! a Dieta Do Paleolítico Na Prevenção a009

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 111  Artigo de Revisão/Revision Article  A dieta do paleolítico na prevenção de doenças crônicas Paleolithic diet in the prevention of chronic diseases MARIA OLGANÊ DANTAS SABRY 1 ; MARIA LÚCIA BARRETO SÁ 2 ; HELENA ALVES DE CARVALHO SAMPAIO 3 1 Universidade Estadual do Ceará-UECE, Docente do Curso de Graduação em Nutrição, Doutoranda em Saúde Coletiva UECE/UFC. Membro do Grupo de Pesquisa Nutrição e Doenças Crônicas – Cnpq. 2 Universidade Estadual do Ceará-UECE, Docente do Curso de Graduação em Nutrição, Doutoranda do Programa de Pós Graduação da FSP/USP. Membro do Grupo de Pesquisa Nutrição e Doenças Crônicas – Cnpq. 3 Universidade Estadual do Ceará-UECE, Docente do Curso de Graduação em Nutrição e dos Mestrados Acadêmicos em Saúde Pública (UECE) e Doutorado em Saúde Coletiva (UECE/UFC), Coordenadora do Grupo de Pesquisa Nutrição e Doenças Crônicas – Cnpq. Endereço para correspondência: Helena Alves de Carvalho Sampaio. Rua Joaquim Nabuco, 500, apto 402. Meireles - Fortaleza- CE. e-mail. [email protected] SABRY, M. O. D.; SÁ, M. L. B.; SAMPAIO, H. A. C. Paleolithic diet in the prevention of chronic diseases. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., São Paulo, SP, v. 35, n. 1, p. 111-127, abr. 2010. The search for healthy nutritional standards to prevent chronic diseases has led researchers to investigate the diet of our ancestors, mainly of the Paleolithic age. The aim of this study was to examine the current kn owledge about the Paleolithic diet and the extent to which it can be applied to the  pre vention of chroni c dis eas es. The rese arch was base d on data from several English, Spanish and Portuguese articles found at Medline and Lilacs databases. The Paleolithic diet consisted of only 3 basic foodstuffs: meat, vegetables and fruit and was thus rich in bers (46 g), vitamins, minerals and phytochemicals having a high amount of potassium and low sodium content. The intake of calcium was satisfactory since this was obtained from forage and deer meat. The meat available from wild animal s was low in fat and contained omega-3 fatty acids. The results of recent studies have been p romising and suggest the diet can help in the reduction of chronic diseases. Further in-depth enquiries are needed into both the  potential risks and benets of the paleolithic diet as, if there are no c ollateral risk s, its introducti on could lead to signicant changes in the f eeding habits of the western world. Howeve r, health professionals should adopt a critical  point of view to this issue, and should not be swayed by its growing pop ular appeal; their principal concern must always be the health of the  pop ulati on. Keywords: Diet. Paleolithic. Chronic diseases. Prevention. Nutrition.  ABSTRACT

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Artigo sobre dieta do paleolítico

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    Artigo de Reviso/Revision Article

    A dieta do paleoltico na preveno de doenas crnicasPaleolithic diet in the prevention of chronic diseases

    MARIA OLGAN DANTAS SABRY1; MARIA LCIA BARRETO S2; HELENA

    ALVES DE CARVALHO SAMPAIO3

    1Universidade Estadual do Cear-UECE, Docente do

    Curso de Graduao em Nutrio, Doutoranda

    em Sade Coletiva UECE/UFC. Membro do

    Grupo de Pesquisa Nutrio e Doenas Crnicas Cnpq.

    2Universidade Estadual do Cear-UECE, Docente do

    Curso de Graduao em Nutrio, Doutoranda do Programa de Ps Graduao

    da FSP/USP. Membro do Grupo de Pesquisa Nutrio e Doenas Crnicas Cnpq.

    3Universidade Estadual do Cear-UECE, Docente do

    Curso de Graduao em Nutrio e dos

    Mestrados Acadmicos em Sade Pblica (UECE)

    e Doutorado em Sade Coletiva (UECE/UFC),

    Coordenadora do Grupo de Pesquisa Nutrio e

    Doenas Crnicas Cnpq.Endereo para

    correspondncia:Helena Alves de

    Carvalho Sampaio.Rua Joaquim

    Nabuco, 500, apto 402. Meireles - Fortaleza- CE.

    e-mail. [email protected]

    SABRY, M. O. D.; S, M. L. B.; SAMPAIO, H. A. C. Paleolithic diet in the prevention of chronic diseases. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr. = J. Brazilian Soc. Food Nutr., So Paulo, SP, v. 35, n. 1, p. 111-127, abr. 2010.

    The search for healthy nutritional standards to prevent chronic diseases has led researchers to investigate the diet of our ancestors, mainly of the Paleolithic age. The aim of this study was to examine the current knowledge about the Paleolithic diet and the extent to which it can be applied to the prevention of chronic diseases. The research was based on data from several English, Spanish and Portuguese articles found at Medline and Lilacs databases. The Paleolithic diet consisted of only 3 basic foodstuffs: meat, vegetables and fruit and was thus rich in fi bers (46 g), vitamins, minerals and phytochemicals having a high amount of potassium and low sodium content. The intake of calcium was satisfactory since this was obtained from forage and deer meat. The meat available from wild animals was low in fat and contained omega-3 fatty acids. The results of recent studies have been promising and suggest the diet can help in the reduction of chronic diseases. Further in-depth enquiries are needed into both the potential risks and benefi ts of the paleolithic diet as, if there are no collateral risks, its introduction could lead to signifi cant changes in the feeding habits of the western world. However, health professionals should adopt a critical point of view to this issue, and should not be swayed by its growing popular appeal; their principal concern must always be the health of the population.

    Keywords: Diet. Paleolithic. Chronic diseases. Prevention. Nutrition.

