01 - Metodologia Da Pesquisa CCP

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CENTRO DE ESTUDOS DE PESSOAL

CURSO DE COORDENAO PEDAGGICA

METODOLOGIA DA PESQUISA

Maria Christina Zentgraf Rio de Janeiro 2006

vedada a reproduo integral ou parcial do material do EAD sem a permisso escrita do CEP ou do autor.

Sumrio

AO ALUNO ........................................................................................................................................5 VISO GERAL DA DISCIPLINA ................................................................................................................7 UNIDADE I - TCNICAS DE ESTUDO .....................................................................................................9Texto 1 O Ato de Estudar .................................................................................................................. 10 Texto 2 Tcnicas de Leitura .............................................................................................................. 13 Texto 3 A Leitura Analtica ................................................................................................................ 18 Texto 4 A Documentao Pessoal .................................................................................................... 21 Esquematizando ... .............................................................................................................................. 25

UNIDADE II - O CONHECIMENTO COMO FORMA DE COMPREENSO E TRANSFORMAO DA REALIDADE .......27Texto 5 Concepes e Formas de Conhecimento ............................................................................ 28 Texto 6 Fatos e Teorias na Construo do Conhecimento ............................................................... 34 Esquematizando ... .............................................................................................................................. 38

UNIDADE III - A PRODUO E TRANSMISSO DO CONHECIMENTO ATRAVS DA PESQUISA CIENTFICA ......... 39Texto 7 Pesquisa Cientfica: conceito e modalidades ....................................................................... 40 Texto 8 Paradigmas Metodolgicos da Pesquisa Cientfica ............................................................. 44 Esquematizando ... .............................................................................................................................. 46

UNIDADE IV - ETAPAS DO PROCESSO DE PRODUO DE PESQUISAS CIENTFICAS ...................................47Texto 9 A Lgica da Concepo do Projeto de Pesquisa .................................................................. 38 Texto 10 A Pesquisa Bibliogrfica ....................................................................................................... 54 Texto 11 Pesquisas Descritivas e Experimentais ............................................................................... 62 Texto 12 Pesquisas Qualitativas ......................................................................................................... 67 Esquematizando... ............................................................................................................................... 70

UNIDADE V - A COMUNICAO DE TRABALHOS CIENTFICOS: AS MONOGRAFIAS ......................................73Texto 13 A Comunicao dos Resultados da Pesquisa: a monografia ............................................... 74 Texto 14 Estrutura de Trabalhos Acadmicos Segundo a ABNT ....................................................... 78 Texto 15 Estilo para a Redao de Trabalhos Acadmicos ................................................................ 84 Texto 16 Apresentao de Citaes em Trabalhos Acadmicos ........................................................ 87 Texto 17 Como Elaborar as Referncias de um Documento .............................................................. 90 Esquematizando ... .............................................................................................................................. 94

REFERNCIAS ................................................................................................................................. 96 APNDICES .....................................................................................................................................99

O mdulo Metodologia da Pesquisa tem carter instrumental, uma vez que se destina a orient-lo no sentido de ampliar seus procedimentos de estudo e inici-lo na produo de trabalhos cientficos. Proporciona condies de lev-lo a desenvolver o rigor metodolgico exigido pela pesquisa e o esprito crtico necessrio a todo e qualquer estudo. Na primeira parte deste mdulo, encontram-se indicaes sobre os melhores procedimentos de estudo, tais como os passos para realizar uma leitura analtica, fazer resumos, esquemas e fichamentos, o que o transformar (se ainda no o for) em um leitor crtico, no limitado a uma educao bancria, termo cunhado por Paulo Freire ao comparar a aprendizagem tradicional situao de depsito e retirada que ocorre nos bancos. Prosseguindo na leitura, voc iniciar o estudo da metodologia da pesquisa atravs de textos sobre o conhecimento, objeto das pesquisas cientficas. Encontrar, de maneira bastante simplificada, orientaes metodolgicas para planejar, executar e comunicar os resultados de trabalhos cientficos. A execuo dos exerccios o nico meio de que voc dispe para verificar como se encontra o seu conhecimento sobre os temas propostos; assim, imprescindvel que voc os realize. Eles lhe permitiro se autoavaliar e decidir prosseguir ou fazer recapitulaes. Ao final de cada texto, na seo Enriquea seu estudo, sugerimos leituras complementares, com o objetivo de aprofundar o conhecimento de determinados assuntos ou introduzir itens no abordados. Muitos cursistas residem em regies longnquas, o que dificulta o acesso a livrarias e bibliotecas. A internet tambm no acessvel a todos. Por este motivo, estou fornecendo, ao final deste mdulo, o telefone, endereo eletrnico ou indicao de sites de algumas editoras. A maioria atende pelo reembolso postal. Agora, algumas recomendaes para que o estudo seja o mais proveitoso possvel: a) este mdulo, alm de contedos conceituais que exigem leitura e reflexo, requer exerccios prticos para que a metodologia e as tcnicas de investigao sejam dominadas pelo pesquisador;

Ao aluno

b) c)

para realizar com sucesso o trabalho final, necessrio a dedicao de uma a duas horas ao estudo dirio; os trabalhos tcnicos, tais como artigos, livros e monografias devem seguir as normas da Associao Brasileira da Normas Tcnicas (ABNT). No ano de 2000 e agora em 2002, as normas mais utilizadas para a elaborao de trabalhos acadmicos foram atualizadas. Em decorrncia, praticamente todas as publicaes e livros se tornaram desatualizados, o que dificulta o trabalho dos estudantes e pesquisadores. Assim, inseri, neste material, textos que abordam este assunto; para servir de exemplo a voc, segui as normas da ABNT ao fazer citaes nos textos, ao indicar as fontes pesquisadas, ao elaborar a lista de referncias ao final do mdulo e nos grficos que se encontram no apndice; importante alertar, entretanto, que a linguagem coloquial por mim utilizada neste material especfica da didtica da educao a distncia, no devendo ser adotada nos relatrios de pesquisas e trabalhos acadmicos.

d)

e)

Finalizo esta mensagem, colocando-me disposio para solucionar possveis dvidas que venham a ocorrer e desejando-lhe muito sucesso.

A autora

Objetivo geral: Aplicar mtodos e tcnicas de estudos e pesquisas para a elaborao de trabalhos tcnicos e cientficos.

Unidade I: Tcnicas de Estudo Objetivo: Demonstrar aquisio do instrumental terico-metodolgico para o aperfeioamento das habilidades de leitura, de fichamento e de organizao de estudos.

Contedo O ato de estudar Tcnicas de leitura: sublinhar, esquematizar e resumir A leitura analtica: anlise textual, temtica e interpretativa A documentao pessoal. Fichas: vantagens do uso, estrutura, finalidades e tipos

Onde encontrar

Textos 1 a 4

Carga horria: 06 h

Unidade II: O Conhecimento como Forma de Compreenso e Transformao da Realidade Objetivo: Distinguir o conhecimento cientfico de outros tipos de conhecimento.

Contedo Concepo e formas de conhecimento: popular, cientfico, filosfico e teolgico

Onde encontrar

Textos 5 e 6 Cincia: fato, fenmeno e teoria. Papel da teoria e do fato na construo do conhecimento Carga horria: 04 hUnidade III: A Produo e Transmisso do Conhecimento Atravs da Pesquisa Cientfica Objetivos: Identificar diferentes concepes de pesquisa Analisar as questes que envolvem a pesquisa cientfica como forma de produo e transmisso do conhecimentoContedo Finalidade, significado e modalidades de pesquisa cientfica Abordagem metodolgica da pesquisa cientfica; paradigmas conflitantes na atualidade Textos 7 e 8 Onde encontrar

Carga horria: 05 h

Viso geral da disciplina

Unidade IV: Etapas do Processo de Produo de Pesquisas Cientficas Objetivo: Caracterizar as etapas do processo de produo de pesquisas cientficas desde a elaborao do projeto execuo da pesquisa

Contedo A lgica da concepo e construo de um projeto de pesquisa: tema, problema, pressupostos tericos, objetivos, questes de estudo, metodologia, cronograma e oramento O planejamento e a execuo de pesquisas bibliogrficas e/ou documentais O planejamento e a execuo de pesquisas descritivas e experimentais O planejamento e a execuo de pesquisas qualitativas

Onde encontrar

Textos 9 a12

Carga horria: 20 h

Unidade V: A Comunicao de Trabalhos Cientficos: as monografias Objetivo: Demonstrar aquisio do instrumental tcnico para a elaborao de relatrios de trabalhos acadmicos.Contedo O trabalho monogrfico: a estrutura da monografia e a construo lgica do texto A estrutura de trabalhos acadmicos segundo as normas da ABNT Textos 13 a 17 Estilo para a redao de trabalhos acadmicos Normas para a apresentao de citaes e elaborao de referncias segundo a ABNT Carga horria: 10 h Onde encontrar

Tcnicas de Estudo

Guia de estudoASSUNTO OBJETIVOS ESPECFICOS Desenvolver hbitos de estudo que conduzam autonomia no processo de aprendizagem Utilizar tcnicas de leitura adequadas a um estudo proveitoso

Carga horria: 06h

TAREFAS PREVISTAS Estudo do texto 1 "O ato de estudar" Exerccios Estudo do texto 2 "Tcnicas de leitura" Exerccios Estudo do texto 3 "A leitura analtica" Exerccios

1. O ato de estudar

2. Tcnicas de leitura: sublinhar, esquematizar, resumir 3. A leitura analtica: anlise textual, temtica e interpretativa 4. A documentao pessoal. Fichas: vantagens do uso, estrutura, finalidades e tipos

Aplicar tcnicas de anlise de leitura no estudo de textos

Distinguir diferentes modalidades de organizao da documentao pessoal, em especial, as fichas Enriquea seu estudo

Estudo do texto 4 "A documentao pessoal" Exerccios

Unidade I

METODOLOGIA

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PESQUISA

Texto 1O Ato de EstudarOs cursos de graduao e de ps-graduao tm como um de seus objetivos desenvolver nos estudantes o esprito cientfico e a prtica de trabalhos tcnicos. Entretanto, nada se conseguir neste sentido, se os iniciantes em trabalhos intelectuais no tiverem adquirido hbitos de estudo sistemticos e eficientes atravs da utilizao de mtodos e tcnicas adequadas. Salomon, autoridade no assunto, declara:Imaginamos o iniciante no trabalho cientfico como aquele que, implicado num processo de auto-desenvolvimento, vai paulatinamente se transformando: ter que ser antes estudioso para, em seguida, tornar-se trabalhador intelectual, pesquisador e, finalmente, autor. Essas fases, claro, no se excluem nem cessam pela apario ulterior; antes, se completam e se superpem a partir de determinado momento de cada uma. (SALOMON, 2001, p. 26).

