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FACULDADE DE EDUCAÇÃO

GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA

PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

PROFA. DRA. CRISTINA LÚCIA MAIA COELHO

Denise Mercanti, Edilson Luiz,Henrique Leimgruber, Leonardo Oliveira e Rafael Valle de Campos.

A Psicodinâmica da prática docente - sofrimento psíquico no trabalho

Universidade Federal FluminenseNITERÓI / RJ– 2018.

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A Psicodinâmica da prática docente- sofrimento psíquico no trabalho

Trabalho apresentado à Faculdade de Educação da

Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial da

avaliação da disciplina Psicologia da Educação.

Prof.ª Dr.ª CRISTINA LÚCIA MAIA COELHO

Universidade Federal Fluminense

NITERÓI / RJ– 2018

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Sumário

RESUMO.............................................................................................................................................5INTRODUÇÃO....................................................................................................................................6CAPÍTULO I........................................................................................................................................7CAPÍTULO II.......................................................................................................................................9CAPÍTULO III...................................................................................................................................11CAPÍTULO IV...................................................................................................................................13CONCLUSÃO....................................................................................................................................15REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................................16

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RESUMO

O trabalho em questão tem por finalidade realizar uma síntese do contínuo adoecimento

docente, buscando causas não só nos locais do trabalho,mas também em toda estrutura sócio

históricana qual os sujeitos se fazem presentes.A necessidade, aqui julgada, que vislumbre esse tipo

de pesquisa, se faz cada dia mais urgente, tendo em vista o aumento de casos de sofrimento

psíquico dos nossos professores. Para isso, serão utilizados os textos de Sandra MariaGasparini,

Sandhi MariaBarreto e Ada ÁvilaAssunção, “O professor, as condições de trabalho e os efeitos

sobre sua saúde”, de Sidney Reinaldo daSilva e Genoveva RibasClaro, “A saúde mental do

professor no contexto de globalização neoliberal”, de Sonia Aparecida GonçalvesPinotti, “Stress no

Professor: Fontes, Sintomas eEstratégias de Controle”, de Edward GoulartJunior e Marilda

Emannuel NovaesLipp,“Estresse entre professoras do ensino fundamental de escolas públicas

estaduais”, de José Manuel Esteve, “O mal-estar docente: a sala de aula e a saúde dos professores” e

de HelgaHinkennickel Reinhold, “O sentido da vida: prevenção do stress e burnout do professor”.

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INTRODUÇÃO

A realidade histórico-social vigente parece cooptar sujeitos atomizados, que, diante de um

turbilhão de problemas, veem o mundo, tal como Atlas recair sobre seus ombros. As relações

humanas,sociais e trabalhistas,outrora levemente sólidas,agoraparecem desmanchar-se no ar.A

humanidade alcançou um nível de problemas psíquicos, jamais vistos desde o início da formulação

da psicologia como campo científico.Nesse sentido,o trabalho docente,imanente a própria realidade

social,também apresenta uma nova formatação e um abrupto adoecimento em seu seio. As razões

pelas quais esses fenômenos ocorrem serão estudadas nos próximos capítulos.De certo, é possível

denotar que, para além das razões,seus efeitos,aqui também esmiuçados, serão temas de nossa

pesquisa.Por fim, a disposição da ordem dos capítulos perpassa toda uma noção construída a partir

de uma esfera macro,com raízes,talvezoriundas da sociologia,para questões micros,ou pessoais,com

raízes na própria psicologia.

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CAPÍTULO I

O Consenso de Washington, em 1989, apresentou uma hegemonia de caráter global, o

neoliberalismo.A Crise do socialismo,as sucessivas quedas do preço do barril de petróleo e o

laboratório econômico chileno1 sopram como ventos favoráveis para o estabelecimento de tal

políticaeconômica.O neoliberalismo,que se caracteriza,principalmente,por:

privatizações,desregulamentação da economia,aumento da produtividade,enfraquecimento das

relações trabalhistas e controle dos gastos públicos.Nesse sentido,essa nova configuração produtiva

do sistema capitalista penetrou nos mais diversos continentes.A mídia,os espadachins mercenários

de nosso tempo e os especuladores financeiros entusiastas de tal modelo,propagaram,perante todo o

mundo,que a liberdade de mercado havia surgido,que o novo superou o velho e que tal como num

lindo conto de fadas toda a humanidade teria encontrado um final feliz.No entanto,o conto de

fadas,nada mais era do que um lobo sobre pele de cordeiros,a explosão da miséria na América

Latina nos governos Collor e Carlos Menem,Brasil e Argentina respectivamente nos anos 90, as

crises econômicas como da Rússia em 1994 demarcaram problemas históricos gerados pelo

neoliberalismo.

