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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESTRATÉGIAS DE REALIZAÇÃO DO OBJETO DIRETO ANAFÓRICO DE TERCEIRA PESSOA NO ESPANHOL DE OBERÁ - MISIONES (ARGENTINA): UM ESTUDO SOCIOLINGUÍSTICO PATRICIA VANESSA DE RAMOS 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

ESTRATÉGIAS DE REALIZAÇÃO DO OBJETO DIRETO ANAFÓRICO DE TERCEIRA PESSOA NO ESPANHOL DE OBERÁ - MISIONES

(ARGENTINA): UM ESTUDO SOCIOLINGUÍSTICO

PATRICIA VANESSA DE RAMOS

2017

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ESTRATÉGIAS DE REALIZAÇÃO DO OBJETO DIRETO ANAFÓRICO DE TERCEIRA PESSOA NO ESPANHOL DE OBERÁ - MISIONES

(ARGENTINA): UM ESTUDO SOCIOLINGUÍSTICO

PATRICIA VANESSA DE RAMOS

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Área: Estudos Linguísticos Neolatinos, Opção: Língua Espanhola). Orientador: Prof. Dr. Leonardo Lennertz Marcotulio

Rio de Janeiro Agosto de 2017

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ESTRATÉGIAS DE REALIZAÇÃO DO OBJETO DIRETO ANAFÓRICO DE

TERCEIRA PESSOA NO ESPANHOL DE OBERÁ - MISIONES (ARGENTINA): UM ESTUDO SOCIOLINGUÍSTICO

Orientador: Prof. Dr. Leonardo Lennertz Marcotulio

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Área: Estudos Linguísticos Neolatinos, Opção: Língua Espanhola). Rio de Janeiro, 7 de agosto de 2017. Examinada por: _____________________________________________________________________ Presidente, Prof. Dr. Leonardo Lennertz Marcotulio (UFRJ) _____________________________________________________________________ Profª Drª Leticia Rebollo Couto (UFRJ) _____________________________________________________________________ Profª Drª Silvia Regina de Oliveira Cavalcante (UFRJ) _____________________________________________________________________ Profª Drª Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold (UFRJ), Suplente _____________________________________________________________________ Profª Drª Célia Regina dos Santos Lopes (UFRJ), Suplente

Rio de Janeiro Agosto de 2017

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De Ramos, Patricia Vanessa.

Estratégias de realização do objeto direto anafórico de terceira pessoa no Espanhol

de Oberá - Misiones (Argentina): um estudo sociolinguístico / Patricia Vanessa de

Ramos. – Rio de Janeiro: UFRJ / FL, 2017.

xx, 232f.:il.; 30 cm.

Orientador: Prof. Dr. Leonardo Lennertz Marcotulio

Dissertação (Mestrado) – UFRJ / Faculdade de Letras / Programa de Pós-graduação

em Letras Neolatinas, 2017.

Referências bibliográficas: f. 228 – 233.

1. Língua espanhola. 2. Objeto direto. 3. Variação linguística. I. De Ramos, Patricia

Vanessa. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de

Pós-graduação em Letras Neolatinas. III. Título.

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DE RAMOS, Patricia Vanessa. Estratégias de realização do objeto direto anafórico de terceira pessoa no Espanhol de Oberá - Misiones (Argentina): um estudo sociolinguístico. Dissertação de Mestrado em Letras Neolatinas (Língua espanhola). Rio de Janeiro: Faculdade de Letras / Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2017.

RESUMO

A variação no quadro de estratégias de realização do objeto direto anafórico (OD)

de 3a pessoa no espanhol vem sendo estudada por vários autores nos últimos tempos,

dentre eles podemos citar Fernández-Ordónez (1999; 2001; 2007), Gómez Seibane

(2012), Palácios (1998; 2005; 2006; 2015), Granda (1982), Martínez (2006; 2010;

2015), García (2015), Mallat (2015), Lipski (1996; 2007; 2010), Silva-Corvalán (2001)

e Amable (1975). Esses autores têm dedicado um grande esforço em realizar estudos

empíricos que possam revelar a situação atual de variação ou mudança no quadro de

estratégias em questão. No que se refere à variedade do espanhol do nordeste da

Argentina, mais especificamente da província de Misiones, encontramos, entretanto,

uma carência de estudos atualizados que busquem ilustrar o quadro atual das formas

empregadas pelos falantes para a realização do OD anafórico de 3a pessoa. Por essa

razão, este trabalho busca investigar essas formas numa região da província de Misiones

(Argentina): Oberá. A análise tem como base os pressupostos teórico-metodológicos da

sociolinguística quantitativa de base laboviana (WEINREICH; LABOV; HERZOG,

1968; LABOV, 1972; 1994) aplicada a amostras de fala. Nesse sentido, o presente

estudo demonstra que: i) o quadro de estratégias de realização do OD anafórico de 3a

pessoa em Oberá é mais complexo do que o que é descrito pela literatura, cotando, além

das formas le e zero, também com o clítico lo/la; ii) a distribuição de le e zero está

condicionada por fatores internos, como a animacidade do referente; e iii) o uso de lo/la

é condicionado por fatores externos, tais como a escolaridade e o gênero do informante.

Os resultados apontam para um cenário de variação estável, uma vez que as

formas le e zero se distribuem obedecendo a fatores internos, não sendo sensível ao

fator faixa etária. A forma lo/la, por outro lado, não está em competição com as demais

formas, já que é majoritariamente empregada por falantes mais escolarizados,

especialmente pelas mulheres que pertencem ao grupo de maior prestígio social.

Palavras-chave: 1. Objeto direto anafórico. Sociolinguística; 3. Espanhol; 4. Oberá-Misiones (Argentina)

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DE RAMOS, Patricia Vanessa. Estratégias de realização do objeto direto anafórico de terceira pessoa no Espanhol de Oberá - Misiones (Argentina): um estudo sociolinguístico. Dissertação de Mestrado em Letras Neolatinas (Língua espanhola). Rio de Janeiro: Faculdade de Letras / Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2017.

ABSTRACT

The variation in the framework of strategies for the realization of the 3rd person

anaphoric direct object (DO) in Spanish has been studied by several authors recently,

among them we can mention Fernández-Ordónez (1999; 2001; 2007), Gómez Seibane

(2012), Palácios (1998; 2005; 2006; 2015), Granda (1982), Martínez (2006; 2010;

2015), García (2015), Mallat (2015), Lipski (1996; 2007; 2010), Silva-Corvalán (2001)

and Amable (1975). These authors have been dedicating a great deal of effort to achieve

empirical studies that may reveal the current situation of variation or change in the

strategies in question. Regarding to the variety of Spanish from the northeast of

Argentina, more specifically from the province of Misiones, we find, however, a lack of

updated studies that seek to illustrate the current framework of the forms used by the

speakers for the realization of the 3rd person anaphoric DO. For this reason, the goal of

this study is to investigate these forms in a region of the province of Misiones

(Argentina): Oberá. The analysis is based on the theoretical-methodological

assumptions of the quantitative sociolinguistics of Labov (WEINREICH, LABOV;

HERZOG, 1968; LABOV, 1972; 1994) applied to speech samples. In this sense, the

present study seeks to demonstrate that: i) the framework of strategies for the realization

of 3rd person anaphoric DO in Oberá is more complex than described in the literature,

once is included the participation of the clitic lo, besides le and zero; ii) the distribution

of le and zero is conditioned by internal factors, as the animacity of the referent; and iii)

the usage of lo is conditioned by external factors, such as schooling and the gender of

the speaker.

The results point to a scenario of stable variation, since le and zero are distributed

obeying internal factors and therefore is not sensitive to the factor age of the speaker.

The form lo/la, on the other hand, is not in competition with the other forms; since it is

mostly used by those with higher levels of schooling, mainly by women who belong the

group with highest social status.

Keywords: 1. Anaphoric direct object; 2. Sociolinguistics; 3. Spanish; 4. Oberá-Misiones (Argentina)

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DE RAMOS, Patricia Vanessa. Estratégias de realização do objeto direto anafórico de terceira pessoa no Espanhol de Oberá - Misiones (Argentina): um estudo sociolinguístico. Dissertação de Mestrado em Letras Neolatinas (Língua espanhola). Rio de Janeiro: Faculdade de Letras / Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2017.

RESUMEN

La variación en el marco de las estrategias de realización del objeto directo (OD)

anafórico de tercera persona en español ha sido estudiada por varios autores

recientemente, entre ellos podemos mencionar a Fernández-Ordónez (1999; 2001;

2007), Gómez Seibane (2012), Palácios (1998; 2005; 2006; 2015), Granda (1982),

Martínez (2006; 2010; 2015), García (2015), Mallat (2015), Lipski (1996; 2007; 2010),

Silva-Corvalán (2001) y Amable (1975). Estos autores dedican un gran esfuerzo en

realizar estudios empíricos que puedan revelar la situación actual de la variación o del

cambio de las estrategias en cuestión. En lo que se refiere a la variedad del español del

noreste de Argentina, más específicamente de la provincia de Misiones, encontramos,

sin embargo, una carencia de estudios actualizados que intentan ilustrar el marco actual

de las formas utilizadas por los hablantes para la realización del OD anafórico de 3ª

persona. Por esta razón, el objetivo de este estudio es investigar esas formas en una

región de la provincia de Misiones (Argentina): Oberá. El análisis se basa en los

fundamentos teórico-metodológicos de la sociolingüística cuantitativa de Labov

(WEINREICH, LABOV, HERZOG, 1968, LABOV, 1972, 1994) aplicados a muestras

de habla. En este sentido, el presente estudio busca demostrar que: i) el marco de

estrategias para la realización del OD anafórico de 3ª persona en Oberá es más complejo

de lo descrito en la literatura, con la participación del clítico lo, además de le y cero; ii)

la distribución de le y cero es condicionada por factores internos, como la animacidad

del referente; y iii) el uso de lo está condicionado por factores externos, como la

escolarización y el género del hablante.

Los resultados indican un panorama de variación estable, ya que las formas le y

cero se distribuyen obedeciendo a factores internos y por lo tanto no son sensibles al

factor edad del informante. La forma lo/la, por otra parte, no compite con las demás,

una vez que es mayormente empleado por los hablantes con mayor escolaridad,

principalmente por las mujeres que pertenecen al grupo de mayor prestigio social.

Palabras clave: 1. Objeto directo anafórico; 2. Sociolingüística; 3. Español; 4. Oberá-Misiones (Argentina)

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Este trabalho foi financiado por uma bolsa do CNPq.

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Dedico este trabalho às pessoas de Oberá - Misiones (Argentina).

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À minha família, amigos, a cada professor que fez parte da minha formação.

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Agradecimentos

Este trabalho começou sob a inspiração da Profa. Dra. Leticia Rebollo Couto da UFRJ, que foi minha orientadora de iniciação científica durante a graduação. A convivência durante as aulas de espanhol nos últimos semestres da graduação resultou no estímulo a continuar o percurso acadêmico e a levantar vários questionamentos sobre a variação em língua espanhola.

Por questões acadêmicas, passei às mãos competentes do Prof. Dr. Leonardo Lennertz Marcotulio, de quem sou a primeira orientanda. Sob sua orientação, consegui consolidar conhecimentos teóricos e concluir o presente estudo. Muito obrigada por todos os conselhos, por toda a dedicação e paciência em corrigir o meu trabalho e os meus erros de português. Você é a minha segunda inspiração e um exemplo a ser seguido.

Agradeço ainda:

Ao meu querido esposo Jorge Romeiro por todo o apoio que tem me dado ao longo deste percurso; pelas palavras de consolo e de estímulo quando eu precisei; por ter lido o meu trabalho e me ajudado a pensar sobre o tema; pela paciência e ajuda com as tarefas do dia-a-dia.

A mis padres Telma Colmann y Ramón N. de Ramos, quienes son mis guías en la vida, quienes me enseñaron los principios básicos que llevo conmigo para siempre. A ustedes les dedico este trabajo y les agradezco cada palabra que me dijeron. Ustedes son mi cable a tierra cuando lo necesito.

A mis seis hermanos, a quienes extraño tanto y admiro por toda la fortaleza que tienen. Muchas gracias por el apoyo que me dan aún estando lejos. Muchas gracias por hacerme la tía más feliz de todas y alegrarme los momentos con las sonrisas, fotos, videos y carcajadas de mis bellas sobrinas.

A mi hermana menor Ayina Araceli de Ramos y a mi mamá por haberme acompañado a realizar las entrevistas en Oberá. La ayuda de ustedes dos fue fundamental en mi investigación.

À Profa. Dra. Silvia Regina de Oliveira Cavalcante e à Profa. Dra. Leticia Rebollo Couto, membros da minha banca examinadora, pelas muitas contribuições. Suas valiosas palavras enriqueceram ainda mais o meu trabalho.

Às minhas amigas aqui do Brasil: Leticia Bicalho e Andresa Bernardino. Muito obrigada pela amizade de vocês, por me fazerem rir, pelos conselhos, pela companhia quando estive sozinha aqui neste país que me acolheu tão amigavelmente desde a minha chegada.

Às minhas amigas e colegas da faculdade Fernanda Delgado, Beatriz Araújo, Fernanda Andrade e Luísa Perissé, pela amizade, companheirismo, viagens, risadas, abraços e comidas compartilhadas. Vocês me deram forças e estímulo para eu seguir em frente sempre. Luísa, obrigada por ser tão companheira e dividir cada texto acadêmico quando

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eu precisei.

À cada professor que tive durante a minha vida, começando lá no ensino fundamental, pois vocês me ensinaram os valores da profissão que tanto amo hoje. Agradeço principalmente aos meus professores da UFRJ por terem compartilhado o conhecimento tão valioso de vocês.

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Lista de Tabelas

Tabela 1. Número de dados de acordo com cada informante ...................................... 121 Tabela 2. Dados gerais .................................................................................................121

Tabela 3. Dados gerais com a separação do clítico acusativo em função da morfologia de gênero ......................................................................................................................126

Tabela 4. Total de dados de cada estratégia clítica e redobro ..................................... 128 Tabela 5. Percentual de duplicação por meio de um pronome tônico ou um sintagma nominal. ....................................................................................................................... 128 Tabela 6. Posição do clítico ......................................................................................... 134

Tabela 7. Forma do antecedente (1) ............................................................................ 136 Tabela 8. Forma do antecedente (2) ............................................................................ 138

Tabela 9. Número do antecedente .............................................................................. 139

Tabela 10. Número do clítico ..................................................................................... 142 Tabela 11. Número do clítico x número do antecedente ............................................. 144

Tabela 12. Gênero do antecedente ............................................................................... 148 Tabela 13. Lo em função do gênero (masculino lo(s), feminino la(s)) ........................ 152

Tabela 14. Animacidade do antecedente ...................................................................... 156 Tabela 15. Animacidade do antecedente x número do antecedente ............................. 161

Tabela 16. Animacidade do antecedente x número do antecedente ............................. 163 Tabela 17. Animacidade do antecedente x número do antecedente separando lo(s) e la(s) .............................................................................................................................. 164 Tabela 18. Especificidade do antecedente ................................................................... 165

Tabela 19. Animacidade x especificidade do antecedente ........................................... 168 Tabela 20. Definitude do antecedente .......................................................................... 169

Tabela 21. Animacidade x definitude ........................................................................... 171 Tabela 22. Distância em relação à primeira menção .................................................... 173

Tabela 23. Tipo de texto ............................................................................................... 177 Tabela 24. Tipo de texto x animacidade do referente ................................................... 181

Tabela 25. Gênero do informante ................................................................................. 183 Tabela 26. Gênero do informante x animacidade ........................................................ 186 Tabela 27. Faixa etária ................................................................................................ 188 Tabela 28. Faixa etária x gênero: homens ................................................................... 192

Tabela 29. Faixa etária x gênero: mulheres .................................................................194 Tabela 30. Faixa etária x animacidade do antecedente ................................................199

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Tabela 31. Escolaridade do informante ....................................................................... 200

Tabela 32. Escolaridade do informante x animacidade do antecedente ...................... 205 Tabela 33. Escolaridade x Gênero ............................................................................... 207

Tabela 34. Escolaridade x faixa etária ......................................................................... 210 Tabela 35. Profissão ..................................................................................................... 212

Tabela 36. Informantes: Grupo 1 ................................................................................. 214 Tabela 37. Informantes: Grupo 2 ................................................................................. 215

Tabela 38. Informantes: Grupo 3 ................................................................................. 217 Tabela 39. Grau de distância e proximidade em relação ao entrevistador .................. 218

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Lista de Quadros

Quadro 1. Quadro pronominal de formas acusativas. Adaptado da Nueva Gramática de la Lengua Española. Manual (BOSQUE, 2010: 300) ................................................. 43

Quadro 2. Hierarquia de animacidade e definitude (GÓMEZ SEIBANE, 2012: 53) …….............................................................................................................................. 48

Quadro 3. Sistema pronominal que distingue caso (GÓMEZ SEIBANE, 2012: 18)................................................................................................................................ 52

Quadro 4. Sistema referencial de Castilha. Adaptado de Fernández-Ordóñez (1999: 1350) …........................................................................................................................56

Quadro 5. Sistema pronominal da zona vasca. Adaptado de Gómez Seibane (2012: 25) …….............................................................................................................................. 57

Quadro 6. Sistema pronominal da zona catalã. Adaptado de Gómez Seibane (2012: 25) ….................................................................................................................................. 59

Quadro 7. Sistema pronominal do espanhol andino I (Equador). Adaptado de Gómez Seibane (2012: 39) ….................................................................................................. 61

Quadro 8. Sistema pronominal do espanhol andino II (Peru, Bolívia, noroeste da Argentina). Adaptado de Gómez Seibane (2012: 41)….............................................. 65

Quadro 9. Sistema pronominal do espanhol guaranítico. Paraguai (P) e no nordeste da Argentina (NA) (GÓMEZ SEIBANE, 2012: 43) …................................................... 66

Quadro 10. Sistema pronominal do espanhol em contato com as línguas náhualts e com as línguas maia (GÓMEZ SEIBANE, 2012:49) …...................................................................................................................................75

Quadro 11. Critérios empregados para a constituição da amostra ............................. 96

Quadro 12. Mapa de informantes organizados por células sociolinguísticas ............. 96

Quadro 13. Convenções empregadas para a transcrição dos dados. Adaptado (CONCORDÂNCIA, LETRAS, UFRJ) ................................................................... 103

Quadro 14. Distribuição do total de horas por informante ........................................ 105

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Lista de Gráficos

Gráfico 1. Distribuição dos povos indígenas ou descendentes de povos indígenas ou originários por província (Argentina) (INDEC, 2010) .................................................. 11

Gráfico 2. Povos indígenas ou descendentes de povos indígenas na Argentina (INDEC, 2010) .............................................................................................................................. 12

Gráfico 3. População afrodescendente por província (INDEC, 2010) .......................... 16 Gráfico 4. Dados gerais ............................................................................................... 125

Gráfico 5. Dados gerais com a separação do clítico acusativo em função da morfologia de gênero ..................................................................................................................... 127

Gráfico 6. Duplicação por meio do pronome tônico ou por um sintagma nominal .... 129 Gráfico 7. Posição do clítico ....................................................................................... 135

Gráfico 8. Forma do antecedente ................................................................................ 138 Gráfico 9. Número do clítico x número do antecedente .............................................. 147

Gráfico 10. Gênero do antecedente .............................................................................. 151 Gráfico 11. Animacidade do antecedente .................................................................... 160

Gráfico 12. Animacidade x número do antecedente ................................................... 162 Gráfico 13. Animacidade x gênero do antecedente ..................................................... 164

Gráfico 14. Animacidade x especificidade .................................................................. 168 Gráfico 15. Animacidade x definitude do antecedente ................................................ 172

Gráfico 16. Distância em relação à primeira menção .................................................. 176 Gráfico 17. Tipo de texto ............................................................................................ 180

Gráfico 18. Tipo de texto x animacidade do antecedente ............................................ 182 Gráfico 19. Gênero do informante ............................................................................... 185

Gráfico 20. Faixa etária do informante ........................................................................ 191 Gráfico 21: Faixa etária x gênero: homens .................................................................. 193

Gráfico 22. Faixa etária x gênero: mulheres ................................................................ 195 Gráfico 23. Faixa etária x gênero: le ............................................................................ 196

Gráfico 24. Faixa etária x gênero: lo ........................................................................... 197 Gráfico 25. Faixa etária x gênero: zero ........................................................................ 198

Gráfico 26. Escolaridade do informante ...................................................................... 203 Gráfico 27. Escolaridade do informante: clíticos le e lo .............................................. 204

Gráfico 28. Escolaridade x gênero: mulheres .............................................................. 208 Gráfico 29. Escolaridade x gênero: homens ................................................................ 209

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Lista de Mapas

Mapa 1. Localização de Oberá ........................................................................................ 7

Mapa 2. População indígena ou descendente de povos indígenas ou originários por província: percentagem (INDEC, 2010) ........................................................................ 10

Mapa 3. Distribuição do povo Guarani em Misiones (ZAMUDIO, 2003) .................. 13

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Índice

Introdução ...................................................................................................................... 1 Capítulo 1. Oberá, Misiones (Argentina): aspectos socioculturais e linguísticos .......................................................................................................................................... 6 1.1 Aspectos socioculturais de Oberá - Misiones ............................................................ 6

1.1.1 Dados históricos e culturais ...................................................................... 7

1.1.2 Dados demográficos ................................................................................. 9 1.1.3Dadosétnicos...............................................................................................................................91.1.4 Fronteiras e contatos ................................................................................ 14

1.1.5 Dados sobre a educação .......................................................................... 18

1.2 Aspectos linguísticos na morfossintaxe do espanhol de Oberá ................................ 19 1.2.1 Concordância verbal ................................................................................ 20 1.2.2 Concordância nominal ............................................................................. 21 1.2.3 Possessivos .............................................................................................. 22 1.2.4 Correlação de tempos verbais .................................................................. 25 1.2.5 Relativas .................................................................................................. 26

1.2.6 Verbos com sentido existencial ............................................................... 28 1.2.7 Dequeísmo ............................................................................................... 29

1.2.8 Apagamento da consoante /r/ na desinência de infinitivos ...................... 30 1.2.9 Apagamento ou aspiração do /s/ em final de palavra ............................... 31

1.2.10 Paradigma pronominal e verbal do voseo ............................................ 32 1.2.11 Objeto indireto ....................................................................................... 34

1.2.12 Objeto direto .......................................................................................... 35 1.3 Síntese do capítulo..................................................................................................... 37

Capítulo 2. Realizações do objeto direto anafórico de 3a pessoa: revisão da

literatura ....................................................................................................................... 39 2.1 Definindo o objeto de estudo ................................................................................... 39 2.2 A estratégia le como objeto direto: breve percurso histórico .................................. 43

2.3 A omissão do pronome objeto direto (zero fonético) .............................................. 47 2.4 As estratégias de realização do objeto direto anafórico em variedades do espanhol ........................................................................................................................................ 50

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xix

2.4.1 Sistema pronominal distribuidor de casos ........................................ 52

2.4.2 Sistema pronominal referencial ........................................................ 55 2.4.3 Sistema pronominal em regiões bilíngues: Espanha ........................ 57

2.4.4 Sistema pronominal em regiões bilíngues: América ........................ 60 2.4.4.1 Sistema pronominal da região andina .................................. 60

2.4.4.2 Sistema pronominal da região guaranítica ........................... 65 2.4.5 Sistema pronominal em outras regiões de contato entre o espanhol e

as línguas náhualts e as línguas maias ......................................................................................................... 75

2.4.6 Sistema pronominal da região rio-platense ...................................... 76 2.5 Síntese do capítulo ................................................................................................... 79

Capítulo 3. Pressupostos Teórico-metodológicos ....................................................... 83 3.1 Referencial teórico: Sociolinguística Variacionista de base laboviana .................... 83 3.2 Metodologia .............................................................................................................. 86

3.2.1 Corpus ..................................................................................................... 87 3.2.1.1 Metodologia para a constituição do corpus ................................ 87

3.2.1.1.1 Entrevistas sociolinguísticas ........................................ 88 3.2.1.1.2 Narrativas espontâneas ................................................ 93

3.2.1.2 Breve perfil dos informantes ...................................................... 95 3.2.1.3 Normas de transcrição das entrevistas ...................................... 102

3.2.2 Procedimentos metodológicos ............................................................... 105 3.2.2.1 Variável dependente ................................................................. 105

3.2.2.2 Variáveis independentes ........................................................... 106 3.2.2.2.1 Fatores internos ......................................................... 107

3.2.2.2.2 Fatores externos ........................................................ 114 3.3 Síntese do capítulo .................................................................................................. 119

Capítulo 4. Descrição e análise dos dados ................................................................ 120 4.1 Dados gerais............................................................................................................ 120 4.2 Forma do antecedente ............................................................................................. 136

4.3 Número do antecedente .......................................................................................... 139 4.4 Gênero do antecedente ........................................................................................... 148

4.5 Animacidade do antecedente .................................................................................. 155 4.6 Especificidade do antecedente ................................................................................ 165

4.7 Definitude do antecedente ...................................................................................... 169

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xx

4.8 Distância em relação à primeira menção ................................................................ 173

4.9 Tipo de texto .......................................................................................................... 176 4.10 Gênero do informante ........................................................................................... 183

4.11 Faixa etária do informante .................................................................................... 187 4.12 Escolaridade do informante .................................................................................. 200

4.13 Profissão ............................................................................................................... 211 4.14 Grau de distância e proximidade em relação ao entrevistador ............................. 218

4.15 Síntese do capítulo ............................................................................................... 219

Considerações finais ................................................................................................... 223 Referências bibliográficas .......................................................................................... 227

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1

Introdução

O objetivo desta pesquisa é investigar a variação no quadro das estratégias de

realização do objeto direto anafórico de 3ª pessoa, no espanhol de Oberá - Misiones

(Argentina), a partir de uma perspectiva teórico-metodológica da sociolinguística

quantitativa de base laboviana (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 1968; LABOV,

1972; 1994) aplicada a amostras de fala.

Nessa região, o repertório encontrado é constituído por cinco formas de realizar o

objeto direto (OD) anafórico de 3a pessoa na língua espanhola, que serão utilizadas a

partir das necessidades comunicativas. São elas: os clíticos lo(s)/la(s) (A), o clítico le(s)

(B), o zero (entendido como o OD não realizado foneticamente) (C), um sintagma

nominal (D) e o demonstrativo (E).

(A) a. Y según lo que yo enteré de que el chavón era gendarme ¿no? Y era e: a la misma era ladrón de coche se ponía a robar autos entonces [un policía]i justo lo pesca y: él agarro y loi mata al policía (Homem, faixa 2, nível médio)

b. -Bien a: ¿Usted tiene [mascota]i?- No - No - Ahora no hace poco lai tuve (Mulher, faixa 3, nível superior)

(B) - Y conocías a [esas personas]i? - Yo lei conocía sí porque se murió un bebé y una vieja (Homem, faixa 2, nível médio)

(C) - Y ¿Vos tenés algún [algún sueño]i que recuerdes que vos soñaste y te acordás

del sueño? - Sí pero no te Øi voy a contar porque es una pelotudés (Homem, faixa 2, nível médio)

(D) E: Bien ¿Vos tenés [mascotas]i? No me gustan los animales pero sí en casa tenemos macotai (Mulher, faixa 1, nível superior)

(E) […] la historia de esa gente no cierto porque ahí tiene su cementerio su plaza

todo adentro de una ciudad aparte ahí no cierto y [cómo construyeron cómo

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2

levantaron semejantes piedras]i yo hasta ahora me pregunto esoi (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

A variação no quadro do sistema pronominal átono de 3a pessoa do espanhol vem

sendo estudada por diferentes autores nos últimos anos. Entre eles encontra-se Silva-

Corvalán (2001), quem aponta a existência de dois sistemas distintos: o que distingue o

caso e o sistema referencial. O primeiro deles é o que diferencia o uso dos clíticos

lo(s)/la(s), para a realização do objeto direto, e o clítico le(s), para o objeto indireto. O

sistema referencial, por sua vez, considera os traços semânticos e gramaticais do

antecedente (animacidade, especificidade, definitude, gênero), independentemente da

sua função sintática. Em outras palavras, nesse sistema, o clítico lo/la e/ou le podem ser

utilizados para objetos diretos e indiretos.

Para Fernández-Ordónez (1999; 2001; 2007), além das estratégias clíticas de 3a

pessoa, o OD também pode ser realizado a partir de uma categoria vazia, conhecida

como zero fonético ou objeto nulo. Gómez Seibane (2012) concorda com as asserções

realizadas por Fernández-Ordoñez e apresenta a variação no quadro de realizações do

objeto anafórico em questão considerando as variedades da língua espanhola. De

acordo com Gómez Seibane, a língua espanhola convive com a língua vasca, com o

galego e com o catalão, com línguas ameríndias, com o inglês e com o português.

Para as autoras supracitadas, o contato linguístico junto a fatores linguísticos e

extralinguísticos pode ser o responsável pela presença de quadros de 3a pessoa mais

“simplificados1”. Assim ocorre com o sistema encontrado no Equador, onde, segundo

Palacios (2005; 2006), o contato se dá com a língua quéchua. Nessa região, os falantes

usam o clítico le como forma de realizar o OD independentemente do traço de

animacidade do antecedente; nessa variedade também se verifica a presença do zero

fonético. O quadro encontrado no Paraguai, onde o espanhol está em contato com o

guarani, também é “simplificado”. Nessa variedade, existe, conforme Granda (1982) e

Palacios (1998), um uso generalizado do clítico le no singular que retoma antecedentes

tanto no singular quanto no plural. Palacios (1988) indica que o zero fonético, por sua

vez, pode retomar antecedentes [±específicos] e [±definidos] no Paraguai. Martínez 1 Agradeço a contribuição da Profa. Dra. Leticia Rebollo Couto por ter chamado a minha atenção sobre o emprego do termo “simplificado”. Segundo a professora, esse termo pode sugereir que existe um outro quadro que é considerado “completo” ou que é tomado como referência. Entretanto, neste trabalho, o termo “simplificado” é empregado para dizer que o quadro conta com menos elementos se comparado a um outro quadro, mas que nem por isso ele é menos complexo ou eficiente. Pode, inclusive, sugerir que apresenta um grau de complexidade relativamente alto, pois consegue com menos elementos realizar todas as funções que desempenha um quadro “completo”.

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3

(2006; 2010; 2015) estuda o espanhol da Argentina e verifica que, na variedade rio-

platense, por exemplo, o traço [±determinado] do antecedente condiciona a presença do

zero fonético, assim como o número de interlocutores envolvidos no evento. No

nordeste desse país, mais precisamente em Corrientes, conforme aponta Martínez

(2006), o caráter [+misterioso] ou [+extraordinário] do antecedente determina a elisão

do OD. Amable (1975), por sua vez, estuda o espanhol de Misiones e aponta a

existência do uso da forma le no singular que retoma antecedentes tanto no singular

quanto no plural, da mesma forma que foi descrito no Paraguai. O autor observa

também a possibilidade de elisão do OD.

Na literatura disponível sobre o tema, o trabalho de Amable (1975) é a única

contribuição disponível sobre a região que nos interessa nesta dissertação. Por mais

valioso que seja, conta já com mais de quarenta anos e mereceria, minimamente, uma

revisão que pudesse atualizar (ou confirmar) os achados do autor. Devido à escassez de

investigações sobre o espanhol de Misiones e, mais particularmente de Oberá,

justificamos a realização deste trabalho. O nosso intuito é contribuir ao mapeamento da

variação no quadro de realizações do objeto direto anafórico de 3ª pessoa, com a

descrição do fenômeno em uma variedade do espanhol que, como tantas outras, ainda

não foi suficientemente contemplada pela literatura.

Partindo de Amable (1975), as únicas estratégias descritas para a região nordeste

da Argentina seriam o clítico le e o zero. Nesse sentido, em nosso estudo realizamos as

seguintes perguntas gerais:

1. Quais são as estratégias empregadas pelos falantes de Misiones, mais precisamente

de Oberá, para a realização do OD anafórico de 3a pessoa? São somente le e zero?

2. Quais são os fatores linguísticos e extralinguísticos que condicionam o uso das

formas em variação?

Buscando responder a essas perguntas, em dezembro de 2015 elaboramos um

corpus da fala de Oberá-Misiones (Argentina). Para tanto, entrevistamos vinte e dois

(22) informantes, mulheres e homens, de diferentes faixas etárias (entre 15 e 62 anos de

idade), com diferentes graus de escolaridade (ensino fundamental, médio e superior).

A hipótese central que buscamos verificar com este trabalho é a seguinte:

diferentemente do que sugere a literatura linguística (GRANDA, 1982; AMABLE,

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4

1975; PALACIOS, 1998; MARTÍNEZ, 2006; 2010; 2015;) sobre o sistema encontrado

no nordeste da Argentina, que incluiria em seu repertório as formas le e zero, o sistema

encontrado em Oberá é mais complexo, contando também como o clítico lo/la (além

das demais formas como sintagma nominal e demonstrativo). A distribuição das

estratégias le e zero é guiada sobretudo por fatores internos, com especial destaque à

animacidade do antecedente. O clítico lo/la, por sua vez, estratégia de maior prestígio,

tem seu uso regulado sobretudo por fatores externos, como a escolaridade e o gênero

do informante. Acreditamos também que o sistema praticado em Oberá revela um

cenário de variação estável e não de mudança em progresso, uma vez que o uso das

formas le e zero está condicionado por fatores internos como a animacidade do

antecedente, e não é sensível ao fator faixa etária. Por outro lado, o clítico lo/la não

compete necessariamente com as demais estratégias.

Este trabalho está organizado da seguinte forma: no capítulo 1, fazemos uma

breve introdução da região estudada, ou seja, apresentamos aspectos como a

localização geográfica, os dados históricos, culturais, demográficos, as fronteiras e os

contatos histórico-culturais de Oberá - Misiones. Ainda que de modo sucinto, trazemos

também alguns aspectos linguísticos variáveis da morfossintaxe do espanhol de Oberá.

No capítulo 2, definimos o nosso objeto de estudo, realizamos um breve percurso

histórico da estratégia le e apresentamos uma breve descrição do que entendemos como

zero fonético. Apresentamos também as noções de sistema distribuidor de caso e

sistema referencial. De maneira sucinta, discorremos sobre alguns dos mais recentes

estudos sobre o sistema pronominal átono de 3a pessoa em algumas das variedades do

espanhol. Ainda no capítulo 2, trazemos as perguntas norteadoras do nosso estudo e as

nossas hipóteses de trabalho. No capítulo 3 apresentamos o quadro teórico central no

qual nos baseamos para a análise dos nossos dados: a sociolinguística variacionista de

base laboviana. Em seguida, descrevemos a metodologia empregada para a elaboração

do corpus, um breve perfil dos informantes, assim como os critérios de transcrição

adotados. Na última seção do capítulo 3, apresentamos os grupos de fatores

considerados em nosso trabalho. No último capítulo, o 4, descrevemos

quantitativamente os resultados obtidos para cada um dos grupos de fatores que foram

analisados com o auxílio do programa estatístico computacional GoldVarbX

(SANKOFF; TAGLIAMONTE; SMITH, 2005). Apresentamos os resultados gerais da

amostra, em termos de frequências brutas, considerando as variantes encontradas. E,

finalmente, analisamos os resultados dos grupos de fatores controlados, relacionando-

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5

os aos trabalhos comentados no capítulo 2. Por fim, nas considerações finais,

apresentamos as conclusões que foram possíveis extrair a partir da nossa análise dos

dados. A esse capítulo, seguem as referências bibliográficas utilizadas e, em anexo, as

transcrições das entrevistas realizadas.

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6

Oberá, Misiones (Argentina):aspectos socioculturais

e linguísticos

Como este trabalho busca analisar as estratégias de realização do objeto direto

anafórico de 3ª pessoa na variedade do espanhol falada em Oberá, Misiones

(Argentina), cabe-nos apresentar, ainda que em linhas gerais, alguns aspectos

geográficos, socioculturais e linguísticos dessa região. Para tanto, na seção 1.1

fazemos uma breve introdução à região estudada, isto é, apresentamos aspectos como a

localização geográfica de Oberá - Misiones, assim como dados históricos, culturais,

demográficos, as fronteiras e os contatos histórico-culturais. Para tanto, partimos de

dados do CENSO de 2010, que foi o último realizado no país. Além disso, trazemos os

comentários de Duran (2005), que descreve as fronteiras e contatos históricos e

culturais de Misiones, e Gualdoni (2006), que descreve a formação do município de

Oberá. Em 1.2 apresentamos de modo sucinto alguns aspectos linguísticos na

morfossintaxe do espanhol de Oberá tomando como exemplo os dados recolhidos por

nós para o presente estudo.

1.1 Aspectos socioculturais de Oberá - Misiones

Misiones é uma das 23 províncias da Argentina, localizada ao nordeste do país.

Faz fronteira ao oeste com o Paraguai, pelo Rio Paraná, ao norte, leste e sul com o

Brasil. A fronteira entre a Argentina e o Brasil está marcada pelos Rio Iguazú, San

Antonio, Pepirí Guazú e Uruguai, além dos 20 km de fronteira seca. Finalmente, ao

sudoeste Misiones faz fronteira com a província de Corrientes.

Oberá é um dos departamentos, ou seja, um dos municípios da província de

Misiones. Localiza-se a 95 km da capital, Posadas, a 273 km de Puerto Iguazú e a 1040

km ao norte de Buenos Aires.

1

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7

Argentina Misiones

Mapa 1. Localização de Oberá. (ESTADISTICA.SANLUIS.COM.AR). Acesso em 12/01/2016.

1.1.1 Dados históricos e culturais

De acordo com Gualdoni (2006), entre 1911 e 1916 ocorreram os primeiros

cinco anos de colonização de Oberá. Em 1913 chega um grupo formado principalmente

por escandinavos e suecos que chegavam sós, sem as suas famílias. Em 1914, instalou-

se a primeira família dando inicio à nova colônia. Em 1920 chegam algumas famílias

proveniente da Itália e mais tarde algumas da Alemanha, dos povos eslavos, alguns

japoneses e a partir de 1926, como consequência do progresso da colônia e das

facilidades dadas pela Dirección Nacional de Tierras para a pose imediata de terra,

chegou o que se chamou de colonización criolla. Como a maioria dos fundadores de

Oberá foi sueca, o nome sugerido inicialmente foi Svea, mas esse batismo foi impedido

pelo governo central, leia-se de Buenos Aires, e assim o nome ficou Oberá. Entretanto,

esse nome também gera algumas discussões. Por exemplo, Gualdoni (2006) aponta que

Oberá

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o nome Oberá deriva de “vera”, que é uma palavra do guarani, e significa “brilhante”,

“luminoso”; a letra “B” é, no entanto, seria uma deformação idiomática produzida pelo

uso.

Gualdoni (2006) aponta que no momento da chegada dos povos procedentes

da Europa existiam “espécies” de povos que moravam em Oberá. Trata-se dos povos

indígenas que habitavam não só Oberá, mas também Misiones como um todo. De

acordo com Duran (2005), Misiones se viu atingida pela expansão da cultura

guaranítica proveniente do amazonas no século XV. O povo Guarani teve uma

importância significativa em relação à cultura e à religião na região de Misiones. A sua

influência não se restringiu só a essa província da Argentina, mas abarcou o Paraguai, o

Brasil e a Bolívia. Durán (2005) comenta que o povo Guarani tinha uma organização

social e política admirável e que foi respeitada, até certo ponto, pelos jesuítas. A língua,

segundo os comentários de Duran (2005), era rica e foi institucionalizada pelos jesuítas.

“En nuestra región la vida de los guaraníes sufrió una enorme transformación, poseían una organización social y política admirable que fue respetada hasta cierto punto por los jesuitas, su idioma lleno de riquezas, fluidez, fue admirado e institucionalizado en las Misiones Jesuíticas. (DURÁN, 2005:13)

Estudos mais recentes demostram que o povo Guarani não despareceu

totalmente da província de Misiones, já que ainda é possível encontrar assentamentos

em algumas regiões. O estudioso norte-americano John Lipski comenta que nessa

região da Argentina o multilinguismo está enriquecido, visto que o espanhol convive

não só com o português, mas também com o guarani e com o alemão. Isso confirma o

dado apontado sobre a sobrevivência do povo originário de Misiones até os nossos dias.

Segundo Amable (1975), Misiones encontra-se localizada sobre a área

etnográfica do povo guaranítico e tupinambá, que se estende desde as costas atlânticas

do Brasil até o Mato Groso e sudeste da Bolívia, até chegar à desembocadura do Rio

Paraná. Nessa região ficam compreendidos o Paraguai, Chaco, Formosa, Misiones e

Corrientes. Por essa razão, segundo o mesmo autor, não é de se estranhar que a

toponímia de Misiones denuncie a presença de um poderoso substrato guarani.

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1.1.2 Dados demográficos

Segundo o último Censo Nacional de Población, Hogares y Viviendas (2010), a

província de Misiones, o que corresponde no Brasil a um estado, tem 1.101.593 de

habitantes. A percentagem de analfabetismo é maior do que na Capital do país, 6,2%

diante de 1,6% em Buenos Aires. O departamento de Oberá, que no Brasil corresponde

a um município, tem uma população de 107.501 habitantes, sendo o nono (9º)

departamento mais populoso da província.

A população da região do nordeste do país, onde fica localizada a província de

Misiones, cresceu de 7,3% em 1985 para 9,2% em 2010. Misiones, especificamente,

cresceu de 0,8% para 2,7%, com variações para mais ou para menos ao longo desse

período.

1.1.3 Dados étnicos

Segundo o último Censo Nacional de Población, Hogares y Viviendas (2010),

desde a época da conquista o atual território argentino esteve habitado por variedades

étnicas que não receberam os mesmo direitos dados ao homem branco. Algumas da

instituições da Colônia, como a Mitia e o Yanaconazgo, reduziram os povos originários

a um estado homólogo ao da escravidão. Foram necessários séculos para chegar a um

ponto de reconhecimento dessas etnias e extensão de diretos.

O grupo originário que nos interessa é o que habita a província de Misiones, por

isso procuramos esse dado em documentos estatísticos. O Censo Indígena Nacional

(CIN) de 1966/1968 contabilizou 165.381 indígenas (75.675 indígenas localizados e

89.706 estimados), quando a população total do país era de 22.800 milhões. Na

atualidade, a população originária que se reconhece como tal é de 955.032 pessoas em

todo o país, o que representa 2,4% do total da população.

Conforme verificamos no Censo Nacional de Población, Hogares y Viviendas

(2010), em Misiones encontra-se somente 1,2% da população originária do país, sendo

Chubut a província com o maior índice, 8,7%.

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10

Para especificar a população originária de Misiones, lançamos mão de alguns

documentos complementários ao supracitado, entre eles o INDEC 2 , mais

especificamente o ECPI3, e neles observamos que em Misiones o percentual de

concentração dessa população é relativamente baixa.

A Mapa 2 nos ajuda a visualizar a distribuição dos povos indígenas por

províncias na Argentina.

Mapa 2. População indígena ou descendente de povos indígenas ou originários por província:

percentagem (INDEC, 2010).

Notamos que em Misiones encontra-se o menor percentual do povo indígena,

ou descendente de povo indígena, entre 0% e 2%, para ser mais exato, 1,2%, segundo

indica o INDEC (2010). A maior parte está concentrada nas províncias ao noroeste do

2 INDEC: Índice Nacional de Estadística y Censo. 3 ECPI: Encuesta Complementaria de Pueblos Indígenas.

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país (Jujuy, Salta e Formosa), assim como ao sul (Chubut, Rio Negro e em Neuquén),

como mostra o Gráfico 1 a seguir.

Gráfico 1. Distribuição dos povos indígenas ou descendentes de povos indígenas ou originários por

província (Argentina) (INDEC, 2010).

Conforme o INDEC (2010), do total de pessoas que se reconhecem como

pertencentes ou descendentes de povos originários, 21,5% se declara pertencente ou

descendente do povo Mapuche, o que representa um total de 205.009 pessoas.

O Gráfico 2 a seguir nos ajuda a visualizar os povos originários encontrados na

Argentina:

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Gráfico 2. Povos indígenas ou descendentes de povos indígenas na Argentina (INDEC, 2010).

Vemos que existem vários povos indígenas na Argentina, dentre eles o povo

Mapuche, o Guarani, o Tobas, o Avá-Guarani, o Mbyá-Guarani e o Aymara. Na

província de Misiones, que fica ao nordeste do país, encontram-se o povo Mbyá-

Guarani, o Guarani e o povo Tupi-Guarani. Dentre eles, o povo Mbyá-Guarani é o que

se concentra majoritariamente em Misiones. Os demais povos encontram-se também

em outras províncias do país. A população Mbyá-Guarani somente alcança 0,8% do

total dos povos indígenas, e, desse 0,8%, a metade encontra-se em Misiones segundo o

INDEC (2010).

Como dito acima, em Misiones encontra-se somente 1,2% do povo originário

do país. Nessa província, segundo Zamudio (sem data), a comunidade Guarani

encontra-se ao longo da província e se subdivide segundo o mapa apresentado abaixo.

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Mapa 3. Distribuição do povo Guarani em Misiones (ZAMUDIO, sem data). Disponível em:

http://indigenas.bioetica.org/base/base-d5.htm

Como pode ser visto acima, há 21 grupos que pertencem à comunidade Guarani

em Misiones, e muitos deles se subdividem em dois grupos. A seguir reproduzimos a

lista apresentada na imagem acima.

1. Arroyo nuevo 2. El Doradito 3. Paraje Mandarina 4. Y- Aka Porá 5. Iguá Porá 6. Carmelito 7. Marangatu 8. Virgen María 9. Yta Poty 10. Tekoa Guaraní 11. Tacuapí

12. Ñumandú 13. Y Ovy 14. Kaaguy Poty 15. Ivy Pyta 16. Kaa Poty 17. Kaa kupé- Taly Poty 18. Sapukay 19. Ñu Porá Katupyry 20. Yacutinga 21. Chapaí – El Chapá

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Duas comunidades na região do Iguaçu concentram uma quantidade

significativa do grupo Fortín Mbororé e Yriapú, muitos deles vindos do Paraguai e do

Brasil. No entanto, como esses povos não reconhecem fronteiras, é muito fácil a divisão

de aldeias e criação de outras, inclusive a migração de um país a outro é muito comum.

Isso também dificulta o estabelecimento de um número fixo de famílias assentadas no

território local.

Em Oberá, município que nos interessa nesta pesquisa, não se encontra nenhum

assentamento de população originária, mas se sabe, por experiências pessoais, que o

fluxo do povo Guarani nessa região existe e que chega de municípios vizinhos.

Teves et al (2002), em seu trabalho Una Aplicación de la Metodología de Redes

Sociales a la Investigación Etnográfica, investigam a forma de vida da população Mbyá

Guaraní. Os autores comentam que:

En el marco de este emprendimiento, a partir del año 1996 y hasta la actualidad se realizan en forma periódica y sistemática relevamientos etnográficos en las comunidades Mbyá-Guaraní. Estas dos comunidades asentadas en una área de 6.144 hectáreas están hoy bajo el régimen legal de una Reserva Privada de Usos Múltiples perteneciente a la UNLP en convenio con el Ministerio de Ecología de la provincia de Misiones (TEVES et. al, 2002:4).

Diferentemente do que foi apontado por Gualdoni (2006), que coloca a

existências dos povos originários de Misiones como um mito, Teves et al (2002) estuda

essas comunidades apontando dados importantes para o nosso trabalho, uma vez que

constata a existência e localização dos mesmos.

Uma vez visualizados os dados étnicos da Argentina, e mais especificamente de

Misiones, vejamos agora as fronteiras e a situação de contato.

1.1.4 Fronteiras e contatos

Como dissemos acima, a província de Misiones faz fronteira ao oeste com o

Paraguai, ao norte, leste e sul com o Brasil e ao sudoeste com a província de Corrientes

(Argentina). Em 1776, Misiones se estabeleceu como um dos quatro territórios

fronteiriços. Nesse momento, o povo guarani começou a sua dispersão generalizada:

muitos deles voltaram a se refugiar na selva, outros migraram a pé até lugares como

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Loreto, e San Miguel – Corrientes, até Entre Rios ou ainda até o Paraguai (DURAN,

2005).

A colonização oficial de Misiones se deu entre 1883 e 1927, centrando-se em

lugares antes povoados pelos jesuítas. Os primeiros povos chegaram do Brasil e eram

descendentes de europeus, mais tarde chegaram polacos e ucranianos que vinham de

Galitzia, uma região pertencente ao Império Austro-húngaro. Estes últimos vinham de

uma região atrasada, pobre e migraram a Misiones em busca de melhores condições de

vida e trabalho. Oberá foi colonizada durante a “colonização privada espontânea ou

secundária” realizada pela família e por amigos de pessoas já instaladas no lugar

(DURÁN, 2005).

Ainda segundo a mesma autora, até 1953, momento em que Misiones readquire

a sua autonomia, a evolução demográfica é constante, devido ao assentamento de

contingente migratório europeu, de países limítrofes e de outras províncias.

Na atualidade, segundo o Censo de 2010, o país que contribui com o maior

número de imigrantes para a Argentina como um todo é o país fronteiriço Paraguai:

550.713 pessoas foram registradas em 2010, número que representa 30,5% da

população nascida no estrangeiro. Em segundo lugar, encontra-se a Bolívia com

345.272 pessoas (19,1%), logo o Chile com 191.147 (10,6%) e, por último, o Peru

(8,7%.) Juntos esses países registram um total de 68,9% do total dos imigrantes. Na

província de Misiones e Formosa, com 4% de população estrangeira em ambos os

casos, pessoas nascidas no Paraguai são predominantes (CENSO, 2010).

Por sua vez, segundo o mesmo documento, a Itália e a Espanha são os dois

países europeus que apresentam o maior número de imigrantes na Argentina, mas esses

dois países têm mostrado uma participação decrescente nas últimas décadas. Essa

tendência deve-se a um fluxo menor de pessoas e a óbitos de espanhóis e italianos mais

envelhecidos.

Além disso, há registros da presença de afrodescendentes no território argentino.

Segundo o Censo Nacional de Población, Hogares y Viviendas (2010), a quantidade de

pessoas que se reconhecem como pertencentes a esse grupo é de 149.493, ou seja, 0,4%

da população.

Do total de afrodescendentes, 76.064 são homens e 73.429 são mulheres. O

gráfico a seguir demonstra a distribuição dos grupos por província na Argentina:

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Gráfico 3. População afrodescendente por província (INDEC, 2010).

Como é possível apreciar no Gráfico 3, o maior número de afrodescendentes no

país encontra-se em Buenos Aires (25,2%); por outro lado, na província de Misiones há

somente 2,5% de pessoas que se reconhecem como tal.

Em relação ao contato com o Brasil, a presença do português brasileiro é

evidenciada em vários contextos em Oberá. Um desses contextos se dá por meio da

mídia. A população de Oberá tem contato exaustivo com os meios de comunicação

provenientes do Brasil. A TV aberta chega ao lares de maneira livre e, em muitas casos,

é a única opção oferecida de maneira gratuita. As músicas, especialmente o ritmo

“Sertanejo”, é muito popular entre os mais jovens, que muitas vezes preferem esse ritmo

aos locais: Chamamé, Balnerón, Corrido. Inclusive, a “Cumbia Villera”, muito popular

entre os jovens na capital Buenos Aires, perde para o “Sertanejo” e o “Sertanejo

Universitário”, não só em Oberá, mas em grande parte da província de Misiones.

Da mesma forma, o contato entre as duas língua se dá por meio do comércio

entre os dois países. O tráfego de mercadoria, o abastecimento de combustível e o

turismo são intensos. O fluxo de pessoas é maior ou menor a depender da situação

econômica de cada país, ou seja, as pessoas cruzam as fronteiras quando percebem que

a condição econômica é mais favorável. Nos últimos anos, devido à condição

econômica da Argentina, os brasileiros são os que cruzam a fronteira na procura por

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melhores preços. E isso é ainda mais fácil quando consideramos que entre os dois países

existem áreas de fronteira seca. Quando a fronteira é marcada por um rio, o

deslocamento se dá por meio de pontes, barcos ou balsas.

No que se refere ao ensino, podemos dizer que há muitos alunos de regiões

fronteiriças do Brasil que estudam em escolas em Oberá. A quantidade ainda é maior no

ensino médio, já que é mais fácil a locomoção dos aluno um pouco mais velhos. É

comum encontrar estudantes nativos de português estudando em escolas cuja língua de

ensino é o espanhol. Em uma das entrevistas realizada por De Ramos (2014), uma

professora do ensino fundamental relatou a dificuldade que sente durante as aulas, já

que precisa, antes de mais nada, ensinar a língua que emprega para ensinar os conteúdos

antes dos conteúdos propriamente.

O estudioso norte-americano John Lipski, por sua vez, em uma entrevista ao

jornal Primera Edición (2012), comenta que em Misiones-Argentina o espanhol

convive, não só com o português, mas também com o guarani e com o alemão. Por

outro lado, Amable (1975), ao falar sobre as línguas que existiam antes da conquista,

afirma que o substrato guarani teve uma influência determinante na fala regional, seja

no vocabulário, na fonética e na sintaxe da língua espanhola.

Alguns estudos apontam que a língua predominante na província de Misiones é

o espanhol e que em algumas comunidades indígenas fala-se o guarani como língua de

comunicação familiar. Existem, no entanto, outros núcleos, cujas línguas de dentro de

casa são o polaco, o ucraniano, o alemão e o português. No município de Oberá

comemora-se a Fiesta Nacional de los Inmigrantes, que demonstra a existência e a

importância desses povos dentro do território nacional e pode ser uma evidência do

contato do espanhol com as línguas desses povos.

Entre todas essas línguas, o contato do espanhol com o português é relevante e

deve ser considerado nos estudos linguísticos, já que a província de Misiones faz

fronteira com o Brasil ao longo de toda a franja oriental, fazendo com que o contato

linguístico seja intenso. O português é empregado dentro de casa como língua nativa

e/ou como segunda língua entre pessoas que têm relações comerciais com o Brasil. Nas

escolas, segundo testemunhos de pessoas entrevistadas por De Ramos (2014), o

emprego da língua portuguesa é grande, mas só é ensinado como língua estrangeira no

ensino médio em algumas escolas da região. Isso evidencia a não existência de escolas

bilíngues português-espanhol em Oberá, mas Lipski (sem data) aponta que há sim

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escolas bilíngues dos dois lados da fronteira. Seria, nesse caso, necessária uma

investigação mais detalhada para verificar onde ficariam as mesmas.

Para Amable (1975), o bilinguismo sobrevive nesta região e afirma que serão

necessárias três gerações para que este desapareça desta variedade do espanhol. No

entanto, Lipski (sem data) aponta, em trabalhos mais recentes, que apesar de terem se

passado três gerações após o estudo de Amable (1975), ainda é possível presenciar o

emprego do português em comunidades agrícolas perto da fronteira com o Brasil, assim

como também em alguns núcleos urbanos.

Nota-se que uma questão relevante quando o tema é a língua que se fala na

fronteira da Argentina com o Brasil é a denominação da mesma. Comumente ouve-se

chamar essa língua como “Portunhol”, quer dizer, a mistura do português com o

espanhol. Amable (1975) denominou essa língua da fronteira como “Brasileiro”. No

entanto, Lipski (sem data) comenta que definir essa variedade como “portunhol” não

resulta adequado, porque sugere que não é nem uma nem outra e, segundo ele, essa

língua é português. Os falantes dessa região falam uma língua vernácula – língua nativa

ou dialeto – não escolarizada, um português com elementos do espanhol, mas sua base é

o português. O autor acrescenta que para poder fazer essa alternância precisa-se de um

bilinguismo e que devido à semelhança entre as duas línguas é possível que a

sobreposição ocorra em qualquer momento do discurso. As pessoas bilíngues mudam

fluentemente, mas muitas vezes aqueles que aprendem português como L2 mudam de

língua inconscientemente. Entretanto, o mais chamativo desta região, conforme Lipski

(sem data), é que não é possível identificar se a pessoa que fala português aprendeu a

mesma como L1 ou como L2.

Muitas vezes as pessoas bilíngues usam uma ou outra língua a depender do

contexto e do ato de fala. Segundo Lipski (sem data), para muitos argentinos da

fronteira com o Brasil, o português é a primeira língua que aprenderam e é a que

empregam para expressar as suas emoções: carinho, frustração, entre outras. É mais

fácil empregar essa língua do que aquela aprendida na escola, muitas vezes com tom de

censura ao português.

1.1.5 Dados sobre a educação

Em Misiones, o número de analfabetos é de 35.772 segundo o Censo Nacional

de Población, Hogares y Viviendas (2010). No mesmo ano, percebe-se que, em

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comparação ao ano de 2001, o número de alunos entre seis e onze anos de idade que

frequenta a escola aumentou em vinte e uma (21) das vinte e quatro (24) províncias da

Argentina. Os dados mais importantes são registrados em Misiones, Chaco e Santiago

del Estero (3,3%, 2,6% e 2,1%, respectivamente). O Censo de 2010 indica que,

historicamente, esse resultado é relevante, uma vez que essas províncias têm sido

deixadas de lado nesse aspecto.

Segundo Gualdoni (2006), as duas primeiras escolas de Oberá foram criadas em

1927 e logo em 1939 a terceira. Após o ano de 1931 abriram-se mais três escolas, dois

institutos privados (Instituto Mariano e o Instituto Carlos Lineo), uma escola de caráter

puramente provincial e o Colegio Concordia, todos de ensino fundamental. Além disso,

Gualdoni comenta que o ensino médio teve início com a fundação do Colegio Nacional

Amadeo Bonpland em 1948. Após esse ano, surge a Escola Professional de Mulheres, e

mais duas escolas normais de educação, também um colégio, um instituto e um centro

polivalente. No que tange à educação superior, Gualdoni menciona que em 1962

começa suas atividades a Facultad de Artes, assim como a Facultad de Ingeniería

Electromecánica, fundada em 1974.

Em 2010, segundo o Censo Nacional de Población, Hogares y Viviendas,

observa-se que Buenos Aires é a única província que apresenta uma cobertura superior

a 50% em relação ao número de pessoas com ensino superior: 54,4% da população entre

18 e 24 anos frequenta um estabelecimento educativo superior. Misiones encontra-se

entre as províncias que variam entre 30% e 40% de assistência aos mesmos.

Esses são os dados geográficos, étnicos, históricos, demográficos e educacionais

de Oberá-Misiones. Percebemos que é uma província com um contingente não tão

grande de pessoas, e que há comunidades de outras línguas convivendo com o espanhol.

Após termos visto alguns aspectos socioculturais de Oberá, passemos agora a

observar sucintamente alguns aspectos linguísticos do espanhol de Oberá, sobretudo em

relação à morfossintaxe.

1.2 Aspectos linguísticos na morfossintaxe do espanhol de Oberá

Lipski (sem data) comenta o seguinte em relação a Misiones:

La lengua predominante de la provincia es el español y en algunas comunidades indígenas se habla el guaraní como lengua del hogar. Todavía

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existen núcleos poblacionales que hablan polaco, ucraniano y alemán, sobre todo en el centro y sur de la provincia, pero estas lenguas no se transmiten a las generaciones más jóvenes y han de desaparecer del horizonte lingüístico dentro de una o dos generaciones (LIPSKI, sem data)

A partir da análise qualitativa dos dados recolhido por nós para a região de Oberá

(Misiones), observamos alguns aspectos morfossintáticos variáveis que chamaram a

nossa atenção. Entre esses, encontram-se os fenômenos abaixo.

