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À Formação de um Nafuralisfa LIÁ quase cinco anos, encontro-me na quali- I I dade de naturalista, integrando o quadro I r do Museu Nacional. Posso determinar exatamente os diversos motivos gue me con- duziram a ingressar nessa instituição, muito embora não possa g.arantir que êsse seria o meu único destino, isto é, que qualidades voca- cionais me tivessem pré-determinado para o ?xecÍ- cício da função que ora exerço. A vocação existe, sem dúvida, comprovável em muitos ca- sos, mas quero crer que ela se apresenta em intensidade muito variável, sendo muitas vêzes dificil de se tornar evidenciável. Freqüente- mente, creio, os fatôres externos representam o excitante adequado para a evidenciáção de qua-. lidades vocacionais. Os músicos, entre os quais geralmente se assinalam os casos de maior pre- cocidade vocacional, têm a seu favor um contato mais cedo com o objeto relacionado com a sua vocação. O que pensar de biologistas ou natu- ralistas, que só ao cabo de longos anos podem realmente travar um conhecimento eficiente e capaz de ser o agente revelador de sua vocação ? Procurarei prestar aqui um depoimento dos motivos que me conduziram até o Museu Na- cional, como resposta à reportagem que a REvrsrA Do MusEu NACToNÀL resolveu rcalizar sôbre as atividades dessa casa de ciência. Na história dos fatos que esboçarei linhas abaixo, destaco primeiro, como fator primordial, uma tendência para o estudo da natureza viva, um verdadeiro desejo de preocupar-me com os problemas insondáveis da vida, o que considero como sendo qualidade vocacional. Na pesquisa dessas tendências vocacionais, a memória leva-me aos bancos do ensino secun- dário. No cuRso srcuNnÁBro Durante o 4.." e 5,o anos (isto aconteceu no Ginásio Arte e Instrução em 1932 e 1933), NnwroN Dras oos SeNros Naturalista do Museu Nacional tinha então dezesseis anos, foi que começaram os primeiros debates com alguns colegas, sôbre temas gerais da vida e da filosofia; essas dis- cussões começadas por conta própria acaba- vam sempre levando-flos aos professôres DR. Zururno PrNHo, de filosofia e Dn. EnNaNr Xavren oE Bprro, de história natural. Foi com êste, com quem mantínhamos intimidade, que as nossas palestras mais se estreitaram, por- que era grande o nosso interêsse pela histó- ria natural. XavIrn or Bntro, figura singular de professor, dedicado, servido por grande competência, foi um naturalista excelente que o Brasil perdeu, porgue nunca, infelizmente, teve a ventura de encontrar as condições necessárias e indispensáveis para o exercício da pesquisa científica. Durante êsses dois últimos anos de ensino secundário e de história natural, o que mais me prejudicou, do ponto de vista das ten- dências vocacionais, [oi, eu o creio, sem dúvida, o divórcio completo entre o ensino, o laborató- rio e a natureza, Grande e quase irresistível era o desejo de estar permanentemente no labo- ratório; todavia isso raramente 'acontecia, para aulas de demonstração. Posso hoje recor- dar que sentia profunda inveja de alguns alu- nos, geralmente sem nenhum ipterêsse, gue na qualidade de monitores tinham livre acesso ao laboratório e nêle podiam ficar o dia inteiro. Sem dúvida, o ensino de história natural ê âr- duo, e, até hoje, se tem ressentido de falhas básicas. Chegando ao têrmo do curso, coÍÍre- çaram os problemas do futuro. Muitos cole- gas diziam-me: para a Escola de Guerra, você sabe matemática e passa. Mas eu sempre retruquei com firmeza: quero seguir o cami- nho da ciência. Eu e alguns colegas decidimos escolher a Faculdade de Medicina como nosso futuro campo de estudos. E estávamos como ca- louros em 1934. O que foi feito então do fogo I REVISTÀ DO MUSEU NÀCIONÀL I

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À Formação de um Nafuralisfa

