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PERSPECTIVA

FEVEREIRO 2009 3

Sumário# 17 | Fevereiro 2009

1420 Anos de Ensino Profissional

14 O Ensino Profissional é de todos16 Esc. Prof. de Braga:

Plataforma de produção de conhecimento17 Uma questão de opção, por um futuro mais promissor

18 Integração dos jovens no mercado de trabalho19 Qualificar na Moda

Propriedade. Escala de Ideias – Edições e Publicações, Lda - R. D. João I, 109, RC - 4450-164 Matosinhos NIF 507 996 429 Tel. 229 399 120 Fax. 229 399 128 Site. www.escaladeideias.pt E-mail. [email protected] Directora-Geral. Alice Sousa - [email protected] Director Editorial. Pedro Laranjeira - [email protected]

Coordenação Editorial. Alexandra Carvalho Vieira - [email protected] Colaboraram neste número. Ana Mendes, Ana Moura, Diana Pedrosa, Pedro Brandão, Pedro Mota. Opinião. Isabel do Carmo, Joaquim Jorge, Faustino Vicente, Ten. Cor. Brandão Ferreira Design e Produção Gráfica. Teresa Bento - [email protected] Banco de Imagens. StockXpert, SXC Webmaster. Pedro Abreu [email protected] Edição. Alexandra Carvalho Vieira Contactos. Redacção 229 399 120 - [email protected] Depar-tamento Comercial. 229 399 120 - [email protected] Tiragem. 70 000 exemplares Periodicidade. Mensal Distribuição. Gratuita, com o jornal “Público” Impressão. Mirandela - Artes Gráficas S. A. Depósito Legal. 257120/07 Internet. www.revistaperspectiva.info Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios, e para quaisquer fins, inclusive comerciais sem a autorização do editor.

Reportagem 6 A Latitude do Olhar Gronelândia – Cruzando a Imensidão Gelada

Opinião 8 Isabel do Carmo 9 Ten. Cor. Brandão Ferreira10 Joaquim Jorge26 Faustino Vicente

Crónica 20 Ana Souto

Regiões: Balanço Autárquico22 Azambuja: Preservação duma identidade cultural e social24 Tabuaço: “Em Tabuaço tudo se torna urgente”

28 Saúde: Banco público de células estaminais 30 Evento: SISAB 200932 Portugal Sem Barreiras: Escapadinha no Alentejo com a Rota do Fresco33 Sugestões para o Dia dos Namorados34 Cultura

11Criatividade e Inovação

11 “Fazer diferente, surpreender e empreender” realça Carlos Zorrinho em entrevista12 O potencial da Indústria Criativa

13 Mapear e Navegar no futuro da Inovação

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NOTÍCIAS

PERSPECTIVA

4 FEVEREIRO 2009

As migrações são hoje um fenómeno de dimensão global, com implicações cada vez mais importantes nos domí-nios político, económico, social, cultural e religioso. Existem hoje 192 milhões de migrantes legais em todo o mundo, dos quais 5 milhões são portugueses. No dis-curso de abertura da cerimónia de atribui-ção dos Prémios da Plataforma Imigração, o presidente da Fundação Gulbenkian, Emílio Rui Vilar classificou as migra-ções como “movimentos que constituem um fenómeno complexo que não pode ser escamoteado”. À Fundação cabe “desen-volver iniciativas para compreender os fenómenos da imigração e reflectir sobre as suas implicações na nossa sociedade”, porque “há uma imagem insuficiente, distorcida ou mesmo desconhecida desta realidade”.

Integrar, promover e divulgar são as palavras de ordem da Plataforma Imigra-ção, constituída por Fundações, Confede-rações e Associações e algumas dezenas de Câmaras Municipais que decidiram colaborar na divulgação e promoção de boas práticas no que diz respeito a polí-ticas de acolhimento e integração de imi-grantes.

Foi neste contexto que no dia 18 de Dezembro, Dia Internacional dos Migrantes, a Plataforma Imigração atri-buiu o Prémio Empreendedor Imigrante à russa, Mariana Serpinina e ao cabo-ver-diano, Paulo Mendes.

Na cerimónia de entrega dos Prémios, Mariana Serpinina a viver em Portugal há

sete anos, com a família, disse que “Por-tugal é a sua casa”. A russa afirmou que o processo de integração foi fácil e que, ainda adolescente, foi bem acolhida na escola, com um percurso sem incidentes.

Ao mesmo tempo que se dedica aos estudos, no Instituto Superior de Gestão, Mariana Serpinina criou uma empresa de publicidade e marketing. Paulo Mendes é outro exemplo de perseverança, cora-gem e capacidade de integração no país de acolhimento. Para poder prosseguir os estudos, trocou Cabo Verde pelos Açores, há 12 anos. Licenciou-se em Sociologia e por lá ficou. Visivelmente feliz com a distinção, Paulo Mendes afirmou, con-victo, a sua intenção de prosseguir o seu trabalho de apoio à integração de imi-grantes. Já se sente um açoriano e con-fessou a dificuldade na decisão de ficar ou partir. Em relação à distinção para as Melhores Práticas Autárquicas foram dis-tinguidos os Projectos “Geração”, desen-volvido pela Câmara Municipal da Ama-dora e “AmpliArte Cultura e Intervenção Social”, implementado pela Câmara Municipal de Oeiras.

Luís António Patraquim

Como é hábito, os eventos, com excep-ção do último, decorrerão no Gaia Hotel.Em Março, vai ser apresentado o livro de Joaquim Jorge "Clube dos Pensadores", com a presença de Pedro Santana Lopes, autor do Prefácio. Abril vai debater o tema "Parlamento", com António José Seguro e Sofia Barrocas. Logo a seguir, Medina Carreira falará sobre a "Situa-ção de Portugal nos próximos anos". Para Junho, cumprindo a tradição de sair de Gaia uma vez em cada ciclo, planeia-se uma ida ao Porto, com a presença de um dos seus maiores ícones: Jorge Nuno Pinto da Costa.

Em ano de eleições, o Clube dos Pen-sadores considera a eventual candidatura de elementos das suas fileiras, bem como uma participação activa em acções que visem "melhorar a qualidade da demo-cracia e a qualidade da vida, dando o poder de decisão às pessoas".

Pedro Laranjeira

“Juntos na diversidade”Sob o lema “Juntos na diversidade”, 2008 foi o Ano Europeu do Diá-logo Intercultural. A importância da construção de uma sociedade que saiba valorizar mais e melhor a diversidade cultural, serviu de mote à atribuição do Prémio Empreendedor Imigrante bem como a Distinção de Boas-Práticas Autárquicas em matéria de integração de imigrantes. A iniciativa, promovida pela Plataforma Imigração, decor-reu na Fundação Calouste Gulbenkian.

Novo Ciclo de Debates em Gaia e no PortoAlberto João Jardim, Medina Carreira, Pedro Santana Lopes, António José Seguro e Sofia Bar-rocas são alguns dos convida-dos. Está agendado o 7º Ciclo de Debates do Clube dos Pensado-res, que se prolongará durante o 1º semestre de 2009, com início em 23 de Janeiro, pela mão de Alberto João Jardim sobre a "Refundação da República".

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REPORTAGEM

6 FEVEREIRO 2009

A Latitude do Olhar

GronelândiaCruzando a Imensidão Gelada

Uma luz esquálida, submarina, ensombrava de forma crepuscular as massas de gelo dis-persas. Lá muito ao Sul, apoiando-se já na linha do horizonte, um Sol pálido iluminava a comunidade Inuit com uma luz desmaiada. Texto e Fotos: Pedro Mota

Aproximava-se a grande noite, época em que o Sol se despedia para se ocultar por longo período abaixo do horizonte.

Uma crosta branca começou a desenvol-ver-se na superfície do oceano. Quando ganhou consistência, começaram a brotar os iglus, perto da linha de costa.

Passados alguns sonos, houve grande burburinho – Haviam sido avistadas focas na borda do mar congelado. Os caçado-res, céleres, dispuseram-se a aprestar os trenós, com a matilha a uivar de excitação enquanto lhe punham os tirantes de coiro de morsa.

Deram ordem de largada, com cada equipe de cães a abrir em leque, enquanto corriam pela superfície lisa do oceano gelado. Não sem a princípio se enredarem num frenesim arreganhado, com os con-dutores a estalarem o chicote no meio de

imprecações contra a cãozoada. Eram fre-quentes as escaramuças entre os cães de trenó.

Encontraram alguns buracos no gelo, eram respiradouros de foca, mas muito poucos.

Ao fim de algumas horas várias carca-ças de foca jaziam no gelo conspurcando a pureza alva do gelo com laivos sangui-nolentos.

Antes porém de aproveitarem as presas, os caçadores foram derreter um pouco de neve, para numa tradição milenar ir des-pejar a água na boca das focas. Os Inuit acreditam que os animais marinhos por viverem em água salgada, vivem sempre com sede, então, para apaziguar o espírito dos animais caçados, fazem uma oferenda de água doce. Se a presa for um animal terrestre, então deve-se besuntar o foci-

nho do animal com gordura, pois vivendo no gélido Árctico devem ter sempre frio e a gordura irá protegê-los. Os esquimós também ingerem muita gordura para se aquecerem e também a esfregam na cara para proteger a pele da mordedura do frio.A longa caminhada sobre a calote polar acabou por quebrar o ânimo dos caçadores. Apesar de exauridos ainda foi necessário talhar grandes blocos de neve com a faca de gelo e construir o iglu. Depois acenderam a lamparina com gordura de foca e derreteram numa caça-rola um pouco de neve para preparar o caldo da noite.

O iglu iluminado por dentro emitia uma luz glauca, perlífera. A cúpula trans-lúcida do iglu brilhava, emanando som-bras esboçadas da sua actividade interior.

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REPORTAGEM

FEVEREIRO 2009 7

Depois, acabou a gordura e caiu um véu de trevas.

Tive dificuldade em adormecer, pois os meus companheiros ressonavam e resfole-gavam como morsas. Sonhei que nadava por entre icebergues e que era uma grande baleia da Gronelândia (arvik).

Acordei sobressaltado, espantado por não estar escuro. Uma luz de âmbar filtra-va-se através das paredes de gelo. O céu a Norte parecia um caleidoscópio de cor, raios de vários matizes sobrepujavam-se a véus de um brilho onírico. Numa verda-deira explosão de luz, era a magnífica iri-descência da Aurora Boreal. Como se um pintor tresloucado tivesse atirado ao ar a sua paleta e as cores ficassem a pairar.