Nessa perspectiva, o trabalho docente não escapou do devastador ataque do capital frente

aos direitos trabalhistas e sociais.O aumento no número de doenças, stress e demais transtornos

psicológicos.No entanto,é possível ressaltar que esse triste quadro apresenta conotações

mundiais.Estudos provenientes de países tido desenvolvidos como Hong Kong apresentam dados

que, cerca de 1/3 de seus professores apresentam problemas como síndrome de burnout e

stress.2Diante desse quadro é nítido perceber que a globalização e o neoliberalismo são agentes cada

vez mais corrosivos ao próprio exercícios da função docente.

Além disso,a partir de uma análise, de caráter mais estrutural, as formações de trabalho no

Brasil vem, se apresentando de forma combinada ao resto do mundo. A formação de conglomerados

educacionais nos âmbitos médio e superior, o aumento da competitividade entre os colegas de

trabalho e a valorização da produtividade como mecanismo de qualidade promove a marca das

condições trabalhistas do professor.Diante disso, é possível verificar a partir da seguinte passagem:

O assédio moral pode caracterizar pelos baixos salários, as precárias

condições de trabalho, o autoritarismo, entre outros fatores. A problemática

acerca do bem-estar dos trabalhadores, principalmente os que trabalham com

1 Aqui é válido elucidar que a primeira experiência neoliberal se deu a partir de 1973 na ditadura militar de Pinochet, no Chile. O economista Milton Friedman, estudioso da escola de Chicago, formulou as teses econômicas do país latino americano nessa época.2 Gasparini, Sandra Maria; Barreto, Sandhi Maria; Assunção, Ada Ávila. O professor, as condições de trabalho e os efeitos sobre sua saúde. Educação e pesquisa, São Paulo, v.2, 2005, p.195.

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pessoas, professores, enfermeiros, assistentes sociais, vem tomando, cada

vez mais acentuada, visto que algumas atividades do mundo moderno podem

levar o profissional à perda de autoestima, desprezo por sua profissão, ao

absenteísmo e abandono da profissão.3

A perda da capacidade de se sentir bem em seu ambiente de trabalho e as consequentes

enfermidades psicológicas provam, mais uma vez, que o trabalho, tal como atividade fundamental

do ser humano, apresenta uma ausência de sentido frente às pressões impostas pelo mercado. A

captura do subjetivo, e o seu consequente esfacelamento em milhares de pedaços é um processo

cada vez mais contínuo em nossas sociedades:

Em relação à necessidade à licença devido a motivos de saúde, 94,7% dos

professores não se afastaram. No entanto, 84,2% já pensaram em tirar

licença devido ao desgaste emocional no trabalho. Tem-se que muitos

professores estão sofrendo silenciosamente, e, devido à angustia frente à

instabilidade no emprego, não manifestam o pedido de afastamento.4

Conclui-se,portanto,que a função do trabalho está intimamente ligada às relações produtivas

estabelecidas no modo de produção capitalista.Tambémé possível falar que o subjetivo e o

psicológico apresentam uma relação específica para com o trabalho e com as relações produtivas.

Sendo assim, há uma relação de interdependênciaentre esses âmbitose, que somados são partes

constitutivas, não só da formação humana,como das relações sociais.Uma disfunção dessas tríades

acarreta em problemas embrionários na sociedade.

3 Silva, Sidney Reinaldo da;Claro, Genoveva Ribas.A saúde mental do professor no contexto de globalização neoliberal. Buenos Aires, 2008, p.9.4 Ibidem p.14.

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CAPÍTULO II

Um fator de preocupação do docente pode ser visto na própria dinâmica social

brasileira.Turmas cheias,indisciplina dos estudantes, desestruturação da relação família-

escola,péssimas condições de infraestrutura, etc. Se no capítulo anterior focou-se principalmente em

âmbitos mais gerais tais comorelações produtivas e exemplos mundiais, a realidade docente

brasileiranos serve como um verdadeiro tapa na cara do quão ardiloso se torna o labor do professor

neste país.

