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INTRODUÇÃO ROMANOS Autoria Desde os primórdios da Igreja, a epístola aos Romanos é aceita unanimemente como sendo de autoria do apóstolo Paulo (Rm 1.1,5). Esta carta contém várias referências históricas que coincidem com fatos conhecidos da vida do grande apóstolo de Cristo, e é considerada, por muitos teólogos, a mais importante obra da Bíblia. O seu conteúdo é bem característico ao estilo de Paulo, o que é notório ao compará-lo com outros de suas cartas sagradas. Propósitos Logo depois de cumprimentar os irmãos da Igreja em Roma, destinatários diretos das orientações da missiva, o apóstolo Paulo, com sua típica saudação acompanhada de ação de graças, fazendo uso da autoridade do Antigo Testamento (Hc 2.4), e apresenta o tema central de sua carta: a justificação vem pela fé em Jesus Cristo, o Messias. Assim, mais formal que as demais epístolas de Paulo, a carta aos Romanos apresenta de maneira profunda e sistemática a doutrina da justificação pela fé (e seus desdobramentos). Paulo escreve para uma igreja a qual não havia fundado, nem nunca estivera antes, embora lá tivesse alguns ami- gos chegados. Além disso, a igreja, que era predominantemente gentílica, estava agindo de forma intolerante contra os judeus cristãos que se sentiam constrangidos a obedecer às regras alimentares e datas cerimoniais da tradição religiosa judaica (14.1-6). A base dos argumentos de Paulo é a longânime, infalível e eterna justiça de Deus (1.16-17). A partir dessa constatação, seguem-se várias abordagens doutrinais fundamentais: a revelação natural (1.19-20); a universalidade do pecado (3.9-20); a plenitude da graça divina na justificação de todo ser humano (3.24), mediante o sacrifício expiatório de Jesus (3.25), por meio da fé (cap. 4); a questão do pecado original (5.12-20); a união com Cristo (cap. 6); a eleição e rejeição de Israel (caps. 9-11); o uso dos dons espirituais (12.3-9); e o respeito às autoridades (13.1-7). É importante notar que Paulo escreveu aos Romanos também com a visão de preparar o caminho para sua iminente viagem a Roma e para a missão que ainda pretendia realizar na Espanha (1.10-15; 15.22-29). Data da primeira publicação Foi durante a primavera do ano 57 d.C., que o apóstolo Paulo concluiu seu tratado doutrinário aos Romanos (15.25-27; 16.1,2). Nesta ocasião, ele estava em Corinto, preparando-se para viajar, transportando o dinheiro ofertado por algumas igrejas e vários cristãos aos irmãos empobrecidos e necessitados, membros da Igreja em Jerusalém. É provável que Paulo estivesse mais precisamente em Cencréia, cidade retirada cerca de 9 km de Corinto. Gaio (seu anfitrião) e seus amigos Erasto (tesoureiro da cidade) e Quarto eram naturais de Corinto, e Febe (fiel discípula e cooperadora) vivia e ministrava em Cencréia (16.1,23; 1Co 1.14; 2Tm 4.20). Esboço geral de Romanos 1. Saudação ministerial com ações de graças (1.1-15) 2. Tema central: “Justificação por meio da fé em Cristo, o Messias” (1.16,17) 3. A raça humana é naturalmente ímpia, e precisa de Cristo (1.18 – 3.20) A. Gentios, todos os que não nasceram judeus (1.18-32) B. Judeus, todos os nascidos de famílias judaicas (2.1 – 3.8) C. Conclusão: todas as pessoas da Terra pecaram (3.9-20) 4. Resumo do plano de Deus para a salvação de cada pessoa da Terra (3.21-31) 5. A história da vida de Abraão confirma a justificação (4.1-25) 6. Os grandes resultados da justificação (5.1-21) 7. Justiça outorgada: livres do pecado para a santificação (6.1 – 8.39) A. Livres do domínio do pecado (cap. 6) B. Livres da condenação universal do pecado (cap. 7) C. Livres para viver no poder do Espírito de Cristo (cap. 8) RM_B.indd 2 8/8/2007, 12:32:26

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INTRODUÇÃO

ROMANOS

AutoriaDesde os primórdios da Igreja, a epístola aos Romanos é aceita unanimemente como sendo de

autoria do apóstolo Paulo (Rm 1.1,5). Esta carta contém várias referências históricas que coincidemcom fatos conhecidos da vida do grande apóstolo de Cristo, e é considerada, por muitos teólogos, a mais importante obra da Bíblia. O seu conteúdo é bem característico ao estilo de Paulo, o que é notório ao compará-lo com outros de suas cartas sagradas.

PropósitosLogo depois de cumprimentar os irmãos da Igreja em Roma, destinatários diretos das orientações

da missiva, o apóstolo Paulo, com sua típica saudação acompanhada de ação de graças, fazendo uso da autoridade do Antigo Testamento (Hc 2.4), e apresenta o tema central de sua carta: ajustificação vem pela fé em Jesus Cristo, o Messias.

Assim, mais formal que as demais epístolas de Paulo, a carta aos Romanos apresenta de maneiraprofunda e sistemática a doutrina da justificação pela fé (e seus desdobramentos). Paulo escreve para uma igreja a qual não havia fundado, nem nunca estivera antes, embora lá tivesse alguns ami-gos chegados. Além disso, a igreja, que era predominantemente gentílica, estava agindo de forma intolerante contra os judeus cristãos que se sentiam constrangidos a obedecer às regras alimentarese datas cerimoniais da tradição religiosa judaica (14.1-6).

A base dos argumentos de Paulo é a longânime, infalível e eterna justiça de Deus (1.16-17). A partir dessa constatação, seguem-se várias abordagens doutrinais fundamentais: a revelação natural (1.19-20); a universalidade do pecado (3.9-20); a plenitude da graça divina na justificação de todo ser humano (3.24), mediante o sacrifício expiatório de Jesus (3.25), por meio da fé (cap. 4); a questãodo pecado original (5.12-20); a união com Cristo (cap. 6); a eleição e rejeição de Israel (caps. 9-11);o uso dos dons espirituais (12.3-9); e o respeito às autoridades (13.1-7).

É importante notar que Paulo escreveu aos Romanos também com a visão de preparar o caminho p ( ); p ( )

para sua iminente viagem a Roma e para a missão que ainda pretendia realizar na Espanha (1.10-15;15.22-29).

Data da primeira publicação Foi durante a primavera do ano 57 d.C., que o apóstolo Paulo concluiu seu tratado doutrinário

aos Romanos (15.25-27; 16.1,2). Nesta ocasião, ele estava em Corinto, preparando-se para viajar, transportando o dinheiro ofertado por algumas igrejas e vários cristãos aos irmãos empobrecidos e necessitados, membros da Igreja em Jerusalém. É provável que Paulo estivesse mais precisamente

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em Cencréia, cidade retirada cerca de 9 km de Corinto.Gaio (seu anfitrião) e seus amigos Erasto (tesoureiro da cidade) e Quarto eram naturais de Corinto,

e Febe (fiel discípula e cooperadora) vivia e ministrava em Cencréia (16.1,23; 1Co 1.14; 2Tm 4.20).

Esboço geral de Romanos 1. Saudação ministerial com ações de graças (1.1-15) 2. Tema central: “Justificação por meio da fé em Cristo, o Messias” (1.16,17) 3. A raça humana é naturalmente ímpia, e precisa de Cristo (1.18 – 3.20) A. Gentios, todos os que não nasceram judeus (1.18-32) B. Judeus, todos os nascidos de famílias judaicas (2.1 – 3.8) C. Conclusão: todas as pessoas da Terra pecaram (3.9-20) 4. Resumo do plano de Deus para a salvação de cada pessoa da Terra (3.21-31) 5. A história da vida de Abraão confirma a justificação (4.1-25) 6. Os grandes resultados da justificação (5.1-21) 7. Justiça outorgada: livres do pecado para a santificação (6.1 – 8.39) A. Livres do domínio do pecado (cap. 6) B. Livres da condenação universal do pecado (cap. 7) C. Livres para viver no poder do Espírito de Cristo (cap. 8)

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8. A rejeição de Israel como juízo de Deus (caps. 9-11) A. Deus é soberano e longânimo ao aplicar a justiça (9.1-29) B. Os motivos que levaram à rejeição de Israel (9.30 – 10.21) C. A rejeição é um castigo específico e temporário (cap. 11) 9. Os justificados devem praticar a justiça (12.1 – 15.13) A. Entre si – na Igreja – que é o Corpo de Cristo (cap. 12) B. Para com os de fora – no mundo – testemunhando (cap. 13) C. Convivendo com cristãos maduros e imaturos (14.1 – 15.13) 10. Conclusão desta carta doutrinária (15.14-33) 11. Saudações pessoais do apóstolo Paulo (16.1-16) 12. Exortação final e bênção apostólica (16.17-27)

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Apresentação e saudação de Paulo

1Paulo, servo do Senhor Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado

para o Evangelho de Deus,1

2 o qual Ele havia prometido anterior-mente por meio dos seus profetas nas Escrituras Sagradas,2

3 acerca de seu Filho, que, humanamente, nasceu da descendência de Davi,4 e com poder foi declarado Filho de Deus segundo o Espírito de santidade, pela ressurreição dentre os mortos: Jesus Cristo, nosso Senhor.5 Por intermédio dele e por causa do seuNome, recebemos graça e apostolado para chamar dentre todas as nações um povopara a obediência que deriva da fé.3

6 E vós, igualmente, estais entre os cha-mados para pertencerdes a Jesus Cristo. 7 A todos os que estais em Roma, amados de Deus, convocados para serdes santos: Graça e Paz a vós, da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo!4

Paulo quer ir à Igreja em Roma8 Em primeiro lugar, sou grato a meuDeus, mediante Jesus Cristo por todosvós, porquanto em todo o mundo é pro-clamada a fé que demonstrais.5

9 Deus, a quem sirvo de todo o coração pregando o Evangelho de seu Filho, é minha testemunha de como sempre me recordo de vós10 em minhas orações; e rogo que agora pela vontade de Deus, seja-me aberto o caminho para que, enfi m, eu vos possa visitar. 11 Pois grande é o desejo do meu coração em ver-vos, para compartilhar convosco algum dom espiritual, a fi m de que sejais fortalecidos,12 quero dizer, para que eu e vós sejamos mutuamente encorajados pela fé. 13 E não desejo, irmãos, que desco-nheçais, que por muitas vezes planejeivisitar-vos, contudo, tenho sido impe-dido até esse momento. Meu objetivo é

1 Na antigüidade, toda carta grega seguia uma metodologia padrão de construção. A primeira parte (abertura) deveria identificaro remetente e sua saudação. Paulo se vale desta formalidade para apresentar-se da forma mais clara e ampla possível a uma comu-nidade de irmãos que ama, porém – até aquele momento – ainda não o havia conhecido pessoalmente, mas esperava fazê-lo embreve (At 9.1; Fp 3.4-14). A palavra grega original doulos, derivada do verbo deo (algemar, aprisionar), significa também: “escravo”.Para um grego dessa época, essa era uma expressão de vergonha e rebaixamento, para os judeus, entretanto, desde Moisés, eraa mais expressiva forma de se posicionar em adoração ao Rei dos reis, e um título de honra. Para Paulo, todo cristão é um servo doSenhor Jesus (1Co 7.22; 6.15-23). O termo exprime pertença total e definitiva a Cristo (desde o início Paulo faz questão de usar ovocábulo “Cristo” não apenas como nome próprio, mas especialmente como título do Filho de Deus: o Messias prometido, o Ungi-do). A expressão “apóstolo” tem a ver com o comissionamento dado a Paulo, pessoalmente, por Cristo (Mc 6.30; 1Co 1.1; Hb 3.1).

2 Esta é a primeira vez que a expressão “Escrituras Sagradas” aparece no original grego da Bíblia. Todo o AT profetiza a vinda de Jesus, o Messias; cuja vida e ministério são perfeitamente descritos no Novo Testamento (Lc 24.27-44).

3 Foi devido à desobediência deliberada de Adão, que o homem foi apartado da glória de Deus (Rm 3.23). Entretanto, é pelaobediência voluntária e firmada na fé em Jesus Cristo que ganhamos a reconciliação com Deus. A palavra “fé” neste contexto, nãosignifica “fé em doutrinas”, mas sim fé no Evangelho, ou seja, na pessoa do Cristo (o próprio Evangelho).

4 O sentido mais amplo da expressão original grega, aqui traduzida por “santidade”, é “separado para contínua adoração aDeus”. Neste aspecto, todos os cristãos são “santos”, pois foram sobrenaturalmente “separados” por Deus para servi-lo por meiodo seu serviço espiritual diário e contínuo. A expressão tem igualmente o sentido prático de “um aperfeiçoamento espiritual”que ocorre todos os dias na vida dos crentes pela ministração do Espírito Santo que neles habita (1Co 1.2). A “Graça” é o favor imerecido de Deus; o Senhor nos concedendo a bênção do seu chamado e proteção, ainda que não sejamos dignos. Enquanto“misericórdia” é a paciência longânime do Senhor, que retarda a punição que nossas más intenções, erros e pecados merecem,na esperança de nossa conversão (Jn 4.2; Gl 1.3; Ef 1.2). A “Paz” é a bênção da plena segurança e certeza dos cuidados paternosdo Senhor, mesmo em meio às mais graves tribulações e perdas (Jo 14.27; 20.19; Gl 1.3; Ef 1.2).

5 Paulo, apesar de todo o sofrimento, privações e humilhações pelas quais passou, sempre demonstrava um coraçãoagradecido a Deus. Os cristãos têm toda a liberdade de chegar-se a Deus – como Pai – por meio do sacrifício vicário de Jesus Cristo. Entretanto, não apenas para pedir, mas, sobretudo, para agradecer (Jo 15.16). Paulo costumava iniciar suas cartas comações de graças (1Co 1.4; Ef 1.16; Fp 1.3; Cl 1.3; 1Ts 1.2; 2Ts 1.3; 2Tm 1.3; Fm 4).

ROMANOS

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5 ROMANOS 1

colher algum fruto espiritual entre vós,assim como tenho alcançado entre osgentios.6

14 Eu sou devedor, tanto a gregos quanto a bárbaros, tanto a sábios como a igno-rantes.15 De modo que, em tudo o que de-pender de mim, estou preparado para anunciar o Evangelho também a vós que estais em Roma.

O tema da carta: a justiça pela fé 16 Porquanto não me envergonho do Evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que nele crê; primeiro do judeu, assim como do grego;7

17 visto que a justiça de Deus se revela no Evangelho, uma justiça que do princípio ao fi m é pela fé, como está escrito: “O justo viverá pela fé”.8

A ira de Deus contra os sem fé18 Portanto, a ira de Deus é revelada dos céus contra toda impiedade e injustiça dos homens que suprimem a verdade pela injustiça humana,

19 pois o que de Deus se pode conheceré evidente entre eles, porque o próprioDeus lhes manifestou.9

20 Pois desde a criação do mundo osatributos invisíveis de Deus, seu eternopoder e sua natureza divina, têm sidoobservados claramente, podendo sercompreendidos por intermédio de tudoo que foi criado, de maneira que tais pes-soas são indesculpáveis;10

21 porquanto, mesmo havendo conhe-cido a Deus, não o glorifi caram comoDeus, nem lhe renderam graças; aocontrário, seus pensamentos passarama ser levianos, imprudentes, e o coraçãoinsensato deles tornou-se em trevas. 22 E, proclamando-se a si mesmos comosábios, perderam completamente o bomsenso23 e trocaram a glória do Deus imortal por imagens confeccionadas conforme a semelhança do ser humano mortal, bem como de pássaros, quadrúpedes e répteis. 24 Por esse motivo, Deus entregou tais pessoas à impureza sexual, segundo as von-tades pecaminosas do seu coração, para de-gradação de seus próprios corpos entre si.

6 Os gregos costumavam referir-se a todos os povos não-gregos, ou que não falassem seu idioma, como “bárbaros” (At 28.4).Paulo desejava conhecer a Igreja em Roma (predominantemente gentílica), ver como viviam na fé os novos convertidos, bemcomo compartilhar suas experiências e motivar os mais maduros para a evangelização e o avanço missionário.

7 Jesus Cristo é também chamado de “o poder de Deus”, indicando uma vez mais que o Evangelho é o próprio Cristo oferecido7

e recebido pelos crentes (1Co 1.24).8 A expressão “de fé em fé”, como aparece em algumas versões antigas, tem o sentido de “fundamentar-se na fé e apelar para a

fé”, na qual é enfatizada o aspecto de que a salvação não vem somente por intermédio da fé como também está à disposição de to-dos os que crêem. No original grego, os vocábulos “fé” e “crer” possuem a mesma raiz. “Justo” refere-se à qualidade da pessoa justa,que não deve nada à lei. É um termo forense, ligado aos tribunais, e não diretamente relacionado à moral e à ética (2,13; 3.21-24).

9 Paulo começa a expor um dos principais pontos de seu ensino: a culpabilidade humana fundada na sua sistemática e pertinazrejeição declarada a Deus. Falta amor e fé em Deus e esta postura produz uma espécie de desobediência que não decorre daignorância, mas de um forte desejo de rebeldia contra o Criador e da vontade de se tornar o próprio deus dos seus atos. Aoexpor a doutrina da justiça divina (1.17; 3.21 – 5.21), Paulo arma sua argumentação teológica que demonstra que todos os sereshumanos têm pecados e, portanto, carecem da justiça misericordiosa que somente Deus pode outorgar. Demonstra a culpa e avocação para o pecado, nos gentios (1.18-32) e nos judeus (2.1 – 3.8). Ou seja, todos nós pecamos e precisamos da purificaçãooutorgada por meio do eterno sacrifício expiatório do Filho de Deus (3.9-20).

10 Nenhuma pessoa sobre a face da terra, mesmo que ainda não tenha ouvido falar uma só palavra sobre a Bíblia, em relação aYahweh (o nome de Deus em hebraico) ou quanto a Seu Filho, Jesus Cristo, pode usar como desculpa o fato de não conhecer oessencial de Deus, nosso Criador, e portanto, dever-lhe completa adoração e respeito às suas leis escritas na alma humana. Poistodo o Universo, dos elementos microscópicos às maiores dimensões cósmicas, revelam o poder e a sensibilidade de um Deusúnico, absoluto e perfeito (Sl 19). A “ira de Deus” não se compara às explosões de raiva demonstradas, muitas vezes, pelos sereshumanos em todo mundo. A “ira de Deus” é santa e justa, em repulsa ao menosprezo e rejeição dos seres humanos em relaçãoà natureza e vontade de Deus. Do ponto de vista pragmático, a “ira de Deus” não se limita à condenação dos ímpios no Juízofinal (1Ts 1.10; Ap 19.15; 20.11-15). Deus, observando a decisão humana de se afastar da sua presença e conselhos, entrega ospecadores à sua própria volúpia pecaminosa e à liberdade ansiada. Entretanto, esses se tornam escravos de si mesmos e dosque pensam de igual modo. Deus remove as restrições divinas que protegem a humanidade dos piores sofrimentos decorrentesda libertinagem e das coisas mais horríveis (26,28; At 7.42).

