013_(o Clima Em Áreas Verdes Intra-urbanas de Fortaleza.)
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O CLIMA EM ÁREAS VERDES INTRA-URBANAS DE FORTALEZA
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REVISTA GEONORTE, Edição Especial 2, V.2, N.5, p.443 – 454, 2012
O CLIMA EM ÁREAS VERDES INTRA-URBANAS DE FORTALEZA.
Kauberg Gomes Castelo Branco [email protected]
Maria Elisa Zanella
Marta Celina Linhares Sales [email protected]
Resumo
Com a consolidação de Fortaleza e de sua região metropolitana na década de 1970, é observada uma intensificação no adensamento urbano e consequentemente uma evidenciação dos problemas ambientais citadinos inclusive aqueles ligados ao clima urbano. Nesta perspectiva foi proposto investigar, seguindo a metodologia do Sistema Clima Urbano de Monteiro (1976, 2003), o clima em áreas intra-urbanas de Fortaleza, mais especificamente os espaços verdes e adjacências, objetivando analisar os contrastes térmicos e a influência do uso e ocupação do solo nas temperaturas, considerando as condições geoecológicas e fluxo de veículos e pessoas. As medições foram realizadas no período diurno das 7h às 17h, com intervalo de 1h cada em dois momentos do ano de 2011: a 1ª no período seco e a 2ª no chuvoso. Como resultados observou-se a variação das temperaturas de forma expressiva no ambiente intra-urbano de um modo geral. Nos pontos internos as amplitudes térmicas foram menores que os pontos externos, sendo estes últimos mostrando-se mais quentes nas quatro áreas amostrais analisadas. Abstract With the consolidation of Fortaleza and its metropolitan region in the 1970s, is seen an intensification in urban density and therefore a disclosure of environmental problems townspeople including those linked to urban climate. In this perspective was proposed to investigate, following the methodology of the urban climate system of Monteiro (1976, 2003), the climate on intra-urban areas of Fortaleza, specifically green spaces and surroundings, aiming to analyze the thermal contrasts, human comfort and influence the use and occupation of land in urban and climate components. These components were analyzed temperature, relative humidity, wind direction and intensity, cloudiness and flow of vehicles and people. Measurements were performed during daytime from 7am to 17h, with an interval of 1 hour each on two moments of the year 2011 during the 1st and 2nd rainy dry. The results observed variation in temperature significantly in intra urban environment in general. The points of internal and external research observed this change more clearly the correlation of the data. Introdução
A história das cidades se inicia com o fenômeno de sedentarização das populações humanas
sendo as primeiras cidades, fruto da revolução agrícola. Com o levantamento de dados estáticos torna-
se visível o aumento demográfico das cidades, o que confirma a predominância dos espaços urbanos
como morada do homem moderno caracterizado pelo forte adensamento de pessoas, como
evidenciado no século XXI, considerado o “século das cidades” (MENDONÇA 2003).
Com a consolidação de Fortaleza como capital do estado e a criação de sua região
metropolitana na década de 1970, é observada uma intensificação no adensamento urbano e
consequentemente uma evidenciação dos problemas ambientais citadinos como chuvas mais intensas,
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poluição atmosférica e o aumento da temperatura no sitio urbano, sendo os mesmos uma
materialização de modificações do clima urbano local.
Objetivos Geral
O objetivo geral dessa pesquisa constitui-se em analisar os contrastes térmicos e a influência
do uso e ocupação do solo nas temperaturas, em diferentes áreas verdes localizadas no espaço urbano
de Fortaleza.
Objetivos Específicos
- identificar áreas verdes no município de Fortaleza, analisando as variações térmicas entre elas e os
espaços construídos circundantes.
- estabelecer a relação entre as temperaturas analisadas e os diferentes tipos de tempo que se
estabelecem dentro do período seco e chuvoso.
- fortalecer a importância das áreas verdes como medida de planejamento afim de amenizar as
temperaturas em Fortaleza
Referencial Teórico
Coelho (2001), discute em sua leitura a complexidade dos problemas ambientais urbanos,
pois apresentam o desafio de articular os processos ecológicos e sociais à utilização do ambiente
urbano. Com relação ao clima da cidade, Monteiro (2003) discute e propõe uma visão integrativa dos
fenômenos climáticos.
