02. Eletrostática

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Capítulo 2 do livro de eletromagnetismo do autor Eduardo Fontana.

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  • ELETROMAGNETISMO - PARTE 1 - Edio 01.2011

    Eduardo Fontana, PhD

    Professor Titular

    Departamento de Eletrnica e Sistemas

    UFPE

    Copyright Verso Impressa 1994 by Eduardo Fontana

    Copyright Verso ebook 2011 by Eduardo Fontana

  • Captulo 2 - Eletrosttica 2.1 Campo Eletrosttico

    2.1.1 Lei de Coulomb

    2.1.2 Campo eletrosttico

    Conceituao do campo eletrosttico

    Linhas de campo

    2.1.3 O conceito de cargas distribudas

    2.2 Lei de Gauss para o Campo Eltrico

    2.2.1 Fluxo eltrico atravs de uma superfcie fechada

    2.2.2 Determinao de campos atravs da Lei de Gauss

    2.3. Potencial Eletrosttico

    2.3.1 Definio da funo potencial

    2.3.2 Diferena de potencial e circulao do campo eletrosttico

    2.3.3 Energia potencial de uma carga puntiforme em uma regio de campos

    2.3.4 Energia potencial de uma distribuio de cargas

    2.4 Equaes de Maxwell para a Eletrosttica

    2.4.1 Forma diferencial

    2.4.2 Equao de Poisson

    2.4.3 Densidade de energia

    2.5 Eletrosttica em Meios Materiais

    2.5.1 Potencial e campo do dipolo eltrico

    2.5.2. Energia de interao entre campo e diplo eltrico

    2.5.3. Campo de uma distribuio de dipolos - Vetor polarizao

    2.5.4. Cargas de polarizao e relaes constitutivas em meios materiais

    2.5.5. Tipos de meios materiais

    Meios lineares

    Meios isotrpicos e anisotrpicos

    Meios homogneos

    Meios no-lineares

    2.6. Condies de Contorno

    Problemas

  • 2.1 Campo Eletrosttico

    2.1.1 Lei de Coulomb

    A eletrosttica lida com a interao entre partculas carregadas em

    repouso e com a anlise de campos produzidos por distribuies de cargas em

    repouso. A carga eltrica uma grandeza fundamental, tal como, por

    exemplo, a massa, o comprimento e o tempo. Experimentos demonstraram

    que cargas eltricas satisfazem as seguintes propriedades:

    Existem dois tipos de carga na natureza, que diferem na forma com que interagem.

    Cargas do mesmo tipo se repelem, e cargas de tipos distintos se atraem.

    Para representar-se o tipo de interao entre cargas, atribui-se o sinal positivo para cargas de um tipo, e o negativo para cargas pertencentes ao

    segundo tipo.

    A carga quantizada, e o quantum de carga eltrica corresponde a carga de um eletron e vale 1,60 10-19 Coulombs. O Coulomb a unidade de

    carga no Sistema Internacional (SI) de unidades.

    A carga total em um sistema isolado conservada. Por sistema isolado nesse caso, subtende-se aquele que bloqueie a entrada ou sada de matria

    mas que seja susceptvel a penetrao ou emisso de radiao

    eletromagntica.

    Historicamente, foi atribudo o sinal negativo

    carga do eletron.

    Coulomb em 1785

    realizando uma srie de

    experimentos com uma

    balana de toro de alta

    preciso, determinou que a

    fora entre objetos

    puntiformes carregados era

    inversamente proporcional ao

    quadrado da distncia e

    proporcional ao produto das

    cargas. Por objetos

    puntiformes entendem-se

    aqueles cujas dimenses

    tpicas sejam pequenas comparadas com a distncia de separao. Foi tambm

  • observado que a linha de ao da fora era dirigida ao longo da linha de

    separao entre cargas. Com base na Fig. 2.1, a relao matemtica obtida por

    Coulomb pode ser posta na forma vetorial

    (2.1)

    onde 0 a permissividade eltrica do vcuo e q1 e q2 so os valores das

    cargas localizadas nos pontos e , respectivamente. Em unidades

    SI, . Na notao da Eq.(2.1), o termo

    representa a fora sobre a carga q2 devido a q1 , que ser repulsiva ou atrativa,

    se o produto das cargas for positivo ou negativo, respectivamente.

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    Um outro resultado importante obtido de observaes experimentais

    que a fora eletrosttica obedece ao princpio da superposio, i.e., a fora

    total sobre uma carga de teste, produzida por um conjunto de cargas

    puntiformes, pode ser obtida somando-se vetorialmente a fora de cada carga

    individual, na ausncia das demais. Conseqentemente, para a situao

    ilustrada na Fig.2.2, a fora total sobre a carga qt devido ao conjunto de

    cargas qi pode ser obtida de,

    (2.2)

  • Fig.2.2 Geometria para o clculo da fora total produzida por um conjunto

    de N cargas sobre uma carga de teste qt.

    2.1.2 Campo eletrosttico

    Conceituao do campo eletrosttico

    Observa-se que uma carga eltrica produz uma regio de influncia ao

    seu redor. O efeito pode ser sentido por outro objeto carregado posicionado

    nas imediaes da carga. Este transmissor de efeito, que faz-se presente no

    espao, a partir da existncia de uma partcula carregada, denominado

    de campo eletrosttico.

    A caracterizao do campo eletrosttico produzido por um conjunto de

    cargas eltricas, pode ser feita colocando-se uma carga de teste qt na regio de

    campo, e medindo-se a fora eltrica produzida sobre qt. A magnitude da

    carga de teste deve ser pequena de forma a no perturbar o campo

    originalmente presente. A partir dessa medio, o campo eletrosttico pode ser

    definido pela relao

    (2.3)

    De acordo com essa definio, o campo eletrosttico independente

    da existncia de uma carga no ponto de observao, sendo medido, no sistema

    SI, em unidades de Newton/Coulomb.

  • Por exemplo,

    uma carga

    puntiforme positiva

    produz um campo

    eltrico radial

    conforme ilustrado

    na Fig.2.3. A

    dependncia espacial

    do campo eltrico

    nessa situao,

    mais

    convenientemente

    obtida, admitindo-se

    um sistema de

    coordenadas tendo

    como origem a posio da carga puntiforme. Nesse sistema, o vetor campo

    eltrico observado no ponto de coordenadas (R,, ), dado por

    (2.4)

    Como mostra a Eq.(2.4), o vetor campo eltrico de uma carga

    puntiforme radial, o que caracteriza a natureza central da fora eletrosttica,

    sendo dependente apenas do inverso do quadrado da distncia.

    A generalizao da Eq.(2.3) para o campo produzido por um conjunto

    de cargas discretas obtida diretamente da expresso para a fora eletrosttica

    dada pela Eq.(2.2), resultando em

    (2.5)

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  • Linhas de campo

    Considere-se a existncia no espao de uma distribuio de cargas que

    produz um campo eltrico. Se uma carga de teste positiva fosse colocada em

    um determinado ponto dessa regio, sofreria uma acelerao que, em cada

    ponto da trajetria, teria mesma direo e sentido do vetor fora eltrica, e por

    conseguinte do vetor campo eltrico sobre a carga de teste. Uma linha de

    campo uma curva que fornece, em cada ponto, a direo inicial da

    trajetria que seria descrita por uma carga de teste inicialmente em repouso.

    importante salientar que a linha de campo assim definida no corresponde

    a trajetria completa que seria seguida pela carga de teste uma vez que esta

    deve estar inicialmente em repouso e no em movimento, de acordo com a

    definio.

