EDITORIAL · (foto), mostra que o consumo irresponsável não vem só no gastar sem ter dinheiro...

20

Transcript of EDITORIAL · (foto), mostra que o consumo irresponsável não vem só no gastar sem ter dinheiro...

EDITORIAL

Fazer refletir. Foi com esse intuito que nossa equipe de trabalho elaborou o material que você tem agora em mãos.

A produção é resultado do aprendizado de um semestre (2015/2) na disciplina de “Mídia Impressa”, em parceria com a professora Alessandra Paula Rech.Nas próximas páginas, você vai encontrar textos que abordam temas atuais. Assuntos com viés ético, que não têm a pretensão de defender um ponto de vista, mas sim, apresentar seus contrastes. E assim surge o nome de nosso periódico. Contraste. Palavra simples; possibilidades infinitas.Antes de começar a leitura, você precisa ter em mente que a ideia é desgarrar-se de dogmas, de conceitos pré-fabricados. Permita-se questionar-se. Participar ou não da política? Reciclar ou descartar? Adotar ou comprar um mascote? Consumir por prazer ou por necessidade? Aceitar ou ignorar as diferenças? Esvazie-se das certezas e preencha-se de questionamentos. Afinal, as perguntas são nossas, as respostas...são suas.

Boa leitura.

UNIVERSIDADE DECAXIAS DO SULCentro de Ciências Sociais (CCSO)Reitor: Evaldo Kuiawa | Diretora de Centro: Maria Carolina GulloProfessora da disciplina de Mídia Impressa: Alessandra Rech

REPORTAGENS

Adroir da Silva

Alessandra Duarte da Silva

Alexia Caroline Giaretta

Eduardo Borile Junior (coordenação)

Estefani Alves

Franciele Mesari dos Santos de Lima

Franciele Velho

Gibran de Marchi Bernardi

Kimberly Salomão da Silva

Maksa Andressa Camazzola

Renata Ester Agazzi

Ronaldo Velho Bueno

Sabrina Calai

FOTOGRAFIAS

Elisa Stangherlin

Leonardo Shindi Oda Martins

Luana Batisti

Thaís Sandri Brochetto

Thaíse Benacchio

LAYOUT

Camila de Paiva Maestri

Julia Lazzarotto

Gustavo Flores Fontana

Tiago Fandinho Amaral

“Eu coloco o valor das pessoas em primeiro lugar, não nas coisas que elas têm e nem no que usam. Seu valor é interno, só isso que se mantém, para qualquer ser humano até mesmo na hora da morte. O carma inserido nessas atitudes, em minha visão budista, é muito grave. Todo mundo pode sair deste consumismo, é só parar e observar o seu entorno, o que você está fazendo”.

AS ARMADILHAS DO CONSUMO

Quando o assunto é ir a lojas fazer compras, logo se pensa nos carnês absurdos, na conta do cartão de

crédito e nos consumidores endividados. A realidade muitas vezes é essa, compra-se demais, produtos de alto valor e de marcas conhecidas com valores agregados absurdos, enquanto em outra realidade, uma pessoa de classe média baixa recebe a mesma quantia para sustentar seus filhos o mês inteiro. O consumo consciente é um desafio em uma sociedade que fez de padrões cada vez mais altos um sinônimo de realização.

A fundadora e correspondente da Ecoagência, a ecojornalista Vera Damian (foto), mostra que o consumo irresponsável não vem só no gastar sem ter dinheiro para pagar, mas sim no quanto o meio ambiente sofre com isso também. Vera se baseia numa ideologia: “Não tem sentido também as pessoas comprarem materiais que são produzidos longe daqui por serem mais baratos. O gasto de combustíveis envolvido é tão grande, que o meio ambiente sofre bruscamente com isso”.

Uma forma simples de consciência no consumo é o reaproveitamento de produtos.

No Abracabrike, em Caxias do Sul, o que ainda pode ser utilizado por outras pessoas é repassado para os mais carentes. A gerente, Cristiane Dellinghausen Valim, explica que o Abracabrike é um Brique e Bazar Social da Educaritá, que tem o objetivo de comercializar móveis, eletroeletrônicos, objetos e roupas usados, transformando as doações feitas pela comunidade em uma renda importante para a instituição, que auxilia famílias em situação de vulnerabilidade social.