O que significa estudar? Medeiros (2000, p. 13) explica que o estudo comea com a elaborao de um pequeno texto e atinge a produo de vrios volumes de uma obra. E conclui estudar realizar experincias submetidas anlise crtica e reflexo, com o objetivo de apreender informaes que sejam teis resoluo de problemas. Para realizar essas experincias citadas por Medeiros, o estudante necessita estar atento a dois aspectos: recorrer a procedimentos adequados para buscar as informaes, bem como estabelecer uma organizao para seus estudos. Complementando tal posio, Severino (2000) adverte que o ensino superior exige dos universitrios: autonomia no processo de aprendizagem e postura de auto-atividade didtica rigorosa, crtica e criativa; projeto de trabalho intelectual individualizado, apoiado em material didtico e cientfico que se constitui, basicamente, na bibliografia especializada. A bibliografia especializada de metodologia da pesquisa considerada difcil por muitos estudantes. Isto ocorre porque ela parte da suposio de que aqueles que a ela recorrem dominam as tcnicas adequadas de estudo e leitura, uma vez que j concluram um curso superior. Desse modo, para se iniciar nas questes da pesquisa cientfica, o estudante precisa conhecer e utilizar procedimentos adequados para fazer uma leitura proveitosa, fichamentos, citaes, parfrases, esquemas e resumos, dentre outras tcnicas. Isso leva questo da formao da biblioteca pessoal. Os livros so caros, tornam-se ultrapassados com alguma rapidez (pelo menos as edies), e o hbito de utilizao de cpias10

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dificulta a formao de acervos pessoais. Apesar do exposto, os estudantes devem se conscientizar de que existem livros fundamentais nas diferentes reas do conhecimento e que devem ser adquiridos. A assinatura de revistas especializadas um hbito a ser cultivado, uma vez que os relatrios de pesquisa e as descobertas nas diferentes reas do conhecimento, antes de aparecerem em livros, so publicados em revistas e jornais. As revistas tambm oferecem a oportunidade de ampliar a bibliografia sobre determinado assunto com novas referncias. Alm dessas fontes, a internet, rede mundial de computadores, oferece hoje um acervo extraordinrio para estudiosos das mais diferentes reas; poder ser bastante utilizada pelos cursistas que dela dispem. As universidades e outras instituies possuem bibliotecas, embora em algumas delas o acervo seja limitado e pouco renovado. De qualquer maneira, o estudante deve freqent-las, explor-las. L se encontram obras de referncia geral, peridicos, livros, dissertaes de mestrado, teses de doutorado, dentre outras. Algumas universidades mantm, em seus acervos, CD-ROMs, disquetes e outros recursos de multimdia disponveis para pesquisadores. As bibliotecas so organizadas no sentido de auxiliar os leitores e pesquisadores. Assim, seu acervo se apresenta classificado por assunto, ttulo e autor, em fichas individuais reunidas em fichrios por ordem alfabtica. Nas fichas, alm de dados sobre a obra e o autor, est registrada a referncia da obra (cdigo da biblioteca), atravs da qual ela localizada nas prateleiras. Muitas bibliotecas esto hoje informatizadas oferecendo uma alternativa de organizao mais moderna. As tcnicas especiais de leitura e fichamento para utilizao desse instrumental sero abordadas nos prximos textos. Alm do estudo atravs de fontes bibliogrficas, outras modalidades de aprendizagem so os encontros, seminrios, congressos, palestras, mesas-redondas etc., que devem acompanhar o estudioso pela vida toda. A princpio como participante, em seguida fazendo pequenas comunicaes e, no decorrer da vida profissional, integrando mesas-redondas e fazendo palestras. Outro aspecto a considerar, principalmente por todos aqueles que estudam e trabalham, a programao das atividades de estudo e a diviso adequada do tempo. No se pode fazer um curso superior se no houver tempo disponvel para estudar, para refletir. O conhecimento forma-se por fases e a quantidade de informao transforma-se em qualidade de conhecimento. (GALLIANO, 1986, p. 53). Observe as recomendaes de Galliano sobre a utilizao do tempo: - Planeje seu tempo essa a forma correta de ganhar tempo para o estudo. - Programe a utilizao de perodos vazios em sua atividade. - Substitua o horrio de uma ou mais atividades no-essenciais para obter tempo de estudo. - Reserve ao menos um perodo mnimo para estudar todos os dias. - No estabelea perodos muito longos de estudo sem pausas para descanso. Ao se estabelecer um cronograma de estudos, deve-se escolher um horrio em que o estudioso apresente um melhor rendimento; deixar as atividades de leitura e reflexo para o final do dia, por exemplo, pode levar a um aproveitamento nulo.11

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O sucesso da aprendizagem, apontam as pesquisas, depende da organizao do aluno, do ambiente adequado, da assiduidade e cumprimento do cronograma estabelecido e da utilizao de tcnicas de estudo. Em resumo, utilizando procedimentos adequados de estudo, de posse de uma boa bibliografia e organizando o seu tempo, voc estar em condies de ser um aluno e profissional estudioso e atualizado em seus conhecimentos.

ExercciosNo sentido de contribuir para a consecuo de seu projeto de trabalho cientfico, responda s questes a seguir: 1. Alm de livros e publicaes sobre o contedo especfico de sua rea de conhecimento, que livros e revistas voc possui sobre METODOLOGIA CIENTFICA? 2. Existem bibliotecas especializadas na sua cidade? Em que instituies? Quais seriam mais acessveis para sua utilizao? 3. Visite as bibliotecas que considera mais adequadas a seu curso e verifique no fichrio de assuntos o tema: metodologia cientfica, tcnicas de estudo e pesquisa etc. Anote as 5 obras que considera mais adequadas ao contedo desta disciplina. No esquea de registrar nas anotaes os dados sobre a obra, autor e a localizao na estante. 4. Sabemos que aqueles que no residem nas grandes cidades tm dificuldade na aquisio de livros por falta de livrarias, acesso a catlogos de editoras etc. Qual a situao de sua cidade neste aspecto? A que livrarias voc pode recorrer para adquirir livros bsicos? O livreiro aceita encomendas? 5. Faa uma proposta de programao semanal de suas atividades essenciais, de modo a reservar 1 ou 2 horas dirias para estudo. 6. Cumpra a programao traada de modo experimental e procure realizar uma avaliao da semana, registrando as modificaes que considera necessrias.

Enriquea seu estudo Recomendo o texto O leitor no ato de estudar a palavra escrita, onde os autores discutem o processode estudar e a postura do leitor no ato de ler: leitor-objeto, aquele submisso ao que l, e o leitorsujeito, quando realiza uma leitura crtica e consegue ir alm do texto (LUCKESI, 2000).

No texto Consideraes em torno do ato de estudar, o autor faz reflexes bastante oportunas sobreo ato de estudar, que considera um trabalho difcil por exigir disciplina intelectual que no se adquire a no ser praticando (FREIRE, 2001).

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UNIDADE I

Texto 2Tcnicas de LeituraProsseguindo na temtica iniciada no texto O Ato de Estudar, onde, dentre outras coisas, voc aprendeu que existem procedimentos especficos para um estudo proveitoso, neste texto sero abordadas algumas tcnicas de leitura, pr-requisitos para um estudo aprofundado. Ao fazer contato com o material de leitura, a sua tarefa inicial examin-lo no todo. Como proceder? Para fazer o reconhecimento de um livro, algumas questes devero ser feitas: De que trata o livro? Quem o autor? Que informaes o autor fornece sobre o livro? Quais os temas abordados? Quando o livro foi publicado pela primeira vez? As respostas a estas questes sero obtidas verificando-se o ttulo e o subttulo; a capa e a contracapa; o sumrio, o prefcio, a introduo, o resumo (nas monografias) e as referncias. Nos artigos de revistas, matrias de jornal e textos acessados na internet, preocupao semelhante deve ocorrer. Estes procedimentos permitem constatar se o assunto tratado na obra interessa aos propsitos do leitor. Alm disso, evitar perda de tempo com leituras injustificveis face ao objetivo do estudo ou pesquisa. Concluda esta explorao inicial e constatado o interesse pelo material, procede-se a sua leitura. Toda leitura feita com um propsito que pode ser a investigao, a crtica, a comparao, a verificao, a ampliao ou integrao de conhecimentos. Para atingir esses propsitos devemos identificar as idias principais do autor. Como proceder? Mandam os especialistas que se proceda, inicialmente, a uma leitura integral do texto e se determine a unidade de leitura a ser estudada. Para se estabelecer a unidade de leitura, preciso entender que a unidade uma parte do texto que apresenta uma totalidade de sentido. O texto fica, assim, dividido em partes que vo sendo sucessivamente estudadas. um estudo analtico, findo o qual o leitor refaz o sentido total do livro, sintetizando-o. Estabelecida a unidade de leitura, como procurar a idia principal que ela encerra? Em algumas ocasies a idia principal est explcita e facilmente identificada. Em outras, ela se confunde com idias secundrias. Veja a seguir como identificar a idia principal em um pargrafo.

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Na maioria dos casos, o pargrafo se inicia por uma frase importante que traz a idia principal, acompanhada de frases que a explicam e detalham. A frase final do pargrafo sintetiza a idia. Pode acontecer, entretanto, que a frase que expressa a idia principal venha ao final do pargrafo. Lembra Salomon (2000) que a idia principal pode estar apenas nos elementos essenciais de uma orao, isto , o sujeito e o predicado. Como identificar a idia principal em um artigo, livro ou captulo de livro? J foi visto que o primeiro contato com o material de leitura consiste em fazer seu reconhecimento. Este exame inicial levar o leitor a captar o plano da obra. Explica Salomon: comum os autores dedicarem uma parte introdutria e/ou a parte final para dar a idia principal. Quem escreve obedece a um plano, desenvolve idias dentro de uma ordem hierrquica: a mais geral para todo o trecho e as menos gerais apresentadas logo abaixo destas. Procura distribuir as idias especficas pelos pargrafos. (SALOMON, 2001, p. 97)

Na produo cientfica, o autor, ao expor o seu trabalho, procura justific-lo para o leitor. Ele informa, analisa, demonstra. Expe seu trabalho atravs de proposies nas quais so essenciais o sujeito (elemento causa) e o predicado (atributo do sujeito). Ao desenvolver o seu raciocnio, utiliza o mtodo dedutivo, uma vez que no est investigando, e sim comunicando.Deduzir de idias mais gerais as mais especficas. Faz isto atravs de proposies que se relacionam dentro duma estrutura lgica de demonstrao: numa proposio colocar a idia principal e, noutras, os argumentos de sua comprovao. Em torno dessa relao, as demais atribuies funcionaro como detalhes importantes ou como simples acessrios. (SALOMON, 2001, p. 100).

Nos trabalhos cientficos, as afirmativas, as teses, os pontos de vista esto sempre comprovados ou justificados. Este fato levar o leitor a identificar a idia principal e as proposies que a comprovam ou justificam. Como proceder ao encontrar as idias principais? Como destac-las no texto? Observe a seguir as principais tcnicas para tal: sublinhar, esquematizar e resumir.

