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CARACTERIZAÇÃO DE TINTAS LÁTEX PARA CONSTRUÇÃO CIVIL:

DIAGNÓSTICO DO MERCADO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Josias Marcelino da Silva (1) , Kai Loh Uemoto (2)

(1) Químico, Mestrando da Escola Politécnica da USP – [email protected] (2) Química, Prof. Dra. da Escola Politécnica da USP – [email protected]

RESUMO

A grande variedade de tinta látex encontrada no mercado dificulta a seleção de produtos,

parte importante de um projeto de construção. Não são encontrados critérios de

desempenho para distinguir diferentes classes de tinta dentre as existentes no mercado.

Neste trabalho é apresentado um diagnóstico do mercado, realizado por meio da

caracterização de tinta látex coletadas na região metropolitana da cidade de São Paulo.

O diagnóstico, com base nos resultados dos ensaios realizados em tintas das cinco

classes, permitiu emitir uma proposta de especificação com base nas propriedades que

melhor diferenciaram as tintas látex. Essa especificação constitui uma ferramenta de

escolha de tintas látex para a construção civil, além de contribuir para a especificação

técnica no País.

ABSTRACT

The variety of latex paints found in the market, makes it difficult to establish

specifications, which is an important part of a construction project. There is no reference

to performance criteria that allows distinguishing different paint classes among the

existing ones in the market.

This work presents a diagnosis that was accomplished through the characterization of

latex paints collected within São Paulo City metropolitan area.

Based on the results of tests done on paints of the five different classes, the diagnosis

allowed the issuing of a proposal for specification built on the characteristics that best

differentiated the latex paints.

This proposal specification method constitutes a choice tool for latex paints used in the

building industry, as well as a contribution to technical specifications in this Country.

1

1 INTRODUÇÃO

O segmento Tintas Imobiliárias representa, em média, 77% da produção e 60% do

faturamento anual da indústria nacional de tinta, o que corresponde ao consumo de 662

milhões de litros e ao faturamento de 792 milhões de dólares.

Apesar deste elevado consumo de tinta e os valores envolvidos, não existem critérios de

desempenho1 para a escolha da tinta mais adequada, sendo efetuada a seleção das tintas

látex com base, principalmente, no preço. A indicação de tinta látex acrílica para

exteriores e tinta látex PVA para interiores das edificações ainda é a mais comum. No

entanto, essa indicação é considerada insuficiente para consumidores em geral e

sobretudo para o engenheiro civil, em virtude da variação de desempenho entre os

produtos disponíveis e da falta de informações técnicas pertinentes.

Mesmo as designações de mercado, tais como: linha Econômica, linha Standard e linha

Premium como forma de diferenciar o desempenho das tintas látex não estão associadas

a critérios técnicos.

Esta demanda dificulta sobretudo a seleção de produtos pelas equipes técnicas dos

governos Federal, Estaduais e Municipais, que são os maiores consumidores indiretos

por meio da promoção de programas sociais de moradia, como, por exemplo, a

Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano – CDHU e a Companhia de

Habitação - COHAB, além de consumir volume expressivo de tinta látex na manutenção

dos edifícios públicos como escolas e hospitais. Suprir esta demanda é fundamental

frentes aos prejuízos consideráveis no processo de licitação do setor público uma vez

que, a Lei 8.666 de 21 de junho de 1993 – “Licitações e Contratos Administrativos” –

obriga-os a adquirirem qualquer tipo de produto pelo menor preço. Especificações

vagas, sem definirem com exatidão o produto objeto da licitação, são suscetíveis à

1 Conjunto de especificações e procedimentos que visam representar tecnicamente as exigências do usuário segundo as Normas Técnica vigentes. São expressos de forma a possibilitar a análise objetiva do atendimento ou não às exigências estabelecidas (Projeto de Norma 02:136.01.001:2002, ABNT, 2004, disponível para consulta em www.cobracon.gov.br).

2

contratação de serviços de pintura ou à compra de tintas inadequadas e com pequena

durabilidade.

