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Área 4 – Macroeconomia, Economia Monetária e Finanças 2016 A Lei de Thirlwall Multissetorial com Fluxos de Capitais: Uma Análise do Plano Nacional de Exportações (2015-2018) Usando Simulações Computacionais Livia Nalesso Baptista 1 Guilherme Jonas Costa da Silva 2 Júlio Fernando Costa Santos 3 Resumo: Este trabalho tem como objetivo avançar no debate em torno da Lei de Thirlwall Multissetorial, incluindo os fluxos de capitais setoriais e suas implicações para a nova estratégia de crescimento da economia brasileira, que visa estimular as exportações por meio da diversificação dos produtos, da agregação de valor e do aumento da intensidade tecnológica das exportações brasileiras. Para tanto, desenvolve-se um modelo multissetorial com fluxos de capitais setoriais e, na sequência, realizam-se algumas simulações computacionais considerando os principais setores e parceiros econômicos do país (China, Estados Unidos e Zona do Euro). Os resultados sugerem que a melhor estratégia é estimular os setores específicos, ou seja, ampliar a participação dos setores que o país possui maior vantagem comparativa em relação a cada um dos seus parceiros comerciais. Não obstante o resultados obtidos na simulação, nos moldes do modelo proposto por Rodrik et al (2005), pode gerar a aceleração do crescimento econômico. Os autores gostariam de agradecer o apoio financeiro do CNPq e da CAPES durante o desenvolvimento desta pesquisa. Evidentemente, quaisquer erros ou omissões remanescentes são de nossa inteira responsabilidade. 1 Doutoranda em Economia pela Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: [email protected] 2 Doutor em Economia pela UFMG, Professor Adjunto do Instituto de Economia e Tutor do Grupo "PET Economia" da Universidade Federal de Uberlândia. E- mail: [email protected] . 3 Doutorando em Economia pela Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: [email protected]

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rea 4 Macroeconomia, Economia Monetria e Finanas

2016

A Lei de Thirlwall Multissetorial com Fluxos de Capitais:

Uma Anlise do Plano Nacional de Exportaes (2015-2018) Usando Simulaes Computacionais[footnoteRef:1] [1: Os autores gostariam de agradecer o apoio financeiro do CNPq e da CAPES durante o desenvolvimento desta pesquisa. Evidentemente, quaisquer erros ou omisses remanescentes so de nossa inteira responsabilidade. ]

Livia Nalesso Baptista[footnoteRef:2] [2: Doutoranda em Economia pela Universidade Federal de Uberlndia. E-mail: [email protected] ]

Guilherme Jonas Costa da Silva[footnoteRef:3] [3: Doutor em Economia pela UFMG, Professor Adjunto do Instituto de Economia e Tutor do Grupo "PET Economia" da Universidade Federal de Uberlndia. E-mail: [email protected]. ]

Jlio Fernando Costa Santos[footnoteRef:4] [4: Doutorando em Economia pela Universidade Federal de Uberlndia. E-mail: [email protected]]

Resumo:

Este trabalho tem como objetivo avanar no debate em torno da Lei de Thirlwall Multissetorial, incluindo os fluxos de capitais setoriais e suas implicaes para a nova estratgia de crescimento da economia brasileira, que visa estimular as exportaes por meio da diversificao dos produtos, da agregao de valor e do aumento da intensidade tecnolgica das exportaes brasileiras. Para tanto, desenvolve-se um modelo multissetorial com fluxos de capitais setoriais e, na sequncia, realizam-se algumas simulaes computacionais considerando os principais setores e parceiros econmicos do pas (China, Estados Unidos e Zona do Euro). Os resultados sugerem que a melhor estratgia estimular os setores especficos, ou seja, ampliar a participao dos setores que o pas possui maior vantagem comparativa em relao a cada um dos seus parceiros comerciais. No obstante o resultados obtidos na simulao, nos moldes do modelo proposto por Rodrik et al (2005), pode gerar a acelerao do crescimento econmico. Assim, o Plano Nacional de Exportaes (2015-2018) deve dar preferncia ampliao de incentivos a setores que apresentem elevadas razes das elasticidades no sentido de Thirlwall.

Palavras Chave: Lei de Thirlwall Multissetorial; Fluxos de Capitais; Taxa de Cmbio; Crescimento Econmico; Brasil.

Abstract:

This paper aims to advance the debate on Thirlwall Multisectoral Act, including sectoral capital flows and its implications for the new Brazilian economy's growth strategy, which aims to stimulate exports through diversification of products, the aggregation value and increased technology intensity of Brazilian exports. To this end, it develops a multisectoral model with sectoral capital flows and, as a result, are carried out some computer simulations considering the main sectors and economic partners of the country (China, the US and the Eurozone). The results suggest that the best strategy is to encourage specific sectors, that is, increase the participation of the sectors that the country has comparative advantage in relation to each of its trading partners. Despite the results obtained in the simulation, the model templates proposed by Rodrik et al (2005), can generate the acceleration of economic growth. Thus, the National Plan for Exports (2015-2018) should give preference to the expansion of incentives to sectors that have high ratios of elasticity towards Thirlwall.

Key-Words: Multi-Sector Thirlwalls Law; Capital Flows; Exchange Rate; Economic Growth; Brazil.

JEL Code: O41; C63.

