técnica  e  política,  por  isso  precisaria  de  um  amplo  dialogo  com  o MMA  e  outros stakeholders do PPG7, o que não pode ser feito no momento devido às circunstâncias desta consultoria.  6. Análise de impacto de projetos em políticas variáveis de análise

  a. Ordem  

Adequação institucional (conjunto de medidas adicionais à política)  Segurança de execução (capacidade de enforcement)  Momento (timing de elaboração e implementação)  Previsão de consulta (para que a dimensão horizontal ocorra)  Consulta interna à burocracia pública 

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Identificação de grupos/indivíduos interessados‐chaves   b. Autoridade  

Legitimidade do formulador da política na sociedade  Legitimidade do formulador da política na própria burocracia pública  Capacidade de comando superior (top‐down)  Capacidade de influência inferior (botton‐up) 

  c. Conhecimento

Fundamentação teórica  Fundamentação técnico/metodológica  Fundamentação social/conhecimento tradicional  Adequação do modelo de gestão proposto  Grau de consenso sobre a configuração final 

  d. Lócus da política (equilíbrio entre as três dimensões):  

Dimensão vertical – a concretização da escolha política  Dimensão horizontal – envolvimento público  Dimensão processual – estabelecimento de rotinas nas dimensões de ação política 

 7. Definições adicionais

 Este item visa a apresentar duas definições que não são abordadas no Termo de Referência. 

  a. Gestão ambiental  Nesta  análise,  o  termo  “gestão  ambiental”  refere‐se  às  atividades  de  ZEE,  de  monitoramento  e avaliação/análise; de  controle  ambiental; de  fortalecimento dos Oemas; de promoção da  interação  entre Oemas com entidades de direito público e privado relacionadas à questão ambiental; e à difusão da temática ambiental.    b. Ordenamento territorial  Nesta  análise, o  termo  “ordenamento  territorial”  refere‐se  ao  conjunto de  ações públicas  e privadas que definem direitos em relação ao uso do solo em ecossistemas ou regiões geográficas específicas. Essas ações incluem  atividades de planejamento do uso, de estabelecimento de direitos  sobre o uso, de definição da posse e titulação da propriedade, bem como as atividades de criação e implementação de instrumentos que incentivem o ordenamento, a  realização de análises e a  implementação de ações de  comando e  controle necessárias para aferir e fazer cumprir tais ações.    c. Lições aprendidas  Neste texto, considera‐se análise de “lições aprendidas” aquela que busca  identificar numa ação pública ou privada – quer seja ela projeto, política, programa ou plano – os motivos, processos e resultados que tenham relevância  suficiente  para  serem  novamente  aplicados  ou  então  evitados  no  futuro.  Motivos  são  os elementos causais. Processos são as condições de realização. Resultados são as conseqüências. Idealmente, obtém‐se a  identificação de  lições por meio de declaração daquele que, por dever de ofício, precisa tê‐las aprendido. Também se opera por meio da identificação do convencimento de indivíduos que – quer por seu poder de decisão, de formação de opinião, ou seu representativo número –, indicam que tal “lição” já foi ou está em processo de aprendizado. Nesta atividade, deve‐se distinguir lições referentes a casos isolados ou a processos repetitivos. 

 

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A confecção do relatório de lições aprendidas pode se dar em dois níveis de profundidade, dependendo do grau de interesse de indivíduos e instituições em identificar aspectos negativos, problemas associados àquilo que se empreendeu. Neste trabalho, adota‐se o nível 1 de análise.  

a. Nível 1 ‐ Foco nos resultados: O que deu certo? O que deu errado? O que faltou?  b.  Nível  2  ‐  Foco  nos  processos  e motivos:  a  relação  de  causalidade;  as  variáveis  intervenientes;  a eficácia e a eficiência do processo.  

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AANNEEXXOO IIII PPEERRSSPPEECCTTIIVVAASS IINNSSTTIITTUUCCIIOONNAAIISS PPAARRAA OO SSUUCCEESSSSOORR DDOO PPPPGG77 1. Fundamentação  As perspectivas institucionais do PPG7 devem ser tratadas em função da natureza e alcance de sua próxima etapa. Portanto, importantes constatações ainda estão por ser feitas e decisões correspondentes ainda estão por  ser  tomadas.  Primeiramente,  deve‐se  determinar  se  nos  seus  15  anos  de  existência  o  PPG7  terá acumulado suficiente experiência e acervo de conhecimentos para fundamentar uma estratégia de aumento de  escala  baseada  na  aprendizagem  com  seus  projetos.  Na  hipótese  de  que  esse  inventário  de conhecimentos  acumulados  revele  que  ainda  não  se  alcançou  tal  massa  crítica,  será  necessário  que  o trabalho a cargo do Projeto AMA seja concluído.  Um esforço sério deve, portanto, ser feito no sentido de resenhar e catalogar essas experiências, extraindo seus  desdobramentos  em  termos  de  insumos  para  um  corpo  coeso  de  políticas  públicas  amplas,  de desenvolvimento  sustentável,  que  reflita  a  variedade  dos  projetos  do  PPG7.  Para  nutrir  este  corpo  de políticas  públicas,  não  haveria  alternativa  além  de  prosseguir  com  o  caráter  piloto  do  PPG7  com  ajustes institucionais  sugeridos  por  este  estudo.  Naturalmente,  se  ainda  houvesse  interesse  dos  doadores  e  do governo  brasileiro  em  seguir  financiando  essa  extensão  do  PPG7,  após  15  anos  de  experiência.  Uma perspectiva não muito promissora. 