LIÁ quase cinco anos, encontro-me na quali-I I dade de naturalista, integrando o quadroI r do Museu Nacional. Posso determinarexatamente os diversos motivos gue me con-duziram a ingressar nessa instituição, muitoembora não possa g.arantir que êsse seria omeu único destino, isto é, que qualidades voca-cionais me tivessem pré-determinado para o ?xecÍ-cício da função que ora exerço. A vocaçãoexiste, sem dúvida, comprovável em muitos ca-sos, mas quero crer que ela se apresenta emintensidade muito variável, sendo muitas vêzesdificil de se tornar evidenciável. Freqüente-mente, creio, os fatôres externos representam oexcitante adequado para a evidenciáção de qua-.lidades vocacionais. Os músicos, entre os quaisgeralmente se assinalam os casos de maior pre-cocidade vocacional, têm a seu favor um contatomais cedo com o objeto relacionado com a suavocação. O que pensar de biologistas ou natu-ralistas, que só ao cabo de longos anos podemrealmente travar um conhecimento eficiente ecapaz de ser o agente revelador de sua vocação ?

Procurarei prestar aqui um depoimento dosmotivos que me conduziram até o Museu Na-cional, como resposta à reportagem que aREvrsrA Do MusEu NACToNÀL resolveu rcalizarsôbre as atividades dessa casa de ciência.

Na história dos fatos que esboçarei linhasabaixo, destaco primeiro, como fator primordial,uma tendência para o estudo da natureza viva,um verdadeiro desejo de preocupar-me com osproblemas insondáveis da vida, o que considerocomo sendo qualidade vocacional.

Na pesquisa dessas tendências vocacionais,a memória leva-me aos bancos do ensino secun-dário.

No cuRso srcuNnÁBro

Durante o 4.." e 5,o anos (isto aconteceuno Ginásio Arte e Instrução em 1932 e 1933),

NnwroN Dras oos SeNrosNaturalista do Museu Nacional

tinha então dezesseis anos, foi que começaramos primeiros debates com alguns colegas, sôbretemas gerais da vida e da filosofia; essas dis-cussões começadas por conta própria acaba-vam sempre levando-flos aos professôres DR.Zururno PrNHo, de filosofia e Dn. EnNaNrXavren oE Bprro, de história natural. Foi comêste, com quem mantínhamos intimidade, queas nossas palestras mais se estreitaram, por-que jâ era grande o nosso interêsse pela histó-ria natural. XavIrn or Bntro, figura singularde professor, dedicado, servido por grandecompetência, foi um naturalista excelente que oBrasil perdeu, porgue nunca, infelizmente, tevea ventura de encontrar as condições necessáriase indispensáveis para o exercício da pesquisacientífica. Durante êsses dois últimos anos deensino secundário e de história natural, o quemais me prejudicou, do ponto de vista das ten-dências vocacionais, [oi, eu o creio, sem dúvida,o divórcio completo entre o ensino, o laborató-rio e a natureza, Grande e quase irresistívelera o desejo de estar permanentemente no labo-ratório; todavia isso só raramente 'acontecia,

para aulas de demonstração. Posso hoje recor-dar que sentia profunda inveja de alguns alu-nos, geralmente sem nenhum ipterêsse, gue naqualidade de monitores tinham livre acesso aolaboratório e nêle podiam ficar o dia inteiro.Sem dúvida, o ensino de história natural ê âr-duo, e, até hoje, se tem ressentido de falhasbásicas. Chegando ao têrmo do curso, coÍÍre-

çaram os problemas do futuro. Muitos cole-gas diziam-me: vâ para a Escola de Guerra,você sabe matemática e passa. Mas eu sempreretruquei com firmeza: quero seguir o cami-nho da ciência.

Eu e alguns colegas decidimos escolher aFaculdade de Medicina como nosso futurocampo de estudos. E lá estávamos como ca-louros em 1934. O que foi feito então do fogo

I REVISTÀ DO MUSEU NÀCIONÀL

I

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mente a fama de que os médicos sabir-história natural, pois é sabido que a maioriade professôres de história natural são médi-cos. E reconheçamos que isto era acertadonum país onde primava a ausência de facul-dades adequadas.

