02 03 Histórias que se cruzam! - Fundação...
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O que é Arqueologia? A Arqueologia é a ciência que se preocupa em enten-
der a sociedade por meio de sua cultura material, ou seja,
pelos seus objetos. Para o arqueólogo o material encontrado
traz informações sobre aqueles que habitavam a região antes
de nós, sendo assim, a atividade do arqueólogo não está ape-
nas voltada para os objetos que são encontrados no sítio ar-
queológico (local que apresenta vestígios de atividades huma-
nas do passado), mas também para as relações que as pessoas
estabelecem com estes objetos.
Como trabalha o Arqueólogo?
O arqueólogo é o cientista responsável por interpretar
os vestígios deixados pelas populações do passado. Seu traba-
lho se divide em 3 etapas:
PRÉ-CAMPO: é o momento em que os arqueólogos buscam
registros escritos e pesquisas realizadas sobre uma determi-
nada região. Relatos orais da população local também contri-
buem com a pesquisa.
CAMPO: as atividades de acampo compreendem a
“prospecção” (busca pelos vestígios) e o resgate do material
encontrado que se dá por meio de escavações ou coletas siste-
máticas.
Histórias que se cruzam!
As histórias dos municípios Araraquara, Américo Bra-
siliense e Santa Lucia, se cruzam. É possível evidenciar esse
fato à medida que os relatos históricos identificam a pre-
sença indígena, o conflito como os mesmos, o processo de
imigração, a expansão econômica cafeeira, a construção
das Ferrovias para chegada e escoamento de produtos agrí-
colas, dentre outros fatos históricos.
No entanto, com a crise de 1929 houve uma baixa
com relação à exportação de café. Assim em 1931 o gover-
no passa a criar regulamentação para a produção de açúcar
e álcool com a finalidade de ampliar o consumo de açúcar e
mudar a política do uso de combustível a base de petróleo
para o álcool. Muitas personalidades históricas chegaram à
região, seja por conflitos políticos ou por processo migra-
tório.
Todos os cidadãos cooperaram de alguma forma para
a construção cultural e econômica regional, mas não vamos
nos atentar a representações públicas específicas. Vamos
elencar algumas dessas contribuições para a construção
coletiva do patrimônio cultural local e regional.
Dentre as possibilidades históricas podemos citar a
titulo de exemplo, a
fundação do Teatro
Apollo, construído ao
lado do grupo escolar
em Américo Brasilien-
se, que foi palco de
encontros famíliares,
de namorados e da
juventude de uma
maneira geral.
Citamos aqui
também o time de
futebol fundado em
1921, por imigrantes
italianos, chamado
de Americano, sen-
do esse o mais
antigo da região.
Santa Lucia
também tem sua
contribuição
como uma bela
representante
de patrimônio
paisagístico,
devido as belas
Palmeiras Im-
periais. As Pal-
meiras Imperi-
ais fez com
que a cidade
fosse conhecida
como, "Cidade
das Palmeiras"
desde 1957, suas
mudas foram
trazidas do Jar-
dim Botânico do Rio de Janeiro, pelo Bento de Abreu Sam-
paio Vidal.
Continuando nossa reflexão sobre os patrimônios
existentes na região poderíamos evidenciar em Araraquara
vários locais, mas optamos aqui por apresentar o MAPA-
Museu de Arqueologia e Paleontologia de Araraquara que
se localiza no centro da cidade. A nossa opção se deu pelo
fato de entendermos que esse é um espaço que conta um
pouco do passado, mas nos faz pensar o presente. Este lu-
gar está diretamente ligado à história de Araraquara, pois
se trata de um antigo conservatório musical do maestro
José Tescari, construção da década de 1880 e hoje é o local
que abriga acervos que nos dão a possibilidade de contar
parte da história da Arqueologia Regional e da Paleontolo-
gia. Aproveite e venha nos conhecer!!!
O que é Patrimônio Cultural Imaterial?
