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3 Almanaque Alentejano 2011 - Ano VII - N.º. 7 - 2ª. Série Revista anual, editada em Dezembro de 2010 Capa: Pintura de António Galvão Director e Editor: Luís Jordão Colaboraram neste numero: Ana Paula Venceslau, Antónia M. Balão Jordão, António Galvão, António José Zuzarte, C. Ferraz da Conceição, Elsa Lopes, F. Constantino Pinto, Fátima Marques, Fernanda Frazão, G. Alves Coelho, Gabriela Morais, Gonçalo Jordão, Graça Anjos Jordão, H. Mourato, Isabel de Carvalho, João Pimentel, José Roque, José S. Miranda, Luís F. Maçarico, M. Parissi, Mário Matos, Moisés Cayetamo Rosado, Nuno Rebocho, Pedro Cuncos, Rui Rosado Vieira, Silvina Silvério, Tiago Cuitelo, Vivaldo quintans Produção: Esforço conjunto de Luís B. B. Jordão e de Audiplano Tel./Fax 218 878 001 . E-mail: [email protected] Rua de S. Tomé, 37 - r/c - 1100-561 Lisboa Impressão: Ciência Gráfica, Lda Estrada Nacional 10, Km 140-100 2695-066 Bobadela Tel.: 21 994 71 20 Email: [email protected] ICS: 124715 Dep. Legal: 221322/05 ÍNDICE PERGUNTANDO..................................................4 A FORTALEZA DE MONSARAZ........................7 O ALENTEJO E O CULTO CÉLTICO DAS CABEÇAS...................................................................... 9 A IMPORTÂNCIA DO LIVRO OS LIVROS DE CERA.................................................. 12 PELOS TRILHOS DO CANTE (II)....................14 PSEUDóNIMOS E AS PUBLICAÇÕES PERIóDICAS ALENTEJANAS.........................15 A PROPóSITO DA «ExPOSIÇãO DE TAPETES DE ARRAIOLOS», EM 1917............16 VIOLA CAMPANIÇA APONTAMENTOS HISTóRICOS ....................17 O ALENTEJO E OS PRIMóRDIOS DAS CARTAS DE JOGAR EM PORTUGAL.............19 OLIVENÇA D’ALÉM GUADIANA..................20 EM DEFESA DAS CULTURAS REGIONAIS, DO REGIONALISMO E DA REGIONALIZAÇãO, HOJE E SEMPRE................................................21 CLIMA DE GUERRA OU A GUERRA DO CLIMA...............................22 AVIFAUNA O MILHAFRE.................................26 AGRICULTURA ALENTEJANA qUE FUTURO?........................29 RAIOS OS PARTAM!..........................................41 ACORDAR NO SUL...........................................42 COSTA VICENTINA..........................................42 VISIÒN EN LA PLAZA DE TOROS VIEJA DE BADAJOZ.........................................43 SILENCIO...........................................................44 RUAS DE SERPA ...............................................45 LOUCOS E VAGABUNDOS..............................46 FRONTEIRA.......................................................47 LUMINOSA BARRANCOS...............................48 DE SOL A SOL....................................................49 7 TIPOS DO MEU PAIS SURREALISTA...................................................50 FORCADAGEM, FORCADOS AMADORES DE MONFORTE.................................................51 O ALENTEJO, SUA GENTE, A CULTURA, VISTO POR DUAS TURISTAS DE ORIGEM LUSOFONA..............................................52 ERVAS AROMÁTICAS, MEDICINAIS E ALIMENTARES..............................................53 UM PETISCO DO OUTRO MUNDO, GASPACHO à MODA DO ALENTEJO...........54 ANUARIO - CALENDÁRIO, FERIADOS, FASES DA LUA, ECLIPSES, ESTAÇOES DO ANO, LEGISLAÇãO SOBRE HORA LEGAL, ASTROLOGIA.........................56

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Almanaque

Alentejano2011 - Ano VII - N.º. 7 - 2ª. Série

Revista anual, editada em Dezembro de 2010

Capa:Pintura de António Galvão

Director e Editor: Luís Jordão

Colaboraram neste numero:Ana Paula Venceslau, Antónia M. BalãoJordão, António Galvão, António José Zuzarte,C. Ferraz da Conceição, Elsa Lopes,F. Constantino Pinto, Fátima Marques,Fernanda Frazão, G. Alves Coelho, GabrielaMorais, Gonçalo Jordão, Graça Anjos Jordão, H. Mourato, Isabel de Carvalho, JoãoPimentel, José Roque, José S. Miranda, Luís F. Maçarico, M. Parissi, Mário Matos,Moisés Cayetamo Rosado, Nuno Rebocho,Pedro Cuncos, Rui Rosado Vieira, SilvinaSilvério, Tiago Cuitelo, Vivaldo quintans

Produção:Esforço conjunto de Luís B. B. Jordão e de AudiplanoTel./Fax 218 878 001 . E-mail: [email protected] de S. Tomé, 37 - r/c - 1100-561 Lisboa

Impressão:Ciência Gráfica, LdaEstrada Nacional 10, Km 140-1002695-066 BobadelaTel.: 21 994 71 20Email: [email protected]

ICS: 124715

Dep. Legal: 221322/05

ÍNDICEPERGUNTANDO..................................................4A FORTALEZA DE MONSARAZ........................7O ALENTEJO E O CULTO CÉLTICO DAS CABEÇAS......................................................................9A IMPORTÂNCIA DO LIVRO OS LIVROS DE CERA..................................................12PELOS TRILHOS DO CANTE (II)....................14PSEUDóNIMOS E AS PUBLICAÇÕESPERIóDICAS ALENTEJANAS.........................15A PROPóSITO DA «ExPOSIÇãO DE TAPETES DE ARRAIOLOS», EM 1917............16VIOLA CAMPANIÇA APONTAMENTOS HISTóRICOS ....................17O ALENTEJO E OS PRIMóRDIOS DAS CARTAS DE JOGAR EM PORTUGAL.............19OLIVENÇA D’ALÉM GUADIANA..................20EM DEFESA DAS CULTURAS REGIONAIS,DO REGIONALISMO E DA REGIONALIZAÇãO,HOJE E SEMPRE................................................21CLIMA DE GUERRA OU A GUERRA DO CLIMA...............................22AVIFAUNA O MILHAFRE.................................26AGRICULTURA ALENTEJANA qUE FUTURO?........................29RAIOS OS PARTAM!..........................................41ACORDAR NO SUL...........................................42COSTA VICENTINA..........................................42VISIÒN EN LA PLAZA DE TOROS VIEJA DE BADAJOZ.........................................43SILENCIO...........................................................44RUAS DE SERPA ...............................................45LOUCOS E VAGABUNDOS..............................46FRONTEIRA.......................................................47LUMINOSA BARRANCOS...............................48DE SOL A SOL....................................................497 TIPOS DO MEU PAIS SURREALISTA...................................................50FORCADAGEM, FORCADOS AMADORES DE MONFORTE.................................................51O ALENTEJO, SUA GENTE, A CULTURA,VISTO POR DUAS TURISTAS DE ORIGEM LUSOFONA..............................................52ERVAS AROMÁTICAS, MEDICINAIS E ALIMENTARES..............................................53UM PETISCO DO OUTRO MUNDO, GASPACHO à MODA DO ALENTEJO...........54ANUARIO - CALENDÁRIO, FERIADOS,FASES DA LUA, ECLIPSES, ESTAÇOES

DO ANO, LEGISLAÇãO SOBRE HORA LEGAL, ASTROLOGIA.........................56

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PERGUNTANDOSobre a candidatura do Cante a património imaterial da humanidade

Hoje não venho contar coisas nem tentar debitar sapiência sobre o Cante. Hoje sóquero fazer uma ou outra pergunta das que se ouvem nos sítios em que se e se cantae se fala deste baluarte da nossa cultura. Como por exemplo:

1) que se passa, realmente, sobre a candidatura do Cante a património imaterialda humanidade? 2) Afinal qual é o papel de A Moda, no concreto, quanto a isto? 3) Não haverá pura e simplesmente falta de um grupo/comissão forte, activo, eorganizado ?4) E a Casa do Alentejo, que sempre esteve na linha da frente destas lutas, ondeestá?

É óbvio, que muitas mais são as perguntas sobre este assunta que aqui poderiamficar, mas diz o provérbio que há mais marés do que marinheiros... e eu acredito.

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Tem sido dito vezes sem conta, a tempo e o seu contrário, com nuances várias e comdiversos graus de agressividade / intensidade, ao longo dos anos, que em todos os tem-pos houve gente rasca, gente à rasca e gente que se desenrasca, bem como os inevi-táveis duplos ou triplos cruzamentos. Afirmação com que, genericamente e sem bana-lizações, concordo.

É claro que ambos os núcleos se podem acentuar, mais um ou mais o(s) outro(s),consoante o tipo de valores que enformem o perfil de quem nos dirige / governa /manobra e mais ainda de quem os dirige / governa / manobra a eles. Mas, para nossadesgraça, quem dirige os destinos deste rectângulosinho, até parece fadário, a maiorparte das vezes enquadra-se no primeiro grupo. E isso (por nobres honremos bem asexcepções) desde o tempo dos tempos.

Antigamente ainda se ia escondendo, ou pelo menos disfarçando/camuflando asilhueta a este indiscutível e incontornavel facto, coisa que hoje, por desbragado, não émais possivel.

Só que, hoje também, com o evento desta absurda e incontrolável globalização, esta-mos sendo, simples e permanentemente, formatados segundo o gosto e interesse(s) dagente rasca, cada vez mais rasca, que se desenrasca e nos vai (des)governando. Isto é, senão nos pusermos a pau tendemos a ser todos gente rasca e, cada vez mais, muito à rasca.

Contudo, a gente rasca que se desenrasca passando por cima de tudo e de todos, àsvezes ainda me consegue espantar com a hábil criação de casinhos em sucessão verti-ginosa para camuflarem casos verdadeiramente importantes e até escabrosos, ou pelomenos para desviarem a nossa atenção da sua existência e importância. Mas deixa-meainda mais banzado o facto de isto ser feito absolutamente às escancaras e o povo dei-xar-se, simplesmente, ir.

Por vezes assustam-me os pensamentos que me assaltam: será que é a gajada rascaque nos (des)governa que é mais inteligentemente perigosa do que eu pensava?... ou seráque é o povo, à rasca, que é mais bronco, manso e acarneirado do que eu quero acreditarque sejamos?...

E assim se conturbam os meus dias. Cada vez mais com a convicção de que o gran-de défice deste país é de valores, simples e básicos valores, como por exemplo: o carác-ter, a honradez, a dignidade, a vergonha, o respeito pelos outros, etc., etc. ....

Como consequência da nova formatação / desformatação / formatação que vamossucessiva e permanentemente sofrendo, com receio e sem querer saber a resposta, per-gunto-me: como serão os filhos dos nossos filhos e depois os filhos deles?...

EDitoRiAL

O défice

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Está a velha vila de Monsarazsituada a três Km. do rio Guadiana,sôbre a cumeada de um altíssimo epenhascoso monte, cuja vertente sulcai em socalco e se espraia depois atéà margem direita do rio.

Reza a tradição que é fundaçãoantiquíssima e, dada a natureza dasua situação, e configuração topográ-fica do monte em que está edificada ea riqueza dos terrenos adjacentes,poderemos concluir que ela consti-tuía um grande oppidum à chegadados romanos, onde se abrigavam em

caso de perigo as populações e gadosdos lugares circunvizinhos. É naturalque os romanos tenham aproveitadoesta posição, fortificando-a segundoa sua técnica, de forma a constituiruma poderosa testa de ponte sôbre oGuadiana; assim como os bárbaros eos mouros teriam cuidado com omaior desvêlo as suas fortificações.

Ignora-se totalmente a história deMonsaraz durante o domínio dosinvasores; sabe-se apenas que foitomada aos mouros no ano de 1167por D. Afonso Henriques, que a doou

A FORTALEZA DE MONSARAZ

DO “LIVRO DAS FORTALEZAS”DE DUARTE DARMAS

edição de 1943, fac-símilada da de 1520/30)

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aos Templários, com o encargo derestaurarem a fortaleza e proverem àsua eficiente defesa.

Mais tarde, D. Dinis mandou re-edificar o forte e alteroso castelo etoda a cêrca amuralhada.

Em Junho de 1385, D. João I deCastela tomou de assalto o castelo deMonsaraz, por este estar despreveni-do, dotando-o com uma forte guarni-ção; mas logo em Agôsto seguinte foiretomado pelo condestável D. UnoÁlvares Pereira, que mandou fazeruma reparação completa da fortaleza.

D. Manuel mandou também res-taurar o castelo e as muralhas cons-truídas no tempo de D. Dinis, segun-do se representa nos desenhos deDuarte Darmas.

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Nos últimos anos, novos contributoscientíficos têm permitido rever conceitose teorias. Em particular, no que diz res-peito à História, com o novo paradigmada Continuidade Paleolítica, apoiado nalinguística, na genética, na arqueologia,na climatologia, etc., é possível colocar-se a hipótese de serem os antigos Celtasos primeiros habitantes, em tempospaleomesolíticos, do Ocidente Europeu.Ora o Alentejo pode contar-se entre asregiões que mais claramente se harmoni-zam com tal hipótese.

à luz desta perspectiva, entre os ves-tígios arqueológicos do Sudoeste penin-sular vamos salientar alguns exemplosque nos levam a supor estarem as terrasalentejanas incluídas, de modo expressi-vo, dentro do roteiro céltico do culto das

cabeças. Efectivamente,muitos achados parecemindiciar ter havido umtratamento especialdado a certos crânios,tratamento esse quepode remeter-nos parapráticas rituais de carizmítico-religioso própriodo mundo celta.Segundo muitos autores,para os antigos Celtas, acabeça possuiria atribu-tos divinos. Como tal,talvez consideradaincorruptível e autóno-ma do corpo, teria pode-res protectores – daspessoas ou colectivida-

des, do gado ou da vegetação –, divinató-rios ou proféticos, de cura e de regenera-ção, poderes, em suma, xamânicos. Acabeça seria, assim, o centro dos poderessobrenaturais reconhecidos no êxtase doxamã, do adivinho ou do feiticeiro, paraalém de ser o local onde se acreditariaestar alojada a histeria, a loucura ou osdefeitos físicos mais impressionantes –mal sagrado ou mal de santo, na máximapopular de que o que é raro é maravilho-so.

Os dados arqueológicos, iconográfi-cos, ou mitológicos sugerem, por outrolado, ter existido uma primeira fase desseculto das cabeças, interligado com oconhecimentos dos ciclos sazonais, oscultos primordiais da fertilidade, dosmortos e dos antepassados; numa segun-

O ALENTEJO E O CULTO CÉLTICO DAS CABEÇAS*

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da etapa, nas idades dos Metais, sobretu-do do Ferro – meados do I milénio a. C.– ter-se-á evoluído para o culto das cabe-ças cortadas, a cabeça dos inimigos, rela-cionando-se, deste modo, não apenascom a sobrevivência do próprio grupo,mas também com a guerra e com osjogos de poder entre grupos distintos.Ora o Alentejo parece dispor claramentedessas duas fases.

Poderemos dizer que este culto é visí-vel desde, pelo menos, o VII milénio a.C., passando pelas sucessivas eras pré-históricas até à romanização, época emque um crânio encontrado em Tróia(Setúbal) mostra a continuidade e a largadiacronia da prática de trepanação, umaprática com componentes reveladoras doexercício de rituais relacionados com acrença nas capacidades excepcionaisatribuídas à cabeça humana. Crânios pro-venientes dos concheiros do Tejo e doSado, de há mais de 8 mil anos, comsinais de trepanação (em vida, post mor-tem, ou as duas em simultâneo), ablaçãoda língua ou cortes no couro cabeludoparecem ter sido objecto de rituais que sepensa próprios da cultura céltica dessaprimeira fase. Para além de se verificar,em certos casos, e como se disse, a inter-venção depois da morte, foram encontra-

dos, em alguns exemplares, desenhos deum minúsculo círculo raiado e outros tra-ços a vermelho, relativamente longos,ambos interpretados como representandoo Sol. Este tipo de desenho parece serrecorrente, podendo ser inserido, hipote-ticamente, dentro de uma linha ritualimagética de constante evolução.Lembremos, para os tempos subsequen-tes – Neolítico, Calcolítico ou Bronze –,as marcas «solares» e olhos de sol quesurgem em objectos votivos encontradospor todo o Alentejo, nas cerâmicas, noscilindros oculados ou nas placas de xistoou placas alentejanas, como lhes cha-mam os arqueólogos.

Do mesmo modo, os achados depequenas raspas, esquírolas de crâniostrepanados ou rodelas perfuradas deossos cranianos – que já Leite deVasconcelos interpretava como amuletos–, poderão revelar-se uma comprovaçãoda crença nas propriedades maravilhosase curativas de certos crânios. Citem-se osexemplos de duas rodelas encontradaspor esse investigador na Lapa do Bugio(Setúbal) e umpedaço de ossoparietal com mar-cas de orifícios, naAnta da Capela,em Avis.

Mas ainda umoutro elemento nosleva a supor terhavido um culto dacabeça humana noAlentejo, ou, pelomenos, uma preo-cupação preferen-cial e selectivaquanto a ela: na

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* Pequeno resumo da parte referente ao Alentejo do artigo «Contribuições Portuguesas para o Estudo doculto das Cabeças» a publicar em finais de 2010, na revista italiana Studi Celtici.

gruta do Escoural, na necrópole doNeolítico Final, há nichos aparentementereservados para conterem os crânios dealguns dos ali inumados, provavelmentecomo resultado de cerimónias de traslada-ção. Um pouco mais tarde, no espólio doMonte da Velha, em Serpa (III milénio a.C.) – um provável santuário megalítico –,encontraram-se os fragmentos cranianosde um esqueleto claramente dissociadosdas restantes ossadas. Nas necrópoles detodo o Sudoeste peninsular, do períodoCalcolítico ao Bronze Final (cerca do IVao II/I milénio a. C.), mantém-se este tipode atitude – veja-se o caso da sepultura deMedarra, em Aljustrel –, a ponto de, porvezes, se depositarem os crânios numaespécie de arca, fazendo-os acompanharpor oferendas funerárias.

