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PÁGINA 4 Fortaleza FORTALEZA - CE, QUARTA-FEIRA - 30 DE NOVEMBRO DE 2011 E agora ENTENDA A NOTÍCIA Depois do adiamento, o julgamento do ex-capitão Daniel Gomes Bezerra deve ser realizado na próxima quarta-feira, 7. Ele é acusado de homicídio qualificado por motivo fútil dos irmãos Marcelo e Leonardo Teixeira. Iguatu] Júri de ex-capitão é adiado e familiares se revoltam Uma das testemunhas de defesa não compareceu. Familiares e amigos criticaram a decisão e pediram justiça. O ex-capitão é acusado de matar os irmãos Marcelo e Leonardo Teixeira Gabriela Meneses [email protected] Landry Pedrosa [email protected] Os pais dos jovens não aguentaram a emoção. Nelson e Célia Teixeira deixaram o Fórum, chorando muito, amparados por familiares e amigos FOTOS JESSICA WELMA/ESPECIAL PARA O POVO Para entender 17/3/2007 Segundo testemunhas, os irmãos Marcelo, 26, e Leonardo Teixeira, 24, estudantes de Medicina, estavam na churrascaria Vilson Grill, em Iguatu. Por volta de três horas da manhã, Marcelo teria saído para urinar próximo ao carro do capitão Daniel Bezerra. Quando chegou a seu carro, Daniel teria passado a chutar e esmurrar Marcelo, que caiu. O capitão teria sacado uma arma e atirado em Marcelo. O irmão do rapaz foi tentar conter Daniel e também acabou levando um tiro. Os dois morreram a caminho do hospital. Daniel fugiu. Pela manhã, o oficial da PM se apresentou à delegacia de Jaguaribe. Disse que foi agredido pelos irmãos e que a arma utilizada pertenceria a um deles. O PM estava, no dia do crime, de posse de uma arma ponto 38, pertencente à PM, e por isso acabou detido no quartel do Batalhão de Choque, em Fortaleza. Abril de 2007 Daniel foi interrogado pelo juiz Wottton Ricardo Pinheiro da Silva, da Comarca de Iguatu. Ele alegou legítima defesa, e chegou a chorar no fim da audiência. Fevereiro de 2008 Daniel perdeu a patente de capitão. Expulsão foi assinada pelo governador Cid Gomes. Março de 2009 O juiz de Iguatu determinou que o acusado aguardasse na prisão em que se encontrava, o julgamento pelo Tribunal Popular do Júri de Iguatu. Abril de 2011 TJ determinou que Daniel seja levado a júri popular em Fortaleza. O pedido pela transferência foi feito sob a justificativa de que o pai das vítimas teria influência na região – podendo exercer algum ânimo no estado dos jurados. 29/11/2011 Já estava tudo pronto para o julgamento que deveria começar, mas foi adiado para o dia 7 de dezembro pela ausência de uma das testemunhas de defesa, o tenente-coronel Geovane Alcoforado. Julgamento em imagens MAURI MELO Filas, choro e revolta 1) Durante toda a manhã, a presença de policiais do Batalhão de Choque, onde o ex-capitão Daniel Gomes está preso desde 2007, foi constante. Quem foi assistir ao julgamento, teve de enfrentar fila. 2) Membros da APAVV colocaram uma faixa em frente ao Fórum, pedindo justiça. 3) Familiares e amigos se emocionaram ao saber que o julgamento seria adiado. 1 2 3 ADIAMENTO meus dois anjinhos”, deses- perava-se, aos gritos, a mãe. Ela chegou a desmaiar na saída. Lá fora, Célia agarrou a faixa colocada em protesto por membros da Associação dos Parentes e Amigos de Ví- timas da Violência (APAVV), com a foto dos dois jovens, e a beijou. “As cartas já estavam marcadas”, era o que conse- guia falar o pai, emocionado. Surpresa Para o advogado Delano Cruz, responsável por apre- sentar a tese de defesa de Da- niel, o atestado da testemunha foi “uma surpresa”. E acres- centou que o depoimento do tenente-coronel era conside- rado “imprescindível” desde 2009. Por outro lado, o promo- tor de Justiça Francisco Mar- ques Lima afirmou que o fato não causou nenhuma surpre- sa. “O adiamento do julgamen- to foi uma estratégia da defe- sa. Vamos aguardar o dia 7. A decisão foi legítima”, resumiu o advogado Paulo Quezado, as- sistente do Ministério Público no julgamento. Por volta das 10h45min, logo após a saída da família, O POVO esteve presente no 1º Salão do Júri do Fórum, no momento em que ex-ca- pitão Daniel Gomes foi con- vocado pela