A dica de Vera Damian para o ser humano que quer mudar seu lado consumista: - “Eu coloco o valor das pessoas em primeiro lugar, não nas coisas que elas têm e nem no que usam. Seu valor é interno, só isso que se mantém, para qualquer ser humano até mesmo na hora da morte. O carma inserido nessas atitudes, em minha visão budista, é muito grave. Todo mundo pode sair deste consumismo, é só parar e observar o seu entorno, o que você está fazendo”.

VOCÊ É UM CONSUMIDOR CONSCIENTE?

// CIDADANIA

Para muitas pessoas, os animais de estimação são companheiros e com o tempo, passam a fazer parte da família.

A contradição é que comprando um animal se incentiva um comércio injusto, já que eles são seres vivos e não objetos. Saber a procedência do animal, a raça, a saúde, pedigree (certidão de nascimento), idade, cor e os ascendentes é um dos argumentos a favor da compra. Mas muitas vezes esse “consumo” é irresponsável.

De acordo com a Sociedade União Internacional Protetora de Animais (Suipa- RJ), nas férias, o abandono chega a aumentar cerca de 70%. É quando as pessoas optam por não pagar por uma hospedagem para os seus bichinhos e desistem de seus cuidados.

Em Caxias do Sul, a Sociedade Amigos dos Animais (Soama) se oferece como alternativa à compra. Natasha Ozelame, responsável pela divulgação da Soama junto com a mãe, que fundou a ONG, fala

mais sobre os desafios de estimular a adoção responsável.

CONSTRASTES: Quando a Soama foi fundada e qual é o intuito dela?

Natasha Ozelame: A Soama nasceu em 1998 no lugar da  Associação Rio-Grandense de Proteção aos Animais (Arpa). Nós temos um estatuto, uma sede cedida pela Prefeitura, um pequeno grupo de voluntários apaixonados pela causa dos vira-latas (em torno de cinco), um site e muitos projetos. Mantemos nossa entidade com doações da comunidade. Os animais que chegam à entidade são tratados, castrados, microchipados e vacinados. Assim que ficam bons, estão prontos para serem adotados.

C: Quantos animais estão na SOAMA hoje?

Natasha: Cerca de 1,6 mil animais entre cães e gatos. Se for porte médio ou grande,

NA SOAMA, QUASE 2 MIL ANIMAIS ESPERAMPOR UMA CHANCE

ADOTAR OU COMPRAR?

adulto e sem raça definida, as chances de serem adotados são muito pequenas.

C: Qual a média de adoções? Há devoluções?

Natasha: No ano passado entraram 245 animais, foram doados 160 e devolvidos 21.

C: Qual a sua opinião sobre adotar animais ao invés de comprá-los?

Natasha: Tudo começa com a forma com que vemos os animais! São objetos para suprir nossas necessidades e carências? Quando essa necessidade deixa de existir eles são descartados. Inclusive a lei brasileira vê os animais como bens. Isso ajuda a ter tanto abandono, negligência e maus-tratos. Com toda a informação que há hoje em dia sobre animais nas ruas, em abrigos e sendo sacrificados todos os dias nos centros de zoonoses brasileiros (o governo brasileiro tem como forma de combater o excesso de animais nas ruas recolher e sacrificar), por

PLANTANDO SEMENTES

Para sensibilizar os jovens para a causa animal, desde 2009 a Soama se dedica à conscientização por meio do projeto Plantando Sementes. A ONG oferece duas versões de palestra, uma para crianças e outra para adultos, com duração de 40 minutos. Desde o início do projeto, mais de 30 mil pessoas já assistiram. Cidades como Uruguaiana, Antônio Prado, São Marcos e Caxias do Sul já receberam a visita da Soama.

Com a intenção de sensibilizar, o conteúdo denuncia comportamentos negativos, mas inspira quem assiste a ajudar a mudar esta realidade.

