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Pág. 15 – Prólogo (Juan José Sanguineti) Pág. 16 – Não creio ser possível uma filosofia especulativa e metafísica – incluindo a antropologia – que negligencia as ciências. A tarefa de reconduzir o pensamento filosófico e científico a uma unidade de compreensão – certamente “analógica” – passa necessariamente pela filosofia da natureza. [...] tem presente nesta tarefa a epistemologia, como uma mediadora necessária entre a ciência e a filosofia, justamente porque a presença do elemento gnosiológico não pode ser desprezada numa abordagem realista aristotélica [...]. Hoje, a todas as pessoas medianamente instruídas, chegam contínuas idéias filosóficas sobre o mundo, a vida, o homem, idéias que aos poucos vão se cristalizando numa determinada percepção da natureza. Sobre esta base elaboram-se hoje os grandes projetos tecnológicos da humanidade e perfila-se uma visão do homem que não está isenta de pontos problemáticos. Pág. 19 – PRIMEIRA PARTE Pág. 21 – CAP. 1 – INTRODUÇÃO: A NATUREZA E SEU ESTUDO FILOSÓFICO [...] a filosofia da natureza busca explicações que se referem ao “ser” e aos “modos de ser” das entidades e processos naturais. 1. Introdução geral A filosofia da natureza é o ramo da filosofia que se ocupa do mundo natural ou físico. Pág. 22 – 1.1 A reflexão filosófica sobre a natureza A filosofia estuda toda a realidade à luz da razão natural. Além dos conhecimentos particulares proporcionados pelas ciências, busca explicações mais radicais que se possam dar da realidade; por isso, costuma-se dizer que estuda a realidade à luz das suas causas últimas, ou, também, que se pergunta pelo ser da realidade. 1.2 As relações com outras áreas da filosofia [...] o ser humano constitui, por assim dizer, o horizonte ao qual se destina a filosofia da natureza, por causa do nosso protagonismo dentro do mundo natural. FICHA DE LEITURA Subsídio de Estudos Sandro Luiz Bazzanella [email protected] ARTIGAS, Mariano. Filosofia da natureza. Tradução José Eduardo de Oliveira e Silva. São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência “Raimundo Lúlio” (Ramon LLuLL), 2005. 462 páginas. Reconduzir o pensamento filosófico e científico – unidade Epistemologia Ciência e filosofia Gnosiologia Idéias filosóficas Sobre o mundo A vida, o homem Percepção da natureza Filosofia da natureza Filosofia da natureza Filosofia e realidade a luz da razão natural – explicações radicais Ser humano e filosofia

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PREFÁCIO

Pág. 15 –

Prólogo (Juan José Sanguineti)

Pág. 16 –

Não creio ser possível uma filosofia especulativa e metafísica – incluindo a antropologia – que negligencia as ciências. A tarefa de reconduzir o pensamento filosófico e científico a uma unidade de compreensão – certamente “analógica” – passa necessariamente pela filosofia da natureza.

[...] tem presente nesta tarefa a epistemologia, como uma mediadora necessária entre a ciência e a filosofia, justamente porque a presença do elemento gnosiológico não pode ser desprezada numa abordagem realista aristotélica [...].

Hoje, a todas as pessoas medianamente instruídas, chegam contínuas idéias filosóficas sobre o mundo, a vida, o homem, idéias que aos poucos vão se cristalizando numa determinada percepção da natureza. Sobre esta base elaboram-se hoje os grandes projetos tecnológicos da humanidade e perfila-se uma visão do homem que não está isenta de pontos problemáticos.

Pág. 19 –

PRIMEIRA PARTE

Pág. 21 –

CAP. 1 – INTRODUÇÃO: A NATUREZA E SEU ESTUDO FILOSÓFICO

[...] a filosofia da natureza busca explicações que se referem ao “ser” e aos “modos de ser” das entidades e processos naturais.

1. Introdução geral

A filosofia da natureza é o ramo da filosofia que se ocupa do mundo natural ou físico.

Pág. 22 –

1.1 A reflexão filosófica sobre a natureza

A filosofia estuda toda a realidade à luz da razão natural. Além dos conhecimentos particulares proporcionados pelas ciências, busca explicações mais radicais que se possam dar da realidade; por isso, costuma-se dizer que estuda a realidade à luz das suas causas últimas, ou, também, que se pergunta pelo ser da realidade.

1.2 As relações com outras áreas da filosofia

[...] o ser humano constitui, por assim dizer, o horizonte ao qual se destina a filosofia da natureza, por causa do nosso protagonismo dentro do mundo natural.

FICHA DE LEITURA Subsídio de Estudos

Sandro Luiz Bazzanella [email protected]

ARTIGAS, Mariano. Filosofia da natureza. Tradução José Eduardo de Oliveira e Silva. São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência “Raimundo Lúlio” (Ramon LLuLL), 2005. 462 páginas.

Reconduzir o pensamento filosófico e

científico – unidade

Epistemologia Ciência e filosofia

Gnosiologia

Idéias filosóficas Sobre o mundo

A vida, o homem Percepção da

natureza

Filosofia da natureza

Filosofia da natureza

Filosofia e realidade a luz da razão

natural – explicações radicais

Ser humano e filosofia

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Pág. 23 –

A filosofia da natureza proporciona também parte da base a qual se constrói a teologia natural.

A filosofia da natureza serve como fundamento para a metafísica, que estuda os princípios últimos do ser como tal, aplicáveis tanto ao material como ao espiritual.

1.3 Filosofia e ciências naturais

Pág. 24 –

[...] o progresso científico permite-nos construir imagens do mundo ou cosmovisões que unificam em uma imagem unitária os diferentes conhecimentos que obtemos da natureza. Para construir uma cosmovisão, é necessário interpretar os conhecimentos científicos e unificá-los, o que requer certa dose de reflexão filosófica.

Pág. 25 –

[...] no século XIX, o idealismo pretendeu invadir o terreno das ciências e os cientistas sentiram que a filosofia não os ajudava, mas lhes impunha obstáculos. A reação antifilosófica cristalizou-se no cientificismo, que considerava a ciência experimental o único conhecimento válido da realidade; uma das suas variantes mais importantes foi o positivismo, que pretendia reduzir a ciência ao estabelecimento das relações entre fenômenos observáveis, evitando tudo o que ultrapassasse esse limite.

1.4 Valor e alcance da filosofia da natureza

Pág. 26 –

O valor das explicações filosóficas depende de dois fatores. Em primeiro lugar, devem responder a problemas autênticos, apresentados adequadamente. E, além disso, devem resolvê-los de modo satisfatório.

Quanto mais avançam as ciências, mais espantosa parece a ordem que existe na natureza.

Uma vez admitida a existência de genuínos problemas filosóficos, como podemos valorar as soluções propostas?

Pág. 27 –

1.5 Temas e problemas

A filosofia da natureza abarca uma temática muito ampla, já que se estende desde o átomo até o universo, incluindo os viventes e o homem, enquanto ser natural.

Pág. 28 –

2. O estudo científico e filosófico da natureza ao longo da história

2.1 Ciência e filosofia na Antiguidade

Os filósofos gregos abordaram problemas filosóficos fundamentais e formularam respostas que conservam a sua importância, ainda que a sua perspectiva estivesse condicionada pelo escasso desenvolvimento das ciências.

Filosofia natureza Teologia natural

Filos. Da Natureza Fundam. Metafísica

Cosmovisão interpretação dos conhec científicos

Século XIX idealismo e ciência

Reação antifilosófica Cientificismo

Explicações filosóficas

Problemas respostas

Ciências Ordem

Problemas Filosóficos

Amplitude Filos. Natureza

Gregos E seus problemas

Filosóficos

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Pág. 29 –

Desde o princípio se enfrentaram, [...] consideração metafísica, que contemplava a natureza como obra divina e a pessoa humana como dotada de uma alma espiritual e imortal, e, por outro, a perspectiva materialista, que tinha a pretensão de explicar toda a realidade mediante os seus componentes materiais. Na primeira linha, [...] Sócrates, Platão, Aristóteles e os estóicos, [...] na segunda, os atomistas Leucipo e Demócrito, [...] seus continuadores, Epicuro e Lucrécio.

[...] Sócrates já expôs os problemas centrais da filosofia e da sua relação com as ciências: que relação existe entre estes dois níveis de explicação? Basta considerar as causas físicas? Existe finalidade na natureza? Existe um plano superior que dá a razão dos fenômenos?

Pág. 30 –

Aristóteles [...]. Na física aristotélica, mesclam-se os problemas científicos e os problemas filosóficos, e estes são os que determinam a pauta.

[...] as idéias fundamentais da filosofia natural aristotélica permanecem com uma grande importância até os dias de hoje: a substancialidade, o hilemorfismo, a explicação dos processos em termos de potência e ato, as quatro causas, a finalidade, são conquistas mestras às quais se volta uma e outra vez, apesar do eventual descrédito do aristotelismo em alguns momentos da história.

Pág. 31 –

A física aristotélica foi estudada por Tomás de Aquino em um novo contexto. Com a ajuda de uma metafísica criacionista [...], a síntese tomista centrou-se em torno do ato de ser e da participação.

Tomás de Aquino propôs uma concepção original e muito importante da natureza como a realização de um plano divino através dos modos de ser e de agir, que Deus pôs nas próprias coisas, fazendo-as cooperar na construção da natureza: compara a ação divina à de um artífice que pudesse outorgar às peças com as quais trabalha a capacidade de mover-se por si mesmas para alcançar o fim previsto.

Pág. 32 –

2.2 A ciência experimental moderna

A ciência moderna nasce no século XVII, na Europa ocidental cristã, em boa parte graças aos trabalhos desenvolvidos ao longo da Idade Média (por exemplo, nas Universidades de Paris e Oxford).

O trabalho dos medievais abriu o caminho para a ciência moderna. Qualificar a Idade Média como época obscurantista, desinteressada pela ciência e, inclusive, opondo-lhe obstáculos, é um erro histórico.

Pág. 33 –

As idéias cristãs exerceram um importante influxo através de uma matriz cultural que era geralmente compartilhada e que tornou possível o único nascimento viável da ciência moderna. Sobretudo, a doutrina da criação exerceu um grande impacto sobre o estudo da natureza, na medida em que punha de manifesto a contingência do mundo criado livremente por Deus [...].

Metafísica e natureza como obra

divina e pessoa humana com alma e

espírito e imortalidade

Sócrates e os

problemas centrais da filosofia com a

ciência

Metafísica aristotélica

As idéias

fundamentais da filosofia natural

aristotélica

Tomás de Aquino e a física

aristotélica

Tomás de Aquino e a natureza

como realização de um

plano divino

Ciência moderna século XVII na

Europa Ocidental

O trabalho dos medievais abriu

caminho – ciência

Teoria da criação e impacto sobre o

estudo da natureza Contingência

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Thomas Kuhn escreveu: “De um ponto de vista moderno, a atividade científica da Idade Média era incrivelmente ineficaz. No entanto, de que outra forma poderia ter renascido a ciência do Ocidente?

Todas as novas teorias científicas dos séculos XVI e XVII têm sua origem em trechos do pensamento de Aristóteles comentados pela crítica escolástica.

Pág. 34 –

Mais importante [...] que estes conceitos é o estado de espírito que os cientistas modernos herdaram dos seus predecessores medievais: uma fé ilimitada no poder da razão humana para resolver os problemas da natureza.

Pág. 35 –

René Descartes (1596 – 1650) influenciou no nascimento da nova ciência insistindo no enfoque matemático [...] utilizando seu critério de evidência (as idéias claras e distintas), reduziu a substância corpórea à extensão, negando a realidade das qualidades e eliminando o dinamismo próprio da matéria; [...]. Descartes rechaçou também as formas, as qualidades e os afins. A sua filosofia natural é um “mecanismo” que pretende explicar tudo mediante o deslocamento e os choques da matéria: desaparece, assim, a interioridade em benefício da pura exterioridade, o que se aplica também aos viventes (ressalvando-se o espírito humano).

Pág. 36 –

[...] Galileu afirmou que o objetivo da ciência é formular leis que se refiram a “afecções” tais como o lugar, movimento, figura, magnitude, etc.; renuncia, portanto, ao conhecimento das essências e do significado das coisas, objeto próprio da filosofia e da teologia.

[...] o geocentrismo nunca fez parte da doutrina cristã.

Pág. 37 –

[...] Isaac Newton (1642 – 1727), que publicou em 1687 os “Princípios matemáticos da filosofia natural”, uma grande obra na qual se encontrava formulada a primeira teoria da física experimental: a mecânica newtoniana.

O nascimento da nova ciência foi acompanhado de equívocos e polêmicas, devidos, em boa parte, a que esta se apresentava como uma nova filosofia natural que vinha substituir a antiga. [...] o valor do conhecimento humano, que se encontrava no centro da filosofa moderna. [...] carecia-se de uma adequada compreensão das relações entre ciência e filosofia, ou seja, da distinção e complementaridade dos respectivos objetivos e enfoques.

Emmanuel Kant (1724 – 1804) [...] deu-se conta, [...] de que os conceitos científicos são construídos por nós e, por isso, correspondem ao nosso modo de representar a natureza. Porém, insistiu exageradamente no aspecto “subjetivo” dos nossos conceitos, interpretando desse modo as idéias de substância, qualidade e finalidade.

A filosofia da natureza renasceu com o romantismo e o idealismo, no final do século XVII e início do XIX, sob a forma de uma Naturphilosophie que reagiu ao mecanicismo e sublinhou, acertadamente, o vital, o orgânico e o sistema da natureza. Porém, contaminou estas instituições com um traço panteísta e com uma crítica à ciência real, [...].

Kuhn e a ciência

medieval e Moderna

Teorias científicas

e Aristóteles

Ciência – fé ilimitada no poder

da razão

Descartes e a nova ciência

Enfoque matemático

Substância corpórea à extensão Mecanismo Explicável

Galileu afirmou Ciência

Formular leis Lugar e movimento

Geocentrismo ??

Isaac Newton Princípios

matemáticos

O nascimento da nova ciência Polêmicas

Relações entre Ciência e filosofia

Kant – conceitos

científicos construídos por

nós

Renascimento de uma filosofia da

natureza nos final do século XVII e

início do XIX

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Pág. 39 –

[...] Hegel contribuiu decisivamente para a ruptura moderna entre a ciência e a filosofia: “Os filósofos acusavam os cientistas de estreiteza mental, e os cientistas acusavam-nos de loucos. [...] ignoraram as justas reclamações da filosofia, isto é, o seu direito de criticar as fontes do conhecimento e a definição das funções do entendimento”. Não é de se estranhar que esse clima favorecesse o desenvolvimento de uma mentalidade positivista.

[...] o estágio atual e definitivo é o “científico” ou “positivo”, do qual nos abstemos de perguntar sobre as causas últimas das coisas e nos limitamos ao que é acessível à ciência positiva: formular leis que são relações constantes entre fenômenos observáveis. [...] Não há lugar para uma filosofia que não seja uma simples reflexão metodológica e unificadora das ciências.

O positivismo representa o extremo oposto a Hegel.

Pág. 40 –

[...] sempre existem pressupostos filosóficos, tanto ontológicos como gnosiológicos, que são condições necessárias da atividade científica (e que são retrojustificados pelo progresso científico). Além disso, é necessária uma interpretação dos métodos e resultados das ciências para avaliar o seu alcance e conseguir uma cosmovisão unitária. Por fim, os dados puros não existem (sempre intervêm as interpretações) e a ciência ultrapassa o campo do observável.

[...] a “ciência positiva” nunca existiu e não pode existir, e a ciência contemporânea não existiria se tivesse seguido os preceitos comteanos. [...] as relações entre ciência, filosofa e teologia foram e continuam sendo muito mais importantes e complexas do que esta lei afirma.

2.3 O impacto filosófico do evolucionismo, a física quântica e a relatividade

Pág. 41 –

[...] concentraram as suas reflexões em torno à evolução, destacam-se Bergson e Teilhard de Chardin

O juízo de Bergson está condicionado por sua tese básica, segundo a qual o devir forma a trama da realidade, tratando-se de um devir criativo, tal como o que acontece na vida interior humana: um impulso vital que atravessa tudo, de modo que os seus resultados são realmente novos e imprevisíveis.

[...] Bergson [...] sublinha, também com razão, a importância do devir real na explicação da natureza. Sustenta a importância da interioridade e rebela-se diante de um pensamento que considera suficientes as explicações baseadas na exterioridade dos fenômenos repetíveis.

Pág. 42 –

O “processualismo”, que centra a sua atenção no devir natural e histórico, adquiriu grande importância na atualidade, seguindo os passos de Henri Bergson, Alfred North Whitehead e Charles Hartshorne.

Pierre Teilhard de Chardin (1881 – 1955) assumiu a evolução como um fato e propôs uma interpretação finalista e cristã. [...] a importância que ele atribui à “interioridade”. [...] afirma que a ciência só considerou até agora a “exterioridade”

Hegel ruptura entre Ciência e filosofia

Filosofia e estreiteza mental e

os cientistas os acusavam de loucos

Estágio científico

ou positivo em que os abstemos de perguntar pelas

causas

Positivismo

Pressupostos filosóficos

Ontológicos Gnosiológicos Condições da

atividade cientifica

Ciência positiva nunca existiu e não

pode existir Ciência moderna

Evolução Bérgson e Chardin

Bérgson

O devir forma a trama da realidade

Devir criativo

Bérgson importância do

devir real na explicação natureza

Processualismo de Whithead e

Bergson

Teulhard de Chardin

Evolução como

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da natureza, e, para completá-la, é necessário considerar a “interioridade”: esta é a sua assertiva central.

[...] “lei da complexidade-consciência”, [...]. Segundo esta “lei”, aos progressivos graus de organização da matéria (exterioridade) correspondem progressivos graus de consciência (interioridade). [...] Trata-se de uma evolução que possui uma direção ascendente até formas superiores de organização material (exterioridade) e de consciência (interioridade): é, portanto, uma verdadeira “ortogênese”.

Pág. 43 –

A obra de Teilhard ressente-se de certa falta de precisão metodológica: apresenta uma síntese científica, filosófica, poética e teológica na qual nem sempre é fácil discernir o que corresponde a cada enfoque e qual é o fundamento das conclusões a que chega.

[...] física clássica, [...] somente é válida para determinados âmbitos de fenômenos: quando estudamos os componentes microfísicos da matéria, devemos utilizar a física quântica; e quando intervêm velocidades muito grandes, recorremos à teoria da relatividade.

2.4 O renascimento da filosofia da natureza na época contemporânea

[...] neopositivistas do círculo de Viena propuseram que se reduzisse a filosofia à análise lógica da linguagem científica.

Pág. 44 –

[...] Nicolai Hartmann (1882 – 1950). Em 1950, ele publicou a sua “Filosofia da natureza” (volume IV da sua “Ontologia”), concebida como uma “teoria especial das categorias” que, com um matiz neokantiano mas realista, dependo do estado dos conhecimentos científicos em cada momento e renuncia a uma metafísica positiva.

Segundo Hartmann, a metafísica trata de questões que não admitem resposta, porque vão além do que podemos conhecer das coisas: só uma ontologia que nunca chegasse ao nível metafísico e nem a respostas definitivas seria possível. [...] a filosofia da natureza é concebida como análise das categorias especiais, como uma reflexão filosófica acerca dos conhecimentos proporcionados pelas ciências, e que, por isso, participa da permanente provisoriedade destes conhecimentos.

Pág. 45 –

Na obra “O pensar teleológico”, Hartmann articula uma crítica sistemática contra a finalidade da natureza, de acordo com as mesmas idéias antimetafísicas.

[...] uma nova cosmovisão. Com efeito, pela primeira vez na história dispomos de uma cosmovisão científica rigorosa e completa e com importantes implicações filosóficas.

Pág. 46 –

A cosmovisão atual sublinha a importância do dinamismo da matéria, a existência de pautas espaciais e dinâmicas, a morfogênese, a evolução, a auto-organização, a sinergia (cooperação), a emergência (frente ao reducionismo), a direcionalidade, a informação.

3. O conceito de natureza

Uma interpretação

finalista e cristã

Lei da complexidade Consciência

Organização da Matéria

Obra de Teilhard Falta de precisão

metodológica Científica....

Física clássica Somente pra determinados

fenômenos

Neopositivistas e a filosofia da ling.

Nicolai Hartmann Filosofia

da natureza

Hartmann – a metafísica não admite resposta

porque vão além do que podemos

conhecer

Hartamann – crítica contra a finalidade.

Uma nova

cosmovisão Rigorosa

Cosmovisão atual Sublinha a

importância do dinamismo

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3.1 Os sentidos de “natureza” e “natural”

O substantivo “natureza” possui dois sentidos principais: por um lado, designa “a natureza de algo” (é o que chamaremos de sentido metafísico), e por outro, indica “a Natureza” como o conjunto dos seres físicos (sentido físico).

Pág. 47 –

[...] sentido metafísico do conceito de natureza, porque não se limita ao físico, material, corpóreo, mas pode aplicar-se também ao espiritual e ao sobrenatural. Sob este enfoque, o conceito de natureza é semelhante ao de “essência”, que expressa o modo básico de ser algo.

O termo “natural” pode designar:

a) O natural como o espontâneo, que responde a um princípio interior. Considera-se algo como “natural” se corresponder ao modo de ser próprio de um sujeito.

Pág. 48 –

b) O natural como distinto do artificial.

c) O natural como distinto do espiritual.

d) O natural como distinto do sobrenatural.

[...] os termos “natureza” e “natural” não têm um significado unívoco.

3.2 Caracterização do mundo físico

[...] dois aspectos básicos do natural: a existência de um dinamismo próprio e de pautas estruturais. [...] duas dimensões reais do natural que se manifestam amplamente tanto na experiência como no conhecimento científico.

Pág. 49 –

[...] o natural pode caracterizar-se mediante o entrelaçamento entre o dinamismo e a estruturação espaço-temporal, de tal modo que as estruturas espaço-temporais girem em torno das pautas específicas que se repetem.

Dinamismo e estruturação são duas características básicas da natureza que se encontram estreitamente relacionadas: as estruturas são o resultado do desenvolvimento do dinamismo e também são fonte de novos desenvolvimentos do dinamismo.

a) O dinamismo natural

A natureza tem uma consistência própria. Podemos intervir nos processos naturais, mas não podemos modificar as suas leis. De modo negativo, a autonomia do natural implica uma independência em relação à intervenção humana.

O termo dinamismo provém do grego dynamis, que significa força, poder, capacidade. Afirmar que as entidades naturais possuem um dinamismo próprio equivale a afirmar [...] que possuem uma atividade própria, um dinamismo interno que não depende somente das ações exercidas sobre elas.

Pág. 50 –

Substantivo natureza e seus

sentidos

Sentido metafísico do conceito de

natureza Essência

Natural

Natural como espontâneo

O Natural Como

Distinho

Natureza e natural

Natural Dinamismo próprio Pautas estruturais

Natural dinamismo e estruturação

Dinamismo e

estruturação são características da

natureza

Natureza tem uma consistência própria Intervenção da nat.

Dinamismo

Dynamis Força, poder capacidade

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[...] os conhecimentos científicos atuais manifestam com clareza que o dinamismo é uma característica básica das entidades naturais em todos os níveis, tanto no nível microfísico (partículas subatômicas, átomos e moléculas) como no macrofísico (entidades observáveis).

[...] não existe uma matéria puramente inerte ou passiva. [...] a matéria inerte só é inerte em relação a certas condições e pontos de vista particulares. [...] são entidades que se encontram em estados de equilíbrio: os seus componentes naturais têm um dinamismo que pode se manifestar em outras circunstâncias, [...].

Pág. 51 –

[...] idéia geralmente admitida acerca dos viventes, já que a vida costuma ser definida como automovimento.

[...] a vida não apenas supõe um dinamismo próprio, mas também uma organização de componentes que cooperam de modo unitário e permitem a realização das funções próprias dos viventes.

b) Pautas estruturais

Se o dinamismo é uma característica fundamental das entidades naturais, a estruturação não é menos importante1.

Pág. 52 –

A estruturação característica do natural possui dimensões especiais e temporais: as entidades naturais possuem configurações espaciais e o dinamismo desenvolve-se na dimensão temporal.

A natureza está construída em tono de estruturas repetitivas, [...].

Diante da experiência ordinária, a natureza aparece como um conjunto de seres que têm estruturas bem definidas.

Pág. 53 –

A natureza não só se encontra profundamente marcada pela estruturação, mas também pela existência de estruturas que se repetem, ou seja, de pautas.

Nosso mundo não é um mundo indiferenciado, mais em entre muitos mundos possíveis. É um mundo muito específico, que se encontra marcado em todos os seus níveis por pautas igualmente específicas.

Pág. 54 –

c) O entrelaçamento de dinamismo e estruturação

Tanto o dinamismo como a estruturação estão presentes em toda a natureza e condicionam-se mutuamente: não se relacionam apenas de um modo externo, mas

1 [...] “nenhum ente é absolutamente inoperante... Um ente absolutamente inoperante seria um ente que nem sequer faria algo para se manter em seu ser. Seria, portanto, um ente mantido, em sua própria entidade, por outro ou outros. Além disso, todo o seu ser se reduziria a «ser mantido» e a sua entidade seria, por conseguinte, uma absoluta ou pura passividade, um completo «deixar-se fazer»”. PUELLES, A. Millán. Léxico filosófico, Madrid: Rialp, 1984, pág. 436.

Dinamismo é uma

característica básica das entidades

naturais

Não existe uma matéria

puramente inerte ou passiva

Vida definida como Automovimento

Vida dinamismo

próprio e organização

Dinamismo Estruturação

Estruturação do natural – dimensões espaciais temporais

Natureza

Natureza Estruturas definidas

Natureza repetição das estruturas

Nosso mundo um mundo específico Pautas específicas

Entrelaçamento

Dinamismo e estruturação

Nenhum

ente é

absolutamente inoperante

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encontram-se entrelaçados, interpretados, compenetrados. [...] o dinamismo natural encontra-se como que armazenado em estruturas espaciais, que possuem potencialidades [...] cujo desdobramento depende das circunstâncias externas.

O natural pode ser caracterizado mediante o entrelaçamento entre o dinamismo e a estruturação. Esta proposta significa, [...] caracterizar o natural mediante a sua atividade. [...] atividade correspondente ao natural: a atividade natural diz respeito a um dinamismo próprio, [...].

Pág. 54/55 –

O desenvolvimento do dinamismo encontra-se interpenetrado com uma estruturação espaço-temporal, de tal maneira que o dinamismo e a estruturação se condicionam mutuamente, [...] o dinamismo desenvolve-se de acordo com pautas temporais e as estruturas espaciais não apenas são o resultado do desdobramento do dinamismo, mas também são fonte de novos dinamismos.

Pág. 55 –

[...] em sentido estrito, não é possível distinguir realmente a matéria e as leis do seu comportamento. [...] Em sentido próprio, as leis encontram-se como que incorporadas ou inscritas na matéria e a sua formulação corresponde a uma abstração.

3.3 Delimitação do âmbito do natural

[...] diferenciar o natural em relação ao artificial e ao racional.

a) O natural e o artificial

Em sentido estrito, o artificial não tem um dinamismo próprio: somente o têm as entidades naturais que o compõem. O artificial possui uma estruturação espaço-temporal que corresponde a um projeto exterior, planejado pelo artífice.

Pág. 56 –

O artificial é, então, nossa intervenção no processo de produção. Mas sequer nesses casos podemos modificar o dinamismo original da natureza; somos capazes apenas de direcioná-lo.

b) O natural e o racional

O nosso conhecimento intelectual inclui o sentido da evidência e da verdade, a capacidade de refletir acerca dos nossos conhecimentos, a possibilidade de formular argumentos e examinar a sua validade. A racionalidade permite-nos propor fins e eleger meios a nós mesmos, ou seja, o exercício da vontade, que inclui a liberdade, a capacidade de amar e o comportamento ético.

Pág. 57 –

A nossa relação com a natureza é singular. Estamos submetidos às leis naturais, embora também possamos contemplá-las a partir de fora, conhecê-las e utilizá-las. Estamos imersos na natureza, mas, ao mesmo tempo, a transcendemos; podemos contemplá-la, conceituá-la, objetivá-la e controlá-la.

3.4 Propriedades do natural

a) O corpóreo

Entrelaçados, interpretados,

compenetrados

Atividade natural diz respeito ã um

dinamismo Próprio

Dinamismo Estruturação espaço

temporal Condicionam-se

mutuamente

Matéria e as leis de seu comportamento

Inscritas na Matéria

Diferenciar natural

O artificial não tem um dinamismo

próprio

O artificial é a intervenção

Humana

Nosso conhecimento

intelectual o sentido da evidência e da

verdade

Nossa relação com a natureza é

singular Leis naturais

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Mas, se identificarmos o natural com o corpóreo, desconsideramos o dinamismo, que é um aspecto fundamental do natural.

Pág. 58 –

Portanto, o qualificativo “corpóreo” não permite distinguir o natural e o artificial.

b) O sensível

[...] mundo físico o que pode ser captado pelos nossos sentidos.

É incompleta porque exclui muitas entidades naturais, tais como as entidades microfísicas, que não são acessíveis à observação direta.

Pág. 58/59 –

[...] a caracterização não é profunda, porque as entidades naturais não só possuem atributos sensíveis, mas também dimensões inteligíveis. E o sensível refere-se às nossas possibilidades de observação, que são algo exterior aos entes naturais; portanto, não reflete as características próprias do natural.

Pág. 59 –

c) O material

Em outras ocasiões, o material designa tudo aquilo que atua como componente, ou seja, aquilo de que algo está feito. Este é um dos sentidos mais clássicos de matéria na filosofia e, inclusive, na vida ordinária. Contudo, esta caracterização é muito pouco adequada para caracterizar o natural.

[...] o material diferencia-se do imaterial.

Em seu sentido mais filosófico, o material distingue-se do formal. Porém o formal está na natureza, e pode mesmo ser considerado como uma característica do natural mais importante ainda que o material, já que se refere à determinação do modo se ser das entidades naturais.

Pág. 60 –

d) O espaço-temporal

O espaço-temporal expressa as dimensões básicas dos entes naturais. São, pois, condições necessárias, mas não suficientes para a concepção do natural.

e) O quantitativo

O quantitativo expressa as dimensões relacionadas à quantidade (extensão, divisibilidade, localização, etc.), e é uma característica primária do mundo físico.

Pág. 61 –

f) O necessário

Por fim, às vezes, qualifica-se o natural como necessário, em contraposição ao racional, que está no âmbito da liberdade. [...] alude-se ao tipo de atividade própria do natural: seria uma atividade cujo desenvolvimento seguiria pautas necessárias.

Natural e Corpóreo

Corpóreo

Mundo físico

É incompleta Exclui

Entidades naturais atributos sensíveis e

dimensões inteligíveis

Material designa tudo aquilo que atua como componente

Matéria

Material

Sentido filosófico Material se distingue do

Formal

Espaço – tempo Condições neces.

Quantitativo Caract. Primária...

Natural como necessário # da

liberdade

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[...] ainda que seja legítimo contrapor a necessidade natural à atividade livre própria do ser racional, isto significa pouco mais que a negação da liberdade.

[...] nem o dinamismo nem a estruturação conduzem a uma idéia determinista do natural: deixam sem solução o problema do indeterminismo.

3.5 A caracterização aristotélica do natural

[...] caracterização aristotélica do natural, que apresenta a natureza como princípio interior de atividade.

Pág. 62 –

[...] a natureza é o princípio e a causa do movimento e do repouso para a coisa na qual ela reside imediatamente, por si e não por acidente.

A natureza, segundo Aristóteles, é um princípio interno de atividade que se dá somente nas entidades naturais (que costumam denominar-se substâncias).

O natural, segundo Aristóteles, distingui-se do artificial, que, enquanto tal, não possui tendências internas (somente os seus componentes naturais as possuem); do causal, que se produz pela coincidência acidental de causas naturais e, procede de causas exteriores, impedindo o desenvolvimento das tendências naturais e, então, a realização do fim natural. O natural encontra-se estreitamente relacionado com as tendências para fins determinados: a filosofia natural aristotélica é teleológica, porque está centrada na finalidade das substâncias, [...].

Pág. 63 –

Que relação existe entre a caracterização aristotélica da natureza e a que propusemos aqui? Ambas ressaltam o dinamismo interno no natural relativamente ao artificial.

Pág. 65 –

CAP. II – AS ENTIDADES NATURAIS

O dinamismo e a estruturação não têm uma existência própria: existem em alguns sujeitos, as entidades naturais.

Para representar as entidades naturais, dispomos de dois conceitos: substância, proveniente de uma longa tradição filosófica, e sistema, muito empregado em nossa época.

Pág. 66 –

4. Os sistemas naturais

Utilizaremos a noção de “sistema” para representar as entidades individuais, seus agrupamentos e sua articulação na totalidade do sistema da Natureza.