escrevente Ro- berta Holanda para assinar a ata do adiamento do jul- gamento. Ele também foi in- formado sobre a nova data. O ex-capitão se apresentou escoltado por PMs do Bata- lhão de Choque, onde está preso desde 2007, por ser ex- policial e por ter nível supe- rior completo. Tenso, Daniel preferiu ficar em silêncio. Mesmo antes das 9 horas, horário marcado para o início do julgamento, muitas pessoas já se aglomeravam em filas na entrada do Fórum Clóvis Beviláqua. Foram distribuídas cerca de 300 senhas pelo Tribunal de Justiça na semana passada. Ontem, muita gente ainda tentava entrar no 1º Salão do Júri, mesmo sem senha. Ou no 2º Salão, onde os presentes poderiam acompanhar o julgamento pelo telão. Às 9h50min, O POVO soube com exclusividade que o julgamento seria adiado. Minutos depois, a informação foi confirmada pela assessoria de imprensa do fórum. Na saída dos familiares, muitas pessoas que estavam por perto não conseguiram segurar as lágrimas. Também aproveitaram a oportunidade para pedir justiça. Bastidores REVOLTA Familiares e amigos deixam o fórum emocionados Depois da decisão do adiamento, familiares e amigos dos irmãos Marcelo e Leonardo Teixeira, além de representantes da Associação dos Parentes e Amigos de Vítimas da Violência (APAVV), deixaram o Fórum Clóvis Beviláqua emocionados. Sílvia Moreno, uma das tias dos médicos, saiu do local chorando muito. “É uma vergonha. Estamos nesse calvário há quatro anos e oito meses. O coração da nossa família está dilacerado”, lamentava. Outro tio dizia que “foi uma manobra. E ainda tivemos que ver o réu. Isso acaba com nossa família”, afirmou. Oneide Braga, fundadora da APAVV, em lágrimas, também protestava contra o adiamento do julgamento. “Isso é revoltante. Eu não sei como eles estão resistindo. A APAVV tem mais de mil casos e só em cinco foram feitos justiça”. A defesa do ex-capitão Daniel Gomes afirmou, logo após o adiamento, que, durante o julgamento, vai pedir atenuantes, caso Daniel Gomes seja condenado pela morte dos irmãos, em Iguatu. Segundo Delano Cruz, advogado de defesa, serão três pontos principais. Um é a legítima defesa. O outro é o homicídio privilegiado (quando se age sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima). E o último é a desqualificação do homicídio qualificado para simples. (GM/LP) “A creditamos na justiça de Deus. Clamamos pela justiça dos homens”. O cla- mor, estampado nas camisas cor de luto de familiares e amigos dos irmãos Marcelo e Leonardo Teixeira, preci- sou aguardar. O encontro do ex-capitão da Polícia Militar Daniel Gomes Bezerra com o Tribunal do Júri Popular, marcado para a manhã de ontem, no Fórum Clóvis Be- viláqua, foi adiado para a pró- xima quarta-feira, 7. Daniel é acusado de matar os dois ir- mãos em de março de 2007, numa churrascaria em Iguatu, a 384 quilômetros da Capital. O adiamento deveu-se à ausência de uma das cinco testemunhas de defesa: o te- nente-coronel Geovane Alco- forado. O oficial, na época, era comandante da 2ª Companhia do 2º Batalhão da PM, sedia- da em Iguatu. Alcoforado, por meio de um atestado médico, justificou a ausência. O atesta- do foi enviado por fax de Rus- sas para a diretoria do fórum. O tenente-coronel atualmente é comandante do 1º Batalhão da Polícia Militar de Russas. Além das cinco testemunhas de defesa, mais quatro de acu- sação deveriam ser ouvidas. Tudo estava pronto para o início do julgamento. Pa- rentes, amigos, pessoas so- lidárias à dor da família e estudantes de Direito já esta- vam acomodados no 1º Salão do Júri do fórum. A decisão foi anunciada aos presentes, pouco depois das 10 horas, pela juíza Danielle Pontes de Arruda Pinheiro, titular da 1ª Vara do Júri, que presidiria o julgamento. Os pais dos jo- vens não aguentaram a emo- ção. Nelson e Célia Teixeira deixaram o fórum, chorando muito, amparados familiares e amigos. Em meio às lágrimas de tristeza e revolta, pediam jus- tiça. “Cadê a Justiça do meu Brasil? Como se adia por nada o julgamento de um assassino, réu confesso, que matou co- vardemente meus dois filhos,