1.2.1 Concordância verbal

Além de ocorrências em que se verifica a presença de marcas de concordância

verbal (1), também encontramos casos de ausência dessas marcas (2):

(1) a. I6: esas cositas fueron las que/ las que me emocionaron ((ruido)) a seguir la

carrera (Mulher, faixa 1, nível superior4)

b. I8: yo te digo las escuelas son magnificas escuela como cualquier otras escuelas viste tienen de todo enseñan mirá vienen sus maestras enseñan viste (Mulher, faixa 2, nível médio) c. I5: la gente es pobre porque no tiene trabajo (Mulher, faixa 3, nível fundamental) d. a lo mejor porque la sociedad tiene más ofertas de otras cosas (Mulher, faixa 3, nível superior)

(2) a. I1: “Y es la falta de educación el cambio de cultura también el cambio de cultura la falta de educación y bueno por ahí los padres pierden el manejo de la educación de sus hijos desde muy chico la tecnología los celulares este todos los medios de comunicación influye sobre eso y también ¿viste?” (Homem, faixa 3, nível superior)

b. I1: Bueno yo tengo auto propio pero los medios de transporte mejoró desde que está el asfalto (Homem, faixa 3, nível superior)

4 Os dados dos informantes aparecem entre parêntese na seguinte ordem: gênero (homem/mulher), faixa etária (1 - até 20 anos; 2 - de 20 a 50 anos; 3 - mais de 50 anos) e nível de escolaridade (fundamental, médio ou superior).

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c. I10: Y después y además aquellos días aquellos días había un un disturbio ahí abajo para/ de mi casa viste entonces vino dos policías (Mulher, faixa 1, nível médio)

d. I7: la gente se apasiva un poco viste pero la gente son muy violenta viste ni con el Papa no puede arreglar más viste ya (Homem, faixa 3, nível fundamental)

e. I1: en la época de los militares por ejemplo la policía tenían un poco más de autoridad (Homem, faixa 3, nível superior)

Diferentemente dos casos mostrados em (1), em que se verificam sintagmas

nominais sujeitos no singular (la gente, la sociedad) e no plural (esas cositas, sus

maestras) acompanhados de verbos no singular (es, tiene) e no plural (fueron,

emocionaron, vienen), respectivamente, isto é, há marcas de concordância verbal,

notamos, nos exemplos em (2), que não há marcas de concordância entre o verbo e o

sujeito. Em (2a-c), os sujeitos, expressos por sintagmas nominais no plural (todos los

medios de comunicación, los medios de transporte e dos policías), vêm acompanhados

de verbos na 3ª pessoa do singular (influye, mejoró e vino). Por outro lado, como se

pode ver em (2d,e), os sintagmas nominais la gente e la policía, no singular, são

acompanhados de verbos na 3ª pessoa do plural (son e tenían).

1.2.2 Concordância nominal

No que se refere à concordância nominal, também observamos casos em que as

marcas de concordância estão presentes (3) e ausentes (4):

(3) I14: a. este año sí veo que hay colectivos urbanos que pasan a cada rato (Mulher, faixa 2, nível superior)

b. I15: Las mujeres en su gran mayoría ponele hay mujeres de cierta edad que ya pueden ir a trabajar en la de doméstica pero las chicas jóvenes y todo eso no hacen nada y las más viejas tampoco porque tienen que cuida la casa y sus hijos (Homem, faixa 2, nível médio)

c. había un arroyito unas piedras y él se resbaló por la piedra (Homem, faixa 3, nível fundamental)

(4) a. I3: Me gusta ver los dibujos animado (Homem, faixa 2, nível superior)

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b. I1: y en la colonias donde yo trabajo hay más respeto pero ya en los pueblos grande es muy difícil (Homem, faixa 3, nível superior)

c. I8: Ponele yo tengo lindo recuerdos de de mi infancia ponele (Mulher, faixa 2, nível médio)

d. E: Muy difícil ¿Y Las Cataratas? I4: Uuu sí sin palabras muy lindo la verdad que tuve la oportunidad de conocer y está muy bueno. (Mulher, faixa 2, nível superior)

e. I7: hizo despelote en la casa del viejo movió unos cajón de hierro allá .. (Homem, faixa 3, nível fundamental)

Nos dados em (3a,b), observamos a presença de marcas de concordância de gênero e

número nos adjetivos (urbanos, jóvenes, viejas) que acompanham os nomes (colectivos,

chicas). Em (3c), vemos que no sintagma unas piedras o determinante unas carrega as

marcas de feminino plural do nome piedras.

Em (4a-c), encontramos casos de ausência de marcas de concordância de número.

Os núcleos nominais dibujos, pueblos e recuerdos estão no masculino plural, assim

como o artigo definido los nos dois primeiros exemplos, mas os adjetivos que os

acompanham estão no singular: animado, grande, lindo. Em (4d), a ausência de marcas

de concordância se refere não somente ao número, mas também ao gênero. O núcleo

nominal Cataratas apresenta os traços de feminino plural; os adjetivos que se referem a

esse nome (lindo, bueno), no entanto, apresentam as informações de masculino singular.

Por fim, em (4e), observamos que o único item que carrega as marcas de plural é o

determinante unos que antecede o núcleo nominal cajón.

1.2.3 Possessivos Em linhas gerais, possessivos simples podem ocorrer, em espanhol, em

posposição ao nome em sintagmas indefinidos (un amigo mío) (5), ao passo que,

quando em posição pré-nominal, ocorrem em sintagmas definidos sem a presença de

artigo (mi amigo) (6):

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(5) a. I4: La verdad que me parece perfecto que hayan hecho un monumento por estas personas pero si bien lo material no marca el sentimiento de las personas entonces cada el que vivió en carne propia el/nosotros conocidos vecinos gracias a Dios no era ningún familiar mío pero sí éramos conocidos nosotros (Mulher, faixa 2, nível superior)

b. I4: le voy a retar no le voy a llamar la atención porque hasta inclusive un colega nuestro nos contaba que le habían querido pegar viste? (Mulher, faixa 2, nível superior)

(6) I4: a. jamás en mi vida le grité a mi madre ni te digo a mi abuela (Mulher, faixa

2, nível médio)

b. I18: me gusta muchísimo vivir en Oberá es una zona geográfica muy bella en cuanto al colorido a los paisajes a la riqueza de nuestra zona e: la riqueza e: de la agricultura y ganadería que nos permite vivir cómodamente y muy feliz en nuestro lugar (Mulher, faixa 3, nível superior)

Chama a atenção que, em Oberá, é possível que possessivos pós-nominais

ocorram em sintagmas definidos (7):

(7) a. I1: por eso no cierto porque justamente está muy relacionado con la historia

nuestra no cierto (Homem, faixa3, nível superior)

b. I2: que vino a pedir los últimos datos de secundario la última firma mía para para ingresar en gendarmería (Mulher, faixa 2, nível superior)

Em (7), vemos que os possessivos tônicos nuestra e mía ocorrem em posposição

aos nomes historia e firma, respectivamente, em sintagmas nominais definidos

encabeçados pelo artigo definido feminino la.

Além dessa questão relacionada à estruturação dos sintagmas nominais contendo

o possessivo, também chama a atenção, no espanhol de Oberá, a alternância que existe

entre possessivos simples (8) e possessivos perifrásticos (9) de 3ª pessoa:

(8) I8: Algo que me gusta ponele cuando vienen y están todos tranquilos que toman su cerveza su vino que están tranquilos juegan al pool sin ni un problema (Mulher, faixa 2, nível médio)

(9) a. I1: No que hizo muchas cosas buenas pero el capricho de ella el orgullo de ella le llevó a que la imagen de ella se deteriorara eso le diría (homem, faixa3, nível superior)

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b. I14: Sí a una señora la señora de Barrio Evita que murió no me acuerdo bien el el nombre la de L? la mamá de M L a M L ¿Le conocés? E: No me acuerdo I14: La mamá de ella ((rudio)) un par de veces la señora mayor fue la única (Mulher, faixa2, nível médio)

c. I16: Una/ no para mí que es una es un es una guaiquica es y cómo era cómo

era el pelito de él era así (Mulher, faixa3, nível fundamental) d. I7: U: qué bicho es ese? Es un bicho malo un bicho violento y de paso para el

monte ponele es un arma porque adonde está él nadie va a entrar porque bueno ahí está un yaguareté [un tigre]i nadie va a ir ahí a cazar a comer lo que es de él porque ese la gente le respeta (Homem, faixa3, nível fundamental)

Em (8), vemos que os nomes cerveza e vino são acompanhados pela forma

simples átona su. Já em (9), observamos o uso de formas perifrásticas de 3ª pessoa, isto

é, sintagmas preposicionais formados pela preposição de mais um pronome tônico: de

él, de ella. Por serem sintagmas preposicionais, o possessivo perifrástico não pode

ocupar a posição pré-nominal, sendo encontrado somente nos demais contextos, como a

posição pós-nominal em (9a-c) (el capricho de ella, el orgullo de ella, la imagen de

ella, La mamá de ella, el pelito de él) e contextos de predicativo, como em (9d) (lo que

es de él).

Ainda sobre os possessivos, mas dessa vez não relacionados à semântica de posse,

vemos que, da mesma forma que em outras variedades do espanhol, em Oberá é

possível a alternância entre possessivos tônicos e sintagmas preposicionados formados

pela preposição de seguida de um pronome oblíquo tônico:

(10) a. I10: y los profesores se reían mío de vez en cuando y decían “pero no tenés que estar así nosotros somos/ ahora te vamos a cuidar a vos (Mulher, faixa 1, nível médio)

b. I7: yo te protegí esa última vez ahora arreglate de acá olvidate de mí nunca vos cuentes conmigo (Homem, faixa 3, nível fundamental)

(11) a. I7: y cuando él sigue caminando yo me voy junto y él camina delante mío y se va (Homem, faixa 3, nível fundamental)

b. E: Con sus hermanos es la más grande la más chica?

I16: No yo soy la … después de mí para abajo tiene tres (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

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Em (10), em contextos de complementos oblíquos de verbos como reírse e

olvidarse, encontramos o possessivo mío e o sintagma preposicional de mí,

respectivamente. Já em (11) essa mesma alternância pode ser visualizada, mas dessa vez

em contextos com locuções prepositivas com sentido adverbial como delante de e

después de: delante mío e después de mí.

1.2.4 Correlação de tempos verbais

Em orações encaixadas no espanhol, haveria uma correlação entre o tempo do

verbo da oração principal e o tempo do verbo no subjuntivo da oração encaixada. Com

verbos no presente na matriz, o verbo da oração encaixada costuma estar no presente do

subjuntivo (Me pide que me vaya); com verbos no passado, o verbo da oração encaixada

costuma estar no imperfeito do subjuntivo (Me pidió que me fuera). Exemplos dessa

correlação de tempos verbais (presente - presente; passado - passado) podem ser vistos

em (12):

(12) a. I1: No que hizo muchas cosas buenas pero el capricho de ella el orgullo de ella le llevó a que la imagen de ella se deteriorara (Homem, faixa 3, nível superior)

b. I16: si yo ten/ tuviera a alguien que hiciera las cosas para mí acá (Mulher,

faixa 3, nível fundamental) c. I19: bueno finalmente los chicos que inscribían allá me convencieron de que hiciera profesorado en ciencias políticas (Mulher, faixa 3, nível superior) d. I19: bueno yo vengo de una familia donde mis padres si bien mi papá era prácticamente analfabeto este no sabia leer ni escribir sí la parte de cuentas mi mamá también tenia hasta cuarto grado una familia que siempre quiso que sus hijos estudiaran (Mulher, faixa 3, nível superior) e. I19: yo nací acá en Picada Internacional una zona acá de Villa Bonita y mis padres a raíz que querían que sus hijos estudiaran fueron a vivir a Oberá (Mulher, faixa 3, nível superior)

Além desses casos, também encontramos, no espanhol de Oberá, evidências de

ausência de correlação de tempos verbais:

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(13) a. I1: en la época de los militares por ejemplo la policía tenían un poco más de autoridad y eso facilitaba de que no exista tanta delincuencia ni falta de respeto hacia la policía (Homem, faixa 3, nível superior)

b. I2: y bueno aprendíamos matemáticas y papá quería que nosotros aprenda

hacer todo mental o sea cálculos mentales porque no tenía calculadora tampoco pero no sumando así el total sino todo mentalmente entonces nunca me gustó (Mulher, faixa 3, nível superior)

c. I10: Yo me acuerdo de que yo iba a la escuela e: mis hermanas me llevaban no cierto y yo no quería que ellas se vayan.

d. I6: recuerdo bien que un profesor que tenía que firmar para que nos autoricen para llevar a cabo la recepción dijo ese/ ese día que era el último día que tenía que firmar dijo que no iba a firmar (Mulher, faixa 1, nível superior)

e. I5: y me me me exigía que aprenda de memoria para no equivocarme viste

entonces/(Mulher, faixa 3, nível fundamental)

Como se vê, em (13), o verbo da oração principal está no passado (facilitaba,

quería, quería, tenía, exigía) e o verbo da oração encaixada no presente do subjuntivo

(exista, aprenda, vayan, autoricen, aprenda). Além disso, também identificamos um

caso de uma situação inversa: o verbo da oração principal está no presente (está) e o da

oração encaixada no imperfeito do subjuntivo (viniera):

(14) I15: la gente está acostumbrada a que cada hora viniera un auto (Homem, faixa 2,

nível médio)

1.2.5 Relativas As orações relativas também chamam a atenção na variedade do espanhol de

Oberá. Relativas de funções sintáticas que são expressas por sintagmas preposicionados

são geralmente encabeçadas pela preposição exigida pelo verbo que está na oração

encaixada. Em outras palavras, trata-se de relativas padrão:

(15) a. I6: Sí sobre el Papa no es que tengo mucha información es muy poca la información que tengo por ahí son cuestiones a la que uno a la que no no me acerco (Mulher, faixa 1, nível superior)

b. I11: desde chica mi papá me hacía practicar deportes eso es algo que hasta el día de hoy me gusta bueno ahora estoy con una lesión de la que no me puedo recuperar todavía (Mulher, faixa 2, nível superior)

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c. I18: hubieron muchos accidentes en los que la gente cae del camión (Mulher, faixa 3, nível superior)

Em (15a,b), nas relativas de oblíquos, observamos que as preposições a e de,

exigidas pelos verbos acercarse e recuperar, respectivamente, encabeçam a oração: a la

que no no me acerco; de la que no me puedo recuperar. Em (15c), vemos que a

preposição en encabeça a relativa de adjunto: en los que la gente cae del camión.

Além das orações relativas padrão, também encontramos, no espanhol de Oberá,

relativas nas quais a preposição é omitida. Trata-se de relativas cortadoras:

(16) a. I1: No por eso te digo justamente ahora por ejemplo hay guías que te llevan y los guías dicen si los chicos tienen alguna pregunta son muy pocos los que le surgen alguna pregunta (Homem, faixa 3, nível superior)

b. I7: Todos todos parejo son así porque por los años que yo yo tarefié por los años que yo fui capataz no hay una persona que vos podés confiar de eso capaz de cien vas a encontrar uno que es más o menos (Homem, faixa 3, nível fundamental)

Em (16), observamos que as preposições a e en, exigidas pelos verbos surgir e

confiar, respectivamente, estão omitidas nas orações relativas: (a) los que le surgen

alguna pregunta; (en la) que vos podés confiar.

Além disso, também é interessante verificar que o pronome relativo donde,

originalmente utilizado para recuperar referentes de lugar (17) em relativas de adjunto,

também pode ser utilizado, no espanhol de Oberá, em outros casos (18-19):

(17) I6: sí sí este año tuvimos nuestra primera visita a una escuela e: donde solamente teníamos que observar una gramática de esa escuela no no podíamos entrar al aula (Mulher, faixa 1, nível superior)

(18) I6: que podemos llegar a tener porque yo viví y conozco muchos casos donde

venían acá y directamente ni venían acá se iban a Oberá se iban a (Mulher, faixa 1, nível superior)

(19) I4: Para mí los puntos positivos son ponele la humildad de las personas son todo

gente humilde gente donde te pueden dar una mano (Mulher, faixa 2, nível superior)

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Em (18), o relativo donde é utilizado com o antecedente casos, que não indica

lugar, substituindo en los que: conozco casos en los que > conozco casos donde. Já em

(19), observamos um uso de donde em uma relativa de sujeito, com antecedente que

também não se refere a lugar, substituindo o pronome relativo que: gente que te

puede(n) dar una mano > gente donde te pueden dar una mano.

1.2.6 Verbos com sentido existencial No espanhol de Oberá, para a expressão do significado existencial, o verbo haber

pode se mostrar invariável (20). No entanto, também encontramos casos de flexão de

número, estando o verbo haber conjugado no plural (21):

(20) a. I1: Hay un cambio terrible en la religión viste porque justamente él al ser un padre jesuita y que esté muy relacionado con nuestra historia porque él está relacionado con la historia no solamente de los jesuitas de nuestro país sino de los que vivieron acá en América el Sur y eso influyó mucho o sea hubo un cambio terrible en la Iglesia inclusive la corrupción que había en la Iglesia Católica fue o sea fue descubierto gracias a nuestro Papa (Homem, faixa 3, nível superior)

b. I18: de hecho siempre pienso que hay otros puentes como el General Belgrano en Corrientes que está en la misma situación como el Roque Gonzales en Posadas (Mulher, faixa 3, nível superior)

(21) a. I18: hubieron muchos accidentes en los que la gente cae del camión (Mulher,

faixa 3, nível superior)

b. I3: Sí era sordo mudo sí le conocí y habían rumores de que había desaparecido y que la familia nunca se preocupó en buscar ni nada (Homem, faixa 1, nível médio)

Ainda sobre a expressão da existência, também podemos observar que essa

semântica pode ser expressa pelo verbo tener e não pelo verbo haber:

(22) a. se aumentó el precio tiene un transporte propio para ellos ahora no andan

(Homem, faixa 1, nível médio)

b. I9: Sí sería allá sería mejor porque tiene muchas cosas más digamos (Homem, faixa 2, nível fundamental)

f. E: Y ¿Qué dice la gente cuando reclama?

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I16: ponele porque tiene mucho ruido no pueden dormir (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

Como se vê, o uso do verbo tener com o sentido de existir é outro fenômeno que

chama a atenção em Oberá. No espanhol, os usos mais frequentes do verbo tener são no

sentido de posse ou de obrigação. Entretanto, vemos a partir dos exemplos em (22) que

o verbo tener é empregado com o sentido de existir, função que desempenha nessa

língua o verbo haber. Não sabemos quais fatores determinam esse uso, mas um estudo

sobre o tema poderia trazer resultados interessantes.

1.2.7 Dequeísmo

No espanhol, as orações subordinadas completivas em função de sujeito e de

objeto direto são encabeçadas pela conjunção integrante que:

(23) I18: se ha politizado mucho la educación e: pienso que hay muchos aspectos en

el/ que se tienen que mejorar y se puede mejorar muchísimo la educación (Mulher, faixa 3, nível superior)

Em alguns casos, no entanto, podemos encontrar uma preposição iniciando essas

orações completivas, sem que as mesmas tenham sido exigidas pelo verbo da oração

principal. Esse fenômeno é tradicionalmente conhecido como dequeísmo

(ECHAZARRETA ARZAC; GARCÍA ACEÑA, 2015):

(24) I5: y yo pienso de que: la gente tiene que trabajar todo e: en blanco por

ejemplo (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

No espanhol de Oberá, encontramos diversas ocorrências de dequeísmo, isto é, a

utilização de uma preposição (sobretudo de), diante de conjunções integrantes:

(25) a. para aparentar ante la sociedad yo creo que/ no sé si está bien también de

que le pongan ese que le cubran la cara (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

b. gracias a Dios nunca me robaron e: tampoco en el lugar donde vivo no no tuve problemas sí una vez me pasó de que cuando era estudiante un chico bajo los efectos de narcóticos (Mulher, faixa 2, nível superior)

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c. La verdad que no sé no sé por qué pasó yo tuve la oportunidad de ir a ver antes de que caiga el puente y se notaba totalmente de que ya no que en cualquier momento se iba a ir abajo (Mulher, faixa 1, nível superior)

d. en la época de los militares por ejemplo la policía tenían un poco más de

autoridad y eso facilitaba de que no exista tanta delincuencia ni falta de respeto hacia la policía (Homem, faixa 3, nível superior)

Este é um fenômeno que chama a atenção em Oberá. Sobre essa questão, na

elaboração do nosso corpus ouvimos algumas pessoas, especificamente uma professora

dizer o seguinte: “¿viste? Porque ahora es todo de que, de que. No entiendo porqué los

chicos están usando ese de que”. Acreditamos que um estudo sobre o tema seria muito

interessante.

1.2.8 Apagamento da consoante /r/ na desinência de infinitivos

Na interface fonologia-morfologia, verificamos que a desinência de infinitivo

nos verbos expressa pelo /r/ final pode estar presente (cuidar, llegar, estar) (26), assim

como pode também estar ausente (cuidá, llegá, está) (27):

(26) a. I4: a mi por ahí no me nace el i/ para decir bueno voy a cuidar esta planta o voy a plantar un árbol ¿Viste? (Mulher, faixa 2, nível superior)

b. I6: Acá en Villa Bonita por ahí hay una sala que por ahí no está capacitada para para todos los problemas que podemos que podemos llegar a tener (Mulher, faixa 1, nível superior)

c. I10: Bueno mi barrio es muy lindo a parte de las molestias que tenemos de vez en cuando con las músicas altas es un barrio bien cómodo es un lugar lindo de estar para poder pasar el tiempo (Mulher, faixa 1, nível médio)

(27) a. I17: Las mujeres en su gran mayoría ponele hay mujeres de cierta edad que ya pueden ir a trabajar en la de doméstica pero las chicas jóvenes y todo eso no hacen nada y las más viejas tampoco porque tienen que cuidá la casa y sus hijos (Homem, faixa 2, nível médio)

b. I17: Sí es muy diferente ((ruido)) probabilidad de que vos por ejemplo lo que

me pasó a mi si vos y decís te apuñalaron allá tenés más posibilidades de que te atienda más rápido acá ya no porque se encuentra muy lejos por ejemplo de acá

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a Oberá te queda como treinta kilómetro para llegá hasta que vos llegues (Homem, faixa 2, nível médio)

c. I14: como tengo ese pedazo allá abajo me voy allá abajo está con las gallinas

plantar alguna cosa (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

O apagamento do /r/ no final dos verbos em infinitivo em Oberá também foi

observado por Lipski (sem data). Para o autor, esse fenômeno se dá na fronteira com o

Brasil e pode ser explicado pela presença da língua portuguesa na região. Em nosso

caso, entretanto, não podemos realizar tal afirmação, pois carecemos de um estudo mais

aprofundado sobre o tema.

1.2.9 Apagamento ou aspiração do /s/ em final de palavra5

Também na interface fonologia-morfologia, o /s/, morfêmico ou não, também

pode estar presente no fim de palavras (28) ou estar apagado (29):

(28) a. I7: El transporte es lindo viste porque cada media hora vos tenés colectivo vos

andás o podés andar tranquilo (Homem, faixa 3, nível fundamental) b. I5: para que vos leas si te toca a vos mi hija entonces vos sabés qué vas a decir

para porque no vayas a pensar que vos vas a ir a hablar para tus compañeros (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

c. I8: ponele no son como en las grandes ciudades que no se saluda ponele acá

vos le ves todos nos conocemos la cara a todos (Mulher, faixa 2, nível médio) d. I10: ahí me distraía no lloraba más después ya al segundo tercer día no querés

salir más de jardín querés estar todo el día allá (Mulher, faixa 1, nível médio) e. I7: Muy linda es muy linda porque vienen muchos grupos viste es una noche

que vos podés ir mirar otra gente pasás con otra gente encontrás muchos amigos entonces muy lindo (Homem, faixa3, nível fundamental)

(29) a. “yo te voy a ayudar” dijo “donde sea en violencia en pelea en trabajo en

cuidado de de calle donde vos anda” dijo ((ruido)) “protegido yo te voy a proteger pero vos tenés/ no me vaya a fallar” dijo (Homem, faixa 3, nível fundamental)

5 Em nosso estudo não realizamos nenhum tratamento de fonética acustiva para verificar se houve apagamento ou aspircação do /s/ em final de palavras, por essa razão pode ser que outras pessoas encontrem resultados diferentes aos nossos.

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b. E: Y la gente más grande los ancianos ¿Tienen algún algún plan especial alguna atención especial o es igual para todos? I17: No tengo idea pero creería yo que es igual para todo (Homem, faixa 2, nível médio)

c. porque vos le maltratá al hijo el hijo va y te denuncia (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

d. bueno ya que vo no queré estudiar andá a trabajar y no te va más al colegio y te va a trabajar (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

e. pero lo principal que vos pasá es sueño empezá tu trabajo a la noche el trabajo (Homem, faixa 1, nível médio)

f. la cosecha vo embolsá cargá al secadero y en el secadero se deja todo eso y se fabrica el té que todos conocen (Homem, faixa 1, nível médio)

O apagamento ou a aspiração do /s/ ao final das palavras já foi observado por

Amable (1975) e por Lipski (sem data) como sendo traços do espanhol de Oberá. Como

vemos nos exemplos acima, o /s/ está presente nos dados em (28) (vos, andás, vayas,

vas, todos, querés, pasás), mas ausente em (29) (anda, vaya, todo, maltratá, vo, queré,

andá, va, pasá, empezá). Seria igualmente necessário um estudo mais aprofundado

sobre o tema para que se pudesse entender melhor o fenômeno e seus

condicionamentos.

1.2.10 Paradigma pronominal e verbal do voseo

Miranda et al. (2009), referindo-se aos estudos de Fontanella de Weinberg

(1999), comenta que o voseo, ou seja, a utilização do pronome vos para a 2ª pessoa do

singular no campo da informalidade, na Argentina, apresenta as seguintes

características:

“La Argentina es un país voseante, con voseo general en el pronombre sujeto y muchas vacilaciones en las desinencias verbales. Registra además las formas “te”, “ti” y “contigo” en niveles formales cultos. Es decir que se mezclan las formas de voseo (en sujeto y término de preposición) con otras de tuteo (objetos y reflexivos). En lo que se refiere a las desinencias verbales, el panorama argentino es bastante complejo: el imperativo prefiere la forma aguda (cantá, tené, partí), pero hay mucha variación en el indicativo y en el subjuntivo, modos en los que se usa tanto la forma aguda como la grave (cantes/cantés, tengas/tengás, salgas/salgás)” (MIRANDA et al., 2009: 4).

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Notamos que, em Oberá, o paradigma pronominal e verbal do voseo se

concretiza de modo análogo ao descrito por Miranda et al. (2009):

(30) a. I10: Oberá es una ciudad muy poblada y tienen muchas cosas que vos podés

encontrar allá que acá vos no encontrás (Mulher, faixa 1, nível médio) b. I19: Vos sabés que yo siempre estuve muy ligada a los chicos (Mulher, faixa 3,

nível superior) c. sí cuando era chica y era este e: digamos con la personalidad no tan fuerte e:

me sentía sí porque el porteño hace que uno se sienta así a medida que vas creciendo te vas identificando con vos misma y vas adquiriendo el amor por tus cosas (Mulher, faixa 3, nível superior)

d. vos comparás por ejemplo yo tengo amigos viste que los hijos estudian en Oberá y vos comparás lo que dan fijate vos mi nena estando en quinto grado no sabía dónde quedaba Argentina (Mulher, faixa 2, nível médio)

e. I17: Sí es muy diferente ((ruido)) probabilidad de que vos por ejemplo lo que me pasó a mi si vos y decís te apuñalaron allá tenés más posibilidades de que te atienda más rápido acá ya no porque se encuentra muy lejos por ejemplo de acá a Oberá te queda como treinta kilómetro para llegá hasta que vos llegues (Homem, faixa 2, nível médio)

No que se refere ao voseo pronominal, em (30), vemos que vos ocupa a posição de

sujeito (vos podés) e complemento de preposição (con vos), sendo as demais posições

realizadas por formas tuteantes, como os complementos não preposicionados e

reflexivos (te vas identificando), além dos possessivos (tus cosas).

Em relação ao voseo verbal, encontramos casos de formas agudas (oxítonas) no

presente do indicativo (podés, encontrás, sabés, cruzás) e não detectamos formas graves

(proparoxítonas). Esse restado se alinha às minhas expectativas como falante da região.

No imperativo, as formas encontradas são agudas (oxítonas), como é possível observar

em (30d). Podemos dizer que, mesmo não tendo encontrado muitos dados, as formas

para o subjuntivo em Oberá são as graves, como podemos ver em (30e). Como falante

da região, acredito que os indivíduos raramente empregam as formas agudas, sendo

mais natural ouvir verbos como (antes de que me digas, después de que salgas, después

de que estudies, etc.)

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Finalmente, cabe ressaltar que, em Oberá, o voseo é generalizado, isto é, foi a

única estratégia para a referência à segunda pessoa encontrada no campo da

informalidade / intimidade.

1.2.11 Objeto indireto No que se refere ao objeto indireto, complemento do verbo que costuma ser

expresso por um clítico dativo ou por um sintagma preposicional, vejamos as suas

formas de realização encontradas no espanhol de Oberá:

(31) a. E: Cuénteme ¿Cómo cómo cómo hace usted para para cuidar [a sus

animales]i? Qué hace? I16: Bueno y lei damo maíz le cuidamo así porque estamos juntos ahí lei damo maíz y ellos se crían lindo (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

b. principalmente porque en las escuelas públicas viste no lei controlan las faltas [a los chicos]i (Mulher, faixa 2, nível médio)

c. hizo fue él ir y comprar con su plata porque [nosotros]i no nosi sobró (Mulher, faixa 1, nível superior)

d. a todo el mundo y sacan plata a nosotros los que trabajamos entonces está bien a mi me gustó el cambio voy a ver supuestamente se va (Homem, faixa 2, nível médio) e. Vos sos mi amigo yo no quiero que vos cuente para nadie pero él te va a perjudicar te va: (Homem, faixa 3, nível fundamental) f. tuvimos una discusión él nos exigió que vayamos a pedirle perdón [al personal directivo]i porque nosotros no quisimos darØi gran parte de esa plata (Mulher, faixa 1, nível superior) g. Mirá si vamos a hablar de Villa Bonita tenemos varios casos de por eso te decía no hay respeto se perdió el respeto porque antes era/ el policía era un policía y el ciudadano sabía hasta donde tenía sus límites y como que de un tiempo para acá e: en la época de los militares se veía un poco más que la policía tenía poder y como ahora la policía perdió ese poder porque la sociedad misma a través de la política le obliga le amenaza porque si le tocan e: con un político le pueden hacer perder el puesto entonces [la policía]i como que por ahí encuentra el oportunismo de hacer e: abuso de autoridad y acá en Villa Bonita hubo casos hasta de perdida de vidas por violencia policial por proceder mal entonces y bueno quedo todo ahí algunos no sé si van a ir a juicio o estuvieron presos salieron pero la familia de los damnificados están haciendo trámite para poder ver si loi hacen un juicio (Homem, faixa 3, nível médio)

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Como se pode ver no conjunto de dados oferecidos acima, diversas são as

estratégias encontradas para a realização do objeto indireto. Em (31a), observamos a

presença do clítico dativo le, utilizado para a referência a antecedentes no singular e,

como se vê no dado, também no plural. Esse clítico pode também vir acompanhado de

um sintagma preposicional, como a los chicos (31b). Sobre esse último caso, chama a

atenção a ocorrência (31c), em que o sintagma que acompanha o clítico carece da

preposição a: (a) nosotros no nos sobró.

Outra forma de realização do objeto indireto, em Oberá, seria através de

sintagmas preposicionados não acompanhados pelo clítico dativo. Em (31d) vemos que

esse sintagma é introduzido pela preposição a, a mais produtiva nesse contexto (a

nosotros); ainda assim, também encontramos ocorrências de sintagmas introduzidos

pela preposição para, como se vê em (31e): para nadie.

Em (31f), visualizamos a não realização fonética do objeto indireto, isto é, um

objeto nulo. Em no quisimos dar Ø gran parte de esa plata, o zero se refere ao

antecedente al personal directivo.

Por fim, encontramos, ainda que de forma esporádica, o clítico lo, originalmente

acusativo, para a expressão do objeto indireto. Esse fenômeno, tradicionalmente

conhecido por loísmo (utilização de lo em função dativa), pode ser visto em (31g), em

que o clítico lo é utilizado como objeto indireto, referindo-se ao antecedente la policía:

la familia de los damnificados están haciendo trámite para poder ver si lo hacen un

juicio.

1.2.12 Objeto direto

Assim como ocorre com o objeto indireto, o objeto direto, isto é, o complemento

direto do verbo, também apresenta particularidades e distintas formas de realização no

espanhol de Oberá. Vejamos o primeiro conjunto de dados:

(32) a. I1: siempre llevamos los chicos de la escuela llevamos a ese lugar histórico (Homem, faixa 3, nível superior) b. éramos dos grupos nada más en la plaza y llegaron los policías y nos corrieron a nosotros y el otro grupo le dejó ahí (Homem, faixa 3, nível fundamental)

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c. sé porque para dónde habrá ido porque nadie no vio él más (Homem, faixa 3, nível fundamental)

d. Y él mató dos dos personas mató y (Homem, faixa 3, nível fundamental)

e. Siempre ponele hay alguien de mi confianza que yo le digo que me ayude a sacar la gente que no que no quiere salir a veces tengo que llamar a la policía para que le saquen (Mulher, faixa 3, nível médio)

De uma forma geral, em espanhol, diferentemente do objeto direto que abriga

constituintes com o traço [inanimado], expresso por um sintagma nominal (He

encontrado el libro), os objetos diretos com o traço [+humano] costumam vir

antecedidos pela preposição a (He visto a Juan en la calle). No espanhol de Oberá, além

desses casos mais prototípicos, também encontramos, como se vê em (32), ocorrências

de objetos diretos com o traço [+humano] em que a preposição está ausente: los chicos,

el otro grupo, él, dos personas, la gente.

No que se refere às distintas formas de realização do objeto direto, encontramos as

seguintes possibilidades:

(33) a. Yo / podemos estar agradecidos a Dios porque nuestro país tiene esa

oportunidad de que podemos crecer dentro de [la escuela]i y también podemos dejarlai de lado (Mulher, faixa 3, nível superior)

b. […] como te contaba que antes se lo reprendía mucho más a[l chico]i por haber hecho algo mal y ahora se loi deja mucho más libre (Mulher, faixa 1, nível superior

c. U: qué bicho es ese? Es un bicho malo un bicho violento y de paso para el

monte ponele es un arma porque adonde está él nadie va a entrar porque bueno ahí está un yaguareté [un tigre]i nadie va a ir ahí a cazar a comer lo que es de él porque ese la gente lei respeta (Homem, faixa 3, ensino fundamental)

d. E: hum: mirá M., conoce a [este chico]i? I5: Sí Øi conozco sí (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

e. E: Y después de ese accidente hicieron un homenaje qué me contás sobre ese?

Hay [un monumento]i en la plaza pero ((ruido)) I4: Mirá yo ví el monumentoi no participé del acto escuché e: (Mulher, faixa 2,

nível superior

f. Sí hay [un puentecito bajito]i pero ponele no es tan bajito pero cuando cuando crece el agua tapa todo estoi (Mulher, faixa 2, nivel medio)

Como podemos observar em (33), o objeto direto anafórico de 3a pessoa pode ser

realizado de diferentes formas em Oberá: pelos clíticos acusativos lo e la (33a,b); pelo

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clítico le, originalmente dativo, como em (33c); pelo objeto nulo (zero fonético) (33d);

pelo sintagma nominal (33e); e, finalmente, por um demonstrativo (33f).

Como tivemos a oportunidade de visualizar na seção 1.2, muitos são os

fenômenos variáveis, no campo da morfossintaxe, encontrados na variedade do

espanhol de Oberá. Uma vez que esta, assim como tantas ouras variedades do espanhol,

não foi suficientemente contemplada pela literatura linguística, seria interessante, de

modo a contribuir aos estudos de sociolinguística do espanhol, que cada fenômeno

variável aqui apresentado em linhas gerais fosse estudado mais a fundo, investigando os

fatores linguísticos e extralinguísticos que estariam por trás do fenômeno de variação.

Devido aos limites deste trabalho, a nossa contribuição se dará com a investigação

de um desses fenômenos, a saber: a variação no quadro das estratégias de realização do

objeto direto anafórico de 3ª pessoa. É sobre esse último fenômeno apresentado que

dedicamos este trabalho. Para entender melhor os fatores linguísticos e extralinguísticos

que condicionam o uso de cada uma das estratégias, realizamos um estudo com base na

sociolinguística quantitativa de base laboviana (WEINREICH; LABOV; HERZOG,

1968; LABOV, 1972; LABOV, 1994; GUY, 2001) aplicado a amostras de fala, como

poderá ser visto nos próximos capítulos. Os demais fenômenos, igualmente complexos

e interessantes, continuam a espera de novos pesquisadores que queiram investigá-los.

1.3 Síntese do capítulo

Neste capítulo apresentamos os aspectos geográficos, socioculturais e linguísticos

de Oberá - Misiones (Argentina). Para isso, lançamos mão dos dados apresentados no

último CENSO (2010) realizado na Argentina, aos quais se somam os comentários de

Durán (2005) e de Gualdoni (2006). Destacamos o fato de que o município de Oberá faz

fronteira ao sul com o Brasil e que nele habitam povos indígenas ou descendentes de

indígenas. Na segunda e última seção deste capítulo apresentamos, de forma

panorâmica, alguns fenômenos linguísticos variáveis na morfossintaxe do espanhol da

região, referentes a aspectos como a concordância verbal e nominal, os possessivos, a

correlação de tempos verbais, as relativas, os verbos existenciais, o dequeísmo, o

apagamento de /r/ como desinência de infinitivo verbal, o apagamento de /s/ no final de

palavras, o paradigma pronominal e verbal do voseo, e as distintas possibilidades no

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quadro de realização do objeto indireto e do objeto direto. É este último fenômeno, a

variação nas estratégias de realização do objeto direto anafórico de 3a pessoa, que será

objeto de estudo do presente trabalho.

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Realizações do objeto direto anafórico de 3a pessoa: revisão da

literatura

Neste capítulo, apresentamos uma revisão das pesquisas já feitas sobre as

realizações do objeto direto anafórico de terceira pessoa na língua espanhola, que é o

fenômeno variável objeto de estudo do presente trabalho.

Para tanto, este capítulo está organizado da seguinte forma: na seção 2.1

definimos o nosso objeto de estudo, mostrando o que entendemos por OD anafórico. Na

seção 2.2 trataremos da estratégia le como objeto direto acompanhada de um breve

percurso histórico. Na seção 2.3 apresentamos uma breve descrição do que entendemos

como zero fonético. A seguir, na seção 2.4, intitulada “As estratégias de realização do

objeto direto anafórico em variedades do espanhol”, apresentamos conceitos que nos

serviram de base, entre eles o sistema distribuidor de caso e o sistema referencial. Nas

seções seguintes buscamos expor, de maneira sucinta, alguns dos mais recentes estudos

sobre o sistema pronominal átono de 3a pessoa em algumas das variedades do espanhol.

2.1 Definindo o objeto de estudo

De acordo com Bosque (2010), o verbo explicar em el maestro explicaba la

lección a sus alumnos é o predicador da oração e denota, por seu significado, uma ação

que requer a concorrência de três participantes: um agente, que concretiza a ação (el

maestro), uma informação que se expõe (la lección) e um destinatário ao qual essa ação

se dirige (los alumnos). Esses participantes que intervêm na noção predicativa

costumam ser denominados argumentos, por serem constituintes essenciais que fazem

parte da estrutura projetada pelo verbo.

A Nueva Gramática de la Lengua Española. Manual (BOSQUE, 2010: 655-656)

entende por objeto direto (OD), ou complemento direto, a função sintática que

corresponde a um argumento dependente do verbo. Em outras palavras, o papel que

desempenha o OD dentro da oração é de argumento do verbo que depende deste, como

la lección no exemplo supracitado. Além de fazer parte da estrutura argumental do

2

2

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verbo, sendo um argumento interno, o OD também completa a grade temática do

mesmo, desempenhando o papel temático de tema.

O OD pode ocupar uma posição contígua ao verbo (compraba el diario todas las

mañanas) ou estar separado dele (compraba todas las mañanas el diario) por um

adjunto adverbial (todas las mañanas). No espanhol, esse objeto pode vir precedido pela

preposição a. Essa preposição aparece quando o complemento direto designa uma ou

várias pessoas (he visto a tu hermano), mas não costuma aparecer quando designa uma

coisa (he visto tu paraguas), isto é, a presença da preposição estaria ligada diretamente à

existência do traço [+humano] desse constituinte (BOSQUE, 2010: 658).

Os pronomes lo, la, los, las, assim como le, les, são considerados pronomes

átonos, por carecer de acento, e apoiam-se no verbo contíguo, razão pela qual são

denominados também pronomes clíticos. Os pronomes átonos que realizam o objeto

direto podem aparecer sozinhos numa sentença (Lo encontraron en la calle) ou junto a

outros elementos (A él/A Juan lo encontraron en la calle). Esse fenômeno é

denominado duplicação de clíticos.

Sobre esse assunto, em relação ao redobro do objeto, a Nueva Gramática de la

Lengua Española. Manual (BOSQUE, 2010: 319) afirma que a língua espanhola

permite a duplicação do complemento por meio do pronome átono, como em Le

preguntaré al professor. Entretanto, Gómez Seibane (2012) aponta que não existe um

acordo sobre qual é o elemento que redobra e qual o elemento redobrado. Alguns

autores consideram que é o clítico que marca a concordância com o sintagma nominal

(SN) associado, assim este sintagma redobraria o clítico e contribuiria ao conteúdo

descritivo para identificar o referente. Outros autores, no entanto, consideram que o

maior peso estrutural do sintagma nominal e o fato de que possa aparecer sozinho, sem

o pronome, fariam com que esse sintagma fosse o verdadeiro objeto direto/indireto,

enquanto o clítico seria uma simples cópia do SN.

Neste estudo, consideramos o ponto de vista de Gómez Seibane (2012: 51-52)

segundo o qual a duplicação pronominal ou redobro permite a aparição conjunta na

mesma oração de um pronome átono de acusativo ou dativo junto à sua variante tônica

él, ella , ou junto ao grupo nominal ao qual se refere, como em a Lucía la vieron salir.

Isto é, o clítico é redobrado por meio de um sintagma preposicional contendo um

pronome tônico ou um sintagma nominal.

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41

Para Gómez Seibane (2012), no espanhol, é obrigatória a duplicação i) com os

pronomes tônicos, a não ser nas frases interrogativas (34a) ; ii) com os objetos diretos

definidos e/ou específicos tematizados e deslocados à esquerda do verbo, sempre que a

informação for conhecida (34b). No entanto, a duplicação não seria obrigatória com

objetos focalizados inicias com informação nova ou contrastiva (34c).

(34) a. Eso no le interesa a él; Solo la quiero a ella. (GÓMEZ SEIBANE, 2012:52)

b. A Juana la eligieron presidenta. (GÓMEZ SEIBANE, 2012:52)

c. A Juana eligieron presidenta (no a Teresa). (GÓMEZ SEIBANE, 2012:52)

Fernández-Ordóñez (1999:1382), por sua vez, comenta que a redundância

pronominal não costuma aparecer na maioria das variedades que distinguem o caso, ou

seja, nas variedades que empregam os pronomes lo(s)/la(s) para o OD e le(s) para o OI6,

e somente na região rio-platense ocorreria o redobro de objetos diretos específicos.

Segundo o Diccionario Panhispánico de Dudas (online), o caso pode ser definido

como:

Cada una de las formas que, en las lenguas que tienen declinación, adoptan determinadas clases de palabras, como el nombre o el pronombre, según la función sintáctica que deban desempeñar (DICCIONARIO PANHISPÁNICO DE DUDAS, ONLINE)

No que se refere ao caso acusativo, o mesmo dicionário o entende como:

En latín y otras lenguas, caso de la declinación en que se expresa el complemento directo, es decir, forma que en esas lenguas adoptan algunos elementos lingüísticos, como el nombre o el pronombre, para desempeñar dicha función. En español, esta denominación se refiere, generalmente, a los pronombres personales átonos de tercera persona lo(s), la(s), que proceden de formas latinas de acusativo (DICCIONARIO PANHISPÁNICO DE DUDAS, ONLINE)

Já o caso dativo é entendido, segundo o mesmo dicionário, como:

En latín y otras lenguas, caso de la declinación en que se expresa el complemento indirecto, es decir, forma que en esas lenguas adoptan algunos elementos lingüísticos, como el nombre o el pronombre, para desempeñar dicha función. En español se aplica generalmente al pronombre personal átono de tercera persona

6 Em 2.4 explicamos mais detalhadamente em que consiste o sistema que distingue o caso.

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42

le(s), que procede de una forma latina de dativo (DICCIONARIO PANHISPÁNICO DE DUDAS, ONLINE)

No que concerne à anáfora, o Diccionario Panhispánico de Dudas (online)

entende como sendo a relação que estabelece uma palavra, geralmente um pronome,

com outra ou outras previamente mencionadas no discurso e que permitem determinar

qual é o seu referente. Assim, são elementos anafóricos, ou têm valor anafórico, os que

estabelecem esse tipo de relação.

A Nueva Gramática de la Lengua Española. Manual (BOSQUE, 2010: 309)

indica que os pronomes de terceira pessoa (lo, la, los, las) intervêm em relações de

correferência, no sentido de que se referem a entidades mencionadas no discurso.

Primeiro aparece o antecedente e depois o pronome ou a expressão nominal que recolhe

a sua referencia. Fala-se, portanto, de construções anafóricas, como em “me pidió [la

carta]i y se lai di” (BOSQUE, 2010: 309).

Portanto, o OD é anafórico quando estabelece relação com um constituinte

previamente mencionado no discurso, isto é, seu antecedente. As formas que os

indivíduos têm de realizar a referência, ou retomar o antecedente, é o objeto de estudo

da presente pesquisa. Mais particularmente, analisaremos somente as estratégias de

realização do OD anafórico de terceira pessoa, ou seja, daquele de quem se fala ou

daquilo do que se fala.

Considerando a língua espanhola sem distinção de variedades, o OD de 3ª pessoa

pode ser realizado por distintas estratégias: i) clíticos acusativos lo(s), la(s) (35a); ii)

clítico le(s) (originalmente dativo), fenômeno conhecido tradicionalmente como leísmo

(35b); (iii) pronome nulo (zero fonético) (35c); iv) sintagma nominal (35d); e, por fim,

v) pronome demonstrativo (35e) .

(35) ¿Conoces [Las Cataratas del Iguazú]i?

a. No lasi conozco

b. No lesi conozco

c. No Øi conozco

d. No conozco Las Cataratasi

e. No conozco esasi

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43

Em referencia à primeira estratégia de realização do objeto direto anafórico, de

acordo com a Nueva Gramática de la Lengua Española. Manual (BOSQUE, 2010: 300)

o quadro pronominal clítico, na posição de acusativo, apresenta-se da seguinte forma:

Acusativo Singular Plural 1a pessoa me nos 2a pessoa te os 3a pessoa lo/la los/las

Quadro 1. Quadro pronominal de formas acusativas. Adaptado da Nueva Gramática de la

Lengua Española. Manual (BOSQUE, 2010: 300).

Como podemos observar no Quadro 1, para a 1ª e 2ª pessoas, do singular e do

plural, estão disponíveis as formas me, te, nos e os, respectivamente. De modo distinto a

essas formas, que podem ser utilizadas para retomar referentes no masculino ou no

feminino, as formas de 3ª pessoa do singular e plural - lo/la e los/las, respectivamente -

apresentam formas diferentes com distinção morfológica de gênero.

Como vemos nos exemplos em (35), os pronomes acusativos (35a) não seriam as

únicas possibilidades de realização do OD anafórico. Além do zero (35c), do SN (35d) e

do demonstrativo (35e), também é possível, em algumas variedades do espanhol, a

utilização do pronome clítico le para essa função. Essa forma é originalmente dativa,

portanto desempenhando a função de objeto indireto, mas passa a fazer parte, também,

do quadro de realizações do objeto direto de 3ª pessoa no espanhol. É sobre a forma le

que dedicamos a próxima seção.

2.2 A estratégia le como objeto direto: breve percurso histórico

Na língua espanhola, a utilização do clítico acusativo não é a única estratégia

disponível para a realização de objetos diretos anafóricos. Segundo a Gramática

Descriptiva de la Lengua Española (FERNÁNDEZ SORIANO, 1999: 1258), para

compreender o fenômeno de clitivização (emprego dos clíticos) no espanhol é

necessário considerar que o que se tem é um grupo muito heterogêneo de elementos que

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44

demonstram uma variação muito grande dependendo da variedade. Trataremos,

primeiramente, de uma estratégia alternante de realização do objeto direto denominada

leísmo.

Fernández Soriano (1999) indica que o paradigma dos pronomes átonos de

terceira pessoa do espanhol constitui o único exemplo de conservação parcial do sistema

casual latino. Do acusativo ILLUM, ILLAM e ILLUD descendem as formas lo, la e do

dativo ILLI deriva a forma le no espanhol.

Denomina-se leísmo o emprego das formas le e les, originalmente dativas, em

posição de acusativo, como em le mataron, les contrataron (NUEVA GRAMÁTICA

DE LA LENGUA ESPAÑOLA. MANUAL, BOSQUE, 2010: 315). Os autores que têm

estudado o fenômeno, dentre eles Fernández-Ordóñez (1999) e Bosque (2010),

distinguem três tipos distintos de leísmos com diversos graus de incidência.

O mais frequente e difundido é o leísmo de pessoa masculino, isto é, o emprego

do pronome le como acusativo retomando antecedentes com o traço [masculino],

[humano] e [singular] (36a). O leísmo de coisa, ou seja, o le que retoma um antecedente

com o traço [masculino], [inanimado] e [singular], apresenta uma difusão mais reduzida

que o anterior (36b). E finalmente, o leísmo de pessoa feminino, ou aquele que retoma

um antecedente com os traços [feminino], [humano] e [singular] é o de menor difusão

(36c).

(36) a. [A Mario]i lei premiaron en el colegio (NUEVA GRAMÁTICA DE LA LENGUA ESPAÑOLA. MANUAL, 2010: 315)

b. Te devuelvo [el libro]i porque ya lei he leído (NUEVA GRAMÁTICA DE LA LENGUA ESPAÑOLA. MANUAL, 2010: 315)

c. [A Laura]i lei premiaron en el colegio (NUEVA GRAMÁTICA DE LA

LENGUA ESPAÑOLA. MANUAL, 2010: 315)

Dentro da tradição gramatical espanhola, o leísmo em seus diferentes tipos vem

sendo explicado por meio de duas tendências linguísticas, já percebidas no século XIX

por alguns gramáticos e reconhecidas mais tarde por gramáticos e filólogos

(FERNÁNDEZ-ORDÓNEZ, 1999).

Fernández-Ordóñez (1999), Lapesa (2000) e Eberenz (2000) comentam que o

leísmo teria a sua origem na tendência de se criar em espanhol, na Idade Média, um

paradigma dos pronomes átonos (lo, la, le) baseado no paradigma dos demonstrativos

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45

(este-a-o, estos-as), de maneira que le seria a forma de masculino, la de feminino e lo

do neutro. A distinção acusativo/dativo deixaria de ser pertinente nos pronomes de

terceira pessoa, assim como ocorre com os de segunda pessoa (me, te, nos, os), que

apresentam uma única forma para os dois casos.

No entanto, essa tendência não consegue explicar alguns outros aspectos do

fenômeno, como, por exemplo, a maior difusão e frequência do leísmo que retoma mais

antecedentes com o traço [humano] e/ou [+animado] do que os [inanimados]

(FERNÁNDEZ-ORDÓNEZ, 1999; EBERENZ, 2000). De igual modo, essa tendência,

ou hipótese, conforme o autor, não consegue explicar a existência do leísmo masculino

plural, isto é, les retomando um antecedente masculino plural, e do leísmo feminino,

como explicado acima (FERNÁNDEZ-ORDÓNEZ, 1999).

Por essa razão, conforme Fernández-Ordóñez (1999), veio a ser considerada uma

segunda hipótese, segundo a qual o leísmo surge da tendência a distinguir em espanhol

os seres [+humanos] dos [+inanimados]. Tal tendência também é contemplada por

Eberenz (2000). Essas, no entanto, não seriam as únicas explicações do surgimento do

leísmo.

Lapesa (2000) comenta que a autêntica origem do leísmo foi a perduração do

dativo com um grupo considerável de verbos que o regiam em latim (37), além do

contágio dessa construção a outros verbos, até invadir toda a área do objeto direto

[+humano] (38).

(37) a. Dios le ayudará (CID, 1158 apud LAPESA, 2000: 284)

b.Menazóli la duenna (MILAG, 469a apud Lapesa, 2000: 284)

c. Dios le curiás de mal (CID, 329, 364, 1407 apud LAPESA, 2000: 285)

(38) Tres días víe ya qu les atendíe allí (M. PIDAL, RELIQUIAS, 189 e 21 apud

LAPESA, 2000: 298)

O dativo le estendeu-se facilmente ao acusativo masculino e [+humano] enquanto

lo restringiu-se à designação de coisas. No feminino, que é marcado pela oposição de

gêneros, o leísmo sofreu mais resistência tanto referindo a antecedentes [+humanos]

como a [+inanimados].

Fernández-Ordónez (2001) realiza um percurso histórico do leísmo e comenta o

seguinte:

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46

Para Lapesa, en cambio, el testimonio del viejo poema épico y de las obras de Berceo permite descubrir los "portillos" por los que se abrió́ paso la innovación leísta hasta su generalización posterior. Tomando el Libro de Buen Amor como siguiente punto de referencia y como texto representante de la lengua del siglo XIV, Lapesa nos informa de un cierto crecimiento del leísmo en ese siglo a tenor de lo encontrado en los manuscritos de esa obra. Y ateniéndose al testimonio del Corbacho, el Cancionero de Juan del Enzina y a la Celestina, abiertamente leístas en contraste con algunas crónicas del XV, se concluye que el leísmo es un fenómeno crecientemente popular que no se reflejaría inicialmente en el "gusto conservador dominante en las crónicas nobiliarias". Sólo en el siglo XVI esa corriente triunfaría abiertamente en los textos literarios, como mostrarían los ejemplos de Santa Teresa o Cervantes (FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ, 2001: 15-16).

Quer dizer, Lapesa verifica a entrada do leísmo consultando obras escritas datadas

do século XIV, XV e XVI. É interessante observar a opinião de Fernández-Ordóñez

sobre o tema. Primeiro, a autora indica que as duas tendências mencionadas acima não

conseguem ter sucesso absoluto devido ao complexo cruzamento entre elas e ao fato de

que os dados com os quais os distintos autores trabalham sempre procedem da língua

escrita. Por esse motivo, os dados nunca se mostram completamente coerentes com

nenhuma das duas tendências (FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ, 1999: 1321).

Em segundo lugar, Fernández-Ordóñez acredita que é incorreto inferir que o

progresso do leísmo referindo-se a antecedentes [+humanos] possa ter conduzido à

extensão do leísmo de “coisa”, ou aquele que retoma antecedentes [+inanimados], ao

final da Idade Média, assim como o demonstrariam os textos de Juan del Enzina, la

Celestina, etc.

Para a autora, é necessário levar em conta, por um lado, o importantíssimo

testemunho da variação linguística contemporânea, na qual convivem vários sistemas

pronominais e nos quais le/lo podem ser selecionados atendendo o sistema de caso

(dativo - le / acusativo - lo), ou à animacidade do referente (animado/inanimado); por

outro lado, o também importante testemunho com o qual contribuem os textos

medievais do século XIII, que discordam daqueles mencionados por autores como

Lapesa e que mostram um panorama parecido ao que oferece a situação atual, leia-se

século XXI (FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ, 2001: 18).

Fernández-Ordóñez (1999) aponta que, a partir da análise da língua falada

atualmente, vários autores perceberam que as hipóteses mais conhecidas para explicar

as confusões de caso eram inadequadas e isso fez com que fossem elaboradas

interpretações do fenômeno levando em conta a área geográfica investigada em casa

caso. O caráter de marcador sociolinguístico que apresentam as confusões de caso é,

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47

para Fernández-Ordóñez, o fator que tem determinado essencialmente sua tradicional

incompreensão por parte dos gramáticos.

Pode-se concluir, portanto, que não são unânimes os posicionamentos acerca da

origem do leísmo. Entretanto, podemos considerar que as discussões sobre a chegada do

leísmo até o espanhol atual nos permite levantar algumas questões, como por exemplo:

Qual é a distribuição do sistema pronominal de terceira pessoa em Oberá? Essa

distribuição segue o paradigma do sistema distribuidor de caso ou o sistema referencial?

A necessidade de distinguir entre entes [+humanos] e [-humanos] determina a seleção

das formas pronominais átonas de 3a pessoa em Oberá?

2.3 A omissão do pronome objeto direto (zero fonético)

Como mencionamos em 2.2, na língua espanhola, a utilização do clítico acusativo

não é a única estratégia disponível para a realização de objetos diretos anafóricos. Além

de lo(s) / la(s) e da antiga forma de “dativo” le, também podemos encontrar a omissão

do pronome OD, ou zero fonético, como mostramos em (35c) na seção 2.1 e em (39).

(39) ¿Has traído [los pasteles]i? Sí, Øi he traído (PALACIOS, 2006: 134)

Segundo Palacios (2006), a elisão é entendida como:

En cuanto a la elisión pronominal, ésta se caracteriza por la elisión del complemento directo de un verbo transitivo cuando puede recuperarse la información en un contexto inmediato. Esta elisión implica la ausencia de un sintagma nominal o de un pronombre átono que desempeñe esa función de complemento directo. Este fenómeno es conocido como “elisión pronominal” o “construcciones de objeto nulo”, dependiendo de las corrientes gramaticales (PALACIOS, 2006: 198).

Como observamos no comentário de Palacios (2006), a elisão pronominal se

caracteriza pelo apagamento do complemento direto, ou OD, de um verbo transitivo

quando é possível recuperar a informação num contexto imediato. Ainda segundo

Palacios (2006), a ocorrências do zero fonético, ou elisão do pronome, é um fenômeno

que se dá em todas as variedades do espanhol, ainda que se encontre sujeita a fortes

restrições semânticas e sintáticas, como veremos mais adiante.

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48

De acordo com Martínez (2006), por sua vez, a elisão do pronome de terceira

pessoa, no espanhol falado em comunidades ameríndias influenciadas pelo bilinguismo

ou substrato indígena, tem sido advertida por especialistas como um traço característico

da variedade do espanhol em contato com línguas como o guarani (KOVACCI, 1987

apud Martínez, 2006), com o quéchua (GRANDA, 1995 apud Martínez, 2006), ou com

o mapuche (ACUÑA E y MENEGOTO, 1996, 1998 apud Martínez, 2006). Segundo a

autora, atribui-se esse fenômeno à possível transferência de traços da língua indígena

para o espanhol.

Da mesma forma, Gómez Seibane (2012) indica que o apagamento do pronome

objeto direto definido é um dos aspectos característicos dos cenários do contato

linguístico, isto é, em lugares onde o espanhol encontra-se em contato com alguma

outra língua. Um exemplo são as línguas ameríndias na América do Sul ou a língua

vasca na Península Ibérica.

No entanto, esse fenômeno também está presente em variedades monolíngues do

espanhol e pode ser explicado a partir de fatores internos ao sistema relacionados à

hierarquia de animacidade e definitude (GÓMEZ SEIBANE, 2012: 62), como

apresentamos a seguir.

Animacidade Humano > Animado > Inanimado

Definitude Pronome tônico > Sintagma Nominal definido> Sintagma nominal indefinido específico >Sintagma nominal indefinido inespecífico

Quadro 2. Hierarquia de animacidade e definitude (GÓMEZ SEIBANE, 2012: 53).

Percebemos, a partir da leitura do Quadro 2, que o traço [humano] é o mais

animado e que a animacidade encontra o seu ponto menos animado no extremo direto

da sequência ([inanimado]). De modo análogo, com a definitude, o pronome tônico é o

mais definido e o sintagma nominal indefinido e inespecífico o menos definido.

Assim, considerando a língua espanhola sem distinção de variedades, Gómez

Seibane (2012) declara que é possível a ocorrência do zero fonético ou do pronome

acusativo quando o referente contém traços que estão mais à direita das escalas, como

inanimado, indefinido, inespecífico (40). Isso deve-se ao fato de que tanto o clítico

como o zero fonético admitirem leituras inespecíficas genéricas, o que é compatível

com o traço de menos definitude.

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49

(40) ¿Tienes [problemas]i? – No, no Øi tengo. / Losi tengo y muy graves, además (GÓMEZ SEIBANE, 2012: 63)

Por lado, quando o referente é definido ou indefinido específico a presença do

pronome é obrigatória (41).