4.1 A noção de sistema

O termo sistema provém do grego: syn (com, junto a) e hístemi (pôr, colocar). Expressa a idéia de um objeto que está colocado junto a outros, formando uma ordem, uma sucessão, um conjunto. Relaciona-se com síntese, que significa composição, ordenamento, ajuste, harmonia. [...] Em geral, toda série, ordenamento, sucessão. É um sistema (político, filosófico, métrico): sistema é encadeamento, ordem, correlação, harmonia.

Necessidade #

Liberdade

Nem o dinamismo Nem estruturação

Aristóteles e o natural

Natureza princípio e a causa do mov.

Aristóteles – natureza princípio...

Aristóteles

O natural distingui-se do artificial e do

causal Natural relacionado

com tendências e fins determinados

Caracterização aristotélica da natur.

O dinamismo e a estruturação

Substância e

sistema em nossa época

Sistema entidades individuais

A origem grega do termo sistema

Objeto colocado junto a outros

Formando uma ordem

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Pág. 67 –

Na ciência experimental, cada disciplina adota uma perspectiva particular e, em função dela, define os sistemas, as suas propriedades e os seus estados: [...] a filosofia considera os sistemas tal como se dão na natureza, sob o ponto de vista do seu modo de ser fundamental (mesmo que isto não implique uma pretensão de conhecê-los exaustivamente).

4.2 Tipos de sistemas naturais

O que interessa à filosofia á analisar os tipos gerais de sistemas naturais e estudar as características peculiares dos sistemas que possuem uma unidade mais forte, pois são estes sistemas que fazem com que a natureza tenha uma organização muito especial.

Pág. 68 –

a) Sistemas unitários

São denominados sistemas unitários porque possuem um modo de ser unitário e por sua atividade ser própria do sistema enquanto tal.

Há, nos sistemas unitários diferentes graus de unidade e organização. Alguns possuem uma especial unidade, tanto no aspecto dinâmico como no estrutural; são sistemas individuais que possuem um alto grau de integração, cooperação e direcionalidade. Este é o caso, sobretudo, dos viventes.

As duas características principais dos sistemas unitários são a individualidade e a unidade. A individualidade [...] significa [...] certo grau de independência: possuir estruturação e dinamismo próprios. A unidade refere-se á integração efetiva dos componentes no sistema e manifesta-se tanto na estruturação [...] como no dinamismo [...].

Pág. 69 –

b) Outros sistemas

[...] outros sistemas naturais possuem certa unidade, embora não sejam entidades individuais. É o caso das misturas, das agregações, dos sistemas de ordem e dos ecossistemas. Nestes casos, os componentes conservam sua individualidade e seus caracteres básicos e o sistema possui um grau de individualidade, unidade e integração menor que no caso dos sistemas unitários.

Nos sistemas de ordem, os componentes são sistemas individuais completamente diferenciados, que se encontram ordenados mediante relações estáveis, de modo que as interações entre eles dão lugar a situações nas quais existem aspectos estáveis. [...] Sistema Solar, [...].

Pág. 69/70 -

[...] ecossistemas [...] é um sistema complexo que inclui todo um conjunto de subsistemas de diversos tipos. Possui certa unidade porque entre os seus componentes existem relações de interdependência e possui, além disso, uma dinâmica própria.

Pág. 70 –

5. As substâncias naturais

Ciência

experimental Cada disciplina

adota uma perspectiva particular

O que interessa à filosofia

Analisar os tipos...

Modo de ser unitário

Sistemas unitários diferentes graus de

unidade e organização

Características

principais Individualidade

Unidade Integração

Outros sistemas naturais possuem

certa unidade, não sejam entidades

individuais

Sistemas de ordem Componentes São sistemas individuais

Ecossistema Complexo

Inclui subsistemas Certa unidade

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Desde a Antiguidade o conceito de substância é utilizado para designar as entidades naturais.

5.1 A noção de substância

As substâncias podem ser caracterizadas como entidades cujo modo de ser possui três notas: subsistência, sujeitualidade e unidade.

A subsistência significa que a substância possui um ser próprio.

Pág. 71 –

A sujeitualidade significa que a substância é o sujeito ao qual se atribuem as propriedades e a atividade.

A unidade própria da substância consiste na posse de uma essência ou modo de ser unitário, que permite identificar o sujeito e permanece mesmo as mudanças acidentais.

[...] caracterização clássica de substância como aquela entidade a cuja essência compete ser em si e não em outro.

5.2 A substancialidade na filosofia aristotélica

[...] a caracterização aristotélica da substância ocupa um lugar privilegiado na atualidade. [...] um tema central da metafísica; [...].

Aristóteles entendeu a questão acerca da substância como o problema central da filosofia, uma vez que equivale a determinar o que é o ente, o que há na realidade, e o que é propriamente a realidade.

Pág. 72 –

[...] segundo Aristóteles, ente se diz em vários sentidos: essência, quantidade, qualidade, etc., mas o seu primeiro significado é a essência, que significa a substância. [...] quando dizemos o que é algo, não dizemos que seja branco ou quente, nem que mede três metros, mas que é um homem ou uma planta, e todo o resto chama-se ente por ser quantidades, qualidades ou afecções da substância; o que não é substância não tem existência própria e não pode se separar da substância, de modo que o ente, em seu sentido primário, é a substância. [...] a substância é o objeto primeiro do estudo filosófico.

[...] o termo “substância” remete ao modo de ser dos entes que têm um ser próprio. [...] ser planta ou ser homem implica um modo de ser substancial, diferentemente do que expressam os acidentes, como ser branco ou medir cem metros. [...] A substância é o ente capaz de substituir separadamente, autônomo, em si e por si. É algo determinado, não universal ou abstrato. Tem unidade intrínseca e não é um mero agregado de partes múltiplas. É ato, atualidade, não potencialidade sem atualizar.

Pág. 73 –

Segundo Aristóteles, no âmbito material só os entes naturais são substâncias. A substância distingue-se das meras agregações, nas quais os componentes conservam a sua essência. E distingui-se também dos entes artificiais ou artefatos, que não possuem uma unidade intrínseca, mas somente funcional.

Antigüidade Substância

Substância: subsistência, sujeit

Ser próprio

Sujeitualidade Sujeito

Unidade da substância Essência

Substância como

ser em si.

Aristóteles e a substância

Aristóteles

centralidade da substância

Aristóteles o ente se diz em vários

sentidos: essência, qualidade,

quantidade, substância O ente é a substância

Substância remete

ao modo de ser Dos entes

Que tem um ser próprio

Ato e potência

Aristóteles, no âmbito material só os entes naturais são substâncias.

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Segundo Aristóteles, o primeiro motor move como causa final, mas não produz o ser.

A concepção tomista a respeito da substância utiliza as idéias aristotélicas, integrando-as, porém, numa perspectiva nova, que enriquece notavelmente a de Aristóteles. A doutrina do Doutor Angélico gira em torno do actus essendi, “ato de ser” da criatura, que é recebido por participação do Ser divino. Deus não tem o ser, Ele é o Ser; seu modo de ser – sua essência – consiste na plenitude do Ser e, através da criação, produz o ser das criaturas.

5.3 Substâncias e sistemas unitários

Pág. 74 –

[...] os sistemas unitários correspondem à noção de substância. As substâncias são sistemas individuais que possuem a unidade característica das totalidades, uma organização própria, um modo de ser unitário; [...].

[...] é possível afirmar que, na natureza, nem tudo é substância, mas tudo se articula em torno das substâncias.

5.4 Características das substâncias naturais

a) A substância como entidade natural em sentido pleno

Entre as entidades naturais, os viventes ocupam uma posição privilegiada, porque são os sistemas que mostram mais visivelmente a organização da natureza; são sistemas individuais que possuem uma organização unitária, cujos componentes cooperam de modo funcional.

Pág. 75 –

A substancialidade é o modo de ser básico e o sujeito das modificações acidentais. A substância, como ente em sentido primário, expressa a entidade natural por antonomásia.

[...] a noção de substância é uma categoria básica para conceber o mundo físico: expressa a entidade e sentido próprio e, portanto, todas as coisas se referem a ela.

b) A substância como sujeito do dinamismo natural

O dinamismo não é um simples movimento exteriormente acrescentado aos sistemas primários, mas, por assim dizer, é um desdobramento energético que se desenvolve de acordo com pautas.

As substâncias são centros de dinamismo e de estruturação. O caminho seguido pelas ciências assim o manifesta.

Pág. 76 –

Os sistemas unitários e, portanto, as substâncias são o resultado dos desenvolvimentos do dinamismo natural. A sua existência depende de condições específicas: se faltassem essas condições, o sistema não chegaria a existir ou, se existisse, deixaria de existir. [...] as substâncias naturais não possuem uma consistência absoluta, independente das criaturas; seu ser e sua atividade são contingentes na medida em que dependem de condições contingentes.

c) A substância como unidade estrutural

Motor imóvel De Aristóteles

Concepção tomista

de substância Enriquecimento de

Aristóteles Ato de ser Da criatura

Sistemas unitários Noção de substância

Natureza e substâncias

Viventes Posição privilegiada

Organização unitária

Substancialidade Modo de ser básico

Entidade natural

Substância Mundo físico

Dinamismo desdobramento

energético

Substâncias e dinamismo

Substâncias são o resultado dos

desenvolvimentos do dinamismo

natural contingentes

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[...] característica básica da substância é a unidade estrutural; [...].

Pág. 77 –

A unidade estrutural implica certa ordem, especialmente forte quando existe não somente uma ordem genérica, mas uma autêntica organização na qual os componentes cooperam de modo funcional na existência e na atividade do sistema. [...] a existência e a atividade de cada parte estão condicionadas pela funcionalidade cooperativa das demais partes dentro da organização estrutural unitária.

A substância possui, portanto, um modo de ser próprio, que se caracteriza por uma unidade estrutural específica.

5.5 Mecanicismo, subjetivismo e processualismo

a) O mecanicismo cartesiano

O mecanicismo teve como precedentes os atomistas antigos (Leucipo, Demócrito, Epicuro, Lucrécio Caro).

Pág. 78 –

As afirmações centrais do mecanicismo cartesiano são que a substância corpórea reduz-se à extensão; que todas as propriedades das substâncias corpóreas são redutíveis ao quantitativo, ou seja, à magnitude, forma ou movimento; e que todo movimento reduz-se a movimento local, ou seja, ao deslocamento das partes da matéria.

[...] Descartes atribuía o movimento dos corpos a um impulso original que Deus lhes havia comunicado ao criá-los, e acrescentava que, devido á imutabilidade divina, essa quantidade de movimento permanecerá constante ao longo do tempo.

A única distinção que Descartes admite é a que se dá entre o corpóreo-material e o espiritual.

Descartes definiu substância como “uma coisa que existe de tal modo que não tem necessidade de nenhuma outra para existir”.

Pág. 79 –

Descartes afirmou que a existência do eu pensante é a certeza básica e o fundamento de toda certeza ulterior.

Em seu afã de proporcionar uma base filosófica para a nova ciência matemática da natureza, Descartes reduziu a substância material aos aspectos geométricos.

Na perspectiva cartesiana, a substância material carece de dinamismo interno e de tendências, ficando reduzida a um substrato passivo e inerte.

Pág. 80 –

A imagem mecanicista não passa de um modelo explicativo parcial, com sérias limitações inclusive no âmbito da física matemática. [...] As revoluções científicas do século XX, especialmente a física quântica e a teoria da relatividade, mostraram que os modelos mecânicos são somente um tipo possível de modelos: representam apenas alguns aspectos da natureza e são inaplicáveis no estudo de muitos outros fenômenos.

Unidade estrutural

Unidade estrutural Ordem Organização

Cooperação Funcional do

sistema

Substância – modo de ser próprio

Mecanicismo precedente

Mecanicismo cartesiano Extensão

Quantitativo Magnitude

Descartes

Movimento e Deus

Descartes e as

Distinções

Substância sem necessidade

Descartes e o eu pensante

Descartes base

filosófica

Substância material Sem dinamismo

Imagem mecanicista Limitações

Modelo mecânicos são somente uma

possibilidade

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b) O subjetivismo kantiano

Segundo Kant, a substância é uma das categorias a priori, que não têm sua origem na experiência e são condições de possibilidades da experiência.

Pág. 81 –

Na perspectiva kantiana, a substancialidade é uma condição a priori do conhecimento, que nos permite pensar a permanência dos fenômenos no tempo e possibilita toda determinação do tempo. A substância é concebida como um substrato passivo e inerte, sem vida própria: é uma noção que se refere à permanência dos fenômenos no tempo.

Kant percebeu corretamente o aspecto construtivo da ciência matemática da natureza. Este aspecto é muito importante: os conceitos da física matemática não se obtêm somente por abstração, nós os construímos. [...] Kant detém o mérito de ter assinalado que, para valorizar o conhecimento da natureza, é necessário considerar o nosso modo de conceber.

A abordagem kantiana é condicionada pelo falso dilema entre “ser derivado totalmente da experiência sensível” e “ser totalmente obra da inteligência”.

Pág. 82 –

[...] existe uma continuidade e interação muito maior entre o conhecimento sensível e o intelectual, de modo que conhecemos intelectualmente as substâncias naturais através dos seus acidentes.

c) Processualismo e energetismo

Desde o século XVII, a ciência experimental destacou a importância de conceitos tais como as forças e a energia, que se referem ao dinamismo natural.

Um dos representantes clássicos do processualismo foi Henri Bergson. O pano de fundo de toda a sua obra é um dualismo que contrapões o estático e o dinâmico, e no qual triunfa o dinâmico. [...] Bergson sublinhou como acerto a importância dos aspectos dinâmicos, mas levou a sua reação ao extremo de afirmar, de algum modo, a substancialização da mudança. [...] Afirmou, [...] com acerto, que o dinamismo não é algo que se acrescenta a uma realidade imóvel.

Pág. 83 –

[...] chegou a uma conclusão dificilmente aceitável: afirmou que “há mudanças, mas não há, sob a mudança, coisas que mudem: a mudança não necessita de um suporte.

[...] Alfred North Whitehead (1861 – 1947) representou a natureza como um processo, um contínuo devir. Whitehead define a substância como processo de atividade; a existência de um ente real está constituída por sua atividade de devir. [...] sustenta que “um ente real é um processo e não é descritível em termos de morfologia de um material (stuff)”. O ente real é o ente ativo e a natureza última das coisas é a atividade.

Whitehead continua a seguir as idéias de Bergson ao adotar uma cosmovisão evolutiva na qual a natureza é criativa. A categoria do último é a criatividade ou ação criadora; pura atividade, que carece de caráter próprio [...]. Para Whitehead, a substância é um agir que possui uma particular forma ou caráter; não pode haver um agir sem caráter ou forma, nem vice-versa.

Kant – substância categoria a priori

Substancialidade como condição a

priori do conhecimento Substância....

Kant – aspectos construtivo da

ciência matemática da

natureza

Kant e o falso dielma

Interação entre o conhecimento

sensível/intelectual

Século XVII Ciência experimen.

Henri Bérgson

Representante do processualismo

Contrapõe o estático e o dinâmico

A mudança não necessita suporte

Whitehead – natureza como

processo – contínuo devir – o ente real é

um processo indescritível

Whitehead

seguidor das idéias de Bérgson Cosmovisão

evolutiva

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Segundo Whitehead, a atividade é a condição última da natureza.

Pág. 84 –

A metafísica de Whitehead é uma elaboração do implicado no princípio do processo.

Portanto, chega-se a uma filosofia do processo. A atuação de um ente real deve ser autocriadora. A natureza ontológica última de um ente real ou substancia é a atividade de autocriação. Toda atividade é autoconstituição de um agente. [...] Esta perspectiva é também uma filosofia do organismo, que sublinha a interconexão de todos os entes reais. Dá-se um processo evolutivo criador de novas sínteses emergentes.

A cosmovisão de Whitehead é evolutiva, organicista e emergentista. São características às quais se concede uma grande importância na atualidade, conforme a imagem evolucionista da natureza.

Nesta cosmovisão, é interessante como se destacam a unidade real de cada entidade e do conjunto de todas as entidades, o caráter processual da realidade, a centralidade da ação e a rejeição da imagem mecanicista-atomista. [...] Nesta filosofia processualista, os aspectos estruturais e estáveis da realidade são fulminados.

Pág. 84/85

Em determinadas ocasiões afirma-se que o natural consistiria, em última análise, a energia, um substrato último de tipo dinâmico, cuja concentração produziria os corpos (partículas subatômicas, átomos, moléculas, corpos maiores, etc.).

Pág. 85 –

Este energetismo encontra-se na linha do dinamismo e do processualismo. [...] Neste caso, tudo estaria feito de energia e as partículas não seriam mais que energia concentrada.

O mecanicismo atomista afirmava que a matéria está composta de partículas indivisíveis que não estariam sujeitas a nenhuma transformação: só poderiam deslocar-se. Na realidade, o mundo microfísico é enormemente dinâmico.

Pág. 86 –

O energetismo é sugestivo, sobretudo se lhes atribuímos um sentido mais metafórico que literal. O energetismo e o processualismo destacam, com razão, que o dinamismo encontra-se inscrito no próprio coração da natureza e que os aspectos individuais e estruturais da natureza estão englobados no desenvolvimento de um dinamismo natural que dá lugar a um grande processo cósmico.

6. Determinação das substâncias naturais

[...] que entidades naturais podem ser qualificadas como substâncias, [...] que sistemas podem ser qualificados como sistemas naturais unitários?

Pág. 87 –

6.1 A substancialidade ante a experiência ordinária

Os antigos aplicavam o conceito de substância, antes de tudo, aos viventes, e as opiniões acerca da matéria inorgânica variavam em função das suas idéias, muito precárias, acerca dos elementos e dos compostos.

Whitehead

Metafísica de W.

Filosofia do processo

Natureza ontológica de um ente real é a

atividade de autocriação

Cosmovisão de

Whitehead é evolutiva

Caráter processual

da realidade Centralidade da

ação

Natural – energia, substrato último de

tipo dinâmico.

Energetismo Dinamismo e

processualismo

O mundo microfísico Dinâmico

Energetismo e processualismo

dinamismo esta no coração da natureza

Substâncias Sistemas naturais

Antigos – substância aos

viventes

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Pág. 88 –

[...] conhecimentos científicos atuais, [...] entre as entidades acessíveis ao nosso conhecimento ordinário, apenas os viventes são sistemas naturais unitários; as demais entidades são agregações ou fragmentos. [...] existem na natureza outros sistemas unitários, mas estes não se manifestam ante a experiência ordinária e aparecem somente como resultado da investigação científica: são entidades microfísicas (átomos, moléculas, macromoléculas), [...].

6.2 A substancialidade diante das ciências

[...] três níveis da natureza: o biológico, que abrange todos os viventes; o microfísico, que inclui as entidades inanimadas de dimensões muito pequenas, não observáveis diretamente; e o macrofísico, que compreende as entidades inanimadas de maior tamanho.

Pág. 89 –

a) A substancialidade no nível biológico

Os viventes são os sistemas naturais que possuem o maior grau de individualidade. [...] Os viventes possuem, também, uma grande unidade, tanto estrutural como dinâmica: no aspecto estrutural, os componentes dos viventes são membros de um organismo estruturado de acordo com um plano unitário; e, no aspecto dinâmico, esses componentes realizam funções cooperativas que se apóiam mutuamente e contribuem parta a atividade unitária do vivente.

Pág. 90 –

[...] os viventes são sistemas cibernéticos e os avanços na compreensão destes sistemas lançam muitas luzes sobre diversos aspectos dos viventes.

b) A substancialidade no nível microfísico

Pág. 91 –

[...] o átomo2.

Pág. 92 –

c) A substancialidade no nível macrofísico

[...] com exceção dos viventes, a matéria que se apresenta à nossa experiência ordinária costuma consistir em estados de agregação que não são propriamente sistemas unitários.

Nos níveis mesofísico (entidades visíveis e não demasiadamente grandes) e macrofísico (grandes dimensões) do mundo inorgânico, existem sistemas que possuem diferentes graus de unidade, integração, dinamismo e funcionalidade que, em geral, são agregações, nas quais existem diferentes substâncias em combinações heterogêneas.

2 [...] sustentado por Ian Hacking, [...].

Apenas os viventes são sistemas

naturais unitários demais entidades são agregações ou

fragmentos

Níveis da natureza Biológico

Microfísico Macrofísico

Os viventes

Individualidade Unidade

estrutural e dinâmica

Viventes – sistemas Cibernéticos

Átomo

Matéria em nossa experiência Agregação

Níveis

Mesofísico Macrofísico

Diferentes graus de unidade

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Pág. 93 –

A Terra em seu conjunto, junto com a atmosfera, forma um sistema que, embora seja bastante heterogêneo, é também muito específico, de modo que permite a existência da vida; dentro dela existe uma grande variedade de sistemas e subsistemas, entre eles os ecossistemas que incluem combinações peculiares de entidades viventes e não-viventes3.

No âmbito astrofísico, as estrelas possuem um núcleo no qual radica a sua estrutura e atividade (reações nucleares de fusão que condicionam as características de cada estrela) [...].

6.3 Analogia e graus de substancialidade

Pág. 94 –

O conceito de substância, que gira em torno da individualidade e unidade, representa a existência de sistemas holísticos que possuem um modo de ser unitário: os seus componentes, embora em parte mantenham-se os seus caracteres próprios, encontram-se integrados num novo sistema que possui uma unidade nova, na qual existem propriedades emergentes e um dinamismo cooperativo.

Pág. 95 –

A negação da substancialidade conduz a uma representação atomizada da natureza, que se dissolve num conjunto de qualidades ou processos particulares. Pelo contrário, a natureza constitui um grande sistema composto por sistemas particulares que, de um modo ou de ouro, articulam-se ao redor de sistemas unitários ou substâncias. [...] mas unitários, mutuamente relacionados e integrados em sistemas gerais, até chegar ao sistema total da natureza. [...] esses sistemas unitários ou substâncias são sujeitos que possuem modos específicos de ser. Esta representação da natureza constitui a base de uma reflexão metafísica na qual ocupam um posto central as noções de essência e ato de ser e que encontra seu sentido último na participação do ser.

6.4 Objeções anti-substancialistas

a) O conhecimento das substâncias

Pág. 96 –

[...] teoria empirista do conhecimento, segundo a qual somente as qualidades que se manifestam pela experiência sensível têm um valor objetivo.

Nas formulações científicas não é usual aparecer o conceito de substância. Todavia, na ciência, admite-se implicitamente a existência de substâncias e acidentes. [...] é lógico que o conceito de substância não se estude filosoficamente nas formulações científicas, já que as ciências adotam uma perspectiva não-filosófica; mas encontra-se suposto pelas ciências; com efeito, o estudo da natureza fundamenta-se na existência dos sistemas unitários ou substâncias e o progresso científico proporciona um conhecimento cada vez mais detalhado deles.

3 Seguindo a hipótese de Gaia proposta por James Lovelock, alguns afirmam que a biosfera (o ambiente da água, terra e ar, onde se dá a vida à nossa volta) é um sistema único, como um grande organismo. Entretanto, não parece possível considerá-la como um sistema unitário individual, tal qual uma substância.

A Terra sistema heterogêneo

muito específico, permite a existência

da vida.

Nível astrofísico Estrelas e seus

núcleos

Conceito de substância que gira em torno da individualidade e

unidade

A negação da substancialidade

conduz a uma representação atomizada da

natureza, que se dissolve num conjunto de

qualidades ....

Teoria Empirista

Substâncias e

acidentes Ciência e Filosofia

No estudo da natureza

Hipótese de Gaia James Lovelock Biosfera sistema

único

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Pág. 97 –

A crítica empirista oferece-nos uma oportunidade para pontualizar que a substância é conhecida através dos acidentes, que manifestam a substância e seu modo de ser essencial.

b) Substâncias e processos

Outras críticas centram-se na acusação de coisismo ou fixismo, como se a afirmação das substâncias equivalesse a afirmar a existência de sujeitos que estivessem fora do contínuo fluxo de mudanças que ocorre na natureza. Estas críticas provêm da filosofia processualista, segundo a qual os processos são o núcleo da natureza e nada pode encontrar-se subtraído deles.

O conceito de substância refere-se à consistência no ser.

Pág. 97/98 –

A substância possui uma estabilidade relativa, em função do tipo de sistema natural de que se trata em cada caso e das circunstâncias que o rodeiam. A consistência no ser está em função da duração ou persistência.

Pág. 98 –

[...] a substância é sujeito de mudanças e é algo cambiante, não imutável. Nas mudanças acidentais, a substância muda, não substancialmente, mas acidentalmente.

De acordo com a caracterização do natural mediante o entrelaçamento do dinamismo e da estruturação, devemos sublinhar que a substância não é um substrato passivo e inerte. Ao contrário, é o sujeito primeiro do ser, centro de articulação do dinamismo e da estruturação, e nele toda atividade tem o seu desenvolvimento.

As substâncias físicas são, ao mesmo tempo, fonte e produto do dinamismo natural.

Não tem sentido opor ser e devir, estabilidade e dinamismo: são aspectos complementares que se exigem mutuamente.

A partir do ponto de vista científico, as entidades naturais são sistemas em equilíbrio.

Pág. 99 –

Os equilíbrios referem-se sempre a condições determinadas; portanto, a estabilidade dos entes físicos não é absoluta e deixa de existir se as condições não se mantêm dentro dos limites exigidos por cada situação de equilíbrio.

Pág. 101 –

CAP. III – O DINAMISMO NATURAL

A natureza está marcada em todos os seus níveis pela mudança; nenhum dos seus aspectos está subtraído ao devir, que adota uma enorme variedade de modalidades.

Na natureza, existem potencialidades específicas cuja atualização conduz a uma hierarquia de níveis que possuem uma complexidade organizativa crescente. A construção da natureza revela-se, assim, como um grande processo global de auto-organização, no qual são produzidas autênticas novidades emergentes; e tudo isto é possível graças ao armazenamento e desenvolvimento de informação.

Substância e acidentes

Outras críticas centram-se na acusação de coisismo ou

Fixismo

Consistência

Substância Estabilidade

Relativa

A substância é sujeito/mudanças

Caracterização do

natural Dinamismo e estruturação

Substâncias físicas

Ser e devir

Estabilidade/dinam.

Entidades naturais Sistemas equilíbrios

Equilíbrios condições

determinadas

Natureza e mudança

Natureza e

Potencialidades específicas

Hierarquia de níveis

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Pág. 102 –

7. Processos Naturais

Os sistemas naturais nunca se encontram completamente isolados; além disso, na medida em que possuem um dinamismo próprio, interagem entre si. Daí surgem as mudanças tal como acontecem na natureza: o devir natural é o resultado de interações, nas quais os dinamismos que intervêm se integram e produzem um resultado comum. [...] a estrutura básica de qualquer mudança natural consiste em interações pelas quais se chega a estados de equilíbrio.

7.1 Noções de processo natural

Pág. 103 –

[...] se considerarmos o devir de uma maneira geral, o que aparece diante dos nossos olhos é uma enorme variedade de mudanças cujo estudo detalhado corresponde mais adequadamente às ciências.

O que interessa à perspectiva filosófica é, sobretudo, estudar aquelas características dos processos que permitem compreender as propriedades básicas do nosso mundo e, principalmente, porque possui uma organização enormemente específica que torna possível a vida humana. Conseqüentemente, os processos que mais interessam à filosofia são os que têm, de modo mais evidente, dimensões holísticas e direcionais.

Pág. 104 –

[...] processos guiados pela razão humana; os processos racionais e os artificiais estão guiados pela busca consciente de um fim, algo que não ocorre nos processos naturais: os processos racionais consistem no encadeamento mental de idéias e os artificiais correspondem a um projeto, possuindo, portanto, uma direção deliberadamente imposta pelo agente.

7.2 Processos naturais e pautas dinâmicas

Pág. 105 –

[..] o nosso conhecimento das pautas dinâmicas é representado mediante leis que equivalem a programas de atuação. [...] as leis contêm uma informação sobre o possível curso dos processos; esta informação expressa as possibilidades do dinamismo natural quando acontecem determinadas condições concretas: corresponde, então, a algo real.

[...] nas ciências experimentais utiliza-se cada vez mais um conceito de informação que equivale aproximadamente a um programa que guia a atividade natural: este conceito começou a ser utilizado na biologia quando se descobriu a existência da informação genética e se estendeu tanto a outros domínios da biologia como também da física e da química.

Pág. 106 –

Este contexto, sobretudo quando se pensa nos sinais, nos códigos, na comunicação, e na interpretação da informação, é difícil evitar o uso de conceitos antropomórficos.

Isto não tem nada a ver com um “pampsiquismo” que atribua uma consciência a estas entidades físico-químicas; simplesmente, reflete aspectos da realidade para cuja concepção somos forçados a utilizar uma linguagem metafórica e equivale a

Sistemas naturais dinamismo próprio

Interação Mudanças

Devir Equilibro

Devir e Variedade de

mudanças

Perspectiva filosófica

compreender nosso mundo e a

vida humana

Processos guiados pela razão humana

Busca consciente de um fim Idéias

Pautas dinâmicas Programas de

atuação Informação

Dinamismo natural

Ciências experimentais Informação

Programa que guia a atividade natural

Comunicação e antropomorfismos

Pamsiquismo Consciência a entidades....

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reconhecer que não existe uma matéria puramente inerte ou passiva, uma vez que toda entidade material contém uma informação que guia as suas interações.

Pág. 107 –

Qualquer pauta dinâmica corresponde ao desenvolvimento de uma informação armazenada estruturalmente; portanto, pode-se ser chamada “pauta informativa”.

Nos sistemas que dispões de um elevado grau de organização, [...] nos viventes, existem processos que constam de uma série complexa de passos sucessivos, mutuamente coordenados. [...] encontramo-nos diante de pautas informativas que implicam todo um programa de atuação. As putas informativas consistem em instruções que guiam o desenvolvimento do dinamismo natural.

Pág. 108 –

7.3 Sinergia, organização e tendências

Pág. 109 –

8. O devir: ato e potência

Os processos naturais podem ser explicados como uma atualização de potencialidades.

8.1 Ser e devir

A natureza possui aspectos estruturais e dinâmicos: combina o ser do que já existe com o devir no qual se produzem as mudanças.

Aristóteles sustentou a resolução deste problema mediante os conceitos de ser em potência e ser em ato. Ser em potência significa que existe uma capacidade ou virtualidade que, dadas as condições oportunas, pode conduzir a ser em ato.

Pág. 110 –

8.2 Modalidades de devir

Os aspectos dinâmicos da natureza são comumente designados mediante termos que, embora estejam relacionados entre si, possuem significados diferentes.

Costuma-se falar de “devir” num sentido muito amplo para expressar que todas as entidades encontram-se submergidas no fluxo das mudanças. [...] “mudança” para designar qualquer tipo de variação. [...] “movimento” designa, às vezes, qualquer mudança, mas utiliza-se habitualmente num sentido mais estrito para designar a mudança de lugar ou posição, ou seja, o movimento local. [...] “transformação” ou “mutação” destacam que a mudança afeta um sujeito. [...] o termo “processo” é utilizado para designar o conjunto das fases sucessivas que conduzem desde um estado inicial até um estado final.

Pág. 111 –

[...] costuma-se distinguir três tipos de mudança acidental: mudança de lugar, [...] mudança na quantidade, [...] mudança nas qualidades, [...].

Entre estas mudanças existe uma ordem. A mais primária mudança é o movimento local, pois implica somente um deslocamento e porque pode ocorrer mesmo que não haja outras mudanças mais profundas; [...]. A seguir, encontra-se a mudança na

Não existe matéria

inerte

Pauta dinâmica e informação

Sistema com

elevado grau de organização Processos

coordenados

Atualização de potencialidades

Natureza aspectos Estruturais

Aristóteles ser em ato e em

Potência

Aspectos dinâmicos da natureza

Devir

Fluxo mudanças Variação

Transformação Ou mutação

Afeta os sujeitos Processos fases

sucessivas

Três tipos de mudança

Mudança e ordem Movimento local

deslocamento

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quantidade, que só supões o movimento local, e a mudança de qualidade que supõe os dois anteriores. Finalmente, o mais profundo movimento é a mudança substancial.

Na mudança substancial, a substância muda radicalmente, já que deixa de existir uma e começa a existir outra; é o que acontece, por exemplo, quando morre uma planta.

O fato de uma mudança ser acidental não significa que seja pouco importante; significa somente que o sujeito desta mudança não deixa de existir segundo um modo de ser essencial.

Pág. 112 –

[...] os processos naturais constam, em última instância, de mudanças substanciais e acidentais, e pode-se dizer inclusive que a explicação aristotélica da mudança em termos de potencialidade e atualidade [...] corresponde principalmente ao que denominamos processos unitários.