A tcnica de sublinharSublinhar sinnimo de pr em relevo, destacar ou salientar. um procedimento muito usado pelos leitores. No entanto, exige cuidados para que possa ser til. A primeira recomendao a ser feita no sublinhar durante a primeira leitura. necessrio que se tenha um primeiro contato com a unidade de leitura pargrafo, captulo, livro fazendo-se alguns sinais margem. Quando for feita a segunda leitura, buscar a idia principal, os detalhes significativos, os conceitos, classificaes etc. que devero ser, ento, sublinhados. Segundo Rickards apud Boruchovitch e Mercuri (1999, p. 37) o sublinhar uma estratgia que permite focalizar a ateno da pessoa no material que est lendo, bem como revisar as idias essenciais, num momento posterior.14

UNIDADE I

Pesquisas tm demonstrado que a compreenso do texto aumenta quando so sublinhados trechos relevantes, enquanto que a aprendizagem fica prejudicada com marcaes secundrias. Explicam Boruchovitch e Mercuri quais so os objetivos da tcnica de sublinhar: reforar a ateno para os elementos principais do texto; destacar o importante do acessrio; facilitar a releitura. No devem ser sublinhados detalhes, nem deve haver um excesso de informaes. Os objetivos da tcnica de sublinhar so especficos, variando de uma matria para outra. Alm disso, sofrem a influncia das crenas e atitudes do leitor. Outro aspecto a observar que as tcnicas de estudo, para produzirem resultados, dependero no s de sua utilizao adequada, como tambm do conhecimento que o leitor tenha das tarefas. imprescindvel que o leitor se pergunte: Por que e para que estou fazendo a leitura desse texto?

A tcnica de esquematizarO esquema uma representao sinttica do texto atravs de grficos, cdigos e palavras. Deve ser organizado segundo uma seqncia lgica onde aparecem as idias principais, aquelas a elas subordinadas e o inter-relacionamento de fatos e idias. A elaborao de esquemas exige a participao ativa do leitor na assimilao do contedo, levando-o, tambm, a uma avaliao sobre a lgica do texto. Salomon destaca as seguintes caractersticas de um bom esquema: fidelidade ao texto estrutura lgica adequao ao assunto estudado utilidade cunho pessoal O esquema til para destacar o propsito do leitor, facilitar a captao e compreenso da lgica do contedo e permitir uma rpida consulta ao contedo do texto. Pode apresentar listagens de contedo ou chaves como voc ver no esquema apresentado ao final desta e de outrras unidades, ou usar numerao progressiva como no esquema elaborado na Unidade 7 deste mdulo. Pode ainda ser subdividido por algarismos romanos, letras ou simplesmente diferenciado por espaos. Alguns cuidados devem ser tomados para sua elaborao: s construir o esquema aps a compreenso profunda do texto; seguir um critrio lgico, ordenando idias principais e secundrias; fazer esquemas que facilitem a compreenso do contedo.

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A tcnica de resumirO resumo uma condensao do texto. Apresenta as idias essenciais e pode tambm trazer a interpretao do leitor, desde que este o faa separadamente. Para elaborar o resumo devem ser usados os mesmos procedimentos indicados para sublinhar e para elaborar esquemas. O objetivo do resumo abreviar as idias do autor sem, contudo, a conciso de um esquema. Quando voc considerar relevante, faa transcries de palavras do prprio autor, colocando-as entre aspas e o nmero da pgina entre parnteses. Saber resumir uma tcnica essencial para quem estuda e cumpre tarefas intelectuais. Para se fazer um resumo imprescindvel a compreenso do texto lido. de suma importncia saber encontrar as idias principais e secundrias, sublinhar e esquematizar, como j foi exposto neste texto. A principal diferena entre o esquema e o resumo reside no fato de que o esquema apresenta o texto em seqncia lgica e em ordem de subordinao, e o resumo apresenta o texto de maneira condensada. So normas prticas para elaborar um resumo: s resumir aps preparar o esquema ou anotaes; usar frases diretas e curtas; fazer as apreciaes crticas e observaes pessoais em separado; apresentar sempre a referncia completa do texto resumido. Veja, a seguir, resumo apresentado por Galliano (1986) correspondente a um trecho de duas pginas:Mtodo e tcnica no so a mesma coisa. Mtodo uma orientao geral constituda por um conjunto de etapas, ordenadamente dispostas, a serem vencidas na investigao da verdade, no estudo de uma cincia ou para alcanar determinado fim. Tcnica um modo de realizar uma atividade, arte ou ofcio, de maneira mais hbil, mais segura e perfeita. Em linhas gerais, a tcnica a maneira mais adequada de se vencer as etapas indicadas pelo mtodo. Por isso diz-se que o mtodo equivale estratgia, enquanto a tcnica equivale ttica. (GALLIANO, 1986, p. 14).

O resumo esquemticoComo o nome est dizendo, uma tcnica intermediria entre o resumo e o esquema. Observe o exemplo que se segue, tambm extrado de Galliano (1986. p. 75):A orientao prtica para a seleo prvia da leitura adequada ao estudo pode resumirse nos seguintes passos principais: 1) Examinar o livro que desperta o interesse. Verificar ttulo, autor, informaes nas capas, sumrio ou ndice, prefcio ou introduo, bibliografia, editora, nmero da edio e data da publicao. 2) Tratando-se de livro recente e havendo dvida quanto a sua validade, consultar sees de resenhas de livros em revistas especializadas e jornais. Tratando-se de obra clssica, consultar enciclopdias ou a opinio de um especialista no assunto. 16

UNIDADE I

Finalizo este texto esclarecendo que, uma vez selecionada a unidade de leitura, destacadas as idias principais e secundrias, e utilizadas as tcnicas de sublinhar, esquematizar e resumir, tenho certeza de que voc estar preparado para fazer uma leitura analtica, objeto do prximo texto.

ExercciosCom o objetivo de lev-lo a colocar em prtica as tcnicas recomendadas no texto Tcnicas de Leitura, solicitamos que faa o seguinte exerccio usando um texto de sua preferncia dentre os indicados para o curso. 1. Fazer a 1 leitura. 2. Delimitar as unidades de leitura. 3. Sublinhar as idias principais e detalhes importantes. 4. Elaborar um esquema em chave.

Enriquea seu estudo No captulo I de Severino (2000), intitulado A organizao da vida de estudos na Universidade,voc encontrar consideraes sobre os instrumentos de trabalho, a disciplina do estudo e at um fluxograma de um plano de trabalhos acadmicos. Analise-o.

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Texto 3A Leitura AnalticaNo texto Tcnicas de Leitura voc se familiarizou com a maneira de delimitar a unidade de leitura e com as tcnicas de sublinhar, esquematizar e resumir. De posse desses conhecimentos, encontra-se, agora, em condies de fazer uma leitura analtica, isto , um estudo de texto em profundidade, de modo a compreend-lo, apreender a mensagem do autor e fazer um julgamento sobre o mesmo. Veja, a seguir, como fazer a leitura analtica, aplicando as tcnicas de leitura. Inicialmente gostaria de esclarecer que existem diferentes nomenclaturas para designar as etapas da leitura analtica e que optei pela classificao usada por Severino (2000). Ele divide a leitura analtica em trs etapas: a anlise textual, a anlise temtica e a anlise interpretativa.

Anlise textualA primeira leitura (voc viu no texto anterior, lembra-se?) o contato inicial com a unidade de leitura. Nela se adquire uma viso de conjunto do pensamento e do estilo do autor. Nesta leitura nada se sublinha, mas devem-se assinalar, nas margens, os pontos que exigem esclarecimentos para compreenso do texto: informaes sobre o autor, sentido das palavras desconhecidas, fatos histricos, outros autores citados etc. a anlise textual. Concluda a leitura, faz-se uma investigao para buscar as informaes, consultando-se obras de referncias tais como dicionrios, enciclopdias, atlas geogrficos e histricos. Esta investigao necessria pois a compreenso do texto depende no s do conhecimento do significado das palavras, como tambm dos termos geogrficos, histricos etc., o que pode ser verificado em obras de referncia. Segundo Medeiros (2000, p. 23),[...] em princpio, pode-se recomendar buscar no dicionrio toda palavra desconhecida que aparece num texto. Outro procedimento experimentar descobrir o sentido da palavra no contexto. s vezes, o significado de uma palavra desconhecida vem logo a seguir por um termo de sentido equivalente. O esforo, portanto, para descobrir o sentido de um vocbulo parece constituir-se em valioso exerccio para a ampliao do vocabulrio.

Voc tem o hbito de consultar obras de referncia? Elas so ferramental essencial para o fornecimento de informaes. Em suma, em relao aos vocbulos, a tcnica a seguir, ao se fazer a anlise textual, : no sublinhar, fazer algumas anotaes margem; tentar encontrar o sentido dos termos novos pelo prprio texto; se no conseguir, ao terminar a leitura, consultar as obras de referncia.18

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E, como bem diz Salomon (2001, p. 70): nunca se acomodar diante do termo desconhecido [...] considere-o um desafio; deixar de esclarecer a dvida no momento oportuno sempre prejudicial. Quando se faz a anlise textual, mais importante esclarecer o vocabulrio e as dvidas sobre os termos do que mesmo a prpria compreenso do texto. O segundo passo, aps esclarecidas as dvidas, dever ser procurar dados sobre o autor da obra. A anlise textual oferece, dentre outras, as seguintes vantagens: diversificar as atividades de estudo, tornando-as menos cansativas; oferecer informaes e ampliar o conhecimento; tornar o texto mais acessvel e a leitura mais enriquecedora.

Anlise temtica feita com o objetivo de levar o leitor a uma compreenso da mensagem veiculada pelo autor na unidade de leitura. Nessa etapa procura-se apreender o pensamento do autor sem nele intervir. Este procedimento facilitado fazendo-se uma srie de perguntas: De que trata o texto? Como est problematizado? Qual a dificuldade a ser resolvida? Qual a posio do autor sobre o problema? Que idia defende? (a resposta a esta questo revela a idia principal, a tese do autor). Qual a argumentao, o raciocnio do autor para demonstrar a tese? Existem subtemas ou temas paralelos na unidade de leitura? Observe o que diz Galliano sobre a anlise temtica:[...] nela o estudante no discute com o texto, no debate seus conceitos ou idias, somente interroga-o e deixa que fale em resposta. Esse escutar, no entanto, nada tem de mecnico. Seria passivo, mecnico, se o propsito do estudo se restringisse memorizao das palavras ou frases. Mas, como o propsito da leitura apreender o contedo, o ato de escutar o texto envolve descoberta e reflexo por parte do leitor (GALLIANO, 1986, p. 92).

Somente quando o estudioso estabelece o esquema de pensamento do autor, a anlise temtica estar terminada. A anlise temtica, alm de permitir a elaborao de um esquema mais coerente e rigoroso, a base para a obteno de resumos que sintetizam as idias do autor ao invs de serem apenas redues de pargrafos.