    Para uma dada distribuio de campo eltrico, equaes para as linhas

    de campo podem ser obtidas fazendo-se as correspondncias apropriadas entre

    as componentes do campo e as coordenadas. Considere-se por exemplo o

    traado de linhas em um plano, com o campo decomposto em uma base

    ortonormal do tipo

    De acordo com a definio de linha de campo, o vetor campo eltrico

    deve ser tangente a curva correspondente em cada ponto. Sendo dl1 e dl2 os

    comprimentos diferenciais ao longo das direes 1 e 2, respectivamente, a

    equao da linha de campo tem de satisfazer a relao

    (2.6)

    Conhecendo-se a dependncia espacial das componentes do campo,

    pode-se resolver a equao diferencial expressa pela Eq.(2.6) para obteno da

    equao da linha que passa por um dado ponto do espao. Se uma soluo

    analtica da Eq.(2.6) no puder ser obtida, recorrem-se a mtodos numricos

    de soluo. Com a difuso de softwares de computao matemtica

    compatveis com o sistema operacional Microsoft Windows, tais como Mathcad, Matematica eMatlab, o clculo e traado de linhas de

    campo pode ser prontamente programado.

  • Exemplo 2.1. Traado de linhas

    de campo utilizando Mathcad

    Considere-se como

    exemplo o traado das linhas de

    campo de um par de cargas de

    sinais opostos, conforme ilustrado

    na Fig.2.4. Em um ponto do

    plano xy definido pelo vetor

    posio, , o vetor campo

    eltrico obtido da soma vetorial,

    Utilizando-se a transposta da matriz de transformao dada pela

    Eq.(1.8), o vetor posto na forma,

    resultando em

    donde,

    Utilizando-se a Eq.(2.6), com dl2=dr, dl1=rd , resulta em

    Dado um valor inicial ri para a funo r, valores subseqentes podem

    ser obtidos para pequenos incrementos d, a partir da aproximao de Taylor,

  • onde os valores do primeiro membro so calculados iterativamente a partir de

    um dado valor inicial.. A Fig.2.5 ilustra algumas linhas de campo calculadas

    com o emprego do aplicativo Mathcad cujo cdigo est mostrado no Quadro

    2.1. Nesse clculo, utilizou-se d = 1 e 400 pontos de iterao. Cinco linhas

    de campo no semi-plano y 0 foram geradas no intervalo 5o 175o, a partir de valores iniciais, =5o, r = 0.75, 0.85, 0.95, 1.05, 1.15, respectivamente. Linhas de campo no semi-plano y 0 so simtricas com respeito ao eixo x.

    Fig.2.5 Linhas de campo para o diplo eltrico

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    Quadro 2.1 Cdigo Mathcad correspondente ao Exemplo 2.1 Traado de linhas de campo para o diplo eltrico

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    Mathcad d := 1

    N := 400 Nmero de pontos k := 0 ...4 Subscrito utilizado para denotar 5 pontos iniciais distintos

    i := 1..N+1 Subscrito utilizado para calcular N pares de coordenadas

  • := Valor inicial do azimute

    := Valor final do azimute r0,k := 0.1k + 0.75 Valores iniciais para a varivel r

    Incremento da varivel azimutal Calcula a varivel azimutal na iterao de ordem i : i := (i-1) + Calcula a varivel r na aproximao em 1

    a orde de Taylor :

    Transforma coordenadas para o sistema xy e plota :

    xi,k := ri,k cos [i] yi,k := ri,k sen [i]

    2.1.3 O conceito de cargas distribudas

    No clculo do campo eletrosttico resultante de um grande nmero de

    cargas discretas, como por exemplo, aquelas compondo um meio

    macroscpico, muitas vezes conveniente definir uma funo densidade, que

    fornea uma medida da distribuio de cargas no meio em questo. Na Fig.

    2.6, est ilustrado um elemento de volume diferencial com dimenses lineares

    pequenas comparadas com a escala de variao do campo, o que equivale a

    admitir que o volume diferencial esteja contido no interior de uma esfera de

    raio , tal que,

    (2.7)

    onde define o centro do elemento de volume, e define o ponto de

    observao. Por outro lado, para que se obtenha uma boa medida da

    quantidade de carga existente no interior do volume diferencial, necessrio

    que sua dimenso caracterstica seja grande comparada com as distncias

    inter-atmicas, de forma a conter um grande nmero de elementos de carga. O

    campo eletrosttico gerado pelos elementos de carga contidos no volume

    diferencial pode ser obtido diretamente da Eq.(2.5),

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    Com base na condio expressa pela Eq.(2.7), pode-se escrever,

    resultando em

    Fig.2.6. Geometria para determinao do campo produzido

    por um elemento diferencial de volume de um meio material. Da ltima relao, a contribuio para o campo eltrico observado no

    ponto , depende da carga total contida no volume diferencial, mas

    independe de como essa carga esteja distribuda no volume.

    Conseqentemente, pode-se assim definir uma funo densidade de carga, tal

    que

    donde

  • (2.8)

    e o campo produzido pelo elemento diferencial obtido de

    (2.9)

    O campo total produzido pelas cargas no volume V pode ser assim

    obtido integrando-se diretamente a Eq. (2.10), o que fornece,

    (2.10)

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    Existem situaes em que pode-se admitir a carga distribuda sobre

    uma superfcie ou mesmo sobre uma curva, conforme ilustrado nas Figs.2.7b e

    2.7c, respectivamente. Nessas situaes, densidades superficial e linear de

    carga podem tambm ser respectivamente definidas, a partir das relaes:

    (2.11)

    (2.12)

  • (a) (b)

    (c) Fig.2.7. Geometria para o clculo do campo eltrico para distribuies de

    carga, (a) volumtrica, (b) superficial e (c) linear.

    Campos gerados pelas distribuies ilustradas nas Figs.2.7b e 2.7c

    podem ser expressos nas formas gerais:

    Distribuio superficial de cargas:

    (2.13)

    Distribuio linear de cargas:

    (2.14)

    Exemplo 2.2. Campo produzido por uma esfera exibindo distribuio

    uniforme de carga. Considere-se uma esfera de

    raio a, uniformemente carregada

    com densidade de carga ,

    conforme ilustrado na Fig.2.8. Se a

    carga total na esfera Q, ento a

    densidade uniforme

    simplesmente,

  • O objetivo determinar-se o campo eletrosttico gerado por essa

    distribuio. Sem perda de generalidade, o ponto de observao escolhido

    sobre o eixo z.. Utilizando-se a Eq.(2.10), com , vem

    O elemento de volume em coordenadas esfricas dado por,

    donde,

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    Para resolver-se a integral, necessrio explicitar-se a dependncia do

    vetor varivel , o que pode ser feito a partir de sua decomposio nos

    vetores de base do sistema xyz,

    O denominador do integrando obtido de,

    Os termos do integrando, dependentes das funes peridicas ,

    fornecem contribuio nula aps integrao no intervalo de um perodo

    completo dessas funes. Assim, o vetor campo eltrico assume a forma

  • A integrao em ' realizada a partir da mudana de variveis,

    donde,

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    Resolvendo-se a integral na varivel u, resulta em

    Para a integral em R', note-se que o termo entre colchetes da forma:

  • logo,

    Se o ponto de observao exterior a esfera, z > a R, o que fornece

    Se o ponto de observao interior a esfera vem

    Note-se que a escolha do eixo z arbitrria, e o campo eltrico radial

    a partir do centro da esfera. Conseqentemente, sendo R a distncia medida

    at o ponto de observao, a expresso geral para o campo reduz-se a,

    importante observar-se que o campo pode ser representado em ambas

    as situaes na forma,

    onde a carga total envolvida por uma esfera imaginria de raio R. A

    carga envolvida em termos da densidade de carga dada por,

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    Na Fig.2.9, est

    ilustrada a dependncia

    em R da

    componente . Note-

    se que a dependncia

    linear para pontos no

    interior da esfera,

    variando inversamente

    com o quadrado da

    distncia para pontos

    exteriores.