Depois de voltar a Nuuk para ir buscar mantimentos para a próxima expedição regressei de helicóptero, carregado de víveres. Sobrevoámos montanhas geladas e imensos glaciares fracturados e cobertos de pequenas poças de água azul. Cerrei os lábios pressentindo o mau augúrio daquela visão. O meu vizinho dinamarquês expli-cou que era aterrador a velocidade com

que via o recuo dos glaciares, quase notó-rio de dia para dia. Aqui o aquecimento global não é nenhuma fábula, nem aqui se admitem ignorantes que dizem que o fenómeno é somente um capricho cíclico do clima.Quando regressei à comunidade Inuit estava prevista uma maré viva. No dia seguinte, um grande grupo de mulheres e homens dirigiu-se para perto da costa. Serraram uma abertura no gelo e foram para baixo do mar, apanhar crus-táceos, principalmente os mexilhões de que se alimentam as morsas. Na realidade estavam na zona da maré vaza, por o mar ter recuado muito deixando a carapaça de gelo sem o seu suporte líquido. Apanhar mariscos desta maneira era muito arris-cado pois se a água voltasse sem aviso, morreriam todos afogados. Assim alguns velhos experientes ficaram perto da aber-tura a escutar o regresso do mar e darem com prontidão o alerta de retirada.Já o tempo passou sobre a memó-ria desde os trágicos tempos em que era imperioso abandonar os

velhos no gelo. São também antigas histórias, os inusitados hábitos de hospi-talidade, que consistiam em “emprestar” as mulheres a forasteiros ou a solitários do grupo. Folgarem entre si, trocando par-ceiros, foi também costume em tempos idos.

Hoje, à luz de uma sabedoria mais pro-funda, já podemos ver para além do exó-tico e compreender que tal derivava de uma necessidade imperiosa, uma ques-tão de pura sobrevivência. Com grupos humanos de reduzido número e tão apar-tados uns dos outros na vastidão do Árc-tico, a reserva de genes era tão escassa, que o perigo de forte consanguinidade era avassalador. Trocar genes fora do grupo, era questão de vida ou morte.

Apesar de não andar longe da rota dos bacalhaus, inclusive em Nuuk fui visi-tar a tripulação dum bacalhoeiro portu-guês, conheço um povo que o sabe pre-parar com mestria apesar de viver muito mais a Sul. A saudade já aperta e com ela o melhor dia de qualquer viagem…o regresso a casa.

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OPINIÃO PERSPECTIVA

8 FEVEREIRO 2009

» Isabel do Carmo

O ano do fim do MundoO ano de 2009 será o ano de Obama e o ano do desmoronamento do sistema capitalista tal como o conhecemos. A realidade é de facto imprevisível. Assistimos em 1989 ao desfazer dos países do Pacto de Varsóvia, ditos socialistas sem o serem e tudo se passou como a queda dum baralho de cartas. Quem nos havia a nós de dizer que vinte anos depois assis-tíamos à queda do outro baralho de cartas.

Ou seja, a realidade de um mundo dois sistemas, dentro da qual nascemos, acabou. Acabou o sistema do estatismo sem liberdade de expressão e de orga-nização e acabou o sistema da liberdade económica sem Estado e sem regras, o sistema da competição feroz.

Procura-se quem dê mais pelo terceiro sistema, que há-de aparecer. Não é a Ter-ceira Via, porque essa foi no segundo baralho de cartas.

Este é o fim do Império e vem-me sempre à cabeça as “Memórias de Adriano” de Marguerite Yourcenar. Será Obama o nosso Adriano?

Lúcido a respeito das fronteiras e das contingências do Império. Intelectual que preservou a cultura. Homem do diálogo e das viagens às periferias do Império e do contacto com o Outro.

Mas imagino também que o abanar da estrutura do Império, tal como o actual Império, trouxe para as populações vazios e fome. E sobretudo um vazio de crenças. Foi um momento, é um momento, em que já ninguém acredita naqueles mode-

los que pereceram, mesmo que finjam acreditar e em que ainda não está de pé uma nova alternativa, um projecto, uma esperança.

No ano 2009 vamos assistir a hordas de milhões de desempregados, que viverão algum tempo dos sistemas de segurança, quando os países os têm e que em seguida cairão na fome, na vagabundagem, a resi-dir na rua. Se ainda tiverem vitalidade farão motins, sinal de vida.

Faminto e vagabundosMais uma vez me lembra outra descri-ção: a de Tomas More na Utopia quando descreve as hordas de camponeses que na Inglaterra vêm pelas estradas, saindo do campo para a cidade, no desfazer do feu-dalismo. Famintos e vagabundos. Ladrões de migalhas. Condenados à morte. Nestes momentos os ricos falam sobretudo de “segurança”.

O que vai ser de nós, o que vai ser dos milhares de desempregados do fim do Império? É escusado pensar em previsões dos economistas, porque aquilo que ana-lisam é sempre como se nós, médicos, só soubéssemos fazer autópsias.

Acho graça é como certas figuras ainda têm lata de aparecer na televisão, quando foram eles o rosto da teoria, que levou o sistema à derrocada.

Contradição a nossa também… Porque não nos dá gozo ter razão e dizer que afinal a globalização liberal deu nisto. Não nos dá gozo porque isto não é um jogo de razões e quem sofre são os que ficam soterrados debaixo do edifício que os outros montaram.

O ano de Obama dá-nos no entanto alguma esperança. Ele está a cumprir. Acaba com Guantanamo, acaba com a tortura, estende a mão ao diálogo com a Rússia e o Irão, tira o tapete ao poder corrupto do Afeganistão. Tem um plano para a economia americana.

Já tomou medidas a respeito da Saúde. É muito, em poucos dias. Espera-se com ansiedade (e dúvidas) sobre o que fará em relação à Palestina, à matança de Gaza, ao holocausto que os palestinianos sofrem há sessenta anos. Li com aten-ção o que diziam os meus colegas médi-cos palestinianos dos hospitais de Gaza, que viam chegar mortos e feridos. Já não falam de paz e têm raiva. “Se eu tivesse um rocket mandava-o já” dizia um psi-quiatra. Depois desta matança dos encur-ralados houve uma mudança ao nível subjectivo. Temos que contar com ela, também em 2009.

E como não há Messias, nem milagres, nem se pode saltar sobre 2009 para chegar depressa a 2010 e ver o que está por trás da porta, fazemos fazendo o caminho. As três eleições portuguesas serão apenas um jogo local. Impressionantemente, não se ouvem alternativas. Os projectos, os sonhos, as utopias, não têm lugar no jogo eleitoral.

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OPINIÃO PERSPECTIVA

FEVEREIRO 2009 9

A Crise da Educação vista de outro ângulo

“Se acham que a Educação é cara, experimentem a ignorância”(Lema do Ministério da Educação de Singapura)

A crise da Educação, melhor dizendo o diferendo entre a actual Ministra de Educação e o Sindicato da FENPROF, mais tarde alargado à grande maioria dos professores, está aí para durar. E só irá terminar quando a Ministra cair o que, por sua vez, só acontecerá quando o Primeiro-Ministro entender que tal lhe seja vantajoso.

Os problemas actuais tiveram origem na subversão completa do sistema de ensino existente em 1974 e que se cata-lizaram agora por via da implementação de um novo sistema de avaliação para os docentes.

Ora, pondo de lado a dialéctica de querer ou não querer ser avaliado versus não querer este modelo, a discussão do imbróglio está perfeitamente descen-trada pela simples razão de que para se instituir um modelo de avaliação – qual-quer que ele seja – é necessário haver um sistema hierárquico no ensino e ele não existe: foi destruído nos idos de 1974/75.

Tudo parece nublado de um lado e de outro, como se ambos os lados da con-tenda evitassem revelar os seus objec-tivos mais íntimos e que podem passar por afunilar drasticamente o topo da progressão na carreira de professor de modo a cortar na despesa, ou a capita-lização do descontentamento de modo a forçar mudanças na representação par-lamentar, após as próximas eleições legislativas.

Ora, tudo isto, não sendo despiciendo, está longe de contribuir para a resolu-ção dos gravíssimos problemas exis-tentes no sistema educativo nacional que há décadas compromete o futuro de Portugal e que se traduz em lançar no mercado do trabalho (e da ociosidade) milhares e milhares de jovens impre

parados para a vida, do ponto de vista cultural, técnico, cívico, físico e moral. Tudo isto custando ao país anualmente (nos últimos seis anos) uma quantia superior a um bilião de contos …

O que fica dito configura um descaso e uma incompetência fenomenais. E muitas sabotagens objectivas.

Vamos tentar apontar as principais causas do descalabro, que até hoje nenhum governo teve a coragem ou a capacidade de atacar.

O primeiro erro cometido foi deitar o edifício existente (em 1974) abaixo sem ter nenhum para o substituir. A seguir o Ministério da Educação foi tomado de assalto por forças políticas que enquista-ram partidários seus em numerosos luga-res. Torna-se por isso imperioso sanear o ministério e suas dependências, o que ainda não foi feito por falta de coragem política e porque o emaranhado de leis não o permite ou aconselha. O máximo que se consegue é colocar uma quanti-dade de gente na “prateleira”, pagando claro. O crime, por vezes, compensa.

A seguir montou-se uma estru-tura pesada, burocrática, concentrada, falhada na descentralização onde se ins-pecciona mal e não se pedem responsa-bilidades. Mal comparado, é como se um general na tropa quisesse controlar todos os seus homens. Além disso qual-quer tipo de autonomia universitária, ou outras, sem fiscalização corre mal. É da

natureza das coisas…Depois, a educação, melhor dizendo

a instrução, foi invadida por uma quan-tidade razoável de adiantados men-tais, especializados em ideias “esotéri-cas” que desataram a fazer experiências pedagógicas delirantes, mudando cons-tantemente os “curricula”, os manuais escolares, quebrando a disciplina, etc., e nunca chegando ao fim de nada. Deste modo nunca se conseguiu aferir resul-tados e está tudo cada vez mais bara-lhado.

Tudo isto foi piorando com a injec-ção de doutrinas completamente desfa-sadas da realidade e do comportamento humano, que geraram um laxismo galo-pante, o primado dos direitos sobre os deveres e a desculpabilização militante. Em simultâneo fomentou-se a massifi-cação do ensino, sem preparar adequa-damente os meios para lhe fazer face, resultando um nivelamento por baixo não só na qualidade de ensino, nas infraestruturas necessárias, como na selecção dos professores, muitos dos quais deviam era estar a aprender coisa que se visse. Esqueceram-se princípios simples mas de sempre, como sejam os de que não precisamos de muitos licen-ciados, mas sim de bons licenciados e de que nem todos podem ser doutores, de que o fim do ensino técnico cons-titui um exemplo dramático. “Autori-dade” foi uma palavra que desapareceu

» Ten. Cor. Brandão Ferreira

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» Joaquim Jorge

OPINIÃO PERSPECTIVA

10 FEVEREIRO 2009

SócratesJosé Sócrates é um homem que não gosta de imprevistos, todavia esta crise de dimensão excessiva, histórica, global, de uma intensidade brutal, não estava nos seus planos.

As eleições em Março de 2009, quando termina o seu mandato de quatro anos, ser-lhe-iam favoráveis, todavia a lei prolongou-lhe o mandato por mais seis meses.

As sondagens continuam a ser-lhe favoráveis.

Perante as duras criticas à esquerda, dentro do seu próprio partido (Manuel Alegre) e à direita, é ele quem tem tran-quilizado os seus seguidores e o próprio PS.

Parece convencido de que o poder que dispõe (maioria absoluta), sobretudo o tempo acabará com todas as críticas, veja-se o diferendo com os professores.

Sabe que só depende de si próprio e que os outros (PSD, Alegre, BE, PCP, professores, etc.) não podem fazer nada contra ele.

O ritmo stop and go e a sua forma críp-tica de transmitir que linha política segue

do léxico e a “memória” passou a ser “fascista”.