(41) [Dos países de África]i, sí losi habíamos visitado (LEONETTI, 2011: 101 apud GÓMEZ SEIBANE, 2012: 63)

As leituras inespecíficas do artigo definido (el/la) permitem que o falante se

refira a antecedentes não identificáveis (42) e as leituras genéricas do mesmo artigo a

uma classe ou espécie, e não a um indivíduo concreto (43). A possibilidade dos

pronomes lo/la retomarem antecedentes inespecíficos [-específicos] como em (42) e/ou

mais genéricos, como em (43), permite a alternância entre o clítico acusativo e o zero

fonético com antecedentes com o traço [-específico] (GÓEMEZ, SEIBANE, 2012: 63).

(42) La decisión le corresponde [al próximo presidente]i. La oposición loi contralará estrechamente (GÓMEZ SEIBANE, 2012: 63)

(43) [Las aves]i realizan largas migraciones. Es un espectáculo oírlasi al pasar (GÓMEZ SEIBANE, 2012: 63)

Em (42), o falante não identifica quem é o novo presidente. Já em (43), as aves

são uma classe de animais, e não um individuo em concreto.

No que se refere à ocorrência do zero fonético em função da animacidade

Gómez Seibane (2012) declara que até pouco tempo atrás esse fenômeno era verificado

com antecedentes inanimados, mas é possível verificar o objeto nulo também com

referentes animados em algumas regiões. Um exemplo se dá no espanhol do Paraguai,

no qual o zero fonético é comum nas camadas mais baixas da sociedade. A omissão se

dá frequentemente com os antecedentes [-animados] (44), mas é possível observá-lo

com antecedentes [+animados] (45) e [+humanos] (46) (GÓMEZ SEIBANE, 2012;

PALACIOS, 2000). O mesmo ocorre no espanhol em contato com a língua vasca. Ou

seja, o objeto nulo também pode ser verificado com antecedentes que apresentam traços

mais elevados hierarquicamente na escala de animacidade.

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50

(44) El tronco había que arrastrarØ desde la picada (PALACIOS, 2000: 135-136; apud GÓMEZ SEIBANE, 2012:65)

(45) Antes mataban treinta o cuarenta vicuñas y Ø dejaban tirado ahí (GRANDA,

2002:67; apud GÓMEZ SEIBANE, 2012:65) (46) ¿Conocés a aquel chico? Sí Ø conozco.

Gómez Seibane (2012) acrescenta que no espanhol oral em do País Vasco os

falantes apagam com frequência o OD com referentes inanimados definidos e

específicos em qualquer contexto sintático, mas é possível também com referentes

animados. Para a autora, essa possibilidade, o zero fonético, tem alta distribuição, pois

aparece tanto na fala de indivíduos cultos quanto entre aqueles com baixo nível de

instrução; parece não depender da língua materna (no caso pode ser o euskera ou o

castelhano); e é um traço do qual os falantes têm plena consciência linguística, uma vez

que o converteram como um marcador de identidade sociocultural.

Em síntese, a possibilidade do objeto nulo, ou zero fonético, é uma realidade do

espanhol, mas apresenta algumas restrições. Seria, no entanto, um fenômeno recorrente

num contexto de contato linguístico. Podemos nos perguntar, tendo em vista essas

informações, qual seria a distribuição do zero fonético nas variedades do espanhol

quando outros fenômenos, como o leísmo, por exemplo, ocorrem. Como se comportaria

o espanhol de Oberá? Essa e outras perguntas serão endereçadas no capítulo 4 desta

dissertação.

2.4 As estratégias de realização do objeto direto anafórico em variedades do espanhol

Os estudos acerca do sistema pronominal de 3a pessoa do espanhol em situação de

contato linguístico vêm apontando para caminhos e perspectivas de análise similares.

Essas análises buscam responder a perguntas como: Quais são os fatores que

condicionam a variação e a mudança? Em que medida o contato do espanhol com outras

línguas condiciona a variação dos pronomes clíticos de 3a pessoa?

Nas próximas seções buscaremos contemplar essas perguntas considerado a

hipótese que diz que existem no espanhol duas tendências de análise do sistema

pronominal átono de 3a pessoa: a que distingue o caso e o sistema referencial. Para isso,

expomos o que entendemos por sistema distribuidor de caso e sistema referencial e logo

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51

depois apresentamos de modo sucinto alguns estudos sobre o sistema pronominal átono

de 3a pessoa em variedades da Espanha e da América.

Antes de mais nada, é necessário explicar o que entendemos por variedades de

uma língua. Em poucas palavras, podemos dizer que essas são distintas formas que

adquire uma mesma língua de acordo à região, ao grupo social ou ao registro

(formal/informal), por exemplo. Isso não indica que são línguas distintas, mas que

fazem parte de um todo linguístico, de uma mesma unidade linguística. Tal é o caso da

língua espanhola. Entendemos, aqui, que o espanhol é um diassistema que comporta

distintas variedades de uma mesma língua, como a variedade rio-platense e a variedade

madrilenha, por exemplo.

No que que diz respeito à região, a língua espanhola pode ter variedades

monolíngues ou bilíngues, como menciona Gómez Seibane (2012). Para a autora, tanto

na Espanha como na América o espanhol pode estar em contato com alguma outra

língua e por essa razão é possível dividir a língua por zonas, como a vasca, a galega, a

catalã, a andina, a guaranítica, a dos Estados Unidos, e o que Gomez Seibane denomina

outras zonas de contato linguístico, como do espanhol em contato com a língua Nahualt

e com a língua Maia, por exemplo. Mas há regiões onde o espanhol não se contra em

contato com outras línguas, como ocorre em áreas como Buenos Aires, Chile, grande

parte de Leão, Zamora, entre outras.

Em nosso trabalho também consideramos pertinente distinguir as variedades por

países, uma vez que há trabalhos (LIPSKI, sem data; PALACIOS, 1998, 2000, 2006,

2015; MARTÍNEZ, 2006, 2015; GRANDA, 1982, GÓMEZ SEIBANE, 2012) que

estudam a língua com essa delimitação geográfica7.

Por questões de estudo, ao analisar as estratégias de realização do objeto direto

anafórico de 3a pessoa, faz-se necessário distinguir, tanto em regiões de contato quanto

naquelas onde não há contato entre o espanhol e alguma outra língua, dois tipos de

sistemas pronominais: o sistema que distingue o caso e o sistema referencial. Vejamos

a seguir esses dois conceitos.

7 Podemos ver também o trabalho de John Lipski sobre as variedades do espanhol, cujo título é Geographical and social varieties of Spanish: An overview (2012). Veja-se também a obra de Moreno Fernández (2001).

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52

2.4.1 Sistema pronominal distribuidor de casos

Silva-Corvalán (2001) indica que o sistema casual é aquele que tem como base a

distinção entre o caso acusativo, no qual os clíticos lo(s), la(s) desempenham a função

sintática de objeto direto (47), e o caso dativo, no qual o clítico le(s) desempenha a

função sintática de objeto indireto (48).

(47) a Lo/la conocí ayer (a él/ a ella) (SILVA-CORVALÁN, 2001: 178)

b. Lo puse en el estante (el libro) (SILVA-CORVALÁN, 2001: 178)

(48) Le dijeron que fuera el martes (a ella) (SILVA-CORVALÁN, 2001: 178)

Gómez Seibane (2012) apresenta a seguinte distribuição do sistema pronominal

átono de 3a pessoa que distribui o caso:

singular plural

masculino feminino masculino feminino Acusativo lo la los las

Dativo le8 les

Quadro 3. Sistema pronominal que distingue caso (GÓMEZ SEIBANE, 2012: 18).

A partir da leitura do Quadro 3, percebemos que para o caso acusativo temos lo e

los para masculino singular e plural, respectivamente, la para o feminino singular e las

para o feminino plural. Os clíticos le e les são as formas de dativo, singular e plural,

respectivamente.

Em nosso trabalho, somente analisaremos o comportamento dos clíticos em

posição de acusativo, ou seja, quando os mesmos desempenham a função sintática de

OD. Entretanto, cabe ressaltar que isso não implica dizer que a forma le não será

contemplada, uma vez que, como veremos ao longo do estudo, existe uma variação

entres as formas lo/la/le para a função de objeto direto. Em outras palavras, levaremos

em consideração as manifestações de le como objeto direto e não como objeto indireto.

8 Em espanhol, na 3ª pessoa, quando utilizamos o OI junto ao OD, o primero muda a sua forma para “se”. Por exemplo, - ¿[Le]ii das [permiso]i [a tu hijo]ii para salir con sus amigos?– Sí, seii loi doy.

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53

Alguns autores, dentre eles Gómez Seibane (2012), dividem o sistema pronominal

da língua espanhola em monolíngue e bilíngue. Dentro do primeiro grupo encontra-se o

sistema que distribui o caso. Para a autora, esse sistema ocupa a maior parte de território

da Espanha (Galícia; ocidente de Astúrias; grande parte de Leão, Zamora e Salamanca;

Aragão, metade sul de Navarra e oriente de La Rioja; Cidade Real, exceto o extremo

norte-ocidental; grande parte de Cuenca e oriente de Guadalajara; grande parte de

Estremadura; assim como as comunidades mais ao sul, Murcia e Andaluzia, e as ilhas

Canarias), e estende-se por grande parte do continente Americano (maior parte do

México, da América central, exceto algumas regiões da Guatemala; Venezuela,

Colômbia; na costa do Equador e do Peru; região plana da Bolívia; Uruguai; Chile e

grande parte da Argentina).

No entanto, pelos comentários da própria autora, notamos que a divisão entre lo/la

para acusativo e le para dativo nem sempre se mantém, o que levantaria o

questionamento de até que ponto esse sistema distribuidor de casos conseguiria se

manter inalterado. Nas regiões que distinguem o caso, é possível encontrar o emprego

do clítico le como forma de retomar o OD anafórico com certos verbos que podem

variar em função de fatores sociolinguísticos (GÓMEZ SEIBANE, 2012: 10).

Na mesma direção, Fernández-Ordóñez (1999) aponta que o único fenômeno que

pode ocorrer nas regiões que distinguem o caso é o leísmo. A variação lo ~ la ~ le é

registrada em i) construções em que o dativo e o acusativo podem alternar e ii) o leísmo

referido a um antecedente masculino, singular e humano, que, em palavras da autora,

seria próprio da língua culta e escrita.

Gómez Seibane (2012) e Fernández-Ordóñez (1999) certificam que a variação

entre acusativo e dativo se dá com os verbos de afeição, tais como asombrar, asustar,

encantar, halagar, aburrir, agradar, cansar, divertir, molestar e preocupar (49-51).

(49) a. María lo asombró cuando, contra lo acostumbrado, llegó puntual a la cita (FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ, 1999: 1324)

b. A María le asombra el puesto que ha conseguido Juan (FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ, 1999: 1324)

(50) a. A mi hijo lo asustó aquel perro (FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ, 1999: 1324)

b. A mi hijo le asustan los truenos (FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ, 1999: 1324) (51) a. María la preocupó con la mala noticia (FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ, 1999: 1324) b. La mala noticia le preocupa día y noche (FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ, 1999:

1324)

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Em (49-51) vemos que o mesmo verbo aparece ora com o acusativo (lo/la), ora

com o dativo (le). Essa alternância ocorre porque os falantes das regiões que distinguem

o caso constroem duas estruturas com os verbos de afeição: uma agentiva e uma não

agentiva (FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ, 1999: 1323).

Conforme Gómez Seibane (2012:11), emprega-se o acusativo quando a estrutura é

agentiva, ou seja, quando há um agente direto da ação, como em (49a) (50a) e (51a). O

dativo é selecionado em estruturas não-agentivas, isto é, quando uma causa externa

provoca que alguém experimente a sensação ou a reação à qual se refere, como em

(49b), (50b) e (51b)9.

No que se refere ao uso linguístico, conforme afirma Fernández-Ordóñez (1999),

há um leísmo que é empregado entre os falantes cultos na variedade peninsular, leia-se

de Madrid, por ser considerado de prestígio: Desde los recuentos realizados por Cuervo (1895: 99-105), se viene señalando el empleo de le como clítico e acusativo referido a antecedentes masculinos por parte de escritores oriundos de las zonas distinguidoras de caso. El propio Cuervo explicó esta práctica como un resultado de la influencia que la prestigiosa lengua de la corte ejercía sobre la forma de escribir (pero no necesariamente sobre la de hablar) de los literarios, que encontraban en le "cierto aire de cultura y elegancia". […] Desde mediados del siglo XIX el empleo de le en la lengua literaria reduce su ámbito de aparición, pues poco a poco se reserva para antecedentes masculinos y personales, frente a su extendido uso para referir antecedentes no-personales en los siglos XVII y XVIII (KENISTON, 1937 y FERNÁNDEZ RAMÍREZ, 1951; MARCOS MARÍN, 1978 apud FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ, 1999: 1387)

Ou seja, o emprego do clítico le nas regiões distribuidoras de caso sofreu

mudanças ao longo do tempo, como indica o texto extraído da Gramática descriptiva da

Lengua Española (1999). Na atualidade, nas regiões que distinguem caso, o clítico le é

usado para fazer referência a antecedentes masculino, [+humano] e singular e esse uso é

aceito pela Real Academia de la Lengua Española (FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ,

1999:1386).

Apos termos visto o que consideramos o sistema distribuidor de caso, vejamos a

seguir o que entendemos por sistema referencial.

9 A variação de lo ~ la ~ le com os verbos de afeição mencionada por Fernández-Ordóñez (1999) e Seibane (2012) também pode ser entendida de modo diferente. Uma via alternativa seria considerar que existem dois verbos distintos. O primeiro é um verbo que pede um argumento interno sem a preposição e que seleciona o acusativo, e o segundo um verbo que pede um argumento interno preposicionado e que seleciona o dativo. Seriam verbos distintos, porém homófonos.

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55

2.4.2 Sistema pronominal referencial

Gómez Seibane (2012), seguindo a mesma linha de Silva-Corvalán (2001),

aponta que o sistema referencial é aquele que tem como base os traços semânticos do

antecedente, independentemente da sua função sintática. Esse sistema abandona a

distinção de caso e coloca a atenção nas características do referente. Assim, a seleção de

um ou outro clítico (acusativo / dativo) depende não mais da função que este

desempenha na sentença, mas sim das suas características, ou traços. Dentre eles

podemos citar os traços [±humano], [±masculino], [±singular], [±animado],

[±específico] ou [± definido]. Vejam-se os exemplos (52-54).

(52) Le conocí ayer (a él/a ella) (SILVA-CORVALÁN, 2001: 178)

(53) Le puse en el estante (el libro) (SILVA-CORVALÁN, 2001: 178)

(54) La dijeron que fuera el martes (a ella) (SILVA-CORVALÁN, 2001: 178)

Notamos que em (52) o clítico le desempenha a função sintática de OD. Assim,

retoma tanto um referente com o traço [masculino] como [feminino], [humano] e

[singular]. Se olharmos para (53) notamos que le também pode retomar um antecedente

com o traço [inanimado], [masculino] e [singular]. O clítico la, por sua vez, pode

desempenhar a função sintática de OI, entremostrando o traço [feminino] do

antecedente.

É interessante observar as palavras de Fernández-Ordóñez (2007) sobre o que a

autora denomina menor tolerância das línguas “estândar” em relação ao sistema

pronominal de 3a pessoa do espanhol, vejamos:

La menor tolerancia que las lenguas estándar parecen practicar hacia la variación gramatical hace que este tipo de variables se vean sometidas con frecuencia a un filtrado sociolingüístico, que puede distorsionar los principios lingüísticos que explican su funcionamiento originario. Este es el caso, por ejemplo, de los usos considerados anómalos de los pronombres átonos y conocidos como leísmo, laísmo y loísmo. Hoy sabemos, gracias a las entrevistas sociolingüísticas de Klein-Andreu (1979, 1981, 2000) y del COSER (cf. Fernández-Ordóñez 1994, 1999), que lo que los gramáticos percibían como usos desviados del empleo pronominal general son, en realidad, muestras parciales de paradigmas pronominales alternativos en que la selección del pronombre se realiza de acuerdo con principios lingüísticos diversos a los vigentes en el español general. Algunos de esos paradigmas, como el referencial castellano, sólo se manifiestan plenamente en el habla de los grupos socioculturales de menor rango (FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ, 2007: 3).

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56

Assim, os sistemas referenciais são amostras de paradigmas pronominais

alternativos, nos que a seleção dos pronomes se realiza em função de princípios

linguísticos outros que não o sistema de caso. Seu uso, como se vê, pode estar sujeito a

avaliações sociais negativas.

Gómez Seibane (2012), assim como aparece nas palavras de Fernández-Ordóñez

acima, indica a zona norte-ocidental de Castilha e La Mancha como sendo uma região

onde o sistema vigente é o referencial. O quadro 4 ilustra a distribuição dos pronomes

de terceira pessoa nessa região da Espanha.

Contínuo Descontínuo Singular plural

Masc. Fem. Masc. Fem. Masc. Fem.

le la les

las lo los les/los

Quadro 4. Sistema referencial de Castilha. Adaptado de Fernández-Ordóñez (1999: 1350).

Gómez Seibane (2012) considera contínuos os elementos referentes a substância

ou matéria (sal, lixo, sangue) e descontínuos elementos como livro, prisão e sintagma.

Notamos, a partir do quadro 4, que quando o antecedente é [-contínuo] a única

estratégia empregada é lo tanto para feminino quanto para masculino. Já com

antecedentes [+contínuos] plurais notamos uma variação entre les ~ los quando esse é

masculino, mas não para o feminino, em que a única forma encontrada é las. No

singular, verificamos le para masculino e la para feminino.

Em síntese, o sistema referencial é um sistema no qual há a neutralização do

sistema de caso e a seleção dos clíticos se dá em função das características do

antecedente. Acreditamos que essa distinção entre os dois sistemas nos ajuda a entender

a distribuição, não só dos pronomes átonos de 3a pessoa, mas das estratégias que os

falantes empregam para realizar o objeto direto anafórico de terceira pessoa nas

variedades da língua espanhola.

Vejamos, a seguir, como se dá essa distribuição das formas de realizar o OD

anafórico de 3a pessoa em regiões onde o espanhol se encontra em situação de contato

linguístico.

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57

2.4.3 O sistema pronominal em regiões bilíngues: Espanha

Gómez Seibane (2012) apresenta, para a Península, três regiões como sendo

bilíngues: a variedade vasca, a galega e a catalã.

Segundo Fernández-Ordóñez (1999) e Gómez Seibane (2012), na região do País

Vasco e de Navarra, tanto entre falantes bilíngues de vasco e espanhol quanto de

monolíngues nativos da região, o sistema encontrado é o seguinte:

Animados Inanimados

Singular Plural Singular Plural Masculino Feminino Masculino Feminino

le les Ø / lo Ø /la Ø / los / Ø las

Quadro 5. Sistema pronominal da zona vasca. Adaptado de Gómez Seibane (2012: 25).

Notamos a partir da leitura do Quadro 5 que para os antecedentes que têm o traço

[+animado]/[singular] a estratégia empregada é le e para o que têm o traço

[+animado]/[plural] é les, independentemente do gênero, como se pode ver em (55) e

(56), respectivamente.

(55) Si suelta [el cerdo]i, el carnicero lei agarra de así (FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ, 1999:1350)

(56) Cogen [cinco o seis vacas o terneros o lo que sea]i, y a esos tendrán que

matarlesi (FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ, 1999:1350)

Quando o referente é inanimado verificamos que o gênero e o número do

antecedente são fatores que influenciam na seleção do clítico, pois vemos a variação Ø

~ lo quando o referente é masculino singular e Ø ~ los quando é masculino plural (57).

Quando o referente é feminino, temos a variação entre Ø ~ la quando está singular e Ø

~ las quando está no plural (58).

(57) ¿Qué hace esto aquí? – No sé, su dueño Øi trajo para arreglar y no ha vuelto [el coche] (FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ, 1999:1350).

(58) Cogemos [las vainas]i en la huerta, Øi llevamos a casa […] cuando Øi echas al puchero […] cinco minutos y fuera Øi echas encima de la mesa […] cuando están secas Øi metes en la bolsa al frigorífico (FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ, 1999:1350).

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58

Gómez Seibane (2012) aponta que a ocorrência do zero fonético com antecedentes

[+inanimados] se dá quando este é [+definido] e [+específico] e se encontra deslocado à

esquerda do verbo (59), ou também em orações com dupla pronominalização, ou seja,

com verbos que pedem dois argumentos internos (60).

(59) [La leche]i también solíamos venderØi todos los días (GÓMEZ SEIBANE, 2011: 271; apud GÓMEZ SEIBANE, 2012: 26).

(60) Me agarró [el collar]i y me Øi rompió (FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ, 1999:1350-1351;

apud GÓMEZ SEIBANE, 2012: 26).

Ainda segundo Gómez Seibane (2012), a omissão do clítico não depende somente

das propriedades semânticas do objeto – definido, específico e inanimado – mas

também é favorecida por certos padrões sintáticos, como as construções com infinitivo

(61) ou quando o antecedente for o tema sobre o qual se fala e estiver no mesmo turno

de fala (62).

(61) Luego cuando se murió o antes dejaron ya de hacerØi [los chocolates] (GÓMEZ SEIBANE, 2012: 26)

(62) Pude ver luego [los dos últimos capítulos]i, pero dije “no voy a verØi" (GÓMEZ

SEIBANE, 2012: 26)

Álvares Landa (sem data apud Palacios, 1998) realiza um trabalho sobre objetos

nulos no espanhol falado no País Vasco. A ótica de análise é o contato de línguas,

seguida também por E. Prince (1992) e Silva-Corvalán (1989). Segundo esta

perspectiva, existem estruturas paralelas que permitem a influência de uma língua sobre

a outra. A conclusão à que chega Landa é que a elisão do pronome de OD não é

necessariamente o resultado de interferência de línguas, mas a presença do mesmo

fenômeno em ambas as línguas.

Em relação à região galega, Gómez Seibane (2012) afirma que não há muitos

trabalhos que descrevem o sistema pronominal átono de terceira pessoa, mas ao que

parece predomina o sistema que distingue caso descrito no Quadro 3. No entanto, foram

detectados casos de leísmo quando o antecedente tem o traço [+humano] e

[+masculino].

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59

Por outro lado, o sistema pronominal da região catalã também não conta com uma

caracterização geral, mas existem trabalhos que falam sobre o tema (GÓMEZ

SEIBANE, 2012: 29). A autora aponta que, segundo relatos de entrevistas realizadas a

bilíngues ativos com habilidades produtivas de expressão oral e escrita, tanto em

espanhol quanto em catalão, constatou-se que o sistema que distingue caso não é

majoritário entre os falantes de Barcelona e de Valência, uma vez que o leísmo

encontra-se num estágio avançado.

O Quadro 6 apresenta o sistema pronominal átono de terceira pessoa da zona

catalã que, segundo Gómez Seibane (2012), é provisório.

Singular Plural

Masculino Feminino

Masculino Feminino

Animado Não animado Animado Não animado le ~ lo lo la (> le) les ~ los los las

Quadro 6. Sistema pronominal da zona catalã. Adaptado de Gómez Seibane (2012: 25).

Como podemos observar na Quadro 6, o clítico le é empregado para a referência a

antecedentes femininos no singular, sem distinção no grau de animacidade. Para o plural

feminino, somente verifica-se las. Quando o antecedente é [+animado] e [+masculino]

encontramos le para o singular e les para o plural. Os clíticos acusativos lo(s) variam

com le(s) com referentes masculinos singular/plural e [+animado]. Com os não

animados masculinos verifica-se somente lo/los. Vejamos os exemplos a seguir (63-67).

(63) [Al niño]i lei llevaron a un estudio y le hicieron fotografías (GÓMEZ SEIBANE, 2012: 30)

(64) [Al conejo]i lo clavaban el cuchillo para despellejarloi (GÓMEZ SEIBANE, 2012: 30)

(65) [A mis hijos]i lesi castigaron en el colegio (GÓMEZ SEIBANE, 2012: 30)

(66) [A María]i lei recoge un autobús para llevarlei al trabajo y le dan de comer allí

(GÓMEZ SEIBANE, 2012: 30)

(67) [A las vacas]i las dábamos de comer la hierba y luego lasi sacábamos al campo (GÓMEZ SEIBANE, 2012: 30)

Gómez Seibane (2012) explica que o leísmo tem avançado na esfera do gênero

feminino, como podemos ver no Quadro 6, mas desconhece-se o grau de frequência

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60

desse fenômeno devido à falta de investigações mais completas sobre o sistema

pronominal de terceira pessoa na região catalã.

Uma vez vista a distribuição das formas de realizar o OD anafórico de 3ª pessoa

em algumas das variedades da Espanha, passemos agora a observar como se dá a

mesma em regiões de contato linguístico no continente Americano.

2.4.4 O sistema pronominal em regiões bilíngues: América

Para o continente americano, Gómez Seibane (2012) indica algumas zonas como

sendo bilíngues. Podemos dizer, dessa forma, que a autora divide a língua espanhola na

variedade andina, a guaranítica, a dos Estados Unidos e a variedade de outras zonas de

contato linguístico, como a do Nahua e a Maia.

2.4.4.1 Sistema pronominal da região andina

Lipski (2007) explica em que consiste a zona andina:

Los dialectos andinos del español se extienden desde el sur de Colombia hasta el rincón noroccidental de la Argentina y un pequeño enclave en el norte de Chile; pero las zonas principales engloban la región serrana del Ecuador, el Perú́ y Bolivia. Cerrón-Palomino (2003), Mendoza (1991), Sánchez (2003) y Escobar (1988, 1990) figuran entre las monografías más completas sobre el bilingüismo andino. La lengua quechua con sus variedades regionales forma la base del bilingüismo andino excepto en el sur del Perú́, una parte de Bolivia y un enclave en el norte de Chile, donde el aymara es la principal lengua autóctona (LIPSKI, 2007: 2).

A interação bilíngue do Quéchua e do Aimara com o espanhol é, na maioria dos

casos, a responsável pelas variações que afetam o quadro pronominal átono do espanhol

da região andina, como aponta Lipski (1996). Essa variabilidade interna é complexa e

bastante homogênea nas cinco regiões nas que o espanhol se encontra em contato com

essas línguas ameríndias (Peru, Bolívia, Equador, noroeste da Argentina e sudoeste da

Colômbia) (GÓMEZ SEIBANE, 2012: 39).

No que diz respeito ao sistema pronominal átono de terceira pessoa do espanhol

falado em contato com a língua quéchua na serra do Equador, nota-se uma

generalização do clítico le(s) como única forma de retomar o OD anafórico com

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independência da função sintática e do gênero do antecedente, como vemos no Quadro

7 (GÓMEZ SEIBANE, 2012:39).

Singular Plural Animado Inanimado Animado Inanimado

le le/Ø les les/Ø

Quadro 7. Sistema pronominal do espanhol andino I (Equador). Adaptado de Gómez Seibane (2012: 39).

Como vemos no Quadro 7, a forma le é utilizada para realizar o OD anafórico

entre os falantes da serra do Equador, tanto no singular quanto no plural,

independentemente do traço de animacidade. No entanto, como mostra o trabalho de

Palacios (1998), o objeto nulo também pode ser encontrado nessa região, tal como

mostra o quadro acima.

Para Gómez Seibane (2012), mesmo que o clítico le(s) possa retomar antecedentes

inanimados, refere-se majoritariamente a antecedentes animados, uma vez que o zero

fonético é a estratégia preferida com antecedentes inanimados.

Palacios (2005) indica que esse padrão pronominal apontado no Quadro 7 se

caracteriza pela tendência de caminhar em direção a um único pronome le tanto para

referentes masculino [±animados], como para referentes femininos [±animados].

Segundo Palacios (2005), nas regiões de Quito e Otavalo, no Equador, o clítico le

é estratégia preferida para retomar o OD anafórico, o que confirma o apontado por

Gómez Seibane (2012), mas indica que o fator nível de instrução e sobretudo o fator

monolíngue/bilíngue influencia na distribuição dos distintos sistemas pronominais. Os

falantes monolíngues com nível de instrução superior alternam entre um sistema

simplificado, como descrito no Quadro 7, no qual se emprega a forma le para retomar

antecedentes [±masculino] e [±animado], e um sistema que distribui caso, como

indicado no Quadro 3 e visto nos dados em (68):

(68) a. No, yo no loi hablo ([el quichua]i) (PALACIOS, 2005: 366) b. Nosotros comemos [cosas]i que ustedes aquí ni siquiera lai conocen

(PALACIOS, 2005: 366) c. [Las Islas Galápagos]i lasi quería, quería llevarse los gringos (PALACIOS, 2005: 366)

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62

Por sua vez, entre os falantes bilíngues (espanhol-quéchua) verifica-se o emprego

do le como única forma de retomar o OD anafórico (69), e um sistema simplificado

loísta, que consiste no emprego do clítico lo como forma de retomar o elemento

anafórico sem distinção de gênero. Ou seja, há uma tendência majoritária, não única, de

usar o clítico lo tanto para retomar antecedentes com os traços tanto [masculino] quanto

[feminino], que podem ser [±animados] (70) (PALACIOS, 2005).

(69) a. Les cocinan a las habas y les comen así, simplemente con sal nada más

(PALACIOS, 2005: 362) b. Ahí hay unos animales pequeños que se llaman cuyes, le preparamos eso con

patatas (PALACIOS, 2005: 362)

(70) a. Yo te lo voy a obsequiar (un sombrero). Yo tengo uno que me lo mandan

(PALACIOS, 2005: 362) b. Sí, lo voy a visitar a la hermana de Lourdes. Sí lo conozco (PALACIOS, 2005:

362).

c. La feria creo que lo hacen los viernes (PALACIOS, 2005: 362)

Os exemplos em (70) demonstram que a estratégia para realizar ao OD anafórico

de 3a pessoa é o clítico lo independentemente do gênero, [±masculino], e da

animacidade ([+humano, +animado ou +inanimado]).

A autora explica que essa estratégia, o clítico lo, é empregada por falantes com

nível de instrução médio e baixo e é desconhecida entre os falantes com nível alto de

escolaridade. Aqueles informantes vêm do âmbito rural, que são regiões de substrato

quéchua e onde essa língua já não é falada, uma vez que nas últimas duas gerações

somente se fala espanhol.

Em Palacios (2006), notamos que a autora centra a atenção na região de Otavalo e

Ibarra (Equador) e distingue pelo menos três sistemas pronominais: i) um sistema que

emprega os clíticos lo/la para realizar o OD anafórico de 3a pessoa (71); ii) um sistema

simplificado loísta que emprega o clítico lo para referência a antecedentes masculinos

[±animados] e le para femininos [±animados], ou quando o indivíduo desconhece o

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63

gênero do antecedente (72); e iii) um sistema que emprega majoritariamente o clítico le

(73).

(71) a. Se van a proyectar [una película de Colombia]i que creo que ya lai han visto por aquí.

b. Yo tengo ahora [un video]i sobre la realidad del Ecuador, que loi proyectaron algunas ocasiones.

(72) a. Loi sembramos ([maíz]i)(PALACIOS, 2006: 197)

b. En mi casa nunca loi utilizamos ([el aceite]i). (PALACIOS, 2006: 197) c. [La fritada]i...que es de la carne del cerdo también, que se lei hace en unas grandotes, en pailas grandes de bronce (PALACIOS, 2006 )

(73) a. Pero [lo que hacen]i es con el maíz, lei hacen, lei dejan dos días o tres días (PALACIOS, 2006: 198). b. Hay personas o sea viven con los hermanos por ejemplo hermano y hermano ¿no? O sea están haciendo un castigo y por eso a veces siempre le castigan (PALACIOS, 2006: 198)

Em que consiste a diferença entre os sistemas encontrados nessas regiões do

Equador? A distinção radica não no fator monolíngue/bilíngue, já que a autora verifica

que os três sistemas podem ser encontrados nas falas de informantes monolíngues ou

bilíngues (quéchua-espanhol), mas em traços como o gênero e a animacidade do

antecedente, isso somado ao grau de escolaridade do informante.

Assim, aquele sistema que emprega lo/la é usado entre os informantes com nível

superior e o fator gênero do antecedente condiciona a escolha do clítico: lo para

masculino e la para feminino. No sistema simplificado que emprega majoritariamente lo

como forma de retomar o antecedente, este é usado entre os informantes com nível

médio-baixo de escolaridade e o fator que condiciona a escolha do clítico é a

animacidade (le para [+animado]). E, finalmente, o sistema que emprega

predominantemente le como forma de retomar o elemento anafórico, usado entre os

informantes com nível médio-baixo de escolaridade, é o que demonstra uma tendência

maior em simplificar os traços de gênero e de caso. O fator que condiciona a escolha da

estratégia é também a animacidade (lo para os inanimados). Portanto, segundo Palacios

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(2006), a variação estaria de certa maneira condicionada pelo traço animacidade do

referente.

Também se observa o zero fonético como estratégia de retomada do OD anafórico

em Otavalo e Ibarra (Equador), podendo ocorrer com referentes com os traços

[±determinado] e [±específico] (74).

(74) a. Yo siempre le digo que me ponga [algo]i, o sea, en el papel de aluminio me Øi pone y me Øi manda (PALACIOS, 2006: 313) b. En el campo nunca hacemos [la nochebuena]i como le llaman, como aquí hacen el veinticuatro, ¿no?, nunca Øi hacemos en el campo (PALACIOS, 2006: 313) c. Hablo [quichua]i, toda mi familia Øi hablamos, como soy indígena hablo quichua (PALACIOS, 2006: 313)

Em definitiva, Palacios (2005; 2006) conclui que a neutralização dos traços

gramaticais de gênero e de caso, que tem como efeito a simplificação do sistema

pronominal de 3ª pessoa, tem como causa última a influência da língua quéchua sobre o

espanhol. Essa influência pode ser direta (situação de adstrato nos bilíngues) ou indireta

(situação de adstrato em falantes monolíngues). A autora acrescenta que essa

simplificação corresponde com a influência das estruturas morfossintáticas e cognitivas

que os falantes importam do quéchua ao espanhol. Em Palacios (2009), a linguista

reforça essa opinião dizendo que nas regiões de contato linguístico entre o espanhol e

línguas ameríndias está ocorrendo um processo geral de mudança induzida por esse

contato, que supõe a consolidação de um processo de gramaticalização mais

desenvolvido do que o dos sistemas pronominais da Espanha.

Passemos a ver agora o que os autores comentam sobre as outras regiões de

contato do espanhol com o quéchua.

Segundo Gómez Seibane (2012), a maior parte do Peru, da Bolívia e do noroeste

da Argentina tem o quéchua como língua base, exceto o sul do Peru e uma parte da

Bolívia, que tem contato com a língua Aimara. Neste caso, o paradigma pronominal de

terceira pessoa simplifica-se em função do gênero, mas não do caso. A forma lo é

empregada para todo tipo de objeto direto, independentemente do seu gênero e número.

Além disso, constata-se o zero fonético, ou objeto nulo, assim como a duplicação de

objetos diretos. Veja-se o Quadro 8.

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Singular Plural Animado Inanimado Animado Inanimado

lo/Ø

Quadro 8. Sistema pronominal do espanhol andino II (Peru, Bolívia, noroeste da Argentina). Adaptado de Gómez Seibane (2012: 41).

A neutralização do gênero no pronome de terceira pessoa é, segundo Seibane

(2012), uma das características do espanhol nas regiões mencionadas no parágrafo

anterior. A forma lo referindo-se a entidades femininas é quase categórica (90,5%) em

falantes bilíngues com o com grau de aprendizagem de espanhol incompleto.

Palacios (1998), a partir de dados facilitados por Ana Álvarez, verifica que o

quéchua falado na Bolívia demostra concordância de objeto de primeira e segunda

pessoa, mas o objeto de terceira pessoa tem concordância zero.

Martínez (2000) aponta que os fenômenos estudados devem ser observados à luz

do gênero do referente, do número de participantes, da animacidade do referente e da

base verbal. Por sua vez, Martínez (2010) afirma que, no caso do noroeste da Argentina,

a opção pelo pronome lo é privilegiada em emissões nas que a relação de dependência

do objeto acusativo com os outros elementos do discurso é muito forte, fazendo com

que a sua presença seja opaca ou inviabilizada, mesmo em situações nas que os três

“actantes”, ou argumentos, encontram-se explícitos (argumento externo - sujeito - e

argumentos internos - OD e OI, respectivamente).

Em síntese, notamos que na maior parte do Peru, da Bolívia e do noroeste da

Argentina o quéchua é a língua base. Segundo opiniões dos autores mencionados nesta

subseção, o sistema pronominal átono de terceira pessoa simplificou-se de tal forma que

o clítico lo junto ao zero fonético são as duas formas empregas pelos falantes para

realizar o OD anafórico de 3a pessoa.

Passemos, agora, a observar o fenômeno aqui em tela na região denominada por

Gómez Seibane (2012) como a região guaranítica.

2.4.4.2 Sistema pronominal da região guaranítica

No que se refere ao sistema pronominal da região guaranítica, ou seja, Paraguai

(P), e nordeste da Argentina (NA) (Corrientes, Misiones, e oriente da província do

Chaco e de Formosa), Palacios (2000) comenta que o sistema reorganiza-se eliminando

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as distinções de caso. Existe um emprego generalizado do clítico le, assim como a

possibilidade de objetos nulos, ou zero fonético, não sistematizado.

Apresentamos o quadro do sistema pronominal átono de 3a pessoa da região

guaranítica no Quadro 9 a seguir.

Singular Plural Animado Inanimado Animado Inanimado

le/lo (P) le/Ø/lo (P) le/lo (P) le/Ø/lo (P)

le/Ø (NA) les/Ø (NA)

Quadro 9. Sistema pronominal do espanhol guaranítico.

Paraguai (P) e no nordeste da Argentina (NA) (GÓMEZ SEIBANE, 2012: 43)

Percebemos que, no Paraguai (P), onde o espanhol encontra-se em situação de

diglossia10 com o guarani, é possível retomar um antecedente [+animado] e singular a

partir dos clíticos le e lo; já os [inanimados] e singular retomam-se por meio dos clíticos

le, lo e também do zero fonético. Quando o referente encontra-se no plural e é

[+animado] as estratégias empregadas são le e lo, mas quando é [inanimado] verificam-

se as formas le, lo e o zero fonético. No nordeste da Argentina (NA), por sua vez,

olhando para o Quadro 9, notamos que há uma variação entre le e zero no singular e les

e zero no plural.

Vejamos, primeiro, como é tratado o sistema pronominal átono de terceira pessoa

no Paraguai. Palacios (2005) aponta que o Paraguai apresenta uma situação de

pluriculturalismo e multilinguismo, já que nesse país convivem distintas línguas e

culturas ameríndias, assim como ocorre em outros países da América Latina. Mas a

particularidade é o bilinguismo espanhol-guarani que se estende a quase toda a

sociedade. Nesse país, as duas línguas são línguas oficiais, sendo que o espanhol é

considerado a variedade alta e o guarani a variedade baixa que, ademais, é socialmente

subordinado em função de prestígios, tradição literária, aquisição e estabilidade.

Palacios (2000) afirma que o emprego do clítico le como estratégia para realizar o

OD anafórico tem sido historicamente a característica mais relevante do espanhol do

Paraguai. Nesse sentido, é reportado como um fenômeno geral desse país. Gómez

10 Tomamos o conceito no sentido amplo apresentado por Fishman, quem o define como um conceito que descreve uma comunidade bilíngue na que existe um alto percentagem de indivíduos bilíngues que dominam as duas línguas em coexistência, ainda que ambas as línguas se encontrem diferenciadas funcionalmente em termos de variedade alta e variedade baixa.

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Seibane (2012) e Martínez (2006) reforçam essa afirmação ao apontar que o clítico le é

empregado como estratégia para retomar todos os antecedentes, parece ser bastante

produtivo com referentes animados, mas também é possível encontrá-lo com referentes

inanimados.

De acordo com Granda (1982) e Palacios (2000, 2005), à diferença do que ocorre

no espanhol peninsular, onde o emprego de le como forma de referir ao OD se dá com

antecedentes [+humanos], no Paraguai, o clítico le retoma também antecedentes

[inanimados], tanto no singular quanto no plural, sejam femininos ou masculinos (75):

(75) a. Siempre lei ehtamoh haciendo (PALACIOS, 2000:128)

Em (75a) o falante estava falando sobre uma comida que se chama “sopa

paraguaya”.

b. Yo le conosco [un señor]i que lei llamamoh Don Coño (PALACIOS, 2000:127)

c. Muchísimah veseh ehtuvieron apunto decambiarlei de sitio y cada vez que intentaban cambiarlei a [la Virgen]i de sitio pues susedía algo (PALACIOS, 2000:127)

Para Granda (1982), o uso de le como estratégia de realizar o OD apresenta dois

traços totalmente diferentes dos encontrados no espanhol peninsular, e, ao que parece,

do resto do continente americano, a saber: i) a sua absoluta generalidade, abarcando

antecedentes [±humano], [± animado], [± masculino], [± singular], e ii) a sua

invariabilidade formal, já que le funciona como única forma de OD para a totalidade de

casos sintaticamente possíveis, sem considerar o gênero, o número ou a caracterização

semântica do objeto ao qual se refere.

Diatopicamente, não há diferença no emprego da forma le como OD em nenhuma

região do país em relação aos traços [±humano], [±animado], [± masculino] ou

[±singular]. Do ponto de vista diastrático (entre as camadas sociais), encontra-se nos

isoletos11 mais distanciados da norma linguística regional na totalidade de registros

orais e escritos, e nos isoletos médios e superiores fundamentalmente nos registros orais

(percebe-se também no registro escrito) e em situações não formais com referentes

[+humano], [+animado] e [+singular] (GRANDA, 1982: 263). Palacios (2000) sintetiza 11 Entende-se por isoleto a Gramática autônoma que contém um conjunto próprio e diferenciado de regras. As regras que aparecem em cada isoleto não se repetem em nenhum outro, de modo que estas gramáticas se excluem entre si.

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a questão dizendo que le é um fenômeno generalizado que aparece em todos os estratos

da sociedade. As variáveis, ou fatores, sexo e idade não parecem determinar

modificações relevantes nos resultados (GRANDA, 1982: 263).

É interessante observar as palavras de Granda (1982) sobre as possíveis causas da

simplificação pronominal átona no Paraguai. Para o autor, o uso de le como uma das

formas de realização do OD anafórico se deve à junção de várias causas genéricas: a) à

base dialetal peninsular europeia do diassistema linguístico paraguaio, ii) à interferência

do guarani paraguaio, ou jopará, e não só do guarani clássico, iii) à simplificação

periférica, iv) ao resultado da convivência de sistemas linguísticos em contato, e v) à

atuação secular de tendências internas dentro de paradigmas estruturais morfossintáticos

do castelhano colonial da América hispânica (GRANDA, 1982: 266).

Assim, conforme observado por Granda (1982), o uso de le como estratégia de

realização do OD anafórico de 3a pessoa no Paraguai pode ser identificado com a

possível presença, no espanhol dos primeiros núcleos fundadores de agrupamentos

urbanos, de traços leístas similares aos que manifestavam os falantes de espanhol das

áreas do norte da Península nos séculos XV e XVI. Para o autor, é perfeitamente

possível que os primeiros conquistadores e colonizadores da área paraguaia tenham

transportado consigo os traços linguísticos da sua variedade originária. No entanto,

ressalta que nessa variedade o uso do le se dava de forma mais estendida para retomar

antecedentes [+humanos] e masculinos, menos empregado com antecedentes femininos

e quase ausente com referentes no plural, ou seja, de forma distinta ao que ocorre na

atualidade.

Por sua vez, Palacios (1998) aponta que a construção pronominal do guarani exige a

presença de um pronome tônico de 3a pessoa em um sintagma preposicional (no caso é

pós-posicional), como vemos em (76) e (77).

(76) Pedro lo vio (visão tradicional) Pedro vio a él (Variedade do espanhol do Paraguai (PALACIOS, 1998:439))

(77) Se lo diré (visão tradicional)

Bien, diré a ella (Variedade do espanhol do Paraguai (PALACIOS, 1998:441))

Ainda, segundo a mesma autora, o guarani não tem marcas de concordância de

objeto; na flexão verbal a concordância que ocorre é somente com o sujeito. Também

não possui marcas gramaticais de gênero que permitam diferenciar a referência

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masculina da feminina dos pronomes. Nessa língua, o gênero não está gramaticalizado;

assim, quando o falante precisa distinguir o sexo de uma espécie acrescenta a palavra

“kuña”, o que equivale a fêmea (78).

No que diz respeito ao número, existe um morfema de plural “kuera”, que pode ser

acrescentado aos nomes e pronomes, mas na língua falada raramente é empregado (79)

(PALACIOS, 1998: 439-440).

(78) Petei jagua kuña (um cachorro fêmea, ou seja, uma cadela) (PALACIOS, 1998:440)

(79) Jagua kuera (cachorro plural, ou seja, cachorros) (PALACIOS, 1998:440)

Desta forma, segundo Granda (1982) e Palacios (1998), as estruturas sintáticas do

guarani possibilitam e permitem a “influência” da estrutura dessa língua sobre o

espanhol do Paraguai.

No que concerne ao clítico lo no Paraguai, Gómez Seibane (2012) indica que este

é possível para referência a antecedentes animados e inanimados e varia quanto ao

gênero e ao número. O seu uso ocorre em certos setores rurais no Paraguai e, ao que

parece, não é condicionado por questões semânticas nem por aspectos sintáticos, como a

presença ou ausência do sujeito, o número de argumentos ou a aparição de um sintagma

nominal duplicador do clítico (GÓEMES SEIBANE, 2012: 44).

Com relação ao zero fonético, Palacios (1998) aponta que, no Paraguai, a elisão

do pronome de terceira pessoa pode se dar em contextos sintáticos que seriam

impossíveis na variedade por ela denominada standard12, como, por exemplo, em

orações adverbias (80-81).

(80) Siempre encontré cuando Øi busqué (PALACIOS, 1998: 438) (81) Si no preguntó por [Juana Rosa]i es porque Øi sabe (PALACIOS, 1998: 438)

12 Palacios (1998) entende por espanhol estândar a variedade de espanhol que adota a norma peninsular carente de localismos, vulgarismos, etc. Por nossa parte, a entendemos como sendo a visão tradicional descrita anteriormente.

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Palacios (1998) analisa a ocorrência do zero fonético quando o antecedente é

inanimado e aponta que essa estratégia parece não encontrar restrições na variedade do

espanhol do Paraguai, pois ocorre quando o constituinte retomado tem os traços

[+definido] e [+específico], mas também quando tem os traços [-definido] e [-

específico].

Também parece não haver restrições temporais ou aspectuais, já que é possível a

ocorrência do zero fonético com verbos no presente, no pretérito e no futuro, ou com

verbos que levam aspecto perfectivo ou imperfectivo. O zero também é verificado com

verbos flexionados ou não flexionados (82) (PALACIOS, 1998: 437).

(82) a. -¿Sabes si Pedro trajo [los libros]i?

-Sí, Øi trajo

b. – [Pedro llegó ayer a la mañana a Asunción]i

- Yo Øi sé

Em síntese, o objeto nulo, ou zero fonético, que se refere a antecedentes

[inanimados] não tem restrições na variedade do espanhol falada no Paraguai. Trata-se

de um fenômeno linguístico generalizado (PALACIOS, 1998:438).

Vejamos agora como é tratado o sistema pronominal de terceira pessoa no

nordeste da Argentina, região que nos interessa particularmente para a realização desta

pesquisa. Conforme Martínez (2015), o guarani encontra-se vigente em muitas das

populações rurais das províncias de Misiones, Corrientes, Formosa e Chaco, na

Argentina. Por essa razão o espanhol de região possui características que se relacionam

com o contato linguístico com essa língua.

No nordeste da Argentina, mais precisamente em Corrientes, o leísmo, ou seja, o

emprego do clítico le para realizar o OD anafórico, mantém a distinção de número de

forma mais estável. Isto é, a forma le retoma predominantemente antecedentes no

singular e les majoritariamente os que estão no plural (GÓMES SEIBANE, 2012: 43).

Martínez, em seu recente trabalho (2015), ao falar sobre o sistema pronominal de

terceira pessoa, de modo um pouco diferente ao exposto em Gómez Seibane (2012),

afirma o seguinte:

De acuerdo con nuestros análisis, en la región guaranítica argentina, la variedad de español en contacto con el guaraní ́ promueve, al igual que en todas las variedades

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de español del país, el sistema casual etimológico. Es decir, las categorías lingüísticas que conforman el sistema manifiestan el grado de actividad del actante en el evento (le más activo que lo/la) (MARTÍNEZ, 2015).

Ou seja, para a autora, o sistema pronominal de teceria pessoa em contato com o

guarani no nordeste da Argentina promove o sistema de caso, assim como as demais

variedades do espanhol do país. Esse sistema reorganiza-se a partir do grau de atividade

do “actante”, que entendemos como os participantes, no evento. Isso quer dizer que o

sistema pronominal seleciona um clítico le quando o sujeito responsável por realizar a

ação for mais ativo e um clítico lo/la quando for menos ativo, como vemos nos

exemplos (83) e (84), respectivamente.

(83) Otras veces solamente lei hace daño a su víctima (VIII, 2185, 614) apud (MARTÍNEZ, 2015).

(84) En el verano (el Pombero) sale a la siesta, en los días de más calor, y persigue a

los muchachos cabezudos que andan matando pájaros en el monte. A esos losi castiga de más y losi corre y a veces también losi lleva (VIII, 2185, 614) apud (MARTÍNEZ, 2015).

Para Martínez (2015), o grau de atividade do “actante” (participante) no evento

continua sendo a substância semântica que se categoriza de tal maneira que, em relação

ao sujeito agente, o clítico le constitui a forma mais ativa, enquanto lo/la correspondem

às formas menos ativas.

Martínez (2000, 2010, 2015) observa ainda que a forma le se encontra em

variação com lo/la no âmbito em que o acusativo pode retomar antecedentes tanto

masculinos quanto femininos, como observamos em (85) e (86), respectivamente.

(85) Cuando alguien pretendía acercársele, desaparecía de inmediato, como un fantasma. Pero aseguraban quienes lograron reconocerlei, que era el propio diablo montado (VII, 1363, 182) apud (MARTÍNEZ, 2015: 193).

(86) Cuando estábamos pasando la laguna, [la víbora]i se movió y salió de la piola, se escondió́ detrás de los camalotes, y cuando volvimos a la vuelta lei vimos comiendo un pescado (Goya, 75,189) apud (MARTÍNEZ, 2015: 193).

O reajuste paradigmático da região guaranítica não se aplica à recategorização tal

como ocorre na variedade do espanhol peninsular (leia-se de Castilha), mas também não

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72

implica uma neutralização, uma vez que, na variedade do espanhol em contato com o

guarani, a variação le/lo continua presente. O que se observa é uma maior frequência

relativa de uso de le no campo dos acusativos dentro do paradigma que distribui a

substância semântica relacionada ao caso, isto é, ao grau de atividade do “actante” no

evento (MARTÍNEZ, 2015: 193).

Em síntese, Martínez (2010, 2015) aponta que na variedade do espanhol da zona

guaranítica observa-se:

a) O emprego estendido da forma le;

b) O leísmo encontrado é diferente ao encontrado em Castilha, já que o clítico le

retoma também antecedentes femininos;

c) Diferentemente do que ocorre na variedade de Castilha, onde o fator gênero do

antecedente influi na seleção do clítico, na zona guaranítica essa seleção

responde aos valores de caso.

No que diz respeito ao objeto nulo, Gómez Seibane (2012) indica que este é

empregado pelos falantes do nordeste da Argentina e que não apresenta limitações ou

restrições sintáticas. Ocorre em orações que pedem dois argumentos, um OD e um OI

por exemplo, e na segunda oração subordinada. Também é possível com objetos

animados, mas apresenta menor frequência de uso do que com referentes inanimados.

Por sua vez, Martinez (2006) busca demostrar que, em relatos orais produzidos na

Argentina, em regiões de contato do espanhol como línguas indígenas, a maior

frequência relativa da ausência do clítico acusativo de terceira pessoa (zero fonético) é

uma estratégia sistêmica que se relaciona com a índole “incerta”, “misteriosa” do

referente e com o medo do falante ao mencionar esse tipo de entidades (87).

(87) Dice que el guapoi tiene [una pantama]i (fantasma) blanco, que sale a aforrar todo el árbol. A la oración sale. Uno se asusta cuando Øi ve. Y se asusta y puede caerse. Y puede enloquecerse. La pantasma no haula (habla). Y persona mucha me dice que é pora, que hay ahí. La pora é una ilusión que sale de una planta. Pero é malo (VIII, 2348, 89913) apud (MARTÍNEZ, 2006: 98)

Segundo a autora, o fantasma da árvore “guapoy”, denominado porá, é uma ilusão

que provoca temor na comunidade. O falante omite o clítico (lo/le) que é esperado para

13 O exemplo corresponde aos Cuentos y leyendas populares de la Argentina, recolhidos por V. de Battini. Indica-se o tomo, o número do relato e o número da página.

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73

retomar o referente. Entretanto, o falante menciona o clítico quando o referente não é

uma entidade misteriosa (88).

(88) Que era [un matrimonio]i malo con otras personas, mezquinos. Nuestro Señor lei vio a ello que ‘taban comiendo... (VII, 1788, 793) apud (MARTÍNEZ, 2006: 98)

Portanto, a língua e a cultura unem-se mostrando a motivação comunicativa que

subjaz a construção da gramática. O mistério contamina as formas do discurso

escolhidas pelos falantes (MARTÍNEZ, 2006: 108).

Em relação a Misiones-Argentina, Amable (1975) comenta que o substrato

guarani teve uma “influência” determinante na fala regional, seja no vocabulário, na

fonética ou na sintaxe da língua espanhola. Lipski (sem data) compartilha a afirmação

de Amable e as feitas por Martínez (2000; 2010; 2015), e comenta que o multilinguismo

está enriquecido, visto que o espanhol convive não só com o português, mas também

com o guarani e com o alemão. Segundo Amable, algumas das características dessa

variedade do espanhol são: i) a influência do português brasileiro; ii) o leísmo

missioneiro junto ao apagamento dos pronomes em posição de objeto direto anafórico; e

iii) o substrato guarani.

Segundo Amable (1975), o espanhol de Misiones tem influência do português

em sua sintaxe, uma vez que os falantes procedentes do Brasil, ao falar em espanhol,

fazem uma tradução mental do discurso à língua de chegada, o que quer dizer que o

pensamento é planejado em português e traduzido ao espanhol. No que se refere às

formas de realização do OD anafórico de 3a pessoa, o que chama a atenção é o uso

estendido da forma le e do apagamento dos pronomes átonos. O autor indica que a

variedade do guarani falado nessa região é o avañe’ê, rico em caráter polissintético e

onomatopeico, e defende que esta língua condiciona a fala de Misiones.

Ao que parece, segundo Amable (1975), o grau de escolaridade não influencia

na seleção do clítico, pois verifica-se o uso do clítico le em falantes com ensino

fundamental, médio e superior, como vemos em (89), (90) e (91).

Nível fundamental [le]:

(89) a. Le miraba con rabia, mi’mo (AMABLE, 1975: 175-176)

b. Le rogaba y le rogaba, y ni miraba para ella (AMABLE, 1975: 175-176)

c. Le golió fiero, chamigo (AMABLE, 1975:175-176)

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74

Nível médio [le]:

(90) a Le sacrificaba la pobre criatura (AMABLE, 1975:176)

b. Cuando le citaron de la policía se asustó ([a la mujer]i)(AMABLE, 1975:176)

c. No le cortés ([La flor]i) (AMABLE, 1975:176)

Nível superior [le]:

(91) a. Parece que les sobornaron. (A los testigos]i)) (AMABLE, 1975:177)

b. ¿ Le atendieron, [profesor]i? (AMABLE, 1975:177)

c. Si no la encontrás, llamale por teléfono ([a ella]i) (AMABLE, 1975:177)

Notamos também que Amable (1975) verifica a ocorrência do zero fonético, mas

não comenta sobre os contextos de uso nem sobre os fatores que determinam o seu uso

(92).

(92) a. - ¿Compraste [el pan]i?/ - Sí Øi compré. (AMABLE, 1975:146)

b. ¿ Trajiste [la manteca]i? / Sí, Øi traje. (Amable, 1975:146)

c. Les reclamé [las fotos]i y ellos Øi devolvieron. (Amable, 1975:146)

d. ¿Sacaste [la ropa]i de la valija? / Sí, Øi saqué. (Amable, 1975:146)

Amable (1975) defende a ideia de que o leísmo é generalizado e é uma marca

do povo de Misiones. Evita-se, no entanto, a forma les, uma vez que exige um esforço

por parte do falante da pronuncia do –s no final, que é outro fenômeno estendido em

Misiones. Portanto, ao que parece, as estratégias mais frequentes de realização do objeto

direto anafórico na variedade do espanhol de Misiones são o pronome le e o zero

fonético.

Mas quais são os fatores que determinam a seleção das formas nessa região da

Argentina? A distribuição se dá de forma idêntica entre homens e mulheres? A faixa

etária poderia ser um fator que determina a escolha de uma ou outra estratégia?

O que pode ser verificado a partir da literatura disponível é que as estratégias

de realização do OD anafórico não se comportam de modo análogo dentro da zona

denominada guaranítica, assim como não são tratadas de modo unânime pelos autores

que estudam o fenômeno. No entanto, existe uma tendência de estudar o fenômeno

olhando não somente para os fatores internos da língua, uma vez que na maioria dos

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casos fatores como a natureza do antecedente, a escolaridade do falante e o fator

monolíngue/bilíngue são considerados.

Ainda, existem regiões onde o espanhol encontra-se em contato com as línguas

náhualts e as línguas maias. Vejamos como é descrito o sistema pronominal átono de 3a

pessoa nessas regiões.

2.4.5 Sistema pronominal em regiões de contato linguístico entre o espanhol e as

línguas náhualts e as línguas maias.

Conforme Seibane (2012), além das zonas andina e guaranítica, mencionadas já

neste trabalho em subseções anteriores, existem outras nas que o espanhol convive com

línguas faladas por pequenas comunidades. Um exemplo ocorre no México e na

Guatemala onde o espanhol convive com as línguas náhualts e as línguas maias. Em

regiões rurais isoladas onde as línguas ameríndias foram muito influentes, o sistema

pronominal apresenta uma reorganização especial, que não é compartilhada pelas

demais variedades do México.

Para essas regiões a autora apresenta o sistema pronominal ilustrado no Quadro

10.

Singular Plural

Masculino Feminino Masculino Feminino

lo/Ø

Quadro 10. Sistema pronominal do espanhol em contato com

As línguas náhualts e as línguas maias. Adpatado de Gómez Seibane (2012:49).

Observa-se a partir do Quadro 10 que a forma lo é o pronome de objeto direto

universal não marcado e encontra-se em variação com o zero fonético.

Gómez Seibane (2012) indica que, com muita frequência, duplica-se o objeto

direto anafórico (93).

(93) a. Yo lo anuncié el boda (LIPSKI, 1996: 305-306)

b. Lo compramos la harina (LIPSKI, 1996: 305-306)

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76

A autora explica que o quadro ilustrado no Quadro 10, no entanto, pode ser

diferente dependendo do grau de escolaridade do falante, por exemplo. Assim, pode

aparecer o sistema que distingue caso entre falantes monolíngues sem contato com

falantes bilíngues e o sistema simplificado apresentado no Quadro 10 entre os falantes

bilíngues.

Após termos visto a distribuição das estratégias que os falantes usam para realizar

o OD anafórico de 3a pessoa, vejamos como se dá a mesma na variedade do Rio da

Prata.

Consideramos importante descrever a distribuição do sistema pronominal átono de

3a pessoa na variedade de Buenos Aires, uma vez que é a capital da Argentina e o centro

difusor da sua língua e da sua cultura. Com isso podemos levantar as seguintes

perguntas: há convergência entre o sistema descrito para Buenos Aires e o encontrado

em Oberá (Misiones/Argentina)? Quais são os fatores que selecionam o uso dos clíticos

olhando para uma e outra variedade?

