01653_Silacc_Cidade e Produçao Dos Sentidos. Dialogando Com a Piscologia
-
Upload
rakel-gomez -
Category
Documents
-
view
216 -
download
1
description
Transcript of 01653_Silacc_Cidade e Produçao Dos Sentidos. Dialogando Com a Piscologia
-
SILACC 2010 Simpsio Ibero Americano Cidade e Cultura: novas espacialidades e territorialidades urbanas Cidade e produo de sentidos: dialogando com a psicologia Espacialidades e Territrios Hbridos da (na) Contemporaneidade Resumo
O reconhecimento das cidades como campo histrico existencial de formao de sentidos que
produzem subjetividades o nosso ponto de partida para esse breve estudo. Convidar a
psicologia para esse debate algo ainda pouco comum, mas que h certo tempo faz parte dos
estudos de James Hillman. O autor, que tem como referencia principal em suas pesquisas a
Psicologia Analtica Junguiana, nos auxilia para essa discusso com a noo de anima mundi,
uma espcie de materializao da alma e espiritualizao da matria que retorna a alma ao
mundo. Uma concretizao da alma que a retira de uma abstrao meramente psicolgica e
intimista, que espiritualiza as infra-estruturas materiais que tambm vida, existncia. Esse
conceito postulado pelo autor inaugura uma nova forma de compreenso do psquico que
transcende as consideraes de uma realidade psicolgica que tem o homem como centro da
subjetividade universal. Possibilita a compreenso da cidade, da poltica, dos modos de existncia
contemporneos, dos movimentos urbanos e dos objetos do mundo como um movimento cultural
de uma realidade coletiva. Uma hermenutica que tematiza e compreende, ao mesmo tempo em
que instaura o imaginrio. Refletir sobre essas e outras questes apresentadas pelo autor, nos faz
questionar as bases epistemolgicas da prpria psicologia e possibilita articulaes com outros
campos de saberes. Pretendemos aqui, identificar ou pelo menos refletir sobre possveis
contribuies que a psicologia poderia prestar para uma anlise atenta as reverberaes dessa
polifonia que ecoa das contraes das cidades e do mundo e que produzem novos modos de
existncia no contemporneo. Conhecer o homem conhecer a cidade, porm conhecer a cidade
no s conhecer sua arquitetura, suas aparncias e objetos, a cidade tambm fluxo de vida
que habita essas formas. Esse modo de compreenso demarca algumas diferenas com relao
perspectiva de interpretao da psicologia em suas vertentes mais tradicionais. No nosso ponto
de vista, desequilbrios emocionais e muitas formas de sofrimento psquico podem ser efeitos da
vida nas cidades e dos novos modos de existncia e habitao na cidade contempornea. Vemos
os problemas das cidades no s como urbansticos ou arquitetnicos num sentido mais
tradicional, mas como um problema existencial do prprio habitar humano. Apostamos numa
pesquisa transdisciplinar que inclua a psicologia e outros campos de saberes para pensar o
sofrimento psquico, os desequilbrios na cidade, as novas formas urbanas, como modo de habitar
urbano nesse sentido mais amplo do habitar. Pensar dessa forma afirmar que as questes da
cidade no se restringem apenas a problemas objetivos de administrao do espao, de
-
otimizao de custos e de gesto urbana. Nossa pesquisa assume uma postura investigativa que
diz respeito a esse modo de habitar inerente a existncia humana.
Palavras-chave: psicologia; James Hillman; subjetividade.
INTRODUO
-
Dado o sentido polissmico da palavra cidade, faz-se necessrio inicialmente, afirmarmos nessa
breve apresentao que para ns pactuando da noo de cidade a qual nos apresenta James
Hillman e Richard Sennett -, a consideramos como o lugar do assentamento humano, espao de
habitao, tenso, conflitivo, onde o homem inseparvel da vida, da experincia urbana e do
ambiente onde as utopias se fazem. Um grande dispositivo poltico de produo de subjetividades,
de tecitura da alma e de sensibilidades.
A vida psquica e a cidade constituem paulatinamente uma rede complexa que juntas sofrem com
os sintomas da vida contempornea. No vemos a cidade como espao fsico e autnomo
independente de quem o habita como uma espcie de cenrio. O projeto de viver na cidade no
simplesmente uma forma de se realizar necessidades, tambm como o sujeito deve lidar
consigo prprio, cuidar-se e dar sentido vida. Michel Foucault (1988), diz que no mundo antigo,
o cuidado de si e do corpo do grego era inseparvel daquilo que a cidade tinha para oferecer. O
controle de suas emoes e seus afetos era imanente ateno ao que a polis o oferecia,
estavam preocupados com os cheiros, as texturas, as sensorialidades da cidade e com os
fenmenos da natureza.