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6ROMANOS 1, 2

25 Porquanto trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram objetos e seres criados, em lugar do Criador, que é bendito para sempre. Amém!26 E, por essa razão, Deus os entregou a paixões vergonhosas. Até suas mulheres trocaram suas relações sexuais naturais por outras, contrárias à natureza.27 De igual modo, os homens tambémabandonaram as relações sexuais naturaiscom suas mulheres e se infl amaram dedesejo sensual uns pelos outros. Deram,então, início a sucessão de atos indecen-tes, homens com homens, e, por isso,receberam em si mesmos o castigo que a sua perversão requereu.11

28 Além do mais, considerando que desprezaram o conhecimento de Deus, Ele mesmo os entregou aos ardis de suas próprias mentes depravadas, que os conduz a praticar tudo o que é re-provável.29 Então, tornaram-se cheios de toda espécie de injustiça, maldade, ganância e depravação. Estão empanturrados de inveja, homicídio, rivalidades, engano e malícia. São bisbilhoteiros,30 caluniadores, inimigos de Deus, inso-lentes, arrogantes e presunçosos; vivem

criando maneiras de praticar o mal; desobedecem a seus pais;31 são insensatos, desleais, sem amor e respeito à família, sem qualquer miseri-córdia para com o próximo.32 E, apesar de conhecerem a justa Lei de Deus, que declara dignos de morte todas as pessoas que praticam tais atos, não somente os continuam fazendo, mas ainda aprovam e defendem aqueles que também assim procedem.12

Deus julga toda a humanidade

2Portanto, és indesculpável, ó homem, sejas quem for, quando julgas, porque

a ti mesmo te condenas em tudo aquilo que julgas no teu semelhante; pois tu, que julgas, praticas exatamente as mes-mas atitudes.2 Mas nós sabemos que o julgamento de Deus é de acordo com a verdade contra os que praticam tais ações.1

3 Deste modo, quando tu, um simples ser humano, os julga e, todavia, praticas os mesmos atos, pensas que de alguma forma escaparás ao juízo de Deus?2

4 Ou, porventura, desprezas a imensa riqueza da bondade, tolerância e paci-ência, não percebendo que é a própria

11 As antigas sociedades gregas e romanas não apenas aceitavam o homossexualismo e a pederastia, mas exaltavam essaspráticas como uma expressão de afeição superior ao amor heterossexual. As práticas homossexuais eram comuns também emtodo mundo semítico; entretanto, para os judeus sempre foi uma abominação (Lv 18.22). A prática homossexual não é umadoença (podendo originar várias: mentais e físicas). É o resultado do pecado do afastamento de Deus (muitas vezes influenciado – como todos os pecados – pelos ardis do Diabo e seus demônios). E isso, ocorre por vários motivos, entre eles, está o fatode tirarmos Deus do seu trono de comando em nossas vidas e entronizarmos o nosso próprio “Eu” com a mais elevada cargade arrogância, egoísmo, mágoas e vaidades. Assim como o alcoólico, fumante, pornógrafo, drogado, mentiroso, fofoqueiro,desonesto, e tantos outros tipos de viciados, a Igreja deve atrair e tratar com carinho especial toda pessoa desejosa de libertar-se de uma vida mundana, vazia e desregrada. “Tudo é possível ao que crê!” (Mc 9.23; Mt 19.26; Lc 18.27).

12 O afastamento de Deus produz um tipo de “disposição mental reprovável”, ou seja, um favorecimento ao surgimento de idéias e pensamentos cada vez mais avessos à vontade de Deus e ao bom senso. Um grande pecado sempre tem início com umasingela idéia ou pensamento que, depois de algum tempo de sórdido agasalhamento, da origem a práticas maléficas, ainda que pareçam prazerosas a princípio. Paulo nos adverte para um tipo ainda mais ímpio de pecador: aquele que aplaude o erro e o malcometido pelo seu semelhante. Hoje em dia, é comum vermos difundidos, especialmente pelos meios de comunicação, elogiosde todo tipo a atitudes claramente contrárias à vontade de Deus reveladas nas Sagradas Escrituras.

Capítulo 21 Paulo apresenta os princípios básicos do julgamento que Deus submete a todo ser humano em todos os tempos: 1) Conforme

a verdade; 2) De acordo com as atitudes; 3) Segundo a compreensão de cada indivíduo sobre o que é certo e o que é errado.Os ensinos de Paulo sobre a crítica fácil concordam com os de Jesus (Mt 7.1). Ambos condenam o julgamento hipócrita, numaclara e direta advertência aos líderes judeus que tendiam a desprezar e julgar inferiores todos os gentios, enquanto suas própriasvidas eram dominadas pela ganância e imoralidades de todo tipo. Negavam assim, na prática, todos os ensinos e revelaçõesda Torá (o AT).

2 É uma referência à maneira como Jesus Cristo falou sobre a Lei. O ser humano não é aceito, aos olhos do Senhor, simples-mente por guardar uma série de doutrinas e rituais religiosos (leis exteriores), mas pela completa renovação do interior (novonascimento – Jo 3), por meio da habitação do Espírito Santo (Mt 5.22,28,48 em concordância com Rm 2.29).

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7 ROMANOS 2

misericórdia de Deus que te conduz ao arrependimento?3

5 Entretanto, por causa da tua teimosia e do teu coração insensível e que não se arrepende, acumulas ira sobre ti no dia da ira de Deus, quando se revelará plena-mente o seu justo julgamento.6 Deus retribuirá a cada um segundo o seu procedimento. 7 Ele concederá vida eterna aos que perseverando em fazer o bem, buscam glória, honra e imortalidade.8 Por outro lado, reservará ira e indigna-ção para todos os que se conservam ego-ístas, que rejeitam a verdade e preferem seguir a injustiça.4

9 Ele trará tribulação e angústia sobre todo ser humano que persiste em pra-ticar o mal, em primeiro lugar para o judeu, e, em seguida, para o grego;10 porém, glória, honra e paz para todo aquele que perseverar na prática do bem; primeiro para o judeu, depois para o grego.11 Porquanto em Deus não existe parcia-lidade alguma.12 Pois todos os que sem a Lei pecaram, sem a Lei também perecerão; e todos os que pecarem sob a Lei, pela Lei serão julgados.5

13 Pois, diante de Deus, não são os que

simplesmente ouvem a Lei consideradosjustos; mas sim, os que obedecem à Lei,estes serão declarados justos.6

14 De fato, quando os gentios que nãotêm Lei, praticam naturalmente o que elaordena, tornam-se lei para si mesmos,muito embora não possuam a Lei;15 pois demonstram claramente que osmandamentos da Lei estão gravados emseu coração. E disso dão testemunho asua própria consciência e seus pensa-mentos, algumas vezes os acusando,em outros momentos lhe servindo pordefesa. 16 Todos esses fatos serão observados nahumanidade, no dia em que Deus julgaros segredos dos homens, por intermédiode Jesus Cristo, de acordo com as decla-rações do meu Evangelho.

O crente deve ser fi el à Palavra 17 Ora, tu que levas o nome de judeu, e te fundamentas na Lei, e te glorias em Deus.7

18 Tu que conheces a vontade de Deuse aprovas as obras excelentes, porque ésinstruído pela Lei.19 Tu que estás certo de que foi chamadopara ser guia de cegos, luz para os queestão na escuridão,20 mestre dos ignorantes, professor de

3 A bondade, graça e misericórdia de Deus têm como objetivo principal o arrependimento do ser humano. Os líderes religiososjudeus há muito tempo vinham interpretando a longaminidade e paciência do Senhor de forma errada, como se Deus – ao longodo tempo – deixasse de promover juízo e condenação sobre os pecadores contumazes (2Pe 3.9).

4 É importante ter sempre em mente que Paulo, em nenhum de seus escritos, jamais defendeu a necessidade de perfeiçãoética, vida monástica ou observância absoluta da Lei. Como fariseu, Paulo sabia muito bem da impossibilidade de um ser humanocumprir toda a Lei. Entretanto, se alguém julga ser capaz de obedecer a Lei ou algum padrão ético-religioso que o conduza aDeus, então o próprio Senhor o julgará mediante esse padrão estabelecido. Paulo está enfatizando que a única maneira de umpecador (como todos os seres humanos o são em menor ou maior grau) encontrar absolvição plena diante do juízo de Deus émorrendo com Cristo e ressuscitando com Ele (o Espírito Santo) para uma nova vida. Paulo refere-se às obras exigidas comoconfirmação da fé verdadeira, não como um meio para conquistar a salvação eterna. Com os privilégios espirituais vêm asresponsabilidades espirituais (Am 3.2; Lc 12.38).

5 Os gentios (todos os não-judeus), são aqueles que “pecam sem a Lei”, pelo fato de a desconhecerem total ou parcialmente.Eles não serão julgados por uma Lei que desconhecem, mas certamente serão condenados por outros critérios, e especialmentepelo código de ética universal gravado por Deus na alma de todo homem (1.18-20; 2.15; Am 1.3 – 2.3).

6 Os que “obedecem à Lei” serão considerados justos. Entretanto, ninguém consegue cumprir toda a Lei (a Torá, Lei deMoisés). O argumento lógico desenvolvido por Paulo demonstra que um homem seria justificado se pudesse praticar a Lei, masporque nenhum ser humano é capaz de guardá-la perfeitamente, então não pode haver justificação por esse meio (Tg 1.22-25).

7 Paulo usa em seu discurso o “diálogo com um interlocutor imaginário” (2.17-24), demonstrando o quanto conhecia seu povo7

e o pensamento teológico dos líderes judeus, a fim de dar mais ênfase às suas constatações. Citou um após outro os grandesorgulhos da religiosidade judaica para afirmar de que nada valiam diante de Deus, pois eram apenas conceitos teóricos e palavraspregadas sem a necessária demonstração da fé na vida prática diária. A expressão grega original diapheronta, aqui traduzida por“excelentes”, tem o sentido de “distinguir, discernir”. Pode significar a capacidade de “avaliar distinções morais” ou “reconhecerqualidades que se sobressaem devido ao seu valor eterno” (Fp 1.10).

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crianças, porquanto têm na Lei a ex-pressão maior do conhecimento e da verdade. 21 Pois então, tu que tanto ensinas a ou-tros, por que não educas a ti mesmo? Tu,que pregas que não se deve furtar, furtas? 22 Tu, que ensinas que não se deve come-ter adultério, adulteras? Tu, que abominasos ídolos, mas lhes roubas os templos?23 Tu, que te orgulhas da Lei, desonra a Deus, desobedecendo à própria Lei?24 Pois, como está escrito: “Por vossa cau-sa, o nome de Deus é blasfemado entre todos os povos!”.25 Porquanto, a circuncisão tem valor se obedecerdes a Lei, mas, se tu não obser-vares a Lei, a tua circuncisão já se tornou em incircuncisão.8

26 Se aqueles que não são circuncidados praticam os preceitos da Lei, não serão eles considerados circuncisos?27 E aquele que é, por natureza incircun-ciso, mas cumpre a Lei, ele condenará a ti, que, mesmo tendo a Lei escrita e a circuncisão, és transgressor da Lei.28 Portanto, não é legítimo judeu quem simplesmente o é exteriormente, nem é verdadeira, circuncisão a que é feita apenas fora do coração, no corpo físico.29 Absolutamente não! Judeu é quem o é interiormente, e circuncisão é realizada na alma do crente, pelo Espírito, e não apenas pela letra da Lei. Para todos estes, o louvor não provém dos homens, mas de Deus!9

Deus é fi el e justo

3Que vantagem pode haver, então, em ser judeu, ou que utilidade existe na

circuncisão?1

2 Muita, em todos os sentidos! Primeira-mente, porque ao judeu foram confi adas as palavras de Deus.3 Sendo assim, que importa se alguns desses judeus foram infi éis? A infi delida-de deles conseguiria anular a fi delidade de Deus? 4 Absolutamente não! Seja Deus verda-deiro, e todo homem mentiroso. Como está escrito: “Para que sejas justifi cado em tuas palavras, e sejas vitorioso quan-do fores julgado”.5 Mas, se a nossa injustiça ressalta de for-ma ainda mais nítida a justiça de Deus, que concluiremos? Acaso Deus é injusto por aplicar a sua ira? Estou apenas refl e-tindo com a lógica humana.6 É evidente que não! Se fosse assim,

g

como Deus julgará o mundo?7 Mas, alguém pode alegar: “Se a minha mentira ressalta a veracidade de Deus, engrandecendo ainda mais sua glória,por que sou condenado como pecador?”8 Ora, por que não dizer como alguns caluniosamente afi rmam que dizemos: “Pratiquemos o mal para que nos sobre-venha o bem?” Por certo, a condenação dos tais é merecida!

O ser humano é infi el e injusto9 Qual a conclusão? Estamos nós em

8 A circuncisão (corte do prepúcio do órgão genital masculino) era um sinal da aliança que Deus estabeleceu com Israel e seupovo (Lv 12.3), e penhor de bênção decorrente dessa aliança (Gn 17.10,11). Contudo, na época de Jesus e Paulo, muitos líderesjudeus já estavam considerando que um judeu circuncidado não podia ser condenado ao inferno. Ou seja, haviam transformado umritual evocativo (um memorial) em uma cerimônia de garantia da salvação eterna e favor divino, independente da atitude de fé diáriae seriedade com Deus, implícitas no próprio simbolismo do ato. A posição do NT se baseia em textos como Jr 9.25 e Dt 10.16.

9 A expressão original “Judeu” vem do hebraico antigo e deriva da palavra “Judá”, que significa “louvado” ou “objeto de elogio, que só tem valor quando vem de Deus”. Paulo faz aqui uma solene advertência (não somente aos judeus) contra os perigos daarrogância, presunção, confiança na justiça própria, e contra todo tipo de formalismo que confia em memoriais e rituais (como a Ceia e o batismo), que tem garantia em si mesmos da salvação eterna e das bênçãos de Deus àqueles que o recebem. O verda-deiro sinal de pertencer a Deus não é uma marca externa no corpo físico ou uma cerimônia especial de iniciação, mas o poderregenerador do Espírito Santo vindo habitar a alma do cristão sincero. Paulo denomina como “circuncisão operada no coração” oato de arrependimento do pecador e a entrega incondicional de sua vida a Jesus para um novo nascimento (Dt 30.6).

Capítulo 31 Paulo considera algumas das grandes realidades divinas: 1) Os oráculos de Deus são privilégios valiosíssimos entregues à hu-

manidade. No entanto, a vantagem de possuir a Palavra de Deus (como no caso dos judeus e dos cristãos) implica necessariamenteem responsabilidades e obrigações. 2) Deus é fiel. 3) Deus é justo. 4) Deus julgará e castigará todos os injustificados e pecadores,provando sua fidelidade e caráter justo (2Tm 2.13). 5) Deus é verdadeiro. Ele é a Verdade. 6) A glória de Deus.

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posição de vantagem? Não! Já demons-tramos que tanto judeus quanto gentios estão todos subjugados pelo pecado.10 Como está escrito: “Não há nenhum justo, nem ao menos um; 11 não há uma só pessoa que entenda, ninguém que de fato busque a Deus.2

12 Todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguémque pratique o bem, não existe uma só pessoa.13 Suas gargantas são como um túmulo aberto; usam suas línguas para ludibriar, enquanto, debaixo dos seus lábios está o veneno da serpente.14 Suas bocas estão cheias de maldição e amargura.15 Seus pés são rápidos para derramar sangue;16 Os seus passos são marcados por des-truição e miséria;17 e não conhecem o caminho da paz.18 Consideram que é inútil temer a Deus”.19 Ora, sabemos que tudo o que a Lei diz, o diz aos que estão sob o domínio da Lei, para que toda a boca se cale e todo mun-do fi que sujeito ao juízo de Deus.3

20 Portanto, ninguém será declarado jus-to diante dele confi ando na obediência àLei, pois é precisamente por meio da Leique chegamos à irrefutável conclusão deque somos todos pecadores.4

Justifi cados pela fé em Jesus21 Entretanto, nesses últimos tempos, semanifestou uma justiça proveniente deDeus, independente da Lei, mas da qualtestemunham a Lei e os Profetas;22 isto é, a justiça de Deus, por intermé-dio da fé em Jesus Cristo para todas aspessoas que crêem. Porquanto não hádistinção.5

23 Porque todos pecaram e destituídosestão da glória de Deus,6

24 sendo justifi cados gratuitamente porsua graça, mediante a redenção que háem Cristo Jesus.7

25 Deus o ofereceu como sacrifício parapropiciação por meio da fé, pelo seusangue, proclamando a evidência da suajustiça. Por sua misericórdia, havia dei-xado impunes os pecados anteriormentecometidos; 26 mas, no presente, demonstrou a suajustiça, a fi m de ser justo e justifi cador

2 Paulo apresenta uma seqüência de citações do AT com o objetivo de confirmar sua teologia quanto à universalidade dopecado (vv.9-12). Tanto judeus quanto gentios estão debaixo do poder e da condenação do pecado. As citações não são literais,pois a preocupação de Paulo (bem como de outros autores do NT) tinha um sentido geral e didático, não literal. Além disso, osgregos não usavam aspas para identificar as citações, na maioria das vezes extraídas da Septuaginta (a tradução grega do AT,originalmente escrito em hebraico). Em alguns casos, inspirados pelo Espírito Santo, os autores canônicos do NT fizeram uso dascitações do AT, adaptando e aplicando-as de várias formas ao contexto que estavam abordando.

3 A Lei aqui tem a ver com os Salmos, Profetas e Provérbios. É uma referência clara quanto à igual autoridade de todo o AT.Assim como em Jo 10.34; 15.25; 1Co 14.21.

4 A finalidade principal dessa passagem não é apenas demonstrar a culpabilidade dos judeus e de todos os demais povossobre a face da terra (os gentios), como também demonstrar que nenhum sistema religioso, nenhuma crença primitiva e restritaou altamente aculturada, é capaz de salvar o ser humano da condenação ao afastamento eterno da presença de Deus.

5 Bendito “entretanto”! Havendo revelado que todos os seres humanos (tanto judeus como gentios) são naturalmente ímpios(tendem espontaneamente à pratica do mal – 1.18 – 3.20), Paulo apresenta a “boa notícia” de que Deus – presente – estáoferecendo gratuitamente um (e único) meio de justificação para cada indivíduo da raça humana que, de forma voluntária, pessoale sincera, nele crer de todo o seu coração: Jesus Cristo, o Filho de Deus, o Messias prometido.

6 Ao pecar (palavra que em hebraico tem o sentido de “errar o alvo”), o ser humano se encontra em falta perante o ideal parao qual Deus o criou (Is 43.7). A glória que o homem possuía e desfrutava antes da Queda (Gn 1.26-28; Sl 8.5,6; Ef 4.24; Cl 3.10),o cristão sincero voltará a ter por intermédio de Jesus Cristo (Hb 2.5-9).

7 Paulo emprega o verbo “justificar” em 22 citações (especialmente de 2.13 a 5.1, e em Gl 2 e 3). Esse termo é fundamental7

na teologia paulina: 1) Negativamente, quando Deus declara o crente “não-culpado”; 2) Positivamente, quando Deus declarao crente “justo”, cancelando a sua culpa do pecado e creditando-lhe justiça. A palavra “redenção” (no original em gregoapolutrõsis) era usada comumente, na época, no sentido de “comprar um escravo para dar-lhe a carta de plena liberdade”. Umparalelo significativo se observa na redenção de Israel da escravidão no Egito (Êx 15.13), do exílio na Babilônia (Is 41.14; 43.1),e em relação ao livramento eterno do crente da escravidão do pecado, porquanto Cristo, por meio de sua morte e ressurreição,pagou o resgate exigido para nossa libertação.