2.4.6 Sistema pronominal da região rio-platense

Como mencionado anteriormente, em grande parte da Argentina se evidencia o

sistema pronominal que distribui o caso. Muitos autores, entre eles Martínez (2015),

comentam que a região do Rio da Prata, mais precisamente Buenos Aires, é uma zona

onde não há a “neutralização” do caso, sendo assim para o acusativo verifica-se

lo(s)/la(s) e para o dativo le(s).

Mas será esta uma região onde não se evidencia nenhum tipo de variação entre as

formas lo/la ~ le e o zero fonético? Ao que parece existe variação entre as formas

mencionadas. Martínez (2008) comenta que a variação responde a um conjunto de

fatores entre os quais se encontra o significado do verbo. Essa afirmação é também

discutida em Martínez (2015), obra em que a autora expõe que, no campo do acusativo,

a variação se dá com alguns verbos de afeição, tais como (lo/le molesta; lo/le preocupa),

e com alguns verbos de ação (lo/le ayuda; lo/le invita). Também evidencia-se em

algumas situações nas que o número de participantes envolvidos no evento é ambíguo

(lo/le hace tomar la sopa), (a José lo/le llaman Pepe) .

Martínez (2015) ainda comenta que nos últimos anos tem se observado uma

expansão da forma lo com os verbos que habitualmente construíam-se com a forma de

le, como "lo angustia, lo aconseja, lo reprocha, lo roban".

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77

No contexto de dois participantes, ou dois argumentos do verbo, Martínez (sem

data) comenta que o gênero jornalístico, que revela o maior ajuste aos cânones

normativos, manifesta, na variedade do rio-platense, uma tendência de mudança em

direção ao aumento da seleção de lo sobre le com verbos que implicam situações de

dois participantes. Assim com verbos como ajudar adverte-se a preferência pela forma

lo/la, inclusive em contextos de cortesia, nos que, segundo ela, espera-se, como

consequência do valor relativo de maior atividade de le sobre lo, a preferência pelo

emprego de le.

No que diz respeito à natureza do antecedente, ou ao traço de animacidade

[±animado], Martínez (sem data) aponta que, quando o antecedente é [+animado] e

[+humano], segundo ela mais ativo e muito agentivo, a tendência seria a presença do

clítico lo como forma de realizar o OD anafórico, e para antecedentes [inanimados],

segundo ela pouco ativos, seria um contexto apropriado para a seleção de le. Entretanto,

os resultados encontrados não necessariamente refletem esses critérios de seleção, como

podemos ver em (94) e (95):

(94) Naturalmente me imagino que la gente que tocaba sus obras no tenía ese coraje del cual hemos hablado, y eso debía molestarle mucho (La Nación 26-06-2002) apud (MARTÍNEZ, sem data).

(95) Pero hoy no hay nada que pueda molestarlo (La Nación 16-10-2006) apud

(MARTÍNEZ, sem data).

Martínez (sem data) conclui que, em contexto de dois participantes, pelo menos

em Buenos Aires, opera um deslocamento na direção à opção pelo clítico lo, que está

relacionado à necessidade de avaliar o grau de afetação do referente.

Já no contexto de três participantes, ou argumentos, Martínez (sem data), de modo

distinto aos demais autores mencionados neste trabalho, aponta que no gênero

jornalístico na variedade de Buenos Aires, o acusativo "se esconde". Por esse motivo, o

falante identifica somente dois participantes no evento e com isso utiliza a forma lo para

indicar o referente (96).

(96) a. Leyó usted como lo robaron en Pasadena quienes se encargaban de custodiar sus valores.

b. Hasta la medalla le robaron (La Nación, 19-01-2008 Comentarios a la nota: El rey ha muerto. (al ajedrecista Bobby Fischer) apud (Martínez, 2010)

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78

Vemos em (96) que o falante emprega o clítico lo quando não identifica

claramente os praticantes envolvidos no evento, o que também podemos explicar por

meio do número de argumentos que pede o verbo roubar. Em nosso entendimento, o

verbo roubar pede três argumentos, um externo (alguém) e dois internos (alguma coisa,

a alguém). No exemplo (96a) não fica claro quantos argumentos são selecionados, se

dois ou três, por isso a estratégia empregada é lo. Já no exemplo (96b) podemos notar

que o OD (alguma coisa) foi mencionado (la medalla), ou seja, não está “escondido”,

por isso o falante emprega a forma le para o objeto indireto.

Em síntese, para Martínez (2010) afirma que:

El acusativo “juega a las escondidas” y eso permite conceptualizar la escena como de dos participantes, polarizar grados de actividad y, en consecuencia, seleccionar la forma más apropiada para señalar al actante menos activo de dicha polarización: lo (la) (MARTÍNEZ, 2010: 10).

Creemos que la opacidad del tercer participante provoca ambigüedad respecto del número de actantes con los que el emisor conceptualiza la escena y, consistentemente, selecciona el clítico más coherente con su evaluación (MARTÍNEZ, sem data).

Além disso, Martinez (2006) adverte que existe também a possibilidade de

omissão do clítico na variedade rio-platense. Para a autora, o traço [±determinado] do

antecedente determina a presença do zero fonético em Buenos Aires (97) e (98).

Contudo, somente se limita a enunciar a possiblidade de que a categoria que realiza o

OD anafórico possa ficar vazia.

(97) No encuentro [trabajo]i pero voy a seguir buscandoØi (MARTÍNEZ, 2006:99) (98) Parece que hay [ruido en el pasillo]i. ¿[...] Escuchás? No, no Øi escucho

(MARTÍNEZ, 2006:99)

Contudo, Martinez (2013) menciona que ainda há um tipo de estudo a ser feito:

integrar ao jogo paradigmático a ausência do clítico. Segundo a autora, esse fenômeno é

produtivo em variedades em contato com línguas indígenas. À medida que o zero

aumenta o seu potencial no paradigma, outra categoria do mesmo paradigma o perde. A

análise a ser feita deveria discutir a ideia de que, em algumas variedades, existe o

processo de neutralização do sistema em um único clítico. O sistema segue ativo, nesses

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casos, no seu jogo com o zero por meio do qual os falantes podem (re)fazer as suas

escolhas sintagmáticas.

2.5 Síntese do capítulo

Neste capítulo apresentamos uma revisão das pesquisas já feitas sobre as

realizações do objeto direto anafórico de terceira pessoa na língua espanhola nas quais

nos baseamos para a análise dos nossos dados. Mais especificamente i) explicamos em

que consiste o objeto direto anafórico, o nosso objeto de estudo; ii) apresentamos as

cinco possíveis estratégias consideradas em nossa pesquisa explicando as três primeiras:

lo/la, le e zero fonético; iii) explicamos em que consiste o sistema de caso e o sistema

referencial e, de maneira sucinta, descrevemos a distribuição das estratégias em algumas

das variedades do espanhol.

Em síntese, vimos que algumas variedades que utilizam o sistema de caso usam a

forma lo/la para realizar o OD anafórico, estando a forma le reservada para o OI. Ainda

assim, a utilização de le para OD, fenômeno tradicionalmente conhecido como leísmo, é

aceita pela norma e consta de diversas gramáticas.

As variedades que utilizam o sistema referencial costumam ter um sistema mais

simplificado, com preferência por uma ou outra forma, sendo que essa simplificação se

acentua, através de sistemas mais sintéticos, em zonas de contato linguístico.

Nas variedades com esses sistemas referenciais, como vimos neste capítulo,

observamos que a distribuição das estratégias é condicionada por fatores diversos, com

especial destaque a fatores semânticos do antecedente, como animacidade, definitude e

especificidade.

Sobre a região que nos interessa particularmente neste trabalho, a região de

Oberá-Misiones (Argentina), zona de contato com o guarani contamos com descrições

mais generalizantes, que tratam da zona guaranítica, e mais especificas, referindo-se à

província de Misiones. Segundo Gómez Seibane (2012), como vimos na subseção

2.4.4.2, na região nordeste da Argentina, as formas encontradas para a realização do OD

seriam le(s) e zero. No que se refere a Misiones especificamente, Amable (1975)

corrobora as informações de Gómez Seibane (2012) e traz a informação de que a forma

le seria a estratégia mais produtiva para a realização do OD anafórico, isto é, em

Misiones haveria a generalização do uso desse clítico. Além disso, de acordo com

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80

Amable, a forma le, no singular, seria utilizada para retomar antecedentes tanto no

singular quanto no plural.

Quanto à atuação de fatores linguísticos no condicionamento das formas em

análise, segundo a literatura revisitada neste capítulo, para a região que nos interessa, o

fator animacidade do antecedente seria o responsável por explicar a distribuição entre le

e zero: antecedentes [+humanos] são retomados por le e antecedentes [inanimados] por

zero. No que se refere ao gênero do antecedente, a forma le pode ser utilizada tanto para

masculino quanto para o feminino. Os demais fatores, a definitude e a especificidade,

não são considerados na descrição do espanhol no nordeste da Argentina.

Diferentemente de outras variedades do espanhol, o clítico lo parece não pertencer ao

quadro de estratégias de realização do OD anafórico.

Vale deixar claro que, ainda que toda essa discussão seja de extrema relevância

para o nosso trabalho, está fora de nossas possibilidades verificar se o espanhol de

Oberá - Misiones (Argentina) se direciona para um ou outro sistema, isto é, para o

sistema distinguidor de casos ou para o sistema referencial. Para que isso fosse feito,

seria necessário incluir também as realizações do objeto indireto, o que extrapola o

escopo deste trabalho. Como tentamos mostrar, as variedades do espanhol de zonas de

contato com outras línguas costumam mostrar um sistema referencial mais simplificado,

sendo a seleção das estratégias guiada por informações (sobretudo semânticas) do

antecedente. Uma vez que Oberá se encaixaria nesse contexto, como foi possível ver no

capítulo 1 com as informações sobre os contatos históricos e mais recentes, partimos do

princípio de que nessa variedade opera um sistema referencial simplificado e não um

sistema de casos. O nosso intuito, no capítulo 4, é verificar, assim, como se configura

esse sistema e que informações do antecedente seriam relevantes para o

condicionamento das formas em variação.

Como não dispomos de trabalhos específicos sobre a região de Oberá -

lembrando-se que o único trabalho disponível é o de Amable (1975) para a província de

Misiones -, justificamos a realização desta investigação, de modo a contribuir para a

descrição do objeto de estudo e para o mapeamento da realização do OD anafórico em

variedades do espanhol que ainda não foram contempladas.

Nesse sentido, a partir da literatura sobre o tema, apresentamos agora as perguntas

norteadoras de nossa análise:

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81

1. Que estratégias de realização do OD anafórico podem ser encontradas na

variedade de Oberá-Misiones? O sistema dessa região se limitaria às formas le e

zero?

Ainda que essa seja a primeira pergunta que nos cabe fazer em um trabalho

sociolinguístico, isto é, a identificação das variantes de um determinado fenômeno

variável, como foi visto no capítulo 1, encontramos em Oberá além das formas le

e zero, descritas pela literatura sobre o tema, e das formas alternativas sintagma

nominal e demonstrativo, também o clítico lo. Nesse sentido, cabe investigar se a

sua produtividade é limitada e o que condiciona a sua realização.

2. Que fatores linguísticos e extralinguísticos condicionam o uso das diversas

estratégias de realização do OD anafórico de 3a pessoa no espanhol de Oberá?

3. A atuação do fator animacidade, como nos informa a literatura, se aplicaria na

distribuição entre le e zero, isto é, le seria mais utilizado com antecedentes

[+humanos] e zero com antecedentes [inanimados]?

4. Os fatores definitude e especificidade poderiam explicar o condicionamento das

formas em variação?

5. A forma le será encontrada tanto com antecedentes masculinos quanto

femininos?

6. A forma le, no singular, será encontrada com antecedentes no singular e no

plural?

7. Em que contextos o clítico lo/la é utilizado?

8. A variação no quadro de estratégia de realização do OD anafórico de 3a pessoa

em Oberá apontaria para um cenário de variação estável ou mudança em

progresso?

A partir da literatura disponível e de minha intuição como falante da região de

Oberá, partimos do principio de que as estratégias le e zero são as formas recorrentes

para a realização do OD anafórico de 3a pessoa. A forma lo, ainda que possa ser

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encontrada, estaria relacionada ao fator escolarização, sendo uma forma adquirida a

partir da escola. Nesse sentido, trabalharemos com as seguintes hipóteses gerais nesta

investigação:

1. As estratégias le e zero são as formas mais produtivas de realização do OD anafórico

no espanhol de Oberá;

2. A estratégia lo apresenta produtividade mais limitada;

3. A distribuição no uso de le e zero é sensível a fatores internos, sobretudo a

animacidade do antecedente: antecedentes com o traço [+humano] são

preferencialmente retomados por le; antecedentes com o traço [inanimado] são

retomados pelo zero;

4. O uso de lo é sensível a fatores externos, sobretudo o fator escolarização e gênero:

acreditamos que esta estratégia seja mais facilmente encontrada na fala de informantes

mais escolarizados e na fala de mulheres;

5. Na variedade de Oberá, o clítico le pode ser utilizado para retomar antecedentes no

masculino e no feminino. Quanto ao número, seguindo Amable (1975), a forma le no

singular pode ser empregada para retomar antecedentes no plural;

6. A variação no quadro das estratégias de realização do OD anafórico no espanhol de

Oberá não aponta para um cenário de mudança em progresso, mas sim de variação

estável. Acreditamos que as formas le e zero, com grande produtividade, se distribuem

respondendo a fatores mais internos, como a animacidade do antecedente. Partimos,

assim, do principio de que essa distribuição não é sensível ao fator faixa etária. A forma

lo, por outro lado, não estaria necessariamente em competição com as demais

estratégias, sendo pouco utilizada, sobretudo por falantes mais escolarizados e por

mulheres.

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83

3 Pressupostos Teórico-Metodológicos

O objetivo deste capítulo é apresentar o referencial teórico (seção 3.1) e os

procedimentos metodológicos (seção 3.2) utilizados neste trabalho. Na seção 3.1,

apresentamos o quadro teórico central no qual nos baseamos para a análise dos nossos

dados: a sociolinguística variacionista de base laboviana. Em seguida, em 3.2,

descrevemos a metodologia empregada para a elaboração do corpus, um breve perfil

dos informantes, os critérios de transcrição adotados, e, finalmente, os grupos de fatores

considerados em nosso trabalho.

3.1 Referencial teórico: Sociolinguística Variacionista de base laboviana

Uma vez que a nossa proposta é investigar um fenômeno variável - a variação no

quadro das estratégias de realização do OD anafórico de 3a pessoa - no espanhol de

Oberá, cabe-nos explicitar, nesta seção, os pressupostos teóricos que nos servem de base

para esta investigação linguística.

A sociolinguística é uma das correntes da linguística e é entendida como o estudo

da língua em seu contexto social, tendo como fim entender o modo pelo qual os fatores

gramaticais e sociais determinam os processos de variação e mudanças nas línguas. A

sociolinguística analisa os dados linguísticos produzidos naturalmente em um contexto

comunicativo, no eixo da interação, em estreita relação com as características sociais

dos falantes, tais como o gênero, o grau de escolaridade e o grau de familiaridade que

existe entre os participantes.

A sociolinguística entende a língua como um sistema heterogêneo que apresenta

inerentemente a variação (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 1968; LABOV, 1972;

1994). Isto é, a língua não é homogênea nem estática, senão variável e dinâmica. Isso,

no entanto, não significa que a língua seja um caos, ao contrario, há um sistema (uma

organização) por trás da heterogeneidade da língua. Disso implica dizer que há regras

variáveis que condicionam qualquer fenômeno de variação linguística.

Na perspectiva da sociolinguística variacionista de base laboviana (WEINREICH;

LABOV; HERZOG, 1968; LABOV, 1972; 1994), por variação entende-se a existência

de distintas possibilidades, estratégias ou recursos para expressar o mesmo valor de

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verdade. Trata-se de escolhas linguísticas diversas das quais dispõe os falantes na

comunicação. As formas em variação de um determinado fenômeno variável recebem o

nome de variantes linguísticas, ou seja, diversas maneiras de se dizer a mesma coisa em

um mesmo contexto e com o mesmo valor de verdade ou, em outros termos, mesmo

valor básico referencial.

A um conjunto de variantes dá-se o nome de variável linguística dependente. Em

nosso caso, por exemplo, a nossa variável dependente são as estratégias de realização

do objeto direto anafórico de 3a pessoa. As variantes seriam então as formas que estão

em competição: o clítico lo/la, o clítico le, o zero fonético, o sintagma nominal e o

demonstrativo. O uso de uma ou outra variante é influenciado por fatores linguísticos

(internos / estruturais) ou extralinguísticos (externos / sociais). Tais fatores constituem

as variáveis independentes. Toda variação é condicionada por fatores linguísticos

(animacidade, definitude, especificidade do antecedente etc) e extralinguísticos (idade,

gênero, escolaridade, familiaridade etc).

Dessa forma, a sociolinguística de base laboviana procura descrever

quantitativamente um fenômeno variável, tendo como objetivo analisar, apreender e

sistematizar as variantes linguísticas usadas por uma mesma comunidade de fala, assim

como o condicionamento para o uso de uma ou outra forma. Para tanto, é necessário

investigar a influência que cada fator, interno ou externo ao sistema linguístico, possui

na realização de uma ou de outra variante. Assim, a análise sociolinguística busca

estabelecer a relação entre o processo de variação que se observa na língua em um

determinado momento (sincronicamente) com os processos de mudança que estão

acontecendo na estrutura da língua ao longo do tempo (diacronicamente).

Os casos de variação podem levar a casos de mudança. Podemos resumir dizendo

que a variação é a competição entre uma forma A (conservadora) e uma forma B

(inovadora). Essas formas podem estar competindo ou coexistindo. Quando o quadro de

variação tende a se manter estável por um longo período de tempo e, portanto, A e B

convivem na mesma comunidade de fala, não se verifica uma tendência de

predominância de uma variante linguística sobre a(s) outra(s). A esse cenário dá-se o

nome de variação estável.

Por outro lado, já quando B suplanta os usos de A, o diagnóstico é de mudança em

progresso. Isso indica que uma das variantes tende a se generalizar e o seu uso torna-se

categórico dentro de uma comunidade de fala, o que faz com que as demais variantes

tenderiam a desaparecer ou a cair em desuso.

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85

Em princípio, para a investigação dos fenômenos variáveis em uma determinada

língua, parte-se de dados extraídos da fala espontânea dos indivíduos, isto é, do

vernáculo, uma vez que este "estilo" dedicaria o mínimo de atenção ao monitoramento

da fala. Por isso, alguns investigadores, assim como nós, buscam gravar o seus

informantes a partir de metodologias como a entrevista sociolinguística e a narrativa

espontânea, tentando, dessa forma, capturar as variantes mais frequentes na comunidade

a ser investigada.

Para estudar os fenômenos de variação e mudança linguística, Weinreich, Labov e

Herzog (WLH) (1968) propõe cinco problemas na Teoria da Variação e da Mudança,

como vemos a seguir:

i) O problema da transição ii) O problema dos fatores condicionantes iii) O problema do encaixamento iv) O problema da avaliação v) O problema da implementação

Segundo WLH (1968:122), todas as mudanças submetidas ao exame empírico

cuidadoso têm demostrado distribuição continua através de sucessivas faixas etárias da

população. Para os autores, entre quaisquer dos dois estágios observados de uma

mudança em progresso, o que se busca normalmente é o estagio intermediário que

define a trilha pela qual a estrutura A evoluiu para a estrutura B (problema i). Os

autores segurem determinar o conjunto de fatores e condições possíveis para a mudança

(problema ii). Para WLH, a mudança linguística sob investigação deve ser vista como

encaixada no sistema linguístico como um todo (problema iii). Através de testes de

julgamento subjetivo, pode-se perceber a reação dos falantes diante dos valores da

variável observada, de modo a se definir a tendência de mudança que essa avaliação

social favoreceria ou inibiria (problema iv). Finalmente, WLH (1968: 124) indicam que

uma mudança começa quando um dos muitos traços característicos de uma variação na

fala se difunde através de um subgrupo específico da comunidade de fala. Dessa forma,

esse traço linguístico assume uma certa significação social que simboliza os valores

sociais associados àquele grupo (problema v).

Dessa forma, o que a sociolinguística procura é avaliar em um determinado

cenário de variação se uma das variantes suplanta os usos da(s) outra(s), ou seja, se há

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86

uma mudança linguística, ou se as variantes A e B tendem a se manter em uso no ceio

da comunidade linguística, o que caracterizaria a variação estável.

Existem dois tipos de estudo para observar a variação e a mudança linguística. O

primeiro deles observa a variação sincronicamente, ou seja, num dado momento da

história; o segundo diacronicamente, ou ao longo da história. Postula-se que a variação

sincrônica pode refletir um processo de mudança em curso na língua, no plano

diacrônico. O que se busca é apreender o tempo real, onde se dá o desenvolvimento

diacrônico da língua, no chamado tempo aparente.

Podemos entender o tempo aparente como uma projeção, isto é, a partir do tempo

aparente pressupõe-se que as diferenças no comportamento linguístico de gerações

diferentes de falantes num determinado momento podem refletir diferentes estágios do

desenvolvimento histórico da língua. Com isso, podemos considerar que a fala das

pessoas que tem mais de 40 anos de idade hoje reflete diretamente a fala das pessoas de

20 anos há 20 anos atrás, e por isso a fala daquelas pessoas pode ser comparada com a

fala das pessoas de 20 anos de idade hoje.

Por essa razão, em nosso estudo analisamos a fala de três gerações diferentes. A

primeira delas tem menos de 20 anos de idade, a segunda mais de 20 anos e menos de

50 anos de idade, e a terceira mais de 50 anos de idade. Assim, buscamos determinar se

as formas que constituem o quadro variável de estratégias de realização do OD

anafórico de 3a pessoa estão em variação estável ou se está ocorrendo um processo de

mudança na sociedade de Oberá, por isso a faixa etária é fundamental em nossa análise.

Procurando apreender, descrever e sistematizar quantitativamente o quadro de

estratégia de realização do OD anafórico em questão, visando captar o vernáculo do

falante, em 2015 elaboramos o corpus do nosso estudo empregando as metodologias

apresentadas na próxima seção.

3.2 Metodologia

A perspectiva teórica do nosso trabalho está baseada na Teoria da Variação e

Mudança (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 1968; LABOV, 1972; 1994), que diz

que toda língua tem uma estrutura heterogênea que é ordenada por regras variáveis.

Uma mudança não ocorre aleatoriamente, senão de forma que possa ser descrita e

explicada, além disso, essas mudanças obedecem a determinados padrões. Uma língua

não varia e não muda em qualquer direção. Dentro da perspectiva variacionista,

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entende-se que a variação possui um caráter sistemático e controlado e cabe ao

sociolinguista entender, descrever e explicar essa sistematicidade, assim como

depreender os padrões que a governam.

No modelo de análise proposto por Labov, que considera a língua em uso no

seio das comunidades de fala, a atenção é voltada para um tipo de investigação que

correlaciona aspectos linguísticos e sociais (MOLLICA; BRAGA, 2003:9). Foi William

Labov quem insistiu na relação entre língua e sociedade e na possibilidade, virtual ou

real, de se sistematizar a variação existente e própria da língua falada (TARALLO,

2004:7).

Uma das questões dentro da sociolinguística é: como entender a variação que

existe em cada língua? Os sociolinguistas preocupam-se em responder a essa pergunta,

e a razão dessa preocupação se justifica pelo fato de se ter de observar um fenômeno

dinâmico em seu ambiente natural. Na sociolinguística, o enigma análogo é o que

William Labov denomina o paradoxo do observador, que diz: como podemos observar

a maneira como as pessoas falam quando elas estão sendo observadas?

Esse enigma surge uma vez que, para a sociolinguística, a linguagem é sempre

sensível às relações sociais entre os participantes em um evento de fala. Assim, a

entrevista sociolinguística, modelada no formato desenvolvido por William Labov para

os seus estudos nas cidades inglesas de Nova York, é uma das técnicas mais comuns

para coletar amostras de fala. Na entrevista, o pesquisador fala com o informante,

buscando extrair amostras de vários tipos de discursos.

3.2.1 Corpus

Nesta subseção, apresentamos os procedimentos adotados neste trabalho para a

constituição do corpus, assim como os critérios de transcrição das entrevistas.

3.2.1.1 Metodologia para a constituição do corpus

Em 2015 elaboramos um corpus representativo da fala de Oberá-Misiones

(Argentina). Entrevistamos vinte e dois (22) informantes, mulheres e homens, de

diferentes faixas etárias (entre 15 e 62 anos de idade), com diferentes graus de

escolaridade (ensino fundamental, médio e superior). Em um primeiro momento,

pensamos em empregar duas metodologias separadamente: uma entrevista

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sociolinguística e uma narrativa espontânea. No entanto, ao iniciarmos a coleta de

dados, percebemos que o melhor seria alocar a narrativa espontânea dentro da entrevista

sociolinguística, tal como é previsto pela sociolinguística. Essa decisão foi tomada pelos

seguintes motivos:

i) Percebemos que muitas das respostas da entrevista sociolinguística traziam

como resposta “sim” ou “não”, isto é, não havia produção das variantes

estudada;

ii) Adotando a narrativa espontânea isoladamente, o informante não se sentia

confortável ao ponto de narrar um fato da sua vida ou uma experiência

vivenciada, já que não era uma situação natural de comunicação;

iii) O tempo da entrevista somado ao tempo da narrativa espontânea seria muito

prologando, o que tomaria muito tempo do informante;

iv) Na narrativa espontânea o informante está tão envolvido emocionalmente com

o que relata que presta o mínimo de atenção ao como o faz. Isso ajuda na coleta

de dados da variável estudada.

3.2.1.1.1 Entrevistas sociolinguísticas

Segundo Tarallo (2004), para atingir os propósitos metodológicos podem-se

formular módulos (ou roteiros) de perguntas: um questionário-guia de perguntas. Esses

módulos têm por objetivo homogeneizar os dados de vários informantes, sendo possível

compará-los posteriormente. Também têm como objetivo controlar os tópicos de

conversação e, em especial, provocar narrativas de experiências pessoais.

Como mencionado anteriormente, em 2015 formulamos um módulo de

perguntas para a coleta de dados do nosso trabalho. O roteiro que utilizamos teve como

base o mesmo empregado na constituição do Corpus Concordância da Universidade

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)14. O módulo cobre uma série de tópicos para fins de

conversação, entre eles características do bairro ou cidade, dados sobre violência,

esportes, transporte, lazer, profissão, política, relações familiares, infância, religião e

linguagem. Como o roteiro base estava em português tivemos que adaptá-lo ao grupo

etnográfico que iriamos estudar; sendo assim, traduzimos as perguntas ao espanhol

14 O Corpus Concordância encontra-se disponível em: <http://www.concordancia.letras.ufrj.br>.

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levando em conta a idade do informante, o gênero do mesmo, o grau de proximidade

interpessoal (±familiaridade), o papel social e a classe social (BROWN; LEVINSON,

1987; BROWN; GILMAN, 1960; GOFFMAN, 1980).

A seguir reproduzimos o roteiro de entrevistas aplicado no ano de 2015 em

Oberá:

I. BAIRRO/ CIUDAD/ VIOLENCIA/ OCIO Y DEPORTES/ TRANSPORTE

1. ¿Qué te/le parece el barrio/ ciudad donde vivís/vive? ¿Hay mucho ruido? ¿es silencioso? Si hay ruido eso molesta? ¿A quien y por qué?

2. Con la violencia de los últimos tiempos, ¿Qué te/le parece el barrio? ¿El barrio es tranquilo o hay mucha violencia? ¿Por qué?

3. ¿Conocés/conoce a alguien, o ya escuchaste/escuchó hablar sobre alguien que no sale a la calle por miedo a la violencia?

4. ¿Vos/usted (o alguien que conozcas/conozca) ya fuiste/fue asaltado? ¿Podrías/podría contarme un asalto que te/le pasó a vos/usted o a alguien conocido?

5. ¿Cómo son las opciones de ocio en el barrio?¿El barrio/ciudad tiene plazas/plazoletas, campo de futbol, teatro, cine, etc.?

6. ¿Qué acostumbrás/acostumbra hacer la gente en los fines de semana? ¿Qué se podría hacer para mejorar las opciones de ocio?

7. ¿Cómo es la educación en la localidad? ¿Cómo son las escuelas? ¿Qué hacen los profesores para ayudar en la educación de los jóvenes a tu/su modo de ver?

8. ¿Creés/cree que las escuelas privadas son mejores que las públicas? ¿Por qué? 9. ¿ Has/ha tenido alguna experiencia clínica en los últimos tiempos,

podrías/podría compartirla? ¿Has/ha tenido que consultar al médico por problemas menores?

10. ¿Cómo es el transporte acá? ¿Qué hace falta para mejorar el transporte?

II. PROFESIÓN

11. ¿Cuál es tu/su profesión? 12. ¿Cómo son las actividades diarias de tu/su profesión? 13. ¿Cuáles son las principales dificultades? 14. ¿Cuáles son las principales ventajas? 15. ¿Estás/está satisfecho con tu/su profesión? 16. ¿Qué hacés/hace para complacer a tus/sus alumnos cuando das/da una clase, o a

un nuevo profesor? 17. ¿ Hay algo que desagrada a los alumnos cuando das/da una clase? 18. ¿ Qué hacés/hace para convencer a los alumnos a que se decidan a la hora de

estudiar una lengua? ¿Y para que se distraigan cuando das/da clases?

III. POLÍTICA / SOCIEDAD / COSTO DE VIDA

19. ¿Qué opinás/opina sobre la vida política (local/nacional)?

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20. ¿El país mejora o empeora? 21. ¿Qué se podría hacer para mejorar? 22. ¿Cómo es el costo de vida?

IV. FAMILIA / RELACIONES / INFANCIA

23. ¿Qué opinás/opina sobre las familias actuales? 24. ¿Qué es mejor: la vida familiar actual o la de antiguamente? 25. ¿Por qué aumentó tanto el número de divorcios? 26. ¿Es más fácil educar a los hijos en la actualidad? 27. ¿Qué hace falta para educar bien a los hijos? 28. ¿Podrías/podría contarme una historia de tu/su infancia/adolescencia/algo que

te/le marcó?

V. UTOPIAS

29. ¿Cuáles son tus/sus sueños en relación a tu/su vida profesional? 30. Por hablar en sueños, ¿Acostumbrás/acostumbra soñar al dormir? 31. ¿Podrías/podría contar algún sueño (interesante/diferente) que ya tuviste/tuvo? 32. ¿Te/le gustaría conocer algún lugar diferente?

VI. LENGUAJE

33. ¿Notás/nota algunas diferencias entre el habla de la gente de acá y la de otros lugares? ¿Y en Buenos Aires con relación a las otras provincias?

34. ¿Cuáles son los acentos que más te/le gustan? ¿Por qué? ¿Hay alguno que no te/le guste? ¿Por qué? ¿Creés/cree que hay algunos acentos más lindos que otros? ¿Cuáles son los más lindos y cuáles los más feos?

35. ¿Creés/cree que hay lugares que hablan mejor el español que en otros lugares? ¿Qué lugares serían esos?

36. ¿Alguna vez ya intentaste/intentó cambiar algo en tu forma de hablar? 37. ¿Alguna vez alguien intentó cambiar algo en tu/su forma de hablar? ¿Quién fue:

padres, parientes, amigos, profesores…? 38. ¿Creés/cree que cambiás/cambia tu/su forma de hablar de acuerdo con la

situación en la que te/se encuentres/encuentre?

Uma vez que uma conversação inclui regularmente um falante e um ouvinte, ou

um escritor e um leitor dependendo do tipo de texto produzido – oral ou escrito –, não é

surpreendente que a língua seja sensível às relações entre os participantes no evento de

fala. A escolha da forma apropriada de uma mensagem pode ser modificada para

expressar um amplo escopo de atitudes do falante em relação ao ouvinte. Sendo assim,

as formas de tratamento de segunda pessoa do singular – vos e usted –, que são as

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formas empregadas na Argentina15 (FONTANELLA DE WEINBERG, 2004), foram

selecionadas pelo entrevistador dependendo do informante. Por essa razão, observa-se

nas perguntas acima a variação nas formas de tratamento. A forma de voseo (vos) é

empregada em contexto de maior proximidade interpessoal (amigo, colega, irmão),

mesma idade ou idade inferior à do entrevistador e/ou mesma classe social. A forma

usted é empregada em um contexto de menor proximidade interpessoal (professor,

diretor, conhecido mais distante, amigo de algum familiar), idade mais alta que a do

entrevistador e/ou classe social diferente.

Pergunta 11: ¿Cuál es tu/su profesión? Pregunta 39: ¿Qué opinás/opina sobre las familias actuales?

Segundo Tarallo (2004), o proposito do método da entrevista sociolinguística é de

minimizar o efeito negativo provocado pela presença do pesquisador na naturalidade da

situação da coleta de dados. Assim, seja qual for a natureza da situação da comunicação,

seja qual for o tópico central da conversa, seja quem for o informante, o pesquisador

deverá neutralizar a força exercida pela presença do gravador e por sua própria presença

como elemento estranho à comunidade.

Desta forma, buscando a neutralização supracitada, empregamos para a

constituição do corpus do nosso trabalho o programa O’cam, que serviu para a gravação

das falas dos informantes. O que nos levou a escolher esse sistema foi o fato de que ele

pode ser usado no computador, eliminando o gravador clássico; além disso, contribuiu

na escolha o fato de ficar invisível na tela do mesmo. Foi possível, também, empregar

mais um método de distração para o informante. Para isso, elaboramos uma

apresentação em Power Point com imagens que estavam de certa forma vinculadas às

perguntas da entrevista sociolinguística. Muitas delas refletiam a realidade do lugar,

como algumas paisagens, hábitos, costumes e pessoas conhecidas pela comunidade de

fala. Dessa forma, notamos que o informante se sentiu mais relaxado e por momentos

parecia esquecer que estava sendo gravado.

Os tópicos selecionados para fins da conversação também foram pensados com

antecedência, mas sofreram algumas modificações ao longo da entrevista. O contexto

conversacional, as experiências, as opiniões fizeram que uma entrevista fosse diferente

da outra. Alguns falantes se sentiram mais à vontade durante a gravação e outros mais 15 Ver Fontanella de Weinberg (2004). "El español de la Argentina y sus variedades regionales".

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tímidos. Assim, cada uma das entrevistas apresenta uma variedade de temas e uma

ordem de perguntas diferente. Por exemplo, a pergunta (1) do módulo I foi concretizada

da seguinte forma na constituição do corpus:

Informante 1:

Entrevistadora: Bueno entonces a: empezamos entonces mi investigación va a ser sobre Oberá específicamente vamos a hablar un poquito sobre nuestro barrio ¿Qué le parece ¿Qué opina sobre nuestro barrio ¿Le gusta no le gusta? Informante 1: Me gusta mi localidad Campo Ramón me gusta todo nací acá así que soy autóctona de acá por eso me orgullo me gusta Entrevistadora: Hay e: si vamos a hablar por ejemplo de cuestiones puntos negativos y puntos positivos ¿Cuáles puede citar negativos y positivos de vivir en su en su localidad? Informante 1: En realidad negativos no los veo sino que son oportunidades e: por ejemplo e: el gran crecimiento poblacional que está dando son oportunidades e: hay grandes asentamientos de personas que se trasladan de un lado a otro por ejemplo de las chacras van a hacer pueblos ((ruido)) a son oportunidades son situaciones e: digamos de cambios de políticas que antes no existían y que ahora se están dando y: que digamos no somos muy conscientes de que esos cambios se van haciendo pero digamos concretándolo con por ejemplo antes había una política poblacional de de colonizar las tierras entonces se regalaban las tierras los montes para que la gente venga a poblar y ahora e: están una onda o una nueva forma de colonización que sería urbanización todos nos queremos venir a una zona urbana entonces salimos a: de las chacras e ((ruido)) que se están que han pasado generaciones viviendo ahí para venir a vivir a la zona urbana o sea son distintas políticas que se van concretizando quizás nosotros no somos conscientes pero sí ayudamos a que se vayan concretando esas ideas no

Informante 5:

Entrevistadora: Bien M. Usted ¿Qué opina usted de nuestro barrio? De acá de Villa Bonita ¿Le gusta vivir acá? Informante 5: A mí me gusta vivir acá por la tranquilidad que todavía tenemos acá en mi casa acá en esta manzana porque del otro lado ahí ya no es igual que acá Entrevistadora: ¿Qué pasa del otro lado? Informante 5: El ruido de la música por ejemplo es constante la: mujeres ahí del otro lado de la calle hay muchas mujeres sola y esas hacen un ruido tremendo Entrevistadora: Y eso molesta? Informante 5: Eso molesta a mí me molesta

Informante 16:

Entrevistadora: dígame T usted ¿Qué opina de del barrio donde vivimos? Informante 16: Y para mí es lindo porque yo vivo acá Entrevistadora: Y según usted ¿Tiene puntos positivos y puntos negativos vivir en este barrio?

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Informante 16: para mí igual Entrevistadora: Igual ¿no hay? Informante 16: No hay hay diferencia Entrevistadora: Diferencia pero por ejemplo alguna cosa que: que le moleste de nuestro barrio? Informante 16: ¿Que me moleste? Entrevistadora: mmm Informante 16: Lo único que me molesta es que no arreglan el camino ((ruido))

Percebe-se que tanto a maneira de formular a pergunta e a resposta são diferentes.

A informante (1) fala muito mais do que as informantes (5) e (16). Em alguns

momentos, eu, a entrevistadora, precisei fazer mais perguntas buscando que o

informante falasse; em outros, o entrevistado falou por um longo tempo sem precisar da

minha intervenção.

3.2.1.1.2 Narrativas espontâneas

Como mencionado anteriormente, a narrativa espontânea é uma metodologia

prevista pela sociolinguística de Labov. Segundo Tarallo (2004), a narrativa de

experiência pessoal é a mina de ouro que o pesquisador-sociolinguista procura. Isso

porque, segundo o mesmo autor, ao narrar suas experiências pessoais, ao colocá-las no

gênero narrativa, o informante desprende-se de qualquer preocupação com a forma. A

desatenção à forma, no entanto, vem sempre embutida numa linha de relato, a que

chamaremos de “estrutura narrativa” (TARALLO, 2004:23).

Em nosso trabalho, a narrativa espontânea é motivada a partir da pergunta (28)

¿Podrías/podría contarme una historia de tu/su infancia/adolescencia/algo que te/le

marcó?, mas não somente. Alguns informantes narram experiências pessoais em mais

de uma ocasião como demonstram os exemplos a seguir.

Informante 7:

a) Entrevistadora: Y ¿qué pasó aquel día? Informante 7: Y aquel día viste que yo no tenía nada que ver con ese tema de ellos sino el que estaba violento era el T aquel y Y porque quería quedar capataz él quería manejar y hacer todo él y un tipo que no tiene ninguna responsabilidad de nada entonces fue a atacarme allá por causa de trabajo viste y ese me atacó agarré dejé todo y me fui que ((ruido)) ahora que pasa no tiene nada y ahora anda por ahí alquilando no tiene casa

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b) Entrevistadora: Bien muy bien a: antes que cambiemos a este paso ¿usted tiene alguna experiencia de la infancia que quiera contarme o después de sus tantas experiencias de cuando era joven que quiera contarme? Termine de contarme aquella historia del del pombero ayer que me empezó a contar cuénteme ((ruido)) Informante 7: Viste que el: yo viste yo siempre quise que mi familia esté bien entonces vino/ un día nosotros tarefeaba/ T no estaba todavía conmigo yo estaba solo yo dije bueno yo quiero tener plata yo quiero vivir bien yo quiero ganar plata y tener ((ruido)) entonces fue un tipo ((ruido)) y dijo yo hago mil kilos de yerba por día mil y pico de yerba por día y el trabajo que yo hago me rinde yo le dije “y como vos hacés?” “Vos sos mi amigo yo no quiero que vos cuente para nadie pero él te va a perjudicar te va: no sé con qué vas a hacer pero” así que dijo bueno vamos en el monte y yo te voy a: ... y fuimos viste en el monte lejísimo de noche a las doce de la noche con luna nueva oscuro que no se ve nada fuimos por por una picada entramos en el monte virgen dijo vos llevá dos metros de tabaco una botella de caña y un paquete de cigarrillo y llevé y bueno así se sentó de mí viste hablaba que sea como nosotros estamos hablando yo no sé que era pero él me hablaba me dijo yo de voy a ayudar dijo donde sea en violencia en pelea en trabajo en cuidado de de calle donde vos anda dijo ((ruido)) protegido yo te voy a proteger pero vos tenés/ no me vaya a fallar dijo porque yo cada semana yo quiero un metro de tabaco y un litro de caña y un paquete de cigarrillo en tal piedra yo le digo vamos allá a ver bueno cuando yo me cambiaba yo le dije y te voy a llevar así en tal parte en tal monte allá así así ahí te voy a dejar bueno y al otro día llegué allá y no estaba bueno cuando yo me acompañé con TM la noche que yo me acompañé con ella dice que era una hembra era una pandera porque que no le quería a ella porque vino hizo despelote en la casa del viejo movió unos cajón de hierro allá ... y man/ llevó una perrita de ella que nunca más encontró para nada se encontró nunca más y bueno y yo me iba a tarefear a caminar allá en el rosado yo hacía mil doscientos kilos de yerba caminando viste yo no tarefeaba para ((ruido)) yo caminaba y hacía comía bien tenía plata no tenía problema bueno yo me fui a vivir allá abajo cuando en la parte de B allá viste yo venía acá en la casa de K de noche yo voy y vuelvo de noche cuando silbó mi compañero yo paro me quedo ahí ... tengo algo en el camino que me ... y cuando él sigue caminando yo me voy junto y él camina delante mío y se va ((ruido))

Os dois exemplos são do informante 7. A primeira narrativa é motivada pela

pergunta do entrevistador “Y ¿qué pasó aquel día?”, e a segunda pela pergunta prevista

na elaboração do corpus sobre a experiência pessoal. Percebe-se que a segunda, neste

caso, tem uma extensão maior, mas cabe apontar que nem todas as entrevistas

apresentam narrativas tão extensas quanto a do exemplo acima. Isso poderia ser

explicado pela proximidade interpessoal dos envolvidos no ato de fala. O informante

pertence ao núcleo familiar da entrevistadora, o que pode ter feito com que o sujeito se

sentisse mais à vontade durante a gravação.

Cabe ressaltar que o emprego da forma de tratamento usted, neste caso, pode ser

entendido como sendo de maior respeito. É comum em Oberá que os mais jovens usem

essa forma de tratamento para se dirigirem às pessoas mais adultas e especialmente dos

filhos com os pais. Ainda que seja uma forma de respeito em relação à faixa etária do

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destinatário, é utilizada em ambientes mais íntimos e familiares, em vínculos sociais

mais estreitos.

Segundo Labov, a estrutura narrativa constitui-se das seguintes partes: resumo,

orientação, complicação da ação, resolução da ação, avaliação e coda. Entretanto, neste

trabalho não destacamos cada uma dessas partes para verificar se o texto é narrativo ou

não. Consideramos que um texto faz parte do gênero narrativa quando: apresenta os

verbos no pretérito, como había, tenía, jugábamos, salíamos, trabajaba; possui um

marcador temporal do tipo aquel día, un día, una vez; e apresenta um começo, ou

apresentação do problema, o desenvolvimento e a resolução do problema.

3.2.1.2 Breve perfil dos informantes

A pesquisadora é uma pessoa que nasceu em Oberá e ainda tem familiares e

amigos que moram na região. Portanto, não é um elemento tão estranho à comunidade,

pois vários dos informantes a conhecem. O vínculo com alguns dos informantes é de

mais familiaridade.

Em 2015, eu fui até Oberá, Misiones-Argentina, e gravei vinte e dois (22)

informantes para constituir o corpus da nossa pesquisa. No entanto, desse total somente

dezenove (19) entrevistas fazem parte do mesmo, já que três (3) apresentaram

problemas de áudio, o que impossibilitou a elaboração da transcrição, tendo, assim, de

ser descartadas.

Os critérios empregados para a constituição da amostra respeitam três variáveis

extralinguísticas – faixa etária, nível de instrução e gênero do informante:

Faixa etária Nível de escolaridade Gênero A = menos de 20 anos

de idade 1 = Fundamental

(completo/incompleto) masculino/feminino B = mais de 20 anos

e menos de 50 anos de idade

2 = Médio (completo/incompleto) masculino/feminino

C = mais de 50 anos de idade

3 = Superior (completo/incompleto) masculino/feminino

Quadro 11. Critérios empregados para a constituição da amostra.

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Infelizmente, não foi possível completar todas as células previstas. O nosso mapa

de informantes organizados pelas células sociolinguísticas está disponível no quadro

abaixo:

Escolaridade/ idade/gênero

Nível 1 de escolaridade

Nível 2 de escolaridade

Nível 3 de escolaridade

mulher homem mulher homem mulher homem

Faixa A

I10 (19 anos)

I3 (19 anos)

I6 (19 anos) / I12 (19 anos) / I13 (18 anos)

Faixa B

I9 (22 anos)

I8 (31 anos)

I14 (30 anos)

I17 (21 anos)

I4 (23) anos/

I11(25) anos

Faixa C

I5 (52 anos) / I16 (56 anos)

I7 (62 anos)

I2 (50 anos) / I18 (58 anos) / I19 (56 anos)

I1 (49 anos) / I15 (54 anos)

Quadro 12. Mapa de informantes organizados por células sociolinguísticas.

O corpus utilizado constitui-se de dezenove (19) gravações de entre trinta (30) e

cinquenta (50) minutos. Observa-se que há células que não foram preenchidas, isso

porque durante a coleta de dados encontramos algumas dificuldades:

i) Não foi fácil encontrar informantes com menos de vinte (20) anos de idade

com nível de escolaridade 1 que estivessem dispostos a ser entrevistados. As

pessoas demonstraram uma certa resistência a responder as perguntas e a serem

gravadas;

ii) Foi difícil falar com homens com menos de vinte (20) anos de idade e com

nível 3 de escolaridade. Não sabemos se há menos homens do que mulheres

que se encaixem nesse critério, ou se as mulheres são mais prestativas;

iii) Não encontramos informantes que preenchessem o critério "mulher" com mais

de vinte (20) anos de idade e com nível de escolaridade 1;

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iv) Não encontramos informantes que preenchessem o critério "homem" com

mais de vinte (20) anos de idade e com nível de escolaridade 3;

v) Não encontramos informantes, "homem" e "mulher", que preenchessem o

critério mais de cinquenta (50) anos de idade e com nível de escolaridade 2;

vi) Durante o mês em que estivemos fazendo a coleta de dados, choveu muito na

cidade, e como esta é uma cidade pequena do interior, foi difícil chegar até a

casa de alguns dos informantes. Uma vez que estávamos com o computador e

sem meio de transporte particular, algumas entrevistas foram canceladas;

vii) Em algumas ocasiões, fizemos um agendamento prévio para a realização da

entrevista, mas ao chegarmos ao local onde seria realizada a mesma o

informante encontrava-se ausente;

viii) Como é uma cidade do interior onde a mão-de-obra remunerada constitui-se

majoritariamente por homens, as mulheres ficam em casa cuidando dos

afazeres domésticos. Acreditamos que por essa razão foi mais fácil encontrar

as mulheres do que os homens em casa;

ix) Devido à falta de informantes que preenchessem alguns dos critérios

planejados, decidimos entrevistar aqueles que se mostraram dispostos a

participar das entrevistas. Em algumas ocasiões encontramos dois sujeitos na

mesma residência, por acaso, ou não, eram mulheres, por essa razão alguns

deles pertencem à mesma família;

x) Em algumas ocasiões achamos nosso informante por dica de um primeiro.

Isto é, ao entrevistar alguém, este dava-nos a dica de outro sujeito que poderia

participar da coleta de dados.

Assim, decidimos gravar o máximo de pessoas que de alguma ou de outra maneira

preenchessem os critérios planejados. Acreditamos que, ainda que haja diversas lacunas,

a nossa amostra seja minimamente representativa da comunidade de fala de Oberá -

Misiones.

Vejamos o perfil dos informantes entrevistados:

Informante 1:

Homem de quarenta e nove (49) anos de idade. Professor de nível 1 de

escolaridade (ensino fundamental). Trabalha como docente há vinte e três anos.

Atualmente tem uma agência de “loteria” na pequena cidade de Villa Bonita. Casado e

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não tem filhos. O grau de proximidade com a pesquisadora é de maior distância

interpessoal, mas existe um vínculo (ex)professor-(ex)aluna, já que a investigadora foi a

sua aluna no nível inicial aos 7-8 anos de idade.

Informante 2:

Mulher de cinquenta (50) anos de idade. Professora de ética e diretora, com nível

2 de escolaridade (ensino médio). Realizou vários cursos de especialização na sua área.

Entende português, mas não fala a língua. Atualmente encontra-se em processo de

afastamento da instituição por motivos pessoais. Viúva e mãe de um filho. O grau de

proximidade com a pesquisadora é de maior distância interpessoal, mas existe uma

relação (ex)professora-(ex)aluna, já que a entrevistadora foi a sua aluna no ensino

médio aos 13-14 anos de idade.

Informante 3:

Homem de dezenove (19) anos de idade. Possui o ensino médio completo.

Estudou no colégio público da cidade de Villa Bonita (Oberá), entende português, mas

não fala a língua. Atualmente trabalha no setor rural, autodenomina-se um “changarín”,

ou seja, uma pessoa que não tem um trabalho fixo. Solteiro e não tem filhos. O grau de

proximidade com a pesquisadora é de maior distância interpessoal e menor

familiaridade.

Informante 4:

Mulher de vinte e três (23) anos de idade. Faz um professorado para lecionar no

ensino fundamental. Mora em Villa Bonita, mas estuda em Oberá, ou seja, no centro da

cidade. Entende português, mas não fala a língua. É mãe solteira de uma menina, mora

com os pais e com uma irmã solteira. Fez estágio em uma escola privada num bairro

pequeno, mas ainda não tem um emprego fixo. O grau de proximidade com a

pesquisadora é de maior distância interpessoal e menor familiaridade.

Informante 5:

Mulher de cinquenta e dois (52) anos de idade. Possui o ensino fundamental

completo. Entende português, mas não fala a língua, tem conhecimento básico do

guarani, já que o seu pai e tio falavam a língua em casa. É casada e mãe de seis (6)

filhos. Mora em Villa Bonita, mas nasceu em uma cidade do setor rural. Atualmente

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trabalha como auxiliar de enfermagem em Oberá, ou seja, no centro da cidade. Saiu do

país (Argentina) quatro vezes, mas por períodos muito curtos. O grau de proximidade

com a pesquisadora é de menor distância interpessoal e maior familiaridade.

Informante 6:

Mulher de dezenove (19) anos de idade. Faz uma licenciatura em Letras na capital

da província (Posadas). Mora com os pais em Villa Bonita, mas durante a semana se

aloja em uma apartamento naquela cidade. Atualmente não tem trabalho fixo. Está no

segundo ano da licenciatura, estuda português. Solteira e não tem filhos. O grau de

proximidade com a pesquisadora é de maior distância interpessoal e menor

familiaridade.

Informante 7:

Homem de sessenta e dois (62) anos de idade. Possui o ensino fundamental

incompleto, não sabe ler nem escrever, sabe matemáticas, entende português e fala

"portunhol". Casado e pai de seis (6) filhos. Mora em Villa Bonita e trabalha no setor

rural, em construções, em jardinagem, eletricidade, mas não tem um emprego fixo. Saiu

do país (Argentina) quatro vezes, mas por períodos muito curtos. O grau de

proximidade com a pesquisadora é de menor distância interpessoal e maior

familiaridade.

Informante 8:

Mulher de trinta e um (31) anos de idade. Possui ensino médio completo, entende

português, mas não fala a língua. É solteira e mãe de uma menina. Atualmente é

proprietária de um bar em Villa Bonita, onde mora. O grau de proximidade com a

pesquisadora é de maior distância interpessoal e menor familiaridade.

Informante 9:

Homem de vinte e dois (22) anos de idade. Possui o ensino fundamental

incompleto. Atualmente estuda à noite num curso para adultos. Nasceu em outra

província, mas mora em Villa Bonita desde criança. É solteiro e não tem filhos.

Trabalha como ajudante de pedreiro. O grau de proximidade com a pesquisadora é de

maior distância interpessoal e menor familiaridade.

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100

Informante 10:

Mulher de dezenove (19) anos de idade. Está cursando o quarto ano do ensino

médio no colégio público de Villa Bonita. Entende e estuda português, mas diz que não

fala a língua. Não trabalha e mora com os pais, é solteira e não tem filhos. Saiu algumas

vezes da província (Misiones), mas por períodos curtos de tempo. O grau de

proximidade com a pesquisadora é de menor distância interpessoal e maior

familiaridade.

Informante 11:

Mulher de vinte e cinco (25) anos de idade. Possui o ensino superior completo.

Fez uma licenciatura em inglês. Atualmente trabalha em uma escola na fronteira com o

Brasil, onde ensina a língua inglesa no nível fundamental. É solteira, não tem filhos,

mora em Oberá , ou seja, no centro da cidade há três anos, e fez o ensino médio em

Villa Bonita. Entende português, mas não fala a língua. O grau de proximidade com a

pesquisadora é de maior distância interpessoal e menor familiaridade.

Informante 12:

Mulher de dezenove (19) anos de idade. Possui o ensino superior em curso, estuda

medicina em outra província (Corrientes). Nasceu em outro munícipio de Oberá

(Campo Viera), mas ao 8 anos de idade foi morar em Oberá, ou seja, no centro da

cidade. Fez o ensino médio no setor privado e atualmente o ensino superior também no

setor privado. Filha de imigrantes europeus de terceira geração. Não fala a língua da

família. O grau de proximidade com a pesquisadora é de maior distância interpessoal e

menor familiaridade.

Informante 13:

Mulher de dezoito (18) anos de idade. Possui ensino superior em curso. Estuda

comunicação social na capital da província (Posadas). Mora com os pais e com uma

irmã que é mãe solteira em Villa Bonita, mas durante a semana se aloja num

apartamento na cidade onde estuda. Entende português, mas não fala a língua. Não fala

inglês, mas gostaria de aprender. O grau de proximidade com a pesquisadora é de maior

distância interpessoal e menor familiaridade.

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101

Informante 14:

Mulher de trinta (30) anos de idade. Possui o ensino médio completo e fez cursos

de informática e secretariado por dois (2) anos. Nasceu em outro município da

província, mas aos quatorze (14) anos foi morar em Villa Bonita. Não fala nem entende

português, tem familiaridade com o guarani. Atualmente trabalha num local de vendas

de roupas do qual é proprietária em Villa Bonita. É casada e tem filhos. O grau de

proximidade com a pesquisadora é de menor distância interpessoal e maior

familiaridade.

Informante 15:

Homem de cinquenta e quatro (54) anos de idade. Possui ensino médio completo.

Não fala, mas entende português. Atualmente trabalha como jornalista de uma rádio em

Villa Bonita, da qual é o proprietário. É solteiro e tem filhos. O grau de proximidade

com a pesquisadora é de maior distância interpessoal e menor familiaridade.

Informante 16:

Mulher de cinquenta e seis (56) anos de idade. Possui o ensino fundamental

incompleto (faz até o segundo ano do mesmo). Aprendeu a ler e escrever quando adulta

em uma escola para adultos, entende português, mas não fala a língua. É casada e não

tem filhos. Mora em Villa Bonita há dez (10) anos, antes morava no setor rural (Oberá).

O grau de proximidade com a pesquisadora é de menor distância interpessoal e maior

familiaridade.

Informante 17:

Homem de vinte e um (21) anos de idade. Possui o ensino médio completo.

Estudou no colégio público de Villa Bonita. Não fala português, mas entende a língua.

Nasceu em Oberá, morou até os vinte anos em Villa Bonita e atualmente mora em

Buenos Aires. É solteiro e não tem filhos. Trabalha numa fábrica na capital do país

(Buenos Aires). O grau de proximidade com a pesquisadora é de menor distância

interpessoal e maior familiaridade.

Informante 18:

Mulher de cinquenta e oito (58) anos de idade. Tem o ensino superior completo, é

dentista. Nasceu em Oberá, mora nesta cidade, morou em Corrientes por dez (10) anos

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102

onde estudou na Universidade Nacional del Nordeste. É filha de imigrantes europeus de

segunda geração. É divorciada e tem filhos. Atualmente trabalha em pequenas clínicas

públicas em Oberá e em Villa Bonita. O grau de proximidade com a pesquisadora é de

maior distância interpessoal e menor familiaridade.

Informante 19:

Mulher de cinquenta e seis (56) anos de idade. Tem o ensino superior completo.

Estudou na capital da província (Posadas) onde fez estudos jurídicos e sociais na década

de 80. Nasceu em Picada Internacional, uma área rural de Oberá. Mora em Villa Bonita

atualmente. Trabalhou como professora do ensino médio desde o ano de 1982 até 1999,

foi diretora do colégio público de Villa Bonita durante o mesmo período e atualmente é

supervisora em escolas públicas rurais em Oberá. É casada, tem filhos, é proprietária de

um posto de gasolina junto ao seu esposo em Villa Bonita. O grau de proximidade com

a pesquisadora é de maior distância interpessoal, mas existe um vinculo (ex)professora-

(ex)aluna, já que foi professora da entrevistadora no ensino médio.

3.2.1.3 Normas de transcrição das entrevistas

Uma vez gravadas as entrevistas, a etapa seguinte foi a transcrição das mesmas.

Segundo Paiva (2003): Antes de mais nada, é necessário ressaltar que a qualquer transcrição de dados linguísticos subjaz, mesmo que não explícita, uma teoria que norteia muitas das decisões a serem tomadas durante o processo. [...] Mesmo quando se procura fazer uma transcrição que possa ser útil para trabalhos futuros e diversificados, assume-se uma postura teórica. E além disso, é a orientação teórica do pesquisador e seus objetivos que modelam previamente um conjunto de convenções (um sistema de transcrição) que norteará a transposição dos registros orais para uma forma gráfica (PAIVA, 2003:135).

Para a transcrição das entrevistas, decidimos seguir as convenções empregadas

para a transcrição dos dados do Corpus Concordância da UFRJ, já mencionado

anteriormente, e de algumas específicas para este trabalho, como pode ser visto no

quadro a seguir.

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103

Situação Convenção Interrogação ¿? Incompreensão de palavras ou segmentos

((ruído))

Truncamento, interrupção discursiva

/ (ex.: a meni/ a menina vai fazer...; o menino/ a menina vai fazer...

Alongamento de vogal e consoante (como r, s)

: ou :: (se for muito longo)

Qualquer pausa ... Entonação enfática Maiúsculas (Ex.: ela quer UMA solução, não

qualquer solução) Silabação - - (Ex.: Eu estou pro-fun-da-men-te chateada) Aspas (“ ”) Discurso direto Superposição, simultaneidade de vozes

Se o primeiro locutor continuar falando sem parar, apesar da superposição de vozes, colocamos um sinal de = ao fim da linha e recomeçamos, após a fala superposta, com um sinal de =, para indicar a continuação. Exemplo: L: eu gosto muito de histórias infantis/sempre que eu = D: sei L: posso leio pros meus netos

Quadro 13. Convenções empregadas para a transcrição dos dados. Adaptado (CONCORDÂNCIA, LETRAS, UFRJ).

Assim, conforme pode ser visto no Quadro 3, optamos por não empregar os

sinais de pontuação do registro escrito, tais como vírgulas, ponto e vírgula, ponto em

final de parágrafo. O sinal de exclamação também não foi empregado. No entanto,

manteve-se o sinal de interrogação ao começo e ao final da sentença interrogativa, uma

vez que se trata de um corpus em língua espanhola.

Empregamos a palavra "((ruído))" entre parêntese duplos quando não foi

possível ouvir ou compreender o áudio, e também quando há muito ruído. A barra "/ "

foi empregada quando há palavras cortadas, solapamento de vozes ou interrupção

discursiva. Dois pontos ":" indicam um alongamento breve de vogais ou consoantes e

dois pontos repetidos "::" quando o alongamento de vogais ou consoantes tem maior

duração. Utilizamos os três pontos "..." quando há pausas; palavras em maiúsculas

quando o discurso é enfático; aspas "“ ”" quando o discurso é direto; e o símbolo de

igual "=" quando a sentença continua em um turno de fala diferente. Decidimos não

numerar as linhas uma vez que isso poderia atrapalhar no momento de rodar os dados

no programa estatístico.