A temtica do estudo sobre a cidade algo ainda novo e pouco trabalhado pela psicologia, o que
nos faz buscar referncias em outra reas como a histria, a antropologia, a sociologia, a
arquitetura, dentre outras. Acreditamos que essa faceta interdisciplinar sobre o tema contribui
positivamente para nosso estudo que de certa forma insere a psicologia nesse debate.
CIDADE E (IM) PERMANNCIAS
Nas grandes cidades contemporneas, seja no Brasil ou em outros diversos pases pelo mundo
afora, percebe-se uma tendncia geral a uma espcie de encapsulamento da vida como forma de
garantia de manter-se invulnervel. Construes guardadas por muros altos, condomnios
cercados eletricamente e por grades, monitorados por modernos sistemas de segurana, pistas
de alta velocidade, so alguns dos artifcios utilizados na cidade contempornea. So erigidas no
contemporneo cidades intocveis que tm como slogan circule e tema. Projetadas para os
carros, que separam os homens do contato com o mundo pelo vidro, a nova carapaa
inexpugnvel do homem moderno, to saudada pelos modernistas (como Le Corbusier)
(HAESBAERT, 2002, P.97). Para vida condominizada, para a privatizao da subjetividade em
prol da utopia da segurana nos espaos pblicos e de moradia por onde no passa nem
permanece o estrangeiro. Cidades ou comunidades comparadas a Heritage Park1 descrita por
Zygmunt Bauman (2001), protegidas das hostilidades e das turbulncias do mundo, onde legada
1 Cidade projetada para ser construda prximo a Cidade do Cabo pelo arquiteto ingls George Hazeldon. O projeto inicial conta com
a instalao de cercas eltricas de alta voltagem, vigilncia eletrnica das vias de acesso, barreiras por todo caminho e guardas
armados. Alm dessas, a promessa de lojas prprias, igrejas, restaurantes, teatros, reas de lazer, florestas, reas de lazer e para
prticas esportivas, etc.
-
a utopia do bem viver. Bauman (ibid), descreve o projeto inicial dessa cidade como um modelo
high tech da histrica aldeia medieval. Esto nela caractersticas que marcam uma certa
especificidade da poca e que se presentificam nos projetos arquitetnicos das cidades, dos
prdios e dos condomnios na cidade contempornea. Fortalezas construdas para contemplar a
utopia da comunidade segura, da vizinhana harmnica. Uma busca constante que resguarde
determinada rea espacial onde s haja lugar para o comum e para o conhecido. Outro exemplo
descrito pelo autor o da Praa La Defnse em Paris:
[...] um enorme quadriltero na margem direita do Sena, concebida, comissionada e construda por Franois Miterrand (como monumento duradouro de sua presidncia, em que o esplendor e grandeza do cargo foram cuidadosamente separados das fraquezas e falhas pessoais de seu ocupante), incorpora todos os traos da primeira das duas categorias do espao pblico urbano, que no , no entanto enfaticamente no - , civil. O que chama a ateno do visitante de La Dfense antes e acima de tudo falta de hospitalidade da praa: tudo o que se v inspira respeito e ao mesmo tempo desencoraja a permanncia (BAUMAN, 2001, p.113).
No h bancos nem rvores para o passante da La Dfense. Compe sua geometria espacial
edifcios revestidos de vidros que no permitem adentrar olhares, sem janelas ou entradas
aparentes. Edifcios construdos com base em um modelo arquitetnico hermtico que despertam
no indivduo que o v a mesma sensao de imponncia que reflete.
A histria contempornea dessas construes tem nos contado que seu modelo de projeo das
cidades, dos objetos e do mundo se misturam com os modos de produo dos sujeitos e de si.
Espaos fechados, inacessveis, privados em si. A utpica cidade de Heritage Park, a Praa La
Dfense de Paris, os condomnios da Barra da Tijuca no Rio de Janeiro, os edifcios da capital
paulista e de Nova York e as pistas do planalto central e de Los Angeles, so alguns exemplos
desses lugares construdos para o fluxo de estranhos, onde no se criam situaes que
possibilitem troca entre as alteridades.