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PÁGINA 4 Fortaleza FORTALEZA - CE, QUARTA-FEIRA - 30 DE NOVEMBRO DE 2011

E agora ENTENDA A NOTÍCIA Depois do adiamento, o julgamento do ex-capitão Daniel Gomes Bezerra deve ser realizado na próxima quarta-feira, 7. Ele é acusado de homicídio qualificado por motivo fútil dos irmãos Marcelo e Leonardo Teixeira.

Iguatu] Júri de ex-capitão é adiado e familiares se revoltam Uma das testemunhas de defesa não compareceu. Familiares e amigos criticaram a decisão e pediram justiça. O ex-capitão é acusado de matar os irmãos Marcelo e Leonardo Teixeira

Gabriela Meneses [email protected] Landry Pedrosa [email protected]

Os pais dos jovens não aguentaram a emoção. Nelson e Célia Teixeira deixaram o Fórum, chorando muito, amparados por familiares e amigos

FOTOS JESSICA WELMA/ESPECIAL PARA O POVO

Para entender 17/3/2007 Segundo testemunhas, os irmãos Marcelo, 26, e Leonardo Teixeira, 24, estudantes de Medicina, estavam na churrascaria Vilson Grill, em Iguatu. Por volta de três horas da manhã, Marcelo teria saído para urinar próximo ao carro do capitão Daniel Bezerra. Quando chegou a seu carro, Daniel teria passado a chutar e esmurrar Marcelo, que caiu. O capitão teria sacado uma arma e atirado em Marcelo. O irmão do rapaz foi tentar conter Daniel e também acabou levando um tiro. Os dois morreram a caminho do hospital. Daniel fugiu. Pela manhã, o oficial da PM se apresentou à delegacia de Jaguaribe. Disse que foi agredido pelos irmãos e que a arma utilizada pertenceria a um deles. O PM estava, no dia do crime, de posse de uma arma ponto 38, pertencente à PM, e por isso acabou detido no quartel do Batalhão de Choque, em Fortaleza. Abril de 2007 Daniel foi interrogado pelo juiz Wottton Ricardo Pinheiro da Silva, da Comarca de Iguatu. Ele alegou legítima defesa, e chegou a chorar no fim da audiência. Fevereiro de 2008 Daniel perdeu a patente de capitão. Expulsão foi assinada pelo governador Cid Gomes. Março de 2009 O juiz de Iguatu determinou que o acusado aguardasse na prisão em que se encontrava, o julgamento pelo Tribunal Popular do Júri de Iguatu. Abril de 2011 TJ determinou que Daniel seja levado a júri popular em Fortaleza. O pedido pela transferência foi feito sob a justificativa de que o pai das vítimas teria influência na região – podendo exercer algum ânimo no estado dos jurados. 29/11/2011 Já estava tudo pronto para o julgamento que deveria começar, mas foi adiado para o dia 7 de dezembro pela ausência de uma das testemunhas de defesa, o tenente-coronel Geovane Alcoforado.

Julgamento em imagens

MAURI MELO

Filas, choro e revolta 1) Durante toda a manhã, a presença de policiais do Batalhão de Choque, onde o ex-capitão Daniel Gomes está preso desde 2007, foi constante. Quem foi assistir ao julgamento, teve de enfrentar fila. 2) Membros da APAVV colocaram uma faixa em frente ao Fórum, pedindo justiça. 3) Familiares e amigos se emocionaram ao saber que o julgamento seria adiado.

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ADIAMENTO

meus dois anjinhos”, deses-perava-se, aos gritos, a mãe. Ela chegou a desmaiar na saída. Lá fora, Célia agarrou a faixa colocada em protesto por membros da Associação dos Parentes e Amigos de Ví-timas da Violência (APAVV), com a foto dos dois jovens, e a beijou. “As cartas já estavam marcadas”, era o que conse-guia falar o pai, emocionado.

Surpresa

Para o advogado Delano Cruz, responsável por apre-sentar a tese de defesa de Da-niel, o atestado da testemunha foi “uma surpresa”. E acres-centou que o depoimento do tenente-coronel era conside-rado “imprescindível” desde 2009. Por outro lado, o promo-tor de Justiça Francisco Mar-ques Lima afirmou que o fato não causou nenhuma surpre-sa. “O adiamento do julgamen-to foi uma estratégia da defe-sa. Vamos aguardar o dia 7. A decisão foi legítima”, resumiu o advogado Paulo Quezado, as-sistente do Ministério Público no julgamento.