    ABSTRACT

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    RESUMORESUMEN

    La bsqueda por modelos de alimentacin saludables que prevengan enfermedades crnicas, ha llevado a los investigadores a mirar las respuestas en la dieta de nuestros antepasados, particularmente del paleoltico. El objetivo de esta investigacin fue revisar el conocimiento actual de la dieta del paleoltico, su aplicabilidad y su utilidad en la prevencin de enfermedades crnicas. Por medio de las bases de datos Medline y Lilacs fue realizada una bsqueda de artculos en ingls, espaol y portugus. La dieta del paleoltico estaba compuesta por slo tres grupos alimenticios: carnes, hortalizas y frutas. Esa composicin propiciaba un contenido rico en fibras (46g), vitaminas, minerales y fotoqumicos, abundante en potasio y pobre en sodio; la ingestin de calcio era satisfactoria, provista por forrajeras y carne de ciervo. La carne disponible, de animales salvajes, era pobre en grasas y contena cido graso omega-3. Se percibe que esta dieta contiene var ias recomendaciones actuales para disminuir el riesgo de enfermedades crnicas. Los pocos estudios que intentaron adaptarla a nuestros das muestran resultados prometedores. Frente a su potencial, parece relevante profundizar en las investigaciones acerca de los riesgos y benefi cios asociados a una actualizacin de la dieta del paleoltico, sin embargo resaltamos que si los benefi cios son defi nitivamente comprobados y que no hay riesgos asociados, la utilizacin de ese modelo diettico exigir profundos cambios en los hbitos alimenticios del mundo occidental. El profesional de la salud necesita adoptar un posicionamiento crtico frente a esta temtica, sin dejarse seducir por el creciente apelo popular favoreciendo la salud de la poblacin.

    Palabras clave: Dieta. Paleoltico. Enfermedad crnica. Prevencin. Nutricin.

    A busca de padres alimentares saudveis, preventivos de doenas crnicas tem levado pesquisadores a procurarem respostas na dieta dos nossos ancestrais, particularmente da era paleoltica. O objetivo do presente estudo foi revisar o conhecimento atual sobre a dieta do paleoltico, sua aplicabilidade e sua utilidade na preveno de doenas crnicas. Para tanto foi realizada, nas bases de dados Medline e Lilacs, uma busca de artigos publicados em ingls, espanhol e portugus. A dieta do paleoltico era composta por apenas 3 grupos alimentares: carnes, hortalias e frutas. Tal composio propiciava uma dieta rica em fi bras (46g), vitaminas, minerais, e fi toqumicos, sendo ainda elevada em potssio e pobre em sdio; a ingesto de clcio era satisfatria, propiciada por plantas forrageiras e carne de cervo. A carne disponvel, de animais selvagens, era pobre em gordura e continha cido graxo mega-3. Percebe-se que esta dieta contempla vrias das recomendaes atuais para reduzir o risco de doenas crnicas. Dentre os poucos estudos que tentaram adapt-la para os dias de hoje, os resultados parecem promissores. Face ao seu potencial, parece relevante aprofundar pesquisas sobre riscos e benefcios associados a uma atualizao da dieta do paleoltico. Deve ser destacado, no entanto, que caso seus benefcios sejam defi nitivamente comprovados e no haja riscos associados, a utilizao deste modelo diettico ir requerer amplas mudanas nos hbitos alimentares do mundo ocidental. O profi ssional de sade necessita adotar um posicionamento crtico frente a esta temtica, sem se deixar seduzir pelo apelo popular crescente, favorecendo a sade da populao.

    Palavras-chave: Dieta. Paleoltico. Doenas crnicas. Preveno. Nutrio.

    SABRY, M. O. D.; S, M. L. B.; SAMPAIO, H. A. C. A dieta do paleoltico na preveno de doenas crnicas. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., So Paulo, SP, v. 35, n. 1, p. 111-127, abr. 2010

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    INTRODUO

    As doenas crnicas, atualmente, incluindo as doenas cardiovasculares, diabetes

    melito tipo 2, obesidade, osteoporose, sndrome metablica e cncer, so causas de

    morte e morbidade em todo o mundo, acometendo adultos e crianas. As evidncias

    clnicas e epidemiolgicas mostram que o estilo de vida e os hbitos alimentares so os

    principais fatores causais desta epidemia (CORDAIN et al., 2005).

    Dessa forma, estudiosos e organismos nacionais e internacionais procuram

    desenvolver estratgias visando a promoo da sade e buscam defi nir qual a dieta ideal,

    ou seja, aquela que promove sade e longevidade, previne defi cincias de nutrientes,

    reduz o risco de doenas crnicas relacionadas dieta e composta por alimentos

    disponveis, seguros e palatveis (NESTLE, 1999). Dentre tais rgos, destaque pode ser

    dado World Health Organization (2003), aos U.S. Department of Health and Human

    Services e U.S. Department of Agriculture (2005) e, no Brasil, ao Ministrio da Sade,

    responsvel pelo Guia Alimentar para a Populao Brasileira (BRASIL, 2006).

    Compilando-se as preconizaes para uma dieta saudvel e preventiva de doenas

    crnicas constantes em publicao da World Health Organization (2003) e no Guia

    Alimentar para a Populao Brasileira (BRASIL, 2006) tem-se que, no tocante a lipdios,

    estes no devem extrapolar 30% das calorias totais da dieta. A qualidade do lipdio

    um ponto fundamental que deve ser observado. Recomenda-se que a gordura saturada

    seja menor do que 10% do valor calrico total (VCT), as polinsaturadas devem atingir

    at 10% das calorias totais e as monoinsaturadas completam o percentual. As gorduras

    trans no devem atingir 1% do VCT e o consumo de colesterol deve ser menor do que

    300mg por dia. Os carboidratos devem cobrir 55-75% do VCT. Desse total, 45-65% devem

    ser de carboidratos complexos e de fi bras. Assim, o consumo de acares e doces deve ser

    limitado a percentuais menores que 10% do VCT e deve haver um aumento do consumo

    de cereais integrais. As fi bras atingem 20-35g por dia. As protenas devem cobrir de

    10-15% do VCT. Os excessos devem ser evitados e importante verifi car o balano entre

    a protena animal e a vegetal. Recomenda-se reduzir o consumo de sal/sdio, limitando

    alimentos concentrados nesse mineral. A quantidade recomendada de sal por dia de

    at 5g. Uma dieta preventiva de doenas crnicas deve conter quantidades generosas de

    frutas e hortalias, sendo indicado o consumo de no mnimo 400g por dia ou 5 pores de

    hortalias e frutas. recomendado o consumo de laticnios pobres em gordura. Em uma

    dieta saudvel recomenda-se ainda limitar o consumo dirio de bebidas alcolicas a no

    mximo 2 doses (30g de etanol) para o homem e 1 dose (15g de etanol) para mulheres.

    A ingesto de no mnimo dois litros de gua por dia indicada.

    A manuteno do peso saudvel ponto chave para preveno de doenas

    crnicas, sendo recomendado o consumo de calorias para atingir ou manter esse peso.

    Logicamente essas recomendaes so genricas, existindo ainda orientaes especfi cas

    de acordo com cada doena crnica (BRASIL, 2006; WORLD HEALTH ORGANIZATION,

    2003).