A acrescentar a este acervo, outro há,já pertencente à Idade do Ferro (segundametade do século III a. C.): no santuáriode Garvão, no «Cerro do Castelo», umafossa, coberta por lajes de xisto, continhaum crânio humano, separado do respecti-vo esqueleto e com indícios de trepana-ção. Todo o espólio parece implicar aexistência de um eventual ritual relacio-nado com um sacrifício humano, própriodo culto das cabeças cortadas em contex-to guerreiro, bem como do culto dascabeças inserido em rituais fundacionaise de soberania. A natureza dos objectosvotivos encontrados, como a cerâmica ouas placas oculadas – na linha dos achadosdo Escoural, Estremoz, Vidigueira ouÉvora, de épocas anteriores – e os múlti-plos restos animais – a sugerir refeiçõese libações rituais cíclicas, como seriam

as cerimónias solsticiais –, indica-nos,assim, não só a persistência de crenças,como também a presença da segundafase deste culto céltico.

E, para terminar esta brevíssima rese-nha, resta sinalizar os possíveis resquí-cios deste culto expressos na existência,em tempos medievais até épocas maismodernas, dos saludadores, curandeirosdas maleitas do gado e adivinhadoresatravés de cabeças, bem como da venera-ção dos chamados «cascos de Santo»,entre os quais se conta a cabeça de pratade S. Fabião, de Casével, datada talvezdo século xIII. No século xVI, D.Sebastião foi encomendar-se a esta SantaCabeça, antes de partir para Alcácerquibir.

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Uma vela de cera é um objecto quetodos conhecemos, mas um livro de ceraseria hoje uma curiosidade.

Um livro que se derretesse como man-teiga seria muito mais curioso do que osde tijolo ou do que aqueles livros às tirasde certamente já ouviram falar. Poucagente sabe que os livros de cera, queforam inventados pelos Romanos, aindaeram usados até ao começo do século pas-sado, até à época da revolução francesa.

Na gravura pode ver-se o aspecto des-ses livros. Eram compostos de um certonumero de tabuinhas, tendo mais oumenos as dimensões de uma agenda dealgibeira. Cada uma das tabuinhas eracavada ao meio para formar um espaçorectangular cheio de cera amarela ou preta.

Em dois dos cantos havia uns orifí-cios pelos quais passavam uns cordõesque seguravam as tábuas juntas, forman-do um livro só. A primeira e a últimatabuinha não tinham cera na superfícieexterna; assim, quando se fechava o livro,perigo de se apagar o que estava escrito.

Como se escrevia nestas tabuinhas.Certamente que não era com tinta.

Usavam-se bicos de aço que se chama-vam estiletes e que tinham uma pontaaguda e outra arredondada. Escrevia-seou, antes, raspava-se com a ponta agudae apagava-se com a ponta arredondada.

É este o antepassado da borracha.As tabuinhas de cera eram muito

baratas. As pessoas serviam-se delas,como de um bloco, para tirar apontamen-tos, para fazer somas, recibos e mesmopara escrever cartas.

O papiro importado em Roma,Egipto antigo, era caro, e empregavam-no unicamente para fazer livros.

Ainda havia outra razão que tornavacómodas essas tabuinhas: podiam-se uti-lizar durante muito tempo!

quando em Roma se escrevia umacarta numa placa de cera, recebia-se aresposta na mesma placa. Podia-se apa-gar indefinidamente o que estava escrito,com a ponta romba do estilete e recome-çar a escrever.

- serviam-se com frequência da pontaromba do estilete – tal era o conselho quedavam aos jovens escritores daqueletempo. E ainda hoje se diz de um escritorque escreve bem, que tem um bom esti-lo, apesar de o estilete estar fora de uso.

O facto de se poder apagar facilmenteo que estava escrito na cera nem sempreera vantajoso. Acontecia, às vezes, quecartas secretas, importantes, chegavam aodestino com o conteudo completamenteapagado pelas pessoas por cujas mãoseles tinham passado durante o trajecto.

Para evitar que isso acontecesse, der-retia-se sobre a carta secreta uma novacamada de cera, na qual se escreviaminsignificâncias destas: Como passou?Tem passado bem? Venha jantar comi-go...etc., etc.. quando uma pessoa rece-bia uma carta assim, tirava com cuidadoa camada superficial da cera e lia a cartaverdadeira escrita na camada inferior.

Uma carta desse tempo podia ter umou dois andares , como se fosse uma casa.

As letras do alfabeto latino quetinham sido direitas e nítidas na pedra,que se tinham arredondado no papiro,transformavam-se agora, na cera, emgaratujas ilegíveis.

Só um paleógrafo poderia decifrarestas cartas romanas escritas na cera. Paranós seria impossível compreender fosse oque fosse destas curvas e destas virgulas.

Experimente o leitor fazer uma placade cera e escrever qualquer coisa nela. Verácomo é difícil traçar letras correctamente,principalmente se escrever depressa.

Só depois da invenção do lápis e do

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OS LIVROS DE CERAA IMPORTÂNCIA DO LIVRO

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papel barato é que nós pudemos passarsem as tabuinhas de cera. Há algunsséculos, cada aluno trazia uma pendura-da no cinto.

Um grande numero de tabuinhas foiencontrado nos esgotos da igreja de

S. Tiago, em Lubeck. Encontrou-se láigualmente uma certa quantidade de esti-letes, de canivetes para rasgar o pergami-nho, e de varinhas que serviam para baternos dedos dos alunos. Porque devemsaber que, nesse tempo,

batia-se nos alunos se dó nem pieda-de, Em vez de se dizer andei na escola,dizia-se apanhei varadas.

Num livro latino escrito há muitascentenas de anos, lê-se a conversaseguinte entre os alunos e o mestre:

Os alunos. – Nós, os rapazes, suplica-mos-te, ó mestre, que nos ensines a falarlatim correctamente, porque falamosmuito mal e somos muito ignorantes.

O mestre: - querem que lhes bataquando os ensino?

Os alunos: - Mais vale apanhar pan-cada do que ficar ignorante.

E a conversa continua no mesmo tom.Imaginem um aluno desse tempo,

sentado com as pernas cruzadas. A placade cera está aberta nos joelhos. Segura-ana mão esquerda e escreve com a mãodireita enquanto o mestre dita.

Não eram só os rapazes da escola queempregavam as placas de cera; os mongesescreviam nelas as cerimónias eclesiásti-cas; os comerciantes, as suas contas; oselegantes da corte, as suas cartas de amoràs lindas damas e os desafios de duelo.

Certas pessoas tinham tabuinhas demadeira vulgar, cobertas de couro exte-riormente para as tornar mais sólidas, ecobertas interiormente de cera suja mistu-rada com gordura. Outros tinham tábuasde madeira preciosa, havia mesmo algu-

mas de luxo com embutidos de marfim.Em Paris, no século xII, havia até

uma corporação de artistas que fabricavadestas tabuinhas.

Para onde foram estes milhões detabuinhas?

Há muito que as queimaram ou que asdeitaram para o lixo, como nós fazemosaos papéis velhos. Mas quanto daríamosagora por uma destas tabuinhas escritaspor Romanos que viviam há dois mil anos.

Muito poucas tabuinhas romanaschegaram até nós. A maior parte das quepossuímos foram encontradas emPompeios na casa de um banqueiro,Cecílius Jucundos. Esta cidade foi sepul-tada sob as cinzas com a cidade vizinhade Herculano, quando de uma erupçãodo Vesúvio. Não é interessante que, semesta erupção de um vulcão, as tábuasnunca teriam chegado até nós.

Apenas possuímos vinte e quatrorolos de papiro Romano que tambémforam descobertos nas cinzas deHerculano. A mais terrível das catástro-fes não é nada comparada com os estra-gos causados pelo séculos. O tempo nãopoupa ninguém, apaga até a recordaçãodas acções humanas, tal como a pontaromba dos estiletes torna lisa a superfíciedas tabuinhas de cera.

(in O Homem e o Livro)

Um livro de cera

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Seguindo os passos já cansados, encon-tro os trilhos dos meus...Oiço no vento das melodias que canta-vas!..Rosa branca tu não vais ao meujardim sem eu ir, teu coração não écapaz, de fazer o que o meu faz. levo asnoites sem dormir...Canta-se à mulher .Se o cancioneiro alentejano fosse depedra, as vozes dos cantadores, seriamafloramentos de xisto à superfície, sonssaídos da memória, tornada tradiçãopelo acto de cantar e trabalhar cantando,complementando-se.As cantigas continuam imutáveis comoas pedras, recorendo a simbologias quese cruzam entre si,O pensamento voa mais alto, os boispuxando o arado, o camponês canta navoz da sua amada:Tu é que és o meu rapaz... quando é quelá vais... vai ao jardim das flores, se lá

PELOS TRILHOS DO CANTE (II)

fores... e não me encontrares, torna avoltar... torna a voltar... Pergunta a quemtenha amores e... a quem saiba amar.!...à mãe !! ó águia que vais tão alta, voando depolo em polo, leva-me ao céu onde eutenho, a mãe que me trouxe ao colo...ficou-me fazendo falta... voando depolo em polo, ó águia que vais tão alta...à filha.Oalentejano, moldado pela planície,interiorizou as diferentes culturas dosvários povos que por ali se cruzaramsobretudo o árabe.:O galo quando canta é dia...é dia...Maria é dia...quando canta fora dahora... é moça roubada, que se vaiembora...tem cuidado com aGabriela...que está à janela,Se eu tivesse asas voava! onde pensas tuque eu ia? visitava-te meu amor ... atoda a hora do dia.

José

Sim

ão M

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PSEUDóNIMOSE AS PUBLICAÇÕES PERIóDICAS ALENTEJANAS

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Alguns leitores do Almanaque, a propósito das lin-has que escrevi na anterior edição sobre as publicaçõesperiódicas alentejanas, manifestaram-me a sua admi-ração sobre a amplitude deste tão rico património.

Entretanto, no nº 7.156 a 27 de Abril de 2010, ODistrito de Portalegre cessou a sua publicação, ele queera, como então escrevi, o mais antigo jornal do Alentejo.

Circunstâncias várias vêm todavia mostrando quea imprensa regional, na sua diversidade, é fonte insub-stituível a que se recorre com frequência, quando dopassado da vida local algo se quer saber ou fundamen-tar. As comemorações do centenário da República sãoum exemplo disso mesmo.

A consulta desse património, para além dos proble-mas de conservação que invoquei e dos cuidados críti-cos na sua leitura, aconselha atenção a factores essenci-ais, que não apenas ajudam a compreendê-lo como auma utilização consistente e capaz de se articular com arealidade local. Entre esses factores, com a singelezaque as dimensões do Almanaque impõem, lembro aoleitor: a censura, as tipografias, os pseudónimos.

Fiquemo-nos por ora com os pseudónimos.Muitos deles serão hoje quase impossíveis de decifrar.Por mim, aqui lhes deixo nota, daqueles que o tempome foi levando a descobrir:

• Francisco de Abreu - Manuel Severim de Faria (1584 - 1655)• Adebar - Adeodato Barreto (1905 - 1937 )• Al Berto - Alberto Raposo Pidwell Tavares (1948 - 1997)• João do Alentejo - João Ruivo (1891 - 1976)• João Alegre - António Lobo de Almada Negreiros (1868 - 1939)• Uma Alentejana - Isaura Correia Santos ( 1914 - 1989 )• Alface - José Carlos Alfacinha da Silva (1949 - 2007 )• Aliquis - José Francisco de Moura (1893 - 1971)• Luís Américo - Joaquim Augusto da Câmara Manuel (1907 - 1951)• Andorinha - Áurea Paes Falcão (1897 - ?)• Maria D’ Arce - Antónia Maria Pires de Lima da Fonseca (1905 - 1986)• Argentinita - Arlete Argente Guerreiro (1905 - 1940)• Argus - Fernando de Sousa (1855 - 1942)• Nizeth Ataíde - Luísa Segurado ( - )• Álvaro Bandeira - Joaquim Namorado (1914 - 1986)• Rafael Barros - Aníbal queiroga ( 1897 - 1967)• Rodrigo Bastos - Egídio Namorado (1920 - 1976)• Luiz Beira - Armando Corrêa ( - )• Edmundo Belfonte - Pedro Guedes Real ( - )• José Bento - Mateus Maniés (1886 - 1951)• Mercedes Blasco - Conceição Vitória Marques (1867 - 1961)• Breno - José do Rosário ( - )• Alves Campos - Joaquim Vermelho (1927 - 2002)• Paulo de Campos - Joaquim Valentim (? - 1980)• Denis de Castro - Ramiro da Fonseca (1911 - 1991)• Frei António das Chagas - António da Fonseca Soares (1631 - 1682)• João Chaparro - José da Silva Picão (1859 - 1922)• Chaubet - Carlos Patrício Álvares ( - )• Zé Côdea - João Diogo Casaca (1890 - 1977)• Colette - Cláudia de Campos (1871 - 1916)• Cromwell - José do Rosário ( - )• António Eborim - António Cartaxo Júnior (1909 - 1979)• Elmar - Fernão Perez Durão (1896 - 1973)• Paulo Emílio - José Maria Frazôa • Joaquim d’ Estremoz - Joaquim Vermelho (1927 - 2002)

• António Fazenda - Cansado Gonçalves (1903 - 1994)• Guy Ferreira - Mário Armando Guilherme Ferreira (1939 - 2004)• Mário Florival - Manuel Eduardo da Rosa Fragoso ( - )• José da Fonte Santa - José Jacinto Romão Guerreiro (1925 - 1998)• Franciscano - Francisco Ribeiro ( - )• Olímpio de Freitas - xavier da Cunha ( 1840 - 1920 )• C 3 de A. G. - Padre José Alves Gomes ( 1923 - 1985)• Z. G. - Ângelo Monteiro (1899 - 1972)• Naríade Galvão - Maria Joana Saúde de Abreu Carvalho (1919 - )• André Gameiro - António Ventura (1953 - )• Leillah Glanovitch - Aurélia Borges (1915- )• Jobimo - João Bizarro de Morais (1874 - 1964)• Janota & C.ª - Luís José da Costa (1834 - 1902)• Ricardo Jorge - Joaquim Vermelho (1927 - 2002)• Tiago José - Diogo Salema Cordeiro (1930 - )• Lagoia - Ângelo Monteiro (1899 - 1972)• Diana de Liz - Maria Eugénia Haas da Costa Ramos (1892 - 1939)• Maria do Loreto - Aurélia Borges (1915 - )• Luso - Luiz Gomes (1884-1948)• Luzia - Luísa Susana de Freitas Lomelino Grande (1875 - 1945)• Malazartes - Manuel Grazina (1862 - 1950)• Manísio - Manuel Dionísio ( - )• Isabel de Malta - Clara Correia Alves (1869 - 1948)• L. H. Afonso Manta - Nuno Rebocho (1945 - )• Dinis Marques - Joaquim Namorado (1914 - 1986)• Artur de Mello - João Luiz de Carvalho Cordeiro (1862 - 1919)• Ruy de Melo - Leopoldo Nunes (1897 - 1988)• António de Monforte - António Sardinha (1888 - 1925)• Gil do Monte - Felício José Pássaro (1903 - 1987)• Alves de Moura - Egídio Namorado (1920 - 1976)• Cláudio Negro - Cap. Palma Mestre ( - )• Nemo - Fernando de Sousa (1855 - 1942)• Pedro Aguiar Nogueira - Cansado Gonçalves (1903 - 1994)• Mário Seabra Novais - Cansado Gonçalves (1903 - 1994)• Ollober - Caldeira Rebolo (1854 - 1926)• Olderfa - Alfredo Baptista (?) ( - )• Cristovão Pavia - Francisco António Lahmeyer Flores Bugalho (1933 - 1968) • D. Pepe - José Picão Telo (1901 - 1993)• Jorge Pires - Emílio Costa (1877 - 1952)• Q. de S. V. - quirino José Catita (1906 - 2004)• Rabecão - João Cândido Carvalho (1803 - 1857)• Rabequista - Paulo Barata (1889 - 1965)• Roberto - Fazenda Júnior (1867 - ?)• Maria de Santa Isabel - Maria Palmyra Osório de Castro de Sande

Menezes e Vasconcelos Alcaide (1910 - 1992)• Spartaco - Felício José Pássaro (1903 - 1987)• Elmiro Tagídeo - José Agostinho de Macedo (1761 - 1831)• Bonifácio Tranca Ratos - António Francisco Barata (1836 - 1910)• Rebus - Jorge Ramos ( ? - 1984)• Ana Maria Rey - Aurélia Borges (1915 - )• Luís Rui - Joaquim Vermelho (1927 - 2002)• Luís de Santander - Luís de Sá Cardoso (1889 - 1940)• Ricardo Saraiva - David Ferreira (1897 - 1989)• Satarp - Bernardo Pratas ( - 1933)• Sátiro - Joaquim Vermelho (1927 - 2002)• Serpentino - Jerónimo Paiva (1877 - 1949)• Sidrotécnico - Luís Gomes (1884 - 1948)• Bruno da Silva - António Francisco Barata (1836 - 1910)• Silvano - M. B. Barbosa Sueiro (1894 - 1974)• Sílvia Soares - Josette Maria Cardoso Silva (1914 - 1989)• Spartaco - Felício José Pássaro (1903 - 1987)• Maria Veleda - Maria Carolina Frederico Crispim (1871 - 1955)• Fernão da Vide - Francisco Beliz (1890 - 1959)• Telo da Vide - Francisco Beliz (1890 - 1959)• Frei Albino de Vila Viçosa - Albino Lapa (1898 - 1968)• Dr. Young - Aurélia Borges (1915 - )

A lista estará longe de ficar completa. Haverápara quem ela seja inútil, haverá para quem sejaóbvia, haverá para quem seja prestável. A estesúltimos leitores a entrego.

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Em 1917 o edifício do Convento doCarmo, em Lisboa, acolheu a primeiraexposição de Tapetes de Arraiolos, que pre-tendia dar a conhecer à população portugue-sa uma arte que estava, pouco a pouco, areerguer-se, após, no século xIx, ter sidovotada ao esquecimento.

