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Capítulo 1 Renascimentos 2 Capítulo 2 Formação dos Estados Nacionais 18 Capítulo 3 Grandes Navegações 34 Capítulo 4 Reformas religiosas 50 Volume 1

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Capítulo 1

Renascimentos 2

Capítulo 2

Formação dos Estados Nacionais 18

Capítulo 3

Grandes Navegações 34

Capítulo 4

Reformas religiosas 50

Volume 1

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capí

tulo

Renascimentos1

Ao examinar as manifes-

tações intelectuais e culturais

dos seres humanos em uma

época específica, é possível

compreender como enten-

diam o mundo e em que sus-

tentavam suas ideias para ex-

plicar os fenômenos naturais

e históricos.

Ao observar esta ima-

gem, o que você pode dizer

sobre a sociedade que a pro-

duziu? Em sua percepção, o

que tal sociedade valorizava?

Conceito de Idade Moderna

Humanismo Renascentista

Península Itálica – berço

do Renascimento

Renascimento científico

Expansão do Renascimento

na Europa

o que vocêvai conhecer

2

VAN EYCK, Jan. Retrato de Giovanni Arnolfini e sua esposa. 1434. 1 óleo

sobre carvalho, color., 82 cm × 60 cm. Galeria Nacional, Londres.

©Galeria Nacional, Londres

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Compreender o conceito de Idade Moderna.

Identificar as principais características do período conhecido por Idade Moderna.

Aprender as características dos humanis-mos em contraposição às ideias filosófi-cas e religiosas da Idade Média.

Reconhecer a importância da Península

Itálica como local de surgimento e difu-são do Renascimento.

Conhecer as características das três fases do Renascimento italiano.

Compreender como aconteceu a expan-são dos renascimentos pela Europa.

Identificar os principais artistas e cientis-tas renascentistas.

objetivos do capítulo

Conceito de Idade Moderna

As transições ocorridas na Europa com a crise do século XIV colaboraram para estabele-

cer o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna, um período de tempo que se estendeu,

aproximadamente, do século XV ao final do século XVIII.

Os fatos históricos mencionados

foram escolhidos por historiadores

como marcos, porque as

transformações vão acontecendo

aos poucos: as ideias novas

surgiam e, por um tempo,

conviviam com as antigas, até

que estas fossem superadas.

HOUËL, Jean-Pierre. A Tomada da Bastilha. 1789. 1 aquarela sobre papel, color., 50 cm × 38 cm. Biblioteca Nacional da França, Paris.

©Bibliothèque Nationale de France

ZONARO, Fausto. MohaMmad II, entrando em Constantinopla.

1903. 1 óleo sobre tela, color., 100 cm × 72 cm. Palácio de

Dolmabahçe, Istambul.

Entrada dos turcos em

Constantinopla, em 1453

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Dois fatos históricos marcaram o início e o fim da Idade Mo-

derna: respectivamente, a queda da cidade de Constantinopla em

decorrência da invasão turca em 1453 e a Tomada da Bastilha,

evento que deu início à Revolução Francesa em 1789.

Nesse período de transição para a Idade Moderna, novas es-

tratégias empregadas nos campos político, econômico, social e

cultural alteraram o antigo mundo feudal. O resultado contribuiu

para que a Europa Ocidental passasse a viver uma nova fase de

sua história.

Os novos caminhos surgidos decorreram do crescimento e do fortalecimento da bur-

guesia. Assim, os burgueses foram os disseminadores dos novos valores e comportamentos.

A burguesia valorizava o conhecimento, o enriquecimento pelo trabalho, as ar-

tes e, principalmente, a dimensão individual em detrimento da dimensão coletiva. Nas

universidades, pensadores e intelectuais começaram a difundir novas ideias sobre o

ser humano.

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Escreva uma definição do que foi a Idade Moderna.

organizando a história

Humanismo Renascentista

Os humanismos foram movimentos de intelectuais, surgidos no final da Idade Média e

visavam à implantação de um ensino que incluísse estudos de Filosofia, História e Literatura,

com base em textos dos antigos gregos e romanos, com o intuito de que mais pessoas pu-

dessem estudá-los. Neste capítulo, vamos nos concentrar nas características do Humanismo

Renascentista, mas é importante considerar que, ao longo dos séculos, muitos movimentos

filosóficos, científicos e artísticos foram fortemente influenciados pelo Humanismo, por isso

seria mais correto falar em “humanismos”.

Na realidade, esse grupo guiava-se, sobretudo, pelos princípios e valores que haviam vi-

gorado na Antiguidade Clássica, preservados pelo helenismo. Os indivíduos e suas realizações

passaram a ser a grande preocupação desses pensadores e a estética clássica tornou-se uma

referência nas artes.

No teto da Capela Sistina, localizada no interior do Vaticano, uma pintura representa a criação do ser humano. Nela Deus está transmitindo a Adão a vida. No afresco de Michelangelo, Deus está cercado por anjos e Adão está nu, no paraíso. A imagem de Deus, semelhante a um homem, porém mais velho, começou a ser difundida pelos renascentistas. Trata-se de uma interpretação da Bíblia, segundo a qual o ser humano

foi criado à imagem e semelhança de seu criador. Além de Michelangelo, diversos artistas retrataram cenas bíblicas, como Leonardo da Vinci e Sandro Botticelli, nomes de

expressão dentro do movimento renascentista.

©Shutterstock/Creative Lab

Os humanistas

valorizavam a indi-

vidualidade. Cada

pessoa era vista

como um ser único,

que podia manifes-

tar suas ideias. Os

artistas, por exem-

plo, passaram a

assinar suas obras

e buscavam o reco-

nhecimento pelo

seu trabalho.

BUONARROTI, Michelangelo. A criação de Adão. [1510-1511]. 1 afresco, color., 280 cm × 570 cm. Capela Sistina, Cidade do Vaticano. Detalhe.

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História

As ideias humanistas eram antropocêntricas, uma vez que os seres humanos passaram a

ser o foco central das preocupações, diferentemente do que havia ocorrido ao longo da Idade

Média, período no qual as ideias eram teocêntricas, colocando-se Deus no centro de tudo.

Os pensadores desse período não eram contra a Igreja nem ateus, mas suas ideias re-

presentavam uma ruptura com o pensamento medieval, quando a Igreja interferia em todos

os aspectos da vida cotidiana das pessoas. Um dos valores considerados pelos Humanismo

era o hedonismo, a busca pela felicidade e pelas conquistas materiais ainda na vida terrena.

Isso diferia do pensamento estabelecido no período medieval, em que se acreditava que a

felicidade viria posteriormente, com a vida eterna.

A forma de pensar e entender as questões do dia a dia também foi discutida. Passou-se a

considerar que o conhecimento deveria ser obtido pela observação, pela dedução, pela pes-

quisa e pela experimentação, sem levar em conta somente a revelação sobrenatural. Esses

processos deram origem à doutrina conhecida como racionalismo.

O Humanismo Renascentista não se restringia a um estudo do passado e sua imitação:

buscava-se inspiração na cultura clássica para reinterpretar o mundo e transformá-lo. Os

europeus tomaram por base a cultura clássica, mas deixaram em suas produções e estudos

o registro das experiências e características das sociedades nas quais estavam inseridos, le-

gando ao mundo obras inéditas, inovadoras e revolucionárias.

1 Quais eram os principais valores humanistas?

2 Cite dois princípios seguidos pelos humanistas que eram contraditórios aos ideais que vigoravam

durante a Idade Média. Em seguida, explique a contradição relacionada a cada princípio.

Península Itálica – berço do Renascimento

Florença, Pádua, Milão e Veneza foram considerados os maiores centros de arte e de

estudos do início da Idade Moderna. Foi no território onde hoje está situada a Itália que o

Renascimento teve início.

organizando a história

SILVA, Kalina V.; SILVA, Maciel H. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2013. p. 359.

Renascimento significa o momento histórico que se inicia e tem seu apogeu nas cidades italianas do século XV, de renovação das expressões artísticas ligadas às mudanças de menta-lidade do período, com a ascensão da burguesia. Ele está em conexão com o Humanismo, ou seja, com a retomada dos estudos sobre a Antiguidade clássica.

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O Renascimento foi um conjunto de mudanças que atingiu vários países e muitas áreas do

conhecimento, como a Filosofia, a Religião, as Ciências e a Política. Na Europa, em cada lugar se

desenvolveu de um modo específico. Portanto, assim como no caso do Humanismo, seria mais

correto utilizar o plural “renascimentos”.

O fato de a herança cultural romana (construções,

estradas, obras de arte, etc.) ter sido mais bem conser-

vada na região onde atualmente se localiza a Itália ex-

plica parte da força do Renascimento italiano. Além dis-

so, foi para essa região que seguiram os habitantes de

Constantinopla ao fugirem da invasão promovida pelos

turcos à sua cidade, em 1453. Ao chegarem à Europa fo-

ram denominados sábios, por saberem ler e escrever, e

sua presença serviu para incrementar ainda mais o mo-

vimento de busca por novas culturas e conhecimentos.

O rico comércio da Península Itálica com o Orien-

te e outras regiões da Europa garantiu dinheiro para

investir em novos estudos. Movimentadas, as cidades

italianas eram os locais certos para encontrar artis-

tas e pensadores que conseguiam apoio de mercado-

res bem-sucedidos, de famílias nobres e até mesmo

de religiosos. Esses patrocinadores eram chamados

de mecenas. Cosimo de Médici é um exemplo, foi um

banqueiro de Florença, considerado um

dos grandes mecenas do Renascimento

italiano.

Era comum os mecenas encomendarem obras em que eles mesmos eram re-

tratados como figuras inspiradas em deuses ou heróis da cultura grega. Com o objetivo de per-

petuar sua imagem, os mecenas também pagavam artistas para construir pequenas capelas para

os futuros túmulos. Esse desejo de eternizar a imagem por meio da arte está associado a um

dos mais marcantes aspectos renascentistas: a valorização do ser humano, especialmente do

indivíduo.

PONTORMO, Jacopo da. Retrato de Cosimo de Médici, o Velho. [1518-1520]. 1 óleo sobre madeira, color., 86 cm × 65 cm. Galeria dos Ofícios, Florença.

DA VINCI, Leonardo. Feto no ventre. 1511. 1 caneta e giz sobre papel, color., 22 cm × 30,4 cm. Coleção Real, Inglaterra.

Registro de um dos estudos de Leonardo da Vinci sobre os embriões humanos (1510-1513).

Ele desenhou uma imagem que, embora impossível de ser vista na época, apresentava muita semelhança com a realidade.

Grande parte dos artistas renascentis-

tas era ligada às ciências. Para poder pro-

duzir uma pintura ou uma escultura, mui-

tos estudavam os textos antigos e o corpo

humano, observavam a natureza, entre ou-

tras técnicas.

©Galeria dos Ofícios, Florença, Itália

©Royal Collection, United Kingdom

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História

Não raramente, os conhecimentos originários das pesquisas humanistas eram utilizados

para garantir a segurança das cidades contra os invasores e ladrões por meio da criação de

pontes, fortificações e armas. Em se tratando da arquitetura, os conhecimentos adquiridos

nesse período contribuíam ainda para o embelezamento das cidades.

Grandes mestres do Renascimento italiano, como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Sandro

Botticelli e Rafael Sanzio, representaram os valores desse movimento em suas obras. Nelas,

é possível observar a variedade de cores, a preocupação com a perspectiva e o conhecimento

acerca da anatomia humana. No caso de Leonardo da Vinci, os estudos de engenharia também

influenciaram em seus trabalhos.

Conheça um pouco da história de dois mestres do Renasci-

mento italiano: Leonardo da Vinci e Michelangelo Buonarroti.

DA VINCI, Leonardo. Autorretrato. [1510-1515]. 1 giz sobre papel, color., 33,3 cm × 21,3 cm. Biblioteca Real, Turim.

Leonardo da Vinci (1452-1519) nasceu em Vinci, na Itália. É con-

siderado um dos maiores artistas do Renascimento. Recebeu do pai

uma educação elementar: aprendeu a ler e a escrever, além de alguns

conhecimentos matemáticos.

Aos 24 anos, tornou-se aprendiz de pintura; seis anos depois,

mudou-se para Florença, já um grande centro renascentista. Foi pin-

tor, escultor, arquiteto e músico e tinha conhecimentos de Botânica e

Engenharia. Seus inúmeros desenhos demonstram que conhecia ou-

tras ciências, como Astronomia, Anatomia e Mecânica. Assim como

outros artistas, Da Vinci teve o apoio de vários mecenas poderosos,

que encomendavam suas obras.

Morreu aos 67 anos, na França, onde prestava serviços para o

rei Francisco I.

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VOLTERRA, Daniele da. Retrato de Michelangelo Buonarroti. 1553. 1 lápis de chumbo e giz sobre papel. Museu Teyler, Haarlem.

Michelangelo Buonarroti (1475-1564) nasceu em Capre-

si, na Itália. Aos 6 anos, perdeu a mãe e foi entregue pelo pai a

uma ama de leite, cujo marido era cortador de mármore. Aos

15 anos, ingressou como aprendiz em um ateliê de Florença.

Lá, aprendeu pintura, mas acabou optando pela escultura,

pois a considerava mais rica em possibilidades de expressão.

Suas obras se caracterizam pela grandiosidade e pela ex-

pressão de grande conhecimento acerca da anatomia huma-

na. Em pouco tempo, seu talento foi descoberto e ele passou

a ser um dos famosos escultores de Florença. A ele foi enco-

mendada a decoração do teto da Capela Sistina, em Roma,

com as figuras dos doze apóstolos.

Faleceu aos 88 anos e foi sepultado em Florença, na Itá-

lia, conforme seu desejo.

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atividades

1 Encontre no quadro as palavras que completam o texto a seguir, referente à origem do Renascimento.

O Renascimento teve início na Península Itálica com a renovação das expressões liga-das às mudanças de . Este movimento manteve conexão com o

. Nessa época, foram para Itália os moradores de , fugidos do ataque em sua cidade. Eles eram chamados de , pois sabiam ler e escrever.

Nas movimentadas italianas, os encontravam o apoio dos , que encomendavam e . Grande parte desses artistas também era ligada às ciências.

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Trecento foi assim denominada por tratar-se

do século XIV (1301-1400), fase inicial do Renasci-

mento. Ela se caracterizou pela transição entre os

valores medievais e os renascentistas.

Destacaram-se, nesse período, o escritor Dante

Alighieri, o poeta Petrarca e o pintor Giotto.

DI BONDONE, Giotto. Apresentação de Cristo no templo. [ca. 1310]. 1 afresco, color., 45,1 cm × 43,8 cm. Igreja de São Francisco, Assis, Itália.

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Península Itálica – berço do Renascimento

O Renascimento nas cidades italianas é geralmente dividido em três fases: Trecento,

Quattrocento e Cinquecento. Nelas, o mundo artístico foi marcado pela presença de pinto-

res, escultores, poetas e escritores.

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História

Quattrocento corresponde ao período do século XV (1401-1500). Ela marcou o despon-

tar de Florença como o grande centro cultural e artístico do Renascimento.

São expoentes desse período os escultores Filippo Brunelleschi e Donatello e os pinto-

res Fra Angelico e Sandro Botticelli.

BOTTICELLI, Sandro. Primavera. 1482. 1 têmpera sobre madeira, color., 201 cm × 313 cm. Galeria dos Ofícios, Florença.

polímata: pessoa que tem conhecimento profundo em muitas áreas.

SANZIO, Rafael. Escola de Atenas. 1509. Afresco. Museus Vaticano, Cidade do Vaticano.

Cinquecento marca o século XVI (1501-1600) como o último

em que se observou o esplendor do Renascimento na Península

Itálica.

Esse período foi caracterizado pelas obras do arquiteto

Donato Bramante, do polímata Leonardo da Vinci, do pintor e escultor Michelangelo e dos

pintores Ticiano e Rafael Sanzio.©

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1 Elabore um conceito para:

a) Humanismo.

b) Renascimento.