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104

A seguir reproduzo alguns trechos de algumas entrevistas nas que podemos

observar algumas das convenções de transcrição adotadas.

Informante 6: Sí sí sí fueron pequeñas cositas que por ahí me dijeron quiero estudiar letras quiero quiero saber más sobre la lectura quiero leer más quiero y eso fue/ esas cositas fueron las que/ las que me emocionaron ((ruido)) a seguir la carrera Entrevistadora: Y ¿Todavía no diste ninguna clase entonces =? […] pasó la vice directora delante y no nos dirigió ni unas palabras a nosotros no nos dijo felicidades chicos que tengan un buen futuro nada lo único que hizo fue empezar a sacar cálculos “los chicos del año pasado nos dieron tanto de plata hicimos tal cosa” y por ahí esas cosas son las que te ofenden mucho y: y te quedan marcado realmente porque vos decís pucha es nuestro acto de colación unas palabras para nosotros un ya nos vamos y nada nada yo la verdad que terminé muy mal con todo el personal directivo pero yo fue una de las chicas que que dijo no no le vamos a dar la plata por qué le tenemos que dar si no nos ayudaron incluso recuerdo que a mí se me ocurrió la idea de hacer cine en el colegio y recaudar fondo de eso por ahí no era mucho pero era era divertido era lindo de hacer era más lindo plantarte e: unas cuatro horas a la tardecita en el colegio que plantarte todo el día haciendo pastelitos esas cosas que es más cansador=

Como se pode ver, a transcrição dos dados linguísticos pressupõe um conjunto

de decisões que são norteadas pelos objetivos que o pesquisador tem em mente.

Antes de passarmos à próxima subseção, cabe comentar, para concluir, que

obtivemos um total de 9 horas e 56 minutos de gravação, distribuídos da seguinte

maneira:

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105

Informantes Tempo de gravação (minutos)

Informante 1 21':00'' Informante 2 32':48'' Informante 3 23':38'' Informante 4 32':36'' Informante 5 42':00'' Informante 6 35':15'' Informante 7 29':17'' Informante 8 30':00'' Informante 9 26':00''

Informante 10 28':30'' Informante 11 41':39'' Informante 12 19':20'' Informante 13 39':06'' Informante 14 36':30'' Informante 15 17':50'' Informante 16 23':44'' Informante 17 22':44'' Informante 18 32':00'' Informante 19 43':00''

Quadro 14. Distribuição do total de horas por informante.

Como pode ser visto no Quadro 4, as quase dez horas de gravação encontram-se

distribuídas de modo díspar entre os 19 informantes. Os informantes com maior tempo

de gravação foram o 5 (42':00'') e o 11 (41':39''); os com menor tempo foram o 12

(19':20'') e o 1 (21':00'') .

3.2.2 Procedimentos metodológicos Após a composição do corpus, demos início ao levantamento e codificação dos

dados. Para tanto, apresentamos, nesta subseção, os grupos de fatores que foram

utilizados para o controle dos contextos investigados.

3.2.2.1 Variável dependente

O nosso fenômeno variável é a variação no quadro de realizações do objeto

direto anafórico de 3ª pessoa no espanhol de Oberá - Misiones/Argentina.

Consequentemente, a nossa variável dependente é o conjunto de estratégias que

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106

manifestam o nosso fenômeno variável. Nesta variedade do espanhol, o objeto direto

pode ser realizado de distintas formas, ou por distintas variantes, como pelos clíticos

le/les (99) e lo/los/la/las (100); pela ausência de marca formal, o que corresponderia ao

zero fonético (101); por um sintagma nominal pleno ou modificado (102); e, por fim,

por um demonstrativo (103).

(99) I5: […] por ejemplo un [una víbora]i la gente lei mata a golpe terrible porque para qué vino acá ese animal (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

(100) a. I12: […] como te contaba que antes se lo reprendía mucho más a[l chico]i por haber hecho algo mal y ahora se loi deja mucho más libre (Mulher, faixa 1, nível superior)

b. a. I18: [Las Ruinas de San Ignacio]i por ejemplo son un monumento muy muy

importantes que tenemos la suerte de tenerlasi acá cerca (Mulher, faixa 3, nível superior)

(101) E: Gallina y pato y [el pato]i es diferente muy diferente a la gallina? I16: Es más delicado para crecer pero tiene que cuidarØi más que un pollito

(Mulher, faixa 3, nível fundamental)

(102) I15: […] en la época de los militares se veía un poco más de que la policía tenía [poder]i y como ahora la policía perdió ese poderi porque la sociedad misma a través de la política le obliga le amenaza porque si le tocan e: con un político le pueden hacer perder el puesto (Homem, faixa 3, nível superior)

(103) I8: Juegan todos los fines de semana ponele que hay una parte de chicos ponele

que le gustan [los deportes]i juegan los fines de semana y otro grupo que no comparten esoi (Mulher, faixa 2, nível médio)

3.2.2.2 Variáveis independentes

Uma vez estabelecidas as estratégias de realização do objeto direto anafórico de 3a

pessoa em nossa variável dependente, apresentamos agora as variáveis independentes,

ou seja, os fatores linguísticos (internos) e extralinguísticos (externos) que influenciam

o uso de uma ou outra variante, assim como as hipóteses específicas de trabalho.

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107

3.2.2.2.1 - Fatores internos

Nesta subseção apresentamos os fatores linguísticos (internos) controlados,

selecionados a partir dos trabalhos sobre o espanhol, como tivemos a oportunidade de

ver no capítulo 2.

Duplicação do pronome objeto direto É de nosso interesse verificar se a presença de duplicações acompanhando o

clítico objeto direto influenciaria, de alguma maneira, a realização dessa categoria

sintática. Este fator, obviamente, somente se aplica aos clíticos le e lo. As possibilidades

de redobro seriam a partir de um sintagma preposicional contendo um pronome tônico

(104) ou um sintagma nominal (105):

(104) I11: En el caso de [los chicos que viven lejos]i no hay desde mi/ desde no conozco no ningún tipo de ayuda […] pero a cada quince días cada quince días y bueno tiene de primero a quinto año adaptaron el curriculum de otra manera para ayudarlosi a ellosi (Mulher, faixa 2, nível superior)

(105) E: […] ¿Por qué todavía hay [muchos chicos]i que no tienen acceso?I1: Mirá para mí es también es falta un poco de exigencia del gobierno […] o sea que falta un cachito más de la presión del Estado un seguimiento del Estado a que se lei obligue al chicoi a que vaya a la escuela (Homem, faixa 3, nível superior)

Realização de clíticos: número

Vários são os trabalhos que tratam da tendência de simplificação do sistema

pronominal átono de 3a pessoa a um só pronome, dentre eles Amable (1975), Palacios

(1998; 2000; 2005; 2006; 2009) e Granda (1982). Assim, com a análise deste grupo de

fatores pretendemos observar se o clítico realiza-se no singular ou no plural e desta

forma corroborar a hipótese de Amable (1975) que diz que em Oberá há uma

generalização do emprego da forma le no singular que retoma tanto antecedentes no

singular quanto no plural. As estratégias são realização do clítico no singular (106) e

realização do clítico no plural (107).

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108

(106) I5: por ejemplo no y tu papá te va a decir bueno ya que vos no querés estudiar andá a trabajar y no te vas más al colegio y te vas a trabajar una chica dijo si [mi mamá]i me dice eso yo te/ yo lei denuncio(Mulher, faixa3, nível fundamental)

(107) b. I18: Sí los conozco e: [Las Ruinas de San Ignacio]i por ejemplo son un monumento muy muy importantes que tenemos la suerte de tenerlasi acá cerca (Mulher, faixa3, nível superior)

Forma do antecedente

Controlamos, também, a forma do antecedente, podendo ser sintagmas nominais

(108) ou sintagmas oracionais (109). Desejamos, com este fator, investigar se a escolha

da variante está determinada pelo tipo de sintagma utilizado como antecedente. Quando

o antecedente se realiza na forma de um sintagma oracional haveria maior possibilidade

de o OD anafórico ser realizado como um demonstrativo. Acreditamos, assim, que neste

tipo de antecedente, ou seja, sintagmas oracionais, a realização do clítico le não será tão

produtiva.

(108) I6: […] tengo una compañera de pieza que el otro día se llevó [un gatito]i escondido le tuvo le tuvo unos días en la pieza pero se tuvo que llevar a su casa porque no nos permiten y llevándoloi a su casa su mamá dijo que no que no quería más mascotas (Mulher, faixa 1, nível superior)

(109) I13: […] pero cuando tuve mi computadora mi propia computadora bueno empezamos a bajar programas empezamos a trabajar con eso al principio como que bueno era sorprendente tener una computadora que queríamos e: [nos bajábamos jueguito]i porque incluso no nos Øi prohibían (Mulher, faixa 1, nível superior)

Número do antecedente16

Nos interessa verificar se o número do antecedente pode determinar a escolha da

estratégia de realização do OD anafórico de 3a pessoa no espanhol falado em Oberá

(Misiones). Este fator dialoga diretamente com o fator número do clítico, apresentado

anteriormente.

16 Como ficará claro na análise dos resultados, os fatores relacionados ao antecedente, tais como o número, o gênero, a animacidade, a especificidade e a definitude, não se aplicam aos sintagmas oracionais.

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109

A partir de Amable (1975), Granda (1982) e Palacios (1998; 2000; 2005; 2006;

2009), a hipótese a ser testada, tal como no fator número do clítico, é a de que o clítico

le no singular pode retomar antecedentes tanto no singular quanto no plural. Seguem

alguns exemplos de antecedentes no singular (110) e no plural (111).

(110) E: Bien qué opinás de e:: conocés a este a [este chico]i? I4: Sí E: Qué me contás sobre él?

I4: La verdad loi conozco de acá del pueblo (Mulher, faixa 2, nível superior)

(111) I18: Que es un idioma muy lindo muy agradable de escucharlo que deberíamos

mantener nuestro nuestro castellano como es originalmente sin la influencia de [las otras lenguas]i aunque lasi hablemos ((ruido)) el guaraní o el portugués y que cada país debe mantener su su su idioma como corresponde (Mulher, faixa 3, nível superior)

Gênero do antecedente

Fernández-Ordóñez (1999) e Gómez Seibane (2012) apontam que na região do

País Vasco e de Navarra, tanto entre falantes bilíngues de vasco e espanhol quanto de

monolíngues nativos da região, o gênero do antecedente é um fator que influencia na

seleção do clítico, pois verifica-se a variação Ø ~ lo/los quando o referente é masculino

e Ø ~ la/las quando é feminino, ou seja, o objeto nulo poderia ser utilizado para

antecedentes dos dois gêneros gramaticais, mas o clítico variaria em função do gênero

do antecedente. Por sua vez, Palacios (2005) indica que entre os falantes bilíngues

(espanhol-quéchua) no Equador observa-se a existência de um sistema simplificado

loísta, que consiste no emprego do clítico lo como forma de retomar o elemento

anafórico sem distinção de gênero. Isso significa que lo pode retomar antecedentes tanto

masculinos quanto feminino. O mesmo ocorreria com o clítico le, que pode retomar

antecedentes sem distinção de gêneros. Assim, a hipótese para o controle deste grupo é

a de que as estratégias le e zero podem ser utilizadas com antecedentes no masculino e

no feminino. Seguem alguns exemplos de antecedentes femininos (112) e masculinos

(113).

(112) E: Bien a: ¿Conocés [esta ciudad]i? No está muy clara I11: e: no no lai conozco (Mulher, faixa 3, nível superior)

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110

(113) I11: Conozco y puedo decirte que se hubiera evitado es algo que se podría haber evitado sí lamentablemente se perdieron ahí a tres personas en [ese puente]i cuando se sabía todo el mundo pasaba yo loi necesito loi necesitaba todos los día para ir a trabajar (Mulher, faixa 3, nível superior)

Animacidade do antecedente

Entre os resultados apontados por Palacios (2005), encontra-se aquele que diz que,

na região bilíngue espanhol-quéchua no Equador, o fator animacidade ([+humano],

[+animado] ou [inanimado]) determina a escolha da estratégia de realização do OD

anafórico de terceira pessoa. Para a autora, no sistema simplificado que emprega

majoritariamente lo como forma de retomar o antecedente, justamente lo retoma

antecedentes inanimados enquanto le tende a retomar os [+animados]. Por sua vez,

Martínez (2015) aponta que, no espanhol de Buenos Aires, quando o antecedente é

[+animado], emprega-se quase que categoricamente o clítico lo. E, contrariamente ao

esperado, registra-se também uma extensão do uso do clítico lo quando o antecedente é

[inanimado]. Não obstante, ressalta que há uma tendência maior ao uso de le nesse

último contexto.

De acordo com a literatura vista no capítulo 2, na zona guaranítica, o que inclui a

região do nordeste da Argentina, a distribuição das estratégias seria condicionada da

seguinte maneira: antecedentes [+humanos] são retomados pelo clítico le e antecedentes

[inanimados] pelo zero. Essa é a hipótese que testaremos com o controle deste grupo.

Cabe dizer que este fator somente se aplica aos antecedentes realizados formalmente

como sintagmas nominais.

Seguem exemplos para os contextos: a) antecedente [+humano] (16); b)

antecedente [+animado] (17); e c) antecedente [inanimado] (18).

(114) E: Muy bien M y conocés a [este hombre]i? I17: Nunca loi vi (Homem, faixa 2, nível médio)

(115) I10: Bueno [mi perrito]i por ejemplo yo loi cuido cuando vengo a casa loi cuido

bien (Mulher, faixa 1, nível médio) (116) E: dios y a este están arreglando ¿Ya vio [el nuevo puente]i?

I18: el nuevo no vi el el que está abajo ahí sobre el que no da abasto con todo el tráfico y a este no loi vi no sé cómo estará (Mulher, faixa 3, nível superior)

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111

Especificidade do antecedente

Este grupo ilustra a especificidade do termo retomado pelo objeto direto

anafórico. Consideramos [+específico] os referentes que remetem a uma entidade

específica (este chico, Las Cataratas del Iguazú, nuestro Papa), e como [-específico]

aqueles que se referem a uma classe, categoria ou entidade genérica (La policía, los

alunos).

Na literatura revisitada sobre o tema, não há menção direta à atuação do fator

especificidade em função das distintas variedades do espanhol. Ainda assim, decidimos

manter este grupo de modo a verificar se este fator, de alguma forma, condicionaria o

uso das estratégias de realização do OD. Queremos investigar a validade da hipótese

levantada por Gómez Seibane (2012) para o espanhol como um todo, sem distinção de

variedades. Segundo a autora, a forma zero seria mais utilizada com antecedentes

inespecíficos pelo fato de leituras inespecíficas e genéricas serem mais facilmente

alcançadas com o uso dessa forma. Por outro lado, com antecedentes específicos, o uso

predominante seria de clíticos. As duas possibilidades controladas são antecedentes com

o traço [+específico] (117) e [-especifico] (118).

(117) I12: Tenía [una perrita]i E: Contame un poquito cómo cómo era tu relación con ella qué hacías con ella? I12: […] lai adorábamos lai llevábamos para todos lados e: […] y bueno hace

como cuatro meses creo que no lai tenemos pero pero fue la única mascota que tuvimos así allegada desde chiquitita fue nuestra perra (Mulher, faixa 1, nível superior)

(118) E: [Los mitos y las leyendas]i I19: Creo que que desde la lingüística se Øi trata o sea los mitos y leyendas

forman parte de contendidos que se enseñan y en las escuelas secundarias (Mulher, faixa 3, nível superior)

Definitude do antecedente

Em relação ao traço de definitude, parece não ser claro na literatura o seu poder de

atuação no condicionamento das formas em análise. No Paraguai, por exemplo, através

do estudo de Palacios (1998), observamos que o traço [±definido] não determina a

ocorrência do zero fonético, forma investigada pela autora. Ainda assim, tal como

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112

fizemos com o fator especificidade, decidimos manter este fator de modo a investigar se

haveria ou não atuação no condicionamento das formas. Uma vez mais, seguimos a

hipótese geral de Gómez Seibane (2012), postulada para a língua espanhola sem

distinção de variedades, sobre a qual antecedentes [+definidos] seriam mais facilmente

retomados por clíticos, ao passo que com antecedentes indefinidos, a estratégia zero

seria a mais encontrada.

Indo além, com antecedentes [-definidos], o zero seria em principio a única

possibilidade em espanhol. Em ¿Tienes mascota(s)?, a possibilidade mais natural de

resposta em espanhol seria Sí, tengo, sendo considerado por muitos falantes como

agramatical a forma *Sí, la(s) tengo. O mesmo ocorreria com sentenças como

¿Encontraste a algún vecino por la calle?, cuja resposta mais esperada seria Sí,

encontré.

Consideramos [+definidos] (119) os antecedentes que vêm precedido por

determinantes definidos (el, la, los, las, este, ese, aquel, dos, mi, tu, su, etc,) e [-

definidos] (120) os referentes sem determinantes ou precedidos por determinantes

indefinidos, como artigos e pronomes indefinidos.

(119) E: Bien a: A qué opinás de las familias hoy en día? Las familias hoy en día vos por ejemplo tenés a tu papá a tu mamá no tenés abuelos extrañas a [tus abuelos]i? I10: ((ruido)) a conocer a ellos no lo tuve la oportunidad pero quería conocerlosi (Mulher, faixa 1, nível médio)

(120) I5 [...] acá hay [chicos]i que vienen porque los padres lei mandan no porque

(Mulher, faixa 3, nível fundamental) Distância em relação à primeira menção

Com este grupo de fator pretendemos observar o comportamento das variantes em

função da distância em relação à primeira menção do antecedente. A hipótese a ser

verificada é a de que quanto maior a distância entre o OD anafórico e seu antecedente

menor a possibilidade de ocorrência do zero fonético. Os exemplos (121), (122) e (123)

ilustram a primeira, a quinta e a sétima referência, respectivamente.

(121) I18: […] e: la gente también comete muchos excesos con la policía o sea son dos bandos peleados que no se entienden es [un tema político]i hay que solucionarloi

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113

porque hay que darle un fin a esto porque no no podemos vivir peleados toda la vida (Mulher, faixa 3, nível superior)

(Primeira menção: um tema político; primeira referência: lo)

(122) E: Bien y qué opinás d[el Papa]i? I10: El Papa es un buen Papa está haciendo muy bien su trabajo en cima que no vi o sea antes no veía la tele mucho miraba muchos dibujitos películas y todo eso pero ahora vi que este Papa sí sale a los países y le tratan bien (Mulher, faixa 1, nível médio) (Primeira menção: el Papa; primeira referência: El Papa; segunda referência: (El Papa) está haciendo; terceira referência: su; quarta referência: este Papa; quinta referência: le)

(123) E: ¿Qué me contás sobre [este chico]i M? vos que I8: Le conocía de toda la vida hicimos la primaria juntos ponele parte de la primaria después hicimos toda la secundaria juntos e: le conocía re bien sí E: ((ruido)) y tus senti/ I8: Siempre siempre fue un buen compañero para mí siempre fue un excelente compañero E: tus sentimientos hacía él gustabas de él: como como compañero I8: Sí sí sí yo le mezquinaba mucho a él (Mulher, faixa 2, nível médio)

(Primeira menção: este chico; primeira referência: le; segunda referência: le; terceira referência: (Este chico) fue; quarta referência: (Este chico) fue; quinta referência: él; sexta referência: él; sétima referencia: le)

Tipo de texto

Com este grupo de fatores buscamos observar o comportamento das variantes

estudadas em função do tipo de texto.

A hipótese a ser testada é a de que na narrativa espontânea, tipo de texto em que

haveria um menor monitoramento da fala por parte dos informantes, ao tratar de temas

pessoais relacionados a experiências de vida, a produtividade do clítico lo, entendido

aqui como uma forma menos natural, será mais limitada em comparação ao tipo de

texto pergunta e resposta. Os dois tipos de textos considerados são os previstos pela

sociolinguística de Labov: a) pergunta e resposta (124) e narrativa espontânea (125).

(124) E: Y qué opina de la opinión/ de la relación de él con Cristina Kirchner por ejemplo que era la antigua presidenta?

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I5: Él podía tener una buena relación con ella pero ella no con él ahora en los últimos tiempos cuando él se consagró Papa bueno ahí sí ahí ella fue a hacerse amiga de él pero cuando ella estaba cuando él estaba acá no tenían una buena relación porque él tiene su carácter también E: ¿Ella ella quería a[l Papa]i? I5: No ella no lei quería después que fue Papa ahí sí la primera allá en saludar (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

(125) I5: sí sí sí y después cuando estábamos en séptimo grado fuimos a las Cataratas también me hizo [una nota]i para = E: por las dudas I5: por las dudas y me me me exigía que aprenda de memoria ese esa notai para no equivocarme viste entonces yo tenía que hablar ... (( ruido)) la paciencia de mi papá para hacer la notai esa bien redactado yo por burra nunca guardé /yo tenía las cartas de mi papá cuando yo trabaja en Buenos Aires mi papá me escribía cartas y después cuando el murió yo tiré todo porque no quería ver más pero yo quería que vos veas la letra que mi papá tenía = (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

3.2.2.2.2 Fatores externos

Weinreich, Labov e Herzog (1968:123) apontam que “na explicação de mudança

linguística, é possível alegar que os fatores sociais pesam sobre o sistema como um

todo”. Dessa forma, neste estudo, além de estudarmos os fatores internos apresentados

na subseção anterior, julgamos indispensável estudar também os fatores

extralinguísticos. Por essa razão, nesta subseção trazemos os fatores considerados pela

sociolinguística de Labov como sendo os fatores sociais.

Gênero do informante

Segundo Paiva (3003), o papel da variável gênero/sexo na variação linguística é

uma questão relevante para a sociolinguística. Para a autora, as diferenças entre a fala

dos homens e das mulheres tende a aparecer mais nos grupos sociais intermediários

(classe média) do que nos grupos extremos (classe alta e classe baixa). Labov (1972:

347) aponta que nas situações de variação estável, “as mulheres tendem a ser mais

sensíveis ao uso das formas de prestígio”. Dessa forma, com este grupo de fator

buscamos verificar se o gênero do informante (mulher/homem) influi na seleção das

formas de realização do OD anafórico de 3a pessoa em Oberá, de forma a discutir se a

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115

hipótese de Labov poderia ser aplicada à variedade da região17.

Geralmente, ao tratar do gênero, são mencionados os conceitos de inovação e

conservadorismo no quadro das formas em variação: a competição se daria entre formas

conservadoras, as mais antigas, e formas inovadoras, consideradas mais recentes na

língua. O valor social da variante inovadora seria, assim, um aspecto a ser considerado,

já que essa forma pode estar dotada de prestigio ou estigma social, o que justificaria o

seu maior ou menor uso, ou, em outras palavras, sua maior ou menor implementação e

difusão no seio da comunidade linguística.

Em nosso caso, considerando o nosso fenômeno variável, em princípio, nos

resultaria difícil dimensionar o valor social das estratégias mais produtivas em Oberá,

que seriam, por hipótese, a forma le e o zero. Exatamente pelo fato de serem produtivas

em diversos grupos sociais, gêneros e faixas etárias, não teríamos condições de

argumentar a favor (ou contra) um valor social de mais ou menos prestigio ou estigma

para essas duas formas.

Dentre essas duas estratégias, claro está que o zero seria a forma menos

estigmatizada socialmente; tampouco poderíamos afirmar que seria uma forma de

prestígio. O mesmo não ocorre com o pronome le. Por mais que seja utilizado, pode

resultar uma forma de menos prestígio a alguns falantes, sobretudo do gênero feminino.

O ponto contrastivo, nesse caso, não seria o zero, mas sim o clítico lo presente em

normas de mais prestígio social como Buenos Aires. Vejamos o depoimento de uma

informante sobre o tema:

(126) E: Igualmente al uso de al uso del le del leísmo ((ruido)) I11: Leísmo solamente conozco el término E: Cuando nosotros usamos le por ejemplo I11: Ah leísmo claro E: Vos por ejemplo cuando decís te voy a dar un ejemplo vi a un hombre por ejemplo vi a M ayer cómo decís eso remplazando M I11: Claro lo vi ayer el tema es que eso es acá porque yo por ejemplo utilizo LO vio ayer cambio sí y ya a ellos le suena raro o este LO VI AYER se utiliza más en la zona de Buenos Aires sí? E: ¿Pero ese leísmo nos caracteriza también? I11: es exactamente sí E: Vos aprendiste vos usas el sistema lo la le por tus estudios?

17 Agradeço à Profa. Dra. Silvia Regina de Oliveira Cavalcante por ter chamado a minha atenção para a necessidade de questionar se a hipótese de Labov sobre as mulheres pode ser aplicada à região estudada.

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116

I11: Porque me parece más al decir lo vi ayer al decir lo estoy haciendo referencia al género masculino me parece que está mejor estructurada la oración si yo digo lo vi en vez de decir le vi ayer a mi modo de entender está mejor E: Y cuándo cuándo en vez de una persona hablás sobre una cosa? Porque en inglés no funciona así pero en español nosotros tenemos género también para las cosas I11: Exactamente E: La mesa el sillón con el verbo ver vi la mesa ayer qué me decís? I11: la via ayer E: Vi el sillón ayer I11: Lo vi ayer E: Vi el perro ayer I11: Lo vi E: Vi la vaca ayer I111: la vi ayer (Mulher, faixa 2, nível superior)

Como pode ser visto, ao ser indagada sobre o fenômeno do leísmo, a informante é

consciente de que o uso de le é característico da fala de Oberá. No entanto, considera,

de certa forma, o clítico le como uma forma menos apropriada para a realização do OD

se comparado ao clítico lo que existe em Buenos Aires. Assim, podemos ver que as

noções de prestigio e estigma se aplicariam a esse caso: o clítico le, característico de

Oberá, variedade menos prestigiada, seria mais estigmatizado; o clítico lo, empregado

em Buenos Aires, variedade mais prestigiada, seria considerado, de acordo com as suas

palavras, “mejor”.

Nesse sentido, levantamos a seguinte hipótese de trabalho, para o fator gênero:

seguindo Labov (1972), as mulheres utilizariam mais as formas de prestigio, que em

nosso caso é o clítico lo, do que os homens.

Idade do informante

Lucchesi e Araújo (2017) comentam os postulados da sociolinguística de base

laboviana e apontam que um pressuposto central do tempo aparente é “o de que as

diferenças no comportamento linguístico de gerações diferentes de falantes num

determinado momento refletiriam diferentes estágios do desenvolvimento histórico da

língua”. Por meio das variáveis sociais, dentre elas a idade do informante, pode-se

identificar, no quadro de variação em uma comunidade de fala, se há uma variação

estável ou mudança em progresso.

Assim, a faixa etária, quando se tem uma situação de variação estável, se

caracteriza por um padrão curvilinear, no qual as faixas intermediárias apresentariam a

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117

maior frequência de uso das formas de prestígio. Por outro lado, quando se tem uma

mudança em progresso, a distribuição seria inclinada, com os mais jovens apresentando

a maior frequência de uso das formas inovadoras (CHAMBERS; TRUDGILL, 1980

apud LUCCHESI e ARAÚJO, 2015). Por essa razão, nos parece essencial observar a

idade do informante em função das estratégia de realização do elemento anafórico que

estudamos neste trabalho. Por hipótese, acreditamos que a variação no quadro das

estratégias de realização do OD anafórico de 3a pessoa no espanhol de Oberá não

mostre um cenário de mudança em progresso, mas sim de variação estável, sendo as

duas formas mais produtivas, le e zero, condicionadas sobretudo por fatores de ordem

interna. Essas formas seriam utilizadas por falantes de distintas faixas etárias, o que

equivale a dizer que não haveria sensibilidade a esse fator. Por outro lado, acreditamos,

também, que a forma considerada de prestigio, o clítico lo, seja mais utilizado pela

geração intermediária, o que caracterizaria um padrão curvilinear típico de cenários de

variação estável.

Separamos as faixas etárias da seguinte forma: Faixa 1 - até 20 anos de idade;

Faixa 2 - de 20 a 50 anos de idade; e Faixa 3 - mais de 50 anos de idade.

Escolaridade do informante

É de nosso interesse analisar a influência do grau de escolaridade do informante

na seleção das estratégias de realização do elemento anafórico estudado neste trabalho.

Como anunciado anteriormente, acreditamos que a forma lo, considerada de prestígio,

não seja a estratégia mais natural no espanhol de Oberá, sendo correlacionada ao fator

escolaridade: quanto maior a escolaridade, maior o uso do clítico lo. Os níveis de

escolaridade considerados são fundamental (nível 1), médio (nível 2) e superior (nível

3), completos ou não.

Profissão

Labov (1982:77-8 apud Lucchesi e Araújo, 2017) aponta que, em uma situação de

variação estável, os falantes de classes mais altas e de maior nível de escolaridade

empregariam com maior frequência as forma de prestígio da língua do que os falantes

de classe média com menor índice de escolaridade (e estes, por sua vez, uma maior

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118

frequência do que os da classe baixa). Entretanto, o cenário de mudança tende a ser

liderado pelos indivíduos mais integrados da classe média baixa e/ou por aqueles que se

encontram nas seções mais elevadas dentro da classe operária.

Por acreditarmos que o espanhol de Oberá mostraria um caso de variação estável,

decidimos controlar a profissão do informante, de modo a verificar a hipótese de que

informantes das profissões de maior prestigio utilizariam mais o clítico lo.

As profissões consideradas seguem o perfil da sociedade, ou seja, são as

profissões possíveis dentro da comunidade de Oberá. Assim temos a) Educação, b)

Meios de comunicação, c) Saúde, d) Trabalhos esporádicos, e) Estudante, f) Comércio,

g) Dona de casa e h) Empregado de fábrica.

Grau de distância e proximidade

É de nosso interesse verificar também o grau de proximidade entre a

entrevistadora e o informante. A hipótese a ser testada é a de que quanto mais próximo

for o vínculo entre entrevistador e informante, maior a possibilidade de ocorrências das

formas mais frequentes para a comunidade de fala, como o clítico le e zero. Por outro

lado, a forma lo poderia aparecer mais facilmente em situações de maior distância

social. As situações consideradas são: a) vínculo social / mais próximo e b) vínculo

profissional / mais distante. No primeiro caso, consideramos mais próximas as relações

entre familiares e de amizade, já que a entrevistadora recorreu aos seus círculos mais

próximos para formar seu banco de dados. As relações mais distantes, por sua vez, se

deram entre a entrevistadora e informantes conhecidos (mas não amigos).

Com o intuito de realizar a investigação proposta, seguimos os passos

metodológicos utilizados em uma pesquisa de base empírica: (i) coleta dos dados; (ii)

elaboração dos grupos de fatores utilizados para a descrição dos dados, tal como

apresentamos nesta subseção; (iii) codificação dos dados de acordo com os grupos de

fatores controlados; (iv) tratamento dos dados pelo programa estatístico-computacional

GoldVarbX (SANKOFF; TAGLIAMONTE; SMITH, 2005) para a obtenção dos valores

percentuais das categorias controladas; (v) descrição e análise dos dados; e, por fim, (vi)

apresentação dos resultados. A esses dois últimos passos dedicaremos o próximo

capítulo desta dissertação.

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119

3.3 Síntese do capítulo

Neste capítulo, apresentamos o referencial teórico no qual nos baseamos para a

análise de dados do presente estudo, ou seja, os fundamentos da sociolinguística

variacionista de Labov, caracterizado por estudar a língua em seu contexto social, e que

nos deu suporte teórico para a realização de uma pesquisa que tem a língua oral como

objeto de estudo. Também apresentamos a metodologia para a elaboração do corpus.

Isto é, descrevemos as duas metodologias utilizadas, a entrevista sociolinguística e a

narrativa espontânea, que foram as técnicas utilizadas para coletar os dados das

amostras de fala. Trouxemos ainda um breve perfil dos 19 informantes, no qual

descrevemos a idade, o grau de escolaridade, o gênero, o grau de proximidade

interpessoal com a entrevistadora e a profissão dos mesmos. Ilustramos as convenções

empregadas para a transcrição dos dados do corpus, que, como visto, seguem o modelo

adotado na transcrição do Corpus Concordância da UFRJ. Finalmente, apontamos os

procedimentos metodológicos adotados para o levantamento e codificação dos dados.

Nesse sentido, apresentamos a variável dependente, ou seja, as distintas estratégias de

realização do objeto anafórico de 3ª pessoa no espanhol de Oberá - Misiones/Argentina,

e as variáveis independentes, isto é, os fatores (internos e externos) que poderiam

influenciar o uso de uma ou outra variante.

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120

4 Descrição e análise dos dados

Como exposto anteriormente, esta dissertação pretende investigar a variação no

quadro das estratégias de realização do objeto direto (OD) anafórico de 3ª pessoa, no

espanhol de Oberá, na Argentina. A análise é realizada com base nos preceitos da

sociolinguística quantitativa de base laboviana (WEINREICH; LABOV; HERZOG,

1968; LABOV, 1972; LABOV, 1994; GUY, 2001), aplicados a amostras de fala.

Neste capítulo, descrevemos os resultados quantitativos obtidos para cada um dos

grupos de fatores que foram analisados com o auxílio do programa estatístico

computacional GoldVarbX (SANKOFF; TAGLIAMONTE; SMITH, 2005).

Apresentamos os resultados gerais, em termos de frequências brutas, da amostra,

considerando as cinco variantes apresentadas no capítulo sobre a metodologia: clítico le,

clítico lo/la, zero fonético, sintagma nominal (SN) pleno ou modificado e pronome

demonstrativo. Analisamos os resultados dos grupos de fatores controlados,

relacionando-os aos trabalhos comentados no capítulo sobre a revisão da literatura, de

modo a verificar se as hipóteses levantadas se confirmam ou não.

Vale comentar que, como não estamos trabalhando com um fenômeno variável

binário, não chegaremos às análises estatísticas de peso relativo.

4.1 Dados gerais

Obtivemos, em nosso corpus, um total de oitocentas e dezesseis (816) ocorrências

relacionadas às distintas possibilidades de realização do objeto direto anafórico, sendo

elas le, lo/la, zero fonético, SN e pronome demonstrativo. Os dados encontrados,

extraídos de aproximadamente quinhentos e setenta e quatros (574) minutos, ou 9 horas

e 56 minutos, de gravação, estão distribuídos da seguinte forma de acordo com os

informantes:

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121

Informantes Tempo de gravação (minutos)

Quantidade de dados

Informante 1 21':00'' 32 Informante 2 32':48'' 21 Informante 3 23':38'' 20 Informante 4 32':36 '' 40 Informante 5 42':00'' 56 Informante 6 35':15'' 38 Informante 7 29':17'' 53 Informante 8 30':00'' 45 Informante 9 26':00'' 32

Informante 10 28':30'' 64 Informante 11 41':39'' 88 Informante 12 19':20'' 32 Informante 13 39':06'' 68 Informante 14 36':30'' 49 Informante 15 17':50'' 21 Informante 16 23':44'' 34 Informante 17 22':44'' 33 Informante 18 32':00'' 46 Informante 19 43':00'' 44

Tabela 1. Número de dados de acordo com cada informante.

O número de dados encontrados na entrevista de cada informante varia entre trinta

(30) e cinquenta (50), na maioria dos casos. No entanto, chama a atenção a quantidade

de dados encontrados na entrevista do informante 11, um total de oitenta e oito (88)

dados recolhidos em aproximadamente quarenta e um (41) minutos de gravação. Os

informantes 13 e 10 também produziram mais dados do que a média, 68 e 64, em 39' e

28' de entrevista, respectivamente.

Uma vez vista a distribuição dos dados segundo cada informante, passemos a

observar os resultados gerais. A tabela abaixo apresenta o número total de ocorrências

de cada estratégia sobre o total de dados encontrados no corpus, assim como o

percentual de cada uma delas:

le(s) 190/816 - 23% lo(s)/la(s) 214/816 - 26%

zero 247/816 - 30% SN 127/816 - 15%

Demonstrativo 38/816 - 4%

Tabela 2. Dados gerais.

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122

Como pode-se ver na Tabela 2, a estratégia mais produtiva na amostra foi a

realização do OD representado pelo zero fonético (127), com 247 dados (247/816), o

que corresponde a 30% do total de ocorrências. Os clíticos, de uma forma geral,

também foram bastante produtivos: a segunda estratégia mais frequente foi lo (aqui lo

contempla o seu plural los, assim como as formas femininas la e las) (128), com 214

dados (244/816), seguida de le (129), com 190 dados (190/816), o que equivale a 26% e

23% de produtividade, respectivamente. As estratégias menos produtivas foram a

realização do OD como SN (127/816) e demonstrativo (38/816), correspondendo a 15%

e 4% de produtividade, respectivamente, como pode ser visto nos dados (130) e (131).

[Zero fonético]:

(127) a. E:18 ¿Y la y la frecuencia de los de [los colectivos]i ? I2: Y la verdad que casi no Øi utilizo pero creo que cada cada hora cada dos horas hay colectivos (Mulher, faixa 3, nível superior)

b. I13: […] creo que viene de antes porque él era bispo y ella [no le daba no le

brindaba mucho apoyo no le abría muchas veces la puertas]i cuando él Øi necesitaba o cosas así creo que es por eso (Mulher, faixa 1, nível superior)

c. E: Y los / el hospital que hay en Oberá que es un Samic que es un hospital

público verdad [¿da abasto? ¿es suficiente para la cantidad de gente que hay en las localidades?]i

I13: la verdad que no sabría decirte Øi (Mulher, faixa 1, nível superior) Notamos que em (127) o elemento que retoma os antecedentes19 não é uma

categoria preenchida, isto é, a retomada se dá por meio do zero fonético. Em (127a) o

antecedente é um SN inanimado, masculino e plural (los colectivos). Em (127b-c), o

antecedente é um Sintagma oracional (SO).

Clíticos [lo(s)/la(s)]: (128) a. ¿Vos conocés a [este chico]i?

I1: Sí sí es conocido E: ¿Qué me contás sobre él? I1: Sé muy poco de él viste conocido sí es viste pero sé muy poco de él sé que estuvo un problema ese en Buenos Aires que salió en todos los medios

18 “E” significa Entrevistadora, e “I” significa Informante. Os antecedentes são destacados em itálico e entre colchetes. As estratégias de realização do OD anafórico de terceira pessoa são destacadas em negrito. 19 Neste trabalho, utilizaremos os termos antecedente e referente como sinônimos.

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123

nacionales y bueno que hace poco loi volvieron a recapturar y está preso (Homem, faixa 3, nível superior)

b. I11: el play si varios hechos por ejemplo [mi fiesta de quince]i que loi esperaba con ansiedad tremenda (Mulher, faixa 2, nível superior)

Em (128), os antecedentes são retomados pelo clítico “acusativo” lo. Em (128a) o

antecedente este chico é [+humano] e concorda em gênero e número com o clítico. Em

(128b) o referente mi fiesta de quince é feminino e inanimado e está sendo retomado

com um clítico no masculino e no singular.

Clítico [le(s)]:

(129) a. I14. “No no ese es el tema viste por ejemplo en Oberá yo conozco a [una señora]i que tiene una tienda vos sabés que el marido siempre lei ayuda y ese día el marido/ sonó el teléfono y él se fue a hablar en la vereda y le entraron dos muchachos que directamente no le hablaron entraron y le dieron una piña que lei noquearon (Mulher, faixa 2, nivel médio) b. E: Y ¿Vos e: viste a [L]i cuando estuvo por acá o cuándo fue la última vez que/? I15: Yo lei vi en la época que estudiaba en el secundario […] (Homem, faixa 3, nível médio) c. F5: [un hombre y una mujer]i le robaron la cartera a una señora que caminaba en la calle mi patrona lei siguió con el auto viste llamaron a la policía y que sé yo y: no le hicieron nada (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

Notamos que em (129) a estratégia adotada para retomar o antecedente é o clítico

le. Em (129a) o antecedente una señora é um SN singular, [+humano] e feminino. Em

(129b), o nome próprio, aqui abreviado para garantir o anonimato dos personagens

mencionados, é um SN singular, [+humano] e masculino; e, em (129c), un nombre y

una mujer é um SN plural masculino20. As formas le que não estão destacadas

desempenham a função sintática de OI, não sendo, por isso, contempladas em nosso

estudo.

[Sintagma nominal (SN)]: (130) a. E: Se fue bien ah: vos creés que hay respeto de la gente ¿Vos creés que la

gente respeta a [la policía]i acá en Villa Bonita o no? I10: La gente y yo no respetamos a los policíasi (Mulher, faixa 1, nível médio)

20 Em espanhol, o sintagma complexo formado por elementos coordenados de distintos gêneros será sempre masculino.

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124

b. I4: […] es donde la gente posee un terreno vienen los que integran la comunidad de techo y te ayudan a construir [tu casa]i te venden una casitai en cómodas cuotas (Mulher, faixa 2, nível superior)

Em (130) o antecedente está sendo retomado por um SN. Notamos que em (130a)

o referente la policía é [+humano], feminino e singular, e, em (130b), tu casa é um SN

inanimado, feminino e singular.

[Demonstrativo]: (131) a. E: Bien en relación / T usted conoce a a [este hombre]i?

I16: Este hombre … yo parece que vi en la tele esei (Mulher, faixa 3, nível fundamental) b. I18: que hay que hacer muchas obras de muchas obras de mantenimiento en todas las ciudades porque este es un problema de siempre que [cada vez va la situación se va a empeorar]i y los gobiernos tienen que prever estoi para poder subsanar problemas que van a ser gravísimos de salud demográficos etcétera etcétera (Mulher, faixa 3, nível superior)

c. I8: Juegan todos los fines de semana ponele que hay una parte de chicos ponele que le gustan [los deportes]i juegan los fines de semana y otro grupo que no comparten esoi (Mulher, faixa 2, nível médio)

Percebemos que em (131) o antecedente é retomado por um pronome

demonstrativo. Em (131a) esse pronome é ese, que refere a um SN [+humano],

masculino e singular (este hombre). Em (131b) o demonstrativo é esto, que refere a um

SO (cada vez va la situación se va a empeorar), e em (131c) é eso, referindo-se a um SN

inanimado, masculino e plural (los deportes).

Os resultados gerais podem ser melhor visualizados no gráfico abaixo:

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125

Gráfico 4. Dados gerais.

Os nossos resultados gerais são distintitos da nossa expectativa inicial de que as

formas mais produtivas seriam o clítico le e a foram zero; e de que o clitico lo, por sua

vez, seria menos produtivo. Assim, nos chama a atenção a alta produtividade de lo em

nossa amostra.

Esses resultados se afastam também da expectativa da própria investigadora,

falante da região de Oberá, Misiones, Argentina, que esperava encontrar dados de

lo(s)/la(s), mas com produtividade inferior a le(s). Em que contextos esses clíticos são

encontrados? O que condicionaria a sua distribuição? De modo a entender melhor o que

estaria por trás desses resultados gerais, a partir da próxima seção (4.2), investigaremos

a atuação dos fatores controlados. Antes de darmos início à execução dessa tarefa, no

entanto, vale apontar, ainda, algumas informações relacionadas aos dados gerais.

Buscando descrever melhor os resultados gerais, propomos separar, no quadro dos

clíticos acusativos, as estratégias em função da morfologia de gênero. Para tanto,

reproduzimos a Tabela 2 acima com a separação entre lo(s) e la(s):

23%

26% 30%

15%

4%

le(s)

lo(s)/la(s)

zero

SN

Demonstrativo

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126

le(s) 190/816 - 23% lo(s) 157/816 - 19% la(s) 57/816 - 7% zero 247/816 - 30% SN 127/816 - 15%

Demonstrativo 38/816 - 4%

Tabela 3. Dados gerais com a separação do clítico acusativo em função da morfologia de gênero.

Ao separar lo(s) e la(s) notamos que a ordem inicial de ocorrência de cada uma

das estratégias foi alterada. Assim, a estratégia mais produtiva continua sendo o zero

(30%), a segunda passa a ser le(s) (23%), e a terceira lo(s) (19%) seguido do SN (15%).

Vejam-se os exemplos (132-135). La(s) e o demonstrativo são as duas estratégias com

menor índice de produtividade, 7% e 4%, respectivamente, como exemplificam os

dados (136-137).

Zero: (132) E: hum: mirá M., conoce a [este chico]i?

I5: Sí Øi conozco sí (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

Le: (133) E: Bien a: y a este a [esta persona]i conocés?

I14: no no no me acuerdo no lei conozco (Mulher, faixa 2, nível médio) Lo: (134) I6: […] recuerdo constantemente fue mi último año cuando tuvimos que

organizar el tema de la recepción y todas esas cosas nosotros desde cuarto año [empezamos a organizar y juntar fondos]i y siempre loi hicimos solos de nuestra parte (Mulher, faixa 1, nível superior)

SN: (135) E: Bien ¿Vos tenés [mascotas]i? I13: No me gustan los animales pero sí en casa tenemos macotai (Mulher, faixa 1,

nível superior) La: (136) I11: o por ejemplo [algunas frases idiomáticas que pertenecen al al Brasil]i ¿no?

y lasi utilizan ellos diariamente (Mulher, faixa 2, nível superior) Demonstrativo: (137) I8: Sí hay [un puentecito bajito]i pero ponele no es tan bajito pero cuando

cuando crece el agua tapa todo estoi (Mulher, faixa 2, nivel medio)

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127

Em (136) notamos que o clítico la retoma um antecedente que também está no

feminino, algunas frases idiomáticas que pertenecen al al Brasil. O clítico lo, por sua

vez, retoma antecedentes masculinos como em (128a), frases inteiras (134) e

antecedentes femininos (128b).

O gráfico 5 ilustra os resultados obtidos ao separar lo(s) e la(s):

Gráfico 5. Dados gerais com a separação do clítico acusativo em função da morfologia de gênero.

Como se observa no Gráfico 5, as duas estratégias mais produtivas em Oberá são

o zero fonético (30%) e o le(s) 23%. Estes resultados serão analisados com mais detalhe

ao cruzarmos o gênero e o número do antecedente com traços como a animacidade e a

definitude do mesmo.

Ainda sobre a distribuição geral dos dados, nos parece pertinente apontar como os

casos de duplicação de clíticos se distribuem em nossa amostra. Haveria alguma

particularidade no uso do redobro em função das estratégias clíticas le e lo?

23%

19%

7%

30%

15%

4%

le(s)

lo(s)

la(s)

zero

SN

Demonstrativo

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128

Duplicação21

Como mostrado no capítulo 2, Gómez Seibane (2012) comenta que a duplicação

ou redobro pronominal permite a aparição conjunta em uma mesma oração de um

pronome átono de acusativo junto com sua variante tônica, ou junto ao grupo nominal

ao qual se refere. Ainda segundo a mesma autora, não existe um acordo sobre qual é o

elemento que redobra e qual é redobrado. Sendo assim, em nosso trabalho,

consideramos que o clítico é o elemento redobrado por sintagmas preposicionados

contendo sintagmas nominais (a Ana, a Juan, al chico, etc.) ou pronomes tônicos (a él,

a ella), sendo estes considerados elementos redobradores.

A Tabela 4 apresenta o total de dados redobrados considerando as duas estratégias

que permitem esse fenômeno.

le 34/190 - 18% lo/la22 14/214 - 7%

Tabela 4. Total de dados de cada estratégia clítica e redobro.

Na análise dos dados foi encontrado um total de 34/190 ocorrências de duplicação

de le e 14/214 de lo, o que equivale a 18% e 7% de produtividade, respectivamente. Em

termos gerais, observamos que o expediente da duplicação não se mostra tão frequente

em nossa amostra. Observando as duas estratégias de redobro por separado, chegamos

ao seguinte resultado:

Pronome tônico Sintagma nominal le 9/34 - 26% 25/34 - 73%

lo/la 4/14 - 28% 10/14 - 71%

Tabela 5. Percentual de duplicação por meio de um pronome tônico ou um sintagma nominal.

21 Em nosso trabalho, o redrobro é importante para a descrição do tema, mas não necessariamente para explicar o fenômeno varável em questão. Decidimos mantê-lo para ver se de alguma forma seleciona uma variante ou um clítico em especial. 22 Lo/la engloba os plurais los/las daqui em diante.

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129

Das 34 duplicações de le, 9 foram realizadas com o pronome tônico (26%) e 25

com um sintagma nominal (73%), como podemos ver nos exemplos (138) e (139),

respectivamente. Por sua vez, das 14 duplicações de lo/la, 4 são por meio de um

pronome tônico (28%) e 10 a partir de um sintagma nominal (71%). Os exemplos (140)

e (141) ilustram esses casos.

O gráfico 6 ilustra em termos percentuais as duas possibilidades de redobro dos

clíticos le e lo/la, ou seja, por meio de um pronome tônico (a él, a ella) ou por um

sintagma nominal.

Gráfico 6. Duplicação por meio do pronome tônico ou por um sintagma nominal.

Percebe-se a partir do gráfico que a duplicação por meio de um sintagma nominal,

representado pela cor vermelha, é mais produtiva do que por um pronome tônico em

nosso corpus. Portanto, pode-se dizer que tanto le quanto lo/la foram duplicados na

maioria das ocorrências por meio de um sintagma nominal. Ainda que, em termos

globais, a duplicação tenha sido mais frequente com o clítico le, ao alcance dos nossos

dados não vemos uma diferença significativa se considerada a forma do elemento

redobrador.

26% 28%

73% 71%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

le lo/la

Pronome tônico Sintagma nominal

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130

Le [pronome tônico]:

(138) a. I7: […] cuando yo me acompañé con [tu mamá]i la noche que yo me

acompañé con ella dice que era una hembra era una pandera porque que no lei quería a

ellai23 (Homem, faixa 3, nível fundamental)

b. I10: Bueno uno de [una amiga] que yo nunca me voy a olvidar e: fue una

tragedia que lei perdí a ellai (Mulher, faixa 1, nível médio)

O constituinte que está sendo redobrado por meio de um pronome tônico em

(138a,b) é o pronome átono le. Notamos em (138a) que o antecedente ao qual o le se

refere tem os traços [+humano], [+específico] e [+definido]: tu mamá. Em (138b), o

antecedente una amiga tem os traços [+humano], [+específico] e [-definido]. Os dois

antecedentes (138a,b) não estão topicalizados.

Le [sintagma nominal]: (139) E: […] ¿Por qué todavía hay [muchos chicos]i que no tienen acceso?

I1: Mirá para mí es también es falta un poco de exigencia del gobierno […] o sea que falta un cachito más de la presión del Estado un seguimiento del Estado a que se lei obligue al chicoi a que vaya a la escuela (Homem, faixa 3, nível superior) b. I10: Y ahí quedé con eso y ahora miro a [los pajaritos]i y digo dejale así que vuelen tranquilos no quiero que maten […] no me gusta que lei maltraten a los pajaritosi (Mulher, faixa 1, nível médio)

Em (139), o pronome átono le está sendo redobrado por um SN. Em (139a) o

referente ao qual o le se refere tem os traços [+humano], [-específico] e [-definido]:

muchos chicos. Em (139b), o antecedente los pajaritos tem os traços [+animado], [-

específico] e [+definido]. Além disso, tanto em (139a) quanto em (139b) os

antecedentes não estão topicalizados.

Lo [pronome tônico]: (140) a. I11: En el caso de [los chicos que viven lejos]i no hay desde mi/ desde no

conozco no ningún tipo de ayuda […] pero a cada quince días cada quince días y bueno tiene de primero a quinto año adaptaron el curriculum de otra manera para ayudarlosi a ellosi (Mulher, faixa 2, nível superior)

b. E: Entiendo volvamos un poco qué opinás de este chico ((ruido)) conocés a este

chico?

23 A duplicação do OD aparece sublinhada e em itálico.

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131

F15: Me suena E: es [L S]i […] y ahí la policía armó todo un circo porque a éli loi agarraron en la costa del Uruguay y no e la casa de los padres como dijeron acá en Villa Bonita (Homem, faixa 3, nível médio)

Em (140a) o pronome átono que está sendo duplicado pelo pronome tônico em a

ellos é lo. O antecedente ao qual lo se refere, los chicos que viven lejos, não está

topicalizado e tem os traços [+humano], [+específico] e [+definido]. Em (140b) lo está

sendo redobrado por a él, sintagma que contem um pronome tônico, e se refere a um

antecedente não topicalizado, L S, que tem os traços [+humano], [+específico] e

[+definido].

Lo [sintagma nominal]: (141) a. E: Vos/ vamos a decir pero algún día escuchaste a [Cristina]i hablando por

ejemplo en cadena? I14: No yo lai voté a Cristinai la primera vez cuando ella salió presidente yo la voté a Cristina (Mulher, faixa 2, nível médio)

b. I17: Y según lo que yo me enteré de que el chavón era gendarme no? Y era e: a la misma era ladrón de coche se ponía a robar autos entonces [un policía]i justo lo pesca y: él agarro y loi mata al policíai (Homem, faixa 2, nível médio)

Em (141a) o SN redobra o pronome átono la que se refere a um antecedente,

Cristina, não topicalizado e que tem os traços [+humano], [+específico] e [+definido].

Em (141b), o SN redobra o pronome átono lo que se refere a um constituinte não

topicalizado que tem os traços [+humano], [-específico] e [-definido]: un policía.

Segundo Gómez Seibane (2012), o redobro seria obrigatório com objetos

específicos e definidos e que estão deslocados à esquerda do verbo, ou seja

topicalizados, sempre que contiverem uma informação conhecida. No entanto, não seria

obrigatório quando o referente for [+humano] ou quando estiver à esquerda do verbo e

contiver informação nova.

Em nosso corpus, no entanto, notamos que somente em (139b) o constituinte tem

o traço [+animado], nos demais casos o traço de animacidade do referente é [+humano].

Esse resultado nos leva a pensar que em Oberá emprega-se um sistema parecido ao do

espanhol porteño (Rio da Prata), onde as frequências de duplicação são altas quando o

antecedente é [+humano] (GÓMEZ SEIBANE, 2012: 57).

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132

Observando os dados em (138-141) notamos que, em Oberá, é possível a

duplicação com antecedentes [±específicos], como em (138a) e (139a) respectivamente,

e também quando o antecedente é [±definido], como mostram (141a) e (141b). Portanto,

podemos dizer que em Oberá a duplicação é possível com referentes [±específicos] e

[±definidos].

Analisando qualitativamente os dados, notamos que a duplicação ocorre com

constituintes deslocados à esquerda do verbo quando a informação é velha, como

ilustramos em (142). No entanto, quando a informação é nova, não encontramos

duplicação de clíticos (143), o que se alinha aos comentários de Gómez Seibane (2012).

Pré-verbal/informação velha (142) a. I5: [ese muchacho]i nunca nunca más se le vio está como desaparecido y

desaparecido E: Yo me acuerdo de cuando vivía acá pasaba por delante de casa I5: Sí nunca más se lei vio a ese muchachoi (Mulher, faixa 3, ensino fundamental)

b. I10: Bueno [mi perrito]i por ejemplo yo lo cuido cuando vengo a casa lo cuido bien bastante ladrón viste porque ladra todo el día yo loi quiero a él es muy mimado también mi perro (Mulher, faixa 1, ensino médio) c. I10: Bueno uno de [una amiga]i que yo nunca me voy a olvidar e: fue una tragedia que lei perdí a ellai (Mulher, faixa 2, ensino médio) d. I7: a: [este]i se perdió este muchacho yo nunca más lei he visto a estei (Homem, faixa 3, nível fundamental)

Em (142a) a entrevistadora e a informante já estavam falando do muchacho que

despareceu quando a ocorre a duplicação; em (142b) a informante já estava falando do

perrito antes de dizer que gostava dele; o mesmo ocorrem em (142c), em que a

informante já estava falando anteriormente sobre a amiga; finalmente em (142d) o

falante já falava sobre o muchacho que se perdeu antes de ocorrer a duplicação.

Pré-verbal/ informação nova (143) I14: el manto negro sí ya tiene tres años es más ya es adulto pero el y [el loro]i el

loroi tengo hace quince años (Mulher, faixa 2, ensino médio)

Em (143) a informante estava falando do manto negro e logo após isso introduz

um comentário sobre el loro. Como vemos, este elemento, que é uma informação nova,

não aparece duplicado.

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133

Gómez Seibane (2012) também indica que no espanhol o uso do elemento

redobrador contendo um pronome pessoal tônico deve vir necessariamente

acompanhado de um pronome clítico como elemento redobrado, ou seja, não seria

possível uma construção como *María vio a él, em que o pronome tônico existe sem

que haja um clítico, como em Maria lo vio a él. Por essa razão, chama a atenção em

nosso corpus a possibilidade de aparecer um pronome tônico redobrando a categoria

vazia zero, como ilustramos em (144):

Zero [pronome tônico]: (144) a. E: Bien y a ver un poquito ... a: y [este]i

I7: […] pero no sé la verdad que yo no sé este no sé porque para dónde habrá ido porque nadie no Øi vio éli (Homem, faixa 3, nível fundamental)

b. I7: […] vino mató mi gallo judiaba de mis perros atacaba por todos lados ... yo dije este Øi va a dejar loco a ellai (Homem, faixa 3, nível fundamental)

Verificamos em (144a,b) que a os pronomes tônicos él e ella aparecem após o

zero, o que em principio não seria possível. Como são poucos dados não podemos

afirmar que esse é um fenômeno recorrente ou que marca uma tendência. Somente

podemos dizer que aparece na fala de alguns dos nossos informantes, mais

especificamente na fala de um informante com mais de 50 anos de idade e com baixa

escolaridade. Vale destacar, também, a ausência da preposição em (144a): nadie no vio

él.

Chama a atenção também, em nosso corpus, a possibilidade de aparecer o zero

fonético antes de um SN quando este estiver topicalizado, como ilustrado em (145):

Zero [sintagma nominal]: (145) a. I10: Oberá es una ciudad muy poblada y tienen muchas cosas que vos podés

encontrar allá que acá vos no encontrás [la farmacia]i la farmaciai allá vos Øi encontrás todo el día abierto (Mulher, faixa 1, nível médio) b.I14 [...] pero el y [el loro]i el loroi Øi tengo hace quince años (Mulher, faixa 2, nível médio)

Desta vez, os dados aparecem na fala de informantes distintos, duas mulheres,

uma com menos de 20 anos de idade e o ensino médio em andamento, e a segunda com

mais de 20 anos e o ensino médio completo, o que demonstraria que é um fenômeno

que independe da faixa etária.

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134

Ainda que não haja uma interferência direta na escolha da realização do OD por

um clítico ou outro, queremos deixar constância da distribuição desses clíticos no que se

refere à sua posição em relação ao verbo, o que faremos abaixo.

Posição do clítico

A Tabela 6 apresenta a distribuição dos clíticos lo/le em relação à sua posição

proclítica (cl-V) ou enclítica (V-cl). Lembramos mais uma vez que a categoria geral

lo/la engloba os plurais los/las. Vejamos os resultados.

cl-V V-cl

le 174/348 - 50% 16/54 - 30% lo/la 174/348 - 50% 38/54 - 70%

Tabela 6. Posição do clítico24

Notamos que em posição pós-verbal, o clítico lo/la (146) foi mais produtivo que

le, com (38/54) ocorrências, o que equivale a 70% do total de dados. Na posição pré-

verbal há uma distribuição equilibrada entre le (147) e lo (148), com 50% para cada um

deles (174/348).

Verbo + clítico [lo]: (146) a. I18: […] hoy en día las mamá tiene ofertas de muchas cosas entonces [el hijo]i

bueno es una carga si no lo programó bien es una carga para la mamá cuando no debería serloi no? (Mulher, faixa 3, nível superior)

b. I4: hum e: si bien mi religión por ahí como que no comparte ciertas cosas pero nosotros e: [si querés hablar con Dios]i haceloi de rodillas directamente con Dios no necesitas que nadie interceda (Mulher, faixa 2, nível superior)

Clítico + verbo [le]: (147) a. I17: Y tengo algunas amigas pero las amigas [las chicas]i por más los viejos lei

tienen más cortas ponele no lei dejan salir (Homem, faixa 2, nível médio)

b. I5: […] por ejemplo un [una víbora]i la gente lei mata a golpe terrible porque para qué vino acá ese animal (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

Clítico + verbo [lo]:

24 Sabemos que a posição do clítico não determina a seleção das variantes, mas decidimos mantê-la para a descrição do objeto de estudo.