“Sabemos que as crianças são o nosso futuro, dessa forma, é importante plantar

no coração dos pequenos a sementinha do respeito aos animais”, diz Natasha Ozelame.

Ao final das palestras, as crianças recebem uma carterinha de “Protetor dos Animais”, e produzem um desenho. O resultado (abaixo), comprova que até o menor dos seres pode ser uma pessoa mais justa, sensível e solidária.

que ainda alguém vai preferir comprar um animal? E também, a maioria dos animais vem de criadores ilegais, que visam apenas aos lucros. De onde vem aquele filhote lindo da vitrine de um pet shop? Ninguém se importa. Vidas não deveriam ser vendidas e a adoção deveria ser mais comum. Por isso somos e sempre seremos contra comprar um animal!

// CIDADANIA

40% DO QUE SE COMPRA VIRA LIXO,

ALERTAM ESPECIALISTAS

RECICLAR É O MÍNIMO

O dicionário Aurélio traz como definição de lixo: “Qualquer matéria ou coisa que repugna por estar suja

ou que se deita fora por não ter utilidade”. O lixo é um dos maiores problemas ambientais enfrentados pela sociedade. Estima-se que 40% de tudo que compramos vira lixo. A partir deste dado, há a necessidade de uma infraestrutura e logística capaz de recolher e comportar todo este material descartado e, principalmente, a criação de meios para que se possa reduzir, ou reutilizar, parte deste grande volume de lixo. “Além de problemas de gestão como infraestrutura e administração, em um âmbito ainda maior existe sérios problemas como segregação, separação humana, itens de baixo valor comercial e os contaminados”, destaca a coordenadora do curso de Engenharia Ambiental da Universidade de Caxias do Sul, Neide Passim.

Somente Caxias do Sul produz cerca de 450 toneladas diárias de lixo doméstico. Esse volume é recolhido pela Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca), e levado para a Central de Tratamento de Resíduos, ou para Associações de Reciclagem da cidade. Segundo o assessor comunitário da Codeca, Diego Silva, o recolhimento de materiais recicláveis ocorre em toda a área urbana e em parte da zona rural de Caxias do Sul. A coleta seletiva começou em 1991, em fase experimental em apenas um bairro da cidade. Atualmente, o recolhimento é

// MEIO AMBIENTE

realizado duas vezes por semana em todos os bairros e loteamentos.

Temos em Caxias um grande exemplo de cidadãos conscientes: diariamente, cerca de 90 toneladas de resíduos seletivos são coletados e destinados a 12 associações de reciclagem, que fazem uma nova separação, prensam e vendem o material para a indústria, gerando renda para diversas famílias.

Em nível nacional,“só 2% do total de lixo produzido nas casas brasileiras destinado à coleta seletiva”, afirma a bióloga Priscila Portella, formada na UCS. A falta de comprometimento das pessoas e órgãos públicos com o planeta, com a separação do lixo e, principalmente, a forma como ele será eliminado é extremamente preocupante. Os lixões de todo o Brasil estão superlotados, os aterros sanitários, que ainda são a melhor forma de eliminação de resíduos, estão cada dia maiores, produzindo mais gases, poluindo mais a atmosfera, prejudicando uma quantidade maior de solo.

“Hoje, a grande preocupação é em relação ao consumo, pois a facilidade do descarte está cada vez mais presente e muitas pessoas não se preocupam com isso. Coisas simples poderiam ser feitas para evitar tais danos ao meio ambiente, como maior disponibilidade e uso dos refis”, lembra ainda Neide Passim.

NA ATUALIDADE:

- No Brasil, somente 917 municípios possuem coleta seletiva;- 52,8% dos municípios brasileiros dispõem seus resíduos em lixões;- 45% dos municípios brasileiros com coleta seletiva estão na região Sudeste;- Coleta-se no Brasil, diariamente, 125,281 mil toneladas de resíduos domiciliares;- O material mais reciclado no Brasil é o papel.