O Patrimônio Cultural Imaterial refere-se ás práti-
cas e situações da vida social, manifestadas em celebra-
ções, saberes, formas de expressão artística, modos de
fazer, e também nos lugares onde ocorrem as práticas
culturais coletivas. Trata-se de um patrimônio transmitido
de geração em geração, constantemente recriado pela co-
munidade e que gera um sentimento de identidade e con-
tinuidade.
É interessante perceber que um bem patrimo-
nial material, como uma construção arquitetônica, carrega
também um valor imaterial de referência afetiva e simbóli-
ca para a comunidade. Uma teia de significados está para
além da materialidade das coisas, visto que é relativa a
uma experiência simbólica do cotidiano e do vivido que
dinamiza as relações. (Adaptado de SILVEIRA & BEZER-
RA, 2007).
Foto do Theatro Apollo,
acervo disponível em
www.americobrasiliense.sp.gov.br
Foto da rua central em Santa Lucia
(fonte: arquivo próprio).
Foto do Americano Futebol Clube,
acervo: disponível em
www.americobrasiliense.sp.gov.br
Museu de Arqueologia e Paleontologia de Araraquara – MAPA
(fonte: arquivo próprio)
Vamos conhecer um pouco da história de
alguns patrimônios culturais da sua cidade
e região? Momento da limpeza e análise do material arqueológico recolhido
com a pesquisa de campo em sítio arqueológico (fonte: Zanettini
Arqueologia em trabalho para Usina Santa Cruz)
02 03 Em Araraquara
Na cidade de Araraquara, temos que destacar o Baile do
Carmo que é carregado de simbologia e faz parte do patrimônio
imaterial do Município. O Baile começou em meados do século
XX, como manifestação de
resistência da comunidade
negra contra o preconceito.
Os grandes salões de clubes
araraquarenses, frequenta-
dos pela elite econômica,
não aceitavam negros em
dias habituais. O baile de
gala, que a princípio ti-
nha como objetivo fir-
mar a presença e os
direitos dos negros,
logo se tornou um
ponto de encontro
de diferentes gera-
ções, contribuindo
para a construção
de laços que seriam
fundamentais para a
manutenção do even-
to anual.
Hoje é realizada uma semana de eventos que atrai muita
gente, tanto de Araraquara como também de toda a região. No
ano de 2006, após a assinatura de um protocolo entre prefeitu-
ra Municipal e a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualda-
de Racial, deu-se início ao inventário da história da comunidade
afrodescendente em Araraquara, por meio da história
do Baile do Carmo, o que possibilitou o registro do evento co-
mo patrimônio cultural imaterial da humanidade, no livro de
Tombo do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional).
Em Santa Lúcia e Américo Brasiliense Podemos elencar um patrimônio imaterial que muito
contribui para a qualidade de vida da sociedade em Santa Lucia,
onde há uma prática da Olimpíada do trabalhador. Ocorre desde
1989, sempre no dia 1º de maio e os esportes são: Futebol de
Salão; Futebol de Campo; Natação; Atletismo; Truco e Vôlei de
Areia sendo que a primeira contou com 500 participantes. A prá-
tica esportiva é um fator preponderante para sociabilidade dos
sujeitos. Outros eventos culturais ocorrem em Santa Lucia como
a Festa do HAVAÍ.
Já em Américo o século 20 foi palco de grandes eventos
culturais, com a chegada do cinema. O primeiro filme a ser exibi-
do foi A Deusa do Sertão, em 1926. Retrata uma época áurea
das artes. O filme era acompanhado de uma pianola (um modelo
de piano tocado automaticamente, por meio de um aparelho,
para acompanhamento musical dos filmes que eram “mudos”).
Em Américo o equipamento era manipulado por Carlos Abi-
Jaudi, o Carlitão, como era conhecido, mais tarde foi dono do
Cine. O cinema ainda hoje mexe com nossas emoções além de
transmitir conhecimento, por esse motivo pode ser reconhecido
como patrimônio material e imaterial.
