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00/00 Concurso Público Nacional de Projetos Arquitetura e Paisagismo Parques Central e Sul de Águas Claras - DF 01/06 Fractal 1.mat estrutura geométrica complexa cujas propriedades, em geral, repetem-se em qualquer escala. O projeto ora apresentado possui um claro conceito sobre o qual foi construído – os fractais, as estruturas geométricas que se repetem nas mais variadas escalas. A partir do desenho feito na escala macro, no desenho que transborda uma única quadra e estabelece os fluxos principais interquadras, outras estruturas se desenvolvem, se repetem a medida que o próprio desenho as sugere. Desde as praças de esquinas vizinhas até a grande via pedonal capaz de abrigar pequenas feiras e uma quantidade considerável de pessoas transitando, a estrutura fractal se repete na própria transição de quadras, respeitando a topografia e sempre procurando não ignorar suas variações. Da escala macro – onde é possível sentir o fractal no próprio andar, no próprio caminhar e até mesmo de cima de um dos altos edifícios que rodeiam o parque – surge a escala média dos edifícios geométricos e angulosos até chegarmos à microescala, a escala mais tangível ao toque e apropriação do transeunte, na qual o fractal geométrico da macroescala se dilui na vegetação espacialmente deslocada em relação aos marcos geométricos ou se alinha a eles, como as grandes linhas de palmáceas. A rigidez geométrica dos caminhos principais e conformados por pisos intertravados e cerâmica rígida contrasta com os caminhos menores feitos de terra batida em meio a vegetação, os quais servem como ligação capilar entre as diferentes escalas: escalas de percepção e de apropriação do espaço vivido. As diversas quadras onde os equipamentos serão instalados conformam um sistema. Em cada uma delas existe uma intenção, um conjunto de equipamentos que constituem um programa integrado e interdependente, não apenas na maneira como servem a população, mas também na própria linguagem onde os sistemas estruturais são expostos e a modulação de fachadas e acabamentos pensadas de maneira a se colocar como contraponto e harmonia a vegetação exuberante do entorno. Assim, mesmo num parque capaz de trazer a natureza ao toque de quem ali transita, uma imagem urbana forte e aparente é sangrada através de estruturas metálicas e elementos de concreto diretamente em contato com o exterior. Neste local, a quadra institucional por excelência, o edifício principal é longilíneo e se encontra paralelo ao viveiro, localizado no outro extremo lateral. Sua estrutura se funde a uma passarela coberta ao mesmo tempo em que suas laterais se abrem com texturas transparentes para o interior e para o exterior da quadra. De seu interior é possível observar a linha de palmeiras que margeia o lado externo do edifício em contato com a calçada da rua lateral. Esses Jerivás (Syagrus romanzofianna ), quando vistos em contraste com o edifício, ajudam a diluir ainda mais a sua massa já translúcida e a tornar o projeto de paisagismo externo um elemento latente da própria constituição da construção do edifício. Sua estrutura modular metálica é posicionada de modo que seus diversos acessos se adequem aos fluxos de travessia do entorno, fazendo a transição entre as diferentes cotas de maneira natural, com condições de acessibilidade universal e sem desvios bruscos. Suas amplas escadas constituem não apenas passagens funcionais, mas também pontos de encontro devido a suas dimensões generosas, capazes de transformar este elemento normalmente apenas utilitário em um ambiente de estar ao ar livre. A biblioteca, contida dentro do edifício, possui ampla visão para o parque, bem como abundante iluminação natural. O pequeno deck de madeira, na extremidade oposta à entrada principal, oferece uma vista geral da quadra para quem ali quiser estudar ou passar algum tempo em contemplação da vegetação e do edifício dos viveiros que corre paralelo ao edifício principal. Os viveiros foram concebidos com a intenção primária de facilitar o acesso da população a mudas de diferentes espécies vegetais, principalmente aquelas nativas do cerrado e pouco encontradas em ambiente não-natural, mesmo que muito populares para a coleta de seus frutos e consumo in natura. Servindo também como estação de aprendizado para escolares do ensino fundamental com interesse no desenvolvimento vegetação e em programas de plantio urbano, a estrutura na qual o viveiro se encontra não se mantém padrão ao longo do edifício, prezando pela não monotonia que poderia surgir em uma construção fixa, ao contrário da necessidade de modulação do comércio e dos banheiros. Da mesma maneira que os Jerivás contrastam com o edifício principal, o viveiro possui oito Buritis (Mauritia flexuosa), frondosas palmeiras que possuem uma adocicada frutinha capaz de ser transformada no famoso “vinho de buriti” e atrair diversas espécies de pássaros que a consomem in natura. Logo em frente aos acessos do viveiro, algumas árvores Fruta-Pão (Artocarpus altilis), plantadas em arco, conformam uma mini-praça com suas frondosas copas baixas, diferenciando e separando esse espaço do entorno sem, entretanto, perder a ligação visual e a possibilidade de fluxo. Outras espécies de destaque na quadra por seu potencial escultórico, quando isoladas ou em maciços, são os Filodendros-Xanadu (Philodendron xanadu), Guaimbê (Philodendron bipinnatifidum) e Babosa de Pau (Philodendron martianum). Caminho mais uma vez à sombra destas árvores. Caminho pelo caminho que me levará de volta a minha casa, meu lar. Mas sinto este lugar como a antessala do meu castelo, esquadrinhando ao nível dos meus olhos aquilo que verei depois de minha janela, do quarto lateral, onde ora durmo, ora vejo – agora com os olhos em outro nível – as folhas que antes se agitavam tão mais próximas de minha cabeça. Volto do parque, volto do passeio com minha netinha num fim de tarde particularmente ameno. Quando o sol que se põe bate de um certo jeito... Me lembra da terra onde nasci. Alheia a isso tudo minha querida corre pelo gramado ignorando os caminhos retos e objetivos traçados para conduzir o fluxo diário. Ela abaixa e agarra uma dura fruta verde amarelada. Dizem que de sua farinha se faz um delicioso pão. Não sei. Talvez hoje seja o dia em que testaremos isso. Eu e minha pequena. Mas, por ora,vamos atravessar a rua em direção a movimentada calçada do outro lado. Levo a fruta numa mão e, na outra, com a coluna torta, a mão de minha querida, apertada. Os carros param e caminhamos pela faixa.