Anlise interpretativaInterpretar, explica Severino, (2000, p. 56), tomar uma posio prpria a respeito das idias enunciadas, superar a estrita mensagem do texto, ler nas entrelinhas, forar o autor a um dilogo, explorar toda a fecundidade das idias expostas, cotej-las com outras, enfim, dialogar com o autor.19

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Diferentemente das anlises textual e temtica, nas quais o leitor ouve o autor mas no interfere, no assume uma posio pessoal perante o texto em estudo, na anlise interpretativa o leitor assume uma posio prpria. A anlise interpretativa tem papel primordial na construo do leitor sujeito, do leitor crtico. Severino subdivide-a nas seguintes etapas: situar o pensamento desenvolvido na unidade, na esfera mais ampla do pensamento geral do autor; situar o autor no contexto mais amplo da cultura filosfica; explicitar os pressupostos que o texto implica; formular um juzo crtico, uma avaliao do texto em funo de sua coerncia interna e da originalidade e contribuio discusso do problema; fazer crtica pessoal s posies defendidas no texto, fase mais delicada da interpretao e que exige maturidade intelectual do leitor, cuja vivncia pessoal do problema dever ter alcanado nvel que possibilite o debate da questo. Concludas todas as etapas da leitura analtica, o leitor encontra-se em condies de se tornar um leitor-autor, um produtor de conhecimento; poder ampliar os aspectos que a anlise do texto suscitou e fazer novas proposies. Estar apto a elaborar uma sntese pessoal que se apia na retomada de pontos levantados nas etapas anteriores e culmina com a contribuio pessoal do leitor para o tema, desde que ele se fundamente em argumentos convincentes, com base cientfica.

ExercciosNo texto A Leitura Analtica voc obteve uma viso sobre a leitura analtica. Tudo indica que se encontra em condies de aplicar em situaes concretas os conhecimentos apreendidos. Selecione um texto de sua preferncia e realize a seguinte atividade: leitura analtica do texto, cumprindo todas as etapas e procedimentos indicados na anlise textual, temtica e interpretativa, concluindo o exerccio com uma sntese pessoal. No esquea de colocar no incio do trabalho a referncia do texto lido.

Enriquea seu estudo Recomendo o texto Processo de leitura crtica da palavra escrita. Neste texto os autores trazemsubsdios que aprofundam o tema Leitura analtica (LUCKESI, 2000).

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UNIDADE I

Texto 4A Documentao PessoalChegamos ltima etapa desta unidade, tendo at agora abordado as tcnicas para aperfeioar suas habilidades de estudo e leitura; este ltimo texto trata especificamente da documentao pessoal, em especial as fichas e sua organizao em fichrios. A documentao a cincia que trata no s da organizao como do manuseio da informao. Explica Chizzotti (2000, p. 109) que documentao [tambm] toda informao sistemtica, comunicada de forma oral, escrita, visual ou gestual, fixada em um suporte material, como fonte durvel de comunicao. Nesse sentido, toda informao apresentada sob a forma de textos, sinais, imagens ou outros meios, armazenada em papel, madeira, pedra ou outros recursos, atravs de tcnicas de impresso, pintura, gravao etc., um documento. Existem centros especiais de documentao, tais como bibliotecas, mapotecas, arquivos, museus, bancos de dados, hoje enriquecidos com a chegada da informtica, dos computadores, das redes mundiais de informao. Apesar de os estudiosos terem a sua disposio as editoras, as livrarias, os arquivos das instituies, as informaes da rede de computadores, recomenda-se sempre que forme sua prpria biblioteca e organize a sua documentao pessoal.A documentao pessoal supre a necessidade da informao prvia at mesmo para orientar a pesquisa em outras fontes de consulta, estabelece um dilogo permanente com a memria e estimula constantemente a criatividade intelectual. A tudo isso, acrescenta ainda a vantagem de ser prtica (quando bem feita) e estar sempre disposio. (GALLIANO, 1986, p. 99).

O que deve ser documentado?Tudo que for do interesse e que oferecer importncia e utilidade na rea acadmica ou profissional do estudante pode ser documentado: leituras, idias pessoais, debates, palestras etc.

Como documentar?A maneira mais indicada fazer registros em fichas e organiz-las em fichrios. Atualmente, a informtica est introduzindo novos procedimentos; estes procedimentos variam de pessoa a pessoa. Vou dar, apenas, algumas sugestes de ordem geral. Se for do seu interesse, procure ampliar as informaes, nas leituras indicadas.21

METODOLOGIA

DA

PESQUISA

As fichas permitem ao estudante guardar com exatido dados coletados em diferentes fontes e que serviro para o seu estudo. prefervel o uso de fichas a cadernos, devido s facilidades que elas oferecem para manipulao e arquivamento. Existem diferentes tipos de fichas segundo os objetivos a que se destinam e que recebem diferentes denominaes. Neste texto, adotei a nomenclatura usada por Lakatos (2001): ficha de citaes, de resumo e analtica. A utilizao de fichas e sua organizao em fichrios de importncia excepcional para os estudiosos que nelas encontraro os subsdios necessrios elaborao de suas tarefas e seus estudos. Veja o que diz Cervo (1996, p. 73) sobre a tcnica de fichamento: Aquele que tiver suficiente pacincia para realizar estas tarefas cansativas com esmero ter a grande satisfao de constatar que seu esforo ser compensado ante a facilidade com que poder proceder redao de seu trabalho: basta dispor todas as fichas referentes a um mesmo assunto sobre a mesa. Lakatos (2001) faz um estudo bastante detalhado sobre fichas e fichrios. Aborda a questo do aspecto fsico, da composio, dos respectivos contedos, tipos de fichas (com exemplos concretos dos mesmos) etc. Apresenta, ainda, procedimentos e modelos de fichamentos. A seguir voc ter oportunidade de analisar diferentes tipos de fichas adaptadas de Lakatos: a) Ficha de citaes Neste tipo de ficha so reproduzidas frases e pargrafos inteiros ou parte deles. O sinal [...] indica a supresso de partes do texto.MARCONI, Marina de Andrade. Garimpos e garimpeiros em Patrocnio Paulista. So Paulo: Conselho Estadual de Artes e Cincias Humanas,1978, 152 p. Entre os diversos tipos humanos caractersticos existentes no Brasil, o garimpeiro apresenta-se, desde os tempos coloniais, como um elemento pioneiro, desbravador e, sob certa forma, como agente de integrao nacional. (p. 7). Os trabalhos no garimpo so feitos, em geral, por homens, aparecendo a mulher muito raramente e apenas no servio de lavao ou escolha de cascalho, por serem mais suaves do que o de desmonte. (p. 26). [...] indivduos [os garimpeiros] que reunidos mais ou menos acidentalmente continuam a viver e trabalhar juntos. Normalmente abrangem indivduos de um s sexo [...] e sua organizao mais ou menos influenciada pelos padres que j existem em nossa cultura para agrupamentos dessa natureza. (p. 47) (LINTON, Ralph. O homem; uma introduo antropologia. 5. ed. So Paulo: Martins, 1965, p. 111). O garimpeiro [...] ainda um homem rural em processo lento de urbanizao, com mtodos de vida pouco diferentes dos habitantes da cidade, deles no se distanciando notavelmente em nenhum aspecto: vesturio, alimentao, vida familiar. (p. 48). A caracterstica fundamental no comportamento do garimpeiro [...] a liberdade. (p. 130).

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UNIDADE I

Ao elaborar a ficha devem-se tomar alguns cuidados: aspear as citaes; indicar, aps cada citao, o nmero da pgina; quando forem suprimidos pargrafos de uma mesma pgina, deixar uma linha em branco com o sinal [...]. S colocar o nmero da pgina ao final da ltima citao, conforme o exemplo a seguir:[...] As universidades e outras instituies possuem bibliotecas, embora em algumas delas o acervo seja limitado e pouco renovado. De qualquer maneira, o estudante deve frequent-las, explor-las. L se encontram obras de referncia geral, peridicos, livros, dissertaes de mestrado, teses de doutorado etc. [...] Este instrumental de trabalho do estudante utilizado atravs de tcnicas especiais de leitura e fichamento que sero vistas nos prximos textos. (p.14).

Quando a frase transcrita tiver sido extrada de outra obra, deve-se citar entre parnteses a referncia bibliogrfica, como se pode observar no exemplo de ficha citao. b) Ficha resumo (de contedo)MARCONI, Marina de Andrade. Garimpos e garimpeiros em Patrocnio Paulista. So Paulo: Conselho Estadual de Artes e Cincias Humanas, 1978, 152 p. Pesquisa de campo que se prope a dar uma viso antropolgica do garimpo em Patrocnio Paulista. Descreve um tipo humano caracterstico, o garimpeiro, em uma abordagem econmica e scio-cultural. Enfoca aspectos geogrficos e histricos da regio, desde a fundao do povoado at a constituio do municpio. Enfatiza as atividades econmicas da regio em que se insere o garimpo, sua correlao principalmente com as atividades agrcolas, indicando que alguns garimpeiros do local executam o trabalho do garimpo em fins de semana ou no perodo de entressafra, sendo, portanto, em parte, trabalhadores agrcolas, apesar da maioria residir na rea urbana. D especial destaque descrio das fases da atividade de garimpo incluindo as ferramentas utilizadas. Apresenta a hierarquia de posies existentes e os tipos de contrato de trabalho que diferem do rural e o respeito do garimpeiro palavra empenhada. Aponta o sentimento de liberdade do garimpeiro e justifica seu nomadismo, como conseqncia de sua atividade. A anlise econmica abrange ainda o nvel de vida como sendo, de modo geral, superior ao do egresso do campo e a descrio das casas e seus equipamentos, indicando as diferenas entre ranchos da zona rural e casas da zona urbana. Sob o aspecto scio-cultural demonstra a elevao do nvel educacional e a mobilidade profissional entre as geraes: dificilmente o pai do garimpeiro exerceu essa atividade e as aspiraes para os filhos excluem o garimpo. Faz referncia ao tipo de famlia mais comum a nuclear aos laos de parentesco e ao papel relevante do compadrio. Considera adequados a alimentao e os hbitos de higiene, tanto dos garimpeiros quanto de suas famlias. No que respeita sade, comprova a predominncia da consulta aos curandeiros e aos medicamentos caseiros. Faz um levantamento de crendices e supersties, com especial destaque ao que se refere atividade de trabalho. Aponta a influncia dos sonhos nas prticas dirias. Finaliza com um glossrio que esclarece a linguagem especial dos garimpeiros.

A ficha de resumo apresenta a essncia do texto numa sintaxe elaborada pelo leitor. Embora seja mais detalhada do que a ficha bibliogrfica, no longa. Os verbos devem ser ativos.

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METODOLOGIA

DA

PESQUISA

c) Ficha analtica (de comentrio ou crtica)MARCONI, Marina de Andrade. Garimpos e garimpeiros em Patrocnio Paulista. So Paulo: Conselho Estadual de Artes e Cincias Humanas, 1978, 152 p. Caracteriza-se por uma coerncia entre a parte descritiva, entre a consulta bibliogrfica e a pesquisa de campo. Tal harmonia difcil e s vezes no encontrada em todas as obras d uma feio especfica ao trabalho e revela sua importncia. Os dados, obtidos por levantamento prprio, com o emprego do formulrio e entrevistas, caracterizam sua originalidade. Foi dado especial destaque fidelidade das denominaes prprias, tanto das atividades de garimpo quanto do comportamento e atitudes ligadas ao mesmo. O principal mrito ter dado uma viso global do comportamento do garimpeiro, que difere da apresentada pelos escritores que abordam o assunto, mais superficiais em suas anlises, e evidenciando a colaborao que o garimpeiro tem dado no apenas cidade de Patrocnio Paulista, mas a outras regies, pois o fruto de seu trabalho extrapola o municpio. Carece de uma anlise mais profunda da inter-relao entre o garimpeiro e o rurcola, em cujo ambiente s vezes trabalha, e o citadino, ao lado de quem vive. Essencial na anlise das condies econmicas e scio-culturais da atividade de minerao do Nordeste Paulista.