Dos já citados, um dos maiores desafios do docente brasileiro é a questão da indisciplina na

sala de aula.Agressões,ameaças,xingamentos e a falta de controle sobre os alunossão alguns dos

muitos problemas enfrentados pelos professores.Aliado a isso, a baixa participação dos pais na vida

escolar tem causado maiores transtornos sobre o trabalho:

O Sindicato de Especialistas de Educação do Magistério Oficial do Estado

de São Paulo (UDEMO) realizou, em 2002, uma pesquisa sobre violência

em 429 escolas públicas do Estado de São Paulo: 88% das escolas

apontavam casos de desacatos ou agressões verbais a professores por parte

dos alunos, pais ou responsáveis; 20% das escolas apontavam também

agressões a professores e funcionários; 35% das escolas reclamavam das

ausências diárias dos professores nas aulas, provocando problemas diversos

nas escolas; 37% apontavam a jornada excessiva de trabalho dos docentes

como causa desmotivadora da profissão, levando ao mau desempenho na

sala de aula, gerando elevados índices de indisciplina; 49% das escolas

declararam que os salários baixos e defasados eram desestimulantes; 42%

informaram que a participação dos pais é razoável, 29% fraca e 2% boa;

50% das escolas acusaram a 212 rotatividade excessiva dos professores,

levando-os a não identificação com a escola e com os alunos.5

Além disso, a estrutura organizativa da escola promove uma deterioraçãoainda maior desse

processo, visto que, as condições infra estruturais da escola como quadros, salas e demais aspectos

físicos encontram-se destruídos. Por sua vez, as distâncias geográficas e a baixa qualidade dos

transportes públicos prejudicam tanto alunos quantos professores para realizarem seus trabalhos

diariamente.Se isso tudo não fosse o suficiente, a dificuldade das relações familiares se faz presente.

Enquanto em famílias mais ricas temos crianças educadasem sua maioria,sob o pilar de um

consumismo desenfreado, nas classes mais populares podemos enxergar um horizonte muito

pior.Tiroteios,tráfico de drogas e prostituição dão à tona do ímpeto da criação dessas crianças. Não

5 Pinotti,Sonia Aparecida Gonçalves. Stress no Professor: Fontes, Sintomas eEstratégias de Controle. Revista unitária, 2005, p.211.

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somente, muitas vezes os pais por terem condições precárias de trabalho,não conseguem ter tempo

para dedicar-se a vida escolar de seu filho.A partir desse problema é possível citar:

Além do desafio de controlar a classe, os professores enfrentam pressões dos

alunos, dos colegas, dos pais, dos administradores. São afetados pelos

sucessos e fracassos de seus alunos e pelas próprias exigências “Em vários

aspectos, o ensino é uma profissão muito solitária, cada professor fechado

em seus problemas do início ao fim da aula” (FONTANA, 1999). Meleiro

(2000) destaca outro problema cada vez mais comum: o professor lida com

alunos cujos pais não impõem limites e delegam toda a educação para a

escola. Ou seja, além de preparar a aula e manter a classe sob controle, não

são raros os casos em que é necessário bancar o pai e a mãe ao mesmo

tempo e, se for criança, ensinar a amarrar o tênis, a assoar o nariz, etc.

Acrescente a tudo isso a jornada de trabalho sem limite de horário, em que

boa parte dos compromissos é levada para casa.6

Por fim,pode-se concluir que, além dos problemas citados no primeiro capítulo, o professor

brasileiro enfrenta questões referentes a própria dinâmica social.Um país com debilidades

econômicas,sociais e históricas, oriundo de um capitalismo do tipo dependente, encontra na educação – pilar

constitutivo de qualquer civilização – um de seus maiores gargalos. Esse desafio coloca em chequeos mais

diferentes agentes sociais tais como Estado e a sociedade civil.

6 Ibidem, p.210.9

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CAPÍTULO III

Partido para uma análise em menor escala, é interessante retomar uma pesquisa realizada por

Marilda Lipp e Edward Junior7, que visava identificar o estresse entre professores da 1º a 4º série do

ensino fundamental de escolas públicas em uma cidade do interior de São Paulo. Foram

entrevistados 175 professores, cerca de 70% dos profissionais do Ensino Básico I no município.

Sendo que, 56,6% apresentaram sintomatologia de estresse e dentre os tópicos encontrados estão

aspectos bioquímicos, físicos e psicológicos. São sintomas do quadro de estresse: sensação de

desgaste físico constante, cansaço constante, tensão muscular, problemas com a memória,

irritabilidade excessiva, cansaço excessivo, angústia/ansiedade diária, pensar constantemente em

um só assunto e irritabilidade sem causa aparente.