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Parques Central e Sul de Águas Claras - DF01/06

Fractal1.mat estrutura geométrica complexa cujas propriedades, em geral, repetem-se em qualquer escala.

O projeto ora apresentado possui um claro conceito sobre o qual foi construído – os fractais, as estruturas geométricas que se repetem nas mais variadas escalas. A partir do desenho feito na escala macro, no desenho que transborda uma única quadra e estabelece os fluxos principais interquadras, outras estruturas se desenvolvem, se repetem a medida que o próprio desenho as sugere. Desde as praças de esquinas vizinhas até a grande via pedonal capaz de abrigar pequenas feiras e uma quantidade considerável de pessoas transitando, a estrutura fractal se repete na própria transição de quadras, respeitando a topografia e sempre procurando não ignorar suas variações.

Da escala macro – onde é possível sentir o fractal no próprio andar, no próprio caminhar e até mesmo de cima de um dos altos edifícios que rodeiam o parque – surge a escala média dos edifícios geométricos e angulosos até chegarmos à microescala, a escala mais tangível ao toque e apropriação do transeunte, na qual o fractal geométrico da macroescala se dilui na vegetação espacialmente deslocada em relação aos marcos geométricos ou se alinha a eles, como as grandes linhas de palmáceas. A rigidez geométrica dos caminhos principais e conformados por pisos intertravados e cerâmica rígida contrasta com os caminhos menores feitos de terra batida em meio a vegetação, os quais servem como ligação capilar entre as diferentes escalas: escalas de percepção e de apropriação do espaço vivido. As diversas quadras onde os equipamentos serão instalados conformam um sistema. Em cada uma delas existe uma intenção, um conjunto de equipamentos que constituem um programa integrado e interdependente, não apenas na maneira como servem a população, mas também na própria linguagem onde os sistemas estruturais são expostos e a modulação de fachadas e acabamentos pensadas de maneira a se colocar como contraponto e harmonia a vegetação exuberante do entorno. Assim, mesmo num parque capaz de trazer a natureza ao toque de quem ali transita, uma imagem urbana forte e aparente é sangrada através de estruturas metálicas e elementos de concreto diretamente em contato com o exterior. Neste local, a quadra institucional por excelência, o edifício principal é longilíneo