1) Introduo

O debate em torno da teoria do crescimento econmico central na literatura econmica. Este debate teve incio nos trabalhos seminais de Keynes (1936), Harrod (1939) e Domar (1947), que apresentaram os primeiros esforos no sentido de explicar o comportamento do produto ao longo do tempo.

A abordagem neoclssica do crescimento econmico entrou no debate, introduzindo vrios elementos importantes na explicao do crescimento econmico e, recentemente, apresentou os potenciais benefcios dos fluxos de capitais para os pases em desenvolvimento, na forma de estmulo acumulao de capital, crescimento da produtividade e crescimento do PIB per capita. Ainda que a literatura ps-keynesiana considere essa varivel importante para explicar o comportamento do produto interno bruto, argumenta que a poupana externa tem desestabilizado algumas economias, em particular, a economia brasileira, por apreciara taxa real de cmbio, desestimular o investimento e no contribuir para aumentar a poupana agregada. Com efeito, acredita-se que o crescimento de longo prazo deve ser buscado, preferencialmente, por meio das exportaes.

Em 2015, a economia brasileira lanou o plano nacional das exportaes, que tem por objetivo estimular a retomada do crescimento conduzido pelas exportaes. Para tanto, o pas est apostando na diversificao dos produtos, na agregao de valor e no aumento da intensidade tecnolgica das exportaes brasileiras. A ideia que o dficit em transaes correntes financiado pelas exportaes reduz a dependncia do pas em relao aos fluxos de capitais, que so volteis e trazem consequncias negativas para o crescimento dos pases em desenvolvimento.

O debate em torno dessa estratgia de crescimento tem sua origem no artigo desenvolvido por Thirlwall (1979). Em sua verso original, essa estratgia no foi observada em algumas economias em desenvolvimento, j que apresentaram taxas de crescimento diferentes daquelas previstas pelo modelo. Essa incompatibilidade ocorreu pelo fato do autor no ter incorporado os efeitos dos fluxos de capitais. Como vrias economias, em particular, aquelas em desenvolvimento, dependem da poupana externa para crescer, este endividamento faz com que as mesmas cresam mais do que a restrio no balano de pagamentos previa.

A Lei de Thirlwall evoluiu para uma abordagem multissetorial, mas esta desconsiderou os potenciais impactos dos fluxos de capitais. Assim, pretende-se avanar no debate, apresentando uma nova verso dessa Lei, incluindo os fluxos de capitais no modelo, para avaliar os impactos da estratgia de crescimento conduzido pelas exportaes.

Para tanto, desenvolve-se um modelo multissetorial com fluxos de capitais setoriais. A janela temporal dos dados de 2000 a 2014. Com uma amostra dos trs principais parceiros econmicos da economia brasileira (China, Estados Unidos e bloco Europeu), estimam-se os parmetros do modelo para que seja possvel realizar as simulaes computacionais para uma economia com caractersticas estruturais semelhantes brasileira.

Para atingir o objetivo proposto, alm desta introduo, o trabalho est estruturado em mais cinco sees. Na segunda seo, apresenta-se o debate em torno do papel dos fluxos de capitais para a acumulao de capital e o crescimento econmico das economias. Na seo seguinte, desenvolve-se um modelo ps-keynesiano de crescimento multissetorial com fluxo de capitais. Na quarta, a ateno volta-se para o Plano Nacional das Exportaes. Na quinta seo, realizam-se algumas simulaes computacionais considerando os principais parceiros econmicos do pas (China, Estados Unidos e Zona do Euro). Por fim, as consideraes finais so apresentadas.

2) Crescimento Econmico, Fluxos de Capitais e Dinmica das Exportaes: Uma Sntese da Literatura Terica

O debate em torno da teoria do crescimento teve incio na dcada de 1930 com os trabalhos de Harrod (1939) e Domar (1947), mas a trajetria de crescimento nesses modelos era instvel, em funo do padro de expectativas dos empresrios. Como os resultados previstos pelo modelo eram considerados distantes da realidade das economias capitalista da poca, a teoria neoclssica apresentou uma alternativa, corrigindo os problemas identificados na abordagem ps-keynesiana.

A teoria neoclssica de crescimento (Solow-Swan, Ramsey-Cass-Koopmans) afirma que, quando todos os pases tm acesso mesma tecnologia e possuem a mesma dotao de capital humano, as diferenas de renda per capita entre pases se devem a diferenas no estoque de capital per capita, de modo que a taxa de retorno do capital ser menor nos pases com maior estoque de capital per capita e maior nos pases com menor estoque de capital per capita. Considerando a hiptese de livre mobilidade de capitais, o capital sair dos pases ricos (com maior estoque de capital) e ir para os pases pobres (com menor estoque de capital), at que as taxas do retorno do capital, do estoque de capital per capita e da renda per capita sejam iguais entre os pases (ACEMOGLU, 2009). Para os pases em desenvolvimento, onde se supe que a acumulao de capital restrita pelo baixo nvel de poupana domstica, o acesso poupana externa possibilitada pela livre mobilidade de capitais complementaria a poupana domstica, estimularia a acumulao de capital e o crescimento econmico (OBSTFELD, ROGOFF, 1996; HENRY, 2007; ACEMOGLU, 2009).