Já conversamos sobre o patrimônio material e imaterial.
Agora vamos tratar do papel do Arqueólogo para a compreensão
e o resgate desse patrimônio, vamos viajar com a gente e desco-
brir um pouco sobre essa profissão?
Dança no Baile do Carmo em 2006.
Fonte: Valquíria Pereira Tenório
Frente do convite Baile do Carmo
de 1974.
Fonte: Valquíria Pereira Tenório
PÓS-CAMPO: é nesta etapa que os pesquisadores vão higieni-
zar e tratar o material encontrado (lavar e numerar) para que
possam ser analisados. Os dados levantados são transforma-
dos em conhecimento que devem chegar ao público por meio
de ações educativas ou por museus, com exposições organiza-
das a partir das pesquisas.
Pesquisadores realizando pesquisa de campo em sítio arqueológico
(fonte: Zanettini Arqueologia em trabalho para Usina Santa Cruz)
Pesquisadores realizando pesquisa com informantes e com
documentação escrita (fonte: arquivo próprio)
Educação Patrimonial
As ações Educativas previstas para
contribuir na sensibilização do público en-
volvido sobre a Preservação do Patrimônio
Histórico-Cultural nos Municípios Arara-
quara, Américo Brasiliense e Santa Lucia,
estão diretamente ligadas à execução do
programa de Gestão do Patrimônio Arque-
ológico da Usina Santa Cruz. A efetivação
de um programa de educação e preservação
do patrimônio cultural é uma exigência do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artísti-
co Nacional-IPHAN, a partir da Portaria
IPHAN/Minc 203/2002, estando, também,
em acordo com legislação ambiental, que
preveem programas de educação patrimoni-
al em contextos de licenciamento ambiental.
A título de esclarecimento da popula-
ção todo empreendimento necessita execu-
tar, antes de sua implantação, diversos estu-
dos. E essa investigação é chamada de Estu-
do de Impacto Ambiental e Relatório de
Meio Ambiente (EIA-RIMA), previsto pela
Legislação Brasileira, na Resolução CONA-
MA n°. 001 de 23.01.86, como parte das
exigências legais para se obter o licencia-
mento ambiental. A equipe de educação da
Fundação Araporã, no entanto, compreende
que as ações educativas devem contribuir
para a construção cidadã, permitindo o livre
acesso da população aos diversos contextos
da produção cultural e ambiental existentes
nos municípios e com essa motivação tem
atuado de maneira mais efetiva desde 2008
no município de Araraquara e região. Sem-
pre se pautando na necessidade de que os
sujeitos sociais possam se apropriar e criar
uma identidade com a História e o Patrimô-
nio Cultural, Arquitetônico, Ambiental e
principalmente o Arqueológico, bem como
realizando registros da memória sociocultu-
ral da região.
Atualmente, desenvolvemos ações
educativas no Museu de Arqueologia e Pale-
ontologia de Araraquara (MAPA), escolas
públicas e particulares, em Faculdades, asso-
ciações e instituições sociais e culturais. Di-
ante dessa explanação você pode estar se
perguntando no que a implantação de um
empreendimento tem a ver com a demanda
do Patrimônio histórico e cultural?
A preservação do Patrimônio cultural
deve ser entendida como uma ação que va-
loriza a história da vida de todos os povos.
Sendo uma exigência legal deve ser estudada
para que seja garantida a sua salvaguarda,
pois, compreende-se que a cultura de um
povo é um bem universal e que precisa ser
valorizada para garantir a construção da
identidade social como um todo. Atualmen-
te a legislação brasileira define como sendo
obrigação do Estado, do Município e da Uni-
ão salvaguardar nossos bens culturais de
qualquer possibilidade de destruição. No
entanto, entendemos que precisamos ir
além da exigência legal, pois a sociedade de-
ve se apropriar do patrimônio cultural do
seu Município, só assim, reconhecerá sua
importância, criando uma identidade própria
e, consequentemente, a valorização e a pre-
servação desse bem patrimonial. Nossa atu-
ação no âmbito do licenciamento ambiental
das áreas de ampliação de plantio de cana da
Usina Santa Cruz é atender a exigência le-
gal, mas também promover o conhecimento
e a reflexão sobre os patrimônios culturais
existentes, para tanto, nossos trabalhos con-
tam com uma equipe multidisciplinar para
sua execução.