 Sendo, entretanto, constatado por este trabalho complementar de inventário do saldo de aprendizagem do PPG7  que  existe  uma  massa  crítica  em  termos  traduzíveis  em  políticas  públicas,  a  natureza  do  PPG7 ampliado, ou seu sucessor mudaria radicalmente. Tratar‐se‐ia, então, de um projeto de escala muito maior e baseado no legado da aprendizagem do PPG7. As dimensões dos recursos deveriam ser de magnitude capaz de  causar  impacto  em  termos  de  desenvolvimento  sustentável,  com  índices  decrescentes  de  comporta‐mentos  predatórios  em  áreas  alvo  nas  florestas  tropicais  brasileiras.  Nesse  caso,  seria  necessária  uma estratégia de desenho programático, mais aperfeiçoada do que a utilizada no seu lançamento. Por exemplo, em uma escala cujo objetivo seria maximizar o  impacto desenvolvimentista sustentado, haveria que pensar na possibilidade de montar uma bateria de  intervenções múltiplas (inspirada no elenco dos projetos do PP‐piloto)  concentrada  em  áreas  ou  sub‐regiões  das  florestas  que  apresentem  condições  e  capacidade institucional de absorção.199 

 Tal estratégia seria diametralmente oposta à do PPG7, que consistiu na dispersão das intervenções em vários pontos dos vastos territórios florestais. A estratégia se  justifica em um programa piloto, mas não quando o propósito  é  gerar  massa  crítica  para  desencadear  desdobramentos  produtivos,  ambientalmente responsáveis.  A massa  crítica  a  que  nos  referimos,  além  da  convergência  e  concentração  geográfica  das intervenções  herdadas  dos  projetos  do  PPG7,  incluiria  infra‐estrutura,  mobilização  e  coordenação  de recursos muito superior ao que o PPG7 conheceu.200 A pulverização dos projetos no PP‐piloto daria  lugar a uma concentração estratégica no PP‐escala, com uma estratégia verdadeiramente programática em que os projetos  se  complementam mutuamente. Em  termos  institucionais, deveriam  ser  substituídos os  arranjos organizacionais  para  o  “varejo”  dos  pequenos  projetos  por  arranjos  institucionais  para  o  “atacado”  dos grandes  investimentos  integrados,  com  o  propósito  de  desencadear  processos  de  desenvolvimento  e geração de emprego e renda, ambientalmente sustentáveis.   199 A análise desenvolvida neste último Módulo coincide, em grande medida, com o que encontramos no documento do MMA ‐ Questões Estratégicas sobre O futuro do PPG7: Documento para discussão ‐, de agosto de 2004, que tinha em vista a implementação do PAS. Neste documento estão duas hipóteses semelhantes às nossas: A primeira considera o PPG7 virtualmente encerrado e propõe que concentre tanto as ações governamentais quanto os recursos financeiros e técnicos da cooperação internacional na implementação do PAS. A segunda acredita que a definição da política para a Amazônia  em  torno  do  PAS  não  exclui,  pelo  contrário,  aumenta  a  importância  da  continuidade  do  PPG7  em  uma segunda fase ‐ com características diversas, não excluindo novas experiências piloto ‐, que ajudaria a implementar o PAS e promover a ampliação de escala das experiências bem sucedidas.  200  A abordagem do Plano BR‐163 Sustentável aproxima‐se do que se propõe aqui. 

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2. Eixos de uma possível arquitetura institucional201  Caso a segunda hipótese indicada acima fosse a opção estratégica para um PPG7 ampliado ou seu sucessor, o desenho institucional requerido seria fundamentalmente distinto ao do atual Programa, pois deveria refletir, minimamente, a aplicação das seguintes recomendações extraídas da sua experiência institucional: 

  Proteger‐se das vicissitudes da burocracia da administração pública, do "descontinuísmo" político, e dos caprichos e preferências dos doadores.  

Aumentar a escala do financiamento, de forma que se alcance massa crítica de recursos e uma relação de custo/benefício capaz de manter o interesse das entidades executoras de projetos.  

Estabelecer  arranjos  de  governança  que  assegurem  ao  MMA  um  papel  de  destaque  que  permita mobilizar, efetivamente, seu capital político em benefício do PPG7.  

Assegurar prestação de contas dos executores com base, tanto em resultados quanto no uso apropriado de recursos.  

Elevar  a  credibilidade  institucional  do  PPG7  e  o  perfil  dos  seus  órgãos  de  governança  de  forma  a assegurar o  interesse dos doadores para que  contribuam  com  recursos  em  uma  escala  pós‐piloto do PPG7.  

A participação dos doadores deve orientar‐se pelo princípio de que a  lógica da demanda deve definir a lógica  da  oferta,  e  não  o  oposto,  discernindo  entre  o  papel  de  representação  de  interesses  socio‐ambientais pelas ONGs, do seu papel de prestação contratual de serviços.  

Assegurar a participação da sociedade civil no processo deliberativo do Programa.  

a. Quatro eixos  

A  arquitetura  institucional que  se  visualiza, para  atender  ao  aprendizado,  estaria estruturada  em  torno  a quatro  eixos,  com  articulações mútuas, mas  com  a  respectiva  autonomia  que  permitiria  uma montagem modular e agilidade executiva.  O  primeiro  eixo  consistiria  de  um  arranjo  institucional  e  organizacional  capaz  de  gerir  ‐  com  eficácia  e eficiência  executivas  ‐  a  estrutura  programática  das múltiplas  intervenções  que  poderiam  ser  projetadas dentro  de  um  quadro  programático  para  a  nova  etapa.  Este  eixo  deveria  estar  protegido  das  inúmeras distrações  e  desvios  próprios  da  gestão  de  recursos  pela  administração  pública  direta,  examinada  neste estudo e que muito prejudicariam a execução de um PPG7 ampliado. A este chamaríamos do Eixo de Gestão Programática:  deveria  ter  credibilidade  suficiente  para  captar  recursos  externos  e  internos  de  certa magnitude, para o qual seria assegurada a flexibilidade gerencial requerida e dotação de equipes técnicas à altura. 