O homem se apropria do espaço de forma diferenciada, fragmentada. Cada espaço que o
homem se propõe a apropriar recebe funções diferenciadas, de acordo com as necessidades dos seres
humanos. Desta forma o homem modifica o meio natural, transformando-o em espaço Geográfico
(espaço em que o homem modifica o meio natural a seu favor). Um exemplo disso são as condições
climáticas alteradas pelos novos materiais introduzidos no espaço urbano, um espaço bem peculiar que
se tornou posse dos homens. As cidades possuem características próprias, pois compreende espaço de
produção e reprodução das sociedades na atualidade. Portanto e no espaço urbano que o
comportamento climático adquire novas e diferenciadas feições. É na cidade que o homem tem um
poder direto de alterar de forma, às vezes consubstancial o clima local, modificando as características
naturais que antes existia ali, por meio dos processos de urbanização e expansão da mancha urbana,
muitas vezes de forma desorganizada e caótica. Desse modo, discutir o comportamento climático
local relacionando-o com o processo de uso e ocupação do solo é uma forma de se pensar a cidade, e
os seus diversos espaços intra-urbanos, objetivando um maior planejamento no que se traduz a uma
melhor qualidade de vida e ambiental. (PAIVA, 2008).
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Com essa preocupação partiu-se para a problemática das áreas verdes e coberturas vegetais. A
vegetação ou cobertura vegetal é um atributo muito importante na constituição física de uma cidade,
porém é severamente desprezada por seus gestores. A vegetação é um constituinte único para o
ambiente urbano, diferente da terra, do ar e dos recursos hídricos superficiais. Para os moradores de
uma cidade as áreas verdes têm um caráter de embelezamento, satisfação psicológica e cultural.
Contudo torna-se necessária um avanço dessas ideias, podendo-se destacar observações de Monteiro
(1976) de que a vegetação pode e deve ser uma constituinte urbana de conforto, bem estar e qualidade
ambiental avançando dessa função estética e sentimental.
Como benefícios das coberturas vegetais para as cidades pode-se destacar: estabilização de
superfícies com a fixação dos solos pelas raízes das plantas, obstáculo para a diminuição dos ventos,
proteção de mananciais e qualidade das águas, filtração do ar com a diminuição do contato humano
com os poluentes, diminuição da poeira em suspensão, isolamento acústico (diminuição dos ruídos
urbanos), equilíbrio da umidade do ar e da temperatura, espaço para a fauna local, e como áreas de
organização e desenvolvimento de atividades Humanas. É ainda um elemento de valorização estética
(visual e ornamental), com a quebra da monotonia urbana e melhoria da saúde e qualidade de vida
citadina (NUCCI, 2001).
As áreas verdes urbanas proporcionam melhorias no ambiente excessivamente impactado das
cidades e benefícios para os habitantes das mesmas. A função ecológica deve-se ao fato da presença
da vegetação, do solo não impermeabilizado e de uma fauna mais diversificada nessas áreas,
promovendo melhorias no clima da cidade e na qualidade do ar, água e solo.
A área de estudo escolhida, o município de Fortaleza está localizado no setor central da zona
costeira do Estado do Ceará, que por sua vez, faz parte do setor setentrional do Nordeste brasileiro.
Fortaleza enquadra-se no seguinte contexto de coordenadas UTM: 9592000 e 9572000 N; e 537000 e
567000 E. (IBGE, 2010).
A cidade apresenta-se delimitada ao norte e a leste pelo Oceano Atlântico; à sudeste pelos
municípios de Aquiraz e Eusébio; à oeste, pelo município de Caucaia e, por fim ao sul, pelos
municípios de Itaitinga, Pacatuba e Maracanaú. Segundo o censo do Instituto Brasileiro de Estatística
e Geografia (IBGE) de 2010, a cidade possui um contigente populacional de cerca de 2.500.000
habitantes, sendo considerada a 5ª capital em população total.
Especificando o objeto do estudo, pode-se direcionar para as áreas verdes e cobertura vegetal,
que estão dispostas de forma irregular e descontinua no espaço urbano da cidade.
A expansão urbana associada, por exemplo, à falta de um programa habitacional por parte do
poder público, sobretudo voltado para a população de baixa renda, fez (e faz) com que significativa
parcela da população seja assentada desordenadamente, ocupando setores desvalorizados da cidade,
que são tanto desprovidos de infra-estrutura básica, quanto relacionados a áreas ambientalmente
dinámicas, frágeis e suscetíveis à ocupação.
Dentre as profundas modificações impostas ao meio ambiente pela atividade humana, destaca-se
a remoção da cobertura vegetal, que vem ocorrendo de maneira cada vez mais acelerada nas últimas
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décadas, por meio da expansão desordenada das áreas urbanas e industriais, a exemplo da cidade de
Fortaleza.