Este modelo tem implicaes para o padro dos fluxos de capitais entre pases desenvolvidos e pases em desenvolvimento, bem como para a acumulao de capital e o crescimento econmico nos pases em desenvolvimento: i) os pases desenvolvidos, onde se supe que o capital relativamente abundante e a taxa de retorno do capital baixa, seriam exportadores de capital; ii) os pases em desenvolvimento, onde se supe que o capital relativamente escasso e a taxa de retorno do capital alta, importariam capital dos pases desenvolvidos. O resultado disso que, como se supe que a acumulao de capital nos pases em desenvolvimento restrita pelo baixo nvel de poupana domstica, o acesso poupana externa complementaria a poupana domstica, estimulando a acumulao de capital e o crescimento econmico (OBSTFELD, ROGOFF, 1996; HENRY, 2007; ACEMOGLU, 2009).

Portanto, quando pases em desenvolvimento permitem a livre mobilidade de capitais, o capital flui para esses pases, a fim de explorar a diferena entre a taxa de juros mundial e a taxa de retorno do capital desses pases, gerando novos investimentos nos mesmos, at que a relao capital-trabalho, os salrios e os retornos do capital, sejam equalizados.

Contudo, Bresser-Pereira e Gala (2007) argumentam que a estratgia de crescimento econmico com poupana externa nociva aos pases em desenvolvimento, uma vez que as consequncias da abertura financeira so dficit em conta corrente, financiado com emprstimos ou investimentos diretos, e apreciao da taxa de cmbio real efetiva. Quando a taxa de cmbio real efetiva apreciada, os salrios e ordenados reais aumentam, na medida em que os preos dos bens comercializveis diminuem com a apreciao cambial. Os lucros dos capitalistas caem tanto por conta do aumento dos salrios e ordenados, quanto porque capitalistas exportam e investem menos. Quando os salrios e ordenados se elevam e se mantm em nveis artificialmente elevados e os lucros diminuem, o consumo aumenta e se mantm elevado com a apreciao cambial, diminuindo a poupana interna. Dessa forma, a estratgia de crescimento com poupana externa implica apreciao cambial, estmulo ao consumo, desestmulo ao investimento e a substituio da poupana interna pela poupana externa.

Uma implicao destes efeitos dos fluxos de capitais sobre os pases em desenvolvimento que o crescimento econmico deve ser buscado preferencialmente por meio das exportaes: quanto mais o dficit em transaes correntes for financiado pelas exportaes, menor a dependncia do pas em relao aos fluxos de capitais, que so volteis e trazem consequncias negativas aos pases em desenvolvimento.

Note que, no modelo neoclssico de crescimento, em particular, no modelo de Solow (1956), os fatores que determinam o crescimento de longo prazo da economia so a taxa de crescimento do estoque de capital, a taxa de crescimento da fora de trabalho e o progresso tecnolgico.

Para a abordagem ps-keynesiana, no longo prazo, so as condies de demanda que determinam o nvel de produo, o comportamento dos fatores de produo disponveis e o ritmo do progresso tecnolgico, j que estes se adaptam ao crescimento da demanda. Desta forma, a demanda o componente principal, que explica os principais fatores importantes para o crescimento de uma economia.

A ideia que os fatores apontados no modelo neoclssico podem, portanto, ser analisados dentro da abordagem ps-keynesiana:

i) a taxa de crescimento do estoque de capital igual ao investimento, que uma funo da relao entre o lucro e o custo de oportunidade do capital, e das expectativas em relao ao consumo; assim, se o consumo aumenta, h um aumento no investimento e no produto, ou seja, a demanda est crescendo, de modo que os empresrios respondem aumentando o estoque de capital;

ii) Quanto fora de trabalho, argumenta-se que esta no um obstculo ao crescimento, uma vez que os empresrios e capitalistas tm a opo aumentar a carga horria de trabalho, aumentar o custo de oportunidade do lazer via aumento dos salrios e tambm estimular a contratao de imigrantes;

iii) Por fim, quanto ao progresso tecnolgico, tem-se que uma parcela deste incorporada s mquinas e equipamentos e uma parte desincorporada, causada por economias dinmicas de escala como learning by doing. Segundo Kaldor (1957), o progresso tecnolgico induzido pelo crescimento econmico: se houver demanda, as firmas iro responder por meio do aumento da produo e da capacidade produtiva, desde que as margens de lucro sejam elevadas.

Assim, a abordagem ps-keynesiana contrria aos argumentos neoclssicos a respeito dos determinantes de longo prazo do crescimento de uma economia, afirmando que o mesmo depende da demanda, mais especificamente, das exportaes.

Kaldor(1957) ressalta que o setor manufatureiro/industrial da economia o motor do crescimento econmico, por ser o mais dinmico, apresentando retornos crescentes de escala e spillovers sobre toda a economia. As exportaes, por sua vez, podem ser consideradas o principal componente da demanda autnoma em uma economia aberta, tendo efeitos diretos e indiretos sobre a mesma, j que o nico componente da demanda capaz de custear as importaes. Destaca-se, ento, o papel central da indstria exportadora para uma estratgia de crescimento sustentvel.