 O segundo eixo ‐ que congregaria a função de M&A e a de assessoria internacional do PP‐piloto ‐ continuaria a desenvolver e aperfeiçoar a base de conhecimento sobre a viabilidade das várias intervenções conhecidas, com uma renovada abordagem do trabalho de M&A. Teria como função, também, manter os vínculos com a comunidade  científica  internacional  voltada  aos  problemas  socioambientais  das  florestas  tropicais brasileiras. A este chamaríamos de Eixo de Gestão do Conhecimento. 

 O  terceiro eixo, de  caráter público nuclear,  teria  a  custódia e o desenvolvimento de áreas  temáticas que norteariam as políticas públicas para um programa de desenvolvimento  sustentável das  florestas  tropicais 

201 Não se trata, aqui, de propor uma estrutura organizacional para um novo PPG7, mas de projetar uma série de mó‐dulos organizacionais  ‐ os eixos  ‐  inspirados na experiência  institucional do PPG7 que deveriam  ser  escolhidos para montagem de um arcabouço institucional e organizacional, buscando superar problemas caracterizados nesta avaliação. 

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brasileiras.202  Caberia,  ao  terceiro  eixo,  interpretar  os  conhecimentos  e  tecnologias  do  Eixo  de  Conheci‐mentos e  traduzi‐los nos  seus desdobramentos de políticas públicas,  formulando os  instrumentos  legais e regulamentares que viabilizem tais políticas, zelando por sua coerência geral, realizando o  lobby ambienta‐lista necessário junto aos demais módulos de formulação de políticas em instâncias federal e estadual. A este chamaríamos Eixo de Políticas de Desenvolvimento Sustentável. 

 O quarto eixo buscaria assegurar a participação da sociedade civil, dando acesso às entidades de  legítima representatividade no processo deliberativo do Programa, discernindo entre ONGs que têm como propósito representar seus associados, das que têm como propósito prestar serviços em bases comerciais, conforme vem sendo feito pelo PDA. Este eixo seria denominado de Eixo de Participação Social.   b. O financiamento dos eixos

 A natureza do  financiamento desta nova abordagem  institucional seria  fundamentalmente distinta da que usou  o  PPG7. O  Eixo  de Gestão Programática  teria  um  elenco  de  projetos  ou  subprogramas  capazes  de mobilizar  recursos  de  magnitude  condizente  com  o  desafio  de  uma  estratégia  de  desenvolvimento sustentável.  Os  recursos  seriam  de  origem  governamental  e  de  doadores,  em  forma  de  doações  ou empréstimos  sem  direcionamento  ou  condicionalidades, minimizando  os  financiamentos  cruzados  dentro dos mesmos projetos e subprogramas. A assistência técnica (AT) seria financiada por doações enquadradas nos projetos e consistente com seus objetivos. 

 O Eixo das Políticas de Desenvolvimento Sustentável poderia  financiar‐se por meio de  instrumentos dos bancos  internacionais de desenvolvimento  (Bird e Bid) do  tipo policy based, ou  seja, destinados a  recom‐pensar a formulação, adoção e implementação de determinadas políticas. 203 

 O Eixo de Gestão do Conhecimento  seria  financiado,  inteiramente, por doações não direcionadas ou por componentes de empréstimos a projetos ou a políticas públicas. Os recursos seriam captados por um fundo de  Conhecimentos  sobre  as  Florestas  Tropicais  e  seriam  alocados  pelo  consórcio  de  cujo  conselho  de administração  participariam  os  doadores. Os  recursos  dos  instrumentos  das  operações  do  tipo  “emprés‐timos  atados  a políticas”  (policy based  lending) dos bancos  internacionais de desenvolvimento poderiam, também, ser “alavancados” para financiar suas atividades. 

 O Eixo de Participação Social seria  financiado por doações provenientes de um fundo a ser criado para tal fim e dedicadas ao apoio operacional, mínimo, das ONGs que desempenham uma função de representação dos  interesses de suas classes ou movimentos sociais. Por outro lado, as ONGs que se dedicam à prestação de  serviços  seriam  beneficiadas  como  concorrentes  nas  licitações  para  a  contratação  de  serviços  em qualquer dos mecanismos de financiamento. Deveria ser evitada a compensação de ONGs de representação socioambiental direcionando contratos de prestação de serviços.  3. O perfil institucional  O Eixo de Políticas de Desenvolvimento  Sustentável estaria  radicado no MMA e montado  sobre  as  suas secretarias  com  competências  e  conhecimentos  correspondentes  às  áreas  temáticas.  Traduziriam  os conhecimentos do Eixo de Gestão de Conhecimentos em políticas públicas e alimentariam a preparação dos projetos e subprograma do Eixo de Gestão Programática. No desempenho de suas atribuições relativas ao PPG7, as  secretarias estariam mais voltadas para  fora do MMA, principalmente para os pontos  internos e externos do governo, onde políticas são formuladas e influenciadas/articuladas. Assim, seria assegurado que o produto de seu  trabalho estivesse presente no “lócus” das decisões de política no Poder Executivo e no Legislativo.  Para  tal  e,  especialmente, para  competir  com o  lobby dos  interesses privados,  seus  produtos deverão ser de qualidade e seus agentes deverão ter capacidade e liberdade para articulação externa.  202 As  áreas  temáticas poderiam  ser  as  já  identificadas  e  validadas pelos  vários parceiros do PPG7  e que  incluem  a conservação  e  gestão  ambiental,  fomento  e  produção  sustentável,  participação  social  e  cidadania,  e  Instrumentos ambientais para Infra‐estrutura de desenvolvimento. 203 O Sector Wide Approach (SWAP) ‐ do Bird e Bid ‐ está baseado em abordagens setoriais  integradas com  incentivos para a formulação de políticas para o setor sem ataduras no uso dos recursos, e de desembolso rápido.  