Diante dessas questes colocadas acima e outras ainda no explicitadas, verificamos que os
problemas das cidades no se classificam somente como urbansticos ou arquitetnicos num
sentido mais tradicional, mas como um problema existencial do prprio habitar.
Hillman sublinha que o estado psquico do humano reflete o espao interior da cidade que
habitado. Seu mtodo de investigao a relao entre o interior interno de nossas vidas e o
interior dentro dos lugares onde vivemos (1993, p.43). A verdadeira cidade em que vivemos
aquela onde a vida se produz em seus interiores; onde a vida cotidiana do trabalho, da
convivncia familiar, dos espaos de utilizao coletivos constituem sua autenticidade histrica.
Segundo Haesbaert (2002), o desenho metropolitano configura uma rede bastante confusa, que
faz com que seus habitantes produzam um roteiro para seus deslocamentos. Essas estratgias
-
para mobilidade urbana so elaboradas, segundo o autor, com base nos lugares de passagem,
nos espaos onde so permitidos a permanncia, nos horrios mais convenientes para os
deslocamentos em determinadas reas e nos espaos proibidos e privatizados. Essas estratgias
nos fazem repensar sobre a mobilidade urbana na metrpole, suas dificuldades e acessibilidades.
Estranha liberdade esta que vivemos na metrpole contempornea, onde mesmo a rua, outrora um espao de contatos ou da multido desordenada e solta, se transfigura tambm no territrio condicionado dos automveis, escudos que permitem o total resguardo de nossas individualidades; onde o pleno direito de ir e vir, to celebrado est circunscrito a determinados espaos e a determinadas condies que precisamos cumprir (HAESBAERT, 2002, p.94).
2 - PSIQUE E CIDADE
Em A metrpole e a vida mental, Georg Simmel (1987) demonstra como as especificidades do
espao urbano incidem sobre a personalidade de seus habitantes. O autor utiliza como mtodo
em suas pesquisas uma anlise sociopsicolgica da cultura, das correntes sociais e da tcnica
para investigao dos ajustamentos que se do na personalidade mediante as exigncias do
socius e os efeitos dessas produes sobre o psquico. Simmel inicialmente aponta para a
distino da vida na metrpole em oposio vida na cidade pequena. Na metrpole, o indivduo
convocado a um tipo mais sofisticado de experincia psquica, dada as exigncias e estmulos
sensoriais que atravessam a grande cidade, enquanto o conjunto sensorial de imagens que
permeia a pequena cidade ocorre num fluxo bem mais lento, o que permite maior ateno aos
sentidos que despertam.
A vida na metrpole produz um tipo de homem que reage perante o mundo, as cidades e as
sensorialidades que despertam, com uma espcie de conscincia mais elevada, insensvel, que
ir desenvolver um tipo de intelectualidade para lidar com os acontecimentos e com os fenmenos
da metrpole. Ele reage com a cabea, ao invs de com o corao (SIMMEL, 1987, p.13). O
autor destaca a variabilidade e a complexidade das relaes da vida metropolitana, as
especificidades oriundas da multiplicidade e da ordem econmica como exigncias de um tipo de
atitude calculista que se alinhe a esquematizao funcional da lgica exterior. O resultado dessa
exigncia calculista e exata sobre o indivduo inaugura um tipo de comportamento humano na
metrpole que Simmel denomina de atitude blas. Uma espcie de perda ou incapacidade de
reagir aos estmulos e s sensaes que a vida metropolitana desperta e que gera um certo
sentimento de estranheza.
A essncia da atitude blas consiste no embotamento do poder de discriminar. Isto no significa que os objetos no sejam percebidos, como o caso dos dbeis mentais, mas antes que o significado e valores diferenciais das coisas, e da as prprias coisas, so experimentados como destitudos de substncia. Elas aparecem pessoa blas num tom
-
uniformemente plano e fosco; objeto algum merece preferncia sobre outro. Esse estado de nimo o fiel reflexo subjetivo da economia do dinheiro completamente interiorizada (SIMMEL, 1987, p.16).
As grandes cidades e os estilos de vida presentes em seus modos materializam-se como matrizes
dessa atitude que funcionam como potentes estimuladores do sistema nervoso do indivduo.
Como recurso para desvio dessa intensificao psquica, alguns indivduos optam por adotar uma
atitude mais introvertida a qual Simmel chama de reserva.