e se encontra paralelo ao viveiro, localizado no outro extremo lateral. Sua estrutura se funde a uma passarela coberta ao mesmo tempo em que suas laterais se abrem com texturas transparentes para o interior e para o exterior da quadra. De seu interior é possível observar a linha de palmeiras que margeia o lado externo do edifício em contato com a calçada da rua lateral. Esses Jerivás (Syagrus romanzofianna ), quando vistos em contraste com o edifício, ajudam a diluir ainda mais a sua massa já translúcida e a tornar o projeto de paisagismo externo um elemento latente da própria constituição da construção do edifício. Sua estrutura modular metálica é posicionada de modo que seus diversos acessos se adequem aos fluxos de travessia do entorno, fazendo a transição entre as diferentes cotas de maneira natural, com condições de acessibilidade universal e sem desvios bruscos. Suas amplas escadas constituem não apenas passagens funcionais, mas também pontos de encontro devido a suas dimensões generosas, capazes de transformar este elemento normalmente apenas utilitário em um ambiente de estar ao ar livre. A biblioteca, contida dentro do edifício, possui ampla visão para o parque, bem como abundante iluminação natural. O pequeno deck de madeira, na extremidade oposta à entrada principal, oferece uma vista geral da quadra para quem ali quiser estudar ou passar algum tempo em contemplação da vegetação e do edifício dos viveiros que corre paralelo ao edifício principal. Os viveiros foram concebidos com a intenção primária de facilitar o acesso da população a mudas de diferentes espécies vegetais, principalmente aquelas nativas do

cerrado e pouco encontradas em ambiente não-natural, mesmo que muito populares para a coleta de seus frutos e consumo in natura. Servindo também como estação de aprendizado para escolares do ensino fundamental com interesse no desenvolvimento vegetação e em programas de plantio urbano, a estrutura na qual o viveiro se encontra não se mantém padrão ao longo do edifício, prezando pela não monotonia que poderia surgir em uma construção fixa, ao contrário da necessidade de modulação do comércio e dos banheiros. Da mesma maneira que os Jerivás contrastam com o edifício principal, o viveiro possui oito Buritis (Mauritia flexuosa), frondosas palmeiras que possuem uma adocicada frutinha capaz de ser transformada no famoso “vinho de buriti” e atrair diversas espécies de pássaros que a consomem in natura. Logo em frente aos acessos do viveiro, algumas árvores Fruta-Pão (Artocarpus altilis), plantadas em arco, conformam uma mini-praça com suas frondosas copas baixas, diferenciando e separando esse espaço do entorno sem, entretanto, perder a ligação visual e a possibilidade de fluxo. Outras espécies de destaque na quadra por seu potencial escultórico, quando isoladas ou em maciços, são os Filodendros-Xanadu (Philodendron xanadu), Guaimbê (Philodendron bipinnatifidum) e Babosa de Pau (Philodendron martianum).

Caminho mais uma vez à sombra destas árvores. Caminho pelo caminho que me levará de volta a minha casa, meu lar. Mas sinto este lugar como a antessala do meu castelo, esquadrinhando ao nível dos meus olhos aquilo que verei depois de minha janela, do

quarto lateral, onde ora durmo, ora vejo – agora com os olhos em outro nível – as folhas que antes se agitavam tão mais próximas de minha cabeça. Volto do parque, volto do

passeio com minha netinha num fim de tarde particularmente ameno.

Quando o sol que se põe bate de um certo jeito... Me lembra da terra onde nasci. Alheia a isso tudo minha querida corre pelo gramado ignorando os caminhos retos e objetivos traçados para conduzir o fluxo diário. Ela abaixa e agarra uma

dura fruta verde amarelada. Dizem que de sua farinha se faz um delicioso pão. Não sei. Talvez hoje seja o dia em que testaremos isso. Eu e minha pequena.

Mas, por ora,vamos atravessar a rua em direção a movimentada calçada do outro lado. Levo a fruta numa mão e, na outra, com a coluna torta, a mão de minha querida, apertada. Os carros param e caminhamos pela faixa.