8.3 Potencialidade e atualidade

Pág. 113 –

a) O devir como atualização de potencialidades

[...] alguns dos primeiros filósofos negaram a realidade da mudança. Argumentaram que a mudança supõe uma novidade no ser, acrescentando que esta novidade não pode surgir do nada e que, portanto, surge de algo que já existia; concluíram destas premissas que não existia uma mudança real, mas só aparente.

Os atomistas gregos (Leucipo e Demócrito) tentaram explicar a natureza mediante a combinação dos átomos e do vazio. Afirmavam que os átomos são identidades imutáveis e indivisíveis [...] que constituem, em última análise, a trama da natureza. A única mudança real seria o movimento local e a natureza poderia ser explicada mediante o deslocamento e as combinações dos átomos: [...].

Aristóteles procurou conciliar as exigências da razão e dos sentidos ao afirmar a realidade da mudança tal como se apresenta na experiência e ao tentar explicar racionalmente como isso é possível. [...] Ser em ato significa possuir uma determinação e ser em potência significa que, embora não possua esta determinação, existe a capacidade real de possuí-la. Sob esta perspectiva, a mudança é a atualização de uma potencialidade. Ser em potência é algo intermediário entre o puro não ser e o ser em ato, posto que se tem a capacidade de ser o que ainda não é.

Pág. 114 –

Segundo a definição clássica de Aristóteles, a mudança é o ato do ente em potência enquanto está em potência. Isto significa que o ponto de partida é um ente que não possui uma determinação em ato, mas tem a potencialidade ou capacidade de chegar a possuí-la e que a mudança não acontece quando esta potencialidade se atualiza, mas precisamente enquanto está se atualizando.

A dificuldade para conceituar o movimento decorre do fato de se tratar de algo atual, existente na realidade, mas que consiste precisamente no trânsito de uma potencialidade a uma atualidade. [...] analisar o devir; com efeito, trata-se de fixar conceitualmente uma realidade dinâmica. Ao definirmos o devir, não devemos perder de vista que nos referimos a um fluxo real, não redutível a uma simples soma de sucessivos estados estatísticos.

Mudança e quantidade

Mudança

substancial Radicalidade

Mudança acidente

Modo de ser Essencial

Processos naturais Mudanças

substanciais e acidentais

Primeiros filósofos negação da

realidade da mudança

Leucipo e Demócrito Natureza Átomos e

Vazio

Aristóteles Conciliação entre razão e sentidos E afirmação da

realidade da mudança

Ser em ato

Aristóteles mudança: é o ato

do ente em potência enquanto está em potência

Movimento

Existe na realidade Trânsito de uma potencialidade e uma atualidade

devir

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Pág. 115 –

A existência de uma potencialidade é uma condição necessária, embora não suficiente, para que aconteça um determinado processo. Mas, mesmo se não atualizado, permanece uma capacidade real.

A idéia de potencialidade [...]. É uma concepção de um modo de ser que é preciso admitir para explicar racionalmente a possibilidade da mudança. Aristóteles apresentou a explicação do devir em um nível ontológico, considerando-o como um modo de ser que se explica em função de uma potencialidade, ou seja, o modo de ser próprio daquele que se encontra em caminho de chegar a ser algo que não era anteriormente.

b) As noções de potência e ato

Pág. 115/116 –

[...] ser em potência e ser em ato. Com efeito, “potência” e “ato” não designam coisas ou aspectos das coisas, mas modos de ser: algo está em potência ou está em ato.

Pág. 116 –

[...] “potência” e “ato” são conceitos relativos que fazem referência a alguma determinação, qualidade ou perfeição: algo está em potência ou em ato em elação a alguma determinação.

Por fim, “potência” e “ato” também são relativos entre si; algo está em potência em relação a um ato, ou seja, tem a capacidade de chegar a ser o que este ato significa. A potência sempre se refere a um ato.

c) Tipos de potência e ato

Quando se pensa no ser, fala-se de potência passiva e de ato primeiro. A potência passiva refere-se à possibilidade ou capacidade de chegar a ser de um modo determinado e estar em ato primeiro significa que possui esse modo de ser.

Pág. 116/117 –

Quando se pensa no agir, fala-se de potência ativa e de ato segundo. A potência ativa é uma capacidade de agir de um modo determinado e o ato segundo refere-se à operação mediante a qual efetivamente se exercita de fato esta capacidade.

Pág. 117 –

[...] a potência ativa pertence sempre a um sujeito que já possui um modo de ser determinado e, portanto, que tem este modo de ser em ato primeiro.

9. Os processos unitários na natureza

Pág. 118 –

[...] na cosmovisão atual, os diferentes níveis da natureza encontram-se relacionados e que a emergência de novos níveis é conseqüência de um grande processo de auto-organização da natureza no qual a informação desempenha um papel central.

9.1 Os processos unitários diante da experiência ordinária

Existência da potencialidade

Processo

Potencialidade Modo de ser

Possibilidade da mudança

Devir nível ontológico

Ato e potência modos

de ser.

Potência e ato Conceitos Relativos

Algo está em potência em

relação a um ato

Ser – potência passiva e do ato

primeiro.

Agir – potência ativo e ato Segundo

Potência ativa Sujeito

Cosmovisão atual Auto-organização

da natureza

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Pág. 119 –

A natureza, contemplada sob uma perspectiva analítica, parecia reduzir-se a uma gigantesca máquina cujo funcionamento poderia ser compreendido, como um relógio, através do comportamento e o encaixe das suas peças.

[...] o progresso científico mais recente pôs em relevo que os processos naturais têm uma unidade maior do que a que se pode observar na experiência ordinária. [...] se pudéssemos visualizar o que as ciências nos revelam acerca dos processos naturais, ficaríamos muito mais espantados que os antigos diante do insólito espetáculo que se representaria diante dos nossos olhos.

9.2 Os processos unitários diante das ciências

Pág. 120 –

[...] homeostase, [...] com a manutenção das condições internas dos viventes através dos intercâmbios com o meio externo. A homeostase relaciona-se com a auto-regulação do sistema em relação às condições externas e é alcançada graças a processos de retroalimentação, nos quais o estado do sistema é controlado mediante mecanismos reguladores.

[...] relação entre a homeostase e a direcionalidade. Com efeito, a homeostase significa a existência de tendências para determinados estados.

Nos processos holísticos há uma coordenação entre as sucessivas fases. Ocorrem não apenas nos organismos, mas também em muitos dos seus componentes que, freqüentemente, se comportam como sistemas unitários. Este é o caso das células que compõem um organismo; encontram-se coordenadas, mas cada uma com certa autonomia e nela se produzem continuamente processos unitários que tornam possível o seu funcionamento e as suas relações com outras células.

Pág. 121 –

[...] a comunicação entre as células realiza-se de modos muito específicos, através da informação armazenada, transmitida, processada e integrada; é um dos casos nos quais se utiliza a metáfora “da chave e da fechadura” para expressar o caráter específico e coordenado das interações4.

Pág. 122 –

b) Processos funcionais

A funcionalidade refere-se à atividade das partes em função do todo. Entre as funções dos viventes encontram-se a respiração, a nutrição, o transporte, a excreção, a coordenação nervosa, a coordenação hormonal e a defesa imunológica.

Os sistemas e aparatos dos viventes caracterizam-se pela sua função. Estão integrados por órgãos, e estes por tecidos.

4 [...] a hipótese da chave e da fechadura, formulada em 1897 por Emil Fisher, para descrever a especificidade das interações entre enzimas e substratos. Paul Ehrlich ampliou-a em 1900 para explicar a elevada especificidade das reações do sistema imunológico. E, em 1914, Franck Rattray Lillie, da Universidade de Chicago, fez uso da mesma hipótese para destacar o reconhecimento mútuo de óvulo e espermatozóide. Desde 1920, a hipótese da chave e da fechadura converteu-se num dos postulados centrais da biologia molecular.

Natureza – gigantesca máquina

Relógio

Progresso recente Processo naturais

têm unidade maior do que se pode

observar.

Homeostase Autoregulação do sistema em

relação as condições externas

Homeostase e a Direcionalidade

Processos holísticos

Sucessivas fases Sistemas unitários

Células coordenadas com certa autonomia

Comunicação entre células informação armazenada

Funcionalidade Atividades das em

função do todo.

Viventes e suas Funções

Emil Fisher Hipótese da chave e

da fechadura 1897

Interações entre enzimas e substratos

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Pág. 123 –

Se analisarmos detalhadamente as atividades que ocorrem no sistema nervoso, encontramos uma incrível coordenação de processos unitários que supõem o armazenamento, codificação e decodificação, transmissão e integração de informação.

[...] existe uma grande cooperação e coordenação entre muitos processos unitários.

Pág. 124 –

Toda a física e a química estão envolvidas nos mecanismos que, mediante o processamento da informação, estão na base das funções dos viventes.

c) Processos morfogenéticos

A morfogênese refere-se à formação dos sistemas unitários e das suas partes. [...] reprodução [...] desenvolvimento dos viventes desde as suas primeiras fases.

[...] DNA (ácido desoxirribonucléico), a macro molécula responsável pelo programa genético. O DNA dos cromossomos contém em programa genético, codificado na estruturação do DNA, enormemente ampla, cuja informação desloca em função das circunstâncias.

O funcionamento do programa genético baseia-se no tratamento da informação.

Pág. 125 –

A partir da informação contida no código genético, realizam-se os processos de transcrição, tradução, regulação, duplicação e correlação de erros. [...] O núcleo e o citoplasma interagem de modo coordenado, formando um sistema cibernético.

Pág. 126 –

d) Processos cíclicos

Os processos cíclicos são tipos especialmente interessantes de processos unitários: desenvolvem-se em seqüências temporais periódicas. [...] manifestam um tipo de unidade que se encontra na base de toda atividade da natureza: a unidade dos ritmos temporais.

Pág. 127 –

[...] ritmos biológicos. Não são apenas fenômenos isolados; pelo contrário, toda a atividade dos viventes está estreitamente relacionada com a existência de ritmos.

O estudo destas estruturas temporais (os ritmos biológicos) fez nascer um ramo científico denominado “cronobiologia”.

Pág. 128 –

[...] desempenha uma função crucial a sinergia ou ação cooperativa, uma ponte entre os fenômenos físico-químicos e os biológicos e que manifesta o caráter holístico e direcional dos processos unitários.

[...] têm grande importância os ciclos biogeoquímicos – tais como a circulação de elementos fundamentais para a vida através dos diferentes componentes da natureza – [...].

Sistema nervoso coordenação de

processos unitários Informação.

Cooperação

Química e física e informação

Morfogênese sistemas unitários

DNA

Programa genético codificado

Informação

Programa genético

Informação transcrição Tradução

Processos Cíclicos

Processos unitários Ritmos temporais

Ritmos biológicos E atividade viventes

Estruturas temporais

Sinergia ou ação cooperativa fenômenos

Ciclos

biogeoquímicos

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9.3 A gênese da natureza

A natureza é composta de níveis hierarquizados de organização crescente, em cada um dos quais existem pautas características.

Pág. 128/129 –

Na cosmovisão atual, a construção da natureza pode ser contemplada como o resultado de um vasto processo de autoorganização, no qual se produzem sucessivos níveis de organização e a informação desempenha um papel central.

Pág. 129 –

a) A emergência de novidades

A potencialidade não equivale à preexistência do ato que se produzirá. A explicação aristotélica das novidades exige considerar – como o próprio Aristóteles indicou – todas as causas e condições que intervêm nos processos.

Pág. 130 –

[...] a explicação dos processos como sendo atualização de potencialidades, entendida à luz do desenvolvimento do dinamismo natural dirigido por informações que se integra em novas pautas, permite afirmar que nos processos naturais produzem autênticas novidades.

b) A auto-organização da natureza

[...] costuma-se falar de uma auto-organização espontânea da natureza.

Pág. 131 –

A fascinação [...] dinamismo interno e direcional da natureza e, por outro, alimenta a esperança de estender as explicações físicas até o âmbito humano.

[...] o âmbito biológico é pródigo neste tipo de fenômenos, podendo-se afirmar inclusive que o mundo dos viventes é o mundo da auto-organização. [...] alcançando, pela primeira vez na história, certa compreensão dos mecanismos básicos implicados nos fenômenos da auto-organização, de tal maneira que é possível afirmar a sua existência no nível físico-químico e relacionar este nível com o biológico.

Pág. 132 –

[...] problemas metafísicos; [...] como as entidades físicas sabem qual a identidade e de que modo podem se comportar? [...] como se formam pautas muito sofisticadas mediante a interação de forças puramente naturais? [...] Paul Davis refere-se à “singular propensão da matéria e da energia a auto-organizar-se em estruturas e pautas coerentes” e afirma: “É como um milagre da natureza que enormes reuniões de partículas, submetidas somente às forças cegas da natureza, sejam capazes de se organizarem em pautas de atividade cooperativa”.

Em última análise, o estudo da atividade natural sugere a existência de uma espécie de inteligência inconsciente.

c) O progresso como desenvolvimento da informação

Pág. 133 –

Natureza níveis hierarquizados

Cosmovisão atual Natureza processo

de autoorganização.

Potencialidade não equivale a

preexistência do ato

Processos e atualização de

potencialidades Informações

Auto-organização

Dinamismo interno da natureza

Âmbito biológico Mundo da auto-

organização Nível físico-

químico

Problemas metafísicos

Singular propensão da matéria e da energia a auto-organização em

estruturas

Inteligência inconsciente

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[...] uma pauta informativa consiste em instruções armazenadas estruturalmente, de cujo desenvolvimento resultam uma série de pautas dinâmicas coordenadas; [...] um processo unitário.

[...] o mais característico da natureza: a existência de uma organização que, no aspecto dinâmico, se mostra por meio de processos unitários – entendidos como uma série articulada de passos que conduzem desde um estado inicial preciso até outro estado final igualmente concreto – de um modo direcional.

Pág. 134 –

A atualização de potencialidades é mais bem compreendida quando a consideramos à luz do conceito de informação, entendido como um programa ou um conjunto de instruções que estão armazenadas nas estruturas naturais e que dão lugar a comportamentos específicos em cada situação concreta.

A existência de pautas informativas permite compreender que os resultados se produzam mediante o desenvolvimento de um plano preexistente e, ao mesmo tempo, que este desenvolvimento seja compatível com a produção de verdadeiras novidades, já que implica a confluência de múltiplos fatores que dificilmente serão sempre idênticos.

Pág. 135 –

CAP. IV – A ORDEM DA NATUREZA

Pode-se afirmar que a ordem é uma característica básica da natureza, e uma das mais importantes: as ciências pressupõem a existência dessa ordem e procuram conhecê-la detalhadamente, e a filosofia da natureza concentra-se, em boa parte, na reflexão acerca da ordem natural.

10. A ordem natural

10.1 O conceito de ordem

Pág. 136 –

Ordem indica unidade na diversidade; refere-se a partes diferentes que guardam certa proporção. [...] Quando dizemos caos, entendemos sempre um caos relativo, uma situação que possui um elevado grau de desordem, pois uma desordem absoluta não pode realmente existir.

[...] a ordem abarca toda a realidade, e, por este motivo, chegou-se a afirmar que se trata de um conceito quase transcendental.

O conceito de ordem é relacional: diz-se sempre em relação a algo, é relativo a algum critério que se toma como referência.

Pág. 137 –

[...] a ordem é relativa: sempre que se fala de ordem, trata-se de uma ordem em relação a algum critério determinado.

10.2 Tipos de ordem na natureza

a) Ordem e estruturação

Pauta informativa

Instruções armazenadas

Característico da natureza a

existência de organização

Atualização de potencialidades e o

conceito de organização

Pautas informativas

Resultados mediante o

desenvolvimento de um plano

Ordem é uma característica

básica da natureza

Ordem indica unidade na diversidade Proporção

A ordem abarca toda a realidade

Conceito de ordem é sempre relacional

A ordem é relativa Em relação algum...

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A estruturação espaço-temporal é uma dimensão básica do natural. As entidades naturais possuem configurações espaciais; os processos desenvolvem-se numa sucessão temporal; [...].

Pág. 138 –

b) Ordem e pautas

Utilizamos os termos “pauta” ou “padrão” para designar as estruturas espaciais ou temporais que, de fato, se repetem na natureza.

As pautas relacionam-se, portanto, com a repetição, que é um aspecto central da ordem. Afirmamos que existe ordem sempre que algo se repete.

As pautas relacionam-se com a regularidade.

[...] a ordem natural gira em torno da pautas espaço-temporais: as configurações espaciais e os ritmos temporais.

c) Ordem e organização

Pág. 138/139 –

A ordem não equivale á organização. A idéia de organização tem um sentido ativo, que nem sempre se encontra na idéia de ordem e sugere algo mais elaborado que uma simples ordem genérica. A organização [...] um tipo especialmente forte de ordem, que se dá quando existem componentes estruturados que cooperam de modo funcional, ou seja, quando existe unidade e cooperação entre os componentes de um sistema.

Pág. 139 –

[...] organização natural é o dos viventes, cujos sistemas físicos se denominam, precisamente, organismos. Há, neles, uma individualidade típica, acompanhada de unidade, cooperação e funcionalidade.

O importante é que a natureza possui um grau muito elevado de organização, [...].

10.3 Ordem e organização na natureza

Pág. 140 –

a) A diversidade de níveis naturais

Pág. 143 –

O nível biológico

[...] é oportuno sublinhar a continuidade entre o nível biológico e o nível físico-químico, pois a peculiaridade do nível biológico não está nos seus componentes, mas no tipo de organização.

[...] a vida que conhecemos é possível graças à existência de propriedades físico-químicas muito singulares.

Pág. 144 –

Estruturação

espaço-temporal natural

Pauta ou padrão Estruturas espaciais

Pautas

Repetição

Regularidade

Ordem natural espaço/tempo

Organização Sentido Ativo

Ordem de componentes estruturados

Organização natural Viventes

organismos

Organização

Continuidade entre o nível biológico e

nível físico-químico

A vida que conhecemos

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O mundo bioquímico consta de um número relativamente pequeno de componentes, que bastam para que se formem estruturas muito específicas e sofisticadas.

b) A estratificação dos níveis naturais: continuidade e gradualismo

[...] unidade básica decomposição e uma estratificação dos níveis. O nível físico (microfísico) encontra-se na base de todos os demais, o nível químico é o estrato seguinte, e, a partir do nível físico-químico, existem duas séries diferentes de entidades: [...] as entidades maiores que continuam pertencendo ao mundo físico-químico (as estrelas, a Terra e os planetas); e, por outro, os viventes.

[...] os diferentes níveis estão relacionados entre si.

Entre os diferentes níveis existe, ao mesmo tempo, distinção e continuidade.

Pág. 145 –

Cada nível pode ser considerado como condição de possibilidade dos níveis seguintes, de acordo com a ordem indicada.

Um nível pode ser condição de possibilidade sob dois aspectos; porque proporciona os constituintes ou as condições externas que possibilitam sua existência. [...] O nível astrofísico proporciona os constituintes do geológico, que proporciona, além do mais, as condições que tornam possível o nível biológico.

Pág. 145/146 –

[...] os organismos do nível biológico possuem uma organização muito superior à existente nos demais níveis. [...] o homem ocupa o posto superior nesta hierarquia.

Pág. 146 –

11. A estrutura físico-química

11.1 A composição da matéria

a) Panorama histórico da física dos elementos

O conhecimento dos elementos é um tema central desde a Antigüidade. Os pré-socráticos propuseram explicações tais como a teoria dos quatro elementos [...] e a teoria atômica que, em alguns aspectos, esteve sempre presente ao longo dos séculos, [...].

Pág. 147 –

A composição da matéria, sempre objeto de investigação científica, foi acompanhada, também desde a Antigüidade, por trabalhos empíricos: [...].

Em 1869, Dimitri Mendeleiv formulou a tabela periódica dos elementos, que são os tipos fundamentais de átomos que constituem a matéria.

Pág. 148 –

Ainda que a idéia de átomo tenha sido proposta por Demócrito na Antigüidade, os átomos da ciência moderna têm pouco a ver com as idéias antigas. Os antigos chamavam de átomo os componentes últimos da matéria, pensando que eram autênticos elementos indivisíveis; pelo contrário, os átomos que a ciência atual

Mundo Bioquímico

Nivel físico Microfísico na base de todos os demais

Nível químico e físico-químico

Relacionados

Distinção/continui

Níveis como condição de possib.

Níveis como condição de possibilidade Da existência

Nível biológico Organização

Superior

O conhecimento dos elementos Pré-socráticos

Elementos físicos

Composição da matéria

Tabela periódica

Elementos

Átomo Demócrito Componentes

últimos da matéria Atualmente

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estuda são sistemas bastante complexos e não são elementos últimos: compõem-se de partículas subatômicas, às vezes denominadas partículas elementares, [...].

b) teorias científicas atuais sobre os componentes microfísicos

[...] os componentes básicos da matéria são os quarks e os leptons. A combinação de quarks produz as partículas mais pesadas (como os prótons e os nêutrons), e os leptons são partículas ligeiras (como os elétrons).

Pág. 149 –

[...] a matéria ordinária está composta por três partículas: os prótons, os nêutrons e os elétrons. [...] é preciso notar duas características importantes.

[...] a matéria encontra-se organizada de um modo muito específico já desde o nível dos átomos.

Outra importante característica é que, na realidade, as partículas subatômicas não correspondem exatamente ao conceito intuitivo de partícula, uma vez que, em muitos fenômenos, atuam como ondas.

Pág. 150 –

Em algumas ocasiões propôs-se considerá-las como “energia concentrada”; embora esta expressão não tenha um sentido científico exato, pode ser útil para compreender que a composição da matéria, em último termo, não corresponde a partículas imutáveis que se justapõem: antes, corresponde a entidades dinâmicas que interagem e produzem, em muitos casos, novas estruturas unitárias.

As partículas dentro dos átomos, e os átomos dentro das moléculas, encontram-se ligados por forças elétricas.

Pág. 151 –

Definitivamente, no nível físico-químico existem sucessivos níveis de organismos, desde os átomos até as moléculas, as macromoléculas e os compostos químicos, que correspondem a componentes e interações muito específicas. A organização físico-química não corresponde a uma simples máquina mecânica cujas peças estão justapostas; corresponde, antes, a sistemas que possuem propriedades holísticas, atividade cooperativa e uma grande capacidade de integração. [...] o nível físico-químico está completamente marcado pelo dinamismo e pela estruturação, entrelaçados nos diversos tipos de sistemas.

c) Teorias de unificação

Pág. 152 –

[...] metade do século XIX, Maxwell [...] teoria do eletromagnetismo. [...] século XX, Einstein [...] teoria geral da relatividade, uma nova teoria da gravidade, [...].

Pág. 153 –

11.2 Mecanicismo, dinamismo e energitismo

Quando se estuda filosoficamente a composição da matéria, costuma-se opor, em um lado, o mecanicismo, que concebe a matéria basicamente como passiva e reduz a natureza aos choques e impulsos mecânicos, e em outro, o dinamismo e

Átomos são complexos

Componentes básicos da

Matéria

Prótons, nêutrons Elétrons

Organização

específica

Partículas subtômicas atuam

como ondas

Energia concentrada

Composição da matéria não corresponde

Átomos e forças

elétricas

No nível físico-químico existem

níveis de organismos Interações específicas

Para além de um simples

Maxwell Einstein

Filosofia e composição da

matéria

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o energitismo, que sublinham o caráter básico das forças e da energia, situando-se no pólo oposto ao mecanicismo.

Pág. 153/154 –

[...] destacamos que o natural possui um “dinamismo próprio” ou “dinamismo interno”, que não depende somente, nem primariamente, de ações externas; não se trata de um sistema de pensamento, mas de uma característica concreta que o natural possui e que é difícil expressar de modo distinto.

Pág. 154 –

Os conhecimentos atuais sobre a composição da matéria mostram que as explicações da natureza proporcionadas pelo mecanicismo e pelo energitismo são demasiado parciais: só representam alguns aspectos da natureza, omitindo outros.

Qualquer representação fidedigna na natureza deve incluir os dois aspectos, o dinâmico e o estrutural, estreitamente relacionados sem serem redutíveis um ao outro.

A matéria encontra-se estruturada em diferentes níveis de organização, como conseqüência do dinamismo dos seus componentes.

11.3 Problemas filosóficos relacionados com a física quântica

Pág. 155 –

Quando se trata de enunciados que superam as possibilidades do conhecimento ordinário, é óbvio que a sua validade deve ser apreciada mediante os métodos específicos da ciência correspondente. [...] os métodos e resultados da física pressupõe a existência de uma realidade exterior, diferente do pensamento do físico, e que nela se dá uma ordem natural, de acordo com leis objetivas, de modo que tudo o que ocorre tem uma causa que o provocou.

Pág. 157 –

[...] problema filosófico acerca do indeterminismo na natureza, que surgem por causa da física quântica. No entanto, isso tudo não afeta a afirmação do realismo e da causalidade, estritamente filosóficas e que devem ser aceitas para que a física tenha sentido.

12. Unidade e ordem no universo

Examinaremos [...] alguns aspectos e conseqüências da cosmovisão científica atual.

12.1 Unidade de composição e dinamismo nos sistemas naturais

A unidade da natureza é um dos aspectos que mais sobressai na cosmovisão atual e se manifesta, em primeiro lugar, na unidade de composição das entidades naturais.

Pág. 158 –

[...] os componentes básicos das entidades naturais são os mesmos: as entidades microfísicas (partículas subatômicas, átomos, moléculas).

Mecanicismo ou

energetismo

O natural possui um dinamismo próprio

Ou dinamismo interno

Explicações atuais sobre a

composição da matéria

Representação fidedigna da

matéria

Estruturação da matéria

Enunciados que superam as

possibilidades do conhecimento

ordinário Validade

Sentido filosófico do

realismo e da causalidade

Aspectos

Unidade da natureza

Composição

Componentes básicos

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Os componentes microfísicos não podem ser representados como porções de matéria imutável ou inerte.

Há, [...] unidade e dinamismo, porque as leis dos níveis básicos continuam a atuar nos níveis de maior organização.

A unidade de composição e de dinamismo são dois aspectos da unidade da natureza em seu duplo aspecto dinâmico e estrutural.

Pág. 159 –

12.2 O universo

A natureza não é um simples conjunto de seres heterogêneos. Uma das suas características mais notáveis é a unidade. Não existe somente uma unidade de composição e de dinamismo; existe, além disso, uma unidade de tipo superior, que nos permite falar do universo como um grande sistema.

a) A noção de cosmos ou universo

Os antigos contemplaram o mundo como um cosmos ou universo, ou seja, não como um simples agrupamento de seres, mas como uma unidade baseada na cooperação dos diferentes fatores e numa hierarquia na qual a pessoa humana ocupava o lugar mais alto.

[...] a Terra não é, como se afirmava na Antigüidade, o centro do universo, mas um planeta submerso na sua imensidão. O segundo provém das teorias evolucionistas, segundo as quais o homem seria um animal a mais entre outros, um resultado das leis naturais através do processo da evolução biológica.

Pág. 160 –

Neste sentido, existe uma ordem absoluta no universo, que é a ordem hierárquica. A pessoa humana encontra-se no topo de toda a natureza; somos seres naturais que, ao mesmo tempo, transcendemos a natureza: somos seres naturais que se elevam essencialmente acima da natureza através do conhecimento intelectual, da vontade e da liberdade.

b) Finitude e infinitude do universo

Na Antigüidade grega, a finitude relacionava-se com a perfeição, de maneira que esta finitude seria um aspecto da perfeição do universo.

Pág. 161 –

No que se refere ao tempo, os modelos do universo que receberam cada vez mais aceitação entre os cientistas a partir da segunda metade do século XX contemplam o universo com uma idade limitada, calculada em torno de quinze bilhões de anos. O universo parece ter uma história e uma evolução a partir de uma origem no tempo.

Do ponto de vista filosófico, o universo é finito porque é um conjunto de criaturas limitadas. Em sentido estrito, apenas Deus pode ser infinito. A eternidade de Deus não é uma duração ilimitada: Deus encontra-se fora do tempo e o tempo não existe independentemente do universo.

Pág. 162 –

12.3 Cosmos físico e mundo humano

Componentes microfísicos

Unidade e dinamismo

Aspectos da

unidade da natureza

Característica da natureza é a sua

unidade Universo

Antigos contemplaram o

universo Hierarquia

A terra não é o

centro do universo O homem é um

animal –evolução.

Ordem absoluta no universo

Ordem hierárquica Pessoa humana

No topo.

Antigüidade grega e finitude

Modelos do universo – idade

limitada História e evolução

Filosofia e a finitude do universo

Criatura limitadas

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A natureza proporciona as condições necessárias para a existência e para o desenvolvimento das potencialidades da pessoa humana. [...] com o homem, chegamos a um nível essencialmente superior ao que tem o resto da natureza, com a qual o homem se encontra profundamente ligado.

a) A Terra como ecossistema da vida

[...] hipótese Gaia – proposta por James Lovelock -, dever-se-ia considerar a biosfera como um autêntico sistema unitário, um verdadeiro organismo. Sem necessidade de adotar uma posição tão radical, os avanços das ciências põem em relevo que a unidade existente entre os diferentes níveis e indivíduos que compõem a natureza é muito mais forte do que as aparências indicam.

Pág. 163 –

b) Ecologia e movimento ecológico

A ecologia é uma disciplina científica que estuda os ecossistemas, sistemas naturais que abarcam um conjunto de viventes que formam certa unidade de interdependência.

O conceito de ecossistema é muito amplo, podendo ser aplicado a uma enorme quantidade de sistemas diferentes: desde um açude ou um bosque até a biosfera em seu conjunto.

Pág. 163/164 –

[...] diferentes motivos para promover o respeito à natureza: um teórico e outro prático. O motivo teórico fundamenta-se na unidade que há entre todos os seres da natureza: o sentimento de que somos parte da natureza conduz a uma atitude de respeito compatível com a sua utilização racional para as necessidades humanas, [...] respeito pode relacionar-se com uma atitude religiosa, [...]. O motivo prático relaciona-se com os inconvenientes que surgem, na atualidade e para as gerações futuras, se os recursos naturais forem utilizados de modo irresponsável.

Pág. 164 –

Do ponto de vista da cosmovisão científica atual e do seu impacto filosófico, a perspectiva ecológica encontra sério apoio na unidade da natureza e na interdependência mútua dos seus constituintes.

12.4 A nova cosmovisão

[...] aspectos da cosmovisão atual, [...] o lugar central da emergência da auto-organização na gênese da natureza, da continuidade e do gradualismo dos diferentes níveis naturais e a unidade de composição e de dinamismo nos sistemas naturais.

Pág. 165 –

a) Teorias do caos, da complexidade e da auto-organização.

[...] avanços mais significativos da ciência contemporânea que costumam ser resumidos sob o título de complexidade.

Uma das idéias mais importantes das teorias do caos é a que – ainda se tratando de sistemas que seguem leis deterministas – a sua evolução é intrinsecamente imprevisível: só se poderia examinar a posição do sistema num futuro distante se as

Natureza e as potencialidades

humanas Superiores

Hipótese Gaia – proposta por James

Lovelock Biosfera – sistema

unitário

Ecologia e ecossistemas

Viventes

Ecossistema Enorme quantidade

de sistemas

O respeito à natureza

Unidade entre todos os seres e sua

interdependência Sobrevivência

planetária

Perspectiva ecológica apóio em

função da vida

Cosmovisão atual Auto-organização

Da natureza

Ciência e complexidade

Teoria do Caos

No determinismo há Imprevisibilidade

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condições iniciais fossem conhecidas com total precisão, o que é impossível segundo o princípio de indeterminação da mecânica quântica.

[...] estas teorias apontam para um cosmovisão na qual a emergência de novidades é a conseqüência de processos de auto-organização impossível de serem reduzidos a ações de tipo determinista.

Pág. 166 –

A idéia de auto-organização desempenha um papel central na cosmovisão atual. Auto-organização corresponde à formação de estruturas como resultado do desenvolvimento de dinamismos naturais.

A novidade atual radica no fato de se conhecerem muitos fenômenos de cooperação nos níveis da física e da química e de se conhecerem cada vez com mais profundidade as bases físico-químicas dos fenômenos biológicos.

b) Cooperação, sutileza e informação.

A integração dos níveis manifesta que existe uma cooperação entre todas as entidades naturais e entre os diferentes níveis. [...] exemplo, o nível biológico necessita dos níveis físico e químico para a sua composição interna, do geológico para o seu hábitat e do astrofísico como fonte de energia.

[...] outro aspecto da natureza com grande importância para avaliar a sua perfeição: a sutileza da organização. Com efeito, em cada nível existem processos muito específicos que se desenvolvem em passos coordenados e possibilitam a organização singular do nosso mundo.

Pág. 167 –

[...] a organização da natureza corresponde a uma informação que se codifica e armazena estruturalmente, se desenvolve, se combina e se integra.