NA FACULDADE DE MEDICINÀ

Algumas semanas na Faculdade deMedicina decepcionârm-fie por completo;essa decepção, aliás, prosseguiu nos anosseguintes. A falta de material didático e deespírito pedagógico chocaram-me. O am-b;ente de ensino era muito expositivo, muitoinformativo, mas pouco experimental, semespírito de pesquisa. Não pretendo, absolu-tamente, renegar o ensino médico, na nossaprincipal Faculdade de Medicina; seria umainjustiça, muito embora reconheça que mui:opoderia ela evoluir; a decepção que experi-mentei Íoi minha, dizia respeito aos meusobletivos pessoais de pesguisa. e não aosdo ensino rotineiro; naturalmente a Facul-dade não poderia existir só para os meusobjetivos, mas convenhamos em que ela bempoderia satisfazer, num certo grau, o espíritode pesquisa, pois o progresso da medicina

Dr. Nerpton Dias dos Santos. Naturalista e atual chefe da Divisãodc Zoologia clo Museu Nacional

(FotcgraÍia de Moacir Leão)

naturalístico de há pouco? Mas também quenoção tínhamos do que devíamos f.azer para se-guir o caminho das ciências naturais? Nem se(alava então que tal caminho existia. Nem uma

-faculdade poôsuíamos, onde se lecionasse umcurso de história natural. E que noção tínha-mos do que era a história natural no Brasil, dassuas instituições, dos seus naturalistas? Quenoção possuíamos do que era o Museu Nacio-nal, cujas exposições só por nossa conta fre-quentávamos ? Evidentemente, não tínhamosnoção de nada e nem tão pouco tinham os pro-Íessôres de história natural, salvo honrosasexceções. Mas por que motivo também haviamos professôres em geral de ter conhecimento detôdas essas coisas, quando êles se formaram nomesmo ambiente em que nós agora nos Íormá-vamos? Sem conhecimentos ou parentescoscom naturalistas, §ó enxergamos o caminhopelo qual muitos outros, coÍno nós, envereda-Íam - a velha Faculdade de Medicina, celeiroque tem sido de zoólogos, botânicos, biologis-tas, antropologistas etc. ; daí se originou certa-

depende da pesquisa médica e não diretamentedo exercício profissional de medicina. O êrro danossa Faculdade, pâÍece-Íre, é falta rle professô-res, chefes de escola, com tempo integral, assis-tidos por muitos assistentes, desenvolvendo oensino e a pesquisa simultâneamente, facilitandoassim o ensino e permitindo o livre desenvolvi-mento dos futuros pesguisadores, de cujo traba-lho dependerá o progresso e a aquisição de novosconhecimentos. Naturalmente a situação eco-nômica dos que desejam pesquisar torna-se pre-cária, porque o que dá resultados pecuniários éo exercício profissional. Nessas condições,permanecemos sem ciência própria, na condi-ção de parasitas e repetidores, o que pode serbom para nós, mas que é um evidente roubocontra a humanidade, por cujo progresso temqsde lutar como dívida do que recebemos.

Nessa altura (1935), ié, considerandoimpossível o caminho das ciências biológicasexperimentais, tinha eu decidido que o únicocaminho que aparecia era inevitàvelmente aclinica, à qual já vinha me habituando nos hos-pitais. Todavia o imprevisto havia ds 5rrlgirno meu caminho. Em meados dêsse ano de1935, deu-se um acontecimento notável, que sómuitos anos depois poderia ser avaliado em snajusta grandeza. Um grupo de educadores dc

AGÔSTO, 1945

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Dr. Lauro Travassos. Ex-professor de Zoologiada Universidade do Distrito Federal e atualchefe da Divisão de Zoologia Médica do lnsti-

tuto Osvaldo Cruz(Foto I, Pinto)