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daquele que deposita toda a sua fé em Jesus.8

27 Onde está, pois, a razão para tanto or-gulho? Foi completamente excluído! Por qual lei? Das obras? Não, ao contrário, pela lei da fé.28 Concluímos, portanto, que o ser hu-mano é justifi cado pela fé, independen-temente da obediência à Lei!9

29 Deus é Deus apenas dos judeus? Ora, não é Ele igualmente Deus de todos os povos? Evidente que sim, dos gentios também,30 visto que há um só Deus, que pela fé justifi cará os circuncisos e os incircun-cisos.31 Anulamos, pois, a Lei por causa da fé? De modo algum! Ao contrário, confi r-mamos a Lei.10

Abraão creu e foi justifi cado

4Portanto, que diremos sobre nosso pai humano Abraão?1

2 Se de fato Abraão foi justifi cado pelas obras, ele tem do que se orgulhar, mas não diante de Deus.

3 Entretanto, o que diz a Escritura? “Abraão creu em Deus, e isso lhe foi cre-ditado como justiça”.4 Ora, o salário daquele que trabalha não é considerado como favor, mas como dívida.5 Todavia, ao que não trabalha, mas crê em Deus, que justifi ca o ímpio, sua fé lhe é creditada como justiça. 6 Assim, também, Davi fala da bem-aven-turança do homem a quem Deus leva em conta a justiça independente de obras:7 “Como são felizes as pessoas que têm suas transgressões perdoadas, cujos pe-cados são cancelados!8 Bem-aventurado aquele a quem o Senhor jamais cobrará o preço do pecado!”2

9 Essa imensa felicidade é destinada ape-nas aos que fi zeram a circuncisão, ou é também oferecida aos incircuncisos? Pois já afi rmamos que, no caso de Abraão, a fé lhe foi creditada como justiça. 10 Em que momento lhe foi creditada? Antes ou depois de ter sido circuncida-do? De fato, não o foi depois, mas antes da circuncisão!3

8 A expressão “propiciação” vem do antigo hebraico, que traduzido para o termo grego na Septuaginta hilasterion, significa o lugarespecífico onde os pecados deviam ser expiados ou pagos (removidos), e que em grego era chamado de kapporeth (propiciatório).Através do sacrifício redentor de Jesus, o Filho; Deus, o Pai, remove o pecado do seu povo, não virtualmente ou simbolicamentecomo se dava nos rituais do passado (Lv 16), mas agora, em plena realidade físico-espiritual, eliminando definitivamente toda aculpabilidade humana perante Deus – o Supremo Juiz – e limpando completamente a consciência de cada indivíduo que aceita osacrifício do Senhor como salvação para sua vida e, a partir dessa constatação, nasce de novo (Jo 3; 1Jo 2.2).

9 Quando Lutero estava traduzindo a Bíblia para a língua alemã, ao escrever esse versículo, fez questão de acrescentar aexpressão restritiva “somente pela fé”. Ainda que o vocábulo “somente” não esteja nos originais gregos, reflete com exatidão osentido geral da passagem (Tg 2.14-26).

10 Paulo faz uma bela e profunda analogia entre a importância e a exatidão da Lei; reconhecendo o primeiro artigo da Lei judaica, amado e defendido radicalmente por todos os judeus ao longo dos séculos: “O Senhor é um só Deus” (Dt 6.4), e aexaltação de Cristo – o Unigênito Filho de Deus – como único meio de Salvação para judeus e todos os gentios sobre a face daterra. Paulo percebe que será acusado de antinomismo (pregar ou agir contra a Lei). Contudo, apesar de mostrar que a Lei éimpotente para salvar, e que esse poder opera somente em Jesus Cristo (capítulos 6 e 7), voltará a confirmar a validade da Lei na passagem do capítulo 13.18-10.

Capítulo 41 Alguns traduções trazem a expressão “antepassado” quando se referem à ascendência paterna. Entretanto a KJ, neste

caso, preservou a forma clássica “pai”. Paulo, sabiamente, exalta a memória do grande patriarca da nação israelita e verdadeiroexemplo de pessoa justificada (Tg 2.21-23) em sua carta aos judeus em Roma. Era comum, na época de Jesus, os mestres judeuscitarem a vida de Abraão como exemplo de conquista do favor divino pelas obras. Entretanto, Paulo revela exatamente no pai dosjudeus seu melhor exemplo de justificação pela fé (Gl 3.6-9).

2 Deus continua considerando e se entristecendo com os pecados cometidos pelo pecador arrependido (convertido). Contudo,o Espírito de Deus move esse pecador a reconhecer os erros praticados e confessar seus pecados ao Senhor, que o perdoa e lherestitui a alegria espiritual do salvo (Sl 32.1-5; Ez 18.23,27,28,32; 33.14-16).

3 Abraão foi declarado justo cerca de quatorze anos antes de ser circuncidado (Gn 15; 17; Gl 3.17). Dessa forma, Abraão étambém o pai (antepassado) de todos os crentes gentios (aqueles que não passaram pela circuncisão), porquanto Abraão creu efoi plenamente justificado antes mesmo que o ritual da circuncisão (o sinal dos judeus) fosse instituído.

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11 Sendo assim, ele recebeu a marca da circuncisão, como um selo da justiça que ele tinha pela fé, quando ainda não era circuncidado, para que fosse pai de todos os que crêem, ainda que não tenham sido circuncidados, a fi m de que a justiça fos-se creditada também a favor deles;12 ele é igualmente pai dos circuncisos que não apenas passaram pela circun-cisão, mas que também caminhamsobre as marcas dos passos da fé que demonstrou nosso pai Abraão antes de ser circuncidado.13 Porquanto, não foi pela Lei queAbraão, ou sua descendência, recebeu apromessa de que ele havia de ser o her-deiro do mundo; ao contrário, foi pelajustiça da fé.4

14 Pois se os que vivem pela Lei são her-deiros, a fé não tem valor e a promessaé nula. 15 Porque a Lei produz a ira; mas ondenão há Lei também não pode havertransgressão.16 Por esse motivo, a promessa procede da fé, para que seja de acordo com a gra-ça, a fi m de que a promessa seja garanti-da a toda a descendência de Abraão, não somente a que é da Lei, mas igualmente a que é da fé que Abraão teve. Ele, portan-to, é o pai de todos nós!17 Como está escrito: “Eu o constituí pai de muitas nações”. Ele é o nosso pai

aos olhos de Deus, em quem Abraãodepositou sua fé, o Deus que dá vida aosmortos e convoca à existência elementosinexistentes, como se existissem. 18 Abraão, crendo, esperou contra todosos prognósticos desfavoráveis, tornando-se, assim, pai de muitas nações, comofi cou registrado a seu respeito: “Assimserá a sua descendência”.19 Sem desfalecer na fé, reconheceu que seu corpo físico perdera a vitalidade de outrora, pois já contava cerca de cem anos de idade, e que também o ventre de Sara não tinha o vigor do passado.520 Mesmo considerando tudo isso, nãoduvidou nem foi incrédulo quanto aoque Deus lhe prometera; mas, pela fé, sefortaleceu, oferecendo glória a Deus,6

21 estando absolutamente convicto deque Ele era poderoso para realizar o quehavia prometido. 22 Por essa razão, “isso lhe foi atribuídocomo justiça”.23 Todavia, não é somente para ele queas palavras “isso lhe foi atribuído comojustiça” foram registradas,24 mas igualmente para todos nós, aquem Deus concederá justifi cação, a nósque cremos naquele que ressuscitou dosmortos, a Jesus, nosso Senhor. 25 Ele foi entregue à morte para pagartodos os nossos pecados e ressuscitadopara nossa completa justifi cação.7

4 Abraão é o pai de todos os crentes fiéis (judeus ou gentios – Gn 12.3). O domínio completo do mundo pertence à descendên-cia espiritual de Abraão (1Co 3.21, 6.2). Porém, a plena realização dessas promessas aguarda a consumação do Reino messiâni-co com o glorioso retorno de Jesus Cristo (Gn 12.7; 13.14,15; 15.7, 18.21; 17.8; Sl 37.9, 11, 22, 29, 34; Mt 5.5).

5 Abraão passou por momentos de preocupação e ansiedade (Gn 17.17,18), no entanto, o Senhor não viu nessas manifesta-ções nada que pudesse comprometer a sinceridade da fé de Abraão. A fé madura e firme não se recusa a reconhecer a realidadedas dificuldades, mas as enfrenta com a segurança de quem tem plena certeza de que o Senhor dos exércitos, que está à suafrente, é também seu Pai amoroso. Sara era dez anos mais nova que Abraão, todavia há muito passara da idade de gerar filhos.Paulo afirma que Deus é capaz de criar do nada (como fez com o próprio Universo) e dar vida aos mortos, uma alusão ao nasci-mento de Isaque, quando Abraão e Sara há muitos anos estavam estéreis (Gn 18.11). Paulo segue em seu raciocínio até comparara ressurreição de Cristo à promessa da nossa ressurreição, pois Ele é o doador da vida e da eternidade (v.24,25).

6 As obras são a tentativa desesperada da humanidade para conquistar algum direito de reivindicar o favor de Deus. Abraãodemonstrou que a fé é a simples e sincera disposição do coração do crente em dar glória a Deus: Primeiro, pelo que já recebeu.Segundo, pela resposta amorosa que virá do seu Pai. Um pai sábio e amoroso não dá tudo o que seu filho pede, mas procuraproporcionar-lhe sempre o melhor.

7 A expressão grega 7 paradidõmi, “entregar”, aparece duas vezes na Septuaginta e tem a ver com as passagens de Is 53.6 e12. Cristo foi entregue para ser sacrificado, e, assim, expiar definitivamente os pecados de todos os que nele crêem. Da mesmamaneira, ressuscitou para garantir a plena justificação do seu povo que herdará as promessas do Seu Reino. Essas palavras dePaulo se tornaram uma espécie de credo confessional da igreja cristã primitiva.

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1 Paulo fala de um novo status diante de Deus, não apenas de um sentimento de tranqüilidade e leveza de alma. Antes des

aceitarmos o sacrifício vicário de Jesus como a nossa única e completa justificação perante a Lei divina, estávamos condenadosa viver como inimigos de Deus, separados de sua paternidade. Agora, porém, fomos elevados à posição de “amigos de Deus” e seus filhos (v.10; Ef 2.16; Cl 1.21,22; Hb 12.6-8 de acordo com Mt 5.10-12 e Sl 43.4).

2 Foi Jesus quem nos elevou à presença do Pai, ao rasgar a robusta e resistente cortina da Lei (que ficava no templo) e quefazia separação entre o homem e Deus (Mt 27.51). O cristão recebe em seu coração, pelo Espírito Santo, a “esperança revestidade certeza absoluta”, de que o propósito para qual o Senhor o criou será perfeitamente realizado (3.23).

3 A confiança (esperança com certeza) em Deus não confunde e jamais nos decepcionará, como é comum ocorrer na confiançaque colocamos em nossos semelhantes. Paulo faz uma citação que está na Septuaginta (Is 28.16) e a repete em Rm 9.33 e 10.11.A expressão no original tem o sentido de não se envergonhar pela frustração, pois o Senhor jamais faltará com Sua Palavra e cumprirá todas as Suas promessas (Rm 4.20,21).

4 O cristão sincero está livre da condenação final e do Dia da Ira do Senhor sobre os incrédulos e ímpios (1Ts 1.10 e 5.9).Quando Cristo morreu sacrificialmente, a nossa dívida de pecado contra Deus e a Lei foi totalmente liquidada. Quando aceitamosa Cristo, pela fé, nos apropriamos da Salvação. Por isso, no futuro, receberemos todo o complemento da indescritível e infalívelGraça de Deus. Estes são os três aspectos da nossa redenção.

5 É importante notar que o homem escolheu ser inimigo de Deus ao desobedecer sua ordem explícita (Gn 3). Entretanto,Ele nunca se considerou inimigo do homem. Ao contrário, durante toda a história da humanidade, Deus vem disponibilizandoformas de o ser humano reconhecer seus erros e voltar-se ao Pai (a Lei, os Profetas e, por fim, Jesus, o próprio Deus encarnado.Veja o v.11 e Cl 1.21,22). Somos salvos perpetuamente (de uma vez por todas) porquanto Cristo vive eternamente (Hb 7.25). Aexpressão “reconciliados” vem do termo grego original katallassein que significa “mudar radicalmente” ou “trocar a essência”.Assim, nossa relação com Deus “mudou” por meio da morte vicária do Seu Filho Jesus, e passamos da posição de inimigos parafilhos amados (2Co 5.18-20).

6 Adão representa a tendência do ser humano para o pecado, a indiferença do homem em relação ao amor do Criador ea condenação de toda a raça humana à eterna separação de Deus (1.18 – 3.20). Jesus Cristo representa a plena e eternajustifica-ção do crente (3.21 – 5.11). Portanto, a nova raça unida a Cristo (os nascidos de novo, conforme Jo 3) tem um novoe esplêndido princípio de vida (natureza de Deus) habitando e trabalhando diariamente em sua alma: o Espírito Santo. Issosignifica que há uma relação inseparável entre justificação e santificação (desenvolvimento de um caráter mais parecido como de Jesus Cristo – capítulos 6 a 8).

ROMANOS 5

O justifi cado tem Paz com Deus

5Portanto, havendo sido justifi cados pela fé, temos paz com Deus, por

meio do nosso Senhor Jesus Cristo,1

2 por intermédio de quem obtivemos pleno acesso pela fé a esta graça na qual agora estamos fi rmados, e nos gloriamos na confi ança plena da glória de Deus.2

3 Mas não somente isso, como também nos gloriamos nas tribulações, porque aprendemos que a tribulação produz perseverança; 4 a perseverança produz um caráter aprovado; e o caráter aprovado produz confi ança.5 E a confi ança não nos decepciona, por-que Deus derramou seu amor em nossoscorações, por meio do Espírito Santo que Ele mesmo nos outorgou.3

6 Em verdade, no devido tempo, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu por todos os ímpios.7 Sabemos que é muito difícil que alguém se disponha a morrer por um justo; embora por uma pessoa que se dedique ao bem, talvez, alguém tenha a coragem de dispor sua vida.

8 Porém, Deus comprova seu amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido em nosso benefício quando ainda andá-vamos no pecado.9 Agora, como fomos justifi cados por seu sangue, muito mais ainda, por intermé-dio dele, seremos salvos da ira de Deus!4

10 Ora, se quando éramos inimigos de Deus fomos reconciliados com Ele me-diante a morte de seu Filho, quanto mais no presente, havendo sido feitos amigos de Deus, seremos salvos por sua vida.5

11 E, ainda mais, se nos gloriamos também em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio de quem recebemos, agora, completa reconciliação.

Morte em Adão, Vida em Cristo12 Concluindo, da mesma forma como o pecado ingressou no mundo por meio de um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte foi legada a todos os seres humanos, porquanto todos pecaram.613 Porque antes de ser promulgada a Lei, o pecado já estava no mundo; todavia, o pecado não é levado em conta quando não existe a lei.

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14 No entanto, a morte reinou desde a época de Adão até os dias de Moisés, mesmo sobre aqueles que não comete-ram pecado semelhante à desobediênciade Adão, o qual era uma prefi guração daquele que haveria de vir. 15 Contudo, não há comparação entre o dom gratuito e a transgressão. Pois, se muitos morreram por causa da desobe-diência de um só, muito mais a graça de Deus e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, transbordou para multidões!16 Por isso, não se pode comparar a graça de Deus com a conseqüência do pecado de um só homem; porquanto, o julgamento derivou de uma só ofensa que resultou em condenação, mas o dom gratuito veio de muitas transgressões e trouxe a justifi cação. 17 Pois, se pela transgressão de um só homem, a morte reinou por meio desse, muito mais os que recebem da transbor-dante provisão da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por intermédio de um único homem: Jesus Cristo!18 Portanto, assim como uma só trans-gressão determinou na condenação de todos os seres humanos, assim igual-mente um só ato de justiça resultou na justifi cação que traz vida a todos os homens. 19 Sendo assim, como por meio da de-sobediência de um só homem muitos se

tornaram pecadores, assim também, porintermédio da obediência de um únicohomem, muitos serão feitos justos. 20 A Lei foi instituída para que a trans-gressão fosse ressaltada. Mas onde abun-dou o pecado, superabundou a graça,7

21 para que, assim como o pecado reinouna morte, assim também reine a graçapela justiça para outorgar vida eterna,por intermédio de Jesus Cristo, nossoSenhor.

Libertos do poder do pecado

6Então, qual seria a conclusão? Deve-mos continuar pecando a fi m de que

a graça seja ainda mais ressaltada?2 De forma alguma! Nós que morremospara o pecado, como seria possível dese-jar viver sob seu jugo?1

3 Ou ignoreis que todos nós, que fomosbatizados em Cristo Jesus, fomos igual-mente batizados na sua morte?4 Portanto, fomos sepultados com Elena morte por meio do batismo, com opropósito de que, assim como Cristofoi ressuscitado dos mortos mediante aglória do Pai, também nós vivamos umanova vida.2

5 Se desse modo fomos unidos a Ele nasemelhança da sua morte, com toda acerteza o seremos também na semelhan-ça da sua ressurreição.6 Pois temos conhecimento de que anossa velha humanidade em Adão foi

7 A Lei foi introduzida não para proporcionar a redenção, mas para enfatizar o quanto essa redenção plena e total se fazia neces-7

sária. Com a Lei o pecado, ficou ainda mais evidente, marcando claramente seu contraste em relação à santidade de DeusCapítulo 61 Essa é uma pergunta reflexiva, fruto da afirmação que Paulo acabara de fazer em 5.20, a fim de responder a alguns líderes

judeus que o estavam acusando de pregar uma doutrina antinômica (contrária à Lei). Eles estavam confundindo a teologia dajustificação somente por meio da fé em Cristo, com a pregação de um estilo de vida libertino e moralmente irresponsável. Pauloenfatiza, em seus ensinos, que há dois resultados inequívocos da nossa maravilhosa união com Cristo: 1) A remoção completade nossas culpas pela morte sacrificial de Jesus Cristo; 2) A eficácia da ressurreição do Senhor, originando uma nova vida desantidade que envolve toda a alma, consciência e corpo físico do cristão sincero, e que dia a dia transforma-lhe o caráter àimagem de Cristo (Imago Dei). Os principais indícios do novo nascimento são justamente a vontade imensa de adorar a Deus,comunhão com os irmãos, fome pela Palavra, disposição para evangelizar o mundo e a busca perseverante por uma vida santa,contudo, sem legalismo ou fanatismo.

2 Na época em que o NT estava sendo escrito, o batismo se seguia tão rapidamente ao arrependimento e à conversão, que osdois atos eram considerados parte de um só grande acontecimento: o novo nascimento (At 2.38). Portanto, embora a cerimôniado batismo, especialmente em nossos dias, não seja o meio para estabelecermos um relacionamento vital com Cristo por meio dafé, esse símbolo está estreitamente relacionado à disposição de crer. Mediante a fé estamos unidos a Jesus Cristo, assim como,por meio do nosso nascimento natural, ficamos unidos a Adão (o primeiro ser humano). O batismo simboliza nossa morte parao pecado que herdamos do pai da raça humana (Adão), e nossa ressurreição com Cristo para uma vida eterna de adoração esantidade diante de Deus.

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crucifi cada com Ele, a fi m de que o corpo sujeito ao pecado fosse destruído, para que nunca mais venhamos a servir ao pecado.7 Porquanto, todo aquele que morreu já foi justifi cado do pecado. 8 E mais, se morremos com Cristo, cre-mos que também com Ele viveremos!9 Pois sabemos que, havendo sido res-suscitado dos mortos, Cristo não pode morrer novamente; ou seja, a morte não tem mais qualquer poder sobre Ele.10 Porque ao morrer para o pecado, mor-reu de uma vez por todas para o pecado, todavia, quanto ao viver, vive para Deus.11 Assim, desta mesma maneira, conside-rai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus.12 Portanto, não permitais que o pecado domine vosso corpo mortal, forçando-vos a obedecerdes às suas vontades. 13 Tampouco, entregais os membros do vosso corpo ao pecado, como instru-mentos de iniqüidade; antes consagrai-vos a Deus com quem fostes levantados da morte para a vida; e ofereçais os vossos membros do corpo a Ele, como instrumentos de justiça.3

14 Porquanto o pecado não poderá exer-

cer domínio sobre vós, pois não estais debaixo da Lei, mas debaixo da Graça!4

Súditos da Justiça pela Graça15 Que resposta dar? Vamos nos atirar ao pecado porque não estamos sob o jugo da Lei mas sob o poder da lei da Graça? Não! De forma alguma.16 Não estais informados de que ao vos entregardes a alguém como escravos para lhe obedecer, sois escravos deste a quem obedeceis, seja do pecado para a morte, seja da obediência que leva à justiça?5

17 Todavia, graças a Deus, porquanto, embora havendo sido escravos do pe-cado, obedecestes de coração à forma do ensino a que fostes submetidos. 18 Vós fostes libertos do pecado e vos tornaram escravos da justiça.19 Expresso-me, assim, nos termos do homem comum, por causa da fraqueza da vossa carne. Pois, assim, como apre-sentastes os membros do vosso corpo como escravos da impureza e da maldade que conduz a iniqüidades ainda maiores; apresentai, a partir de agora, todos os membros do vosso corpo como escravos da justiça para a santifi cação.6

3 Esse é um chamado eloqüente para que o cristão sincero torne-se, na vida diária e em seus relacionamentos, aquilo queele já é por posição: morto para esse sistema mundial pecaminoso e para o seu pecado que, mesmo agonizante, luta por fazerprevalecer suas vontades na alma do crente (vv. 5-7); e vivo para adorar e servir a Deus (vv. 8-10). Após essa tomada de posição,o próximo passo em direção à vitória do cristão sobre o pecado é a decisiva e perseverante recusa de permitir que o pecado voltea dominar sua vida, decisões éticas e morais (v.12). Finalmente, o último passo tem a ver com a entrega absoluta da vida (todosos aspectos e recônditos da alma) do crente aos cuidados paternos e poderosos de Deus, que agora habita em seu corpo napessoa do Espírito Santo (v.13).