O Brasil comemora, em 2015, os 30 anos da redemocratização do país. Em 15 de março de 1985, o

maranhense José Sarney subia a rampa do Planalto, dando fim a um período de 21 anos de governos militares. Três anos depois, em 1988, o Congresso Nacional promulgava uma nova Constituição Federal, dando um passo decisivo para o restabelecimento da democracia e para a ampliação da cidadania.

Passadas três décadas da redemocratização, contudo, o sistema político brasileiro apresenta sinais de desgaste. A perda de legitimidade do modelo representativo e a descrença em relação aos poderes constituídos

demonstram a necessidade de refletir o processo eleitoral. O historiador Lucas Caregnato, 30 anos, verifica que esse cenário é decorrente da própria forma como se desenrolou a transição da ditadura para a democracia. Segundo o pesquisador, não ocorreram mudanças estruturais que permitissem maior participação popular nos processos de tomada de decisão.

– A história é dialética e tudo é processo. Hoje nós temos um regime democrático, com eleições para escolha dos cargos do Executivo e do Legislativo. Entretanto, esses representantes seguem defendendo seus interesses, e muitos desses interesses não dialogam com a ampliação do sistema democrático –, avalia.

REDEMOCRATIZAÇÃO:DA ESPERANÇA AO DESCRÉDITO

PERDA DE LEGITIMIDADE DO MODELO REPRESENTATIVO SINALIZA NECESSIDADE DE REPENSAR AS FORMAS DE PARTICIPAÇÃO POLÍTICA

POLÍTICA \\

Caregnato percebe que o contexto social em que vivemos contribui para a desmobilização, uma vez que a qualidade de vida e o acesso ao trabalho aumentaram nos últimos anos. Dessa forma, as pautas reivindicatórias acabam perdendo adesão. Mesmo assim, o historiador enxerga nos jovens uma grande alternativa de mobilização.

– A juventude é uma fase que oportuniza utopias. O movimento estudantil teve – historicamente – e segue tendo, uma grande importância em pautar questões relevantes para a sociedade –, conclui.

Presidente do Diretório Central dos Estudantes da UCS no período 1998-1999 e vereador em Caxias do Sul pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Rodrigo Beltrão, 35, acredita que o movimento estudantil passa por um processo de mudança de enfoque.

– Na época em que fui presidente do DCE, a grande luta era para garantir o acesso e manutenção do aluno na Universidade. Hoje, o debate que se faz é sobre a qualidade do ensino, pois o acesso à Universidade se ampliou muito nos últimos anos –, relata o parlamentar.

Para Beltrão, o fato de a Assembleia Nacional Constituinte de 1987/1988 não ter sido eleita exclusivamente para a

elaboração na nova Carta Magna foi um erro histórico, assegurando as regras de manutenção de poder.

– O sistema político não foi aperfeiçoado ou atualizado. Ele não acompanhou a evolução da sociedade e, hoje, ela não se sente representada por ele. Por outro lado, o próprio projeto capitalista apregoa a antipolítica. Com isso, as ideologias acabam ficando mais diluídas. Este é o cerne do distanciamento da população –, pontua o vereador.

As alternativas a esse cenário de descrédito passam pelo aprofundamento da democracia. O vereador, que também desempenhou a função de coordenador de juventude no governo Pepe Vargas, acredita que ampliar a cidadania é fundamental para mudar a cultura política:

– O conceito de democracia provoca a necessidade de que o cidadão tenha iniciativa. Ele necessita da participação popular. Então, nós precisamos alargar essa visão de controle social da política para além do dia da eleição. Além disso, é preciso ter um afastamento do poder econômico do processo político –, conclui Beltrão. >>

// POLÍTICA

“Corrupção” é uma palavra em voga no contexto social mundial. A expressão é associada, geralmente, a comentários

de descrédito, pessimismo e sentimento de injustiça. No âmbito da política isso não é diferente. A falta de confiança e credibilidade gera afastamento. E isso fica evidenciado na participação dos jovens em movimentos sociais e estudantis, que registra diminuição no século XXI. O doutor e pesquisador em Ciência Política João Ignácio Pires Lucas, 46 anos, percebe um decréscimo na participação estudantil no país.