2 Agora, estabeleça a relação entre os movimentos humanista e renascentista. Você pode elaborar

um fluxograma ou escrever um pequeno texto para registrar suas ideias.

organizando a história

Renascimento científico

Na busca por novos conhecimentos, os renascentistas procuravam observar o ambiente e

fazer experiências para comprovar suas ideias sobre os fenômenos que regulavam a vida humana

e a natureza.

O aprofundamento em estudos e a criação de instrumentos diversos, como o compasso,

a luneta e o telescópio, ajudaram na elaboração de leis para explicar tais fenômenos.

Nesse contexto, a ciência moderna tomava forma, pautada nas investigações de Nicolau

Copérnico, Galileu Galilei, Johannes Kepler, entre outros.

Durante a Idade Média, existia a crença de que todo o Universo girava em torno da Ter-

ra. Essa teoria era chamada de geocentrismo. No século XVI, o astrônomo polonês Nicolau

Copérnico questionou essa teoria. Com base em cálculos do filósofo grego Aristarco de Sa-

mos (que viveu no século III a.C.), Copérnico desenvolveu um modelo matemático com a teo-

ria do heliocentrismo, demonstrando que a Terra se movia em torno do Sol.

Utilizando os cálculos de Copérnico, Galileu Galilei produziu fórmulas e instrumentos

capazes de observar o movimento não só da Terra, como de outros astros.

Anos depois, Johannes Kepler foi responsável por refazer e aprimorar os cálculos da

teoria heliocêntrica de Copérnico, ajudando a comprová-la. Kepler também contribuiu para

o aperfeiçoamento do telescópio desenvolvido por Galileu Galilei. Entretanto, sua maior co-

laboração para a astronomia renascentista foi o estudo das órbitas dos astros. Para Copérni-

co, elas eram circulares. Kepler, por sua vez, afirmou que cada corpo celeste executava uma

trajetória em órbita elíptica. A Igreja reagiu a essas descobertas e perseguiu diversos desses

estudiosos, pois os conhecimentos que eles difun-

diam explicavam os fenômenos segundo leis da na-

tureza, e não com base em leis divinas. A teoria de-

fendida pelos cientistas renascentistas contradizia

o que a Igreja havia ensinado por séculos, ou seja,

que a Terra era o centro do Universo.

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useo Galileo, Florença

Compasso de proporção criado por Galileu Galilei, em 1600. Era um instrumento que permitia realizar operações geométricas e aritméticas

com o objetivo de explorar a proporcionalidade entre os lados de triângulos. Faz parte do acervo do Museu Galileu, em Florença.

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História

Essa perseguição aos cientis-

tas renascentistas levou vários de-

les a condenações. Galileu Galilei,

por exemplo, uma vez convocado

a prestar contas sobre suas des-

cobertas aos membros do clero,

precisou negar o heliocentrismo

para evitar a condenação à morte.

Ainda assim, foi condenado à pri-

são domiciliar pelo resto da vida.

BANTI, Cristiano. Galileu frente ao tribunal da

inquisição romana. 1857. Coleção particular.

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Sistematize as informações sobre o Renascimento científico de acordo com o que está indicado no esquema a seguir.

organizando a história

O Renascimento científico possibilitou a organização da

Eles foram perseguidos pela Igreja da época porque

Os principais cientistas foram

Ela nasceu pois os cientistas buscavam

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Expansão do Renascimento na Europa

A partir do século XV, o movimento renascentista começou a espalhar-se por outros paí-

ses da Europa, mas sem o mesmo vigor que teve na Península Itálica. Cada nação desenvol-

veu a cultura renascentista de acordo com suas condições culturais e socioeconômicas.

Pintura

Nos Países Baixos (Flandres e Holanda), a pintura re-

nascentista encontrou um campo fértil em razão da re-

gião se encontrar em uma fase de grande desenvolvimen-

to comercial, o que favoreceu o amplo incentivo ao campo

artístico. Esse estilo de pintura, ao mesmo tempo em que

se empenhava em retratar o luxo e o requinte da vida

burguesa, preocupava-se em apresentar a pobreza, os ho-

mens simples e suas festas populares, casamentos e feiras

das aldeias. Seus mais notáveis representantes foram os

irmãos Jan e Hubert van Eyck, Hieronymus Bosch e Pieter

Bruegel. Você se lembra da imagem de início do capítulo?

Vamos analisá-la juntos.

1. O casal pintado por Jan van Eyck representa não só a burguesia como as ideias renascentistas de forma geral. Um dos aspectos importantes para a análise dessa obra é a observação do cenário retratado de forma fiel à realidade. Esse tipo de organização dentro de casa não era comum no período feudal, uma vez que as moradias camponesas eram simples, e os senhores moravam em castelos. Alguns elementos revelam a condição econômica privilegiada do casal, tais como as laranjas que vinham do sul da Europa e o tapete proveniente do Oriente que está ao lado da cama.

Na época, em ambientes refinados, era habitual a existência de uma cama, mesmo que o cômodo não fosse um quarto. A esposa é retratada com a cintura arredondada, mas não significa que estivesse grávida. O vestuário usado era comum para as mulheres e poderia fazer menção à sua vocação para a maternidade.

2. Bruegel se destacou por mostrar a vida dos camponeses. Nessa obra, ele apresenta uma festa de casamento. Observe

as diferenças entre as roupas e o ambiente retratados por Pieter Bruegel e Jan van Eyck.

BRUEGEL, Pieter. A boda camponesa. 1567. 1 óleo sobre madeira, color., 114 cm × 164 cm. Museu de História da Arte, Viena.

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História

HOLBEIN, Hans. Os embaixadores. 1533. 1 óleo sobre carvalho, color., 209,5 cm × 207 cm. Galeria Nacional, Londres.

Representação de embaixadores ladeados por uma estante com objetos que remetem ao mundo das artes e da ciência no Renascimento.

HOLBEIN, Hans. Erasmo de Roterdã. 1525. 1 óleo sobre madeira, color., 76 cm × 51 cm. Biblioteca Bodleiana, Oxford.

©Galeria Nacional, Londres

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A expressão artística na re-

gião que atualmente se encon-

tra a Alemanha foi influenciada

pelas Reformas Religiosas. Os

pintores de maior expressão na

época foram Albrecht Dürer e

Hans Holbein.

Filosofia, literatura e teatro

Na Holanda, a filosofia teve destaque com Erasmo

de Rotterdam (1469-1536), que representou os mais

altos ideais do pensamento renascentista no Norte da

Europa. Erasmo acreditava na bondade inata do ser hu-

mano e afirmava que toda miséria e injustiça desapare-

ceriam se os sistemas políticos e religiosos levassem o

ser humano a fazer uso da razão, criando possibilidades

para afastá-lo da ignorância, da superstição e do ódio.

Suas obras de destaque são Elogio da loucura (crí-

tica ao dogmatismo dos teólogos e à ignorância e cre-

dulidade das pessoas), Colóquios e A lamentação da

paz (manifestação de seu horror às guerras e do des-

prezo pelos príncipes despóticos).

Na França, os representantes do Renascimento

na literatura foram François Rabelais (1490-1553) e

Michel de Montaigne (1533-1592). Com a comédia

Gargântua e Pantagruel, Rabelais satirizou a Igreja me-

dieval, as superstições e a repressão e pregou o culto à

razão, ao amor, à justiça e à liberdade.

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Em Portugal, destacaram-se Gil Vicente, autor de Auto da barca do inferno, e Luís Vaz

de Camões, autor de Os lusíadas, epopeia que narra as conquistas marítimas portuguesas.

CARNEIRO, Antônio. Camões lendo Os Lusíadas aos Frades de São Domingos. 1927. 1 óleo sobre tela. Casa-Museu António Carneiro, Porto.

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TAYLOR, John. William Shakespeare. Retratos de Chandos. [ca. 1610]. 1 óleo sobre tela, color., 55,2 cm × 43,8 cm. Galeria Nacional de Retratos, Londres.

Na Inglaterra, destacaram-se, entre outros,

o filósofo Thomas Morus (1476-1535) e o tea-

trólogo William Shakespeare (1564-1616).

Na obra Utopia, Thomas Morus chamou

atenção para os abusos políticos e religiosos e

propôs um mundo sem extremos de riqueza e

miséria e sem guerras.

William Shakespeare é considerado um dos

maiores teatrólogos de todos os tempos. Suas

obras continuam sendo encenadas nos palcos

do mundo todo. Nelas, identificam-se valores

renascentistas como a honra, o heroísmo e a

luta entre o destino e a sorte. Suas obras mais

conhecidas são Otelo, Romeu e Julieta, Hamlet,

Rei Lear, Macbeth, O mercador de Veneza e So-nhos de uma noite de verão.

Na literatura espanhola, teve destaque

Miguel de Cervantes, autor de Dom Quixote,

obra que ironiza a cavalaria medieval.

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Muitos foram os artistas que se destacaram durante o Renascimento na Europa. No material

de apoio você encontrará três obras desse período. Observe-as atentamente. Na página 1, faça uma pesquisa para encontrar as informações referentes à cada obra, completando as fichas. Siga as orientações do professor para preencher as fichas da página 2.

pesquisa

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Page 15: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br€¦ · Retrato de Michelangelo Buonarroti. 1553. 1 lápis de chumbo e giz sobre papel. Museu Teyler, Haarlem. Michelangelo Buonarroti (1475-1564)

História

1 Marque com um X as alternativas que apresentam informações corretas relacionadas ao Humanismo.

a) ( ) Os intelectuais e sábios visavam à implantação de um ensino que incluísse estudos de Filo-sofia, História e Literatura.

b) ( ) Os humanistas se inspiravam em textos religiosos da Idade Média.

c) ( ) O pensamento humanista estava voltado para a valorização do ser humano e de suas ações.

d) ( ) Para os humanistas, os seres humanos tinham recebido um dom especial de Deus: a razão.

e) ( ) As ideias humanistas eram teocêntricas, uma vez que Deus passou a ser o centro das preocupações.

f) ( ) Os humanistas valorizavam a individualidade, ou seja, cada pessoa era vista como um ser único que podia manifestar suas ideias.

2 Reescreva as alternativas que não foram marcadas na questão anterior, de forma que se tornem corretas.

3 A Itália teve um papel de destaque no início da Idade Moderna. Quais condições possibilitaram que o país assumisse essa posição?

4 Entre os diversos fatores que possibilitaram o surgimento do movimento renascentista na Penín-sula Itálica, encontra-se o incentivo dado às artes e às ciências pelos mecenas. Sobre os mecenas, responda:

a) Quem eram essas pessoas?

b) Quais foram as principais razões que motivaram esses indivíduos a se tornarem “benfeitores” das artes?

o que já conquistei

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Page 16: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br€¦ · Retrato de Michelangelo Buonarroti. 1553. 1 lápis de chumbo e giz sobre papel. Museu Teyler, Haarlem. Michelangelo Buonarroti (1475-1564)

5 Complete o quadro a seguir com as informações sobre o Renascimento na Península Itálica.

Em que período ocorreu o Renascimento na Itália?

Qual era a inspiração dos artistas desse movimento?

Quais fatores favoreceram a difusão desse movimento?

Cite três teorias defendidas durante o Renascimento.

Escreva o nome de pelo menos três artistas que se destacaram no

Renascimento italiano.

6 Por que a burguesia foi importante na disseminação de novos valores sociais e culturais do Renascimento?

7 A ciência moderna surgiu durante o Renascimento. Sobre esse fato, responda às questões a seguir.

a) Quais foram as condições para esse surgimento?

b) Escreva o nome de três representantes da ciência nesse período.

c) Comente algumas das invenções e ideias que surgiram no decorrer do Renascimento.

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História

8 Complete o esquema sobre a expansão do Renascimento na Europa (fora da Península Itálica) com o nome dos representantes de cada arte.

Literatura

França Portugual Espanha

Filosofia

Inglaterra Países Baixos

Teatro

Inglaterra

Países Baixos Território da atual Alemanha

Pintura

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capí

tulo

Formação dos Estados Nacionais 2

Um grande desafio que se apresentou aos mo-

narcas que viveram entre o final da Idade Média e

o início da Idade Moderna foi unir territórios que ti-

nham em comum a devoção à Igreja e obedeciam a

diferentes senhores feudais em um único Estado.

Para a criação de um Estado Nacional, esses mo-

narcas valiam-se de alguns meios, como as alianças

por meio de casamentos, a aproximação com a Igreja,

o apoio da burguesia e o uso de símbolos e rituais que

reforçassem a ideia de nação. Você consegue iden-

tificar algum desses elementos na obra de Jacques

Laumosnier? Como eles estão representados?

Características da Europa moderna

Formação dos Estados Nacionais e absolutismo

Teóricos do absolutismo

Processo de centralização política na Europa Ocidental

Sociedade de corte

Mercantilismo: política econômica dos Estados Nacionais

o que vocêvai conhecer

LAUMOSNIER, Jacques. Casamento de Luís XIV e Maria Teresa. 1660. 1 óleo sobre tela, color., 89,1 cm × 130 cm. Museu de Tessé, Le Mans, França.

© Museu de Tessé, Le Mans. França

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História

Identificar as principais características da Idade Moderna.

Compreender os processos que levaram à formação dos Estados Nacionais na Europa.

Relacionar as ideias dos teóricos absolu-tistas ao processo de centralização dos Estados Nacionais.

Identificar as particularidades do pro-cesso de formação da Inglaterra, da

França, da Espanha, de Portugal e do Sacro Império Romano-Germânico.

Conhecer as características da sociedade de corte.

Identificar as principais características do mercantilismo.

Conhecer as transformações causadas no início da Idade Moderna em função do mercantilismo.

objetivos do capítulo

Características da Europa moderna

A Idade Média foi marcada pela descentralização do poder, que ficava fragmentado nas

mãos dos senhores feudais. O fim desse período se estabeleceu por um conjunto de fatores,

entre eles o surgimento das cidades, o aparecimento de uma nova classe (a burguesia) e o

aumento do comércio.

O grupo dos burgueses aumentava sua influência adquirindo terras de senhores feudais

arruinados, o que pouco a pouco deslocaria o eixo da economia para as atividades comerciais

no meio urbano.

O poder que os senhores feudais exerciam era limitado à administração de suas terras

e, vez ou outra, de algumas vilas. Com as transformações decorrentes do século XIV e XV,

especialmente a diminuição da população, em virtude do surto de peste negra, a exploração

dos trabalhadores tanto no campo como nas cidades aumentou. Contudo, as ideias huma-

nistas contribuíram para que os trabalhadores se revoltassem e reivindicassem melhores

condições de trabalho. Esse fato gerou distúrbios na vida cotidiana organizada em feudos.

Essas perturbações não poderiam ser contidas com os pequenos exércitos mantidos pelos

senhores feudais e, em pouco tempo, acabaram desestabilizando também o comércio.

A nobreza, que cultivou pouco poder durante a Idade Média, percebeu que o enfraque-

cimento do poder feudal levaria ao fortalecimento político de sua classe. Aliou-se, então, à

burguesia, a qual, por sua vez, estava descontente com o sistema de pesos e medidas, que va-

riava de feudo para feudo, dificultando seus negócios.

Na tentativa de proteger o comércio, os burgueses

apoiaram a iniciativa da nobreza de concentrar o poder

militar e político na figura de um rei.

Em meio a essas transformações, surgiram os Estados

absolutistas modernos ou Estados unificados modernos.

MATSYS, Quentin. O cambista e sua mulher. 1514. 1 óleo sobre madeira, color., 71 cm × 68 cm. Museu do Louvre, Paris.

O casal contando moedas, juntamente com os objetos na prateleira, demonstra os novos valores da sociedade europeia.

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Page 20: Ç DQR Volume 1 - conquistaguia.com.br€¦ · Retrato de Michelangelo Buonarroti. 1553. 1 lápis de chumbo e giz sobre papel. Museu Teyler, Haarlem. Michelangelo Buonarroti (1475-1564)

Formação dos Estados Nacionais e absolutismo

Manter as características

próprias significava que uma

nação podia reunir pessoas que

falavam línguas diferentes e que

pertenciam a religiões diversas.

Porém, havia uma característica

que era fundamental para a

formação de uma nação: todos

os indivíduos deveriam ter

uma identidade comum, isto

é, todos deveriam aceitar que

faziam parte de uma nação, cuja

fronteira era muito maior do que

a da cidade, da província ou da

aldeia onde viviam. Assim, nasceu

a ideia de identidade nacional.