Ressaltam-se algumas das ações que resultaram dessa situação:

• 1997: o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT

elaborou uma proposta de especificação direcionada, principalmente a órgãos

públicos, onde constavam valores mínimos para as propriedades:2:

permeabilidade à água, poder de cobertura, resistência à abrasão e resistência ao

crescimento de fungos emboloradores.

• 2001: a Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (ABRAFATI) lançou o

Programa Setorial da Qualidade de Tintas Imobiliárias, que iniciou

estabelecendo o que se designou como critérios mínimos de desempenho para as

tintas “Látex econômica” (classificação estabelecida pelo próprio setor, visando

estabelecer o desempenho mínimo aceitável às tintas látex de preço mais

acessível).

• 2004: a Associação Brasileira de Normas Técnicas publicou a norma técnica

NBR 15.079 “Tintas para construção civil – Especificação dos requisitos3

mínimos de desempenho de tintas para edificações não industriais – Tintas látex

econômica nas cores claras” (ABNT, 2004).

2 OBJETIVO

Este boletim técnico tem como objetivo divulgar o resultado da pesquisa realizada na

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, para o diagnóstico de tintas látex

disponíveis no mercado da região metropolitana da cidade de São Paulo.

2 A proposta de especificação pode ser consultada em SILVA, 2005. 3 Requisitos de desempenho: Condições qualitativas que devem ser cumpridas, a fim de que sejam satisfeitas as exigências dos usuários.

3

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Tinta látex

A designação Tinta látex deriva do aspecto das emulsões utilizadas no processo de

fabricação, que se assemelham ao produto da seringueira conhecido como látex. As

tintas látex são constituídas por 3 componentes principais: a resina ou polímero,

também chamada de veículo não volátil, o pigmento e o solvente. Um quarto

componente igualmente importante são os aditivos que adicionados às tintas, em

quantidades inferiores a 5%, proporcionam características especiais ou melhorias nas

propriedades das mesmas.

As resinas utilizadas nas tintas látex são obtidas por processo de polimerização em

emulsão e por vezes, os termos resina e emulsão são utilizados, no mercado de tintas,

como sinônimos quando se trata da composição de tinta látex.

Os principais componentes que participam de uma polimerização em emulsão são:

• Monômeros: menor partícula que se repete dentro da estruturas molecular de um

polímero. Os acetatos de vinila, cloreto de vinila, ácido acrílico e seus esteres

(acrilatos), ácidos metacrílicos e seus ésteres (metacrilatos), estireno, vinil-tolueno,

anidrido maleico e seus ésteres são os principais monômeros utilizados na produção

de tinta látex;

• Meio dispersante: meio líquido no qual os diferentes componentes estão dispersos.

Nas tintas látex o meio dispersante é a água;

• Emulsionante4: Substância química que contém em sua molécula, uma extremidade

da cadeia polimérica lipofílica (grupo não polar) e a extremidade oposta, hidrofílica

(grupo polar). A principal ação do emulsionante é a redução da tensão superficial

entre a fase que contem o monômero e a fase aquosa.

4 O termo correto deve ser tensoativo devido a composição química e pela ação que exerce no processo de emulsão.

4

• Iniciador: Substância química solúvel em água capaz de formar radicais livres por

mecanismos de decomposição térmica ou por oxi-redução5.

Fatores que influenciam o desempenho da resina na formulação de tintas são discutidos

por diversos pesquisadores (PARKER, 1968); (WALDIE et al, 1983); (FAZENDA,

1995).

Os pigmentos são substâncias inorgânicas ou orgânicas, utilizados com a finalidade de

promover cor, opacidade, consistência, durabilidade, que se apresentam dispersos na

tinta e não devem ser solúveis para que não ocorram reações químicas com os demais

compostos. As propriedades do pigmento serão totalmente aproveitadas se o mesmo

estiver completamente disperso no meio.