Como a vegetação é um recurso natural que fornece uma quantidade enorme de benefícios aos
seres humanos, ela deve ser preservada sempre que possível e, sob pena de se comprometer, a
qualidade de vida das gerações futuras. Sendo assim, como afirma Lombardo (1995) o conhecimento
da flora é imprescindível para a execução dos programas de uso e ocupação do solo.
A devastação da cobertura vegetal foi ampla e irrestrita à toda a cidade. Ilustrando isso, pode-se
observar que a vegetação dita “antrópica” predomina na cidade, ocupando mais de 257 km2
.( Plano
Diretor de Fortaleza, 2001).
Em Fortaleza destacam-se as planícies fluviomarinhas dos rios Pacoti, Ceará e Cocó, como as
mais significativas, e onde se encontra a maior parte da vegetação restante no meio urbano (Vegetação
de mangue).
Materiais e Métodos
Diante dos objetivos propostos para a realização da pesquisa, torna-se pertinente a
fundamentação teórico-metodológico para a construção do trabalho.
Serão utilizadas as proposições do Sistema Clima Urbano de Monteiro, (1976, 2003). Como
forma de estudar o clima de um dado local e sua urbanização, Monteiro (1976), desenvolve estudos
para o clima urbano, a partir do Sistema Clima Urbano – S. C. U. A metodologia proposta pelo autor é
composta por três subsistemas: termodinâmico, físico-químico e hidrometeórico, sendo estes
diretamente correlacionados respectivamente com os canais de percepção humana: conforto térmico,
qualidade do ar e impacto meteórico. Para cada subsistema existem campos de estudos e pesquisas
diferenciadas. No subsistema termodinâmico: as ilhas de calor, circulação de ventos, conforto e
desconforto térmico. No subsistema físico-químico, a poluição atmosférica, assim como as doenças
respiratórias relacionandas à qualidade do ar. E por fim, o hidrometeórico que evidência os impactos
meteóricos (impactos das chuvas), incluindo os problemas de inundação urbana, vulnerabilidades
urbanas, enchentes. Deste modo, o S. C. U. em sua essência almeja uma visão integrada, holística dos
elementos climáticos continentes da atmosfera urbana.
Para a presente pesquisa foi realizado, inicialmente, um levantamento das principais
referências bibliográficas que orientam o trabalho, auxiliando a construção do cenário que atenderá
aos objetivos propostos. Nesse momento a obtenção de informações cartográficas como mapa- base,
mapas temáticos, imagens de satélites foram importantes.
Foram selecionadas três diferentes áreas verdes que serviram de áreas amostrais. Concluída
esta etapa da pesquisa, deu-se início a coleta dos dados nos locais escolhidos, utilizando-se da variável
temperatura do ar. Em cada área amostral foram realizadas medições na parte interna e externa da
mesma. Para a obtenção da temperatura foi utilizado o psicrômetro de funda.
Resultados e discussões
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Os estudos relacionados às áreas verdes urbanas possuem pouca expressão no Brasil. Na
cidade de Fortaleza essa situação também não é distinta de outras cidades de nosso País. A partir da
década de 70 se tem uma maior preocupação em estudos direcionados para a qualidade de vida
citadina, focados na qualidade ambiental e humana principalmente vinculados a saúde humana.
Fortaleza possui várias pesquisas sobre clima da cidade, sendo representativos em âmbito
nacional. Possui estudos relativos ao campo térmico realizados por Moura (2006, 2008) com uma
escala comparativa entre diferentes pontos, no qual o objetivo foi o de analisar as ilhas de calor na
cidade. Alguns estudos foram construídos no campo hidrometeórico (relacionados às chuvas intensas),
(Zanella, Sales & Abreu, 2009, Branco, 2010, dentre outros), quando na tentativa da mensuração dos
impactos das chuvas na cidade após episódios excepcionais.
A pesquisa foi estruturada a partir de áreas verdes intra-urbanas, a fim de se perceber como se
comportam essas áreas na dinâmica urbana. Para tanto as condições climáticas foram analisadas a
partir de medições pontuais da temperatura (perfil de analise: 07hs ás 17hs tanto no período seco
(campo realizado no dia 10 de novembro de 2011) como também no período chuvoso (campo
realizado no dia 24 de abril de 2012), bem como estrutura/dinâmica urbana e condições geoecológicas
diferenciadas nestes espaços analisados. A análise se deu de forma comparativa a partir dos dados
coletados, pois em cada área escolhida foram estabelecidos dois pontos de coleta. Um ponto localizado
em uma área no interior da área verde e o outro em uma área urbanizada, no exterior da área verde,
porém próxima a ela.