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135

(148) a. E: Bien qué opinás de e:: conocés a este a [este chico]i? I4: Sí E: Qué me contás sobre él? I4: La verdad loi conozco de acá del pueblo (Mulher, faixa 2, nível superior)

b. E: Bien si tuvieras la oportunidad de llamar [a Cristina]i llamarías a Cristina? […] I12: Creo que es muy e: egocéntrica su egocentrismo y su ambición fue lo que hizo arruinar muchas cosas y creo que nunca pensó en todo el país sino que pensó solamente en un sector e: que no vimos favorecidos e: favorecidos y otros desfavorecidos así que no no lai llamaría ni siquiera intentaría hablar (Mulher, faixa 1, ensino superior)

O gráfico a seguir ilustra os resultados apontados na Tabela 6:

Gráfico 7. Posição do clítico.

Observamos que em posição proclítica a distribuição dos clíticos le e lo/la é de

50% e 50%, justo a metade para cada um. Na posição enclítica o lo/la é mais produtivo

(70%), diante de 30% de le.

Uma vez vista a distribuição geral dos dados, passemos agora à apresentação das

realizações do objeto direto anafórico em função dos fatores internos e externos

controlados.

50%

30%

50%

70%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

cl-V V-cl

le

lo/la

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136

4.2 Forma do antecedente

Um fator interno que nos parece relevante para a nossa pesquisa é a forma do

antecedente. Este, o antecedente, pode ser um sintagma nominal (SN) ou um sintagma

oracional (SO). A Tabela 7 abaixo apresenta a distribuição das estratégias de acordo

com o tipo de sintagma que está sendo retomado.

Sintagma nominal Sintagma oracional

le 190/731 - 26% 0/85 - 0% lo/la 193/731 - 26% 21/85 - 24% zero 208/731 - 28% 39/85 - 45% SN 124/371 -17% 3/85 - 3%

Demonstrativo 16/731 - 2% 22/85 - 25%

Tabela 7. Forma do antecedente (1).

Percebe-se que o zero fonético se mostrou a estratégia mais produtiva nas duas

situações, isto é, quando o referente é um SN (149) ou um SO (150), com 28% e 45% de

produtividade, respectivamente. Cabe destacar, no entanto, que quando o referente é um

SN, a produtividade divide-se quase que igualmente entre as estratégias zero, le (151) e

lo/la (152), com 28%, 26% e 26% de produtividade, respectivamente. Dentro deste tipo

de sintagma, as duas formas menos produtivas são o SN (124/371 - 17%) (153) e o

demonstrativo, com somente dezesseis dados (16/371 - 2%) (154).

Quando o referente é um SO, chama a atenção o fato de que o clítico le não foi

empregado, ao passo que observamos uma produtividade bastante elevada do pronome

demonstrativo 22/85, o que equivale a 25% das ocorrências (155). Por fim, 21/85

ocorrências de sintagmas oracionais foram retomados pelo clítico lo, o que corresponde

a 24% (156), e somente 3/85 por SN (3%) (157).

Sintagma nominal [zero]: (149) E: hum: mirá M., conoce a [este chico]i?

I5: Sí Øi conozco sí (Mulher, faixa 3, nível fundamental) Sintagma oracional [zero]: (150) I13: […] pero cuando tuve mi computadora mi propia computadora bueno

empezamos a bajar programas empezamos a trabajar con eso al principio como que bueno era sorprendente tener una computadora que queríamos e: [nos bajábamos jueguito]i porque incluso no nos Øi prohibían (Mulher, faixa 1, nível superior)

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137

Sintagma nominal [le]: (151) I15: […] termina la zafra [los tareferos]i tiene que salir a la ruta a llorar y a pelar

para que le den un beneficio de la interzafra y el gremio no les da pero el gremio lesi obliga a trabajar para ellos para reclamar para que el gremio tenga el beneficio que les da el Estado (Homem, faixa 3, nível superior)

Sintagma nominal [lo]: (152) I1: Yo / podemos estar agradecidos a Dios porque nuestro país tiene esa

oportunidad de que podemos crecer dentro de [la escuela]i y también podemos dejarlai de lado (Mulher, faixa 3, nível superior)

Sintagma nominal [SN]: (153) I6: sí hice e: hice varias varias materias a ver e: el primer año tuvimos unas

materias que es exposición discursiva que se lleva todo lo que es mapa y todas esas cosas e: después tenemos gramáticas que es el tema de [las oraciones]i analizar las oracionesi (Mulher, faixa 1, nível superior)

Sintagma nominal [demonstrativo]: (154) I8: Sí hay [un puentecito bajito]i pero ponele no es tan bajito pero cuando cuando

crece el agua tapa todo estoi (Mulher, faixa 2, nivel medio) Sintagma oracional [demonstrativo]: (215) I3:[…] [antes nos juntábamos jugábamos con barrilete a la bolita jugábamos

pelota algunos]i y ahora los chicos que con esa edad que teníamos no hacen esoi ya se juntan a fumar a tomar (Homem, faixa 1, nível médio) (Homem, faixa 1, nível médio)

Sintagma oracional [lo]: (156) I11: Buena pregunta yo lo que noto es e: desde un principio lo que pienso es que

[cada uno tiene la libertad de formar la familia que quiera]i no? e: eso hoy día loi ampara la ley pero e: lo que falta es atención lo que los chicos demandan desesperadamente es (Mulher, faixa 2, nivel superior)

Sintagma oracional [SN]: (157) I1: mejoró inclusive la condición del tarefero antes era desastrosa ahora el

tarefero tiene colectivo que le lleva quele trae ya no tiene que ((ruido)) [alzando los raídos en el camión] porque tiene máquina que hace ese trabajoi= (Homem, faixa 3, nivel superior)

Como dito anteriormente, o clítico lola retoma sintagmas nominais e sintagmas

oracionais. Cabe salientar que não verificamos a forma la retomando SO. Mesmo que

uma estratégia seja mais produtiva do que outra, notamos que, com exceção do clítico

le, todas as estratégias retomam tanto SN como SO. Não verificamos dados de le

retomando SO em nosso corpus.

Vejamos agora os resultados de outra maneira:

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138

Sintagma nominal Sintagma oracional

le 190/190 - 100% 0/190 - 0% lo/la 193/214 - 90% 21/214 - 10% zero 208/247 - 84% 39/247 - 16% SN 124/127 - 98% 3/127 - 2%

Demonstrativo 16/38 - 42% 22/38 - 58%

Tabela 8. Forma do antecedente (2)

A Tabela 8 apresenta os resultados olhando para cada uma das variantes. O que

chama a atenção é o fato de que, entre as cinco estratégias analisadas em nosso trabalho,

é o pronome demonstrativo que retoma preferencialmente sintagmas oracionais.

Encontramos 22/38 ocorrências, o que equivale a 58% do total de dados. O clítico le

retoma especialmente SN (190/190 - 100%); não econtramos nenhuma ocorrência de

le(s) retomando SO. O clítico lo/la retoma preferencialmente SN (193/214 - 90%), mas

também é possível encontrá-lo referindo-se a SO. De modo análogo, o zero fonético

retoma preferencialmente sintagmas nominais (208/247 - 84%); somente encontramos

16% de ocorrência de zero referindo-se a sintagamas oracionais. Finalmente, a variante

sintagma nominal retoma, em nosso corpus, quase que categoriacamente sintagmas

nominais (124/127 - 98%).

O gráfico a seguir ilustra o resultado apontado na Tabela 8.

Gráfico 8. Forma do antecedente

100%90%

84%

98%

42%

0%10%

16%

2%

58%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

le(s) lo/la zero SN Dem.

Sintagma nominal

Sintagma oracional

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139

Como vemos no Gráfico 8, o pronome demostrativo é a forma mais recorrente

para retomar sintagmas oracionais. O zero fonético, que poderia ser a forma mais

empregada para retomar este tipo de sintagmas, retoma majoritariamente sintagmas

nominais.

A nossa hipótese para o controle desse grupo era a de que quando o antecedente

fosse um sintagma oracional, a retomada não ocorreria pelo clítico le e seria mais

produtiva por demonstrativos. Os nossos dados, como podemos ver, confimam a nossa

hipótese.

4.3 Número do antecedente

Analisamos agora a distribuição das variantes de acordo ao número do

antecedente. A Tabela 8 ilustra os resultados encontrados em nosso corpus. Cabe

ressaltar que somente podemos analisar neste caso os sintagmas nominais, uma vez que

os sintagmas oracionais não se classificam em singular ou plural.

singular plural

le 147/534 - 27% 43/197 - 22% lo/la 141/534 - 26% 52/197 - 26% zero 139/534 - 26% 69/197 - 35% SN 92/535 - 17% 32/197 - 16%

Demonstrativo 15/534 - 3% 1/197 - 1%

Tabela 9. Número do antecedente.

A partir da análise dos dados, percebe-se que, no singular, a produtividade divide-

se de maneira equilibrada entre le (158), lo/la (159) e zero (160), com 27% (147/534),

26% (141/534) e 26% (139/534) de produtividade, respectivamente. Com relação às

outras formas analisadas, encontramos 92/534 de ocorrências de SN (162) e 15/534 com

pronome demonstrativo (163), sendo estas as estratégias menos produtivas quando o

antecedente encontra-se no singular.

Antecedente singular [le]: (158) I5: […] por ejemplo un [una víbora]i la gente lei mata a golpe terrible porque

para qué vino acá ese animal (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

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140

Em (158), a forma no singular le retoma um antecedente com os traços

[+animado], feminino e singular. A informante responde a uma pergunta relacionada

com a fauna e com a flora da região.

Antecedente singular [lo]: (159) I12: […] como te contaba que antes se lo reprendía mucho más a[l chico]i por

haber hecho algo mal y ahora se loi deja mucho más libre (Mulher, faixa 1, nível superior)

Antecedente singular [zero]: (160) E: Y de [este accidente]i ¿Recordás algo? Es un … I12: A del puente que se que se e: me acuerdo pero muy poco porque yo estaba

justo estaba estudiando y me Øi comentaron así por arriba pero no llegué a saber sí (Mulher, faixa 1, nível superior)

Em (160) o zero fonético se refere a um antecedente que tem os traços inanimado,

masculino e singular. A forma não lexicalizada, ou zero, aparece na fala de uma mulher

que tem menos de 20 anos de idade e está cursando o ensino superior. O momento em

que ocorre é ao responder a uma pergunta da entrevistadora.

Antecedente singular [SN]: (161) E: Y después de ese accidente hicieron un homenaje qué me contás sobre ese?

Hay [un monumento]i en la plaza pero ((ruido)) I4: Mirá yo ví el monumentoi no participé del acto escuché e: (Mulher, faixa 2,

nível superior Antecedente singular [demonstrativo]: (162) E: Bien en relación / T usted conoce a a [este hombre]i? I16: Este hombre … yo parece que vi en la tele esei (Mulher, faixa 3, nível

fundamental)

No plural, nota-se uma leve tendência de maior uso do zero fonético (69/197 –

35%) (163) se comparado às estratégias le (43/197 – 22%), exemplo (164), e lo/la

(52/197 – 26%), exemplo (165). Novamente, as estratégias menos produtivas no plural

são o SN (32/197 - 16%) (166) e o pronome demonstrativo (1/197 - 1%) (167).

Antecedente plural [zero]: (163) E: Entonces ¿Los padres no controlan según vos no controlan mucho a [los

chicos]i?

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141

I12: Claro no tanto algunos sí pero generalmente la sociedad está así que no que no están controlandoØi (Mulher, faixa 1, nível superior)

Em (163) o zero fonético se refere a um antecedente que tem os traços humano,

masculino e plural: los chicos. Esse dado aparece na fala de uma mulher que tem menos

de 20 anos de idade e está cursando o ensino superior, quando responde à pergunta da

entrevistadora.

Antecedente plural [le]: (164) I5: [un hombre y una mujer]i le robaron la cartera a una señora que caminaba en

la calle mi patrona lei siguió con el auto viste llamaron a la policía y que sé yo y: no le hicieron nada (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

Notamos em (164) que o clítico le, que está no singular, retoma o antecedente un

hombre y una mujer que tem os traços humano, masculino e plural. Esse dado ocorre na

fala de uma mulher que tem mais de 50 anos de idade e tem somente o ensino

fundamental. Nesse momento, a informante está narrando uma experiência pessoal.

Antecedente plural [lo]: (165) I19 [...] esto lleva a que [los chicos]i estén desprotegidos porque en última

instancia ellos se revelan ellos quieren ser independientes ellos no quieren control pero cuando los padres de una familia o los docentes dejamos de estar cerca de ellos losi estamos dejando vulnerables (Mulher, faixa 3, nível superior)

Antecedente plural [SN]: (166) E: Bien ¿Vos tenés [mascotas]i? I13: No me gustan los animales pero sí en casa tenemos macotai (Mulher, faixa 1,

nível superior) Antecedente plural [demonstrativo]: (167) I8: Juegan todos los fines de semana ponele que hay una parte de chicos ponele

que le gustan [los deportes]i juegan los fines de semana y otro grupo que no comparten esoi (Mulher, faixa 2, nível médio)

É possível perceber que o zero fonético retoma tanto sintagmas que estão no

singular (160) quanto no plural (163), o que nos faz confirmar uma de nossas hipóteses

de trabalho. O mesmo acontece com o clítico lo/la, que retoma sintagmas no singular

(159) ou no plural (165). Nesses casos, observamos que, nos exemplos mostrados, há

flexão de número no clítico: lo (singular) e los (plural). Ainda que o clítico le também

seja utilizado para retomar antecedentes no singular (158) e no plural (164), vemos,

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142

nesse último dado, que o pronome se encontra morfologicamente no singular. É sobre

essa questão, da coincidência ou não do traço de número entre antecedente e clítico, que

dedicaremos as próximas linhas.

Número dos clíticos

Vejamos como se dá a distribuição do número dos clíticos le e lo/la observando o

comportamento dessas formas variantes de acordo com o traço de número. Antes de

visualizarmos o comportamento desses clíticos em função do número do antecedente,

no entanto, vejamos como se distribuem os clíticos no singular e no plural:

singular plural le 185/352 - 53% 5/52 - 10%

lo/la 167/352 - 47% 47/52 - 90%

Tabela 10. Número do clítico.

A Tabela 10 aponta que o número de clíticos no singular é consideravelmente

maior do que no plural, 352 no singular diante de 52 no plural. Considerando as formas

de singular há um número maior de ocorrências de le (168) do que de lo/la (169),

185/352 (53%) diante de 167/352 (47%). Por outro lado, considerando as formas de

plural, há uma ocorrência significativamente maior de lo/la (90%) do que de le (10%),

como ilustram os exemplos (170) e (171) respectivamente.

le [singular]: (168) a. E: Bien a ver que más A contame ¿Conocés a [este chico]i? I10: Conozco sí E: Y qué me contás de él pero lo lo/viste a este chico acá en Villa Bonita

personalmente? Personalmente no/ I10: nunca lei vi así frente a frente nunca lei vi pero si escuché de lo que él hizo

(Mulher, faixa 1, nível médio)

lo [singular (lo/la)]:

(169) a. I6: […] tengo una compañera de pieza que el otro día se llevó [un gatito]i escondido le tuvo le tuvo unos días en la pieza pero se tuvo que llevar a su casa porque no nos permiten y llevándoloi a su casa su mamá dijo que no que no quería más mascotas (Mulher, faixa 1, nível superior)

b. I11: Tenía e: tenía [una gatita]i sí

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143

E: Contame un poco sobre tu gatita ¿Cómo es? I11: Sobre mi gatita e: ahora lamentablemente ya no está más e: era hermosa

llegó a mi casa un día pequeñita pequeñita e: estaba con infecciones en los ojos en los pulmones y yo así como así cuando lai vi lai tomé en mis brazos y lai llevé al veterinario y digo bueno cúrenlai y lai traje a mi casa me compró desde el primer día eso digamos (Mulher, faixa 2, nível superior)

le [plural (les)]:

(170) I15: […] porque termina la zafra [los tareferos]i tiene que salir a la ruta a llorar y a pelar para que le den un beneficio de la interzafra y el gremio no les da pero el gremio lesi obliga a trabajar para ellos (Homem, faixa 2, nível superior)

lo [plural (los, las)]:

(171) a. I18: [Las Ruinas de San Ignacio]i por ejemplo son un monumento muy muy importantes que tenemos la suerte de tenerlasi acá cerca (Mulher, faixa 3, nível superior)

b. I11: el año pasado o este año que se inundó toda la zona del Alto Uruguay y

había [una familia]i que tuvieron que rescatar porque su casa estaba sobre una e: … como se diría en? estaba sobre una zona alta sí? entonces gracias a eso el agua no llegó pero lo que hizo fue cercarlosi y no tenían como salir de ahí sí? (Mulher, faixa 2, nível superior)

O fato de termos 190 dados de le e somente cinco deles estarem no plural (les) nos

fez levantar a seguinte pergunta: qual a distribuição do número dos clíticos em relação

ao número do antecedente? Passemos então a observar como se disturbem le(s) e lo(s)25

ao considerar o número do antecedente (singular ou plural). Haveria manifestação total

de concordância de número? O que se esperaria, em princípio, conforme Fernández

Soriano (1999:1221), é que, quando o antecedente for singular, o mesmo seja retomado

por uma estratégia no singular, e quando plural, por uma estratégia no plural. Vejamos

os resutados:

25 Cabe lembrar que decidimos utilizar a etiqueta lo(s) para um grupo maior que também inclui a forma feminina la(s).

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144

Número do antecedente singular plural le 147/185 - 79% 38/185 - 21% les - 5/5 - 100%

Lo/la 136/146 - 93% 10/146 - 7% Los/las 5/47 - 11% 42/47 - 89%

Tabela 11. Número do clítico x número do antecedente.

Os resultados são interessantes. Percebe-se que le plural, ou seja les (172), retoma

somente antecedentes no plural (encontramos cinco ocorrências). Le no singular, por

sua vez, retoma não só antecedentes no singular, mas também antecedentes plurais

(173), o que nos faz comfirmar a nossa hipótese. Esse resultado vai ao encontro do que

foi apontado por Amable (1975), quem comenta que, em Misiones, há um uso estendido

de le26 singular que retoma antecedentes tanto no singular quanto no plural. Cabe, no

entanto, ressaltar que só foram contabilizados 38/185 (21%) ocorrências de le com

antecedentes no plural, diante de 147/185 (79%) no singular (174).

Les no plural [antecedente no plural]: (172) a. E: Y bien y como te cómo te por ejemplo y ¿Cómo hacés para cuidar a [tus

mascotas]i? […] I14: […] y ahí nos venimos para acá al medio día cuando llegamos en casa se

lesi saca de vuelta (Mulher, faixa 2, nível médio) b. I15: […] porque termina la zafra [los tareferos]i tiene que salir a la ruta a

llorar y a pelar para que le den un beneficio de la interzafra y el gremio no les da pero el gremio lesi obliga a trabajar para ellos (Homem, faixa 2, nível superior)

c. I19: […] porque con todo esta esta situación [los jóvenes]i terminan en

cualquier otra actividad no tan buenas que es concurriendo a bares tomando reuniéndose por ahí en pequeños grupos […] de donde se generan clubes donde hay actividades que participan los jóvenes donde se reúnen y pueden hacer cosas que sean buenas y que lesi ayuden a crecer (Mulher, faixa 3, nível superior)

Em (172 a,b,c) temos três exemplos de concordância entre o número do clítico

(les) e o número do antecedente (plural). Em (172a) temos um constituinte com os

traços [+animado] e plural, tus mascotas, sendo retomado por les. Em (172b) e (172c)

les se refere a constituintes com os traços [+humano] e plural: los tareferos e los

jóvenes, respectivamente.

26 Para verificar, em nosso corpus, se não houve algum tipo de aspiração da sibilante /s/ na forma les foi preciso ouvir mais de uma vez a gravação na qual havia a possibilidade de ocorrência de le no plural.

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145

Le singular [antecedente plural]: (173) a. E: Y bien y como te cómo te por ejemplo y ¿Cómo hacés para cuidar a [tus

mascotas]i […] I14: No fíjate nosotros por ejemplo se lei saca a correr un rato a la plaza (Mulher,

faixa 2, nível médio)

b. F16: Claro y por eso yo digo la la la gente no respeta a la policía y la policía no respeta tampoco y: la justicia no ayuda a los policías ponele que la policía rescata [los bandidos]i llevan ahí llegan allá en el juez el juez lei suelta viste (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

Le singular [antecedentes no singular] (174) E: Bien a: y a este a [esta persona]i conocés?

I14: no no no me acuerdo no lei conozco (Mulher, faixa 2, nível médio)

Em (173a) le no singular retoma um antecedente que tem os traços [+animado] e

plural: tus mascotas. Em (173b) le se refere a um constituinte com os traços [+humano]

e plural: los bandidos. Nesses casos, o clítico le singular retoma antecedentes plurais.

Em (174), le no singular retoma um antecedente [+humano] e singular (esta persona),

ou seja, há concordância de número entre o antecedente e o clítico.

Igualmente chama a atenção o comportamento de lo(s)/la(s), já que esperávamos

que lo/la somente retomasse antecedentes no singular e los/las somente antecedentes no

plural. No entanto, notamos que lo/la singular (175) retoma também antecedentes no

plural, em 10/146 ocorrências (7%). Um comportamento análogo observa-se no

emprego do los/las plural (176), o qual retoma também antecedentes no singular em

5/47 concorrências (11%).

Lo singular [antecedente singular/plural]: (175) a. I12: […] como te contaba que antes se lo reprendía mucho más a[l chico]i por

haber hecho algo mal y ahora se loi deja mucho más libre (Mulher, faixa 1, nível superior)

b. I18: tenía [una perrita pincher una chiwawa chiquitita]i y de catorce años que estuvo con nosotros se murió porque estaba muy viejita descalcificada muy muy este ya tenía su edad y se nos murió fuimos a Corrientes y se nos cayó del balcón porque tuvo una fractura de cadera y al otro día lai hicimos sacrificar (Mulher, faixa 3, nível superior)

c. I12: Yo creo que está e: … está bueno pero está bueno para la gente que no que

no que por ahí no tiene trabajo o o está desocupado laboralmente pero creo que

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146

tienen que mejorar en el aspecto de que por ahí los [los hombres]i pasan muchas horas haciendo eso no loi dejan descansar e: (Mulher,faixa 3, nível superior)

d. I19: el docente tiene en sus manos el poder de ser un arma de creación o de

destrucción porque tienen en sus manos las mentes de [tantos chicos]i que pasan por ellos y hacerlos crecer y ayudarlos a crecer […] hacer algo por ellos siempre podés hacer el docente está más cerca el docente loi tiene ahí (Mulher, faixa 3, nível superior)

Percebemos que em (175a,b) há concordância de número entre o antecedente e o

clítico. Em (175a) lo retoma el chico, que está no singular, em (175b) la retoma una

perrita pincher una chiwawa chiquitita, que também está no singular. Por outro lado,

em (175c,d) o clítico não concorda em número com o seu antecedente. Em (175c) lo

retoma los hombres no plural e em (175d) tantos chicos, também no plural. Neste

último caso, em (175d), percebemos que a distância do OD em relação ao antecedente é

grande. Essa distância poderia ser levada em consideração para a explicação da não

correspondência entre o traço de número do clítico e de seu antecedente.

Los plural [antecedente singular]: (176) a. I4: […] yo tengo veintitrés años yo toda la vida viví acá hubo [gente]i que vos

decís yo losi conozco pero ellos me conocían más de chiquita (Mulher, faixa 2, nível superior)

b. F11: el año pasado o este año que se inundó toda la zona del Alto Uruguay y había [una familia]i que tuvieron que rescatar porque su casa estaba sobre una e: … como se diría en? estaba sobre una zona alta sí? entonces gracias a eso el agua no llegó pero lo que hizo fue cercarlosi y no tenían como salir de ahí sí? (Mulher, faixa 2, nível superior) c. y los encontramos a los a [la pareja]i que quería asaltar llamamos a la policía vino inmediatamente y después yo tuve que volver a mi casa así que no sé si losi detuvieron (Mulher, faixa 3, nível superior)

Notamos em (176a) que los retoma um antecedente que morfologicamente é

feminino e singular, gente, mas semanticamente traz a ideia plural de um coletivo. Em

(176b), o antecedente família, morfologicamente feminino e singular, pode trazer a ideia

plural de mais de um membro, o que poderia ter determinado a seleção de um clítico no

plural. Nesses casos, parece que a concordância se dá em função das propriedades

semânticas do nome antecedente, que pode se referir a um grupo com mais de um

indivíduo. O mesmo se aplica a (176c), com o antecedente singular la pareja, que

envolve necessariamente a presença de dois indivíduos.

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147

Desta forma, os exemplos (175) e (176) demonstram a possibilidade de o clítico

lo/la, no singular, retomar antecedentes no plural e los/las, no plural, fazer referência a

constituintes no singular.

Vejamos no gráfico 9 como fica a distribuição dos clíticos ao considerar o número

do antecedente:

Gráfico 9. Número do clítico x número do antecedente.

A cor azul representa o antecedente no singular e a cor vermelha o antecedente no

plural. Assim notamos que le retoma 79% de antecedentes no singular e 21% quando

estão no plural. Já les retoma somente antecedentes no plural. Por sua vez, lo/la retoma

majoritariamente antecedentes no singular (93%) e somente 7% quando estão no plural.

Finalmente, los/las retoma predominantemente antecedentes no plural, 89%, diante de

11% quando estão no singular.

Acreditamos que a ausência de concordância entre o antecedente e o clítico no

caso de lo/la e los/las deve ser tratada de modo diferente ao caso de le e les. Em

primeiro lugar, porque a quantidade de dados é consideravelmente menor e a não

concordância de número com o antecedente pode ser explicada por questões como a

semântica (176) ou a distância de menção em relação ao antecedente (175d). Esses

fatores não se aplicam ao caso de le, em que, aparentemente, não encontraríamos

nenhuma explicação que justificasse os casos de clíticos no singular (le) retomando

79%

0

93%

11%21%

100%

7%

89%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

le les lo/la los

Númerodoantecedentesingular Númerodoantecedenteplural

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148

antecedentes no plural. Em segundo lugar, em nossa opinião, o clítico lo/la apresenta

uma distribuição diferente da do clítico le, como será descrito nas próximas subseções.

4.4 Gênero do antecedente

A Tabela 12 sintetiza a distribuição das variantes de acordo ao gênero do

antecedente.

masculino feminino

le 137/447 - 31% 53/284 - 19% lo/la 125/447 - 28% 68/284 - 24% zero 115/447 - 26% 93/284 - 33% SN 61/447 - 14% 63/284 - 22%

Demonstrativo 9/447 - 2% 7/284 - 3%

Tabela 12. Gênero do antecedente.

Ao que parece, os nossos dados não são muito esclarecedores quanto à

influência do gênero do antecedente no condicionamento das estratégias de realização

do OD anafórico de terceira pessoa na variedade do espanhol de Oberá. Em termos

globais, chama a atenção um maior uso de le para antecedentes no masculino (31%) e

zero para o feminino (33%). O que é interessante observar é o fato de que tanto le como

zero retomam antecedentes femininos e masculinos, o que nos faz responder

afirmativamente à nossa hipótese inicial de trabalho.

Considerando o antecedente masculino, encontramos 137/447 (31%) ocorrências

de le, 125/447 (28%) de lo/la e 115/447 (26%) de zero. Para o feminino, os valores são

53/284 (19%) de le, 68/284 (24%) de lo/la e 93/284 (33%) de zero. A distribuição dos

clíticos e do zero é, portanto, relativamente equilibrada. Os exemplos (177-182)

exemplificam casos de le, lo e zero em relação ao gênero.

No que tange ao gênero, esse resultado confirma o apontado por Gómez Seibane

(2012:43), quem comenta que, para a região do nordeste da Argentina, “le es la forma

utilizada para todos los sustantivos, con independencia de los rasgos semánticos

concordantes, como el género y el número”. Como vemos, le pode ser utilizado para

antecedentes masculinos e femininos, ainda que não seja a única estratégia que tenha

essa possibilidade de uso.

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149

Le [masculino]: (177) E: La policía arrestó a [L]i por acá alrededor eso me contaron

I4: Yo la verdad es que no sé yo lei vi en (Mulher, faixa 2, nível superior)

Le [feminino]: (178) I5: […] por ejemplo un [una víbora]i la gente lei mata a golpe terrible porque

para qué vino acá ese animal (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

Notamos em (177) e (178) que le pode retomar tanto antecedentes masculinos

quanto femininos. Em (177), se refere ao constituinte L, que tem os traços [+humano],

masculino e singular; já em (178) o antecedente una víbora tem os traços [+animado],

feminino e singular.

Lo [masculino]: (179) E: Bien qué opinás de e:: conocés a este a [este chico]i?

I4: Sí E: Qué me contás sobre él? I4: La verdad loi conozco de acá del pueblo (Mulher, faixa 2, nível superior)

La [feminino]: (180) I18: tenía [una perrita pincher una chiwawa chiquitita]i y de catorce años que

estuvo con nosotros se murió porque estaba muy viejita descalcificada muy muy este ya tenía su edad y se nos murió fuimos a Corrientes y se nos cayó del balcón porque tuvo una fractura de cadera y al otro día lai hicimos sacrificar (Mulher, faixa3, nível superior)

Em (179) notamos que lo retoma este chico que tem os traços [+humano],

masculino e singular. Em (180) la retoma una perrita pincher una chiwawa chiquitita,

que tem os traços [+animado], feminino e singular. Portanto, lo se refere a um

constituinte masculino e la a um feminino.

zero [masculino]: (181) I15: […] el tema de [los planes]i la gente está muy contenta por el tema de los

planes hay otros que dicen que es el plan vago que el plan esto que la gente no trabaja porque tiene un plan pero si no tenés planes no vivís no si no hay trabajo tampoco porque no hay trabajo entonces si no tenés planes de dónde vas a tener para comer yo Øi cobro o sea […] (Mulher, faixa 1, nível superior)

zero [feminino]: (182) a. E: claro y usted recuerda así de algún hecho así que quiera contarme de una

situación que tuvieron que llamar a [la policía]i? I18: sí de hecho tuve varios casos acá porque yo hace trece años que estoy

viviendo acá de vuelta y en varias oportunidades Øi he llamado e hac/ e llegaron

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150

rápido hace poco hace seis meses también Øi he llamado porque asaltaron (Mulher, faixa 3, nível superior)

b. I7: […] llevó [una perrita]i de ella que nunca más Øi encontró para nada (Homem, faixa 3, nível fundamental)

Em (181) notamos que a categoria vazia, ou zero, retoma o antecedente los

planes, que tem os traços [+inanimado], masculino e plural. Em (182a), por sua vez, o

antecedente la policía tem os traços [+humano], feminino e singular; em (182b) o

referente una perrita é [+animado], feminino e singular. Ambos estão sendo retomados

pelo zero fonético.

Além disso, o SN tem 14% de ocorrências para antecedentes masculinos (183) e

22% para feminino (184). Os valores para o demonstrativo, que é a estratégia menos

produtiva, são 2% fazendo referência a formas no masculino (185) e 3% para formas no

feminino (186).

SN [masculino]: (183) I18: e: deberían haber más unidades y bajar los costos el precio de [los boletos]i

son altísimos la gente o sea el público no puede costearse los pasajesi tan fácilmente como deberían debería ser más baratos (Mulher, faixa 3, nível superior)

SN [feminino]: (184) E: Y usted cree que la cuál es cuál es su punto de vista en relación a: de los

policías con la población de/ local usted cree que la gente respeta a [la policía]i I16: La gente no respeta a la policíai (Mulher, faixa 3, nível fundamental) Demonstrativo [masculino]: (185) I8: Juegan todos los fines de semana ponele que hay una parte de chicos ponele

que le gustan [los deportes]i juegan los fines de semana y otro grupo que no comparten esoi (Mulher, faixa 2, nível médio)

Demonstrativo [feminino]: (186) E: Perfecto a: ¿Qué opinás de esta profesión/ de [la tarefa]i? I12: Yo creo que está e: … está bueno pero está bueno para la gente que no que

no que por ahí no tiene trabajo o o está desocupado laboralmente pero creo que tienen que mejorar en el aspecto de que por ahí los los hombres pasan muchas horas haciendo esoi (Mulher, faixa 1, nível superior)

Em síntese, no que diz respeito ao gênero, esses resultados confirmam o apontado

por Gómez Seibane (2012:43), como mencionado acima. O clítico le não apresenta

restrições enquanto ao gênero e ao número. No entanto, não é a única estratégia possível

de ocorrer, pois compete com lo/la e com zero.

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151

O zero, por sua vez, também não apresenta restrições em relação ao gênero, pois

pode aparecer com objetos que têm referência feminina ou masculina, e remetendo-nos

a 4.3, aparece também quando o antecedente estiver no singular e no plural.

Vejamos no gráfico 10 como fica a distribuição das variantes em relação ao

gênero do antecedente:

Gráfico 10. Gênero do antecedente.

Como apontado anteriormente, zero e le retomam constituintes que têm os traços

[±singular], e agora constatamos que também não têm restrição quanto ao gênero,

retomando antecedentes [±masculino].

Encontramos le referindo-se a objetos masculinos, como em (177), e femininos,

como em (178). De modo análogo, o zero fonético também não encontra restrições em

relação ao gênero do constituinte, já que se refere a objetos masculinos, como em (181),

e femininos, como me (182). Isso fica melhor ilustrado no Gráfico 10 nas cores azul e

verde, respectivamente. Notamos que em ambos os gêneros estas duas estratégias

apresentam altos índices de produtividade.

Chama a atenção, em nosso corpus, a alta produtividade do clítico lo/la e, por essa

razão decidimos separar os dados de lo/la em função do gênero: lo(s) e la(s). Haveria

concordância de gênero entre o clítico e o antecedente? Vejamos os resultados de lo(s) e

la(s) em função do gênero do antecedente:

31%

19%

28%26%

33%

14%

22%

2% 3%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

masculino feminino

le

lo/la

zero

SN

Dem.

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152

antecedente masculino

antecedente feminino

Lo(s) 125/136 - 92% 11/136 - 8% La(s) - 57/57 - 100%

Tabela 13. Lo em função do gênero (masculino lo(s), feminino la(s)

O objetivo de separar a estratégia lo(s) e la(s) era verificar se havia uma

equivalência entre gênero do clítico e gênero do antecedente. Os resultados são

interessantes. Encontramos 11 ocorrências de lo retomando antecedentes femininos,

estando quatro delas exemplificadas em (186). Por sua vez, la retoma somente

antecedentes femininos.

(186) a. I13: Y bueno la verdad que no entendía nada no di computación en el colegio pero cuando tuve [mi computadora]i mi propia computadora bueno empezamos a bajar programas empezamos a trabajar con eso al principio como que bueno era sorprendente tener una computadora que queríamos e: nos bajábamos jueguito porque incluso no nos prohibían o sea bajarnos juegos podíamos hacer eso y yo loi utilicé muy poco para el colegio porque después se e: tuvo un problema la computadora y loi llevé al servicio técnico (Mulher, faixa 1, nível superior)

b. I11: el play si varios hechos por ejemplo [mi fiesta de quince]i que loi

esperaba con ansiedad tremenda (Mulher, faixa 2, nível superior) c. E: en relación a/a la violencia ¿Qué opina usted de nuestro barrio y

principalmente sobre nuestro querido ex alumno? a mi me entristeció mucho ¿Sabe [la historia de este chico]i?

I1: Sí loi sé (Mulher, faixa 3, nível superior) d. I18: e: la dificultad que te nombraría es es que está poco e: poco e: o sea no

hay materiales no hay insumos no hay este buenos apar/ buenos equipamientos en las salitas pero igualmente se pueden hacer [muchas cosas]i que de hecho loi hago e: en la prevención que ya te digo se puede y se debe hacer (Mulher, faixa 3, nível superior)

No exemplo (186a), a informante emprega duas vezes o pronome lo para se referir

à computadora, que possui o traço feminino. Em (186b), a informante se refere à sua

fiesta de quince (años) com o pronome lo. Em espanhol o nome fiesta tem o traço

feminino e, como era o começo da narrativa, era a primeira vez que este antecedente

aparecia na fala da mesma. No exemplo (186c), a informante retoma la historia de este

chico por meio do pronome lo. A falante está olhando para a apresentação em Power

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153

Point e vê a foto da pessoa da qual se fala nesse momento. Ele é um ex-aluno do colégio

no qual ela é diretora. Em (186d), a informante emprega o pronome lo singular para

retomar muchas cosas, antecedente que tem os traços feminino e plural.

Analisando qualitativamente os onze dados, dentre os quais quatro foram

apresentados em (186), verificamos que os mesmos ocorrem na fala de diferentes

informantes e que em nenhum dos casos há duplicação para a especificação do

antecedente. Além disso, notamos que os 4 dados apresentados aparecem na fala de

informantes do gênero feminino que têm o ensino superior, completo ou incompleto.

É interessante salientar os resultados apontados por Gómez Seibane (2012). A

autora indica que lo referido a entidades femininas é quase categórico no espanhol da

região andina (Peru, Bolívia, e noroeste da Argentina). Esse fenômeno se deve à

neutralização do gênero, especialmente entre falantes bilíngues e monolíngues no

registro popular. Esses resultados parecem indicar que em Misiones o pronome lo

poderia estar caminhando na mesma direção. Obviamente os nossos dados não são

conclusivos e essa questão merece uma investigação mais profunda que foge aos limites

deste trabalho.

No entanto, nos chama a atenção algumas particularidades relacionadas ao uso do

clítico lo/la. A nossa hipótese incial de trabalho era a de que essa forma fosse a menos

frequente no espanhol de Oberá, ocorrendo sobretudo na fala de mulheres e informantes

mais escolarizados. Em outras palavras, o clítico lo/la poderia ser visto como uma

forma não fixada no sistema de Oberá.

Até o momento, conseguimos reunir uma série de evidências que podem ser

argumentos a favor dessa hipótese de trabalho, que certamente merece mais

investigação futura. No que se refere ao número, o clítico lo/la, como vimos, pode ser

utilizado tanto para retomar antecedentes no singular quanto no plural. O mesmo se

aplica às formas de plural los/las, que também podem retomar antecedentes no singular.

Já em relação ao gênero, o clítico lo é utilizado para retomar antecedentes masculinos e

femininos. Esses resultados poderiam ser tomados como evidências da não fixação do

clítico lo/la no sistema de Oberá, Misiones.

Além disso, extrapolando os casos de concordância entre o clítico e o antecedente,

também encontramos o clítico lo/la desempenhando funções distintas das de OD, como

a função de OI e obliquo.

Em outras palavras, o clítico lo/la “acusativo” inicialmente é empregado para

retomar o OD, como aponta Fernández Soriano (1999:1221). O objeto indireto, que é

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154

sempre precedido pela preposição “a” em espanhol, é, a princípio, retomado pelo clítico

“dativo” le (FERNÁNDEZ SORIANO, 1999: 1221). Assim, com o verbo dar teríamos

dar algo a alguién, onde a alguien é o OI. Por exemplo, em dar las cartas a María, se

substituirmos a María por um clítico teríamos darle las cartas.

Já o obliquo é um complemento exigido por alguns verbos e completa o seu

significado. Como exemplo podemos citar o verbo pasar: alguien pasa algo por encima

de algo, sendo o termo sublinhado classificado como um objeto oblíquo.

Em nosso corpus, verificamos a possibilidade de retomar o OI (a alguien) o ou

oblíquo (de algo) também por meio do clítico lo/la. Vejamos os exemplos (187) e (188).

(187) I17: No se puede transitar [los caminos]i E: Qué hace el gobierno para mejorar? IF17: supuestamente loi agarran loi pasan la máquina y después loi tiran las piedras sería pero vienen las lluvias y se forman unas canaletas horribles vos pasás y te rompés todo la moto (Homem, faixa 2, nível médio)

No exemplo (187) o informante está falando sobre as vias (caminos) e as más

condições das mesmas. Ele comenta a maneira como os encarregados arrumam as vias.

Segundo o Diccionario de la Lengua Española, a 8a entrada o verbo agarrar significa:

resolverse a efectuar una acción. Nesse caso, o verbo não pediria um OD. Esse uso nos

leva pensar que a presença do clítico lo, neste caso, deve-se ao fato de que é uma forma

que não é a mais empregada pelo falante e por isso aparece em um contexto em que não

é necessária a presença de nenhum complemento verbal direto.

Conforme o Diccionario de la Lengua Española, o verbo pasar, tal como

empregado na fala do informante, significa llevar algo por encima de otra cosa, de

modo que la vaya tocando. Assim, esse verbo pediria três complementos: "i) alguien

pasa ii) algo por encima iii) de algo". Em (187), temos passar a máquina por cima do

caminho/da via, em que o papel que desempenha o clítico lo não é o de OD, uma vez

que este está preenchido pelo termo la máquina. Nesse caso, podemos dizer que lo

estaria desempenhando o papel de objeto oblíquo por encima del camino.

Ainda em (187) temos lo tiran las piedras. Segundo o Diccionario de la Lengua

Española, o verbo tirar significa arrojar, lanzar en dirección determinada, que pede

um complemento indireto, como por exemplo tirar las piedras al camino. Portanto, al

camino na fala do informante desempenha a função de OI que é retomado pelo clítico

lo.

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155

(188) I15: por violencia policial por proceder mal entonces y bueno quedo todo ahí

algunos no sé si van a ir a juicio o estuvieron presos salieron pero la familia de los damnificados están haciendo trámite para poder ver si loi hacen un juicio (Homem, faixa 3, nível médio)

No exemplo (188) o informante está falando sobre a violência policial que

sofreram algumas famílias. Notamos que o clítico lo aparece antes do verbo hacer. Esse

verbo significa, segundo o Diccionario de la Lengua Española, ejecutar, poner por

obra una acción o trabajo, ou seja, hacer algo. No entanto, notamos que no exemplo

(188) aparecem três complementos: (i) alguien hace (ii) un juicio (iii) a alguien, ou las

familias de los damnificados hacen un juicio a la policía. Assim, podemos classificar a

la policía como OI, que no caso é retomado pelo clítico lo pelo falante 15.

É importante destacar que os exemplos (187) e (188) aparecem na fala de

informantes do gênero masculino. O primeiro corresponde a um informante de entre 20

e 50 anos de idade, que tem o ensino médio completo; o segundo corresponde a um

informante com mais de 50 anos, que tem o ensino superior completo.

Em síntese, os argumentos anteriormente mostrados podem ser considerados

evidências a favor de nossa hipótese, segundo a qual o clítico lo/la seria uma forma não

fixada no espanhol de Oberá. Retomaremos essa discussão ao tratarmos dos fatores

externos, sobretudo o gênero e a escolaridade do informante.

Uma vez vista a distribuição de lo/la em relação ao gênero do antecedente e a

variação entre lo/la ~ le, passemos agora a observar a distribuição das variantes em

relação à animacidade do antecedente.

4.5 Animacidade do antecedente

A animacidade do antecedente é um traço que, segundo alguns autores, entre eles

Palacios (1998; 2006) e García e Mallat (2015), influencia no condicionamento das

estratégias de realização do objeto direto anafórico de 3a pessoa. A Tabela 14 demostra

os resultados gerais encontrados em nosso corpus:

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156

humano animado inanimado

le 159/331 - 48% 28/88 - 32% 3/312 - 1% lo/la 92/331 - 28% 30/88 - 34% 71/312 - 23% zero 51/331 - 15% 18/88 - 21% 139/312 - 45% SN 28/331 - 9% 8/88 - 9% 88/312 - 28%

Demonstrativo 1/331 - 0% 4/88 - 5% 11/312 - 4%

Tabela 14. Animacidade do antecedente.

Observa-se que a distribuição das estratégias não se encontra de maneira

equilibrada nos três tipos de animacidade controlados. Le é mais produtivo com

referentes humanos (48%). Com referentes animados, as duas estratégias mais

empregadas são lo/la com 34% e le com 32%. Quando o referente é inanimado, zero é

a estratégia mais empregada (139/312 - 45%). Esses resultados gerais confirmam a

nossa hipótese de trabalho, de que as formas le e zero seriam mais empregadas para

antecedentes [humanos] e [inanimados], respectivamente. Vejam-se os exemplos (189-

192).

Le [humano]: (189) I17: Y tengo algunas amigas pero las amigas [las chicas]i por más los viejos lei

tienen más cortas ponele no lei dejan salir (Homem, faixa 2, nível médio)

Em (189) o informante retoma o constituinte las chicas por meio do clítico le.

Este antecedente tem os traços [+humano], feminino e plural. Lo [animado] (190) I18: que no está cuidada como debería estar cuidada no hay /acá cerca de tres

cuadras tenés el jardín de los pájaros y no no no no le prestan el debido cuidado a [los animales]i que debería tener por ejemplos se escapan no losi devuelven (Mulher, faixa 3, nível superior)

Le [animado] (191) I10 una vez [un lorito]i que me regaló mi papá y estaba en la orilla de la silla y

un perro ladró al lado de él y como yo le corté la alita por malvada también/ no es muy querer también porque si uno lei quiere no le va a cortar la alita ¿no? Le corté la alita y lei puse en la orilla me fui a jugar con mi amiga y lei dejé con mi mamá el lorito (Mulher, faixa 1, nível médio)

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157

Em (191) o clítico le refere a um antecedente que tem os traços [+animado],

masculino e singular. A informante é uma mulher que tem menos de 20 anos de idade e

está cursando o ensino médio.

Zero [inanimado] (192) E: [Los mitos y las leyendas]i I19: Creo que que desde la lingüística se Øi trata o sea los mitos y leyendas

forman parte de contendidos que se enseñan y en las escuelas secundarias (Mulher, faixa 3, nível superior)

Também podemos encontrar constituintes com traço [+humano] (193) e

[+animado] (194) sendo retomados pelo zero, com 51/331 (15%) e 18/88 (21%) dados,

respectivamente:

Zero [humano] (193) a. E: claro y usted recuerda así de algún hecho así que quiera contarme de una

situación que tuvieron que llamar a [la policía]i? I18: sí de hecho tuve varios casos acá porque yo hace trece años que estoy

viviendo acá de vuelta y en varias oportunidades Øi he llamado (Mulher, faixa 3, nível superior)

b. E: El hijo no respeta más a[l padre]i I5: no no Øi respeta= (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

Zero [animado] (194) E: Gallina y pato y [el pato]i es diferente muy diferente a la gallina? I16: Es más delicado para crecer pero tiene que cuidarØi más que un pollito

(Mulher, faixa 3, nível fundamental)

Em (192-194), a estratégia empregada para retomar o antecedente é o zero. No

primeiro dos exemplos, o constituinte Los mitos y las leyendas tem os traços

[+inanimado], masculino e plural. Em (193a), o antecedente la policía tem os traços

[+humano], feminino e singular, e em (193b) el padre é [+humano], masculino e

singular. Já no último exemplo (194), o zero se refere a um antecedente, el pato, com os

traços [+animado], masculino e singular.

Saltam aos olhos, na Tabela 14, as três ocorrências de le referindo-se a objetos

inanimados (3/312 – 1%) como ilustrado em (195). Esses são os únicos dados que se

alinham com os resultados encontrados por Martínez (2015). A autora indica que o

sujeito inanimado é pouco ativo, e por isso é um contexto apropriado para a aparição do

clítico le. Em nosso corpus, no entanto, encontramos somente 3 dados dessa variante

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158

para tal animacidade, com antecedentes no gênero feminino e masculino, no singular e

no plural.

Le [inanimado] (195) a. E: wow entonces ¿[La carne]i queda en el medio del tocino? I7: es como una panceta queda viste vos lei cortás así y tiene dos camaditas de

tocino la carne acá el tocino acá y el tocino acá y el otro acá vos lei cortás y queda= (Homem, faixa 3, nível fundamental)

b. E: ah: en Posadas entonces vamos a comparar Villa Bonita con Posadas qué

comparación hacés Villa Bonita Posadas cuáles son las diferencias y cuáles son [los puntos en común]i ?

I6: Puntos en común por ahí no no no lei encuentro mucho (Mulher, faixa 2, nível superior)

Também chama a atenção a baixa produtividade do demonstrativo (196)

referindo-se a constituintes com o traço [+humano] (1/331 – 0%).

Demonstrativo [humano] (196) E: Bien en relación / T usted conoce a a [este hombre]i ? I16: Este hombre … yo parece que vi en la tele esei (Mulher, faixa 3, nível

fundamental)

Mesmo que em menor proporção em relação a le, é possível observar que lo (197)

se refere a antecedentes humanos em 92/331 (28%) e a inanimados (198) em 71/312

(23%) dos casos. As duas estratégias com menor produtividade são o SN e o

demonstrativo. Quando o referente é humano (199), somente 9% das ocorrência foram

com SN (28/331). Para constituintes animados foram encontradas 8/88 ocorrências de

SN (200) e 4/88 de demonstrativo (201). Para os inanimados, foram encontrados 88/312

casos de SN (202) e 11/312 de demonstrativo (203).

Lo [humano] (197) a. I12: Yo creo que está e: … está bueno pero está bueno para la gente que no

que no que por ahí no tiene trabajo o o está desocupado laboralmente pero creo que tienen que mejorar en el aspecto de que por ahí los [los hombres]i pasan muchas horas haciendo eso no loi dejan descansar e: (Mulher,faixa 3, nível superior)

Lo [inanimado] (198) I18: Que es un idioma muy lindo muy agradable de escucharlo que deberíamos

mantener nuestro nuestro castellano como es originalmente sin la influencia de [las otras lenguas]i aunque lasi hablemos ((ruido)) el guaraní o el portugués y

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159

que cada país debe mantener su su su idioma como corresponde (Mulher, faixa 3, nível superior)

SN [humano] (199) E: bien felicita a[l Papa]i por…? I18: Felicito al Papai por lo que hacer pienso que es un santo (Mulher, faixa 3,

nível superior) SN [animado] (200) E: bien y en su barrio acá los vecinos ¿Acostumbran tener [mascotas]i ? I18: sí la mayoría de hecho tiene mascotai (Mulher, faixa 3, nível superior) Demonstrativo [animado] (201) I7: [La paca]i es?

E: creo que si no? I7: Si no este no es es SÍ esta es una paca E: es si una paca I7: y esei yo comí sí (Homem, faixa 3, nível fundamental)

SN [inanimado] (202) I15: […] en la época de los militares se veía un poco más de que la policía tenía

[poder]i y como ahora la policía perdió ese poderi porque la sociedad misma a través de la política le obliga le amenaza porque si le tocan e: con un político le pueden hacer perder el puesto (Homem, faixa 3, nível superior)

Demonstrativo [inanimado] (203) I8: Juegan todos los fines de semana ponele que hay una parte de chicos ponele

que le gustan [los deportes]i juegan los fines de semana y otro grupo que no comparten esoi (Mulher, faixa 2, nível médio)

O gráfico 11, a seguir, ilustra a distribuição das estratégias de realização do objeto

direto em função da animacidade do referente:

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160

Gráfico 11. Animacidade do antecedente.

A partir da leitura do Gráfico 10 notamos que le é mais produtivo quando o

antecedente tem o traço [+humano], lo/la quando é [+animado] e zero quando é

[inanimado].

Em síntese, podemos dizer que tanto le, quanto lo/la e zero, aparecem com

antecedentes [+humano], [+animado] e/ou [inanimado]. O que varia é o grau de

produtividade. Nossos resultados parecem afastar-se dos apontados por Martinez

(2015), quem comenta que em Corrientes, uma região muito próxima de Misiones, o

traço [+inanimado] seleciona a variante le, já que nosso corpus encontramos uma maior

produtividade de zero para esse tipo de animacidade.

Para uma melhor descrição da distribuição das estratégias em relação à

animacidade, propomos verificar os resultados gerais cruzando esse fator com outros,

tais como o número e o gênero do antecedente.

Animacidade x Número

Cruzamos a animacidade do antecedente com o número do antecedente e

obtivemos o seguintes resultados:

48%

32%

1%

28%

34%

23%

15%

21%

45%

9% 9%

28%

0%5% 4%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

humano animado inanimado

le

lo/la

cero

SN

dem.

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161

Singular Plural Humano Animado Inanimado Humano Animado Inanimado

Le 128/241 -53%

17/66 – 26%

2/227 – 1%

31/90 - 34%

11/22- 50%

1/85- 1%

Lo/la 61/241 - 25%

24/66 – 36%

56/227 - 25%

31/90 - 34%

6/22 - 27%

15/85- 18%

Zero 29/241 - 12%

15/66 – 23%

95/227 - 42%

22/90- 24%

3/22 - 14%

44/85- 52%

SN 22/241 – 9%

6/66 – 9%

64/227 - 28%

6/90- 7%

2/22 – 9%

24/85- 28%

Demonst. 1/241 – 0%

4/66- 6%

10/227 – 4%

0/90 – 0%

0/22- 0%

1//85 – 1%

Tabela 15. Animacidade do antecedente x número do antecedente.

Quando o referente está no singular e é [+humano], a estratégia mais produtiva é

le, 53%; quando é [+animado] é lo/la, 36%; e quando é [inanimado] é zero, 42%. Por

outro lado, quando o referente é plural e [+humano], le e lo/la apresentam a mesma

distribuição (34%), seguidos do zero (24%). Por sua vez, quando o referente é plural e

[inanimado] o zero é a estratégia mais empregada pelos falantes, com 52% de

produtividade (44/85). Chama bastante atenção o clítico le retomando antecedentes

animados/plural, com 50% de produtividade. A segunda estratégia mais empregada com

este tipo de antecedente, lo/la, só chega aos 27%, sendo esta a variante preferida no

singular para esse tipo de animacidade.

Em síntese, a partir da análise dos dados, observa-se que le é a estratégia mais

produtiva em dois contextos: i) com constituintes singular/[+humano] e ii)

plural/[+animado]. Um comportamento análogo encontramos com o zero, que também é

mais produtivo em dois contextos: i) com constituintes singular/[inanimado] e ii)

plural/[inanimado]. O clítico lo/la apresenta uma distribuição bastante equilibrada tanto

no singular quanto no plural, sendo a forma preferida com constituintes

singular/[+animado].

O gráfico a seguir nos ajuda a visualizar melhor os resultados que obtivemos ao

cruzar a animacidade com o número do antecedente:

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162

Gráfico 12. Animacidade X número do antecedente

O Gráfico 12 sintetiza a distribuição das estratégias de retomada do OD anafórico

de 3a pessoa em Oberá considerando a animacidade e o número do antecedente. É

possível perceber que le é a forma mais produtiva quando o referente tem os traços

[+humano]/singular e [+animado]/plural. Lo/la é mais empregado se referindo a

antecedentes com os traços [+animado]/singular e compete com le quando se refere a

antecedentes [+humano]/plural. O zero fonético é mais produtivo quando os

constituintes têm os traços [inanimado]/ ±singular. Com esse cruzamento, podemos

refinar o olhar e flexibilizar a nossa hipótese de trabalho, já que o clítico le é a forma

preferida para a retomada de antecedentes humanos sobretudo no singular, uma vez que

no plural essa forma compete, com produtividade equilibrada, com o clítico lo/la.

Animacidade x Gênero

Cruzamos a animacidade e o gênero do antecedente a fim de observarmos mais

especificamente o comportamento do OD em relação a esses fatores.

53%

26%

1%

34%

50%

1%

25%

36%

25%34%

27%

18%12%

23%

42%

24%

14%

52%

9% 9%

28%

7% 9%

28%

0%6% 4%

0% 0% 1%0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Humano Animado Inanimado Humano Animado Inanimado

Singular Plural

Le

Lo/la

Zero

SN

Demonst.

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163

Tabela 16. Animacidade do antecedente x número do antecedente.

Ao cruzar a animacidade do referente com o gênero do mesmo, percebemos que

quando o referente é feminino/[humano] a estratégia mais produtiva é le (43/103 –

42%), quando é feminino/[animado], lo/la (15/37 - 41%), e quando é

feminino/inanimado é zero (66/144 - 46%). Por sua vez, quando o referente é

masculino/[humano] ou masculino/[animado], a estratégia mais produtiva é le, (116/228

– 51%) e (20/51 – 39%), respectivamente. No entanto, quando o referente é

masculino/[inanimado] a estratégia mais empregada é o zero. Encontramos 73/168

ocorrências de antecedentes masculinos inanimados (43%) retomados pelo zero.

Podemos observar, no gráfico a seguir, a distribuição das estratégias mais produtivas.

Cabe lembrar que lo engloba o seu plural los, e la e las.

Feminino Masculino Humano Animado Inanimado Humano Animado Inanimado

Le 43/103 - 42%

8/37 - 22%

2/144 – 1%

116/228- 51%

20/51 - 39%

1/168 – 1%

Lo/la 22/103 - 21%

15/37 – 41%

31/144- 22%

70/228 - 31%

15/51 - 29%

40/168 - 24%

Zero 18/103 - 17%

9/37 - 24%

66/144 - 46%

33/228 - 14%

9/51 – 18%

73/168 - 43%

SN 20/103 - 19%

4/37 - 11%

39/144 - 27%

8 /288 – 4%

4/51 – 8%

49/168 - 29%

Demonst. 0/103 – 0%

1/37 – 3%

6/144 – 4%

1/228 – 0% 3/51 - 6% 5/169 –

3%

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164

Gráfico 13. Animacidade x gênero do antecedente.

O gráfico 13 ilustra as observações supracitadas. A estratégia mais empregada

quando o referente é [feminino, humano] é le; [feminino, animado] é lo e [feminino,

inanimado] é zero. Por sua vez, quando o referente é [masculino, humano] e [masculino,

animado] é le, e [masculino, inanimado] é zero. Como se pode ver, o fator gênero

parece não influenciar o condicioamento das formas le e zero em conjugação ao fator

animacidade: a nossa hipótese geral (le para antecedentes humanos e zero para

antecedentes inanimados) permanece válida independemtemente do gênero do

antecedente.

Na seção 4.4, vimos que, no nosso corpus, o clítico lo pode ser utilizado para

retomar antecedentes não só masculinos como também femininos. Vejamos na Tabela

abaixo de que natureza seriam esses antecedentes em relação à animacidade:

Antecedente feminino Antecedente masculino Humano Animado Inanimado Humano Animado Inanimado

Lo(s) 3/103 – 3%

0/37 – 0%

8/144 – 6%

70/228 – 31%

15/51 – 29%

40/168 – 24%

La(s) 19/103 – 18%

15/37 – 41%

23/144- 16%

0/228 – 0%

0/51 – 0%

0/168 – 0%

Tabela 17. Animacidade do antecedente x número do antecedente separando lo(s) e la(s).

53%

26%

1%

34%

50%

1%3%0%

6%

31% 29%24%

18%

41%

16%12%

23%

42%

24%

14%

28%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Humano Animado Inanimado Humano Animado Inanimado

Feminino Masculino

Le

Lo/la

La

Zero

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165

Percebe-se a partir da leitura da Tabela 17 que todos os constituintes com os

traços feminino/animado são retomados por meio de la (15/37), o que equivale a 41%.

No entanto, observam-se 3/103 casos de antecedentes com os traços feminino/humano e

8/144 com os traços feminino/inanimado sendo retomados por lo/la, com 3% e 6% de

produtividade, respectivamente. Quando o referente é masculino, o lo/la é categórico

para os três tipos de animacidade. Em síntese, vemos que o clítico lo/la pode ser

utilizado par retomar antecedentes femininos, desde que apresentem os traços de

animacidade [humano] e [inanimado].

Uma vez vista a animacidade x o gênero do antecedente, passemos a analisar a

especificidade do antecedente.

4.6 Especificidade do antecedente

Apresentamos na Tabela 18 a distribuição das estratégias consideradas em nosso

trabalho de acordo com a especificidade do antecedente.

[+específico] [-específico]

le 83/293 - 28% 107/438 - 24% lo/la 85/293 - 29% 108/438 - 25% zero 88/293 - 30% 120/438 - 27% SN 30/293 - 10% 94/438 - 22%

Demonstrativo 7/293 - 2% 9/438 - 2%

Tabela 18. Especificidade do antecedente.