Um dos parâmetros mais utilizados para associar a formulação ao desempenho das tintas

é o PVC - Pigment Volume Content definido como sendo a fração volumétrica

percentual do pigmento sobre o volume total de sólidos do filme que inclui a resina:

Onde,

• Vp é o volume de pigmento;

• Vv é volume de veículo não volátil (resina).

A quantidade de matérias-primas e a manipulação das mesmas na formulação permitem

a fabricação de tinta látex com diferentes desempenhos. O formulador procura

desenvolver a tinta de maneira a ter a melhor relação custo-benefício, uma das razões

que pode explicar a diferença de preços encontrados para os diferentes tipos de tinta

látex do mercado.

5 Chama-se reação de oxi-redução o mecanismo em que um composto químico cede ou ganha elétrons tornando-se instável do ponto de vista eletroquímico.

Vp PVC= Vp + Vv

(2)

5

3.2 Revisão da bibliografia estrangeira

Os primeiros trabalhos com referência à avaliação de pinturas foram iniciados no início

do século XX, período em que é encontrada na bibliografia metodologia para diversos

ensaios de caracterização e de desempenho em tinta. Em 1909 têm-se registros de

ensaios de exposição ao intemperismo natural em campos de envelhecimento de

propriedade do Washington Laboratory (GARDNER; SWARD, 1962).

As tintas látex para construção civil surgiram por volta de 1929 quando foi descoberto o

processo de polimerização em emulsão, que possibilitou a polimerização dos

monômeros vinílicos e acrílicos em meio aquoso (ROBERTS, 1968). Já nessa época, a

tinta látex constituída de emulsão acrílica era considerada de melhor desempenho e

durabilidade, em relação a vinílica, quando aplicada em áreas externas das edificações,

sendo atribuído à mesma, maior resistência ao intemperismo - calor, radiação solar e

intempéries (PARKER, 1968).

Roberts (1968) ressaltou a importância de se considerar a natureza do substrato, o tipo

de uso (proteção, decoração), a aparência, as limitações de aplicação (toxidez,

inflamabilidade, odor, tempo de secagem), modo de aplicação (pincel, aspersão, etc.) e

custo para selecionar o sistema de pintura adequado. Outros aspectos relevantes são: o

ambiente (interno ou externo), vida útil desejável (durabilidade elevada ou pintura

temporária), propriedades físico-químicas (resistência química a ácidos, bases,

detergentes, resistência ao calor, frio, radiação solar, entre outros). Portanto, devem ser

conhecidos os aspectos gerais de uma edificação e as características e propriedades das

tintas para que seja realizada uma seleção adequada ao uso.

São encontradas na bibliografia diversas formulações para obtenção de tinta látex, com

diferentes acabamentos (fosco, semibrilho e brilhante) e indicações de uso tanto interno

quanto externo das edificações. As propriedades das emulsões (acrílicas ou vinílicas)

tais como distribuição de tamanho de partículas dos polímeros, peso molecular,

flexibilidade, resistência à água, dureza, entre outras, influenciarão diretamente o

comportamento da tinta látex (WALDIE et al, 1983).

6

O levantamento bibliográfico evidenciou diversos trabalhos propondo melhorias no

desempenho das tintas, tais como, aumento da resistência à água de tintas de base látex

por adição de componentes hidrófobos (KELLY, 2003), adição de biocidas para

preservação do filme de tinta contra o ataque de fungos e algas (SADASIVAN, 2003) e

adição de produtos coalescentes para melhorar a formação do filme e assim melhorar o

desempenho deste (ROBE; MITCHELL, 2003).

3.2.1 Normalização estrangeira

A Tabela 3.1 apresenta o resultado do levantamento de normas técnicas estrangeiras para

tinta destinada a aplicação em alvenaria.