Como se os erros não fossem sufi-cientes, horizontalizou-se tudo, impedindo o exercício da autori-dade.

Saber quem manda numa escola é um mistério e dificilmente se pode responsabilizar seja quem for, pois está tudo enxameado de conselhos directivos, pedagógicos, científicos, dos pais, dos alunos e do que se queira inventar.

Quase ninguém quer exames, regi-mes de faltas e sanções. Ou seja, apa-rentemente ninguém está interessado na qualidade do ensino, governa-se para as estatísticas para consumo interno e da União Europeia. Sem qualquer espanto, os alunos come-çaram a desrespeitar, quando não a agredir, os professores; os pais dos alunos, idem; a insegurança, desre-gramento, a droga e todo o tipo de vícios campeia e praticamente todo o mundo tem assobiado para o lado com medo de ser triturado e como se nada fosse com eles.

Os sindicatos em vez de tratarem daquilo para que foram criados, limi-tam-se a ser correias de transmissão de partidos políticos.

O diabo anda à solta e tudo vai piorar.

Tudo isto existe, tudo isto é triste, não tinha de ser fado!

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desconcerta os seus opositores.José Sócrates transmite a ideia «eu sei

o que estou a fazer», segue a passo impas-sível e sem concessões.

Vêm aí tempos complicadíssimos: os consumidores não consomem; os empre-sários não contratam; os bancos não emprestam; mais desemprego; etc…

Ninguém confia em ninguém e os seus opositores devem estar conscientes que as suas oportunidades estão-se a esgo-tar.

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PERSPECTIVA

FEVEREIRO 2009 11

Criatividade e Inovação

“Fazer diferente, surpreender e empreender”“É minha convicção que a resposta à crise está na criatividade e na inovação”. As palavras são de Carlos Zorrinho, coordenador Nacional do Ano Europeu da Criatividade e Inovação, da Estratégia de Lisboa e do Plano Tecnológico, que considera ser importante o “reforço da ligação entre a criatividade, a inovação e a economia”.

2009 é o Ano Europeu da Criatividade e Inovação. Qual é a importância?Não o vejo como uma comemoração. Vivemos em termos de Mundo e Europa um momento de enorme retiro e deve-mos olhar para este Ano Europeu como um ano de desafio de mudança das nossas atitudes. Encará-lo como um desafio para que sejamos capazes de enfrentar melhor as dificuldades que a economia global nos coloca. Estou con-vencido que quando a Comissão Euro-peia tomou a iniciativa de dedicar 2009 à Criatividade e Inovação não tinha ideia do quão importante iria ser. Todos os dias temos sido confrontados com o facto de as receitas tradicionais não estarem a dar resposta, por isso precisa-mos de inovar e promover a inovação de maneira diferente: com capacidade para criar, para imaginar, mas também para empreender. Fundamentalmente, quere-mos que este seja um ano de dinamiza-ção da sociedade portuguesa, de todos os actores, para que se enfrente o desa-fio hoje colocado à economia mundial e à sociedade: fazer diferente, surpreender e empreender.

Num momento em que a economia mundial e, em particular a nacional, vivem dificuldades, a criatividade e a inovação devem ser encaradas como um motor de inovação e competitivi-dade?Hoje em dia ter conhecimento, tecno-logia e processos inovadores são con-dições essenciais para se poder jogar o jogo económico e social, sendo compe-titivo. Mas não chega para fazer a dife-rença e enfrentar os desafios. Temos que

ter essa base da tecnologia, do conheci-mento e da inovação, que induza a outro tipo de comportamentos sociais de valo-rização do que é inovador e de valori-zação do que é empreendedor. Estas são questões-chave: é saber se cada portu-guês é um autor e um sujeito da resposta que temos de encontrar em conjunto face às dificuldades que são colocadas à economia mundial.

Assistimos agora a uma transição da “Idade industrial” para uma “Idade criativa”?Já passámos de uma idade industrial para uma economia do conhecimento, mas aquilo que se passa é que a economia do conhecimento esteve muito relacionada com a economia real e com a especula-ção financeira. Temos agora o desafio da reinvenção da economia real, ou seja, de reinvenção dos bens, dos produtos, das ofertas. Temos motivos para sermos diferentes, competitivos. Com isto esta-mos a dar um bom suporte à economia, dando emprego e crescimento que, em última análise, é o que faz a riqueza das nações e permite que as pessoas se rea-lizem.

Quais são as suas expectativas neste âmbito do Ano Europeu da Criativi-dade e Inovação?Estamos agora a organizar o Ano Euro-peu e aquilo que temos verificado é que tem havido uma grande receptividade da sociedade portuguesa. Não pretende-mos que o Ano Europeu seja apenas um evento ou um conjunto de eventos buro-cráticos. A nossa filosofia é: “Ajude-nos você mesmo a fazer o Ano Europeu!”. A

verdade é que até este momento já temos inscritos e validados mais de 100 even-tos. A sociedade portuguesa é uma socie-dade criativa e inovadora à qual tem fal-tado um pouco o reforço da ligação entre a criatividade, a inovação e a economia. Este ano vamos tentar aliar mais estas vertentes.

Portugal entre 2007 e 2008 subiu 5 lugares no ranking da inovação, segundo o European Innovation Sco-reboard 2008, divulgado em Bruxelas pela Comissão Europeia. Esta situ-ação perspectiva para Portugal um futuro mais estável?De alguma forma, temos consciência de que precisamos de tirar partido dessa notícia extraordinária. Portugal, entre 2007 e 2008, subiu 5 lugares, ultrapas-sando a Grécia e a Itália e colocou-se lado a lado com Espanha. Deixou de ser um país em recuperação e passou a ser considerado inovador. Portugal foi

» Carlos Zorrinho, coordenador Nacional do Ano Euro-peu da Criatividade e Inovação, da Estratégia de Lisboa e do Plano Tecnológico

Texto: Alexandra Carvalho Vieira

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PERSPECTIVA

12 FEVEREIRO 2009

o 5º país que mais evoluiu no último ano entre os 27 da União Europeia em termos de investimento das empresas privadas em gestão e desenvolvimento, em qualificação dos recursos humanos e o 4º país que mais evoluiu em inovação tecnológica nas empresas, portanto esta-mos a fazer um caminho muito impor-tante. E portanto este é o ano em que temos de invocar tudo o que adquirimos para por ao serviço de um desafio muito grande que é a crise internacional.

“Não podemos ignorar a realidade das más notícias. Aquilo que é fundamental percebermos é que a maneira de lidar com as más notícias não é carpir sobre elas, mas sim agir sobre elas.”

Vai ser dado também um novo impulso à indústria criativa?Sabemos que as indústrias criativas ainda estão em fase final de reconheci-mento e que têm vindo cada vez a ganhar mais importância na economia em geral e na economia portuguesa em particu-lar. Mas a questão fundamental é que hoje em dia já não basta ter de um lado a economia e do outro a cultura. É pre-ciso intrincar fortemente a criatividade e a cultura com a economia. Ou seja, a cultura e a criatividade também têm de ser geradoras de riqueza económica e de emprego. Da mesma forma que a eco-nomia não deve ter nenhum preconceito em relação a tudo o que é a dimensão cultural, que é um factor de desenvolvi-mento como outro qualquer.

O Ano Europeu da Criatividade e Inovação em Portugal assenta em 8 verbos que representam as áreas de aplicação da criatividade: Comunicar; Aprender; Inventar; Criar; Realizar; Cooperar; Viver; Imaginar.

Fonte: http://criar2009.gov.pt/

Indústria Cultural

Um potencial económicoA indústria cultural tem um contributo de 1,4% para o PIB nacional, um valor superior ao das indústrias químicas e às TIC´s. (Tecnologias da Informação e Comunicação).

Em conversa, Jorge Cerveira Pinto, direc-tor-geral da INOVA, uma associação vol-tada para a Cultura e Criatividade, cuja missão é contribuir para a afirmação das artes, do sector cultural e das indústrias criativas, como elementos fundamentais de desenvolvimento da sociedade portu-guesa, responde a algumas perguntas rela-cionadas com esta matéria.

Qual o potencial da indústria criativa?O seu potencial económico aliado ao turismo cultural e ao emprego, dois facto-res de relevo neste contexto, consolidam de forma evidente os propósitos para os quais se encontra vocacionado. No entanto, a vertente imaterial é, realmente, mais forte e não dá para medir, mas o que nós perce-bemos é que os países mais ricos têm um capital cultural muito mais rico e desenvol-vido. Quando pensamos em Paris, Praga ou Madrid, pensamos nos seus monumen-tos e no fundo parte da sua economia gira em torno disto. Temos de começar a cuidar deste sector com mais seriedade. Não pode-mos andar a classificar os nossos centros históricos como Patrimónios da Unesco e depois deixá-los a cair.

Onde é visível a importância da indús-tria criativa?A vertente das indústrias criativas, no domínio dos serviços que exploram a arte e a criatividade, é a que está mais próxima da economia. Mas quando olhamos para as indústrias criativas, reparamos que estas têm por base todo o sector cultural tradi-cional.

Quais as suas perspectivas para 2009?Vai ser um bom ano, porque os momen-tos de crise são também aqueles onde se podem encontrar oportunidades. Temos de equacionar novos modelos de gestão e jurí-dicos, encontrar novos mercados, assim como uma nova plataforma de entendi-mento entre o sector cultural e o resto da sociedade.

Qual a importância de recente realiza-ção do Fórum Criatividade e Inovação, da CONCEPTA e do TEMPUS?O Fórum serviu para mostrar o que há de melhor neste sector, demonstrando às entidades que é importante mostrar o que fazem. O tema dos debates incidiu sobre a gestão pública e privada, novos mode-los de gestão em contextos culturais, e no dia 5 de Fevereiro incidiu sobre a Agenda Europeia para a Cultura. Além disso, deci-dimos realizar em simultâneo, o Tempus e a Concepta, porque consideramos que o património dos museus não está separado do design, do teatro, da música e das artes plásticas. É essencial transmitir-se uma ideia integrada de todas estas áreas. Qui-semos também mostrar aos próprios pro-fissionais outras áreas, porque este é um sector que vive muito virado para si e a interacção é muito importante.

» Jorge Cerveira Pinto, director-geral da INOVA

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PERSPECTIVA

FEVEREIRO 2009 13

Mapear e Navegar No Futuro da InovaçãoO futuro não se prevê, prepara-se, e a dita crise, que muitos dizem ter previsto mas foram certamente apanhados de surpresa, é na verdade um reflexo da necessidade de mudança de paradigma. Definitivamente, ainda estamos muito “agarrados” aos conceitos da era industrial, e a era da informação e do conhecimento ainda não chegou a todos, e não estou a referir-me a ter acesso à Internet, e sim a saber o que é a informação, de que é consti-tuída e saber trabalhar com a mesma. Ainda trabalhamos com a informação como na “era do bronze” – em que se sabia como funcionava a fundição e suas consequên-cias, mas não de que era feito o metal.

Há todo um conjunto de estruturas, como os Living Labs, os Pólos de competitivi-dade, entre outras iniciativas, que terão de assentar a sua espinha dorsal numa info-es-trutura de co-criação e co-inovação. Com-petindo pela cooperação, as atitudes de con-fiança são o MsDos da co-evolução num ganhar sinérgico comum.