4 Paulo compreendia o pecado como uma espécie de poder escravizador, e por isso o personificou. O crente em Cristo nãoestá livre das suas responsabilidades em relação à verdade e à justiça, nem tampouco da autoridade moral dos mandamentosde Deus. O que Paulo está ensinando é que não estamos sujeitos à Lei mosaica da mesma forma que os judeus do AT estavam,e que ela não oferece nenhuma capacitação para vencermos o poder do pecado introduzido na terra desde Adão. A Lei, emtermos práticos, é o código penal diante do qual estamos todos condenados. A graça, entretanto, oferece ao cristão sinceroplena capacitação (Tt 2.11,12).

5 Os versículos de 15 a 23 apresentam uma analogia entre a teologia da redenção e o procedimento ético do mercado deescravos, prática muito comum nos tempos do NT. O escravo está sob a obrigação moral de servir o seu mestre (de ondevem a nossa forma de tratamento, em português: sinhá, dona; sinhô, dono) até a morte. Uma vez morto, o dono não tem maisautoridade ou poder algum sobre a alma dele. Desse mesmo modo, acontece com o crente em Cristo. O seu “velho dono”, opecado, não tem mais direito sobre sua vida ou vontades, uma vez que já morreu com Cristo.

6 Paulo pede desculpas por usar uma analogia ligada à escravidão, assunto bastante popular em sua época, mas sobre o qualos judeus tinham ojeriza. O povo judeu sempre acreditou na liberdade que Deus outorgou aos homens. No entanto, os judeusforam feitos escravos por muitos povos durante longos períodos da história da humanidade. A comparação de Paulo, porém, é ideal para ilustrar uma grande verdade universal: ou se é escravo (servo) de Deus ou do Diabo. Essa forma de doutrina refere-sea um sumário de ética cristã, baseado nos ensinos de Jesus Cristo, que normalmente era ministrado aos convertidos na igrejaprimitiva, a fim de discipular os novos crentes nos primeiros passos da vida cristã.

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20 Porque, quando éreis escravos do pe-cado, estáveis livres em relação à justiça. 21 E que fruto colhestes, então, das atitudes das quais agora vos envergonhais? Pois o resultado fi nal delas é a morte!22 Contudo, agora libertos do pecado, e tendo sido transformados em escravos de Deus, tendes o vosso fruto para a san-tifi cação, e por fi m a vida eterna.7

23 Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna por intermédio de Cristo Jesus, nosso Senhor!

A relação entre Lei e Graça

7Caros irmãos, falo convosco como conhecedores da Lei. Acaso não sa-

beis que a Lei tem autoridade sobre uma pessoa apenas enquanto ela vive?1

2 Por exemplo, pela Lei a mulher casada está ligada ao marido enquanto ele vive; mas, se ele morrer, ela está livre da lei do casamento.3 Por isso, se ela se casar com outro ho-mem, enquanto seu marido ainda estiver vivo, será considerada adúltera. Mas seo marido morrer, ela estará livre daquela lei, e mesmo que venha a se casar com outro homem, não estará adulterando.2

4 Assim também, vós, meus irmãos, mor-

restes quanto à Lei mediante o corpo deCristo, para pertencerdes a outro, àqueleque ressuscitou dentre os mortos, a fi mde que frutifi quemos para Deus.5 Pois quando éramos dominados pelanatureza pecaminosa, as paixões dos pe-cados, instigadas pela própria Lei, agiamlivremente em nosso corpo, de maneiraque dávamos frutos para a morte.6 Mas, agora, fomos libertos da Lei, haven-do morrido para aquilo que nos aprisio-nava, para servimos de acordo com a nova ministração do Espírito, e não conforme a velha forma da Lei escrita.3

A Lei condena, Jesus liberta7 Portanto, que concluiremos? A Lei é pe-cado? De forma alguma! De fato, eu nãoteria como saber o que é pecado, a nãoser por intermédio da Lei. Porquanto,na realidade, eu não haveria conhecido acobiça, se primeiro a Lei não tivesse dito:“Não cobiçarás”. 8 Mas o pecado, aproveitando-se da oca-sião dada pelo mandamento, provocouem mim todo o tipo de cobiça; porque,onde não há lei, o pecado está morto. 9 Antes eu vivia sem a Lei; mas quandoveio o mandamento, o pecado reviveu, eeu fui ferido de morte;4

7 Ser sinceramente devotado a Deus produzirá, inevitavelmente, santidade. E o final desse processo é a vida eterna. Nãoexiste vida eterna sem santidade (Hb 12.14). Todo aquele que já passou pela justificação (o primeiro ato da salvação queé composta de justificação, santificação e glorificação), com toda certeza, demonstrará, por meio de suas atitudes diárias,evidências desse fato. Uma pessoa que não está sendo santificada (purificada pelo Espírito Santo) em seus pensamentos eatitudes deve avaliar se realmente houve, em algum momento, um arrependimento sincero do seu coração na presença doEspírito de Cristo e, portanto, a justificação.

Capítulo 71 Paulo tem em mente tanto a Lei mosaica quanto a lei divina, no seu sentido mais universal e implicações gerais. Assim

também quanto ao homem, Paulo não se limita a uma análise simplista do crente e do não convertido, mas vai além e investiga acomplexidade do ser humano quanto à sua tendência natural para o mal (o ser humano sempre se sentiu atraído pelo proibido),enquanto sua consciência íntima aponta para o bem e a verdade; como se a alma humana, embora nesse mundo, tivessesaudades da casa paterna, mas vontade de ceder à cobiça da carne (todas as ambições de prazer e glória).

2 No cap. 6, Paulo faz uma analogia do compromisso que há entre o escravo e seu senhor (dono). Em 7.1-6, a ilustração utilizada éa do compromisso (aliança, contrato) celebrado no casamento. Paulo demonstra que a liberdade da Lei é a mesma que uma esposatem em relação ao seu marido. A relação é de simples entendimento: assim como a morte do marido dissolve o vínculo formal entreo marido e a esposa, a morte do crente com Cristo quebra o jugo da Lei. O cristão está, portanto, livre do domínio do pecado paraunir-se a Cristo, que jamais morrerá novamente, o que significa, que essa nova união não terá fim (6.9; 7.4).

3 A antítese entre o espírito e a simples letra escrita aponta para um novo tempo, aquele em que a “nova aliança” de Jeremiasse realiza (Jr 31.31). A “letra” transmite o sentido de guardar tudo o que a Lei determina no seu aspecto exterior (cumprir o queestá escrito sem maiores reflexões ou interpretações subjetivas), à base da força de vontade e na capacidade moral dos homens.O “espírito” refere-se às novas relações e forças produzidas em Cristo pelo Espírito Santo.

4 Paulo faz uma análise da sua própria experiência de vida, ao mesmo tempo em que considera a existência de todos oshomens, a partir do seu conhecimento atual da graça divina em Cristo Jesus. Antes de se dar conta de que a Lei existia comtamanho vigor, poder e rigidez, e de que estava condenado à morte, o menino Paulo vivia alegre e em paz. Com a chegada do seu

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10 e descobri que o mandamento que era para vida, transformou-se em morte para mim.5

11 Porquanto o pecado, valendo-se do mandamento, iludiu-me, e por meio dele me matou.12 De maneira que a Lei é santa, e o man-damento, santo, justo e bom. 13 Portanto, isso signifi ca que o que era bom tornou-se morte para mim? De forma alguma! Mas o pecado para que se revelasse como pecado, produziu em mim a morte por intermédio do que era bom; a fi m de que, por meio do mandamento, o pecado se demonstrasse extremamente maligno.6

14 Porquanto é do nosso pleno conheci-mento de que a Lei é espiritual; eu, en-tretanto, sou limitado pela carne, pois fui vendido como escravo ao pecado. 15 Pois não compreendo meu próprio modo de agir; porquanto o que quero, isso não pratico; entretanto, o que detes-to, isso me entrego a fazer.7

16 Ora, e se faço o que não desejo, tenho que admitir que a Lei é boa.17 Nesse sentido, não sou mais eu quem

determina o meu agir, mas sim o pecado que habita em mim.18 Porque sei que na minha pessoa, isto é, na minha carne, não reside bem algum; porquanto, o desejar o bem está presente em meu coração, contudo, não consigo realizá-lo.8

19 Pois o que pratico não é o bem que al-mejo, mas o mal que não quero realizar, esse eu sigo praticando.20 Ora, se faço o que não quero, já não sou eu quem o realiza, mas o pecado que reside em mim. 21 Assim, descubro essa Lei em minha própria carne: quando quero fazer o bem, o mal está presente em mim.22 Pois no íntimo da minha alma tenho prazer na Lei de Deus; 23 contudo, vejo uma outra lei agindo nos membros do meu corpo, guerreando contra a lei da minha razão, tornando-me prisioneiro da lei do pecado que atua em todos os meus membros.24 Miserável ser humano que sou! Quem me libertará deste corpo de morte?9

25 Graças a Deus, por Jesus Cristo, nosso Senhor! De modo que, eu mesmo com

bar mitzvah (importante cerimônia judaica na qual o jovem, aos 13 anos, passa a ser responsável pelo cumprimento da Lei), bemcomo na vida adulta, quando as demandas do seu vínculo com os fariseus amadureceram suas convicções legais e institucionais,e, por fim, quando do seu encontro com Cristo, fato que determinou sua conversão, Paulo chegou à conclusão que estava morto,“porque o salário do pecado é a morte” (6.23; Lc 18.20,21; Fp 3.6).

5 O que aconteceu na prática foi que a Lei veio a ser a via de acesso do pecado, tanto na experiência de Paulo quanto para todaa humanidade. Em vez de conceder vida, a Lei produziu condenação; em lugar de promover a santidade, provocou o pecado. Todavia, a responsabilidade pelo pecado não está na Lei, uma vez que ela foi criada por Deus para ajudar os seres humanos aordenar, suas prioridades, identificarem o certo do errado, o bem do mal, e a viverem em paz e fraternidade uns com os outros.Portanto, a Lei é santa, justa e boa (v.12).

6 O pecado e seu pai (o Diabo) usaram a santa Lei de Deus para uma finalidade ímpia (a morte). Esse fato revela quão despre-zíveis são o nosso Inimigo e suas artimanhas.

7 Paulo fala da própria intimidade da sua alma e de suas lutas como homem e como cristão, ao mesmo tempo em que se refere7

a um conflito comum a todos os seres humanos. Até mesmo o crente mais santificado tem dentro de si a semente da rebelião queherdou de Adão, a qual vem sendo explorada pelo Diabo de geração em geração desde a Queda (Gn 3). Paulo é eloqüente quandousa a expressão “fui vendido como escravo ao pecado”, para retratar como todos nós passamos pela experiência de ser subjugadospelo poder deste mundo e do pecado. E, mesmo após a conversão, o pecado agonizante procura nos ferroar persistentemente.Paulo, ainda, revela que nossas lutas interiores provocam todo tipo de tensão, ambivalência, confusão e frustrações.

8 Paulo faz uma humilde e honesta declaração em relação à tenacidade do pecado em tentar controlar a vida dos crentes (v.17). No v.18 ele se refere ao estado caído do ser humano, como denota a parte inicial da frase. Evidentemente, ele não está dizendoque não pode haver a mínima bondade prática nos cristãos.

9 Paulo usa o corpo como metáfora de um cadáver que pesava sobre suas costas, mas que era de sua responsabilidadeequilibrá-lo para que não caísse ou alterasse o curso do seu trajeto ao carregá-lo (6.6). O cristão vive em dois mundos ao mesmotempo e isso causa muitas aflições. Este é o motivo pelo qual a carne batalha contra o Espírito e o Espírito batalha contra a carne,porquanto são opostos entre si (Gl 5.17). A vitória contra esse inimigo (a disposição para o pecado que persiste em nós) não vemsem muita luta, mas ao longo do nosso tempo de caminhada cristã e amadurecimento espiritual. Graças a Deus a vitória virá por Cristo, e isso está maravilhosamente descrito no capítulo seguinte.

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a razão sirvo à Lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado.

O Espírito guia os fi lhos de Deus

8Portanto, agora não há nenhuma condenação para os que estão em

Cristo Jesus.1

2 Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte. 3 Porquanto, aquilo que a Lei fora in-capaz de realizar por estar enfraquecida pela natureza pecaminosa, Deus o fez, enviando seu próprio Filho, à semelhan-ça do ser humano pecador, como oferta pelo pecado. E, assim, condenou o pecado na carne,2

4 para que a justa exigência da Lei se cumprisse em nós, que não andamossegundo a natureza carnal, mas segundo o Espírito. 5 Os que vivem segundo a carne têm a mente voltada para as vontades da na-tureza carnal, entretanto, os que vivem de acordo com o Espírito, têm a mente orientada para satisfazer o que o Espírito deseja. 6 A mentalidade da carne é morta, mas a mentalidade do Espírito é vida e paz. 7 Porque a mentalidade da carne é inimi-

ga de Deus, pois não se submete à Lei deDeus, nem consegue fazê-lo. 8 Os que vivem na carne não podemagradar a Deus.3

9 Vós, contudo, não estais debaixo do do-mínio da carne, mas do Espírito, se é quede fato o Espírito de Deus habita em vós.Todavia, se alguém não tem o Espírito deCristo, não pertence a Cristo.10 Porém, se Cristo está em vós, o corpoestá morto por causa do pecado, mas oespírito vive por causa da justiça. 11 E, se o Espírito daquele que ressuscitoudos mortos a Jesus habita em vós, aqueleque ressuscitou dos mortos a Cristo Jesusigualmente vos dará vida a seus corposmortais, por intermédio do seu Espíritoque habita em vós.4

12 Portanto, irmãos, estamos em dívida,não para com a natureza carnal, paraandarmos submissos a ela.13 Porque, se viverdes de acordo com acarne, certamente morrereis; no entanto,se pelo Espírito fi zerdes morrer os atosdo corpo, vivereis.14 Porquanto, todos os que são guiadospelo Espírito de Deus são fi lhos de Deus.15 Pois vós não recebestes um espíritoque vos escravize para andardes, umavez mais, atemorizados, mas recebestes

1 Essas são as “boas novas” (o Evangelho): 1) A Lei incita, ressalta e condena o pecado. Todavia, o cristão não está “debaixo daLei” (6.4); 2) O crente “em Cristo” é incorporado plenamente ao Corpo de Cristo, mediante o Espírito (1Co 12.13); 3) O Corpo, queteve início na morte e ressurreição, tem Jesus Cristo como cabeça e inclui todos os remidos como Seus membros (Ef 1.22,23); 4)A autoridade que governa o Corpo não é mais a Lei, tampouco a natureza carnal, muito menos o pecado, mas a Lei do Espírito,que significa: liberdade (v.2). Pelo Espírito, o cristão é liberto do cativeiro do pecado.

2 Deus se identificou perfeitamente com o ser humano na pessoa de Jesus Cristo, porém sem ter cometido pecado algum(2Co 5.21). Constituindo-se no único e verdadeiro Homem sem pecado, cumpriu integralmente o plano original de Deus para oser humano. A expressão “oferta pelo pecado” (que não foi traduzida por algumas versões) consta da Septuaginta como peri hamartias, expressão grega derivada do antigo termo hebraico hatta´th, que significa literalmente “oferta para o pecado”.

3 Paulo não se refere à carne como substância física, mas sim ao caráter moral e ético da expressão. É o campo (área denossa vida) ao qual o poder do pecado e do Diabo tem acesso e controle, e no qual as obras próprias da natureza carnal sãoconcebidas e praticadas (Gl 5.19-21). Após a morte e ressurreição de Jesus, existem apenas dois grandes campos: “a carne” e “oEspírito”. É impossível viver nos dois lugares simultaneamente (v.9). A Lei não perdeu sua relevância na vida do cristão. Contudo,ela não tem em si o poder da salvação do pecador condenado. Sua autoridade, no entanto, se aplica à orientação moral e éticado crente, que a interpreta e obedece, por amor a Cristo, mediante o esclarecimento e poder do Espírito Santo que agora habitaseu espírito, alma e corpo (1Ts 5.23).

4 Todos os corpos (cristãos ou não) estão sujeitos à morte e decomposição física, conseqüência do pecado original (Gn3). A ressurreição da alma e do corpo dos crentes para a vida eterna está garantida mediante a presença do Espírito Santoque neles habita. Presença esta evidenciada por uma vida controlada pelo próprio Senhor Jesus. Uma vida sob o domínio doEspírito é o selo de garantia total de que desde aqui e agora nossa ressurreição está certa (1Co 6.14; 15.20,23; 2Co 4.14; Fp3.21; 1Ts 4.14).

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o Espírito que os adota como fi lhos, por intermédio do qual podemos clamar: “Abba, Pai!”.5

16 O próprio Espírito testemunha aonosso espírito que somos fi lhos de Deus.17 Se somos fi lhos, então, também so-mos herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, se realmente participamos dos seus sofrimentos para que, da mesma maneira, participemos da sua glória.

O sofrimento e a glória futura18 Estou absolutamente convencido de que os nossos sofrimentos do presente não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada.19 A própria natureza criada aguarda, com vívido anseio, que os fi lhos de Deus sejam revelados.6

20 Porquanto a criação foi submetida à inutilidade, não por sua livre escolha, mas por causa da vontade daquele que a sujeitou, 21 na esperança de que também a própria natureza criada será libertada do cativei-ro da degeneração em que se encontra, recebendo a gloriosa liberdade outorga-da aos fi lhos de Deus.7

22 Sabemos que até hoje toda a criação geme e padece, como em dores de parto.

23 E não somente ela, mas igualmente nós, que temos os primeiros frutos do Espírito, também gememos em nosso íntimo, esperando com ansiosa expecta-tiva, por nossa adoção como fi lhos, a redenção do nosso corpo. 24 Porquanto, precisamente nessa espe-rança fomos salvos. Contudo, esperança que se vê não é esperança; pois comopode alguém anelar por aquilo que está vendo?8

25 Porém, se esperamos por algo que ainda não podemos ver, com paciência o aguardamos.26 Do mesmo modo, o Espírito nos au-xilia em nossa fraqueza; porque não sa-bemos como orar, no entanto, o próprio Espírito intercede por nós com gemidos impossíveis de serem expressos por meio de palavras.9

27 E aquele que sonda os corações conhece perfeitamente qual é a intenção do Espírito; porquanto, o Espírito supli-ca pelos santos em conformidade com a vontade de Deus.

Somos mais que vencedores28 Estamos certos de que Deus age em todas as coisas com o fi m de benefi ciar todos os que o amam, dos que foram chamados conforme seu plano.10

5 No primeiro século, a adoção era a forma jurídica e legal (especialmente entre os romanos e gregos) por meio da qual o pai adotivo recebia um filho e a ele destinava todos os direitos para perpetuar o nome da família e administrar sua herança. Aexpressão em aramaico abba era a maneira carinhosa como as famílias judias na palestina, na época de Cristo, se referiam apessoa do pai. Cristo usou esse termo em suas orações e ensinou seus discípulos a considerarem o Deus Altíssimo e Todo-Poderoso como nosso “pai querido” ou “papai”, numa clara alusão à forma amorosa e sincera com que Deus convive comSeus filhos. Os judeus, entretanto, tinham receio de usar uma forma de tratamento tão informal e pessoal (v.23; 9.4; Mc 14.36;Lc 11.2; Gl 4.5; Ef 1.5).