A estratgia de crescimento conduzida pelas exportaes tem sua origem no modelo desenvolvido por Thirlwall (1979), foi o primeiro a explicar os diferenciais das taxas de crescimento entre os pases, partindo de uma anlise da demanda. Ainda que interessante, as evidncias demonstravam que o endividamento fazia com que pases em desenvolvimento crescessem mais rpido que a restrio no balano de pagamentos permitiria, o que explicava o porqu de a Lei de Thirlwall no ser observada em sua verso original nesses pases. Como vrias economias, principalmente aquelas em desenvolvimento, contam com poupana externa para crescer, este endividamento faz com que as mesmas cresam mais rapidamente do que a restrio no balano de pagamentos imposta pela Lei de Thirlwall previa. Ciente desse descolamento do modelo em relao realidade das economias capitalistas da poca, Thirlwall e Hussain (1982) apresentaram um primeiro esforo no sentido de incorporar fluxos de capitais em uma economia aberta para explicar o crescimento econmico.

Moreno-Brid (1998-1999), contudo, observou que a restrio contbil imposta por Thirlwall e Hussain (1982) no seria suficiente para garantir que a evoluo da entrada de capitais estrangeiros gerasse um padro de endividamento externo sustentvel. Embora o modelo considerasse a entrada de capital estrangeiro, a nica restrio apresentada era o princpio da contabilidade no balano de pagamentos, o que no garantia que o padro de endividamento externo fosse sustentvel a longo prazo. Em outras palavras, o tratamento do capital estrangeiro do modelo ignora as potenciais complicaes introduzidas pela acumulao do endividamento externo que tm, muitas vezes, desorganizado processos de crescimento de economias aparentemente saudveis e fortes.

Assim, o autor busca adequar o modelo de crescimento com restrio no balano de pagamentos para as economias em desenvolvimento, apresentando uma verso alternativa que incorpora uma restrio simples evoluo do fluxo de capital estrangeiro, que limita a expanso da dvida externa, ou seja, a relao entre dficit em conta corrente e produto interno deve se manter equilibrada.

Em 2003, Moreno-Brid apresenta uma nova verso de seu modelo, que incorpora o pagamento de juros ao exterior, afim de melhor adequar seu modelo realidade dos pases latino-americanos, mantendo a restrio sobre a acumulao sustentvel de dvida externa. A nova equao para se calcular a taxa de crescimento do produto no novo modelo pode ser expressa por:

(1)

A equao 1mostra que a taxa de crescimento do produto depende da renda real mundial (z), do montante de pagamento lquido de juros ao exterior em termos reais (r), bem como da taxa de cmbio e dos preos domsticos e externos. Note que as variveis e so negativamente relacionadas a . Assumindo que as variaes nos termos de troca no so significantes, tem-se:

(2)

Se o dficit em conta corrente for zero (e, portanto, , obtm-se uma nova verso da Lei de Thirlwall, que d a taxa de crescimento da renda compatvel com o equilbrio do balano de pagamentos:

, em que (3)

Se o pagamento lquido de juros ao exterior for assumido como constante ( ou insignificante , ento a equao 3 apresenta-se como a Lei de Thirlwall original:

(4)

Apesar de interessante, o debate em torno da Lei de Thirlwall avanou para uma abordagem multissetorial, mas este desconsiderou os potenciais impactos dos fluxos de capitais nessa verso. Assim, considerando o exposto, pretende-se avanar, apresentando a abordagem multissetorial dessa Lei, incluindo os fluxos de capitais setoriais no modelo e suas implicaes.

3) A Lei de Thirlwall Multissetorial com Fluxo de Capitais

Seguindo a tradio da literatura de crescimento do tipo export-led e os modelos de crescimento restringido pelo balano de pagamentos, Arajo e Lima (2007) desenvolvem uma verso multissetorial da Lei de Thirlwall. A principal diferena que essa verso apresenta em relao ao modelo original a de que a condio de equilbrio do balano de pagamentos no se d por preos relativos, e sim por coeficientes de trabalho. A relao setorial expressa em relao ao parceiro comercial .Por esta extenso multissetorial e bilateral torna-se possvel captar o peso relativo de cada setor para o crescimento econmico para cada parceiro comercial.

Alm disso, embora comprovada empiricamente em muitos pases, a Lei de Thirlwall no foi observada, em sua verso original, em algumas economias em desenvolvimento, que apresentaram taxas de crescimento diferentes daquelas previstas pelo modelo. Essa incompatibilidade ocorreu pelo fato desta lei no ter incorporado, inicialmente, os efeitos dos fluxos de capitais. Como vrias economias, principalmente aquelas em desenvolvimento, contam com poupana externa para crescer, este endividamento faz com que as mesmas cresam mais, e mais rapidamente, do que a restrio no balano de pagamentos imposta pela Lei de Thirlwall previa. Desta forma, importante que os fluxos de capitais sejam considerados em um modelo multissetorial, a fim de adequ-lo mais realidade.

Arajo e Teixeira (2004) afirmam que, em um sistema dinmico de economia aberta, a condio de demanda efetiva passa a ser dividida em duas partes: a condio de pleno emprego e a condio de despesa total da renda nacional, que pode ser gasta em produtos importados e, dessa forma, o cumprimento desta no implica na satisfao da condio de pleno emprego. Quando as duas condies so cumpridas simultaneamente, a condio de equilbrio do balano de pagamentos tambm satisfeita.