    2.2 Lei de Gauss para o Campo Eltrico

    2.2.1 Fluxo eltrico atravs de uma superfcie fechada

    A natureza central e a dependncia com o inverso do quadrado da

    distncia, do campo eletrosttico, conforme previsto pela lei de Coulomb,

    implica em uma propriedade de conservao para o fluxo das linhas de campo

    eltrico atravs de uma superfcie fechada. Considere-se inicialmente uma

    carga puntiforme q, localizada na origem de um sistema de coordenadas,

  • interior a uma superfcie fechada imaginria e de forma arbitrria, conforme

    ilustrado na Fig.2.10a. No vcuo, o fluxo eltrico E para fora da regio limitada por essa superfcie definido pela relao,

    (2.15)

    Em um ponto sobre a superfcie, definido pelo vetor posio ,

    o vetor campo eltrico dado por,

    resultando em

    onde , a componente radial do vetor cuja magnitude

    corresponde quela do elemento diferencial de rea perpendicular ao vetor

    unitrio . Em termos do elemento diferencial de ngulo

    slido, , ilustrado na Fig. 2.10a, pode-se escrever,

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    importante observar-se que a partir da introduo do parmetro d, a superfcie fechada subtende um ngulo slido total

    e portanto,

  • o que implica na seguinte lei de conservao para as linhas de campo

    eletrosttico,

    (2.16)

    (a) (b)

    Fig.2.10 (a) Carga envolvida por uma superfcie imaginria e geometria

    utilizada para computar o fluxo eltrico atravs da superfcie. (b)

    Determinao do fluxo eltrico quando a carga exterior ao volume limitado

    pela superfcie.

    Ou seja, independentemente da localizao da carga e do formato da

    superfcie que encerra essa carga, o fluxo eltrico sempre igual ao valor da

    carga envolvida pela superfcie. A questo a se considerar a partir da

    propriedade obtida da Eq.(2.16), a seguinte: o que ocorreria se a carga

    envolvida fosse colocada na regio exterior ao volume limitado pela superfcie

    ? Note-se que para responder a essa questo, no basta atribuir-se o valor q =

    0 na Eq.(2.16), pois isso poderia implicar a no existncia de um campo

    eltrico, levando-se a concluso bvia de um fluxo eltrico lquido nulo. Para

    analisar-se essa questo considere-se o clculo da Eq.(2.15), para a situao

    ilustrada na Fig.2.10b. A superfcie fechada dividida em duas superfcies 1 e 2. Sobre 1 o produto escalar do integrando da Eq.(2.15) sempre positivo, sendo sempre negativo sobre 2 , logo,

  • que em termos do ngulo slido pode ser posto na forma,

    onde a ltima relao decorre do fato de termos um mesmo ngulo

    slido , subtendido por ambas as superfcies, conforme ilustrado na

    Fig.2.10b. Ou seja:

    O fluxo eltrico para o exterior da regio limitada por uma superfcie fechada igual a carga envolvida por essa surperfcie,

    com cargas exteriores no exercendo qualquer influncia na

    determinao do fluxo Esse resultado pode ser generalizado para o caso de um nmero

    arbitrrio de cargas discretas, pela aplicao direta do princpio da

    superposio. Para isso considere-se a situao ilustrada na Fig.2.11a, onde

    existe um conjunto de N cargas, com as N1 primeiras limitadas pela superfcie

    , e as (N - N1) subseqentes, localizadas no exterior do volume limitado pela mesma superfcie. O campo total gerado pelo conjunto de N cargas dado

    por,

    onde o campo produzido pela carga . O fluxo eltrico atravs de dado

    por,

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    A segunda soma corresponde ao fluxo eltrico devido as cargas

    exteriores superfcie , sendo portanto nulo. A primeira soma, corresponde carga total lquida limitada pela superfcie , e de acordo com a Eq.(2.16),

    (2.17)

    importante observar-se que no primeiro membro da Eq.(2.17), o

    campo eltrico que aparece no integrando o campo total produzido

    pelas N cargas, sejam elas internas ou externas.

    Se a carga est distribuda continuamente com densidade em um

    volume V, conforme ilustrado na Fig.2.11b, ento a Eq.(2.17) pode ser posta

    na forma,

    (2.18)

    onde o volume de integrao no segundo membro, aquele limitado pela

    superfcie , conforme ilustrado na Fig.2.11b. As Eqs.(2.17) e (2.18) so as formas da lei de Gauss para distribuies discreta e contnua, respectivamente.

  • (a) (b)

    Fig.2.11. Aplicao da lei de Gauss para:(a) distribuio discreta de cargas;

    (b) distribuio contnua de cargas.

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    2.2.2 Determinao de campos atravs da Lei de Gauss

    Na presente seo so examinadas algumas situaes favorveis a

    determinao de campos atravs da lei de Gauss. Nessa formulao quer-se

    determinar o campo eltrico a partir da Eq. (2.18), para uma dada distribuio

    de cargas . Uma vez que o campo eletrosttico aparece no integrando da Eq.(2.18), sua determinao s ser possvel quando a componente normal

  • superfcie for constante, permitindo assim extrair-se aquela componente do

    integrando da Eq.(2.18). Situaes dessa natureza ocorrem, em geral, quando

    a distribuio de carga exibe um alto grau de simetria.

    Assim, o emprego dessa formulao, requer obteno a priori, de respostas

    as seguintes questes:

    Quais componentes de campo esto presentes?

    De que coordenadas o campo depende?

    Exemplo 2.3. Campo de uma esfera uniformemente carregada.

    Considere-se novamente o exemplo da esfera de raio a, onde o campo

    eltrico foi determinado no Exemplo 2.2 pelo uso da Eq.(2.14). Para

    determinar-se de que coordenadas as componentes de campo dependem,

    analisa-se inicialmente a simetria da distribuio. Como a funo densidade

    possui simetria esfrica, i.e., a funo densidade independente das

    coordenadas angulares, pode-se definir um sistema de coordenadas com

    centro coincidente com o centro da esfera. Nesse sistema, qualquer operao

    de rotao em torno de qualquer eixo passando pelo centro da esfera, no

    modifica a distribuio de carga. A partir dessa operao de simetria, conclui-

    se que as componentes do vetor campo eltrico s devem depender da

    distncia R ao centro da esfera. Sabe-se tambm que esse tipo de configurao

    produz um campo com uma componente radial apenas. Conseqentemente, o

    campo eletrosttico deve ser do tipo,

    A prxima etapa determinar-se uma superfcie Gaussiana sobre a qual

    a componente normal do campo seja constante. Como o campo radial e s

    depende da varivel R, a superfcie deve satisfazer a equao , que

    corresponde a superfcie de uma esfera. Se a superfcie Gaussiana tal

    que, , a Eq.(2.18) conduz a:

  • Se , a integral de volume realizada sobre toda a esfera de raio a,

    resultando em

    Essas expresses so idnticas quelas obtidas no Exemplo 2.2,

    atravs do princpio da superposio que envolve uma maior manipulao

    algbrica.