Após um período de renascimento inicia-do pelo crítico de arte José queirós em 1898,os tapetes de Arraiolos estavam a conheceruma nova fase, um pouco à semelhança doque acontecia por todo o país com o artesana-to, imbuído pelo espírito nacionalista quePortugal conhecia nos inícios do século xx.

Foi pelas mãos de Sebastião Pessanha queem 1916 foi apresentada na Associação dosArqueólogos Portugueses a proposta de se rea-lizar a referida exposição. A ideia foi aceite e aexposição abriu portas a 8 de Março de 1917.Estavam expostos 77 exemplares de tapetes,assim como os materiais necessários à sua con-fecção. Coelho de Carvalho noticia a aberturada exposição, no jornal local O Povo deArraiolos, em número especial dedicado aostapetes, de 8 de Abril de 1917, da seguinteforma: «abriu a exposição de tapetes deArraiolos nas velhas salas do Museu do Carmo– quási uma centena de exemplares. Entre astapeçarias expostas, figuram magníficos tape-tes antigos; e, alguns d’essa industria moderna-mente renascida em Arraiolos e Évora».

O visitante que se dirigisse ao Conventodo Carmo poderia encontrar, expostos e paravenda, para além dos tapetes, os materiaisnecessários à sua produção, nomeadamenteas lãs e as telas. Sobre a venda de produtosera cobrada uma taxa de 10% a favor daAssociação dos Arqueólogos Portugueses.

O bilhete para visitar a exposição custava$10 e às quintas-feiras $20, por ser o dia emque as tapeteiras bordavam tapetes ao vivono recinto da exposição. Era também nestedia em que se realizavam conferências sobreo Tapete de Arraiolos, debatendo-se a histó-ria, a técnica e o seu ressurgimento.

Esta exposiçãoalcançou os objecti-vos iniciais de fazerrenascer na socie-dade portuguesa odesejo de possuirtapetes de Arraiolose de alertar as enti-dades estatais paraa necessidade decriação de umaescola técnica detapeçaria, para queo tapete de Arraiolos não voltasse a cair noesquecimento.

Actualmente os tapetes de Arraiolosatravessam uma fase complicada, pois urge acriação de uma zona de origem demarcada,de modo a poder-se fazer face às imitaçõesque proliferam nos mercados nacional einternacional. É certo que os contornos destafase difícil são diferentes dos encontradospor José queirós em 1898, porém os tapetescorrem risco de desaparecer se algo não forfeito. A realidade que os arraiolenses bemconhecem é que as casas que comercializamos tapetes são cada vez menos, e cada vezmenos são também as mulheres que domi-nam as técnicas de fazer um tapete deArraiolos. São necessárias medidas concre-tas para que os tapetes de Arraiolos não setransformem em resquícios do passado, eque, como em 1917,haja vontade de intervir,de preservar e salvaguardar o nosso patrimó-nio, que é expressão de Arraiolos, doAlentejo, e de Portugal.

*O autor é investigador em História doPatrimónio e publicou, no ano de 2009, aobra Contributos para a História dosTapetes de Arraiolos.

A PROPóSITO DA «ExPOSIÇãO DE TAPETESDE ARRAIOLOS», EM 1917

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APONTAMENTOS HISTóRICOS

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A viola popular portuguesa chegou atéaos nossos dias sob várias formas e denomi-nações: braguesa, ramaldeira, amarantina,toeira, de arame, da terra e, no sul do país,campaniça.

Esta viola popular descende da tradiçãoviolística hispânica que se cristalizou naviola barroca que as classes eruditas aindacultivavam no séc. xVIII, a qual é objectodo tratado escrito em 1789 pelo portuguêsManoel da Paixão Ribeiro, Nova Arte deViola, onde é descrita como um instrumen-to armado com doze cordas em cincoordens (af.- mi, si, sol, ré, lá), sendo trêsduplas e duas, as mais graves, triplas. Asclasses populares, com a sua tendência deimitar os costumes musicais da alta socie-dade, vinham desde quinhentos cultivandotambém o instrumento, naturalmente deconstrução mais simples ou rudimentar,como nos é atestado pela obra de JuanBermudo, Declaración de los InstrumentosMusicales, 1555.

Como frequentemente acontece, depoisde as classes cultas terem abandonado aviola barroca (o que ocorreu nos alvores doséc. xIx, em favor da viola de cordas sin-gelas), o povo continuou por muito tempo a

tangê-la ao longo de gerações acompanhan-do a sua música de tradição oral e conse-guindo assim, através da sua prática quoti-diana, trazê-la até aos nossos dias.

O povo português chama viola ao instru-mento de cordas dedilhadas, com caixa deressonância em forma de oito, a que os res-tantes povos europeus chamam guitarra(esp.), guitar (ingl.), chitarra (ital.) e guitare(fr.). Arma correntemente com cinco cordasduplas, tendo já possuído doze cordas emcinco ordens, como já acima descrevemospara a viola barroca, de que era, aliás, comotambém dissemos, uma congénere popular.O instrumento de seis cordas singelas (af. –mi, si, sol, ré, lá, mi) é um descendente fini-setecentista daquela outra viola, vindo a serconhecido em Portugal por viola francesa,violão (sobretudo no Norte, para se não con-fundir com a viola propriamente dita, de cor-das duplas, que ali se conservou até aos nos-sos dias com enorme vitalidade), ou, simpli-ficadamente , viola, sobretudo no Sul, onde aviola de cordas duplas se perdeu mais cedo.

Só de há alguns anos a esta parte é quesucedeu um estranhíssimo fenómeno, queestá a alterar a nomenclatura deste instru-mento de seis cordas singelas, passando achamar-se-lhe guitarra em vez de viola, eerradicando-se assim uma designação quetinha uma consagração de quinhentos anosde história. Com efeito, alguns intérpretesda chamada música ligeira, acompanhadospor jornalistas pouco conhecedores doassunto, apercebendo-se que nos círculosde música erudita portuguesa se começou,por meados do séc. xx, a chamar guitarraao instrumento, ou então por simplesestrangeirismo, começaram também a utili-

VIOLA CAMPANIÇA

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zar, não sem pretensiosismo e certa dose desaloísmo, essa designação. E passámos assima ver, de há cerca de quinze anos a esta parte,alguns desses jornalistas e desses músicostocadores de viola, acústica ou eléctrica, queanteriormente falavam em viola-baixo, viola-ritmo, viola-solo ou simplesmente viola, autilizarem para todas essas realidades a pala-vra guitarra, quando, como todos sabem, estetermo é reservado em Portugal a outro instru-mento de mão, periforme, da família das cíta-ras, a guitarra portuguesa.

Voltando à viola popular portuguesa, atal que é a correspondente popular da violabarroca e que chegou até nós com cincocordas duplas, diremos que ela tomou, noBaixo Alentejo, o nome característico deviola campaniça, havendo notícias escritase orais de que, no princípio do séc. xx,ainda ela se encontrava implantada por todaa província, desde o litoral até à raia deEspanha, e por algumas franjas do Algarve– v. a nossa obra Viola Campaniça, o OutroAlentejo. A origem do nome vem, inques-tionavelmente, da sua radicação na zona do“Campo Branco”, geograficamente situadanos aros concelhios de Aljustrel, Ourique,Castro Verde e Almodôvar, que o povodesigna genericamente e sem grande exac-tidão territorial por região campaniça.

A primeira notícia histórica que estabe-lece a ligação terminológica entre a violaalentejana e a região campaniça data de1916 e é escrita por Bento de OliveiraGuedes de Carvalho Lobo, Visconde deVila Moura, na Revista A Águia. O autor de“Terras do sul – cantos alentejanos” descre-ve, com mescla de objectividade e poesia, aFeira de Beja, os pastores, o gado, os ciga-nos, os cantos populares. Já para o final,fala de forma espantosamente rica e factualda viola de arame:

“Há ainda ali a viola de arame, violacampaniça como lá dizem, que ouvi à portad’uma taberna, tangida por um cego. Nãose imagina o entusiasmo da circunferênciade lavradores que o ouvia e alternava –todos fixos da sua fisionomia indiferente, equase granítica, de olhos opacos, lábiosdescerrando décimas, a chorar e a rir à violaa vida misteriosa de todos”.

quando, pelos idos de 1983, 84 e 85,percorremos o Baixo Alentejo realizando anossa primeira investigação de camposobre a viola campaniça, localizámosalguns tocadores do instrumento, todos jáde idade avançada, entre os quais cumpredestacar António Jacinto (do Monte dasFigueirinhas), Manuel Bento (daFuncheira), Francisco António (deOurique-Gare), Manuel Inácio Verónica (deAmoreiras-Gare) e António Emídio (daAldeia de Palheiros). Hoje, encontra-segerado um movimento de renascimento eentusiasmo em torno da viola alentejana, oque veio a causar o surgimento de jovenstocadores do instrumento, entre os quaisPedro Mestre e Carlos Loução, facto que émuito para enaltecer, atento o estado geralde desinteresse em que se encontra generi-camente mergulhada a nossa música de tra-dição oral.

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O ALENTEJO E OS PRIMóRDIOS DASCARTAS DE JOGAR EM PORTUGAL *

Data de 12 de Setembro de 1490 uma dasprimeiras notícias acerca de cartas de jogarem Portugal, uns cem anos antes de, por cá,se legalizar este tipo de jogo. Reporta-se,pois, ao tempo de D. João II e tem a ver compedidos expressos, efectuados nas Cortes deÉvora, para que se proibisse a entrada decartas, por via dos vizinhos espanhóis, ondea manufactura legal estava florescente.Sabe-se que, uns anos mais tarde, já no rei-nado de D. Manuel, serviam de passatemponos serões em Évora, através de um conjun-to de 48 trovas, a inscrever nas próprias car-tas, que o rei encomendou a Garcia deResende para um divertimento no paço.Praticavam-se, nessa época, jogos como otrunfo, a arrenegada, a runfa, o fluxo, a pri-meira e a primeira da Alemanha. As cartasde corte chamavam-se rei, conde e sota; osases eram elegantes dragões; e o dois depaus, um jovem agarrado a dois cacetes cru-zados. Era a época dos baralhos nacionais;era já o baralho que, durante cerca de 400anos ficou conhecido como baralho de tipoportuguês e que também partiu logo à des-coberta de terras longínquas, nas algibeirasdos mareantes.

Diz-nos Gil Vicente, no Auto da Feira:

Às vezes vendo virotes,e trago d’Andaluzianaipes com que os sacerdotesarreneguem cada dia,e joguém té os pelotes.

Segundo consta, por uma carta de perdão doreinado de D. Sebastião dada em 18 de

Outubro de 1559, quem primeiro as teráimpresso terá sido André de Burgos, impres-sor do cardeal D. Henrique, que se instalouem Évora a trabalhar naquela cidade, prove-niente de Sevilha. Castigado com degredo,por ser proibido fazer cartas em Portugal, aofim de dois meses pediu e conseguiu o per-dão do castigo que lhe fora infligido «por sedizer que ensinava a fazer cartas de jogar».Uma outra primazia alentejana é a da tábuade altar da igreja de Nª Sº do Carmo, emÉvora, pintada provavelmente no penúltimodecénio do séc. xVII, onde se podem vervárias cartas de jogar. Até ao momento, con-sidero-a a mais antiga imagem do nossobaralho, existente em Portugal. Pelo mundofora, nos muitos museus da especialidade enas mãos de muitos coleccionadores, esta-rão sem dúvida cartas muito mais antigas.Fernanda Frazão

* A propósito da recente publicação, pelaautora, da História das Cartas de Jogar emPortugal e da Real Fábrica de Cartas deLisboa (do Século xV até à Actualidade).

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Cartas de um baralho datado de 1693-1699 – o maisantigo existente entre nós – do coleccionadorAntónio Ribeiro (Tony Klauf).

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O domínioexercido porEspanha sobreOlivença éexemplo gritan-te dos equívo-cos existentesnas relaçõesPortugal /Espa-nha e nas difi-culdades dosnossos dirigen-tes em defende-

rem os interesses nacionais.Para quem desconheça, lembramos que

Olivença é terra entranhadamente portugue-sa desde sempre, situação consagrada noTratado de Alcanizes, sendo participantemaior na formação e consolidação do Reino,no florescimento da cultura nacional, nasglórias e misérias dos Descobrimentos, natragédia de Alcácer-quibir, na Restauraçãode 1640!...

A questão de Olivença nasceu há doisséculos quando Espanha, concertada com aFrança, invadiu o nosso país em 20 deMaio de 1801, tomando Olivença e quasetodo o Norte-Alentejano, na chamada«Guerra das Laranjas».

Vencido, Portugal assinou em 6 deJunho o Tratado de Badajoz pelo qualentregou Olivença,

Findas as guerras napoleónicas, aspotências europeias, reunidas noCongresso de Viena em 1815, retiraram aforça jurídica do Tratado de Badajoz e con-sagraram a ilegitimidade da ocupaçãoespanhola, reconhecendo todos os direitosde Portugal. Assim, o Tratado de Viena,aprovado em 9 de Junho, afirmou no art.º105.º «a justiça das reclamações formula-das por Portugal sobre a vila de Olivençacedidos a Espanha pelo Tratado de Badajozde 1801» e impôs «a restituição da mesma

como uma das medidas apropriadas a asse-gurar entre os dois reinos da península aboa harmonia completa e estável», com-prometendo-se todos os países signatáriosa desenvolver os seus mais eficazes esfor-ços para que a retrocessão de Olivença seefectivasse «o mais cedo possível»...

Espanha assinou o tratado em 7 deMaio de 1817 e reconheceu os direitos dePortugal. Todavia, não demonstrando ocarácter honrado, altivo e nobre que diz serseu, violou despudoradamente o compro-misso assumido e o direito internacional,retendo para si, do modo mais ilícito, avelha Olivença portuguesa.

Entretanto, ali, ao longo de dois séculosde declarada, persistente e insidiosa acultu-ração castelhanizante, tudo o que estruturae identifica a comunidade, a sua História,cultura, tradições, língua, permaneceu vivoe pleno de portugalidade.

O Estado português, sem nunca aceitarnem reconhecer o esbulho, mas não fazen-do o que pode e deve (repudiar a situaçãoultrajante de Olivença e exigir a sua retro-cessão) permitiu que se criasse a ideia quea sua posição fosse de fraqueza, retraimen-to e conformismo com o status quo.

Singelamente, a «questão de Olivençatraduz-se no facto de território português seencontrar ocupado por Espanha, extorsãonão reconhecida por Portugal e ilegítimaface ao Direito das Nações.

Até quando?

OLIVENÇA D’ALÉM GUADIANA

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Subtil e paulatinamente, ano apósano, com especial incidência nos últimostempos, a consciência de que aquela tãofalada coisa do amor à terra em que nas-cemos, por isso mesmo, banalizou-se detal maneira que passou a ser mais umasimples treta.

A incontrolável, dura e cilindradoraglobalização, que permite, ainda maisfacilmente, a evolução corrosiva detodas estas acalhausadas / insensíveis /permissivas equipas de serventuários,especialmente treinados para o efeito,que nos vendem tudo o que as grandescentrais de manipulação de massas lhesencomendam, para satisfação do intangí-vel mercado, estejamos nós onde estiver-mos, tornando-nos a todos e a cada umuma espécie de papagaios monocórdios ede plumagem de cor única.

Tenho dado comigo, que procuroestar atento e que me esforço desalmada-mente por resistir a esta avalancha deperniciosas influencias, no Alentejo, noMinho, nas Beiras, etc., a ouvir as mes-mas conversas com os mesmos argumen-tos no mesmo tom e com os mesmoscontraditórios, chegando à conclusão deque o êxito desta gentalha é de tal ordemque já nem necessitam de grandes esfor-ços ou ensaios.

Já, quase, não existem diferenças namaneira de ser nem na postura nem nosotaque das gentes, de região pararegião, nesta nossa sempre tão multiface-tada nesga de terra.

Mesmo que utopicamente, aindapenso que aos agentes culturais de cada

uma das regiões, a todos eles sem excep-ção, se impõe um trabalho enorme,urgente, organizado e cuidadoso na defe-sa da cultura da sua zona territorial e, porconcomitância, do seu país, ao qual nãodevemos consentir que se esquivem.

Sem paneleirices nem esquecendo osdesabafos/conversas anteriores, aqui ficamais um lembrete/desafio...

Ah!... já agora, eu, pela parte que metoca, que nunca fui pássaro de gaiola oude poleiro nem colorido peixe de aquá-rio, com as minhas fracas forças e possi-bilidades, continuarei a defender as cul-turas regionais, o regionalismo e a regio-nalização, tal como sempre fiz.

De repente lembrei-me, e por isso,em jeito de nota de rodapé aqui fica apergunta: O que terá acontecido aofórum de debate chamado de ConselhoNacional das Casas Regionais, emLisboa ?...

EM DEFESA DAS CULTURAS REGIONAIS, DO REGIONALISMO E DA REGIONALIZAÇãO,

HOJE E SEMPRE...

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Uma sucessão crescente decatástrofes “naturais”.

2010, foi mais um ano de catástrofesambientais suspeitas. Por todo o mundo sebateram recordes de inundações, sismos,fogos, secas, mortos, feridos e desalojados

Se estes acontecimentos foram sur-preendentes pela sua quantidade e amplitu-de, eles inscrevem-se porém numa sérieincomum de fenómenos geo-climáticossemelhantes, que se foram multiplicandoao longo dos últimos anos, um pouco portodo o mundo, a uma cadência e com umamagnitude crescente de ano para ano.

Especialistas, técnicos ou simples cida-dãos, interrogam-se sobre as razões destesacontecimentos. Serão consequências dastão propagandeadas e pouco debatidas alte-rações climáticas? Serão fruto da negligên-cia e da ganância sem limites? Ou seráainda algo mais grave?

O ano de 2010 veio, de certo modo, darresposta a muitas destas interrogações; veioreforçar as opiniões anteriores de muitosespecialistas acerca da responsabilidadehumana na maioria das catástrofes ditasnaturais; veio revelar facetas da intervençãohumana até agora pouco conhecidas; veioconfirmar que muitos desses desastres atéproporcionam lucros fabulosos; veio levan-tar a suspeita de que por esse motivo, e deacordo com a lógica do mercado, algunspossam ter sido provocados propositada-mente para obtenção de lucro; e veio final-mente revelar que esse procedimento jáestava a ser levado às ultimas consequên-cias com um objectivo mais vasto e perver-so: a sua utilização como arma de guerra.