Temos de nos conectar aos padrões do futuro percebendo as tendências da mudança, suas vibrações e ritmo, fazer com que estes nos direccionem de forma a darmos sentido e significado ao nosso pas-sado. O choque do futuro é hoje!!

Com bons Mapas e bússolas de intelli-gence, que orientem os empresários para as melhores oportunidades do mercado inter-nacional, poder-se-á seguramente fazer mais com menos e alavancar o esforço de forma focada e estruturada por prioridades. Acredito que muitas das empresas de dife-rentes sectores terão que descobrir novos nichos de mercado que provavelmente cres-çam em tempos de crise, junto dos quais consigam responder com o seu know-how actual e maquinaria instalada, e claro está, descobrir metodologicamente o que nestes clientes possa fazer a diferença que faça a diferença no valor - a inovação.

A maior das invenções da humanidade foi certamente a invenção da inovação. Inovar não é ter muita tecnologia nem tão pouco acordar de manhã e ter uma boa ideia. São os processos inovadores que gerarão pro-

dutos inovadores, e estes processos exis-tem e estão aí no mercado. O empresário necessita de aceder de forma metodológica e sistemática a técnicas, de inteligência de mercado e de inovação, de informação tra-balhada para a redução das suas incertezas e que o apoie nas decisões críticas ao seu sucesso.

Temos de pensar de forma diferente, sair do problema para resolver o problema. É necessário mapear o caminho da compre-ensão, das oportunidades e da inovação no valor. Conhecer os padrões e as regras do jogo e dar uma melhor forma (in-formare) às empresas. Novas e constantes crises exigem um novo ângulo de interpretação e actuação, tendo por base não uma e sim múltiplas razões, mas acima de tudo assen-tar a acção em decisões mais bem informa-das.

A vida é um grande puzzle no qual neces-sitamos de encaixar todas as peças dispo-níveis individualmente umas nas outras, a grande dificuldade consiste em não conhe-cermos e não sermos capazes de ver como todas se relacionam na dinâmica da sua constante mudança e evolução.

Todos sabemos que a probabilidade de surgirem produtos e serviços criativos e inovadores é maior em pequenas empresas, e que estes pequenos barcos salva-vidas são bem mais flexíveis às intempéries dos mer-cados do que os grandes petroleiros difíceis de manobrar, que se forem ao fundo as con-sequências são muito maiores.

E porque falar de inovação é igualmente perspectivar a inovação social, talvez tenha chegado a hora oportuna de incenti-var a que surjam mais e melhores peque-nas-grandes empresas, e não olhar só para aquelas que são muitas das vezes grandes-pequenas empresas. Valorizar, quem sabe, o incentivo ao empreendedorismo, procu-rando associar pessoas com disponibili-dade de tempo e grande sabedoria derivada

da experiência, como é o caso de muitos reformados, a jovens que energicamente tenham novos conhecimentos e os queiram aproveitar, aplicando-os em novas ideias de negócio.

No entanto, não é suficiente criar fábri-cas de ideias, são necessárias melhores mentes de obra, melhor gestão dos stocks da ideia-prima, alimentando ambas com a melhor intelligence – informação traba-lhada, novidosa, pertinente, junto da pessoa certa e momento oportuno, que proporcione impacte na mudança necessária à organiza-ção, a diferença que faça a diferença na ino-vação centrada nas necessidades dos seg-mentos ou nichos de mercado que estejam predispostos a pagar mais ou melhor pelo valor e não pelo custo. Estes clientes exi-gentes perguntam “quanto vale?”, e não o nosso usual…” quanto custa?”. Farão as empresas portuguesas mais competitivas.

Teremos que levantar as colunas da inter-nacionalização e da inovação, um edifício de uma nova era da imaginação ou da sabe-doria, na qual a produtividade do conheci-mento do cognitariado assente num apren-der a pensar, num aprender a aprender e a criar diferente e diferenciado. Gerar-se-ão produtos inovadores no valor, orientados a novos segmentos ou nichos de mercado, mais rendíveis, diversificando desta forma a carteira de clientes, diminuindo simultâ-nea e igualmente o risco das empresas.

Em tempos de perigo ou crise os povos sempre se uniram, temos que comemorar e ter saudades do futuro, transformando o pensamento triádico da criatividade, da imaginação e da inovação uma realidade.

Da dialéctica entre os problemas da crise e os novos objectivos a traçar, terão que emergir medidas de co-inovação como sín-tese na acção.

Por Alexandre de Azevedo Campos, CEO - COMPETINOV

Leia artigo na íntegra emwww.revistaperspectiva.info

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20 ANOS DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL

14 FEVEREIRO 2009

20 Anos de Ensino Profissional (1989-2009)

O Ensino Profissional é de todos

O ensino profissional em Portugal está a comemorar 20 anos. Num Seminário Nacional subordinado ao tema “Analisar o Passado e Olhar o Futuro”, realizado na Universidade

Católica, fez-se um balanço do ensino profissional, lançaram-se as pedras basilares para o futuro e realçou-se o carácter inovador que se pautou pela mobilização da sociedade civil, deixando o Estado de ter o monopólio das inovações sociais e da oferta pública

e institucional de ensino.

A necessidade de melhorar os níveis de qualificação dos portu-gueses e o combate ao insucesso escolar deram um novo estí-mulo ao ensino profissional tornando-o numa área de grande destaque. Durante este evento, foi unânime o reconhecimento de que o ensino profissional “proporciona um desenvolvimento humano global e uma inserção na sociedade e no mercado do trabalho, crítica, construtiva e personalizada”.

Roberto Carneiro, na sua intervenção, propôs uma aposta na criação de protocolos entre as escolas profissionais e as esco-las secundárias. Já Joaquim Azevedo identificou as três fases de evolução das escolas profissionais: 1989 a 1993 - um perio-do de "entusiasmo e compromisso social dos agentes de desen-volvimento”; 1994 a 2004 - um período de abrandamento neste modelo de ensino aliado a uma hesitação política; 2005 - em que este modelo de ensino torna-se uma prioridade politica, expan-dindo-se para as escolas Secundárias. Referindo-se a um pas-sado mais recente, o professor analisou a questão da inserção das Novas Oportunidades na rede pública de estabelecimentos de ensino, uma mudança estrutural que, em seu entender, poten-cia o risco da importação de uma cultura profissional para as escolas, sem um plano de acolhimento capaz e sem a remodela-ção nos processos de ensino precedentes.

“Não deixar ninguém para trás é um dos maiores contributos desta inovação educativa que é o ensino profissional e deveria ser a preocupação nuclear.”

O que têm as Escolas e a Educação profissionais a contribuir para uma educação para todos ao longo da vida? A resposta a esta questão centrou-se num alerta, ou seja, na relevância da Educação Profissional depender essencialmente do seu grau de integração, de participação e de valorização de todos ao longo da vida. Neste sentido, foram realçados sete factores de sucesso: a importância do acompanhamento e monitorização dos siste-mas de ensino; a ligação Escola-Empresa; não perder de vista os factores indutores de novas necessidades; as competências bási-cas; a flexibilidade no recurso às competências de que o profes-sor não dispõe; a capacidade de agir junto dos jovens; Escolas e Organizações que aprendem.

Texto: Alexandra Carvalho Vieira e Ana Mendes

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20 ANOS DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL

15 FEVEREIRO 2009

A estratégia e a cooperação europeia nas políticas de educa-ção e formação também estiveram em análise, uma vez que per-mitem que os países beneficiem duma diversidade de inovações e de práticas políticas. De referir que os três grandes objectivos da estratégia europeia em matéria de educação e formação, são: melhorar a qualidade e eficácia dos sistemas de educação e for-mação; facilitar o acesso aos sistemas de educação e formação e abrir os sistemas de educação formação da União Europeia ao resto do mundo.

Desafios do Ensino ProfissionalPara Luís Capucha, presidente da Agência Nacional da Quali-ficação (ANQ), os desafios do ensino profissional passam pelo manter do ritmo de crescimento e, simultaneamente, melhorar a qualidade nos planos de orientação, de pedagogia e de pre-paração e acompanhamento da inserção no mercado de traba-lho, pela dimensão da qualidade e pela responsabilização dos docentes na produção dos seus próprios materiais. Em relação aos desafios do sucesso, o presidente da ANQ referiu ser impor-tante a persistência do apoio às escolas, a difusão de boas prá-ticas, a contratação de professores/formadores nas empresas, o trabalho de rede e o equipamento ao melhor nível. Em jeito de conclusão, Luís Capucha fez um apelo ao esforço de imagina-ção necessário para superar dificuldades e alcançar os resulta-dos desejados.

Durante este seminário nacional estiveram também em debate outras matérias, nomeadamente a importância das plataformas de ensino, mas acima de tudo concluiu-se que o sucesso do ensino passa pelas parcerias e pela cooperação porque “o que interessa verdadeiramente é qualificar, dado ninguém ser dis-pensável.”

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20 ANOS DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL

16 FEVEREIRO 2009

Plataforma de produção de conhecimentoCompreendendo, desde logo, o importante investimento estratégico na qualificação dos jovens, na aproximação da escola ao tecido produtivo regional, à promoção do emprego, ao desenvolvimento e integração social dos nossos jovens, a Câmara Municipal de Braga, Associação Industrial do Minho e a Associação Comercial de Braga reuniram vontades e esforços para colocarem de pé o projecto da Escola Profissional de Braga.

Procurando construir uma autonomia baseada em estratégias concertadas de actuação, com um corpo docente que se sente mobilizado, que planifica e impul-siona os diferentes projectos curriculares num quadro das dinâmicas de formação e acção, a EPB concorre efectivamente para a redução do insucesso e do aban-dono escolar, assegurando a igualdade de oportunidades, conferindo qualidade ao ensino e impulsionando e motivando a realização pessoal dos nossos alunos e dos seus próprios projectos de vida.

Nem tudo está concluído, queremos ir

mais longe e as nossas linhas de orienta-ção estratégica têm que assentar em dois objectivos centrais: a competitividade, para nos posicionarmos como referên-cia no âmbito da procura/oferta de nível secundário cada vez mais disseminado; e a qualidade, para aumentarmos os níveis de rendimento escolar e de reconheci-mento da nossa formação por parte dos alunos, empresas e sociedade em geral. Numa nova fase de desenvolvimento organizacional, face a novos contextos e novos paradigmas educativos, a Escola abriu recentemente o seu Centro Novas

Oportunidades. Pretendemos, assim, estimular o conhe-

cimento, o investimento e formações que se transformem num processo contínuo. Queremos ser uma plataforma de pro-dução de conhecimento com evidentes reflexos na transformação social. Acre-ditamos no que fazemos e sentimos que outros acreditam em nós!