    Exemplo 2.4 Campo eletrosttico para um fio retilneo uniformemente

    carregado.

    Considere-se um fio retilneo infinitamente longo, com carga

    uniformemente distribuda com densidade linear (C/m). Para essa

    distribuio importante observar-se que o sistema de coordenadas que mais

    se adapta a simetria do problema o cilndrico, devido a prpria forma

    cilndrica do fio retilneo. A escolha mais adequada para o eixo de simetria do

    sistema aquela coincidente com o eixo do fio, conforme ilustrado na

    Fig.2.12. Nesse sistema de coordenadas, pode-se extrair as seguintes

    observaes:

    Como o fio infinitamente longo, no importa em que plano transversal do fio esteja localizado o plano xy, o que implica na existncia de simetria

    de translao ao longo da direo z. Assim, as componentes de campo que

    existirem independem da varivel z, uma vez que a distribuio

    inalterada perante translao ao longo dessa direo.

  • Rotaes arbitrrias no ngulo , tambm no alteram a distribuio de carga, indicando tambm que as componentes presentes do campo

    independem dessa varivel.

    As componentes do campo devem portanto depender apenas da varivel r.

    Para determinao das componentes de campo presentes pode-se, por

    exemplo, aplicar o princpio da superposio, na forma ilustrada na Fig.2.12.

    Como pode ser a observado, o campo resultante da contribuio de um par de

    elementos de carga, localizados simetricamente com respeito ao plano xy

    dirigido no sentido do vetor . Pode-se portanto decompor toda a

    distribuio em pares de cargas diferenciais, simetricamente localizados em

    relao ao plano xy, e concluir-se que o campo eltrico resultante da forma

    Fig.2.12 Geometria utilizada para a determinao do campo eletrosttico de

    um filamento retilneo infinitamente longo atravs da lei de Gauss.

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    A partir dessas consideraes, conclui-se que a superfcie gaussiana

    apropriada para a geometria do problema deve ser da forma,

    . Escolhendo-se uma seo longitudinal de comprimento l de uma superfcie

    cilndrica, conforme ilustrado na Fig.2.12 e notando-se que o fluxo eltrico s

    existe atravs dessa superfcie, a aplicao da Eq.(2.18) resulta em

  • Sobre a superfcie cilndrica, , e conseqentemente,

    donde,

    Com base na lei de Gauss para o campo eletrosttico, e utilizando-se

    consideraes semelhantes quelas descritas anteriormente, pode-se mostrar

    que o campo eletrosttico produzido pelo plano infinito com carga

    uniformemente distribuda com densidade superficial s, ilustrado na Fig.2.13, constante acima ou abaixo do plano, e dado por

    .

    Fig.2.13 Geometria utilizada para a determinao do campo eletrosttico do

    plano infinito uniformemente carregado.

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    2.3. Potencial Eletrosttico

    2.3.1 Definio da funo potencial

    Considere-se a Eq.(2.10) para o campo produzido por uma distribuio

    de cargas suspensas no vcuo,

    (2.10)

    onde deve-se notar que as variveis de integrao so aquelas relacionadas ao

    vetor posio , que define a localizao do elemento diferencial de carga

    no volume de integrao. Considerando-se o fator no integrando,

    nota-se que este pode ser obtido da operao,

    onde o operador atua sobre as coordenadas do vetor posio . Portanto, a

    Eq.(2.10) pode ser reescrita na forma,

    ou ainda,

    (2.19)

    A Eq.(2.19) indica que o campo eletrosttico pode ser obtido do

    gradiente de uma funo escalar. Essa funo escalar a funo potencial

    eletrosttico resultante da distribuio de cargas, e dada por,

  • (2.20)

    No sistema SI, a funo potencial medida em Nm/C que a

    denominao do Volt nesse sistema. Note-se que a adio de uma constante

    arbitrria no segundo membro da Eq.(2.20) no altera o valor do campo

    eltrico obtido da Eq.(2.19). Conseqentemente, a funo potencial definida

    a menos de uma constante. Essa constante pode ser definida estabelecendo-se

    uma referncia para o potencial em um ponto ou superfcie no espao. Para

    distribuies fsicas, isto , distribuies que podem ser localizadas no interior

    de um volume finito, uma referncia de potencial nulo geralmente imposta

    para pontos arbitrariamente afastados da distribuio.

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    Devido a natureza escalar da funo potencial, o problema de

    determinao do campo de uma distribuio de cargas, simplificado com o

    auxlio dessa funo, pois a integrao vetorial presente na Eq.(2.10), que

    envolve a obteno de trs componentes vetoriais eliminada, dando lugar a

    uma nica integrao escalar, como expresso pela Eq.(2.20). Como

    demonstra a Eq.(2.19), obtida a funo potencial, o vetor campo eltrico pode

    ento ser determinado da relao

    (2.21)

    Por exemplo, para uma carga puntiforme q, pode-se utilizar a

    Eq.(2.20), com

    e notando-se que constante sobre a regio ocupada pela carga

    puntiforme, obtm-se

  • onde define a posio da carga q, e corresponde ao ponto de

    observao. Portanto, para uma carga puntiforme, o potencial eletrosttico

    inversamente proporcional a distncia medida desde a carga at o

    ponto de observao. Para um conjunto de N cargas discretas, com a i-sima carga

    localizada no ponto , o potencial total pode ser obtido pela soma das

    contribuies individuais, na forma,

    (2.22)

    2.3.2 Diferena de potencial e circulao do campo eletrosttico

    O potencial eletrosttico formado pela superposio de funes que,

    excludos os pontos de singularidade, assumem valores bem definidos em

    cada ponto do espao, conforme demonstram as Eqs. (2.20) e

    (2.22). Conseqentemente, estabelecido um valor de referncia, o potencial

    eletrosttico univocamente especificado.

    Considere-se um caminho arbitrrio C1 ligando dois

    pontos P1 e P2 conforme ilustrado na Fig.2.13, a diferena de potencial entre

    esses dois pontos pode ser obtida de

    donde,

    (2.23)

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    Na Eq.(2.23), e so os valores assumidos pela funo potencial

    nos pontos P1 e P2 , respectivamente. A unicidade da funo potencial em

    cada ponto do espao implica que a integral de linha no segundo membro da

    Eq.(2.23) independe da escolha da curva conectando os

    pontos P1e P2. Conseqentemente, se for escolhido o caminho fechado

    formado pela unio de C1 e C2conforme ilustrado na Fig.2.13, tem-se que

    ou equivalentemente,

    (2.24)

    A Eq.(2.24), indica que o campo eletrosttico possui circulao nula,

    Esse era um resultado esperado em vista de o campo eltrico ser uma

    grandeza vetorial derivada do gradiente de uma funo escalar.