Os critérios para as escolhas dos pontos foram, a existência de áreas verdes, o aspecto
logístico de acesso (segurança, já que os pontos também se encontravam em áreas de pouca circulação
de pessoas, no caso das áreas verdes). Chegou-se a escolha dos quatro áreas de coleta de dados com
dois pontos cada, a saber: Campos do Pici, Parque Ecológico do Cocó, Passeio Publico e Parque
Pajeú.
Área 1 compreende o Campos do Pici no setor leste da cidade (Figura 01). É o campus onde se
localiza a Universidade Federal do Ceará. Nessa área foram estabelecidos dois pontos de coleta: um
interno e outro externo. O ponto interno corresponde uma área representativa de mata ciliar, junto ao
açude Santo Anastácio, sob as coordenadas 5477325E e 9586104S e altitude de 13 metros. Possui
árvores de médio porte, com altura aproximada de 10m, dossel fechado e com recurso Hídrico (açude)
expressivo. Não há circulação de pessoas e veículos. É um local de pesquisas da universidade. Já o
ponto externo localiza-se em frente ao Campus do Pici sob as coordenadas 5475568E e 95868973S, na
Avenida Mister Rull, apresentando um fluxo intenso de pessoas e veículos. É um ponto densamente
construído, com materiais que aquecem (asfalto e calçadas) e podem alterar o microclima local.
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Figura 01: Imagem da área do Campos do Pici – Universidade Federal do Ceará
Pelo resultado pode-se observar que os pontos apresentam temperaturas distintas entre os
períodos seco e chuvoso. A área conta com o recurso hídrico (açude Santo Anastácio) e vegetação que
elevou a umidade relativa no ponto interno ocorrendo pouca variação nas temperaturas ao longo do
dia. Assim, as temperaturas variaram de 25 a 26,6 (chuvoso) e 24,8 e 27,1 (seco). O ponto externo
caracterizou-se por temperaturas mais elevadas durante todo dia variando entre 26 a 28,5 (chuvoso) e
25,5 a 27,8 (no período seco), conforme gráfico 01 e 02.
Gráfico 1 : Campos do Pici período seco
07h 08h 09h 10h 11h 12h 13h 14h 15h 16h 17h
Campos do Pici-Mister Hull 25,6 26,8 26,6 27,6 27,8 27,8 26,8 27,6 27,2 26,4 26
Campos do Pici - mata do
RU24,8 25,9 26,7 26,8 27,1 26,8 26,4 26,3 26 26 25
2323,5
2424,5
2525,5
2626,5
2727,5
2828,5
Campos do Pici - seco
Campos do Pici-Mister Hull Campos do Pici - mata do RU
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Gráfico 2: Campos do Pici período chuvoso
A área 2 compreende uma área que possui características ecológicas especificas dentro da
cidade. A área trata-se do Parque ecológico do Cocó (Figura 02), disposta na cidade do setor sul a
nordeste sendo a maior área verde da cidade. É também um parque ecológico protegido sob a
responsabilidade de leis específicas municipais, porém também é área de bastante pressão imobiliária
dado ao crescimento da cidade. O ponto interno está localizado no interior do parque ecológico sob as
coordenadas 5586411E e 95859845S com altitude de 16m. É uma área densamente arborizada com
arvores de médio à grande porte. Há pouco fluxo de pessoas, pois funciona como área de lazer e
atividades físicas.
Figura 02 Imagem da área do Parque Ecológico do Cocó
O ponto externo esta localizado nas coordenadas 5568411 e 95859845S na altitude de 16m,
mais precisamente na Avenida Engenheiro Santana Junior no bairro Luciano Cavalcante. É uma área
07h 08h 09h 10h 11h 12h 13h 14h 15h 16h 17h
Campos do Pici-Mister Hull 26,5 26,8 27,9 27,6 28,4 28,5 27 27,6 28 26,8 26
Campos do Pici 25,2 25,7 26,2 26,2 26,2 26,6 26 25,8 25,6 25,7 25
23
24
25
26
27
28
29
Campos do Pici - chuvoso
Campos do Pici-Mister Hull Campos do Pici
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densamente construída, ocupada principalmente por prédios e edifícios com o gabarito muito elevado,
uma área de menor circulação de ventos.