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Parques Central e Sul de Águas Claras - DF02/06

Sobre a escolha das espécies vegetais

Em relação a escolha das espécies vegetais nas diversas quadras onde intervimos projetualmente, podemos dizer que ela foi pontuada por uma hierarquia clara que precedeu a própria conformação do espaço: em maior número deveriam existir espécies nativas do cerrado; em segunda maior quantidade espécies brasileiras em geral, adaptadas ao clima do Planalto Central; e em terceiro, quando necessárias por algum motivo específico, espécimes exóticos. A predominância de vegetação nativa se deu pelo desejo de fazer a população urbana conhecer a flora que existe nas capoeiras e matas próximas, bem como fazer uma ponte ecológica com o cerrado e atrair sua ave-fauna com vegetação própria para isso. O viveiro tem um importante papel nessa reeducação ambiental, mas acreditamos que a arborização urbana, um elemento presente no dia a dia das pessoas que por ali transitam, é capaz de acostumar visual sensitivamente a população aos troncos sinuosos e as pequenas florescências tão típicas do bioma em que o projeto se implanta. A vegetação brasileira, não nativa do cerrado, foi implantada com mais vigor na quadra um, uma quadra que permite maior elasticidade quanto a variação de luz, sombra e meia-sombra formadas pelos edifícios, bem como possui um caráter de estar, de convivência maior. Já a vegetação exótica foi usada muito pontualmente. Com exceção de algumas poucas frutíferas exóticas utilizadas na Quadra Pomar, a Fruta-Pão (Artocarpus altilis), nativa da Oceania, foi usada, na quadra um, com o objetivo de emprestar a forma globosa e densa de sua copa para a conformação de uma pequena praça que serve a entrada do viveiro. A vegetação também foi usada para controlar a insolação, principalmente aquela que surge com mais força no período da tarde. Nas quadras onde existe equipamento esportivo e poderia ocorrer ofuscação de seus usuários, elas foram utilizadas fazendo oposição a insolação leste noroeste. Já as palmeiras foram usadas, na maioria dos casos, como atrativos para a ave-fauna e para conformar linhas, renques de palmeiras capazes de contrastar com edifícios ou com a massa disforme de vegetação pré-existente. Esta última foi também um de nossos mais fortes pressupostos: não removemos nenhuma das árvores cuja existência foi auferida anteriormente ao primeiro risco do projeto ora apresentado, pelo contrário, incorporamos seus maciços e suas qualidades arbórea ao desenho de cada uma das quadras onde existem.

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Acesso ao parque existente

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Detalhe da calçada padrão com biovaleta e rambla

Outro ponto importante a ser ressaltado é que todas as diferentes espécies vegetais utilizadas no projeto estão presentes em listas de disponibilidade de venda em dois viveiros, o Mudas Herculândia e os viveiros controlado pelo Instituto Brasileiro de Florestas, ambos localizados na região, garantindo assim a real possibilidade de serem obtidas sem altos custos ou transporte problemático capaz de danificar as mudas ou mesmo os espécimes mais desenvolvidos. A questão da drenagem foi pensada de modo a não sobrecarregar o sistema já implantado no local. Mesmo com o índice de pluviosidade local sendo baixo durante a maioria do ano, a atenção para com a drenagem foi uma constante no projeto. As biovaletas, presentes na rambla e nos principais eixos viários, captam parte da água da chuva e a devolvem para o solo, sendo uma solução sustentável e eficiente para a questão pluviométrica, principalmente em períodos de maior incidência, como entre os meses de dezembro e fevereiro. No Parque Sul uma pequena bacia de contenção foi criada contígua a uma área em que normalmente a água da chuva costuma se concentrar. Tornada agora um lago artificial, ela é capaz de se expandir como corpo d’água até a pequena bacia de contenção e criar uma paisagem dinâmica, unindo eficiência a criação de um ambiente aprazível para contemplação.

Sobre as fases de implantação

A execução das obras contempladas no projeto se dará em quatro fases distintas, as quais são descritas abaixo:

1° fase: movimentação de terra, adequação à nova topografia proposta e instalações iniciais.