Dr. Robson Rodrigues - arqueólogo
Dra. Dulcelaine Nishikawa - socióloga
PUBLICAÇÃO INFORMATIVA DA
AÇÃO EDUCATIVA DO PROGRA-
MA DE EDUCAÇÃO PATRIMONI-
AL DA USINA SANTA CRUZ S/A -
AÇÚCAR E ÁLCOOL, MUNICÍPIOS
ENVOLVIDOS NO ESTADO DE
SÃO PAULO: ARARAQUARA,
AMÉRICO BRASILIENSE E SANTA
LUCIA.
Apoio:
Museu de Arqueologia e Paleontolo-
gia de Araraquara (MAPA)
Centro de Conservação e Restaura-
ção de Acervos Diversos (CECRAD)
Pç. Pedro de Toledo, s/n – CEP: 14.801-
348 – Araraquara (SP)
Tel. (16) 3322.4887
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COORDENAÇÃO GERAL
DR. Robson Rodrigues
DRA. Dulcelaine L. Lopes Nishikawa
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ARTE FINAL E
DIAGRAMAÇÃO
Talita Catini
REALIZAÇÃO
Usina Santa Cruz S/A.
PRODUÇÃO E EXECUÇÃO
FUNDAÇÃO ARAPORÃ
Os primeiros habitantes da nossa região viviam da caça,
pesca e coleta de vegetais. Chegaram aqui por volta de 8 mil
anos e escolheram essas terras por ser rica em matéria-prima
(rochas) para produzir seus instrumentos, mas circulavam por
outras regiões em busca de alimento e condições de moradia.
Tempos depois, grupos indígenas falantes de língua Tupi-
Guarani e Jê ocuparam a região. Estes tinham saberes próprios
e uma visão de mundo particular. Confeccionavam vasilhas cerâ-
micas que auxiliavam nas tarefas do dia a dia como cozinhar,
armazenar alimentos e até mesmo nos sepultamentos, servindo-
lhes de caixão.
Estas sociedades deixaram vestígios de sua ocupação e
estes hoje são objetos de estudos para muitos arqueólogos,
parte deles integra acervos de museus e nos ajudam a compre-
ender a história local.
A ocupação colonial, desde o início do século XX, também
deixou vestígios materiais, hoje encontrados nas fazendas da re-
gião. Cabe a arqueologia se ocupar destes vestígios, trazendo-
nos informações que não estão presentes nos livros e nos docu-
mentos oficiais.
04 Arqueologia regional e os achados arqueológicos encontrados
no âmbito do licenciamento ambiental da usina Santa Cruz
Urna funerária tupiguarani encontrada no município de Rincão,
SP. E uma ponta de flecha produzida pelos primeiros habitantes
da região Araraquara, hoje em exposição no Museu de Arqueolo-
gia e Paleontologia de Araraquara (MAPA) (fonte: arquivo próprio).
Moeda de 1946 encontrada no sítio arqueológico Periquito, no
município de Araraquara, SP. E foto dos Vestígios de edificação
em blocos de pedra relacionada a sede da antiga fazenda de café
São Luiz do Monjolo, município de santa Lúcia, SP
(fonte: Zanettini Arqueologia).
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Patrimônio Histórico e Cultural de
Araraquara, Santa Lúcia e Américo
Brasiliense, SP.
Mapa etnográfico onde se observa a presença de populações
dos troncos linguísticos Jê e Tupi-guarani na região de Arara-
quara (Fonte: MANO, Marcel, 311:2006)