O modelo parte da condio de pleno emprego:

(5)

Onde representam a demanda interna pelo bem i produzido domesticamente, o coeficiente de demanda externa pelo bem ido parceiro comercial , sendo a quantidade empregada no setor i externo, e a populao dos pases da relao bilateral est relacionada por um coeficiente de proporcionalidade .

A condio do gasto total dada por:

(6)

Em que o coeficiente de demanda interna pelo bem i produzido externamente.

Finalmente, a condio de equilbrio da balana comercial expressa por setor:

(7)

Em que o coeficiente de fluxos de capitais do tipo i.

Em seguida, so apresentadas as funes de exportao e importao. A funo de exportao expressa por:

(8)

Onde: a demanda externa pelo bem i produzido internamente, a elasticidade-preo da demanda por exportaes do bem i (, a elasticidade-renda da demanda por exportaes e a renda do parceiro comercial. Dividindo (8) pela populao empregada do parceiro comercial ,obtm-se o coeficiente de demanda externa per capita do parceiro comercial pelo bem i:

(9)

A funo de importao dada por:

(10)

Onde a elasticidade-preo da demanda por importaes pelo bem i e a elasticidade-renda da demanda por importaes do setor i e a renda domstica. Dividindo (10) pela populao domstica determina-se o coeficiente de importao per capita do bem i:

(11)

O coeficiente de fluxos de financeiros per capita pode ser descrito pela equao abaixo:

(12)

A equao (12) ilustra a comparao feita entre a eficincia marginal do capital em uma determinada firma e a taxa de juros internacional. Keynes (1982) define a eficincia marginal do capital como a relao entre a expectativa de ganhos futuros de um bem de capital e o custo de se produzir uma nova unidade desse bem (custo de reposio, ou preo de oferta). A relao entre a taxa de investimento agregado e a eficincia marginal do capital em geral chamada de curva da demanda por investimento ou curva da eficincia marginal do capital. A taxa de investimento corrente tende a aumentar at que no haja mais bens de capital cuja eficincia marginal seja maior que a taxa de juros corrente, ou seja, o investimento vai variar at aquele ponto da curva de demanda de investimento em que a eficincia marginal do capital em geral igual taxa de juros de mercado. Assim, o investidor externo, comparando a taxa de juros internacional e a eficincia marginal do capital de uma determinada empresa domstica, escolhe entre adquirir um ttulo pblico de renda fixa ou adquirir aes de renda varivel.

equao (9), aplica-se o logaritmo natural e deriva-se no tempo. Em seguida adota-se a seguinte conveno: ,, , , , . Feitos os algebrismos pode-se obter a taxa de crescimento da demanda por exportaes per capita do bem i.

(13)

Tomando-se que , chega-se a:

(14)

Fazendo o mesmo procedimento com a equao (11):

(15)

Adotando-se que , obtem-se:

(16)

Fazendo, novamente, o mesmo procedimento com a equao (12), tem-se:

(17)

Novamente, assumindo, encontra-se:

(18)

Retornando condio de equilbrio da balana comercial e derivando no tempo essa condio:

(19)

Substituindo (14), (16) e (18) em (19):

(20)

(21)

(22)

Considerando-se o endividamento externo constante ou sustentvel, tem-se que . Neste caso, a equao (21) se torna:

(21)

De modo que a equao (22) se torna:

(22)

A equao (22) representa a Lei de Thirlwall Multissetorial. Ela permite captar os efeitos sobre a taxa de crescimento econmico em termos setoriais em uma relao bilateral. Tanto a elasticidade-preo da demanda quanto a elasticidade-renda da demanda tero um valor especfico para cada setor e para cada relao comercial bilateral. Ademais, a equao mostra que a taxa de crescimento da economia domstica funo da taxa de cmbio real efetiva da relao bilateral , da renda do parceiro comercial que diretamente proporcional ao crescimento das exportaes, e dos fluxos de capitais.

4. O Plano Nacional de Exportaes (PNE) do Brasil: 2015-2018

Em 2015, a economia brasileira reacendeu o debate em torno das polticas econmicas voltadas para o crescimento conduzidas pelas exportaes ao anunciar o Plano Nacional de Exportaes (2015-2018)[footnoteRef:5]. O plano visa alcanar o crescimento sustentvel da economia brasileira, atravs de polticas que fomentem a diversificao da pauta exportadora, a agregao de valor e a ampliao da intensidade tecnolgica das exportaes brasileiras. [5: www.desenvolvimento.gov.br]

O Plano se insere em um contexto mais amplo de polticas econmicas, que objetivam alavancar o crescimento com polticas que promovem a mudana estrutural. Para tanto, tem-se enfatizado s iniciativas governamentais de ampliao de investimentos em infraestrutura, focada no modelo de concesses, de melhorias dos ambientes tributrio e regulatrio, de simplificao e desburocratizao do ambiente de negcios para a expanso do comrcio exterior da economia brasileira.

As diretrizes gerais descritas no plano contemplam e valorizam todos os setores econmicos e categorias produtivas, vislumbrando tanto o fortalecimento das exportaes de produtos bsicos como a revitalizao das exportaes de produtos industrializados. Em ambos os casos, busca-se encorajar a agregao de valor e a ampliao da intensidade tecnolgica das exportaes do Pas. Alm disso, o Plano apoia e estimula o setor de servios no comrcio exterior brasileiro.