Apesar de a baixa movimentação de terra e a mínima intervenção na topografia encontrada no primeiro momento ter sido priorizada, algumas alterações topográficas foram necessárias para adequar o terreno aos novos usos propostos. Desta maneira, a primeira ação de execução de obras será a adequação do terreno às alterações

colocadas pelo projeto. Nesta mesma fase também serão implantadas a passarela e o edifício principal da quadra institucional. A primeira será implantada por sua capacidade de conectar três diferentes quadras do projeto cruzando a linha de trem urbano, transpondo assim uma importante barreira física para os moradores da área. Já o edifício será implantado por conta da possibilidade de servir como base de operações, gestão e controle para os profissionais que atuarem na construção de todas as fases do projeto ora proposto.

2° fase: instalação de infraestruturaA infraestrutura geral das diversas quadras que compõem o parque, como cabeamento elétrico, postes, iluminação artificial, instalações hidráulicas e demais elementos serão instalados nesta segunda fase, sendo seguidos assim da instalação dos banheiros e dos módulos comerciais. Os edifícios menores, como viveiro e restaurante escola, são aqui instalados também.

3° fase: plantioNesta fase se inicia o plantio. Com a topografia já configurada e as instalações de infraestrutura concluídas é possível iniciar o plantio, uma das fases finais do projeto. O tamanho das mudas e das árvores jovens escolhidas para o projeto são variáveis e serão definidas num próximo momento do projeto. Vale ressaltar também que todas as espécies vegetais foram escolhidas a partir da lista de possibilidades oferecidas por dois viveiros da região, facilitando o manejo, a logística e evitando o encarecimento do preço final.

4° fase: pista de esportes radicais e quadras esportivasCom todos os outros elementos já estruturados, a pista de esportes radicais e as quadras esportivas podem ser instaladas em um ambiente já pronto para o uso, fechando assim o ciclo de execução da obra, a qual pretendemos que nessa fase já esteja apropriada pelos usuários, tendendo apenas a crescer em ocupação a partir desses novos elementos instalados.

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Parques Central e Sul de Águas Claras - DF03/06

Os módulos comerciais foram pensados de maneira a serem flexíveis, não como estruturas rígidas e imutáveis. Desta maneira eles são maleáveis ao crescimento ou recrudescimento da demanda, a qual irá orquestrar seu funcionamento, sua quantidade e até mesmo sua disposição no ambiente. Uma vez dotados de modulação flexível é possível sua montagem e desmontagem ágil em diversas superfícies diferentes, bem como sua diversidade de fachadas é capaz de atender às necessidades do lojista e a adição de módulos geminados abre a possibilidade de diferentes usos. Entretanto, dentro de todas essas possibilidades de modulação, permanecem os dispositivos de captação de água da chuva e os painéis fotovoltaicos, visando a economia dos recursos naturais e a independência energética de cada uma das estações.

Na grande via pedonal que corta esta quadra e conduz o fluxo de transeuntes, abre-se uma grande gama de possibilidades de usos, como a montagem de feitas artesanais e outras atividades envolvendo barracas desmontáveis. Sua largura permite este uso conjugado ao fluxo contínuo de pedestres. Outro elemento que merece destaque são as grandes estruturas metálicas colocadas ao longo de quase todo o caminho. Elas foram idealizadas de modo que sirvam para a colocação de fontes de iluminação pública e cobertura para produção de sombra, principalmente nos dias mais quentes do ano no cerrado do centro-oeste. Esses perfis metálicos seguem um modelo mestre e se posicionam com distância de 4,5m entre cada um, possibilitando trânsito entre eles e suas demais utilizações funcionais sem conflitar com a paisagem vegetal que cruza visualmente o caminho em todos os sentidos.