No caso do Parque do cocó como a maior área verde da cidade, foi a que apresentou as
menores temperaturas na pesquisa, 25,6 °C a 26,6°C (período chuvoso) e 24,9°C a 26,9°C (seco).
Mostrou menor amplitude térmica, percebendo-se pequenas variações durante o dia. Quanto ao ponto
externo observou-se temperaturas mais elevadas, indo de 26,1°C a 27°C (período chuvoso) 25,4° C a
27° C, com maiores variações no decorrer do dia, conforme mostram os gráficos 03 e 04.
Gráfico 3: Temperaturas Parque Ecológico do Cocó período seco
Gráfico 4: Temperaturas Parque Ecológico do Cocó período Chuvoso
A Área 3 compreende um setor do bairro Centro próximo a praia, com muita circulação de
pessoas, pois é uma área de atividades comerciais importantes (Figura 03). Historicamente o centro foi
um local de residências, porém sua função se modificou com o passar do tempo para atividades
estritamente comerciais. O ponto interno localiza-se nas coordenadas 5526186E e 9588494S em uma
altitude de 24m. O ponto configura-se em uma praça que leva o nome de Praça dos Mártires ou
Passeio Publico Municipal. É uma praça historicamente conhecida na cidade, pois data do século 19.
07h 08h 09h 10h 11h 12h 13h 14h 15h 16h 17h
Parque do Cocó
Externo25,4 26,8 26,1 26,8 26,9 27,6 27 26,2 26,4 25,8 26,3
Parque do Cocó 24,9 25,3 26 25,7 26,4 26,9 26,2 25,4 25,6 25,6 25,2
23,524
24,525
25,526
26,527
27,528
Parque do Cocó - seco
Parque do Cocó Externo Parque do Cocó
tem
pe
ratu
ras
07h 08h 09h 10h 11h 12h 13h 14h 15h 16h 17h
Parque do Cocó 25,6 26,2 26,1 26,7 26,1 26,4 26,5 25,6 25,5 26 25,7
Parque do Cocó
Externo26,1 26,4 26,6 27 26,5 27 27,2 27,5 27 26,9 26,5
24,5
25
25,5
26
26,5
27
27,5
28
Paque do Cocó - chuvoso
Parque do Cocó Parque do Cocó Externo
tem
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A praça é bem próxima da praia, com pavimentação em calçada, lajotas, um fluxo moderado de
pessoas, sendo que a arborização conta com espécies exóticas (da África e Índia) e também com
arvores nativas. O ponto externo fica localizado com as coordenadas 5526186E e 9588495 em altitude
média de 24m. Este localizado, na Rua Castro e Silva, rua muito conhecida por seu comércio de
papelaria, tecidos e roupas. É uma área densamente construída com fluxo intenso de pessoas e
veículos.
Figura 03: Imagem da área Passeio Publico.
A área de estudo sofre muita influência do mar e das brisas provenientes da praia. O ponto
externo possui temperaturas inferiores ao ponto externo, à vegetação tem responsabilidade
preponderante, porém as brisas também contribuem. O fluxo de pessoas nesse ponto é reduzido,
contrario do ponto externo que é uma rua comercial, cujas temperaturas medidas foram de 26°C a
28ºC (seco) e 26,8°C a 27,8ºC (chuvoso) o que demostra pouca oscilação nas mesmas no período
chuvoso, mas bem mais quente que o ponto no interior da praça. Os dados encontram-se nos gráficos
05 e 06.
07h 08h 09h 10h 11h 12h 13h 14h 15h 16h 17h
Passeio Público - Castro e
Silva25,3 25,6 26 27,1 27,3 28 27,5 27,8 26,4 26,5 26,4
Passeio Público 24,6 24,8 25,6 26 26 26 25,8 26,4 25,8 25,5 25,6
22
23
24
25
26
27
28
29
Passeio Público - seco
Passeio Público - Castro e Silva Passeio Público
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Gráfico 5: Temperaturas do Passeio Público período seco
Gráfico 6: Temperaturas do Passeio Público período chuvoso
A área 4 também faz parte do bairro Centro e é um pouco mais afastada da praia. É onde se
localizam importantes vias da cidade (Av. Dom Manuel, Av. Heráclito Graça), apresentando elevado
fluxo de pessoas e veículos durante o dia todo (Figura 04). Configura-se em uma área mista,
congregando residências e comércios, principalmente comércios de moveis e têxtil. O ponto interno
esta nas coordenadas 5530340E e 95875546S na altitude de 23m. É um pequeno parque urbano
estrangulado por prédios e residências muito antigas, onde se visualiza um pequeno córrego (Pajeú),
que teve um papel importante na constituição da cidade, principalmente no século 19 e 20. Por sua
localização estratégica no centro da cidade, servia como fonte de agua potável, porém nos dias atuais é
um esgoto a céu aberto, a maior parte dele canalizado. No local há uma escola de ensino fundamental
onde há fluxo diário de alunos.