Leia este artigo na íntegra em www.revistaperspectiva.info

Por José Manuel Magalhães, director geral

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20 ANOS DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL

FEVEREIRO 2009 17

Uma questão de opção, por um futuro mais promissorUm estudo recente revelou que os alunos que frequentam cursos científico-humanísticos expres-sam maior desejo de mudar de curso que os alunos matriculados num curso profissionalizante. Este estudo, da responsabilidade do Obser-vatório de Trajectos dos Estudantes do Ensino Secundário, do Gabinete de Esta-tística e Planeamento da Educação, indica ainda que os cursos profissionalmente qualificantes são o tipo de certificação mais desejada pelos alunos que pretendem mudar de curso (66,3 %). Os cursos tra-dicionalmente vocacionados para o pros-seguimento de estudos reúnem apenas 33,7% das intenções de mudança.

Se nos detivermos nas razões que levam os alunos a desejar uma mudança de curso deparamo-nos com motivos, tais como, o afastamento entre o curso frequentado

e o desejado, o desfasamento deste face às expectativas profissionais e o carácter excessivamente teórico dos cursos cientí-fico-humanísticos.

Estes dados comprovam a importância da aposta feita nos percursos qualifican-tes enquanto instrumento privilegiado de combate ao abandono escolar e de promo-ção do sucesso educativo. Ao generalizar a oferta de cursos profissionalizantes, nome-adamente através da expansão dos cursos profissionais nas escolas secundárias da rede pública, foi possível alargar o leque de oportunidades a todos os jovens. E, na verdade, foram muitos os que optaram por

esta nova possibilidade. No presente ano lectivo, metade dos jovens matriculados no nível secundário ingressou num curso de dupla certificação e destes, a larga maioria, fê-lo em escolas públicas.

No ano em que se celebram os 20 anos do ensino profissional em Portugal estes dados são um sinal de mudança evidente do sistema de educação-formação para jovens.

Um percurso qualificante, em particu-lar para um jovem em formação, é meio caminho andado para um futuro mais pro-missor.

Agência Nacional para a Qualificação, I.P.

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EVENTOS

20 ANOS DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL

18 FEVEREIRO 2009

Escola de Comércio do Porto

Integração dos jovens no mercado de trabalhoMais alunos e novos cursos. No ano em que o ensino profissional comemora 20 anos de existência, a Escola de Comércio do Porto continua apostar forte nos cursos profissionais. Com um aumento significativo do número de alunos e da oferta de cursos, a ECP acompa-nha o crescimento do ensino profissional. “Apostar na qualificação de jovens, faci-litar a inserção no mercado de trabalho e promover o desenvolvimento dos indiví-duos e das empresas através da formação são três dos grandes objectivos da ECP”, como refere Carlos Vieira, Presidente do Conselho de Administração.O comércio, o marketing, o merchandi-sing, as vendas e o vitrinismo são os sec-tores fortes de uma Escola mobilizada para

o desenvolvimento e qualificação profissio-nal na área do comércio e serviços. Através de um ensino inovador, com uma forte componente prática, a ECP mantêm uma relação próxima com o tecido empre-sarial da região. Os serviços às empresas, com formação à medida das suas necessida-des, tem contribuído para aumentar as com-petências dos seus profissionais, o que lhes permite melhorar e reforçar as suas perfor-

mances. Um importante trabalho de apoio às empresas que reforça a ligação da escola ao ambiente empresarial e proporciona oportunidades de estágio aos seus alunos.Com 18 anos de história, a Escola de Comér-cio do Porto é uma escola privada fundada pela Associação Comercial do Porto, Asso-ciação dos Comerciantes do Porto e pela Ensinus, agora integrada no Grupo Lusó-fona.

Primeiras Escolhas, Primeiros Empregos, Primeiros CVs e Entre-vistasData: 11 de Fevereiro, 11h00 (inscrições abertas)Local: Auditório do Departamento de Ambiente e Ordenamento da Universi-dade de AveiroNas primeiras entrevistas de emprego o entrevistador faz perguntas muito impor-tantes. Estes cursos pretendem mostrar como é que os candidatos a um primeiro emprego devem apresentar-se, a preparar o seu CV e a sua carta de apresentação. As inscrições estão abertas e a próxima acção está agendada para 11 de Fevereiro, às 17h00, no Auditório do Departamento de Ambiente e Ordenamento. Mais infor-mações: Unave - associação para a for-mação profissional einvestigação da Uni-versidade de Aveiro.tlf. (+351) 234 370 833

FITEC – Fórum de Inovação Tecnologia, Formação e Emprego Data: 26 e 29 de Março Local: ExposalãoUma iniciativa que resulta de uma parce-ria entre a Exposalão e o Instituto Poli-técnico de Leiria, o Fórum de Inovação Tecnologia, Formação e Emprego. que visa que as Escolas / Empresas mostrem o que fazem ao nível da investigação, ensino e formação.

Desta forma, esta feira é um meio pri-vilegiado de promover contactos entre as entidades, organizações, associações, mundo empresarial e os jovens em for-mação ou recém-formados, de modo a facilitar e incentivar o seu ingresso no mundo do trabalho. Os grandes objec-tivos são: Desenvolver uma montra da inovação, investigação e dos desenvol-vimentos tecnológicos que são realiza-dos em Portugal; Procurar incentivar e motivar o espírito inovador e empreen-dedor, bem como a curiosidade cientí-fica nos jovens; Divulgar as ofertas de ensino superior; Divulgar oportunida-des de emprego; Divulgar a oferta for-mativa e educacional disponível a nível nacional.

Para mais informações consulte www.exposalao.pt.

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FEVEREIRO 2009 19

Qualificar na ModaCriado em 1981, por protocolo entre o IEFP,I.P. e a ANIVEC/APIV, o Centro de Formação Profissional da Indústria de Ves-tuário e Confecção (CIVEC), está no mundo do vestuário, desenvolvendo acções de Formação Profissional de modo a aumen-tar a qualificação dos recursos humanos da área, e apoiando a modernização das empresas.Os formandos que optam pela formação no CIVEC podem encontrar uma variedade de cursos que permitem assegurar uma qualificação escolar e/ou profissional, ou seja, formação de dupla certificação, acções que correspondem às necessida-des dos públicos decorrentes de processos de RVCC, certifi-cando nas saídas profissionais de “Costureira Modista” e “Cos-tureira Industrial de Tecidos”, ficando habilitados a responder às necessidades manifestadas pelas empresas e outras organi-zações.

A dinâmica de actuação tem-se caracterizado com base em programas europeus como: “Pessoa”, “Leonardo”, “Force”, “Euroform”, “Sócrates”, “Adapt”, “Rede”, “Equal” e “Come-nius”. No âmbito da iniciativa EQUAL, o CIVEC desenvol-veu o “Projecto e-VESTE – Formação a Distância para o Sector do Vestuário” o qual se revelou um Programa Pioneiro para o sector tendo sido reconhecido pela DG-Enterprise da CE e dis-tinguido como um dos seis casos de boas práticas de eLear-ning na Europa. Ao abrigo do projecto foram desenvolvidos cursos de formação Online, na modalidade blended learning envolvendo as áreas de Controlo da Qualidade, Custos Indus-triais, Cronometragem, Organização da Produção e Métodos e Tempos.

Das inúmeras iniciativas que o CIVEC tem proporcionado e promovido, a última realizou-se no final de 2008, com 15 jovens criadores finalistas do curso de “Técnico de Design de Moda”. Uma produção de Moda apresentada em parceria com o Metropolitano de Lisboa, onde a Moda andou ao sabor das carruagens e percorreu uma das artérias mais cosmopolitas de Lisboa.

Respostas formativas

Cursos de aprendizagem, cursos de educação formação para jovens, cursos de educação formação para adultos, formações modulares nas áreas de Criação, Modelagem, Corte, Costura, Organização Industrial e Qualidade e áreas transversais como TIC’S, Comercial, Gestão, Higiene e Segurança, Línguas e, ainda, Formação contínua de Formadores.

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CRÓNICA PERSPECTIVA

20 FEVEREIRO 2009

Pão com Alma…PãoPão… cheiroso e crepitante, a sair fresquinho do forno e a exalar um ten-tador e inconfundível aroma a quente - que o pão tem destes contrasen-sos quando ao despique com a língua materna!

Pão, a fazer recordar a infância… as correrias pelos bosques e o apetite voraz para o lanche, numa antecipação – sem margens para dúvidas - de uma fatia bem gorda ou de um bico branquinho, sempre bem fartos de manteiga, às vezes, até, com uma pitada de açúcar de permeio.

O Pão, alimento fundamental da nossa dieta mediterrânica, na nossa gastronomia tradicional… seja simples, com manteiga, com queijo ou fiambre ou ambas as coisas, ou, ainda, à moda do campo, com azeite. Pão torrado ou frito, em sopas de leite, confeccionado em açorda ou em migas… O Pão de outrora, aproveitado até à última migalha, nem que fosse pelas galinhas ou pelos coelhos, na vida árdua dos campos. O Pão de hoje, em pastelarias que o ofere-cem “sempre quente” ou em boutiques gourmet que nos possibili-tam tamanha variedade de farinhas, grãos e sementes, que nos con-fundem os sentidos e a escolha.

O Pão de Vila Facaia não é, porém, sofisticado.

Para quem não sabe onde é Vila Facaia e que de vila só tem o nome, trata-se de uma aldeia-zinha - com traços dessa ruralidade quase perdida - ali para o lados de Pedrógão Grande, um concelho ao sul da Serra da Lousã, recortado pelo intenso azul do Zêzere.

O Pão de Vila Facaia tem, em si, a particularidade de nos recordar, de imediato, esses tempos verdes. É um alimento pujante de vida, da natureza que envolve estas paragens, do conhecimento e experi-ências ancestrais, adquiridos por quem cresceu no seio da arte de o produzir. É um Pão que dá vontade de saborear, ali mesmo, à saída do forno, alimentando os sentidos com a sinuosidade da sua côdea mais alourada ou morena, conforme o grau de cozedura e as fari-nhas utilizadas, com o seu odor, com o seu paladar inconfundível a recordar-nos aconchego e conforto.

A Dona Deonilde tem, parafraseando a sabedoria povo, “comido o pão que o diabo amassou”. O Pão tem sido a sua empresa de vida, o seu projecto e o seu sonho. E estes têm crescido, mesmo com a saúde a pregar-lhe partidas, como se o empenho que coloca no fabrico do seu pão fosse a levedura que o faz crescer.

A Dona Deonilde faz um pão rural, genuíno, daquele que utiliza as farinhas provenientes dos grãos de milho, trigo e centeio culti-vados nos campos em redor da aldeia e que foram moídos nas aze-nhas da ribeira ali mesmo ao lado. Um pão amassado à força dos

seus braços, da sabedoria ancestral e de sentimento de quem faz o que gosta. Um pão cozido em fornos de lenha, apanhada nas flo-restas que circundam a povoação - e que nestes ganha a forma de pão bem cozido, “…que o povo gosta mais assim, com a casca bem dura para rilhar os dentes e preservar o miolo tenro por mais dias”. Das suas mãos e das mais quatro mulheres que trabalham para si, saem pão de centeio, broa de milho e merendeiras, produto típico da região. Com toda a inovação introduzida na sua actividade pro-duzem, aproximadamente, 1700 pães por semana.