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 O  trabalho  do  Eixo  de  Gestão  do  Conhecimento  seria  confiado  a  um  consórcio  de  entidades  nacionais especializadas  em  pesquisa  e  divulgação,  com  competência  comprovada,  também,  em  traduzir  conheci‐mentos  nas matérias  socioambientais  sobre  as  florestas  tropicais  brasileiras  e  tecnologias  aplicadas.  Tal trabalho  seria  definido  por  um  programa  vinculado  à  estrutura  temática  do  Eixo  de  Políticas  de Desenvolvimento  Sustentável  com  o  propósito  de  fundamentar,  em  conhecimento  e  tecnologia,  suas propostas  de  política,  aumentando  sua  credibilidade.  Os  doadores  participariam  do  seu  Conselho  de Administração. O arranjo institucional no qual está calcado o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), inspirado no modelo das Associações Civis, poderia ser um referencial para a montagem dessa entidade, pois haveria maior  flexibilidade para a captação e utilização de recursos, sem a rigidez e contingenciamento de recursos orçamentários próprios do governo federal brasileiro.204 O produto desses dois eixos, naturalmente, deve chegar ao Eixo de Gestão Programática influenciando a formulação de seus projetos e subprogramas.  Com exceção do Eixo de Políticas de Desenvolvimento Sustentável ‐ que teria seu ponto focal no MMA, em localização  institucional  a  ser definida  ‐,  cada eixo  corresponderia  a uma entidade  com  institucionalidade adequada  aos  seus  propósitos  e  exigências  operacionais,  inspirando‐se  nas  inovações  que  a  legislação brasileira vem caracterizando como Entidades Públicas Não‐Estatais. Entidades amparadas pelo Código Civil são controladas pela sociedade, mediante contratos de gestão com seus financiadores, como as sociedades civis,  associações  civis  e  fundações  de  direito  privado,  conhecidas,  genericamente,  como  organizações sociais.  A  legislação  prevê,  também,  o modelo  de  Agência  Executiva  para  exercer  funções  de  Estado.  A agência é uma  autarquia ou  fundação pública que desfruta de  certa autonomia para dotá‐la de  agilidade executiva. 205  O Eixo de Gestão Programática seria uma entidade autônoma modelada a partir das organizações sociais ou agências executivas,  já  consagradas pela  legislação brasileira. Esta entidade estaria na esfera de  tutela do MMA,  que  teria  posição  preeminente  no  seu  conselho  de  administração  e  com  a  qual  se  celebraria  um contrato de gestão com metas e indicadores. Operaria em um regime de gestão matricial de forma a permitir que a equipe do Eixo de Políticas de Desenvolvimento Sustentável ‐ altamente competente e com vocação para  servir  em  estruturas  de  projetos  ‐  possa  participar  das  equipes  dos  projetos  e  subprogramas.  Isso asseguraria,  também,  a  transversalidade  entre  projetos  e  áreas  temáticas.  Deveria  ser  assegurada  a integração  vertical  de  tal  forma  que  os  projetos  das  diferentes  jurisdições  governamentais  estivessem integrados. Os projetos seriam geridos por gerentes profissionais de comprovada competência na gestão de projetos públicos.  O Eixo de Participação Social  continuaria  calcado nas  redes GTA e RMA, ONGs de direito privado que  se assemelham  às  sociedades  civis.  Essas  ONGs  foram  objeto  de  vários  apoios  do  PPG7  e  desenvolveram, consideravelmente, sua capacidade gerencial.  A  interface entre o Eixo de Gestão Programática e o de Políticas de Desenvolvimento Sustentável deveria ser desenvolvida de forma que a articulação seja permanente e efetiva, e a execução dos projetos esteja em sintonia com os objetivos das políticas de desenvolvimento sustentável: o principal objetivo do PPG7.  A  governança  dos  eixos  seria  assegurada  por  um  só  órgão  deliberativo  (Conselho  Único)  semelhante  à Comissão de Coordenação Conjunta  (CCC) do PPG7, cuja presidência  seria confiada ao MMA, apoiado por uma  secretaria‐executiva.  O  conselho  seria  coadjuvado  por  um  Comitê  Executivo  que  congregaria  os dirigentes das entidades executoras dos eixos  indicados, com presidência  rotativa. Por outro  lado, poderia haver  quantos  comitês  fossem  necessários,  para  tratar  de  assuntos  relacionados  aos  diversos  eixos propostos, que sempre se reportariam à plenária do Conselho Único.  

204 Criadas pelo Código Civil de 2002, Lei 10.406 e, portanto, pessoa jurídica de direito privado, sob controle do MP. 205 As condições para o estabelecimento de uma Agência Executiva estão dadas na Medida Provisória 1549‐39 de 29 de janeiro de 1998 e no Decreto 2.487 de 2 de Fevereiro, 1998, Ibid, Modelos Alternativos de Gestão: Análise de Cenários.  