Para elucidar ao problema encontrado, Lipp e Junior recorrem ao modelo trifásico da

evolução do estresse, desenvolvido por Hans Selye. O modelo se baseia na fase de alarme, na fase

de resistência e na fase de exaustão. A fase de alarme se dá quando ocorre o encontro com o

estressor, que, se de longa duração ou de grande intensidade, gera uma resposta do organismo,

levando a fase de resistência. Nela, o corpo busca restabelecer o equilíbrio interno, de modo a

reparar o transtorno encontrado. Caso ele não seja solucionado, inicia-se a fase de exaustão, na qual

pode se suceder a manifestação de doenças, como a exaustão psicológica ou física e a depressão.

Para acrescentar, o artigo recorre a fase de quase exaustão, desenvolvida por Lipp, e que seria uma

transição entre a resistência e a exaustão, em que a pessoa não é capaz de resistir, mas ainda não

atingiu a exaustão completa. Estabelece-se, portanto, o modelo quadrifásico.

Entre os indicadores de mal-estar compreendidos no artigo, está o de José Manuel Esteve8,

classificados em primário e secundário. O primário incide na ação do professor, já que, tanto a

comunidade quanto a família superestimam a figura docente, conferindo funções que nem sempre o

professor é capaz de efetuar. O secundário, por sua vez, diz respeito à falta de recursos pedagógicos

na qual o professor está inserido, sejam eles de com relação ao material usado ou à infraestrutura

presente.

Quanto a metodologia da pesquisa, foi utilizado o ISSL (Inventário de Sintomas de Estresse

para adultos de Lipp) e um questionário de coleta de dados gerais de caracterização dos

participantes. O ISSL tem por objetivo identificar a sintomatologia apresentada pelas pessoas,

apontando se há indícios de estresse, o tipo de sintoma existente, se somático ou psicológico, e a

fase do estresse encontrada. O questionário baseou-se em dados sociodemográficos, aspectos de

7 Junior, Edward Goulart; Lipp, Marilda Emannuel Novaes. Estresse entre professoras do ensino fundamental de escolas públicas estaduais. Scielo: psicol. estud., v.13, n.4, Maringá, 2008. 8 Esteve, José Manuel. O mal-estar docente: a sala de aula e a saúde dos professores. Bauru: EDUSC, 1999.

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trabalho, opinião sobre o trabalho desempenhado e suas condições e opinião sobre o estilo de gestão

da escola.

Dos resultados da pesquisa, 80,8% dos 56,6% que se encontram com estresse estão na fase de

resistência. Uma vez que, o organismo recorre a diversas tentativas de se equilibrar novamente,

verifica-se um aumento no uso de energia e, portanto, um desgaste maior. Em conformidade, podem

aparecer as sensações de desgaste generalizado sem causa aparente e dificuldades na memória.

Dessa forma, tendo em vista que, o sucesso da relação ensino-aprendizagem depende do

relacionamento adequado entre professor e aluno, o estresse averiguado pode causar danos na

qualidade da comunicação assertiva e, logo, no que tange o aprendizado escolar. Para o professor,

entre as consequências, vê-se o impacto nas atividades profissionais e na sua qualidade de vida. A

escola, por sua vez, não oferece nenhum tipo de suporte profissional, seja ele um auxílio

psicológico ou médico.

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CAPÍTULO IV

Pretendendo esmiuçar o que o capítulo III trouxe a respeito do stress e da psicodinâmica do

trabalho docente conquanto a sua saúde mental, selecionamos a tese de doutorado de Helga

Reinhold9 para analisar a relação entre o stress e o burnout. Há dois tipos de stress: o distress, que é

o stress destrutivo, e o eustress, o stress positivo, o que remete a ideia de que nem todo tipo de

stress é danoso à saúde. Os sintomas causados por ele podem ser notados em quatro níveis:

cognitivo, emocional, vegetativo e muscular. As reações cognitivas trazem problemas como a falta

de memória e a desordem dos pensamentos e as reações emocionais alguns sentimentos como o

medo e a raiva. Por sua vez, as reações vegetativas podem acarretar boca seca, taquicardia e

ânsia/vômito, enquanto as reações musculares tremores e ranger de dentes.