    SABRY, M. O. D.; S, M. L. B.; SAMPAIO, H. A. C. A dieta do paleoltico na preveno de doenas crnicas. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., So Paulo, SP, v. 35, n. 1, p. 111-127, abr. 2010

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    Vale comentar que, em uma dieta saudvel, segundo o Guia Alimentar para a

    Populao Brasileira (BRASIL, 2006), devem estar presentes alimentos dos seguintes

    grupos: cereais, tubrculos e razes; legumes e verduras; feijes e outros alimentos

    vegetais ricos em protenas; leite e derivados; carnes e ovos; gorduras, acares e sal.

    Alm das recomendaes citadas, que tentam promover uma adaptao da

    dieta ocidental para um padro mais saudvel, alguns padres alimentares especfi cos

    tambm so estudados e discutidos quanto viabilidade de utilizao com propostas

    de promoo da sade e preveno de doenas. Dentre estes, destaque vem sendo

    dado dieta mediterrnea, caracterizada por uma maior presena de alimentos de

    origem vegetal, menor quantidade de carnes e alto contedo em gorduras

    monoinsaturadas, principalmente representadas pelo azeite de oliva (SCHRDER, 2007;

    SIMOPOULOS, 2001).

    Nessa busca de padres alimentares saudveis, alternativos, iniciou-se na dcada

    de 80, e se intensifi cou nos anos 90, uma discusso em torno da dieta do paleoltico

    (EATON; EATON III; KONNER, 1997; EATON; KONNER; SHOSTAK, 1988).

    Os defensores dessa dieta lembram que mudanas nos hbitos alimentares

    adaptadas pela sociedade ocidental ao longo dos ltimos 100 anos tiveram uma

    contribuio etiolgica importante na doena coronariana, hipertenso arterial, diabetes

    melito tipo 2 e alguns tipos de cncer (DOVAL, 2005).

    Essa condio surgiu como problema de sade dominante nas sociedades

    industrializadas somente a partir do sculo passado e so desconhecidas das poucas

    populaes que ainda mantm hbitos muito primitivos como, por exemplo, os aborgines

    australianos, esquims no Alasca/Groenlndia e Amerndios, que ainda conservam dietas

    alimentares pr-histricas, cujo estilo de vida e hbitos alimentares se assemelham mais

    estreitamente aos seus ancestrais antes do desenvolvimento da agricultura (DCOURT,

    1989; DOVAL, 2005; EATON; EATON III; KONNER, 1997).

    Segundo Doval (2005), o argumento de que o aumento da expectativa de vida

    ocorrida nos ltimos tempos seja o responsvel pelo surgimento de doenas crnicas,

    no totalmente verdadeiro, pois a vida mais longa no a nica razo pela qual as

    enfermidades crnicas tenham tomado tanta importncia. Os jovens do mundo ocidental,

    rotineiramente assintomticos, desenvolvem doenas crnicas que no ocorriam em

    jovens caadores-coletores da era paleoltica. Alm disso, os membros das culturas

    tecnologicamente primitivas que sobrevivem at a idade de 60 anos ou mais continuam

    a ser relativamente livres dessas doenas, diferentemente dos indivduos da mesma faixa

    etria do mundo dito civilizado.

    Diferenas no modo de vida das comunidades, como dieta e exerccio fsico,

    modifi cam variveis fi siolgicas como o colesterol srico, presso arterial e ndice de

    massa corporal, que podem ser fatores de risco para uma srie de doenas crnicas

    (ROBERTS; BARNARD, 2005).

    SABRY, M. O. D.; S, M. L. B.; SAMPAIO, H. A. C. A dieta do paleoltico na preveno de doenas crnicas. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., So Paulo, SP, v. 35, n. 1, p. 111-127, abr. 2010

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    O objetivo do presente estudo, portanto, revisar o conhecimento atual sobre os

    aspectos nutricionais da dieta do paleoltico, sua aplicabilidade nos dias atuais e a sua

    utilidade na preveno de doenas crnicas.

    METODOLOGIA

    Realizou-se uma busca por artigos cientfi cos na Biblioteca Virtual em Sade (BVS)

    usando como descritores termos em ingls e portugus: palaeolithic ou paleolithic/paleoltico

    e diet/dieta. Foram encontradas 28 referncias no MEDLINE com corte temporal de 1997 a

    2008 de 4 pases onde se originaram as publicaes: Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha

    e Japo. Quando selecionados os termos em portugus apenas trs textos surgiram na base

    de dados LILACS - Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da Sade. No Brasil,

    foi identifi cado apenas um artigo datado de 1989.

    Buscando maiores especifi cidades relacionadas com as doenas crnicas, novos

    termos foram sendo acrescidos: paleolithic and disease, paleo diet, paleolithic and diabetes,

    paleolithic and obesity, paleolithic and cancer, paleolithic and cardiovascular, paleolithic

    and hypertension, resultando em 30 publicaes sendo que 50% destas j estavam includas

    nos cruzamentos anteriores.

    Foram excludos os artigos que no contemplavam os objetivos do presente estudo e

    includos outros considerados pertinentes e referenciados nos textos selecionados, mas no

    indexados nas duas bases de dados principais. Assim, um total de 25 artigos foi revisado.

    Ainda considerando a proposta do estudo, os textos revisados foram distribudos

    em 4 tpicos: dieta do paleoltico-incio das descobertas, caractersticas do homem do

    paleoltico, alimentao no perodo paleoltico e as doenas crnicas, aplicabilidade da

    dieta do paleoltico nos dias atuais e a sua utilidade na preveno de doenas crnicas.

    DIETA DO PALEOLTICO - INCIO DAS DESCOBERTAS

    Paleoltico signifi ca pedra antiga e o perodo paleoltico corresponde, portanto,

    idade da pedra e um dos mais longos, iniciando h cerca de 2,7 milhes de anos e

    estendendo-se at 10 mil anos atrs (DECOURT, 1989; DOVAL, 2005; GOTTILIEB; CRUZ;

    BODANESE, 2008; ROJAS et al., 2008). Durante este intervalo de tempo houve uma

    evoluo da espcie, desde o Australopithecus africanus at o Homo sapiens sapiens

    ou Cro-magnon (DECOURT, 1989; DOVAL, 2005; GOTTILIEB; CRUZ; BODANESE,

    2008; ROJAS et al., 2008), sendo principalmente a dieta deste ltimo a que vem sendo

    discutida.