[...] a organização da natureza mostra a existência de uma racionalidade que, além do mais, é muito sofisticada.

c) Fatores aleatórios na natureza

Tanto a ordem como a desordem são conceitos relacionais, definidos em cada caso de acordo com critérios particulares. A ordem da natureza não é absoluta. [...] A mistura de ordem e desordem (relativos) é a norma geral nos diferentes níveis da natureza.

Pág. 168 –

As forças naturais não são forças simplesmente cooperativas. Em muitos casos opõem-se e dão lugar a dinamismos concorrentes. A ordem resultante depende das forças que prevalecem e, em geral, de como os dinamismos se integram em cada caso.

[...] há na natureza, acaso, entendido como coincidência de causas independentes (não nos referimos aqui à providência divina, que se encontra em outro nível e se estende a tudo, porque Deus é a Causa primeira do ser de tudo o que existe).

Pág. 169 –

Indeterminação Quântica

Emergência de novidades e

processos de...

Auto-organização Estruturas Dinâmicas

Fenômenos de

cooperação física e química

Integração entre os níveis cooperação entre as entidades

naturais

Natureza sutileza da organização

processos específicos

Organização E informação

Organização e Racionalidade

A ordem da natureza

não é absoluta

Forças naturais Dinamismos concorrentes Em interação

Há na natureza Acaso - Causas Independentes

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[...] compreender [...] que a natureza possui uma organização muito sutil e sofisticada, não esquecemos a existência de muitos aspectos que, sob determinados pontos de vista, são desordenados ou casuais.

d) A singularidade da ordem natural

Pág. 169/170 –

Um problema [...] surge quando perguntamos se a natureza é específica num sentido mais restrito, que significa algo muito singular ou um caráter excepcional.

Pág. 170 –

A singularidade da Terra refere-se à ocorrência de algumas condições muito ajustadas, que tornam o desenvolvimento dos viventes possível; bastariam pequenas mudanças em algumas destas condições para que a vida, tal como a conhecemos, se torne inviável.

Pág. 170/171 –

O nível biológico é ainda mais singular. Neste caso, a singularidade não se refere apenas aos tipos de viventes, mas à própria existência da vida. Uma só célula é algo muito mais complexo e organizado que qualquer entidade do nível físico-químico; os organismos mais desenvolvidos são, de longe, as entidades mais complexas do nosso universo.

Pág. 171 –

[...] no caso do homem, a singularidade chega a ser enorme. A vida humana só é possível dentro de um âmbito muito estreito de condições e o organismo humano tem um caráter enormemente singular.

[...] podemos concluir que o nosso mundo é muito simples quanto à sua composição e leis básicas, muito repetitivo nas macroentidades do nível astrofísico, muito singular no que se refere ao nosso hábitat imediato e enormemente sofisticado na organização dos viventes e, especialmente, do homem.

Mesmo supondo que não existem outros seres inteligentes em todo o universo e supondo que as condições que tornam possível a nossa vida sejam o resultado de processos evolutivos, a existência de bilhões de galáxias e estrelas seria um agasto simples e baixo e talvez imprescindível para que pudessem desenvolver todos os processos necessários à nossa existência.

Pág. 173 –

CAP. V – O SER DO NATURAL

O dinamismo natural não é isolado: sua existência e seu desenvolvimento encontram-se intimamente relacionados com a estruturação espaço-temporal.

Pág. 174 –

13. Níveis de compreensão da natureza

13.1 Análise científica e reflexão metafísica

a) A perspectiva científica

Organização Sutil e

desordenados

A natureza é específica

Terra condições ajustadas –

desenvolvimento. Possível

Nível biológico Singular

Existência da Vida –

complexidade

A vida humana só é possível em certas

condições

Simplicidade na composição físico-

químico e complexo no nível

Biológico

A existência da vida e

de bilhões de galáxias é algo

inexplicável

Dinamismo natural Espaço e tempo

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A ciência experimental consolidou-se no século XVII adotando um método que suponha renunciar ao conhecimento das essências, substituindo-o por uma perspectiva que combina a matemática e a experimentação.

Os problemas relativos ao alcance das ciências surgem por três motivos principais. Em primeiro lugar, o recurso à matemática parece limitar o conhecimento científico aos aspectos quantitativos; [...]. Em segundo lugar, a validade das teorias científicas é comprovada mediante dados experimentais que se referem a condições concretamente factíveis; [...].

Pág. 175 –

Em terceiro lugar, tanto para formular as teorias como para apresentar e interpretar os experimentos, é necessário recorrer às nossas construções que, ao menos em parte, são convencionais e revisáveis.

Quando se dispõe de construções cuja formulação e comprovação são rigorosas, de acordo com os critérios expostos, pode-se afirmar que correspondem à realidade e que, portanto, são verdadeiras. [...] esta correspondência não significa ser uma réplica exata da natureza. Trata-se de uma verdade contextual teórico e experimental que nós definimos e que supõe a adoção de pontos de vista particulares.

Pág. 176 –

[...] a perspectiva científica exclui deliberadamente as dimensões que não possam se relacionar com o controle experimental. Assim, excluem-se do seu âmbito as dimensões ontológicas, que se referem ao modo de ser do natural, e as dimensões metafísicas, relacionadas com o fundamento radical da natureza, com as leis gerais do ser e com o espírito e a liberdade da pessoa humana.

b) A perspectiva da filosofia da natureza

O positivismo do século XIX e o neopositivismo do século XX tentaram reduzir todo conhecimento válido ao da ciência natural, e concebiam as leis científicas como simples relações entre fenômenos observáveis. [...] Em cada passo da atividade científica necessitamos de criatividade, interpretações e valorações. [...] Na ciência busca-se um conhecimento autêntico da natureza, mas este objetivo não pode ser alcançado mediante procedimentos automáticos.

Pág. 177 –

[...] a reflexão filosófica é necessária, antes de tudo, para a avaliação do conhecimento científico. [...] A reflexão filosófica também é necessária se se deseja formular uma cosmovisão, ou seja, uma representação da natureza na qual se refletem as suas características fundamentais. [...] imprescindível quando se abordam os problemas ontológicos, referentes às características básicas do modo de ser da natureza.

13.2 A compreensão metafísica do natural

a) Unidade e pluralidade

Pág. 178 –

b) Dinamismo e interação

Ciência experimental Século XVII

Problema do

alcance das ciências Quantitativos

Dados experimentais

Teorias construções

convencionais

formulações rigorosas –

correspondem à realidade

verdade contextual teórico experim.

Perspectiva científica exclui

deliberadamente Dimensão ontológica

Positivismo e neopositivismo redução de todo conhecimento

válido ao da ciência natural

Reflexão filosófica é necessária antes

de tudo para a avaliação do

conhecimento científico

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A natureza é um mundo de interações e o que é aparentemente estático corresponde aos estados de equilíbrio.

O ser e a atividade do natural encontram-se enraizados em condições materiais e realizam-se no espaço e no tempo.

c) As quatro causas e a concausalidade

Pág. 179 –

[...] as causas material e formal referem-se à sua composição e modo de ser, a causa eficiente ao seu dinamismo e a causa final à sua direcionalidade.

14. Condições materiais e determinações formais

Os conceitos de matéria e forma foram empregados desde a Antigüidade, sobretudo por Aristóteles, para expressar o modo de ser do natural.

14.1 Dimensões de tipo material na natureza

Pág. 180 –

a) Extensão, duração e mutabilidade

Dimensões materiais são as próprias da estruturação espaço-temporal. [...] a extensão – base da estruturação espacial -, a duração – base da estruturação temporal – e o movimento – que relaciona o espacial e o temporal -.

Em primeiro lugar, todo o material possui uma extensão e, portanto, uma magnitude.

Em segundo lugar, o material implica duração, ou seja, uma extensão ou dispersão temporal. [...] os processos naturais têm uma duração e, portanto, uma magnitude temporal.

Pág. 181 –

Em terceiro lugar, a materialidade implica movimento. Qualquer ser material pode mudar e, ordinariamente, está submetido a mudanças contínuas, ainda que às vezes sejam quase imperceptíveis. [...] Todo ser natural está submetido ao devir. [...] mutabilidade como característica fundamental dos seres materiais.

b) O conceito de matéria

Em sentido adjetivo, uma coisa é “matéria” se possui dimensões materiais: extensão, duração e mutabilidade (e as demais relacionadas com estas).

[...] não existem seres que sejam somente um conjunto de dimensões materiais, porque estas dimensões não têm uma existência própria: são dimensões materiais de sujeitos que possuem modos de ser específicos, não redutíveis a estas condições.

Pág. 182 –

[...] a materialidade não possui um ser próprio, ou seja, não existe nenhum ser puramente material. [...] A extensão, a duração, a mutabilidade e as demais condições que se relacionam com elas, só podem existir como aspectos do modo de ser.

Pág. 183 –

Natureza mundo de interações

Ser e a atividade

natural

Causas material e formal

Matéria e forma Aristóteles

Dimensão material

Espaço-tempo

Material = extensão

Material implica duração

Extensão

Materialidade implica movimento

Mudanças contínuas

Matéria dimensões materiais

Dimensões

materiais não redutíveis

A materialidade não possui um ser

próprio

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[...] se se deseja delimitar o que as ciências dizem acerca da “matéria”, é imprescindível precisar os diferentes usos deste conceito e advertir os equívocos aos quais se presta de fato.

No âmbito filosófico, o conceito de matéria freqüentemente conduz a equívocos ainda maiores, porque se costuma atribuir-lhe um significado dependente do mecanicismo cartesiano: identifica-se a matéria, por um lado, com as condições materiais e, além disso, com as substâncias naturais; despoja-se o natural, portanto, do seu dinamismo próprio. [...] mecanicismo [...] idéia de “matéria” costuma ser utilizada como sinônimo de “matéria inerte”, carente de dinamismo próprio: [...].

c) Matéria primeira e segunda

[...] etimologicamente, o termo “matéria” relaciona-se com a mãe (“mater”) que proporciona os elementos a partir dos quais se forma um novo ser. Na filosofia aristotélica, o conceito de matéria significa, em geral, aquilo do qual algo está feito.

Pág. 184 –

Se as mudanças ocorridas na natureza são verdadeiras mudanças, e não uma sucessão de criações e aniquilamentos, para explicar as mudanças é necessário admitir que em todas elas há um substrato permanente que inicialmente carece da forma adquirida mediante a mudança. [...] Através da mudança acidental, uma substância adquire determinações acidentais, chega a ser isto ou aquilo; o substrato que permanece é a substância (não muda seu modo de ser essencial, mas muda acidentalmente): [...].

Na mudança substancial, uma nova substância é produzida; embora esta mudança suponha mudanças acidentais (de configuração, aumento, subtração, composição e alteração), através delas produz-se um novo ser: [...] aqui deve existir um substrato porque há continuidade entre o ponto de partida e de chegada, e se não houvesse um substrato comum a ambos, não existiria uma transformação, mas uma sucessão de aniquilamentos e criações.

[...] “matéria prima” [...]. Há três passagens em que Aristóteles o precisa.

Pág. 185 –

[...] primeira, [...] “Chamo, com efeito, matéria ao primeiro sujeito de cada coisa e de cada ser, a partir do qual, como de um elemento constitutivo, se faz ou vem a ser algo, e não de maneira acidental”. [...] um fator essencial da constituição das substâncias. [...] neste contexto, a matéria é o substrato último da mudança.

Aristóteles [...] “entendo por matéria o que, em si, não é nem algo, nem quantidade, nem nenhuma coisa das que determinam o ente. Pois é algo do que se predica cada uma destas coisas, e cujo ser é distinto do de cada uma das categorias (pois todas as demais coisas predicam-se da substância, e esta, da matéria); de sorte que o último não é, em si, nem algo, nem quanto, nem nenhuma outra coisa; nem tampouco as suas negações, pois também estas serão acidentais”. [...] a matéria é um sujeito indeterminado ao qual não se podem atribuir determinações concretas.

[...] Aristóteles sublinha que a matéria prima é o sujeito último do que as coisas se compõem: [...].

Pág. 185/186 –

Os diferentes usos do conceito de

matéria

Âmbito filosófico Conceito de matéria

equívocos que provém de Descartes

Mecanicismo

Matéria = mãe elementos para o

novo ser

Se existem verdadeiras

mudanças na natureza é

necessário que exista nela um

substrato..

Mudança substancial – nova

mudança Novo ser

Continuidade entre ponto de partida...

Aristóteles

Matéria é o substrato

último da mudança do ser

Aristóteles

Matéria é aquilo que em si, não é nem algo, nem quantidade nem

das que determinam O ente...

Matéria prima é o

sujeito último...

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[...] a matéria prima aristotélica apresenta-se como um substrato último relacionado com a composição dos corpos e com a mudança substancial. [...] A tudo isso se acrescenta que tem um caráter potencial; é pura potencialidade, precisamente porque carece de determinações e por ser sujeito de diferentes atos.

Pág. 186 –

É possível interpretar a matéria primeira como equivalente à materialidade dos corpos. Com efeito, não é um componente físico determinado, mas expressa o caráter básico que todos os entes materiais têm em comum.

[...] a materialidade pura não existe isolada: existem somente entidades que têm um ser realizado em condições materiais.

[...] a matéria prima designa as “condições materiais” nas quais os seres naturais existem. [...] a “materialidade” designa simplesmente o modo de ser do que existe neste tipo de condição.

[...] ao falarmos da matéria prima referimo-nos a um modo de ser, um modo de ser comum a todos os entes naturais.

Pág. 187 –

[...] a materialidade é um modo de ser que pertence essencialmente aos entes naturais (aspecto constitutivo); é o âmbito no qual se produzem as transformações materiais [...].

[...] noção de “matéria segunda” refere-se ao substrato das mudanças acidentais, ou seja, à substância. [...] os acidentes são determinações do sujeito e, portanto, quando acontece uma mudança acidental, o sujeito muda; mas não muda essencialmente o seu modo der ser, não se transforma num outro tipo de substância: muda acidentalmente. Nas mudanças acidentais, a substância muda, mas só acidentalmente.

[...] a “matéria segunda” é uma substância natural, uma entidade que possui um modo de ser e certas virtualidades específicas não redutíveis às condições materiais. [...] não existem substâncias puramente materiais, pois a materialidade não é um modo de ser completo: expressa somente umas dimensões do modo de ser do natural.

Pág. 189 –

d) Características do natural

Em primeiro lugar, as condições materiais relacionam-se com a potencialidade, porque todo o material é mutável: pode transformar-se não só acidentalmente, mas também substancialmente. Neste sentido, afirma-se que a matéria é princípio da passividade, pois implica a possibilidade de receber novas determinações.

Em segundo lugar, costuma-se dizer que a matéria é o princípio de individuação nas substâncias naturais. [...] quando se fala da matéria como “princípio de individuação”, fala-se da individualidade numérica dos seres naturais. Cada substância tem o seu princípio, repetível em diferentes indivíduos: responde a um “tipo” genérico.

Pág. 190 –

Matéria prima

aristotélica substrato último Composição...

Matéria prima e materialidade dos

corpos...

Materialidade pura não existe...

Matéria prima

Condições materiais O modo de ser...

Matéria prima e

modos de ser

A materialidade é um modo de ser essencialmente

Matéria segunda

substrato das mudanças acidentais Acidentes

determinações

A matéria segunda é uma substância

natural – um modo de ser e certas virtualidades

Condições materiais relacionam-se com

a potencialidade Material é mutável

Matéria é o princípio da

individuação nas substâncias

naturais

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[...] ao se falar da matéria como princípio de individuação, é comum acrescentar que se trata da “matéria determinada pela quantidade” (materia quantitate signata). Assim, sublinha-se que não se trata das condições materiais indeterminadas, mas determinadas em uma quantidade concretizada espacial e temporalmente.

Em terceiro lugar, diz-se [...] que a matéria implica contingência, ou seja, ausência de necessidade. [...] porque o material é mutável e, [...] está submetido a circunstâncias que podem provocar mudanças. [...] porque esta mutabilidade se estende inclusive à essência dos seres materiais, que podem deixar de ser o que são e se transformarem em outros seres diferentes. Na perspectiva aristotélica, a individuação material também representa um caminho que permite aos seres materiais imitar os incorruptíveis, porque um mesmo modo de ser pode perpetuar-se através da multiplicação numérica. [...] é evidente que a autoconsciência e a liberdade supõem um modo de ser que transcende as condições materiais.

Em quarto lugar, a materialidade relaciona-se com a existência do imprevisto na natureza. [...] facilmente ocorrem mudanças nas condições materiais e, assim, introduz-se certo acaso que se opõe à regularidade perfeita.

Pág. 191 –

Em quinto lugar, a materialidade implica, por um lado a existência de limites ao nosso conhecimento, e por outro, a possibilidade de um conhecimento mensurável e controlável. No primeiro sentido, Aristóteles afirma que “a matéria enquanto tal é incognoscível”. [...] A materialidade expressa condições exteriores, [...] essas condições não são cognoscíveis por si mesmas, mas mediante a atividade que se desenvolve através delas. [...] ainda que a exterioridade possibilite o conhecimento sensível [...] também impõe limites: só conhecemos imediatamente aqueles aspectos da natureza que são acessíveis aos órgãos dos nossos sentidos; [...] os demais aspectos, devemos recorrer a procedimentos indiretos.

[...] a materialidade proporciona a base para a enumeração e o estudo matemático da natureza. Refere-se a dimensões com uma magnitude espaço-temporal e que, portanto, podem ser divididas, somadas, submetidas a cálculo.

Pág. 192 –

A materialidade torna possível, afinal, a experimentação. [...] porque seu comportamento manifesta-se através de uma atividade regular, não livre.

14.2 Dimensões de tipo formal

a) Configuração, consistência e sinergia

Pág. 192/193 –

As dimensões formais, [...] referem-se á coerência interior, à unidade: a configuração reflete a unidade espacial dos componentes, a consistência relaciona-se com a manutenção da unidade através dos processos temporais, e a sinergia expressa a cooperação dos diferentes componentes e processos.

Pág. 193 –

Configuração é estruturação espacial; define-se como a disposição das partes que compõem uma coisa e lhe dão sua aparência própria. [...] A configuração (dimensão formal) corresponde à extensão (dimensão material) e complementa-se com ela: se

Matéria como princípio de individuação

A matéria implica

contingência Ausência

De necessidade O material é

mutável Perspectiva aristotélica

Individuação...

Materialidade e existência do imprevisto

A materialidade Implica por um lado

a existência de limites ao nosso conhecimento

A possibilidade de um conhecimento

mensurável e controlável

Materialidade e

estudo matemático da natureza

Materialidade e experimentação

Dimensões formais Coerência interior

Configuração Consist./Sinergia

Configuração Estruturação

Espacial

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existisse somente extensão, o natural reduzir-se-ia a uma multiplicidade desconexa de partes distendidas no espaço; [...].

Consistência relaciona-se com duração temporal; define-se como duração estável. [...] A consistência (dimensão formal) corresponde à duração (dimensão material). Não existe uma consistência absoluta na natureza: tudo está submetido ao desgaste, às interações, à divisão.

Sinergia refere-se á organização espaço-temporal; significa cooperação. A organização dos sistemas naturais depende da cooperação dos componentes numa unidade funcional.

Pág. 194 –

b) Significados do conceito de forma

[...] o formal sempre existe em condições materiais, [...] o natural é material; mas devemos nos referir à espiritualidade humana: a pessoa humana pertence à natureza, mas, ao mesmo tempo, a transcende.

[...] a “formalidade” refere-se às determinações peculiares do modo de ser: ser átomo, proteína, animal, branco, condutor elétrico, etc.

[...] o formal e o material estão interpenetrados, entrelaçados, formando uma realidade unitária. [...] Somente uma realidade completa subsiste com um ser próprio: a substância individual, que possui determinações formais que existem em condições materiais.

Pág. 195 –

[...] enquanto as condições materiais são genéricas e, em certo sentido, comuns a todos os seres naturais (extensão, duração, movimento), as determinações formais são particulares e específicas. [...] falamos condições no caso material, e determinações no âmbito formal.

[...] as formas substanciais e acidentais dos entes materiais não são entes completos, não possuem uma subsistência própria, não são sujeitos em sentido estrito; [...].

c) Forma substancial e acidental

Pág. 196 –

[...] sentido muito mais amplo, que designa qualquer determinação dos modos de ser. Assim, se se trata de um modo de ser substancial, fala-se de “forma substancial”, e se se trata de acidentes, de “forma acidental”.

[...] à “matéria prima” corresponde a “forma substancial”, e à “matéria segunda” as “formas acidentais” [...].

Na filosofia aristotélica, afirma-se que a forma substancial é ato essencial das espécies naturais. [...] Matéria e forma não são entes completos nem partes físicas; são princípios que se comportam como potência e ato: a matéria prima é o princípio potencial e indeterminado, e a forma substancial é o princípio atual e determinante.

A forma substancial refere-se ao modo de ser unitário da substância e ao conjunto de possibilidades de atuar que corresponde ao modo de ser. É ato, energia, natureza ativa.

Extensão e multiplicidade

Consistência e

duração temporal Não existe

consistência...

Sinergia – cooperação espaço-

temporal

O formal sempre existe em condições

materiais

Formalidade determinações

O formal e o material estão

interpenetrados Entrelaçados

Condições materiais são genéricas

Comuns a todos os seres naturais

Formas substanciais

e materiais

Modo de ser substancial e

acidental

Matéria-prima e forma substancial

Filosofia

aristotélica Forma substancial é

ato essencial.

Forma substancial modo de ser

unitário

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[...] forma substancial corresponde ao conceito e à definição da substância: à idéia que expressa o modo de ser específico de cada substância.

Pág. 197 –

[...] a forma substancial é um princípio real, o princípio determinante da essência das substâncias materiais; que matéria e forma são co-princípios da essência, como princípio potencial e atual respectivamente; e que a idéia ou definição de uma essência deverá incluir uma referência a ambos co-princípios.

Na perspectiva aristotélica, a forma substancial é a “responsável” pela estruturação unitária das substâncias, pelo seu modo de agir e pelas suas tendências.

A forma substancial aristotélica corresponde a um aspecto central da realidade: o modo de ser característico de cada tipo de substâncias.

Os acidentes são determinações de um sujeito substancial, de uma substância individual.

As formas acidentais comportam-se como ato com relação à substância, que está em potência relativamente a elas. São determinações, modos de ser acidentais e, portanto, referem-se a ser em ato.

Pág. 198 –

d) Características das formas

Em primeiro lugar, a forma relaciona-se com o ser. [...] a forma é um ens quo, ou seja, um ente pelo qual algo é ou tem o ser ou tem um determinado modo de ser. [...] as formas não existem por conta própria. O que existe são as substâncias individuais, que possuem um modo de ser especialmente determinado (forma substancial) que se realiza em condições materiais (matéria prima).

Enquanto as formas são determinações do modo de ser pode-se dizer que os entes têm o ser “através” das formas. [...] O que tem o ser, age e se transforma, é a substância individual.

Pág. 199 –

[...] a forma dá o ser, embora seja preciso evitar as possíveis interpretações substantivas ou coisistas desta expressão.

A causa formal é a determinação do modo de ser.

[...] as formas não se geram nem se corrompem. A forma existe quando começa a existir o ente ao qual corresponde, e deixa de existir quando este ente se transforma em outro diferente.

Em segundo lugar, a forma relaciona-se com a estrutura.

[...] a estrutura dos entes materiais tem estreita relação com o conceito clássico de forma.

Pág. 200 –

Um sistema é mais que a justaposição dos componentes: possui propriedades que não existem nos componentes nem resultam da mera adição das

Forma substancial Modo de ser

Forma substancial é um princípio real Determinante da

essência

Aristóteles e a forma substancial

Estruturação

O modo de ser característico

Acidentes são determinações

Formas acidentais Ato com relação à

substância

A forma relaciona-se com o ser

A forma é o ente pelo qual é ou tem o

ser ou tem....

Formas são determinações do

modo de ser

A forma dá o ser

A causa formal

As formas não se

geram nem se corrompem

Forma e estrutura

Estrutura dos entes

materiais

Um sistema é mais que a justaposição..

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propriedades dos componentes; tem características teleológicas, já que existem leis estruturais que favorecem a estabilidade de determinados aspectos.

[...] ao falarmos de “estrutura”, referimo-nos à “organização” de um sistema, que abrange não só a estrutura espacial (configuração) mas também as dimensões temporais (processos cooperativos dos componentes do sistema).

Em terceiro lugar, as formas relacionam-se com os fins. [...] na natureza, pode-se dizer que a forma é o modelo segundo o qual se os entes naturais são produzidos. Na geração dos viventes, a forma do gerente é o princípio da geração dos viventes, de acordo com pautas determinadas, e, ao mesmo tempo, é o fim da geração, porque se produz um ser que tem a mesma forma específica do gerante.

Pág. 201 –

Esta relação entre forma e fim é importante pois mostra que a consideração das formas se encontra em estreita conexão com a dos fins.

Em quarto lugar, perguntamo-nos que tipo de necessidade corresponde às formas. Na filosofia aristotélica, atribui-se às essências e, portanto, às formas, certa necessidade e imutabilidade.

Todas essas dificuldades relacionam-se com a cosmovisão aristotélica, segundo a qual o mundo é eterno e também o são, de algum modo, as formas. As mudanças consistiriam em gerações e corrupções individuais dirigidas pelas formas e para as formas; [...] essa cosmovisão foi criticada pelos pensadores cristãos dos séculos XIII e XIV, e, [...]. Estas críticas referiam-se, sobretudo, à presumida necessidade e eternidade do mundo; frente ao aristotelismo, sublinhou-se então a contingência e a finitude temporal do mundo.

Pág. 202 –

[...] a partir de uma perspectiva metafísica criacionista, não só o mundo em seu conjunto, mas as entidades naturais concretas são contingentes.

A cosmovisão atual destaca a contingência das entidades naturais, que são resultados contingentes dos processos naturais; portanto, destaca também a contingência das formas.

[...] esta contingência não é contraditória com um conceito de natureza humana que permita afirmar a existência de dimensões morais estáveis. Com efeito, a moralidade relaciona-se com a existência de dimensões metafísicas na pessoa humana, e estas dimensões assentam-se sobre condições físicas concretas.

15. A Estrutura hilemórfica

Pág. 203 –

15.1 O hilemorfismo

Denomina-se “hilemorfismo” a doutrina aristotélica segundo a qual a essência das substâncias materiais é composta de matéria (hylé) e forma (morfé).

[...] Tampouco existe unanimidade quanto às interpretações destes sentidos5.

5 [...] Origen, concepto y funciones de la materia em el “Corpus Aristotelicum” [...].

Tem características teleológicas

Estrutura organização de um

sistema

As formas se relacionam com os fins – na natureza

pode-se dizer que a forma é o modelo

Relação entre forma e fim

Aristóteles

necessidade e imutabilidade

Cosmovisão aristotélica

O mundo é eterno e suas formas Mudanças

consistiriam em geração e ...

Metafísica criacionista

A cosmovisão atual

destaca a contingência

Contingência

E natureza humana Dimensões morais

estáveis

Hilemorfismo Aristóteles

Unanimidade ???

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[...] Afirma que a doutrina tradicional tem origem no Timeo platônico6: [...].

Pág. 204 –

Adiantamos que a interpretação tomista do hilemorfismo situa-se no marco de uma metafísica criacionista. Os conceitos tomistas foram tomados, em boa parte, de Aristóteles; [...].

15.2 Correlação e unidade do material e do formal

Pág. 205 –

[...] no mundo físico (entes materiais), matéria e forma exigem-se mutuamente e complementam-se. Não há matéria sem forma; [...]. Tampouco existe forma sem matéria: um ser puramente espiritual não pertence ao nível físico ou material.

[...] os conceitos de matéria e forma não se referem a “coisas”. [...] expressam “funções”. Isto significa que algo “desempenha o papel de” matéria em relação a uma forma ou de forma em relação a uma matéria. [...] as formas espirituais puras são determinadas pelo ato de ser [...].

[...] a correlação entre matéria e forma é a que se dá entre potência e ato. [...] forma indica determinação e, portanto, ato; ao contrário, potência significa algo indeterminado que é atualizado ou determinado pela forma.

Pág. 205/206 –

[...] matéria e forma constituem uma autêntica unidade: são como duas faces da mesma moeda, que correspondem à “exterioridade” e à “interioridade” dos seres naturais.

Pág. 206 –

O modo de ser essencial refere-se a umas determinações formais (forma substancial) que existem em condições materiais (matéria prima) e os modos de ser acidentais referem-se a determinações formais (formas acidentais) que afetam a uma substância (matéria segunda); [...].

[...] a forma “informa” a matéria, determina-a, atualiza-a (note-se, quando utilizamos esta linguagem substantiva, deve-se interpretar com os matizes aos quais aludimos anteriormente). [...] As instruções contidas nas diferentes entidades são “materializações” das leis.

15.3 Matéria e forma como causas

Na filosofia aristotélica, a matéria e a forma são consideradas como causas: a causa material e a causa formal.

Pág. 207 –

6 [...] Nestas passagens, Platão refere-se ao receptáculo que recebe todas as coisas e nunca toma nenhuma forma, acrescentado que é por natureza a matriz de tudo, é estruturado de diversas maneiras pelas coisas que lhe advêm, que se encontra fora de todas as formas, que é a mãe de tudo, invisível e sem forma, receptivo de tudo.

Timeo platônico

Interpretação tomista do

hilemorfismo

No mundo físico matéria e forma

Complementam-se

Os conceitos de matéria e forma não se referem a coisas Expressam funções

Correlação entre matéria e forma

ato e potência

Matéria e forma constituem

unidade

Modo de ser essencial refere-se a

determinação formal

A forma informa a

matéria determina-a atualizá-a

Aristóteles Matéria e forma

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Matéria e forma são causas enquanto “componentes” que constituem o natural: a matéria prima e a forma substancial constituem a essência das substâncias materiais; [...]. Se por “causa” se entende aquilo que influi no ser do efeito, deve-se afirmar que matéria e forma são causas em sentido próprio, pois constituem o modo de ser das substâncias naturais.

[...] matéria e forma são causas “intrínsecas” ou interiores, porque se referem ao modo de ser.

[...] o significado de causa material e formal refere-se à causalidade de dois “fatores” que são constitutivos intrínsecos das coisas e que relacionam como potência e ato.

Aristóteles expressou a unidade e a causalidade da matéria e da forma mediante uma afirmação muito explícita: “a matéria última e a forma são a mesma coisa, aquela em potência e esta em ato”.

Pág. 207/208 –

[...] o que possui um ser independente é a substância individual, cujo modo de ser consiste em umas determinações formais que existem em condições materiais.

Pág. 208 –

15.4 Valor do hilemorfismo

[...] matéria e forma são causas reais, intrínsecas, constitutivas da essência das substâncias naturais, [...].

[...] atualmente se favorece mais uma imagem da natureza na qual desempenham um papel central as pautas, o dinamismo, a organização e a informação. Esta imagem é plenamente coerente com o hilemorfismo.

Pág. 209 –

[...] noção de forma enquanto modo de ser que se repete em diferentes condições materiais individuais.

[...] a matéria prima, entendida como “materialidade”, refere-se, de modo geral, às condições materiais, [...].

15.5 Os graus do ser físico

Pág. 210 –

Se por “imaterialidade” entende-se esta acentuação das dimensões formais, pode-se sustentar a existência de uma escala ascendente de imaterialidade.

[...] a existência de dimensões espirituais requer, para a sua adequada explicação, uma causalidade que supere as possibilidades dos entes materiais. A exigência de uma causalidade transcendente não se dá apenas no caso da espiritualidade, mas também nos viventes inferiores.

15.6 Racionalidade materializada

Pág. 210/211 –

Matéria e forma são causas enquanto componentes que

constituem o natural Essência

Matéria e forma

causas intrínsecas

Causa material e formal

ato e potência

Aristóteles unidade e

causalidade

Ser independente Substância indiv.

Matéria e forma causas reais

Imagem atual da

natureza Dinamismo....

Forma enquanto modo de ser

Matéria prima materialidade

Imaterialidade Dimensões formais

Dimensões espirituais –

causalidade que supere entes....

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O hilemorfismo corresponde a diferentes níveis explicativos que, embora guardem certa relação entre si, não se identificam: o primeiro refere-se à mudança; o segundo, à constituição dos corpos; o terceiro, à multiplicidade de indivíduos entro de uma mesma espécie.

Pág. 211 –

[...] o hilemorfismo foi formulado para explicar a possibilidade da mudança. A necessidade de admitir um substrato em toda mudança parece evidente, pois, caso contrário, não seria possível falar de transformações, mas apenas de aniquilamentos e criações.

[...] aplica-se o hilemorfismo á construção dos corpos. Os corpos naturais são essencialmente mutáveis e, portanto, têm de possuir a composição de matéria e forma [...] explicam a possibilidade da mudança.