Evidentemente, o Plano reconhece o papel relevante das importaes no atual cenrio de fragmentao da produo mundial (o que se convencionou chamar de cadeias globais de valor) e da necessidade de acesso a insumos estratgicos para a competitividade da produo e da exportao dos bens e dos servios brasileiros. O diagnstico do plano que o Brasil ainda apresenta um dficit estrutural na balana de servios, que precisa ser corrigido, pois compromete a estratgia de crescimento de longo prazo. Entre essas aes, destaca-se o mapeamento de mercados com potencial de negcios ainda no explorados ou pouco explorados, bem como as eventuais restries que dificultem o acesso dos servios brasileiros a esses mercados mundiais.

A proposta apresentada pela economia brasileira uma resposta aos desafios decorrentes do cenrio atual do comrcio internacional, caracterizado pela acomodao dos preos das commodities em patamares inferiores aos dos ltimos anos; baixa atividade da economia mundial, com retrao ou desacelerao de demanda em destinos tradicionais e emergentes das exportaes brasileiras; e acirramento da concorrncia internacional, em especial, em relao a produtos e servios com maior valor agregado.

Em suma, esses so os princpios gerais norteadores do plano. Assim, atravs de algumas simulaes computacionais, pretende-se analisar no presente trabalho as consequncias de um aprofundamento nas relaes comerciais de um pas ou bloco em detrimento dos demais. O trabalho testar a hiptese ps-keynesiana de que a melhor estratgia aprofundar as relaes comerciais do pas naqueles setores em que possua vantagens comerciais comparativas no sentido de Thirlwall, ou seja, nos setores que apresentam maiores razes das elasticidades, ao invs de aprofundar a relao comercial existente de todos os setores ao mesmo tempo. Todavia, esse trabalho no pretende avaliar os efeitos do esforo do plano nacional de exportaes em: i)trazer setores que ainda no exportam; e ii) inserir os setores exportadores nas cadeias globais de valor (melhorar a camada do processo produtivo nos quais estes se encontram).

5. A Simulao do Modelo: Parmetros, Gerao das Variveis Aleatrias, Choques e Resultados.

Neste tpico sero apresentadas as simulaes computacionais realizadas no software MATLAB R2012b para uma economia com caractersticas estruturais semelhantes brasileira. Nesse modelo de simulao, utilizam-se dados da economia brasileira e toma-se a China, os Estados Unidos e a Zona do EURO como nicos parceiros econmicos. A justificativa para utilizar os trs parceiros que a soma desses representa mais que 50% de todo volume exportado do Brasil na ltima dcada. A base de dados foi extrada dos sites do Ministrio de Desenvolvimento, Indstria e Comrcio, e FMI, respectivamente. Os dados utilizados na econometria para calibrar o modelo correspondem ao perodo de 2000 a 2014.

Pretende-se, por meio da tcnica de simulao, gerar sries econmicas com as mesmas caractersticas das sries observadas e projet-las no futuro. O intuito dessa simulao observar como a mudana na participao dos trs parceiros, assim como nos trs setores, pode gerar diferentes taxas de crescimento para a economia brasileira. As taxas de crescimento simuladas so baseadas no modelo proposto pela equao 22. Os parmetros de calibragem do modelo foram obtidos por MQO. A tabela 1 apresenta os parmetros.

Tabela 1: Parmetros para Calibragem do Modelo (Obtidos por MQO)

Fonte: Elaborao prpria.

5.1) Gerao das Variveis Aleatrias

Primeiramente, foram obtidas a partir das sries temporais de 2000 a 2014 as estatsticas bsicas como mdia e desvio-padro. O horizonte temporal foi escolhido dessa forma por ser um perodo em que o Brasil pde encontrar alguma estabilidade macroeconmica. Alm disso, este momento que coincide com a adoo do regime de metas de inflao para o pas. Apesar de ser uma amostra curta, esta opo prefervel a alternativa, que seria utilizar uma srie temporal maior, em funo dos problemas observados nos dados econmicos. A tabela 2 apresenta a estatstica descritiva das sries.

Tabela 2: Estatstica descritiva das Variveis Aleatrias a partir das Sries Temporais

Fonte: Elaborao prpria.

Com a mdia e desvio-padro, podem-se gerar as sries conforme a equao abaixo:

(23)

Onde o output da srie gerada.

Essa equao23representa o modelo utilizado para gerar as variveis aleatrias, que uma srie estacionria com drift (uma constante que representa a mdia obtida na srie temporal especfica). J o sigma maisculo, , representa o desvio-padro amostral obtido nas sries. um rudo branco, no autorrelacionado com suas defasagens e com distribuio normal. Deste modo, cada choque gerado aleatoriamente e ajustado para o tamanho do desvio-padro amostral da srie obtida.

5.2) Mudanas Estruturais e Mudana na Participao dos Parceiros Comerciais

Inicialmente, foram simulados os aumentos da participao de um parceiro em detrimento dos outros dois. Para isso, manteve-se constante os outros dois parceiros e fez com que o parceiro desejado aumentasse a sua participao da seguinte forma:

(24)

A equao 24 revela que a cada perodo no tempo a participao do parceiro cresce a taxa de 3% tendo desvio-padro de 1%. A equao garante que h um crescimento positivo na srie, para que no seja tratada aleatoriamente como em um passeio aleatrio. O ponto de partida de cada srie a participao percentual, no volume total exportado pelo Brasil, que cada parceiro comercial teve no ano de 2014. Evidentemente, a cada novo instante ser recalculado a soma das participaes dos parceiros, bem como a nova participao relativa de cada parceiro. Dessa forma, foi possvel manter a participao absoluta de um parceiro constante, enquanto a sua participao relativa iria caindo em favor do choque que aumentaria em 3% o parceiro escolhido.