Já nos territórios

que atualmente chama-

mos de Itália e Alema-

nha, até o século XIX,

não houve unificação

em torno de um único

Estado Nacional. As ci-

dades se mantiveram in-

dependentes, formando

pequenas repúblicas.

A base política dos

Estados Nacionais estava

na centralização do po-

der absoluto e da autori-

dade na figura dos reis.

O processo desencadeado pela crise do sistema feudal, no

final do século XIV, culminou com a formação dos Estados Nacio-

nais modernos em boa parte da Europa, nos quais havia um mo-

narca com poderes absolutos no comando da nação.

É importante destacar que essa formação não ocorreu do

dia para a noite e que, ao se desenvolverem, os Estados Nacio-

nais não seguiram uma mesma organização nem impuseram uma

única cultura para seus habitantes. Foi mantendo as característi-

cas próprias das diferentes cidades que haviam se unido que es-

ses Estados se consolidaram e passaram a ser conhecidos como

nações. Este fato marcou um momento histórico particular para

cada nação que foi sendo formada.

A Inglaterra e a França, em meados do século XV, estabelece-

ram grande parte de suas fronteiras. Passaram a ser governadas

por monarcas que tinham o poder centralizado em suas mãos e

contavam com instituições políticas bem definidas, como exérci-

tos, funcionários administrativos, ministros e conselhos. Este sis-

tema foi denominado absolutista.

HOLBEIN, Hans. Retrato de Henrique VIII. [1537-1547]. 1 óleo sobre tela, color., 239 cm × 134,5 cm. Galeria de Arte Walker, Liverpool.

O rei Henrique VIII foi um exemplo de

monarca absolutista inglês.

RIGAUD, Hyacinthe. Retrato de Luís XIV. 1702. 1 óleo sobre tela, color., 277 cm × 194 cm. Museu do Louvre, Paris.

O rei Luís XIV, também conhecido como Rei Sol, foi o maior monarca absolutista francês.

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História

Principais características dos Estados Nacionais modernos

Considerando as diferenças em formação e consolidação, os Estados Nacionais moder-

nos se caracterizaram, basicamente, por adotar as seguintes medidas:

• cobrança de impostos reais para cobrir as despesas da nova organização social;

• formação de um exército nacional profissional, independente dos exércitos dos feudos;

• instituição de uma justiça real com alcance nacional, acima da justiça dos senhores feudais;

• centralização e unificação administrativa, com formação de uma burocracia capaz de ad-

ministrar as leis do Estado;

• unificação do sistema de pesos e medidas;

• cunhagem de uma moeda real em substituição às diferentes moedas dos feudos.

Ter sob sua autoridade um exército permitia aos monarcas manter o poder. Por outro

lado, para conservar essa organização e pagar os soldados, eles dependiam do dinheiro da

burguesia. Por isso, muitos reis começaram a proteger a burguesia por meio de ações, den-

tre elas a criação de leis que beneficiassem o comércio.

Para garantir o apoio burguês aos seus interesses, os monarcas mantiveram alguns bur-

gueses como funcionários dentro da corte.

Outra ação dos monarcas que favoreceu a burguesia foi a unificação

monetária. Os reis controlavam a produção de moedas,

que eram as únicas que tinham permissão para circular

no reino.

Com o tempo, o pagamento de impostos também

ficou centralizado na figura do monarca. A população

em geral pagava a maior parte dos impostos, mas a

nobreza e a Igreja, apesar de isentas da maioria deles,

também ficaram sujeitas à cobrança de taxas. Esse fato

gerou grandes conflitos entre o papa e alguns reis.

Moeda inglesa do século XVI, usada durante o governo de Eduardo VI

Observe o esquema a seguir.

organizando a história

Burguesia ALIANÇA Rei

dinheiro

vantagens comerciais

Explique as vantagens comerciais obtidas pela burguesia ao firmar a aliança com o rei.

©Wikimedia Commons

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Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi um

historiador, diplomata, músico e poeta italia-

no. É o mais conhecido de todos os teóricos

do absolutismo. Em sua obra O príncipe, Ma-

quiavel oferece conselhos variados de como

um governante deve proceder para chegar ao

poder ou nele permanecer. A ele é atribuído o

conceito de separação entre a política e a éti-

ca. Também se atribui a Maquiavel a ideia de

que “os fins justificam os meios”. Isso significa

que, para alcançar um objetivo, o monarca po-

deria usar de seu poder, deixando a ética e a

moral em um segundo plano.

Thomas Hobbes (1588-1679) foi um mate-

mático, filósofo e teórico político inglês. Ao es-

crever a obra O Leviatã, justificava a necessida-

de de um poder político forte para defender os

membros de uma sociedade da violência, da inse-

gurança, das catástrofes e das guerras. Hobbes

afirmava que era dever do soberano defender os

homens dos próprios homens, uma vez que o iní-

cio da Idade Moderna vivia um período bastante

conturbado da história europeia.

Teóricos do absolutismo

Alguns pensadores registraram suas ideias a respeito do poder político vivenciado pelos

europeus durante a Idade Moderna. Cada um procurou explicar, justificar ou fundamentar o

absolutismo. Procuraram fornecer, ainda, sugestões de como um governo baseado na auto-

ridade deveria agir para obter sucesso.

Conheça um pouco da história de dois teóricos que escreveram sobre o absolutismo

nesse período: Thomas Hobbes e Nicolau Maquiavel.

WRIGHT, John M. Retrato de Thomas Hobbes. [1669-1670]. 1 óleo sobre tela, color., 66 cm × 54,6 cm. Galeria Nacional de Retratos, Londres.

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TITO, Santi di. Retrato de Maquiavel. [15--]. 1 óleo sobre tela, color., 45 cm × 35,5 cm.

Palácio Velho, Florença.

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História

Leia um trecho do texto O príncipe, de Maquiavel, para responder às questões propostas.

interpretando documentos

É melhor ser mais amado que temido, ou mais temido que amado? Idealmente, é preciso ser temido e amado, mas é difícil reunir os dois sentimentos. Se um dos dois precisa ser sacrificado, é mais seguro ser temido que amado. Geralmente os homens são ingratos, desonestos, covar-des e gananciosos. Enquanto são ajudados, obedecerão às ordens.

Oferecerão a você seu sangue, seus bens, suas vidas e seus filhos quando parece que você não tem necessidade de aceitá-los. Mas quando você tenta cobrar, frequentemente voltam atrás. Se um príncipe apoiou-se apenas na boa-fé de outros, estará arruinado. Os homens têm menos medo de ofender um príncipe que amam, que um que temem. Sentem-se livres para romper as obrigações que devem por amor, sempre que lhes seja útil fazê-lo. Mas farão seu dever se temem, pois, a ameaça de castigo nunca deixa de fazê-lo submeter-se.

MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1996. p. 96.

1 De acordo com Maquiavel, é mais seguro para o príncipe ser temido do que amado. Por quê?

2 Atente para a seguinte passagem: “Sentem-se livres para romper as obrigações”. Essa afirmação de Maquiavel se refere aos homens que amam ou aos que temem ao príncipe? Justifique sua resposta.

Processo de centralização política na Europa Ocidental

A estrutura política centralizada satisfez os desejos de burgueses e nobres. Os burgue-

ses ansiavam por um regime que lhes garantisse negócios e lhes proporcionasse segurança.

Já a nobreza buscava, por meio de um regime forte, pôr fim às insurreições camponesas.

Os monarcas mantiveram uma relação de interesse com os dois grupos. Aliaram-se à

burguesia – que era economicamente poderosa e fornecia significativos recursos com o pa-

gamento de impostos ao Estado – e, ao mesmo tempo, procuraram manter um bom relacio-

namento com a nobreza, distribuindo cargos administrativos. Dessa forma, aos poucos, os

monarcas fortaleceram sua autoridade, unificando o território e centralizando o poder em

suas mãos. Cada uma das grandes monarquias europeias passou por um processo até chegar

ao poder absolutista.

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Monarquia inglesa

A Inglaterra se formou com base nas conquistas realizadas durante o

reinado de Guilherme, o Conquistador (1066-1087).

A centralização do poder real na Inglaterra fortaleceu-se no reinado

do bisneto de Guilherme, Henrique II (1154-1189), que foi um importante

rei, conquistando regiões como a Escócia, ao norte da Inglaterra. Interna-

mente, Henrique II buscou evitar a autonomia dos senhores feudais por

meio de uma organização jurídica centralizada. Ele montou um exército

de guerreiros mercenários, ou seja, que recebiam um pagamento pelos

serviços prestados.

Os sucessores de Henrique II não conseguiram manter a centrali-

zação do poder. O reinado mais famoso foi o de Ricardo Coração de

Leão (1189-1199). Por causa de sua intensa participação em expedições,

como as Cruzadas, Ricardo passou parte de sua vida longe da Inglaterra

e de seus súditos. Isso fez com que o poder real na Inglaterra se

enfraquecesse.

Com sua morte, estabeleceu-se o reinado de seu irmão, o rei

João Sem Terra (1199-1216). Ele assumiu o reino e aumentou excessivamente os impostos,

deixando tanto a população quanto os senhores feudais descontentes.

Além dos altos impostos, João retirou diversas terras dos domínios da Igreja. Diante de

suas ações, os nobres o obrigaram a assinar a Magna Carta em 1215. Esse documento limita-

va o poder do rei por meio de um Grande Conselho, formado pela nobreza, pela burguesia

e pelo clero. Assim, as decisões do rei começaram a depender das leis estabelecidas pelas

assembleias.

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Ilustração do jornal Crônicas da Inglaterra, que mostra o rei

João Sem Terra assinando a Carta Magna em 1215

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Gravura do século XVIII que mostra uma sessão na Câmara dos Comuns

História

Aos poucos, o processo iniciado por

Henrique II foi retrocedendo. Durante o

reinado de Henrique III (1216-1272), o

Conselho transformou-se em Parlamen-

to. Posteriormente, durante o reinado

de Eduardo I (1272-1307), o rei voltou a

ter mais poder. Esse monarca reorgani-

zou o exército a seu favor e conquistou

novos territórios, como a região do País

de Gales.

No reinado de seu neto, Eduardo III

(1327-1377), aconteceu a divisão do Par-

lamento inglês em duas assembleias: a Câmara dos Lordes, da qual participavam apenas os

nobres e o alto clero, e a Câmara dos Comuns, formada pela burguesia.

Assim, por volta do século XIV, o Parlamento reunia as principais forças econômicas da

Inglaterra. O rei buscou compartilhar seu poder com a nobreza e a burguesia, aliança que fez

da Inglaterra um reino economicamente forte.

atividades

1 Responda às questões referentes ao processo de centralização política na Europa Ocidental.

a) Qual o interesse da burguesia e da nobreza em apoiar uma política centralizada?

b) Por que era importante para os monarcas manter boas relações com a burguesia e com a no-breza?

c) Explique a importância da assinatura da Carta Magna para o processo político da Inglaterra.

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Monarquia francesa

Na França, a centralização do poder nas mãos do rei aconteceu de maneira diferente

da que ocorreu na Inglaterra. Depois do reinado de Carlos Magno (774-814), a dinastia ca-

petíngia – iniciada por Hugo Capeto por volta de 987 – entrou em conflito com a nobreza

(senhores feudais), que possuía muitas terras e desejava manter seu poder.

No início do século XII, os domínios reais limitavam-se aos arredores de Paris. Posterior-

mente, os reis se esforçaram para ampliar essa área.

No reinado de Filipe Augusto (1180-1223), a França teve sucesso nesse objetivo. Como

o monarca inglês Ricardo Coração de Leão, Filipe participou da Cruzada dos Reis. A fim de

favorecer a centralização do poder real, Filipe Augusto nomeou juristas para elaborar leis e

estabeleceu a cobrança de impostos, além de criar um exército mercenário. Muitas das ações

de Filipe visavam ao favorecimento dos servos e da burguesia e, consequentemente, ao en-

fraquecimento do poder dos senhores feudais.

Outro importante reinado no

processo de centralização política na

França aconteceu com Luís IX (1226-

1270). Ele criou uma moeda única

para todo o reino. Além disso, am-

pliou o poder judiciário, submeten-

do-o ao seu poder, contribuiu para

que muitos servos conseguissem

se libertar dos laços feudais e par-

ticipou de duas Cruzadas. Por suas

ações piedosas e sua forte ligação

com a Igreja, foi canonizado, ou seja,

tornou-se um santo.

Durante o reinado de Filipe, o

Belo (1285-1314), foi dado mais um

passo para o fortalecimento da cen-

tralização do poder na França. Dife-

rentemente de seus antecessores,

esse monarca obrigou a Igreja a pa-

gar impostos por suas propriedades,

o que gerou grande tensão entre o

rei e as autoridades eclesiásticas.

Dois anos após a morte de Filipe, o Belo, foi estabelecido um princípio na França que impedia

a posse do trono por mulheres, a chamada Lei Sálica. Assim, quando Carlos IV morreu, em 1328,

sem deixar herdeiros homens, o rei da Inglaterra, pelo fato de ser seu sobrinho, sentiu-se no

direito de assumir o trono francês. Começava um conflito que duraria 116 anos. Além da disputa

pelo trono, os dois reinos brigavam pela posse da região de Flandres, importante ponto comer-

cial daquele período. Esses impasses deram origem à Guerra dos Cem Anos (1337-1453).

FOUQUET, Jean. Rei Filipe Augusto e sua comitiva. [ca. 1460]. 1 iluminura, 35,5 cm × 45 cm. Biblioteca Nacional da França, Paris.

Na imagem, o rei Filipe Augusto é representado no cerco à cidade de Tours. Sua

figura aparece em destaque com uma armadura dourada e um longo manto azul com flores de lis, símbolo da realeza francesa.

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História

A Guerra dos Cem Anos foi travada entre ingleses e franceses. Essa guerra teve

períodos alternados de lutas e tréguas. Casamentos entre a nobreza eram arranjados na

tentativa de selar a paz entre os dois reinos. Do início do conflito até 1420, os ingleses

tiveram maior sucesso nas batalhas. A razão está em vários fatores. Um deles se refere ao

fato de grande parte do exército francês ser composta de nobres e cavaleiros e, no exér-

cito inglês, os homens manterem uma rigorosa disciplina militar e servirem por contrato

mediante um pagamento, também chamado de soldo. Por isso, ao longo da guerra, eles

ficaram conhecidos como “homens a soldo” ou “soldados”.

Contudo, nos últimos anos do confronto, os franceses conseguiram retomar muitos

de seus territórios.

Com a assinatura de um acordo definitivo, a Guerra dos Cem Anos chegou ao fim

depois de 116 anos de conflito. Houve a definição de fronteiras e ambos os reis saíram

fortalecidos. A guerra consolidou a ideia de identidade nacional inglesa e francesa nos

respectivos reinos.

Monarquias espanhola e portuguesa

Antes de formarem um Estado unificado, portugueses e espanhóis lutaram contra a ocu-

pação islâmica na Península Ibérica. Essas lutas duraram do século VIII ao século XV e ficaram

conhecidas como Guerras da Reconquista.

Os nobres portugueses destacaram-se nas lutas contra os islamitas. Uma das principais

cidades era a do Porto, que, depois de retornar ao domínio dos cristãos, tornou-se importan-

te centro de resistência contra a ocupação.

Na luta contra os conquistadores islâmicos, foi importante a figura de Henrique de

Borgonha (1066-1112). Por causa de sua participação nas Guerras da Reconquista, recebeu

dos reis de Castela e Leão o Condado Portucalense. Como conde, Henrique procurou deixar o

Condado com maior autonomia em relação aos reinos de Castela e Leão. Para tanto, contava

com o apoio de vários grupos sociais não nobres, como mercadores, artesãos e pescadores.

MONSTRELET, Enguerrand de. Battle of Agincourt. Séc. XV, Museu

do Exército, Paris.

Pintura do século XV que retrata a Batalha de Azincourt, durante a Guerra

dos Cem Anos.