As cheias na Madeira: um exemplode “catástrofe natural”.

O caso mais grave ocorrido em territórioportuguês deu-se no inicio do ano na Ilha da

Madeira. Uma conjugação pouco habitualde chuvas intensas num curto intervalo detempo, provocou o transbordo das águas dasribeiras e o arrastamento de toda a espéciede detritos, não só os naturais - rochas, lama,árvores, etc, mas também, e principalmen-te, os construídos - estradas, pontes, casas,veículos, para além de animais e pessoas.Segundo os últimos balanços terá havidopelo menos 42 mortos e vários milhões deeuros de prejuízos. Ainda de acordo comalgumas informações, os prejuízos materiaise humanos serão muito superiores a anterio-res situações semelhantes.

Situada em pleno Atlântico, a ilha daMadeira é uma das duas únicas regiõesautónomas de Portugal. Vive essencial-mente do turismo e do dinheiro dos contri-buintes do Continente. É um paraíso fiscal.A sua orografia mostra um pico e encostasíngremes em todos os quadrantes, pelasquais descem inúmeros cursos de água: asribeiras. A sobreocupação destas encostascom construções é um facto conhecido.

Corre na internet um pequeno docu-mentário apresentado há 2 anos na TV, emque vários técnicos alertavam para o perigodas construções que continuavam a erguer-se na ilha em leitos de cheia, em clara vio-lação da lei. Bastaram dois anos para con-firmar a justeza desses avisos.

Porém, para os dois responsáveis máxi-mos por estes assuntos na Madeira - o

CLIMA DE GUERRA OU A GUERRA DO CLIMA

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Presidente do Governo Regional e oPresidente da Câmara do Funchal - estesalertas não passavam de calúnias de“alguns irresponsáveis”. Na sua perspecti-va tudo estaria em ordem. Tudo estaria noslugares certos. Á excepção da natureza.

A Comunicação Social corporativa,como é sua missão, rapidamente se apressoua dar cobertura a esta versão apresentando asituação como uma “catástrofe natural”.Para ela solicitavam a habitual onda de soli-dariedade em part time, vulgo caridade,afastando assim, subliminarmente, qualquerresponsabilidade humana no assunto.

O planeamento do território, a preven-ção, bem como o seu cumprimento rigoro-so, não fazem parte do ideário do capitalis-mo, seja ele aplicado por socialistas, demo-cratas-cristãos ou social-democratas, comoé o caso. Sem planos urbanísticos a especu-lação imobiliária avança melhor. E com elaaumentam a incúria e o desleixo, multipli-cam-se os erros. Se algo correr mal, comoagora, serão assacadas responsabilidades ànatureza. Para o capital o desastre até temvantagens: fazer reverter a reconstruçãonão como prejuízo, mas como lucro para aeconomia (de alguns). Ao contrário do afo-rismo popular, a sua máxima parece ser“mais vale remediar do que prevenir”.

O furo do Golfo do México: a ambi-ção para além da razão.

O acontecimento mais marcante do anono mundo, em termos de desastre provoca-do pelo homem, será provavelmente a fugade crude do furo petrolífero no golfo doMéxico, ao largo dos E.U.A., da responsabi-lidade da empresa petrolífera BP. Depois dotufão Katrina, na mesma zona (quiçá frutotambém de experiências mal sucedidas),esta catástrofe ameaça pôr em causa a vidanaquela parte do globo e poderá alastrar-separa além dela de forma descontrolada.

A autorização para a exploração foi espe-cialmente dada por Obama por se tratar de

uma zona de captação profunda onde nãohavia qualquer experiência anterior, nemesquemas de segurança adequados. Emboraas autoridades norte-americanas tivessemsido alertadas para isso não deram muitaimportância ao caso. Após algum tempo deexploração a plataforma explodiu e a fuga decrude para o mar entrou em descontrole total.

As várias tentativas de estancar o derramenão produziram qualquer resultado. O queficou demonstrado foi que, com uma tecnolo-gia totalmente virada para a guerra, quernorte-americanos quer ingleses, pouco ounada sabiam sobre a forma de curar uma feri-da daquele tipo. A tão badalada superioridadetécnica anglo-saxónica ficou bastante abalada.Não obstante, com a arrogância que lhes éprópria, prosseguiram galhardamente, exibin-do a sua ignorância e leviandade. Alguns che-garam ao extremo ridículo de acusar outrospaíses de um hipotético ataque aos E.U.A..

O escândalo tomou tais dimensões que,na tentativa de esconder esta incapacidade ea gravidade da situação, os jornalistasforam proibidos de informar sobre o assun-to e aplicadas pesadas multas a quem querque se aproximasse do local. Enquanto asimagens autorizadas oficialmente, repetidasà exaustão nas televisões de todo o mundomostravam uma aparente pequena fuga, aspoucas notícias que se conseguiam obter,não oficialmente, iam revelando que asituação se agravava de dia para dia e asolução para estancar o derrame estava cada

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vez mais longe. Especialistas chegaram aafirmar que se estaria não apenas peranteum simples acidente de percurso, emboradifícil de resolver, mas face ao maior aci-dente ecológico jamais ocorrido no país,senão mesmo o mais grave de sempre emtodo o mundo. Se a principio se falavanuma fuga diária equivalente a cerca de umnavio tanque ( o que já seria dramático),mais tarde esse número passava a quatro.

Após a anunciada solução final ter maisuma vez redundado em fracasso, em Julho,alguns especialistas afirmaram que, longede se tratar de um simples furo, a verdadeera que o crude jorrava descontroladamen-te por uma ou várias fendas que avaliavamser já do tamanho do Himalaia. Por baixoestaria uma toalha de proporções gigantes-cas, cujo esgotamento não estava à vista.Esses técnicos previam que, a manter-seesse ritmo de fuga, o que seria bastanteprovável, ela iria durar anos e a manchainundaria todas as costas do golfo, passan-do depois para o Atlântico arrastada pelaCorrente do Golfo. Prognosticavam aindaque, se isso acontecesse, o mais provávelseria a eliminação irreversível de toda avida no Atlântico Norte. Chegada às costasocidentais da Europa, estas tenderiam agelar. A Inglaterra seria a primeira vitima.

Nunca mais houve notícias excepto a deque o problema estava solucionado. Mas asuspeita de que os acontecimentos ultrapassa-ram as capacidades humanas adensa-se. Hojeum silêncio sepulcral como os que precedema revelação das más noticias alastra como aprópria mancha de crude. Organizaçõesambientalistas, tão lestas em outras ocasiões,estão mudas e quedas, segundo se diz, paranão afrontarem o gigante BP.

Nada parece fazer parar a ambição desme-dida do capital na rapina incontrolada desteesgotado planeta. Desde o ar e a água à explo-ração mineira e petrolífera, vale tudo. Estaganância desenfreada conta com a cumplicida-de de muitos governos ditos democráticos.

O número de derrocadas em explora-ções mineiras seja na China, seja no Chile,ou nas inúmeras plataformas petrolíferas,já para não falar nos desastres ocultos quediariamente ocorrem nas mais diversasobras por todo o planeta, mostra bem essedesprezo do capital pelas condições de tra-balho a que são sujeitos os trabalhadores.

No Golfo do México como em tantasocasiões ao longo da história, mais umavez a ambição se sobrepôs à razão.

HAARP: uma nova arma de destrui-ção maciça?

Mas quando julgávamos que já tudotinha sido dito e as incriminações erammais que suficientes para levar o capital aobanco dos réus, eis que surgem revelaçõessobre prováveis novas causas de alteraçõesclimáticas. Desde há alguns anos que haviasuspeitas sobre o desenvolvimento pelosE.U.A. e provavelmente outros países, deum novo dispositivo técnico de ionizaçãoda atmosfera, denominado HAARP, queprovocaria fenómenos geo-climáticos,como sismos, furacões, tsunamis, etc., coma aparência de terem origem natural.

Segundo um alto quadro da marinharussa, esse dispositivo seria uma nova armaque estaria em desenvolvimento tendo emvista uma guerra climática global. Ela permi-tiria lançar o caos no país a atacar, enfraque-cer as defesas e facilitar a subsequente inva-são. As últimas catástrofes, em várias partesdo globo, seriam já consequência de expe-riências nesse sentido. Um programa docanal televisivo Canal História apresentadoem Julho deste ano, afirma mesmo que taldispositivo teria já terminado a fase de expe-rimentação e estaria pronto a ser utilizado portodo o mundo. As instalações seriam locali-zadas em pelo menos cinco locais, sendo doisem território dos E.U.A., um numa basenorte-americana na América Central, outroalgures na Europa e um último na Ásia.

Foi o sismo do Haiti que despoletou a ques-

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tão da HAARP com mais acuidade. Deu nasvistas o aparato militar norte-americano que nasvésperas do sismo cercava o território. As tro-pas, logo após este suceder apressaram-se adesembarcar. Não para levarem ajuda humani-tária, mas para garantirem a segurança! No pró-prio momento do sismo os comandantes milita-res já se encontravam na embaixada norte-ame-ricana, por sinal um edifício de construção anti-sísmica. Daí á suspeitar-se que o sismo tenhasido provocado foi um pequeno passo.

Revela o analista francês ThierryMeyssan que as experiências com a novaarma climática teriam tido inicio nos finais da2ª guerra mundial, levadas a cabo por técnicosneo-zelandeses. Objectivo: provocar tsunamiscontra os japoneses. Prosseguidas por austra-lianos foram depois desenvolvidas pelosnorte-americanos que lhe atribuíram um graude importância equivalente ao da bomba ató-mica. Durante a guerra do Vietname a novatecnologia era usada com eficácia do ponto devista técnico/climático, mas com pouco êxitomilitar. A partir de 1975 os soviéticos tinhamdesenvolvido um programa pacífico com oobjectivo de provocar pequenos sismos demolde a “esvaziar” os grandes sismos da suaenergia e evitar maiores catástrofes. Após aderrota da URSS, Boris Yeltsin vendeu os téc-nicos e os laboratórios soviéticos aos militaresnorte-americanos e que os integraram no pro-grama HAARP.

Alguns usos possíveis da nova armateriam sido na Argélia e na Turquia, mas ocaso mais discutido é o do sismo deSichuan na China em 12 de Maio de 2008.

Nada disto surpreende. Considerando osantecedentes históricos e a ambição de domí-nio planetário larga e claramente expressapelos E.U.A. e seus aliados, não admira quetodos os meios sirvam esses fins.

Como é obvio porém, nada disto nospoderá fazer esquecer que o urânio empo-brecido continua a ser derramado sobre ira-quianos, afegãos e palestinianos, provocan-do milhares de mortes imediatas e doenças

genéticas por gerações, e que no Vietname,trinta e cinco anos depois da guerra, oAgente Laranja despejado sobre os seushabitantes ainda hoje continua a matar.

Conclusão Voltamos à questão inicial. Não há

catástrofes naturais. Existem sim fenóme-nos naturais que a acção do homem trans-forma em catástrofes. A maioria delas pornecessidade ou negligência de muitos equase todas por ambição de alguns, apro-veitando-se, como os abutres, das circuns-tâncias e da desgraça alheia. Para estes talparece já não chegar. Se as catástrofes dãolucro porque não ampliar o mercado, pro-vocando-as? E já agora - autêntico dois emum – que tal utilizar esse conhecimentopara fazer a guerra? Aí temos mais uma veza inteligência humana ao serviço da perver-sidade e da insanidade. Não para salvar aspessoas das catástrofes, mas para submeterainda mais aquelas que sobrarem vivas.

Como sempre, por trás de tudo isto, osuspeito do costume, a plutocracia, o gover-no dos ricos, um relativamente reduzidogrupo de fanáticos que se instituiu a si pró-prio como guardião da civilização em todo omundo, e se julga imune á barbárie que pro-voca. Como já é, infelizmente, habitual, osE.U.A. e o seu satélite Israel, ansiosos porexperimentar as novas maravilhas de des-truição maciça que engendram em tempo dedefeso, proclamam irresponsavelmente umaguerra santa como salvação da humanidade,que bem poderá ser a última. Como se, apósterem aberto a Caixade Pandora pudes-sem escapar à maldi-ção dos Deuses,numa qualquer Arcade Noé espacial.

Até quando omundo o irá permi-tir?

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AVIFAUNAO MILHAFRE

A crescente relevância dos temasambientais e uma maior conscienciali-zação no sentido da defesa do nossopatrimónio natural justificam a conti-nuação desta página no AlmanaqueAlentejano. Dedicamos neste númeroalgumas notas a uma ave de rapina rela-tivamente comum, o milhafre, tambémdesignado por milhano, e cujas duasespécies principais (o milhafre-preto eo milhafre-real) aqui sinteticamentedescrevemos.

1. o milhafre-preto (milvus migrans)

Com um comprimento de 50-60cms, uma envergadura entre os 135-160cms e perto de 1 kg de peso, tem umavasta distribuição geográfica, sendocomum no sul e centro da Europa. EmPortugal distribui-se por grande parte

do País, com maior abundância noBaixo-Mondego (Coimbra), Beiras eAlentejo, sendo que neste último podeser mais facilmente observado na suametade interior e junto às principaisbarragens.

Caracteriza-se pela sua plumagemcastanho escuro (a contra-luz parecenegro), com cauda longa e bifurcada, eum bico recurvado, em forma de gancho.As fêmeas são, na generalidade, umpouco maiores do que os machos.

Frequenta diversos tipos de habitats -florestas, vales e terrenos baixos, escar-pas rochosas – preferindo a proximidadede terras alagadas (rios, lagos, albufei-ras), onde apanha peixe. Adaptado à pre-sença humana, aparece também nas cida-des, caçando pombos e ratos e procuran-do alimento nas lixeiras. Consome prin-cipalmente pequenas presas (mamíferos,anfíbios, aves terrestres, peixes, répteis,insectos, etc), tal como a carne putrefac-ta de cadáveres de animais a descoberto,sendo frequentador habitual de aterrossanitários. Varia, contudo, a sua alimen-tação de acordo com a localização geo-gráfica e a época do ano.

Nas regiões quentes esta ave é resi-dente, contrariamente ao que acontecenas regiões temperadas onde é migrador.As populações europeias invernam emÁfrica, a sul do Sara, onde permanecematé Março. Após a chegada iniciam aépoca de reprodução e as posturas - 2 ou3 ovos, de cor creme com manchas cas-tanhas - têm lugar, em regra, nos finaisde Abril. A incubação dos ovos duracerca de um mês, período durante o quala fêmea permanece no ninho, sendo

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abastecida de alimentos pelo macho.Ambos cuidam das crias, que atingem aautonomia por volta das 6 a 8 semanas.

Nidifica geralmente em árvores degrande porte (pinhais, montados, matas)construindo os ninhos com ramos e for-rando o seu interior com detritos diversos- trapos, plásticos, papéis.

O milhafre-preto é monogâmico,mantendo o mesmo par durante váriosanos. Segundo as observações e estudosmais recentes, a população nidificanteultrapassará em Portugal o milhar decasais, sendo o seu estatuto de conser-vação classificado de ‘pouco preocu-pante’, o mesmo acontecendo a nívelglobal. Não se encontra, pois, em riscode extinção, recaindo todavia sobre elediversos tipos de ameaças, que importacombater e atenuar - o abate ilegal, autilização de pesticidas e outros produ-tos químicos, a diminuição da disponi-bilidade alimentar em função das cres-centes restrições higieno-sanitárias queobrigam à recolha ou destruição doscadáveres provenientes das exploraçõespecuárias, o envenenamento ilegal deiscos e carcaças para controlo dos pre-dadores de caça e gado, a colisão comlinhas de transporte de energia, a pilha-gem dos ninhos, etc.

Tais ameaças deverão, pois, ser mini-mizadas, o que deve passar pela sensibi-lização da população e por um forteempenhamento na educação ambientaldas novas gerações, tal como pela adop-ção de medidas legais adequadas - regu-lamentação do uso de pesticidas, erradi-cação do uso de venenos, aumento dassanções à perseguição e abate ilegais,implementação de medidas de protecçãono tocante à instalação de traçados eléc-

tricos e parques eólicos, etc. Tratando-sede uma ave protegida, merece certamen-te toda a atenção, para que continuemosa usufruir o privilégio da sua companhia,a planar, por exemplo, ao longo das nos-sas estradas.

2. o Milhafre-real (milvus milvus)

Um pouco maior do que o milhafre-preto, distingue-se deste pelos tons casta-nho arruivados da sua plumagem, pelacabeça clara e por uma cauda muito maisbifurcada e de cor avermelhada. Na parteinferior das asas, compridas e largas,exibe duas manchas de penas muito cla-ras, lembrando ’janelas’.

O chamamento é um assobio fino,elevando-se e caindo. Especialista empairar e planar, parece muito leve, man-tendo as asas ligeiramente arqueadas,virando e revirando a cauda continua-mente.

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A sua alimentação é semelhante à domilhafre-preto, tal como o processo dereprodução, em que apenas os ovos sãodiferentes na cor, pois são brancos compintas vermelhas.

A área de distribuição do milhafre-real compreende a Europa, ÁsiaOcidental e Norte de África. Na Europaé sedentário a sul e migrador no norte ecentro, invernando ao longo da orlamediterrânica. A maioria das populaçõesque invernam na Península Ibérica pro-vém da Europa Central.

Está presente sobretudo em regiõesde relevo pouco acentuado - planaltos,planícies, baixa montanha - procurandoalimento em terrenos abertos (áreas decultivo e caça) através de voos de baixaaltitude. Essa procura estende-se, aexemplo do milhafre-preto, às proximi-dades de povoações, estradas, explora-ções agro-pecuárias e ainda às lixeiras.

O seu estatuto de conservação, anível global, está classificado de ‘poucopreocupante’, mas em Portugal (ondeexistirão menos de cem casais nidifican-tes) o efectivo residente decresceu consi-deravelmente, sendo hoje considerado‘criticamente em perigo’. Pode ser vistono interior norte, em especial na zona doDouro internacional, e nas regiões fron-

teiriças das Beiras e Alentejo. Durante oinverno, com o reforço dos migradores,torna-se relativamente frequente no inte-rior sul.