6 Todos aqueles que sinceramente crêem em Cristo já foram promovidos à posição de filhos de Deus, todavia, a plena mani-festação de tudo o que esse privilégio implica está reservada para os últimos dias (1Jo 3.1,2).

7 Paulo se refere à queda cósmica (em algumas versões traduzida impropriamente como “vaidade”), a qual se encontra7

detalhada nas Escrituras de Gn 3 até Ap 22.3 (“nunca mais haverá maldição”). Toda a natureza criada por Deus, que Ele própriojulgou “boa”, ficou sujeita à degeneração e à inutilidade (vaidade) com o ingresso do pecado na terra por meio da desobediência voluntária dos primeiros seres humanos, representados por Adão. O novo corpo que receberemos, por ocasião da ressurreição,suplantará nosso atual corpo mortal que nos liga à natureza, que a essa altura também será renovada. O termo grego originalmataiotes, além de transmitir o sentido de futilidade, frustração (vaidade), remete à adoração a deuses falsos, indicando que acriação foi sujeita às forças do Inimigo (1Co 12.2). O universo não se destina ao aniquilamento (destruição total), mas à renovação(2Pe 3.13; Ap 21.1).

8 É importante notar que fomos salvos “na” esperança, não “por” esperança. Paulo repetirá várias vezes que a salvação é umdom de Deus e recebida unicamente por meio da fé do pecador arrependido. A esperança acompanha a salvação (Ef 2.8).

9 Assim como a esperança sustenta o cristão em seus sofrimentos, da mesma forma, o Espírito Santo o ajuda na comunicaçãocom Deus, quando palavras humanas parecem não fazer sentido. Neste trecho, não é o crente quem geme, mas sim o Espírito.

10 A expressão “todas as coisas”, segundo os melhores manuscritos, é objeto do verbo grego sunergei, indicando que o sujeito

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29 Porquanto, aqueles que antecipada-mente conheceu, também os predestinou para serem semelhantes à imagem do seu Filho, a fi m de que Ele seja o primogêni-to entre muitos irmãos.11

30 E aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes igual-mente justifi cou; e aos que justifi cou, a estes também glorifi cou.12

Hino de vitória: Deus é por nós31 A que conclusão, pois, chegamos dian-te desses fatos? Se Deus é por nós, quem será contra nós?32 Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos concederá juntamente com Ele, gratuitamente, todas as demais coisas?13

33 Quem poderá trazer alguma acusação sobre os escolhidos de Deus? É Deus

p g ç

quem os justifi ca!34 Quem os condenará? Foi Cristo Jesus que morreu; e mais, Ele ressuscitou den-tre os mortos e está à direita de Deus, e também intercede a nosso favor.14

35 Quem nos separará do amor deCristo? Será a tribulação, ou ansiedade,ou perseguição, ou fome, ou nudez, ouperigo, ou espada?36 Como está escrito: “Por amor de tisomos entregues à morte todos os dias;fomos considerados como ovelhas parao matadouro”.37 Contudo, em todas as coisas somosmais que vencedores, por meio daqueleque nos amou.15

38 Portanto, estou seguro de que nemmorte nem vida, nem anjos nem demô-nios, nem o presente nem o futuro, nemquaisquer poderes, 39 nem altura nem profundidade, nemqualquer outra criatura poderá nos afas-tar do amor de Deus, que está em CristoJesus, nosso Senhor.16

O lamento de Paulo por Israel

9Digo a verdade em Cristo, não faloinverdades, minha consciência o con-

fi rma no Espírito Santo,1

2 que tenho grande tristeza e incessantedor no meu coração.

da ação é Deus. Algumas correntes filosóficas, espiritualistas e esotéricas usam esse trecho da Bíblia para sugerir uma espécie depensamento positivo inconsistente, visto que as leis físicas provam que “as coisas” no universo não estão se organizando ou fi-cando melhores, mas se desestruturando e falindo. Portanto, “as coisas” não podem produzir qualquer progresso por si mesmas.É Deus quem põe ordem no caos e convoca o ser humano para ser seu companheiro nessa empreitada.

11 Embora esse trecho como várias posições teológicas de Paulo continuam sendo grandes temas de estudo por parte deteólogos e lingüistas, nessa passagem, há certo consenso de que o conhecimento aqui mencionado não é abstrato, mas é frutoda essência de Deus. O amor e seus atributos: fidelidade e justiça. Deus não apenas nos conhecia antes mesmo de termos amínima informação sobre Ele, mas também nos conhecia no sentido de nos haver escolhido desde a fundação do universo(Ef 1.4; 2Tm 1.9). Assim como, desde a eternidade passada, Deus conhecia os que, pela fé, se tornariam o seu povo. Esseconhecimento prévio de Deus em relação a cada ser humano aponta para a graça da eleição, freqüentemente embutida no verbo“conhecer” no AT (Am 3.2; Os 13.5). No NT, ela aparece em passagens como 1Co 8.3 e Gl 4.9.

12 O fato de alguém vir a amar a Deus não é mérito humano, mas resultado direto da ação divina. O homem é chamado nãono sentido de um simples e casual convite, mas por “uma convocação solene” e justificado por conseqüência da “convocação”(chamada), e o grande clímax: glorificado, no sentido de ser como Cristo é (1Jo 3.2).

13 A expressão grega original pheidomai, aqui traduzida por “não poupou”, nos remete a Gn 22.16 em que a Septuaginta utilizaexatamente a mesma palavra. No modo de pensar judaico, a “amarração de Isaque” é considerada um exemplo clássico do valortranscendente e redentor do martírio do justo.

14 Paulo nos leva metaforicamente a um tribunal universal de justiça e afirma que nenhuma acusação formal pode serapresentada contra o cristão, porquanto, Deus – o Supremo Juiz – já proclamou seu veredicto final de “inocência”. O valor dapena (fiança) foi pago por nosso Advogado na cruz do Calvário: Jesus Cristo.

15 Somos realmente mais que vencedores. O termo grego original hupernikõmen significa literalmente “super-vencedores”. OSl 44.22 é citado no v.36 para demonstrar que o sofrimento sempre fez parte da experiência de vida do povo de Israel não paraseparar o povo de Deus, mas justamente para conduzi-los à Salvação em Cristo.

16 É, portanto, impossível fugir do amor de Deus. Nada e nenhum ser do universo poderá nos separar do alcance do Espíritode Cristo. A única pessoa que não consta da lista, e que poderia fazer isso, seria o próprio Deus; no entanto, é Ele mesmo quemnos justificou (v.33).

Capítulo 91 A consciência é verdadeiramente limpa, pura e apta para nos orientar, somente quando julgada e aprovada pelo Espírito Santo.

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3 Porquanto eu mesmo desejaria ser amaldiçoado e separado de Cristo por amor de meus irmãos, que são meus parentes segundo a carne;2

4 os quais são israelitas, de quem são a adoção, a glória, as alianças, a promulga-ção da Lei, o culto e as promessas;3

5 de quem são os patriarcas, e a partir deles é traçada a linhagem humana de Cristo, que é Deus acima de tudo e de todos. Seja Ele louvado para sempre! Amém.4

Deus cumpre suas promessas6 Não imaginemos que a Palavra de Deus possa ter falhado. Porquanto, nem todos os descendentes de Israel são isra-elitas fi éis.7 Nem por serem descendência de Abraão se tornaram todos fi lhos de Abraão. Ao contrário: “Por intermédio de Isaque, a tua descendência será considerada”.5

8 Em outras palavras, não são os fi lhos naturais que são fi lhos de Deus, mas os fi lhos da promessa é que são considera-dos como descendentes de Abraão.9 Pois foi assim que a promessa foi decla-rada: “No tempo certo virei novamente, e Sara dará à luz um fi lho”.

10 Esse não foi o único evento; também os fi lhos de Rebeca tiveram um mesmo progenitor, nosso pai Isaque. 11 Contudo, antes mesmo que os gêmeos nascessem ou realizassem qualquer obra boa ou má, para que o plano de Deus segundo a eleição permanecesse inalte-rado, não por causa das obras, mas sim por aquele que chama,12 foi-lhe dito: “O mais velho servirá ao mais novo!”6

13 Como está escrito: “Amei a Jacó, mas rejeitei a Esaú”. 14 Que conclusão podemos tirar? Acaso Deus não é justo? De modo algum!15 Porquanto Ele declara a Moisés: “Terei misericórdia de quem Eu quiser ter mi-sericórdia e terei compaixão de quem Eu desejar ter compaixão.16 Assim, claro está que isso não depende da vontade, tampouco do esforço do ser humano, mas da maneira como Deus focaliza sua misericórdia.7

17 Pois diz a Escritura ao faraó: “Eu olevantei exatamente com esse propó-sito: revelar em ti o meu poder, e paraque o meu Nome seja proclamado portoda a terra. 18 Portanto, Ele tem misericórdia de

2 Paulo faz um paralelo com a súplica de Moisés logo após o terrível pecado cometido pelos judeus ao fazerem de um bezerrode ouro um deus e o adorarem (Êx 32.32). Esse grande amor de Paulo pelas almas dos seus semelhantes também deve nortearas ações missionárias e evangelizadoras da Igreja em todo o mundo.

3 A expressão hebraica, traduzida para o grego na Septuaginta, shekiná refere-se à glória soberana e majestosa da presençamaravilhosa de Deus no templo e no tabernáculo. Quanto às “alianças”, embora alguns manuscritos tragam a expressão nosingular numa alusão à aliança celebrada no monte Sinai (Êx 34.38), os melhores originais se referem a todas as alianças firmadas por Deus com o seu povo: com Abraão (Gn 15.17-21; 17.1-8); com Moisés (Êx 19.5; 24.1-4), renovada nas planícies de Moabe (Dt29.1-15), nos montes de Ebal, Gerizim e em Siquém (Js 8.30-35; 24); com os levitas (Nm 25.12,13; Jr 33.21; Ml 2.4,5); com Davi(2Sm 7; 23.5; Sl 89.3,4,28,29; 132.11,12) e, especialmente, a Nova Aliança, profetizada em Jr 31.31-40).

4 Nesse trecho, encontramos uma das declarações mais claras e exatas sobre a absoluta divindade e humanidade de Cristo.Outras passagens corroboram com essa afirmação de Paulo (Mt 1.23; 28.19; Lc 1.35; 5.20-21; Jo 1.1,3,10,14,18; 5.18; 20.28; 2Co13.14; Fp 2.6; Cl 1.15-20; 2.9; Tt 2.13; Hb 1.3,8; 2Pe 1.1; Ap 1.13-18; 22.13).

5 Paulo faz uma clara distinção entre os judeus, segundo a descendência sangüínea (a carne) e os verdadeiros israelitas queatravés da fé são os legítimos filhos de Abraão. Paulo vê em Isaque uma prefigura de Jesus Cristo, que é, portanto, filho deAbraão. Por meio de Cristo, somos igualmente os filhos da promessa feita a Abraão (Gn 21.12; 18.10,14).

6 Paulo deixa evidente que Deus escolheu Jacó não pelo cumprimento de quaisquer condições prévias, obras ou leis, mas porcausa da sua vontade livre e soberana. Esta profecia não se refere somente a Esaú e Jacó (Gn 25.23), mas também às naçõesque surgiram a partir deles. Os filhos de Esaú – os edomitas – estiveram, por longos períodos, sujeitos a Israel (2Sm 8.14; 1Rs 22.47). O propósito divino é concretizado na eleição que Ele faz (Ef 1.4).

7 Ao citar as contundentes declarações de Moisés (Êx 33.19), Paulo demonstra que a compaixão e a misericórdia de Deus7

não estão sujeitas a qualquer força do universo, muito menos ao controle humano, apenas à Sua absoluta e livre graça, justiçae vontade. Deus tratou a Isaque e Ismael, bem como, a Jacó e Esaú, por meio de sua soberania e onisciência, usando do direito que Ele tem de oferecer sua misericórdia a quem desejar.

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quem deseja, e endurece o coração de quem quer.8

A absoluta soberania de Deus19 Certamente me perguntarás: “Por que Deus ainda nos culpa? Pois, quem pode se opor à sua vontade?”20 Todavia, quem és tu, ó homem, para questionares a Deus? “Acaso aquilo que é criado pode interpelar seu criador dizen-do: ‘Por que me fi zeste assim?’21 Ou o oleiro não tem todo direito de produzir do mesmo barro um vaso para fi ns nobres e outro para usos menos honrosos?22 Mas o que tens a dizer se Deus supor-tou com muita longanimidade os vasos da ira, preparados para a destruição, por-que desejava manifestar a sua ira e tornar conhecido seu poder,9

23 a fi m de que fossem conhecidas as riquezas da sua glória para com os vasos de sua misericórdia, que preparou com grande antecedência para glória,24 quero dizer, a nós próprios, a quem convocou, não apenas dentre os ju-deus, mas igualmente dentre todos os gentios?25 Como diz Ele também em Oséias: “Chamarei ‘meu povo’ a quem não é meu

povo; e chamarei ‘minha amada’ a quemnão é minha amada”.26 E mais: “Acontecerá que no mesmolugar em que lhes foi declarado: ‘Vós nãosois meu povo; aí serão chamados fi lhosdo Deus vivo!’”10

27 Também Isaías proclama em relaçãoa Israel: “Ainda que o número dos isra-elitas seja como a areia do mar, apenas oremanescente é que será salvo!28 Porquanto o Senhor executará sobre aterra a sua sentença, rápida e de uma vezpor todas”.29 E como dissera Isaías anteriormente:“Se o Senhor dos Exércitos não nos tives-se deixado descendentes, já estaríamoscomo Sodoma e Gomorra”.11

Israel tropeçou na fé30 A que conclusão chegamos? Os gen-tios, que não procuravam justiça, a rece-beram, uma justiça que vem pela fé;12

31 entretanto, Israel, que buscava uma leique trouxesse justiça, não a alcançou.32 E porque não? Porque não a buscavapela fé, mas como que por meio dasobras. Eles tropeçaram na “pedra detropeço”.13

33 Como está escrito: “Eis que ponho emSião uma pedra de tropeço e uma rocha

8 Deus, em geral, não impede ninguém de fazer o mal. Isso não quer dizer que o Faraó (de Êxodo) foi criado para ser umhomem cruel e insensível, mas, diante das circunstâncias que o deveriam ter levado ao arrependimento, ele, por sua livre decisão,permaneceu incrédulo e duro de coração (Êx 9.16; 8.15; 7.3; 15.13; Js 2.10,11; 9.9; 1Sm 4.8). Deus não é arbitrário em suamisericórdia. Paulo revela que o grande motivo da rejeição de Israel por Deus é sua renitente incredulidade (vv. 30-32).

9 Não cabe ao homem murmurar contra o direito soberano que o Criador tem de realizar o que bem entende com Sua criaçãoe filhos. Entretanto, a tônica desta passagem está na misericórdia de Deus que suporta com infinita paciência a persistente ecrescente maldade humana (fortemente influenciada pelo Diabo), retardando Sua ira por séculos e séculos (2Pe 3.7-9).

10 Embora as palavras de Oséias, em seu contexto original no AT, se refiram à restauração espiritual de Israel, Paulo asinterpreta como um princípio: Deus é salvador, perdoador e restaurador; cujo prazer está em buscar “os que não-são-meu-povo”e fazer deles “povo-meu”. Deus transforma os nomes dos filhos ilegítimos e rejeitados de Oséias (em hebraico: Lo-ruhamah– não-objeto-da-minha-afeição, e Lo-ammi – não-meu-parente) em “povo-meu” (Os 1.10). Paulo aplica esse princípio à inclusãoidos gentios, de modo soberano, no relacionamento pactual com o Senhor (conforme cap.11).

11 Essas passagens de Isaías revelam que apenas um pequeno remanescente sobreviverá em comparação à grande maioriados judeus que não reconhecerão a Salvação do Senhor em Cristo. O chamado de Deus inclui tanto judeus quanto gentios (v.24),contudo, a imensa multidão dos salvos será formada de gentios de todas as nações (v.30; Is 10.22,23; 1.9).

12 As doutrinas da eleição divina e da responsabilidade humana quanto ao dom da Salvação, concedido por Deus em Cristo,devem ser, ambas, cridas e vividas firmemente por todo cristão sincero.

13 O fracasso de Israel não foi ter buscado desesperadamente uma vida justa diante de Deus. O grande pecado foi a arrogânciae a prepotência ao acreditar que suas muitas obras externas, regras e rituais poderiam constranger Deus a lhes tratar comdeferimento, sem prestar atenção à falta da fé pura e sincera em seus corações. Por isso Jesus se tornou a “Pedra de tropeço” deIsrael e de todos os incrédulos, porquanto, o povo de Deus não aceitou o modo que Ele determinara para que a nação viesse aalcançar a fé, e, com a fé, a justificação. Confiando em seus próprios métodos e obras, Israel rejeitou o Filho de Deus, o Messiasprometido (1Pe 2.4-8; Sl 118.22; Lc 20.17,18).

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22ROMANOS 9, 10

de escândalo; mas aquele que nela confi a jamais será envergonhado!”14

Paulo suplica a Israel que creia

10Caros irmãos, o desejo do meu coração e a minha oração

a Deus em favor dos fi lhos dos israelitas é que eles sejam salvos.1

2 Porquanto sou testemunha quanto ao zelo que eles devotam a Deus, contudo; o seu zelo não tem como base o real conhecimento.2

3 Pois, não reconhecendo a justiça que vem de Deus e buscando estabelecer a sua própria, não se submeteram à justiçade Deus.4 Porque o fi m da Lei é Cristo, para justi-fi cação de todo o que crê.3

5 Ora, Moisés ensina desta maneira sobre a justiça que vem da Lei: “O homem que pratica a justiça proveniente da Lei vive-rá por meio dela”.6 Todavia, a justiça que vem da fé declara: “Não digas em teu coração: ‘Quem

subirá aos céus? Isto é, para trazer do alto a Cristo.7 Ou, ainda: ‘Quem descerá ao abismo?’, isto é, para fazer Cristo subir dentre os mortos. 8 Mas o que ela diz? “A palavra está bem próxima de ti, na tua boca e no teu cora-ção”, ou seja, a palavra da fé que estamos pregando:9 Se, com tua boca, confessares que Jesus é Senhor, e creres em teu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo!4

10 Porque com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confi ssão para a salvação.11 Conforme diz a Escritura: “Todo o que nele crê jamais será decepcionado”.12 Portanto, não há distinção entre ju-deus e gentios, pois o mesmo Senhor é Senhor de todos e abençoa ricamente todos os que o invocam.13 Porque: “Todo aquele que invocar o Nome do Senhor será salvo!”5

14 Paulo combina alguns textos do profeta Isaías, extremamente respeitado pelos líderes religiosos dos judeus, para apelar aocoração e ao entendimento de Israel. Originalmente, o profeta falava do “remanescente fiel”, a esperança do futuro, incorporado pessoalmente no Messias da Casa de Davi. Essa passagem constituiu-se num testimonium, que era o uso apologético depassagens do AT, pelos discípulos do Senhor na igreja primitiva, a fim de defenderem o messianato de Cristo e ensinar que só afé em Jesus leva à salvação (Is 28.16 com Is 8.14).

Capítulo 101 Paulo volta ao principal tema da sua carta: revelar os dois caminhos da justiça. Um por meio das obras da Lei, numa busca

incansável e insuficiente pela justiça como fruto do esforço próprio. Ou outro, defendido e ensinado pelo apóstolo: o caminho da justificação pela fé no Cristo ressurreto, o Messias prometido. Paulo tinha o hábito de orar muito pelas igrejas (Ef 1.15-23; Cl 1.3;1Ts 1.2,3; 2Ts 1.3). Entretanto, nesse momento, está suplicando pela salvação de seus compatriotas judeus.

2 Não basta ser extremamente zeloso quanto ao cumprimento das leis divinas, nem realizar todo tipo de sacrifício em nomede Deus. O mais importante é saber qual é o único e verdadeiro Caminho (Jesus) preparado por Deus para a salvação dahumanidade, qual a vontade de Deus (especialmente a revelada nas Escrituras), e como o próprio Deus deseja ser adorado eservido (em sinceridade de coração). Paulo, antes de ter sido convertido por Jesus, era apenas um judeu zeloso e fanático (At21.20; 22.3; Gl 1.14).