Num crescendo da sua actividade, esta senhora cheia de vitali-dade, adequou-se aos tempos modernos, melhorou a qualidade do processo de fabrico, aumentou o grau de segurança, higiene e lim-peza da sua padaria, incrementou o volume de produção e cumpriu as normas e legislação em vigor para o seu sector de actividade. Adaptou o espaço, apetrechou-o com novos equipamentos e adqui-riu ferramentas que lhe permitem o tratamento mais eficaz da lenha (“a lenha era apanhada por aí, nas matas, e rachada com este machadito…”). Lenha que alimenta os novos fornos, chamados de barro, e que conferem ao pão esse sabor peculiar. Não tem medo da concorrência, a nova viatura, dotada das adequadas condições sani-tárias, permitiu a sua distribuição porta-a-porta, pelas cercanias, percorrendo todos os concelhos em redor de Pedrógão Grande. “Nunca sobra! “, afirma com a convicção das mulheres de têmpera.O grande segredo da Dona Deonilde é que, mesmo depois disto tudo, ainda vende hoje um pão com alma. Alma da terra que deu o grão, da sabedoria antiga que do grão fez farinha e da farinha pão. Alma de uma vida que se fez nas voltas de amassar o pão.

» Ana Souto de Matos

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22 FEVEREIRO 2009

BALANÇO AUTÁRQUICO

Preservação duma identidade cultural e socialAzambuja é um concelho de “fronteira entre a grande mancha urbana da área Metropolitana de Lisboa e a ruralidade do interior”, por este motivo Joaquim António Ramos, presidente da Câmara Municipal de Azambuja, considera que “nos cabe um papel histórico: fazer a síntese entre o desenvolvimento nas suas vertentes tradicionais e a preservação duma identidade cul-tural e social que a nossa região tem fortemente marcada”.

Texto: Alexandra Carvalho Vieira

A Azambuja é um concelho multi-facetado com “orgulho da rurali-dade”, o mais oriental do distrito de Lisboa, que até há pouco tempo tinha a expectativa de ver constru-ído o Aeroporto da Ota. No entanto, o Governo anunciou que o mesmo iria ser erguido em Alcochete. Esta mudança de localização prejudicou o concelho?Naturalmente que uma infraestrutura com o impacto do Novo Aeroporto de Lisboa, cuja localização na fronteira do Concelho foi um dado adquirido durante dez anos e cujas medidas preventivas condicionaram o desenvolvimento de uma área significativa do Município de Azambuja, foi determinante na defini-ção da estratégias de desenvolvimento. A alteração da localização traduziu-se, a curto prazo, no abandono de alguns investimentos privados que se pers-pectivavam e de infraestruturas públi-cas de apoio ao aeroporto. No entanto, a negociação e aprovação em Conse-lho de Ministros dum Plano de Acção que prevê para o Município de Azam-buja um conjunto de investimentos de cerca de 200 milhões de euros até 2017 contribuirá decisivamente para o desen-volvimento duma estratégia, diferente necessariamente, mas em que a quali-dade de vida e a sustentabilidade sejam factores determinantes.

Em traços gerais, quais são as gran-des linhas estratégicas que guiam o desenvolvimento sustentável do concelho?A estratégia de desenvolvimento do Con-celho passará por três vectores funda-

mentais: o desenvolvimento económico potenciado pelo facto de constituirmos a porta Norte da Área Metropolitana de Lisboa , com particular incidência nas actividades logísticas e de investiga-ção e inovação tecnológica; a requali-ficação urbana do Concelho, não só ao nível de infraestruturas e equipamen-tos como de harmonização das vilas e aldeias como área dominante da inter-venção do Sector Público; a potencia-ção da riqueza e diversidade ambiental, etnográfica e de paisagens do Concelho como factor potenciador do Turismo e actividades correlacionadas.

Sente, como autarca, que o concelho tem necessidades prementes? A que nível? Como é possível supri-las?Como todos os Concelhos, também Azambuja tem necessidades premen-tes. Apontaria duas: a diversificação do tecido empresarial e o apoio social aos estratos populacionais mais depen-dentes. Não existindo fórmulas mági-cas para a sua resolução diria que, no primeiro caso, a reformulação em curso dos instrumentos de planeamento e gestão territorial e a elaboração do Plano de Acção Territorial em conjunto com o Município de Alenquer pode-rão criar o cenário estrutural potencia-dor desse objectivo. No que se refere ao segundo, o Programa que a Câmara tem desenvolvido de apoio a carenciados, aos idosos, aos emigrantes e aos porta-dores de deficiência deverá ser intensi-ficado por forma a suprimir bolsas de exclusão e pobreza.

Li que uma das grandes apostas se

prende com o Turismo. A que nível é visível?Temos no Concelho um enorme potencial em termos de desenvolvimento turístico, particularmente se tivermos em conta os novos vectores de valorização do produto turístico que de há uns anos têm norteado a procura: o ambiente, as tradições, o sis-tema de paisagens, a gastronomia. A zona ribeirinha de Azambuja tem um enorme potencial a explorar, prejudicado até agora pelo fundamentalismo ecológico que se apoderou da máquina do Estado e que, em meu entender, é o maior inimigo da preservação e valorização ambientais. Também a Norte do Concelho temos um valiosíssimo sistema de paisagens e de vivências que poderão constituir pólos de turismo interessantes.

» Joaquim António Ramos, presidente da Câmara Muni-cipal de Azambuja

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BALANÇO AUTÁRQUICO

“É tempo de parar com lamentações fatalistas sobre a crise e construir-mos o futuro.”

Recentemente foi lançado um pro-grama de alfabetização e foi inaugu-rada a Biblioteca Municipal no Palá-cio Conselheiro Frederico Arouca. Isto significa que o executivo consi-dera prioritário incentivar a qualifica-ção dos azambujenses?A qualificação deve ser uma priori-dade de qualquer Autarquia Local. No caso específico do Município de Azam-buja, instituímos um projecto denomi-nado Circuito Cultural do Concelho que já conta com a Biblioteca Municipal de Azambuja, na antiga Escola Régia total-mente reconstruída, o pólo do Palácio do Conselheiro Frederico Arouca em Alcoentre, aberto há cerca de um mês e que teve na etapa seguinte a inaugu-

ração do Centro Cultural Grandella, em Aveiras de Cima, a 31 de Janeiro. O pro-grama de alfabetização que foi lançado simultaneamente em Azambuja, Aveiras de Cima e Manique do Intendente tem como objectivo ensinar a ler e a escrever e é dirigido a pessoas idosas, já reforma-das, tendo um cariz mais social do que de qualificação na óptica do mercado de trabalho.

Estamos em ano de eleições e com ele surge o momento de fazer um balanço do mandato. Que mensagem quer deixar aos munícipes?Uma mensagem simples que tem que ver com o facto de os munícipes do nosso Concelho me conhecerem, saberem que temos um modelo e uma estratégia para o nosso Município e que temos vindo, com as dificuldades inerentes à conjun-tura e ao imobilismo português, a cons-truir modelos que têm permitido cor-responder àquilo que propusemos. Em termos mais gerais, deixar a mensagem

de que devemos todos ter uma atitude pró-activa e arrojada face aos problemas que se nos deparam. É tempo de parar com lamentações fatalistas sobre a crise e construirmos o futuro.

De que forma o concelho de Azam-buja contribui para o desenvolvi-mento da região e do país?Sendo Azambuja um Concelho de fron-teira entre a grande mancha urbana da área Metropolitana de Lisboa e a rurali-dade do interior, penso que nos cabe um papel histórico: fazer a síntese entre o desenvolvimento nas suas vertentes tra-dicionais e a preservação duma identi-dade cultural e social que a nossa região tem fortemente marcada. Foi esta a principal razão que determinou a nossa adesão à Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo. Por outro lado, a loca-lização e acessibilidades do Concelho poderão cada vez mais institui-lo como uma plataforma logístico-industrial entre o norte e o sul do País.

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BALANÇO AUTÁRQUICO

24 FEVEREIRO 2009

“Em Tabuaço tudo se torna urgente”José Carlos Pinto dos Santos, presidente da Câmara Municipal de Tabuaço, em entrevista alerta: “Tabuaço continua isolado como sempre esteve no tempo dos nossos reis. Sem estradas, não há investimento e sem investimento não é possível estancar o fenómeno dia-bólico do despovoamento e desertificação”.

Os tabuacenses no início deste ano assistiram à inauguração do Museu Imaginário Duriense, ou seja, ao nas-cimento do primeiro pólo do Museu do Douro. Qual a importância?Foi precisamente no passado dia 20 de Janeiro de 2009 que a Senhora Secretária de Estado da Cultura se dignou presidir à abertura oficial do Museu do Imaginá-rio Duriense, aqui em Tabuaço. Trata-se dum Pólo do Museu do Douro e a sua importância é muito grande, quer para os nossos munícipes, quer para toda a popu-lação duriense. O MIDU pretende ser um centro de atracção para a população estu-dantil e, duma forma geral, para todos quantos nos visitam. O Museu do Douro, como Museu do Território, estende-se agora a Tabuaço e, dentro em breve, a outros dez concelhos.

Esta iniciativa decorre de uma pre-ocupação do executivo em preser-var o património arqueológico e pai-sagístico do concelho e da região?

Porquê?É verdade que o MIDU pretende ser um veículo de preservação do Patrimó-nio Imaterial do Município de Tabu-aço e de todos os Municípios da Região do Douro, promovendo e divulgando as várias expressões do Imaginário, estando nelas subjacentes as questões relativas à preservação do Património Arqueológico e Paisagístico de toda a Região.

Quais são as principais necessidades dos habitantes de Tabuaço? As principais necessidades dos habitantes de Tabuaço prendem-se com a constru-ção de uma acessibilidade digna, capaz de gerar desenvolvimento, criando mais emprego e riqueza. Começa a ganhar força a necessidade premente da constru-ção da ER 226-2, ligando Tabuaço-Ar-mamar-A24 (nó de Valdigem). Tabuaço continua isolado como sempre esteve no tempo dos nossos reis. Sem estradas, não há investimento e sem investimento não é possível estancar o fenómeno diabólico do despovoamento e desertificação.

O que é que tem sido feito pela autar-quia para suprir estas necessidades?A autarquia, em colaboração com a Câmara Municipal de Armamar e a Asso-ciação de Municípios do Vale do Douro Sul, procederam à elaboração do Estudo Prévio daquela estrada e tem desen-volvido esforços junto do Governo e das Estradas de Portugal para se darem passos concretos na sua concretização. Estamos fartos de tanta espera e de tanta hesitação em ver o Ministério das Obras Públicas a assumir este melhoramento. Por outro lado, o Município tem criado

infra-estruturas de apoio ao Turismo, ao Desporto e à Cultura, de forma a elevar a auto estima dos tabuacenses, principal-mente das camadas mais jovens.

“A Região do Douro, apesar das suas potencialidades, continua a ser uma das mais pobres no País e a mais pobre Região Vinhateira da Europa.”