Tabela 3.1 - Normas técnicas estrangeiras de classificação e de especificação para tinta para revestimento de alvenaria

Identificação/ano Organização Título

AS 3730.1 / 1992

Australian Standard Guide to the properties of paints for buildings – Part 1: Latex –Interior – Flat

AS 3730.2 / 1992

Australian Standard Guide to the properties of paints for buildings – Part 2: Latex –Interior – Semi-gloss

AS 3730.3 / 1992

Australian Standard Guide to the properties of paints for buildings – Part 3: Latex –Interior – Low-gloss

BPS 462 / 1991

Philippine Nacional Standards

Paints and Varnishes – Gloss Latex Paint (White and Ligths Tints for Exterior and Interior Use) – Specification

BPS 463 / 1991

Philippine Nacional Standard

Paints and Varnishes – Semi Gloss Latex Paint (White and Ligths Tints for Exterior and Interior Use) – Specification

BS EN 1062-1 / 1997

British Standard Paints and varnishes – Coatings materials and coating systems for exterior masonry and concrete – Part 1 Classification

BS EN 13300 / 2001

British Standard Paints and varnishes – Water-borne coating materials and coating systems for interior walls and ceilings – Classification

BS EN ISO 7783-2 / 1999

British Standard

Paints and varnishes – Coatings materials and coating systems for exterior masonry and concrete – Part 2: Determination and classification of water-vapour transmission rate (permeability)

CGSB 1.138 / 1997

Canadian General Standards Board

Exterior Latex Flat Paint

Continua

7

Conclusão

Identificação/ano Organização Título

CGSB 1.195 /

1999 Canadian General Standards Board

Interior Látex Semigloss Paint

FEDSPEC A-A-2246B

Federal Specifications Paint, Latex (Gloss and Semigloss, Tints and White) for Interior Use

IRAM 1217 – 1968

Instituto Argentino de Racionalizacion de

Materiales

Pinturas Sinteticas Blancas Y de Base Blanca, de Acabamento Semimate.

JIS K 5660 – 1995

Japanese Industrial Standard

Synthetic resin emulsion paints, glossy type

JIS K 5663 – 1995

Japanese Industrial Standard

Synthetic resin emulsion paints

NF T 30-804 / 1981

Norme Francaise Peintures pour le bâtiment - spécifications des peintures microporeuses pour façades

SIRIM MS 134 / 1989

Standards and Industrial Research Institute of

Malaysia

Specification for Latex Emulsion Paints for Exterior and Interior Use Second Revision

A maioria das normas acima citadas, com seus requisitos e respectivos critérios, é

comentada por Silva (2005).

3.3 Revisão da bibliografia nacional

A primeira indústria de tintas no Brasil data de 1886, instalada na cidade de Blumenau.

O grande avanço do século XX foi a produção e a comercialização das tintas solúveis

em água que, inicialmente, eram constituídas de caseína e óleo, além de pigmentos,

umectantes, emulsionantes e dispersantes. O início da comercialização das tintas látex

ocorreu em 1950, sendo que as propriedades que as destacaram das tintas existentes na

época foram “fácil aplicação, durável, lavável e inodora” (TELLES, 1989).

De acordo com Notta (1991) na década de 50 as tintas látex baseadas em copolímeros

estireno-butadieno foram comercializadas com sucesso, sendo substituídas por emulsões

vinílicas e acrílicas, na década de 60, devido à maior resistência à radiação ultravioleta.

A partir da década de 50, com o desenvolvimento da indústria nacional, muitas resinas

foram sintetizadas, surgindo tintas para as diversas aplicações, no entanto até hoje existe

8

pouca bibliografia sobre o desempenho das tintas do mercado nacional.

Data do início da década de 80 o documento técnico intitulado “Edificações

Habitacionais – Elementos, revestimentos e proteções, pinturas internas e externas sobre

paredes e / ou tetos” (IPT, 1983). Dentre as conclusões, constam critérios para a

permeabilidade à água, aplicados em avaliação de tinta látex para alvenaria não revestida

com argamassa. Dessa forma fica registrada a preocupação com desempenho das tintas

quanto à proteção e não apenas quanto ao o aspecto decorativo. Estudos realizados por

Uemoto e Hehl (1988) aplicando os critérios propostos na publicação do IPT, concluem

que a maioria das tintas do mercado no final da década de 80 não atendia aos critérios

estabelecidos e, portanto não era recomendável a utilização de tinta látex aplicada

diretamente sobre alvenaria de blocos de concreto, ou de blocos cerâmicos, sem o

devido revestimento em argamassa.