3 O vocábulo grego original telos, aqui traduzido por “fim”, tem um duplo sentido: por um lado, refere-se à “finalidade” ou ao “objetivo a ser conquistado”; e por outro, “término” ou “ponto final”. Jesus Cristo corresponde a ambos, porquanto Ele é o alvo da Lei (Gl 4.1-7), como também, o encerramento da Lei como maneira de conquistar a salvação e as bênçãos de Deus.

4 Essa é a mais antiga confissão de fé cristã (1Co 12.3), usada na igreja primitiva durante os batismos. A expressão “Jesus é o Senhor” leva em consideração a tradução do nome sagrado de Deus (e, portanto, impronunciável, segundo a lei judaica):Yahweh, do hebraico antigo, para o grego Kyrios, ou seja, “Senhor”. Forma usada mais de seis mil vezes na Septuaginta (atradução grega do AT hebraico). Ao conferir a Jesus este título, Paulo deixa muito claro que está atribuindo a Jesus toda adivindade de Deus. Sempre que as Escrituras se referem ao “coração” não se restringem ao centro das emoções e sentimentos,mas igualmente ao centro da razão e da vontade. Paulo, ainda, salienta uma outra doutrina de ouro do cristianismo: Jesusressuscitou dentre os mortos e permanece absolutamente vivo hoje e eternamente (Lv 18.5; Dt 30.12-14; 1Co 15.4,14,17; At2.31,32; 3.15; 4.10; 10.40).

5 É certo que Paulo, embora culto e abençoado com uma inteligência fora do comum, muito aprendeu com Pedro, um homem simples do povo, mas que caminhou com Deus. Paulo repete a citação de Pedro no Dia do Pentecostes (Jl 2.32, At2.21, Is 28.16).

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14 No entanto, como invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram falar? Ecomo ouvirão, se não há quem pregue?15 E como pregarão, se não forem en-viados? Como está escrito: “Como são maravilhosos os pés dos que anunciam boas novas!”6

Israel não tem como se escusar 16 Mesmo assim, nem todos os israelitasaceitaram o Evangelho; porquanto, decla-rou Isaías: “Senhor, quem acreditou emnossa mensagem?”17 Como conseqüência, a fé vem pelo ouvir as boas novas, e as boas novas vêm pela Palavra de Cristo.18 Mas, então, indago: Será que não ouviram? Evidente que sim: “Por toda a terra a sua voz ecoou, e as suas palavras até os confi ns do mundo”.7

19 Ora, questiono outra vez: Será que Israel não compreendeu a mensagem? Em primeiro lugar, Moisés proclamou: “Farei que tenham ciúmes de quem não é meu povo; Eu os provocarei à ira por meio de um povo sem entendimento”.8

20 E Isaías declarou com toda a ousadia: “Fui achado por aqueles que não me

procuravam; revelei-me àqueles que nãoperguntavam por mim”.21 Quanto a Israel, no entanto, afi rmou:“O tempo todo estendi as mãos a umpovo desobediente e rebelde”.9

Deus reservou os seus em Israel

11Indago, portanto: Acaso Deusrejeitou o seu povo? De forma

nenhuma! Ora, eu mesmo sou israelita,descendente de Abraão, da tribo de Ben-jamim.1

2 Deus não desprezou o seu povo, o qualde antemão conheceu. Ou não sabeis oque a Escritura diz sobre Elias? Comoele clamou a Deus contra Israel, segundoafi rma a Escritura: 3 “Senhor! Assassinaram os teus profetase destruíram os teus altares; e somente eupermaneci, e agora procuram matar-metambém”.4 Entretanto, que lhe declarou a respos-ta divina? “Reservei para mim sete milhomens que não dobraram os joelhosdiante de Baal!”5 Assim, pois, em nossos dias, há igual-mente um remanescente separado pelaeleição da graça.2

6 Porquanto, se é pela graça, já não o é

6 Paulo, usando uma seqüência de perguntas retóricas, demonstra que os judeus jamais poderão alegar que não tiveramuma chance justa, particular e clara de ouvir o Evangelho e aceitá-lo. Paulo usa uma linda e marcante analogia para revelar aimportância vital dos pregadores na transmissão da Mensagem de Cristo (as boas novas). A citação é extraída de Is 52.7, e serefere aos mensageiros quando trouxeram aos exilados as boas notícias da sua iminente soltura do cativeiro babilônico. Dessamesma forma, os pregadores do Evangelho são aqueles que trazem a maravilhosa mensagem de libertação e nova vida aosprisioneiros do império do pecado.

7 Paulo relembra um conhecido trecho das Escrituras, cantado em verso e prosa por todos os judeus, referente ao testemunho7

dos céus a respeito da glória e da soberania de Deus (Sl 19.2). Há um grande perigo em amar mais os mandamentos de Deusdo que o Deus dos mandamentos.

8 A citação que acompanha o raciocínio de Paulo (Dt 32.21) responde claramente a mais uma pergunta retórica de Paulo.Os gentios, considerados por todos os judeus como pessoas mal-educadas e sem sensibilidade espiritual, compreenderama Mensagem da Salvação e se regozijaram nela. Portanto, a conclusão paulina é: “se os gentios entenderam, vocês tinham aobrigação de ter entendido ainda melhor”.

9 A responsabilidade total pelo afastamento de Israel, como nação, de Deus é do próprio povo israelita (e por conseqüênciade todos os incrédulos). Pois não cumpriram a condição sine quae non de Deus: a fé pura e sincera. É um perigo ter fé na fé, emvez de fé no doador da fé: o Senhor (Is 65.1-2).

Capítulo 111 Deus jamais permitiu que todo Israel se afastasse dele. Sempre houve um remanescente fiel entre o povo judeu. Paulo e

algumas outras pessoas de fé, como ele, são a prova disto. Paulo era originário da tribo de Benjamim (Fp 3.5), tinha o mesmonome do primeiro rei de Israel que também fora benjamita: Saulo (Saul em aramaico – At 8.1-3; 9.1-17 e 13.21).l

2 Assim como nos antigos dias de Elias, em meio à apostasia generalizada, havia um remanescente de judeus crentes(piedosos). Entretanto, a base da existência desse grupo de fiéis não eram as boas obras que, sem dúvida, eles realizavam, masa graça de Deus. O amor ativo de Deus que planejou e ofereceu a Salvação à humanidade é a Graça revelada na eleição de Israel.O princípio da Graça livre, que parte do coração de Deus, corresponde à fé pela qual é apropriada (1Rs 19.10-18).

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mais pelas obras; caso fosse, a graça dei-xaria de ser graça.7 A que conclusão chegar? Israel não con-seguiu a bênção pela qual tanto buscava, mas os eleitos a receberam. Os demais foram endurecidos,3

8 como está escrito: “Deus lhes deu um espírito de entorpecimento, olhos para não enxergar e ouvidos para não escutar, até o presente dia”.9 E Davi afi rma: “Que a mesa deles se transforme em laço e armadilha, pedra de tropeço e em retribuição para eles.10 Escureçam-se os seus olhos, para que não consigam ver, e suas costas fi quem encurvadas para sempre”.4

Os gentios: ramos enxertados 11 Uma vez mais pergunto: Acaso trope-çaram para que fi cassem prostrados so-bre a terra? De forma alguma! Antes, pela sua transgressão veio a salvação para os gentios, para provocar ciúme em Israel. 12 Contudo, se a transgressão deles cons-titui-se em riqueza para o mundo, e o seu insucesso, fortuna para os gentios, quan-to mais signifi cará a sua plenitude!5

13 Agora estou falando a vós, gentios. Considerando que sou apóstolo dos gen-tios, exalto o meu ministério,

14 na expectativa de que, de alguma forma, possa instigar ciúme entre meus compatriotas a fi m de que alguns deles sejam salvos.15 Porque, se a rejeição deles signifi ca a reconciliação do mundo, o que será a sua aceitação, senão vida dentre os mortos?6

16 Se é santa uma parte da massa que é oferecida como as primícias dos frutos, a massa toda igualmente o é; se a raiz é santa, todos os ramos também o serão.7

17 E se alguns dos ramos foram po-dados, e, tu, sendo oliveira brava, foste enxertado entre outros, e agora partici-pas da mesma seiva que fl ui da oliveira cultivada,8

18 não te vanglories contra esses ramos. Porém, se o fi zeres, recorda-te, pois, quenão és tu que sustentas a raiz, mas, sim, a raiz a ti.9

19 Então, vós direis: “Os ramos foram cortados, para que eu fosse enxertado”.20 É verdade. Entretanto, eles foram po-

p q

dados por causa da incredulidade deles. Porém, tu, que permaneces fi rme pela fé, não te envaideças, mas teme.21 Porque, se Deus não poupou os pró-prios ramos naturais, de igual maneira não poupará a ti.22 Considera, portanto, a bondade e a

3 O maravilhoso princípio divino da eleição não foi anulado mesmo considerando que a maioria dos judeus rejeitou a pessoae a obra do Messias: Jesus Cristo (Is 6.8-10). O pequeno remanescente de fiéis continua vivo e representando o povo daaliança (v.25).

4 A expressão “entorpecimento” vem do grego katanuxis, e significava literalmente “picada venenosa” que resultava numadormecimento parcial ou total do corpo. Existe uma lei de causa e efeito no universo. Deus criou nossa mão e o fogo. Secolocarmos a mão no fogo, a lei de causa e efeito diz que ela se queimará. Se tentarmos colocá-la, Deus permitirá que ela sejaqueimada, ainda que possamos alegar que Deus a queimou (Dt 29.4; Is 29.10; Sl 69.22,23).

5 A “riqueza” refere-se à oferta da Salvação aos gentios, ainda que no plano divino ela venha dos judeus e para elesprimeiramente (Jo 4.22 com Rm 1.16). Os maravilhosos benefícios da Salvação já podem ser experimentados pelos gentioscrentes, os quais ficaram disponíveis devido à rejeição explícita dos judeus em relação ao Evangelho. Foi essa rejeição contumazque levou os apóstolos a oferecerem a bênção aos gentios (At 13.46-48; 18.6).

6 A “vida dentre os mortos” significa a ressurreição que coincidirá com a gloriosa segunda vinda de Jesus, o Messias.7 A primeira parte do versículo é uma alusão ao texto do AT (Nm 15.17-21). Parte da massa feita com os primeiros frutos da7

colheita (as primícias) era oferecida ao Senhor e, desse modo, ficava consagrada a massa toda. A santa raiz é uma referência àsolidariedade do povo israelita para com os patriarcas e homens de fé (Hb 11), ou com os judeus como Paulo que havia aceitadoJesus como o verdadeiro Messias prometido, o Unigênito Filho de Deus.

8 O procedimento usual de cultivo das oliveiras era enxertar um broto de oliveira cultivada em uma árvore silvestre ou comum(brava). Paulo, entretanto, constrói sua metáfora de maneira antinatural (vv.17-24), em referência ao enxerto de um ramo deoliveira brava (os gentios cristãos) na oliveira cultivada. Esse procedimento não é natural, nem lógico, mas é exatamente esse o ponto básico do ensino de Paulo: Deus agiu, sobrenaturalmente, segundo sua sabedoria e soberania (Ef 2.12). Jamais devemosdesprezar os judeus, pois é mais fácil Deus os recolocar na oliveira do que incluir um gentio numa primeira oportunidade (v.24).

9 A salvação dos cristãos gentios depende dos judeus, especialmente dos patriarcas. Por exemplo, a aliança com Abraão(Jo 4.22).

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severidade de Deus: severidade para com aqueles que caíram, mas bondade para contigo, desde que permaneças fi rme nabondade dele; do contrário, também tu serás excluído.10

23 E quanto a eles, caso não permaneçam na incredulidade, serão reconduzidos, porquanto Deus é poderoso para enxer-tá-los novamente.24 Afi nal de contas, se tu foste cortado de uma oliveira brava por natureza e, de forma sobrenatural, foste enxertado na oliveira cultivada, quanto mais serão enxertados os ramos naturais em sua própria oliveira?

O amor de Deus salvará Israel 25 Irmãos, não quero que ignoreis este mistério para que não sejais presunçosos: Israel experimentou um endurecimento em parte, até que chegue a plenitude dos gentios.11

26 E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: “Virá de Sião o redentor que desviará de Jacó a impiedade.12

27 E esta é a minha aliança com eles quando Eu remover os seus pecados”.28 Quanto ao Evangelho, eles são, na verda-de, inimigos por causa de vós; mas quantoà eleição, amados por causa dos patriarcas.

29 Porque os dons e o chamado de Deussão irrevogáveis.30 Pois, assim como vós antigamentefostes desobedientes a Deus, mas agoraalcançastes misericórdia em virtude dadesobediência deles,31 assim também estes, agora, torna-ram-se desobedientes, para tambémalcançarem misericórdia em virtude damisericórdia a vós demonstrada. 32 Porquanto Deus colocou todos de-baixo da desobediência, a fi m de usar demisericórdia para com todos.13

Hino de adoração a Deus 33 Ó profundidade da riqueza, da sabe-

ç

doria e do conhecimento de Deus! Quãoinsondáveis são os seus juízos, e quãoinescrutáveis os seus caminhos!34 Pois, quem conheceu a mente do Se-nhor? Quem se tornou seu conselheiro?35 Quem primeiro lhe deu alguma coisa,para que Ele lhe recompense?”36 Portanto dele, por Ele e para Ele sãotodas as coisas. A Ele seja a glória perpe-tuamente! Amém.14

A vida como culto espiritual

12Portanto, caros irmãos, rogo-vospelas misericórdias de Deus, que

10 A teologia bíblica deve levar em consideração a “bondade” e a “severidade” do Senhor. Uma doutrina que não aceita a“absoluta bondade divina” faz de Deus um tirano cruel e insensível. Se não levarmos em conta sua “justiça severa” o comparamosa um pai incapaz de educar seus filhos e lhes mostrar o Caminho (Jesus).

11 A palavra grega mysterion era usada pelas seitas e crenças que havia na época de Paulo. A expressão significa “revelação”ou “trazer à luz um conhecimento oculto”. Paulo faz uso dessa mesma expressão para comunicar claramente aos seus leitoresque o Espírito Santo estava “revelando” algo especial, da parte de Deus, que estivera obscurecido de todos, mas que agoradeveria ficar claro como o dia: a encarnação, morte vicária, ressurreição de Jesus Cristo, o Messias (16.25; 1Co 2.7; 4.1; 13.2;14.2; 15.51; Ef 1.9; 3.3-9; 5.32; 16.19; Cl 1.26,27; 2.2; 4.3; 2Ts 2.7; 1Tm 3.9,16). No NT, a perseverança é a prova da verdadeiraconversão (Mt 24.13).

12 Paulo deixa claro que a salvação do judeu – seja quantos forem e quando for – ocorrerá com base na mesma exigênciarequerida a qualquer indivíduo humano: fé sincera em Jesus Cristo crucificado e ressurreto dentre os mortos. Paulo cita Is 59.20acompanhando a antiga interpretação do Talmude, entendendo que o texto se refere ao Messias, e portanto, a Jesus (Gl 4.26; Is59.20,21; 27.9; Jr 31.33,34).

13 Deus revela toda a sua misericórdia sobre judeus e gentios indistintamente. Deus levou a humanidade a uma situação naqual não pode negar sua total culpa perante a lei divina estabelecida em todo o universo (Gl 3.22). O plano de Deus é convencero ser humano de sua absoluta culpa, condenação, incapacidade pessoal de salvação, necessidade premente de arrependimentoe fé em Cristo para obter a Salvação eterna, o grande propósito de Deus desde a Queda da humanidade (Gn 3). O universalismoque vemos aqui, na expressão “...misericórdia para com todos”, é escatológico, representativo e não absoluto. Tem o sentido de“sem distinção”, mas não de “sem exceção”.

14 O termo “profundidade” (v. 33) é usado no sentido de sua inexaurível plenitude. A sabedoria de Deus é inesgotável e nãopode ser compreendida completamente pelo ser humano, mas podemos sentir as bênçãos do seu amor prático e igualmenteinterminável. Paulo descreve os atributos de Deus em sua doxologia apostólica (verso ou hino de louvor a Deus que encerrava

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apresenteis o vosso corpo como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto espiritual.1

2 E não vos amoldeis ao sistema deste mundo, mas sede transformados pela renovação das vossas mentes, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.2

Como servir por meio dos dons3 Porquanto, pela graça que me foi concedida, exorto a cada um dentre vós que não considere a si mesmos além do que convém; mas, ao contrário, tenha uma auto-imagem equilibrada, de acordo com a medida da fé que Deus lhe proporcionou.4 Pois assim como em um corpo temos muitos membros, e todos os membros não têm a mesma função,5 assim também nós, embora muitos,

somos um só corpo em Cristo, e cada membro está ligado a todos os outros.6 Temos diferentes dons, de acordo com a graça que nos foi dada. Se alguém tem o dom de profetizar, use-o na proporção da sua fé.3

7 Se o teu dom é servir, sirva; se é ensinar, ensina;8 se é encorajar, aja como encorajador; o que contribui, coopere com generosida-de; se é exercer liderança, que a ministre com zelo; se é demonstrar misericórdia, que a realize com alegria.4

O amor é a base dos dons9 O amor seja sem qualquer fi ngimento. Odiai, sim, o mal e apegai-vos ao bem.5

10 Amai-vos dedicadamente uns aos ou-tros com amor fraternal. Preferindo dar honra a outras pessoas, mais do que a si próprios.

sermões e obras de literatura cristã): 1) Na riqueza de sua sabedoria, Ele concebeu o plano da justificação pela fé em Cristo, a sua própria pessoa encarnada em Jesus de Nazaré, incluindo todos os povos do mundo e não apenas os judeus da aliança;2) Judeus e gentios estão condenados, mas podem receber a graça da Salvação pela fé em Cristo; 3) Deus é a fonte (dEle),o veículo, a mídia (por meio dEle) e o fim, tanto em relação ao propósito quanto ao encerramento da história (para Ele), deabsolutamente tudo o que há no universo.

Capítulo 121 A partir desse momento, até o final desta epístola apostólica, Paulo vai apresentar uma série de aplicações práticas à teologia ex-

planada de 1 a 11. Segundo Paulo, a fé sincera e verdadeira em Jesus Cristo manifesta-se na obediência amorosa e dedicada à SuaPalavra. Jesus foi o último e suficiente sacrifício, e pagou todo o pecado humano diante da Lei de Deus, concedendo ao crente livreacesso à presença do Pai. De Cristo em diante, os sacrifícios passaram a ser prestados no templo do corpo humano, no santo dossantos do coração, onde habita o Espírito Santo. Como toda doutrina tem seu lado prático, o ensino de Paulo vem acompanhadode exortações éticas muito semelhantes ao ensino de Cristo nos quatro evangelhos, principalmente no conhecido Sermão do Monte(Jo 13.17; Mt 5 a 7). Paulo usa a palavra grega parastesai, a qual já havia usado em 6.13-19, com o sentido de “apresentação”, “de-dicação”, “oferta”. Temos aqui uma descrição mais abrangente das virtudes proporcionadas pela ação do Espírito Santo à vida doscristãos sinceros. Paulo ainda esclarece que o culto prestado pelos cristãos é diferente do culto meramente cerimonial prestado notemplo em Jerusalém. Ao usar o termo grego logikos, Paulo caracteriza o culto cristão como sendo uma atitude pessoal e diária dedevoção, adoração e serviço a Deus e aos semelhantes. A expressão logikos confere ao culto a qualidade de “espiritual e autêntico”,algo um tanto diferente da expressão “racional” publicada por algumas versões (1Pe 2.2).