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A  coordenação gerencial de um novo programa deve  ser uma  responsabilidade exclusiva das autoridades brasileiras nos módulos correspondentes e na integração. A participação dos doadores deve ocorrer junto ao órgão deliberativo que não possui atribuições gerenciais, pois se concentra na constatação do desempenho do  programa,  em  função  do  cumprimento  de metas  fixadas  no  programa  anual  aprovado  Esse  arranjo institucional  representado  pelo  Diagrama  2,  também  converge  para  uma  das  hipóteses  articuladas  no documento estratégico do MMA, referido acima. Evitaria a “superposição” onerosa das múltiplas  instâncias deliberativas,  tornando a governança mais ágil e  transparente, pois haveria um  só  “lócus” de deliberação com ampla participação206. 

DDIIAAGGRRAAMMAA 11:: PPEERRFFIILL IINNSSTTIITTUUCCIIOONNAALL PPAARRAA AA SSUUCCEESSSSÃÃOO DDOO PPPPGG77

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

206  Disfunção  importante,  assinalada  na  RI.  Estas  modalidades  coincidentemente  também  são  consideradas  pela Proposta do Programa Amazônia, na sua seção sobre Gestão de Recursos Transferências e Descentralização. 

EIXO DE POLÍTICAS DE

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

ÁREAS TEMÁTICAS

EIXO DE GESTÃO PROGRAMÁTICA

EIXO DE GESTÃO DO

CONHECIMENTO

PROJETO 1

PROJETO 2

Empréstimos e doações externas e nacionais

Doações e empréstimos multilaterais e nacionais

Doações

EIXO DE

PARTICIPAÇÃO SOCIAL

Fundo de participação social

EI XOS

F I NANC I AMENTO

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AANNEEXXOO IIIIII

LLIISSTTAA DDEE EENNTTRREEVVIISSTTAADDOOSS ((AASS))

1. Abel Mejia (Sector Manager SODS, Bird) 2. Adelaide Fátima de Oliveira (Assimanejo/AC) 3. Ademar da Cruz (liderança/AM) 4. Adilson Serrão (Iniciativa Amazônica/Embrapa) 5. Adriana Moreira (gerente ESD/Bird) 6. Adriana Ramos (Isa) 7. Agostinho Guimarães (Poema/PA) 8. Aidee Maria Moser (MPE/RO) 9. Alberto Góes (SDEPS/AP) 10.  Alberto Lourenço (MMA/SBF) 11.  Alberto Martins de Freitas (Segov/AM) 12.  Alberto Ninio (advogado principal/Bird) 13.  Alcione Souza (perita local GTZ) 14.  Alexandre (Ibama/CNPT) 15.  Aléxis Bastos (Rio Terra/RO) 16.  Samuel Almeida Soares (MPEG) 17.  Almir Astério Carvalhal (CEDRS/AM) 18.  Alexandre Andrade Goulart (Sepi/AC) 19.  André Ahlert (KfW) 20.  Anna Cecilia (MMA/PDA) 21.  Antoniela V. Borges  (SCA/MMA) 22.  Antônio Carlos Hummel (Ibama/diretor de Florestas) 23.  Arte Fleck (diretor de Fiscalização do Ibama) 24.  Artur Mendes Nobre (Funai) 25.  Audria Albuquerque e Ana Paula Paiva (Seplan/AM) 26.  Augusto Ferreira Filho (Sectam/PA) 27.  Benedito Rabelo, Socorro Chaves, Antonio Tradin, Aroldo Venâncio, Aristóteles Viana, Francinete, 28. Valdeci Gibson, Afonso Pena e José Pery (coordenador do ZEE e equipe/Iepa) 29. Brent Milikan (consultor SCA/MMA) 30. Evandro Câmara (ProVárzea/Ibama) 31. Cáritas das Chagas (Monape/PA) 32. Carlos (Fase) 33. Carlos Aragon (OTCA) 34. Carlos Augusto (Fetagri/PA) 35. Carlos Castro (PNUD/Brasília) 36. Carlos Edegard de Deus (Sema/AC) 37. Carlos Souza (Imazon/PA) 38. Carolina R. Dória (Ecoporé/RO) 39. Celso Schenkel (Unesco) 40. Christoph Diewald (consultor, UFTB/Bird) 41. Claudinei Lopes (GTA/PA) 42. Cláudio Langone (Secex/MMA) 43. Charles R. Clement (Inpa/AM) 44. Crisomar Lobato (Sectam/PA) 45. Cristina Carvalho (União Européia) 46. Cristina Lacerda (ZEE/AC) 47. Daniel Gross (consultor ESD, Bird) 48. Armin Proter Dietenbach (Registro/SP) 49. Edivaldo de Azevedo Souza, Arnaldo Queiroz, Alcione Cavalcante, Luiz Miguel (Sec. Sema/AP e equipe) 50. Edson Barcelos (Segov/AM) 51. Eduardo Martins (consultor) 