– O movimento estudantil tem protagonismo no mundo, no entanto, apesar de toda a efervescência social

que presenciamos no Brasil, não vejo um movimento estudantil atuante. Temos manifestações de ruas, mas as pessoas precisam entender que essas reivindicações podem ser feitas, cotidianamente, no ambiente de trabalho ou de ensino, por exemplo –, explica Lucas, que também é professor, na UCS, desde 1996.

Em função de um passado associado à ditadura militar, os movimentos estudantis brasileiros se despolitizaram no intuito de diminuir a repressão.

– Essa despolitização é percebida, atualmente, no contexto acadêmico. As formações especializadas, sejam técnicas ou científicas, já não têm relação com o mundo do trabalho, tampouco com questões políticas. O segredo do sucesso, para qualquer profissional, é ter uma formação cidadã, em qualquer curso –, avalia o professor Lucas.

João Ignácio Pires Lucas critica o atual modelo didático aplicado nas instituições de ensino superior, que faz com que as questões abordadas em sala de aula não tenham aplicação no contexto social.

– O movimento estudantil só vai dar um salto de qualidade se os estudantes associarem as causas temáticas, debatidas em sala de aula, e transformá-las em questões de organização com o movimento estudantil. Hoje, não há associação desses assuntos. Gerenciar tudo isso talvez seja o grande desafio a ser enfrentado –, conclui o pesquisador.

REBELDIA CONTEMPORÂNEA:CAUSA SEM COMPROMISSO?

// POLÍTICA

PROFESSOR DA UCS CRITICA O MODELO DIDÁTICO APLICADO NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR: “A ABORDAGEM DE SALA DE AULA NÃO SE APLICA AO CONTEXTO SOCIAL”

A estudante de Serviço Social e coordenadora-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Andressa Campanher Marques, 19

anos, acredita que a população, em geral, confunde articulação política com política partidária, o que pode justificar a falta de participação no movimento estudantil.

– Alguns problemas são históricos. Não conseguimos mudar nada sozinhos, mas organizados temos força. Precisamos fortalecer cada vez mais esses movimentos, pois só assim conseguiremos resolver os problemas que existem –, reforça a estudante.

Segundo Andressa, é difícil traçar um perfil único de quem participa do movimento estudantil, mas, em sua maioria, o grupo é composto por estudantes de Ciências Humanas e da Comunicação.

– As pessoas se engajam em algo quando conseguem compreender a importância do que afeta a vida delas. Quem se engaja ao movimento estudantil, geralmente, é de origem humilde. Muitos, inclusive, têm benefícios dos programas do Governo Federal. São pessoas que conseguem compreender a necessidade de participação e que precisamos continuar lutando – , complementa a líder estudantil.

O perfil do estudante da Serra Gaúcha, que trabalha e estuda, aliado a um certo individualismo, favorece para que não haja envolvimento com as causas sociais.

– Não responsabilizo, tampouco culpo, o indivíduo que não participa. A estrutura da sociedade em que vivemos é arquitetada para que as pessoas não participem –, reflete a estudante.

LÍDER ESTUDANTIL AVALIA FALTA DE ENGAJAMENTO: “A ESTRUTURAÇÃO DA SOCIEDADE É ARQUITETADA PARA QUE AS PESSOAS NÃO PARTICIPEM”

ARQUITETURA DA NÃO PARTICIPAÇÃO

O ser humano tem a tendência em se agrupar, até por uma necessidade de sobrevivência. Na

pós-modernidade, destacam-se as tribos diversas. De acordo com o sociológo Michel Maffesoli, “o eu é apenas uma ilusão ou, antes, uma busca um pouco iniciática; não é nunca dado, definitivamente, mas conta-se progressivamente, sem que haja, para ser exato, unidade de suas diversas expressões”. Assim, o sujeito cede lugar à pessoa. Uma pessoa que, conforme a raiz etimológica da palavra, veste máscaras ou apresenta diversas facetas que, apesar de distintas, são incorporadas por uma mesma individualidade.

Incluir-se na sociedade requer, muitas vezes, a submissão aos padrões culturais vigentes.