Acreditamos na possibilidade de aproximaes tericas entre Simmel e Sennett no que tange a
discusso sobre as modificaes tecnolgicas que compe a esfera urbana e as relaes com o
corpo do homem ocidental e entre Hillman e Simmel quando ambos discorrem sobre a produo
de um estado psicolgico especfico criado a partir dos eventos que se desvelam na metrpole.
Sobre essa questo, Hillman esclarece que:
[...] muitos de nossos males sociais e problemas psicolgicos e mesmo doenas econmicas como baixa produtividade, ineficincia, absentismo, crimes sexuais, no fixao no emprego, declnio de qualidade ou os vcios (trabalho, lcool, Valium, caf, refrigerante) so consequncias psicolgicas do design interior. Continuar acreditando que nossos problemas psicolgicos tm causas e solues econmicas no apenas materialismo bruto, brutal para a alma e psicologicamente pouco sofisticado (HILLMAN, 1993, p.48-49).
2.1 - CIDADE E CLNICA PSI
No mbito do cuidado, para o qual a vertente clnica da psicologia se compromete, deveria ser
legada ateno aos sentidos e aos efeitos que nos causam afetao nas cidades e produzem
diversos efeitos. As subjetividades, arquitetura das cidades e as estratgias para se viver nela,
constituem-se em um mesmo movimento que se atravessam e produzem diversos modos de
subjetivao.
Carl Gustav Jung, psiquiatra suo e fundador da Psicologia Analtica, em suas pesquisas e
experincias sobre os modos de funcionamento da psicoterapia e em seus estudos sobre a
subjetividade, nos alerta sobre a necessidade da psicologia alinhar-se aos fatos e aos
acontecimentos histricos e polticos da sociedade. Para Jung (1987), o homem est inserido no
mundo em uma relao de co-pertinncia onde o todo est contido em cada parte. As colocaes
de Jung e as contribuies de Hillman que transcendem a clnica psicolgica mais tradicional,
objetivam a construo de referenciais para a psicologia que compreenda os acontecimentos
scio-culturais como imanentes a elaborao de si. H nessa forma tradicional da psicologia um
forte tendncia a uma perspectiva de olhar o sujeito dissociado das experincias que este traz
consigo do mundo.
As contribuies de Jung e Hillman marcam essa fragmentao uma fratura entre a clnica e a
experincia urbana. Embora estejamos aqui apresentando uma anlise crtica essa modalidade
-
especfica da psicologia que tende a uma dicotomizao entre homem e mundo, devemos deixar
claro tambm que essa fratura segundo Sennett, surge pela primeira vez na histria da
humanidade com a tradio crist. Uma herana forte do cristianismo que marca essa
incompatibilidade entre o mundo do esprito e o mundo da cidade. Alm do cristianismo, Hillman
tambm aponta a tradio cartesiana um grande referencial epistemolgico da psicologia
como determinante para essa ciso ou para a morte da alma do mundo, que origina um outro
problema o do individualismo.
O que pretendemos com essa discusso que estamos apresentando sobre a insero da
psicologia nos estudos sobre o urbano, no levar a clnica para a cidade, nem muito menos
uma modalidade ampliada que propunha uma psicologizao do social e da cidade. O que se
configura como problema aqui essa dicotomia cidade e subjetividade criada historicamente e
que interfere na criao de um modelo atento aos tensionamentos entre a clnica e a experincia
urbana. Nossa compreenso do que o psquico diz respeito a uma constituio da experincia
que se d dentro de um processo histrico de pertinncia ao mundo. Dessa forma, consideramos
que a cidade no apenas um somatrio de indivduos, o sujeito algo que emerge
historicamente em sua relao com o mundo uma relao de pertinncia que se difere da viso
cartesiana do mundo como res extensa, de algo externo separado do homem.
3 - AISTHESIS
Primeiramente, devemos aqui grifar a concepo da palavra esttica em Hillman e para ns, que
se difere de seu sentido mais usual. Hillman inaugura com o resgate da noo de aisthesis do
grego, inspirar para dentro do corpo as imagens tais quais as percebemos no ambiente atravs do
corao - uma concepo que se difere daquela que se identifica com embelezamento das
formas, nobreza, mas que denota a autenticidade das formas as quais concebemos o mundo que
nos permite compreender o mundo tal qual se apresenta para ns. Inclui nossas sensaes e
percepes do ambiente autntico, onde o sentir e o imaginar ocorrem simultaneamente
despertados pelos desvelamentos das imagens.