[...] o hilemorfismo explica a multiplicidade de indivíduos dentro de uma mesma espécie. Se os corpos são constituídos por matéria e forma, a forma refere-se ao que caracteriza cada espécie e a matéria às condições concretas nas quais este tipo geral existe.

Pág. 213 –

SEGUNDA PARTE

Pág. 215 –

CAP. VI – DIMENSÕES QUANTITATIVAS

O natural encontra-se distendido nas condições materiais, tem quantidade: extensão no espaço e duração no tempo.

16. As propriedades e relações das coisas materiais

Pág. 216 –

16.1 A manifestação da substância através de suas propriedades

[...] substância, que é o ente subsistente (possui “ser próprio”), os acidentes não subsistem, não possuem um ser próprio, são determinações da substância. Por exemplo, ser grande, pequeno, branco, resistente, [...].

[...] com relação à essência, que expressa o modo de ser fundamental de uma substância (ser homem, cachorro, magnólia, proteína, átomo), os acidentes não pertencem à definição essencial.

[...] os acidentes possuem muita importância no conhecimento da substância e da essência. [...] as substâncias e suas essências manifestam-se a nós através dos acidentes [...] não as conhecemos diretamente, mas só indiretamente e parcialmente através das propriedades acidentais.

Pág. 217 –

16.2 O quantitativo e o qualitativo

Na classificação aristotélica dos acidentes, a quantidade e as qualidades ocupam uma posição de destaque, pois são considerados acidentes intrínsecos, que se referem

Hilemorfismo Mudança

Constituição Multiplicidade

Hilemorfismo explicar a

possibilidade da mudança

Hilemorfismo e construção dos

corpos

Hilemorfismo Explica a

multiplicidade de indivíduos

O natural nas condições materiais

A substância subsiste – os

acidentes não...

Essência e

acidente

Acidentes importam no

conhecimento das substâncias

Acidentes quantidades e

qualidades

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diretamente ao modo de ser (acidental) das substâncias. [...] as substâncias materiais sempre são extensas e possuem qualidades que determinam o seu modo de ser.

a) O quantitativo

Todos os seres naturais estão qualificados, possuem dimensões quantitativas; magnitude, extensão, número. [...] o natural é material, e isto implica ter dimensões quantitativas: a materialidade caracteriza-se, precisamente, por sua referência a estas dimensões.

Pág. 218 –

b) O qualitativo

[...] “qualidade” [...] modo de ser de algo: quais são as suas características, as suas peculiaridades.

O dinamismo relaciona-se com os modos de ser: supõe a existência de algumas potencialidades ou capacidades de atuar que correspondem a modos específicos de ser.

c) relação entre quantitativo e qualitativo

No âmbito natural, o quantitativo e o qualitativo estão entrelaçados. Os entes naturais possuem estruturação espaço-temporal, dimensões quantitativas. Os modos de ser qualitativos não são qualidades puras, desligadas do quantitativo: [...].

Pág. 219 –

[...] e o modo de ser das substâncias depende das suas características quantitativas e qualitativas; e algo semelhante pode ser dito acerca das relações de uma substância com outras.

16.3 O quantitativo e o qualitativo no mecanicismo

Os atomistas gregos afirmavam que a natureza é determinada completamente por propriedades quantitativas como a extensão, a figura e o movimento local; o qualitativo corresponderia somente aos efeitos que a matéria causa nos órgãos dos sentidos e pertenceriam ao âmbito das impressões subjetivas. [...] os pitagóricos e, de algum modo, Platão, consideraram o quantitativo como constitutivo básico da natureza, de tal modo que o estudo matemático seria indispensável para se chegar a uma compreensão adequada do natural.

Pág. 220 –

O triunfo da nova ciência foi visto também como o triunfo da perspectiva mecanicista e quantitativa, que veio a ser a filosofia natural aceita pela maioria até fins do século XIX, [...].

Sob esta perspectiva, negou-se a realidade do que foi denominado de qualidades secundárias (os “sensíveis próprios”, objeto dos sentidos externos: cor, som, etc.), e sustentou-se que somente as qualidades primárias (as relacionadas com a quantidade: magnitude, figura, movimento) são reais.

Pág. 221 –

17. A extensão dimensional

Se referem ao Modo de ser

Seres naturais estão qualificados

O natural é material Dimensões

Qualidade – modo de ser de algo

Dinamismo

relaciona-se com modos de ser

Quantitativo e o qualitativo estão

entrelaçados

Modos de ser Quantitativo e

qualitativo

Atomistas gregos Natureza é

determinada por propriedades

quantitativas como a extensão a figura

e o movimento

Triunfo da nova ciência e o triunfo do mecanicismo

Afirmação das

qualidades primárias

unicamente

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A quantidade é um acidente intrínseco, que se encontra em todas as substâncias naturais, [...] tem como efeito ou manifestação principal a extensão, relacionada com as dimensões dos corpos.

17.1 A extensão como propriedade básica das substâncias naturais

a) Substância, matéria e quantidade

As substâncias naturais existem em condições materiais. Temos apresentado esta “materialidade” mediante o conceito básico de “matéria prima”, que concerne às condições materiais em geral.

A materialidade refere-se às condições espaciais, às temporais e à sua combinação no movimento.

Pág. 222 –

Quantidade, assim, é um acidente das substâncias naturais.

[...] todas as substâncias naturais possuem dimensões espaciais; se não as possuíssem, reduzir-se-iam a um ponto inextenso: [...] as substâncias naturais possuem também dimensões temporais; novamente podemos pensar em “instantes” sem duração, mas também neste caso, quando aplicamos o conceito de “instante” ao devir, trata-se de uma idealização da duração real. [...] quando falamos de “quantidade”, indicamos precisamente que as substâncias possuem um modo de ser que inclui estas dimensões: [...] um modo real de ser.

[...] a quantidade é um modo de ser acidental, um acidente.

Pág. 222/223 –

[...] ainda que a quantidade expresse um modo de ser acidental, é um acidente que afeta diretamente o modo de ser da substância e, justamente por se referir à concretização da materialidade, está presente em toda substância material.

Pág. 223 –

[...] a quantidade é o primeiro acidente das substâncias naturais. [...] caráter de “substrato” básico que a quantidade possui e significa que os demais acidentes afetam a substância “através” da quantidade.

b) A extensão

A idéia de extensão relaciona-se com a experiência sensível, sobretudo com a que provém da visão, da audição e do tato.

Pág. 224 –

17.2 O reducionismo cartesiano

Descartes reduziu a substância à extensão, pois a extensão era, segundo a sua perspectiva, a idéia clara e distinta que podemos ter da substância material. As qualidade, ao contrário, seriam efeitos produzidos no sujeito cognoscente como conseqüência da estrutura do seu modo de conhecer e não possuiriam a objetividade própria do quantitativo, [...].

Pág. 225 –

Quantidade é um acidente intrínseco

extensão.

As substâncias naturais existem em condições materiais

Materialidade e

movimento

Substâncias naturais e dimensões espaciais e temporais

Quantidade Modo de ser

Modo de ser

Quantidade modo de ser

acidental

Quantidade é o primeiro acidente das substâncias

A idéia de extensão Exper. Sensível.

Descartes reduziu a substância à

extensão, pois a extensão era

material

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Para Descartes, a substância corpórea reduz-se à extensão, toda mudança reduz-se ao movimento local e somente as figuras e os movimentos locais que possam ser objetos de tratamento matemático são propriedades reais dos corpos.

A redução mecanicista proporcionou a base para a negação de toda dimensão não quantitativa e apresentou-se como se estivesse assegurada pela ciência matemática da natureza, considerada o único caminho para conseguir conhecimentos autênticos sobre a natureza.

Pág. 226 –

17.3 Características do ente extenso

a) Continuidade

[...] a extensão refere-se à quantidade contínua. Uma substância tem uma unidade e tudo o que a compõe constitui uma continuidade.

Pág. 227 –

[...] heterogeneidade qualitativa ocorre entre as partes de uma mesmo substância – constituintes de uma unidade substancial – e não impede a existência de uma continuidade quantitativa, porque todas as partes juntas constituem o modo de ser unitário da substância.

b) Divisibilidade

[...] tudo o que é divisível.

[...] o material é extenso e, em tese, é sempre divisível, mesmo se, devido às condições físicas, não for mais possível continuar o processo de divisão.

Pág. 228 –

c) Mensurabilidade

A divisibilidade implica a mensurabilidade.

[...] mede-se o quantitativo, mas esta medida pode proporcionar informação, ainda que indireta, sobre os aspectos qualitativos associados ao quantitativo.

d) Individuação

O quantificado tem uma individuação que se deve precisamente à quantidade. Com efeito, tudo o que possui quantidade possui, automaticamente, individuação, porque é extenso e tem umas partes individuais fora de outras.

[...] expressão clássica [...] o princípio de individuação dos entes materiais é a matéria determinada pela quantidade (materia quantitate signata).

Pág. 229 –

18. A pluralidade física

[...] quantidade discreta, que se dá quando algo é divisível em partes descontínuas e, se este algo é finito, dá origem ao número e à quantidade numérica.

18.1 Unidade e multiplicidade

Substância corpórea reduz-se à Extensão

A redução

mecanicista negação dimensão

qualitativa

Extensão qualidade contínua

Heterogeneidade qualitativa

Partes de uma mesma substância

É divisível

O material é extenso

Mensurabilidade

Mede-se o quantitativo

Quantitativo tem uma individuação

É extenso

Princípio da individuação

Quantidades numéricas

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“Pluralidade” opõe-se a “unidade”, porque a pluralidade numérica refere-se a um determinado número de seres: não a um, mas a vários ou muitos. [...] Se não existisse a unidade própria de cada ser, tampouco poderia existir a pluralidade que enumera vários ou muitos seres.

A unidade transcendental é o caráter unitário que um ser possui, a sua unidade interna pela qual é precisamente “um” ser; [...].

Pág. 230 –

18.2 O número

O número é a medida da quantidade discreta (em grego, o termo corresponde a “número” é “métron”, que significa “medida”).

Pág. 231 –

Os números são abstratos, porque não representam nenhuma entidade concreta, mas um procedimento para contar as entidades e, eventualmente, para medir as quantidades contínuas.

18.3 O infinito quantitativo

Pág. 232 –

O infinito pode ser concebido como atual ou potencial. O infinito atual consistiria numa quantidade infinita existente em ato. O infinito potencial é uma sucessão quantitativa indefinida; cada uma de suas partes é infinita, mas há a possibilidade de continuar a sucessão indefinidamente.

A existência do infinito atual tem sido objeto de discussão desde a Antigüidade, especialmente em relação à extensão e à duração do universo. A cosmovisão antiga costumava representar o universo como finito e inclusive se pensava que a limitação era uma qualidade das coisas físicas perfeitas. [...] na época contemporânea, a teoria da relatividade propões um universo finito, mas ilimitado em sua extensão, e a cosmologia científica inclina-se mais por um universo formado a partir de um instante inicial, ainda que também se discuta a possibilidade de um universo com uma duração limitada, mas sem fronteiras temporais.

Pág. 233 –

[...] ainda que o universo fosse atualmente infinito no espaço e no tempo, não seria auto-suficiente: a auto-suficiência não é uma questão de magnitude, mas de uma ordem distinta de perfeição. [...] Tomás de Aquino [...] “Ainda que Deus criasse um ser corpóreo infinito em ato, este ser corpóreo seria infinito em sua quantidade dimensional, mas teria uma natureza necessariamente determinada em sua espécie, que seria limitada precisamente porque é uma coisa natural. E, conseqüentemente, não seria igual a Deus, cujo ser e essência é infinito em todos os sentidos”.

19. A quantificação no conhecimento científico

A ciência experimental apóia-se de modo muito especial nas dimensões quantitativas da natureza: [...].

Pág. 234 –

19.1 Matemática, experimentação e medição

Pluralidade Em oposição

Unidade

Unidade transcendental

Número medida da quantidade discreta

Os números são abstratos porque

não representam...

O infinito pode ser concebido como

atual ou potencial Ato e potência

Infinito em relação

a extensão e duração do universo Cosmovisão antiga

representava o universo como

finito Quantidades...

Universo infinito no espaço e no

tempo não seria auto suficiente

Ordem distinta

de perfeição

Ciência experimental

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19.2 As magnitudes físico-matemáticas

Tentamos conhecer a natureza, mas a natureza não fala; devemos, portanto, construir uma linguagem que nos sirva para interrogá-la, a fim de que nos responda em sua própria linguagem: os fatos.

Pág. 235 –

É usual distinguir três grandes tipos de conceitos científicos: os classificatórios, os comparativos e os quantitativos.

Pág. 237 –

[...] perceber que cada conceito tem um significado, que abrange as notas que lhe são atribuídas, e uma referência, que indica que tipo de entidade é representado pelo conceito.

Quando se estudam os conceitos básicos de uma disciplina, o problema se aguça por existirem – tanto o plano teórico como no experimental – limites para as possibilidades de definir.

Na fundamentação da ciência experimental, necessariamente devem intervir acordos, convenções ou estipulações. Entretanto, as estipulações necessárias para estabelecer os conceitos científicos não são arbitrárias.

Pág. 238 –

A construção dos conceitos científicos exige interpretações. Não é o simples resultado da aplicação da lógica formal a fatos puros.

19.3 Alcance do método físico-matemático

[...] critérios [...] a capacidade explicativa, a capacidade predicativa, a precisão das explicações e predições, a variedade de provas independentes e o apoio mútuo entre diferentes teorias. [...] critérios que se aplicam na prática científica.

Pág. 238/239 –

[...] considerar que a verdade científica sempre é contextual e, portanto, parcial.

Pág. 239 –

20. Filosofia da matemática

Pág. 240 –

20.1 Interpretação da matemática

Na Antigüidade grega, os pitagóricos perceberam que a natureza tem importantes aspectos que podem ser representados matematicamente e, assim, atribuíram ao número e à matemática um papel essencial na explicação da realidade. Esta linha foi, [...] continuada pelo platonismo, segundo o qual os objetos matemáticos eram considerados existentes num mundo ideal, do qual participam as coisas sensíveis. Para Aristóteles, a matemática é o estudo abstrato da quantidade que, embora exista no mundo físico, é considerado pela mente fora da matéria sensível.

Linguagem que nos permita falar com a

a natureza

Conceitos Científicos

Conceitos e seus

significados

Conceitos e seus limites de Definição

Fundamentação da

ciência experimental

Conceitos científicos

Critérios que se aplicam na prática

científica

Verdade científica

Antigüidade grega Pitagóricos natureza

pode ser representada

matematicamente Matemática e

realidade

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[...] ciência moderna no século XVII [...] Descartes chegou a identificar a substância material com a extensão, [...]. Galileu afirmou que a natureza é como um livro escrito em linguagem matemática.

Pág. 241 –

O intuicionismo, por sua vez, rechaçava o platonismo dos lógicos; negava que os entes matemáticos tivessem uma espécie de existência ideal própria e sublinhava que são o resultado das nossas construções mentais, motivo pelo qual também estava em desacordo com os formalistas: em última instância, seria preciso recorrer a certas intuições primitivas.

Pág. 242 –

20.2 Construção matemática e realidade

Pág. 243 –

[...] a matemática proporciona um instrumento extraordinário efetivo para ao estudo da natureza, mas para explicar este êxito não é necessário pensar que existe um isomorfismo entre a matemática e a natureza.

Pág. 245 –

[...] é precisamente o recurso a construções teóricas de alto nível, com o que implica de convencional, o que permite formular as teorias com um alto grau de intersubjetividade.

Ainda que a matemática não seja uma simples tradução da realidade, constitui um poderoso instrumento para estudar tudo o que pode se relacionar com os aspectos quantitativos e que fazem parte essencial da ciência experimental.

Pág. 247 –

CAP. VII – ESPAÇO E TEMPO

21. Localização e espaço

Pág. 248 –

21.1 A presença local

a) A noção aristotélica de localização

[...] cosmovisão aristotélica, segundo a qual a Terra permaneceria imóvel no centro do universo, afirmava-se que os quatro elementos (fogo, ar, água e terra) tendem para o seu “lugar natural” por sua própria natureza. A região natural do fogo é a parte superior do mundo sublunar, fronteiriça com os astros; a do ar é a região intermediária entre a anterior e a Terra; a da água encontra-se na superfície da Terra; e a do elemento “terra” encontra-se no centro da Terra. [...] Os corpos celestes, ao contrário, estariam feitos de uma matéria diferente dos quatro elementos (a “quinta essência”) e tinham uma perfeição superior, participando de algum modo do divino; [...].

Pág. 249 –

O que é relevante sob o ponto de vista das ciências não é estabelecer uma localização “absoluta”; o que interessam são localizações relacionadas a sistemas de referência.

Descartes substância e

extensão

Intuicionismo rechaçava o

platonismo dos lógicos

Entes matemáticos

Matemática e o estudo da Natureza

Construções teóricas de alto

nível

Matemática poderoso

instrumento

Cosmovisão aristotélica, a Terra

permaneceria imóvel no centro do universo, afirmava-

se que os quatro elementos (fogo, ar, água e terra) “lugar

natural”

Ciência e sistemas de referência

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[...] a idéia aristotélica de localização corresponde à experiência ordinária e expressa uma característica real das entidades naturais. Com efeito, encontrar-se em um lugar determinado é algo acidental, mas real.

Pág. 250 –

b) A localização como modo de ser acidental

[...] a dotação de um lugar [...] o que tradicionalmente se denomina “acidente ubi” (ou “onde”), refere-se a um modo de ser real, acidental e intrínseco, que consiste em uma determinação real em relação ás dimensões dos outros corpos.

É algo real, porque a localização supõe que um corpo se encontra em contato com as dimensões dos outros corpos.

É um modo de ser acidental, porque não afeta o modo de ser essencial da substância.

Além de real e acidental, é um modo de ser extrínseco, porque é predicado de um corpo em relação a outros.

Pág. 251 –

Os seres naturais existem em condições materiais e uma delas, muito importante, é a sua circunscrição em um lugar. Por sua própria natureza, o ente natural ocupa algum lugar.

c) Modos de presença não localizada

Em primeiro lugar, algo pode estar presente em outra coisa como a parte quantitativa no todo de que faz parte: assim, o coração está contido no corpo de um homem ou de um animal.

Pág. 252 –

Em segundo lugar, algo pode estar em outra coisa como um ato em seu sujeito. Por exemplo, pode-se dizer que o acidente está na substância deste modo, atualizando-a de um modo real ainda que não essencial.

Pág. 253 –

Em terceiro lugar, algo pode estar presente como um indivíduo que faz parte de um conjunto ordenado.

Em quarto lugar, algo está presente em tudo o que recai sob seu poder. [...] pode-se dizer que alguém com autoridade está presente de algum modo no que está sob seu poder.

Em quinto lugar, existe uma presença baseada na causalidade, pela qual a causa está no efeito que produz e o efeito está de algum modo em suas causas.

Pág. 254 –

Ao concordarem com estas idéias, atualmente alguns autores defendem um panenteísmo que, em si mesmo, nada tem a ver com o panteísmo. [...] o panenteísmo (pan-en-teísmo) significa que tudo está presente em Deus, o que, se se mantiver a distinção entre Deus e as criaturas, é verdade e coincide com o expressado por São Paulo em seu discurso em Atenas. Ao contrário, o panteísmo (pan-teísmo) significa

Idéia aristotélica de localização

é algo acidental

Acidente Modo de ser real Determinação...

É algo real Localização

Modo de ser Acid.

Extrínseco

Corpo

Seres naturais Condições materiais

Lugar

O coração esta Presente no

Corpo

O acidente esta na substância

Atualizando-a

Indivíduo conjunto ordenado

Algo está presente

em tudo o que recai em seu poder...

Presença baseada

na causalidade

Panenteísmo Tudo está presente em Deus

Panteísmo

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que, de algum modo, tudo é Deus, parte de Deus ou sua manifestação, o que é falso e impossível.

Em sexto lugar, algo está na presença de alguém quando se encontra diante de sua vista ou, em geral, sob seu conhecimento.

Pág. 255 –

d) A não-localidade na física contemporânea

Atualmente, por motivos relacionados com a física, os problemas referentes à localização alcançaram um novo auge. As discussões em torno da “localidade” e da “não-localidade” na física quântica têm repercussões científicas e filosóficas: [...].

[...] correlações que não correspondem à idéias intuitivas7.

Pág. 256 –

21.2 O espaço

A partir da extensão dos corpos e das distâncias entre eles, construímos uma noção geral de espaço que foi objeto de múltiplas interpretações tanto pelas ciências quanto pela filosofia.

a) A noção de espaço

Na cosmovisão antiga, na qual o universo era representado com um conjunto “fechado” de seres com limites fixos, o conceito de espaço tinha pouca importância; [...].

Pág. 257 –

[...] física newtoniana, a idéia de espaço absoluto foi aceita na ciência durante mais de dois séculos e teve importantes repercussões filosóficas: [...] influenciou notavelmente na formulação da filosofia kantiana. Kant notou corretamente que o espaço absoluto não poderia ter existência própria, mas, convencido da verdade definitiva da física newtoniana, sustentou que esse espaço era uma das duas formas “a priori” da nossa sensibilidade: [...]. Sob o influxo de Kant, o espaço foi considerado como uma condição básica do nosso conhecimento.

No final do século XIX e início do século XX, foram apresentadas sérias dúvidas no âmbito científico sobre o caráter absoluto do espaço (e do tempo). [...] teoria da relatividade especial por Albert Einstein em 1905 mostraram que o conceito de espaço absoluto era inadequado.

Pág. 258 –

As teorias atuais sobre a origem do universo são baseadas na relatividade geral e procuram compaginá-la com a física quântica [...]. De acordo com algumas hipóteses, o espaço e o tempo perderiam o seu sentido intuitivo nos primeiros instantes do universo; fala-se de um estado original de “vazio quântico” [...] em que teriam ocorrido “defeitos topológicos”, formando pela primeira vez estruturas espaço temporais, a partir das quais se originariam a matéria.

b) A realidade do espaço

7 [...] El hombre a la luz de la ciencia, [...] “El microcosmos y el hombre” [...].

Tudo é Deus ou sua manifestação

Algo esta na

presença de alguém

Localidade e não localidade

Física quântica

Idéias intuitivas

Extensão e distância entre

corpos

Cosmovisão antiga e universo

Física Newtoniana Espaço absoluto

Dois séculos Influência na

filosofia kantiana Formas apriori Da sensibilidade

Século XIX e XX

Teoria da relatividade

Einstein

Teorias atuais sobre a origem do universo baseadas

na relatividade E com a física

quântica

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Pág. 259 –

[...] o conceito de espaço provém de uma ampliação dos conceitos de extensão e de distância: engloba todas as extensões e todas as relações de distância. [...] trata-se de uma idealização: [...]. Mediante o conceito de espaço, pretende-se representar uma espécie de “recipiente” no qual se encontram estas realidades. [...] Dessa forma, o espaço não tem realidade física própria, independente dos corpos e interações; é um ente “ideal”, uma “relação da razão” que existe somente em nossa mente, ainda que na realidade se encontre um fundamento para construir este conceito: [...].

O espaço absoluto, independente dos conteúdos físicos, seria uma espécie de receptáculo vazio que serviria para localizar os corpos contidos nele.

Pág. 260 –

O espaço concebido como uma forma a priori de nosso conhecimento, como quis Kant, também não existe. [...] não é uma noção independente da experiência. Trata-se, [...] de uma relação de razão com um fundamento na realidade: a extensão real dos corpos e das relações de distância.

[...] três observações. [...] tanto o espaço como o tempo dependem da realidade física: acompanham-na como um de seus aspectos; [...].

Pág. 260/261 –

[...] tampouco tem sentido postular a existência, a princípio, de um espaço-tempo sem matéria, que presumivelmente poderia ter surgido do nada como resultado de um processo quântico; de fato, além do nonsense que representa uma criação sem Criador, não parece possível atribuir uma realidade própria a um espaço-tempo sem matéria.

Pág. 261 –

O espaço não pode ser identificado com um vazio ontológico que, a princípio, não seria nada e não pode existir como algo real. [...] A existência de um espaço vazio no qual não houvesse absolutamente nada carece de sentido.

[...] o espaço não é uma entidade; é um ente de razão com um fundamento na realidade (as relações de distância que se dão na realidade), e carece de realidade própria.

c) O espaço nas ciências

[...] “geometria” é o ramo da matemática que se ocupa das relações espaciais. [...] A geometria de Euclides, formulada rigorosamente desde a Antigüidade, procura descrever as relações reais entre as figuras geométricas que existem no mundo físico.

Pág. 262 –

[...] em nossa experiência ordinária não vemos os objetos tal como se representam na geometria euclidiana, já que nossas imagens dependem das perspectivas e das distâncias.

Pág. 263 –

22. Duração e tempo

Conceito de espaço Ampliação dos

conceitos de extensão e de

distância Trata-se de uma

idealização

O espaço absoluto Localizar corpos

Kant e o espaço como uma forma a

priori de nosso conhecimento

Espaço e tempo e realidade física

Nonsense Criação sem criador

Não há uma realidade própria

Espaço tempo

Existência de um espaço vazio carece

de sentido

Espaço – ente de razão com

fundamento...

Geometria ramo da matemática relações

espaciais

Nossas imagens dependem das perspectivas

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[...] dimensões temporais, que constituem também uma parte essencial do modo de ser do natural. É próprio dos entes naturais existirem em condições temporais; seu ser não está realizado completamente em um instante; ao contrário, realiza-se sucessivamente.

A temporalidade é uma determinação acidental, já que uma substância não altera o seu modo de ser essencial pelo simples fato de estar sujeita á passagem do tempo. [...] a nossa vida estar marcada pela combinação da temporalidade, que é uma conseqüência de nossa pertença á natureza, e a transcendência da temporalidade própria dos seres espirituais.

[...] o tempo [...] é um conceito abstrato, construído a partir da duração e das relações temporais.

Pág. 264 –

22.1 A duração

A duração refere-se à sucessão temporal. A idéia da sucessão temporal baseia-se em nossa experiência imediata; é uma idéia primária que não pode ser explicada recorrendo a outras mais conhecidas.

A nossa existência não se esgota em um instante: estende-se numa sucessão temporal; [...]. A duração é algo real. [...] sucessão temporal que tem uma direção única e determinada: o presente vai deixando para trás a existência passada, que permanece somente na recordação e através das suas conseqüências.

Na ciência experimental, o tempo foi considerado, desde o século XVII até o século XX, como uma “variável independente”; transcorre de modo uniforme, sem ser afetado pelos processos que nele se desenvolvem e, mesmo a sua direção é indiferente: [...].

Pág. 265 –

No âmbito filosófico, Bergson destacou energicamente a função central que a duração real desempenha na representação e interpretação da natureza. [...] a duração real não se reduz a uma simples sucessão quantitativa indiferenciada; ao contrário, supõe atividade física, emergência de novidades, situações irrepetíveis.

Pág. 266 –

22.2 Temporalidade, ser e devir

A temporalidade é uma característica fundamental dos entes naturais. Todos os seres naturais têm uma duração, são unidos a processos.

a) A situação temporal

[...] o modo de ser temporal do natural que, tanto no ser como no agir, contém uma referência ao passado, ao presente e ao futuro.

O caráter extrínseco e relativo do “quando”, semelhantemente ao que acontece com o “onde”, manifesta-se ao considerar as relações temporais concretas: situamos algo no tempo em relação a outros processos ou acontecimentos.

Pág. 267 –

b) Graus de ser e duração

Dimensões temporais

Modo de ser do natural

Temporalidade é

uma determinação acidental –

substância não altera seu ser

Tempo conceito abstrato

Duração sucessão temporal

experiência

Existência estende-se numa sucessão

temporal Real

Ciência do século

XVII ao XX - tempo, variável independente

Bérgson Duração real

representação e interpretação...

Temporalidade e entes naturais

Modo de ser temporal

Caráter extrínseco do quando e onde

temporalidade

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[...] o “quando” atribui-se somente ao natural, cujo ser se desenvolve de modo sucessivo mediante mudanças. [...] Deus, que é Ato Puro e não tem duração de nenhum tipo.

[...] Deus é seu Ser e, portanto, em sua própria duração, que se chama eternidade. [...] os seres criados não são o seu ser: têm um modo de ser limitado por uma essência determinada e desenvolvem as suas potencialidades de modo sucessivo; [...] sempre estão em potência [...].

A eternidade é própria e exclusiva de Deus e situa-se num plano diferente ao da duração temporal de qualquer ente criado. [...] ao possuir o ser de modo limitado e não absoluto, estaria sempre em potência em relação a possíveis mudanças [...].

Pág. 268 –

[...] Deus é Ato Puro, que não só possui o ser, mas que é o seu Ser.

Quando se identifica a criação divina com a origem do tempo, tende-se a identificar as provas da existência de Deus com as pressupostas demonstrações, que não existem, da duração limitada do universo. Facilmente se conclui, então, de modo errôneo, que não se pode provar a existência de Deus.

Pág. 269 –

O “deísmo” reduz Deus à função de proporcionar a explicação última da existência do mundo, mas, ao mesmo tempo, lhe nega qualquer interesse ou intervenção no mundo uma vez que este existe. [...] Ainda que seja difícil explicar a relação de Deus com as criaturas, é preciso respeitar, como base da explicação, a total perfeição e transcendência de Deus, pois o seu desrespeito significaria a introdução de características incompatíveis com a divindade. [...] é um mistério “lógico”, porque se entende que Deus deve ser necessariamente eterno e transcender completamente o criado.

Pág. 270 –

Os seres materiais estão sujeitos à duração temporal e às mudanças substanciais. A materialidade implica, precisamente, uma potencialidade radical, de modo que toda substancialidade material pode se transformar em outra ou outras. [...] a duração do material implica que o seu ser se faz sucessivamente mediante a atualização de potencialidades.

Os viventes possuem individualidade e tendências, o que lhes permite ter uma história em um sentido superior ao dos não-viventes: atualizam sucessivamente a sua potencialidade de tal modo que se pode falar de desenvolvimento e de aperfeiçoamento em seu próprio âmbito. Entre os viventes, os que estão dotados de conhecimento possuem um nível maior de densidade ontológica, porque podem conservar a memória do passado e, de certo modo, prever o futuro ou mesmo antecipá-lo. [...] a pessoa humana encontra-se em um novo nível de temporalidade que inclui ao mesmo tempo as características do material e do espiritual.

Pág. 270/271 –

A temporalidade humana, [...] dá lugar à história, na qual se enquadram aspectos especificamente humanos tais como a tradição e o progresso. O sentido da história é, também, uma chamada à responsabilidade, porque a liberdade humana implica que não existam leis históricas necessárias: o futuro do homem está em suas mãos e depende da sua responsabilidade moral.

O quando atribui-se somente ao natural

Mudanças

Deus é seu Ser Eternidade

Seres criados em potência

A eternidade é

própria e exclusiva de Deus

Deus é ato puro

Identificação da criação divina com

a origem do Tempo

Deísmo – Deus a explicação última da existência do mundo, mas lhe nega qualquer interesse ou

intervenção no mundo

Seres materiais sujeitos à duração

temporal e às mudanças

substanciais

Viventes individualidades e

tendências Atualizam

sucessivamente sua potencialidade

Desenvolvimento e aperfeiçoamento

Temporalidade humana – história

Tradição e Progresso Liberdade

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Pág. 271 –

22.3 O tempo

a) A noção de tempo

Para medir o tempo, é necessário escolher um movimento que manifeste uma regularidade uniforme e, a partir dele, tomam-se umas unidades às quais se refere qualquer outro movimento. Assim, a divisão do tempo em anos, dias, etc., baseia-se nos movimentos de rotação da Terra sobre si mesma e de translação em volta do Sol, ainda que atualmente se recorra a procedimentos mais regulares e precisos baseados em movimentos relacionados com os átomos.

Pág. 272 –

Aristóteles definiu o tempo como o número do movimento segundo o antes e o depois [...]. Nesta definição, sublinha-se que o tempo mede o quanto dura um movimento; portanto, enquanto medida, o tempo corresponde a algo real (a duração do movimento) e, ao mesmo tempo, implica um sujeito que o mede.

[...] o espaço se relaciona com a extensão, o tempo se relaciona com a duração; e tanto a extensão como a duração são reais e contínuos, indefinidamente divisíveis:

[...] o tempo é como um acidente do movimento, já que é a sua medida no que o movimento tem de quantidade sucessiva.

Pág. 272/273 –

[...] Newton definiu um tempo absoluto que, igualmente ao espaço absoluto, era independente de todo conteúdo material. Kant adjudicou a este tempo absoluto, juntamente com o espaço, a função de ser uma condição prévia e permanente para toda experiência sensível.

Pág. 273 –

b) A realidade do tempo

O tempo abstrato tem certo caráter de totalidade, já que a mente relaciona a ele todos os acontecimentos, sejam passados, presentes ou futuros.