Em 1989 foi realizado o primeiro “Simpósio Nacional de Tecnologia de Tintas”6

considerado o mais importante veículo de disseminação da tecnologia de tinta para a

indústria brasileira.

A disseminação no uso das tintas látex é atribuída à facilidade de aplicação e de

manuseio, por ser base água, bem como à possibilidade de se obter diversos tipos de

acabamentos, tais como fosco, acetinado7 e brilhante. O aspecto de brilho obtido nas

pinturas látex depende, dentre outros fatores, do tipo de emulsão (vinílica, acrílica,

acrílica-estirenada) utilizada em sua composição, do peso molecular e da temperatura

mínima de formação de filme destas emulsões. As propriedades das tintas látex serão

influenciadas pelo tipo de emulsão e essas podem ser manipuladas conforme

combinações de monômeros durante o processo de produção do polímero (WEYNE,

1989).

A produção de emulsões com diferentes propriedades possibilitam formulações de tinta

6 A partir da segunda edição o simpósio passou a ser chamado de “Congresso Internacional de Tintas”, sendo realizado a cada 2 anos. 7 O termo acetinado é utilizado para descrever o aspecto intermediário de brilho entre fosco e semibrilho.

9

látex com diferentes propriedades e desempenho. As tintas látex brasileiras de primeira

linha possuem qualidade compatível com as tintas comercializadas internacionalmente,

porém tintas látex de terceira linha é uma peculiaridade do Brasil. O surgimento dessa

classe de tinta deve-se à condição econômica do país, que induz os fabricantes a

produzirem produtos com baixo custo. No caso das tintas, esses produtos possuem

menor rendimento e menor durabilidade, logo, não é uma solução recomendável quando

se busca economia nas construções (ROTH, 1993).

Destacam-se ainda dentre as publicações nacionais, Rodrigues et al. (1997), Uemoto

(1998), Uemoto (2002), Shirakawa et al (2003), e Simões (2003) que abordam temas

quanto o papel da tinta na proteção de substratos e suas propriedades tais como

resistência ao crescimento de microorganismos.

3.2.2 Comparação entre os critérios de desempenho nacionais e estrangeiros

No início da década de 90, por solicitação de construtoras e outros usuários de tintas, foi

implantada, na Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a Comissão de

Estudos de Tintas para Edificações não Industriais – CE-02:115.29, com o objetivo de

elaborar procedimentos de ensaio, normas de terminologia, de classificação e de

especificação de tinta para edificações não industriais. Em 2004 foi publicada a NBR

15.079 “Tintas para construção civil – Especificação dos requisitos mínimos de

desempenho de tintas para edificações não industriais – Tintas látex econômica nas

cores claras” (ABNT, 2004).

A Tabela 3.2 apresenta a síntese dos critérios de desempenho encontrados nas normas de

especificação estrangeiras e brasileira, para diferentes propriedades da tinta látex

aplicada em construção civil não industriais. Silva (2005) comenta as diferenças

observadas entre as normas.

10

Tabela 3.2- Comparação entre as especificações estrangeiras e a especifica brasileira Limites especificados

Propriedades Brasil NBR 15.079

Austrália AS 3730

USA FEDSPEC A-A-2246B

Argentina IRAM 1217

Japão JIS K5660 e K5663

França NF T 30-804

Resistência à

abrasão sem

pasta abrasiva

��FLFORV�(espessura do filme úmido =

175µm)

- - Satisfatório a 2500

ciclos

Alto brilho = 1000 ciclos Externa = 500 ciclos Internas = 100 ciclos (espessura do filme úmido = 150µm)