    Nas referncias disponveis, no h demarcador de onde, por que e por quem

    foram desencadeadas as pesquisas sobre os ancestrais humanos e seus modos de vida. No

    entanto, Bird-David (1990) e Ember (1978) remetem os leitores dcada de 60, perodo

    do ressurgimento das teorias evolucionistas, quando h um crescente interesse dos

    SABRY, M. O. D.; S, M. L. B.; SAMPAIO, H. A. C. A dieta do paleoltico na preveno de doenas crnicas. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., So Paulo, SP, v. 35, n. 1, p. 111-127, abr. 2010

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    antroplogos nos modos de vida dos ancestrais caadores/coletores do perodo paleoltico,

    assim chamados porque sobreviviam caando e utilizando o que j havia na natureza.

    O interesse pela dieta dos ancestrais e a produo da pesquisa em torno da questo

    remontam ao fi nal da dcada de 80 (CORDAIN at al., 2005; EATON; EATON III; KONNER,

    1997; SIMOPOULOS, 2001), embora a dieta do paleoltico j tenha sido referida em 1975 pelo

    gastroenterologista Walter Voeglin, no seu livro The Stone Age Diet (BALZER, 2008).

    Embora no se tenha localizado de forma clara o incio da correlao da dieta do

    paleoltico com doena crnica, os estudos sobre essa temtica parecem ter sido mais

    intensifi cados a partir das descobertas de paleontologistas norte americanos (EATON;

    KONNER; SHOSTAK, 1988) de que o patrimnio gentico da humanidade, herdado de

    seus antepassados, pouco se alterou em milhares de anos de evoluo.

    Segundo esses autores essa descoberta levou a se pensar que em certos aspectos

    importantes o genoma coletivo humano se apresenta pobremente adequado para a

    vida moderna, ou seja, sob o ponto de vista gentico, os homens atuais se comparam

    aos caadores-coletores do paleoltico. Esta discordncia entre a situao biolgica e

    determinadas condies ligadas ao estilo de vida atual, tais como hbitos alimentares,

    irregularidade de exerccio fsico e exposio a substncias txicas como lcool e fumo,

    pode acentuar a infl uncia de fatores nocivos e promover a ocorrncia de doenas crnicas

    degenerativas (DCOURT, 1989).

    Desta forma, torna-se importante conhecer mais detalhadamente a dieta desses

    antepassados, sendo necessrio o desenvolvimento de tcnicas adequadas especifi cas

    para esse fi m.

    No entanto, determinar a dieta de homindeos extintos pode ser considerado um

    desafi o. As evidncias arqueolgicas se tornam pilares fundamentais neste entendimento

    (NESTLE, 1999).

    Segundo Giorgi et al. (2005), a investigao da dieta dos ancestrais pode ser conduzida

    com diferentes abordagens analticas incluindo o stio arqueolgico de estudo e anlise

    dos remanescentes de animais e vegetais, bem como das ferramentas utilizadas para a

    preparao dos alimentos. Aliado a isso, h ainda a anlise de remanescentes de esqueleto,

    com avaliao da dentio, desgaste dos dentes e do contedo gstrico e intestinal, sendo

    estes ltimos conservados somente em casos excepcionais e no necessariamente refl etindo

    a dieta habitual.

    Ainda segundo esses autores, nos ltimos anos, vrias tcnicas foram desenvolvidas

    para aperfeioar estas anlises, a partir da qumica ssea e da anlise isotpica biogeoqumica.

    A qumica ssea engloba o mtodo do oligoelemento e a anlise isotpica utiliza istopos

    de carbono e nitrognio. Detalhes destes mtodos constam na publicao citada, mas vale

    referir alguns pontos principais.

    O mtodo do oligoelemento avalia a fi xao de determinados minerais no osso,

    o que ocorre em direta proporo com a dieta ingerida. Assim, por exemplo, zinco e

    SABRY, M. O. D.; S, M. L. B.; SAMPAIO, H. A. C. A dieta do paleoltico na preveno de doenas crnicas. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., So Paulo, SP, v. 35, n. 1, p. 111-127, abr. 2010

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    cobre so ligados ao consumo de protenas animais, enquanto estrncio e magnsio so

    associados a dietas vegetarianas. O clcio, fundamental para a estrutura do esqueleto,

    um mineral mensurado com a proposta principal de eliminar erros de interpretao da

    fi xao ssea dos demais minerais. Da mesma forma, diferentes istopos de carbono e

    nitrognio so associados a alimentos ou grupos alimentares especfi cos. A utilizao

    destes mtodos, portanto, permite reconstruir um retrato razoavelmente homogneo

    das prticas nutritivas dos indivduos estudados (GIORGI et al., 2005).

    Reviso de Sillen e Kavanagh (1982) tambm mostra que essas tcnicas esto

    avanando a cada dia, permitindo estabelecer a proporo de consumo de vegetais e

    de carne na dieta do homem ancestral.

    Apesar do avano das tcnicas de determinao de tipos de dietas de populaes

    remotas, alguns estudiosos do assunto, como Bocherens e Drucker (2006) alertam

    para a difi culdade de inferir o consumo preciso e acurado de propores dos diversos

    nutrientes.

    CARACTERSTICAS DO HOMEM DO PALEOLTICO

    Como j comentado, a dieta do paleoltico foi referida pela primeira vez em 1975

    por Walter Voegtlin, que afi rmava ser o homem um animal carnvoro geneticamente

    adaptado dieta dos seus ancestrais que viveram h 10.000 anos (BALZER, 2008).

    A observao da anatomia do tubo digestivo humano, incluindo o formato e o tipo

    de dentes, o tipo de estmago, o comprimento do intestino e o apndice leva teoria

    de que a dieta ideal para a sade e o bem-estar dos seres humanos deve ser semelhante

    dos seus antepassados paleolticos (GIORGI et al., 2005).

    Desde as descobertas de Eaton, Konner e Shostak (1988), muitos estudos tm

    mostrado que os homens de Cro-Magnon eram idnticos, no plano morfolgico e

    gentico, aos homens de hoje. De acordo com Simopoulos (1999), a taxa de mutao

    do DNA est estimada em 0,5% por milho/ano. Desse modo, como j referido, segundo

    alguns autores, os 10.000 anos transcorridos no foram sufi cientes para provocar

    mudanas genticas considerveis (DCOURT, 1989; SIMOPOULOS, 1999).