[...] só o tempo presente existe realmente: com efeito, o passado já não existe e o futuro ainda não existe. Em nosso pensamento, podemos considerar o passado e o futuro, mas fora dele existe somente o presente.

Pág. 273/274 –

[...] o tempo não corresponde a uma entidade real: a duração e as relações temporais são reais, mas o tempo não tem uma existência independente delas. [...] física newtoniana [...] sustentava, juntamente com o espaço absoluto, a existência de um “tempo absoluto” independente do seu conteúdo.

Pág. 274 –

[...] o tempo não é uma condição de nosso conhecimento, ao estilo kantiano, porque não existe um tempo homogêneo, como um receptáculo vazio onde se situam os acontecimentos. Kant afirmou que espaço e tempo são condições a priori do conhecimento sensível. [...] há razões para pensar que o nosso conceito de tempo corresponde às experiências reais e depende delas.

Para medir o tempo

movimento Regularidade

uniforme Anos, dias, horas Mov. de rotação

Aristóteles definiu o tempo número do

movimento segundo antes e o depois

Espaço e extensão Tempo e duração

Tempo acidente do

movimento

Newton e o tempo absoluto e espaço

absoluto Kant....

Tempo abstrato Caráter totalidade

Tempo presente e

existência Passado e futuro

O tempo não corresponde a uma

entidade real Não existência

O tempo não é uma condição de nosso

conhecimento Ao estilo kantiano

Homogêneo

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c) O tempo nas ciências

Pág. 275 –

[...] o tempo é definido desde o século XVII como uma magnitude que pode ser objeto de tratamento matemático e ser medida empiricamente.

[...] pela teoria especial da relatividade de Einstein, na qual o tempo é uma magnitude cuja medida não resulta sempre no mesmo valor, pois depende do sistema de referência que se adote.

[...] o aspecto que foi sublinhado na Antigüidade e esquecido sob a pressão da física newtoniana: a existência de um tempo próprio, relativo a cada processo concreto. [...] definição aristotélica [...] a cada tipo de movimento corresponde um tempo próprio.

Pág. 275/276 –

[...] o natural encontra-se sulcado por estruturas e pautas temporais que determinam as suas características específicas de tal modo, que as medidas do tempo são afetadas pelo estado físico de quem mede e do que se mede.

Pág. 277 –

[...] as teorias da evolução, tanto cósmica como biológica, referem-se a um gigantesco processo no qual surgiram sucessivos graus de organização.

23. A unidade de espaço e tempo

23.1 Espaço e tempo na teoria da relatividade

Na teoria da relatividade, espaço e tempo estão não somente relacionados, mas de algum modo unidos, constituindo um conjunto espaço-temporal.

Pág. 279 –

[...] a duração real encontra-se entrelaçada com as condições físicas concretas: condições diferentes produzirão efeitos também diferentes.

Pág. 280 –

23.2 Espaço e tempo como condições materiais da realidade

[...] afirmar que o natural se caracteriza por um dinamismo próprio que existe e se desenvolve em condições espaço-temporais implica afirmar que estas condições são reais. A concepção do espaço e do tempo inclui construções que são nossas, tanto na vida ordinária como, mais ainda, na ciência experimental, e os conceitos assim construídos correspondem à realidade em diferentes graus e de acordo com modalidades próprias.

Pág. 280/281 –

[...] estruturação espaço-temporal. Isto permite distinguir o natural do espiritual, que pode estar intimamente relacionado com o espaço-temporal (como ocorre no caso da pessoa humana), mas não inclui, no seu modo próprio de ser, estruturação espaço-temporal: a inteligência, a vontade, a liberdade, a responsabilidade, a moralidade, encontram-se estreitamente associadas, no nosso caso, com as condições materiais não são o primário nestas dimensões humanas.

Tempo e tratamento

matemático

Tempo e teoria da relatividade de

Einstein

Tempo entendido no Antigüidade

Tempo próprio para cada processo

Natural estruturas e pautas temporais Características

Teorias da Evolução

Teria da relatividade

Duração real Condições físicas

Natural dinamismo próprio

Se desenvolve em condições espaço-

temporais Representadas

Estruturação espaço temporal

Distinguir o natural do espiritual Liberdade vontade

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Pág. 281 –

[...] a estruturação espaço-temporal é uma característica do natural que adquire um relevo cada vez maior na compreensão da natureza.

[...] conhecimento mais profundo da natureza conduz a uma notável combinação de perfeição e sutileza: [...] que abarca muitos fenômenos diversos, encontramos resultados muito variados e complexos, com uma grande riqueza organizativa, e que se extraem da aplicação interativa de alguns recursos relativamente simples.

Pág. 281/282 –

Se a natureza está construída de modo muito sutil em torno de pautas espaço-temporais, é fácil notar que nos encontramos em uma racionalidade materializada, resultado de um dinamismo muito poderoso que se desenvolve de acordo com pautas temporais, armazena-se em pautas espaciais e se combina em mil modos, produzindo novas pautas espaciais e temporais enormemente sofisticadas.

Pág. 282 –

23.3 Compenetração do espacial e do temporal

Pág. 283 –

A natureza constrói-se e funciona em torno de configurações e ritmos que se encontram relacionados. [...] espaço e tempo [...] são condições básicas da natureza, que existem em formas inter-relacionadas e altamente sofisticadas que abrem a porta para uma compreensão profunda da natureza.

Pág. 285 –

CAP. VIII – ASPECTOS QUALITATIVOS

Pág. 286 –

24. Propriedades qualitativas

As qualidades são modos de ser acidentais ou determinações da substância.

O modo de ser essencial das substâncias é expresso pela sua forma substancial. Porém existem também modos de ser acidentais [...] que se chamam qualidades.

24.1 Virtualidades qualitativas dos seres naturais

a) Substância, forma e qualidades

Pág. 287 –

[...] ao falar das qualidades utilizamos o plural para expressar que em qualquer substância existem qualidades diferentes.

[...] “virtualidades” porque são propriedades presentes na substância a modo de possibilidades ou potencialidades cuja atualização depende das circunstâncias.

[...] as qualidades são modos de ser acidentais, porque não têm um existência própria independente e nem se identificam com a essência das substâncias. São modos de ser que se relacionam com a forma substancial, porque se caracterizam

Espaço-temporal Carac. Natural

Natureza

Combinação entre perfeição e sutileza Vários fenômenos

Natureza submetida a espaço-tempo Racionalidade materializada

Poderoso Dinamismo

Natureza Configurações e

ritmos Relacionados

Qualidades

Forma substancial Modos de ser

Qualidades Diferentes

Virtualidades

Potencialidades

Qualidades são modos de ser

acidentais

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como determinações particulares que correspondem ao modo específico de ser de cada substância.

Pág. 288 –

b) As qualidades como propriedades intrínsecas da substância

[...] as qualidades são acidentes intrínsecos, porque se referem a modos de ser próprios da substância. Ainda que sejam modos de ser acidentais, expressam determinações das substâncias em si mesmas, não em relação às outras.

Enquanto modos de ser, distinguem-se dois tipos básicos de qualidades: as propriedades, que não fazem parte da essência, mas a acompanham necessariamente, e as qualidades puramente contingentes, que podem existir ou não em uma substância concreta.

As propriedades são empregadas para definir as substâncias. [...] determinamos o seu modo de ser e a sua definição através das suas propriedades.

Pág. 289 –

24.2 Tipos de qualidades

a) Quatro espécies de qualidade

Ao estudar o significado da qualidade, Aristóteles chamou-a por um nome derivado de poiós, que significa “de tal ou qual classe”. A qualidade é aquilo segundo o qual os entes se chamam tais ou quais. Parece afirmar que o qualitativo é o que se dá na substância além do quantitativo.

Para Aristóteles, a natureza tem características quantitativas e qualitativas, e ambas são reais. O quantitativo é a primeira determinação do material e o qualitativo determina aos entes através da quantidade; [...].

Pág. 290 –

[...] no contexto aristotélico, atribuiu-se a primazia ao qualitativo frente ao estudo matemático da natureza, porque todo saber apóia-se sobre o conhecimento ordinário, baseado nas qualidades dos corpos.

Segundo Aristóteles, o primeiro e mais próprio modo de se falar da qualidade é como diferença da substância, que costuma ser denominada a diferença específica.

Aristóteles diferenciou quatro espécies de qualidades, [...].

As qualidades da primeira espécie são o estado (ou hábito) e a disposição, que diferem por ser mais ou menos estáveis e as disposições menos estáveis. Os estados também são disposições, enquanto que as disposições não são necessariamente estados.

As qualidades da segunda espécie são a capacidade e a incapacidade naturais (ou potência e impotência). Estas qualidades consistem em ter capacidade natural para fazer algo.

Pág. 291 –

As qualidades da terceira espécie são as qualidades afetivas (patibilis qualitas) e as afecções (passiones). Aqui, os termos “afetivo” e “afecção” tomam o seu significado

Relações como forma substancial

As qualidades são acidentes

intrínsecos

Qualidades Propriedades necessárias e contingentes

Propriedades são

empregadas

Qualidades e Aristóteles

É o que se dá na substância

Aristóteles natureza

quantitativo e qualitativo

Aristóteles primazia do qualitativo

Qualidade

diferença subst.

Aristóteles

Estado e disposição

Estáveis ou menos Estáveis

Capacidade e incapacidade

Fazer algo

Qualidades afetivas

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do verbo “afetar”, e referem-se a qualidades que afetam os sentidos e mudam as alterações naturais.

As qualidades da quarta espécie são a figura e a forma: triangular, reta, curva.

b) Virtualidades, disposições e tendências.

Todas as qualidades podem ser consideradas como “virtualidades”, porque se tratam de possibilidades que podem ser atualizadas em função das circunstâncias. E qualquer virtualidade equivale a uma possibilidade real, a uma potencialidade específica, que pode estar mais ou menos distante de sua atualização.

Pág. 292 –

A existência de tendências é especialmente evidente quando os agentes fazem parte de uma organização unitária estável.

c) Propriedades sensíveis e propriedades inobserváveis

Pág. 292/293 –

O método científico [...] é uma das principais demonstrações da inteligência humana, pois supõe o alto grau de idealização que é necessário para construir modelos teóricos, assim como a capacidade de relacionar as construções teóricas com os resultados experimentais, projetando e realizando experimentos muito sofisticados: e tudo isso supõe a capacidade de interpretação e de argumentação.

Pág. 293 –

24.3 A objetividade das qualidades

Sob a perspectiva aristotélica, a qualidade refere-se a um modo se ser, ou seja, a uma forma acidental que representa um aspecto da realidade, uma determinação acidental que não se reduz às dimensões quantitativas. [...] Negar o qualitativo equivale a negar que realmente existem modos de ser.

a) Qualidades primárias e secundárias

Pág. 294 –

O realismo das qualidades em sua forma extrema, ou seja, a doutrina segundo a qual as qualidades sensíveis existem na realidade tal como as percebemos, não parece sustentável. Nos órgãos dos sentidos recebemos sinais que são codificados e traduzidos, e o resultado são sensações produzidas de acordo com o nosso aparato cognoscitivo.

Pág. 295 –

Portanto, o que percebemos, tal como o percebemos, existe somente em nós.

O puro subjetivismo acerca das qualidades, segundo o qual existe uma heterogeneidade radical entre a sensação e a realidade física, tampouco parece sustentável. Subestima que as qualidades correspondam, de algum modo, às propriedades dos objetos.

Pode-se dizer que, através da sensação, captamos propriedades reais de acordo como nosso modo de conhecer. [...] a própria ciência seria impossível se não

Afecções Alterações

Figura e forma

Todas qualidades Podem se tornar

virtualidades Possibilidades

Existência de tendências

Método científico Alto grau de idealização

construção de modelos

Aristóteles a qualidade refere-se a um modo de

ser

O realismo das qualidades em sua

forma extrema Não parece sustentável

Somente em nós

O puro subjetivismo também não corresponde

Sensação e

propriedades

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admitíssemos a objetividade básica do conhecimento sensível, já que o utiliza continuamente e não pode substituí-lo.

Pág. 296 –

b) O conhecimento das qualidades

A natureza é composta por entidades com modo de ser (formas, qualidades) cuja existência apóia-se sobre uma base quantitativa.

Estamos dotados de um aparato sensorial que nos permite ter uma representação da natureza que é contextual (depende do nosso aparato cognoscitivo) e parcial (captamos alguns aspectos e não outros), mas autêntica (captamos, do nosso modo, características reais). Este conhecimento desenvolve-se mediante a experiência e está relacionado com fins práticos: [...].

Pág. 297 –

A ciência experimental nem sempre proporciona representações fotográficas da realidade, como se fossem uma mera tradução do mundo externo. Utiliza linguagens simbólicas, que são construções nossas.

c) Reducionismo e propriedades emergentes

O reducionismo ontológico é a doutrina segundo a qual os níveis superiores da natureza não são nada mais que a simples soma dos elementos dos níveis inferiores e, portanto, podem ser reduzidos a eles. O reducionismo ontológico mais radical afirma que, em última análise, tudo se reduz a entidades e processos físicos.

Pág. 298 –

[...] geralmente adota a forma de algum tipo de materialismo: sustenta que, no fundo, toda a realidade está reduzida ao material.

O reducionismo epistemológico afirma que as ciências se reduzem, em última análise, às mais elementares. Assim, a biologia reduz-se à física e à química, de modo que, na realidade, não seria mais que físico-química aplicada aos viventes. O reducionismo epistemológico mais radical afirma, além disso, que as ciências se reduzem, em último termo, a uma combinação de experiências sensoriais.

Pág. 299 –

As explicações devem provir das ciências ou da filosofia. Ainda que as ciências consigam explicar como uma nova propriedade surge, isto não elimina os ulteriores questionamentos filosóficos.

25. Quantidade e qualidades

Pág. 300 –

25.1 Dimensão quantitativa das qualidades

[...] figuras e formas que se apresentam no mundo natural. Estas figuras são particularmente restritas, de modo que a imensa variedade de formas criadas pela Natureza surge da elaboração e reelaboração de um reduzido número de temas básicos. Estas limitações são as que conferem harmonia e beleza ao mundo natural.

Pág. 302 –

Reais modo de conhecer

Natureza e entidades

Aparato sensorial Representação da

natureza Contextual parcial e

autêntica

Ciência experimental e

linguagem

Reducionismo ontológico

natureza soma de elementos

Materialismo Realidade material

Reducionismo epistemológico

Ciências se reduzem às elementares

Explicações devem provir da ciência e

da filosofia

Figuras e formas que se apresentam no mundo natural

reelaboração

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O progresso científico descobre novas relações entre o quantitativo e o qualitativo. As entidades e processos naturais possuem múltiplas combinações de elementos, que não são numerosos e que podem ser combinados de modos muito específicos, dando lugar a uma grande variedade de resultados.

[...] podemos afirmar que às distintas formas naturais correspondem determinadas magnitudes e formas matemáticas. Os modos de ser qualitativos não se relacionam somente com o quantitativo, mas dependem estreitamente das formas e combinações quantitativas.

25.2 A medição da intensidade qualitativa

Pág. 303 –

[...] século XIV em Paris e Oxford [...] Roberto Grosseteste insistira na importância fundamental da matemática para o estudo dos fenômenos físicos e aplicara a geometria à ótica, impulsionando a orientação científica de Oxford. Em Paris, os resultados de Nicolas Oresme foram importantes neste âmbito. Entre as contribuições de Oresme à física estão a representação gráfica das qualidades e a aplicação desta representação ao estudo do movimento uniformemente acelerado.

A medição das qualidades é o fundamento da aplicação da matemática ao estudo das propriedades qualitativas dos corpos.

Pág. 304 –

25.3 Qualidades e magnitudes

Se não admitíssemos que a natureza está constituída por entidades que têm uma natureza e algumas qualidades próprias, a investigação científica careceria de sentido e o mesmo aconteceria com os enunciados científicos.

Pág. 306 –

Segundo Rom Harré, uma tendência é uma potência que se encontra como que suspensa, a caminho de ser exercitada ou manifestada.

Pág. 307 –

Nas análises de Harré, o conceito de potência (power) expressa potência ativa, poder, força, energia e relaciona-se com os conceitos de disposição (disposition), propensão (propensity), direção (trend), tendência (tendency) e potência passiva ou capacidade de intervir em ações provocadas pelas tendências ativas (liability). Todos eles expressam aspectos relativos a capacidades e direcionalidade.

Pág. 309 –

[...] a cosmovisão científica atual proporciona uma base ampla para os conceitos de virtualidades, capacidades, disposições e tendências, que refletem as dimensões qualitativas da natureza.

25.4 Aspectos reais das magnitudes físicas

Uma magnitude, em sentido científico-experimental, é um conceito definido de tal maneira que possa se submeter a tratamento matemático e ao qual se possam atribuir valores quantitativos em relação co os resultados da experimentação.

Pág. 311 –

Progresso científico novas relações entre

quantitativo e qualitativo

Formas naturais

magnitudes e formas

Matemáticas

Roberto Grosseteste Importância da

matemática para o estudo de

fenômenos físicos

medição das qualidades

Natureza e entidades que tem

qualidades

Rom Haré Potência

Harré – Potência expressa potência ativa, poder, força,

energia, direção Tendência

Cosmovisão científica atual Virtualidades

Magnitude em sentido científico-

experimental

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25.5 O quantitativo e o qualitativo no conhecimento do natural

[...] o nosso acesso à natureza está condicionado inteiramente pelo conhecimento das qualidades; que este conhecimento tem um aspecto subjetivo (a sensação), mas, ao mesmo tempo, permite captar aspectos objetivos da realidade; que existem qualidades reais e que as conhecemos de modo contextual e parcial, mas autêntico; [...].

Um mundo puramente quantitativo seria inobservável.

As magnitudes científicas levam-nos ao conhecimento das propriedades e da natureza dos corpos. O conhecimento proporcionado pela ciência experimental não é redutível ao fenomênico nem a aspectos puramente quantitativos; por meio das ciências, conhecemos a existência e as características de muitas entidades, propriedades e processos do mundo natural que de outro modo seriam inacessíveis.

Pág. 312 –

[...] o nosso conhecimento da natureza não se reduz ao que a ciência experimental proporciona. [...] O cientificismo, considera a ciência experimental como o único conhecimento válido da realidade ou ao menos como o modelo que qualquer outra pretensão cognoscitiva deveria imitar, carece de base científica e, na medida em que se apresenta como científico ou como resultado das ciências, é uma extrapolação pseudocientífica ilegítima.

Pág. 313 –

CAP. IX – ATIVIDADE E CAUSALIDADE DOS SERES NATURAIS

26. Causalidade e ação física

O dinamismo natural desenvolve-se mediante ações dos sistemas físicos.

Pág. 314 –

26.1 Dinamismo natural e interações físicas

Se admitimos que todo natural possui um dinamismo próprio, devemos concluir que a atividade no seu âmbito físico não é um aspecto qualquer do mundo: é algo que penetra completamente toda a natureza.

[...] a atividade natural consiste em interações: nunca é obra de um agente isolado, sempre implica a ação de uns seres ou componentes sobre outros seres ou componentes.

Podemos afirmar que o dinamismo próprio do natural é causa das interações dos seres físicos.

Pág. 315 –

[...] os dinamismos naturais resultam de interações físicas. De fato, as diferentes interações produzem novos sistemas com novos tipos de dinamismo, seja por existirem anteriormente ou por se produzirem novos casos de alguma coisa que já existia.

26.2 Modalidades das transformações naturais

Acesso à natureza condicionado ao

conhecimento das qualidades

subjetivas objetivas

Magnitudes científicas

conhecimento das propriedades e da

natureza

Nosso conhecimento da natureza não se reduz ao que a

ciência experimental

Dinamismo natural

Natural e dinamismo próprio Perpassa o natural

Atividade natural

consiste em interações

Dinamismo próprio do natural

Dinamismos naturais resultam de

interações físicas Novos sistema

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As interações físicas ocasionam as mudanças naturais. O natural é cambiante. A mutabilidade é uma condição básica do natural, com um dinamismo próprio que se realiza e se desenvolve em condições espaço-temporais: [...].

[...] efeitos produzidos, [...] duas grandes modalidades nas transformações naturais: as mudanças substanciais e as mudanças acidentais. Nas mudanças substanciais, são produzidas alterações nos modos de ser essenciais: uma substância deixa de existir e é produzida outra diferente, [...]. Nas mudanças acidentais permanecem a mesma ou as mesmas substâncias e mudam somente os acidentes; [...].

Pág. 315/316 –

[...] são três as mudanças acidentais possíveis: a mudança de lugar ou movimento local, a mudança na quantidade, que costuma ser denominada de aumento ou diminuição, e a mudança na qualidade, que é denominada alteração.

Pág. 316 –

[...] a quantidade e as qualidades encontram-se compenetradas, e que a quantidade constitui o marco espaço-temporal básico no qual as qualidades existem. [...] toda mudança física implica a alguma mudança de lugar e toda mudança qualitativa implica alguma mudança quantitativa. [...] o tempo é precisamente a medida de todas as mudanças; [...].

A respeito da duração, geralmente se distinguem as mudanças instantâneas e sucessivas. A mudança sucessiva acontece quando existe uma sucessão ao longo da mudança, [...]. Mudanças instantâneas típicas são as mudanças substanciais; [...] deixa de existir um tipo de substância e no mesmo momento começa a existir outro tipo, como acontece, de modo especial, na geração e na morte dos viventes.

26.3 A ordem física e as quatro causas

O que é uma causa? Um conceito clássico é o seguinte:

Pág. 317 –

causa é o princípio de que algo depende em seu ser ou em seu realizar-se. É um princípio, mas não um princípio qualquer como um simples começo poderia ser; trata-se de um princípio que influi realmente no ser do que existe ou na produção das transformações.

No primeiro livro da Metafísica, Aristóteles [...] doutrina das quatro causas: material, formal, eficiente e final.

As causas material e formal são intrínsecas, porque são a matéria e a forma que constituem os seres naturais. [...] as causas eficiente e formal são extrínsecas, pois não se referem ao próprio ser das entidades naturais, mas ao agente que produz um processo e ao fim que guia a sua ação.

Causa material é aquilo a partir do qual algo é feito e que permanece intrínseco à coisa feita.

Pág. 317/318 –

[...] matéria segunda quando a causa material são substâncias que só mudam acidentalmente.

O natural é cambiante

Mutabilidade

Modalidades de transformações

naturais Substanciais e

acidentais

Mudanças acidentais –

movimento...

Quantidade e qualidade

encontram-se compenetradas

Mudança.

Mudanças instantâneas

E mudanças sucessivas

Causa ???

Causa como princípio de que algo depende em seu ser ou em...

Aristóteles

Quatro causas

Causas material e formal são intrínsecas

Matéria e forma

Causa Material

Matéria segunda

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Pág. 318 –

Ao contrário, fala-se de matéria prima para designar a materialidade comum a todo ser natural, [...].

Causa formal é aquilo pelo qual algo tem um determinado modo de ser. É a forma acidental ou modo de ser acidental que muda nas mudanças acidentais, ou a forma substancial que expressa o modo de ser das substâncias e que não muda nas mudanças acidentais.

[...] matéria prima e forma substancial [...] causa material e formal. [...] princípios constitutivos da essência da substância: [...] co-princípios que constituem os seres como potência (matéria) e ato (forma).

Causa eficiente é aquela da qual nasce uma ação que influi no ser ou no realizar-se de outra coisa. [...] E causa final é aquilo em vistas do qual algo se faz. Trata-se do objetivo ou meta que o agente, consciente ou inconscientemente, busca ao agir.

Pág. 319 –

26.4 A causalidade eficiente: noção clássica

A atividade das entidades naturais corresponde ao seu modo de ser. O aforismo clássico o agir segue o ser significa que uma entidade pode realizar aquelas ações que correspondem ao seu modo de ser: portanto, a sua forma substancial e a suas formas acidentais.

Aristóteles [...] “Chama-se causa, num primeiro sentido, a matéria imanente de que algo é feito; por exemplo, o bronze é causa da estátua, a prata é causa da jóia, e também o gênero destas coisas. [...].”

Pág. 320 –

Aristóteles não utiliza a expressão “causa eficiente”: a história deste conceito é complexa. Fala, aliás, “daquilo de onde procede o princípio primeiro da mudança ou da quietude”, “da fonte primeira da mudança ou do chegar ao repouso”, “do princípio do movimento”. [...] da “causa motriz” ou “causa agente”.

O núcleo fundamental da doutrina aristotélica continua válido. Com efeito, a atividade natural corresponde a um dinamismo cuja “fonte” se encontra no “interior” dos seres naturais: corresponde ao seu modo de ser essencial, às suas virtualidades ou qualidades; e este dinamismo desenvolve-se em função das tendências internas e das circunstâncias externas que possibilitam sua atualização.

26.5 A causalidade eficiente diante das ciências

Pág. 321 –

a) Agentes e interações

[...] a ciência busca leis que permitam determinar o comportamento dos corpos sob a ação de forças, mas estas forças não correspondem a agentes, mas a interações. [...] a ciência concentra-se na determinação de fenômenos sob leis gerais.

b) Ação e contato

Pág. 322 –

Matéria prima Matéria comum

Causa formal é aquilo pelo qual

algo tem um determinado modo

Matéria prima e

forma substancial Material e formal

Causa eficiente

Ação que influi no ser – realizar-se

A atividade das entidades naturais

corresponde ao modo de ser

Aristóteles

Causa Matéria imanente

Aristóteles não utiliza a

expressão “causa eficiente”

A validade da

doutrina aristotélica

contínua tendo validade

Ciência e leis que determinam o

comportamento..

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[...] podemos definir o movimento como a atualização do móvel enquanto móvel, sendo a causa deste atributo o contato com o que pode mover, de modo que o motor recebe também uma ação.

Pág. 323 –

c) O princípio da causalidade

[...] o princípio da causalidade afirma que tudo o que existe deve ter uma causa proporcionada que explique sua existência.

Pág. 324 –

[...] afirmação aristotélica [...] tudo o que se move é movido por outro. [...] ocupa um lugar importante na prova da existência do Primeiro Motor e, portanto, na conexão entre física e a metafísica.

[...] contraditória ao princípio da inércia da física clássica, segundo a qual a ação exterior não é necessária para provocar o movimento, mas só para provocar a aceleração ou mudança do movimento. [...] segundo o princípio de Mach, a inércia deve-se às interações de um corpo com o resto do universo, e a teoria geral da relatividade explica-a em função das distribuições das massas; se isto é assim, a inércia é um efeito devido a interações físicas e não significa que os corpos mantenham o seu movimento independentemente de causas externas.

[...] em toda ação ocorre uma interação: o desenvolvimento do dinamismo depende das circunstâncias e, portanto, das interações.

Pág. 325 –

[...] no caso dos viventes, qualquer ação supõe interações físicas no organismo e com o meio ambiente (sensações, processos neuronais, etc.). [...] o sentido profundo da primeira via de Tomás de Aquino para provar a existência de Deus. Neste via reconhece-se que a atividade das criaturas sempre supõe um passo de potência ao ato e que as linhas causais formadas pelas criaturas só podem ser compreendidas, em último caso, se admitimos a existência de um Ser que é Ato Puro, fonte de todo ser, fundamento radical do dinamismo de todos os entes criados.

26.6 Ação e paixão

a) A ação e a paixão como acidentes

Pág. 326 –

Considerada sob a perspectiva da filosofia da natureza, a ação é um acidente que consiste na atualização da potência ativa de uma substância. O natural caracteriza-se por possuir um dinamismo próprio; mas este dinamismo não está completamente atualizado segundo todas as suas possibilidades; algumas possibilidades são atualizadas de acordo com as circunstâncias presentes em cada caso particular [...] ação é um acidente: é algo real que acontece em um sujeito, é a atualização de algumas das suas potencialidades, mas não muda o modo de ser essencial do sujeito.

Admitir a realidade da ação equivale a reconhecer que, na natureza, os sujeitos atuam desenvolvendo de cada vez só uma parte das suas potencialidades.

Pág. 327 –

Movimento como atualização do

móvel.

O princípio da causalidade

Tudo o que se move é movido

por outro

Princípio da inércia da física

clássica Ação exterior não é necessária para

provocar o movimento

Ação e interação Desenvolvimento

Viventes ação supõe

Interações físicas no

organismo e com o meio ambiente

Filosofia da natureza

A ação é um acidente que consiste na

atualização da potência ativa

Realidade da ação

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[...] o modo de ser dos sujeitos é conhecido através de suas ações. Quanto mais perfeito é um ser, tem a capacidade de exercer ações que são mais perfeitas.

[...] é certo que as ações aperfeiçoam o sujeito que as exerce, ao menos sob o ponto de vista ontológico, já que equivalem a desenvolver as potencialidades do modo de ser do sujeito.

[...] a paixão é um acidente que consiste na atualização da potência passiva de uma substância, sob a ação de uma causa eficiente.

Existem diversos níveis de causalidade nos seres naturais, que possuem potências ativas de diversos tipos de ações.

Pág. 328 –

b) Ações transitivas e imanentes

As ações transeuntes são aquelas que têm um efeito exterior ao próprio agente.

As operações imanentes são aquelas cujo término encontra-se no próprio agente que, portanto, aperfeiçoa-se a si mesmo ao agir. Geralmente, são consideradas como tipicamente imanentes o conhecimento e o amor.

Pág. 328/329 –

O agir imanente é próprio da vida, e especialmente da vida espiritual; supõe um modo de ser e de agir no qual existe uma autonomia específica e uma perfeição maior que em outros níveis.

Pág. 329 –

Com as operações próprias dos seres humanos, chegamos a um nível que, embora esteja estreitamente relacionado com a natureza, a transcende. [...] o conhecimento intelectual e o amor de amizade elevam-se por cima das limitações próprias do material; [...].

26.7 Causalidade e emergência de novidades

Pág. 330 –

O progresso científico mostra que as potencialidades existem, em grande parte, como informação, ou seja, como programas de possível atividade que se encontram gravados e como que armazenados em estruturas físicas.

[...] quanto melhor conhecemos as causas naturais, mais percebemos que a natureza possui uma direcionalidade muito eficiente, complexa e sutil, cuja explicação remete a uma causalidade que a transcende e, ao mesmo tempo, é imanente a ela, porque põe nela as potencialidades e as condições necessárias para a sua atualização.

Pág. 331 –

27. A contingência da natureza

27.1 Leis científicas e leis naturais

a) As leis científicas

Modo de ser dos sujeitos

As ações

aperfeiçoam o sujeito

Atualização da

potência passiva

Níveis de causalidade

Ações transeuntes

Operações imanentes

Próprio agente

Agir imanente é próprio da vida

Espiritual

Ações próprias dos seres

humanos o elevam acima da natureza

Potencialidades e informação, como

programas.

Causas naturais e direcionalidade da

natureza imanente

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As leis científicas são enunciados que relacionam diferentes aspectos dos fenômenos naturais. Quando são leis formuladas matematicamente, relacionam magnitudes que podem ser medidas direta ou indiretamente; [...].

Pág. 332 –

Quando estão bem comprovadas, as leis científicas expressam aspectos da realidade.

As leis científicas expressam regularidade que realmente existem na natureza, de acordo com as modalidades próprias de cada tipo de lei [...].

As leis científicas têm um caráter aproximativo e perfectível: sempre é possível descrever melhor os fenômenos aos quais as leis se referem, por exemplo, construindo novos conceitos ou melhorando a precisão de nossas formulações.

Pág. 333 –

b) As leis naturais

[...] as leis naturais da natureza física expressam regularidades na atividade dos agentes naturais.

Pode-se dizer que na natureza, propriamente falando, não existem leis. O conceito lei, quando é aplicado ao comportamento da natureza, corresponde a uma abstração. [...] a natureza consta de entidades (com suas propriedades) e de processos, e as leis são enunciados abstratos mediante os quais expressamos aspectos estruturais e repetíveis do natural.

Pág. 334 –

Em sentido estrito, nada se repete exatamente na natureza.

27.2 Necessidade e contingência na natureza

Contingente é o que pode ser de um modo ou de outro, ou que pode ser ou não ser. Ao contrário, necessário é o que não pode deixar de ser como é, ou não pode deixar de ser absolutamente.

a) Necessidade e contingência no ser

No mundo físico, todas as substâncias podem ser sujeito, não só de mudanças acidentais, [...] mas também de mudanças substanciais, [...].

Pág. 334/335 –

Neste sentido, todos os seres materiais são contingentes, pois estão submetidos à geração e à corrupção: começam a existir mediante mudanças substanciais e podem deixar de ser o que são.

Pág. 335 –

[...] os viventes manifestam sua contingência na medida em que começam a existir pela geração e deixam de existir pela morte.

[...] a contingência no ser estende-se a todos os níveis da natureza e a todos os sistemas individuais. [...] raiz desta contingência é a materialidade, que implica

Leis científicas Aspectos dos

fenômenos naturais

Leis científicas Realidade.