Em ano de eleições não posso deixar de lhe perguntar que balanço faz do seu mandato?Apesar dos contratempos das crises eco-

» José Carlos Pinto dos Santos, presidente da C. M. de Tabuaço

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BALANÇO AUTÁRQUICO

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nómicas e financeiras que o nosso País tem atravessado, não posso deixar de reconhecer como positivo o balanço deste mandato. A beneficiação de algumas estradas municipais (Desejosa, Barcos, Pinheiros, Carrazedo, Santa Luzia) e outras que brevemente hão-de execu-tar-se (Granja do Tédo, Paradela, Barcos, Adorigo, Foz do Tédo), a construção das Piscinas Municipais Cobertas, a constru-ção da nova Biblioteca Municipal, a cons-trução de Polidesportivos e de ETAR’s na sede do concelho e freguesias, não esque-cendo a requalificação urbana em cen-tros históricos, com maior visibilidade na Aldeia Vinhateira de Barcos, dão-nos a garantia de termos cumprido com o nosso

dever e deixam-nos de consciência tran-quila. De consciência tranquila, mas não resignados, nem adormecidos quanto aos novos desafios que o QREN nos passa a colocar. Depois do encerramento de 14 escolas básicas, em breve começarão as obras do novo Centro Escolar de Tabu-aço e procurar-se-á financiamento para o Pólo Escolar de Sendim.

Quais são as áreas em que considera ser prioritário intervir a curto prazo?Acessibilidades, Emprego, Educação e Acção Social. Torna-se urgente a cons-trução da Estrada de ligação de Tabuaço-Armamar-A24 e construção do Centro Social de Valença do Douro.

E a longo prazo?Em Tabuaço tudo se torna urgente. No entanto, entendemos que a construção de Unidades de Alojamento Turístico, a recuperação e restauro do nosso Patri-mónio Histórico-Religioso-Cultural, um apoio efectivo aos nossos Agricul-tores, com destaque para os Vitivinicul-tores, bem como a execução de investi-mentos geradores de riqueza e emprego, são tarefas que, devendo ser programadas amanhã, terão necessariamente de se exe-cutar ao longo dos próximos dez anos.

Em tempos, numa entrevista, refe-riu que a região do Douro precisa de mais atenção. A que nível?A Região do Douro, apesar das suas potencialidades, continua a ser uma das mais pobres no País e a mais pobre Região Vinhateira da Europa. Depois do Marquês de Pombal ainda não chegou um Gover-nante que olhasse para o Douro com a pontaria certa. O Professor José Hermano Saraiva dizia-me, há poucos anos, que o século XXI devia ser o século do Douro. Ele tem razão!!! Será nos domínios da qualificação dos seus Recursos Huma-nos e do aproveitamento dos seus Recur-sos Endógenos (Vinha, Vinho, Paisagem e Património) que a aposta terá de ser ganha. Que o Douro se transforme numa Região próspera e desenvolvida para bem dos Durienses e do País.

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OPINIÃO PERSPECTIVA

26 FEVEREIRO 2009

Carnaval

Festival de ArtesO brasileiro é realmente um privilegiado em termos de festividades, pois logo após as festas de final de ano e o início das férias de Verão, vem o Carnaval, que pode ser considerado a maior festa popular ao ar livre do mundo. Tendo como “comissão de frente” a incorrigí-vel alegria da nossa gente,ele apresenta-se como um autêntico abre-alas da indústria de turismo e garoto-propaganda das nossas exportações. Samba, trilha sonora do Brasil.

O Carnaval, a arte e o mundo dos negó-cios são destaques do mesmo carro ale-górico. O processo de evolução do nosso Carnaval transformou-o numa autêntica ópera de rua, ou, como querem outros, no mais criativo e democrático Festival de Artes do planeta. O carnavalesco, pro-tagonista do núcleo de criação da escola de samba, está comprometido com a ver-dade ao associar a arte as circunstâncias históricas e geográficas. A imaginação e a emoção simbolizam o corpo e alma do artista. Da mais famosa passarela - a Mar-ques de Sapucaí – à mais simples viela, a nossa musicalidade desfila a sua maior riqueza – a diversidade de seus ritmos – como o samba, originário do batuque africano.

Ao lado da música, a literatura faz-se presente com o samba-enredo que pode reescrever o nosso descobrimento ou relembrar os ciclos do nosso desenvolvi-mento e a pintura retratar o colorido da nossa flora e da nossa fauna. A escultura homenageia as nossas celebridades, as artes plásticas faz o lixo transformar-se em luxo. A dança exibe todo o nosso “jogo de cintura”. Os nossos artesãos mostram a sua genialidade com o aproveitamento dos nossos recursos naturais; a arquite-tura também se faz presente, especial-mente revelando os carnavalescos como verdadeiros “arquitectos sociais”. A foto-grafia, o cinema, artes cénicas e gráficas, todas elas se fazem presentes na fanta-siosa corte do Rei Momo.

O Carnaval, que possui a magia de

transformar artistas em passistas e pas-sistas em artistas, é responsável pelo mais abrangente acervo da nossa cultura popular. Senão vejamos. Redescobrindo a nossa história, nada tem escapado a sensibilidade dos carnavalescos que,da tradição à globalização ou da tragédia à comédia,têm retratado nossos usos e costumes – festa para os mais diversos meios de comunicação. A nossa geogra-fia tem sido motivação para os compo-sitores explorarem os milhares de quiló-metros das nossas belas praias, o imenso “mar verde” da selva Amazónica, o para-íso ecológico do Pantanal, as serras e cachoeiras do sul, a biodiversidade da mata atlântica e todas as riquezas natu-rais, deste país continente.

No campo empresarial o destaque fica para o formato empreendedor de gestão que faz da ousadia, da criatividade e da empregabilidade – soma das competências e habilidades – o tripé de um modelo exemplar de organização competitiva.

O mundo dos negócios ainda tem que se conscientizar que somente um ambiente de trabalho prazeroso poderá produzir a Excelência. O prazer, no seu mais refi-

nado conceito, é a energia (insubstituível) que gera vencedores. Até a modernidade do Terceiro Sector, com a sua responsabi-lidade social através do voluntariado, de há muito faz parte do “DNA” das escolas de samba, e de outras agremiações simi-lares, que têm desenvolvido excelentes projetos especiais, que vão da pedagogia à tecnologia, contribuindo para reduzir os índices de exclusão social.

A elevação da expectativa de vida, a nova estrutura do mercado mundial de trabalho e as mudanças de estilo de vida das pessoas são tendências que elegem a indústria do turismo como um dos mais promissores empreendimentos do futuro. Ao som dos seguidores do lendário Mestre André - bateria nota 10 - encerra-mos com o nosso cautelar grito carnava-lesco: vamos explorar o turismo, não os turistas.

(artigo enviado por um leitor da Revista Perspectiva)

» Faustino Vicente, consultor brasileiro de Empresas e de Órgãos Públicos

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EVENTO

PERSPECTIVA

28 FEVEREIRO 2009

2009

Grande encontro anual do sector agro-alimentar e bebidasFaltam apenas 2 dias para começar o maior salão nacional do sector agro-alimentar e bebi-das em Portugal: o SISAB 2009. Um evento que este ano recebeu o Alto Patrocínio do Pre-sidente da República, facto que demonstra o seu reconhecimento, mas também a importân-cia estratégica das exportações para Portugal.

Mais do que nunca, as exportações estão na ordem do dia. Perante a grave crise que impera, exportar tornou-se um impe-rativo para as empresas portuguesas, que já se viam a braços com esta necessidade devido à exiguidade do mercado nacio-nal.

A edição deste ano do SISAB - Salão Internacional do Vinho, Pescado e Agro-Alimentar, que decorre de 9 a 11 de Feve-reiro de 2009, no Pavilhão Atlântico (no Parque das Nações, em Lisboa), corres-ponde a um grande esforço de diversifi-cação de mercados. Face a 2007, a edição deste ano conta com um aumento de 22% de expositores portugueses, que vão mos-trar os seus produtos e marcas a mais de mil participantes e compradores interna-cionais. Este evento tem a particularidade de apresentar exclusivamente marcas portuguesas ao grande universo interna-cional dos importadores do sector.

Carlos Morais, administrador do SISAB, está optimista esclarecendo:

“todas as crises geram oportunidades. Vejo novas oportunidades para o sector agro-alimentar com a actual crise nos mercados financeiros. O abrandamento da economia europeia não provocou, até agora, uma diminuição das exporta-ções deste sector. Aliás, o crescimento das exportações do sector agro-alimen-tar para os mercados extra-comunitários continua a bom ritmo.”

Durante a realização do SISAB 2009 vai continuar a existir uma aposta nas visitas complementares a diversas empre-sas do sector alimentar e bebidas, bem como nos momentos de provas e mostras dos diversos produtos, contribuindo mais do que nunca para a promoção, divulga-ção e internacionalização das empresas.

Países como Angola, Moçambique e Brasil, entre outros, vivem em contra-ciclo, imunes à crise, e, por isso, conti-nuam a ser boas apostas para os expor-tadores portugueses. Paralelamente, as empresas nacionais aumentam também as exportações para países extra-comuni-tários, desafiando novos mercados e con-trariando a dependência face aos clientes habituais.

Mais de 1000 expositores São esperados mais de 1000 compradores internacionais, que se vão encontrar com as 400 empresas portuguesas presentes no certame. Índia, Líbia e Marrocos visitam, pela primeira vez, Portugal e juntam-se a outros países de elevado potencial econó-mico e já presenças assíduas no SISAB,

como China, Japão, Índia, Estónia, Lituâ-nia, México, Polónia, Hungria, Eslová-quia, Brasil, PALOP, Suécia, Noruega, Finlândia, Inglaterra, Dinamarca, Repú-blica Checa, Estados Unidos e Canadá, entre outros.

No que diz respeito às marcas nacio-nais, vão estar representados os seguintes sectores: pescado, frutas e frescos, lacti-cínios, pecuária, vinho, agro-alimentar, produtos biológicos, doçaria, bebidas, especiarias e produtos dietéticos. Entre as empresas portuguesas a apresentar os seus produtos/marcas encontram-se a Delta, a Central de Cervejas (cerveja Sagres), o Grupo Sovena (Azeite Oliveira da Serra), a UNICER (cerveja Super-Bock), Vieira de Castro, Sr Bacalhau, Primor, Nobre, Sumol, Compal, Cerea-lis, Herdade do Esporão, Sogrape, Impe-rial, Ferbar, Vimeiro, Lactogal, Cofaco, Azal – Azeites do Alentejo, Bacalhoa, Carmim, Gelpeixe, Saloio, Vimeiro, Ave-leda, entre muitas outras.

A cerimónia de encerramento conta com a presença do Ministro da Agricul-tura, Jaime Silva.

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SAÚDE

30 FEVEREIRO 2009

Criopreservação

Banco público vai avançar em breveO Governo anunciou recentemente no Parlamento a criação de um banco público de célu-las do cordão umbilical. Um projecto que ainda está em estudo, mas que para José Sócra-tes “significa garantir o acesso gratuito e universal às células criopreservadas por parte daqueles que venham a precisar”, permitindo “dotar o país com mais recursos para tratar de doenças particularmente graves da primeira infância”.

A criação de um banco público de sangue do cordão umbilical vai permitir que todos os doentes que precisem possam ter acesso, independentemente das suas posses financeiras. Prevê-se que o fun-cionamento se assemelhará a um banco de sangue, ou seja, os pais, voluntaria-mente, vão autorizar a recolha e dádiva do sangue do cordão umbilical. Após a reco-lha, o sangue vai para um banco de célu-las estaminais e, a partir daí, fica acessí-vel a todos os que precisarem delas.