A professora Ivana Almeida da Silva, doutora em Práticas e Culturas da Comunicação, reflete sobre identidade e estereótipo na sociedade caxiense.

CONTRASTES: O que é estereótipo?

Ivana Almeida da Silva: Quando estamos falando em estereótipo, estamos falando de modelos, são modelos que na verdade passam a representar determinados grupos da sociedade. Então estamos falando de um padrão, e esses padrões passam a simbolizar as pessoas.

ESTEREÓTIPOS:TEORIA E PRÁTICADA CULTURA REGIONAL ÀS DIFERENTES ESCOLHASPROFISSIONAIS, A DISCRIMINAÇÃO ESTÁ PRESENTE

CULTURA \\

O estereótipo traz determinadas características em termos de representação, tem um estereótipo que vai representar o jornalista, o publicitário... então nós vamos ter esses modelos em termos de representação, esses padrões eles vão se repetindo nas falas, na publicidade.... O estereótipo do publicitário, a gente vê que nos filmes, as novelas, no jornal, ele é repetitivo, são pontos que vão sendo padronizados.

C: Como você percebe o estereótipo em Caxias?

Ivana: Eu acho que aqui em Caxias do Sul a gente vai ter o estereótipo do italiano, acho que seria o primeiro estereótipo que a gente pode pensar na região. Nós tivemos a colonização italiana, esse italiano veio com determinadas características e se instalou na região, mas a partir dessa vivência é que se criou o estereótipo. Exemplo, o Radicci, dos quadrinhos, que tem muito o estereótipo do italiano na Serra. O cartunista Iotti trabalha o estereótipo de maneira humorística, mas ele toma alguns elementos que vão caracterizar esse italiano, determinadas falas, determinados gestos, determinadas posturas, a figura feminina, o filho que é jovem. E por que ele usa esses determinados elementos? Por que ele vê isso na família, a gente vê isso na mídia, a gente vê isso até em um filme, então a gente começa a perceber esses sinais, e ele vai lá nos quadrinhos e constrói esse personagem, usando essas referências.

C: A era digital influencia na disseminação do estereótipo?

Ivana: Acho que sim, acho que a gente vai ter a criação de estereótipo quando começamos a nos agrupar. No momento

que começa o agrupamento e se começa a conquistar espaço nessas comunidades, as pessoas começam a trazer as características em comum, o que contribui de certa forma para a criação de estereótipos. Elas vão estar agrupadas, transmitindo sinais em comum.

C: Você acredita que o estereótipo é uma forma de preconceito?

Ivana: Acredito que sim, porque a partir de algo que você não conhece muito bem, começa a criar, a pensar, a respeito desses sinais, você julga determinada pessoa, vai de certa forma trazer um preconceito.

C: Os estereótipos vão diminuir ou se fundir dentro da sociedade?

Ivana: Acho difícil que nessa sociedade em que a gente se encontra nós podemos falar de um término, acho complicado, porque é uma sociedade que por mais que tenha acesso à tecnologia, não quer dizer que o preconceito vai ser menor. Pelo contrário, pode inclusive se disseminar mais. >>

// CULTURA

ESTRANHEZA

Augusto Dalla Rosa, 22 anos, é estudante de Direito na Universidade de Caxias do Sul. Antes, cursou dois semestres de Publicidade e Propaganda. Atua como estagiário da Promotoria de Justiça. Praticante de skate, é informal no vestuário, o que muitas vezes gera estranheza em seu meio.

CONTRASTES: No curso de Direito, você sentiu uma certa resistência quanto a sua aparência?

Augusto Dalla Rosa: Senti apenas que me olhavam de uma maneira diferente, tanto por parte dos professores quanto por parte dos meus colegas, mas nunca me trataram mal. Eu até ia para a aula de chinelo de dedo e skate, impossível não atrair olhares andando dessa forma no Bloco 58.

C: Qual a principal diferença que você percebeu entre os cursos de Direito e PP?