    A literatura tem afi rmado, no entanto, que o estudo do esqueleto e dos dentes no

    sufi ciente para avaliar completamente o estado nutricional destes homens, embora possa

    fornecer muitas informaes sobre o seu estado de sade. Assim sendo, pensa-se que o

    homem do paleoltico tinha uma esperana mdia de vida reduzida principalmente pelo

    fato de conviver com uma grande mortalidade pr-natal e infantil, e com inmeras doenas

    infecciosas, bem como acidentes (CARDOSO, 2002). Apesar disso, evidncias histricas

    e ecolgicas mostram que o homem paleoltico era livre de doenas crnicas (OKEEFE

    JR; CORDAIN, 2004). Os ossos encontrados foram considerados imunes tuberculose,

    ao cncer, osteoporose e osteomalcia, e os esqueletos de crianas no apresentavam

    fraturas. Os raros velhos encontrados (com aproximadamente de 50 anos de idade),

    SABRY, M. O. D.; S, M. L. B.; SAMPAIO, H. A. C. A dieta do paleoltico na preveno de doenas crnicas. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., So Paulo, SP, v. 35, n. 1, p. 111-127, abr. 2010

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    mostraram leses banais de artrose. Os dentes tinham, ocasionalmente, algumas cries

    (UBELAKER, 2000).

    Os homens Cro-Magnon eram altos e magros e a atividade fsica entre eles era

    intensa, pois exercitavam-se diariamente para assegurar seus alimentos, gua e proteo,

    sendo pouco provvel a presena de obesidade androide e diabetes melito entre eles

    (CORDAIN; GOTSHALL.; EATON, 1998). Aparentemente, os antepassados do paleoltico

    superior eram homens adolescentes ou jovens adultos, sos, robustos e deviam possuir

    uma nutrio rica, equilibrada, adaptada s suas condies de vida, permitindo-lhes

    evitar as carncias em oligoelementos e em vitaminas (BALZER, 2008).

    ALIMENTAO NO PERODO PALEOLTICO E AS DOENAS CRNICAS

    O homem Cro-Magnon era onvoro (CORDAIN et al., 2000) e isso foi comprovado

    pelo estudo do estado dos dentes, pelo material de caa e pesca, pelo material de esmagar

    as sementes, os detritos alimentares, e por fi m da impossibilidade fi siolgica para a

    espcie Homo Sapiens ser exclusivamente carnvora (BALZER, 2008). Todos os alimentos

    consumidos diariamente pelos antigos ancestrais eram colhidos ou caados de plantas

    e animais silvestres em seu ambiente natural (O KEEFE JR; CORDAIN, 2004).

    Os estudos detalhados de populaes diversas dos caadores-coletores mostram

    que a alimentao dessas pessoas variava de acordo com a regio onde viviam. Em muitas

    regies estes povos obtinham 45% a 60% de suas calorias de alimentos de origem animal

    (CORDAIN et al., 2000; CORDAIN et al., 2002a), enquanto em outras essa utilizao era

    em torno de 35% (DOVAL, 2005). Outros autores ainda mostram percentuais um pouco

    mais altos, em torno de 55-65% (CORDAIN, 2002). O restante das calorias era oriundo

    das frutas, hortalias folhosas, tubrculos, razes, sementes e nozes (CORDAIN et al.,

    2000; CORDAIN et al., 2002a; DOVAL, 2005).

    Os alimentos de origem vegetal provavelmente estavam distribudos irregularmente

    por depender do ambiente onde eles se desenvolviam (RICHARD et al., 2005). Segundo

    alguns estudiosos (OKEEFE JR, CORDAIN, 2004) somente 14% da sociedade dos

    caadores-coletores obtinham mais do que 50% de suas calorias de fontes vegetais

    (CORDAIN et al., 2000; CORDAIN et al., 2002a).

    O homem do paleoltico vivia em clima temperado e frequentemente tinha que

    enfrentar perodos de inverno e durante essa poca muitos alimentos de origem vegetal

    no eram disponveis. Cedo esses homens adaptaram-se a estas circunstncias comendo

    a carne, os rgos, tutano e gordura animal durante os meses de inverno. As fontes

    predominantes da dieta eram carne de herbvoros, mamferos martimos, aves e peixes

    (RICHARDS et al., 2005). Estima-se que o consumo dirio de carne era em torno de 745g.

    Embora o consumo aumentado de carne em dietas ocidentais tenha sido associado com o

    aumento do risco cardiovascular, a sociedade dos caadores-coletores era relativamente

    SABRY, M. O. D.; S, M. L. B.; SAMPAIO, H. A. C. A dieta do paleoltico na preveno de doenas crnicas. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., So Paulo, SP, v. 35, n. 1, p. 111-127, abr. 2010

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    livre dos sinais e sintomas de doena cardiovascular (EATON; KONNER; SHOSTAK, 1988;

    CORDAIN et al., 2000; CORDAIN et al., 2002b). A carne do animal selvagem contm

    aproximadamente 2 a 4% de gordura por peso e contm relativamente altos nveis de

    gordura monoinsaturada e cidos graxos mega-3, enquanto as carnes domsticas

    podem conter de 20-25% de gordura por peso, muito sob a forma de gordura saturada

    (REDDY et al., 2002). Interessante comentar que provavelmente devido alimentao

    que ingeriam, a gordura dos animais continha 4% de cido graxo mega-3 sob a forma

    de cido eicosapentaenoico, inexistente na carne atual (DOVAL, 2005).

    Ainda no tocante ao cido graxo mega 3, este era abundante no s pelo consumo

    de carne como tambm de peixe e plantas (OKEEFE JR; CORDAIN, 2004).

    O alto consumo de carne, caracterstico desta poca, levava a um consumo elevado de

    colesterol, em torno de 480mg, segundo alguns autores (EATON, 1989), ou de 559mg/dia,

    segundo outros (DOVAL, 2005), j que o contedo de colesterol da carne dos animais

    silvestres igual ao dos animais domsticos.

    Assim, de acordo com Doval (2005) e Eaton (1989), as melhores estimativas

    sugerem que os nossos ancestrais ingeriam entre 21 e 35% das calorias totais da dieta

    como gordura, entre 35 e 45% como carboidrato e cerca de 30 a 34% como protena.

    A gordura saturada contribua com aproximadamente 7,5% do total de energia e a gordura

    trans em quantidades insignifi cantes. A ingesto de gordura polinsaturada era alta, com

    a relao mega 6/mega 3 aproximadamente de 2:1, contrastando com a relao atual

    de 10:1. Os carboidratos de frutas e hortalias contribuam com aproximadamente 50%

    da energia total enquanto hoje essa contribuio em torno de 16%, tomando como

    referncia a populao americana.