    Em resumo:

    As Eqs.(2.18) e (2.24) descrevem o comportamento

    bsico do campo eletrosttico de cargas no vcuo e

    correspondem as Eqs. de Maxwell para a eletrosttica

    no vcuo, na forma integral.

    Com base nas propriedades da operao gradiente, conclui-se que as

    linhas de campo so sempre perpendiculares as superfcies equipotenciais e

    que o vetor campo eltrico tem magnitude igual a mxima taxa de variao da

    funo potencial, sendo dirigido no sentido de diminuio do valor dessa

    funo no ponto considerado.

  • Fig.2.14 Caminho fechado utilizado para o clculo da circulao do campo

    eltrico

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    2.3.3 Energia potencial de uma carga puntiforme em uma regio de campos

    A funo potencial tem uma relao direta com a energia de interao

    entre cargas e campos. Considere-se uma regio onde existe um campo

    eltrico . Quer-se computar a energia de uma carga de teste em um

    ponto dessa regio. Para isso imagina-se que um agente externo fictcio traga

    essa carga de um ponto distante, onde a carga no interage com o campo, at o

    ponto de localizao final, seguindo, por exemplo, a trajetria definida pela

    curva C ilustrada na Fig.2.14. Para computar-se corretamente a energia, o

    agente externo deve trazer a carga em movimento uniforme, isto ,

    imprimindo uma fora de forma a equilibrar a fora eltrica devida

    ao campo , em todos os pontos da trajetria. Dessa forma, o trabalho

    realizado pelo agente fictcio dever corresponder a energia adquirida pela

    carga de teste para ser posta na regio de campo. A condio de equilbrio de

    foras ao longo da trajetria pode ser posta na forma

  • Fig.2.15. Geometria utilizada no clculo da energia potencial de uma carga

    discreta em uma regio de campo.

    O trabalho realizado pelo agente externo , ou equivalentemente, a

    energia adquirida pela carga, obtida de,

    donde,

    (2.25)

    A Eq.(2.25) mostra que a funo potencial resultante de uma dada

    distribuio de cargas, calculada em um ponto no espao, corresponde a

    energia que seria adquirida por uma carga unitria ao ser trazida quele ponto.

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  • 2.3.4 Energia potencial de uma distribuio de cargas

    Considere-se a questo de determinao da energia de interao

    associada a um conjunto de cargas discretas. Admite-se que a configurao

    final consiste de N cargas discretas, com a carga qidesse conjunto localizada

    no ponto . Para determinar-se a energia de interao, seja inicialmente a

    carga localizada em sua posio final no conjunto, e o clculo do trabalho

    realizado por um agente externo fictcio para trazer a carga at a sua

    posio final, prxima de . Com base na Eq.(2.25), essa energia dada por,

    U = W12 = q2 12 onde

    o potencial eletrosttico produzido pela carga na posio da carga .

    Note-se que,

    W12 = W21

    e portanto essa primeira contribuio para a energia pode ser escrita na forma,

    Continuando-se com esse processo, e trazendo-se a carga para sua

    posio final na distribuio, a expresso para U se torna,

    podendo ser posta na forma,

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    Uma inspeo dessa ltima expresso permite identificar cada fator

    como o produto de uma das cargas do conjunto com o potencial eletrosttico

    produzido pelas demais. Conseqentemente, se esse procedimento for

    estendido para formar-se a configurao final de N cargas, obtm-se,

    (2.26)

    onde o potencial eletrosttico calculado sobre a carga devido as

    demais cargas no conjunto. A Eq.(2.26) representa a energia de

    interao entre as N cargas, e exclui termos de auto-energia, i.e., termos de

    interao da carga com o campo produzido por ela prpria.

    O resultado obtido para um conjunto de cargas discretas pode ser

    generalizado para uma distribuio contnua de cargas, pelas substituies,

    resultando em,

    (2.27) Exemplo 2.6: Energia potencial de uma esfera uniformemente carregada

    Considere-se a determinao da energia eltrica necessria formao

    da distribuio uniforme de cargas no interior da esfera de raio a, considerada

    no Exemplo 2.2. Para utilizao da Eq.(2.27), o potencial eletrosttico no

    interior da distribuio deve ser inicialmente determinado. Sem perda de

    generalidade, essa funo pode ser calculada em um ponto sobre o semi-

    eixo z > 0, a uma distncia R da origem. Utilizando-se a Eq.(2.20),

  • Fazendo-se a substituio de variveis utilizada no Exemplo 2.2,

    vem,

    com, . Realizando-se a integrao na varivel u,

    vem,

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    Se o potencial calculado no exterior da distribuio, ento R > a, e a

    funo potencial assume a forma,

    ,

    que a dependncia caracterstica com o inverso da distncia. Se R < a,

    ento, deve-se considerar o comportamento do integrando para R' < R e R' >

    R. Para isso note-se que,

    resultando em,

    donde,

  • Devido a simetria esfrica da distribuio, o potencial depende apenas

    da varivel R, i.e., os resultados obtidos so vlidos independentemente da

    escolha da direo z, no nosso sistema de coordenadas. Para calcular-se a

    energia, utiliza-se a Eq.(2.27), onde deve-se observar que a integrao

    realizada no volume da distribuio de carga, ou seja,

    (2.28a) ou em termos da carga Q da esfera,

    (2.28b)

    A Eq.(2.28a) mostra que para uma distribuio contnua a energia tende

    a zero, se o volume da distribuio tender a um valor nulo. A Eq.(2.28b) serve

    para ilustrar o comportamento da auto-energia de uma carga puntiforme, que

    seria obtida mantendo-se a carga Q em um valor finito, e fazendo-se a 0 o que resultaria em uma auto-energia infinita.

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    2.4 Equaes de Maxwell para a Eletrosttica

  • 2.4.1 Forma diferencial

    A partir da lei de Coulomb, obtm-se as duas relaes integrais

    representadas pelas Eqs.(2.18) e (2.24) , transcritas a seguir,

    (2.18)

    (2.24)

    que juntamente com a expresso para a fora eletrosttica sobre uma

    distribuio de carga, obtida da Eq.(2.3),

    (2.29)

    so suficientes para descrever o comportamento de campos eletrostticos, bem

    como a interao entre corpos carregados. Essas equaes integrais para o

    campo so casos particulares das relaes mais gerais obtidas por James

    Clerck Maxwell no final do Sculo 19, para descrever o comportamento de

    campos eletromagnticos.

    Como discutido anteriormente, o uso dessa formulao integral para

    determinao do vetor se restringe a situaes onde as distribuies de

    carga apresentem um alto grau de simetria. Este raramente o caso

    encontrado na prtica, onde uma relao entre campo e fonte vlida ponto a

    ponto mais apropriada.

    Para obter-se equaes diferenciais, relacionando campo e fonte,

    considere-se a aplicao do teorema de Gauss [Eq.(1.46)] ao primeiro membro

    da Eq.(2.18),

    Essa relao independente da escolha do volume de integrao. Em

    particular, para um volume diferencial dV,

  • resultando na forma diferencial da lei de Gauss,

    (2.30)

    A Eq.(2.30) mostra que a operao divergncia realizada sobre o vetor (

    ) em um dado ponto do espao, indica a existncia de carga naquele

    ponto, aqui representada localmente pela densidade volumtrica .