Tal como o milhafre-preto, os indiví-duos não reprodutores ou fora da épocade reprodução, juntam-se em bando,ocupando dormitórios localizados emárvores.

As ameaças com que se confronta sãoas comuns à generalidade das aves derapina -destacamos o abate a tiro, comarmas de caça, que será a sua principalcausa de mortalidade no nosso País. Estasituação indicia, uma vez mais, a neces-sidade de uma persistente sensibilizaçãodas populações a este tipo de questões,tendo em vista a protecção das espécies eo equilíbrio ambiental futuro.

A terminar, e como curiosidade, umareferência à utilização dos milhafres nafalcoaria -modalidade ancestral de caça,com aves de presa - de grandes tradiçõesem Portugal. que melhor exemplo sepode apontar, de interacção entre ohomem e as aves de rapina, de estabele-cimento de confiança mútua , para queestas passem a ser olhadas de outromodo, sem a desconfiança que sobre elasainda hoje persiste?

Rua 2, Casal do Miranda - Estrada da Paiã - 1675 PontinhaTelefs.: 21 478 24 20 - 21 478 05 66 Fax: 21 478 24 27

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Existe uma crise endémica aguda nomodelo de agricultura alentejana - exten-sivo e de sequeiro – há décadas praticadono Alentejo, cujo modelo de organização,exploração e gestão estão completamenteultrapassados, sem futuro e muito depen-dente de diversos factores, tais como: ele-vados custos de exploração directos eindirectos, falta de valor acrescentado,pouca produtividade, dependência doclima e dos subsídios, pouca diversifica-ção da produção, e principalmente faltade criatividade e de inovação na explora-ção de novos modelos de exploração daterra e de novas culturas, que possamgerar sustentabilidade futura para osempresários agrícolas, e para o Alentejo.

Os subsídios atribuídos à agriculturae ao mundo rural desde os anos oitenta,não foram entendidos pela grande partedos agricultores como ajudas estruturan-tes para a criação de infra-estruturas ereformulação do modelo da agricultura.Os apoios em subsídios, à produção decereais, produção de ovinos e bovinos eequipamentos agrícolas foram por mui-tos agricultores utilizados incorrecta-mente, por vezes vieram contribuir parao aumento do seu endividamento e parao desequilíbrio financeiro das suas acti-vidades, em muitas situações para a

inviabilidade das suas explorações. Coma sua redução dos subsídios, de ano paraano assistimos ao agudizar da agriculturaalentejana, em todo o Alentejo, mas prin-cipalmente no Baixo Alentejo, apesar deneste província alentejana termos terrasde excelente qualidade e muito produti-vas - caso das terras de barro de todo operímetro de Beja, e regadio em algunsconcelhos limítrofes - e outras terrasmais pobres, caso de toda a zona docampo branco, onde o modelo de produ-ção terá de ser diferente comparativa-mente às anteriores. A produção vemcaindo de ano para ano, sem que se vis-lumbrem alternativas ao modelo agrícoladesde há décadas existente no Alentejo,ou seja desde o Estado Novo, quando amão-de-obra disponível era abundante,barata e á jorna, sem restrições de exi-gências salariais ou sociais, e o escoa-mento da produção estava assegurada,outros tempos, quando as grandes casasagrícolas proliferavam em todo oAlentejo. Com a emigração de parte damão-de-obra nos anos sessenta, houve anecessidade de alguma mecanização naagricultura, tendo-se assistido a algumdesenvolvimento, pela introdução e alte-ração dos meios de produção, que gera-ram um aumento da produtividade, maso modelo agrícola pouco evoluiu, conti-nuando assente no modelo extensivo e desequeiro, onde o escoamento da produ-ção continuava assegurado.

Com o 25 de Abril, e as alteraçõesdas condições salariais até então pratica-das, a obrigatoriedade de suportaremencargos sociais com os trabalhadoresagrícolas, aumentando os custos de pro-dução, e posteriormente a chegada da

AGRICULTURA ALENTEJANA QUE FUTURO?

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chamada reforma da Política AgrícolaComum, quando a agricultura alentejanadeixou de ter assegurada a produção apreços rentáveis, e passou a ter de seconfrontar com os preços de mercado, ecom a diminuição dos apoios europeusao nível dos subsídios atribuídos nos pri-meiros anos, as dificuldades começarama aparecer, muitas das explorações redu-ziram a sua actividade, outras deixaramde produzir. Tendo também contribuídopara isso, os incentivos dados pela PAC– Politica Agrícola Comum para o aban-dono de determinado tipo de actividades,também a idade avançada dos agriculto-res, sem que simultaneamente fossemcriadas politicas para atrair as geraçõesmais novas, para que estivessem motiva-das e culturalmente preparadas para agri-cultura, e para as reformas estruturantesque eram necessárias fazer.

As dificuldades da agricultura alente-jana são muitas, mas acima de tudo sente-se a sua falta de competitividade e de pre-paração no mercado nacional e global, eos efeitos dos preços praticados pelos quecomercializam os produtos agrícolas. Dasgrandes casas agrícolas do distrito deBeja são muito poucas aquelas queactualmente existem, cujos factoresexplicativos são diversos, mas a que nãoserá alheia a falta de capacidade de gestãoe de inovação nas suas diversas vertentes.

Torna-se por isso indispensável criarcondições para que venham para a agri-cultura alentejana empreendedores, paraisso os cursos da Escola Superior Agráriade Beja, e outras escolas agrícolas devemadaptar e melhorar os seus cursos e cur-riculum às reais necessidades da agricul-tura alentejana, devem fazer parte doscursos estágios e períodos de trabalho

pratico na agricultura, de preferência emempresas de média dimensão que sirvamde escola, onde exista a oportunidade detrabalhar na organização, preparação egestão das suas actividades económicas,e também financeiras, já que sem a expe-riência prática e a preparação adequadadificilmente se formam agricultores paraenfrentar o presente, criar novos modelose novas culturas tão necessárias para aagricultura alentejana. O estudo das cul-turas, das terras, a influência do climadevem ser estudadas em conjunto comentidades empresariais com experiênciaem Portugal e no estrangeiro, para daí setirarem conclusões sobre que tipo de cul-turas devem ser produzidas, em que con-dições, em que meses do ano,Outono/Inverno, Primavera ou Verão,que tipo de produção intensiva ou diver-sificada, quais os mercados para escoar aprodução, quais os meios e equipamen-tos necessários para trabalhar, quais osinvestimentos a fazer e os recursos finan-ceiros para os financiar?

quais as fontes de informação dispo-níveis, ou os prestadores de serviços quepodem colaborar para o estudo e monta-gem da nossa actividade empresarialagrícola? Esta recolha de informação éindispensável para que possa ser analisa-da e trabalhada.

As fontes de informação são importan-tes e de aproveitar, neste caso no regadio.

Inventário dos Pequenos RegadiosIndividuais do Alentejo - PRIA

Para ajudar à implantação de um ser-viço de assistência técnica ao regantetorna-se necessária a criação de umasérie de ferramentas que permitam, atra-

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vés da Internet, ter acesso a um conjuntode informação (meteorológica, solos,culturas, etc.) e de metodologias que per-mitam a tomada de decisões em temporeal em locais remotos.

Um dos processos de integrar e rela-cionar toda esta informação e ajudar atomar decisões, consiste em lançar mãodos sistemas de informação geográfica –SIG -, já que são ferramentas bastantepoderosas que permitem, de uma formasistemática, organizar, actualizar e explo-rar um conjunto vasto de informação.

Com este objectivo foi criado umaferramenta SIG para a caracterização dosPequenos Regadios.

Individuais do Alentejo – PRIA - atra-vés do qual se pretende, entre outras coi-sas, conhecer a área efectivamente regadano Baixo Alentejo e Alentejo Central,bem como a sua localização, tipo de par-celas envolvidas, fontes de água, métodode rega e culturas afectas a parcelas, áreasregadas a montante dos actuais períme-tros de rega e áreas regadas actualmentenos futuros blocos de rega do Alqueva, deforma a que seja possível, em tempo real,conhecer a área regada por cada método eabastecida a partir de uma determinadafonte de água e, simultaneamente, conhe-cer, a partir das disponibilidades de água,das culturas instaladas e métodos de regaimplantados por parcela, ajuizar do tipode regadio existente face às disponibili-dades e necessidades de água.

1 - IntroduçãoOs objectivos desta ferramenta consis-

tem em, nesta primeira fase, criar uma fer-ramenta de planeamento que permitaconhecer a área efectivamente regada comos pequenos regadios individuais, a sua

localização, tipo de parcelas envolvidas,fontes de água, método de rega e culturasafectas a parcelas, de forma a que seja pos-sível, em tempo real, conhecer a área rega-da por cada método e abastecida a partir deuma determinada fonte de água.

Simultaneamente, conhecer, a partirdas disponibilidades de água, das cultu-ras instaladas e métodos de rega implan-tados por parcela, ajuizar do tipo de rega-dio existente face às disponibilidades enecessidades de água.

Este conhecimento poderá ajudar oplaneador, entre outras coisas, a repro-gramar as infra-estruturas colectivas derega tendo em vista a colmatação dascarência de água, por exemplo a nível deuma região mais vasta que a parcela.

Este projecto foi financiado pelo pro-grama INTERREG IIIA (1) e (2)

2 – Metodologia utilizada2.1 – Caracterização das zonas

abrangidas pelo inventárioA realização deste trabalho recaiu

sobre três zonas do Alentejo, a zona doAlentejo Central (Distrito de Évora), azona do Baixo Alentejo (Distrito deBeja) e a zona do Litoral Alentejano(Distrito de Setúbal), abrangendo umtotal de 30 concelhos (quadro 1 e Fig.1)

Quadro 1 – Distritos e Concelhos inventariados

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2.2 – Recolha de informaçãoA inventariação dos Pequenos

Regadios Individuais do Alentejo –PRIA – dos distritos de Beja e Évora, foirealizada recorrendo à informação dispo-nível nos diferentes Ministérios e a infor-mação particular.

A recolha da informação passou porvárias fases

• 1ª fase – recolha da informaçãosobre os regadios existentes

Numa primeira fase pretendeu-se,através das diferentes fontes, identificaros regadios existentes com área superiora 5 ha.

Figura 1 - Pequenos RegadiosIndivi-duais (vermelho) versus GrandesRega-dios Colectivos (azul)

A definição desta área mínima pren-deu-se com os objectivos do trabalho, osquais, na sua essência, pretendem ajudara criar uma ferramenta de gestão da rega(Carreira et al 2005).

Atendendo às características dosregadios desta zona, à dimensão dasexplorações agrícolas e ao tipo de cultu-ras, verificou-se que os regadios comárea inferior a esta dimensão são, nageneralidade dos casos, regadios geridosde uma forma artesanal, suportados emfontes de água de pequena dimensão, e

como tal, sem grande significado em ter-mos económicos.Das diferentes fontesde informação a que se recorreu ressal-tam-se as seguintes entidades:

• Instituto da Água - INAG -Ministério de Ambiente - informaçõessobre fontes de água superficial

• Instituto Nacional de GarantiaAgrícola - INGA - Ministério da Agri-cultura - informação sobre parcelas regadas

• Comissão Vitivinícola do Alentejo- informação sobre as parcelas de vinharegadaincluídas no cadastro vitivinícola.

• Direcção Regional de Agriculturado Alentejo - DRAAL - Ministério daAgricultura - informação sobre as parcelasde olival regado (Cadastro Olivícola) ecom a ajuda das trinta Zonas Agrárias daRegião foi possível coligir informaçãosobre as parcelas regadas conhecidas porconcelho.

Com a informação tratada, foi cons-truída uma base de dados com informa-ção sobre cada parcela regada

(Nome, Distrito, Concelho, Fregue-sia,Carta Militar, Linha de Água, BaciaHidrográfica, Dono da Obra, Fonte deÁgua, Área da Exploração Agrícola, Áreade Regadio, Número do Parcelário, Área deRegadio por parcela, Método de Rega porParcela, Cultura, Ano de Implantação, etc.)

Com base nesta informação foraminventariados cerca de 1500 manchas deregadio, englobando cerca de 3924 parce-las e 797 proprietários, cobrindo uma áreatotal de 47100 ha.

• 2ª fase – Complementação da infor-mação sobre os regadios existentes ,principalmente as características detodas fonte de água, nomeadamente ovolume disponível e/ou caudal, no casodos furos:

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Alguma desta informação foi conse-guida junto da Divisão do BaixoAlentejo e Alentejo Litoral da antiga

Direcção Regional de Ambiente eOrdenamento do Território do Alentejo -DRAOT, hoje Comissão de Coordenaçãoe Desenvolvimento Regional do Alentejo -CCDR - Alentejo, entidade licenciadora.

Apesar desta pesquisa há aindaalguns casos em que não foi possívelobter elementos, com especial relevânciano caso dos furos, em que é muito difícilobter informações sobre as suas caracte-rísticas, bem como da sua produtividade.

• 3ª fase - aquisição da informaçãocadastral dos regadios existentes

Esta informação, em formato digitale georreferenciada, foi adquirida juntodo INGA, depois da

autorização individual de cadaagricultor.

• 4ª fase - aquisição da informação res-peitante aos solos dos regadios existentes

A informação referente aos solosabrangidos pelos regadios inventariadosfoi obtida através da cedência,

pelo Instituto de DesenvolvimentoRural e Hidráulica - IDRHa -, das car-tas de solos digitalizadas, georrefenciadas e da base de dados associada.

Com esta informação cartográfica ecom a base de dados elaborada foi cons-truída a primeira fase do SIG que permi-tiu interligar a informação, tendo emvista a disponibilização de um conjuntode informação essencialmente comobjectivos de planeamento

2.3 - Caracterização das explora-ções de regadio por distrito

2.3.1 - Parcelas de regaJá estão identificadas, nas 3 zonas em

que incidiu o inventário cerca de 1500manchas (Fig. 1) com área superior a 5 ha,correspondendo a 3924 parcelas indivi-duais, pertencentes a 797 proprietários.Destas parcelas, 1896 pertencem aoDistrito de Beja (Baixo Alentejo), 1841 aoDistrito de Évora (Alentejo Central) e 187ao Distrito de Setúbal (Litoral Alentejano).Cada parcela está georreferenciada e iden-tificada com um código numérico.

As áreas de regadio já apuradas (Fig.2)correspondem a 23566 ha para o Distritode Évora, 22044 ha para o Distrito de Bejae 1489 ha para o zona do LitoralAlentejano (distrito de Setúbal) (quadro 2)

Quadro 2 - Proprietários, Parcelas eÁreas abrangidas pelos RegadiosIndividuais

Figura 2 - Áreas regadas por Distrito

Arrumando esta informação porbacias hidrográficas ter-se-á (quadro 3 eFig.3):

Quadro 3 - Proprietários, Parcelas eÁreas do PRIA por Bacias Hidrográficas

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Figura 3 - Áreas regadas por baciahidrográfica

2.3.2 - Sistemas de regaEm cada parcela de rega podem

estar associados um ou vários siste-mas de rega. Na generalidade doscasos apenas se encontrou um sistemaassociado.

Dada a dificuldade de se saber con-cretamente, parcela a parcela, a ocupa-ção da mesma pelo sistema de rega, umavez que existem casos em que a configu-ração da parcela do INGA não está com-pletamente ajustada à área ocupada pelosistema de rega, considerou-se que aárea afecta ao sistema de rega era a áreatotal da parcela.

Por outro lado, há casos em que amesma parcela é regada por mais de ummétodo de rega, como é o caso dos can-tos de uma parcela regada por pivot, emque estes são regados com um sistema derega fixa.

Sempre que houve dificuldade defazer a diferenciação entre as áreas ocu-padas pelos dois sistemas de rega, foiconsiderado que a totalidade da parcelaera regada apenas por aquele que eramais representativo.

No quadro 4 e na Fig. 4 apresentam-se as áreas e as percentagens abrangidaspelos diferentes sistemas de rega na zonado projecto.

Quadro 4– Áreas regadas pelos dife-rentes sistemas de rega inventariados

Figura 4 – Sistemas de rega inventa-riados

Da análise dos dados da Fig 4 podeconstatar-se que os sistemas de rega maisimplantados são, na mesma ordem degrandeza, os sistemas por aspersão (39%) e por rega localizada (33 %).Verifica-se ainda que a rega por gravida-de praticamente não tem expressão, ocu-pando cerca de 1% da área regada.

Pelos motivos já anteriormente assi-nalados, verifica-se que há ainda umalacuna de informação sobre os sistemasde rega usados, em cerca de 27 % da áreainventariada. Esta lacuna tem especialrelevância ao nível do distrito de Évora,onde atinge os 39 %

A representatividade dos diversos sis-temas de rega por distrito e por área, évariável.

2.3.3 – Fontes de águaCada parcela de rega pode ser abaste-

cida por diferentes fontes de água, embo-ra, na maioria dos casos, apenas se tenhaencontrado uma fonte de água.

As excepções a esta regra prendem-se com as fontes de água subterrânea(furos e charcas), já que, na maioria dassituações, e pelo facto dos reduzidos cau-dais que é possível extrair, se encontra o

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binómio charca-furo, como forma deregularizar os caudais de um ou maisfuros num reservatório – charca – parautilização conjunta dos volumes de águaregularizados a partir da mesma origem.

No sentido de tentar quantificar ovolume de água regularizado anualmen-te, e assim, poder analisar a disponibili-dade de água para a área infra-estrutura-da e para as culturas instaladas, houveque fazer algumas simplificações.Assim, os valores apresentados noquadro foram obtidos do seguinte modo:

1. O volume armazenável nas barra-gens foi obtido a partir dos projectos dasbarragens. Corresponde à capacidademáxima das albufeiras existentes.

2. O volume das charcas foi obtidoconsiderando as dimensões dos projectos,nomeadamente a área à superfície e a pro-fundidade. Considerando que as charcastêm como finalidade captar escoamentossubsuperficiais, considerou-se que anual-mente, cada charca, poderá regularizar odobro da sua capacidade total, ou seja,que pelo facto dos níveis de água na char-ca baixarem logo que se começa a bom-bar, permite a entrada de caudal subsuper-ficial, e que, no final de cada campanha, eem média, o volume afluente será igual àcapacidade da charca

3. O volume anual disponível a partirdos furos, dada a impossibilidade deconhecer a produtividade dos mesmos,foi obtido considerando-se que seria ocorrespondente a um caudal por furo daordem dos 4 l/s, a trabalhar 18 horas pordia, 25 dias por mês e seis meses por ano.