    Pesquisas mostram que as gorduras monoinsaturadas compunham aproximadamente

    a metade da gordura total da dieta dos caadores-coletores. Alm das carnes, o homem

    paleoltico utilizava as nozes como uma fonte facilmente acessvel de alimento de alta

    densidade calrica e nutritivo, o qual estava frequentemente disponvel em todos os

    meses do ano, exceto no vero. Era, portanto, um comportamento alimentar favorvel

    sade, pois segundo Albert et al. (2002), estudos epidemiolgicos mostram que o

    consumo de 5 ou mais pores de nozes por semana est associado com a reduo de

    50% do risco de infarto do miocrdio comparado com o risco de pessoas que raramente

    ou nunca comem nozes.

    Como a ingesto de frutas e hortalias era marcante, o consumo de fi bras era alto,

    chegando a 100g/dia, embora a mdia fosse 46g (DOVAL, 2005). Tambm elevada era a

    ingesto de vitaminas, minerais e (provavelmente) fi toqumicos, 1,5 a oito vezes mais do

    que hoje (EATON, 1989). O consumo de sdio era baixo, menor do que 1000mg/dia, e o

    do potssio era alto, acima de 10.000mg/dia. A ingesto de clcio era aproximadamente

    1620mg por dia, advindos das plantas forrageiras e da carne de cervo, excedendo os

    requerimentos mnimos. Isso foi certifi cado pelo tamanho dos ossos encontrados desses

    homens (DOVAL, 2005; EATON, 1989).

    SABRY, M. O. D.; S, M. L. B.; SAMPAIO, H. A. C. A dieta do paleoltico na preveno de doenas crnicas. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., So Paulo, SP, v. 35, n. 1, p. 111-127, abr. 2010

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    A dieta do paleoltico era adequada em protena animal, ferro, vitamina B12 e folato,

    o que no ocorre nas populaes urbanas e rurais no desenvolvidas do sculo XXI

    (DOVAL, 2005). Nossos antepassados paleolticos bebiam quase exclusivamente gua.

    Esta prtica benfi ca para a sade em geral e segundo Chan et al. (2002), a ingesto

    de 5 ou mais copos de gua por dia est associada com um risco mais baixo de doena

    arterial coronariana. O consumo de acares era muito baixo, sendo que o mel contribua

    com 2-3% da ingesto energtica, em comparao s taxas atuais de contribuio de

    acares refi nados, superiores a 18% (EATON, 1989; CORDIN et al., 2005).

    A mudana nesse padro alimentar teve incio a partir do Neoltico, isto , h cerca

    de 10 mil anos, talvez devido diminuio dos grandes animais pelo aumento da caa, s

    mudanas no clima e ao crescimento das populaes, o que levou o homem a comear

    a desenvolver a criao de animais e a agricultura (DOVAL, 2005; GOTTILIEB; CRUZ;

    BODANESE, 2008; OKEEFE JR.; CORDAIN, 2004).

    A agricultura alterou visivelmente a forma da nutrio humana. No decurso de

    poucos milnios, a proporo de carne diminuiu drasticamente, enquanto que os

    alimentos vegetais e os cereais como o trigo e o arroz passaram a constituir mais de 90%

    da alimentao (DOVAL, 2005; GOTTILIEB; CRUZ; BODANESE, 2008). Este fato elevou

    o nvel dos glicdios complexos. A carne teve, tambm, vrias transformaes, pois

    como j comentado a carne de gado mais gorda e tem uma distribuio diferente das

    gorduras em relao carne de animais silvestres. Os produtos lcteos passaram a ser

    consumidos, aumentando ainda mais a contribuio de gorduras saturadas. O sal apareceu

    na conservao dos alimentos, e o seu uso passou tambm a ser ditado pela progressiva

    sofi sticao do paladar (OKEEFE JR; CORDAIN, 2004).

    O sculo XIX e a era industrial acentuaram este fenmeno, aumentando a

    quantidade de gorduras saturadas, de carboidratos complexos e, sobretudo, de acares

    simples, reduzindo as fi bras, na dieta das populaes (DOVAL, 2005; OKEEFE JR;

    CORDAIN, 2004).

    Estas modifi caes nutricionais, em conjunto com o sedentarismo e o consumo de

    lcool, deram origem obesidade androide, com todas as suas consequncias metablicas

    e patolgicas bem conhecidas: o diabetes melito, as dislipidemias e a arteriosclerose

    (OKEEFE JR; CORDAIN, 2004). Estudos com aborgines Australianos permitem inferir

    que quando os caadores-coletores aceitaram o estilo de vida ocidental, estas e outras

    doenas da civilizao comearam a ser comuns (DANIEL et al., 1999).

    De fato, estudo de ossatura e dentes revelaram que a populao que mudou para

    uma dieta baseada em gros teve curto perodo de vida, uma mais alta mortalidade infantil

    e uma mais alta incidncia de osteoporose, raquitismo e vrias outras doenas relacionadas

    defi cincia de vitaminas e minerais (OKEEFE JR; CORDAIN, 2004).

    H quem afi rme, inclusive, que provavelmente a epidemia em curso de doena

    cardiovascular pelo menos em parte devido a estas discrepncias impressionantes

    SABRY, M. O. D.; S, M. L. B.; SAMPAIO, H. A. C. A dieta do paleoltico na preveno de doenas crnicas. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., So Paulo, SP, v. 35, n. 1, p. 111-127, abr. 2010

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    entre a dieta para a qual ns fomos designados para comer e o que ns comemos hoje

    (OKEEFE JR; CORDAIN, 2004; ROJAS et al., 2008).

    APLICABILIDADE DA DIETA DO PALEOLTICO NOS DIAS ATUAIS E A SUA UTILIDADE NA PREVENO DE DOENAS CRNICAS

    Como j comentado, a dieta mediterrnea tem sido colocada como uma das

    melhores opes na escolha de um padro alimentar saudvel (SIMOPOULOS, 2001).

    Nesta perspectiva, vale a pena comentar um estudo interessante realizado por Lindeberg

    et al. (2007) comparando o efeito da dieta do paleoltico e da dieta mediterrnea em

    um grupo de indivduos diabticos ou intolerantes glicose com doena isqumica do

    corao. Aps interveno de 12 semanas, o grupo que recebeu a dieta do paleoltico

    (carne magra, peixes, frutas, hortalias folhosos e crucferas, razes e tubrculos (incluindo

    quantidades restritas de batata), ovos e nozes, teve um aumento maior da tolerncia

    glicose do que o grupo que recebeu a dieta mediterrnea (cereais integrais, produtos

    lcteos pobres em gordura, batatas, leguminosas, hortalias, frutas, peixes, leos refi nados

    ricos em cidos graxos monoinsaturados e no cido alfa-linolnico). Esses resultados

    sugerem, segundo os autores, que as dietas saudveis baseadas em cereais integrais

    e nos produtos lcteos pobres em gordura poderiam no ser uma primeira, mas uma

    segunda melhor escolha na preveno e tratamento do diabetes tipo 2.