    Aplicando-se o teorema de Stokes [Eq.(1.48)] ao primeiro membro da

    Eq.(2.24), vem,

    Como essa ltima relao vlida qualquer que seja a rea de

    integrao, o mesmo ocorrer sobre uma rea diferencial dS, o que fornece,

    Nenhuma restrio foi imposta quanto a orientao do vetor rea

    diferencial . Logo, essa relao s poder ser verificada se,

    (2.31)

    o que mostra que o campo eletrosttico irrotacional.

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    2.4.2 Equao de Poisson

    As Eqs.(2.30) e (2.31) so equaes diferenciais que descrevem o

    campo eletrosttico em cada ponto do espao, podendo ser utilizadas para sua

    determinao, independentemente da geometria da distribuio de

    cargas. Essas equaes podem ser resolvidas com o auxlio da funo

    potencial. Para isso, note-se que o rotacional nulo do vetor , implica que

    esse pode ser derivado da funo potencial como j mostrado anteriormente

  • na Eq.(2.21). Isso tambm decorrncia direta da identidade vetorial

    expressa pela Eq.(1.37), ou seja,

    Substituindo a Eq.(2.21) na Eq.(2.30), tem-se que,

    donde

    (2.32)

    que a Equao de Poisson, vlida para distribuies de cargas no vcuo. A

    soluo dessa equao, no caso especial em que a distribuio de carga est imersa em uma regio ilimitada, dada pela Eq.(2.20), essa ltima tendo

    surgido da prpria definio e clculo do potencial eletrosttico produzido por

    uma distribuio de cargas. Mtodos de soluo da equao de Poisson em

    casos envolvendo no s a existncia de distribuies de carga como tambm

    a presena de superfcies condutoras e meios materiais distintos na regio de

    interesse, sero tratados no Captulo 3.

    2.4.3 Densidade de energia

    Na Seco 2.3.4 obteve-se uma expresso para a energia eltrica

    associada a uma distribuio de cargas existindo no espao sem fronteiras. A

    expresso a obtida, envolvia uma integral volumtrica do produto das

    grandezas e , calculada sobre o volume da distribuio, ou seja, expressa sob o ponto de vista da fonte do campo eletrosttico. Alternativamente,

    pode-se imaginar essa energia como estando distribuda no espao de

    existncia do campo. Para isso, considere-se a Eq.(2.27), que com o auxlio

    da Eq. (2.30), pode ser posta na forma,

    utilizando-se a Eq.(1.31), com , tem-se que,

    e utilizando-se a Eq.(2.21) vem,

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    Nessa ltima expresso, importante observar que a integrao

    realizada em todo o espao de existncia do campo eletrosttico. A integral

    pode ainda ser posta na forma,

    A primeira integral pode ser transformada em uma integral de

    superfcie com base no teorema de Gauss, o que fornece,

    Para distribuies de carga existindo em uma regio sem fronteiras, a

    superfcie de integrao que aparece no primeiro termo envolve todo o espao

    de existncia do campo. Portanto, essa superfcie tomada a uma

    distncia R , com R medido desde o centro da distribuio at um ponto sobre a superfcie. Levando-se em conta que a distribuio localizada, o

    potencial e campo eltrico para R assumem as respectivas formas assintticas,

    onde q a carga total na distribuio. Com ,

    fornecendo portanto,

  • (2.33)

    A Eq.(2.33) representa a energia eltrica estabelecida por uma

    distribuio de cargas,expressa no ponto de vista do campo

    eletrosttico. Nesse ponto de vista, a energia interpretada como estando

    distribuda em todo o espao. De acordo com essa interpretao, pode-se

    definir umadensidade de energia,

    (2.34)

    que permite associar regies de alta ou baixa energia como aquelas exibindo

    campos de alta ou baixa magnitude, respectivamente.

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    Considere-se, por exemplo, a obteno da energia associada a

    distribuio de cargas do Exemplo 2.6, com o emprego da Eq.(2.33). O campo

    em cada ponto do espao, obtido do Exemplo 2.3, dado por,

    Utilizando-se a Eq.(2.33) vem,

    que corresponde ao resultado previsto pela Eq.(2.28a).

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    2.5 Eletrosttica em Meios Materiais 2.5.1 Potencial e campo do dipolo eltrico

    Um par de cargas de sinais opostos constitui um dipolo eltrico.

    Dipolos na matria podem ser produzidos pela aplicao de um campo

    eltrico nos tomos ou molculas constituintes, resultando em uma separao

    dos centros de cargas positiva e negativa correspondentes. Dipolos assim

    gerados, produzem campos que se superpem ao campo externamente

    aplicado.

    Em outros tipos de

    materiais, a configurao

    molecular de seus elementos

    constituintes tal que os

    centros de cargas so

    intrinsecamente separados,

    dando origem a dipolos

    permanentes que existem

    independentemente da

    presena de um campo

    externo. Quando um campo

    externo aplicado nesses

    materiais, os dipolos

    permanentes, inicialmente

    orientados desordenadamente,

    tendem a alinhar-se com o

    campo. Nesse processo o

    campo produzido pelo

    conjunto de dipolos

    razoavelmente intenso,

    superpondo-se ao campo

    externo.

    Em ambas as situaes o campo em um meio material constitudo de

    dipolos diferente do campo externamente aplicado, devido ao campo de

    reao no material. Dessa forma, para determinar-se o campo no interior ou

    nas proximidades de um material constitudo de dipolos, necessrio analisar

  • as propriedades eltricas do elemento fundamental, eletricamente neutro, aqui

    denominado de dipolo eltrico.

    Com esse propsito considere-se o comportamento da funo potencial

    e campo eletrosttico para o dipolo eltrico ilustrado na Fig.2.16. O potencial

    no ponto P obtido a partir da Eq.(2.22),

    e o campo eltrico obtido da relao,

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    Uma situao de interesse prtico ocorre quando a distncia do ponto

    de observao origem grande comparada com a distncia de separao

    entre cargas. Essa situao tpica daquela encontrada em meios materiais,

    onde a distncia de separao tipicamente menor do que uma dimenso

    atmica ou molecular, e a distncia ao ponto de observao corresponde a

    escala macroscpica de variao das grandezas de campo. Reescrevendo-se a

    funo potencial na forma,

    ,

    com o auxlio da varivel auxiliar,

    e com base na aproximao de Taylor em 1a. ordem

    ,

  • , vem

    donde,

    Define-se o momento de dipolo de uma distribuio de cargas pela

    expresso geral,

    Para o caso das duas cargas discretas ilustradas na Fig.2.15, essa

    integral reduz-se a:

    ,

    e a funo potencial pode ser reescrita na forma,

    (2.35)

    A Eq.(2.35) permite extrair as seguintes observaes:

    Para uma carga puntiforme(monopolo eltrico), o potencial varia na

    proporo 1/R

    Para o dipolo eltrico, o potencial varia na proporo 1/R2

    O campo eltrico obtido diretamente da Eq.(2.21) que em coordenadas

    esfricas da forma:

    que com o emprego da Eq.(2.35) resulta em

  • (2.36)

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    Alguns valores especficos assumidos pelo campo em sub-regies do espao

    tridimensional esto ilustrados a seguir:

    No plano z = 0 ,

    Sobre o semi-eixo z > 0 ,

    Sobre o semi-eixo z < 0 ,

    As linhas de campo do diplo eltrico podem ser traadas em um plano

    contendo o eixo z, com base na formulao desenvolvida na Seo 2.1.