4. O volume do binómio charca-furo,foi obtido tendo em conta as considera-ções feita nos item 2 e 3 e o número defuros associados

No quadro 5 apresentam-se as áreas eas percentagens abrangidas pelas diferen-tes fontes de água na zona do projecto.

Quadro 5 – Incidência das fontes deágua na área regada

Considerando a capacidade máximade armazenamento, e atendendo a queexistem cerca de 43,5 % das fontes deágua inventariadas cujas característicassão ainda desconhecidas, poder-se-á con-cluir que o volume total regularizadoanualmente é superior a 80 x 106 m3.

A representatividade das diversasfontes de água na alimentação das áreasregadas por distrito e por área, é variável.

2.3.4 – Culturas praticadasNeste capítulo, tudo o que se possa

dizer respeita essencialmente a um ano,que, neste caso é o de 2003, já que asáreas regadas por cultura anualmentepodem sofrer variações muito grandes,em função dos preços de mercado, dascotas e das medidas de política agrícolaque vão surgindo.

Nestas condições, e tendo em conta osinquéritos realizados em 2003, apresen-tam-se no quadro 6 e na Fig.6 as culturasinstaladas e as áreas correspondentes.

Os valores apresentados, encontram-se, em alguns casos, simplificados. Estasimplificação deve-se ao

facto de, em alguns casos, terem sidoindicadas, para a mesma parcela, mais doque uma cultura. Dada a

dificuldade de tratar estes casos auto-maticamente, considerou-se que, nestas

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situações, apenas era considerada umacultura, escolhendo-se a mais consumi-dora de água, e que a mesma, ocupavatoda a área da parcela.

Da análise do quadro 6 e da Fig.6 podeconcluir-se que a cultura que ocupa maisárea era o milho, com cerca de 19 %, logoseguida pela vinha, com cerca de 14 % e oolival com cerca de 16 %, ocupando, natotalidade, cerca de 70% da área total.

De referir ainda o peso dos cereais deInverno regados ocupando cerca de 9 %,em que a rega é essencialmente uma regade complemento, e a beterraba com cercade 5 %, embora desenvolvida essencial-mente no distrito de Beja.

Da análise destes elementos poder-se-á dizer que estas cinco culturas ocu-pam cerca de 90% do total.

Figura 6 – Culturas regadas

A representatividade das diversas cul-turas por distrito e por área, é variável.

No sentido de uma melhor caracteri-zação dos regadios do PRIA, estão, nestemomento, a sistematizar informaçãoconducente à construção de indicadoreseconómicos. Dada a grande dificuldadeem obter dados correctos e indicativosjunto dos agricultores, as produçõesapresentadas para as culturas foram esti-madas com base em várias fontes; asdotações de rega apresentadas foram

estimadas com base em diversas infor-mações de carácter geral e na disponibi-lizada através dos vários projectos doCOTR para culturas como algodão,milho, beterraba, tomate, girassol, olivale vinha, e os custos de investimento esti-mados a partir dos dados que foi possívelobter dos projectos de financiamento

Quadro 6– Áreas ocupadas com asprincipais culturas

2.3.6 – Regadios a Montante dasbarragens que alimentam os regadiosColectivos

O conhecimento deste item poderáser interessante para análise da influên-cia dos pequenos regadios na gestão dosregadios colectivos, ditos estatais.

Nestas condições, apresentam-se noquadro 7 as áreas regadas situadas amontantes dos diversos

Aproveitamentos Hidroagrícolasexistentes, bem como os volumes regula-rizados através de barragens.

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Embora, como está assinalado noquadro, os volumes regularizados indica-dos correspondam ainda só a uma percen-tagem das barragens inventariadas, emvirtude da falta de dados sobre as caracte-rísticas das barragens, poder-se-á con-cluir que a influência dos pequenos rega-dios a montante dos grandes aproveita-mentos hidroagrícolas é mínima, já que,em média, a percentagem do volume deágua captado a montante é inferior a 5%.

2.3.8 – Pequenos regadios indivi-duais existentes nos futuros Blocos deRega do EFMA

Esta consulta poderá ser interessantepara o planeamento da rede de rega dosfuturos Blocos de Rega do EFMA, ouseja, ver da área destes blocos já actual-mente regada, e da possível utilizaçãodas estruturas de armazenamento comocomplemento da futura rede de rega

Nestas condições, apresentam-se noquadro 8 e na Fig.7 as áreas regadas situadasa montantes dos diversos AproveitamentosHidroagrícolas existentes.

Quadro 8 – Pequenos regadios exis-tentes nos futuros Blocos do EFMA

2.4 - Considerações sobre o software

2.4.1 – Considerações GeraisNo sentido de poder tratar, manejar e

consultar os dados constantes da base dedados construída, foi desenvolvida umaaplicação informática específica quecorre sobre ArcGIS 9.1

No desenvolvimento desta aplicação

Quadro 7 – Áreas regadas e volumes retidos a montante das barragens dosAproveitamentos

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informática foram seguidos os seguintescritérios:

• permitir realizar consultas aosdados armazenados de acordo com crité-rios de agrupamento territorial: fregue-sia, concelho, distrito, zonas incluídasnas bacias hidrográficas das barragensincluídas no Plano de Rega do Alentejo ezonas abrangidas pelos Blocos de Regado Empreendimento de Fins Múltiplosdo Alqueva – EFMA:

• facilitar a consulta dos utilizadoresnão especializados no manejo da base dedados relacionais, mediante o desenho deconsultas pré-definidas;

• Permitir a modificação, eliminaçãoe introdução de informação

• Facilitar a realização de relatóriossegundo diversos critérios de agrupaçãoterritorial

2.4.2 - Princípios de utilizaçãoO manuseamento desta aplicação tem

início num “icon” construído expressa-mente para esta aplicação, através doqual surge uma primeira janela onde serápossível seleccionar o tipo de consultaprincipal pretendido – culturas, métodosde rega e fontes de água.

Escolhido o tipo de consulta, surgeuma segunda janela (Fig. 8) que faz aapresentação da aplicação, a partir daqual será possível:

• Fazer consultas sobre as parcelasinventariadas (áreas e localização) comos pequenos regadios individuais para:

• Toda a zona do projecto• Por freguesia• Por concelho• Por distrito• Por bacias hidrográficas

(Mira, Sado, Tejo e Guadiana)

• A bacia hidrográfica situada a mon-tante das barragens do Mira, Alto Sado,Roxo, Odivelas, Pego do Altar, Vale deGaio, Vigia, Minutos, Divor, MonteNovo, Pedrógão e Alqueva

•As futuras zonas incluídas nosBlocos de Alqueva, Pedrogão, Ardila eMonte Novo

Figura 8 – Exemplo da janelasecundária - Culturas

• Fazer consultas sobre o tipo de cul-turas (actualmente apenas é possível ace-der ao ano de 2003) (nome da cultura,área ocupada e localização por parcela aonível dos agrupamentos territoriaiscitados anteriormente

• Fazer consultas sobre os métodos derega inventariados (tipo, área ocupada elocalizaçãopor parcela ao nível dos agru-pamentos territoriais citados anterior-mente (Fig.9)

Figura 9 – Exemplo da janela secun-dária – Sistemas de Rega e Fontes de água

• Fazer consultas sobre a localização

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das Fontes de Água inventariadas pelosagrupamentos territoriais citados noponto anterior, por tipo, e com indicaçãodos volumes de água regularizadosanualmente em cada uma das situações

• Barragem• Charca• Furo• Captação em linhas de água• Verificar a relação que existe sobre a

escolha do método de rega e o tipo de culturas• Fazer consultas sobre as ligações:• Parcelas regadas a partir de cada uma

das fontes de água (área e localização);• Parcelas ocupadas com uma deter-

minada cultura regada por um determina-do método de rega (área e localização);

• Combinações entre os tópicos cita-dos anteriormente

2.5 - Apresentação de resultados

2.5.1 - Apresentação Geral dos rega-dios inventariados

Como resultado desta aplicação apre-senta-se na Fig.10 um exemplo da saídacom a localização das parcelas inventa-riadas (a verde) para concelho de Beja.

As palavras em castanho claro refe-rem-se ao nome e locais das estaçõesagrometeorológicas automáticas da redeSAGRA.

Para cada tipo de consulta é apre-sentado na janela, o número de parcelase a correspondente área, por zona admi-nistrativa seleccionada, bem como asáreas correspondentes a cada sub-tipode escolha. Em frente a cada uma des-tas áreas existe uma tecla que, quandocarregada, permite apresentar, numaoutra cor, as parcelas correspondentes.

Figura 10 – Localização das parcelas deregadio inventariadas no Concelho de Beja

Na Fig.11 apresenta-se um exemploda saída de uma consulta sobre a inven-tariação, ao nível de um distrito, da árearegada total, número de parcelas inventa-riado, bem como a área regada por cadaum dosmétodos de rega.

Figura 11 – Pequenos regadios indi-viduais do distrito de Beja – localizaçãodas parcelas regadas com rega localizada

Nesta figura apresenta-se ainda ressal-tado as parcelas regadas por rega localiza-da (a castanho) em contraste com as rega-das pelos restantes métodos (a verde).

Na Fig.12 apresenta-se um exemploda consulta, ao nível de um concelho,sobre a identificação da área regada total,número total de parcelas e localização (acor magenta) da área ocupada com asdiferentes culturas, realçando a localiza-ção das parcelas com olival (a magenta).

O mesmo resultado pode ser obtidopara as diferentes opções.

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Figura 12 – Exemplo da janela de saídacom a localização, ao nível do concelho deBeja, das áreas regadas por cultura, comrealce para a cultura seleccionada - Olival

5 – Conclusões

• Uma utilização informática comoesta, à qual vão estando sucessivamenteagregadas novas aplicações, suportada noinventário georreferenciado dos peque-nos regadios individuais do Alentejo -PRIA, é fundamental para a tomada dedecisões sobre a gestão da rega (Junta deAndaluzia 2004 e Neumeister 2004).

• Esta aplicação está ainda no princí-pio, já que no próximo ano será estendi-da ao distrito de Portalegre e, quem sabe,incluir também os actuais regadioscolectivos, vulgarmente ditos estatais.

Como se pode observar existe ainda algu-ma falta de informação que irá sendo supridacom inquéritos locais, embora a mesma nãointerfira grandemente com as conclusões que

é já possível tirar nesta fase do trabalho.• Esta utilização informática, e como

tal, a base de dados que lhe está associa-da será o coração de um conjunto deoutras aplicações específicas, mais vira-das para a gestão dos factores de produ-ção em regadio, das quais se destacam:

• Gestão da rega – SIGERA – já ter-minada, apresentada neste Congresso

• Fertilização – a ser elaborada em par-ceria com o Laboratório química AgrícolaRebelo da Silva (a concluir em 2006)

• Tomada de decisão sobre as culturasque optimizam, num determinado ano,os factores de produção, a ser elaboradaem parceria com a Estação AgronómicaNacional do INIAP (a concluir em 2006)

• A ela estão sendo, neste momento,associados vários tipos de indicadores,nomeadamente de ordem económica, rela-cionados com o custo da água associado.

• É fundamental que, no final deste pro-jecto, possa ser estabelecida uma parceriaforte com os Ministérios da Agricultura edo Ambiente, com o IFADAP e com asAssociações de Agricultores, no sentido demanter, por um lado, o inventário sempreactualizado com os novos regadios que vãosendo criados, ou com os que vão sendomodificados, e por outro, no sentido de sepoder anualmente manter actualizado o sis-tema cultural presente em cada parcela.

Referências Bibliográficas

Carreira,D.; Teixeira,J.L; Oliveira,I; Fabião,M. 2005 - O SIGIRA - Part II – Serviço de Gestão da Rega - I Congresso Nacional de Rega eDrenagem. Centro Operativo e de Tecnologia de Regadio. Beja, 5 a 7 de Dezembro. 2005

INTERREG IIIA (1) 2003 - “Optimización Agronómica y Medioambiental del Uso del Agua de Riego–UAR”. SUBPROGRAMA : 5 Alentejo-Algarve-Andalucia. EIXO : 1 Dotação de infra-estruturas, ordenação e desenvolvimento rural do espaço transfronteiriço. MEDIDA : 1.3Desenvolvimento Rural e Transfronteiriço

INTERREG IIIA (2) 2005 - “Acciones de transferência de tecnologia en el manejo eficiente del riego-ATMER”- SUBPROGRAMA : 5 Alentejo-Algarve-Andalucia. EIXO : 1 Dotação de infra-estruturas, ordenação e desenvolvimento rural do espaço transfronteiriço. MEDIDA : 1.3Desenvolvimento Rural e Transfronteiriço

Junta de Andaluzia 2004 – Inventario y Caracterización de los Regadios de Andaluzia. Consejería de Agricultura y Pesca. Sevilla. 2004

Neumeister, C., Álvarez, N., Artigao, A., Tarjuelo, J.M. y Ortega, J.F. 2004 – “Inventario e Caracterización de Los Regadíos de Castilla-LaMancha integrado en un SIG – Una Herramienta de Gestión Integral”. XXII Congreso Nacional de Riegos. Logroño. 15-17

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RAIOS OS PARTAM!

Raios os partam! Apetece dizer: “raios ospartam!” – é um desabafo e é um protesto,é a mais pacífica das manifestações deraiva com que um cidadão concretiza o seudireito à indignação. Haver alternativas aeste “raios os partam”, lá isso há. Porexemplo, partir o focinho aos responsáveispela castração da identidade cultural donosso povo? Aos responsáveis pelo mis-erável abastardamento da nossa cultura?Por exemplo, pôr bombas na sede e nasdelegações da famigerada ASAE, quase“prima” da asquerosa PIDE que, durantedécadas, perseguiu e torturou portugueses?Seria excessivo, dir-me-ão. Talvez.ASAE – logo a sigla enoja e enjoa. O quefaz, para o que serve? Serve para atazanar osnossos costumes. Nas aldeias e vilas, até hápouco, matava-se o porco – era dia de festa,com sopa da matança (no Sul) ou cabidela(no Norte), carnes no alguidar para preparode enchidos ou para apetitosa fritura, quenalguns lugares recebia o nome de “carne àsMercês”. E aproveitavam-se os pernis paraos presuntos ou as queixadas para as cax-aburras. E o sangue para as morcelas. Veio aASAE, com modos de lápis azul do “antiga-mente” e zás!, proibiu. A matança foi varri-da dos costumes – ficaram as amplas cham-inés alentejanas despropositadas para osfumeiros. Dia virá que os nossos netos per-guntarão, intrigados, para que serviam asgrandes chaminés das velhas casas. Esaberão que se cometeu o crime de proibirao povo os dias de festa e abundância.E saberão que, à força da multa e da punição,os seus antepassados viram-se privados do“petisco”. Saberão que lhes foi vedado deli-ciarem-se com os enchidos caseiros.Saberão que se viram impedidos de mastigartúbaros, de frigir torresmos do rissol, de col-her espargos selvagens e com eles seprazentarem em saborosos ovos mexidos.

Saberão também que, assassinando a nossacultura gastronómica (parte fundamental dacultura genuína do povo), a tenebrosa ASAEescancarou a importação de enchidos e pre-suntos estrangeiros, feitos a martelo, de con-sumo quase obrigatório entre nós, à falta deproduto nacional, entretanto clandestinizado.Se lhes explicarem, os nossos netos saberãotambém que tudo isso aconteceu à misturacom a disseminação da cultura da mar-icagem, com a qual os donos do poder - eminícios do século xxI -quiseram defenestrara virilidade de um povo indócil e indómito,que se recusava a abdicar dos seus direitos eda sua dignidade.Poderão ainda saber que essa PIDE de cos-tumes, a ASAE, enquanto (em nome deuma saúde pública que, antes, nuncaestivera em causa) xingava a nossa cultura,fechava os olhos à insalubridade dos“mac’donalds” e das pizzarias, onde à fartae com lucro, se cometiam verdadeiroscrimes contra a saúde pública. Poderãotambém saber que se profanou o bomazeite nosso, proibindo a designação daorigem e a explicitação do grau de acidez,num descarado convite à mixordagem.E perguntar-se-ão os nossos netos: como éque tudo isso foi possível, sem protestos, semrevoltas? Nem eu sei, meus caros. A verdadeé que fomos capazes de enfrentar a repressãofascista, de combater a exploração, de bater opé à opressão, mas sucumbimos às balelastrazidas por interesses estrangeiros que var-reram das rádios a nossa música, puseram asnossas televisões a falar inglês/americano ebrasileiro, fecharam as nossas editoras delivros, encerraram as nossas fábricas e onosso comércio, compraram os nossos jor-nalistas e proibiram que as nossas bocas sedeleitassem com os sabores nossos.Perante isto, só sei dizer: “raios os par-tam!”

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ACORDAR NO SUL(à Maria Amélia Sobral Bastos)

Acordar no azulNum jardim de árvoresE cágados matinais.Acordar entre paredesNuma teiaDe gestos suavesAcordar no azulCom uma língua de solAcordar num quintalDe luz entre vozesE chilreios acordarAcordar no sul

Derrete-se o tempoNa tarde serenaDe versos arrancadosà sombra.

Na rasteirinha ervaDos segredosOs corvos dormitam.

COSTA VICENTINA

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VISIÒN EN LA PLAZA DE TOROS VIEJA DE BADAJOZ

Allá en el graderío, donde el odiosurgió con tanta ira,donde habían brotado la hiel y la metralla,escupido las balas,tableteado ciegos halconeros,hoy salem árboles en flor,suben hacía las nubes los brazos de la vida,rompe cimientos la savia renovada,alza promesassu tierna dulzura vegetal.

Y abajo,entre la arena febril que ya se escapa-redondel, anillos de dolor, confuso griterío-,con la huella imborrable de la sangre,con el grande surtidor que nos ahoga,estoy soñando a hombres que caminan,que suben a este mundo de troncos y ramasy alcanzan los cogolhasmirando firmemente,gritando: “Libertad!”