Por volta das 10h45min, logo após a saída da família, O POVO esteve presente no 1º Salão do Júri do Fórum, no momento em que ex-ca-pitão Daniel Gomes foi con-vocado pela escrevente Ro-berta Holanda para assinar a ata do adiamento do jul-gamento. Ele também foi in-formado sobre a nova data. O ex-capitão se apresentou escoltado por PMs do Bata-lhão de Choque, onde está preso desde 2007, por ser ex-policial e por ter nível supe-rior completo. Tenso, Daniel preferiu ficar em silêncio.

Mesmo antes das 9 horas, horário marcado para o início do julgamento, muitas pessoas já se aglomeravam em filas na entrada do Fórum Clóvis Beviláqua. Foram distribuídas cerca de 300 senhas pelo Tribunal de Justiça na semana passada. Ontem, muita gente ainda tentava entrar no 1º Salão do Júri, mesmo sem senha. Ou no 2º Salão, onde os presentes poderiam acompanhar o julgamento pelo telão. Às 9h50min, O POVO soube com exclusividade que o julgamento seria adiado. Minutos depois, a informação foi confirmada pela assessoria de imprensa do fórum. Na saída dos familiares, muitas pessoas que estavam por perto não conseguiram segurar as lágrimas. Também aproveitaram a oportunidade para pedir justiça.

Bastidores

REVOLTA

Familiares e amigos deixam o fórum emocionados

Depois da decisão do adiamento, familiares e amigos dos irmãos Marcelo e Leonardo Teixeira, além de representantes da Associação dos Parentes e Amigos de Vítimas da Violência (APAVV), deixaram o Fórum Clóvis Beviláqua emocionados. Sílvia Moreno, uma das tias dos médicos, saiu do local chorando muito.

“É uma vergonha. Estamos nesse calvário há quatro anos e oito meses. O coração da nossa família está dilacerado”, lamentava. Outro tio dizia que “foi uma manobra. E ainda tivemos que ver o réu. Isso acaba com nossa família”, afirmou.

Oneide Braga, fundadora da APAVV, em lágrimas, também protestava contra o adiamento do julgamento. “Isso é revoltante. Eu não sei como eles estão resistindo. A APAVV tem mais de mil casos e só em cinco foram feitos justiça”.

A defesa do ex-capitão Daniel Gomes afirmou, logo após o adiamento, que, durante o julgamento, vai pedir atenuantes, caso Daniel Gomes seja condenado pela morte dos irmãos, em Iguatu. Segundo Delano Cruz, advogado de defesa, serão três pontos principais.

Um é a legítima defesa. O outro é o homicídio privilegiado (quando se age sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima). E o último é a desqualificação do homicídio qualificado para simples. (GM/LP)

“A creditamos na justiça de Deus. Clamamos pela

justiça dos homens”. O cla-mor, estampado nas camisas cor de luto de familiares e amigos dos irmãos Marcelo e Leonardo Teixeira, preci-sou aguardar. O encontro do ex-capitão da Polícia Militar Daniel Gomes Bezerra com o Tribunal do Júri Popular, marcado para a manhã de ontem, no Fórum Clóvis Be-viláqua, foi adiado para a pró-xima quarta-feira, 7. Daniel é acusado de matar os dois ir-mãos em de março de 2007, numa churrascaria em Iguatu, a 384 quilômetros da Capital.

O adiamento deveu-se à ausência de uma das cinco testemunhas de defesa: o te-nente-coronel Geovane Alco-forado. O oficial, na época, era comandante da 2ª Companhia do 2º Batalhão da PM, sedia-da em Iguatu. Alcoforado, por meio de um atestado médico, justificou a ausência. O atesta-do foi enviado por fax de Rus-sas para a diretoria do fórum. O tenente-coronel atualmente é comandante do 1º Batalhão da Polícia Militar de Russas. Além das cinco testemunhas de defesa, mais quatro de acu-sação deveriam ser ouvidas.

Tudo estava pronto para o início do julgamento. Pa-rentes, amigos, pessoas so-lidárias à dor da família e estudantes de Direito já esta-vam acomodados no 1º Salão do Júri do fórum. A decisão foi anunciada aos presentes, pouco depois das 10 horas, pela juíza Danielle Pontes de Arruda Pinheiro, titular da 1ª Vara do Júri, que presidiria o julgamento. Os pais dos jo-vens não aguentaram a emo-ção. Nelson e Célia Teixeira deixaram o fórum, chorando muito, amparados familiares e amigos.

Em meio às lágrimas de tristeza e revolta, pediam jus-tiça. “Cadê a Justiça do meu Brasil? Como se adia por nada o julgamento de um assassino, réu confesso, que matou co-vardemente meus dois filhos,