Leis científicas Regularidade

Leis científicas Aproximativo e

perfectível

Leis da natureza física

Na natureza

propriamente falando não existem

leis – apenas entidades

Nada se repete

Contingente é o que pode ser de um

modo ou de outro

No mundo físico Substâncias

Todos os seres materiais são contingentes

Viventes e sua contingência

Contingência

no ser

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estruturação espaço-temporal e, portanto, a possibilidade de mudanças tanto acidentais como substanciais.

Se algo existe de modo completamente necessário, existiria por si mesmo, independentemente do que acontecesse com os outros seres; não dependeria de nenhum outro ser, e, portanto, deveria ter o ser por si mesmo: mas isto só pode ser atribuído a Deus.

Pág. 336 –

[...] no mundo material existem diversos tipos de necessidade. Ainda que não se dê uma necessidade absoluta, existem muitos tipos de necessidade relativa.

Pág. 336/337 –

Os seres humanos, compostos de matéria e espírito, possuem a necessidade dos seres espirituais, de modo que, uma vez que existimos, poderíamos deixar de existir somente por aniquilação por parte de Deus; mas estamos fadados à morte, que implica a separação do espírito e da matéria, passando o espírito a viver em condições um tanto misteriosas, mas que correspondem ao tipo de necessidade própria das realidades espirituais.

Pág. 337 –

[...] seres especialmente perfeitos, como é o caso de viventes superiores em geral e dos seres humanos em particular, têm uma grande fragilidade em seu ser material: com efeito, requerem uma organização muito sofisticada que pode deixar de existir com certa facilidade, devido ao grande número de circunstâncias capazes de provocar a sua morte.

b) Necessidade e contingência no agir

A maior dependência da matéria implica uma maior necessidade no agir, que é um sinal de imperfeição. Os seres mais perfeitos possuem uma maior independência em relação às condições materiais, por possuírem conhecimento e sensibilidade.

Pág. 337/338 –

No caso do ser humano, devido a sua espiritualidade, dá-se uma autêntica liberdade. Neste âmbito, necessidade costuma contrapor-se à liberdade.

Pág. 338 –

[...] já que a liberdade alcança a sua perfeição autêntica quando é usada para agir bem.

[...] seres materiais [...] circunstâncias múltiplas e variadas nas ações materiais, de tal modo que a necessidade do agir material não implica, por si mesma, um agir determinista. [...] a falta de liberdade não equivale a um agir completamente uniforme em qualquer circunstância.

27.3 Determinismo e indeterminismo

Pág. 339 –

O determinismo clássico foi expresso numa célebre passagem de uma obra publicada pelo físico francês Pierre Simon de Laplace em 1814: “Assim, pois, temos de considerar o estado atual do universo como o efeito do seu estado anterior e como

Contingência e materialidade

Se algo existe necessariamente existiria por si

mesmo

Mundo material e necessidade.

Seres humanos compostos de

matéria e espírito Fadados à morte Separação entre

espírito e matéria

Seres perfeitos Seres humanos

Fragilidades Organização sofisticada

Dependência da matéria –

necessidade no agir

Ser humano Autêntica liberdade

Liberdade e Agir

Seres materiais Necessidade do agir material e

liberdade

Determinismo clássico Laplace

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causa do que haverá de sucedê-lo. Uma inteligência que em um momento determinado conhecesse todas as forças que animam a natureza, assim como a situação respectiva dos seres que a compõem, e se, além disso, fosse suficientemente ampla para submeter à análise tais dados, poderia abarcar em uma só fórmula os movimentos dos corpos maiores do universo e os do átomo mais ligeiro; nada lhe seria incerto e tanto o futuro como o passado estariam presentes diante dos seus olhos”.

Na primeira metade do século XX, a física quântica pareceu desacreditar esta opinião.

Pág. 339/340 –

O princípio de indeterminação de Heisenberg, formulado em 1927 pelo físico alemão Werner Heisenberg, afirma que no mundo microfísico existem limites que impedem medir simultaneamente com toda a precisão os valores de pares de magnitudes conjugadas (como a posição e o momento de uma partícula subatômica, ou a energia e o tempo).

Pág. 340 –

[...] as teorias do caos não afirmam que exista um puro caos; pode mesmo parecer chocante que se fale de caos determinista, mas este nome expressa a realidade: obtêm-se novas leis, antes desconhecidas, que se cumprem nos fenômenos que estas teorias estudam.

Pág. 341 –

[...] causalidade não equivale a determinismo. Em determinadas ocasiões, a existência de indícios a favor do indeterminismo é interpretada como se falhasse o próprio conceito de causalidade, e diz-se que podem existir fatos sem causa.

27.4 Acaso, ordem e complexidade

[...] o acaso é o resultado da confluência de cadeias causais independentes. Dizemos que algo acontece por acaso quando não é o efeito previsto de uma causa: a sua existência deve-se à coincidência de causas que não teriam por que coincidir.

Pág. 342 –

O característico do acaso é que as causas que atuam conjuntamente são independentes, ou seja, não há razão pela qual devam coincidir e ordinariamente não coincidem.

O acaso relaciona-se com o indeterminismo da atividade natural. São muitos os fatores causais que podem intervir nos processos naturais e não existe uma razão que permita prever quais fatores intervirão em cada caso concreto. Por este motivo, o indeterminismo da natureza pode ser considerado como uma característica real, do mesmo modo e pelo mesmo motivo que o acaso é real.

Pág. 343 –

[...] a complexidade da natureza torna muito difícil ou impossível esta previsão, pois em cada caso particular intervêm fatores que podem estar ausentes em outros casos.

O determinismo da natureza depende de que sejam produzidas situações estáveis nas quais alguns comportamentos são uniformes ou regulares.

o estado atual do universo como o

efeito do seu estado anterior e

como causa do que haverá de sucedê-lo.

Física

Quântica

O princípio da indeterminação de

Heisenberg Formulado em 1927.

As teorias do caos não afirmam que existas um puro

caos

Causalidade não equivale a

determininismo

O acaso é o resultado da confluência

O característico do acaso

independentes

O acaso relaciona-se com o

indeterminismo da atividade

natural.

Complexidade da natureza

O determinismo da

natureza

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O acaso desempenha uma função na produção de sucessivos níveis de complexidade na natureza.

Pág. 344 –

Na perspectiva atual, geralmente se admite a existência de certo indeterminismo na natureza. Assim, a evolução é, em certo sentido, criativa; e, por isso, o futuro não está completamente determinado pelo passado.

Pág. 345 –

CAP. X – OS VIVENTES

28. Caracterização do ser vivente

Pág. 346 –

28.1 Biologia e filosofia

a) Física, biologia e filosofia da natureza

Aristóteles atribuiu a eles o posto central em sua filosofia; pode-se afirmar que “as substâncias propriamente ditas são, para Aristóteles, os seres vivos, de modo que a compreensão do ser em geral tem as suas raízes na compreensão do ser vivo”.

Pág. 347 –

[...] o mecanicismo tomou como modelo uma parte da física, declarou que a finalidade não existia e tentou explicar as dimensões finalistas da natureza mediante categorias mecânicas: entretanto, a biologia contemporânea colocou em primeiro lugar estas dimensões finalistas, já que a finalidade aparece nos seres vivos por toda parte.

b) A vida na biologia molecular

Pág. 348 –

[...] a biologia molecular proporcionou conhecimentos que colocaram as nossas idéias sobre a vida em um novo nível, antes desconhecido.

Pág. 349 –

Na caracterização da vida que existe em nosso planeta ocupam um lugar muito destacado: o DNA, como material genético; o RNA, que intervêm na tradução e transcrição do DNA do núcleo em proteína fabricadas nos ribossomos das células; [...].

Os conhecimentos atuais situam o problema da vida em uma nova perspectiva. Por um lado, porque pela primeira vez na história conhecemos detalhadamente uma parte importante dos mecanismos físico-químicos da vida, o que nos leva a contemplar todos os viventes sob uma mesma perspectiva. E, por outro, porque agora sabemos que uma grande parte dos seres vivos é muito primitiva.

Pág. 350 –

c) A genética e as suas implicações

Pág. 351 –

Acaso e complexidade

Perspectiva atual Indeterminismo na

natureza

Aristóteles Substâncias são os

seres vivos

O mecanicismo tomou como

modelo uma parte da física

Mecânica

Biologia molecular Idéias sobre a vida

Caracterização da vida

Lugar destacado o DNA.

Conhecimentos atuais situam o

problema da vida em uma nova perspectiva

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Beardsley assinala que “o principal ensinamento da biologia molecular nos últimos 20 anos é o do controle da expressão gênica mediante a relação da transcrição”.

Pág. 352 –

O progresso da genética é interpretado, em determinadas ocasiões, a favor de um determinismo genético que, se for concebido de modo rígido, deixaria espaço apenas para a liberdade.

[...] no caso da pessoa humana, a liberdade permite-nos atuar em função de motivos racionais e desejos da vontade, ainda que a nossa atuação obviamente se desenvolva sobre a base proporcionada por nossas particularidades genéticas.

Pág. 353 –

d) Informação e direcionalidade

A existência da informação genética leva-nos a admitir que existem nos seres vivos realidades que correspondem aos conceitos de programa, desenho e plano. Existe uma direcionalidade imanente, que o progresso científico expõe cada vez mais clara e extensamente.

[...] a direcionalidade biológica [...]. Trata-se de uma direcionalidade real, mas ao mesmo tempo complexa e compatível com graus crescentes de uma espontaneidade que, ao chegar ao nível humano, completa-se com novas dimensões, as espirituais, que transcendem o âmbito espaço-temporal do natural.

Pág. 354 –

28.2 Características dos seres vivos

Pode-se caracterizar a vida como a posse de um tipo especial de espontaneidade: o automovimento, que, além do mais, repercute no bem do próprio agente. [...] duas características fundamentais dos seres vivos: a organização e a funcionalidade.

a) Organização vital e funcional

Pág. 354/355 –

A existência de um dinamismo próprio nos seres vivos é indubitável. Precisamente, os viventes podem ser caracterizados como seres capazes de automovimento.

Pág. 355 –

[...] na realidade, não há nada na natureza que seja puramente passivo e inerte ou que não possua algum tipo de estruturação espaço-temporal.

[...] os viventes possuem um dinamismo próprio muito peculiar, que corresponde a uma unidade e a uma individualidade especialmente fortes. São sujeitos claramente diferenciados de outros, que possuem partes organizadas de modo cooperativo em um organismo que tem as suas próprias necessidades, metas e tendências.

[...] dinamismo próprio e estruturação espaço-temporal correspondem, nos seres vivos, a um automovimento que inclui a cooperação funcional das partes de um organismo unitário e individual.

Pág. 356 –

Beardsley Biologia molecular

O progresso da genética

Determinismo

Liberdade Razão e Vontade

Informação genética

Conceitos de programas

Direcionalidade

biológica e Direcionalidade

Real.

Vida como posse de um tipo especial de espontaneidade

Existência de um dinamismo

próprio.

Natureza nada que seja passivo

Viventes possuem

um dinamismo próprio

Particular

Dinamismo próprio e

estruturação

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b) Imanência e espontaneidade

O automovimento é uma característica dos seres vivos. Embora todo natural possua um dinamismo próprio, existem equilíbrios dinâmicos que em muitos casos ocultam este dinamismo diante da experiência ordinária.

O dinamismo dos seres vivos manifesta-se sob a forma de uma espontaneidade [...] buscam ativamente o que contribui para a manutenção e o desenvolvimento do seu ser. [...] A atividade própria dos seres vivos encontra-se em um nível diferente ao dos seres físico-químicos.

A imanência dos viventes significa que, de algum modo, atuam tendo a si mesmos como fins. Eles são os “beneficiários” das suas próprias ações, o que não exclui que a sua atividade também beneficie a outros e tenha fins fora de si mesmos.

Pág. 357 –

Os viventes realizam ações cujos efeitos permanecem no seu interior e contribuem para a sua perfeição; ainda que em muitos casos estas ações também sejam transeuntes por produzirem efeitos físicos detectáveis, revertem no agente que as realiza. [...] No caso do ser humano, a inteligência e a vontade situam-no num nível essencialmente superior ao de outros seres naturais e neste nível se dá um grau único de imanência no qual o ser humano encontra a sua perfeição específica.

c) Aspectos fenomenológicos do ser vivente

[...] o automovimento dos seres vivos manifesta-se em dois aspectos que são típicos: o desenvolvimento e a reprodução.

Pág. 358 –

A organicidade é outra característica típica de muitos seres vivos.

A geração refere-se ao começo da existência do ser vivo, que se forma como um ser individual e unitário a partir de outros seres vivos.

28.3 A explicação da vida

[...] explicações que se refiram a componentes e estruturas que seguem pautas espaço-temporais repetíveis.

Pág. 359 –

Desde a Antigüidade, discutiu-se se os viventes podem ser explicados levando em conta somente explicações deste tipo, ou se, ao contrário, é necessário introduzir outros princípios explicativos.

O mecanicismo [...] defendido por Descartes, que afirmou que todo ente natural, inclusive os seres vivos (com exceção da alma humana), são puras máquinas mecânicas. [...] o vitalismo sublinha as características peculiares dos seres vivos e postula algum fator metaempírico, algum tipo de princípio vital, que seria necessário para dar conta do ser e do agir dos seres vivos.

[...] hoje em dia geralmente se admite que os seres vivos possuem características específicas que não são encontradas em outros níveis do natural. [...] seguem as leis da física e da química, mas as transcendem.

O automovimento é uma característica dos seres vivos.

O dinamismo dos seres vivos sob a

forma espontaneidade

A imanência dos

viventes Tem a si como fins

Os viventes Realizam ações

cujos efeitos permanecem no seu

interior e contribuem...

Desenvolvimento Reprodução

Organicidade

Geração existência do ser vivo

Estruturas e pautas espaço-temporais

Antigüidade Viventes e princípios

Mecanismo

defendido por Descartes Vitalismo

Princípio vital

Seres vivos características

específicas

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[...] quando Aristóteles fala de “alma” dos seres vivos, refere-se ao seu modo de ser, que certamente possui caracteres peculiares. No segundo livro do seu tratado Acerca da alma, Aristóteles propôs uma definição geral da alma mediante três passos sucessivos. Em primeiro lugar, diz que “costumamos a chamar de vida o alimenta-se, crescer e envelhecer por si mesmo” [...].

Pág. 360 –

Em segundo lugar, Aristóteles acrescenta que ter vida é anterior a exercitá-la e, portanto, afirma que “a alma é o ato primeiro de um corpo natural que tem vida em potência”. [...] um corpo deste tipo, com vida em potência, é um organismo. [...] em terceiro lugar, que a alma é “o ato primeiro de um corpo natural organizado”.

Matéria e forma não são entes completos nem partes físicas; são co-princípios, que se comportam como potência e ato: a matéria prima é o princípio potencial e indeterminado e a forma substancial é o princípio atual e determinante.

Nos seres vivos, a sua forma substancial ou alma é ato primeiro: expressa o modo de ser essencial, que sempre está em ato enquanto o ser vivo existe.

Pág. 360/361 –

Para agir, o ser vivo deve passar de potência a ato: possui certas potências ativas ou faculdades vitais que lhe capacitam à ação, mas deve atualizá-las em cada caso.

Pág. 361 –

O agir segue ao ser: o ser em ato segundo, que é a ação, realiza-se de acordo com o modo de ser de cada vivente, ou seja, o que é em ato primeiro e que vem expresso pela forma substancial ou alma.

A concepção filosófica da alma dos seres vivos não só é compatível com o progresso da biologia, mas expressa adequadamente o modo de ser peculiar das entidades biológicas.

Pág. 362 –

[...] da filosofia da natureza buscamos, antes de tudo, representar o mais fielmente possível o modo de ser dos entes naturais, que, neste caso específico, são os seres vivos.

29. A origem da vida e a evolução das espécies

Pág.. 363 –

A primeira teoria da evolução foi proposta por Lamarck em seu livro Filosofia zoológica, publicado em 1809. Em 1859, com a publicação de A origem das espécies de Charles Darwin, o evolucionismo conquistou grande difusão no âmbito científico e cultura. [...] Na atualidade, os biólogos geralmente admitem o fato da evolução, ainda que não exista unanimidade acerca das explicações concretas dos seus mecanismos.

Os problemas principais em torno da evolução biológica são dois, a saber: a origem dos primeiros seres vivos e a sucessiva origem de umas espécies a partir de outras.

29.1 A origem da vida

Pág. 363/364 –

Aristóteles – “alma

dos seres vivos” refere-se ao seu

modo de ser

Aristóteles – ter vida – alma é a

condição para ter vida

Matéria e forma Ato e potência Princípio atual

Seres vivos e ato

primeiro

Para agir o ser vivo ato à potência

O agir segue o ser O ser em ato

segundo

Alma filosófica e progresso da

biologia

Filosofia da natureza e seres

vivos

Primeira teoria da evolução foi proposta por

Lamarck Em 1809

Filos. Zoológica

Problemas da Evolução biológica

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Biogênese abiótica significa que os primeiros viventes se formaram a partir do nível físico-químico mediante processos naturais.

Pág. 364 –

[...] os experimentos de Pasteur em 1860 indicaram que não existe em nosso mundo a geração espontânea e que os experimentos que pareciam confirmá-la eram falhos devido a um insuficiente isolamento do material utilizado: quando se isolava convenientemente os produtos, evitando a sua comunicação com os microorganismos do ambiente exterior, não aparecia nenhum vivente.

Pág. 366 –

Alguns cientistas consideram muitíssimo improvável que a vida sobre a Terra tenha sido formada de modo espontâneo, e postulam que a vida, ou ao menos alguns dos componentes orgânicos básicos, deve ter chegado à Terra do espaço exterior ou de algum planeta habitado8; [...].

Pág. 367 –

29. A evolução das espécies

Em 1809, Jean Baptiste de Lamarck (1744 – 1829), defendeu o evolucionismo biológico, ou seja, a origem de umas espécies a partir da evolução de outras mais primitivas e tentou explicá-lo mediante a herança dos caracteres adquiridos.

A explicação de Darwin baseava-se na seleção natural: supõe-se que ocorrem pequenas variações hereditárias nos seres vivos, algumas das quais conferem aos seus possuidores vantagens na luta pela sobrevivência; os seres mais bem adaptados terão mais descendência e, aos poucos, mediante um processo gradual, as pequenas vantagens acumulam-se até produzir novos tipos de seres vivos, ou seja, novas espécies.

Pág. 368 –

Até 1930, formulou-se a denominada teoria sintética da evolução, ou neodarwinismo , que uniu as idéias de Darwin com os avanços da genética e o estudo das populações. Mais tarde, a biologia molecular proporcionou outros ingredientes básicos às teorias evolutivas.

O neodarwinismo afirma que as variações que se encontram na base da evolução são as mutações genéticas, ou seja, mudanças no DNA produzidas por diversas causas mas sempre “por acaso” [...] os efeitos das mutações benéficas amplificam-se, porque os seus portadores estão em vantagem na luta pela existência: produz-se uma “seleção natural”, assim denominada por analogia com a seleção artificial na qual conseguimos melhorar as características dos animais e das plantas mediante os cruzamentos apropriados. [...] segundo o neodarwinismo, explica-se a evolução pela combinação de mutações ao acaso e seleção natural.

Pág. 369 –

8 A hipótese da “panspermia”, segundo a qual existem germens de vida no espaço e que estes teriam chegado à Terra, é antiga. Em nossos dias, Francis Crick (prêmio Nobel, junto com James Watson, por seu descobrimento da estrutura em dupla hélice do DNA), fala da “panspermia dirigida”; germes de vida, ou talvez bactérias, poderiam ter sido enviadas ao nosso planeta de modo intencional.

Biogênese abiótica Físico-químico

Pauster 1860 Não existe em nosso mundo

geração Espontânea

Ciência – a vida deve ter chegado à

terra do espaço exterior

Lamarck e o evolucionismo

biológico

Darwin Seleção natural

Variações hereditárias que

conferem vantagem na sobrevivência

Até 1930 – teoria sintética da evolução

Neodarwinismo

Neodarwinismo variações na base da evolução são

mutações genéticas ao

acaso o que produz “seleção

natural”

A hipótese da “panspermia”

Germes da vida

no espaço

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O darwinismo interpreta os diferentes caracteres biológicos em termos de vantagens ou desvantagens adaptativas por meio da seleção natural. Todavia, o neutralismo (proposto por Motoo Kimura) afirma que muitas mudanças do DNA, inclusive a maioria, não têm um significado adaptativo: são “neutras” neste aspecto9.

O darwinismo interpreta as mudanças evolutivas como o resultado da lenta acumulação de pequenas mudanças; é uma teoria “gradualista”. Porém, o “saltacionismo” ou teoria dos equilíbrios pontuados (proposta por Stephen Jay Gould e Niles Eldredge) sustenta a existência de mudanças bruscas, que não correspondem a uma lenta acumulação de variações, mas a outro tipo de mecanismo.

Pág. 370 –

A evolução das teorias evolucionistas é contínua; uma vez e outra se formulam novas sínteses que trazem novos pontos de vista10.

Pág. 371 –

29.3 A evolução: ciência e filosofia

[...] as teorias científicas referem-se ao fato da evolução e aos seus mecanismos; por sua vez, a reflexão filosófica concentra-se em torno do significado da evolução: analisa as suas condições de possibilidade e as suas implicações.

a) Evolução e criação

Pág. 372 –

[...] as teorias evolucionistas não explicam tudo. Apóiam-se em alguns pressupostos ou condições de possibilidade: a existência de uma matéria e de umas leis muito específicas, cujas virtualidades permitiram a sucessiva produção de toda uma série de organismos que formam uma escala enormemente variada cujo resultado final é o organismo humano.

Pág. 373 –

Pode-se dizer, portanto, que o problema da criação é um problema metafísico que transcende a possibilidade do método científico e que se refere às condições necessárias para a evolução.

Afirmamos que entre evolução e criação inexiste contradição; e, além disso, que a reflexão sobre as condições de possibilidade da evolução conduz ao problema da criação. [...] posturas extremadas. [...] a que defende um evolucionismo que, indo além do que a ciência permite afirmar, alguns fundamentalistas religiosos que, em nome da Bíblia, negam a possibilidade da evolução biológica. Mas ambas as posições são ilegítimas: nem a ciência pode negar a ação divina, nem a religião é competente para refutar argumentos verdadeiramente científicos.

b) Evolução e finalidade

[...] se buscamos as causas que permitem compreender de modo completo a evolução, surge a pergunta sobre a existência de um plano superior que governa a evolução.

9 [...] “Teoria neutralista de la evolución molecular”, [...]. 10 Pode-se ver, por exemplo, STEBBINS, G. L. e ANYALA, F. J. “La evolución del darwinismo”, in Investigación y ciencia, n. 108, setembro de 1985, págs. 42-53.

Darwinismo caracteres biológicos Adaptação

Darwinismo Mudanças

evolutivas como resultado de mudanças

Teorias evolucionistas

Reflexão filosófica Condições da

evolução

As teorias evolucionistas apóiam-se em

alguns Pressupostos

O problema da criação é

Metafísico

Entre evolução e criação inexiste

contradição A reflexão sobre as

condições de possibilidade da

evolução

Um plano superior que governa a

evolução

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Pág. 373/374 –

Em determinadas ocasiões afirmou-se que existe uma “ortogênese global”, ou seja, uma “tendência evolutiva” que conduziu aos resultados que conhecemos e que, portanto, é possível provar cientificamente que a evolução está “dirigida”11.

Pág. 374 –

[...] não parece possível concluir que exista uma tendência que tenha conduzido necessariamente aos resultados que conhecemos; por um lado, porque o nosso mundo é contingente, e, por outro, porque, mesmo se afirmássemos a existência de um plano divino, este plano pode incluir avanços e retrocessos, explosões de vida e extinções em massa: nada obriga a identificá-lo como um processo linear e sempre progressivo.

Pág. 374/375 –

[...] é congruente pensar que, se Deus quis produzir os seres vivos mediante um processo evolutivo, este processo incluirá todas as contingências próprias de um gigantesco processo que se desenvolve ao longo de uma duração muito grande e contém muitos fatores aleatórios.

Pág. 375 –

O questionamento acerca da existência de um plano divino encontra-se fora do alcance das teorias evolucionistas: a ciência pode estudar o fato e as modalidades de evolução, mas a possível existência de um plano divino sobrepõe-se às possibilidades do seu método. Conseqüentemente, os mesmos motivos que impedem de afirmar cientificamente a existência de um plano superior, impedem também de negar a sua existência em nome da ciência.

[...] Jacques Monod, [...] “o homem sabe agora que está só na imensidão indiferente do universo de onde emergiu por acaso”, Christian de Duve, também prêmio Nobel, em 1974, tenha replicado: “Isto é, por suposto, um absurdo. [...] com o tempo e a quantidade de matéria disponível, nem sequer algo que se assemelhasse à célula mais elementar, para não nos referirmos já ao homem, poderia se organizar por um acaso cego se o universo não os houvesse levado já em seu seio”12.

c) Evolução e emergência

Parece indubitável que exista um paralelismo entre o grau de organização e a interioridade dos seres vivos; e também é claro que, à medida que se avança no conhecimento das estruturas biológicas, determinam-se melhor os aspectos concretos deste paralelismo.

Pág. 377 –

d) Evolução e ação divina

Podemos concluir que a evolução biológica não só é compatível com a ação divina, mas também que a ação divina nos situa numa perspectiva muito adequada para compreender as condições que possibilitam a evolução.

11 Pierre Teilhard de Chardin [...]. 12 DU DUVE, Christian. La célula viva, Barcelona: Labor, 1988, pág. 35.

Ortogênese global Tendência Evolutiva

Evolução dirigida

Tendência de condução aos

resultados que

conhecemos? Contingências

Deus criação e contingência de

um processo evolutivo

Teorias evolucionistas e plano divino –

motivos científicos e motivos

criacionistas

Jacques Monod O homem está só na

imensidão indiferente do

universo de onde emergiu ao acaso

Paralelismo entre o grau de evolução e a interioridade dos

seres vivos

Evolução biológica e ação divina

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Alguns autores afirmam que a combinação das mutações ao acaso com a seleção natural basta para explicar o todo: as mutações são a fonte da variabilidade; a seleção é a fonte da ordem, porque é um filtro que permite somente a passagem dos organismos mais dotados; [...].

[...] defende-se uma posição tipicamente cientificista13.

A tese segundo a qual as mutações genéticas e a seleção natural proporcionam uma explicação completa e suficiente da evolução enfrenta sérias dificuldades.

Pág. 378 –

Em último termo, a combinação de mutações e seleção pode explicar alguns aspectos da produção dos seres vivos, mas é insuficiente como explicação total dos aspectos holísticos, direcionais e cooperativos que existem na evolução.

Quando se nega a legitimidade das interrogações filosóficas em nome da ciência, adota-se uma perspectiva cientificista, segundo a qual existe somente um caminho para conhecer a natureza: o que é utilizado pela ciência experimental.

Pág. 379 –

[...] lugar para um Deus criador e providente14.

Pág. 380 –

[...] do ponto de vista científico e epistemológico é discutível que as teorias atuais sejam suficientes para explicar completamente a evolução, ainda que se restrinjam ao nível das explicações científicas.

[...] para se atingir uma perspectiva completa sobre a evolução, as explicações científicas devem ser completadas considerando as dimensões metafísicas do problema, referentes especialmente à criação do universo e à existência de um plano divino que o governa.

29.4 A origem do homem

Pág. 381 –

[...] relação como processo evolutivo15.

a) o processo de hominização

O homem atual existiria há cerca de 30 mil anos.

13 Richard Dawkins, professor de biologia na Universidade de Oxford, em sua obra El relojero, Barcelona: Labor, 1988. 14 [...] “A seleção natural, o processo automático, cego e inconsciente que Darwin descobriu, e que agora sabemos que é a explicação da existência e forma de todo tipo de vida com um propósito aparente, não tem nenhuma finalidade em mente. Não tem mente nem imaginação. Não planifica o futuro. Não tem nenhuma visão, nem previsão, nem vista. Se se pode dizer que cumpre uma função de relojoeiro na natureza, esta é a de relojoeiro cego...; o ‘desenhista’ é a seleção natural inconsciente, o relojoeiro cego...; nossa hipótese atual é que o trabalho foi feito pela seleção natural, em estágios evolutivos graduais”. 15 JORDANA, R. “El origem del hombre. Estado actual de la investigación paleoantropológica”, in Scripta Theologica, 20 (1988), págs. 65-99.

Mutações ao acaso com a seleção

natural basta para explicar o todo

Posição cientificista

Mutações genéticas

e seleção natural

Seleção e combinação de

mutações

Legitimidade das interrogações

filosóficas

Lugar para Deus

Atuais teorias e sua suficiência para

explicar...

Perspectiva completa sobre a

evolução dimensões metafísicas

Processo evolutivo

30 mil anos

Seleção natural Não tem nenhuma

finalidade em mente Não tem mente nem

imaginação Não planifica o

futuro Não tem previsão Relojoeiro cego

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Pág. 382 –

Todavia, com relação aos detalhes concretos, também existem dificuldades e diferenças de opinião entre os cientistas16.

Pág. 383 –

b) Homem e animal

O ponto principal de discussão é se o homem possui uma natureza essencialmente superior ao do resto dos animais ou somente se trata de uma diferença de grau.

[...] Darwin [...] sob o ponto de vista das faculdades intelectuais, não existe nenhuma diferença fundamental entre o homem e os mamíferos superiores.

Pág. 383/384 –

Depois de examinar as principais características humanas, incluindo a linguagem, o pensamento abstrato, o sentido moral e a religião, Darwin concluiu que, por mais considerável que seja a diferença entre o homem e os animais superiores, trata-se somente de uma diferença de grau e não de espécie.

Pág. 384 –

“[...] A única alternativa honrada é admitir a existência de uma estrita continuidade qualitativa entre nós e os chipanzés. E o que é que perdemos com isso? Tão somente um antiquado conceito de alma, para ganhar uma visão mais humilde, ao mesmo tempo exaltante, de nós mesmos e de nossa unidade com a natureza”17.

Pág. 385 –

c) A espiritualidade humana

A espiritualidade humana significa que o homem possui características que transcendem as condições materiais.

As dimensões espirituais exigem um substrato real, que se costuma denominar alma. Além disso, se se leva em conta que transcendem o âmbito do natural, exigem uma intervenção especial de Deus, mediante a qual cria a alma humana espiritual.

Pág. 386 –

[...] pode ser oportuna uma referência ao monogenismo, ou seja, à doutrina segundo a qual todos os homens procedem de um único e primeiro casal. [...] se a evolução fosse admitida, o monogenismo seria insustentável e deveria se afirmar o poligenismo, ou seja, a origem a partir de um conjunto de seres humanos primitivos.

29.5 As fronteiras do evolucionismo

As fronteiras da ciência experimental encontram-se nos limites do controle experimental.

[...] às teorias evolucionistas, destacam-se três problemas básicos [...].

16 [...] “La evolución de la especie humana”, na obra coletiva Evolución, Barcelona: Labor, 1982, págs. 128-137; [...] “Origem de los homínidos y homínidos”, [...]. 17 GOULD, S. J. Desde Darwin, Madrid: hermann Blume, 1983, pág. 53.

Diferenças entre cientistas

Homem natureza Superior ???

Darwin

N. existe diferença

Darwin – a diferença é apenas de grau e não de

espécie.

Existência de estrita continuidade entre nós e os chipanzés

Perdas da Alma ???

A espiritualidade humana

Dimensões

espirituais exigem substrato real

Monogenismo Todos os homens procedem de um

único casal

Ciência experimental

Problemas...

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Pág. 386/387 –

O primeiro é a criação do universo. Em sentido estrito, a criação refere-se à produção de algo que antes não existia absolutamente.

Pág. 387 –

Esta questão ultrapassa totalmente o alcance da ciência. [...] o problema da criação pertence ao âmbito da metafísica. Pode-se provar que deve ter ocorrido a criação: mas os raciocínios que a apóiam encontram-se além das possibilidades da ciência experimental.

O segundo é o problema da alma humana. Somente pode-se submeter-se ao controle experimental o que é material e, portanto, o que segue as leis da matéria.

O terceiro é o problema da ação de Deus no mundo. As ciências formulam leis acerca do mundo, mas a existência do mundo e das suas leis não depende da nossa ciência. A natureza tem um dinamismo próprio. Podemos intervir para provocar transformações, mas sempre de acordo com as leis naturais.

Pág. 388 –

Outros problemas fronteiriços são os que se referem à finalidade e ao acaso. [...] os partidários do denominado princípio antrópico sublinham que a existência do homem é possível porque as leis básicas da física e as sucessivas estruturas nos níveis físico, químico e biológico são muito específicas; [...].