Notamos que a distribuição em ambos casos, [±específico], encontra-se bastante

equilibrada. Com os antecedentes [+específicos], temos 30% de zero, 29% de lo/la e

28% de le, como é possível observar nos exemplos (204), (205) e (206),

respectivamente. Para os [-específicos], temos 27% de zero, 25% de lo/la e 24% de le.

Vejam-se os exemplos (207), (208) e (209).

As duas estratégias menos produtivas, tanto para [+específico] quanto para [-

específico] são o SN e o demonstrativo. Encontramos 30/293 (10%) dados de SN para os

constituintes com o traço [+específico] e 94/438 (22%) dados de antecedentes com o

traço [-específico]. De igual modo, encontramos 7/293 (2%) dados de demonstrativo

para constituintes com o traço [+específico] e 9/438 (52%) dados de demonstrativo para

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166

constituintes com o traço [-específico]. É possível ver alguns exemplos em (210), (211),

(212) e (213), respectivamente.

Específico [zero]:

(204) c. E: pero che bien a:: el otro día hubo / y a [este hombre]i conocés? […]I17: dos años ya ponele al primer años los primeros meses sí ponían carteles todas las boludeces Øi andaban buscando pero después no creo que ya renunciaron (Homem, faixa 2, nível médio)

E: A: vamos a pasar esto qué opinás de este accidente conocés [este accidente]i por qué pasó? I11: Øi Conozco y puedo decirte que se hubiera evitado (Mulher, faixa 3, nível superior)

Específico [lo]: (205) I11: Conozco y puedo decirte que se hubiera evitado es algo que se podría haber

evitado sí lamentablemente se perdieron ahí a tres personas en [ese puente]i cuando se sabía todo el mundo pasaba yo loi necesito loi necesitaba todos los día para ir a trabajar (Mulher, faixa 3, nível superior)

Específico [le]: (206) E: Qué hace tu amigo para cuidar a [la víbora]i?

I13: No sé con qué lei alimenta sé que tiene una víbora ahí en una pecera y le da de comer (Mulher, faixa 1, nível superior)

Não específico [zero]: (207) I19: No ninguno así de conocido cercano no se que hubieron personas de la

comunidad pero esto habla también de de por ahí de la falta de preocupación e: de ciertas autoridades cuando la comunidad ((ruido)) alertando sobre esto es decir no fue [un hecho casual]i que pasó sin que nadie Øi haya previsto (Mulher, faixa 3, nível superior)

Não específico [lo]: (208) I18: […] hoy en día las mamá tiene ofertas de muchas cosas entonces [el hijo]i

bueno es una carga si no loi programó bien es una carga para la mamá cuando no debería serlo no? (Mulher, faixa 3, nível superior)

Não específico [le]: (209) I16: Claro y por eso yo digo la la la gente no respeta a la policía y la policía no

respeta tampoco y la justicia no ayuda a los policías ponele que la policía rescata [los bandidos]i llevan ahí llegan allá en el juez el juez lei suelta viste (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

Específico [SN]: (210) E: Y después de ese accidente hicieron un homenaje qué me contás sobre ese?

Hay [un monumento]i en la plaza pero ((ruido))

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167

I4: Mirá yo ví el monumentoi no participé del acto escuché e: (Mulher, faixa 2, nível superior)

Não específico [SN]: (211) E: ¿Y hay [puntos positivos] y puntos negativos en vivir en Villa Bonita?

I1: Hay sí puntos positivosi la o sea en el caso de mi vida porque yo vivo acá y acá (Homem, faixa 3, nível superior)

Específico [demonstrativo]: (212) I8: Sí hay [un puentecito bajito]i pero ponele no es tan bajito pero cuando

cuando crece el agua tapa todo estoi se tapa todo y este es al actual y el viejo queda ponele acá arriba por acá queda por acá (Mulher, faixa 2, nível médio)

Não específico [demonstrativo]: (113) I8: Juegan todos los fines de semana ponele que hay una parte de chicos ponele

que le gustan [los deportes]i juegan los fines de semana y otro grupo que no comparten esoi (Mulher, faixa 2, nível médio)

Para o controle desse grupo de fatores, partimos da hipótese de Gómez Seibane

(2012), postulada para a língua espanhola sem distinção de variedades, sobre a qual os

clíticos seriam mais usados para retomar antecedentes [+específicos], ao passo que o

zero seria a estratégia preferida para a retomada de antecedentes [-específicos]. Como

pode ser visto, não conseguimos confirmar totalmente essa hipótese, já que o zero foi a

forma mais produtiva nos dois contextos. Assim, o fator especificidade do antecedente,

que, como pôde ser visto no capítulo 2, não participa diretamente das discussões do

condicionamento das estratégias de realização do OD anafórico, e parece não ser

decisivo para explicar a variação em tela.

Que informação adicional o cruzamento entre a animacidade e a especificidade do

antecedente poderia revelar? Vejamos a seguir.

Animacidade x Especificidade

A Tabela 19 mostra os resultados obtidos a partir do cruzamento da animacidade

x a especificidade do antecedente27.

27 Cabe lembrar que antecedente e referente estão sendo usados como sendo sinônimos neste estudo.

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168

[-Específico] [+Específico] Humano Animado Inanimado Humano Animado Inanimado

Le 79/159-

45% 26/28 -

34% 2/3 – 1%

80/159 - 52%

2/28 - 18%

1/3 – 1%

Lo/la 41/92 -

23% 22/30 -

29% 45/71 – 24 %

51/92 - 33%

8/30 - 73%

26/71 – 20%

Zero 32/51 -

18% 17/18 -

22% 71/139 -

39% 19/51 -

51% 1/18 –

9% 68/139 -

53%

SN 25/28 -

14% 8/8 – 10%

61/88 – 33%

3/28 – 2%

0/8 – 0%

27/88 – 21%

Demonstr. 0/1 – 0%

4/4 – 5%

5/11 – 3%

1/1 – 1%

0/4 – 0%

6/11 – 5%

Tabela 19. Animacidade x especificidade do antecedente.

Observando a Tabela 19, percebe-se que quando o referente é [-

específico]/humano a estratégia mais produtiva é o le (79/159 – 45%). Quando o

referente é [-específico]/animado, os falantes também preferem usar o le (34%), já

quando o referente é [-específico]/inanimado, a estratégia mais escolhida é o zero

(39%). Vejamos como fica ilustrada no gráfico a distribuição das estratégias

considerando a animacidade versus a especificidade do antecedente.

Gráfico 14. Animacidade x Especificidade.

O cruzamento da animacidade x especificidade nos possibilita observar melhor

que a distribuição não é análoga para ambos os tipos de especificidade. Ao que parece,

45%

34%

1%

52%

18%

1%

23%29%

24%

33%

73%

20%18%22%

39%

51%

9%

53%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Humano Animado Inanimado Humano Animado Inanimado

NãoespecíQico EspecíQico

Le

Lo/la

Zero

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169

le e zero competem quando o antecedente é específico/humano, mas não quando é [-

específico]/humano, contexto no qual le apresenta uma produtividade bem mais elevada

do que zero. Quando o antecedente é inanimado, tanto específico quanto não específico,

zero é a estratégia mais produtiva. E quando é específico/animado, chama a atenção a

alta produtividade de lo/la.

Anteriormente, na seção 4.5, pudemos observar que o clítico lo/la foi utilizado

para a retomda de antecedentes [+animados]. Agora, através desse cruzamento,

verificamos que esse uso somente existe quando o antecedente animado é também

[+específico]. Com antecedentes [-específicos], a distribuição de le e lo/la é bastante

equilibrada. Nesse contexto, encontramos 34% de le e 29% de lo/la.

Uma vez discutido o cruzamento da animacidade x a especificidade, observemos

agora mais um traço semântico do antecedente: a definitude.

4.7 Definitude do antecedente

Vejamos a Tabela 20 com a distribuição das variantes em função da definitude do

antecedente:

[+definido] [-definido]

le 158/614 - 26% 32/117 - 27% lo/la 168/614 - 27% 25/117 - 21% zero 176/614 - 29% 32/117 - 27% SN 99/614 - 16% 25/117 - 21%

Demonstrativo 13/614 - 2% 3/117 - 3%

Tabela 20. Definitude do antecedente.

A hipótese utilizada para o controle deste grupo, conforme anunciado no capítulo

de metodologia, era a de que os clíticos seriam utilizados mais preferencialmente na

retomda de antecedentes [+definidos], ao passo que a estratégia zero seria a mais

encontrada (ou, talvez, a única possibilidade) com antecedentes [-definidos].

Como podemos ver na tabela acima, os nossos resultados não confirmam essa

hipótese. Com antecedentes [+definidos], encontramos uma produtividade equilibrada

entre le (214), lo/la (215) e zero (216), com frequências que variam de 26% a 29%:

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170

Definido [le]: (214) E: A ¿si? Muy bien muy bien Y ¿te acordás de [este chico]i?

I9: Sí E: ¿Qué me contás? I9: No sé no lei conocí muy bien pero ((ruido)) por lo que dicen todos tuvo re mal está bien que ahora esté ahí pagando su: (homem, faixa 2, nível fundamental)

Definido [lo]: (215) E: Bien a: A qué opinás de las familias hoy en día? Las familias hoy en día vos

por ejemplo tenés a tu papá a tu mamá no tenés abuelos extrañas a [tus abuelos]i? I10: ((ruido)) a conocer a ellos no lo tuve la oportunidad pero quería conocerlosi (Mulher, faixa 1, nível médio)

Definido [zero]: (216) E: Contame más o menos qué hacés en [tu local]i I8: Ponele me levanto a la mañana Øi abro Øi limpio si tengo que limpiarØi y

estoy todo el día acá = (Mulher, faixa 2, nível médio)

Com antecedentes [-definidos] também encontramos todas as variantes

investigadas. Diferentemente do que postulava a nossa hipótese, a estratégia zero tem

produtividade igual ao clítico le (27%). Também chama a atenção os 21% de frequência

do clítico lo/la. Vejamos alguns exemplos.

Menos definido [zero]: (217) I12: e: se enseñaba en mi primer colegio durante toda mi primaria se ensenaba

[portugués]i teníamos un un/ era un curso optativo en realidad para para los chicos que veían/no estaba incluido en el programa el programa de educación sino que en en los horarios de tarde la los chicos tenían la opción de ir a estos cursos y asistir a los a al lenguaje de portugués pero incluido no Øi teníamos solamente el inglés (Mulher, faixa 1, nível superior)

Menos definido [le]: (218) I8: porque a mí me gusta cuando alguien progresa en la vida y más a [alguien]i

que vos lei conocés de siempre (Mulher, faixa 2, nível médio) Menos definido [lo]: (219) I11: Exactamente exactamente hay [expresiones inclusive del español]i que no

lasi podemos utilizar acá por qué porque tienen otro significado otra connotación sí? (Mulher, faixa 2, nível superior)

Nos dados acima, além da estratégia zero, como mostra o dado (217), observamos

que os clíticos le e lo/la, nos exemplos (218) e (219), respectivamente, podem ser

empregados para retomar antecedentes [-definidos] como alguien e expresiones

inclusive del español. É possível que esses dados sejam até mesmo considerados

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171

agramaticais por parte de hispanofalantes de outras variedades que, nos casos em

questão, utilizariam unicamente ou majoritariamente a estratégia zero: a alguien que

vos conocés de siempre; hay expresiones inclusive del español que no podemos utilizar.

Uma vez visualizada a definitude do antecedente, passemos a observar o seu

comportamento em função do traço de animacidade.

Animacidade x Definitude

A Tabela 21 apresenta a distribuição da animacidade em relação à definitude do

antecedente:

[-Definido] [+Definido] Humano Animado Inanimado Humano Animado Inanimado

Le 31/159 -

55% 1/28 - 10%

0/3 – 0%

128/159 - 47%

27/28 - 35%

3/3 – 1%

Lo/la 12/92 -

21% 3/30 - 30%

10/71 – 20%

80/92 - 29%

27/30 - 35%

61/71 – 23%

Zero 9/1 – 16%

4/18 - 40%

19/139 - 37%

42/52 - 15%

14/18 - 18%

120/139 - 46%

SN 4/28 –

7% 2/8 – 20%

19/88 – 37%

24/28 - 9%

6/8 – 8%

69/88 – 26%

Demonstr. 0/1 – 0%

0/4 – 0%

3/11 – 6%

1/1 – 0%

4/4 – 5%

8/ 11 – 3%

Tabela 21. Animacidade x definitude.

Ao cruzarmos a animacidade do antecedente com a definitude do mesmo,

encontramos os seguintes resultados: quando o antecedente é [-definido] a distribuição

entre a animacidade é de 31/159 (55%) de le para constituintes com o traço [+humano]

e 4/18 (40%) de zero para [+animado]. Com antecedentes inanimados encontramos

uma distribuição equilibrada entre zero (19/139 - 37%) e SN (19/88 – 37%).

Por sua vez, quando o antecedente é [+definido] encontramos 128/159 (47%)

ocorrências de le para os constituintes com o traço [+humano], assim como uma

distribuição equilibrada entre le (27/28 – 35%), e lo/la (27/30 – 35%), para os que têm o

traço [+animado] e, finalmente, 120/139 (46%) de zero para [inanimado].

Gómez Seibane (2012) aponta a possibilidade de ocorrência do objeto nulo, o que

em nosso trabalho denominamos zero fonético, com OD retomando antecedentes

definidos e inanimados. Entretanto, mesmo sendo mais produtivo nesse contexto, em

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172

nosso corpus encontramos o zero também se referindo a constituintes com os traços [-

definido]/animado, [-definido]/humano, [-definido]/inanimado, [+definido]/humano e

[+definido]/animado.

O Gráfico 15 ilustra os resultados encontrados em nosso corpus.

Gráfico 15. Animacidade x definitude do antecedente.

Como dito acima, o clítico le compete com o lo/la quando o referente é definido e

animado e é a estratégia mais empregada quando o antecedente é humano, [±definido].

O zero, por sua vez, encontra-se presente em todos os contextos de animacidade, mas

com maior produtividade quando o antecedente é definido e inanimado.

Além disso, seguindo a hipótese de Gómez Seibane (2012), a estratégia zero se

mostra bastante produtiva com antecedentes [-definidos], sobretudo inanimados. Nos

contextos com esse antecedente, pela primeira vez observamos um uso mais frequente

de zero, se comparado às demais estratégias, com antecedentes animados. No entanto,

com antecedentes humanos, o clítico le continua mantendo sua vitalidade e liderança.

4.8 Distância em relação à primeira menção

A Tabela 22 apresenta a distância do OD anafórico em relação à primeira menção:

55%

10%

0%

47%

35%

1%

21%

30%

20%

29% 35%

23%

16%

40%37%

15%18%

46%

7%

20%

37%

9% 8%

26%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Humano Animado Inanimado Humano Animado Inanimado

NãodeQinido DeQinido

Le

Lo/la

Zero

SN

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173

le(s) lo/la zero SN Dem.

1ª 51/350 - 15%

87/350 – 25%

134/350 – 38%

55/350 – 16%

23/350 – 7%

2ª 33/154 - 21%

39/154 – 25%

49/154 – 32%

28/154 - 18%

5/154 – 3%

3ª 15/94 – 16%

28/94 – 30%

27/94 – 29%

20/94 – 21%

4/94 – 4%

4ª 16/51 – 31%

11/51 – 22%

12/51 – 2 4%

9/51 – 18%

3/51 – 6%

5ª 17/41 – 42%

8/41 – 20%

4/41 – 10%

10/41 – 24%

2/41 – 5%

6ª 12/22 – 55%

5/22 – 23%

4/22 – 18%

1/22 – 5% -

7ª 11/16 – 69%

3/16 – 19%

2/16 – 13% - -

8ª 5/14 – 36%

5/14 – 36%

1/14 – 7%

3/14 – 21% -

9ª 4/11 – 37%

6/11 – 55%

1/11 – 9% - -

10ª 6/13 – 46%

3/13 – 23%

3/13 – 23% - 1/13 –

8%

11ª 2/8 – 25%

3/8 – 38%

3/8 – 38% - -

12ª 3/8 – 38%

3/8 – 38%

1/8 – 13%

1/8 – 13% -

13ª 1/8 – 13%

5/8 – 63%

2/8 – 25% - -

14ª 4/9 – 44%

4/9 – 44%

1/9 – 11% - -

15ª 2/3 – 67% - 1/3 –

33% - -

16ª 1/3 – 33% - 2/3 –

67% - -

17ª 2/2 – 100% - - - -

18ª 1/2 – 50%

1/2 – 50% - - -

19ª - 2/2 – 100% . - -

20ª - 1/1 – 100% - - -

21ª 1/1 – 100% - - - -

22ª 1/1 – 100% - - - -

23ª 2/2 – 100% - - - -

Tabela 22. Distância em relação à primeira menção.

A nossa hipótese a ser confirmada com este grupo de fatores era que quanto mais

longe do antecedente, menor a possibilidade de aparecer o zero. A hipótese foi

relativamente confirmada. Observa-se que nas últimas referências, a partir da 17a

menção para ser mais exato, somente os clíticos (le, lo/la) são empregados. O zero deixa

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174

de aparecer a partir da 16a menção, o que chama a atenção, já que esperávamos que ele

estivesse presente somente nas primeiras menções. Finalmente, o SN deixa de ser

empregado a partir da 12a e o demonstrativo a partir da 10a menção.

Contudo, na 1a e na 2a menção o zero é a estratégia mais empregada (134/350 –

38%), (49/154 – 32%), respectivamente. Na 3a menção, o zero compete, na mesma faixa

de frequência, com lo/la, já que evidenciamos (28/94 – 30%) dados de lo/la e (27/94 –

29%) de zero. A partir da 4a até a 10a menção encontramos mais ocorrências de le,

sendo a 7a menção a mais elevada, (11/16), o que equivale a 69% do total dos dados, e

na 9a menção há mais ocorrências de lo/la (55%). Após a 11a percebe-se que há mais

ocorrências de lo/la, sendo a 13a a mais elevada (5/8 – 63%). Na 15a e na 16a menção o

le compete com o zero. Encontramos (2/3 – 67%) dados de le na 15a e o mesmo valor de

zero na 16a. Da 17a até a 23a as únicas estratégias que aparecem são os clíticos, como

mencionado acima, mas só o le é empregado nas últimas três categorias controladas. Em

(220) mostramos um exemplo em que o informante emprega o clítico la na primeira

menção, em (221) um exemplo em que o zero é empregado na segunda menção, em

(222) a terceira menção do antedente se dá por meio do clítico lo/la e em (223)

colocamos um exemplo em que o le aparece na 23a menção.

1a menção [zero]: (220) I11: un ejemplo que te puedo dar no sé si te sirve es “teacher nos va a dar más un

ejercicio?” cuando para nosotros la oración correcta sería un ejercicio más sí o por ejemplo [algunas frases idiomáticas]i que pertenecen al al Brasil ¿no? y lasi utilizan ellos diariamente (Mulher, faixa 2, ensino superior)

2ª menção28 [zero]: (221) I11: lo que propuso [El Hombre Light]i no sé si lo habrás leído alguna vez te Øi

recomiendo (Mulher, faixa 2, ensino superior) 3ª menção [lo]: (222) I17: muchas veces e: lo más reciente a ver e: que los policías entraron en la casa

de de acá la casa de un amigo no es muy amigo pero es conocido entraron como a las cinco de la mañana estaban [todos]i durmiendo y los golpearon a todos los sacaron y losi llevaron presos (Homem, faixa 2, ensino médio)

23a menção [le] (223) E: Bien ¿Conocés a [L]i?

I14: sí E: Qué me contás sobre L? I14: yo no sé yo nunca tuve problema con L al contrario nosotros nos re dábamos viste

28 Todas as menções anteriores ao OD encontram-se sublinhadas.

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175

E: Hum: cuándo fue la última vez que viste a L? I14: Y: mirá él cuando era gendarme siempre venía cuando venía en las vacaciones venía siempre acá viste él siempre chistoso buena onda viste él tenía viste esa soberbia viste pero nosotros ya le conocíamos viste él siempre fue así soberbio pero para mí para mí nunca fue una mala persona E: pero sin embargo I14: Sin embargo ((ruido)) E: Vos sabés cómo la policía apresó a L por por acá cómo fue preso cómo fue ese hecho ((ruido)) I14: No la verdad que sé solamente por lo que contaron viste que le esperaron en la costa viste cuando él estaba cruzando no sé cómo se enteraron tampoco dice que fue que le pincharon el teléfono viste y le le rastrearon pero cómo fue no ni idea no no no pero la verdad que me da lástima E: es una pena I14: O sea es una pena no me da lástima él porque si hizo lo que hizo o sea E: Y era un lindo chico I14: Sí: E: Yo me acuerdo que en secundario I14: sí sí sí E: 20 era un lindo chico E: Pero siempre tuvo = I14: Siempre E: ese aire de I14: Siempre fue sober/ viste que yo le conozco /yo era re amiga de M viste M estudió conmigo terminamos quinto año juntos viste pero el siempre fue más soberbio que todos los hermanos viste y M es una amor de persona viste una persona viste más (Mulher, faixa 2, nível médio)

O tópico era sobre um colega do colégio de ambas, da entrevistadora e da

informante, que foi preso por ter cometido alguns crimes, dentre eles um assassinato.

Portanto, um tema delicado e complexo de ser tratado. Percebe-se que os dados surgem

no tipo de texto pergunta e resposta.

O Gráfico 16 ilustra os resultados apontados na Tabela 26. De modo a facilitar a

visualização dos resultados, dividimos as menções em cinco momentos. Para tanto,

amalgamamos os dados da 1a à 5a, da 6a à 10a , da 11a à 15a, da 16a à 20a e da 21a à 23a

menções.

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176

Gráfico 16. Distância em relação à primeira menção.

Observamos que entre a 1a e a 10a menção as cinco estratégias estão sendo

empregadas. O demonstrativo, que é a estratégia menos empregada, deixa de aparecer

na 11a menção. O SN deixa de ser registrado a partir da 15a menção. O zero tem

momentos de maior produtividade nas primeiras menções e entre a 11a e a 16a menção,

o que chama a atenção, já que na 16a o antecedente encontra-se bastante afastado do

OD. As duas formas clíticas mais produtivas são le e lo/la, nessa ordem, já que lo/la não

é registrado a partir da 20a menção, restando somente le até a 23a menção.

Em síntese, os nossos resultados, de forma geral, parecem confirmar a nossa

hipótese de trabalho: quanto mais afastado estiver o OD de seu antecedente menor será

a produtividade da estratégia zero (e, consequentemente, maior será o uso das demais

formas). Ainda assim, cabe destacar que nos chama a atenção a presença do zero em

menções que se encontram de certa forma afastadas do antecedente.

4.9 Tipo de texto

A Tabela 23 apresenta a distribuição das cinco variantes em relação aos dois

tipos de textos analisados em nosso estudo: i) pergunta e resposta e ii) narrativa

espontânea. Vejamos os resultados:

25%

49%37%

37%

100%

24% 31% 37%

50%

0%

27%

14%24%

13%

0%

19%

5% 3%0% 0%

5% 2% 0% 0% 0%0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

1-5 6-10 11-15 16-20 21-23

le

lo/la

zero

SN

Dem.

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177

Pergunta e resposta Narrativa espontânea

le(s) 127/649 - 20% 63/167 - 38%

lo/la 175/649 - 27% 39/167 - 23%

zero 214/649 - 33% 33/167 - 20%

SN 100/649 - 15% 27/167 - 16%

Demonstrativo 33/649 - 5% 5/167 - 3%

Tabela 23. Tipo de texto.

Como apresentado na Tabela 2, o nosso resultado geral mostra que a estratégia

mais produtiva é o zero, seguido de lo/la29 e de le, nessa ordem. Contudo, ao analisar a

Tabela 23 notamos que o zero só é mais produtivo quando o tipo de texto é pergunta e

resposta (214/649), com 33% de produtividade, uma vez que, na narrativa espontânea, o

le apresenta o índice mais elevado de frequência (63/167 – 38%). Vejam-se os exemplos

(224) e (225).

Pergunta e Resposta [zero]: (224) b. E: Bien Conoces [Las Ruinas de San Ignacio]i?

I13: Sí Øi conozco me fui con la escuela (Mulher, faixa 1, nível superior)

E: Entonces ¿Los padres no controlan según vos no controlan mucho a [los chicos]i?

I12: Claro no tanto algunos sí pero generalmente la sociedad está así que no que no están controlandoØi (Mulher, faixa 1, nível superior)

Narrativa espontânea [le]: (225) a. I5: [un hombre y una mujer]i le robaron la cartera a una señora que caminaba

en la calle mi patrona lei siguió con el auto viste llamaron a la policía y que sé yo y: no le hicieron nada (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

b. I10: [Un policía]i sólo en cima lei amenazó al policía viste le dijo que si salía de la cárcel lei iba a matar así le dijo lei tenía del cuello y contra el auto lei apretó así lei asfixió y le dijo “te voy a matar” le dijo cuando salga de la cárcel te voy a matar y ahora el hombre el señor ese que lei amenazó no está más acá en Villa Bonita se fue (Mulher, faixa 1, nível médio)

29 Lo/la é a categoria geral que engloba os plurais los/las, como dito anteriormente.

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178

A segunda estratégia mais produtiva entre as perguntas e respostas foi o clítico

lo/la (175/649 – 27%), seguido de le (127/649 – 20%), o que confirma os nossos

resultados gerais. Esses casos podem ser vistos nos exemplos (226) e (227).

Por outro lado, na narrativa espontânea, a segunda estratégia mais produtiva é

lo/la (39/167 – 23%), seguida de zero (33/167 – 16%), o que não se alinha aos nossos

resultados gerais (228) e (229).

Pergunta e Resposta [lo]: (226) I11: Tenía e: tenía [una gatita]i sí

E: Contame un poco sobre tu gatita ¿Cómo es? I11: Sobre mi gatita e: ahora lamentablemente ya no está más e: era hermosa

llegó a mi casa un día pequeñita pequeñita e: estaba con infecciones en los ojos en los pulmones y yo así como así cuando lai vi lai tomé en mis brazos y lai llevé al veterinario y digo bueno cúrenlai y lai traje a mi casa me compró desde el primer día eso digamos (Mulher, faixa 2, nível superior)

Pergunta e Resposta [le]: (227) E: Y bien y como te cómo te por ejemplo y ¿cómo hacés para cuidar a [tus

mascotas]i? […] I14: […] y ahí nos venimos para acá al medio día cuando llegamos en casa se

lesi saca de vuelta (Mulher, faixa 2, nível médio) Narrativa espontânea [lo]: (228) a. I6: […] tengo una compañera de pieza que el otro día se llevó [un gatito]i

escondido le tuvo le tuvo unos días en la pieza pero se tuvo que llevar a su casa porque no nos permiten y llevándoloi a su casa su mamá dijo que no que no quería más mascotas (Mulher, faixa 1, nível superior)

a. I11: el año pasado o este año que se inundó toda la zona del Alto Uruguay y había [una familia]i que tuvieron que rescatar porque su casa estaba sobre una e: … como se diría en? estaba sobre una zona alta ¿sí? entonces gracias a eso el agua no llegó pero lo que hizo fue cercarlosi y no tenían como salir de ahí sí? (Mulher, faixa 2, nível superior)

Narrativa espontânea [zero]: (229) I5 […] yo tenía [las cartas]i de mi papá cuando yo trabaja en Buenos Aires mi

papá me escribía cartas y después cuando el murió yo tiré todo porque no quería ver Øi más pero yo quería que vos veas la letra que mi papá tenía = (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

I13: […] pero cuando tuve mi computadora mi propia computadora bueno empezamos a bajar programas empezamos a trabajar con eso al principio como que bueno era sorprendente tener una computadora que queríamos e: [nos bajábamos jueguito]i porque incluso no nos Øi prohibían (Mulher, faixa 1, nível superior)

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179

O SN e o demonstrativo continuam sendo as duas estratégias menos empregadas

tanto nas perguntas e respostas quanto nas narrativas espontâneas, com 15% de SN no

primeiro tipo de texto e 16% no segundo, como exemplificado em (230) e (231). Por

sua vez, o demonstrativo tem 5% de ocorrências no primeiro tipo de texto e 3% no

segundo. Vejam-se os exemplos (232) e (233).

Pergunta e Resposta [SN]:

(230) a. E: Bien ¿Vos tenés [mascotas]i? I13: No me gustan los animales pero sí en casa tenemos macotai (Mulher, faixa 1,

nível superior)

b. E: No puedo tener a: ¿Qué opinás sobre e: sobre... sobre las escuelas? Hay [escuelas para todos]i? I8: Sí E: sí I8: para mi ponele acá en nuestro municipio sí hay escuelas para todosi (Mulher, faixa 2, nível médio)

Narrativa espontânea [SN]:

(231) a. I6: sí hice e: hice varias varias materias a ver e: el primer año tuvimos unas materias que es exposición discursiva que se lleva todo lo que es mapa y todas esas cosas e: después tenemos gramáticas que es el tema de [las oraciones]i analizar las oracionesi (Mulher, faixa 1, nível superior)

b. E: Bien bien y a: algunos hechos vos que trabajás en la radio y siempre tenés tu programa después te voy a preguntar sobre tu profesión pero ¿Algún hecho policial en Villa Bonita que te haya llamado mucho la atención o que te haya marcado mucho? I15: […] en la época de los militares se veía un poco más de que la policía tenía [poder]i y como ahora la policía perdió ese poderi porque la sociedad misma a través de la política le obliga le amenaza porque si le tocan e: con un político le pueden hacer perder el puesto (Homem, faixa 2, nível superior)

Pergunta e Resposta [demonstrativo]: (232) E: Bien a: cambiando de tema hay/ yo vi que ahora los chicos están jugando al

futbol ¿Eso es común acá? I8: Sí sí sí E: ¿Juegan todos los fines de semana? I8: Juegan todos los fines de semana ponele que hay una parte de chicos ponele que le gustan [los deportes]i juegan los fines de semana y otro grupo que no comparten esoi (Mulher, faixa 2, nível médio)

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180

Narrativa espontânea [demonstrativo]: (233) I11: [...] me gusta desde chica mi papá me hacía [practicar deportes]i eso es algo

que hasta el día de hoy me gusta bueno ahora estoy con una lesión de la que no me puedo recuperar todavía pero sí cuando era chiquita siempre nos llevaba a clase de defensa personal a carate en cima que era grandota iba al gimnasio junto era un era un tanque sí era un tanque ahora sigo haciendo esoi así que eso es otra anécdota (Mulher, faixa 2, nível superior)

O Gráfico 17 nos ajuda a visualizar melhor os resultados encontrados para o tipo

de texto:

Gráfico 17. Tipo de texto.

Percebes-se que o zero é de fato a estratégia mais produtiva, mas somente quando

o tipo de texto é pergunta e resposta. Quando o tipo de texto é narrativa espontânea a

estratégia mais empregada pelos falantes é o clítico le.

A hipótese a ser testada neste grupo incide sobre o clítico lo/la, de que seria

menos produtivo nas narrativas espontâneas em comparação às perguntas e respostas.

Como se vê, os nossos resultados confirmam a nossa hipótese. Por se tratar de uma

estratégia menos natural, lo/la é utilizado em 23% dos dados do primeiro tipo de texto,

contra 27% no segundo.

Nos resultados gerais desta seção, observamos que o clítico le era mais produtivo

em narrativas espontâneas do que em perguntas e respostas. Por outro lado,

encontramos um resultado ao inverso quanto ao uso de lo/la e zero: maior produtividade

em perguntas e respostas do que em narrativas espontâneas. Sobre o clítico lo,

20%

38%

27%

23%

33%

20%

15% 16%

5%3%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

Perguntaeresposta Narrativaespontânea

le

lo/la

zero

SN

Demonstrativo

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181

argumentamos que essa distribuição se deva ao fato de esta ser uma forma menos

natural no sistema de Oberá, razão pela qual seria menos encontrada em textos mais

espontâneos como as narrativas. Para o caso de zero, no entanto, acreditamos que essa

distribuição possa ser explicada de outra forma, através do fator distância em relação à

primeira menção, que estaria sobreposto ao tipo de texto: como o zero é utilizado em

curtas e médias distâncias entre o antecedente e o OD, a sua produtividade mais

limitada em narrativas espontâneas poderia estar relacionada ao fato de que nesses

textos, pela sua extensão, as distâncias sejam maiores, e por esse motivo, o zero não

seria a forma preferida.

Uma vez visualizada a distribuição das variantes em relação ao tipo de texto,

vejamos agora o resultado quando cruzamos o tipo de texto com a animacidade do

antecedente.

Tipo de texto x animacidade do antecedente

A Tabela 24 apresenta a distribuição de le, lo/la, zero, SN e demonstrativo quando

cruzamos o tipo de texto com a animacidade do antecedente:

Pergunta/Resposta Narrativa espontânea Humano Animado Inanimado Humano Animado Inanimado

Le 106/252 - 42%

18/55 - 33%

3/268 – 1%

53/79 - 67%

10/33 - 30%

0/44 – 0%

Lo/la 77/252 - 31%

16/55 - 29%

63/268 - 24%

15/79 - 19%

14/33 - 42%

8/44 – 18%

Zero 44/252 - 17%

13/55 - 24%

122/268 - 46%

7/79 – 9%

5/33 - 15%

17/44 - 39%

SN 24/252 - 10%

4/5 – 7%

69/268 - 26%

4/79 – 5%

4/33 - 12%

19/44 – 43%

Demonst. 1/252 - 0%

4/55 – 7%

11/268 – 4%

0/79 – 0%

0/33 – 0%

0/44 – 0%

Tabela 24. Tipo de texto x animacidade do referente.

O que buscamos constatar com este cruzamento é se a distribuição encontrada na

Tabela 14 se mantém nos dois tipos de texto. Naquele momento apontamos que a forma

le é mais produtiva quando o constituinte tem o traço [+humano], os clíticos le e lo/la

competem quando o constituinte tem o traço [+animado] e o zero é mais produtivo

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182

quando o referente é inanimado. O SN só obteve 28% de ocorrências quando o

constituinte tem o traço inanimado.

Observando a Tabela 24, notamos que os nossos resultados iniciais para a

animacidade do antecedente se mantêm firmes mais especificamente quando o tipo de

texto é pergunta e resposta. A distribuição le para [+humano], le e lo/la para [+animado]

e zero para [inanimado] se manteve. Encontramos 106/252 (42%) ocorrências de le com

antecedentes [+humanos], 18/55 (33%) ocorrências de le e 16/55 (29%) ocorrências de

lo/la respectivamente, quando o antecedente é [+animado] e, finalmente, 122/268

ocorrências de zero quando o antecedente é inanimado.

Quando o tipo de texto é a narrativa espontânea, a distribuição se dá de maneira

diferente. Verificamos que le se manteve quando o antecedente tem o traço [+humano].

No entanto, quando o antecedente é [animado], a forma lo/la é mais produtiva, com

14/33 (42%) ocorrências. Chama a atenção que a forma zero compete com o SN quando

o antecedente é inanimado. Ou seja, uma forma não lexicalizada compete com uma

lexicalizada nas narrativas espontâneas quando o antecedente tem o traço [inanimado].

Foram contabilizadas 19/44 (43%) ocorrências de SN , diante de 17/44 (39%) de zero

nesse contexto.

O gráfico 18 ilustra os nossos resultados:

Gráfico 18. Tipo de texto x animacidade do antecedente.

Notamos que nas perguntas e respostas le é mais produtivo quando o constituinte

tem o traço [+humano], da mesma forma que zero quando este é [inanimado]. Quando o

42%

33%

1%

67%

30%

0%

31% 29%24%

19%

42%

18%17%24%

46%

9%15%

39%

10% 7%

26%

5% 12%

43%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Humano Animado Inanimado Humano Animado Inanimado

Pergunta/Resposta Narrativaespontânea

Le

Lo/la

Zero

SN

Demonst.

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183

constituinte é [+animado] le e lo/la encontram-se em variação. Observa-se também 1%

de ocorrências de antecedentes inanimados sendo retomados por le neste tipo de texto.

Nas narrativas espontâneas, zero se encontra em variação com o SN quando o

referente é [inanimado], le é mais produtivo com constituintes [+humanos] e lo/la com

antecedentes com o traço [+animado]. Assim, diferentemente do resultados gerais que

confirmaram a nossa hipótese de trabalho, ainda que lo/la seja mais utilizado em

perguntas e respostas, encontramos aqui um contexto específico em que essa é a

estratégia preferida em narrativas espontâneas, retomando antecedentes animados.

4.10 - Gênero do informante

Na Tabela 25 apresentamos a distribuição das variantes le, lo/la, zero, SN e

demonstrativo em relação ao gênero do informante:

Homem Mulher

le 63/191 - 33% 127/625 - 20% lo/la 27/191 - 14% 187/625 - 30% zero 65/191 - 34% 182/625 - 29% SN 25/191 - 13% 102/625 - 16%

Demonstr. 11/191 - 6% 27/625 - 4%

Tabela 25. Gênero do informante.

O que se esperava encontrar aqui, levando-se em consideração a intuição da

própria investigadora como falante da região e a literatura disponível sobre o tema, era

que tanto os homens quanto as mulheres empregassem o clítico le e zero como

estratégia de retomar o OD anafórico. Mais especificamente, acreditávamos que as

mulheres utilizassem mais a forma lo/la do que os homens, por essa ser considerada

uma forma de prestígio na sociedade de Oberá.

As formas zero e le são mais recorrente entre os homens, com uma distribuição

bastante equilibrada, com 65 ocorrências de zero (34%) e 63 de le (33%). Vejam-se os

exemplos (234) e (235).

Entre as mulheres, as formas lo/la e zero, nessa ordem, são as mais frequentes,

com 187 ocorrências de lo/la (30%) e 182 de zero (29%). O clítico le, no grupo das

mulheres, é a terceira estratégia mais empregada, mas a diferença no número de

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184

ocorrências é bastante considerável (127/625 – 20%). Os exemplos (236 e 237) ilustram

os resultados das duas formas mais produtivas entre as mulheres.

Homem [zero]: (234) a. E: M sobre ese accidente ¿Vos estabas acá cuando pasó [ese accidente]i?

I17: Sí estaba acá E: Contame un poquito como fue I17: La verdad que yo no tengo ni idea a mi me dijeron que pasó el puente estaba re estaba mal y lo lo habían clausurado pero vino el gobierno y dijo que no porque es la ruta más más directa a la costa entonces Øi liberaron (Homem, faixa 2, nível médio) b. I7: [...] a yo le dije para T “yo voy a ir a cazar [un tatú]i para nosotros” para mí porque ella no Øi comía me fui (Homem, faixa 3, nível fundamental) c. I9: Sí me gustaría seguir estudiando sí porque así tenés tu futuro también ((ruido)) yo dejé muy temprano [el estudio]i y se me complicaba porque mi familia es pobre digamos y no tenía como para yo seguir estudiando entonces tuve que abandonar Øi (Homem, faixa 2, nível fundamental)

Homem [le]: (235) a. E: Y conocías a [esas personas]i?

I17: Yo lei conocía sí porque se murió un bebé y una vieja yo lei conocía a la que era nieta de la vieja y la mamá del bebé sería como no eran para mí/ no eran familia no (Homem, faixa 2, nível médio)

b. I15: […] en la época de los militares se veía un poco más de que [la policía]i tenía poder y como ahora la policía perdió ese poder porque la sociedad misma a través de la política lei obliga lei amenaza porque si le tocan e: con un político le pueden hacer perder el puesto (Homem, faixa 2, nível médio)

Mulher [lo]: (236) a. I11: Tenía e: tenía [una gatita]i sí

E: Contame un poco sobre tu gatita ¿Cómo es? I11: Sobre mi gatita e: ahora lamentablemente ya no está más e: era hermosa

llegó a mi casa un día pequeñita pequeñita e: estaba con infecciones en los ojos en los pulmones y yo así como así cuando lai vi lai tomé en mis brazos y lai llevé al veterinario y digo bueno cúrenlai y lai traje a mi casa me compró desde el primer día eso digamos (Mulher, faixa 2, nível superior)

b. I6: […] recuerdo constantemente fue mi último año cuando tuvimos que

organizar el tema de la recepción y todas esas cosas nosotros desde cuarto año empezamos a [organizar y juntar fondos]i y siempre loi hicimos solos de nuestra parte (Mulher, faixa 1, nível superior)

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185

Mulher [zero]: (237) a. E: Bien Conoces [Las Ruinas de San Ignacio]i?

I13: Sí Øi conozco me fui con la escuela (Mulher, faixa 1, nível superior) b. I16: Viste otro en Campo Ramón también ganamos el primer premio ganamos

[cinco kilo de costilla]i y después fuimos a retirarØi y el hombre dio más todavía porque bailamos mejor que todos (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

c. I18: […] toda la cordillera al lado de la cordillera hasta el sur [el sur]i mismo debe ser muy lindo no Øi conozco así que me encantaría conocerØi (Mulher, faixa 3, nível superior)

Não podemos deixar de chamar a atenção para a quantidade de dados encontrados

em cada um dos gêneros. Foram 191 para os homens e 625 para as mulheres. Essa

distribuição pode ser explicada pela quantidade de informantes homens e mulheres,

como foi possível verificar no capítulo sobre a metodologia. Em nosso corpus,

dispomos de 6 informantes do gênero masculino e 13 do gênero feminino. Ou seja, há

mais mulheres do que homens sendo entrevistados.

Vejamos no gráfico abaixo a distribuição das estratégias em função do gênero do

informante:

Gráfico 19. Gênero do informante.

33%

20%

14%

30%

34%

29%

13%16%

6%4%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

Homem Mulher

le

lo/la

zero

SN

Dem.

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186

Salta aos olhos a diferença entre um gênero e outro. Entre os homens, o zero e o

clítico le apresentam os índices mais altos, enquanto que, entre as mulheres, as duas

estratégias com maiores índices de ocorrência são lo/la e zero, sendo le a terceira

variante em termos de produtividade.

Como se vê, se comparamos a produtividade de uma mesma estratégia entre

homens e mulheres, observamos que nossa hipótese se confirma: lo/la é a estratégias

mais empregada não só pelo grupo das mulheres (considerando o universo de todas as

estratégias utilizadas pelas mulheres), mas também pelas mulheres em relação aos

homens. Entre os homens, o percentual de lo/la chega a 14%, enquanto que entre as

mulheres o mesmo é o dobro (30%).

Observemos agora a distribuição das variantes ao cruzar o gênero do informante

com a animacidade do antecedente.

Gênero do informante x animacidade do antecedente

A Tabela 26 apresenta o resultado do cruzamento de um fator relacionado ao

informante, o gênero, e um fator vinculado ao antecedente, a animacidade. Os

resultados gerais considerando a animacidade do antecedente se mantêm na fala de

homens e mulheres?

Homem Mulher

Humano Animado Inanimado Humano Animado Inanimado

Le 55/93 - 59% 6/18 - 33% 2/65 - 3% 104/238 -

44% 22/70 -

31% 1/247 –

0%

Lo/la 20/93 - 21% 3/18 - 17% 3/65 - 5% 72/238 -

30% 27/70 -

38% 68/247 -

27%

Zero 14/93 - 15% 5/18 - 28% 38/65 –

58% 37/238 -

16% 13/70 -

19% 101/247 -

41%

SN 4/93 - 4% 2/18 - 11% 17/65 – 26%

24/238 - 10%

6/70 – 9%

71/247 - 29%

Demonst. 0/93 - 0% 2/18 - 11% 5/65 – 8%

1/238 – 0%

2/70 – 3%

6/247 – 2%

Tabela 26. Gênero do informante x animacidade.

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187

Entre os homens percebemos que, quando o antecedente tem os traços [+humano]

ou [+animado] a estratégia mais produtiva é o clítico le. Foram encontrados 55/93

(59%) ocorrências de le para [+humano] e 6/18 (33%) ocorrências de le para

[+animado]. Quando o antecedente é inanimado, a estratégia mais empregada é o zero

(38/65 –58%).

Por sua vez, no discurso das mulheres, foram encontradas 104/238 ocorrências de

le quando o antecedente tem o traço [+humano] (44%), 27/70 dados de lo/la quando

este tem o traço [+animado] (38%) e 101/247 dados de zero quando o referente é

inanimado (41%).

São poucos os dados de antecedentes animados na fala dos homens. Ainda assim,

chama a atenção o fato de que o zero alcança 28% das ocorrências com este tipo de

antecedentes.

Podemos dizer que a diferença entre homens e mulheres se manifesta mais

claramente na retomada de antecedentes animados, uma vez que, enquanto as mulheres

utilizam o clítico lo/la para retomar este tipo de antecedente, os homens empregam o

clítico le ou o zero.

Ao que parece, os homens usam um sistema binário, onde para [+animado]

(humano/animado) emprega-se mais frequentemente o clítico le, por um lado, e para

antecedentes com o traço [-animado] (inanimado) emprega-se o zero, por outro. Já as

mulheres têm um sistema de hierarquia mais diversificada, no qual para [+humano] usa-

se mais frequentemente le, para [+animado] usa-se lo/la, e para [inanimado] usa-se o

zero.

4.11 Faixa etária do informante

A Tabela 27 apresenta a distribuição das variantes estudadas neste trabalho

relacionadas a outro dos fatores sociais: a faixa etária do informante.

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188

Faixa 1 (-20 anos)

Faixa 2 (+20/-50 anos)

Faixa 3 (+50 anos)

le 56/222 - 25% 65/287 - 22% 69/307 - 23%

lo/la 41/222 - 19% 99/287 - 35% 74/307 - 24%

zero 73/222 - 33% 80/297 - 28% 94/307 - 31%

SN 44/222 - 20% 29/287 - 10% 54/307 - 18%

Demonstr. 8/222- 4% 14/287 - 5% 16/307 - 5%

Tabela 27. Faixa etária.

Como apresentado no capítulo sobre a metodologia, os nossos informantes foram

divididos em três grupos, i) faixa 1 – informantes com menos de 20 anos de idade -, ii)

faixa 2 – informantes com mais de 20 e menos de 50 anos de idade -, iii) faixa 3 –

informantes com mais de 50 anos de idade.

A partir da leitura da Tabela 27 notamos que, na faixa 1, a estratégia de realização

do objeto direto anafórico mais produtiva é o zero (73/222 - 33%); na faixa 2, é o clítico

lo, (lo/los, la/las) (99/287 - 35%) e na faixa 3 é também o zero (94/307 - 31%). Vejam-

se os exemplos (238), (239) e (240), respectivamente.

Faixa 1 [zero]: (238) a. E: Entonces los padres no controlan según vos no controlan mucho a [los

chicos]i? I12: Claro no tanto algunos sí pero generalmente la sociedad está así que no que no Øi están controlando (Mulher, faixa 1, nível superior) b. E: Bien Conoces [Las Ruinas de San Ignacio]i? I13: Sí Øi conozco me fui con la escuela (Mulher, faixa 1, nível superior)

Faixa 2 [lo]: (239) a. E: Bien qué opinás de e:: conocés a este a [este chico]i?

I4: Sí E: Qué me contás sobre él? I4: La verdad loi conozco de acá del pueblo (Mulher, faixa 2, nível superior)

b. E: Muy bien M y conocés a [este hombre]i? I17: Nunca loi vi (Homem, faixa 2, nível médio)

Faixa 3 [zero]: (240) a. E: [Los mitos y las leyendas]i

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189

I19: Creo que que desde la lingüística se Øi trata o sea los mitos y leyendas forman parte de contendidos que se enseñan y en las escuelas secundarias (Mulher, faixa 3, nível superior)

b I5: sí sí sí y después cuando estábamos en séptimo grado fuimos a las Cataratas también me hizo [una nota]i para = E: por las dudas I5: por las dudas y me me me exigía que aprenda de memoria ese esa nota para no equivocarme viste entonces yo tenía que hablar ... (( ruido)) la paciencia de mi papá para hacer la nota esa bien redactado yo por burra nunca Øi guardé (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

Chama a atenção a estratégia que compete com a primeira em cada grupo. Entre

os falantes com menos de 20 anos de idade encontramos a forma le (56/222 - 25%)

(241). Entre os que têm mais de 20 e menos de 50, encontramos a forma não

lexicalizada, ou seja, o zero (80/297- 28%) (242). Já na faixa 3, notamos que lo/la e le

apresentam índices de produtividade bastante próximos. Contamos com 74/307 (24%)

dados de e lo/la 69/307 (23%) de zero. Os exemplos (243) e (244) ilustram esses

casos.

Faixa 1 [le]: (241) I10: [Un policía]i sólo en cima lei amenazó al policía viste le dijo que si salía de la

cárcel lei iba a matar así le dijo lei tenía del cuello y contra el auto lei apretó así lei asfixió y le dijo “te voy a matar” le dijo cuando salga de la cárcel te voy a matar y ahora el hombre el señor ese que lei amenazó no está más acá en Villa Bonita se fue (Mulher, faixa 1, nível médio)

Faixa 2 [zero]: (242) a. I11: […] cuando era estudiante un chico bajo los efectos de narcóticos estoy

segura e: quiso e golp/ e: digamos golpeó [mi puerta]i y como yo no le atendí e como que quiso forzarØi (Mulher, faixa 2, nível superior)

Faixa 3 [lo]: (243) a. E: a: qué opina de [estos dos puntos turísticos]i de nuestra provincia? I18: e: E: los conoce? I18: Sí losi conozco (Mulher, faixa 3, nível superior) b. e: [Las Ruinas de San Ignacio]i por ejemplo son un monumento muy muy

importantes que tenemos la suerte de tenerlasi acá cerca e: no sé si tienen el cuidado y el reíto que debería tener generalmente el gobierno le sacan reíto a la parte económica y dejan decaer (Mulher, faixa 3, nível superior)

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190

Faixa 3 [le]: (244) I2: y decían no no tengo idea y cómo le va a tener a [esa persona]i acá ellos

tienen que echarlei (Mulher, faixa 3, superior)

Chama a atenção também ao olhar para Tabela 27 a produtividade do SN na faixa

1 (245), contando com 44 ocorrências de um total de 222 (20%), chegando a ser mais

elevado do que o clítico lo/la inclusive (41/222 - 19%).

Faixa 1 [SN]: (245) a. I10: […] En el día que hay [baile]i competencia de baile concurso de baile

hacemos el bailei y entre el curso tenés que encontrar una música y tu/ los acompañantes que te tienen que acompañar ¿no? (Mulher, faixa 1, nível médio

E: Bien ¿Vos tenés [mascotas]i?

I13: No me gustan los animales pero sí en casa tenemos macotai (Mulher, faixa 1, nível superior)

O demonstrativo apresenta o índice de produtividade mais baixo nas três faixas

etárias, como podemos ver no exemplo (246).

Demonstrativo [faixas 1, 2, 3]: (246) a. I12: Sí yo creo que se tiene mucho respeto creo que se tiene mucho respeto que

es lo que debería ser pero también sé que [hay abuso de poder]i también se sabe esoi (Mulher, faixa 1, nível superior)

b.I8: Juegan todos los fines de semana ponele que hay una parte de chicos

ponele que le gustan [los deportes]i juegan los fines de semana y otro grupo que no comparten esoi (Mulher, faixa 2, nível médio)

c. I5: [...] la historia de esa gente no cierto porque ahí tiene su cementerio su

plaza todo adentro de una ciudad aparte ahí no cierto y [cómo construyeron cómo levantaron semejantes piedras]i yo hasta ahora me pregunto esoi (Mulher, faixa 3, nível fundamental)

Vejamos como fica a distribuição das variantes em função da faixa etária no

Gráfico 20.

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191

Gráfico 20. Faixa etária do informante

Percebemos que as três estratégias mais produtivas são zero, le e lo/la. O zero é

mais empregado nas faixas 1 (33%) e 3 (31%), se comparado com a faixa 2 (28%). O

clítico le se comporta de modo análogo ao zero, mas tem um índice de produtividade

menor, sendo o seu pico mais elevado na faixa 1, onde chega aos 25% de produtividade.

Chama a atenção também o comportamento de lo/la, pois este é mais produtivo na

faixa 2, onde tem 35% de frequência de uso, do que na faixa 3 (24%) e na faixa 1

(19%).

Salta aos olhos também o comportamento do SN, pois este tem um

comportamento oposto comparativamente ao lo/la. Na faixa 1 ele aparece com 20%, é

menos produtivo na faixa 2 (10%) e volta a ter uma frequência mais alta na faixa 3

(18%). Por sua vez, o demonstrativo tem baixa produtividade nas três faixas etárias

sendo a menor delas na faixa 1 (4%).

Para o controle deste fator, a nossa hipótese era a de que a variação no quadro das

estratégias de realização do OD anafórico de 3a pessoa no espanhol de Oberá mostraria

um cenário de variação estável e não de mudança em progresso. Os nossos resultados

confirmam a nossa hipótese. Nesse tipo de situação observa-se um padrão curvilinear,

no qual as faixas intermediárias apresentariam a maior frequência de uso das formas de

prestígio, o que no nosso caso é o clítico lo/la. As duas formas mais produtivas são

utilizadas por falantes das três faixas etárias e seu uso, como tentamos mostrar neste

trabalho, parece responder mais claramente a fatores de ordem interna.

23% 22%25%

24%

35%

19%

31%28%

33%

18%

10%

20%

5% 5%4%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

Faixa3 Faixa2 Faixa1

le

lo/la

zero

SN

Dem.

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192

Sobre o clítico lo/la utilizado pelos informantes da faixa 2, desejamos investigar

se esses informantes seriam homens ou mulheres. De acordo com os resultados da seção

4.10, sobre o gênero dos informantes, vimos que as mulheres utilizavam mais a forma

lo/la do que os homens. Queremos, assim, verificar se, dos falantes da faixa 2, são de

fato as mulheres as responsáveis pela alta produtividade do clítico. Nesse sentido,

vejamos o cruzamento do fator faixa etária com o gênero.

Faixa etária x gênero: homens

A Tabela 28 apresenta a distribuição das variantes quando cruzamos a idade do

informante com o gênero masculino.

Homens

Faixa 1 (-20 anos)

Faixa 2 (+20/-50 anos)

Faixa 3 (+50 anos)

le 2/20 - 10% 24/65 - 37% 37/106 - 35%

lo/la 4/20 - 20% 15/65 - 23% 8/106 - 8%

zero 10/20 - 50% 19/65 - 29% 36/106 - 34%

SN 2/20 - 10% 4/65 - 6% 19/106 - 18%

Demonstrativo 2/20 - 10% 3/65 - 5% 6/106 - 6%

Tabela 28. Faixa etária x gênero: homens.

Notamos que os resultados gerais apresentados na Tabela 27 se mantêm somente

entre os falantes homens da faixa 1, e só em relação à estratégia com maior índice de

produtividade. Um total de 10 dos 20 dados encontrados nessa faixa corresponde ao

zero, o que equivale a 50% do total de ocorrências. A segunda estratégia mais

empregada por falantes homens da faixa 1 é o clítico lo/la (4/20 - 20%), e não le como

se lê na Tabela anterior, com os dados gerais. Os resultados gerais encontrados na

Tabela 27 também não condizem com os da Tabela 28 referentes aos homens da faixa 2.

Notamos que entre os falantes do sexo masculino com mais de 20 e menos de 50 anos

de idade a estratégia mais empregada é o clítico le, com 24/65 (37%) ocorrências. No

que se refere à segunda forma mais empregada, esta continua sendo o zero (19/65 -

29%). Já entre os homens da faixa 3, observamos que a distribuição encontra-se

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193

bastante equilibrada entre le e zero, com 37/106 (35%) e 36/106 (34%) dados,

respectivamente.

O gráfico abaixo ilustra os resultados acima apontados:

Gráfico 21: Faixa etária x gênero: homens.

O Gráfico 20 ilustra a distribuição das variedades partindo dos mais velhos, faixa

3, até os mais jovens, faixa 1. Notamos que, entre os informantes masculinos com mais

de 50 anos de idade, a forma mais recorrente para retomar o elemento anafórico é le.

Esse índice se mantêm até chegar à faixa 2 e cai até chegar aos 10% entre os mais

jovens (faixa 1). O zero é a segunda forma mais empregada para retomar o OD

anafórico entre os homens na faixa 3 (35%), mas apresenta uma queda (29%) entre

aqueles que estão na faixa 2, voltando a subir na faixa 1 até atingir 50% do total de

dados. Já a produtividade da forma lo/la é consideravelmente baixa entre os homens

com mais de 50 anos, chegando só a 8%. Esse índice sobe até 23% entre os da faixa 2 e

apresenta uma leve queda (20%) entre os mais jovens (faixa 1). A forma le, que foi a

estratégia por nós esperada como de maior produtividade, chega a ser mais baixa que o

clítico lo/la entre os homens mais jovens.

Como se vê, não parece que sejam os homens os responsáveis pela alta

produtividade do clítico lo/la na faixa 2. De uma forma geral, à primeira vista, o gráfico

20 poderia, diferentemente do gráfico geral que ilustraria um caso de variação estável,

apontar para um cenário de mudança em progresso: à medida em que sobem as taxas de

35% 37%

10%8%

23% 20%

34% 29%

50%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Faixa3 Faixa2 Faixa1

le lo/la zero

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194

zero, dimunuem as frequências de le. No entanto, esses resultados precisam ser tomados

com cautela, já que somente contamos com um único informante homem da faixa etária

1. Por essa razão, seria problemático propor qualquer tipo de generalização. Somente

novos trabalhos que contem com maior número de informantes masculinos poderão

confirmar ou rechaçar esses resultados.

Faixa etária x gênero: mulheres

A Tabela 29 apresenta a distribuição das variantes estudadas neste trabalho ao

cruzar a idade do informante com o gênero feminino:

Mulheres

Faixa 1 (-20 anos)

Faixa 2 (+20/-50 anos)

Faixa 3 (+50 anos)

le 54/202 - 27% 41/222 - 18% 32/201 - 16%

lo/la 37/202 - 18% 84/222 - 38% 66/201 - 33%

zero 63/202 - 31% 61/222 - 27% 58/201 - 29%

SN 42/202 - 21% 25/222 - 11% 35/201 - 17%

Demonstr. 6/202 - 3% 11/222 - 5% 10/201 - 5%

Tabela 29. Faixa etária x gênero: mulheres.

Os resultados gerais sobre a faixa etária apresentados na Tabela 27 se mantêm

para a faixa 1 quando observamos o comportamento das mulheres. O zero é a estratégia

mais empregadas pelas mulheres com menos de 20 anos de idade para retomar o OD

anafórico. De um total de 202 dados, encontramos 63 ocorrências de zero (31%). Na

fala das mulheres com +20 e -50 anos, a forma lo/la é a estratégia mais recorrente.

Verificamos (84/ 222) dados, o que equivale a 38% de frequência. Na faixa 3, zero e

lo/la têm os maiores índice de produtividade. No entanto, a ordem se encontra invertida

se comparada à Tabela geral sobre a faixa etária. Entre as mulheres com mais de 50

anos de idade, a forma mais recorrente para retomar o elemento anafórico é lo/la, e não

zero como aponta o resultado geral. De 201 dados temos 66 ocorrências de lo/la, o que

corresponde a 33% do total dos dados. Cabe lembrar que, entre os homens da faixa 3,

encontramos somente 8 ocorrências de lo/la. Portanto, nas faixas 2 e a 3 o clítico lo/la é

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195

mais empregado pelas mulheres, e essa produtividade repercute diretamente nos dados

gerais.

Vejamos como esses resultados podem ser ilustrados no gráfico a seguir:

Gráfico 22. Faixa etária x gênero: mulheres.

Chama a atenção a distribuição das estratégia de retomada do OD anafórico de 3a

pessoa entre as mulheres. A forma mais produtiva entre as informantes da faixa 3 (+de

50 anos) e da faixa 2 (+20/-50 anos) é o clítico lo/la. Encontramos 33% e 38%,

respectivamente. Entre as informantes que tem menos de 20 anos de idade, faixa 1, essa

é a estratégia menos produtiva, chegando somente a 18%. A estratégia mais utilizada

por este último grupo, faixa 1, é o zero (31%), que aparece também com alta

produtividade na faixa 3 (29%), mas cai na faixa 2 (27%).

Em síntese, o mesmo cenário de variação estável visto nos dados gerais pode ser

também encontrado no grupo das mulheres: um padrão curvilíneo em que a estratégia

de mais prestígio, o clítico lo/la, apresenta alta produtividade na fala de informantes da

faixa 2.