-

Resistência a

abrasão com

pasta abrasiva

- -

Classe 1 e 2 – 400 ciclos

Classe 3 e 4 – 150 ciclos

- - -

Lavabilidade - Após 500 ciclos Perda de brilho ��

4 UB

Após 100 ciclos: Classe 1,2 ��GD�

refletância inicial Classe 3 e 4 ��GD�

refletância inicial. Classe 1, 2 e 3 –

variação máxima de 20% de brilho

Classe 4 – variação menor que 5 UB

Após 200 ciclos Sem alteração de cor e de

brilho - -

Poder de

cobertura

Tinta seca ��4m2/L a 98,5% de razão de contraste Tinta úmida 55% à

espessura de 75 µm

Tinta seca ��ao consumo de

16 m2/L

Tinta seca = ��ao consumo de 11

m2/L

Pfund placa 3,5 – Pinturas brancas – 18

Pinturas de base branca –24

Tinta seca -93% a 95% a espessura de 150µm

Tinta seca ��m2/kg

a razão de contraste de

98%)

Continua

11

Limites especificados

Propriedades Brasil NBR 15.079

Austrália AS 3730

USA FEDSPEC A-A-2246B

Argentina IRAM 1217

Japão JIS K5660 e K5663

França NF T 30-804

Brilho (UB) - Brilhante >20�� Semibrilho >5��

Fosca ��

Alto brilho- �� Semibrilho 45 a 60

Baixo brilho 15 a 30 Fosca – 5 a 15

Semifosco e uniforme no filme de tinta

Brilhante �� -

Grau de

moagem -

Tinta fosca - ��µm

Tinta semibrilho - ��P

Tinta brilhante – ��40 µm

Classe 1- ��P Classe 2, 3 ��P

Classe 4 ��P ��P - ��P

Tempo de

secagem - Total ��K

Ao toque ��K Total ��

Ao toque - ��K Total ��

20ºC - ��K 5ºC - ��K

��K

12

4 Programa experimental

4.1 Pesquisa de mercado

As informações foram obtidas em catálogos de fabricantes de tintas látex ou .junto aos

lojistas, região metropolitana da cidade de São Paulo, por meio de conversas informais,

onde o pesquisador identificava-se como consumidor leigo sobre os produtos do

mercado, suas indicações e preços, com interesses em selecionar tintas adequadas para

os diferentes usos.

A pesquisa revelou a existência de cinco classes designadas neste trabalho como M1,

M2, M3, M4 e M5, sendo a letra M oriunda da palavra “Mercado” e o numeral

indicativo da classe. Os demais dados são comentados no item 5, deste boletim.

4.2 Revisão bibliográfica

A revisão bibliográfica, apresentada resumidamente no item 2, foi realizada por meio de

consulta a bibliografia considerada relevante para a indústria de tintas e para os usuários,

as normas de classificação e de especificação de tinta látex existentes no estrangeiro e no

Brasil.

4.3 Programa experimental

4.3.1 Coleta de amostras

A coleta de amostras das cinco classes de tinta encontradas no mercado foi realizada na

região metropolitana da cidade de São Paulo, sendo observados os seguintes critérios:

• disponibilidade no mercado de pelo menos 3 anos;

• pertencentes aos principais fabricantes do país que são no total de cinco e

13

responsáveis por mais de 80% da distribuição de tintas látex no Brasil (informação

verbal)8.

Como alguns dos fabricantes selecionados não possuíam tintas de todas as classes, para

perfazer o total de 50 amostras, completou-se com tintas de outros fabricantes. Foram

envolvidos na pesquisa produtos de 15 fabricantes.

As amostras foram reunidas em dez conjuntos (A a J), de modo que cada um deles

contivesse uma amostra de cada classe de tinta. Cada amostra, então, recebeu a

designação X-Y, onde X é a letra (A a J) que identifica o conjunto ao qual a amostra

pertence e Y a codificação alfa numérica (M1 a M5) que identifica a classe de tinta à

qual a amostra pertence.