Programa1 - Edifício Institucional (sala coordenação, cozinha, depósitos, espaço multiúso, sala de segurança, sanitários, biblioteca comunitária) 2 - Viveiro3 - Espelho d’água4 - SAMU5 - Quadra de Tênis6 - Quadra

Poliesportiva7 - Módulos comerciais8 - Teatro de arena9 - Área para feiras livres 10 - Horta11 - Pista de corrida/caminhada12 - Banheiros/Vestiários

O sol já anuncia sua ida e mesmo assim a criançada continua batendo bola do outro lado da rua. Já aqui a larga calçada que alguns insistem em chamar de rambla, ou algo parecido, continua movimentada. O calçadão – como eu insisto em chamar – dificilmente está vazio. Suas pequenas lojas, bares e lanchonetes parecem atrair cada vez mais quem volta do parque ou quem vai para o parque ou quem está simplesmente de passagem para outro lugar. Eu e minha pequena não passamos por ali. Coloco-a no colo, pois a coluna já não é mais a mesma, e vamos pelo caminho logo atrás das lojas. Ele se curva como uma meia-lua, como aquelas que a tal geração coca-cola usava nos anos oitenta. Eu, que sempre preferi o som do anguloso do triângulo, gosto mesmo é de ver, nesse caminho torto como o leito de um rio seco, as palmeiras e as estruturas de ferro que a desenham e impedem que o sol forte nos queime nos dias mais quentes. Assim, deixando para trás o profundo anfiteatro das peças divertidas de sábado de manhã, vejo uma das poucas

árvores que conheço o nome, uma pequena fileira de ipês, as quais se descortinam para mais uma quadra que parece um parque. Não troco esta quadra-parque

por super-quadra alguma na vida.

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Módulo Comercial

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Parques Central e Sul de Águas Claras - DF04/06

Atravessamos a cortina amarela que floresce em nosso quente inverno e de repente estamos num emaranhado organizado de cores e texturas. Minhas mãos de carpinteiro são grossas demais para sentir apropriadamente algumas delas e a visão, começando a se despedir, não permite apreciar a beleza todo dia. Mas minha pequena o faz por mim e ora ou outra volta com uma flor nas mãos ou uma folha particularmente grossa segurada contra o rosto. Talvez essa textura a lembre da minha própria mão fazendo carinho em seu rosto. Gentilmente puxo-a para atravessarmos a ponte que passar por cima da linha de trem. Antes disso arranco a folha de uma goiabeira, amasso-a nos dedos e a cheiro. Me lembra a infância e do estilingue feito por meu avô com uma de suas forquilhas. Talvez minha pequena um dia sinta minha falta como eu sinto a dele.

Nesta quadra o foco prioritário foi a concentração de seis equipamentos de ginástica para idosos, playground para crianças, área para cachorros e um Ponto de Encontro Comunitário, tendo em vista que o entorno da quadra possui forte caráter residencial. Alternando entre grandes áreas verdes permeáveis e outras pavimentadas, foi criada uma dinâmica de caminhos capaz de instigar a utilização dos equipamentos e a vivência no espaço aberto. A arborização desta área parte das árvores já existentes, sem descaracteriza-las, porém sem adicionar de maneira tímida nova vegetação. O contraste entre maciços e clareiras, luz e sombra, é feito a partir da priorização de espécies nativas do cerrado, algumas de grande porte, como o barbatimão (Stryphodendron adstringens), pontuando oportunamente com outras espécies com flores mais vibrantes, contrastando o verde com o colorido da vegetação que possui floração e perda e ganho de folhas em diferentes épocas do ano. Costurando os espaços pavimentados, uma linha de Palmeiras Jerivá conduz o pedestre até o centro da praça onde se encontram o playground e o chafariz de chão, um elemento capaz de divertir crianças e adultos em períodos de calor intenso. Nessa mesma linha de palmeiras foi criada uma sequência de pequenos espelhos d’água que servem tanto para o entretenimento dos usuários quando para a funcionalidade da drenagem da praça. O local que passamos a chamar de Pomar do Cerrado, uma área majoritariamente longilínea que corre ao longo de uma pequena elevação que a separa da linha de trem urbano, tem como grande objetivo mostrar a população urbana diversas espécies presentes apenas no cerrado brasileiro, as quais muitas vezes se encontram de forma espontânea na natureza poucos quilômetros dali, mas que ainda não são de conhecimento geral.