Assim, o que quero dizer por reao esttica aproxima-se mais de um sentido animal da palavra um faro para a inteligibilidade aparente das coisas, seu som, cheiro, forma, falar para e atravs das reaes de nosso corao, respondendo a olhares e linguagem, tons e gestos das coisas entre as quais nos movemos (HILLMAN, 1993, p.21).
Esse sentido esttico nos diz que cada objeto disposto no mundo, cada elemento que compe a
vida urbana nas cidades dotado de uma importncia psicolgica. Olhar, pensar, sentir a cidade
como realidade psquica destitui o homem do posto da subjetividade nica e universal e
reconhece a cidade como uma espcie de exteriorizao do psquico, repleto de significados e
sentidos.
-
3.1 EXPERINCIA URBANA E SUBJETIVIDADE
Indicaes preliminares do nosso trabalho, mostram que as cidades projetadas pelo urbanistas do
sculo XIX, foram as cidades projetadas para a famlia nuclear, onde era demarcada a separao
entre trabalho e lar. A cidade contempornea no se presentifica mais com essa forma de
organizao que distingue trabalho, famlia e lazer, mas contempla a hibridizao dessas
caractersticas e desses aspectos que compem a vida e o habitar humano. A histria das cidades
nos mostra com clareza a genealogia do individualismo, de vrias individualidades que permeiam
os meandros de sua histria em diferentes modulaes do intimismo que atravessam a histria
do habitar humano no urbano. Sobre esse aspecto, Hillman e Sennett oferecem importantes
contribuies para esse estudo; Sennett esclarece as mutaes dessa atitude na histria do
urbano e Hillman, as ressonncias estticas e polticas desse individualismo humano sobre a
alma do mundo. Haesbaert tambm acrescenta:
A cartografia da metrpole moderna , portanto, muito mais rica e controversa do que nossos genricos modelos podem supor. Alm da grande diferenciao no tecido urbano, que cria espaos singulares, e da distribuio desigual dos equipamentos e servios, e para alm desta configurao fsica, h uma complexa rede de relaes entre grupos que traam laos de identidade com o espao que ocupam, criam formas de apropriao e lutam pela ocupao e garantia de seus territrios (HAESBAERT, 2002, p.93).
A tese que Hillman prope e que aqui pactuamos a que compreende a sensorialidade e as
experincias urbanas como acontecimentos que tecem a alma humana. A idia de aisthesis e seu
sentido de sensorialidade do mundo aprovam a idia de Sennett (2008) de que a histria da pedra
inseparvel da histria da carne, assim como a histria do corpo inseparvel da histria da
cidade. Estar atento a alma do mundo depende da aisthesis, sensibilizar-se, observar o mundo e
os acontecimentos e interpret-los. Dessa forma, a ateno se desprende unicamente do sujeito e
segue um novo norte em direo ao mundo e a psique fora da subjetividade individual. As coisas,
os objetos e a natureza passariam a ter alma ou seja, todas as coisas, construdas ou naturais,
ganham alma por manifestar suas virtudes (Hillman, 1993, p.25). Nesse sentido, dignificar a alma
do mundo seria reconhecer que o psquico tambm habita as cidades em seus objetos, ruas,
construes que se presentificam na vida dos homens que nela habitam e escaparamos de nossa
prpria clausura intimista.
Por nossa sade psquica e bem estar de nossas cidades, continuemos a encontrar maneiras de abrir espaos para a alma.
James Hillman
REFERNCIAS:
-
BAUMAN, Z. Tempo e Espao. In: Modernidade Lquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001. FIGUEIREDO, L.C.M. Revisitando as psicologias: da epistemologia tica das prticas e discursos psicolgicos. Petrpolis: Vozes, 1996. FOUCAULT, M. Histria da sexualidade II: o uso dos prazeres. Rio de Janeiro: Graal, 1988. HAESBAERT, R. Territrios Alternativos. Niteri: EDUFF, 2002. HILLMAN, J. Cidade e alma. So Paulo: Studio Nobel, 1993. _________.Esttica e Poltica. In: http://www.rubedo.psc.br/artigosb/estetipo.htm. (acesso em: 25 mar. 2010). JUNG, C. G. A prtica da psicoterapia: contribuies ao problema da psicoterapia e psicologia da transferncia. Obras Completas, vol. XVI/1. Petrpolis: Vozes, 1987. SENNETT, R. Carne e Pedra: o corpo e a cidade na civilizao ocidental. Rio de Janeiro: Record, 2008. SIMMEL, G. A metrpole e a vida mental. In: VELHO, O. G. (org.). O fenmeno Urbano. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1987.