Como est claro no exemplo, o leitor realiza uma interpretao crtica neste tipo de ficha. Esta anlise pode ser feita em relao: ao contedo forma de apresentao a outras obras etc. Foi inteno, nesta primeira unidade, conscientizar voc da necessidade de utilizar uma metodologia de trabalho especialmente voltada para o ensino individualizado e fundamentada em tcnicas de estudo; elas ajudaro a desenvolver estudos com maior racionalidade, sistematizao e aproveitamento. Esta postura particularmente necessria nos cursos a distncia, nos quais, embora voc possa recorrer ao tutor, o seu processo de aprendizagem ocorre na maioria das vezes de maneira solitria.

Exerccios1. Elabore trs diferentes tipos de fichas (citao, resumo e analtica) com base em um dos textos indicados para o curso ou outro mais acessvel a voc.

Enriquea seu estudo Se voc desejar conhecer mais sobre o tema documentao, faa a leitura da parte III(Documentao) do livro de Chizzotti (2000).

Muito oportuna tambm a leitura do texto Fichas, encontrado no livro de Lakatos (2001).

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UNIDADE I

Esquematizando...O Ato de EstudarPara desenvolver

{

o esprito crtico a prtica de trabalho tcnico

{

necessrio adquirir o hbito de estudos sistemticos e eficientes atravs da utilizao de mtodos e tcnicas adequados

O ensino superior exige do estudante: autonomia no processo de aprendizagem e postura de auto-atividade didtica rigorosa, crtica e criativa projeto de trabalho intelectual individualizado, apoiado em material didtico e cientfico Recursos de aprendizagem: bibliotecas de universidades, de outras instituies etc. rede de computadores biblioteca pessoal palestras encontros seminrios congressos mesas-redondas outros Aspectos a considerar no ato de estudar: domnio das tcnicas de leitura programao das atividades diviso do tempo

Tcnicas de LeituraPropsito da leitura: investigao crtica comparao verificao ampliao/integrao de conhecimentos Procedimentos para identificar as idias principais do autor: fazer leitura integral estabelecer unidades de leitura sublinhar esquematizar resumir

A Leitura AnalticaLeitura analtica Estudo aprofundado do texto: compreenso apreenso julgamento Classificao das etapas da leitura analtica Anlise: textual temtica interpretativa

A Documentao PessoalDocumentao pessoal Documentao pessoal: fichas e fichrios Vantagens da documentao pessoal O que documentar Como documentar

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O Conhecimento como Forma de Compreenso e Transformao da Realidade

Guia de estudoASSUNTO 1. Concepo e formas de conhecimento: emprico, cientfico, filosfico e teolgico 2. Cincia: fato, fenmeno e teoria. Papel da teoria e do fato na construo do conhecimento OBJETIVOS ESPECFICOS Distinguir o conhecimento cientfico de outras modalidades do conhecimento, essencial para entender a realidade

Carga horria: 04h

TAREFAS PREVISTAS Estudo do texto 5 "Concepes e formas de conhecimento" Exerccios Estudo do texto 6 "Fatos e teorias na construo do conhecimento" Exerccios

Reconhecer o papel que desempenham fatos e teorias na construo do conhecimento Enriquea seu estudo

Unidade II

METODOLOGIA

DA

PESQUISA

Texto 5Concepes e Formas de ConhecimentoOs primeiros textos deste mdulo mostraram que o estudioso necessita se apoiar em instrumental terico-metodolgico para desenvolver seus conhecimentos no somente durante o curso universitrio, mas tambm por toda a vida profissional. Nesta unidade (adaptada de Zentgraf, 1997b), voc refletir sobre o papel do conhecimento para a compreenso e transformao do mundo. Se no tivssemos a capacidade de conhecer e de compreender, viveramos submetidos s leis da natureza, impossibilitados de transformar o mundo para atender s nossas necessidades. A compreenso do mundo ocorre tanto em situaes simples do cotidiano quanto nas complexas, em instituies e laboratrios cientficos. O conhecimento se revela de forma terico-prtica. Luckesi (2000) destaca os seguintes aspectos em relao ao conhecimento: social, o indivduo relacionado a outros que encontra sadas para os problemas da realidade; histrico, para solucionar impasses da atualidade contamos com a contribuio do passado; um modo de iluminao da realidade, mesmo quando se d atravs de uma explicao mgica; necessrio para o progresso, para o atendimento s necessidades do ser humano; pode ter uma funo de libertao ou de opresso. A realidade pode ser abordada de diferentes maneiras. Veja um exemplo adaptado de Cervo (1996) que ilustra o que acabo de afirmar: se desejssemos obter um maior conhecimento sobre o homem, como deveramos proceder? Poderamos analisar o seu aspecto externo, a sua aparncia e dizer coisas a partir de nossa experincia cotidiana ou do bom senso; ou ento, investigar experimentalmente as relaes entre seus rgos e respectivas funes; ou ainda, questionar a sua origem, sua liberdade e, finalmente, o que dele foi dito por Deus. Neste exemplo, o pesquisador se depara com quatro diferentes abordagens do conhecimento: conhecimento emprico ou popular conhecimento cientfico conhecimento filosfico conhecimento teolgico Vamos analisar, a seguir, algumas caractersticas dessas diferentes abordagens.

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UNIDADE II

O conhecimento empricoTambm chamado vulgar, obtido ao acaso, baseado na experincia da vida cotidiana. Pode resultar de experincias repetidas, casuais, sem observao metdica ou de simples transmisso de gerao em gerao. Apresenta as seguintes caractersticas: superficial, conforma-se com a aparncia, no chegando essncia das coisas; sensitivo, refere-se a vivncias, a emoes da vida cotidiana; subjetivo, isto , o prprio sujeito organiza suas experincias; assistemtico, no se pretende uma organizao das idias; acrtico, no h a preocupao de anlise, de chegar verdade. Apesar dessas restries, o conhecimento vulgar, o senso comum, no deve ser menosprezado; constitui a base do saber e bastante anterior ao aparecimento da cincia.

O conhecimento cientficoA revoluo cientfica, propriamente dita, ocorreu nos sculos XVI e XVII com Coprnico, Bacon, Galileu, Descartes e outros estudiosos. Da para c o desenvolvimento da cincia foi-se acelerando continuamente e hoje, com sua metodologia objetiva e rigorosa, abrange pesquisas em todas as reas do mundo fsico e humano. um conhecimento real, lida com fatos. Difere do conhecimento filosfico porque suas proposies ou hipteses so testadas pela experimentao, no s pela razo. sistemtico, um saber ordenado logicamente, formando teorias. verificvel, as hipteses no comprovadas no constituem conhecimento cientfico, e falvel, uma vez que no um conhecimento definitivo; novas pesquisas e proposies podem rever a teoria existente. Difere tambm do conhecimento popular pelos mtodos e instrumentos de apreenso do conhecimento. Explica Lakatos (1995, p. 14):Saber que determinada planta necessita de uma quantidade X de gua e que, se no a receber de forma natural, deve ser irrigada, pode ser um conhecimento verdadeiro e comprovvel, mas, nem por isso, cientfico. Para que isso ocorra, necessrio ir mais alm: conhecer a natureza dos vegetais, sua composio, seu ciclo de desenvolvimento e as particularidades que distinguem uma espcie de outra.

Verifica-se, assim, que a diferena entre o conhecimento popular e o cientfico, no exemplo dado, basicamente a forma de observao.

O conhecimento filosficoDifere do cientfico pelo objeto de investigao e pela metodologia. Como vimos, o objeto da cincia so os dados prximos, perceptveis pelos sentidos ou por instrumentos, e verificveis pela experimentao. Quanto ao objeto da filosofia, explica Cervo (1996, p.10), constitudo de realidades mediatas, no perceptveis pelos sentidos e que, por serem de ordem supra-sensvel, ultrapassam a experincia.

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METODOLOGIA

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PESQUISA

O conhecimento filosfico valorativo, pois parte de hipteses no verificveis; racional porque seus enunciados so logicamente relacionados; e sistemtico, pois suas hipteses constituem uma representao coerente da realidade. Procura compreender a realidade no contexto mais universal e o sentido de tudo que envolve o homem. A filosofia questiona os conhecimentos cientficos e tcnicos, os fatos e problemas que envolvem o homem concreto: O progresso tcnico beneficia a humanidade? O que valor, hoje?

O conhecimento teolgico um conjunto de verdades aceitas pelos homens a partir da revelao divina. o resultado da f humana na existncia de uma ou mais divindades. Apresenta respostas a questes no respondidas pelas outras modalidades do conhecimento. Apia-se em doutrinas cujas proposies so sagradas por terem sido reveladas pelo sobrenatural; so verdades infalveis, evidncias nunca postas em dvida nem verificveis. Lakatos (1995, p. 17) exemplifica a abordagem dos telogos em contraposio dos cientistas frente evoluo das espcies, da seguinte maneira: de um lado, as posies dos telogos fundamentam-se nos ensinamentos de textos sagrados; de outro, os cientistas buscam, em suas pesquisas, fatos concretos capazes de comprovar (ou refutar) suas hipteses. Sabedor das diferentes maneiras de aquisio do conhecimento, o estudioso ter condies de refletir e se posicionar sobre o mesmo. Mas, para isso, necessita saber como chegar verdade, tema da prxima seo.

Verdade-Evidncia-CertezaAo tratar do conhecimento, vimos que a realidade misteriosa, enigmtica e atravs da compreenso do entendimento ela se revela ao homem. Vimos tambm que o homem procura entend-la de diferentes maneiras e suas limitaes dificultam a compreenso da realidade que mltipla e complexa. Como, ento, pode o homem chegar verdade? Vejamos o que diz Cervo (1996, p. 12):Todos falam, discutem e querem estar com a verdade. Nenhum mortal, porm, o dono da verdade. Isto porque o problema da verdade radica na finitude do homem, de um lado, e na complexidade e ocultamento do ser da realidade, de outro lado. [...] Aquilo que se manifesta, que aparece em dado momento, no , certamente, a totalidade do objeto da realidade investigada. [...] Isto, porm, no invalida o esforo humano na busca da verdade, na procura incansvel de decifrar os enigmas do universo. [...] Pode-se dizer que, em certas reas, o homem j entendeu bastante daquilo que o ser e manifesta: a conquista tecnolgica, as viagens espaciais mostram quanto j foi aprendido, e isto graas, certamente, aos instrumentos cientficos de que o homem se serviu para perceber e ver o que os sentidos jamais teriam visto. [...] O desvelamento do ser das coisas supe, e isto inegvel, a capacidade do homem de receber as mensagens; isto implica ateno, bons sentidos, bons instrumentos. [...] O mtodo e os instrumentos so a alma de toda a pesquisa cientfica, rumo abertura do ser, manifestao do ser ao conhecimento da verdade. [...]