Para melhor visualizar o comportamento das três estratégias mais produtivas do

nosso corpus, decidimos ilustrar os resultados por separado. Vejamos primeiramente

como se distribui o clítico le considerando o gênero e a idade do informante.

16%18%

27%

33%

38%

18%

29%27%

31%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

Faixa3 Faixa2 Faixa1

le lo/la zero

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196

O comportamento do clítico "le"

O Gráfico 23 ilustra o comportamento de le em relação ao gênero e à idade do

informante.

Gráfico 23. Faixa etária x gênero: le.

Entre os homens da faixa 3 o índice de le mostra-se relativamente alto (35%).

Essa taxa sobe suavemente na faixa 2 (37%) e tem uma queda brusca entre os mais

jovens, faixa 1, chegando somente aos 10% de produtividade. Por outro lado, entre as

mulheres na faixa 3, notamos uma baixa produtividade de le (16%). Essa taxa sobe

timidamente na faixa 2 (18%) até chegar a 27% na faixa 1.

Podemos dizer que o clítico le tende a cair entre os homens com menos de 20 anos

de idade, e a subir entre as mulheres com a mesma idade. São os homens com mais de

20 e menos de 50 anos de idade os que utilizam mais o le como estratégia para retomar

o OD anafórico em Oberá. É válido lembrar que esses resultados precisam ser

relativizados em função do baixíssimo número de informantes masculinos da faixa 1.

Vejamos agora como se distribui o clítico lo/la considerando o gênero e a idade

do informante.

16%18%

27%

35% 37%

10%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

Faixa3 Faixa2 Faixa1

Mulher

Homem

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197

O comportamento do clítico "lo/la"

O Gráfico 24 ilustra o comportamento do clítico lo/la em relação ao gênero e à

idade do informante.

Gráfico 24. Faixa etária x gênero: lo/la.

Entre as mulheres com mais de 50 anos de idade o clítico lo/la apresenta 33% de

produtividade, o que em nossa opinião é um índice alto, mas a taxa mais elevada

aparece entre as mulheres da faixa 2, em que chega a 38% de produtividade, caindo

bruscamente entre as mulheres da faixa 1, chegando a 18%. Entre os homens, por sua

vez, o clítico lo/la não é tão produtivo quanto entre as mulheres. Este passa de 8% na

faixa 3, para 23% na faixa 2 e logo volta a cair na faixa 1 (20%). Podemos, assim,

concluir que as mulheres com mais de 20 e menos de 50 anos de idade são as que mais

empregam mais o clítico lo/la como estratégia de retomada do OD anafório em Oberá.

E, finalmente, vejamos como se distribui o zero considerando o gênero e a idade

do informante.

33%

38%

18%

8%

23%

20%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

Faixa3 Faixa2 Faixa1

Mulher

Homem

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198

O comportamento da estratégia "zero"

O Gráfico 25 ilustra o comportamento do zero em relação ao gênero e à idade do

informante.

Gráfico 25. Faixa etária x gênero: zero.

Conforme ilustrado no Gráfico 25, notamos que o emprego do zero é mais

produtivo entre os homens do que entre as mulheres. Sua frequência passa de 34% na

faixa 3, para 29% na faixa 2 e chega a alcançar 50% de produtividade na faixa 1 na fala

de homens. Já entre as mulheres, notamos somente um leve aumento ao longo das três

faixas etárias. Na faixa 3 apreesenta 29% de produtividade, logo cai na faixa 2 (27%),

mas volta a subir na faixa 1 (31%). Portanto, podemos dizer que são os homens da faixa

1, ou seja, com menos de 20 anos de idade, os que mais empregam o zero como

estratégia de retomada do OD anafórico em Oberá.

Em síntese, notamos que o comportamento de le, lo/la e zero é diferente de acordo

com o gênero e com a faixa etária do informante. Assim, o clítico le é mais produtivo

entre os homens da faixa 2. O clítico lo/la, forma considerada de prestígio, é a forma

mais recorrente entre as mulheres na faixa 2 e na faixa 3. Finalmente, o zero é mais

utilizado entre os homens da faixa 1.

Uma vez vista a distribuição das variantes de acordo com a faixa etária e com o

gênero do informante, passemos agora a analisar essa distribuição ao cruzar a faixa

29%27%

31%

34%29%

50%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Faixa3 Faixa2 Faixa1

Mulher

Homem

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199

etária do informante com a animacidade do referente, ou seja, um fator externo e um

fator interno.

Faixa etária do informante x animacidade do antecedente

Em 4.5 apresentamos a distribuição das variantes em função da animacidade do

antecedente. Os resultados gerais apontam que para os antecedentes [+humanos] a

estratégia mais empregada é le, para [+animados] há uma distribuição equilibrada entre

le e lo/la, como uma leve superioridade de lo/la, e finalmente, para os [inanimados] a

forma mais recorrente é o zero. Essa distribuição geral se mantém nas diferentes faixas

etárias? Na Tabela 30 a seguir, apresentamos a distribuição das cinco variantes

estudadas neste trabalho em relação à faixa etária do informante. Vejamos os resultados.

Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3

Hum

ano

Ani

mad

o

Inan

imad

o

Hum

ano

Ani

mad

o

Inan

imad

o

Hum

ano

Ani

mad

o

Inan

imad

o

Le 43/74 - 58%

12/29 - 41%

1/100 - 1%

56/122 - 46%

9/30 -30%

0/100 - 0%

60/135 - 44%

7/29 - 24%

2/112 - 2%

Lo/la 19/74 - 25%

10/29 - 35%

9/100 - 9%

43/122 - 36%

14/30- 47%

28/100 -28%

30/135 - 22%

6/29 - 20%

34/112 - 31%

Zero 8/74 - 11%

5/29 - 17%

51/100 - 51%

14/122 - 11%

4/30 - 13%

49/100 - 49%

29/135 - 21%

9/29 - 31%

30/112 - 35%

SN 4/74 - 5%

2/29 - 7%

37/100 - 37%

9/122 - 7%

3/30 - 10%

17/100 - 17%

15/135 - 11%

3/29 - 10%

34/112 - 30%

Demonst. 0/74 - 0%

0/29 - 0%

2/100 - 2%

0/122 - 0%

0/30 - 0%

6/100 - 6%

1/135 - 1%

4/29 - 14%

3/112 - 3%

Tabela 30. Faixa etária x animacidade do antecedente.

Na faixa 1 o clítico le é a estratégia mais produtiva para retomar o referente

quando este tem os traços [+humano] (43/74 – 58%) ou mais [animado] (12/29 – 41%).

Quando o antecedente é [inanimado] a forma mais recorrente entre os falantes dessa

faixa etária é o zero (51/100 – 51%).

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200

A distribuição das variantes se dá de modo diferente entre a faixa 1 e a faixa 2. Os

informantes com mais de 20 e menos de 50 anos de idade utlizam majoritariamente le

para retomar o referentes com o traço [+humano] (56/122 – 46%), lo/la para referentes

[+animado] (14/30 – 47%) e zero para os referentes [inanimados] (49/100 – 49%).

Finalmente, entre os falantes com mais de 50 anos de idade, faixa 3, a forma mais

recorrente para se referir a constituintes [+humano] é o clítico le (60/135 – 44%). O

zero é a forma mais produtiva em dois contextos neste grupo: i) quando o constituinte

tem o traço [+animado] e ii) quando tem o traço [inanimado].

Em síntese, observamos que i) a natureza do antecedente [±animado] determina a

distribuição das variáveis entre os informantes na faixa 1: le com [+animado] (humano e

animado) e zero com [-animado] (inanimado), ii) a natureza do antecedente [±humano]

determina a distribuição das variáveis entre os falantes da faixa 3: le com [+humano]

(humano) e zero com [-humano] (animado e inanimado). Nos falantes da faixa 2, vemos

mais claramente a distinção entre [humano], [animado] e [inanimado], pois empregam

le, lo/la e zero, respectivamente.

Após analisar o comportamento das variantes de acordo com a faixa etária do

informante, vejamos agora a atuação do fator escolaridade do informante.

4.12 Escolaridade do informante

A Tabela 31 apresenta a distribuição das variantes le, lo, zero, SN e

demonstrativo em relação à escolaridade do informante.

Nível 1 Nível 2 Nível 3

le 67/175 - 38% 84/232 - 36% 39/409 - 10%

lo/la 1/175 - 1% 36/232 - 16% 177/409 - 43%

zero 69/175 - 39% 72/232 - 31% 106/409 - 26%

SN 27/175 - 15% 30/232 - 13% 70/409 - 17%

Demonstrativo 11/175 - 6% 10/232 - 4% 17/409 - 4%

Tabela 31. Escolaridade do informante.

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201

A nossa hipótese para este grupo de fatores era a de que o nível de escolaridade do

indivíduo teria relevância direta sobre o seu desempenho linguístico e que, quanto mais

elevada a escolaridade, maior seria o uso do clítico lo/la.

Como ilustrado em (247-249), quando o informante tem o ensino fundamental

(completo ou incompleto), nível 1, o zero é a estratégia mais produtiva para a realização

do OD anafórico (69/175 – 39%), sendo o clítico le a segunda estratégia de preferência

(67/175 – 38%). O SN ocupa o terceiro lugar (27/175 - 15%). O lo/la, por sua vez, é a

estratégia menos produtiva neste nível de escolaridade, com somente 1 dado (1/175 –

1%). Por fim, o demonstrativo apresenta uma baixa taxa de produtividade (11/175 -

6%). Esses resultados nos servem como evidências empíricas para argumentar que as

estratégias le e zero são as mais frequentes no espanhol de Oberá, sendo o uso do clítico

lo/la relacionado ao aumento da escolarização.

Nível 1 [zero]: (247) E: Y que me/ ¿Qué me contás de [tu moto]i?

I9: y bueno ahora no ya como tuve el accidente y eso entonces Øi negocié (Homem, faixa 2, nível fundamental)

Nível 1 [le]: (248) I9: y: tengo uno que se llama a ver el: [Peter]i E Y Peter ¿Qué hace Peter a ver contame alguna cosa qué hace Peter?

I9: […] y una vez fue con mi abuelo el perro se fue con mi abuelo a la casa de mi abuelo sería y estaba mi tía entonces mi tía lei empezó a acariciar (Homem, faixa 2, nível fundamental)

Nível 1 [SN]: (249)M tiene la moto que le compré para ir [al colegio]i por/ mediante eso terminó el

colegioi (Homem, faixa 3, nível fundamental)

Nível 1 [lo]: (250) I9: Bueno ahora creo que sí bueno capaz ellos estaban confundido cuando se dio

la elección pero bueno [Scioli]i sería hijo de Cristina? E: e: no no Scioli estaba por el partido de Cristina Kirchner lo apoyaba mucho ¿no? I9: sí loi apoyaba mucho sí y no sé Cristina no hizo nada (Homem, faixa 2, nível fundamental)

Em (250) mostramos a única ocorrência de lo como forma de realização do OD

anafórico entre os informantes com o ensino fundamental. Notamos que esse clítico se

encontra na fala de um homem com mais de 20 e menos de 50 anos de idade. A

entrevistadora ao fazer a intervenção emprega a forma lo como forma de se referir ao

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202

antecedente30. Acreditamos que essa interervenção estimulou a realização da mesma

estratégia por parte do informante.

Quando o falante tem o ensino médio (completo ou incompleto), nível 2 de

escolaridade, o clítico le passa a ser a forma mais produtiva para realizar o elemento

anafórico (84/232 - 36%), estando a estratégia zero em segundo lugar (72/232 - 31%). O

clítico lo/la é a terceira estratégia de preferência (36/232 - 16%). Vejam-se os exemplos

(251), (252) e (253), respectivamente. Percebemos que o SN e o demonstrativo são as

duas formas menos usadas pelos falantes do nível 2.

Nível 2 [le]: (252) E: Y de [este]i

I10: este él andaba por acá por Villa Bonita lei veía un montón de veces pasaba no habla porque es mudo sordo mudo es pero después se fue desapareció (Mulher, faixa 1, nível médio)

Nível 2 [zero]: (253) E: M y ¿Vos tenés algún [algún sueño]i que recuerdes que vos soñaste y te

acordás del sueño? I17: Sí pero no te Øi voy a contar porque es una pelotudés (Homem, faixa 2, nível médio)

Nível 2 [lo]: (254) I17: Y hace muchos años había [muchos más animales]i

[…] E: ¿Por qué no hay animales? I17: Según lo que me cuentan los más viejos pasa que ahora hay mucha caza caza de animales y la gente está sacando todos los bosques y los animales no tienen adonde ir y se va a los/ cercas de las “acentaciones” de las personas y las personas losi matan y se losi comen nomás (Homem, faixa 2, nível médio)

Quando o informante tem o ensino superior (completo ou incompleto), nível 3 de

escolaridade, o clítico lo/la passa a ocupar o primeiro lugar de produtividade (177/409 -

43%), seguido pelo zero (106/409 - 26%). O SN ocupa o terceiro lugar (70/409 - 17%).

Em (255), (256) e (257) exemplificamos esses casos. O clítico le apresenta baixa

produtividade (39/409 - 10%), sendo, ainda assim, superior ao demonstrativo nesse

nível (17/409 - 4%). Esses resultados nos fazem responder afirmativamente à nossa

hipótese de trabalho: quanto maior a escolarização maior o uso do clítico lo/la, forma

considerada de prestígio, e, consequentemente, menor o uso do clítico le, considerada

uma forma estigmatizada.

30 Essa forma está sublinhada no dado (250).

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203

Nível 3 [lo]: (255) I2: Bueno [las distracciones]i yo no o sea no lasi utilizo (Mulher, faixa 3, nível

superior) Nível 3 [zero]: (256) E: ¿Y la y la frecuencia de los de [los colectivos]i ?

I2: Y la verdad que casi no Øi utilizo pero creo que cada cada hora cada dos horas hay colectivos (Mulher, faixa 3, nível superior)

Nível 3 [SN]: (257) I1: En la falta de apoyo de los padres a [los hijos]i en la parte de la educación o

sea no revisan los cuadernos no se preocupan porque si el hijo le va yendo bien o mal en la escuela o sea no hay un seguimiento de los padres a los hijos muchos de los casos manda a los hijosi sólo por el salario universal o por el salario familiar (Homem, faixa 3, nível superior)

Vejamos como ficam os resultados por nós encontrados em função da

escolaridade no Gráfico a seguir.

Gráfico 26. Escolaridade do informante.

Notamos que à medida que aumenta o nível de escolaridade aumenta a

produtividade do clítico lo/la e diminui o clítico le. Chama a atenção a presença do zero

nos três níveis de escolaridade, que também sofre uma leve queda à medida que sobe o

38%36%

10%

1%

16%

43%39%

31%

26%

15%13%

17%

6%4% 4%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

50%

Nível1 Nível2 Nível3

le

lo/la

cero

SN

Dem.

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204

grau de instrução do indivíduo, mas uma queda menos acelerada do que o que ocorre

com o clítico le.

Chama a atenção também o fato do SN ser mais produtivo quando um dos clíticos

não o é. No nível 1 de instrução o SN tem 15% de produtividade diante de 1% de lo/la, e

no nível 3 tem 17% de produtividade diante de 10% de le.

Vemos, assim, o papel que pode ter a escola no espanhol de Oberá. Neste

trabalho, estamos argumentando que embora o clítico le seja considerado uma forma

mais natural no espanhol dessa região, o que fica claro ao analizarmos os dados dos

falantes com baixo grau de escolarização, essa forma passa a ocupar uma posição

estigmatizada quando contrastada com o clítico lo/la, considerado como forma de

prestígio, sendo este adquirido via escola. No Gráfico 26, observamos que à medida que

aumenta a escolarização, sobem proporcionalmente as taxas de lo/la e diminuem as

frequências de le. A estratégia zero, como não está sujeita ao processo de

estigmatização social, não se vê afetada diretamente por esse fator.

Vejamos por separado o comportamento dos clíticos le e lo/la:

Gráfico 27. Escolaridade do informante: clíticos le e lo/la.

Como dito acima, notamos que o le é mais produtivo no nível 1 de escolaridade

(38%), apresenta uma leve queda no nível 2 (36%), e cai bruscamente no nível 3 (10%).

Por sua vez, o clítico lo/la tem baixíssima produtividade no nível (1%), sobe no nível 2

(16%), mas ainda não ultrapassa le, e no nível 3 é onde apresenta o maior índice de

38%

36%

10%

1%

16%

43%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

50%

Nível1 Nível2 Nível3

le

lo/la

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205

produtividade (43%). Assim, os falantes no nível 1 preferem le, os falantes do nível 2

ainda preferem le e os do nível 3 preferem lo/la. Em síntese, a produtividade de le

diminui e de lo/la cresce à medida que aumenta o grau de instrução do informante.

Vejamos agora como fica a distribuição das variantes em função da escolaridade

do informante e da animacidade do referente.

Escolaridade do informante x animacidade do antecedente

A Tabela 32 apresenta os resultados quando cruzamos a escolaridade do

informante com a animacidade do antecedente:

Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior

Hum

ano

Ani

mad

o

Inan

imad

o

Hum

ano

Ani

mad

o

Inan

imad

o

Hum

ano

Ani

mad

o

Inan

imad

o

Le 56/91 - 62%

9/23 - 39%

2/49 - 4%

71/112 -63%

13/31 -42%

0/68 -0%

32/128 -25%

6/34 -18%

1/195 - 1%

Lo/la 1/91 - 1%

0/23 - 0%

0/49 - 0%

24/112 -21%

7/31 -23%

3/68 -4%

67/128 -52%

23/34 -68%

68/195 -35%

Zero 25/91 - 27%

8/23 - 35%

27/49-55%

12/112 -11%

7/31 -23%

42/67 -62%

14/128 -11%

3/34 - 9%

70/195- 36%

SN 8/91 - 9%

2/23 - 9%

17/49 -35%

5/112 -4%

4/31 -13%

20/68 -29%

15/128 -12%

2/34 - 6%

51/195 -26%

Demonst. 1/91 - 1%

4/23 -17%

3/49 - 6%

0/112 -0%

0/31 - 0%

3/68 - 4%

0/128 -0%

0/34 - 0%

5/195 -3%

Tabela 32. Escolaridade do informante x animacidade do antecedente.

Notamos que entre os informantes com o nível 1 de instrução o clítico le é a forma

mais recorrente para retomar antecedentes que tem o traço [+humano] (56/91 - 62%) e

[+animado] (9/23 - 39%). Para os referentes inanimados o falante utiliza mais

frequentemente o zero (27/49-55%), estando o SN em segunda posição. Chama a

atenção o fato de não verificarmos nenhuma ocorrência de lo/la retomando antecedentes

[animados] e [inanimados] no nível 1 de instrução, o que nos diz que o único dado

encontrado refere-se a antecedentes [humanos]. Em linhas gerais, o resultado sobre as

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206

formas mais produtivas alinha-se ao resultado geral apontado em 4.5 sobre a

animacidade do referente.

Analogamente, entre os informantes com nível 2 de instrução, a forma le é mais

recorrente referindo-se a antecedentes com os traços [+humano] (71/112 - 63%) e

[+animado] (13/31 - 42%). Quando o antecedente é inanimado, os falantes preferem

usar o zero (42/67 - 62%), alocando o SN em segunda posição, o que confere ao clítico

lo/la o terceiro lugar. Chama a atenção que, no nível 2, é o clítico le que não aparece

retomando antecedentes inanimados. De forma global, as formas mais produtivas no

nível 2 de instrução alinham-se com os resultados gerais apontados em 4.5 sobre a

animacidade do antecedente.

O ensino superior é o único contexto em que os resultados são diferentes do

padrão geral. Para os falantes deste nível de instrução, le não é a forma preferida para

antecedentes [humanos], assim como o zero não é a forma preferida, com exclusividade,

para a referência aos constituintes [inanimados]. A estratégia mais frequente é lo/la para

[+humano] e [+animado], com (67/128 - 52%) e (23/34 - 68%), respectivamente. Já

para os constituintes [inanimados], há uma distribuição bastante equilibrada entre zero e

lo/la. Verificamos (70/195 - 36%) de zero e (68/195 - 35%) de lo/la.

Em síntese, em função do fator escolaridade e das frequências mais altas de uso,

observamos um único sistema binário que opõe, por um lado, antecedentes animados

([humano] e [animado]) e, por outro, antecedentes inanimados. A diferença seria no

clítico escolhido em oposição ao zero: nos níveis fundamental e médio a oposição se dá

entre le e zero; no nível superior, entre lo e zero.

Em 4.3, cruzamos o número do clítico com o número do antecedentes e

verificamos que o clítico le singular retoma tanto antecedentes no plural quanto no

singular, enquanto les só retoma antecedentes plurais. Além disso, comentamos que a

distribuição de lo/la e los/las era distinta à de le/les. Por essa razão, naquele momento,

propomos analisar o resultado em função de outros fatores.

Assim, ao verificar o número do clítico e o número do antecedente em função da

escolaridade, notamos, em primeiro lugar, que les aparece na fala de informantes que

têm o ensino médio, nível 2, ou superior, nível 3. Além disso, notamos a presença de le

retomando antecedentes plurais nos três níveis de instrução.

Assim, em função dos nossos resultados, os nossos dados podem sugerir que

talvez a escolaridade não esteja diretamente relacionada à questão da concordância de

número em relação ao clítico le/les, pois, ainda que as ocorrências de les estejam na fala

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207

dos mais instruídos, também encontramos le retomando antecedentes plurais no nível 3.

Mais uma vez concordamos com Amable (1975) sobre o uso estendido da forma le no

singular em Misiones, que retoma antecedentes tanto no plural quanto no singular. E,

pelo que vemos, esse uso parece generalizado em falantes de distintos graus de

escolaridade.

Por outro lado, acreditamos que a escolaridade tem força na manutenção da

concordância de número quando o clítico é lo/la. Não podemos dizer que seja algo

categórico, pois encontramos algumas ocorrências nas que não há marcas de

concordância. No entanto, de forma geral, entre os mais escolarizados, a tendência é que

lo/la retome antecedentes no singular e los/las no plural.

Entretanto, acreditamos que a tendência é que a escola favoreça a manutenção da

concordância de número, uma vez que há mais ocorrências com a concordância do que

sem ela em falantes mais escolarizados.

Escolaridade x Gênero

A Tabela 33 apresenta o cruzamento entre a escolaridade e o gênero do

informante:

Feminino Masculino

Ensino Fundamental

Ensino Médio

Ensino Superior

Ensino Fundamental

Ensino Médio

Ensino Superior

Le 30/90 – 33%

66/158 - 42%

31/377 - 8%

37/85 – 44%

18/74 - 24%

8/32 - 25%

Lo/la 0/90 – 0%

14/158 - 9%

173/377 - 46%

1/85 – 1%

22/74 - 30%

4/32 - 12%

Zero 37/90 – 41%

48/158 - 30%

97/377- 26%

32/85 – 38%

24/74 - 32%

9/32 - 28%

SN 16/90 - 18%

24/158 - 15%

63/377 - 16%

11/85 – 13%

6/74 - 8%

8/32 - 25%

Demonst. 7/90 – 8%

6/158 - 4%

14/377 - 4%

4/85 - 5%

4/74 - 5%

3/32 – 9%

Tabela 33. Escolaridade x Gênero.

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208

Notamos que no nível 1 de escolaridade as mulheres preferem o zero como

estratégia para retomar o OD anafórico, sendo o clítico le a segunda opção mais

produtiva. Encontramos 37/90 ocorrências de zero, o que equivale a 41% do total de

dados. Chama a atenção a ausência de ocorrência do clítico lo/la nesse nível. Entre as

mulheres com o nível 2 de instrução, verificamos que a estratégia mais produtiva é le

(66/158 – 42%), estando o zero em segundo lugar.

Já entre as mulheres com nível superior lo/la se apresenta como a estratégia mais

produtiva, com 173/377 ocorrências, o que equivale a 46% do total de dados. O zero é a

segunda estratégia mais utilizada. Ao que parece, a escolaridade favorece o aumento de

lo/la e o desparecimento de le entre as mulheres, pois somente foram encontrados

31/377 ocorrências de le, o que equivale a 8%, nas informantes com nível superior.

Entre os homens com ensino fundamental notamos que o le é a estratégia mais

produtiva, com 37/85 ocorrências, o que equivale a 44%. O zero é a segunda forma mais

frequente. Chama a atenção a baixa produtividade de lo/la, contando somente com 1

ocorrência. Entre os homens com o ensino médio encontramos uma distribuição

equilibrada entre zero e lo/la. Verificamos 24/74 ocorrências de zero (32%) e 22/74

ocorrências de lo/la (30%). Finalmente, entre os homens que têm ensino superior

notamos uma distribuição equilibrada entre zero e le, com 9/32 (28%) e 8/32 (25%)

respectivamente.

O Gráfico 28 ilustra a distribuição das estratégias entre as mulheres:

Gráfico 28. Escolaridade x gênero: mulheres.

33%

42%

8%

0%

9%

46%41%

30%26%

18%15% 16%

8%

4% 4%0%5%10%15%20%25%30%35%40%45%50%

Nível1 Nível2 Nível3

Mulher

le

lo/la

zero

SN

D

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209

Como dito acima, à medida que aumenta o grau de escolaridade entre as mulheres,

o le diminui e aumenta a produtividade de lo/la. O zero sofre uma leve queda à medida

que cresce o grau de instrução neste grupo.

O gráfico 29 ilustra a distribuição das estratégias entre os homens:

Gráfico 29. Escolaridade x gênero: homens.

Percebemos que o clítico le é a estratégia mais empregada entre os homens com o

ensino fundamental (44%), sofrendo uma queda entre os informantes com ensino médio

(24%) e tendendo a se manter entre os que têm o ensino superior (25%). Por sua vez, o

clítico lo/la é baixo entre os homens que têm o ensino fundamental (1%), sobe entre os

que têm o ensino médio (30%) e volta a cair entre os homens com o ensino superior

(12%). O zero tende a se manter com alta produtividade nos três níveis de escolaridade

entre os homens também.

Em síntese, podemos dizer que as mulheres mais escolarizadas usam mais a forma

lo/la para retomar o OD anafórico do que os homens, o que indica que entre as mulheres

existe uma queda de le e um aumento de lo/la, forma de prestígio, à medida que

aumenta a escolaridade.

44%

1%

30%

12%

38%32%

28%

13% 8%

25%

5% 5%9%

0%5%10%15%20%25%30%35%40%45%50%

Nível1 Nível2 Nível3

Homem

le

lo/la

zero

SN

D

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210

Escolaridade x faixa etária

A tabela 34 apresenta os resultados do cruzamento entre a escolaridade e a faixa

etária do informante:

Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3

Ens

ino

Fund

amen

tal

Ens

ino

Méd

io

Ens

ino

Supe

rior

Ens

ino

Fund

amen

tal

Ens

ino

M

édio

Ens

ino

Supe

rior

Ens

ino

Fund

amen

tal

Ens

ino

M

édio

Ens

ino

Supe

rior

Le - 32/84- 38%

24/138- 17%

15/32 - 47%

45/127- 35%

5/128 - 4%

52/143- 36%

7/21- 33%

10/143- 7%

Lo/la - 8/84 - 10%

33/138- 24%

1/32 - 3%

24/127- 19%

74/128- 58%

0/143 - 0%

4/21- 19%

70/143- 49%

Zero - 26/84- 31%

47/138- 34%

12/32- 38%

39/127- 31%

29/128- 23%

57/143- 40%

7/21- 33%

30/143- 21%

SN - 15/84- 18%

29/139-21%

2/32- 6%

13/127- 10%

14/128- 11%

25/143- 17%

2/21- 10%

27/143- 19%

Demonst. - 3/84 - 4%

5/138 - 4%

2/32- 6%

6/127 - 5%

6/128 - 5%

9/143 - 6%

1/21- 5%

6/143 - 4%

Tabela 34. Escolaridade x faixa etária.

Chama a atenção a alta produtividade do clítico le entre os falantes com menos de

20 anos de idade (faixa 1) e que têm o ensino médio e do zero entre os que têm o ensino

superior. Foram verificadas (32/84 - 38%) ocorrências de le e (47/138 - 34%)

ocorrências de zero, respectivamente. Cabe lembrar que não conseguimos preencher a

célula correspondente à faixa 1, nível 1.

Os falantes que têm mais de 20 anos e menos de 50 anos de idade (faixa 2) com o

ensino fundamental preferem utilizar o clítico le como estratégia de retomada do OD

anafórico, encontramos (15/32 - 47%) ocorrências. Os que têm o ensino médio também

preferem o clítico le (45/127- 35%). Finalmente, os que possuem o ensino superior

utilizam com mais frequência o clítico lo/la, com (74/128- 58%) ocorrências.

Os falantes com mais de 50 anos de idade (faixa 3) e que têm o ensino

fundamental preferem usar o zero como estratégia para retomar o OD anafórico com

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211

(57/143 - 40%) ocorrências. Chama a atenção a distribuição das variantes entre os

falantes com nível médio nessa faixa etária. Notamos um equilíbrio entre le e zero, já

que para cada um deles encontramos (7/21- 33%) ocorrências. Já entre os falantes com

ensino superior, na faixa 3, observa-se a preferência pela utilização do clítico lo/la para

realizar o OD anafórico (342), mas percebemos uma queda de produtividade desta

estratégia em comparação ao informantes com o mesmo nível de escolaridade da faixa

2, ou seja, aqueles com mais de 20 e menos de 50 anos de idade.

Não podemos deixar de notar a produtividade mais expressiva do SN em

determinados contextos, por exemplo entre os falantes com mais de 50 anos de idade

que têm um nível baixo de escolaridade e entre os que têm o ensino superior nesta

mesma faixa etária. Observamos que, no caso dos falantes com mais de 50 anos de

idade e com baixo grau de escolaridade (faixa 3 nível 1), o SN ocupa o terceiro lugar

entre todas as estratégias.

Se olharmos para os informantes com mais de 50 anos de idade que possuem o

ensino médio, notamos que o clítico lo/la ocupa o terceiro lugar e o SN deixa de ser tão

produtivo. Finalmente, no ensino superior, as duas formas mais frequentes são o lo/la e

zero, e o clítico le apresenta 7% de produtividade. O SN, nesse caso, tem 19% de

frequência.

Em síntese, nesta seção observamos o condiocionamento do fator escolaridade na

distribuição das estrátegias de realização do OD anafórico. Como hipótese central,

argumentamos que o clítico lo/la, forma de prestígio, estaria diretamente relacionado ao

aumento da escolaridade. Os nossos resultados confirmaram a nossa hipótese. Além

disso, observamos que a distribuição entre lo/la e zero, como formas mais produtivas, se

vê mais claramente com falantes de ensino superior, que utilizam a primeira forma para

antecedentes [+animados] e a segunda para [-animados]. Ademais, também foi possível

verificar que a forma de prestígio lo/la é utilizada mais por mulheres de nível superior.

Por fim, nesse nível de educação, a realização do clítico de prestígio lo/la é mais

produtiva entre os falantes adultos (faixa 2) e mais velhos (faixa 3).

4.13 Profissão

Na Tabela 35 analisamos a distribuição das variantes analisadas neste trabalho

em função da profissão do informante. O que esperávamos encontrar com o controle

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212

deste grupo era uma produção maior do clítico lo/la entre os profissionais de educação e

saúde, cujas profissões são consideradas de maior prestígio na sociedade de Oberá.

Vejamos então os resultados.

Le Lo/la Zero SN Demonst.

Educação: professores

15/225- 7%

124/225- 55%

49/225- 22%

28/225- 12%

9/225 - 4%

Educação: estudantes

54/202- 27%

37/202 - 18%

63/202- 31%

42/202- 21%

6/202 - 3%

Meios de Comunicação

7/21 - 33%

4/21 - 19%

7/21 - 33%

2/21 - 10%

1/21 – 5%

Saúde 0/46 - 0%

20/46 - 44%

10/46 - 22%

13/46 - 28%

3/46 – 7%

Comércio 36/94 - 38%

10/94 - 11%

32/94 - 34%

11/94 - 12%

5/94 – 5%

Trabalhadores de fábrica

9/33 - 27%

14/33 - 42%

7/33 - 21%

2/33 - 6%

1/33 – 3%

Trabalhadores esporádicos

67/161- 42%

5/161 - 3%

56/161- 35%

22/161 - 14%

11/161 - 7%

Dona de casa 2/34 - 6%

0/34 - 0%

23/34 - 68%

7/34 - 21%

2/34 – 6%

Tabela 35. Profissão.

Os resultados são interessantes. Notamos que lo/la foi a estratégia mais produtiva

nos grupos sociais de maior prestígio da sociedade, como profissionais da saúde e

professores, o que nos faz confirmar a nossa hipótese de trabalho. Temos, assim, mais

um argumento a favor do caráter prestigioso do clítico lo/la. Em primeiro lugar, entre o

grupo denominado “educação: professores”, encontramos 124/225 ocorrências de lo/la,

o que equivale a 55% do total de dados. Em segundo, o lo/la foi o único clítico

produzido entre o grupo denominado “saúde” (20/46 – 44%). Nesses grupos a

produtividade de le, entendida como forma estigmatizada em oposição ao prestígio de

lo/la, é baixa entre os professores (7%) e nula entre os profissionais da saúde.

Chama a atenção também a alta produtividade de lo/la em um grupo que não

estava em prinicípio previsto, como os trabalhadores de fábrica. Nesse grupo, o clítico

lo/la aparece como a forma mais recorrente (14/33 – 42%). À diferença dos dois grupos

anteriores, neste o clítico le ocupa o segundo lugar e o zero o terceiro. Este grupo, no

entanto, precisa ser tomado com mais cautela pelo fato de contarmos somente com um

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213

único informante, homem, adulto, com ensino médio de escolarização. Pode ser que

neste caso, o último desses fatores sociais possa ser o responsável por esses resultados.

Em relação às demais profissões, notamos que as estratégias zero e le concorrem

pelo primeiro lugar no grupo denominado “educação: estudantes”. Verificamos 63/202

ocorrências de zero (31%) e (54/202 - 27%) ocorrências de le. O clítico lo/la ocupa a

terceira posição, não sendo, assim, uma das formas mais frequentes neste grupo (37/202

- 18%). Além disso, também observamos uma variação entre le e zero no grupo

denominado “comunicação”. Foram encontrados (7/21 - 33%) para cada uma das

estratégias. O clítico lo/la somente chega a 19%. Por fim, o clítico le varia com zero

como a forma mais frequente entre a categoria “comércio”, com (36/94 - 38%) e (32/94

- 34%), respectivamente. O clítico lo/la ocupa o quarto lugar, já que o SN seria a terceira

estratégia mais produtiva.

A categoria “trabalhadores esporádicos" seleciona o clítico le como a forma mais

frequente para realizar o OD anafórico. Foram observadas 67/161 ocorrências, o que

equivale a 42% do total de dados. O zero é a segunda forma preferida e o clítico lo/la

apresenta somente 3% de produtividade. O SN ocupa o terceiro lugar neste grupo.

O grupo que mais chama a atenção é o grupo denominado “dona de casa”, pois a

produtividade dos clíticos como um todo é muito baixa. Encontramos somente 2/34

ocorrências de le e nenhuma de lo/la. O zero é a estratégia preferida para realizar o OD,

com (23/34 - 68%).

Em síntese, verificamos, de uma forma geral, que os grupos sociais de menos

prestígios na sociedade de Oberá preferem formas distintas do clítico lo/la para realizar

o OD, como as estratégias zero e le. Esses resultados podem ser interpretados em duas

direções complementares: por um lado, a utilização de zero poderia ser justificada pelo

fato de esta ser uma forma neutra, isenta de avaliação social; por outro, indo mais além,

é possível que os valores de prestígio e estigma não cheguem a se aplicar a estes grupos,

que não enxergam no clítico le uma variante a ser evitada. Obviamente, essas

generalizações não são definitivas e merecerm mais investigações futuras.

Em função dos resultados encontrados neste grupo, também nos pareceu

importante verificar as escolhas feitas por cada individuo isoladamente, o que faremos a

seguir.

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214

Informante

As Tabelas 36, 37 e 38 apresentam a distribuição das variantes em função de cada

informante. Para facilitar a análise, decidimos separar os informantes com base no perfil

social. Assim, no grupo 1 estão os informantes que trabalham com educação ou saúde e

possuem o ensino superior completo. No grupo 2 estão os informantes que estão

cursando o ensino médio ou o ensino superior, ou que deixaram de cursar algum tipo de

ensino recentemente. No grupo 3 estão os informantes que trabalham em outras áreas e

não tem vínculo com a escola, colégio ou faculdade.

Essa separação tem como objetivo verificar se todos os indivíduos de um

determinado grupo apresentam resultados em consonância ao grupo ou se destoam em

algum aspecto. Por isso, no grupo 1, estão os informantes das profissões de mais

prestígio, nas quais, como observamos antes, o clítico lo/la é a forma mais produtiva.

No grupo 2, queremos visializar o peso do fator escolaridade, razão pela qual

agrupamos todos os estudantes. Por fim, no grupo 3, estariam os informantes que não

seriam submetidos à expressões normatizadoras da escola. Nesse grupo, ainda que haja

informantes com ensino médio (concluído ou não), todos estão afastados da escola pelo

período de no mínimo 10 anos.

Grupo 1 Le Lo/la Zero SN Demonst.

Informante 1

8/32 – 25 %

4/32 - 12%

9/32 - 28%

8/32 - 25%

3/32 – 9%

Informante 2

1/21 – 5%

15/21 - 71%

4/21 - 19%

1/21 – 5%

0/21 – 0%

Informante 11

2/88 – 2%

56/88 -64%

13/88 -15%

12/88 - 14%

5/88 – 6%

Informante 18

0/46 – 0%

15/46 -33%

10/46 - 22%

13/46 - 28%

3/46 – 7%

Informante 19

1/44 – 2%

31/44 - 71%

7/44 - 16%

5/44 - 11%

0/44 – 0%

Tabela 36. Informantes: Grupo 1.

Chama a atenção as variantes selecionadas pelas informantes 2 e 19. Notamos que

a forma mais frequente é o clítico lo/la, com 15/21 (71%) e 31/74 (71%) ocorrências,

respectivamente. Quase não encontramos ocorrências de le, somente há um dado para

cada uma, não há ocorrências de demonstrativo, o zero não chega a 20% de

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215

produtividade e o SN é baixo também, 5% e 11%, respectivamente. Estas duas

informantes usam quase que categoricamente o clítico lo/la como a estratégia de

realização do OD anafórico.

A informante 18 seleciona o clítico lo/la como a forma mais frequente para

realizar o OD anafórico (15/46 -33%), ocupando o SN o segundo lugar e o zero o

terceiro. Não verificamos ocorrências de le e o demonstrativo não chega a 10%.

A informante 11 é uma das que apresenta o maior número de ocorrências.

Verificamos um total de 88 dados, sendo que 64 são de lo/la, o que equivale a 64% do

total. A segunda estratégia, que é o zero, somente chega a 15%.

Em síntese, esses informantes selecionam mais preferencialmente o clítico lo/la

para realizar o OD. Esses resultados se alinham aos resultados gerais do grupo, como

excessão de um único informante, cujo comportamente destoa dos demais. Percebemos

que o informante 1 utiliza o zero como a estratégia mais produtiva para realizar o OD

anafórico. Chama a atenção a distribuição equilibrada entre le e SN no segundo lugar.

Verificamos, também, uma baixa produtividade de lo/la. Diferentemente dos

informantes 2, 11, 18 e 19, que são mulheres, o informante 1 é um homem. Nesse caso,

acreditamos que esse comportamento diferencidado seja atribuído ao gênero do

informante, uma vez que vimos que os homens preferem as estratégias le e zero.

Vejamos agora os resultados dos informantes que compõem o grupo 2:

Grupo 2 Le Lo/la Zero SN Demonst.

Informante 3 2/20 - 10%

4/20 -20%

10/20 - 50%

2/21 - 10%

2/20 – 10%

Informante 4 3/40 – 7%

18/40 -46%

16/40 -40%

2/40 – 5%

1/40 – 2%

Informante 6 12/38 -32%

3/38 – 8%

15/38 -39%

8/38 -21%

0/38 – 0%

Informante 10

30/64 - 47%

4/64 – 6%

16/64 -25%

13/64 - 20%

1/64 – 2%

Informante 12

0/32 – 0%

18/32 -56%

8/32 - 25%

4/32 - 12%

2/32 – 6%

Informante 13

12/68 - 18%

11/68 -17%

24/68 -35%

17/68 - 25%

3/68 – 4%

Informante 17

9/33 - 27%

14/33 - 42%

7/33 - 21%

2/33 – 6%

1/33 – 3%

Tabela 37. Informantes: Grupo 2.

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216

É possível observar que a informante 4, a informante 12 e o informante 17

preferem o clítico lo/la para realizar o OD anafórico, com 18/40 (46%), 18/32 (56%) e

14/33 (42%) dados, respectivamente. Nas duas informantes mulheres, isto é, as

informantes 4 e 12, o zero ocupa o segundo lugar, diferentemente do informante homem

que, para esse posto, apresenta o clítico le.

Salta aos olhos o fato de que o informante 3 prefere o zero em 50% das

ocorrências (10/20). Os outros 50% encontram-se divididos entre as demais estratégias,

sendo o clítico lo/la a segunda mais produtiva na sua fala (20%).

Chama a atenção a distribuição das variantes entre as informantes 6 e 10.

Enquanto o zero é a forma mais frequente na fala da informante 6, na fala da informante

10 é o clítico le. E, enquanto o le é a segunda forma mais produtiva na fala da

informante 6, o zero ocupa essa posição na fala da informante 10.

É importante notar que também não foram encontradas ocorrências de le na fala

da informante 12, e que o demonstrativo é pouco produtivo dentro deste grupo,

inclusive não encontramos ocorrências desta estratégia na fala da informante 6.

De uma forma geral, observamos que o grupo dos estudantes apresenta

comportamentos diferenciados que não apontam para uma única direção. É provável

que este grupo se caracterize como uma zona de transição entre os perfis mais e menos

prestigiados da sociedade, uma vez que se, por um lado, identificamos informantes que

preferem o clítico lo/la, o que os aproximaria do grupo 1, por outro, há informantes que

preferem as estratégias le e zero. Tampouco é esclarecedor o resultado se considerarmos

separadamente os informantes em função do nível de escolaridade. Se, por hipótese,

acreditamos que o uso maior de lo/la esteja relacionado ao aumento da escolaridade, no

grupo dos estudantes, esses resultados não seriam muito claros: dos quatro informantes

com ensino superior, somentes dois (informantes 4 e 12) preferem este clítico. Os

demais (informantes 6 e 13) preferem a forma zero, isenta de estigmatização social. Os

estudantes do ensino médio também configuram um grupo heterogêneo: os três

informantes (3, 10 e 17) preferem formas diferentes, como o zero, le e lo/la,

respectivamente. É provável que outros fatores sociais sejam de fato os responsáveis por

explicar esses resultados.

Vejamos agora o último grupo:

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217

Grupo 3 Le Lo/la Zero SN Demonst.

Informante 5 28/56 - 50%

0/56 – 0%

14/56 - 25%

9/56 -16%

5/56 – 9%

Informante 7 22/53 - 43%

0/53 – 0%

20/53 -38%

9/53 -17%

2/53 – 4%

Informante 8 18/45 -40%

2/45 - 4%

17/45 38%

4/45 – 9%

4/45 – 9%

Informante 9 15/32 -47%

1/32 - 3%

12/32 - 38%

2/32 – 6%

2/32 – 6%

Informante 14

18/49 - 37%

8/49 - 16%

15/49 - 31%

7/49 - 14%

1/49 – 2%

Informante 15

7/21 - 33%

4/21 - 19%

7/21 - 33%

2/21 - 10%

1/21 – 5%

Informante 16

2/34 - 6%

0/34 - 0%

23/34 - 68%

7/34 - 21%

2/34 – 6%

Tabela 38. Informantes: Grupo 3.

O que mais chama a atenção é a baixa ou nula produtividade do clítico lo/la no

grupo 3 como um todo, dentre eles, somente a informante 14 e o informante 15

apresentam um percentual considerável, 16% e 19%, respectivamente. Esses resultados

nos permitem refinar a nossa hipótese de que o clítico de prestígio estaria relacionado a

uma maior escolarização. Acreditamos que junto a esse fator também é relevante o

vínculo dos indivíduos aos bancos escolares, isto é, uma maior acessibilidade à pressão

normatizadora da escola.

Assim, os informantes 5, 7, 8, 9, 14 e 15 preferem o clítico le como estratégia de

realização do OD anafórico e o zero como a segunda forma mais frequente. A

informante 16 é a que menos produção de clíticos apresenta, não há ocorrências de lo/la

e há somente 2 de le. As estratégias por ela empregadas são zero e SN, nessa ordem.

Encontramos (23/34) ocorrências de zero, o que equivale a 68% e 7/34 (21%) de SN.

Em síntese, o controle dos dados por informantes agrupados em três grandes

categorias nos permitiu visualizar alguns padrões gerais de uso. No grupo 1, com

informantes das áreas de saúde e educação, mais prestigiosas na sociedade, o clítico

lo/la é a forma preferida, seguida pela estratégia zero. No grupo 2, observamos uma

maior heterogeneidade de comportamentos, mais ainda assim detectamos dois padrões

mais produtivos, um que se assemelha ao grupo 1 (uso de lo/la e zero) e outro que

prefere o zero e tem como segunda possiblidade o clítico le. Por fim, no grupo 3, o

padrão geral de uso aponta para a preferência de le, seguido de zero. Nesse grupo,

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218

embora tenhamos informantes com o ensino médio (concluído ou não), a estratégia lo/la

nunca se mostra a mais produtiva, chegando a estar ausente para três dos informantes.

Nesse sentido, aliado ao fator escolaridade, há que considerar o vínculo com a escola.

4.14 Grau de distância e proximidade em relação ao entrevistador

A Tabela 39 apresenta a distribuição das variante em função do grau de distância

e proximidade em relação ao entrevistador. A nossa hipótese para este grupo era a de

que quanto mais próxima a relação entre informante e entrevistadora, maior a

possibilidade de que o entrevistado estivesse em uma situação mais cômoda para que

pudéssemos observar as formas mais típicas de seu vernáculo, como o clítico le ou o

zero. Por outro lado, quando maior a distância, maior a possibilidade de uso do clítico

lo/la. Vejamos os resultados.

Próximo Distante

Le 159/494 - 32% 31/322 - 10%

Lo/la 63/494 - 13% 151/322 - 47%

Zero 174/494 - 35% 73/322 - 23%

SN 74/494 - 15% 53/322 - 16%

Demonst. 24/494 - 5% 14/322 - 4%

Tabela 39. Grau de distância e proximidade em relação ao entrevistador.

A partir da leitura da Tabela 39, vemos que a nossa hipótese se confirma.

Verificamos que quanto menor a distância em relação ao entrevistador, maior a

produtividade de le e de zero, com 159/494 (32%) e 174/494 (35%) ocorrências,

respectivamente. Por outro lado, observamos que quanto maior a distância entre o

informante e o entrevistador, maior a produção do clítico lo/la e menor a de le. O zero

se mantém como a segunda forma mais frequente.

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219

4.15 Síntese dos resultados

O objetivo deste capítulo foi apresentar a descrição e análise dos dados obtidos.

Para tanto, apresentamos, em um primeiro momento, a distribuição geral das estratégias

de realização do OD no espanhol de Oberá, Misiones, Argentina, seguida de algumas

particularidades observadas, como o reduplicação e a posição dos clíticos em relação

aos verbos. Em seguida, apresentamos a distribuição dos dados em função dos fatores

internos e externos controlados.

Sintetizamos, aqui, os resultados mais relevantes.

Resultados gerais

1. No espanhol de Oberá, encontarmos cinco estratégias para a realização do objeto

direto anafórico de 3a pessoa: le, lo/la, zero, SN e demonstrativo. As duas últimas

variantes são as menos frequentes na amostra;

2. Diferentemente do que se imaginava, o clítico lo/la foi bastante produtivo na amostra,

com frequência próxima às estratégias zero e le;

3. Os clíticos le e lo/la podem ser duplicados tanto por pronomes tônicos quanto por

sintagmas nominais. A duplicação, no entanto, não é tão frequente quando

consideramos o universo total de uso dos clíticos. Quando ocorre, tanto le quanto lo/la

são mais frequentemente duplicados por sintagmas nominais;

4. A duplicação de clíticos ocorre com antecedentes [±específicos] e [±definidos];

5. A duplicação ocorre com constituintes deslocados à esquerda quando a informação é

conhecida, mas não com informação nova;

6. O pronome tônico pode aparecer como redobro tanto de clíticos quanto de uma

categoria vazia. Além disso, esse pronome pode vir ou não acompanhado pela

preposição a;

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220

7. É possível a ocorrência da estratégia zero em sentenças em que o SN está

topicalizado;

8. O demonstrativo se destaca na retomada de sintagmas oracionais.

Sobre o uso do clítico LE

1. O clítico le somente é utilizado na retomada de antecedentes que se realizam como

sintagmas nominais. O clítico le não retoma sintagmas oracionais;

2. O clítico le no singular retoma antecedentes no singular e no plural;

3. O clítico le retoma antecedentes masculinos e femininos;

4. Ainda que não haja restrições de uso quanto ao fator animacidade, o clítico le é

preferencialmente utilizado para retomar antecedentes [+humanos], sobretudo no

singular;

5. o clítico le retoma antecedentes [±definidos];

6. O clítico le é mais produtivo em narrativas espontâneas do que em perguntas e

respostas;

7. O clítico le é observado até mesmo quando o OD se econtra muito distante do

antecedente;

8. O clítico le é a forma preferida por homens adultos (faixa 2) e mais velhos (faixa 3);

9. O clítico le é a forma preferida por falantes com nível fundamental e médio;

10. O clítico le tem produtividade baixíssima ou nula com os grupos de maior prestígio

na sociedade, como professores e profissionais de saúde;

11. O clítico le é mais frequente em relações de baixo grau de distância social.

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221

Sobre o uso do clítico lo/la

1. O clítico lo/la é utilizado para retomar tanto sintagmas nominais quanto oracionais;

2. O clítico lo no singular (lo) retoma antecedentes no singular e no plural;

3. O clítico lo no plural (los) retoma antecedentes no singular e no plural;

4. O clítico lo retoma antecedentes masculinos e femininos. No entanto, a retomada de

antecedentes femininos só ocorre com antecedentes [humanos] e [inanimados];

5. O clítico la somente retoma antecedentes femininos;

6. O clítico lo/la retoma preferencialmente antecedentes [animados], mas somente

quando estes também apresentam o traço [+específico];

7. O clítico lo/la retoma antecedentes [±definidos];

8. O clítico lo/la é observado até mesmo quando o OD se econtra muito distante do

antecedente, com produtividade inferior ao clítico le;

9. O clítico lo/la é mais utilizado em perguntas e respostas do que em narrativas

espontâneas. No entanto, neste último tipo de texto, é a forma preferida com

antecedentes [animados];

10. O clítico lo/la é a forma mais utilizada pelas mulheres com nível superior de

escolaridade, tanto em relação às demais variantes, quanto em relação à sua

produtividade na fala dos homens;

11. O clítico lo/la é a forma preferida pelas mulheres adultas (faixa 2) e mais velhas

(faixa 3);

12. O clítico lo/la é a forma preferida por falantes mais escolarizados (nível superior);

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222

13. O clítico lo/la é mais usado por informantes mulheres dos grupos de maior prestígio

social (professores e profissionais de saúde);

14. O clítico lo/la é mais frequente quando o grau de distância é maior.

Sobre o uso da estratégia ZERO

1. O zero é utilizado para retomar tanto sintagmas nominais quanto oracionais;

2. O zero retoma antecedentes no singular e no plural;

3. O zero retoma antecedentes masculinos e femininos;

4. O zero é a forma mais produtiva na retomada de antecedentes [inanimados];

5. O zero é utilizado para retomar antecedentes [±definidos];

6. O zero é mais produtivo do que o clítico lo/la na retomada de antecedentes

[animados] e [-definidos];

7. O zero é mais empregado em perguntas e respostas do que em narrativas espontâneas;

8. O zero é mais utilizado quando o OD está mais próximo do antecedente;

9. O zero é a forma preferida pelos jovens (homens e mulheres) e pelos homens mais

velhos (faixa 3);

10. O zero é mais frequente na fala de informantes com baixa escolarização (nível

fundamental);

11. O zero é a forma preferida por falantes de profissões menos prestigiadas;

12. O zero é mais frequente em relações com baixo grau de distância social.

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223

Considerações Finais

O propósito deste trabalho foi investigar as estratégias de realização do objeto

direto anafórico de terceira pessoa no espanhol de Oberá - Misiones (Argentina), à luz

da sociolinguística variacionista de Labov aplicada a amostras de fala. Inicialmente,

realizamos uma revisão dos principais trabalhos que abordam a realização do OD

anafórico de 3a pessoa no espanhol com o fim de levantarmos os contextos relevantes

para a nossa pesquisa, assim como selecionar o grupo de fatores que deveriam ser

controlados. A partir dessa revisão, levantamos a hipótese central do nosso trabalho. A

literatura linguística nos sugere que as formas le e zero seriam as variantes encontradas

no nordeste da Argentina, o que é confirmado pelos trabalhos de Palacios (1998),

Martínez (2006; 2010; 2015) e Amable (1975). Nesta dissertação, no entanto, partimos

da hipótese de que o sistema encontrado em Oberá seria mais complexo do que o que é

descrito pela literatura, contando também como o clítico lo/la. A distribuição das

estratégias le e zero seria guiada sobretudo por fatores internos, com especial destaque à

animacidade do antecedente. O clítico lo/la, por sua vez, estratégiade maior prestígio,

teria seu uso regulado sobretudo por fatores externos, como a escolaridade e o gênero

do informante. Acreditávamos também que o sistema praticado em Oberá revelaria um

cenário de variação estável e não de mudança em progresso.

Para buscar uma confirmação da nossa hipótese central, em dezembro de 2015

gravamos vinte e duas pessoas, homens e mulheres, com menos de 20 anos, mais de 20

e menos de 50 anos e com mais de 50 anos de idade, e com níveis de escolaridade

diferentes (ensino fundamental, ensino médio e ensino superior). Acreditamos que o

tamanho da amostra pode refletir a fala da comunidade de Oberá e pode refletir a

variação no quadro de estratégias de realização do OD anafórico de 3a pessoa.

Assim, os resultados a que a análise variacionista nos permitiu chegar revelam que

o quadro de estratégias de realização do OD anafórico de 3a pessoa em Oberá- Misiones

está constituído por cinco variantes: le, lo/la, zero, SN e demonstrativo, sendo as duas

últimas variantes as menos frequentes na amostra. Esse resultado confirma a nossa

hipótese central, uma vez que notamos, além de le e do zero, a presença do clítico lo/la

como forma de realizar o OD anafórico.

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224

Diferentemente do que se imaginava, o clítico lo/la foi bastante produtivo na

amostra, com frequência próxima às estratégias zero e le. Entretanto, acreditamos que

esse clítico, o lo/la, não é uma das formas mais frequentes na comunidade de fala, sendo

esse lugar ocupado pelo clítico le e pelo zero. Em nossa opinião, o clítico lo/la é uma

forma considerada de prestigio em Oberá em oposição ao le que, mesmo sendo uma das

formas mais frequentes na fala das pessoas, é estigmatizado socialmente, sobretudo por

grupos mais privilegiados.

Notamos que a distribuição das estratégias le e zero está condicionada sobretudo

por fatores internos. Assim, o clítico le é utilizado preferencialmente para retomar

antecedentes [+humanos], sobretudo no singular; o zero fonético, por sua vez, é a forma

mais empregada para retomar antecedentes [inanimados].

Por outro lado, o clítico lo/la retoma preferencialmente antecedentes com o traço

[animado], somente quando estes também apresentam o traço [+específico].

Verificamos também que tanto le, quanto zero e lo/la retomam antecedentes

[±definidos]. Entretanto, o zero é mais produtivo do que o clítico lo/la na retomada de

antecedentes [animados] e [-definidos]. Todas as formas em variação retomam

antecedentes [±específicos]. Não obstante, o zero foi a forma mais frequente com os

dois tipos referentes, [+específico] e [-específico]. Com isso, concluímos que o traço

especificidade parece não ser o fator mais decisivo para explicar a variação em tela. O

mesmo ocorre com o fator definitude do antecedente, uma vez que as formas em

variação podem retomar antecedentes tanto [+definidos] quanto [-definidos].

No que se refere à forma le no singular, podemos dizer que verificamos sua

ocorrência com antecedentes tanto femininos quanto masculinos. E assim como afirma

Amable (1975), constatamos que retoma antecedentes tanto no singular quanto no

plural. De modo geral, o clítico le(s) foi a forma mais preferida por falantes com nível

fundamental e por homens adultos (faixa 2) e mais velhos (faixa 3). Ainda, é a forma

mais frequente em relações de baixo grau de distância social, em narrativas espontâneas,

não retoma antecedentes oracionais e é observado até mesmo quando o OD se encontra

muito distante do antecedente.

Observamos que clítico lo retoma tanto antecedentes no singular quanto no plural,

masculinos e femininos. Não obstante, a retomada deste último só ocorre quando o

constituinte tem o traço [+humano] e/ou [inanimado]. O seu uso é sensível a fatores

externos, sobretudo aos fatores escolarização e gênero do informante. Notamos que essa

forma é a preferida por falantes mais escolarizados (nível superior), mas mais

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225

especificamente pelas mulheres dos grupos de maior prestígio social (professores e

profissionais de saúde). É interessante ressaltar que a forma lo/la foi a forma mais

utilizada pelas mulheres com nível superior de escolaridade, tanto em relação às demais

variantes, quanto em relação à sua produtividade na fala dos homens. Além disso, lo/la

foi mais utilizado em perguntas e respostas do que em narrativas espontâneas, sendo que

no último tipo de texto foi a forma preferida com antecedentes [animados].

Em relação ao zero fonético constatamos que retoma tanto sintagmas nominais

quanto oracionais, assim como antecedentes no singular ou no plural, femininos e

masculinos. É mais empregado em perguntas e respostas do que em narrativas

espontâneas, é utilizado quando o OD está mais próximo do antecedente e é a forma

preferida pelos jovens (homens e mulheres) e pelos homens mais velhos (faixa 3).

Notamos que essa forma é mais frequente na fala de informantes com baixa

escolarização (nível fundamental), em relações de baixo grau de distância social e por

falantes de profissões menos prestigiadas.

Finalmente, acreditamos que o quadro de estratégias de realização do OD

anafórico de 3a pessoa em Oberá aponta para um cenário de variação estável.

Entendemos que as formas le e zero, que tem grande produtividade dentro da amostra,

se distribuem respondendo a fatores mais internos, como a animacidade do antecedente.

Por essa razão, em nossa opinião, essa distribuição não é sensível ao fator faixa etária. A

forma lo/la, por outro lado, não estaria necessariamente em competição com as demais

estratégias. Mesmo com uma produtividade bastante alta, essa forma, o clítico lo/la, é

utilizada por falantes mais escolarizados e principalmente pelas mulheres pertencentes

ao grupo de maior prestígio social (professores e profissionais de saúde).

Para terminar, esperamos que este trabalho tenha contribuído com a literatura já

disponível sobre o quadro de estratégias de realização do OD anafórico de 3a pessoa no

espanhol e possa ter ilustrado esse quadro em uma região que carecia de estudos sobre o

tema. Contudo, acreditamos que a análise por nós realizada é somente uma pequena

parte do conjunto de características do espanhol de Oberá que merecem ser estudadas.

Como é possível observar no capítulo 1, há outros fatores que requerem um estudo mais

detalhado. Assim, análises futuras poderão endereçar questões que não foram por nós

consideradas, por fugirem ao escopo de nosso trabalho, como a influência do contato

linguístico em Oberá, tanto em relação a línguas indígenas quanto ao português, assim

como a pluricentralidade do espanhol na Argentina, considerando noções como

prestígio e estigma entre a varidade praticada em Oberá e a variedade de Buenos Aires,

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226

por exemplo. A novos pesquisadores, deixamos diversas perguntas sem resposta, além

da nossa modesta contribuição não somente com este trabalho, mas também com o

corpus que elaboramos e que estará, em breve, à disposição da comunidade acadêmica.

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