Augusto: Publicidade e Propaganda é um curso mais aberto, com poucos agrupamentos. São pessoas mais comunicativas e ‘comuns’, o Direito, geralmente reúne alunos que querem seguir os passos dos pais ou que cursam Direito por que os pais querem, geralmente são ‘patrocinados’ pelos próprios pais, que pagam do valor da mensalidade até o carro e a gasolina que eles usam. Fui mais bem aceito no curso de PP, com certeza.

C: Por que escolheu o curso de Direito? E o que pretende para o futuro?

Augusto: Escolhi por grande possibilidade de trabalhar em diversas áreas, na minha opinião, não teria tantas oportunidades cursando Publicidade e Propaganda como tenho cursando Direito. Direito é uma escolha, não um amor. Futuramente, pretendo fazer um concurso público.

C: Quando você começou a andar de skate? Quando iniciou, sentiu algum tipo de descriminação?

Augusto: Comecei a praticar em 2012, estava com 19 anos, principalmente por influência dos amigos. Queria mudar de esporte, pois praticava bike, e o skate veio no momento certo, adoro esportes radicais. Como eu andava com o pessoal que andava de skate também, não senti discriminação por parte dos amigos, senti por parte do meu pai.

C: Ainda existe aquele estereótipo de que skate não é uma prática esportiva?

Augusto: Eu até sinto que existe mais aceitação.

Em Caxias do Sul, você sente diferença de tratamento por parte da sociedade?

Augusto: Sim, o estereótipo caxiense é de trabalho e da fé (risos). Trabalhar e estudar, sem ter tempo para praticar esportes e sem ter tempo para a diversão, quem pratica skate ama o que faz.

C: Sente diferença de Caxias do Sul para outras cidades?

Augusto: A principal diferença é por a cidade ser menor, o pessoal se importa mais com aparência. Mas eu simplesmente evito ir em lugares onde me sinto deslocado.

CULTURA \\

V encer na vida por meio do futebol é para poucos. Ficar milionário, é para menos ainda. Mas afinal, o

que define quem deve ganhar milhões e quem deve apenas sobreviver da bola? Existe um critério para definir quem deve receber mais, ou muito mais, que outros? O mercado futebolístico atrai dinheiro aos montes, principalmente pelo interesse do público no assunto. Como nos continentes onde o futebol tem mais adeptos, Europa e América do Sul vivem em um sistema capitalista, a diferença se dá pela exceção. São os preços de mercado que indicam aos capitalistas quais bens a sociedade deseja consumir. Quando determinado bem se torna escasso, a tendência é que seu valor aumente e o aumento de preços em certos meios, como o futebol, é o sinal para o capitalista mover seus investimentos para aquele meio.

Assim, os preços são os elementos que possibilitam coordenação na atividade empresarial e que exprimem o valor real de um bem para a sociedade.

Devemos entender que o salário dos jogadores de futebol é pago pelos seus clubes. Estes sobrevivem dos patrocinadores e das premiações dos torneios de que participam. Já o dinheiro que os torneios pagam aos clubes vem dos anunciantes, patrocinadores e canais de TV. Podemos ver que o mercado de futebol, assim como qualquer outro da área de entretenimento, gira em torno das verbas publicitárias dos patrocinadores e anunciantes. Por que isso ocorre? Simplesmente porque muitos indivíduos assistem ao futebol, valorizando assim seus clubes, que nada mais é que um produto, criado para determinado público, no caso os torcedores. Um mercado com muito dinheiro, onde dirigentes e empresários concorrem diariamente por

atletas diferenciados, forçando assim o aumento salarial desses atletas. Os melhores – como, Messi e Cristiano Ronaldo – têm um talento e por consequência uma utilidade muito alta para o mercado, ou seja, há escassez desses jogadores, com isso seus salários são bem maiores que aqueles pagos aos jogadores “normais”. Já para os “outros”, a realidade é outra e cruel. Como podem ser achados aos montes por aí, tornam-se profissionais de baixa utilidade para o mercado, muitas vezes sacrificando outros talentos em busca do estrelismo imposto pela sociedade. A quantidade de “Messis” que existem é muito menor do que a de volantes brucutus que habitam os campos do nosso interior, por exemplo. Ter um talento como o de Messi, é algo muito mais difícil do que apenas se ter a vontade de viver da bola.