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UNIDADE II

Este trecho de Cervo leva-nos a refletir sobre o conhecimento cientfico e seus condicionantes: o rigor e o mtodo, a utilizao de instrumentos adequados e o esprito cientfico, essencial ao pesquisador. E continua Cervo (p. 13):O que , pois, a verdade? o encontro do homem com o desvelamento, com o desocultamento e com a manifestao do ser. [...] Pode-se dizer que h verdade quando o homem (inteligncia) percebe e diz o ser que se desvela, que se manifesta. H uma certa conformidade (grifo nosso) entre o que o homem julga e diz e aquilo que do objeto se manifesta.

Como est claro, o homem pode conhecer o objeto de modo humano, imperfeito, atravs da representao do mesmo e das impresses que ele provoca. medida que novas impresses forem aparecendo, novos aspectos do objeto vo se tornando claros mas a totalidade nunca ser atingida, a verdade absoluta e total nunca ser conhecida pelo homem. Em muitas ocasies, o homem, utilizando uma metodologia e instrumentos inadequados, chega a concluses que no correspondem aos fatos e incide em erro. Ao longo da histria so muitos os exemplos de erros, como o de Ptolomeu, ao afirmar o geocentrismo. Para que a verdade, mesmo parcialmente, aparea, necessrio que ocorra a evidncia. O que a evidncia?Evidncia manifestao clara, transparncia, desocultamento e desvelamento do ser. A respeito daquilo que se manifesta do ser, pode-se dizer uma verdade. Mas, como nem tudo se desvela de um ente, no se pode falar arbitrariamente sobre o que no se desvelou. A evidncia, o desvelamento, a manifestao do ser , pois, o critrio da verdade. (CERVO, 1996, p. 14).

O que entender pelas palavras de Cervo? Analise a partir de um exemplo: muitas vezes, o iniciante em pesquisas desenvolve um trabalho e, ao chegar aos resultados e concluses do mesmo, faz afirmaes que no se referem s questes que pesquisou: portanto, no tem evidncias que demonstrem a veracidade de suas palavras e est falando de maneira arbitrria sobre o que no desvelou na sua pesquisa. Por outro lado, se o pesquisador tiver chegado a evidncias, poder fazer afirmativas sem temor de engano, ter certeza sobre o que estudou; ter chegado verdade sobre um determinado objeto. E o que a certeza? Explica Cervo (p. 14)A certeza o estado de esprito que consiste na adeso firme a uma verdade, sem temor de engano. Esse estado de esprito se fundamenta na evidncia, no desvelamento do ser. [...] Relacionando o trinmio [verdade, evidncia, certeza] poder-se-ia concluir dizendo: havendo evidncia, isto , se o objeto se desvela ou se manifesta com suficiente clareza, pode-se afirmar com certeza, isto , sem temor de engano, uma verdade.

O esprito cientfico requer do pesquisador uma mente objetiva, crtica e racional. Solues parciais, meias verdades, no condizem com a cincia. Muitas vezes, por falta de evidncias que conduzam certeza, outras situaes se manifestam: a ignorncia, a dvida e a opinio.31

METODOLOGIA

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PESQUISA

Veja como Cervo se manifesta sobre esses estados de esprito:Ignorncia um estado puramente negativo, que consiste na ausncia de todo conhecimento relativo a qualquer objeto por falta total de desvelamento. [...] A dvida um estado de equilbrio entre a afirmao e a negao. A dvida espontnea quando o equilbrio entre a afirmao e a negao resulta da falta do exame do pr e do contra. A dvida refletida o estado de equilbrio que permanece aps o exame das razes pr e contra. A dvida metdica consiste na suspenso fictcia ou real, mas sempre provisria, do assentimento a uma assero tida at ento por certa para lhe controlar o valor. A dvida universal consiste em considerar toda assero como incerta. a dvida dos cticos. (p. 14).

As definies de Cervo sobre os diferentes tipos de dvida deixam bastante claro que ela um estado de esprito bastante til e necessrio para o conhecimento cientfico. Quer seja a dvida refletida, quer seja a dvida metdica, trata-se, sem dvida, de uma etapa essencial compreenso do conhecimento, da evidncia, da verdade. A opinio uma afirmativa sobre um objeto, mas sem certeza. Quem emite uma opinio tem medo de se enganar porque os argumentos em contrrio so fortes e o sujeito no tem evidncias suficientes para refut-los. Imbudo do esprito cientfico que se constri ao longo da vida, de posse de instrumental metodolgico e pesquisando a verdade com rigor e seriedade, o estudante tornarse- apto a enfrentar e solucionar os problemas que se apresentam na vida profissional. Finalizando este texto, oportuno trazer nossa reflexo alguns trechos retirados de Morin (1999):A evoluo do conhecimento cientfico no unicamente de crescimento e de extenso do saber, mas tambm de transformaes, de rupturas, de passagem de uma teoria para outra. As teorias cientficas so mortais e so mortais por serem cientficas. A viso que Popper registra com relao evoluo da cincia vem a ser a de uma seleo natural em que as teorias resistem durante algum tempo, no por serem verdadeiras, mas por serem as mais adaptadas ao estado contemporneo dos conhecimentos. (p. 22). [...] Ento, o que faz que uma teoria seja cientfica, se no for a sua verdade? Popper trouxe a idia capital que permite distinguir a teoria cientfica da doutrina (no cientfica): uma teoria cientfica quando aceita que sua falsidade possa ser eventualmente demonstrada. Uma doutrina, um dogma, encontram neles mesmos a autoverificao incessante (referncia ao pensamento sacralizado dos fundadores, certeza de que a tese est definitivamente provada). [...] O conhecimento cientfico certo, na medida em que se baseia em dados verificados e est apto a fornecer previses concretas. O progresso das certezas cientficas, entretanto, no caminha na direo de uma grande certeza. (p. 23). [...] Podemos at dizer que, de Galileu a Einstein, de Laplace a Hubble, de Newton a Bohr, perdemos o trono da segurana que colocava nosso esprito no centro do universo: aprendemos que somos, ns cidados do planeta Terra, os suburbanos de um Sol perifrico, ele prprio exilado no entorno de uma galxia tambm perifrica de um universo mil vezes mais misterioso do que se teria podido imaginar h um sculo. O progresso das certezas cientficas produz, portanto, o progresso da incerteza, uma incerteza boa, entretanto, que nos liberta de uma iluso ingnua e nos desperta de um sonho lendrio: uma ignorncia que se reconhece como ignorncia. (p. 24).

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UNIDADE II

Para orient-lo em suas reflexes, leia as trs questes a seguir: a) Voc concorda com Morin quando ele afirma que a evoluo do conhecimento cientfico pode no ser apenas crescimento do saber, uma vez que, em muitas ocasies, ocorre uma ruptura com o conhecido? b) A idia defendida durante a Idade Mdia ocidental de que a Terra era plana era um dogma ou uma teoria? c) Como o progresso das certezas cientficas pode produzir o progresso da incerteza?

ExercciosCom o auxlio do texto responda s questes: 1. De que maneira o Homem desafia os mistrios que o Mundo lhe oferece tornando-o um mundo cultural e transformando-o para atender as suas necessidades? 2. Quais as caractersticas do conhecimento, segundo Luckesi? 3. O que distingue o conhecimento popular do conhecimento cientfico? Exemplifique. 4. Quais as principais diferenas entre o conhecimento filosfico e o cientfico e como essas diferenas repercutem na metodologia empregada por filsofos e cientistas? 5. Por que o conhecimento religioso considerado infalvel para os crentes e suas evidncias no so verificveis? 6. De que maneira diferentes formas de conhecimento podem coexistir na mesma pessoa? 7. Jornal uma fonte de conhecimentos em suas diferentes modalidades. Procure e recorte exemplos das quatro modalidades que voc analisou no texto estudado. 8. Analise a situao apresentada a seguir, luz do referencial terico no texto: No sculo II, Claudio Ptolomeu formulou a teoria de que a Terra era o centro do universo, com os planetas e o Sol girando ao seu redor. Somente no sculo XV, Nicolau Coprnico contestou a teoria de Ptolomeu, fundamentando-se em suas prprias observaes e analisando estudos de astrnomos. Coprnico concluiu que o Sol estava no centro do universo e a Terra juntamente com os demais planetas estavam envolvidos por uma esfera de estrelas fixas. A teoria de Ptolomeu chamada de geocentrismo e a de Coprnico, de heliocentrismo. Hoje sabemos que o Sol no o centro do universo, mas a Terra e os demais planetas giram ao seu redor. Concluda a anlise, apresente por escrito suas concluses. Se desejar, siga o seguinte roteiro: conhecimento conhecimento cientfico verdade - evidncia certeza

Enriquea seu estudo Para complementar os contedos relativos ao objetivo desta unidade, leia o texto O conhecimentocientfico, encontrado no livro de Kche (2001).

Recomendo tambm a leitura de Zaluar et al. (2000), matria publicada no Jornal do Brasil, que levao leitor a refletir sobre questes ticas ligadas pesquisa. 33

METODOLOGIA

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PESQUISA

Texto 6Fatos e Teorias na Construo do ConhecimentoNo texto anterior foi abordado o conhecimento, em especial o conhecimento cientfico, objeto desta disciplina. Neste texto voc e eu faremos algumas reflexes sobre cincia, fenmenos, fatos, leis e teorias. Dentre os autores adotados neste curso, Lakatos (1995) serviu de orientao para o desenvolvimento deste texto. Ela apresenta e analisa diversos conceitos de cincia, dentre os quais o de Ander-Egg: A cincia um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou provveis, obtidos metodicamente, sistematizados e verificveis, que fazem referncia a objetos de uma mesma natureza. (LAKATOS, 1995, p. 19) Entretanto, devemos ter em mente o que afirma Morin (1999, p. 58):A cincia no uma operao de verificao das realidades triviais, ela a descoberta de um real escondido ou, como diz Espagnat, velado. Em contrapartida, preciso citar que, no dilogo que a atividade cientfica estabelece com o mundo dos fenmenos, com o mundo real que se oculta, h um problema de sacrifcio de ambas as partes. Para que haja uma aproximao e um dilogo entre a inteligncia do homem e a realidade ou a natureza do mundo, so precisos sacrifcios enormes [...].