Dividindo definitivamente o pomar e a linha de trem, existe um sutil gradil, ao longo do qual corre uma grande linha de Ipês Brancos do Cerrado (Tabebuia roseoalba). A altura entre sua copa e o chão não exclui a linha de trem urbano da paisagem, não a negando, mas sim proporcionando um local onde possa ser admirada com segurança. Sua sazonalidade, deixando as folhas caírem no inverno e florescendo suas alvas flores em contraste com os galhos marrons faz com que a paisagem seja mutável e não haja uma estagnação visual no horizonte ao longo do ano. Seguindo a flexibilidade já apresentada nas estruturas comerciais, os módulos do banheiro também apresentam a capacidade de adaptação a diferente superfícies e montagem e desmontagem conforme demanda, bem como a adição de um módulo geminado também é capaz de ampliar seu uso, desta vez em um vestiário, muito útil para áreas esportivas. Além das mesmas capacidades de coleta de água da chuva e armazenamento de energia solar, os módulos dos banheiros possuem dimensões completamente adequadas às normas de acessibilidade universal.

Programa12 - Banheiros/Vestiários13 - Esguichos de água/chafariz14 - Playground infantil15 - Espaço de convivência16 - Espaço para animais17 - Pomar18 - Academia ao ar livre19 - Acesso à passarela

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Parques Central e Sul de Águas Claras - DF05/06

De cima da passarela paramos para ver o trem que ali embaixo passa. Não sei exatamente qual o fascínio exercido sobre minha amada, mas ela fica encantada, até mesmo paralisada quando aqueles vagões cheios de gente voltando para casa passam por ali. Continuamos andando e vemos aquela garotada subindo e descendo em seus skates. Tenho medo que um dia ela queira usar um desses. Não creio que vou poder distrai-la com uma simples fruta caso ela caia de uma altura daquelas. Mas minhas mãos grossas sempre estarão ali para apará-la. Descemos então até o nível do solo, deixando para trás a quadra de tênis com pessoas gemendo a cada raquetada e encontrando mais de perto os aventureiros skatistas. Me preocupo só de olhar essa criançada pulando desse jeito. Eu ia muito mais alto nas construções de antigamente, é bem verdade. A catedral do seu Oscar dava dez vezes qualquer altura com skate. Afastando da cabeça a nostalgia dos prédios que levantávamos, dos companheiros perdidos nesses mesmos prédios e da luz desses prédios que até hoje nos ofuscam, começamos a apanhar as frutinhas pretas e doces das jabuticabeiras que ali perto fazem chover deliciosos sabores. Tomo todo o cuidado do mundo para ela não engolir o caroço e depois carrego-a mais uma vez para irmos embora. Nossa casa nos espera.

A passarela metálica é com certeza um dos elementos de destaque do projeto que ora propomos. Sua estrutura, feita em vigas Vierendeel, vence o grande vão formado pela linha de trem urbano que passa logo abaixo. Com seus elementos metálicos modulares ela possui a mesma leveza já vista anteriormente em outros edifícios, permitindo quantidade abundante de iluminação ao mesmo tempo em que conta com proteção lateral e piso antiderrapante perfurado para escoamento de água e consequente prevenção de acidentes. Deve ser levado em consideração também o seu poder de se tornar uma referência visual no parque, devido a cota na qual se encontra, seu formato e sua altura. Na grande quadra com os equipamentos de esportes radicais, um dos elementos que ganha destaque é a passarela, a qual se conecta com outras duas quadras. Na praça que se desenvolve a partir da conexão com a passarela, a topografia se desenrola de maneira a garantir o uso completo do espaço pelos esportistas, quase como um circuito informal de improvisação de suas práticas. Nessas áreas pavimentadas o uso é irrestrito, apesar da preferência dos esportistas e, paralelamente a ela, áreas

verdes se intercalam com áreas impermeáveis, criando também um talude, onde espécies arbóreas de pequeno e médio porte foram priorizadas de modo a não dar peso desnecessário à vista que se tem da posição privilegia desta quadra onde uma grande praça circular centraliza as infraestruturas necessárias na praça e a partir dela se desdobra e dialoga com os outros elementos de seu entorno. Dialogando com a praça de esportes radicais, a quadra em questão concentra grande parte da infraestrutura esportiva do parque: um campo de futebol com medidas society e três quadras poliesportivas. A topografia, redesenhada para estes novos usos, permite o plantio de árvores de porte considerável, as quais ajudam a bloquear parte do sol da tarde, de modo a facilitar a visão de quem utiliza as quadras, as quais são servidas por banheiros e vestiários modulares, como explicado anteriormente. Uma linha de Ipês Brancos do Cerrado, entre a praça e a divisa com a linha do trem urbano, segue o mesmo princípio e conceito aplicado no Pomar do Cerrado anteriormente descrito.