A grande maioria dos jogadores, quando comparada aos poucos endinheirados, é simples “perna-de-pau”. E pernas-de-pau não são tão escassos quanto os jogadores de alto nível, assim é, da “ruindade”, que sai a menor valorização de seus serviços. Mas e daí? Ao fim de tudo a culpa é de quem? Do capitalismo? Não! Já que, nesse sistema, existe um regime livre de preços que indicam os reais valores dos serviços, onde o consumidor é soberano. Então os culpados por A ganhar milhões e B passar fome, somos nós. A audiência que nós proporcionamos às emissoras é a responsável pelos salários dos astros do futebol.

Trabalhamos para ter liberdade de gastar nossos salários da forma como nós achamos melhor. Portanto, é justo pagarmos mais para assistir um espetáculo protagonizado por talentos, às vezes únicos, e pagar menos pelo circo “varzeano”, da mesma forma que é justo o Messi, no Barcelona da Espanha, ganhar muito mais que o “Zagueiro quebra bola” que atua num clube da segunda divisão no “fim do fundo da América do Sul”.

// ESPORTE

MAGNATAS E ESFOMEADOS

Atualmente, as redes sociais são mecanismos essenciais, não só como ferramentas de lazer, mas

também, de trabalho. Em casos específicos, o uso das mídias torna-se estratégia fundamental para alavancar carreiras, até mesmo de artistas consagrados. Estes universos virtuais vão muito além da troca de informação. Abrangem alguns pontos que, muitas vezes não são levados em conta pelos internautas. O músico gaúcho Armandinho aponta os dois lados deste universo.

CONTRASTES: Quando você notou a necessidade de aderir às redes sociais?

Armandinho: Até 2005 não era muito adepto ao uso delas. Porém, percebi que tinha muitos seguidores. E eles foram fundamentais para minha contratação por uma gravadora multinacional.

C: Foi nesse momento que atingiu o ápice do seu sucesso?

VITRINE PARA A ARTEARMANDINHO FALA SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS REDESSOCIAIS NA ASCENSÃO DE SUA CARREIRA

REDES SOCIAIS \\

Armandinho: Posso dizer que o pico foi nesse momento. Depois veio a queda. Imediatamente passei a usar mais o Instagram, Facebook e Twitter. Foi aí que percebi que o público das redes sociais é um público muito mais fiel.

C: Pode explicar quem é esse público fiel?

Armandinho: Não é um público que é fã do programa em que tu está participando. As pessoas que te procuram nas redes são pessoas que querem a tua música, te ver como artista.

C: É possível perceber essa fidelidade?

Armandinho: Sim. Há pessoas que não gostam de me ver nos meios convencionais, como TV e rádio. Preferem a minha presença nas redes sociais. É incrível.

C: Se pudesse fazer algum comentário sobre redes sociais, o que diria?

Armandinho: Eu acho que o bar com cachaça já existia em 1940. Boas pessoas iam pra escola. As demais, entravam no bar. Penso que a rede social é a mesma coisa. Quem tem uma boa índole usará para o bem e quem não tem, usará para o mal.

C: E no seu caso?

Armandinho: Graças a Deus, uso para divulgar minha música. Uso para fazer o bem e curto muito.

C: O perfil oficial da banda é atualizado com grande frequência. Quem é o responsável por isso?

Armandinho: Gosto muito do Instagram.Faço uma ou duas publicações diárias. Nunca deixo de postar, e o bacana é que são informações instantâneas facilmente absorvidas por nosso público. Por consequência, a resposta volta rapidamente a nossas mãos.

C: Qual a importância dessa troca de informações?

Armandinho: Este feedback é o termômetro do nosso trabalho. Informa praticamente tudo que está acontecendo e de que forma o público aceita ou não. Aponta, inclusive, se a informação é recebida de forma positiva ou negativa. Por isso, mostra-se fundamental para os rumos de nossas produções.

// REDES SOCIAIS