2 Paulo adverte que o cristão não deve “tomar a forma” deste sistema mundial com suas concepções de sucesso e glória;maldades e corrupções (Gl 1.4) mas, permitirmos que uma “transformação” se processe em nossa vida. Essa expressão,nos originais, só aparece nas narrativas sobre a “transfiguração” de Cristo (Mt 17.2; Mc 9.2) e em 2Co 3.18, que é um ótimocomentário desta passagem. Os cristãos devem viver no presente século (em grego aiõn) com a perspectiva da “era de Cristo”,época em que estaremos com Cristo por ocasião de seu glorioso retorno. Assim, devemos viver aqui e agora como cidadãos do céu e herdeiros do Reino, no mundo vindouro (1Co 1.20; 2.6; 3.18; 2Co 4.4).

3 Com o novo nascimento, Deus presenteia a cada um de seus filhos com, pelo menos, uma capacidade espiritual com a qual ocristão passará a abençoar seus irmãos na fé e todas as demais pessoas à sua volta. A palavra grega usada nos manuscritos gregosoriginais para descrever os dons especiais da graça é charismata (1Co 1.7; 12.4-28; Ef 4.11; At 20.17; 1Ts 5.12; 1Tm 5.17).

4 Paulo faz uma analogia entre os membros do corpo humano e os membros do Corpo de Cristo (a Igreja), para mostrar aimportância de todos no funcionamento saudável e feliz do corpo. Cada membro tem uma função vital e a deve exercer a favor da unidade e bem-estar do grupo. A ênfase recai sobre a unanimidade em meio à diversidade (1Co 12.12-31). Como o poder provémde Deus, não é admissível que um cristão, membro do Corpo, tome atitudes de superioridade, orgulho pessoal ou de justiça aos seus próprios olhos. A humildade sincera deve nortear todos os relacionamentos. Ouvir e refletir antes de falar e agir.

5 O amor é um dom de Deus, que por meio do Espírito Santo, capacita o cristão a expressá-lo de forma prática e adequada,funcionando como suporte para o exercício de todos os demais dons e manifestações do próprio Espírito. Só uma mente re-

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11 Não sejais descuidados do zelo; sede fervorosos no espírito. Servi ao Senhor.12 Alegrai-vos na esperança, sede pacien-tes na tribulação, perseverai na oração.6

13 Cooperai com os santos nas suas ne-cessidades. Praticai a hospitalidade. 14 Abençoai os que vos perseguem; aben-çoai, e não amaldiçoeis.7

15 Alegrai-vos com os que se alegram; chorai com os que pranteiam.16 Vivei em concórdia entre vós. Não se-jais arrogantes, mas adotai um compor-tamento humilde para com todos. Não sejais sábios aos vossos próprios olhos.17 A ninguém devolvei mal por mal. Procurai proceder corretamente diante de todas as pessoas.8

18 Empreendei todos os esforços para viver em paz com todos. 19 Amados, jamais procurai vingar-vos a vós mesmos, mas entregai a ira a Deus, pois está escrito: “Minha é a vingança! Eu retribuirei”, declarou o Senhor.

20 Ao contrário: “Se o teu inimigo tiverfome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhede beber; porquanto agindo assim amon-toarás brasas vivas sobre a cabeça dele. 21 Jamais te entregues ao mal como ven-cido, mas vence o mal com o bem!9

Respeito à lei e às autoridades

13Todos devem sujeitar-se às autori-dades superiores; porquanto, não,

há autoridade que não venha de Deus;e as que existem foram ordenadas porEle.1

2 Portanto, quem se recusa a submeter-seà autoridade está se colocando contra oque Deus instituiu, e aqueles que assimprocedem trazem condenação sobre simesmos.3 Porque os governantes não podem sermotivo de temor para os que praticam obem, mas para os que fazem o mal. Nãoqueres sentir-se ameaçado pela autorida-de? Faze o bem, e ela o honrará.

novada por Cristo consegue amar dessa forma. Por ser esse o maior e mais lindo cartão de visitas que um cristão e uma igrejapossam apresentar ao mundo perdido, Satanás não se cansará de atacar essa área na vida pessoal de cada crente e de suacomunidade (Fp 2.3).

6 O cristão tem em seu coração um tipo de esperança totalmente diferente de todas as demais esperanças. É a “esperança comcerteza” da companhia e redenção de Cristo em sua vida, fato que produz a alegria do salvo (5.5; 8.16-25; 1Pe 1.3-9). Devemosperseverar com coragem e certeza da vitória, porquanto a aflição (especialmente para o cristão nesse mundo) é uma experiênciainevitável (Jo 16.33). Por isso, o crente deve “viver em oração”, ou seja, “viver conversando com Deus em seu íntimo”, sem anecessidade de rezas ou mantras repetitivos. Não somente em tempos difíceis, mas diariamente a fim de manter comunhão comDeus mediante a oração (Lc 18.1; 1Ts 5.17).

7 Paulo está ecoando os ensinos de Jesus Cristo nos evangelhos (Mt 5.39-45; Lc 6.28; 1Ts 5.15; 1Pe 3.9). O cristão tem respon-7

sabilidades sociais para com todo o mundo, especialmente com os irmãos de fé (Gl 6.10). 8 Paulo reflete sobre um antigo conceito citado em Pv 3.3-4 na Septuaginta (o AT em grego). O caráter e o comportamento

do cristão nunca deve estar abaixo dos altos padrões morais e éticos dos evangelhos; de outra forma, provocará o desdém e azombaria dos incrédulos, prejudicando a boa reputação do Evangelho (2Co 8.21; 1Tm 3.7).

9 É tão difícil viver em paz com nossos semelhantes, que Jesus impetrou uma bênção especial sobre esses heróis (Mt 5.9). Porisso, no que depender do cristão – ainda que com certos prejuízos – ele deve buscar a paz com todos. Fazer um bem a um inimigotem o efeito sobrenatural de depositar brasas incandescentes sobre sua mente e coração, além de aplacar o natural desejo devingança e – em muitos casos – poder comunicar de maneira prática e eficaz o Caminho da Salvação (Pv 25.22). Sem dúvida,a melhor maneira de demonstrar nosso amor por um inimigo é torná-lo num amigo (Mt 5.44). Foi assim que Deus agiu com ahumanidade ao enviar seu Filho para nos salvar (Jo 3.16-17).

Capítulo 131 O Império Romano reconheceu o cristianismo como uma seita do judaísmo cerca de uma geração após a morte de Cristo. O ju-

daísmo gozava de certos privilégios éticos e jurídicos por haver sido considerada religio licita pelo dominador romano (At 18.12-17).Paulo, observando que grande parte das autoridades era, ainda, pagã, preocupou-se em deixar uma instrução escrita para nortearas relações entre os crentes e as autoridades governamentais. Paulo é claro em declarar que os cristãos devem obedecer às leis doEstado e viver de maneira respeitável e honesta, inclusive como forma de testemunhar seu amor fraterno a Cristo e ao próximo. Aindaque as autoridades não sejam cristãs, o crente lhes deve respeito e submissão, pois não pode existir qualquer autoridade que Deusnão lhe tenha permitido tal poder (Jo 19.10-11). Todo governo humano é estabelecido por ordenança divina, e os cristãos, mais doque todos, devem obedecer às leis, pagar seus impostos e respeitar todas as pessoas em posição de autoridade (v.7 com Mc 12.17).A única exceção é quando uma autoridade for francamente contrária à consciência cristã. Embora esse assunto não seja tratadoaqui, quando a decisão for obedecer a Deus ou ao Estado, a Palavra é clara em nos orientar a optar sempre pela obediência ao Es-pírito Santo (At 4.19 e 5.29 com Mc 12.17). Qualquer Estado só pode exigir obediência dentro dos limites pelos quais foi instituído.

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4 Pois ela serve a Deus para o teu bem. Mas, se fi zerdes o mal, teme, pois não é sem razão que traz a espada. É serva de

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Deus, agente da justiça para punir quem pratica o mal.2

5 Portanto, é imprescindível que se-jamos submissos às autoridades, não apenas devido à possibilidade de uma punição, mas também por causa da consciência.6 Por esta razão, igualmente pagais impos-tos; porque as autoridades estão a serviçode Deus, e seu trabalho é zelar continua-mente pela sociedade.7 Dai a cada um o que lhe é devido: se imposto, imposto; se tributo, tributo; se temor, temor; se honra, honra.

O amor no mundo agonizante8 A ninguém fi queis devendo coisa al-guma, a não ser o amor fraterno, com que deveis vos amar uns aos outros, pois aquele que ama seu próximo tem cum-prido a Lei.3

9 Porquanto os mandamentos: “Nãoadulterarás”, “Não matarás”, “Não furta-rás”, “Não cobiçaras”, bem como qualquer

outro preceito, todos se resumem neste mandamento: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.410 O amor não faz o mal contra o próxi-mo. Portanto, o amor é o cumprimentoda Lei. 11 Fazei desta maneira, discernindo o tempo em que vivemos. Pois que já é hora de despertardes do sono; porque agora a nossa salvação está mais próxima do que quando cremos.5

12 A noite vai passando e chegando ao seu fi nal; o dia logo alvorecerá. Portanto,abandonemos as obras das trevas, e re-vistamo-nos da armadura da luz.13 Vivamos de modo decente, como em plena luz do dia, não em orgias e bebe-deiras, não em imoralidade sexual e de-pravação, não em desavenças e invejas.14 Ao contrário, revesti-vos do Senhor Jesus Cristo; e não fi queis idealizando como satisfazer os desejos da carne.6

Convicção e tolerância cristãs

14Aceitai o que é fraco na fé, sem a preocupação de debater assuntos

controvertidos.1

2 Na ordem da providência e soberania divinas, a autoridade é serva de Deus, ainda que não se aperceba dessa verdade (Is 45.1). Os governos e as autoridades foram instituídos por Deus para proteger o povo em geral, especialmente os mais fracos epobres, mantendo a ordem. A espada sempre foi um símbolo da autoridade romana nos âmbitos nacional e internacional. Essaé uma passagem que nos ensina o princípio de empregar a força, quando for necessária, a fim de manter a ordem e protegeros cidadãos de bem.

3 Paulo não está ensinando que os cristãos não possam pedir algo emprestado. Ele está enfatizando que não devolver oque se pediu emprestado, não cumprir corretamente com a palavra empenhada ou com um contrato firmado é expressamentecontra a vontade de Deus. Entretanto, devemos sempre nos sentir devedores de amor fraterno para com nossos semelhantes e,especialmente, em relação aos irmãos de fé, isto é, devemos amar sempre, sob todas as circunstâncias, e estarmos prontos atransformar esse sentimento em ajuda prática e eficaz (12.10).

4 Jesus nos ensinou que o nosso próximo é qualquer pessoa necessitada, independentemente de raça, cor, sexo, educação,religião ou classe social (Lc 10.25-37). Devemos buscar o maior e o melhor dos dons: o amor fraterno (1Co 13.13) – o maisimportante dos mandamentos (Êx 20.13-17; Dt 5.17-21; Lv 19.18).

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5 Nessa parte das Escrituras, bem como em outros trechos do NT, a chegada garantida do final dos tempos (da presente era)deve ser compreendida, sobretudo, como uma “profecia motivadora”, no sentido de nos deixarmos aperfeiçoar pelo EspíritoSanto e testemunharmos ao mundo tudo o que Jesus Cristo é capaz de realizar no interior do ser humano (Mt 25.31-46; Mc 13.33-37; Tg 5.7-11; 2Pe 3.11-14). Vivemos numa época sui generis, pois estamos no “tempo da Salvação” ou “época da Graça”. Umtempo que antecede a consumação do Reino com a volta gloriosa de Cristo, quando haverá a plena realização da nossa salvação(8.23; Hb 9.28; 1Pe 1.5). E, a cada dia que passa, chegamos mais perto da volta triunfante de Cristo. A noite passando, simbolizaa atual era de perversidade que à medida que se intensifica, mais se aproxima do “dia claro”. Uma citação clássica do ensinoneotestamentário sobre o iminente final dos tempos (Mt 24.33; 1Co 7.29; Fp 4.5; Tg 5.8,9; 1Pe 4.7; 1Jo 2.18).

6 Paulo exorta os crentes a demonstrar ao mundo o milagre que já se realizou no seu íntimo, incluindo a prática de todas asvirtudes associadas à presença atuante do Espírito de Cristo em seus corações. A Igreja de Cristo é a mais poderosa força sobre a face da terra, e seus membros deveriam se portar como embaixadores do Rei: com humildade, honestidade, sinceridade e amorfraterno em profusão. Esse é o verdadeiro poder do Espírito em ação.

Capítulo 141 Paulo era um cristão espiritualmente emancipado, tanto da tradicional observância da Lei quanto do legalismo judaico-cristão

de sua época. Muitos cristãos judeus que viviam em Roma ainda não estavam dispostos a abrir mão de certas doutrinas da

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2 Um crê que pode comer de tudo, e ou-tro, cuja fé é fraca, come somente alimen-tos vegetais.2

3 Aquele que come de tudo não deve me-nosprezar o que não come, e quem não come de tudo não deve condenar quem come; pois Deus o aceitou. 4 Quem és tu, que julgas o servo alheio? É para o seu senhor que ele está em pé ou

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cai. E permanecerá em pé, porquanto o Senhor é capaz de o sustentar. 5 Há quem considere um dia mais sagra-do do que outro; outra pessoa pode en-tender que todos os dias são iguais. Cada um deve estar absolutamente convicto em sua própria mente.6 Aquele que guarda um dia especial, para o Senhor assim o considera. Aquele que se alimenta de carne, o faz para o Senhor, pois dá graças a Deus; e aquele que se abstém, para o Senhor se priva, e também dá graças a Deus.3

7 Porque nenhum de nós vive exclusiva-mente para si, e nenhum de nós morre apenas para si mesmo.8 Se vivemos, para o Senhor vivemos; e,

se morremos, é para o Senhor que mor-remos. Sendo assim, quer vivamos oumorramos, pertencemos ao Senhor.9 Porquanto foi por este motivo queCristo morreu e voltou a viver, paraser Senhor tanto de vivos quanto demortos.10 Mas, tu, por que julgas teu irmão?Ou tu, igualmente, por que desprezasteu irmão? Pois todos compareceremosdiante do tribunal de Deus.4

11 Porquanto está escrito: “Por mim mes-mo jurei, diz o Senhor, diante de mimtodo o joelho se dobrará e toda línguaconfessará que Eu Sou Deus”.12 Deste modo, cada um de nós prestarácontas de si mesmo a Deus.

Motivo de louvor, não de tropeço13 Portanto, abandonemos o costume de julgar uns aos outros. Em vez disso, apliquemos nosso coração em não co-locarmos qualquer pedra de tropeço ou obstáculo no caminho do irmão. 14 Como uma pessoa que está no SenhorJesus, tenho plena convicção de que ne-

tradição e exigências do judaísmo: as restrições alimentares, a guarda do sábado com todos os rituais envolvidos e a celebraçãode dias especiais com jejuns e oráculos. Esses cristãos judeus e romanos não eram heréticos, como os judaizantes da Galácia,mas tinham dificuldade em compreender os mandamentos do AT à luz do Evangelho e o início na Nova Aliança, inauguradacom a morte e ressurreição de Jesus Cristo. A esses cristãos, intransigentes e críticos em relação aos cristãos que estavamdesfrutando abundantemente da Graça, Paulo os chamou de “fracos na fé”, e ensinou a todos nós que o cristão maduro tem umafé robusta e um coração amoroso para com todos os seus irmãos. Os cristãos não são exortados à plena unanimidade teológica,mas à pratica da tolerância e do respeito, orando para que o Espírito Santo ilumine a todos.

2 O cristão “forte” é aquele cuja maturidade espiritual lhe permite a convicção de que a dieta alimentar é um assunto secundárioem relação ao verdadeiro e profundo compromisso de fé com o Espírito de Deus e à proclamação do Evangelho. Entretanto,um cristão jamais deve rejeitar qualquer outra pessoa que se identifica como cristão. Detalhes doutrinários e aspectos culturais,raciais e lingüísticos devem contribuir para o crescimento espiritual dos crentes e a evangelização do mundo, e não para a difusãode questiúnculas, batalhas teológicas inócuas, divisões e tropeços fatais no caminho da fé. O cristão “fraco” não é senhor doseu irmão “forte”, nem vice-versa. Todos os cristãos são servos do mesmo Senhor e somente a Deus cada crente deve prestarcontas. A palavra grega original usada nessa passagem para descrever o “servo” é oiketes, “doméstico”, e não doulos, “escravo”(Mt 7.1; Lc 6.37; 1Co 4.3).

3 Paulo faz referência a todos os dias especiais da chamada “lei cerimonial” dos judeus. Para o cristão, todos os dias devemser consagrados ao Senhor por meio de um viver santo e serviço piedoso. A motivação das atitudes tanto de “fortes” quanto de“fracos” deve ser exatamente a mesma: profundo desejo de adorar e servir a Deus com um coração agradecido por tudo o queo Pai supre e nos permite passar.

4 A expressão grega bema era usada na época de Paulo para designar o palco onde os juízes se posicionavam parajulgar e premiar os atletas olímpicos. Assim será na volta de Cristo, os cristãos (os atletas espirituais) receberão suas coroas(recompensas) em função das obras que realizaram na terra por amor a Cristo e a seus próximos. Não confundir com o Juízodos incrédulos, esses serão julgados para a condenação eterna, pois não aceitaram a justificação em Cristo. Assim como oscompetidores olímpicos não tinham o direito de julgar a si mesmos nem a seus colegas, os cristãos não têm o direito de julgaruns aos outros quanto à forma de expressar a fé. Paulo pergunta aos “fracos”: “Por que julgas teu irmão?” Mas também indagaaos “fortes”: “Por que desprezas teu irmão?” Ora, todos nós, compareceremos perante o trono de Cristo e daremos conta denossas boas obras (2Co 5.10; 1Co 3.10-15).

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nhum alimento é por si mesmo ritual-mente impuro, a não ser para aquele que assim o considera; para esse é impuro.5

15 Se o teu irmão se entristece por causa do que tu comes, já não estás agindo por amor fraterno. Não destruas teu irmão por conta da tua comida, pois Cristo morreu também por ele.6

16 Aquilo que é bom para vós não se tor-ne motivo de maledicência. 17 Porquanto o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo;7

18 Pois quem serve a Cristo desta forma é agradável a Deus e estimado por todas as pessoas.19 Por isso, esforcemo-nos em promover tudo quanto conduz à paz e ao aperfei-çoamento mútuo. 20 Não destruas a obra de Deus por causa de comida. Na verdade, todo alimento é puro, mas se torna um mal se alguém vir nisso um motivo de escândalo. 21 É melhor não comer carne, nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa que leve teu irmão a tropeçar.

22 Assim, seja qual for tua doutrina a respeito destes assuntos, guarda-a com convicção entre ti mesmo e Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena naquilo que aprova.23 Todavia, aquele que tem dúvida é con-denado se comer, pois não come com fé; e tudo o que não provém da fé é pecado!

Devemos viver em concórdia

15Nós, que somos fortes, temos o dever de suportar as fraquezas

dos fracos, em vez de agradar a nós mesmos.1

2 Portanto, cada um de nós deve agradar ao próximo, visando o que é bom para o aperfeiçoamento dele.3 Pois também Cristo não agradou a si próprio, mas, como está escrito: “Os in-sultos daqueles que te ofenderam caíram sobre mim”.2

4 Porquanto tudo o que foi escrito no pas-sado, foi escrito para nos ensinar, de forma que, por meio da perseverança e do bom ânimo provenientes das Escrituras, man-tenhamos fi rme a nossa esperança.3

5 Paulo, agora crente, e ecoando as palavras de Jesus (Mc 7.14-23), demonstra que entende o que se passa no coração deum judeu tradicional e religioso. Mas afirma, com toda segurança, que os antigos tabus sobre alimentação, cerimônias e diasespeciais já não se aplicam à Nova Aliança em Cristo, o Messias (Mt 15.10-20; 1Tm 4.4; Tt 1.15). Paulo não está dizendo que opecado é uma questão de opinião pessoal ou consciência subjetiva. As Escrituras e o Espírito Santo são claros ao nos apontaro que é pecado. Paulo está se referindo ao procedimento mediante o qual os cristãos podem divergir legitimamente, como porexemplo, se o crente fiel deve seguir alguma espécie de dieta alimentar específica ou não. Esse é o tipo de assunto decididolivremente por cada cristão, em seu coração, mediante sua fé, em oração diante do Senhor.