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Após sua morte, seu filho Afonso Henriques (1109-1185) lutou

contra os nobres de Castela e Leão e declarou, em 1143, a indepen-

dência do Condado, que passou a se chamar Reino de Portugal.

Afonso Henriques iniciou a dinastia de Borgonha. Com isso, Portu-

gal foi reconhecido como um Estado independente pela Igreja Ca-

tólica e por outras monarquias, como a Inglaterra.

Os reis da dinastia de Borgonha, que governaram Portugal en-

tre 1143 e 1385, mantiveram o poder centralizado. Para isso, dis-

tribuíam terras e castelos fortificados para nobres e religiosos. Em

troca, exigiam o pagamento de tributos e fidelidade absoluta. A

oferta de privilégios em troca de apoio e fidelidade foi importante,

pois, como muitos nobres de Portugal tinham vínculos com os rei-

nos de Castela, isso evitava a traição da nobreza.

A dinastia de Borgonha também buscou o apoio da burguesia e,

como em outros reinos, estabeleceu leis que favoreceram o comér-

cio e as cidades.

Com o fim da dinastia de Borgonha, os reis de Castela tentaram

novamente anexar Portugal a seus domínios. Para evitar isso, alguns nobres, a burguesia e

grande parte da população apoiaram João, filho ilegítimo do falecido rei e Mestre da ordem

religiosa e militar de Avis, para que ele assumisse o trono de Portugal. Esse episódio ficou

conhecido como a Revolução de Avis. Em 1385, D. João foi aclamado rei, iniciando, assim, a

dinastia de Avis.

Além de ter um Estado formado, Portugal contava com um próspero comércio e uma

burguesia interessada em expandir suas rotas para o Oriente. Liderados pelo infante

de Ceuta, importante centro comercial do norte da África.

A formação do Reino Espanhol, por sua vez, passou por um longo processo que teve

início no século XI, quando os reinos cristãos – Aragão, Castela, Navarra e Leão –, localizados

ao norte da Península Ibérica, realizaram guerras para recuperar os territórios que estavam

sob o domínio árabe.

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COLAÇO, Jorge. O Infante D. Henrique na conquista de Ceuta. 1903. Painel de azulejos. Estação Ferroviária de Porto - São Bento.

Imagem da escultura de Afonso Henriques em Guimarães

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História

Sacro Império Romano-Germânico

O Sacro Império Romano-Germânico situava-se no centro da Europa. Fundado em 962

pelo rei da Germânia, Oto I (912-973), reunia grande parte do antigo império construído por

Carlos Magno. Desse modo, o Sacro Império era considerado herdeiro do Império Romano,

mas agora consagrado pela Igreja Católica. Por isso, ficou conhecido como Sacro Império

Romano-Germânico.

Nesse Império, a tentativa de unificar os domínios e centralizar o poder

nas mãos do rei não teve tanto sucesso quanto em outras regiões. As difi-

culdades eram muitas, principalmente por causa da diversidade de povos

com línguas e culturas diferentes. Assim, a unidade do Sacro Império era

praticamente simbólica, visto que o rei não tinha autoridade completa so-

bre todos os territórios. Os poderes locais da nobreza e da Igreja

eram mais fortes que os poderes reais.

Muitas das cidades que faziam parte do Sacro Império Romano-

-Germânico, em especial as italianas e as alemãs, lutavam constan-

temente por autonomia. Elas eram governadas por famílias liga-

das ao comércio, à pequena nobreza local ou à Igreja. Na região da

atual Alemanha, as cidades recebiam importantes feiras comerciais

e eram governadas por príncipes que não aceitavam a autoridade de

um rei. Também eram importantes centros intelectuais, com escolas e

universidades.

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ORTIZ, Francisco Pradilla. A capitulação de Granada. 1882. 1 óleo sobre tela, color., 143,4 cm × 90,3 cm. Museu do Prado, Madri.

Representação da entrega da chave da cidade de Granada a Isabel de Castela e Fernando de Aragão

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Coroa do Sacro Império

Romano-Germânico

Em 1469, o casamento de Fernando (1452-1516) – rei de Aragão – com Isabel (1451-

1504) – rainha de Castela – permitiu a união dos reinos cristãos, dando origem à Espanha

unificada. Fernando e Isabel ficaram conhecidos como “os reis católicos”, pela forte motiva-

ção religiosa que tiveram na expulsão dos muçulmanos da Península Ibérica. A vitória final

ocorreu com a conquista da cidade de Granada, em 1492. A forte ligação dos reis espanhóis

com a Igreja Católica foi também uma das principais características da monarquia que se

formou na Espanha.

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1 Leia as informações a seguir sobre os processos de centralização política na Península Ibérica e classifique-as: marque P se forem sobre Portugal e E se forem sobre a Espanha.

a) ( ) O casamento de Fernando, rei de Aragão, com Isabel, rainha de Castela, permitiu a união dos reinos cristãos para dar origem a uma monarquia cristã.

b) ( ) Afonso Henriques lutou contra os nobres de Castela e Leão e declarou a independência do Condado.

c) ( ) Houve a distribuição de terras e castelos fortificados para nobres e religiosos em troca do pagamento de tributos e fidelidade absoluta.

d) ( ) A vitória contra os muçulmanos ocorreu com a conquista da cidade de Granada, em 1492.

organizando a história

Sociedade de corte

A formação dos Estados nacionais não acarretou mu-

danças apenas no campo da política, com a centralização

do poder, ou da economia, com a adoção de novas regras

para a cobrança de impostos e a cunhagem de uma moeda

única. Resultou também na criação de um novo modelo de

vida para a nobreza e para os ricos burgueses que viviam em

torno do monarca: a sociedade de corte.

Na corte de Luís XIV, na França, a maior parte dos nobres

vivia uma vida de ócio, isto é, sem trabalho ou projetos a se-

rem desenvolvidos. Muitas vezes, sobreviviam dos presentes e

favores do monarca e a ele deviam respeito e lealdade. Dessa

forma, essa sociedade foi desenvolvendo uma espécie de teatro das relações, em que o mais

importante era ser visto na corte usando roupas, perucas e maquiagens exageradas enquanto

se gesticulava de maneira quase ensaiada.

Era uma sociedade na qual o essencial era acompanhar e admirar o cotidiano do mo-

narca: observá-lo na hora das refeições, na hora de dormir ou nos momentos de caminhada

pelos jardins. Aliás, mais do que essencial, era uma honra poder participar desses momentos.

[...] Essas refeições eram encenações perante uma audiência. Era uma honra ser autori-zado a ver o rei comer, honra ainda maior receber uma palavra sua durante a refeição, honra suprema ser convidado a servi-lo ou a comer com ele. [...]

[...] Seria sensato ampliar essa abordagem a todo o resto da vida cotidiana do rei – sua missa diária, suas reuniões com seus conselheiros e até suas campanhas, suas expedições de caça e suas caminhadas por seus jardins. [...] os observadores registravam que todos os atos do rei eram planejados “até o mínimo gesto”. [...]

BURKE, Peter. A fabricação do rei: a construção da imagem pública de Luís XIV. Rio de Janeiro: Zahar, 1994. p. 99-101.

©Galeria de Antiguidades, Versalhes

MARTIN, J. B. Os bosques dos jardins do Palácio de Versalhes. 1668. Galeria de Antiguidades, Versalhes.

Representação do convívio social da nobreza francesa nos jardins do Palácio de Versalhes

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História

Essas estratégias políticas e

econômicas, adotadas pelos gover-

nos da época, foram difundidas pela

Europa com a formação dos Estados

absolutos. Contudo, é importante

destacar que elas apresentavam

variações específicas de um Estado

para outro, de época para época e

não eram transmitidas por um “ma-

nual de política mercantilista”, mes-

mo porque elas não se configuravam

dessa forma. Essas práticas observa-

das na economia da Idade Moderna

foram identificadas assim, como um

conjunto de medidas, apenas mais

tarde, por estudiosos do século XIX.

Na Espanha, as práticas mercantilistas caracterizaram-se pelo metalismo ou bulionis-

mo, em que se visava à estocagem de lingotes de ouro e prata, ou pela adoção da teoria dos

contratos, segundo a qual todo o valor das mercadorias que saíssem da Espanha deveria

retornar em forma de metais preciosos ou moedas.

Mercantilismo: política econômica dos Estados Nacionais

A intervenção das monarquias absolutistas na área econômica de seus Estados apontou

para outros interesses dos reis – os políticos. Ao procurarem estruturar a economia e expan-

dir o comércio, os reis buscavam aumentar suas reservas financeiras, que lhes possibilitavam

organizar esquadras e melhorar seu exército, tornando-se governos fortes e temidos por

todo o mundo.

Para a acumulação de riquezas, os soberanos implantaram algumas medidas comuns, as

quais se constituíram em características do mercantilismo.

• Balança comercial favorável: para que o Estado crescesse economicamente, era necessá-

rio exportar mais do que importar. Dessa forma, havia acúmulo de capital.

• Protecionismo alfandegário: adotaram-se medidas por meio das quais se procurava evi-

tar ou, até mesmo, impedir a importação de bens de consumo, protegendo a indústria

nacional.

• Metalismo: visava-se ao acúmulo de metais preciosos, como ouro e prata. Como as moe-

das eram feitas com esses metais, quanto maior a quantidade de ouro e prata, maior a

possibilidade de o soberano cunhar moedas.

• Monopólios comerciais: a exclusividade na comercialização de determinados produtos

garantia lucros maiores ao soberano.

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Na França, essas práticas ficaram conhecidas como colbertis-

mo. Esse termo provém do nome de um ministro do rei Luís XIV –

Colbert –, o qual intensificou a prática do industrialismo que havia

sido iniciada pelo seu antecessor, o ministro Richelieu. Essa prá-

tica consistia em dar grandes incentivos à produção de manufa-

turas de luxo e de armamentos para exportação, bem como à for-

mação de companhias de comércio, tendo em vista a exploração

das colônias.

Na Inglaterra, o governo deu considerável incentivo ao desen-

volvimento da construção naval e à navegação propriamente dita.

O desenvolvimento da agricultura foi estimulado também, por se

tratar de uma importante fonte de produção de riquezas. Outro

fator relevante na Inglaterra foi a política protecionista adotada

em relação ao setor têxtil: proibiu-se a exportação de lã, matéria-

-prima para a produção de tecidos. Dessa forma, a Inglaterra ga-

rantia a quantidade de lã necessária para produzir, ela mesma, os

tecidos. Depois, incentivava sua venda, assegurando uma entrada

maior de metais preciosos como pagamento.

Além desses países, outros, como Holanda e Portugal, também adotaram práticas mer-

cantilistas, buscando o próprio desenvolvimento econômico e político.

LEFÈBVRE, Claude. Retrato de Jean-Baptiste Colbert. 1666. 1 óleo sobre tela, color., 118 cm × 113 cm. Museus do Palácio de Versalhes.

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1 Responda às questões a seguir sobre os Estados Nacionais modernos.

a) Como eles se formaram?

b) Quais eram suas principais características?

o que já conquistei

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História

2 Os Estados Nacionais modernos caracterizaram-se pela centralização do poder político nas mãos de monarcas absolutos.

a) Além do próprio rei, a quem interessava a centralização do poder político? Por quê?

b) De que forma os monarcas absolutos conseguiram realizar o processo de centralização política?

3 Analise as afirmações a seguir e assinale com V as verdadeiras e com F as falsas.

a) ( ) A Guerra dos Cem Anos contribuiu para o enfraquecimento dos senhores feudais, colabo-rando para a centralização do poder político.

b) ( ) O absolutismo foi uma forma de organização política característica da Idade Média.

c) ( ) Maquiavel, um dos teóricos do absolutismo, afirmou que para um rei é melhor ser temido do que amado.

d) ( ) Para que um Estado Nacional fosse concretizado, havia a necessidade de unificação terri-torial e estabelecimento de política e economia centralizadas.

e) ( ) A burguesia apoiou a centralização do poder real, pois, assim, ficaria livre da responsabili-dade de administrar o feudo.

4 Maquiavel defendia a separação entre a política e a ética. O que isso significa?

5 Estabeleça uma relação entre balança comercial favorável e protecionismo alfandegário, caracterís-ticas da economia mercantilista.

6 Os Estados Nacionais acarretaram a adoção de um novo modelo de vida para a nobreza e para os burgueses mais ricos: a sociedade de corte. Como era esse modelo?

7 Qual era a importância da implantação de uma política econômica mercantilista para um monarca absoluto?

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capí

tulo

Grandes Navegações 3

Os Estados Nacionais europeus precisavam de riquezas

para serem instalados: havia funcionários, exércitos e acor-

dos a serem pagos. As riquezas, há muito tempo, vinham do

Oriente para a Europa, mas essa realidade mudou quando

Constantinopla foi conquistada pelo Império Otomano em

1453, impedindo que os europeus continuassem a usar as

rotas de comércio conhecidas. A solução foi buscar outro

caminho para chegar até as riquezas do Oriente, enfrentan-

do partes do Oceano que nunca tinham sido navegadas. E

então, em uma dessas viagens marítimas, o mundo se mos-

trou muito maior do que os europeus concebiam!

Observe com atenção o Planisfério de Cantino. O que

essa imagem indica? Compare a representação desse planis-

fério produzido em 1502 com um mapa-múndi atual e iden-

tifique semelhanças e diferenças entre os dois documentos.

Contexto das Grandes

Navegações

Contato com o Oriente

Viagens marítimas: um projeto para os europeus

Mundo dividido entre portugueses e espanhóis

Expansão marítima

inglesa, francesa e holandesa

o que vocêvai conhecer

O Planisfério de Cantino, 1502. Biblioteca Estense, Módena.

©Granger, NYC./Alamy/Fotoarena

Esse planisfério é considerado o mais antigo manuscrito português que mostra as descobertas do Novo Mundo.

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Estabelecer relação entre o mercantilismo e o contexto das Grandes Navegações.

Compreender a importância do Mar Medi-terrâneo para o comércio do período e os desafios superados para a realização das viagens oceânicas.

Identificar as especificidades da expansão

marítima portuguesa e espanhola.

Compreender a função e o significado dos tratados firmados entre Portugal e Espanha para a divisão das terras encon-tradas e por descobrir.

Identificar as especificidades da expansão marítima inglesa, francesa e holandesa.

objetivos do capítulo

Contexto das Grandes Navegações

Os europeus estavam interessados em

descobrir novas fontes para a extração de

prata e ouro, já que aquelas que existiam

na própria Europa e no entorno do Mar

Mediterrâneo não geravam ouro e prata su-

ficientes. Afinal, a crise do mundo medieval

havia revelado a necessidade de expansão

agrícola, extrativista e comercial. Com isso,

aumentou a necessidade de moedas e, para

que os reis pudessem mandar cunhá-las,

era preciso obter mais metais preciosos.

Enquanto novas fontes não eram encontra-

das, as velhas rotas pelo Mar Mediterrâneo

continuavam sendo usadas e eram muito

cobiçadas.

Além dos metais preciosos, outros pro-

dutos interessavam aos europeus, como as

especiarias, usadas como tempero e para

a conservação dos alimentos, e artigos de

luxo, como porcelana e seda chinesas, tapetes persas e pérolas japonesas.

O comércio desses produtos era realizado pelos árabes, que dominavam as rotas comer-

ciais. Eles adquiriam esses produtos na Índia e os revendiam para os europeus, principalmen-

te genoveses e venezianos, em portos como os de Constantinopla e de Alexandria. Os árabes

exigiam que os produtos fossem pagos com ouro e prata, e esse era mais um motivo para que

os europeus buscassem novas fontes de metais preciosos.

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Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique. Paris: Larousse, 1987. p. 32. Adaptação.

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Quando, em 1453, Constantinopla caiu nas

mãos dos turco-otomanos, cujo império estava em

expansão, os problemas dos comerciantes europeus

aumentaram, porque, além de fazerem o pagamen-

to das especiarias aos árabes, ainda tinham de pagar

uma sobretaxa aos turcos, que passaram a controlar

a passagem dos produtos pelas rotas terrestres lo-

calizadas em seu território.