Actualmente para se poder fazer a reco-lha e preservação do sangue do cordão umbilical, os pais têm de comprar um serviço a uma empresa privada (valor oscila entre os 1000 e os 2000 euros), mas a partir do momento em que o banco público entre em funcionamento todos poderão recorrer a ele quando necessá-

rio. A grande diferença é que se deter-minada pessoa precisar delas no futuro, nada garante que as mesmas não tenham sido já doadas.

Por este motivo, os responsáveis pelas empresas de criopreservação em Portugal esclarecem os pais de que a existência do banco público de sangue do cordão umbi-lical vai guardar as células de todos os bebés e, caso se siga o exemplo de outros

Doenças tratadas com transplante de células estaminais

As células estaminais podem ser decisivas na cura de determinadas doenças, inclusive existe uma lista de doenças publicada na revista Biology of Blood and Marrow Transplatation, da Sociedade Americana para Transplantação de Medula e Sangue e no British Medical Journal, que já foram tratadas com transplante de células estaminais do cordão umbilical: Leucemia mielóide aguda; Leu-cemia mielóide crónica; Leucemia mielóide crónica juvenil; Síndrome Mielodiaplástico; Tumores Sólidos; Adrenoleucodistrofia; Trombocitope-nia amegacariocitica; Sindroma Black-fan-Diamond; Disqueratosis congé-nita; Anemia de Fanconi; Leucodistrofia celular globóide; Doença de Gunter; Sindroma de Hunter; Sindroma de Hurler; Anemia aplástica idiopática; Sindroma de Kostman; Sindroma de Lesh-Nyhan; Osteopetrose; Doença de Hodgkin refractária; Meloma múltiplo Deficiências imunitárias combinadas severas; Talassémia; Sindroma Linfoproliferativo ligado ao cromossoma X; Sindroma de Wiskott Aldrich14.

Evolução da biotecnologia clínica

Segundo especialistas do sector, a investigação com células estaminais em Portugal está entre as mais avançadas do mundo, nomeadamente nas áreas da engenharia de tecidos e da medicina regenerativa. Um dos exemplos é o da Cytothera que além de efectuar a recolha de sangue do cordão umbilical, também permite a recolha do próprio tecido do cordão umbilical para efectuar a criopreservação das células estaminais hematopoiéticas e mesenquimais. Este processo foi desenvolvido em parceria com uma equipa de investigadores portugueses e encontra-se patenteado pelo Grupo Medinfar.

países, existirão apenas amostras repre-sentativas do perfil genético da popula-ção. Neste sentido, continuará a haver espaço para os bancos privados.

Células estaminais, que van-tagens: A grande particularidade das células esta-minais é o facto de terem capacidade de se transformar em todo o tipo de tecidos e, em caso de doença, substituir órgãos afectados. Mas também existem outro tipo de vantagens que começam na forma como são recolhidas, na ausência de risco para o dador, na redução do risco de infecção, na possibilidade de expan-são e terminam na disponibilidade ime-diada para transplantação.

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» Ermida de S. Sebastião

» Monte do Sobral

» Monte do Sobral - Sala de Refeições

PORTU AL SEM BARREIRAS

32 FEVEREIRO 2009

Escapadinha no Alentejo com a Rota do Fresco A escapadinha no Alentejo com a Rota do Fresco é uma das maneiras mais agradáveis de desfrutar de parte do património monumental e gastronómico que esta região tem para ofe-recer. Texto: Pedro Brandão

Com o intuito de lhe dar a conhecer as zonas da Vila do Alvito, Cuba e Portel, esta “escapadinha” desafia-o a desco-brir o enorme tesouro artístico guardado pelas Igrejas, Capelas e Ermidas alen-tejanas. A isto, alia-se o leque de sabo-res fortes e intensos tão característicos da cozinha regional alentejana. Tão cedo não se irá esquecer deste passeio, todo ele acessível a pessoas com mobilidade reduzida!Descontraia num verdadeiro monte alen-tejano, transformado em turismo de habi-tação e equipado com quarto adaptado; passeie por lugares incríveis e conheça as Capelas e os seus frescos que o clima alentejano ajudou a preservar. Surpreen-da-se pela positiva... Validámos as aces-sibilidades para si!

No primeiro dia, pela manhã, propo-mos uma passagem pela Capela de São Brás de Portel. Siga rumo à Amieira, onde pode almoçar no restaurante O Afi-cionado e apreciar algumas das iguarias regionais. Pela tarde, dirija-se até Vila de Frades e visite a Ermida de São Brás. Já em Cuba, paragem seguinte do nosso roteiro, não deve perder a oportunidade de conhecer a Herdade do Rocim, um complexo moderno e totalmente acessí-vel, no qual será convidado a fazer uma prova de vinhos e lanchar.

No segundo dia, comece com uma ida a Vila Nova da Baronia e contem-ple a deslumbrante Ermida de São Neutel, à qual é impossível ficar indife-rente. Ainda nesta localidade, aproveite a nossa sugestão e visite a Capela dos Passos. Para a pausa do almoço propo-mos o Monte do Sobral, em Alcáçovas, de onde pode seguir em direcção à Vila do Alvito. Nesta pitoresca vila alente-jana, a Ermida de São Sebastião é um local a não perder, assim como as antigas Pedreiras Medievais do Rossio – locali-zadas por baixo da Ermida e totalmente acessíveis. Igualmente a não perder é a Igreja Matriz do Alvito.

1º DiaCapela de S. Brás de Portel – rampa amovívelAlmoço Regional no Restaurante O Aficionado (Amieira)Ermida de S. Brás em Vila de Frades – rampa amovívelVisita a Adega com prova de vinhos na Herdade do Rocim em Cuba (Prova de cinco vinhos e lanche regional) – totalmente acessível

2º DiaErmida de S. Neutel em Vila Nova da Baronia – rampa amovívelCapela dos Passos em Vila Nova da Baronia – rampa amovívelAlmoço Regional no Monte Sobral (Alcáçovas)Ermida de S. Sebastião de Alvito – rampa amovívelGrutas antigas Pedreiras Medievais no Rossio (Alvito) – totalmente acessí-velIgreja Matriz de Alvito – rampa amo-vível

Onde pernoitar: Monte do Sobral, uma unidade de turismo rural situada no meio da planície alentejana, “nas antigas casas e assento de lavoura” da Herdade do Sobral. Possui um quarto adaptado (wc com apoios na retrete e banheira).As refeições: Restaurantes “O Afi-cionado” e a “Herdade do Sobral”, que privilegiam a gastronomia local. Embora não totalmente acessíveis, são amplos e de acesso fácil, no entanto as casas de banhos são condicionadas.

As informações são fornecidas pela Agência de Viagens

Accessible Portugal.URL: www.accessibleportugal.com

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DIA DOS NAMORADOS

FEVEREIRO 2009 33

Nokia 7100 Supernova e Nokia 5310 Xpress Music

Sugestões para o Dia dos Namorados

Para Ela Nokia 7100 Supernova Para elas, a Vodafone sugere o exclusivo Nokia 7100 Supernova em cor-de-rosa. Este telemóvel, mais do que um simples instrumento de comunicação, é uma peça de design capaz de complementar o estilo pessoal de qualquer utilizadora. Possui uma tampa deslizante, à qual se juntam minuciosos pormenores metálicos.

As capacidades multimédia não foram esquecidas e o Nokia 7100 disponibiliza uma câmara de 1.3 megapixéis, permitindo o visionamento de fotografias no ecrã QVGA com duas polegadas e a sua posterior partilha, através de uma ligação Bluetooth, por MMS ou ainda por e-mail.

Para além do leitor de música integrado, esta aposta da Vodafone “para Elas” disponibiliza ainda rádio FM. Preço: 74,90 euros (aquisição online ou após retoma)

Sugestão para Ele Nokia 5310 Xpress Music, com oferta de Mini Altifalantes O Nokia 5310 Xpress Music, exclusivo da Vodafone, destina-se a todos aqueles que não vivem sem música e, por esse motivo, tem teclas dedicadas, amplificador e equalizador integrados vindo, ainda, com um auricular estéreo.

Este equipamento, disponível e sugerido para agradar ao público masculino, em preto, branco, azul e vermelho, tem uma autonomia de cerca de 20 horas e possibilita armazenar até 3000 músicas com um cartão de 4GB. Por ser triband, pode ser usado em qualquer lugar do mundo. À música, este equipamento junta a fotografia e incorpora uma câmara com 2 megapixéis de resolução.

Para assinalar esta data especial, a Vodafone disponibiliza este tele-móvel com os Mini Altifalantes Nokia MD-8 (oferta limitada ao stock existente) que aliam um som de alta qualidade a um design apelativo e funcionam a pilhas. Preço: 114,90 euros (aquisição online ou após retoma)

Para mais informações consulte www.vodafone.pt

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LEITURAS

MÚSICA CD’S

A NÃO PERDER

CULTURA

34 FEVEREIRO 2009

O Alentejano que descobriu a AméricaAutora.: Pedro LaranjeiraEditora.: FreezoneMuitos livros têm sido escritos sobre a documentação que sustenta que o des-cobridor da América é português, nas-cido em Cuba, no Alentejo, com o nome de Salvador Fernandes Zarco. Este novo livro é uma compilação das descobertas feitas por investigadores que dedicaram grande parte das suas vidas ao assunto e pretende condensar, em poucas páginas, um conhecimento profundo do tema. O livro traz à luz da opinião pública todos os factos conhecidos e promove a discussão cien-tífica, para que o património histórico que legamos às gerações futuras seja baseado somente na verdade.

CINEMAFantasportoLocal: Teatro Rivoli e Praça D. João I – PortoData: De 16 de Fevereiro a 1 de MarçoNa 29ª edição, o Fantasporto apre-senta uma programação repleta de filmes que marcaram presença nos festivais de cinema internacionais, bem como um conjunto de obras de novos realizadores de todas as partes do mundo. Em mais de dez salas Zon Lusomundo de todo o país, vão ser exibi-dos diversos filmes da competição oficial. O cinema esten-de-se ainda à Praça Dom João I onde será instalado o Espaço“Cidade do Cinema”, com uma programação autónoma e origi-nal, onde serão mostradas cerca de 400 curtas-metragens.

U2“No line on horizon”Este é o novo álbum da mega banda irlandesa U2, o primeiro desde 2004. O sucessor de How to Dismantle an Atomic Bomb, conta com produção de Brian Eno, Daniel Lanois e Steve Lillywhite. “No Line on the Horizon”, além de ter edição em CD e duplo vinil, será também editado em Março, de forma limitada, em versão digipack (com booklet de 36 páginas, um poster e a pos-sibilidade de fazer download do novo filme de Anton Corbijn), em versão revista e uma caixa especial (com um livro de 60 páginas, um segundo poster e o filme de Corbijn em DVD).

Bruce Springsteen‘Working on a Dream’Um álbum de contrastes que apresenta as várias facetas da criatividade musical de Bruce Springsteen. Este é o vigésimo quarto álbum do ‘Boss’, possivelmente o seu disco mais ameno e melodioso, que retrata o estado de espírito de Springsteen: entusiasta e empenhado em enaltecer a música americana.

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