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52. Elizeu Cardoso Viana (OCB/AP) 53. Elke Urbanovicius Costanti (ABC/MRE) 54. Emanoel Souza, Rosilda Rabelo e Lurdival Romano (Ibama/AP) 55. Emmanuel Casara (consultor/RO) 56. Enrico Bernard (Conservação Internacional) 57. Eric Stonner e Ernani Pilla (Usaid) 58. Escrawen Sompre (Coiab/AM) 59. Eugenio Pantoja (coordenador PGAI‐AC/Sema) 60. Fátima C. Silva (CNS/PA) 61. Fernando Lyrio (ASSINT/MMA) 62. Evandro Ferreira (Inpa/AC) 63. Foster Brown (Inpa/AC) 64. Francisco C. Fonseca (MMA/SDS/PA) 65. Francisco Cavalcanti (secretário técnico do SPRN/MMA) 66. Francisco de Assis Teixeira (Ibama/RO) 67. Francisco Pianta (Secretaria dos Povos Indígenas) 68. Francisco Vieira (Maracá/AP) 69. Gabriel de Lima Ferreira (Seplands/AC) 70. Garo Batmanian (gerente, UFTB/Bird) 71. Genival de Oliveira (Coiab/AM) 72. Georgete Cavalcante, José Roberto, Milton Lima Jr, André Souza (diretora da ADA e equipe) 73. Gilney Viana (secretário da SDS/MMA) 74. Gregor V. Wolf (gerente da UFTB/Bird) 75. Monika Grossman (GTZ /PDA/Brasília/DF) 76. Hadil Viana (Dema/MRE) 77. Hans Dorresteijn (CEC) 78. Henrique Brandão Cavalcanti (Funatura) 79. Hidemberg Cruz (coordenador ProManejo/Ibama/AM) 80. Niro Higuchi (Inpa/AM) 81. Ieda Cella (Ecoporé/RO) 82. Ima Célia G Vieira (diretora do MPEG) 83. Irmã Emília (CPT/RO) 84. Ivaneide Bandeira (Kanindé/RO) 85. João A. Capiberibe (PSB/AP) 86. Jorg Zimmermann (PDA) 87. Jorge Luis (CPT/AM) 88. Jorge Pinto (Fase/PA) 89. Joris Jurriens (Embaixada Países Baixos) 90. José M. de Aquino (CNS/AC) 91. José Ribamar Quintas, André Luiz Souza, Claudia Machado, Idelberto Pinto (diretor Adap e equipe) 92. José Ubirajara Timm (consultor Brasília/DF) 93. Josemar Amorin Campo (Ibama/Resex/Acre) 94. Judith Lisansky (gerente ESD/Bird) 95. Justiniano de Queiroz Neto (Fiepa) 96. Leila Medeiros e Patrícia Rego (MPE/AC) 97. Leny Coraza (Seain/MPOG) 98. Lisandro Cogo Beck (MMA/DAC) 99.   Lourdes Spinell (Ipam/PA) 100. Lourdival Romano (Ibama/AP) 101. Lourenço Bolção (Mopepa/PA) 102. Lucy Leão (Sepro/Pará Rural) 103. Luis Carlos Joels (MCT) 104. Luiz Miguel Carvalho (PGAI/AP) 105. Malvino Salvador (Agência de Florestas/AM) 106. Marcel Viergever (DfID) 

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107. Marcello R. Coelho (gerente, UFTB/Bird) 108. Marcio Amorim (Corredores Ecológicos/AM) 109. Marcos Sussuarana (CPT/RO) 110. Marcus Alexandre Medici Aguiar (Seplands/AC) 111. Maria do Carmo (SDS/AM) 112. Maria do Carmo Costa (ZEE/AC) 113. Maria Jazylene Abreu (Corredores Ecológicos/AM) 114. Maria Miquelina B. (Coiab/AM) 115. Marta Valéria Cunha (CPT/AM) 116. Mary Allegretti (professora  TCD/UF) 117. Mauricio de Souza (Sema/AP) 118. Laércio Meirelles (Centro Ecológico Litoral/RS) 119. Miriam Prochnov (Rede Mata Atlântica) 120. Antonio Borges Model (agricultor/RS) 121. Muriel Saragoussi (MMA/SCA) 122. Nazaré Soares (coordenadora PPG7/MMA) 123. Nilson Holanda Craveiro (consultor em Gestão Pública, Brasília/DF) 124. Noemi Porro (Ipam/PA) 125. Oberdan M. Andrade (Iesa/AP) 126. Onice Dall’Oglio (coordenadora  do Projeto AMA) 127. Oswaldo C. Oliveira (STR‐PV/RO) 128. William Leslie Overal (MPEG) 129. Paulo Amaral (Imazon/ PA) 130. Pedro Leitão (Funbio) 131. Pedro Ramos (Sema/AP) 132. Denise Pufal ( GTZ/PDA) 133. Raimundo Moraes e Raquelita Athias (MPE/PA) 134. Rainer Willingshofer (Embaixada RFA) 135. Renato A. Gabazzi (CPI‐AC) 136. Ricardo Militão (Projeto Corredores Ecológicos) 137. Ricardo Tarifa (gerente UFTB/Bird) 138. Rita Mesquita (coordenação do ZEE e PGAI/AC) 139. Robert Kaplan (Bid) 140. Roberto Pimentel (Policia Civil/PA) 141. Rômulo Barreto de Melo (Ibama) 142. Ronaldo Weigand (coordenador do Arpa) 143. Rosangela Castelo Branco (Seain/MPOG) 144. Mauro Ruffino (ProVárzea) 145. Sabine Preuss (GTZ) 146. Cláudia Job Schimitt (Conab) 147. Sebastiana (Fetacre/AC) 148. Sebastiana S.S. Almeida (Sedam/RO) 149. Sergio Queirós (Fase/PA) 150. Sérgio Sá (PDPI/AM) 151. Sério Queiroz (Fase/PA) 152. Silvânio Rocha (GTA/RO) 153. Silvia Nicola (GTA/Proteger II)  154. Tasso Azevedo (SBF)  

  

  

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AANNEEXXOO IIVV PPEERRGGUUNNTTAASS AANNAALLÍÍTTIICCAASS DDOO TTEERRMMOO DDEE RREEFFEERRÊÊNNCCIIAA ((TTDDRR)) Perguntas analíticas - 1º. grupo  1. Como é que a origem, a natureza global do problema motivador do PPG7 e os  interesses diferenciados 

dos parceiros afetaram (a) a formulação dos objetivos e da estratégia e (b) a apropriação (ownership) e a implementação do PPG7 no Brasil  (isto é, por parte do governo federal, governos estaduais, sociedade civil, setor privado)? 