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Lu

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ordã

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SILENCIO

felizmenteaqui só há a verdade

do silencio

não se ouvemos arautos

nem desta estranha democracianem da moral e bons costumes

nem do dominante futebolnem de uma qualquer religião

só o silencioe a cúmplice e difusa luz da madrugada

Margem esquerda / Mourão / Dez. / 2007

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RUAS DE SERPA

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Das ruas que Serpa tem,P’ra mim a que tem mais graça,É a das Portas de Beja,Desde o arco até à Praça.

(Serpa, popular)

Ruas de casas branquinhas,Velhas, de centenas de anos,Como é a Rua dos Canos,A do Prego, ou das Escadinhas.Ruas que, não sendo minhas,Nem tuas, nem de ninguémEm todas elas porém,Descubro graça e encanto,Por isso é que eu gosto tantoDas ruas que Serpa tem.

Ruas de nomes antigos,(Nem lhes conheço as raízes…)Como a Rua dos Farizes,Ou a Rua dos Barrigos.Os seus discretos postigos,Espreitam para ver quem passa…E eu, talvez por pirraça,Entre todas, tão caiadas,É mesmo a das Mal-LavadasP’ra min a que tem mais graça.

Quem chega, vindo de fora,P’la Rua da Fonte Santa,Rua dos Arcos encanta,Com seu aqueduto e nora.Suas muralhas, que outroraResistiram à peleja,Ainda causam inveja,Pelo ar tão imponenteDaquela entrada, a poente,É a das Portas de Beja.

Dá gosto participarDos “cantes até às tantas,Que não cansam as gargantasDos teus filhos a cantar…”As ruas, a abarrotar,De gente de toda a raça,P’ra ver o cante, que passaPelo Largo da Corredoura,Ou pelas Portas de Moura,Desde o arco até à Praça.

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LOUCOS E VAGABUNDOS

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Pelas ruas da cidade…Pernoitam almas esquecidasComo dizem, sem eira nem beiraDe braços e mãos estendidas

Pena ou humilhaçãoSentimentos sem sentidosA mais ouvida palavra: Não

O mais sentido olhar de desprezoO mais fácil é desistirO mais óbvio é perder peso

Perante mais uma jornada, resistir.Ficam ali. Vivem assim.Até que venha o mais esperadoAté que chegue o tal fim

Recordam o tempo passadoTerão alguma vez vivido?

Loucos e vagabundosEsvaem-se em gestos sem sentidoCavam na alma buracos sem fundo

Mendigam o pão e o dinheiroMendigam a vida e a sorte

Recebem o nada e o receioRecebem o pior e a morte

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M.

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FRONTEIRA

é quando o sexo do vento passa além da fronteiraque toda a geografia humana desembarca numa encruzilhada

tocada por dentroa imaginação dos corposespera uma musica, um clarão, uma raiva

quando a voz sustenta escrever a noitecai no interior do coraçãouma só vontade de navegar

é apenas um barco

(deste modo o homem transbordatodo ciclo do nome)

GEsTão E CoMéRCio iMóvEis, Lda.

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LUMINOSA BARRANCOS

Empolgante e saudosíssimavila raiana de Barrancos,apesar de não te visitarhá perto de duas décadas,dá-me a sensaçãode nunca te ter visitado,e de só te ter vistoatravés de televisão,revistas e livros de turismo.

Parece-me um sonhoestar caminhando para aí,pois meu corpoe minha visãoestavam repletos de saudadede ti!...

E ao entrar aívi inúmeros ninhos de cegonhasnos seus ninhosna Torre do Relógio,em chaminés e telhados.

que poético depararcom o carinho das cegonhasnos seus ninhos,a darem com o seu biquinho,de comer às cegonhas pequeninas!...

E que maravilhoso observaras cegonhas comas suas asas abertas a voarem,assemelhando-se aum pequeno avião a voar!...

Barrancos vila em anfiteatrotoda cheia de branquidão,

tranquilidadepoesia e luminosidade!...

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DE SOL A SOL

A minha casa em Ficalhono Alentejoera um verdadeiroobservatório solar,Pela manhã vinha à janela do primeiro andare via o Sol a despontar!Nesse tempo o horário de trabalhoera do nascer ao pôr do Sol.quando terminava o meu dia de trabalhocomo sapateiro,subia ao primeiro andare da minha janela da parte de trásvia o sol,mas desta vez a pôr-se ao fundo,no Outeiro dos velhacos,onde fica o cemitérioda Aldeia.Lembro-me hoje com saudadee nostalgia desses temposda minha juventude,num tempo distante e duropara viver.O tempo da ditadura fascista.

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7 TIPOS DO MEU PAIS SURREALISTA

i. CarlosTinha uma linha editorial. Com ela alinhavava diariamente os seus desconchavados artigos.

ii. ManuelNum primeiro instanteDeixou-se resvalar para dentro do lodaçal.Num segundo morreu afogado.

iii. JoséNum poema abarcou o mundo.Em toda a vida apenas escreveu um universo.

iv. MariaEnterneciam-se-lhe os joanetes.De um momento para o outro aliviavam-se os calos psicológicos.

v. NatáliaVia uma chuva alegre e entusiástica derramar-se sobre os telhados.A enxurrada, num arroubo, levou-lhe a casa.

vi. AníbalDeixou-se entrar no labirinto.Agora só tem uma solução:lembrar-se como entrou.

vii. AugustoMordeu a própria mão para conhecer o sabor do sangue.Numa orgia devorou-se a si próprio.

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Monforte éuma das terrasdeste imensoAlentejo onde aFesta dos Toirostem mais inter-pretes, figurasgrandes, e ondefaltava um grupode forcados. Estesurgiu, come-çando a dar osprimeiros pas-

sos, ainda no ano de 1999. Com fardasemprestadas, e ainda muita inexperiên-cia, apresentaram-se mesmo assim emdois ou três espectáculos. Foi porém em2000 que as novas fardas foram estrea-das. Pegaram primeiro um toiro emEspanha, num festival em Almeirim, lápara os lados de Cáceres e, em 20 deMaio, foi a apresentação nos Canaviais,ali bem perto de Évora, onde, em toura-da formal, com mais dois Grupos deForcados, pegaram um curro de toiros deAntónio José Teixeira e conquistaram otroféu para a melhor pega. Foi seu vence-dor o seu cabo Paulo Freire, autor deuma grande "cara".

Daí para cá cresceram, ganharamexperiência, as corridas foram surgindo eos triunfos também. Conquistaram pré-mios em boas actuações e, em 2008,apresentaram-se na nossa "catedral" doCampo Pequeno, onde tiveram umaestreia de grande mérito. Pegaram emEspanha e França e, já com onze tempo-radas, consolidaram uma posição digna e

invejável. De novo o Campo Pequeno,em 14 de Outubro de 2010, a encerrarmais uma época e o primeiro ciclo doGrupo. Na arena lisboeta, o cabo PauloFreire passou o comando ao RicardoCarrilho, também um dos fundadores doGrupo e forcado valoroso. Paulo encer-rou uma carreira de forcado multifaceta-do, que com o seu querer e entrega colo-cou o seu Grupo no lugar de destaqueque hoje ocupa. Estamos certos que ostriunfos irão continuar para honrar ospergaminhos desta terra aficionada queos viu nascer.

A Amizade que os tem unido conti-nuará, para prestigiar este Alentejo dasTouradas, do Sol que «aquece os cora-ções e nos anima a trilhar os caminhosonde os Homens, para triunfarem, neces-sitam de valores profundos. Liberdade eCoragem para vencer todos os Medos eDesafios.

FORCADAGEMFORCADOS AMADORES DE MONFORTE

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Todos nós gostamos de nos sen-tir bem vindos, não é mesmo? Essecarinho muitas vezes se expressa nadisponibilidade em acolher.

Foi assim, que as famílias Anjose Jordão, abriram suas casas para asduas amigas brasileiras.

Partindo de Lisboa, nosso pri-meiro contato com o Alentejo foiVila Viçosa, uma vila de fundaçãoMedieval, com acontecimentosligados à Casa de Bragança.Despertou a nossa curiosidade “APorta dos Nós”.

Nossa visita à Vila Viçosa foium programa de um dia, distribuídoentre o Castelo e o Paço Ducal.

O Museu divulga um acervobem diferenciado: tapeçarias, por-celanas, faianças portuguesas arma-ria, mobiliário etc.

A Igreja e a Biblioteca estavamfechadas na ocasião da nossa visita.

No percurso da viagem fomosapreciando uma planície a perderde vista, com suas aldeias de casasbrancas, sobreiros, azinheiros, oli-veiras. O sol nos parecia muitomais dourado!

Cegonhas iam e vinham dosseus grandes ninhos chamando atodo tempo nossa atenção.

Fizemos paradas em Mora,Pavia, Évora Monte, Extremoz,Borba, e em Arraiolos “a vila bran-ca dos tapetes coloridos”

Provar da cozinha Alentejana foiseguramente um prazer. Inspiradana trilogia mediterrânea (pão, azei-te e vinho) associada às ervas aro-máticas são feitos, o lombo deporco, o borrego, o coelho, o caçãolimado, os enchidos, a sopa alente-janas, açordas e migas.

Um toucinho do céu ou os docesde ovos com gila, acompanhadosdos vários tipos de queijo, finali-zam quase sempre uma refeição.

Isso sem falar da excelência dosvinhos brancos e tintos.

O senso de humor doAlentejano, seus poemas, prosa,musica, o cante e o artesanato nosencantou.

Évora com suas Igrejas (Capelados Ossos), o Templo da Diana, osmuseus. Mourão, seu castelo e suaschaminés mouriscas. Fialho e seuazeite premiado merecem todos umrealce, pois privamos da compa-nhia amiga de gente da terra.

O ALENTEJO, SUA GENTE, A CULTURA,VISTO POR DUAS TURISTAS DE ORIGEM LUSOFONA

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Como já dissemos e voltamos aafirmar, no Alentejo, em todo oAlentejo, o uso das ervas é vulgar nastrês áreas em titulo.. No numero ante-rior falamos dos poejos. Hoje vamosfalar das Beldroegas.

CaracterísticasPlanta razoavelmente comum na

região, conhecida pela maioria daspessoas, já que é muito utilizada emculinária. Tem caules carnudos ,folhas espalmadas de cor verdeoumuito ligeiramente avermelhadas.No final do verão nascem umaspequenas flores amarelas.

Usos MedicinaisPossui propriedades:[Anti-inflamatórias e emolientes]

cálculos urinários e cistites[Laxantes] recomendada na pri-

são de ventre crónica[Diuréticas e depurativa] no

combate da obesidade

ERVAS AROMÁTICAS, MEDICINAIS E ALIMENTARES

As sementes combatem vermesintestinais.

Segundo o Mestre Salgueiro, “édas melhores plantas no combate aocolesterol mau (HDL), comida emcru ou cozida”

[Salada] temperada com sal azei-te e limão.

[Decocção] 100 g por litro deágua. Até 5 chávenas diárias

Uso Externo[Cataplasmas] da planta fresca e

esmagada combate a blefarite (infla-mação das pálpebras) e conjuntivite.

Outros Usos Como foi referido anteriormente,

esta planta é principalmente conheci-da em culinária, sobretudo em sopase saladas.

in Plantas medicinais da Serra d’ossa

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ingredientes:

- Tomate- Pepino - Pimento verde- Pão duro, de migar- Alho- Sal- Azeite- Vinagre- Água

Preparação:

- Cortam-se o tomate, o pepino e o pão aos quadradinhos e o pimentoem tirinhas muito pequenas. Numa tigela de ir a mesa esmagam-semuito bem os alhos com o sal. Juntam-se o tomate, o pepino e o pimen-to. Tempera-se com o azeite eo vinagre e acrescenta-se águafresca. Por fim junta-se o pão.- (Eu costumo calcular umdente de alho médio e umatigelinha de tomate, pepino epão em partes iguais. O pimen-to é só um pouco, para sabor ecor). A acompanhar peixe frito,é divinal.

UM PETISCO DO OUTRO MUNDO

GASPACHO à MODA DO ALENTEJO

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HORIZONTAIS: 1– Animalmais alto do mundo; Casa ousubterrâneo com abóbada.2– Fécula alimentícia extraídado rizoma de algumas plantasmarantáceas; Objecto constituí-do por contas enfiadas, destina-do a contabilizar as oraçõesvocais. 3– Método de medir adensidade do ar atmosférico;Ilha do Alasca. 4– Meio de sub-sistência (fig.); Aqui estão;Caminhai. 5– Despida; Assinalado. 6– Içar (a bandeira); Içar. 7– Partícula afirmativa dodialecto provençal; Máscara, geralmente de papelão. 8– Diz-se do organismo rudimentarconstituído por uma só célula; Progenitor. 9– Santo a quem é dedicado um templo oucapela; Adoidado. 10– Vasilha velha (Alent.); Soberano da Pérsia (ant.); Hipofosfito deferro. 11– Ouro (s.q.); Pedreira ou mina de lousa; Discursa.

VERTICAIS: 1– Garra das aves de rapina; Ovário de peixe. 2– Indignação; Ave noctur-na do Brasil. 3– Lascas; Contracção de em as. 4– Cançoneta; Campo semeado de trigo.5– Faixa de crepe para luto; Grupo de pessoas que cantam juntamente. 6– Preposição quedesigna termo de espaço ou de tempo; Ensejo; A minha pessoa. 7– Incendiar; País daÁsia. 8– Gracejar; Aguardente do melaço da cana sacarina. 9– Esquiva; Elemento de for-mação de palavras que exprime a ideia de frouxo, solto. 10– Produz som; Guardar silên-cio. 11– Carta de jogar; Designação do aspecto inconsciente da personalidade; Sapo doAmazonas (Bras.). 12– Mulher ruim; Transmitir gratuitamente bens a outrem; Cento eum em numeração romana. 13– Expressão para incitar as bestas a caminhar; Coelhopequeno. 14– Irmã do pai ou da mãe; Soldado de infantaria. 15– Macaco do Brasil; Jogode rapazes em que atiram uma moeda a riscos feitos no chão.

PASSATEMPO

AS PALAVRAS CRUZADAS

Solução A A – 7HoRiZoNtAiS:1– Girafa; Casamata. 2– Araruta; Rosário. 3– Dasimetria; Rat. 4– Pão;Eis; Ide. 5– Nua; Marcado. 6– Hastear; Alar. 7– Oc; Caraça. 8– Unicelular; Pai. 9– Orago; Amalucado.10– Vasaréu; xá; Irol. 11– Au; Louseira; Ora. VERtiCAiS:1– Gadanho; Ova. 2– Ira; Uacurau. 3– Raspas; Nas. 4– Ária; Trigal. 5– Fumo; Coro. 6– Até;Maré; Eu. 7– Atear; Laus. 8– Rir; Rum. 9– Arisca; Laxi. 10– Soa; Calar. 11– Ás; Id; Aru. 12– Má; Doar;CI. 13– Arre; Láparo. 14– Tia; Caçador. 15– Aoto; Raiola.

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FASES DA LUA EM 2011(Tempo Universal)

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A evolução do conhecimento científico em Astronomia e a problemática da medição e definição de um "padrãode Hora" constante para fins civis, e que facilitasse a vida social, é também patente na legislação que lhe apareceassociada. Assim, podemos definir as seguintes grandes etapas legislativas da Hora Legal em Portugal: • Em princípios do séc. xIx e a par de outras nações europeias, Portugal adoptou o Tempo Solar Médio quesimplificou a definição da Hora Legal. Os Reais Observatórios Astronómicos da Marinha (Lisboa) e deCoimbra definiam a Hora Legal para a sua regiăo de longitude. • A Carta de Lei de 6 de Maio de 1878, Número 111, estabelece no Artigo 2, que o Real ObservatórioAstronómico de Lisboa (OAL, criado em 1861) tem como quarto (4º) objectivo: "Fazer a transmissão tele-graphica da hora official ás estaçőes semaphoricas e outros pontos do paiz". • O Dec. com força de Lei de 27 de Fevereiro de 1891 aprovou as instruções regulamentares relativas àshoras e duração de serviço nas estações dependentes da Direcção Geral dos Correios, Telégrafos e Faróis.Estabelecia que: "a hora, em todas as estações, seria a média oficial contada pelo meridiano do RealObservatório Astronómico de Lisboa; nas principais cidades do reino e em quaisquer pontos do país, quan-do a conveniência do serviço público aconselhasse, seriam estabelecidos postos cronométricos destinados afazer conhecer a hora média oficial". • O Regulamento do Real Observatório Astronómico de Lisboa, em Dec. Lei nº 135 de 20 de Junho de 1903, esta-belece no Art. 5º do Titulo I (Dos Fins do Observatório), que: "...deverá no Observatório proceder-se regularmente,e de preferência a todos os outros serviços, às seguintes observações: 1.º Determinação diária da correcção e mar-cha das pêndulas e chronómetros do Observatório, e especialmente da pêndula que for considerada padrão, e estu-do minucioso das diversas influências que exerçam acção sobre essa marcha e leis a que obedeçam". • Outra mudança relevante foi o Dec. Lei de 26 de Maio de 1911: definiu que a partir de 1 de Janeiro de 1912,a Hora em Portugal deixava de ser local (meridiano de Lisboa, OAL) e passava a reger-se pelos FusosHorários da Convenção de Washington (1884), colocando a hora do continente no Fuso das 00:00 horas(Greenwich). Estabelece ainda este Dec. Lei no seu Art. 4º que as horas entre o meio-dia e a meia-noite sejamdesignadas com os números das 13 às 23, e que "A meia-noite, neste caso designa-se por zero" horas. Assim,a Hora Legal em Portugal Continental foi adiantada de 36m 44s,68, ou seja a diferença de longitudes entreos meridianos do OAL e de Greenwich. • O Dec. Lei nº 1469, de 30 de Março de 1915, regulamenta o Serviço da Hora Legal relativo ao novo relógio públi-co (no Cais do Sodré em Lisboa) e outros meios de difusão da hora. Diz no seu ponto 1º (primeiro): "Ao ObservatórioAstronómico de Lisboa compete enviar constantemente os sinais para a regulação do relógio público...". • No ano de 1916 são publicados diversos decretos (nº 2515-B de 15 de Julho, nº 2712 de 27 de Outubro e no2922 de 30 de Dezembro) que regulamentam o aparecimento da hora de Verão. Nas décadas seguintes alter-am-se regularmente as datas de início e fim do período da Hora de Verão, e do valor do adiantamento da hora. • O Dec. Lei nº 34.141, de 24 de Novembro de 1944, extingue o Serviço da Hora e cria a ComissãoPermanente da Hora (CPH), cuja presidência é do Director do Observatório Astronómico de Lisboa.Competia-lhe o estudo de todas as questões relacionadas com a determinação, a difusão, e a fiscalização daHora. A Comissão Permanente da Hora dependia da Direcção Geral do Ensino Superior e das Belas Artes etinha sede no OAL, a cujos serviços competia assegurar a expediente da Comissão. • Pelo Dec. Lei nº 279/79, de 9 de Agosto, a Comissão Permanente da Hora "passou a depender directamentedo OAL, tendo por finalidade estudar, propor e fazer cumprir as medidas de natureza científica e regulamen-tar ligadas ao regime de Hora Legal e aos problemas da hora científica". Estabelece a composição da CPHtendo como Presidente o Director do OAL, o astrónomo mais antigo desta instituição, e um representante decada Ministério (alguns). Estabelece as obrigações e competências da dita Comissão, entre as quais: fixar oregime da Hora Legal no país, a coordenação dos processos de difusão da hora na comunicação social, fis-calização de relógios públicos, etc.. • O Dec. Lei nº 44-B/86, de 7 de Março vem adaptar a definição de Hora Legal estabelecendo uma relação direc-ta com o Tempo Universal Coordenado UTC, já em uso legal na maior parte dos países, e em conformidade comas directivas da Comunidade Europeia. O UTC é estabelecido e mantido pelo Bureau International de L'Heure. • O Dec. Lei nº 17/96, de 8 de Março estabelece a relação entre UTC e Hora Legal no Continente e Ilhas daMadeira e dos Açores, ou seja, define quando (dia do ano) se fazem os adiantamentos e atrasos entre Hora Legale UTC. Actualmente, estas mudanças e definições estão regulamentadas pela coordenação exigida dentro da UniãoEuropeia (Sétima Directiva no 94/21/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 30 de Maio de 1994).