Em um segundo momento, avalia-se o impacto na taxa de crescimento do produto per capita da economia brasileira quando ocorre um aumento da participao dos setores que apresentavam os maiores coeficientes setoriais, ou seja, aqueles que apresentavam maior vantagem em relao ao parceiro era escolhido para o choque na sua participao.

Nos casos da China e EUA, o setor que apresentava melhores resultados era de produtos bsicos, enquanto no caso da Europa, era o de semimanufaturados. Dessa forma, aumentou-se a participao desses trs setores em detrimento dos demais.

5.3) Resultados das Simulaes

Pelas simulaes apresentadas na Figura1, tm-se os resultados observados nos subgrficos, que representamos choques especficos. Inicialmente, apresenta-se o primeiro subgrfico (Choque China) que representa um aumento da participao da China em detrimento dos demais parceiros, no segundo subgrfico (Choque Europa), tem-se um aumento da Europa, no terceiro, um aumento dos EUA (Choque EUA) e, no quarto, um aumento dos melhores setores (Bsicos China, Bsicos, EUA, Semimanufaturados Europa) em detrimento dos demais setores. No eixo das abscissas encontra-se o tempo, no caso 100 perodos e, no eixo das ordenas esquerda, tm-se os valores do produto per capita, enquanto que nas ordenadas direita, apresenta-se a participao percentual do parceiro em relao ao total exportado.

Os resultados apontam que, tanto o aumento da participao da China como da Europa, nos levariam a patamares semelhantes de desenvolvimento no longo prazo. No caso de um aprofundamento nas relaes com o EUA, seria observado um patamar inferior no crescimento e desenvolvimento de longo prazo.

Note que, o melhor resultado no longo prazo em termos de crescimento do produto per capita, foi o choque especfico nos setores estratgicos, que so aqueles setores em que o pas apresenta maior vantagem comparativa em relao aos seus parceiros comerciais.

Assim, pode-se observar nos trs primeiros cenrios que, os choques na participao dos parceiros comerciais aumentaram os produtos per capita da economia brasileira em US$ 2817, US$ 2647 e US$ 1871, respectivamente. No ltimo cenrio, que representa o choque especfico nos setores estratgicos, o produto per capita da economia brasileira aumentou em US$ 11045. Assim, esse resultado sugere que a explorao das vantagens comerciais comparativas pode oferecer ao pas melhores resultados do que o simples aprofundamento nas relaes com um nico parceiro, j que esses choques especficos simulados so capazes de dobrar o produto per capita do pas em 10 anos.

Figura 1: Choques de Participao nos Parceiros e nos Setores

Fonte: Elaborao Prpria

Figura 2: Choques de Participao nos Melhores Setores

Fonte: Elaborao Prpria

As simulaes apresentadas sugerem que o Plano Nacional de Exportaes (2015-2018) deve estimular os setores que apresentem as maiores razes das elasticidades renda das exportaes sobre elasticidades rendas das importaes. Em funo da restrio oramentria importa ao plano, a estratgia tima alcanada pelas simulaes aquela que enfatiza os setores estratgicos, que apresentem vantagens comerciais comparativas no sentido de Thirlwall.

As simulaes realizadas sugerem que a mudana estrutural pode contribuir para a acelerao do crescimento. O trabalho de Hausmann, Pritchett & Rodrik (2005) prope ad-hoc como definio a ser testada para analisar perodos de acelerao do crescimento o seguinte conceito: ocorre quando h uma mudana na taxa de crescimento sustentada por oito anos. Para chegar a essa concluso foi utilizado um modelo que possui tendncia determinstica e assim estimado por MQO para definir implicitamente a taxa de crescimento do PIB per capita:

Onde a variao na taxa de crescimento no tempo t simplemente a variao no crescimento sobre o horizonte n ao longo do perodo:

Note que, a mudanca estrutural proposta pode contribuir para a acelerao do crescimento, que ocorre quando h uma mudana sustentada por, pelo menos, oito anos no crescimento econmico. Segundo Hausmann, Pritchett & Rodrik (2005), para classificar o perodo de acelerao do crescimento, as seguintes condies devem ser atendidas:

i) 3,5% ao ano, a taxa de crescimento estimada do PIB per capita do pas deve ser maior ou igual a 0,287% a.m.;

ii) 2,0% ao ano, o crescimento do PIB per capita deve ainda ser 0,165% a.m. maior do que os oito anos anteriores; e

iii) , ou seja, os autores no intuito de excluir episdios de recuperao econmica, definem que o nvel do PIB no perodo corrente deve ser maior ou igual ao pico mximo do PIB per capita do perodo anterior. A ideia que a acelerao do crescimento sustentvel se for maior do que ou igual a 0,165% a.m., caso contrrio, a acelerao no sustentvel.