 2. Os objetivos do PPG7  foram suficientemente claros, delimitados e  realistas?   Como mudaram desde o 

início?   Quais foram as expectativas dos parceiros  internacionais no  início, e quais são hoje? Qual foi o papel dos parceiros internacionais na formulação de objetivos e estratégia? 

 3. A  definição  dos  objetivos  e  da  estratégia  do  PPG7  baseou‐se  em  um  diagnóstico  adequado  sobre  o 

problema  central  (desmatamento)  envolvendo  a  análise  de  suas  causas  diretas  e  indiretas?    Foi consistente com o perfil do PPG7 como iniciativa piloto? 

 4. O diagnóstico dos problemas  e  a  formulação dos objetivos  e da  estratégia do PPG7  contaram  com  a 

participação e aceitação dos diversos setores  interessados  (stakeholders) tanto no governo quanto nos grupos  da  sociedade?  Foram  identificados  os  interlocutores  certos?  Houve  um  processo  formal  de identificação? Em caso afirmativo, o processo foi objetivo e sistemático o suficiente?   Houve  incentivos adequados para que as partes interessadas se envolvessem? 

 5. Como a  liderança brasileira no PPG7  foi afetada pela  inclusão ou exclusão de partes  interessadas? Foi 

certo o foco do PPG7 de trabalhar mais por meio do governo federal do que os governos estaduais?  6. Houve  apropriação  adequada  do  PPG7,  nos  estados  e municípios,  inclusive  no  âmbito  político? Que 

fatores poderiam explicar diferenças na apropriação entre estados?  7. Sendo  que  o  PPG7  teve  caráter  piloto,  como  foram  abordadas  as  questões  de  experimentação, 

aprendizagem, disseminação e capacitação na estratégia do PPG7?  8. Em  que medida  a  tendência  de  fragmentação  em  subprogramas  e  projetos  prejudicou  o  impacto  do 

PPG7?  9. Quais  lacunas podem  ser  identificadas na estratégia do PPG7,  tendo em  vista  as principais  causas do 

desmatamento  e  problemas  socioambientais  correlatos?    O  que  explica  a  existência  ou  persistência dessas lacunas? 

 10. Como é que a estratégia do PPG7 evoluiu e mudou ao longo de sua implementação, e em decorrência de 

quais  fatores? Houve  flexibilidade para ajustar a estratégia do PPG7 em decorrência de aprendizados, novos entendimentos e eventos? 

Perguntas analíticas - 2º. grupo

Quais são os impactos mais significativos do PPG7 nas seguintes dimensões: 

 1. Conhecimentos  gerados  (por  exemplo,  modelos  inovadores  com  potencial  de  aplicação  em  outros 

contextos; base  analítica  e  lições  relevantes para  a  formulação de políticas públicas;  e  conhecimento científico sobre a conservação de florestas, entre outros). 

 2. Disseminação  de  conhecimentos  entre  comunidades  locais  e  outros  públicos  alvo,  relacionados  às 

práticas inovadoras de proteção e uso sustentável dos recursos naturais. 

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 3. Leis propostas, modificadas ou aprovadas.  4. Outras políticas propostas, modificadas ou criadas.  5. Internalização de diretrizes ambientais entre políticas “desenvolvimentistas”  (infra‐estrutura,  fundiária, 

crédito, Ater, entre outras) (transversalidade).  6. Fortalecimento de um estilo de gestão compartilhada de políticas públicas entre diferentes esferas de 

governo (federal, estadual, municipal) com competências e parcerias institucionais claramente definidas.  7. Políticas  de  gestão  ambiental,  em  termos  de  efetividade,  funcionamento  de  instituições,  parcerias, 

transparência e sustentabilidade.  8. Capacitação de  instituições e pessoas, como  forma de garantir eficácia, eficiência e sustentabilidade às 

iniciativas do PPG7.  9. Espaços de diálogo e negociação entre  instituições governamentais, organizações da sociedade civil e o 

setor privado sobre políticas públicas para o desenvolvimento sustentável.  10. Ownership  (compromisso  com  a  conservação  e  o  desenvolvimento  sustentável)  nas  três  esferas  do 

governo e entre diversos setores da sociedade civil e setor privado.  11. Opinião pública e grupos de interesse político para o desenvolvimento sustentável e a conservação.  12. Fortalecimento de organizações da  sociedade civil em  termos de capacidade de mobilização  (inclusive 

em redes), preparação e negociação de propostas para mudanças entre políticas públicas e construção de práticas viáveis de conservação e o uso dos recursos naturais, com melhorias na qualidade de vida de populações locais. 

 13. Novas iniciativas do setor privado (produtos, tecnologias, parcerias).  14. As políticas  públicas  subsidiadas  são  compatíveis  entre  si? A hierarquia das políticas  está definida de 

maneira adequada?  15. Quais  foram  os  resultados  e  impactos  positivos  que  poderiam  ou  deveriam  ter  ocorrido,  mas  não 

ocorreram?  Por  quê?  Até  que  ponto  as  fragilidades  identificadas  na  gestão  do  PPG7  resultaram  em impactos negativos? 

 16. Quais são os possíveis  impactos  futuros? Que premissas estão envolvidas no prognóstico e viabilização 

desses impactos?  17. Que impactos foram, estão sendo, ou têm chances de ser transformados em políticas mais abrangentes e 

programas maiores (mainstreaming)?  18. Quais  seriam  as  principais  recomendações  da  avaliação,  referentes  ao  aproveitamento  de  opor‐

tunidades  para maximizar  as  contribuições  do  PPG7  às  políticas  de  desenvolvimento  sustentável  no Brasil? 