aulas era, sem duvida, esperado com grande ansiedade; domi-nava a nota da novidade. A primeira aula a que assisti foi dezoologia. Era professor LÀuRo Tnavessos, do Instituto Os-valdo Cruz, professor de parasitologia da Escola Nacionalde Veterinâria e helmintologista de renome universal. Chegueiatrasado: eu tinha meus compromissos com a Faculdade deMedicina. Deparei um ambiente inteiramente novo paramim: os colegas todos empunhavam microscópios binocularesestereoscópicos, pinças, agulhas de dissecção e séries delíquidos adequados; tinham na mão, debaixo dos microscó-pios, exemplares de baratas, prêviamente guardados em líqui-do conservador; o obietivo dêles, ao que fiquei tambémsabendo, era observar as partes bucais das baratas, suasrelações topográficas, dissecá-las uma por uma, tratá-lasconvenientemente a fim de montá-las em preparações dura-douras, interpretar suas diversas partes e desenhar, com oauxílio cle câmaras lúcidas ou com projeção direta: enfim,um conjunto de operações a ser realizado pelo próprio aluno,tendo por guias os livros, postos à sua frente e os professôrese assistentes, uma tarefa, afinal, destinada a preparar o futuroprofessor e o futuro naturalista, tal como fôra idealizada nafundação da Universidade. Quem já estudou apartslho bucalde insetos, para vestibular na Faculdade de Medicina, sabeo inferno que é entender como as diversas peças ficam colo-

cadas. Mas como se poderá conceber cousasassim estudando só a Íigura do livro, em vezde estudar a bôca do inseto, com um micros-cópio ou com uma lente. Geralmente o que seestuda não é a verdadeira história natural, masa história natural do livro. A aula de botânica,que sucedeu, fôra motivo de outro encantamento,sob a direção do ilustre mestre prof . ArsrnroSanlparo, chefe da Divisão de Botânica do Mu-seu Nacional, e um dos mais ilustres botânicosdo Brasil. Sua primeira conferência, seguidade uma exibição cinematográfica, musicada efalada, foi uma demonstração cabal de que abotânica é, sem dúvida, a "sciencia amabilis"de LINBu, como era a sua expressão; assistidopor VIaNNe FRunr, excelente e inegualávelnas aulas práticas, a botânica revelou-se umaesplêndida ciência, geralmente tida por enfa-donha. O mesmo sucedeu com-o curso de mi-neralogia e geologia sob a direção de DyernraGutnrenÃrs, o "príncipe dos geólogos brasi-leiros", no dizer de OruoN Lroxanoos, assis-tido por VIcron LrtNz, ilustre geólogo radi-cado no Brasil e mais tarde catedrático da ma-téria. Tivemos ainda vários cursos: anatomiahumana e comparada, embriologia e fisiologia;complementos de matemática, desenho e histó-ria da filosofia, o curso de pedagogia etc. , soba direção de mestres ilustres como CanrosWBnNncr, Canros Srrva, Orrurrna Casrno,Ponro Cannnno, E. SussrKrND DE MeNooNçe

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escol, a cuja frente se encontrava ANÍsIo Trt-xEIRA, como por milagre veio constituir umnúcleo pedagógico, de valor indiscutivelmenteacima do gue o meio poderia comportar. Apro-veitando ufiia ocasião em gue o livre pensa-mento servia os destinos do Brasil, fundaram,com o apoio de Prono EnNrsto, uma novelUniversidade de Ciências, Letras e Filosofia,em moldes inteiramente revolucionários, para oBrasil. Nomeando um corpo docente dos maisnotáveis que já se reuniram no país, esta [Jni-versidade abria, em julho de 1935, as suas por-tas a vários cursos destinados à formação doprofessor e do pesquisador. Esta Universidadenão prometia nada, salvo uma excelente culturaclássica, filosófica, científica ou artística e umnotável corpo docente; entretanto, sequiosos decultura ou procurando ajustar-se a ideais e Vo-cações adormecidos, centenas de jovens de am-bos os sexos acorreram aos seus umbrais, em-bora muitos dêles possuíssem outros diplomassuperiores ou fôssem alunos de outras escolas.Eu também segui o que considerei o meu rumoadormecido, e me inscrevi entre os que deseja-vâm o curso de história natural.

NA UNIVERSIDADE DO DISTRITO FEDERAL

E assim, após um vestibular, encontrei-mealuno da chamada U. D. F. O início das

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e Enatr BneHIen. Assim, após três anos degrande esfôrço e aplicação, estava completadoo curso de história natural. O destino me ha-via permitido realizar os estudos que desejarana adolescência. Mas a taref.a da U. D. F.não estava acabada aí. O contato com. cien-tistas do jaez dos gue nos ensinavam suas ciên-cias foi diferenciando nossas aspirações natura-lísticas, sob a orientação dos mestres. Entreêstes avultava Laupo Tnavassos, chefe de no-tável escola zoológica no país, discípulo deOswaroo Cnuz e o seu único verdadeiro con-tinuador na obra insigne de manter o espíritode " fazer escola".