Figura 4: Imagem da área Pajeú
07h 08h 09h 10h 11h 12h 13h 14h 15h 16h 17h
Passeio Público 25,4 26,4 26,8 27 26,8 26,8 26,2 26,8 26,4 27 25,8
Passeio Público - Castro e
Silva25,6 26,8 27,4 27,8 27,6 27,5 27,4 27,6 27,4 27,5 27,2
2424,5
2525,5
2626,5
2727,5
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Passeio Público - chuvoso
Passeio Público Passeio Público - Castro e Silva
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O ponto externo fica bem próximo do ponto interno sob as coordenadas 5530340E e
95875546S na altitude de 23m. É um ponto pavimentado, com fluxo intenso de pessoas e veículos,
pois ali se localiza a Câmara de Dirigentes Legistas (CDL), onde também funciona uma faculdade, da
mesma instituição. Para esse ponto no período seco houve mudanças brusca na temperatura, devido a
devido haver um corredor de ventos no local, isso correu principalmente no ponto externo como indica
o Gráfico 7. O ponto interno manteve-se mais estabilizado em sua dinâmica climática.
Gráfico 7: Temperaturas Parque Pajeú período seco
Gráfico 8: Temperaturas Parque Pajeú período chuvoso
Neste ponto pode-se observar a importância do fluxo de pessoas e veículos e da pavimentação
nos valores de temperatura. Apesar de a praça ter uma exuberante vegetação e de grande porte,
configurando-se como uma praça bastante arborizada, a pavimentação próxima (asfáltica) e o fluxo de
pessoas e veículos, constante o longo do dia, proporcionam um aquecimento considerável sendo a
praça em vários horários o segundo ponto de maior temperatura dos pontos pesquisados.
Conclusões
07h 08h 09h 10h 11h 12h 13h 14h 15h 16h 17h
Pajeú - CDL 25,4 26,2 26,6 27,4 28 28,2 26,2 27 25 26,4 27
Pajeú - Praça 25,2 25,4 25,9 26,5 26,4 26,4 26,1 26,7 25,7 25,6 25,5
23
24
25
26
27
28
29
Parque Pajeú - seco
Pajeú - CDL Pajeú - Praça
07h 08h 09h 10h 11h 12h 13h 14h 15h 16h 17h
Pajeú - CDL 27,6 27,8 28 28,6 27,2 28,2 28 28,4 27,6 27,4 27,2
Pajeú - Praça 26 26 27 27,6 27,2 27 27,6 27,4 27,2 26,8 26,2
24
25
26
27
28
29
Parque Pajeú - Chuvoso
Pajeú - CDL Pajeú - Praça
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A partir dos dados obtidos pode-se constatar a presença de microclimas urbanos em áreas
verdes na cidade de Fortaleza. Observou-se também que as maiores temperaturas encontradas, em
ambas as áreas, foram verificadas em pontos de maior urbanização e maior fluxo de pessoas e veículos
o que denota o menor albedo e maior capacidade de armazenamento de calor dos materiais que
constituem os equipamentos urbanos dessas áreas e o próprio aquecimento promovido pela presença
constante de pessoas e veículos.
As observações e reflexões quanto aos dados coletados possibilitaram a inferência de que
existem microclimas urbanos. Microclimas estes tanto influenciados pela presença de materiais
construtivos e coberturas naturais. Outro fator importantíssimo que contribuiu veementemente para as
observações foi a presença de vegetação, que se apesenta como importante elemento de frescor na
amenização dos valores de temperatura dos pontos mais arborizados, o que leva a crer que a vegetação
na constituição da paisagem urbana, é de importância impar já que a mesma realiza a função do
arrefecimento das temperaturas, qualidade do ar e qualidade ambiental da paisagem da urbe. Assim, os
gestores urbanos devem sempre atentar para a ampliação das áreas verdes, afim de que a cidade possa
ter condições térmicas mais amenas em seus espaços intra-urbanos.
Referências Bibliográficas
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