Pela Figura 3, constata-se que a mudana na estratgia proposta para o Plano Nacional de Exportaes pode ser eficaz em colocar a economia do pas em uma rota sustentvel de acelerao do crescimento de longo prazo.

Figura 3: Mudana Estrutural e Acelerao do Crescimento de Longo Prazo

Fonte: Elaborao Prpria

Assim, nota-se ainda que a estratgia defendida possa contribuir para a acelerao do crescimento do produto per capita do pas. Nesta proposta, o governo assume um papel central como formulador e coordenador das polticas de insero externa do pas, que beneficiam os setores exportadores estratgicos, aqueles em que possui vantagens comerciais comparativas.

Assim, acredita-se que as simulaes do atual modelo contribuem para o debate, ao apresentar as melhores estratgias de crescimento a partir das anlises realizadas com os dados dos setores exportadores existentes atualmente na economia brasileira. Note que, os estmulos que visam subida de setores na camada produtiva e/ou a insero de setores que hoje no conseguem exportar no foram simulados neste trabalho.

6) Consideraes Finais

Este trabalho tem como objetivo avanar no debate em torno da Lei de Thirlwall Multissetorial, incluindo os fluxos de capitais setoriais e avaliar os impactos na renda per capita da nova estratgia de crescimento da economia brasileira, que visa estimular as exportaes por meio da diversificao dos produtos, da agregao de valor e do aumento da intensidade tecnolgica das exportaes brasileiras.

Observa-se que a Lei de Thirlwall evoluiu para uma abordagem multissetorial, mas desconsiderou os potenciais impactos dos fluxos de capitais. Assim, pretende-se avanar no debate, apresentando uma nova verso dessa Lei, incluindo os fluxos de capitais no modelo, para avaliar os impactos da estratgia de crescimento conduzido pelas exportaes. Para atingir este objetivo, desenvolve-se um modelo multissetorial com fluxos de capitais setoriais e, na sequncia, realizam-se algumas simulaes computacionais considerando os principais setores e parceiros econmicos do pas.

As simulaes computacionais realizadas para uma economia com caractersticas estruturais semelhantes brasileira explicitam que a ampliao da participao do comrcio brasileiro com o resto do mundo importante para elevar o produto per capita, mas no a melhor estratgia para o pas, ou seja, no conduziria a economia brasileira a patamares muito superiores de desenvolvimento no longo prazo. Para tanto, deve-se realizar choques especficos no setor (de aumento na participao do setor) que apresenta maior vantagem comercial comparativa, no sentido de Thirlwall. Esta proposta sugere que a explorao das vantagens comparativas pode oferecer resultados melhores do que os cenrios anteriores, que representam o simples aprofundamento nas relaes com parceiros comerciais especficos, j que capaz de dobrar o produto per capita do pas em 10 anos. Por derradeiro, o que ao fim as simulaes nos mostram que os resultados obtidos com a mudana estrutural em favor dos setores com vantagem comparativa geram a acelerao do crescimento econmico conforme os critrios estabelecidos no modelo de Rodrik et al (2005).

Assim, o intuito geral do trabalho foi contribuir para o debate acerca do tema, incluindo os fluxos de capitais setoriais em modelo multissetorial da Lei de Thirlwall, tornando-o mais completo, e abrir a discusso acadmica para o novo Plano Nacional de Exportaes, expondo algumas evidncias obtidas sobre quais escolhas podem melhor conduzir o crescimento da economia brasileira.

Note que, embora importante, neste trabalho no foi possvel avaliar as seguintes propostas: i) incorporar setores que ainda no exportam; e ii) inserir os setores exportadores nas cadeias globais de valor (melhorar a camada do processo produtivo nos quais estes se encontram).

7. Referncias Bibliogrficas

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Valor Estimado

0,0090730

-0,0166200

-0,0118860

0,1173360

-0,0222730

-0,0116160

0,0136050

0,0415460

0,0260320

-0,0118860

-0,0516380

-0,1111240

Parmetro

Estatstica Descritiva das Sries Temporais

Taxa de Crescimento Cmbio Real China: Mdia de 0,084278 e Desvio padro de 0,201057

Taxa de Crescimento Cmbio Real Europa: Mdia de 0,086714 e Desvio padro de 0,216682

Taxa de Crescimento Cmbio Real China: Mdia de 0,071706 e Desvio padro de 0,202145

Taxa de Crescimento Exportaes Bsicos China: Mdia de 0,218817 e Desvio padro de 0,151576

Taxa de Crescimento Exportaes Bsicos Europa: Mdia de 0,069161 e Desvio padro de 0,170245

Taxa de Crescimento Exportaes Bsicos EUA: Mdia de 0,094626 e Desvio padro de 0,273080

Taxa de Crescimento Exportaes Semi China: Mdia de 0,171408 e Desvio padro de 0,190206

Taxa de Crescimento Exportaes Semi Europa: Mdia de 0,022461 e Desvio padro de 0,288683

Taxa de Crescimento Exportaes Semi EUA: Mdia de 0,056225 e Desvio padro de 0,333198

Taxa de Crescimento Exportaes Manu China: Mdia de 0,073954 e Desvio padro de 0,259094

Taxa de Crescimento Exportaes Manu Europa: Mdia de 0,043714 e Desvio padro de 0,172134

Taxa de Crescimento Exportaes Manu EUA: Mdia de 0,008792 e Desvio padro de 0,220058