Contudo, quando esses sintomas adquirem maior intensidade e se tornam prolongados, pode

ser que o professor esteja passando pelo burnout, isto é, um stress ocupacional procedido de

esgotamento físico e mental, numa acentuação da fase de exaustão. Reinhold defende em sua tese

que, não pelo excesso de trabalho se dá o burnout, mas sim por uma lacuna entre esforço e

recompensa. Ou seja,

Burnout constitui “um estado de fadiga ou frustração causado pela devoção a

uma causa, um estilo de vida, ou por um relacionamento que deixou de

produzir a recompensa esperada” (Neubauer et al., 1999)10

Dessa forma, a falta de sentido no trabalho, e talvez, na vida é tida comoa causadora dessa

esgotadura. O professor é mais propenso a desenvolver essa síndrome, uma vez que, seu trabalho é

normalmente mais extenuante, seja pelos seus múltiplos encargos, ou pela estrutura em que está

inserido, tanto na escola quanto na sociedade. Ademais, retomando os capítulos anteriores, o

modelo capitalista impõe dinâmicas mais produtivas e relações competitivas. A responsabilidade

carregada pelo professor é outro fator a se considerar, ainda mais se os pais passam a delegar suas

funções como educador à escola.

Kyriacou (1998), um dos pioneiros em pesquisas sobre stress de professores

na Grã-Bretanha , resumiu em sete áreas os fatores no contexto educacional

que podem desencadear stress e burnout de professores: alunos com atitudes

negativas e falta de motivação em relação ao trabalho escolar, indisciplina

dos alunos, mudanças rápidas nas exigências curriculares e organizacionais,

9 Reinhold, HelgaHinkennickel. O sentido da vida: prevenção do stress e burnout do professor. Campinas: PUC, tese de

Doutorado, 2004. 10 Ibidem, p. 11.

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condições de trabalho negativas, pressões de tempo e excesso de trabalho,

conflito com colegas, desvalorização pela sociedade.11

Levando em consideração os fatores citados acima, pode-se denotar que a lacuna entre esforço e

recompensa está ligada àquilo que o professor produz e não obtêm reconhecimento: o espaço e o público

com quem lida são causa de estresse e sua ocupação nem sempre é reconhecida no contexto social. Desse

modo, seu trabalhado independe de si próprio, mas de uma série de variáveis que por vezes não estão

dispostas adequadamente. O burnout, em vista disso, é gerado pela insatisfação do professor no que concerne

seu exercício, que não se torna gratificante se aqueles que estão a sua volta e o círculo em que está inserido

não sofrerem mudanças estruturais.

11 Ibidem, p. 30.13

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CONCLUSÃO

O trabalho apresentado teve por objetivo investigar o sofrimento psíquico do professor no

ofício e, por conseguinte, minuciar as causas e os impactos do stress ocupacional. Foram

repercutidas desde as questões macro, a partir das relações sociais e do contexto global, até os

aspectos micro, que trouxeram elementos do próprio ser humano e de sua psicologia. Logo, é

imprescindível um projeto de mudança que integre essas duas amplitudes, tendo em vista a relação

intrínseca entre ambas, para melhor sinalizar e solucionar as atribulações existentes. Para além

disso, a complexidade do tema associada a multiplicidade de variáveis exige uma gama maior de

estudos empíricos na área de stress e burnout que se atentem à própria realidade docente brasileira.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Gasparini, Sandra Maria; Barreto, Sandhi Maria; Assunção, Ada Ávila. O professor, as condições de trabalho e os efeitos sobre sua saúde. Educação e pesquisa, São Paulo, v.2, 2005.

Silva, Sidney Reinaldo da; Claro, Genoveva Ribas. A saúde mental do professor no contexto de globalização neoliberal. Buenos Aires, 2008.

Pinotti,Sonia Aparecida Gonçalves. Stress no Professor: Fontes, Sintomas eEstratégias de Controle. Revista unitária, 2005.

Junior, Edward Goulart; Lipp, Marilda Emannuel Novaes. Estresse entre professoras do ensino fundamental de escolas públicas estaduais. Scielo: psicol. estud., v.13, n.4, Maringá, 2008.

Esteve, José Manuel. O mal-estar docente: a sala de aula e a saúde dos professores. Bauru: EDUSC, 1999.

Reinhold, HelgaHinkennickel. O sentido da vida: prevenção do stress e burnout do professor. Campinas: PUC, tese de doutorado, 2004.

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