 19. Em  termos de disseminação, houve  intercâmbio  suficiente  com  centros de  conhecimento nacionais  e 

internacionais para aprender sobre as experiências existentes (tanto técnicas como administrativos)?  20. Quais são os fatores que mais favorecem a sustentabilidade de iniciativas apoiadas pelo PPG7, e quais os 

que têm maior probabilidade de se opor a ela?  

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21. Em que medida o PPG7 gerou mudanças no conhecimento relacionado aos seus objetivos?  Tendo em vista o seu caráter piloto, o conhecimento gerado é suficiente para permitir sua ampliação de escala?  Perguntas analíticas - 3º. grupo 1.  Como  podem  ser  avaliados,  em  retrospectiva,  os  acordos  originais  de  1992  sobre  os  arranjos 

institucionais do PPG7?   2.  Como podem ser caracterizadas a eficácia e eficiência dos arranjos  institucionais (governance) do PPG7, 

revisados em 1999 (CCB, CCC, CCD) como  instâncias de diálogo, negociação e tomada de decisões sobre questões estratégicas, tais como a inserção do PPG7 em políticas públicas, conforme esperado? 

 3. Quais são as principais lições do PPG7 para a gestão de iniciativas estratégicas como o PAS, em termos de 

diálogo, negociação e tomada de decisões?  4. Como  é  que  o  governo  federal  exerceu  a  liderança  do  PPG7?  Como  podem  ser  caracterizadas  a 

coordenação e gestão do PPG7, pelo MMA?  Até que ponto tem existido um problema de coordenação estratégica  versus  administração  operacional?  Qual  foi  o  papel  dos  diferentes  atores  no  apoio  à existência e funcionamento de uma coordenação estratégica? 

 5. A  capacidade  das  principais  instituições  parceiras  do  PPG7,  em  termos  de  absorção  de  recursos,  foi 

avaliada corretamente? A  inclusão,  logo no  início, de outras  instituições federais e/ou a escolha de um órgão de mais alto nível  como ponto  focal  (tal  como a Casa Civil da Presidência da República)  teriam melhorado a capacidade de absorção e proporcionado uma implementação mais eficiente? 

 6. Qual  tem  sido  o  papel  e  a  contribuição  da  sociedade  civil  organizada  em  termos  de  governança  e 

implementação do PPG7?  Quais as lições sobre a participação da sociedade civil em diferentes planos ‐ formulação de estratégias, gestão de projetos, entre outros  ‐ com relevância para outras  iniciativas no Brasil e em outros países do mundo? 

 7. Quais  foram  os  principais  avanços  e  fatores  limitantes  na  preparação,  no  financiamento  e  na  imple‐

mentação de subprogramas e projetos? Quais os principais fatores que têm dificultado o ciclo de gestão de  projetos  (planejamento,  execução, monitoramento  e  avaliação)? Houve  alternativas  realistas  para financiar  e  administrar  o  PPG7,  de  forma mais  eficiente?  Quais  são  as  lições  relevantes  sobre  essa questão para o futuro do PPG7 e outras iniciativas semelhantes? 

 8. Como  pode  ser  avaliada  a  relação  custo‐benefício  da  administração  de  um  programa  envolvendo 

múltiplos doadores e o Bird, em  termos dos  interesses das partes e a efetividade do PPG7? Os custos foram justificados pelos benefícios desse tipo de parceria?  Eles poderiam ter sido menores? 

 9. Como pode ser avaliado o papel do Bird no PPG7, ao longo de sua implementação? Considerando o seu 

papel  fiduciário  na  gestão  do  RFT,  o  Bird  tem  deixado  espaço  suficiente  para  a  liderança  brasileira?  Houve mudanças significativas na atuação do banco, especialmente a partir da  revisão  institucional de 1999? 

 10. Quais são as principais lições aprendidas sobre monitoramento e avaliação de um programa piloto, com 

objetivos gerais e projetos diversos?  O que deve ser monitorado prioritariamente, e com que fim? O que deve ser alvo de avaliação? 

 11. Que grau de prioridade  foi dado pelas diversas partes  (governos, doadores, sociedade civil, comunida‐

des e Bird) ao aprendizado e à disseminação, e qual foi a contribuição dessas partes?  12. Análise e aprendizado devem ser coordenados de forma mais  independente ou devem ser  integradas à 

gestão do PPG7?  

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13. Como o aprendizado pode ser planejado e  implementado sem provocar conflito com os  interesses das partes envolvidas? 

 14. Quão efetivo  foi o Grupo de Assessoria  Internacional  (IAG) no monitoramento e  assessoria  ao PPG7? 

Como é que  a  sua  assessoria  influenciou o desempenho e a estratégia?   Que  fatores  influenciaram  a adoção das contribuições do IAG pelos seus parceiros? 

 15. Como o PPG7 tem lidado com a comunicação?  16. O conjunto de questões  formuladas com  interesse em comparar o PPG7 às  iniciativas semelhantes no 

país e no exterior, no sentido de aprender com a experiência  internacional e aprimorar a continuidade do Programa, foram as seguintes: 

 a. Quais parcerias internacionais relevantes seriam suficientemente documentadas para tirar lições a partir de uma análise comparativa com o PPG7?  b. O que pode ser aprendido com essa comparação?  c. De que maneira os projetos servem como modelos novos para outras parcerias internacionais?  d. O que pode ser utilizado em outros países, particularmente na Pan‐Amazônia?  e. O que deve ser evitado?  f. Quais  seriam  características de  “projetos  ideais” que poderiam  ser aplicadas  com benefício às futuras iniciativas de conservação florestal no país em parceria internacional?