6 A maneira mais sábia de se resolver os conflitos (grandes ou pequenos) quanto à expressão da fé e a liberdade cristã é agir com amor. Cristo deu tanto valor ao “fraco” que decidiu morrer por ele. Certamente, o cristão “forte espiritualmente” poderáfazer o sacrifício de aceitar pacientemente seu irmão como ele é, na expectativa de que o Espírito Santo, ao seu tempo, façaa Sua obra.

7 Paulo novamente evoca as palavras de Jesus no Sermão do Monte (Mt 5.6-12) para enfatizar que a proposta do Reino de Deus7

não é comida, nem bebida, ou qualquer outro assunto trivial. Entretanto, o interesse de Paulo pela dimensão moral e ética da vidacristã se destaca em todas as suas cartas. O cristão que aprende a viver de forma consagrada a Deus, dedicado a cooperar com seus próximos e sem legalismo, experimenta grande paz e alegria produzidas pelo Espírito Santo em seu interior.

Capítulo 151 Paulo se identifica com os cristãos “fortes”, aqueles cujas convicções bíblicas em Cristo lhes permite mais liberdade que os

“fracos”. A expressão “suportar” não significa apenas “tolerar”, mas sustentar com amor fraterno e compreensivo. Neste sentido, “as fraquezas” não se referem a pecados, mas a procedimentos e expressões de fé para as quais não há uma orientação clara eobjetiva nas Escrituras. Antes de o crente pensar em agradar a si mesmo, deve prestar atenção e cooperação às necessidadesdos mais fracos ao seu redor.

2 Jesus Cristo veio para cumprir a vontade do Pai, não a sua. Ele assumiu de tal forma a vontade do Pai que, algumas vezes, somos levados a pensar que tudo o que ele fez, o fez por sua própria disposição. Sua missão incluiu muito sofrimento,condenação indevida e até a própria morte sob tortura (Mt 20.28; Mc 10.45; 1Co 10.33 – 11.1; 2Co 8.9; Fp 2.5-8). Ao citar o Sl69.9, Paulo refere-se a Deus (“te”) e identifica o “sofredor justo” com Cristo (“mim”), pois, voluntariamente, tomou sobre si osimpropérios lançados contra Deus.

3 Ao explicar a aplicação que faz do Sl 69.9, Paulo nos alerta para o fato de que as Escrituras (AT e NT) foram oferecidas à hu-

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5 Que Deus, que nos concede perseve-rança e encorajamento, dê-lhes tambéma disposição de pensar unanimemente de acordo com Cristo Jesus.4

6 Para que com uma mesma convicção e a uma só voz glorifi queis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.7 Portanto, acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo nos aceitou, para a glória de Deus.8 Afi rmo, pois, que Cristo se tornou ser-vo dos que são da circuncisão, por amor à verdade de Deus, a fi m de confi rmar as promessas feitas aos patriarcas;5

9 e para que também os gentios glorifi -quem a Deus por sua misericórdia, comoestá escrito: “Por isso, eu te glorifi careientre os gentios e cantarei louvores aoteu Nome”.6

10 E diz ainda: “Alegrai-vos, gentios, jun-tamente com o seu povo”.11 E mais: “Louvai ao Senhor, todos os gentios, e louvem-no todos os povos”.12 E Isaías, enfatizando, declara: “Bro-tará da raiz de Jessé, aquele que se levantará para reinar sobre os gentios; nele os gentios depositarão toda a sua esperança”.7

13 Portanto, que o Deus da esperança vosabençoe plenamente com toda a alegria epaz, à medida da vossa fé nele, para quetransbordeis de esperança, pelo poder doEspírito Santo.

Paulo, apóstolo para os gentios14 Caros irmãos, eu estou pessoalmenteconvencido de que já estais cheios debondade e plenamente supridos de todaa sabedoria, sendo, vós mesmos, capazesde orientar-vos uns aos outros. 15 Contudo, a respeito de alguns assun-tos, vos escrevi com toda a franqueza,especialmente com a intenção de tra-zê-los uma vez mais à vossa memória,e isso, por causa da graça que Deus meconcedeu,16 de ser um ministro de Cristo Jesuspara os gentios, com o dever sacerdotalde proclamar o Evangelho de Deus, paraque os gentios se tornem uma ofertaaceitável a Deus, santifi cados pelo Espí-rito Santo.8

17 Tenho, portanto, razão para me or-gulhar no Messias Jesus, no serviço quepresto a Deus;18 Porque não ousaria falar de assunto

manidade, e, especialmente aos crentes, para nossa instrução e esclarecimento na fé. Ao perseverarmos com paciência, somosencorajados a mantermos nossa plena confiança (fé) em Jesus Cristo, o Messias (1Co 10.6-11).

4 A disposição de pensar concordemente significa buscar “um mesmo sentir” (a unidade). Não há possibilidade de todos oscrentes pensarem de igual modo, mas é possível – em Cristo – que concordemos em tratar com fraternidade, tolerância e respeitotodas as nossas diferenças. Devemos pensar e tratar os outros, especialmente aos irmãos, indiscriminadamente, da mesmamaneira como Cristo fez conosco (Fp 2.5-8).

5 Jesus Cristo foi enviado por Deus à Terra para salvar prioritariamente aos judeus, conforme as promessas feitas aos patriarcasAbraão, Isaque, Jacó (Gn 12.1-3; 17.7; 18.19; 22.18; 26.3,4; 28.13-15; 46.2-4). E Jesus limitou o quanto possível seu ministérioao povo de Deus (Mt 15.24). Entretanto, após a violenta rejeição dos judeus à pessoa de Deus em Jesus, o Messias, as portasda Salvação, mediante a Graça do Senhor, abriram-se para todos os povos em todo o mundo. A morte e a ressurreição do Filhode Deus resultou em bênção a todo gentio que crer no sacrifício vicário do Senhor, o que também confirmou as profecias dasEscrituras sobre a oportunidade de salvação de todos os povos da terra.

6 A obra remidora de Deus, em Israel e a favor dos seus descendentes, sempre vislumbrou a salvação dos gentios (Gn 12.3).Todos os povos do mundo, ao observarem as realizações poderosas e misericordiosas do Deus de Israel em benefício do seupovo, buscariam adorar e servir a esse Deus único e maravilhoso. Os louvores de Israel a Deus seriam ouvidos por toda a terra(Sl 9.1; 18.49; 46.10; 47.9).

7 Jessé foi o pai de Davi (1Sm 16.5-13; Mt 1.6), e o Messias profetizado era chamado de “Filho de Davi” (Mt 21.9 com Is 11.1-107

e Ap 5.5). A busca dos gentios por Cristo, realizada pela igreja primitiva – notadamente por Paulo, é o cumprimento dessa profe-cia, cuja obra se perpetua por meio das contínuas ações evangelizadoras e missionárias da Igreja até os dias de hoje.

8 Paulo usa aqui a mesma linguagem dos antigos sacerdotes judeus para comunicar uma vez mais a perfeita aceitação dosgentios crentes como filhos de Deus. A palavra “ministro” (em grego leitourgos). No NT, essa expressão sempre denota “serviçoreligioso” (liturgia) e, algumas vezes, “serviço sacerdotal” (Em Hb 8.2, por exemplo, Cristo é o valoroso leitourgos do santuário).A proclamação do Evangelho é “serviço sacerdotal” (nos manuscritos gregos hierourgeo). Os cristãos gentios são a ofertaaceitável a Deus, santificada (quer dizer “limpa”, e não “imunda”, como alegavam os judaizantes) pelo próprio Espírito de Deus(At 15.8-11).

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algum senão expressamente daquilo que Cristo tem realizado por meu intermé-dio em palavras e ações, com o objetivo de conduzir os gentios a obedecerem a Deus, 19 pelo poder de sinais e maravilhas e por meio do poder do Espírito Santo; de modo que desde Jerusalém e arredores, até Ilírico, tenho proclamado plenamen-te o Evangelho de Cristo.9

20 Sempre fi z questão de pregar o Evangelho onde Cristo ainda não era conhecido, de forma que não estivesse edifi cando sobre um alicerce elaborado por outra pessoa.21 Entretanto, como está escrito: “Aqueles a quem não foi proclamado, o verão; e os que ainda não haviam ouvido, compre-enderão”.22 É por esse motivo que muitas vezes fui impedido de chegar até vós.

Paulo quer ver os irmãos em Roma23 Contudo, agora não tenho mais o que me detenha nessas regiões, e tenho já há muitos anos grande desejo de visi-tar-vos, 24 planejo fazê-lo quando for à Espanha. Espero visitá-los de passagem e por vós ser encaminhado à Espanha, logo após haver desfrutado um pouco da vossa comunhão. 25 Nesse momento, todavia, estou ru-mando para Jerusalém, a serviço dos santos.26 Porquanto pareceu bem às igrejas da Macedônia e da Acaia levantar uma oferta fraternal para os pobres dentre os santos de Jerusalém.27 Tiveram grande alegria nessa assistên-

cia, e de fato são devedores aos santos de Jerusalém. Pois, se os gentios participa-ram das bênçãos espirituais dos judeus, devem igualmente servir aos judeus com seus bens materiais. 28 Assim, havendo concluído essa missão, e me certifi cado de que receberam esse fruto, partirei para a Espanha, passando para visitá-los.29 E bem sei que, quando for visitar-vos, irei sob a plenitude da bênção deCristo.30 Rogo-vos, irmãos, por nosso Senhor Jesus e pelo amor do Espírito, que luteis juntamente comigo por meio das vossas orações a meu favor diante de Deus,31 para que eu me livre dos descrentes da Judéia e que a ministração que desejo realizar em Jerusalém seja bem recebida pelos santos, 32 de maneira que, pela vontade de Deus, eu vos possa visitar com alegria e em vossa companhia desfrute de um perío-do para recuperar as forças.33 Que o Deus de paz seja com todos vós. Amém.

Saudações e recomendações

16Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que é diaconisa na igreja de

Cencréia.1

2 Peço que a recebais no Senhor, de modo digno como os santos devem ser recebidos e a ajudeis em tudo o que ve-nha a necessitar, porquanto ela tem pres-tado grande auxílio para muitas pessoas, inclusive para mim.2

3 Saudai Priscila e Áquila, meus colabo-p

radores em Cristo Jesus. 4 Arriscaram a vida por minha causa,

9 Jerusalém era a cidade da igreja-mãe, onde os discípulos foram revestidos do poder do Espírito Santo para proclamar o Evangelho, e o ministério da Igreja teve início (At 1.8). Ilírico era uma província romana que ficava ao norte da Macedônia (2Co 2.12,13), região distante onde se localiza a Albânia (antiga Iugoslávia), atualmente.

Capítulo 161 Paulo usa a expressão grega diakonon (servo ou ministro), para informar que a irmã Febe realizava seu serviço cristão como

ministério oficial aos membros da igreja em Cencréia (1Tm 3.11). Tudo indica que Febe foi destacada para a missão de levar essa carta à igreja em Roma.

2 A igreja primitiva tinha o costume de receber com alegria e hospitalidade todo cristão em viagem missionária ou a serviço das diversas comunidades cristãs. Com o passar do tempo, e o agravamento da delinqüência em todo mundo, as famílias e as igrejas tiveram que tomar mais cuidado em manter esse hábito de generosidade cristã.

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e por isto lhes sou muito grato, e não somente eu, mas todas as igrejas dos gentios.5 Saudai igualmente a igreja que se reúne na casa deles. Saudai meu amado irmão Epêneto, que foi o primeiro convertido aCristo na província da Ásia.

p q p3

6 Saudai Maria, que trabalhou com todo empenho por vós. 7 Saudai Andrônico e Júnias, meus pa-rentes e companheiros de padecimento na prisão, os quais são dignos de louvor entre os apóstolos, e estavam em Cristo antes mesmo de mim.4

8 Saudai Amplíato, meu dileto irmão no Senhor. 9 Saudai Urbano, que é nosso coopera-dor em Cristo, assim como meu amado Estáquis.10 Saudai Apeles, aprovado em Cristo. Saudai os que pertencem à casa de Aris-tóbulo.5

11 Saudai Herodião, meu parente. Sau-dai os da casa de Narciso, que estão no Senhor.12 Saudai Trifena e Trifosa, mulheres que se dedicam arduamente ao trabalho no Senhor. Saudai a estimada Pérside, que

igualmente empenhou-se com devoçãoà obra no Senhor. 13 Saudai Rufo, eleito no Senhor, e suamãe, que tem sido mãe para mim tam-bém.6

14 Saudai Asíncrito, Flegonte, Hermes,Pátrobas, Hermas e os irmãos que estãocom eles.15 Saudai Filólogo, Júlia, Nereu e suairmã, assim como Olimpas e todos ossantos que com eles estão.16 Saudai uns aos outros com um beijosanto. Todas as igrejas de Cristo vos en-viam fraternas saudações.7

Cuidado com os falsos servos17 Rogo-vos, queridos irmãos, que tomem muito cuidado com aqueles que causamdivisões e levantam obstáculos à doutrina que aprendestes. Afastai-vos deles! 18 Porquanto essas pessoas não estão ser-vindo a Cristo, nosso Senhor, mas sim aseus próprios desejos. Mediante palavrassuaves e bajulação, enganam o coraçãodos incautos. 19 Contudo, todos têm conhecimento da vossa obediência, por isso alegro-me sobre-maneira; entretanto, quero que sejais sábios

3 Durante o primeiro século, especialmente, a Igreja reunia-se nas casas de seus membros. Priscila e Áquila eram amigosíntimos de Paulo e durante um tempo trabalharam juntos confeccionando tendas (At 18.2,3). Priscila era uma romana de classenobre, casada com Áquila, um judeu da região do Ponto, ambos cristãos cheios do Espírito. Acolhiam uma igreja (grupo decrentes em Cristo) em sua casa, como anteriormente tinham feito em Éfeso (1Co 16.19) e Corinto (At 18.26). A igreja atual temmuito a aprender com essa antiga e saudável estratégia missionária.

4 Andrônico e Júnias eram judeus, amigos de Paulo, com quem estiveram presos em Éfeso, por causa da pregação doEvangelho de Cristo (2Co 11.23). O nome “Júnias”, cuja acentuação no original grego indica nome próprio feminino, tem geradoalgumas dificuldades para aceitá-la como parte do grupo apostólico. Entretanto, Paulo, que a exemplo de Jesus, tambémemancipou as mulheres para o serviço cristão, afirma que Andrônico e sua esposa eram crentes exemplares e gozavam degrande admiração por parte “dos apóstolos”. Estiveram entre os “quinhentos irmãos” que viram o Senhor ressuscitado (1Co15.6). Portanto, exerciam o “ministério apostólico” como missionários itinerantes, ainda que não fizessem parte oficial do seletogrupo dos Doze (At 14.4-14; 1Co 12.28; Ef 4.11; 1Ts 2.6,7).

5 Os irmãos Amplíato, Urbano, Estáquis e Apeles tinham nomes de escravos comuns da época, e serviam ao palácio imperial.No entanto, fazia parte da mesma igreja Aristóbulo, um neto de Herodes, o Grande, irmão de Herodes Agripa.

6 Narciso foi um liberto do imperador Tibério que fez fortuna. Trifena e Trifosa eram irmãs gêmeas que se dedicaram à obra doSenhor de forma exemplar. Pérside, cujo nome significa “mulher persa” foi uma gentia cristã igualmente notável. Rufo é o mesmoque fora designado como filho de Simão, o Cireneu (Mc 15.21). Marcos ao escrever para Roma, no ano 60 d.C., usaria Alexandree Rufo (membros da igreja em Roma) para identificar Simão, o homem que ajudou a Jesus a carregar a cruz. A expressão “eleito”tem o sentido de “distinguido” ou “apreciado”. O Simão Niger de At 13.1 seria o mesmo de Mc 15.21 e, portanto, pai de Rufo. Oque faz da mãe de Rufo, mãe sentimental de Paulo. Quando Barnabé procurou Paulo para cooperar no ministério em Antioquia,ele estava hospedado na casa dos pais de Rufo (At 11.25,26).

7 O beijo santo (1Co 16.20; 2Co 13.12; 1Ts 5.26; 1Pe 5.14) ou ósculo santo corresponde ao “ósculo da paz” que ainda faz parte7

da liturgia da Igreja Ortodoxa. Era parte integrante do culto cristão no tempo de Justino, o Mártir (150 d.C.).

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em relação a tudo que é bom, mas purosquanto ao que tem aparência maligna.20 E, sem demora, o Deus da paz, esmagará Satanás debaixo dos vossos pés. A graça donosso Senhor Jesus seja convosco!8

Saudações da equipe de Paulo21 Timóteo, meu colaborador, envia-vos saudações, bem como Lúcio, Jasom e Sosípatro, meus parentes.9

22 Eu, Tércio, que redigi esta carta, tam-bém vos saúdo no Senhor.23 Gaio, cuja hospitalidade eu e toda a igreja desfrutamos, vos envia saudações. Erasto, administrador da cidade, e nos-so querido irmão Quarto também vos cumprimenta.10

24 Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós. Amém!

Doxologia 25 Ora, àquele que tem o poder para vos confi rmar, pelo meu Evangelho, segundo a proclamação de Jesus Cristo, em con-formidade com a revelação do mistério oculto nos tempos passados,11

26 porém, agora revelado e trazido ao conhecimento pelas Escrituras proféticas por ordem do Deus eterno, para que to-das as nações crendo, venham a obedecer a Ele pela fé;27 sim, ao único e sábio Deus seja dada Glória, por intermédio de Jesus Cristo, para todo o sempre. Amém!12

8 Paulo exorta os cristãos a serem mestres do bem e péssimos praticantes do mal. O texto lembra as palavras de Jesus, que têm a mesma relação de significado entre si (“sábios...puros” com “astutos como as serpentes e inofensivos como as pombas” de Mt 10.16). Curiosamente, em ambas as passagens, os adjetivos no original grego são os mesmos: sophos e akeraios (1Co 14.20).O “Deus da paz” é o mesmo título usado na bênção de Rm 15.33. Paulo o utiliza para contrastar com o trabalho de Satanás que éa dissensão. Todavia, conforme a profecia de Gn 3.15, a semente da mulher – os que pertencem a Cristo – esmagarão a cabeçado Inimigo de nossas almas para sempre.

9 O nome Lúcio é equivalente a Lucas no manuscrito grego antigo (Cl 4.14; Fm 24; 2Tm 4.11). Portanto, a expressão “meusparentes”, que significa “judeus como eu”, só se aplicaria a Jasom e a Sópatros (forma abreviada do nome Sosípatro, conformeAt 17.6-9; 20.4,5).

10 Paulo, como a maioria dos mestres judeus, preferia contar com o auxílio de um especialista na arte de escrever (amanuense)a fim de dar mais velocidade e clareza à exposição do seu discurso em forma escrita. E Tércio, nesse momento, foi o redator daepístola de Paulo à Igreja em Roma. O nome completo de Gaio era Gaio Tício Justo, homem temente a Deus, que hospedou Paulo em sua casa em Corinto (At 18.7; 1Co 1.14). Erasto, é o mesmo que no século primeiro pavimentou as ruas da cidade de Corinto.Arqueólogos descobriram uma pedra dessa época com a seguinte inscrição em latim: “Erasto, comissário de obras públicas,custeou as despesas dessa pavimentação”. O nome próprio “Quarto” era normalmente dado ao quarto filho de uma família.

11 Paulo não se refere a um evangelho diferente do que foi pregado pelos demais apóstolos, mas sim ao Evangelho conformeele o recebeu por meio das revelações diretas do próprio Senhor Jesus (Gl 1.12). Os “tempos passados” se referem à “eternidadepassada” (1Co 2.6-10).

12 O propósito fundamental de Deus é levar o ser humano a render-lhe “Glória”, como seu Pai e Senhor eterno, por meio doSeu Filho Amado Jesus Cristo, nosso Salvador.

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