LEGISLAÇĂO SOBRE A HORA LEGAL

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O Zodíaco contempla o aparente ciclo anual do Sol pelas constelações, dividindoo firmamento em 12 zonas características iguais de longitude celestial. O Zodíacoé reconhecido como o primeiro sistema de coordenadas celestial, desenvolvidopelos astrónomos da antiga Babilónia e constituído por 12 signos (sinais).A origem etimológica do termo zodíaco provém do Latim zodiacus, que signi-fica «círculo de animais». Contudo, o zodíaco clássico Grego, em tudo seme-lhante ao que usamos hoje, inclui signos (também estes constelações) que nãosão representados por animais: Aquário, Gémeos, Virgem e Balança.Uma outra explicação etimológica conota o termo Grego com «um caminho»,o caminho que o Sol percorre do ponto de vista da Terra.O Zodíaco refere-se também à região da esfera celestial que inclui um conjun-to de oito arcos, acima e abaixo do firmamento elíptico, que se cruza com ocaminho da Lua e dos planetas visíveis a olho nu: Mercúrio, Vénus, Marte,Júpiter e Saturno. Os astrónomos da era clássica (Ptolomeu) chamaram-lhesestrelas flutuantes, para os diferenciar dos planetas fixos.Já os Astrólogos entendiam o movimento dos planetas e do Sol através das conste-lações do Zodíaco como uma forma de explicar e prever acontecimentos na Terra.

Características dos signos:

Carneiro (21/03 a 20/04)Com os nativos de Carneiro e os que o têm com ascendente, a primeira impres-são é a de uma pessoa egocêntrica e de um signo independente, assertivo eimpulsivo. São energéticos e excelentes líderes. Altamente competitivos, gos-tam de se pôr à prova constantemente.Apesar de governados por Marte e bastante temperamentais, a fúria é passagei-ra e são em regra acolhedores e inspiradores. Apresentam qualidades como acoragem e lealdade, mas também a impaciência e têm um forte sentido de indi-vidualidade.Aparentam uma certa ingenuidade, por confiarem e acreditarem que os outrossão tão directos e honestos como eles. Marte na primeira casa astrológicainfluência a personalidade de forma similar.Carneiro é um dos quatro signos Cardeais, por estar ligado à mudança de esta-ção e do solstício, tendo como elemento o Fogo.

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ASTROLOGIA

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touro (21/04 a 21/05)Os nativos de Touro transmitem a imagem de alguém prático e de quem se podedepender e que tem os pés bem assentes na terra. Não se adaptam muito bem àmudança, sob quaisquer condições, necessitando do tempo necessário paradigerir e absorver novos conceitos. São teimosos e não se deixam forçar a fazerseja o que for.Os Touro são os construtores do zodíaco: são capazes de construir desde umarelação a um império. Apesar de demorarem o seu tempo a iniciar, têm umapersonalidade determinada e metódica, características que aplicam no decorrere conclusão das suas tarefas.Gostam de aproveitar tudo o que a vida tem para lhes oferecer e apreciam aordem, organização e o conforto. Como o animal que representa este signo, não se zangam facilmente mas quan-do lhe chega a «mostarda ao nariz», é melhor ter cuidado. Escorpião governa acasa das relações, tornando-o o signo mais atractivo para o Touro. O elementodeste signo fixo é a Terra, correspondendo à segunda casa astrológica, a dodinheiro e recursos.

Gémeos (22/05 a 21/06)Com um ascendente de Gémeos, a pessoa aparenta ter conhecimento sobre umgrande e variado número de assuntos e anseia por comunicar. É uma pessoaespirituosa, inteligente e perspicaz e tende a dominar intelectualmente o círcu-lo onde estiver inserido.Expressa-se com facilidade e apesar de parecer superficial, tem normalmentealgo a dizer quanto aos seus pontos de vista do momento. Com uma mente sem-pre em funcionamento, a saltar de ideia em ideia, as palavras acabam por fun-cionar como âncora para os seus pensamentos. Uma das características de umnativo de Gémeos é a capacidade argumentativa que usa para entrar e sair desituações, fazendo parecer simples o que por vezes é bastante complicado econstrangedor. É um pensador criativo, original e um tanto visionário, expres-sando-se de forma eloquente. Tende a identificar-se com as suas ideias e, devi-do à sua destreza com as mãos, facilmente põe em prática os seus projectos.O Gémeos tem sempre presente alguma tensão e nervosismo devido à alta vol-tagem mental. São atraídos pelos Sagitários. O elemento deste signo mutável éo Ar, correspondendo às ideias e à comunicação.

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Caranguejo (22/06 a 22/07)A imagem de um nativo de Caranguejo surge como a de alguém orientado paraa família e muito sensível ao meio que o rodeia. São pessoas preparadas paraagradar e satisfazer as necessidades dos outros e sabem intuitivamente o que osoutros querem, mesmo antes deles próprios. Este é um signo maternal, pelo quesão protectores e carinhosos. O sentimentalismo ocupa uma grande parte davida de um Caranguejo, que confia largamente nas intuições e instintos paratomar decisões. Devido à associação que este signo faz entre posse e emoções, os nativos têmuma óptima memória. Têm uma personalidade inconstante, mudam de humorfacilmente e são bastante temperamentais.Outra característica, são os fortes laços que criam com os que lhes são próxi-mos. São leais mas acabam por ser um pouco possessivos no que diz respeitoà lealdade dos outros. A lua governa a primeira casa astrológica, e os seus parceiros ideais são os prá-ticos Capricórnios. A Água é o elemento deste signo cardeal.

Leão (23/07 a 22/08)Os que nasceram sob o signo de Leão mostram o orgulho e a dignidade comocaracterísticas marcantes da sua personalidade. Cheios de vitalidade, acolhedo-res, leais e honestos, gostam e precisam de constante atenção. Os nativos de Leão possuem uma grande força de vontade, a par da grande fée confiança que depositam neles mesmos. Eles «sabem» que nasceram paraestar numa posição de liderança e autoridade, o que leva por vezes a chamarema si o controlo das situações mesmo sem serem convidados. Acostumados àautoridade, quando nesta posição tendem a provar a eles e aos outros que mere-cem tal confiança. Apesar de pouco auto-analíticos, têm consciência do efeito que causam nosoutros e estudam normalmente, o que fazer para melhorar esse efeito. De umaforma geral, um Leão gosta de fazer tudo com um floreado e gosta que omundo veja.A casa das relações é governada por Aquário, pelos quais se sentem mais atraí-dos. Este signo fixo com o Fogo como elemento, é governado pelo Sol naquinta casa astrológica, apurando naturalmente o seu desejo criativo.

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Virgem (23/08 a 23/09)A imagem da personalidade que um nativo de Virgem transmite é a de alguémque presta muita atenção ao pormenor, meticuloso e perfeccionista, em espe-cial no seu trabalho. São organizados, eficientes, extremamente analíticos e crí-ticos de uma forma objectiva, apesar de por vezes se envolverem de tal modoem trivialidades que perdem o significado por inteiro. Pegam muitas vezes em trabalhos que outros consideram aborrecidos, porquena maneira de pensar de um Virgem alguém tem de os fazer e eles parecem seros únicos com a disponibilidade e paciência necessárias para isso. São meticu-losos e apurados com a limpeza e a boa aparência, e muito preocupados com asaúde, física e mental.Dotados de um carácter forte e determinado, são discretos mas lutam por aquilo quequerem. Têm uma inteligência rápida e crítica, gostam de trabalhar em equipa e têmtendência para desempenhar tarefas que exijam um elevado grau de precisão.O signo mais compatível com Virgem é Peixes, porque trazem equilíbrio à rela-ção com o seu idealismo. É o signo mutável com Terra como elemento, real-çando o aspecto prático com que usa os recursos.

Balança (24/09 a 23/10)Os nativos de Balança são pessoas atraentes, não só pela aparência mas tam-bém pelo carisma da personalidade. Com a diplomacia do seu lado, encontram-se muitas vezes no lugar de mediadores e dão frequentemente a ideia de se inte-ressarem mais pelos outros que por eles próprios. Acreditam piamente na igual-dade e na justiça e conseguem analisar as situações de qualquer ângulo. Beleza, equilíbrio e harmonia, é o que procuram nas pessoas e no meio que asrodeia. Ambientes mais adversos ou que não proporcionem estas condiçõespodem afectar a sua saúde física e mental. Os indivíduos de Balança possuem normalmente talentos artísticos e para embele-zar o meio envolvente. Em regra não gostam de estar sozinhos, e a cooperação comos outros é sempre um objectivo. A Balança é o signo mais sociável do zodíaco. Balança é o signo cardeal do Ar, e sentem-se atraídos por Carneiro, com estesigno na casa das relações. Carneiro destaca-se e ajuda a equilibrar a falta dedecisão de Balança.Consideram-se mestres nas lides da casa, onde são extremamente organizados:arranjam lugar para tudo e colocam tudo no seu lugar. São também óptimosdisciplinadores.

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Escorpião (24/10 a 22/11)Com uma personalidade um tanto ou quanto difícil de controlar, is nativos deEscorpião gostam de manter segredo quanto aos seus assuntos mas são muitocuriosos quantos aos dos outros. Têm um talento inato para descobrir segredose informação confidencial. Estão sempre intuitivamente alerta para mudançasinevitáveis, e conscientes das que se avizinham. São as pessoas ideais em caso de emergência porque conseguem manter acalma em tempos de crise. São bastante versáteis e defendem com grande pai-xão e garra as causas que consideram justas. Os Escorpiões colocam grandeesforço e sacrifício no alcance dos objectivos, o que pode ser por vezes umacaracterística menos boa. Por vezes são um pouco implacáveis quando se sen-tem ameaçados ou traídos, no entanto podem ser pessoas verdadeiramenteencantadoras quando se sentem confiantes. quando a natureza intensamente emocional de um nativo deste signo se misturacom os seus desejos românticos, tornam-se possessivos e ciumentos. A sua sen-sualidade é aparente através da sua personalidade e sentem-se atraídos por Touro,pois estes apreciam o que há de melhor na vida. Escorpião é o signo fixo da Água.

Sagitário (23/11 a 21/12)Os Sagitários possuem uma personalidade entusiasta, optimista e sempre deolhos postos no futuro. Têm fé e não há nada que os faça perder a exuberânciapela vida. Mesmo que as coisas não corram bem, são capazes de encontrar sem-pre um lado positivo e identificar um significado e o motivo pela qual as coi-sas aconteceram daquela forma. Um Sagitário tem muitas filosofias, e porque entende que as nossas motivaçõese formas de pensar estão relacionadas com a altura e local onde estamos, assuas ideias e argumentos podem soar quase proféticos. Os Sagitários têm ten-dência para tirar conclusões precipitadas e de se estenderem em compromissos,tempo e objectivos. Honestos e frontais, podem por vezes magoar ou ofenderalguém com um dos seus comentários espontâneos, ficando de certa formamelindrados quando se apercebem dos efeitos das suas palavras. Haverá infe-lizmente alturas em que não se aperceberão do mal que causaram.De coração generoso, são capazes de fazer todo o tipo de sacrifícios por aque-les que amam.Este signo mutável do Fogo tem atracção por Gémeos, pois estes alimentam equase fundamentam as suas teorias.

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Capricórnio (22/12-20/01)O ascendente de Capricórnio desperta na personalidade a ambição e vontade de per-seguir e alcançar a segurança material. Tomam em consideração tudo a que têmacesso ao seu redor para facilitar a subida ao sucesso. Por serem tão prudentes, sãoadeptos da utilização de qualquer informação com que se deparem. Os nativos de Capricórnio costumam aparentar serem calmos, tímidos ou um poucoreservados, sobretudo na primeira impressão. Tudo o que fazem tem um propósitoe é feito para alcançar um objectivo bem tangível. Paciência, disciplina e trabalhoárduo ajudam estes indivíduos a conseguirem aquilo a que se propuseram na vida.Apesar de levarem o seu tempo a percorrer o caminho traçado, fazem-no deforma segura e sem mudar de direcção. Organizados e metódicos, são capazesde lidar com grandes responsabilidades e obrigações. Preocupam-se bastantecom a sua reputação e sentem a necessidade máxima de realização pessoal.Acham-se merecedores de retribuição por tudo o que contribuem, gostando deser reconhecidos por isso. A atracção está direccionada a Caranguejo pois o lado mais emocional destesequilibra uma vida mais orientada para o trabalho e negócios. Corresponde aosigno cardeal de Terra, ligado às profissões e carreira.

Aquário (21/01 a 19/02)A personalidade de Aquário parece funcionar maioritariamente no plano mental.Intelectuais e com pontos de vista independentes, as suas opiniões vão muitas vezesde encontro às crenças populares e teorias gerais. Parecem estar à frente do seu tempoou ser mesmo brilhantes e tendem a chocar com as suas ideias e modo de pensar. São originais, criativos e possuem um temperamento bastante imprevisível,pendendo para a irritação quando os outros não percebem as suas ideias. Paraum Aquário, a segurança está na companhia de pensadores como ele, onde assuas ideias são compreendidas. Desprezam a hipocrisia, a falsidade e a imita-ção, e depositam toda a sua lealdade nos seus amigos.Envolvem-se normalmente em organizações ou clubes onde todos beneficiamdos objectivos do grupo. São orientados para o contacto com as pessoas, rela-ções às quais dão grande valor. Porque acreditam na igualdade, são o signomais capaz e provável de alcançar uma relação platónica. Úrano na primeiracasa astrológica realça estas qualidades.As atracções recaem sobre Leão, pois estes conseguem realizar e levar a bom porto todasas suas ideias e são também a força central na relação. Aquário é o signo fixo de Ar.

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Peixes (20/02 a 20/03)Os nativos de Peixes mostram-se etéreos e misteriosamente sedutores, e apre-sentam um nível de consciencialização que muitos desconhecem. Não são pes-soas materialistas, entregam-se frequentemente de corpo e alma a causas queos outros vêm como perdidas. Cheios de compaixão, a realidade em que vivem é tão verdadeira como a físi-ca. Possuem uma paz interior invejável e conseguem manter-se calmos nas cir-cunstâncias mais adversas. Visionários e muito sensíveis, respondem facil-mente aos pensamentos e sentimentos dos outros. Conseguem perceber se osoutros estão a passar por dificuldades, detectando a dor e sofrimento nas suasvidas. Os Peixes escolhem muitas vezes dedicar o seu tempo e energia a ajudaralguém, e fazem-no sem pensar em recompensas. São capazes de se colocar nascondições mais indesejáveis para ajudar a libertar a carga de outros. Costumam ser bastante artísticos por natureza, virados sobretudo para a músi-ca e a dança, mas também para a pintura, representação e outros. Nada egoís-tas e muito dedicados, fecham os olhos aos defeitos de quem amam. Neptuno governa este signo mutável de Água. Virgem está na casa das rela-ções, pois a sua natureza prática mantém o nativo de Peixes no tempo certo.

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ANUARIO

Conhecem-se as horas das marés pela idade da lua, que data do 1º dia a seguir à lua nova.Procurando esta idade na tabela acima, obtêm-se as horas da preia-mar num dia qual-quer. Por exemplo, querem saber-se as preia-mares e baixa-mares do dia 10 de Janeiro.Procuramos este dia na página do mês de Janeiro e saberemos que é o 6º dia da lua, eprocurando na 1ª coluna da tabela o 6º dia da lua, encontramos o que desejamos namesma linha horizontal. quando na tabela das primeiras marés se notam marés da tarde, as marés da manhãdesse dia são as segundas do dia anterior. Como acontece no dia 30 da lua, cujas marésda manhã são as segundas do dia 29. No horário de verão, de 27 de Março a 29 deOutubro, adiciona-se uma hora. Para a precisão exacta, consulte o InstitutoHidrográfico, Lisboa.Obs.: As horas das marés do dia 1 são as mesmas do dia 16, as do dia 2 são as mesmasdo dia 17, e assim por diante.

(Dados do Instituto Hidrográfico: www.hidrografico.pt)