So caractersticas das cincias: a) objetivo ou finalidade - distinguir caractersticas comuns, leis e princpios que regulam os eventos; b) funo - ampliar e aperfeioar a relao do homem com a realidade atravs do conhecimento; c) objeto material - tudo aquilo que se pretende conhecer ou verificar; formal - enfoque especial das diversas cincias frente ao mesmo objeto material. A grande diversidade de fenmenos que ocorrem no universo levou o homem a estud-los dividindo-os em diversos ramos ou cincias especficas que tm sido grupadas de acordo com sua complexidade ou de acordo com seu contedo. Augusto Comte foi um dos primeiros a apresentar uma classificao para as cincias; a ele outros cientistas se seguiram. Lakatos (1995), baseando-se em Bunge, apresenta a seguinte classificao para as cincias: a) formais - a lgica e a matemtica b) factuais - divididas em dois grupos naturais - fsica, qumica, biologia e outras sociais - antropologia cultural, direito, economia, poltica, psicologia social, sociologia e outras.34

UNIDADE II

A diferena bsica entre os dois grandes grupos reside no objeto de estudo; as cincias formais estudam as idias e as cincias factuais estudam os fatos. As primeiras, como a matemtica, por exemplo, no tm relao com fatos da realidade e em conseqncia no podem valer-se dos contatos com essa realidade para convalidar suas frmulas (LAKATOS, 1995, p. 25). Em conseqncia, usam a lgica. As segundas, como a fsica, estudam fatos que se supe ocorrer na realidade e, ento, podem usar a observao e a experimentao para testar suas hipteses. Outro aspecto a destacar que as cincias formais podem demonstrar ou provar, enquanto as factuais verificam, comprovando ou refutando suas hipteses. A demonstrao final, enquanto a verificao provisria. As reflexes j desenvolvidas ao longo desta unidade encontram-se resumidas na seguinte passagem:[...] a finalidade da atividade cientfica a obteno da verdade, atravs da comprovao de hipteses que, por sua vez, so pontes entre a observao da realidade e a teoria cientfica, que explica a realidade. O mtodo o conjunto de atividades sistemticas e racionais que, com maior segurana e economia, permite alcanar o objetivo conhecimentos vlidos e verdadeiros , traando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decises do cientista. (LAKATOS, 1995, p. 40).

No se pode falar dos ramos das cincias sem enfocar a posio de cientistas que se opem a um excesso de especializaes. Observe o que escreve Morin (1999, p. 10):A pr-histria da cincia ainda no est morta no fim do sculo 20. Mas, em toda parte, cada vez mais tende-se a ultrapassar, abrir, englobar as disciplinas, e elas aparecero, pela tica da cincia futura, como um momento de sua pr-histria. Isso no significa que as distines, as especializaes, as competncias devam dissolver-se. Isso significa que um princpio federador e organizador do saber deve impor-se.

No outra a posio do cientista Edward. O. Wilson, como mostra Godoy (1999), ao comentar o livro traduzido do cientista A unidade do conhecimento. Consilincia. O termo consilincia antigo, representava a idia de uma s cincia defendida por iluministas na metade do sculo XIX. Wilson afirma que h condies de superar a situao atual e reunir os vrios campos do conhecimento. Segundo Godoy, o argumento central do cientista de que o trabalho mental produto de atividades psicoqumicas do crebro e suas interaes com o corpo humano. Nesse sentido, as cincias exatas so necessrias para o desenvolvimento das cincias sociais e humanas. As cincias factuais, atravs do estudo metdico, sistemtico e racional dos fatos, chegam ao conhecimeto da realidade. O que so fatos? Segundo Cohen e Nagel, citados por Lakatos (1995, p. 27), a palavra fato pode referir-se a coisas diferentes, dentre as quais interessam ao presente estudo: coisas que existem no espao

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e no tempo (assim como as relaes entre elas), em virtude das quais uma proposio verdadeira. A funo da hiptese chegar aos fatos. [...] Veja o exemplo a seguir: a convivncia de indivduos heterogneos, durante longo tempo, no seio de uma comunidade, leva estratificao. Existem exemplos clssicos de fatos que deram origem a leis e teorias. Arquimedes, por exemplo, ao se banhar percebeu que seu corpo perdia peso quando mergulhava na gua. Este fato levou a uma lei da hidrosttica. Em suma, a realidade emprica se revela atravs de fatos; fato qualquer coisa que exista na realidade. A cincia no se preocupa com casos individuais e sim com generalizaes. Verifica os fatos particulares para, atravs deles, chegar a proposies gerais denominadas leis. A lei procura explicar os fenmenos da realidade, os aspectos invariveis comuns a diferentes fenmenos. Quando o conhecimento a respeito de fatos ou de relaes entre eles amplo, temos uma teoria. Explica Lakatos (1995, p.89) que, se o fato uma observao empiricamente verificada, a teoria se refere a relaes entre fatos ou, em outras palavras, ordenao significativa desses fatos, consistindo em conceitos, classificaes, correlaes, generalizaes, princpios, leis, regras, teoremas e axiomas. Esta conceituao leva a concluir que teoria e fato so os objetos de estudo dos cientistas; a teoria se baseia em fatos e a justaposio de fatos sem um princpio de classificao (teoria), no produziria a cincia. (p. 89). Logo, o desenvolvimento cientifico uma inter-relao constante entre teoria e fato. (p. 89). Goode e Hatt, citados por Lakatos, estudaram o papel da teoria em relao aos fatos que apresento esquematicamente: a) a teoria serve como orientao para restringir a amplitude dos fatos a serem estudados; b) a teoria serve como sistema de conceptualizao e de classificao dos fatos; c) a teoria serve para resumir sinteticamente o que j se sabe sobre o objeto de estudo, atravs das generalizaes empricas e das inter-relaes entre afirmaes comprovadas; d) a teoria serve para, baseando-se em fatos e relaes j conhecidos, prever novos fatos e relaes; e) a teoria serve para indicar os fatos e as relaes que ainda no esto satisfatoriamente explicados e as reas da realidade que demandam pesquisas. Os fatos, por sua vez, tambm podem desempenhar funo significativa na construo da teoria. Veja o que diz Lakatos: a) um fato novo, uma descoberta, pode provocar o incio de uma nova teoria; b) os fatos podem provocar a rejeio ou a reformulao de teorias j existentes;

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UNIDADE II

c) os fatos redefinem e esclarecem a teoria previamente estabelecida, no sentido de que afirmam em pormenores o que a teoria afirma em termos bem mais gerais; d) os fatos descobertos e analisados pela pesquisa emprica exercem presso para esclarecer conceitos contidos na teoria. Vimos, assim, que fatos e teorias se integram e se completam em funo do objetivo da cincia: a procura da verdade. Chegamos ao final da Unidade II cujo tema foi o conhecimento. Voc deve ter-se familiarizado com suas diferentes modalidades, bem como com a importncia e caractersticas do conhecimento cientfico como forma de libertao do Homem em relao ao mundo. Iniciouse, tambm, no entendimento do modo especfico que a cincia adota para conhecer a realidade: a verificao de fatos e a inter-relao entre os mesmos (leis e teorias). Na prxima Unidade vamos aprofundar os procedimentos cientficos para a produo do conhecimento.

Exerccio1. Realize uma leitura analtica deste texto, resumindo-o.

Enriquea seu estudo A leitura do captulo 2 de Kche (2001) Cincia e mtodo: uma viso histrica propiciar umaanlise das cincias grega, moderna e contempornea.

A leitura do texto O problema metodolgico da pesquisa, itens 1 e 2, levar o leitor a fazer umareviso dos conceitos de fato, fenmeno, leis e teorias. (Rudio, 2000).

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Esquematizando...

Concepes e Formas de ConhecimentoConhecimento - forma terico-prtica e prtico-terica de compreender a realidade que nos cerca. social histrico um modo de iluminao da realidade necessrio para o progresso pode ter funo de libertao ou de opresso

Aspectos do conhecimento

Abordagens do conhecimento emprico (vulgar ou popular) - superficial, sensitivo, subjetivo, assistemtico, a-crtico cientfico - real, sistemtico, verificvel, falvel filosfico - valorativo, racional, sistemtico teolgico - verdades aceitas pelos homens a partir da revelao divina Verdade-Evidncia-Certeza Verdade - o encontro do homem com o desvelamento do ser Evidncia - a manifestao clara do ser; o critrio da verdade Certeza - a adeso firme a uma verdade Ignorncia - a ausncia de conhecimento relativo a um objeto por falta de desvelamento Dvida - estado de equilbrio entre afirmao e negao Opinio - afirmativa sobre um objeto, mas sem certeza

Fatos e Teorias na Construo do ConhecimentoCincia - conjunto de conhecimentos racionais, certos ou provveis, obtidos metodicamente, sistematizados e verificveis, que fazem referncia a objetos de uma mesma natureza. objetivo - distinguir caractersticas comuns aos eventos funo - ampliar e aperfeioar a relao homem x realidade objeto - material e formal

Caracterizao das cincias Classificao das cincias estudam as idias Formais

Exemplos: Lgica e Matemtica podem demonstrar ou provar Cincias Naturais Exemplos: Fsica, Qumica Exemplos: Antropologia Cultural, Psicologia, Sociologia, Direito

Factuais

estudam os fatos Cincias Sociais

Fato - qualquer coisa que exista na realidade Fenmeno - percepo que se tem do fato Teoria - relaes entre fatos, isto , sua ordenao significativa - conceitos, classificaes, generalizaes, princpios, leis Desenvolvimento cientfico - inter-relao constante entre teoria e fato Papel da teoria em relao aos fatos Papel dos fatos na construo da teoria

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A Produo e Transmisso do Conhecimento Atravs da Pesquisa Cientfica

Guia de estudoASSUNTO 1. Finalidade, significado e modalidades de pesquisa cientfica OBJETIVOS ESPECFICOS

Carga horria: 05h

TAREFAS PREVISTAS Estudo do texto 7 "Pesquisa cientfica: conceito e modalidades" Exerccios

Conceituar pesquisa e distinguir suas diferentes modalidades

2. Abordagem metodolgica da pesquisa cientfica. Paradigmas conflitantes na atualidade

Identificar diferentes paradigmas metodolgicos da pesquisa cientfica Enriquea seu estudo

Estudo do texto 8 "Paradigmas metodolgicos da pesquisa cientfica" Exerccios

Unidade III

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Texto 7Pesquisa Cientfica: conceito e modalidadesO conhecimento cientfico, como ficou evidente na Unidade II, essencial para que o Homem entenda a realidade e a transforme. Como obter, ento, o conhecimento cientfico? A maneira especfica utilizada pela cincia para a obteno do conhecimento cientfico atravs da pesquisa. Cabe, ento, perguntar: o que pesquisa?Pode-se definir pesquisa como o procedimento racional e sistemtico que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que so propostos. A pesquisa requerida quando no se dispe de informao suficiente para responder ao problema, ou ento quando a informao disponvel se encontra em tal estado de desordem que no possa ser adequadamente relacionada ao problema. A pesquisa desenvolvida mediante o concurso dos conhecimentos disponveis e a utilizao cuidadosa de mtodos, tcnicas e outros procedimentos cientficos. Na realidade, a pesquisa desenvolve-se ao longo de um processo que envolve inmeras fases, desde a adequada formulao do problema at a satisfatria apresentao dos resultados (GIL, 1996, p. 19).