A partir de então, o objetivo dos europeus pas-

sou a ser comprar esses produtos diretamente nas

cidades do litoral da Índia, sem a intermediação dos

árabes e dos turco-otomanos e, assim, revendê-los

com a garantia de lucro elevado.

Constantinopla era um importante entreposto

comercial e praticamente a única ligação conhecida

entre o Ocidente europeu e o Oriente. A conquis-

ta dessa cidade acabou gerando um grande desafio

para os países da Europa Ocidental, pois, até esse

período, a maior parte das rotas era realizada por

terra e apenas algumas eram percorridas com bar-

cos. A navegação era feita sobretudo pelo Mediter-

râneo, um “mar fechado”, ou por áreas próximas da

costa. Isso acontecia porque os europeus, até o final do século XV, não velejavam em mar

aberto nem tinham conhecimento para tal empreendimento.

Fonte: MCEVERY, Colin. Atlas de história medieval. São Paulo: Cia. das Letras, 2007. p. 93. Adaptação.

Cidades e rotas comerciais em 1346

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GRAVURA do cerco de Constantinopla do livro Voyages d'Outremer, Bertrandon de la Broquière, Lille, 1455. Manuscrito 9087 ( folio 207 v) da Biblioteca Nacional da França, Paris.

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História

Na busca por caminhos alternativos, os europeus empregaram novos conhecimentos

técnicos na construção de barcos e instrumentos náuticos. A utilização desses recursos que

possibilitavam uma navegação mais segura, como o astrolábio, a bússola e o sextante, so-

mente foi possível por causa da influência dos chineses, dos árabes e de outros povos do

Oriente com os quais os europeus tiveram contato.

Outro aspecto importante observado no

início da Idade Moderna foi o desenvolvimen-

to da cartografia. Inúmeras cartas náuticas

foram elaboradas para orientar os navegado-

res. À medida que os cartógrafos aprimora-

vam seu trabalho e iam sendo desenvolvidas

novas técnicas de gravura, um maior número

de mapas chegava às mãos dos comerciantes

e navegadores.

1 Por que a queda de Constantinopla, em 1453, prejudicou as linhas de comércio europeias?

2 Para resolver o problema do acesso às mercadorias do Oriente, os europeus começaram a pensar em rotas comerciais alternativas, mas, para explorá-las, precisariam navegar pelo Atlântico, o que

as técnicas náuticas de então não permitiam. Quais foram as inovações que contribuíram para o sucesso desse plano?

organizando a história

©Biblioteca Nacional da França, Paris

Esta gravura holandesa do século XV mostra sábios, comerciantes e navegadores

às voltas com inúmeros instrumentos náuticos: (1) um grande globo terrestre; (2) um portulano – mapa dos mares; (3) um astrolábio; (4) uma bússola; (5) uma

ampulheta; e (6) um compasso.

FRONTISPÍSCIO do livro Le Flambeau de la navigation, Willem Jansz Blaeu, Amsterdã, 1620. Biblioteca Nacional da França, Paris.

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Contato com o Oriente

A busca de outras rotas comerciais era uma nova aventura para os europeus. O final da

Idade Média e o início da Idade Moderna não foram períodos marcados apenas pelas trans-

formações provocadas pela renovação humanista, mas também pela permanência de alguns

elementos com traços medievais. Um exemplo desses elementos era a crença de que o Ocea-

no Atlântico, que começava a ser navegado pelos portugueses, estava repleto de monstros

marinhos e seres fantásticos.

No entendimento que vigorava naque-

le tempo, caso os navios fossem para muito

longe da costa, poderiam ser engolidos por

monstros ou cair em um grande abismo. Por

isso, o Oceano Atlântico era chamado de

Mar Tenebroso ou Mar Desconhecido.

Muitas dessas ideias eram alimenta-

das pelos relatos de viajantes europeus

que iam ao Oriente. Isso acontecia porque,

para descrever as terras desconhecidas,

eles utilizavam mais a imaginação do que

a observação. Essas descrições deixavam

as pessoas com medo e, ao mesmo tem-

po, curiosas e fascinadas pelo desconheci-

do, ainda mais em um momento em que o

pensamento se tornava livre da influência

religiosa.

Portanto, é possível refletir sobre o expansionismo europeu, que não foi marcado ape-

nas por interesses econômicos, mas também pelo fascínio de encontrar as terras e as situa-

ções descritas pelos viajantes.

MÜNSTER, Sebastian. Os monstros marinhos e terrestres que são encontrados em muitos lugares nas partes setentrionais. 1544.

O Oceano Atlântico ainda era motivo de muito medo entre os europeus.

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Um dos relatos de viagem que mais fascinaram as pessoas no final da Idade Média,

alimentando sua imaginação quanto às terras distantes, foi o do mercador italiano Marco

Polo (1254-1324).

O jovem Marco Polo partiu em direção à Ásia com seu pai e seu tio.

Eles permaneceram em viagem por mais de duas décadas. Ao retor-

narem à Europa, Marco Polo contou suas aventuras, que depois se

transformaram em uma obra intitulada O livro das maravilhas, na

qual misturou elementos da realidade com lendas e histórias fan-

tásticas sobre as culturas e os povos asiáticos.

Detalhe de um mosaico com a figura de Marco Polo feito em 1867, no Palácio Doria-Tursi, em Gênova. Nas mãos, Marco Polo carrega uma carta e uma cópia do livro que relata suas célebres viagens.

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História

atividades

Use as palavras e expressões do quadro para completar as lacunas que existem no texto sobre o comércio entre os europeus e o Oriente no início da Idade Moderna.

árabes – astrolábio – bússola – Constantinopla – caminhos alternativos – construção

de barcos – especiarias – grande abismo – monstros – Oceano Atlântico – ouro – Oriente –

prata – produtos de luxo – rotas comerciais – sextante – sobretaxa

No início da Idade Moderna, os europeus comercializavam e com os povos do . Quem

intermediava esse comércio eram os , que exigiam que os pa-gamentos fossem feitos com e . Com a queda de em 1453, surgiu um problema: os turco-otomanos come-çaram a cobrar uma porque controlavam as

. Com isso, os europeus passaram a se organizar em busca de para chegar à Índia. Para isso, empregaram novos conhecimentos técnicos

na e instrumentos náuticos, como , e . Po-

rém, eles tinham um grande desafio pela frente: navegar pelo , onde acreditavam que poderiam ser engolidos por ou cair em um .

Viagens marítimas: um projeto para os europeus

Os Estados Nacionais modernos necessitavam de uma economia forte que possibilitasse

a manutenção do aparelho estatal instalado: funcionários, cobradores de impostos, juízes,

soldados, portos, etc. Também havia a necessidade de encontrar novas terras nas quais pu-

dessem ser exploradas riquezas que estavam esgotadas no território europeu, ou mesmo

riquezas inexistentes no continente.

O aumento da população europeia foi outro fator que impulsionou a exploração de no-

vos territórios, pois era preciso garantir o suprimento de alimentos ou outros bens de pri-

meira necessidade.

A burguesia procurava novos mercados nos quais pudesse investir seu capital e passou a

financiar muitas expedições marítimas, aliando-se aos monarcas nesse objetivo.

A Igreja Católica viu na conquista de territórios a possibilidade de atrair novos fiéis por

meio da catequização de povos pagãos.

Todos esses fatores contribuíram para que os europeus promovessem viagens extrema-

mente arriscadas para a época, mas que acabaram por ampliar o mundo que conheciam em

vários sentidos.

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Pioneirismo português

A localização geográfica de Portugal em relação ao Oceano Atlântico foi um

dos fatores que possibilitaram ao país tomar a frente no processo de expansionis-

mo marítimo. Outra questão relevante foi o fato de que grande parte da comu-

nidade portuguesa já desenvolvia atividades pesqueiras no Atlântico. Além desses, houve um

terceiro fator: desde o século XIV, o porto de Lisboa era utilizado como importante entreposto

comercial para as embarcações italianas que comercializavam

com as cidades do norte da Europa.

Essa intensa movimentação no porto de Lisboa impulsionou

o desenvolvimento de um poderoso grupo no país: a burguesia

mercantil local. A aliança estabelecida entre a monarquia por-

tuguesa e esse influente grupo foi determinante para Portugal

poder lançar-se na conquista do Atlântico.

O infante D. Henrique (1394-1460), filho mais novo do rei

João, fundador da dinastia de Avis, não mediu esforços para

estimular as viagens marítimas, criando um centro de estu-

dos náuticos, a Escola de Sagres.

GONÇALVES, Nuno. Painel do infante (parte do altar de São Vicente). 1460. 1 painel, color., 207 cm x 129 cm. Museu de Arte Antiga, Lisboa.

Representação de D. Henrique, de chapéu marrom, à direita na imagem, iniciador da primeira fase das descobertas portuguesas.

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De acordo com registros feitos em crônicas posteriores à morte de D.

Henrique, nessa escola havia laboratório, centro de estudos astronômi-

cos e oficina para a construção de navios. D. Henrique reuniu nesse es-

paço os mais destacados geógrafos, cosmógrafos, cartógrafos, mate-

máticos e marinheiros da época.

MAPA-MÚNDI de Domingos Teixeira. 1573. Biblioteca Nacional da França, Paris. Detalhe.

Este mapa do século XVI mostra a costa oeste africana com a indicação da feitoria da Mina, hoje em Gana. No

mapa, acima da África, aparecem o Mar Mediterrâneo e as bandeiras de Portugal e da Espanha, na Península Ibérica. ©

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História

Os portugueses prosseguiram em suas

viagens e conquistaram outros territórios,

formando um vasto império colonial no

Oriente: em 1517, chegaram à China e, a par-

tir de 1520, estabeleceram comércio na re-

gião chinesa de Cantão.

GAMEIRO, Roque. A chegada de Vasco da Gama a Calicute em 1498. 1900. 42 cm × 47 cm. Biblioteca

Nacional de Portugal, Lisboa.

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Fonte: ATLAS histórico escolar. Rio de Janeiro: Fename, 1988. Adaptação.

Viagens marítimas portuguesas

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Conquistas portuguesas

Ao longo das várias viagens que fizeram tentando chegar à Índia, os portugueses foram es-

tabelecendo feitorias na costa africana. As feitorias eram entrepostos comerciais onde ocorriam

a compra e a venda de vários produtos, como ouro e especiarias. Eram fortificadas, o que garan-

tia segurança tanto ao comércio quanto aos conquistadores portugueses que lá ficavam, dando

apoio às atividades de navegação.

Depois de chegarem à Índia, em 1498, os portugueses desbancaram o monopólio das cidades

italianas sobre os produtos orientais. Fixaram-se em Goa, capital comercial do oeste da Índia, e

também nas cidades de Diu, Cochim e Calicute.

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O comércio com o Oriente rendeu grandes lucros aos portugueses. Entretanto, em um

curto espaço de tempo, a realidade das novas conquistas se mostrou menos atraente: era

necessário proteger as terras conquistadas, construir fortalezas, feitorias e novas embarca-

ções que pudessem patrulhar essas regiões.

O número de funcionários para atender a todas essas atividades multiplicou-se e os lu-

cros diminuíram. Além disso, não tardou para que outras nações também entrassem na dis-

puta pela conquista de novas rotas comerciais.

A partir de 1530, França, Inglaterra e Holanda foram algumas nações que se lançaram em

busca de novas rotas pelos oceanos. Quando as atividades comerciais marítimas começaram

a declinar, Portugal se voltou para a exploração comercial agrícola no Brasil.

1 Quais fatores levaram os Estados Nacionais modernos a promover viagens marítimas arriscadas para a época?

organizando a história

Cronologia das viagens marítimas portuguesas

1434 – Gil Eanes ultrapassou o Cabo Bo-

jador, no limite extremo oeste da África,

chegando à Guiné, região de grande pros-

pecção de ouro.

1460 – Foram descobertas as Ilhas de Cabo

Verde.

1482 – Diogo Cão atingiu a foz do Rio Zaire,

também chamado de Congo, onde os por-

tugueses construíram a fortaleza de São

Jorge da Mina.

1485 – Diogo Cão chegou à Angola.

1488 – Bartolomeu Dias atingiu o Cabo das

Tormentas, posteriormente chamado de

Cabo da Boa Esperança, no extremo sul da

África.

1498 – Vasco da Gama chegou a Calicute,

costa oeste da Índia.

1500 – Pedro Álvares Cabral chegou ao

Brasil.

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LEUTZE, Emanuel. Colombo diante dos reis. 1843. 1 óleo sobre tela, color., 96,5 cm × 127 cm. Museu do Brooklyn, Nova Iorque.

Colombo diante dos reis e da corte espanhola na apresentação de seu plano de viagem para chegar à Índia.

História

Viagens espanholas

A Espanha também precisava encontrar

um caminho alternativo para a Índia e, com

esse objetivo, tornou-se a segunda nação a

lançar-se na corrida expansionista. Isso de-

pois de ter expulsado, definitivamente, os

árabes muçulmanos de seu território (1492)

e conseguido unificar seu Estado por meio

do casamento da rainha Isabel de Castela

com o rei Fernando de Aragão, os chamados

reis católicos.

Como iniciou a corrida expansionista

após os portugueses, a Espanha foi obriga-

da a buscar outros caminhos que não aque-

les percorridos por Portugal. O navegador

genovês Cristóvão Colombo apresentou

um plano de viagem (que não havia sido

aceito pelos reis portugueses) aos reis es-

panhóis, o que parecia ser a solução para as necessidades da Espanha. Colombo afirmava ser

possível alcançar a Índia navegando para o Ocidente, ou seja, haveria a possibilidade de sair

do Ocidente e chegar ao Oriente sem ter de percorrer o caminho pelo sul da África, como

haviam feito os portugueses.

Nessa época de navegações e conquistas, ainda havia grandes debates a respeito da

forma da Terra. O estudioso egípcio Cláudio Ptolomeu defendia a ideia de que era redonda,

embora tenha errado no cálculo do diâmetro da Terra, considerando-a menor do que era na

realidade; outros, ainda, imaginavam que teria a forma de um disco. Colombo utilizou dos

estudos de Ptolomeu e procurou provar aos reis católicos que seu projeto era viável.

Colombo teve de esperar alguns anos até a rainha Isabel se convencer a financiar sua

expedição. Finalmente, no dia 3 de agosto de 1492, uma tripulação de 190 homens chefiados

por Cristóvão Colombo partiu do porto de Palos a bordo de três caravelas – Santa Maria,

Pinta e Niña –, com o objetivo de chegar às Índias.

a) ( ) A localização geográfica em relação ao Oceano Atlântico.

b) ( ) A demora na formação de Portugal como um Estado Nacional.

c) ( ) O fato de grande parte da comunidade portuguesa já desenvolver atividades pesqueiras no Atlântico.

d) ( ) O fato de, desde o século XIV, o porto de Lisboa ser um entreposto comercial para os ita-lianos que comercializavam com as cidades do norte da Europa.

e) ( ) O pouco interesse da burguesia mercantil em investir suas riquezas em um negócio arris-cado como as viagens marítimas.

2 Portugal foi pioneiro no processo de expansionismo marítimo. Marque as alternativas que indicam os fatores que permitiram esse pioneirismo.

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Mundo dividido entre portugueses e espanhóis

Vários tratados foram estabelecidos entre Portugal e Espanha, as duas potências expan-

sionistas, com o objetivo de delimitar os direitos de cada país sobre as terras descobertas e

de outros possíveis descobrimentos.

O papa Alexandre VI editou, em 1493, o documento conhecido como Bula Inter Coetera,

com o qual determinou a partilha do mundo ultramarino entre portugueses e espanhóis. Foi

definido um meridiano de 100 léguas a oeste das Ilhas de Cabo Verde, estabelecendo-se que

todos os territórios descobertos que estivessem situados a leste do meridiano seriam de Por-

tugal. Para a Espanha, ficariam todos os territórios descobertos a oeste desse meridiano.

Portugal contestou a determinação estipulada na Bula Inter Coetera, pois se sentiu pre-

judicada. Assim, foi firmado outro tratado, em 1494, na cidade espanhola de Tordesilhas:

o Tratado de Tordesilhas. Por meio desse novo tratado, o meridiano divisor de territórios

fixado anteriormente foi ampliado para 370 léguas a oeste de Cabo Verde, posição mais fa-

vorável aos portugueses.