    Outro estudo interessante, seguindo esta linha, o de Osterdahl et al. (2008)

    que avaliaram durante 3 semanas o efeito da dieta paleoltica em um estudo piloto

    com voluntrios saudveis. Aps o perodo de interveno foi observado uma reduo

    do peso corporal (2,3Kg), do ndice de massa corporal (0,8), da circunferncia da

    cintura (0,5cm) e da presso arterial sistlica (3mmHg), assim como do inibidor do

    ativador de plasminognio-1 em 72%. Verifi cou-se ainda uma reduo da ingesto de

    energia em torno de 36%. Efeitos potencialmente favorveis foram destacados, como a

    composio de gordura, a presena de antioxidantes e a relao sdio/potssio. Uma

    caracterstica desfavorvel observada foi a no-cobertura adequada de clcio. Os autores

    concluram que essa dieta pode ser particularmente importante para prevenir eventos

    cardiovasculares e sugeriram pesquisas controladas para reafi rmar os efeitos benfi cos

    encontrado nesse estudo.

    Para Doval (2005), a dieta de nossos antepassados remotos, no momento em que

    se adequou seletivamente ao nosso acervo gentico, deveria ser um padro de referncia

    da dieta humana atual para defender-nos cada vez mais das enfermidades universais

    desenvolvidas pela civilizao atual.

    Embora no seja prtico, nem mesmo possvel, reproduzir hoje todas as

    circunstncias vividas na pr-histria, as caractersticas gerais do padro alimentar daquela

    poca podem servir como um modelo para projetar e testar intervenes efi cazes para

    reduzir a incidncia de doenas crnicas (OKEEFE JR; CORDAIN, 2004).

    SABRY, M. O. D.; S, M. L. B.; SAMPAIO, H. A. C. A dieta do paleoltico na preveno de doenas crnicas. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., So Paulo, SP, v. 35, n. 1, p. 111-127, abr. 2010

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    Nesse particular, vale ressaltar o estudo de Cordain (2002), que avaliou como

    as caractersticas nutricionais de uma dieta contempornea baseada nos 3 grupos de

    alimentos usados no paleoltico, pode ter impacto nos riscos de doenas crnicas.

    Nesta dieta, foram utilizados os 20 alimentos mais consumidos pela populao dentre

    os grupos alimentares das carnes, hortalias e frutas. Para anlise foram utilizados os

    seguintes alimentos que foram distribudos em 4 refeies: 1a: melo cantalupo e salmo;

    2a: salada de abacate, noz, alface, cenoura, pepino, tomate, lombo de porco magro

    cozido, temperado com molho de limo; 3a: salada com amndoa, abacate, cebola,

    tomate, brcolis, lombo de carne bovina magra assada e morangos; 4a: laranja, talos de

    aipo e cenoura.

    Na dieta referida, as calorias fi caram assim distribudas: 38% de protenas, 23%

    de carboidratos, 39% de gorduras. Tais valores se assemelham aos apontados como

    associados s sociedades agrupadas em torno da caa e logicamente diferem dos

    valores das dietas ocidentais tradicionais, 16% protena, 49% carboidrato, 34% lipdios

    (CORDAIN, 2002). Diferem tambm das recomendaes para uma dieta saudvel,

    adotadas em diferentes pases, inclusive no Brasil (BRASIL, MS, 2006; WORLD

    HEALTH ORGANIZATION, 2003). Destaque-se que todo o percentual extra de gordura

    foi representado por lipdios poli-insaturados e monoinsaturados; o percentual de

    contribuio calrica proveniente de gordura saturada fi cou em 7%; obteve-se uma

    proporo mega-3/mega-6 de 1,5:1. O colesterol tambm fi cou elevado, 461mg, em

    relao ao recomendado em uma dieta ocidental saudvel padro (300mg). Embora a

    dieta do paleoltico seja baixa em energia oriunda do carboidrato, ela densa em fi bras

    e a verso proposta chegou a 42,5g de fi bra. Quanto aos micronutrientes, as vitaminas

    A, B11 B2, B3, B6, B12, C, E e Folato, bem como os minerais fsforo, magnsio, ferro e

    zinco, atingiram mais de 100% das necessidades dirias ( poca segundo a RDA, 1989),

    exceo do clcio (69%). A dieta continha 12,5 vezes mais potssio que sdio: 726mg

    de sdio e 9062mg de potssio.

    Com isto os autores consideraram que possvel consumir uma dieta

    nutricionalmente adequada a partir de alimentos contemporneos que se aproximam

    do modelo padro baseado na dieta do paleoltico, apesar da excluso de dois grupos

    alimentares, o grupo de leite e derivados e cereais.

    Pelo exposto possvel perceber que a dieta contempla vrias das recomendaes

    para reduzir o risco de doenas crnicas. No entanto, apresenta algumas defi cincias,

    especialmente no aporte de clcio e na alta disponibilidade de protena que colabora

    com a perda urinria deste mineral, podendo tambm afetar a massa ssea provocando

    ou complicando as doenas osteoblsticas (CORDAIN, 2002).

    Tomando como direo a preveno das doenas crnicas, esta dieta estaria em

    muitos aspectos seguindo as recomendaes de uma dieta adequada. Mas at que nvel

    seria possvel adot-la, tendo-se como base hbitos alimentares j estabelecidos como,

    por exemplo, o uso de alimentos refi nados, acar e sal?

    SABRY, M. O. D.; S, M. L. B.; SAMPAIO, H. A. C. A dieta do paleoltico na preveno de doenas crnicas. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., So Paulo, SP, v. 35, n. 1, p. 111-127, abr. 2010

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    Outro aspecto a considerar quanto ao custo desta dieta, j que a protena de

    origem animal de alto custo. Alm disso, pode-se especular quanto ao alto consumo

    de protena e sua relao com a funo renal. Paddon Jones et al. (2008) referem que

    h pouca evidncia do prejuzo das dietas altas em protenas para a funo renal, com

    exceo para os doentes renais e idosos, cujas funcionalidades do rgo declina com a

    idade. Tambm na ltima Dietary Reference Intake DRI, se recomenda uma faixa de

    protena numa dieta normal varivel de 10 a 30% da ingesto calrica, sendo alegado que

    tal consumo no acarreta riscos sade (OTTEN; HELLWIG; MEYERS, 2006).