NA ESCOI,A DE LAURO TRAVASSOS

Inclinando-me mais pelos estudos de zoo-logia, pude estabelecer um contato mais estreitocom o professor Tnavessos, merecendo a suaatenção que muito honro. Dêsse contato, [oi-me possível freqüentar o seu notável laborató-rio, em Manguinhos, onde, sob sua orientação,comecei as minhas primeiras investigações emzoologia. Assim, ao receber o diploma daU. D. F. e deixar os umbrais da Universidade,eu começava a ingressar numa outra escola, a"Escola do Prof . Launo Tnavassos", celeirode numerosos zoólogos hoje espalhados pelo país.A Universidade tinha cumprido sua dupla promessa:a formação do professor e do pesquisador.

NO MUSEU NACIONAL

O contato estabelecido com o Prof. L,quno Tnavessos,agora em Manguinhos, permitiu o aperfeiçoamento dos meus

conhecimentos, principalmente no que tange à pesquisa. Aítive ocasião de conhecer outro ilustre mestre, o Prof. RooolpnovoN InnnrNc, sob cuja direção trabalhei um ano em assuntos

ligados à piscicultura, à biologia e à ictiologia. InenrNc, criadorda piscicultura no Brasil e quem estabeleceu suas bases científicase econômicas, desapareceu em 1939, ainda moço. Os anos de

1939 e 1940 encontram-se servindo como professor de histórianatural na Secretaria de Educação da Prefeitura do DistritoFederal, Iugar obtido em virtude do curso realizado na U. D. F.Todavia continuei a cultivar a zoologia, que elegi como campo

de ação dentro da história natural.Em 1940, em meados do ano, fui chamado a servir no

Museu Nacional como naturalista interino, a fim de preencherum claro no setor da entomologia, onde me encontro até agora.

Em janeiro de 1943, tendo satisfeito, por concurso, os

compromissos que assumira como interino, tornou-se estável a

minha posição como naturalista, momento que eu considerocomo término de minha formação fundamental. E agora eu

pergunto: Teria sido naturalista, se dois fatores estranhos àminha vontade (a fundação'da U.D.F. e a escola do Prof.Launo Tnavassos) não se concatenassem justamente numa

ÀGÔSTO, I94'

êpoca em gue minha idade e condição ainda me permi-tiram dar um passo atrás?

Tendo começado a minha atividade entomoló-gica estudando certa familia de Lepidópteros (Euchro-miidae) no Museu Nacional, todavia, procurei esten-der-me por grupos mal representados nas nossas cole-çóes, procurando dar mais incremento ao estudo deinsetos, que até então só tinham sido objeto de estudosestrangeiros. Elegi, como campo de ação, dentro daentomologia, o estudo da Ordem Odonata (insetosvulgarmente designados pelos nomes de lavadeiras,libélulas, etc.); o interêsse pelo estudo dêstes insetosnasceu, no campo, na Estação Experimental de Caça e

Pesca, em Pirassununga, São Paulo, pelo contato pro-longado gue tive com êsses insetos e com suas larvas.Nessa ocasião não tinha ainda, é claro, a idéia da exten-são dessa ordem que a todos se afigurava pequena.Todavia, posteriormente, ao catalogar suas espécies,verifiquei que existem ,*ur '600 descritas no Brasil e

cêrca de 1.200 na região neotropical (América do Sul,América Central e parte do México) e umas 5.000 nomundo inteiro. Tendo encontrado apenas uns 700 €xêm-plares de libélulas no Museu, pude atualmente reunir,de vários modos, cêrca de 10.000 exemplares, o gue,todavia, considero muito pouco. Não desejo alongarmais esta entrevista, procurando dissecar a tarefa deum naturalista, assunto sôbre o qual é minha intençãopublicar um artigo à parte.

Dr. Ànísio Teixeira. Ex.secretário de Educação e Culturado Distrito Federal e fundador da U. D. F.

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