Pelo novo tratado, ficou definido que as terras descobertas a leste do meridiano per-

tenceriam a Portugal e as terras a oeste do meridiano, à Espanha. Desse modo, o Tratado

de Tordesilhas possibilitou aos portugueses a conquista de terras no Atlântico Ocidental, ou

seja, a região nordeste do atual território do Brasil.

Como era de se esperar, outras nações que tinham interesse nas novas conquistas opu-

seram-se aos tratados que dividiam “o novo mundo a ser descoberto” exclusivamente entre

Portugal e Espanha.

Em 12 de outubro do mesmo ano, a ex-

pedição chegou a uma terra desconhecida

e aportou na Ilha de Guanahani (nas Baha-

mas), a qual Colombo denominou São Salva-

dor. Ele realizou, ainda, outras três viagens

para a América: esteve nas Antilhas, em

Honduras e em Porto Rico (América Cen-

tral). Como estava convencido de ter che-

gado à Índia, denominou os nativos que ali

encontrou de índios.

Outro navegador, Américo Vespúcio,

concluiu tratar-se de um novo continente en-

tre a Europa e a Ásia, e não da Índia, como

imaginara Cristóvão Colombo. Em home-

nagem a Américo Vespúcio, as novas terras

passaram a ser chamadas de América.

Após a descoberta do novo continente, tiveram início a conquista, a exploração e a coloni-

zação das novas terras pelos espanhóis. Com esse feito, a Espanha foi elevada à condição de

maior potência europeia do século XVI.

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PRANG&CO. Colombo tomando posse do novo país. 1893. Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos da América, Washington.

Representação artística da chegada de Colombo e marinheiros à América, com as três caravelas ao fundo. Entre os arbustos, à direita, é possível ver os rostos dos nativos observando a chegada de Colombo.

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História

Fonte: ATLAS de la historia del mundo. Barcelona: Parragon Books, 2006. Adaptação.

Linhas de demarcação entre os domínios de Portugal e Espanha

1 Em 12 de outubro de 1492, Colombo e uma tripulação de 190 homens chegaram a terras que seriam chamadas, anos depois, de América. Estavam a bordo de três caravelas: Santa Maria, Pinta e Niña.

Sobre esse fato, explique:

a) Quem financiou essa viagem?

b) Quais motivos os financiadores tinham para investir nessa viagem?

c) Quais argumentos Colombo teve de usar para conseguir financiamento para essa viagem?

organizando a história

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Expansão marítima inglesa, francesa e holandesa

A expansão marítima de ingleses, franceses e holandeses aconteceu após a dos portu-

gueses e espanhóis.

No caso da Inglaterra e da França, a Guerra dos Cem Anos contribuiu, em grande parte,

para o retardamento desse processo, pois, enquanto seus problemas internos e externos

não fossem resolvidos, não conseguiriam viabilizar o processo de centralização política, con-

dição indispensável para reunir forças e investimentos para as conquistas expansionistas.

Já a Holanda estava sob o domínio da Espanha e só obteve a independência no século

XVI, o que atrasou sua entrada no processo de conquistas de novas terras.

Assim que os problemas internos de Inglaterra, França e Holanda foram resolvidos, es-

sas nações se opuseram ao Tratado de Tordesilhas, que dividia o mundo a ser descoberto

exclusivamente entre Portugal e Espanha. Conta-se que o rei da França, Francisco I, teria

declarado, ironicamente, que queria conhecer a cláusula do testamento de Adão que havia

legado metade do mundo a seu primo de Castela e a outra metade a seu primo de Portugal.

Desta forma, ainda nos séculos XV e XVI, essas nações fizeram importantes viagens,

desrespeitando os limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas.

Viagens inglesas

Diante da impossibilidade de encontrar um novo caminho para a Índia e de

tomar posse de novos territórios, a Inglaterra se “especializou” na pirataria contra

navios estrangeiros, principalmente espanhóis.

Essas atividades foram até mesmo garantidas pelo Estado, pois, por meio

de tal prática, obtinham-se altíssimos lucros. Os corsários recebiam pagamen-

tos e títulos de nobreza. Um deles foi Francis Drake, que começou sua trajetória

de corsário em 1577, comandando cinco embarcações a fim de encontrar rotas

comerciais para a Inglaterra, e atacar os navios mercantes de Espanha e

de Portugal no Oceano Atlântico. Drake se saiu tão bem

nessas missões que a rainha Isabel I da Inglaterra o con-

decorou como cavaleiro em 1581.

Anos antes, em 1497, o italiano Giovanni Caboto, a

serviço dos ingleses, chegou à América do Norte, onde

hoje é o Canadá.

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omeçou sua trajetória

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s de Espanha e

Estátua de Giovanni Caboto na Baía Bonavista, no atual território do Canadá.

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Viagens francesas

Assim como os ingleses, os franceses se “especializaram” na pirataria. Os corsários fran-

ceses tinham como objetivo saquear navios e pontos comerciais nas regiões litorâneas.

Em 1524, o explorador italiano Giovanni da Verrazano, a serviço dos franceses, navegou

pelo litoral leste da América do Norte. Dez anos depois, em 1534, o explorador francês Jac-

ques Cartier chegou à região do atual Canadá.

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História

Viagens holandesas

Após a independência, a Holanda desenvolveu uma surpreendente força econômica,

chegando até mesmo a emprestar dinheiro a outras nações, inclusive a Portugal no momen-

to da implantação da indústria açucareira no Nordeste brasileiro.

Suas companhias marítimas estiveram fortemente ligadas ao comércio das especiarias e

ao tráfico negreiro. Os holandeses exploraram, ainda, o litoral da América do Norte, fundando

ali Nova Amsterdã, nome que, posteriormente, foi mudado pelos ingleses para Nova Iorque.

Em 1609, o inglês Henry Hudson, a serviço dos holandeses, encontrou um grande rio,

na região atual dos Estados Unidos, que foi batizado de Rio Hudson. Pouco tempo depois,

durante o século XVII, o Nordeste brasileiro, o Suriname e algumas regiões das Antilhas, na

América Central, estiveram sob o domínio holandês.

VINGBOONS, Johannes. Vista de Nova Amsterdã. 1664. Arquivos Nacionais, Haia.

1 Para os mercadores europeus, o Mar Mediterrâneo tinha enorme importância.

a) Como se justifica essa afirmação?

b) Por que as rotas pelo Mediterrâneo deixaram de ser usadas pelos europeus?

c) Quais foram as consequências disso?

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2 Além da troca de mercadorias, quais outras trocas o contato entre o Oriente e o Ocidente possibili-tava aos europeus?

3 Qual segmento social financiou muitas das viagens marítimas? Quais eram as razões para o financiamento?

4 Qual era o interesse dos monarcas em promover uma aliança com a burguesia comercial para a rea-lização das viagens marítimas dos séculos XV e XVI?

5 Qual relação se pode estabelecer entre a centralização do poder político na Europa e a realização de expedições marítimas?

6 Para Portugal, o comércio com o Oriente rendeu grandes lucros no início, mas em pouco tempo a realidade mudou. O que aconteceu?

7 Por que o continente aonde os europeus chegaram com as navegações ultramarinas recebeu o nome de América e não outro que homenageasse Cristóvão Colombo?

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História

P – para Portugal

E – para Espanha

I – para Inglaterra

F – para FrançaH – para Holanda

a) ( ) Explorou o litoral da América do Norte, fundando ali a cidade chamada Nova Amsterdã.

b) ( ) Bartolomeu Dias atingiu o Cabo das Tormentas, posteriormente chamado de Cabo da Boa Esperança.

c) ( ) Giovanni Verrazano navegou pelo litoral leste da América do Norte e conquistou a Baía de Nova Iorque.

d) ( ) Giovanni Caboto chegou à América do Norte onde hoje é o Canadá.

e) ( ) Vasco da Gama chegou a Calicute, costa oeste da Índia.

f) ( ) Francis Drake, pirata que recebeu o título de cavaleiro e que, em 1577, fez sua segunda viagem de circum-navegação.

g) ( ) Henry Hudson encontrou um grande rio, na região atual dos Estados Unidos, que foi bati-zado de Rio Hudson.

h) ( ) O explorador Jacques Cartier chegou à região do atual Canadá.

10 Em 1493, o Papa editou um documento chamado Bula Inter Coetera. Apenas um ano depois, em 1494, foi firmado o Tratado de Tordesilhas, que anulou o documento anterior. O que esses docu-

mentos definiam? Por que o segundo documento anulou o primeiro?

8 O Tratado de Tordesilhas dividiu as terras descobertas e por descobrir entre Portugal e Espanha. Os demais Estados Nacionais aceitaram essa determinação? Justifique sua resposta.

9 Nas alternativas abaixo, há informações sobre as conquistas realizadas durante o período da expan-são marítima. Classifique-as de acordo com a legenda a seguir.

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capí

tulo

Reformas religiosas 4

No final da Idade Média, a Igreja Católica exercia gran-

de poder, estabelecendo os rumos religiosos, as diretrizes

políticas e sociais na Europa. Porém, a partir do século XIV,

as contestações ao modo de agir dessa instituição se ge-

neralizaram. Algumas pessoas, movidas pela fé ou por in-

teresses econômicos, passaram a exigir mudanças, o que

caracterizou a Reforma.

Como é possível reconhecer essa situação na imagem

de abertura do capítulo?

Causas da Reforma

Precursores da

Reforma

Reforma Protestante

Expansão da Reforma

Contrarreforma ou Reforma Católica

o que vocêvai conhecer

Pintura do século XVII retrata religiosos protestantes da Europa reunidos em torno de uma mesa e, na parte inferior da tela, alguns membros da Igreja Católica.

©Coleção particular

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História

Identificar as características que marca-ram a relação da sociedade com a Igreja Católica no final da Idade Média.

Estabelecer relações entre essas caracterís-ticas e as ações praticadas pelos membros da Igreja.

Compreender as razões que levaram alguns membros da Igreja a se revoltarem contra ela.

Conhecer como eram as novas Igrejas que surgiram na Alemanha, na França, na Suíça e na Inglaterra.

Entender as razões que levaram a Igreja Católica a empreender a Contrarreforma.

Identificar as estratégias utilizadas pela Igreja Católica para combater o avanço das demais Igrejas cristãs.

objetivos do capítulo

Causas da Reforma

A Igreja Católica era a instituição mais poderosa durante a Baixa Idade Média (do século

XI ao XV). Ela determinava a conduta religiosa e moral das pessoas e tinha forte influencia

sobre a política e a economia. A população europeia a considerava autoridade espiritual úni-

ca, acreditando que só haveria salvação para a alma daqueles que a seguissem. O papa, líder

religioso único, detinha maior poder que os senhores feudais, bastante numerosos e com

poderes limitados a seus feudos.

Os membros do clero católico eram

vistos como autoridades responsáveis

pela boa conduta de seus fiéis. Todos os

setores da vida eram regidos por normas

e determinações da Igreja: os feriados e os

dias festivos, o comportamento dos indiví-

duos, a vida familiar, o acesso a determina-

dos conhecimentos, etc.

Entretanto, com todas as mudanças

ocorridas na Europa, mais evidenciadas

a partir do século XIV, também a Igreja

Católica e seus integrantes passaram a

sofrer críticas. À medida que as estrutu-

ras existentes no feudalismo eram ques-

tionadas, entrando em crise, a religião

na Europa passou a enfrentar profundas

modificações.

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SANZIO, Rafael. Papa Leão X com os cardeais Giulio de’ Medici e Luigi de’ Rossi. [1518-1519]. 1 óleo sobre madeira,

color., 154 cm × 119 cm. Galeria dos Ofícios, Florença.O Papa Leão X exercia o pontificado quando a Igreja

Católica passou a sofrer as críticas mais radicais.

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A Igreja vinha concentrando, ao longo dos anos, um imenso poder, não apenas espiritual, mas, também, material e político. [...]

Os papas viviam em constante conflito com os imperadores, todos procurando obter cada vez mais poder político e econômico. Os príncipes, por seu lado, buscavam retirar da Igreja o controle das imensas extensões de terras e outros bens. [...]

Na Europa do século XVI, era generalizada a necessidade de se encontrar algum apoio fir-me num mundo que parecia estar se desfazendo, que muitos afir-mavam estar perto do fim.

Durante algum tempo, a venda de indulgências promovida pela Igreja acalmou essa situação. No entanto, isso se revelou uma prá-tica por demais vergonhosa.

VEIGA, Luiz Maria. A Reforma Protestante. 2. ed. São Paulo: Ática, 1991. p. 1-2.

Foram várias as causas que contribuíram para fragilizar a Igreja Católica: políticas, eco-

nômicas, morais e religiosas. As inovações técnicas que ocorreram no período também afe-

taram o poderio da instituição, uma vez que respostas científicas deixavam de lado antigas

teorias defendidas pela Igreja.

Entender o significado das expressões “Reforma” e “Contrarreforma” é fundamental

para compreender esse período de mudanças na Europa.

[...] A expressão Reforma da Igreja designa uma série de acontecimentos que romperam a uni-dade da Igreja Católica e deram origem a novas religiões (luteranismo, anglicanismo, calvinis-mo…). Por Contrarreforma, entendemos o conjunto de medidas que a Igreja Católica tomou para tentar deter esse processo de rompimento, modificando em parte seus dogmas e sua estrutura interna.

SEFFNER, Fernando. Da Reforma à Contrarreforma: o cristianismo em crise. 3. ed. São Paulo: Atual, 1993. p. 3.

Causas políticas

Havia conflitos entre papas e monarcas em torno de questões relacionadas ao controle

do poder político. Muitos monarcas usavam a religião para se fortalecer politicamente.

Os papas, por sua vez, afirmavam que a Igreja, além de deter o poder espiritual, tinha

autoridade sobre o poder temporal (político). Segundo eles, os reis somente poderiam go-

vernar com a autorização e o acordo dos papas.

O desenvolvimento de um novo pensamento, com base na formação das monarquias na-

cionais, colocou a população contra o domínio e a influência excessiva da Igreja nos assuntos

internos de seus Estados. Sua intervenção era considerada um entrave ao desenvolvimento

econômico, uma vez que a Igreja mantinha uma estrutura política baseada no modelo feudal.

Indulgência: perdão que a Igreja concedia aos pecadores. No princípio, deveriam ser pagas com orações, mas, com o tempo, foram substituídas por doações de dinheiro ao clero.

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O GABINETE do coletor de impostos. [ca 1580]. Museu de Belas Artes, Nancy.

Representação de burgueses que trabalhavam com empréstimos. Apesar da aproximação entre a Igreja e os burgueses, ocorrida no final da Idade Média, muitos acreditavam que a Igreja Católica atrapalhava seus negócios.

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História

Causas econômicas

Detentora de um enorme império econômico, a Igreja era a

maior proprietária de terras na Europa Ocidental. Ela também

concentrava outros bens, como igrejas, abadias, conventos, me-

tais preciosos e joias, e gozava da isenção de impostos sobre essas

riquezas. Os reis e os nobres viam na Reforma a possibilidade de

tomar posse desses bens.

A burguesia considerava a Reforma uma oportunidade de não

mais pagar impostos à Igreja Católica, os quais enriqueciam con-

tinuamente o clero. Além disso, como a Igreja condenava a usura

(cobrança de juros) e o lucro obtido acima do valor real das merca-

dorias, ela criava obstáculos para as atividades comerciais e ban-

cárias praticadas pela burguesia mercantil.

Causas morais e religiosas

O dinheiro recolhido pela Igreja em forma de dízimo (o corres-

pondente a um décimo da renda de cada cristão) era usado para sus-

tentar a igreja paroquial. Contudo, a partir do Renascimento, além do

dízimo, o número de impostos aumentou, com a finalidade de reunir

fundos para a construção da Igreja de São Pedro, em Roma.

Com o mesmo objetivo, a Igreja passou a vender cargos eclesiásticos em larga escala, prá-

tica que se tornou corrente, pois representou importante fonte de renda para a instituição.

Outra fonte de renda era a venda de relíquias (objetos tidos como sagrados e milagrosos).