    Utilizando-se a Eq.(2.6), obtm-se,

    que resulta na equao diferencial,

    A equao descrevendo o comportamento de cada linha de campo,

    resolvida por integrao direta da equao diferencial. Assumindo-se o valor

    inicial , resulta em

    donde

  • (2.37)

    A forma assinttica do conjunto de linhas de campo, traadas no plano

    contendo o eixo z, e obtidas da Eq.(2.37), est ilustrada na Fig.2.17.

    Fig.2.17. Linhas de campo para o diplo eltrico obtidas a partir da Eq.(2.37)

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    2.5.2. Energia de interao entre

    campo e diplo eltrico

    Considere-se um diplo

    eltrico imerso em uma regio de

    campo, conforme ilustrado na

    Fig.2.18. A energia de interao

  • entre campo e diplo pode ser obtida diretamente a partir da interpretao

    fsica da funo potencial. A expresso, a ser obtida, serve para elucidar a

    compreenso de fenmenos de interao de meios materiais com campos

    eletromagnticos.

    Na geometria da Fig.2.18, admite-se que o campo eltrico derivado

    da funo potencial . A energia de interao U, a soma das energias potenciais das duas cargas que compem o diplo,

    Assumindo-se que a funo potencial varie pouco sobre a distncia de

    separao entre as cargas, pode-se utilizar a aproximao de Taylor em 1a.

    ordem,

    o que fornece

    ou equivalentemente,

    (2.38)

    Da Eq.(2.38) nota-se que:

    A energia mnima quando o diplo est alinhado com o campo.

    A energia mxima quando campo e diplo so antiparalelos

    Assim, a tendncia

    natural do dipolo eltrico a

    de orientar-se no sentido do

    campo aplicado, pois esta a

    condio em que a energia

    de interao minimizada.

    Pode-se determinar a

    energia de interao entre

    dois diplos a partir das

  • Eqs.(2.36) e (2.38). Considerando-se a configurao ilustrada na Fig.2.19,

    fcil mostrar que a energia de interao da forma,

    (2.39)

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    2.5.3. Campo de uma distribuio de dipolos - Vetor polarizao

    Considere-se o caso mais

    geral de uma distribuio de

    dipolos em um determinado

    volume V, conforme ilustrado na

    Fig.2.20. Esta a situao obtida,

    por exemplo, em meios materiais

    isolantes neutros, cujo efeito

    eltrico predominante aquele de

    seus dipolos constituintes. Apesar

    da natureza discreta da estrutura da

    matria, do ponto de vista

    macroscpico pode-se assumir que

    os dipolos estejam distribudos

    continuamente no interior do

    volume V. Sob esse ponto de vista,

  • utiliza-se a descrio usual para o volume diferencial de um meio material, ou

    seja, ele deve ser grande comparado com distncias interatmicas, e ainda

    assim pequeno comparado com a escala tpica de variao das grandezas que

    definem o campo eletrosttico.

    Para computar-se o momento de dipolo lquido em um dado volume

    diferencial dV' do material localizado no vetor posio , introduz-se

    o vetor polarizao , definido pela relao:

    (2.40)

    Da definio dada pela Eq.(2.40), pode-se notar que a unidade SI dessa

    grandeza o C/m2 . Dessa expresso, dado dV e o valor do vetor polarizao, obtm-se diretamente o momento de dipolo lquido no volume diferencial.

    Assim, o vetor uma grandeza do tipo densidade volumtrica de dipolos,

    que fornece a magnitude, direo e sentido do momento de dipolo lquido em

    um volume diferencial dV. A menos da natureza vetorial, o vetor polarizao

    fornece uma representao da densidade local de dipolos na matria, tendo

    papel semelhante quele desempenhado pela densidade volumtrica de cargas

    ou monopolos em um objeto carregado.

    Utilizando-se a Eq.(2.35), com o auxlio da Eq.(2.40), obtm-se a

    contribuio do volume diferencial dV para a funo potencial no ponto , na forma

    e o potencial total naquele ponto obtido integrando-se as contribuies

    elementares sobre o volume V, ou seja,

    (2.41)

    A Eq. (2.41) uma expresso simples que permite computar o

    potencial, e por conseguinte, o campo eltrico da matria polarizada. Existem

    materiais ferroeletricos que so capazes de reter polarizao, mesmo na

  • ausncia de um campo aplicado. Os tomos ou molculas destes materiais

    formam dipolos permanentes que em princpio so orientados aleatriamente

    devido as vibraes trmicas. Quando se aplica um campo no material,

    suficiente para vencer o efeito trmico, possvel obter-se alinhamento dos

    dipolos, que pode persistir mesmo na ausncia do campo externo.

    Exemplo 2.7: Campo de uma placa

    delgada polarizada

    Como exemplo de

    determinao da funo potencial e

    campo eltrico da matria

    polarizada, considere-se o caso do

    disco delgado polarizado

    uniformemente, conforme ilustrado

    na Fig. 2.21, e a determinao do

    potencial e vetor campo eltrico em

    um ponto arbitrrio do eixo z..

    Utilizando-se a Eq.(2.41),

    com , tem-se

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    Realizando-se a integrao, obtm-se

  • Da expresso anterior, nota-se que o potencial no eixo z, apresenta os

    valores limites:

    a) :

    onde, p representa o momento de dipolo do disco delgado. Uma inspeo da

    Eq.(2.35) indica que essa ltima expresso representa, de fato, o potencial no

    eixo z produzido por um dipolo localizado na origem.

    b) :

    O campo eltrico no eixo z obtido de:

    donde,

    com .

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    2.5.4. Cargas de polarizao e relaes constitutivas em meios materiais

    Uma questo importante no

    estudo de eletrosttica a

    determinao de campos na presena

    de meios materiais. Como discutido

    na seo anterior, dipolos na matria

    fornecem uma contribuio para o

    potencial eletrosttico e o objetivo da

    presente anlise caracterizar as

    contribuies advindas de cargas

    livres (monopolos) e de cargas

    ligadas (dipolos). . Em essncia, um

    meio material pode ser

    caracterizado eletricamente como

    formado por dipolos e monopolos,

    em suspeno no vcuo.

    Considere-se o volume V do

    meio material contendo uma

    distribuio de dipolos, caracterizada

    pelo vetor polarizao , e uma

    distribuio de cargas, caracterizada por uma densidade de cargas livres ,

    conforme ilustrado na Fig.2.22 O potencial eletrosttico observado no

    ponto obtido por superposio utilizando-se as Eqs.(2.20) e (2.41), o que

    fornece,

  • (2.42)

    Na segunda integral da Eq.(2.42) pode-se utilizar a relao,

    com o operador atuando apenas nas coordenadas do ponto . Com base

    nessa relao, a dependncia espacial do integrando do segundo termo da

    Eq.(2.42) pode ser posta na forma,

    Fazendo-se uso da Eq.(1.31),

    com as substituies, , resulta em

    Inserindo-se esta ltima expresso na Eq.(2.42) e arranjando-se os termos do

    segundo membro, obtm-se,

    A aplicao do teorema de Gauss, na segunda integral da expresso anterior

    permite escrever a funo potencial na forma,

  • (2.43)

    onde o vetor unitrio normal dirigido para fora da superfcie que limita o meio material, conforme ilustrado na Fig.2.22.