4.3.2 Seleção de ensaios

Os ensaios realizados e métodos utilizados constam da Tabela 4.1.

Tabela 4.1– Tipos de ensaio, propriedades e métodos utilizados. Tipo de ensaio Propriedades Métodos

Massa específica NBR – 5.829/84 Teor de sólidos, de resina e de

pigmento ASTM – D 3.723/99 Caracterização

Identificação de resina por IV ASTM- D 3677

Tinta líquida

Desempenho Poder de cobertura úmida NBR – 14.943/03

Coordenadas de cor NBR – 15.077/04 Caracterização Brilho Projeto ABNT

02:115.29-007 Abrasão sem pasta abrasiva NBR – 15.078/04 Abrasão com pasta abrasiva NBR – 14.940/04

Porosidade NBR – 14.944/03

Película de tinta seca

Desempenho

Resistência ao ultravioleta – UVB ASTM G 154/00 Poder de cobertura seca em cartão NBR – 14.942/03

Permeabilidade à água Projeto ABNT 02:115.29-013

Sistema de pintura

Desempenho Resistência à fungos

emboloradores Projeto ABNT 02:115.29-011

8 FAZENDA, J.M. Curso Tecnologia de tintas e vernizes. São Paulo, ABRAFATI.

14

4.1 Análises dos resultados experimentais

A análise dos resultados foi conduzida de modo a:

• identificar valores específicos das características e propriedades para cada classe

de tinta e diferenças significativas que justifiquem, ou não, a classificação

existente no mercado;

• atribuir a diferença de preço existente entre as cinco classes de tinta à presença

de um determinado componente pela correlação dos teores de sólidos, de resinas

e de pigmentos com o preço da tinta;

• verificar como a composição das tintas influencia as suas propriedades;

Para avaliar todas as correlações utilizou-se o Método dos Mínimos Quadrados com a

interpretação do coeficiente de correlação R2. O valor numérico do Coeficiente de

correlação (R2) foi interpretado com base na proposta de Shimakura, 2002.9

5 RESULTADOS

5.1 Pesquisa de mercado

As tintas látex são classificadas de acordo com área de aplicação, sendo que via de

regra, o tipo de tinta destinada à aplicação em superfícies internas da construção pode

possuir menor resistência às intempéries que o tipo destinado às superfícies externas

das construções.

As designações Látex PVA e Látex Acrílico nem sempre correspondem à composição da

tinta. Essa designação é utilizada no mercado pelo fato do consumidor associar estes

dois tipos de resinas ao desempenho da tinta, sendo que a tinta de base acrílica é

considerada como a de maior durabilidade, menor permeabilidade e maior aderência.

9. SHIMAKURA, S. E. Interpretação do coeficiente de correlação. Disponível em http://www.est.ufpr.br/~silvia/CE003/node74.html. Acesso em 23 dez. 2004.

15

A pesquisa evidenciou que o mercado agrupa as tintas látex em cinco classes sendo, três

de acabamento fosco e duas de acabamento brilhante, as quais recebem as designações:

Vinil acrílica, Látex PVA, Acrílica Fosca, Acrílica Acetinada e Acrílica semibrilho.

5.2 Resultados experimentais

Na Tabela 5.1 são apresentados os valores mínimos e máximos de algumas das

propriedades avaliadas nas 50 amostras de tintas látex coletadas na região metropolitana

da cidade de São Paulo. Os resultados individuais dessas e de outras propriedades de

cada amostra são apresentados e comentados por Silva (2005).