O comércio e a veneração de artigos religiosos atingiram tal vulto que alguns críticos da Igreja denunciavam o fato de que nada menos de cinco tíbias do ju-mento montado por Jesus quando entrou em Jerusalém eram exibidas em dife-rentes lugares, sem contar as doze cabeças de João Batista, inúmeras penas do Espírito Santo e inclusive um ovo exibido pelo arcebispo de Mogúncia, além de espinhos da cruz de Cristo, pedaços do Santo Sudário ou o manto da Virgem Maria, migalhas do pão que Jesus partiu na última ceia [...].

SEFFNER, Fernando. Da Reforma à Contrarreforma: o cristianismo em crise. 3. ed. São Paulo: Atual, 1993. p. 20.

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A cúpula da Basílica de São Pedro, projetada por Michelangelo, é visível de vários pontos

da cidade de Roma e considerada símbolo do poder da Igreja Católica.

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A vida escandalosa de certos papas, como Alexandre VI, que

teve amantes e filhos, e de muitos padres e monges que manti-

nham uma vida paralela à religiosa não era vista com bons olhos

pelos cristãos, pois boa parte do dinheiro arrecadado pela Igreja

estava sendo destinada à manutenção dessas famílias.

Com a vida desregrada do alto clero, desperdiçava-se vultosas

somas para manter a opulência e o luxo que o cercavam. Papas

como Júlio II e Leão X tornaram-se grandes mecenas, patrocinan-

do as artes na Itália com o dinheiro arrecadado dos cristãos do

norte da Europa. Havia ainda o envolvimento da Igreja em cons-

tantes conflitos.

Mudança de consciência e inovações técnicas

O aperfeiçoamento da imprensa, realizado por Johannes

Gutenberg, favoreceu a difusão de obras escritas, entre elas a

Bíblia. Sua tradução para outros idiomas possibilitou que muitos

cristãos ou não cristãos a interpretassem, tomando conhecimen-

to direto dos ensinamentos do cristianismo e reconhecendo as

contradições praticadas pela Igreja da época.

Pensadores humanistas, como Erasmo de Rotterdam, Thomas

Morus e François Rabelais, passaram a criticar a Igreja no intuito

de fazê-la reencontrar os verdadeiros princípios do cristianismo.

Não pretendiam, entretanto, romper com ela, tampouco incenti-

var a criação de novas religiões. Criticavam-na apenas com o ob-

jetivo de moralizar seus costumes. Esses estudiosos valorizavam

o indivíduo e acreditavam que o sentimento da fé era algo muito

pessoal. Muitos criticavam o luxo entre os representantes da Igre-

ja e o envolvimento deles em atividades políticas.

Várias ordens católicas surgidas na Baixa Idade Média, como

os franciscanos, os dominicanos e as carmelitas, também eram

contra tal luxo e riqueza. Os religiosos dessas ordens não concor-

davam com as práticas da instituição, cada vez mais distantes das

funções espirituais.

No século XV, Gutenberg

inventou uma máquina

de impressão tipográfica,

um equipamento capaz de

reproduzir palavras, frases,

textos e livros por meio de

tipos móveis. Cada tipo móvel

tinha uma letra em relevo. Os

tipos eram organizados um ao

lado do outro dentro de uma

espécie de forma e sobre eles

se aplicava a tinta. Depois,

colocava-se o papel em cima

dos tipos e uma prensa pesada

descia sobre a forma. E assim se

obtinha uma página impressa!

AMMAN, Jost. Tipografia. 1568. Xilogravura. Livro alemão das profissões do século XVI.

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atividades

1 Complete a cruzadinha a seguir com palavras relacionadas às causas da Reforma (para cada causa

use uma cor diferente).

Causas políticas (vermelho)

1) Usavam a religião para se fortalecerem politicamente.

2) Outro poder sobre o qual a Igreja tinha autoridade, além do espiritual, de acordo com os papas.

3) Modelo no qual se baseava a política da Igreja.

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História

Causas econômicas (verde)

4) Grupo social que queria a oportunidade de não pagar mais impostos para a Igreja Católica.

5) Prática econômica condenada pela Igreja, além do lucro.

6) Riqueza da qual a Igreja era a maior proprietária na Europa Ocidental, muito cobiçada pela nobreza.

Causas morais e religiosas (azul)

7) Sua venda era uma fonte de renda para a Igreja, muito criticada pelos protestantes.

8) Forma de recolher dinheiro para a construção da Igreja de São Pedro, correspondente a um décimo da renda dos fiéis.

9) Característica da vida de alguns papas que não era vista com bons olhos pelos cristãos.

Mudança de consciência e inovações técnicas (laranja)

10) Inventou uma máquina de impressão tipográfica.

11) Sua tradução para diversas línguas permitiu que muito mais pessoas pudessem ler e interpre-tar suas mensagens.

12) Ordem católica surgida na Baixa Idade Média contra o luxo e a riqueza da Igreja, além dos franciscanos e das carmelitas.

C A U S A S * D A * R E F O R M A

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Precursores da Reforma

Diante das críticas e contestações feitas à Igreja,

muitas pessoas passaram a desejar mudanças e refor-

mas na Igreja Católica. Membros da própria Igreja já ha-

viam tentado, sem obter êxito, conscientizar a cúpula

católica da necessidade de uma reestruturação interna.

Durante a Baixa Idade Média, houve tentativas

de reformas religiosas por parte de dois teólogos:

John Wycliffe (1329-1384), na Inglaterra, e Jan Huss

(1369-1415), na Boêmia (atual República Tcheca).

Wycliffe censurou os tributos cobrados pela Igreja

e o poder dos papas sobre reis e governantes. Conde-

nou, ainda, as riquezas mantidas pelo clero, a cobran-

ça das indulgências, o culto aos santos e às relíquias.

cristão era a Bíblia.

Jan Huss foi influenciado pelas ideias de Wycliffe e

traduziu a Bíblia para o idioma tcheco. Assim como seu

precursor, criticou a Igreja por ser detentora de riqueza e

poder, sendo, por esse motivo, excomungado pelo Papa

Alexandre V e morto na fogueira como herege. Sua exe-

cução provocou violentos conflitos religiosos em seu país.

Reforma Protestante

Os movimentos pré-reformistas na Inglaterra e na Boêmia prepararam o caminho para

o êxito da Reforma Protestante no território que atualmente conhecemos como Alemanha.

No século XVI, vários territórios independentes formavam o Sacro Império Romano-Ger-

mânico, governado por Carlos V de Habsburgo, imperador consagrado pelo papa. A unidade

política desse império era bastante frágil, uma vez que estava fragmentado e era governado

por príncipes locais, que deviam lealdade ao imperador.

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Jan Huss (1369-1415) em desenho

de 1859. Padre tcheco,

filósofo, reformador

e mestre na Universidade

Charles, em Praga.

YEAMES, William F. Wycliffe entregando para os padres pobres sua tradução da Bíblia. Gravura. Coleção Particular.

©Coleção Particular

2 Qual é a relação entre a invenção de Gutenberg e a Reforma?

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História

A economia e a estrutura social ainda eram semifeudais.

Além disso, aproximadamente 30% das terras pertenciam à

Igreja Católica. Os príncipes locais ambicionavam tomar posse

das propriedades da Igreja, pois, dessa forma, poderiam redu-

zir o poder e a influência do papa e do imperador sobre seus

domínios, assim como a enorme carga de impostos aos quais

eram submetidos.

O comércio de cargos eclesiásticos e a venda de indulgên-

cias realizados pela Igreja funcionaram como estopim para a

Reforma na Alemanha.

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SEISENEGGER, Jacob. Retrato do imperador Carlos V. 1532. 1 óleo sobre tela, color., 205 cm × 123 cm. Museu

de História da Arte, Viena.

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CRANACH, Lucas. Retrato de Martinho Lutero. 1529. 1 óleo sobre tela, color., 55,8 cm × 60 cm. Galeria dos Ofícios, Florença.

As 95 teses pela Reforma

Martinho Lutero (1483-1546) era um monge da ordem católica dos agostinianos. De-

pois de ter passado alguns anos no mosteiro, durante os quais estudou o pensamento de

Santo Agostinho, tornou-se professor de Teologia. Admirava os escritos e as ideias de Jan

Huss sobre a liberdade cristã e a necessidade de reconduzir o mundo cristão à simplicidade

da vida exercida pelos primeiros apóstolos.

Mesmo antes de entrar para o mosteiro, Lutero já se debatia com o sentimento do pe-

cado, ao qual julgava estarem condenados todos os cristãos. Mesmo sendo um monge, não

via a possibilidade de alcançar a salvação de sua alma nem mesmo pelo intermédio da Igreja.

Mediante incansável leitura da Bíblia, Lutero encontrou,

enfim, respostas para suas angústias. A partir desse momento,

passou a defender a tese que ficou conhecida como “A doutri-

na da salvação pela fé”. Segundo essa doutrina, somente a fé

em Deus torna possível a salvação do cristão. Isto é, não seria

por meio de ações como o jejum ou pela compra de indulgên-

cias que o cristão seria salvo, mas apenas por intermédio da

leitura da Bíblia, a qual permitiria ao cristão encontrar o signi-

ficado da fé e de sua vida na Terra.

Lutero, entendia que a venda de indulgências era um abu-

so de poder por parte da Igreja. Para discutir esse e outros

assuntos, ele escreveu 95 teses ou declarações, que pretendia

expor em um debate na Universidade de Wittenberg, onde era

professor de Teologia, entretanto não houve discussão.

Em 1517, Lutero afixou as 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg. Nessas

proposições, fazia duras críticas à venda das indulgências e ao sistema clerical dominante.

Por meio de suas teses, ele deu início à Reforma Protestante, pois, além de criticar a Igreja

Católica, apontava os princípios básicos daquela que viria a ser a nova Igreja de grande parte

da população naquela região. Leia a seguir quais são esses princípios.

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HÜBNER, Julius. As 95 Teses de Martinho Lutero. 1878. Museu Casa de Lutero, Wittenberg.

A pintura mostra Lutero no momento em que são pregadas as 95 teses na porta da igreja de Wittenberg, atualmente território da Alemanha.

livre interpretação da Bíblia;

Bíblia como única fonte da

verdade divina, com acesso a

todas as pessoas;

salvação da alma por meio da fé;

aceitação de apenas dois sacramentos:

batismo e eucaristia;

fim do celibato: os líderes da Igreja Pro-

testante poderiam constituir família;

proibição do culto aos santos e da venda

de indulgências;

realização das cerimônias religiosas nos

idiomas locais.

©Collection Lutherhaus

A repercussão das ideias de Lutero foi enorme. Rapidamente, obteve o apoio de grande

parte dos príncipes, dos nobres e dos magistrados, uma vez que estes também lutavam con-

tra o domínio da Igreja. Com esse apoio, Lutero passou a defender a criação de uma Igreja

nacional independente de Roma. Propunha o fim das ordens religiosas, o casamento dos

clérigos e medidas severas contra o luxo excessivo.

Em 1520, o Papa Leão X lançou uma bula condenatória contra Lutero, forçando sua retra-

tação e ameaçando-o com a excomunhão. Lutero queimou a bula em praça pública. Pronta-

mente, a Igreja passou a persegui-lo como herege.

Carlos V, imperador do Sacro Império Romano-Germânico, pressionado pela Igreja, con-

vocou uma assembleia, a Dieta de Worms, com a presença de

todos os governantes locais, no intuito de julgar o “herege”. Lu-

tero, que contava com o apoio de grande parte dos príncipes

e de boa parte dos camponeses, não foi punido; ao contrário,

recebeu o apoio do príncipe da Saxônia, que o acolheu em seu

castelo.

Durante seu exílio, Lutero fez a primeira tradução da Bíblia

latina para o alemão, com o objetivo de torná-la acessível. Es-

creveu, ainda, panfletos e cartas criticando a Igreja. Em 1521, foi

excomungado pela Igreja Católica.

Durante o tempo em que passou refu-

giado na Saxônia, a Reforma Religiosa pre-

tendida por Lutero escapou de seu controle,

assumindo conotações políticas e socioeco-

nômicas. Os príncipes tomaram posse das ter-

ras da Igreja; os camponeses, liderados pelo

Aqui, na Dieta de Worms,

o termo “dieta” tem o

significado de assembleia

política ou legislativa de

certos Estados europeus,

instituída originalmente na

Alemanha, no século XVI.

©Kunsthalle Hamburg, Hamburgo

VOGEL, Hugo. Martinho Lutero pregando no castelo de Wartburg. 1882. 1 óleo sobre tela, color., 93,1 cm × 71, 8 cm. Kunsthalle Hamburg, Hamburgo.

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História

sacerdote luterano Thomas Münzer, revoltaram-se em 1524 contra a exploração que sofriam

por parte da Igreja e dos príncipes. Mais tarde, Münzer distanciou-se de seu mestre Lutero,

pregando a própria doutrina de reforma, a qual, além de condenar o clero e a Igreja Católica,

opunha-se aos príncipes, ricos e poderosos, identificados por ele como inimigos de Cristo.

Lutero, que recebia a proteção dos príncipes, condenou a revolta dos camponeses. Mün-

zer foi decapitado e, com ele, muitos revoltosos foram massacrados por um forte exército de

cavaleiros, organizado pelos príncipes locais.

Em 1529, a Dieta de Speyer foi convocada pelo imperador com o objetivo de impor o

catolicismo aos príncipes luteranos e afastar Lutero do Sacro Império. Esses príncipes pro-

testaram contra as manobras políticas do imperador e retiraram-se da assembleia; a par-

tir desse episódio, passaram a ser conhecidos como protestantes (termo que se estendeu

depois a outras seitas reformadas não luteranas). Somente a partir de 1555, com a Paz de

Augsburgo, é que a questão foi finalmente resolvida. Ali se estabeleceu que cada príncipe

poderia optar pela religião que melhor lhe conviesse em suas terras.

Com isso, o Sacro Império Romano-Germânico ficou dividido em dois grupos: um com

predominância protestante (ao norte) e outro com predominância católica (ao sul).

A Reforma Protestante e as ideias de Lutero chegaram a outros países, como Dinamar-

ca, Suécia e Noruega, os quais foram, sucessivamente, rompendo com a doutrina católica e

promovendo a reestruturação das novas doutrinas religiosas.

1 Lutero defendia uma tese que ficou conhecida como “A doutrina da salvação pela fé”. O que ela significava?

2 As 95 teses de Lutero faziam críticas à Igreja Católica e apontavam princípios básicos para uma nova Igreja. Sobre as teses, responda:

a) Quais eram as críticas que elas faziam à Igreja Católica?

b) Cite três princípios importantes defendidos nas teses.

3 Leia a afirmação: “A repercussão das ideias de Lutero foi enorme. Rapidamente, obteve o apoio de

grande parte dos príncipes, dos nobres e dos magistrados”.

Por que esse grupo apoiou as ideias de Lutero?

organizando a história

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Expansão da Reforma

À medida que o luteranismo ganhava força e se espalhava por outros países da Europa,

aumentavam as discussões sobre as teses defendidas por Lutero, e novas interpretações

surgiam.

Reforma na França e na Suíça

João Calvino (1509-1564) foi um dos teólogos franceses que aderiram ao movimento

reformista luterano. Perseguido, juntamente com outros reformistas, refugiou-se na Suíça,

onde entrou em contato com as ideias humanistas e com a literatura grega antiga.

No início, Calvino seguiu os princípios de Lutero. Contu-

do, com o tempo, acrescentou a eles ideias mais radicais, ins-

piradas em suas leituras. Reconhecia a autoridade da Bíblia

e, igualmente, sustentava a convicção de que a salvação se-

ria obtida somente pela fé e não pelas obras de caridade, pe-

nitência e outras práticas defendidas pelo catolicismo. Criou

a teoria da predestinação, segundo a qual o ser humano

teria seu destino traçado desde o nascimento. Sendo assim,

era importante saber quem era predestinado à salvação ou

à condenação. Calvino afirmava que cabia ao ser humano,

por meio de seu trabalho, demonstrar que era um eleito por

Deus – a prosperidade econômica individual era considerada

um dos sinais dessa predestinação.