A produo do conhecimento cientfico, como ficou claro na definio acima, parte da problematizao de uma situao que investigada atravs da pesquisa; para esta investigao empregam-se metodologia e tcnicas cientficas e utilizam-se como pressupostos iniciais conhecimentos j existentes sobre a questo. A pesquisa tem diferentes objetivos. A pesquisa pura aquela realizada por questes de ordem intelectual; amplia o saber, estabelece princpios cientficos. A pesquisa aplicada realizada por questes imediatas, de cunho prtico; busca solues para problemas concretos. So elementos essenciais pesquisa: a dvida ou problema, mtodo cientfico e a resposta ou soluo. A pesquisa varia de acordo com a qualificao do investigador; o objetivo daqueles que se iniciam aprender a metodologia e as tcnicas, seguindo os passos dos pesquisadores profissionais. Neste caso, a pesquisa ser um resumo de assunto, diferente da pesquisa original elaborada pelo pesquisador profissional. Apesar de no se tratar de pesquisa original, a pesquisa resumo exige a utilizao dos mtodos cientficos empregados naquela. Quanto pesquisa original, caracteriza-se por apresentar resultados que so novas conquistas para a rea de conhecimento investigada.

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UNIDADE III

Neste ponto, aproveito para lembrar que incentivar o esprito crtico, a curiosidade, o hbito da pesquisa papel do professor; veja o que diz Demo sobre o assunto:Pesquisar no somente produzir conhecimento, sobretudo aprender em sentido criativo. possvel aprender escutando aulas, tomando nota, mas aprende-se de verdade quando se parte para a elaborao prpria, motivando o surgimento do pesquisador, que aprende construindo. [...] Dialogar com a realidade talvez seja a definio mais apropriada de pesquisa, porque a apanha como princpio cientfico e educativo. Quem sabe dialogar com a realidade de modo crtico e criativo faz da pesquisa condio de vida, progresso e cidadania. No faz sentido dizer que o pesquisador surge na psgraduao, quando, pela primeira vez na vida, dialoga com a realidade e escreve trabalho cientfico. Se a nossa proposta for correta, ou pelo menos aceitvel, a pesquisa comea na infncia e est em toda a vida social. Educao criativa comea na e vive da pesquisa, desde o primeiro dia de vida da criana. (DEMO, 1992, p. 44).

Mtodos e tcnicas na pesquisa cientficaExistem diferentes maneiras de conceituar mtodos e tcnicas. Neste trabalho adoto a posio de Cervo, para quem as tcnicas so procedimentos cientficos empregados por uma cincia determinada. Como exemplo, cito as tcnicas especficas para testes de laboratrio, para levantamento de opinio de massa, para determinar a antigidade em funo do carbono etc. H, entretanto, procedimentos que so utilizados pela totalidade ou quase totalidade das cincias; neste caso, estamos na presena do mtodo. Diz Cervo (1996, p. 46), mtodos so tcnicas suficientemente gerais para se tornarem procedimentos comuns a uma rea das cincias ou a todas as cincias. Desse modo, existem procedimentos que so idnticos em todas as cincias e que so utilizados em quase todas as pesquisas. So eles: a) formular questes ou propor problemas e levantar hipteses; b) efetuar observaes e medidas; c) registrar to cuidadosamente quanto possvel os dados observados com o intuito de responder s perguntas formuladas ou comprovar a hiptese levantada; d) elaborar explicaes ou rever concluses, idias ou opinies que estejam em desacordo com as observaes ou com as respostas resultantes; e) generalizar, isto , estender as concluses obtidas a todos os casos que envolvem condies similares; a generalizao tarefa do processo chamado induo; f) prever ou predizer, isto , antecipar que, dadas certas condies, de se esperar que surjam certas relaes. Esta metodologia complementada com tcnicas que so especficas para as diferentes cincias.

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Modalidades ou tipos de pesquisaO homem pode investigar a realidade sob os mais variados aspectos, em diferentes nveis de profundidade e com diferentes objetivos. Em conseqncia, existem diferentes tipos de pesquisa que so classificados pelos autores segundo diferentes critrios. Assim, as pesquisas podem ser grupadas segundo a rea do conhecimento em pesquisas histricas, educacionais etc.; segundo o lugar em que se desenvolvem, em pesquisas de laboratrio, de campo; segundo a sua utilizao, em pesquisa pura ou aplicada; segundo o carter dos dados coletados, em pesquisa quantitativa ou qualitativa; segundo a forma de raciocnio, em pesquisa indutiva ou dedutiva etc. Cervo adota como critrio para classificao o procedimento geral utilizado. De acordo com este critrio, ele apresenta os seguintes tipos de pesquisa: bibliogrfica, descritiva e experimental. A pesquisa bibliogrfica investiga o problema a partir do referencial terico existente em documentos e publicaes. Ela a pesquisa por excelncia na rea das cincias humanas; alm de pesquisa original tambm utilizada como pesquisa resumo para os iniciantes. Desde a graduao os alunos devem ser iniciados nesta modalidade de pesquisa, uma vez que ela tambm a primeira etapa das pesquisas descritiva e experimental. Nas prximas unidades voltarei a tratar deste tipo de pesquisa. A pesquisa descritiva caracteriza-se por estudar fatos e fenmenos fsicos e humanos sem que o pesquisador interfira. Procura evidenciar, com a preciso possvel, a ocorrncia de um fenmeno, sua relao e conexo com outros e suas caractersticas. O pesquisador utiliza tcnicas de observao, registro, anlise e correlao de fatos sem manipul-los. Esta modalidade de pesquisa utilizada, principalmente, pelas cincias sociais e humanas; permite investigar e conhecer situaes e relaes que se desenvolvem na vida poltica, social, econmica etc. Cervo destaca as seguintes subdivises ou formas de pesquisa descritiva: a) estudos exploratrios, tambm chamados de pesquisa quase cientfica, no elaboram hipteses a serem testadas; definem objetivos e buscam maiores informaes sobre determinado assunto em estudo. Recomenda-se esta forma de pesquisa quando se precisa ampliar conhecimentos sobre o problema a ser investigado. b) estudos descritivos ocupam-se do estudo e descrio das propriedades ou relaes existentes na realidade pesquisada; assim, como os estudos exploratrios, auxiliam a formulao clara de um problema e de hipteses, em pesquisas mais amplas. c) pesquisa de opinio abrange uma gama muito grande de investigaes visando descobrir tendncias, interesses, procedimentos etc. com o objetivo de tomada de decises. d) pesquisa de motivao procura as razes ocultas que determinam a preferncia por determinado produto, certas atitudes etc. e) estudo de caso, pesquisa sobre determinado indivduo, grupo ou comunidade com o objetivo de investigar vrios aspectos da vida cotidiana do investigado. f) pesquisa documental estuda a realidade atual, sendo, portanto, diferente da pesquisa histrica; investiga documentos com o objetivo de descrever e comparar diferentes tendncias, usos e costumes etc.42

UNIDADE III

Em todas essas formas, a coleta de dados da realidade presente a tcnica por excelncia; para tanto, o pesquisador utiliza como instrumentos a observao, o questionrio e a entrevista, que sero abordados na Unidade IV. A pesquisa experimental caracteriza-se por manipular diretamente as variveis relacionadas com o objeto de estudo. So criadas situaes de controle e interfere-se na realidade, manipulandose a varivel independente a fim de observar o que acontece com a dependente. (Cervo, 1996, p. 51). Enquanto a pesquisa descritiva procura explicar e interpretar os fenmenos que ocorrem, a pesquisa experimental pretende explicar as causas e a maneira pela qual o fenmeno produzido. Modernamente, a tecnologia oferece ao pesquisador aparelhos e instrumentos que permitem atingir os seus objetivos, tornando perceptveis as relaes existentes entre as variveis. Conclumos aqui este texto esperando que voc adote a pesquisa como forma de conhecer a realidade que o cerca e desenvolva, em seus alunos, hbitos de estudo que favoream o surgimento do esprito cientfico.

Exerccios1. Enumere trs caractersticas da pesquisa cientfica. 2. Voc concorda com a afirmativa de que o estudante universitrio que se inicia na pesquisa e o pesquisador profissional tm objetivos distintos? Justifique. 3. Que caractersticas precisa ter um trabalho cientfico para ser considerado pesquisa pura ou pesquisa aplicada? 4. Qual a diferena entre a pesquisa original e a pesquisa resumo? 5. Uma das caractersticas da pesquisa cientfica o emprego de procedimentos cientficos. Que nome recebem esses procedimentos e como Cervo os define? 6. Qual o objetivo da pesquisa bibliogrfica? 7. Cite uma diferena entre a pesquisa descritiva e a pesquisa experimental. 8. Faa um esquema representando as subdivises da pesquisa descritiva citadas por Cervo. 9. Os cientistas usam diferentes critrios para classificar as pesquisas. Que critrio adota Cervo para classificar as pesquisas em bibliogrfica, descritiva e experimental?

Enriquea seu estudo Atravs da leitura do texto Pesquisa descritiva e pesquisa experimental (Rudio, 2000), voc teroportunidade de ampliar a noo de variveis e suas diferentes modalidades, bem como aprofundar as noes sobre os tipos de pesquisa estudados. 43

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Texto 8Paradigmas Metodolgicos da Pesquisa CientficaVimos no texto anterior que a pesquisa o meio por excelncia de se obter o conhecimento e que a mesma se apresenta sob diferentes modalidades, em conseqncia da amplitude e enfoque da realidade investigada pelas cincias. Chizzotti (2000, p. 11) explica que Transformar o mundo, criar objetos e concepes, encontrar explicaes e avanar previses, trabalhar a natureza e elaborar as suas aes e idias so fins subjacentes a todo esforo de pesquisa. A pesquisa cientfica, entretanto, distingue-se de outras modalidades de investigao pelos mtodos e tcnicas utilizados, por estar voltada para a realidade emprica e pela maneira de transmitir o conhecimento obtido. No sculo atual, duas tendncias conflitantes predominam na comunidade cientfica; um paradigma adota a pesquisa utilizada nas cincias naturais para explicar os fatos e fazer previses em outras reas; o outro, defende uma metodologia, uma lgica prpria para a investigao dos fenmenos humanos e sociais a partir do contexto concreto em que os mesmos ocorrem. A fundamentao do primeiro paradigma se encontra no Positivismo de A. Comte para o estudo dos fatos sociais e no Empirismo de Mill para a investigao de fenmenos psicolgicos. Nesta linha, Pareto e Durkheim estenderam este paradigma experimental anlise da sociedade.[...] As interpretaes de Parsons (1902-1979) sobre Pareto, Durkheim e Weber, a respeito dos fatos sociais, desdobraram-se em uma concepo estrutural, funcionalista da sociedade. Essa concepo se difundiu nos meios acadmicos norte-americanos e constituiu-se em um mtodo de anlise e explicao dos fenmenos sociais (CHIZZOTTI, 2000, p. 131).

Apesar da grande influncia desse paradigma, outras concepes se desenvolveram. J no comeo do sculo XX, nos meios acadmicos alemes incentivam-se as discusses met