    Em linhas gerais, a dieta do paleoltico precisa ser adaptada para utilizao nos dias

    atuais. Abaixo seguem as recomendaes de dois estudiosos (OKEEFE JR; CORDAIN,

    2004) do assunto, que traduziram as concepes da dieta em princpios capazes de serem

    adotados na prtica:

    a) comer alimentos integrais, naturais e frescos; evitar alimentos altamente

    processados e de elevada carga glicmica;

    b) consumir uma dieta rica em frutas, hortalias, nozes, e sementes e baixa em gros

    refi nados e em acares. Alimentos de alto valor nutritivo e hortalias de baixa

    carga glicmica, tais como cerejas, ameixas, ctricos, mas, melo, espinafre,

    tomates, brcolis, couve-fl or, e abacates so os melhores;

    c) cumentar o consumo dos cidos graxos mega-3 atravs do consumo de peixe,

    leo de peixe e das fontes vegetais;

    d) evitar gorduras trans e limitar a ingesto de gorduras saturadas. Isto signifi ca

    eliminar alimentos fritos, margarinas, produtos de pastelaria e os alimentos

    industrializados. Substituir gordura saturada por monoinsaturada e polinsaturada.

    Incorporar leo de oliva e/ou leo de canola na dieta;

    e) aumentar o consumo de protena magra, como a de aves domsticas sem pele,

    de peixes e de carnes de caa, alm de cortes magros da carne vermelha. As

    carnes de caa no so especifi cadas pelos autores, mas sabe-se que atualmente

    existem vrios tipos disponveis comercialmente, como por exemplo: codorna,

    perdiz, javali, avestruz.

    f) evitar produtos lcteos ricos em gordura, carnes embutidas, defumadas e curadas;

    Embora os autores no especifi quem claramente, fi ca subentendido que na

    adaptao proposta podem ser utilizados produtos lcteos desnatados.

    g) beber gua em abundncia;

    h) praticar exerccios diariamente, incorporando atividade aerbica e treinamento

    com exerccios de fora. As atividades ao ar livre so ideais.

    Embora tenha sido localizado um nmero limitado de estudos de interveno da

    dieta do paleoltico em seres humanos (LINDEBERG et al., 2007; OSTERDAHL et al., 2008),

    bem como experimentais (JNSSON, et al., 2006), pode ser observado que os efeitos

    preventivos da dieta do paleoltico se apiam em outros estudos cientfi cos que verifi cam

    o efeito dos nutrientes no organismo humano.

    SABRY, M. O. D.; S, M. L. B.; SAMPAIO, H. A. C. A dieta do paleoltico na preveno de doenas crnicas. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., So Paulo, SP, v. 35, n. 1, p. 111-127, abr. 2010

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    Lindeberg, Cordain e Eaton, (2003) apontam que as pesquisas produzidas de 1985 a

    2002 mostram que a dieta do paleoltico, se baseada em carnes magras, peixes, verduras,

    hortalias e frutas, pode ser efetiva na preveno e tratamento de doenas crnicas como

    as doenas cardacas, diabetes e resistncia a insulina e portanto por analogia levaria a

    uma tima presso arterial, peso adequado e ndice de massa corporal saudvel e uma

    boa resposta insulina. Desse modo, a dieta passvel de ser recomendada. Por outro

    lado, os autores admitem que so necessrias mais pesquisas em seres humanos, embora

    considerem que seus fundamentos so sustentveis.

    CONSIDERAES FINAIS

    O maior desafi o da dieta do paleoltico, caso comprovada sua supremacia sobre

    as outras opes de um padro alimentar saudvel, sua colocao na prtica. Nessa

    perspectiva, necessrio que sejam desenvolvidos estudos tanto direcionados para

    comprovar se existe uma maior efetividade na preveno das doenas crnicas, como

    para avaliar sua aplicabilidade no mbito coletivo da incorporao como hbito alimentar,

    inclusive com anlises da viabilidade econmica de tal incorporao.

    No resta dvida, pelo exposto na presente reviso, que muito de sua composio

    no encontra respaldo em outras diretrizes alimentares. Enquanto a maioria das

    recomendaes atuais contempla 5 ou 6 grupos alimentares, a dieta do paleoltico

    contempla apenas trs grupos. O contexto de vida dos nossos ancestrais no que se refere

    a um estilo de vida foi desenvolvido em outras condies infraestruturais. Replicar

    tudo isto um exerccio complexo, pois alimentos e/ou nutrientes, por si s, no atuam

    isoladamente, mas em conjunto com determinados contextos ambientais.

    Por outro lado, na perspectiva da preveno das doenas crnicas alguns aspectos

    da dieta merecem um destaque por serem fatores protetores: a composio de gordura,

    a baixa carga glicmica dos componentes da dieta, o equilbrio do sdio e potssio, o

    alto contedo de fi bras, a presena equilibrada da maioria dos micronutrientes. Isto

    tudo ajustado atividade fsica mais vigorosa poderia promover no homem moderno

    um equilbrio conducente sade.

    Um aspecto que no poderia deixar de ser enfocado o risco de se aderir a novas

    propostas sem a devida avaliao das mesmas. Infelizmente, sempre que novos caminhos

    para a sade so apontados, a popularidade dos mesmos avana frente das pesquisas

    cientfi cas. Quanto mais diferente parece ser uma proposta, tambm mais sedutora ela

    parece se tornar. Assim, ao se entrar em sites populares de busca na internet, utilizando

    as palavras-chave dieta e paleoltico, possvel hoje se encontrar vrios endereos

    eletrnicos de apologia dieta do paleoltico, alm de divulgao de livros sobre tal

    dieta, englobando desde receitas at recomendaes de utilizao para as mais diferentes

    situaes, como por exemplo, para perda ponderal e para atletas. fundamental que os

    profi ssionais de sade acompanhem as discusses sobre este tema, a fi m de poderem

    orientar adequadamente a populao.

    SABRY, M. O. D.; S, M. L. B.; SAMPAIO, H. A. C. A dieta do paleoltico na preveno de doenas crnicas. Nutrire: rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., So Paulo, SP, v. 35, n. 1, p. 111-127, abr. 2010

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    Recebido para publicao em 11/03/09.Aprovado em 04/03/10.

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