A teoria da predestinação era, portanto, a base do pen-

samento de Calvino. As normas comportamentais estabele-

cidas para seus seguidores foram bastante austeras.

Calvino pregava o ideal do trabalho e a sobriedade nos

hábitos cotidianos. Os calvinistas usavam roupas escuras e simples e devotavam a vida à fa-

mília, ao trabalho e à religião.

Diferentemente do que o catolicismo medieval propunha, o acúmulo de riquezas não

era malvisto, desde que não fosse utilizado para hábitos mundanos, como a participação em

festas e jogos ou o consumo de bebidas. Muitos pesquisadores associam os hábitos calvinis-

tas ao fortalecimento do capitalismo no início da Idade Moderna.

Calvino aboliu de sua igreja as imagens de santos e o ritual das missas, instituindo tão

somente a leitura da Bíblia. Os únicos sacramentos por ele reconhecidos foram o batismo e

a comunhão.

A doutrina de Calvino foi criticada por muitos humanistas, que condenavam a ideia de um

Deus tirano e vingativo. Para os humanistas, as pessoas eram capazes de usar a razão para

mudar sua vida. Contudo, as ideias de Calvino foram amplamente aceitas pelos burgueses,

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WOOLNOTH, T. Retrato de João Calvino. Publicado na Galeria dos Retratos com a Enciclopédia das Memórias, Reino Unido, 1833.

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História

que encontraram nela um alento

às suas convicções no que diz res-

peito à valorização do trabalho, da

poupança e do acúmulo de capital,

valores nem sempre aceitos pela

Igreja Católica. Por isso, a doutrina

calvinista teve ampla difusão nos

lugares em que o capitalismo se de-

senvolvia e onde a burguesia lutava

contra a Igreja e os senhores feudais

em busca de reconhecimento social

e legitimação para suas formas de

enriquecimento.

Reforma na Inglaterra

Em um primeiro momento as ideias de Lutero foram conde-

nadas pelo governante da Inglaterra, o rei Henrique VIII. Tal pos-

tura rendeu ao rei o título de Defensor da Fé, concedido pelo

Papa Leão X.

Por outro lado, a influência dos membros da Igreja na política

era muito grande: seus conselhos mudavam a posição política dos

nobres e suas leis, que, muitas vezes, eram contrárias às leis do

rei. Isso lhes concedia um poder que desagradava o monarca.

Além disso, Henrique VIII era casado com Catarina de Ara-

gão, rainha de origem espanhola, juntos tiveram uma filha, Mary

Tudor. Após alguns abortos e gestações complicadas, acreditava-se

que a rainha havia se tornado estéril. O rei desejava um herdeiro

homem e passou a solicitar à Igreja Católica a anulação de seu ca-

samento para que pudesse se casar novamente, desta vez com Ana

Bolena, uma de suas amantes. O Papa Clemente VII não concedeu a

anulação pretendida por Henrique VIII. Diante desse fato, em 1531,

o Parlamento e Henrique VIII, reunidos, criaram o Ato de Supre-

macia, que determinava a separação entre a Igreja da Inglaterra,

que passou a se chamar anglicana, e a Igreja de Roma. Henrique VIII

acumulou, o cargo de chefe supremo da religião ao cargo de rei. De

posse do título, ele anulou seu primeiro casamento e se uniu a Ana

Bolena, com quem teve uma filha.

Para ganhar o apoio da nobreza e da burguesia, o rei diminuiu

impostos eclesiásticos e doou terras confiscadas da Igreja Católi-

ca na Inglaterra para alguns membros da nobreza.

Na Escócia, foi organizada a

Igreja Presbiteriana, inspirada

na doutrina de Calvino. No

norte da Holanda, organizou-se

o movimento dos puritanos, o

qual conquistou, também, boa

parte da população na Inglaterra.

Na França, os calvinistas ficaram

conhecidos como huguenotes.

PERRISSIN, J. J. O Templo de Paradis, Lyon. 1568. 1 óleo sobre tela, color., 45 cm × 35,5 cm. Museu Internacional da Reforma de Genebra.

Representação de uma igreja calvinista na França no século XVI

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Henrique VIII se casou mais quatro vezes, mas teve

apenas um filho homem, Eduardo VI, que governaria por

um breve período em razão de sua frágil saúde. A filha

de Henrique VIII e Ana Bolena governou a Inglaterra

com o título de rainha Elizabeth I. Coube a essa rainha a

organização da religião anglicana, seguindo a doutrina

de Lutero.

©Palácio de Hampton Court, Londres

A FAMÍLIA de Henrique VIII. [ca. 1545]. 1 óleo sobre tela, color., 141 cm × 355 cm. Palácio de Hampton Court, Londres. Detalhe.

A imagem retrata Henrique VIII ladeado pelo príncipe Edward e Jane Seymour (sua terceira esposa). Jane Seymour faleceu logo após seu filho nascer, sua representação em uma obra posterior a sua morte, revela a consideração que o rei tinha para com ela.

Leia com atenção algumas frases que trazem informações sobre a expansão da Reforma na Europa, identificando corretamente os países a que se referem: 1) França; 2) Suíça; 3) Inglaterra; 4) Escócia; 5) Holanda e 6) Chegou aos cinco países.

organizando a história

( ) Coube à rainha Elizabeth I a organização da religião anglicana, seguindo a doutrina de Lutero.

( ) Foi organizada a Igreja Presbiteriana, inspirada na doutrina de Calvino.

( ) Os calvinistas ficaram conhecidos como huguenotes.

( ) Para ganhar o apoio da nobreza e da burguesia, o rei diminuiu impostos eclesiásticos e

doou terras confiscadas da Igreja Católica para alguns membros da nobreza.

( ) As normas comportamentais estabelecidas para os seguidores de Calvino foram bastante austeras e radicais; entre elas, estava a proibição de jogos, bailes, teatros e uso de joias.

( ) Organizou-se o movimento dos puritanos.

( ) O Ato de Supremacia determinava a separação entre a Igreja desse país, que passou a ser chamada de anglicana, e a Igreja de Roma.

( ) O acúmulo de riquezas não era malvisto pelos calvinistas, desde que não fosse utilizado para hábitos mundanos, como a participação em festas e jogos ou o consumo de bebidas.

Contrarreforma ou Reforma Católica

A Igreja Católica reagiu ao movimento protestante. Seu objetivo principal era tentar evi-

tar a perda de fiéis e a consequente diminuição da autoridade papal. Essa reação da Igreja

ficou conhecida como Contrarreforma ou Reforma Católica.

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História

O papa Paulo III deu início ao movimento ao convocar um concílio, em 1545, com o pro-

pósito de avaliar as críticas aos membros do clero e de traçar estratégias para que a Igreja

Católica pudesse superar a grave crise pela qual passava. As obras de Paulo III foram, depois,

continuadas pelo papa Paulo IV.

Fases da Contrarreforma

Em uma primeira fase, as autoridades da Igreja resolveram utilizar o medo e a violência

para reprimir as ideias reformistas. Para tanto, o Tribunal da Inquisição prendeu e condenou

a torturas e à morte os chamados hereges.

Mais tarde, a Igreja Católica passou a reavaliar sua organização e seus princípios em uma

atitude de autoanálise. O objetivo era promover reparações nos pontos mais criticados pe-

los reformistas protestantes, além de reafirmar os dogmas que haviam sido atacados.

Com o processo de organização de suas estruturas e posturas, a Igreja Católica conse-

guiu reaver muitos de seus fiéis que estavam descontentes com os abusos do clero. Contu-

do, aqueles que haviam mudado para o protestantismo por motivos políticos e econômicos

permaneceram aliados de Lutero, de Calvino e de outros pregadores que seguiram o cami-

nho desses dois reformistas.

Instrumentos da Contrarreforma

Na tentativa de reverter o movimento reformista protestante e, ao mesmo tempo, rea-

valiar sua organização, a Igreja utilizou alguns instrumentos. Foram considerados os princi-

pais: o Concílio de Trento, a Companhia de Jesus e a Inquisição.

O papa Paulo III convocou, em dezembro de 1545, o 19º Concílio Ecumênico da Igreja Cristã,

na cidade de Trento: uma deliberação que teve longa duração (terminou apenas em 1563), pois

foi interrompida diversas vezes em virtude de epidemias, conflitos ou desentendimentos entre

seus integrantes.

O Concílio de Trento, como essa re-

união ficou conhecida, tinha como objeti-

vos principais reafirmar os dogmas da re-

ligião católica que haviam sido atacados

pelos protestantes e estabelecer uma

disciplina mais rígida para os integrantes

do clero.

O Concílio Ecumênico da

Igreja Cristã é uma reunião

dos bispos cristãos com o

objetivo de discutir e resolver

problemas de disciplina dos

membros da Igreja ou de

doutrina. Aconteceram 21

concílios até hoje: o primeiro

em 325 e o último em 1965.FARINATIS, Paolo. Reunião do Conselho de Trento, em 1563. séc. XVI. Biblioteca de Arte Bridgeman, Londres.

Biblioteca de Arte Bridgeman, Londres

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As principais decisões do concílio foram a manutenção de

alguns princípios, como: os sete sacramentos; a crença e o culto

aos santos; a veneração de imagens; a autoridade incontestável

do papa; e o celibato clerical. Foi também estabelecido um código

de conduta mais rígido para os integrantes do clero. Além disso,

decidiu-se pelo fim da venda de indulgências, mas ficou mantida

a proibição da livre interpretação da Bíblia. Outra decisão foi a

criação do Index Librorum Prohibitorum (Índice dos Livros Proibi-

dos), uma lista que continha os títulos dos livros cuja leitura era

proibida aos católicos, como os livros de Copérnico.

Companhia de Jesus

A Companhia de Jesus foi uma

ordem religiosa criada em 1539 por

Inácio de Loyola. Seus integrantes, os

jesuítas, foram também chamados de

soldados de Cristo, pois, além de vi-

verem em extrema rigidez moral e se

dedicarem a rigorosos e prolongados

estudos em diversas áreas, ainda rece-

biam treinamento militar.

Os jesuítas se destacaram no ensi-

no, na catequização e nas missões em-

preendidas em outros continentes. Ao

realizarem a evangelização de povos

denominados pagãos, tinham por obje-

tivo ampliar o número de fiéis e elevar

o prestígio da Igreja Católica.

Os sete sacramentos católicos

são: batismo, confirmação,

eucaristia, penitência,

unção dos enfermos, ordem

sacerdotal e matrimônio.

CATI, Pasquale. O Concílio de Trento. 1588. 1 afresco, color. Basílica Santa Maria em Trastevere, Roma.

Nesta representação artística, vemos à frente uma mulher representando a Igreja, que, em vestes opulentas e em uma atitude

triunfante, pisa sobre uma figura que personifica a heresia.

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apostasia: abandono da fé de uma Igreja, principalmente cristã.

Tribunal do Santo Ofício

Os tribunais eram compostos por membros da Igreja Católica e tinham como objetivo

julgar as pessoas consideradas hereges. Os inquisidores chegavam até os acusados de he-

resias por meio de denúncias, delações ou investigações. A prisão, a tortura, o confisco de

bens e a morte na fogueira eram as penas impostas aos acusados de bruxaria, apostasia,

sacrilégio, entre outras práticas.

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História

O Tribunal do Santo Ofício atuou prati-

camente em toda a Europa, mas foi na Es-

panha e em Portugal que mais condenou e

executou pessoas. Essa atuação se esten-

deu também às suas colônias.

Guerras religiosas

O panorama religioso da Europa ao final

do século XVI indicava que a Igreja Católica

não tinha mais o total domínio que havia man-

tido durante séculos. O continente continuava

sendo formado basicamente por cristãos, mas

agora eles estavam divididos em várias igrejas.

As diferenças entre elas acabaram criando um clima de forte intolerância religiosa e desencadea-

ram inúmeros conflitos. Muitas pessoas acreditavam que, ao participarem dessas lutas, estavam

servindo a Deus.

Era comum que reis e nobres optassem

por uma das igrejas, protestante ou católica,

muitas vezes mais interessados no poder que

podiam obter do que pela fé. Em diversos ca-

sos, os conflitos religiosos eram um pretexto

para o desencadeamento de disputas políticas,

que podiam resultar em sangrentas batalhas.

Um dos episódios mais trágicos relacio-

nados a esses conflitos foi a Noite de São

Bartolomeu, em 24 de agosto de 1572. O

massacre durou algumas semanas e estima-

-se que tenham morrido mais de 10 mil pro-

testantes nesse período.

Na ocasião, os reis católicos realizaram uma ação de repressão aos protestantes que

teve início em Paris e se estendeu por mais 12 cidades francesas.

Para acabar com as disputas, Henrique de Navarra, protestante e herdeiro do trono fran-

cês, converteu-se ao catolicismo. A paz, contudo, só seria estabelecida vários anos depois, em

1598, quando o mesmo rei Henrique assinou o Edito de Nantes, documento que reconhecia a

liberdade religiosa e os direitos políticos aos protestantes em toda a França.

No século XVII, ocorreram diversos conflitos que envolveram várias nações europeias em

razão das divergências entre católicos e protestantes. Esses conflitos foram denominados de

Guerra dos Trinta Anos e provocaram diversas mortes. Em 1648,

pelo Tratado de Westfália, o Sacro Império Romano-Germânico ofi-

cializou os dois credos – a religião católica e a protestante – em seu

território. Espanha e França permaneceram no conflito até 1659,

quando assinaram o Tratado dos Pirineus. Por fim, entre 1660 e 1661,

um conjunto de tratados chamado de Paz do Norte estabeleceu a

predominância política francesa, finalizando, assim, o conflito.

RIZI, Francisco. Auto de fé na Praça Maior de Madri. 1683. 1 óleo sobre tela, color., 277 cm × 438 cm. Museu do Prado, Madri.Representação de um auto de fé em Madri. Auto de fé era o julgamento das pessoas que haviam sido denunciadas ao Tribunal do Santo Ofício.

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DU BOIS, François. A noite de São Bartolomeu. [ca. 1572-1584]. 1 óleo sobre madeira, color., 94 cm × 154 cm. Museu Cantonal de Belas Artes de Lausanne.

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O Edito de Nantes vigorou

até 1685, quando Luís XIV

o revogou, causando a

emigração de cerca de 500

mil protestantes da França.

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1 Explique a seguinte afirmação: “A Igreja Católica era a maior senhora feudal europeia durante a Idade Média”.

2 A Igreja foi questionada por diversos fatores. Cite quais foram os fatores políticos e econômicos.

3 Qual era o objetivo de Lutero ao publicar a maior parte de seus escritos, assim como a Bíblia, em alemão?

4 Defina em que se baseava a teoria da predestinação elaborada por João Calvino. Por que os huma-nistas reconheciam nessa teoria um Deus tirano e vingativo?

5 A seguir, são apresentadas algumas informações sobre a Reforma e a Contrarreforma. Relacione corretamente as duas colunas.

( 1 ) Martinho Lutero

( 2 ) João Calvino

( 3 ) Rainha Elizabeth I

( 4 ) Usura

( 5 ) Heresia

( 6 ) Concílio de Trento

( 7 ) Inquisição

( 8 ) Companhia de Jesus

( ) Governante que organizou o protestantismo na Inglaterra.

( ) Reunião convocada com o objetivo de resolver problemas da Igreja.

( ) Monge da Igreja Católica que iniciou as críticas contra ela na Alemanha.

( ) Processo de instalação de um tribunal para julgar os considerados hereges.

( ) Pensamento ou ação contrário à doutrina imposta pela Igreja Católica.

( ) Defensor da teoria da predestinação.

( ) Ordem religiosa criada em 1539 que tinha os jesuítas como integrantes.

( ) Cobrança de juros em empréstimos, prática proibida pela Igreja Católica.

o que já conquistei

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Material de Apoio7°. ano – Volume 1

História

Capítulo 1 – Página 14 – Pesquisa©

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Ficha 1

Autor:

Nome da obra: Estátua equestre de Gattamelata

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Ficha 2

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Local atual: Museu do Louvre, Paris

Ficha 3

Autor: Diego Velázquez

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Local atual: ©Galeria Nacional, Escócia

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Ficha 4

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Ficha 5

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Ficha 6

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