Tabela 5.1- Valores mínimos e máximos das propriedades de cada classe de tinta

Classes de tinta látex Característica /

Propriedade Vinil Acrílica Látex PVA Acrílica Fosca

Acrílica acetinada

Acrílica semibrilho

Teor de sólidos (%, massa)

37,5 a 50,2 35,6 a 52,0 37,8 a 50,2 33,3 a 48,4 28,4 a 50,1

Teor de resinas (%, massa)

2,7 a 8,0 4,3 a 13,0 5,1 a 14,0 15,9 a 18,8 12,3 a 21,5

Teor de pigmentos (%, massa)

34,1 a 46,5 30,4 a 45,9 32,1 a 41,1 19,8 a 29,7 16,1 a 28,6

Brilho (UB) ≤ 3 6 a 17 17 a 38 Resistência à abrasão com pasta (ciclos)

2 a 81 15 a 570 19 a 537 148 a 1452 67 a 1365

Resistência à abrasão sem pasta (ciclos)

6 a >1000 21 a >1000 >1000

Poder de cobertura de tinta

seca (m2/L) 1,0 a 5,8 2,2 a 7,1 4,0 a 7,0 4,2 a 6,3 4,2 a 8,3

Porosidade – Razão de

contraste (%) 19,0 a 50,5 35,6 a 77,6 41,5 a 88,8 92,4 a 96,0 93,2 a 96,4

Absorção de água por

capilaridade 48h (%)

89,6 a 99,6 76,0 a 96,8 47,5 a 98,8 9,6 a 55,0 9,6 a 86,1

16

6 Conclusões

6.1 Diagnóstico do mercado

O diagnóstico apresentado na Tabela 5.1 possibilita a cada fabricante de tinta látex

confrontar as propriedades de seus produtos com os evidenciados pelo estudo e,

também, conhecer o potencial do mercado quanto às propriedades das tintas látex.

Este diagnóstico pode contribuir para a melhoria da qualidade no setor, se o fabricante

optar por produzir tintas com desempenho e preço compatíveis.

6.2 Proposta de especificação de tinta látex

De acordo com a pesquisa, as propriedades que melhor diferenciam as tintas látex são:

teor de resinas, PWC, brilho, resistência à abrasão com pasta abrasiva, poder de

cobertura de tinta úmida, porosidade (suscetibilidade à impregnação de sujidades), e

absorção de água por capilaridade. Com base nos resultados é apresentada na Tabela 6.1

uma proposta de especificação para tintas látex.

Tabela 6.1- Proposta de especificação para tintas látex Classes de tinta látex

Foscas Brilhantes Característica / Propriedade F1-

Econômica F2 F3

B1 acetinada

B2 semibrilho

Brilho �� 8 a 11 21 a 32 Resistência à abrasão

com pasta <100 100 a 300 301 a 600 > 600

Resistência à abrasão sem pasta ≥ 100 (a)

Poder de cobertura de tinta seca (m2/L) 3,5 a 5,0 >5,0

Suscetibilidade à impregnação de sujidades (%)

70 a 65 64 a 60 59 a 10 < 10

Absorção de água por capilaridade 48h (%) > 80 59 a 79 < 30 30 a 60

Resistência ao crescimento de fungos

aos 14 dias (nota) ��D��GH�FUHVFLPHQWR�VREUH�D�iUHD�WRWDO�GR�FRUSR-de-prova)

(a) não aplicável

17

Os teores de resinas e PWC não foram incluídos nesta proposta para possibilitar ao

fabricante a liberdade de formulação.

O poder de cobertura de tinta seca foi incluído na proposta de especificação por ser uma

propriedade importante do ponto de vista econômico.

A resistência ao crescimento de fungos emboloradores foi incluída na proposta de

especificação por ser considerada importante do ponto de vista estético e de salubridade

do ambiente.

6.3 Outras considerações

A pesquisa realizada por Silva (2005) mostrou que a resina é o componente, cujo teor na

composição da tinta, melhor explica a variação de preço das tintas látex encontradas no

mercado. O coeficiente de correlação linear encontrado foi R2=0,78 o que explica 78%

das ocorrências nesta pesquisa.

De maneira geral a determinação do teor de resina mostra-se útil para deduzir as

propriedades de desempenho das tintas látex. Porém, para cada propriedade a ser

correlacionada existem faixas críticas de teor de resinas que devem ser observadas para,

se necessário, confirmar a propriedade com o ensaio específico.

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