Afirmar que as ciências têm fronteiras não significa menosprezá-las. O progresso das ciências depende, em grande parte, da deliberada eleição de um método particular que se limita a estudar as dimensões do natural que podem se relacionar com o controle experimental.

[...] a perspectiva metafísica permite compreender em toda a sua profundidade o significado da natureza na vida humana, coisa que não é possível se adotarmos um reducionismo naturalista. [...] cientificismo [...] a uma visão empobrecida na qual se perde o significado autêntico da vida humana, que fica reduzida a um acidente dentro de um processo evolutivo carente de finalidade.

Pág. 389 –

CAP. XI – ORIGEM E SENTIDO DA NATUREZA

30. A origem do universo

[...] explicação última do universo18.

Pág. 389/390 –

Kant propôs que o universo teria se formado a partir de uma nebulosa primitiva.

Pág. 390 –

30.1 A cosmologia científica

18 SANGUINETI, Juan José. Ell origen del universo. A cosmología en busca de la filosofia, Buenos Aires: Educa, 1994.

Criação do Universo

A questão da criação pertence ao

âmbito da metafísica

Somente o que é

experimental

Ação de Deus no mundo

Natureza e seu dinamismo

Finalidade e acaso Problemas

fronteiriços entre ciência/filosofia

Ciências e suas

fronteiras Método de

Estudos

Perspectiva metafísica

Significado de natureza na vida

humana

Universo

Kant

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A cosmologia científica, ramo da física que estuda a origem do universo, é relativamente recente. As provas da existência de galáxias distintas da nossa chegaram a ser concludentes só por volta de 1920 e o modelo da grande Explosão não foi completamente aceito até 1964.

Pág. 393 –

30.2 A criação: física e metafísica

a) A criação como problema metafísico

Com o modelo da Grande Explosão, pela primeira vez na história dispomos de cálculos verossímeis acerca da idade do universo.

Pág. 394 –

[...] a cosmologia científica não pode demonstrar a criação do universo.

O problema da criação não se refere à origem de um estado físico a partir de outro, mas ao fundamento radical do universo, ou seja, à produção de seu ser. [...] a criação não é um problema físico, mas metafísico. O problema filosófico da criação consiste em determinar se o universo pode ser auto-suficiente ou se, pelo contrário, é necessário afirmar que se tenha produzido por uma causa que lhe deu o ser.

Pág. 395 –

As provas racionais da criação remetem, em última análise, a um dilema: ou o universo é auto-suficiente, ou seja, existe por si mesmo e não há nada fora dele que explique a sua existência, ou remete a uma causa que é diferente do universo, que o produziu e lhe deu o ser. [...] O modo de ser dos não-viventes implica que não podem ser auto-suficientes e, para estes efeitos, é indiferente considerar somente um ser, alguns seres ou uma série indefinida de seres.

Portanto, o universo físico remete a uma causa superior que lhe tenha dado o ser. [...] Não significa que as criaturas tenham uma parte do ser divino, mas que possuem de modo parcial e limitado o ser, recebido de Deus.

Pág. 396 –

b) Começo temporal e criação

Não parece possível demonstrar que o universo tenha uma idade limitada, porque sempre se pode supor, ainda que de modo hipotético, a existência de períodos anteriores a qualquer estado concreto do universo. Isto foi sublinhado por Kant na primeira antinomia cosmológica de sua Crítica da razão pura, que versa sobre a indemonstrabilidade científica da finitude ou infinitude temporais do universo.

Tomás de Aquino perguntou-se se é possível que um ser criado tenha existido sempre; examinou os argumentos contrários e, depois de refutá-los, concluiu que somente conhecemos a origem temporal do universo por meio da revelação.

Pág. 396/397 –

De modo definitivo, sublinhou que o problema da criação do universo não se identifica com o de sua origem temporal, de tal maneira que se pode conhecer racionalmente que o universo tenha sido criado por Deus, ainda que não se possa provar somente pela razão que tenha um começo no tempo: [...].

Cosmologia científica – ramo da física que estuda a origem do universo

Modelo da grande explosão

Cosmologia cient.

O problema da criação e o

fundamento do universo

Produção de seu ser

Provas racionais da criação:

Ou o universo é auto-suficiente Ou sua origem

remete à uma causa

Universo físico e seu modo de

ser

Kant e sua primeira antinomia

cosmológica na Crítica da razão

pura

Tomás de Aquino Um ser criado tenha

existido sempre

O problema da criação universo não se identifica com sua origem

temporal

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Pág. 397 –

[...] duração indefinida não equivale à eternidade em sentido estrito; a eternidade consiste na posse perfeita do ser, acima do tempo e da duração, e dá-se só em Deus, enquanto que a duração dos sistemas naturais se refere à existência sucessiva própria de um modo de ser temporal e mutável.

[...] independentemente do problema do começo temporal, o universo não é auto-suficiente e isto basta para estabelecer que deva ter sido criado por Deus.

[...] não se pode identificar o problema da origem temporal do mundo com o da sua criação: o problema da criação do universo refere-se ao fundamento radical de seu ser e pode ser resolvido sem levar em conta o problema da duração.

c) O início do universo

Pág. 398 –

[...] não tem sentido [...] afirmar uma presumível autocriação do universo, ou seja, uma autêntica criação, mas sem Criador.

Pág. 399 –

O vazio quântico é um estado físico de estrutura complexa. O seu estudo corresponde à física quântica, âmbito no qual existem interpretações discrepantes, sobretudo acerca da causalidade.

Pág. 400 –

A relatividade geral, base para os modelos cosmológicos, interpreta a força da gravidade como uma curvatura do espaço-tempo; por este motivo supõe, de certo modo, uma geometrização da física.

[...] pretende-se extrair da física algo que esta ciência, por seu próprio método, é incapaz de oferecer, pois as suas idéias somente podem ter significação empírica desde que exista algum procedimento para relacionar com experimentos reais ou possíveis, e isto não acontece quando se considera o problema da origem absoluta do universo a partir do nada.

Pág. 401 –

As propostas que apresentam a autocriação do universo como uma possibilidade científica são apenas uma das manifestações atuais da fé pseudocientífica do naturalismo.

30.3 Implicações da criação

Necessita-se da criação para fundamentar o ser do criado; não se refere a um aspecto particular das coisas criadas, mas à totalidade do que elas que são. O ser do criado depende radicalmente de Deus, não só para começar a existir, mas totalmente: por conseguinte, a ação divina é necessária para fundamentar o ser criado, mesmo quando este ser já chegou à existência.

Pág. 402 –

A criação não é necessária somente para explicar que algo tenha começado a ser. A ação divina estende-se a tudo o que é, se produz, se conserva e se origina. O ser

Duração indefinida não equivale à eternidade em sentido estrito

O universo não é auto-suficiente

Impossibilidade

entre origem temporal e criação

Auto-criação do universo

O vazio quântico é um estado físico de estrutura complexa

Relatividade geral Força da gravidade

Curvatura

Extrair da física algo que ela por seu

método é incapaz de oferecer Empírica

Proposta de autocriação do

universo

Necessita-se da criação para

fundamentar o ser do criado – a

totalidade que são

A criação estende-se a tudo o que é

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limitado do criado remete ao Ser que tem o ser por si mesmo e que, portanto, pode dar o ser às criaturas sem perder nada do que é.

Não se pode pensar que a ação divina é apenas um meio para explicar alguns aspectos da natureza que não são explicados de outro modo; é uma exigência da própria existência da atividade natural em todos os seus aspectos.

[...] a ação divina não interfere no natural em seu próprio nível: fundamenta-o. [...] A afirmação da ação divina fundante não tira a importância do natural nem o substitui; precisamente, é esta ação divina que dá o ser a todo ser natural, com o seu dinamismo próprio e as virtualidades.

[...] a criação divina permite compreender não só a existência do universo, mas o seu caráter racional; [...].

Pág. 403 –

Se não admitimos a criação divina, resta-nos afirmar que a organização do sistema da natureza é o resultado acidental de forças cegas, o que é completamente inverossímil.

31. A finalidade na natureza

Pág. 404 –

31.1 O conceito de finalidade

A noção de “fim” tem três sentidos principais: “término de um processo”, “meta de uma tendência” e “objetivo de um plano”.

[...] a finalidade significa “término de um processo”.

[...] o fim é a “meta” para a qual “tende” uma ação ou um processo. [...] nem todo término é uma meta, mas toda meta é o término de uma tendência. O conceito de finalidade é muito relacionado com o de “tendência”, que serve como critério para reconhecer a existência da finalidade.

Pág. 405 –

[...] quando o término é alcançado mediante uma ação voluntária, o fim é a meta de um projeto deliberado, o “objetivo” que é buscado mediante a ação. [...] sujeitos inteligentes e livres, capazes de se proporem objetivos, este sentido da finalidade identifica-se como o “objetivo de um plano”.

A finalidade opõe-se ao acaso. Dizemos que algo acontece por acaso quando é o resultado de coincidências acidentais, não previstas, que não correspondem a uma causa determinada. Ao contrário, a finalidade implica a existência de tendências que explicam os efeitos; [...].

Pág. 406 –

31.2 Dimensões finalistas da natureza

[...] três dimensões que resumem as principais manifestações da finalidade natural: a direcionalidade, a cooperação e a funcionalidade.

a) Direcionalidade

O ser limitado remete ao ilimitado

Ação divina não é apenas um meio explicar aspectos

A ação divina não interfere no natural

em seu nível – fundamenta-o

Criação divina Caráter racional

Criação divina ou

forças cegas

Noção de fim Três sentidos

Finalidade

Fim é a meta

para a qual tende uma ação ou

processo

O fim é a meta de um projeto deliberado O objetivo

A finalidade opõe-

se ao acaso Existência de

tendências

Direcionalidade Cooperação

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Consideremos, [...] a direcionalidade. Os processos naturais não se desenvolvem de modo arbitrário. Ao contrário, partem de entidades típicas e desdobram-se de acordo com pautas dinâmicas. O dinamismo natural desenvolve-se seguindo “vias privilegiadas”.

[...] nos organismos vivos, a direcionalidade alcança o seu ápice e é realmente espantosa: o desenvolvimento da informação genética, as atividades intracelulares, comunicação entre células, as funções vitais, são manifestações de uma direcionalidade clara e específica.

Pág. 407 –

[...] os desenvolvimentos concretos do dinamismo natural dependem de circunstâncias muito variadas que, em grande parte, correspondem a coincidências acidentais. [...] Isto equivale a reconhecer que os resultados não são necessários, mas contingentes.

Se a direcionalidade identifica-se com a existência de algumas tendências que necessariamente conduzem até metas concretas, deve-se concluir que esta direcionalidade não existe.

Pág. 408 –

Pode-se falar, neste sentido, de graus de direcionalidade, em função dos fatores que intervêm em uma situação; são, por exemplo, simples potencialidades, capacidades mais próximas de sua atualização ou autênticas tendências que conduzirão a resultados concretos. [...] são sempre potencialidades cuja atualização é somente possível, provável ou segura.

b) Cooperação

A cooperação é um tipo particular de direcionalidade. Concretamente, é uma potencialidade que se refere à integração de diferentes fatores em um resultado unitário.

Pág. 409 –

A cooperação possibilita a morfogênese ou produção de pautas holísticas específicas e está na base da especificidade da natureza.

Quanto mais se avança na organização, abrem-se novas brechas que antes não existiam. [...] a probabilidade aumenta de modo notável quando se percebe que os componentes não são independentes, que existem tendências cooperativas e que cada conquista abre novas potencialidades cooperativas que anteriormente não existiam e que são cada vez mais específicas.

Pág. 410 –

c) Funcionalidade

[...] “funcionalidade” para expressar que uma parte desempenha certo papel dentro de um todo maior.

A existência de funcionalidade é patente nos seres vivos. Qualquer trabalho de biologia pode ser considerado como uma exposição sistemática da funcionalidade nos seres vivos.

Direcionalidade Processos naturais patuás dinâmicas Vias privilegiadas

Organismos vivos Direcionalidade

Informação genética

Desenvolvimentos concretos do

dinamismo natural Coincidências

Direcionalidade

Tendências Metas concretas

Graus de direcionalidade Potencialidades

Capacidades Tendências

Cooperação Direcionalidade

Integração

A cooperação e morfogênese

Organização Tendências

cooperativas Potencialidades

Cooperativas

Funcionalidade Todo maior

Funcionalidade e

seres vivos biologia

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Pág. 412 –

A funcionalidade é o aspecto dinâmico da estruturação. A estruturação dos organismos e das suas partes é o substrato que possibilita a funcionalidade; [...].

Pág. 412/413 –

[...] existe um antropocentrismo legítimo, que considera a pessoa humana como o cume da natureza e reconhece que a existência do homem só é possível porque há uma grande funcionalidade em todos os demais níveis da natureza.

Pág. 413 –

Pode-se afirmar que, em muitos aspectos, a organização funcional da natureza supera amplamente as realizações humanas em variedade, riqueza, harmonia, eficiência, simplicidade e beleza.

31.3 Existência e alcance da finalidade natural

Pág. 414 –

Quando se considera a natureza como condição de possibilidade da vida humana, pode-se afirmar a funcionalidade do resto da natureza em relação ao homem.

Pág. 415 –

[...] é importante perceber que a direcionalidade, a cooperação e a funcionalidade são dimensões relacionadas com o modo de ser das entidades e processos naturais; correspondem ao seu dinamismo e estruturação; não são algo sobreposto nem tampouco são resultados acidentais: são dimensões constitutivas do natural. São propriamente modos de agir, que manifestam modos de ser.

[...] o conceito de finalidade natural, tal como o delimitamos, representa dimensões reais da natureza; e que estas dimensões se referem ao modo de agir do natural e, portanto, ao seu modo de ser.

31.4 A finalidade natural diante da cosmovisão atual

a) Finalidade e cosmologia

Pág. 416 –

Em 1974, Brandon Carter propôs a expressão princípio antrópico, afirmando que o homem não ocupa um lugar central no universo, mas apenas uma posição privilegiada. John D. Barrow y Franck J. Tipler publicaram em 1986 um livro no qual expuseram uma ampla defesa do princípio antrópico.

[...] versão débil ou moderada, o princípio antrópico afirma que tanto as condições iniciais do universo como as suas leis têm que ser compatíveis com a existência da natureza que observamos, compatibilidade que se estende a nós mesmos.

Pág. 417 –

Em sua versão forte, o princípio antrópico postula, de algum modo, a existência de uma finalidade que abarca todo o processo de formação da natureza.

b) A finalidade no nível biológico

Funcionalidade e estruturação

Antropocentrismo legítimo o auge da

natureza

Organização funcional da

natureza supera...

Natureza com condição de possib.

Da vida humana

Direcionalidade Cooperação

Funcionalidade Modo de ser das

entidades

Finalidade natural Dimensões reais da

natureza

Brandon Carter Princípio antrópico

Homem posição privilegiada

Princípio antrópico Condições iniciais

do universo

Princípio antrópico finalidade

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Pág. 418 –

[...] (a combinação do acaso com a necessidade)19.

[...] a evolução não proporciona uma explicação completa da finalidade natural. Com efeito, não explica que existam na natureza virtualidades muito específicas, cuja atualização conduz a novas virtualidades também muito específicas, e assim sucessivamente. A evolução é ininteligível se não se admite a existência de tendências e cooperação.

Pág. 419 –

Em segundo lugar, a evolução não é incompatível com o lugar central que o homem ocupa na natureza. Sem dúvida, o homem como meta da evolução é um resultado contingente: se consideramos as condições naturais que possibilitam a existência humana, houve um tempo em que não existiram, haverá um tempo em que não mais existirão e poderiam não ter existido nunca.

Em terceiro lugar, a evolução é compatível com a existência de um Deus criador e com o plano divino acerca da criação, pois o evolucionismo se situa em outro nível. Assim o reconhecem quase todos os evolucionistas, ainda que sejam agnósticos. [...] o processo evolutivo é dificilmente compreensível se não existe algum tipo de direção ou plano: este processo supõe a existência de algumas potencialidades iniciais muito específicas, cujas sucessivas atualizações ao longo de um período enorme de tempo conduzem a novas potencialidades que novamente são muito específicas, e isto acontece muitas vezes; além disso, foi necessária a coincidência de muitos fatores que tornaram possível esta enorme cadeia de atualização de potencialidades.

Pág. 420 –

c) Finalidade e auto-organização

O novo paradigma da auto-organização [...]. A idéia básica é a formação espontânea da ordem a partir de estados de menor ordem; é a chamada auto-organização.

[...] a matéria possui um dinamismo próprio que, nas condições adequadas, dá lugar a fenômenos sinergéticos ou cooperativos, mediante os quais espontaneamente se forma uma ordem de tipo superior (mais complexa e mais organizada). Assim teria se formado o universo com todas as suas partes.

Mas também se sublinha a contingência. A atualização das tendências depende de circunstâncias aleatórias. Os resultados não são necessários: [...]. A complexidade dos processos reais põe em relevo a contingência das sucessivas etapas do processo evolutivo.

Um elemento chave no novo paradigma é o protagonismo exercido pela informação: [...]. A informação é a racionalidade materializada, pois contém e transmite instruções, dirige e controla, e tudo isto através de estruturas espaço-temporais.

19 [...] Segundo o antifinalismo radical defendido por Monod, a ciência fundamenta-se no postulado da objetividade, que exclui qualquer “projeto” ou plano superior; se a isto se acrescenta o cientificismo, conclui-se (como o faz Monod) que não existe nenhum plano. Dawkins chega à mesma conclusão, sublinhando o papel diretivo que a seleção natural desempenha no processo evolutivo e sustentando a suficiência deste fator para explicar a organização atual dos seres vivos.

Necessidade

A evolução não proporciona uma

explicação completa da finalidade

A evolução não é incompatível com o lugar central que o homem ocupa na

natureza

A evolução é compatível com a existência de um

Deus criador e com o plano divino

acerca da criação, pois o

evolucionismo se situa em

outro nível

Auto-organização Formação espont.

A matéria possui um dinamismo

próprio fenômenos sinérgicos

Contingência

Atualização das tendências

aleatoriedade

Protagonismo exercido pela informação

Antifinalismo radical defendido

por Monod Ciência e a

objetividade Sem plano

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Pág. 421 –

A auto-organização é às vezes entendida como um “pandarwinismo naturalista” que eliminará definitivamente o problema do fundamento radical da natureza: a natureza seria auto-suficiente.

32. Natureza e pessoa humana

32.1 A singularidade humana

Pág. 422 –

a) características da pessoa humana

[...] o homem é uma pessoa, ou seja, um sujeito que pode atuar voluntariamente, respondendo pelos seus próprios atos.

O caráter pessoal do homem relaciona-se com a autoconsciência. A sua inteligência não se limita a algumas capacidades orientadas para a ação, mas permite que a pessoa interiorize a sua própria vida e o mundo que a rodeia mediante a reflexão sobre os seus próprios atos.

A pessoa humana tem um modo de ser e de agir que o colocam acima de todos os outros seres naturais. O conhecimento intelectual, característica essencial do ser humano, permite que sejam postuladas questões acerca do ser e do sentido e vinculam-se com a capacidade de eleger e de amar. [...] A atividade livre fundamenta-se em juízos de valor, que supõem o conhecimento do bem.

Pág. 423 –

A peculiaridade do ser humano consiste em que a sua natureza pertence ao mesmo tempo ao mundo físico e ao mundo espiritual.

O físico no homem é humano, nunca puramente animal; encontra-se compenetrado nas dimensões espirituais que lhe são características.

b) Criatividade científica e singularidade humana

Pág. 424 –

O método científico é, essencialmente, o caminho que o homem encontrou para interrogar a natureza em busca de respostas às suas perguntas.

Este método consiste em formular hipóteses e submetê-las ao controle experimental; [...].

Pág. 425 –

[...] a ciência experimental exige fortes doses de criatividade, interpretação e argumentação.

Pág. 426 –

Definitivamente, o progresso da ciência experimental demonstra que a pessoa humana possui dimensões materiais e racionais que estão interpenetradas.

Pág. 427 –

Auto-organização e pandarwinismo

Naturalista

O homem é uma pessoa

Caráter pessoal do

homem relaciona-se com a

autoconsciência

A pessoa humana tem um modo de ser

e de agir que o colocam acima de todos os outros...

Ser humano mundo físico e espiritual

O físico do homem é humano

Método científico e natureza

Método científico e

as hipóteses

Ciência experimental

Progresso da ciência

experimental

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32.2 Matéria e espírito na pessoa humana

a) O material e o espiritual: quatro problemas

[...] quatro problemas que as relações entre espiritualidade humana e as condições materiais nos apresentam. O primeiro é epistemológico e refere-se à possibilidade de observar manifestações concretas das dimensões espirituais. O segundo é ontológico e refere-se à caracterização do modo de ser próprio do espiritual e à coexistência do espiritual e do material. O terceiro é metafísico e refere-se à necessidade de admitir uma ação divina para explicar a espiritualidade humana. O quarto é existencial e refere-se á sobrevivência do espírito humano após a morte.

Pág. 428 –

[...] as dimensões propriamente espirituais manifestam-se através de toda a atividade consciente da pessoa e o progresso da ciência experimental é um dos melhores exemplos disto: a criatividade e a capacidade de argumentação, que alcançam um nível muito alto na ciência experimental, manifestam claramente que fazemos parte da natureza mas que, ao mesmo tempo, a transcendemos.

A pessoa possui um dinamismo próprio que ultrapassa as possibilidades das pautas espaço-temporais, tal como é demonstrado, por exemplo, pela sua capacidade de questionar e desejar que extrapolam o âmbito do espaço-temporal e pela sua capacidade de se autodeterminar livremente sobre a base do conhecimento dos valores éticos.

Pág. 428/429 –

[...] esta criação especial não representa, por assim dizer, uma alteração no curso ordinário da natureza, e a peculiaridade no caso do homem é resultado de a ação divina possuir uma “densidade ontológica” que supera o modo de ser próprio das entidades naturais.

Pág. 429 –

[...] se a pessoa humana possui dimensões ontológicas que supõem uma participação no ser próprio da divindade e seu ser depende da ação divina, é lógico que, quando as condições naturais tornam impossível a continuação da vida humana em seu modo de ser completo, a pessoa continue vivendo em seu ser espiritual. Caso fosse contrário, para que o espírito deixasse de existir, seria preciso um aniquilamento, ou seja, uma ação divina que parece contradizer a ação criadora.

Pág. 430 –

b) O hilemorfismo espiritualista

Segundo o monismo materialista, não há no ser humano matéria e espírito; tudo seria matéria e diversas manifestações de fenômenos materiais. Uma versão mais sofisticada do materialismo é o materialismo emergentista. Admite a realidade do mental, que não está reduzido ao físico-químico. Afirma que o mental é algo qualitativamente diferente do físico, mas afirma também que é um resultado emergente dos processos neuronais.

Pág. 431 –

Espiritualidade humana e as

condições materiais nos apresentam Epistemológico

Ontológico Metafísico Existencial

Dimensões espirituais atividade

consciente da pessoa

Criatividade

A pessoa possui um dinamismo próprio Que ultrapassa as

pautas espaço temporais

Criação especial Não representa

alteração no curso ordinário...

Dimensão ontológica da

pessoa humana Participação no ser

próprio da divindade

Monismo materialista

Tudo seria matéria E manifestações de

fenômenos materiais

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O dualismo interacionista sustenta que existe na pessoa humana, juntamente como material, uma realidade imaterial que interage com as condições materiais, denominada – conforme cada autor – mente, espírito ou alma. [...] partidário do dualismo interacionista como Karl Popper afirma, por um lado, que a evolução por seleção natural explica a emergência das dimensões imateriais da pessoa, mas por outro, admite tratar-se de um problema cuja explicação última permanece envolta nem mistério: [...].

Pág. 432 –

“Certamente, em nenhum sentido a evolução pode ser tomada como uma explicação última. Temos de nos acostumar à idéia de que vivemos em um mundo em que praticamente tudo o que é muito importante há de ficar essencialmente inexplicado... em última instância, tudo fica sem explicação: em especial tudo o que se refere à existência”.

O hilemorfismo, utilizado por Aristóteles [...] formulação clássica no pensamento de Tomás de Aquino. A teoria hilemórfica caracteriza o homem como um composto de corpo e alma, sublinhando a unidade do composto e a espiritualidade da alma. O homem é concebido como uma só substância – ao contrário do dualismo cartesiano – visto que, embora espírito e matéria sejam realidades diferentes, a alma é, no entanto, forma substancial do corpo.

Pág. 433 –

O homem não é formado por duas substâncias justapostas que atuam entre si, mas é uma única substância: o hilemorfismo sustenta esta tese ao comparar a união entre alma e corpo com a existência entre forma com a matéria.

32.3 A natureza na vida humana

O homem é uma síntese do mundo material e do espiritual. Encontra-se acima do resto do mundo físico. Participa do físico, que está inscrito na sua natureza como parte constitutiva, mas não se esgota nas dimensões físicas. Tem a capacidade de conhecer e dominar o mundo.

Pág. 434 –

Não mais considerar a Terra como o centro do universo não representa tirar o homem do lugar central que ocupa na natureza. Na realidade, essa é uma questão verdadeiramente secundária.

A tese da origem do organismo humano a partir de seres vivos inferiores também não supõe uma dificuldade para afirmar a singularidade humana, cujas características espirituais são patentes.

Pág. 435 –

[...] a possível existência de vida em outros lugares ressaltaria ainda mais o caráter específico e singular da natureza, uma vez que seria necessário que existissem algumas tendências claramente definidas que conduzissem, em diferentes lugares, ao fenômeno tão enormemente sofisticado e específico que é a vida.

Pág. 436 –

33. A Natureza e Deus

Dualismo interacionista

Realidade material e imaterial que

interagem com as condições materiais

Karl Popper

A evolução não pode ser tomada

como uma explicação última Inexplicabilidade.

Aristóteles e o hilemorfismo

Homem Composto de corpo

e alma Substância

Hilemorfismo Formado por uma única substância

O homem é uma síntese do mundo

material e do espiritual

O homem como centro do universo é

secundário

A tese da origem do organismo humano seres vivos infer.

A possível existência da vida em outros lugares

especificidades

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A explicação última da natureza é um dos problemas centrais da filosofia em todas as épocas e continua sendo objeto da maior atenção na atualidade.

33.1 Ciência e transcendência

Cada disciplina científica adota uma perspectiva particular, que pode ser denominada uma objetivação, pois se refere a um modo de construir e estudar o seu objeto próprio: realiza-se um corte na realidade, mediante o qual o estudo se concentra em alguns aspectos particulares.

Pág. 436/437 –

Obviamente, qualquer objetivação deste tipo tem um caráter histórico, pois depende dos conceitos e instrumentos disponíveis em cada momento.

Pág. 437 –

[...] ambas as perspectivas devem se relacionar mediante um diálogo e que a ciência conduz a questões fronteiriças com a teologia. Tais “questões surgem da ciência e exigem instantaneamente uma resposta, mas, por sua natureza, transcendem as competências da ciência”.

Estas questões podem surgir de duas maneiras. [...] problemas científicos que provocam interrogações metafísicas nos sujeitos que os estudam; [...] a segunda refere-se aos pressupostos gerais da ciência e às implicações das suas conquistas; estes problemas são candidatos melhores para serem questões fronteiriças.

Pág. 438 –

[...] a afirmação de Deus e de um plano divino que governa a natureza ultrapassa o nível próprio das ciências e remete a raciocínios metafísicos.

As possíveis atitudes diante de Deus como explicação última do universo são basicamente cinco: o ateísmo, o agnosticismo, o panteísmo, o deísmo e o teísmo. Mas as quatro primeiras apresentam excessivas dificuldades. Isto é percebido facilmente no caso do ateísmo, já que não existem e nem podem existir provas da não existência de Deus.

Pág. 439 –

[...] o teísmo aparece como a única opção rigorosa para quem não renuncia à busca de uma explicação do universo. Nem o universo em seu conjunto, nem os seus aspectos parciais, podem ser identificados com algo propriamente divino. No entanto, a racionalidade do universo sugere fortemente sua conexão com a inteligência divina.

A cosmovisão científica contemporânea pode ser relacionada facilmente, sobretudo, com o argumento teleológico que prova a existência de Deus e sua providência sobre o mundo a partir da finalidade natural.

33.2 Teleologia e transcendência

Pág. 440 –

a) O argumento teleológico

Entre todas as provas da existência de Deus, o argumento teleológico ocupa um lugar destacado ao longo da história e também na atualidade. Foi articulado com especial

Explicação da natureza

Cada disciplina científica adota uma

perspectiva particular

Objetivação e historicidade

Ciência e teologia Questões

fronteiriças Respostas

Questões científicas que provocam interrogações metafísicas

A afirmação de Deus

Ateísmo Agnosticismo

Panteísmo Deísmo Teísmo

Teísmo opção rigorosa para quem não renuncia a uma

explicação do universo

Cosmovisão

científica contemporânea

Provas da existência de Deus

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vigor por Tomás de Aquino, que utilizou as idéias de Aristóteles mas situou-as em um novo contexto.

Pág. 441 –

A constância no modo de agir que a vida natural corresponde a tendências que surgem da natureza dos corpos. A regularidade da atividade natural permite afirmar o seu caráter finalista: exclui-se que os corpos naturais alcancem o seu fim por acaso, porque o alcançam da mesma maneira sempre ou quase sempre, e os efeitos do acaso não são regulares.

Pág. 443 –

[...] tampouco se consegue uma explicação suficiente recorrendo à combinação entre necessidade e acaso; com efeito, ainda que admitamos que possa explicar parcialmente a formação da natureza, é insuficiente para explicar a perfeição da natureza e, além disso, não explica o seu fundamento radical, uma vez que sempre remete a situações físicas anteriores.

Pág. 444 –

[...] a finalidade natural, que consiste numa tendência habitual para algo ótimo, postula uma inteligência: relacionar, dirigir, ordenar em vista de um objetivo que é alcançado de modo habitual, são operações próprias de uma inteligência.

b) Natureza e providência

Pág. 445 –

[...] o plano divino não implica uma evolução retilínea, sempre progressiva, sem acidentes: é mais lógico supor que Deus conta com a complexidade própria das causas naturais para realizar o seu plano. A existência de um plano divino é plenamente congruente com o caráter complexo da evolução.

Entre a ação divina e a atividade da natureza não existe uma simples harmonia.

Pág. 445/446 –

Se a atividade natural corresponde ao plano divino, deve-se afirmar que Deus não só a respeita mas a quer positivamente, ainda que Deus também possa produzir efeitos que ultrapassem o curso ordinário da natureza.

Pág. 446 –

Portanto, é congruente que o plano divino conte com o desenvolvimento do dinamismo natural. [...] A afirmação do plano divino não equivale a afirmar que tudo o que acontece na natureza seja bom sob qualquer ponto de vista.

c) O mal na natureza

A principal dificuldade que se pode apresentar frente ao argumento teleológico é a existência do mal. [...] Deus permite o mal em vista de salvaguardar bens maiores. Esta idéia aplica-se a dois casos diferentes: o mal moral, devido ao mau uso da liberdade por parte da pessoa humana, e o mal físico, que é o que propriamente se relaciona com a finalidade natural.

Pág. 446/447 –

Argumento teológico

Constância Regularidade

Caráter finalista Fim por acaso

Regulares

Combinações entre necessidade

e acaso Perfeição da

natureza

Finalidade natural Tendência habitual

para algo ótimo

O plano divino não implica um

evolução retilínea Progressiva

Ação divina

Atividade natural e plano divino

Deus

Plano divino e desenvolvimento

natural

Dificuldade diante argumento

ontológico é a existência do

mal

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[...] mal moral, [...] Deus o permita, porque a possibilidade do mal moral corresponde à existência da liberdade humana, que é um bem superior.

Pág. 448 –

Definitivamente, a atividade tendencial das entidades naturais torna possível a existência da pessoa humana.

33.3 A inteligibilidade da natureza

Pág. 449 –

a) Inteligência inconsciente

A partir de uma perspectiva finalista, a atividade da natureza é vista como obra de uma “inteligência inconsciente”: a natureza não delibera, mas atua como se possuísse realmente uma capacidade racional.

[...] a natureza ultrapassa a razão humana que, por outro lado, pode somente produzir artefatos na medida em que conhece e utiliza as leis naturais.

Pág. 450 –

[...] a oposição entre acaso e finalidade não é absoluta, porque o acaso exige a finalidade. [...] não poderíamos nem sequer falar de acaso se não existisse uma direcionalidade, como tampouco teria sentido falar de desordem se não existisse tipo de ordem.

b) A natureza sob a perspectiva metafísica

Pág. 453 –

c) A autonomia da natureza

Deus e a questão do mal

Existência da pessoa humana

Perspectiva finalista Natureza obra de uma inteligência

Natureza e razão

humana

Oposição entre acaso e

finalidade não é absoluta