Programa19 - Acesso à passarela20 - Passarela21 - Quadra futebol Society22 - Quadras poliesportivas23 - Arquibancada

24 - Pista de Skate25 - Área de Convivência26 - Pista de Patinação de Velocidade27 - Módulos comerciais28 - Banheiros e Vestiários

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Parques Central e Sul de Águas Claras - DF06/06

Chegando a porta de nosso pequeno apartamento, ainda longe de ser quitado e ainda longe de ser um local confortável para tanta gente sobre o mesmo teto, decido atravessar a rua novamente e leva-la ver o lago do nosso parque particular, do nosso quintal, como eu costumar dizer a ela. Deixo ela correr livre batendo as palminhas das mãos contra as palmeiras alinhadas e pego-a antes de chegar aos degraus de água do centro do caminho. Tanta energia precisa ter as pernas tiradas do chão de encontra-lo forçadamente como antes. A fruta verde amarelada não vai ter o mesmo efeito, tenho certeza. Assim seguro-a firme, como quem segura a própria vida, e nos sentamos no deck de madeira que nos dá uma visão tão bela do chamado Parque Sul. Já estou bem cansado e só faço essas caminhadas por ela. A idade já não permite mais fazê-las a qualquer momento, sendo que meu momento é ela e nada mais. Agora as luzes já se acendem e posso ver o sol terminar de ir embora. Fazemos então um aceno ao astro rei e a nostalgia volta a me pegar de jeito, lembrando de quantas vezes esse mesmo por do sol não iluminou os papos de fim de tarde entre nós, candangos. Agora, ela, minha pequena, descendente de candangos, de europeus, de africanos, do sertão e da mata-atlântica, do cerrado e do campo, começa perder as forças nos meus braços e se sentir sonolenta. Seguro-a firme num dos braços, agarro a fruta que (dizem) virará pão com a outra mão, respiro fundo uma aúltima vez e levo-a de colo para casa, onde a colocarei para dormir logo abaixo da janela lateral do quarto de dormir, da onde guardarei seu sono enquanto olho a massa de árvores farfalhando ao longe. Longe de minhas mãos grossas, ao longe da paisagem, longe do contato, mas perto de nós. Afinal, é nossa antessala. Minha e de meu pequeno poema que agora dorme.

Para a elaboração do chamado Parque Sul, partimos do existente, da vegetação e da topografia existente, com seus corpos d’água, para entender o caráter do espaço. O maciço arbóreo existente, bastante significativo (o mais consolidado entre todas as áreas trabalhadas), guiou o desenho das áreas pavimentadas, resultado em caminhos simples que cruzam o parque e adentram as áreas permeáveis em alguns pontos, conduzindo ao interior de clareiras e outra áreas de estar onde é possível recreação, como encontros e piqueniques. Com a observação minuciosa do ambiente que ali se conformava antes da intervenção projetual, foi possível verificar a presença de acúmulo de água no ponto topográfico mais alto do parque, o qual foi evidenciado, ressaltado após nos utilizarmos dele para a criação de um lago artificial, o qual, em épocas de chuva, ao transbordar, se

esparrama para um segundo lago, que funciona como um jardim de chuva. Ao longo do lago artificial alguns decks, com dimensões padrão de 5m x 5m e altura variada, foram posicionados com vistas a apropriação da população. Outro elemento de água que tem importante papel aqui são os espelhos d’água que acompanham a linha de palmeiras no decorrer da praça. Essas palmeiras, posicionadas em linha reta, contrastam com a flora pré-existente, de caráter mais selvagem, bem como outras espécies arbóreas foram adicionadas. Donas de floração mais vibrante que as pré-existentes, também adicionam um interessante contraste de cores, texturas e organização espacial entre a vegetação controlada pela mão que humana e aquela espontânea.

Programa29 - Módulos comerciais30 - Lago31 - Deck

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end

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