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    A Eq.(2.43) expressa a forma caracterstica com que o vetor

    polarizao, representativo do meio material, contribui para a funo

    potencial. O numerador do integrando do primeiro termo da Eq.(2.43)

    representa uma densidade equivalente de cargas

    (2.44)

    com a densidade de cargas ligadas definida por,

    (2.45)

    Com essa identificao, a contribuio do volume do material para o

    potencial ou campo eltrico em um ponto do espao aquela proveniente da

    densidade equivalente de cargas, definida pela Eq.(2.44).

    A integral de superfcie no segundo membro da Eq.(2.43) representa a

    contribuio da superfcie do material para o potencial. O numerador do

    integrando desse termo equivale eletricamente a uma densidade superfcial

    de cargas ligadas

    , (2.46)

    Com a introduo da polarizao do material pode-se determinar de que

    forma esse parmetro deve ser levado em conta na forma diferencial da lei de

    Gauss, dada pela Eq.(2.30). Notando-se que o segundo membro dessa equao

    representa a densidade volumtrica de cargas, com cargas livres e ligadas

    simultaneamente levadas em conta, com base na Eq.(2.44) pode-se escrever a

    Eq.(2.30) na forma

  • Inserindo-se a Eq.(2.44), com o auxlio da Eq.(2.45), na expresso

    anterior obtm-se

    Assim, a divergncia do vetor

    (2.47)

    depende apenas da densidade de cargas livres . Esse campo auxiliar

    denominado de vetor densidade de fluxo eltrico, sendo medido em C/m2 no

    sistema SI. Com a introduo do vetor , a lei de Gauss em forma

    diferencial assume a forma

    (2.48)

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    Com a introduo do vetor densidade de fluxo eltrico, a eletrosttica

    fica descrita pelas Eqs.(2.48) e (2.31), levando-se em conta a relao

    constitutiva, dada pela Eq.(2.47), entre os vetores . A vantagem de

    introduzir-se o vetor densidade de fluxo eltrico que nesse novo ponto de

    vista, a densidade de cargas que aparece em uma das equaes de Maxwell,

    representa apenas as cargas livres, com o efeito das cargas de polarizao

    sendo levado em conta na Eq.(2.47). Observe-se que o vetor campo eltrico

    aquele que leva em conta todas as fontes de carga possveis na matria, ou

    seja, livres ou ligadas. O vetor densidade de fluxo eltrico, por outro lado,

    aparece como grandeza auxiliar, com divergncia diretamente relacionada a

    densidade de cargas livres, facilitando assim o tratamento das equaes de

    Maxwell.

    A ttulo de ilustrao, considerando-se o exemplo da placa polarizada

    ilustrada na Fig.2.19, pode-se identificar os tipos de cargas ligadas a

    presentes. Nota-se, por exemplo, que a densidade volumtrica de cargas

    ligadas nula, dado que,

  • Existe no entanto carga ligada distribuda em partes da superfcie da

    placa, conforme discriminado a seguir:

    Tampa superior:

    Tampa inferior:

    Fita lateral de altura t:

    Ou seja, a placa delgada polarizada permanentemente equivalente,

    sob o ponto de vista da eletrosttica, a dois discos uniformemente carregados,

    imersos no vcuo, com cargas de sinais opostos e separados de uma

    distncia t.

    2.5.5. Tipos de meios materiais

    Meios lineares

    Existem certos materiais cujos tomos ou molculas constituintes

    possuem os centros de carga positiva e negativa coincidentes, e

    consequentemente estes materiais s se polarizam na presena de um campo

    eletrosttico externamente aplicado. Quando um campo aplicado, induz-se

    uma separao de cargas que em primeira ordem proporcional a intensidade

    do campo. Consequentemente, para essa classe de materiais, o vetor

    polarizao pode ser relacionado ao campo interno atravs de uma relao do

    tipo,

    (2.49)

    onde o parmetro adimensional denominado de susceptibilidade

    eltrica. Esse parmetro depende essencialmente da composio do material

    considerado. Materiais cuja relao entre e obedece a Eq.(2.49), so

    denominados de lineares. A relao entre e para meios lineares

    obtida combinando-se as Eqs.(2.47) e (2.49), resultando em

    (2.50)

    onde

    (2.51)

  • denominado de permissividade eltrica do material.

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    Meios isotrpicos e anisotrpicos

    Um meio eletricamente isotrpico quando suas propriedades

    dieltricas independem da direo do campo aplicado. Em materiais lineares

    isotrpicos, valem as relaes dadas pelas Eqs.(2.49) e (2.50).

    Existe no entanto uma classe importante de materiais em que a

    propriedade dieltrica em uma dada direo depende no s do campo

    aplicado nessa direo, como tambm das outras componentes de

    campo. Nestes materiais, denominados de anisotrpicos, a relao entre

    polarizao e campo aplicado assume a forma mais geral,

    ou equivalentemente,

    (2.52)

    com, , e

    (2.53)

    representando o tensor susceptibilidade eltrica.

  • Com base na Eq.(2.47), a relao entre os vetores e pode ser

    posta na forma matricial

    (2.54)

    com

    (2.55)

    representando o tensor permissividade eltrica e , a matriz identidade.

    Meios homogneos

    Se alm de linear e isotrpico, o meio tambm for homogneo, i.e., se

    suas propriedades dieltricas independerem das coordenadas, as equaes da

    eletrosttica podem ser escritas na forma,

    ,

    ,

    o que fornece

    com .

    Essas relaes mostram que o potencial eletrosttico em um meio

    linear, homogneo e isotrpico, satisfaz a Equao de Poisson. O segundo

    membro dessa equao indica que no interior de meios dieltricos, o

    potencial, e conseqentemente o campo eletrosttico, produzidos por uma

    distribuio de cargas livres enfraquecido por um fator , com

    respeito queles que seriam produzidos pela mesma distribuio de cargas, na

    ausncia do material.

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    Meios no-lineares

  • A estrutura de materiais ferroeltricos tal que seus tomos ou

    molculas constituintes exibem um momento de dipolo permanente. Na

    ausncia de um campo externo, vibraes trmicas mantm os dipolos

    orientados aleatoriamente, resultando em uma polarizao mdia nula. A

    aplicao de um pequeno campo no material pode ser suficiente para vencer a

    barreira trmica produzindo um alinhamento dos dipolos. O acoplamento dos

    dipolos devido aos campos dipolares pode ser suficientemente forte, de forma

    que retirando-se o campo externo, o material seja capaz de reter uma

    polarizao residual que s pode ser quebrada revertendo-se o campo externo,

    ou aquecendo-se o material ou atravs de choques mecnicos. Materiais desse

    tipo, alm de serem capazes de reter polarizao permanente, exibem

    uma relao no linear entre campo e polarizao. O tratamento de campos

    eletrostticos na presena de tais materiais feito utilizando-se as equaes da

    eletrosttica conjuntamente com a relao constitutiva mais geral expressa

    pela Eq.(2.47).

  • 2.6. Condies de Contorno

    As equaes de

    Maxwell, bem como a

    equao de Poisson,

    so equaes

    diferenciais cujas

    solues requerem o

    conhecimento do

    comportamento dos

    campos nas fronteiras

    da regio de interesse

    ou mesmo na interface

    entre materiais

    exibindo propriedades

    dieltricas

    distintas. A forma

    como feita a

    transio de campos

    entre meios distintos

    ditada pelas condies de contorno examinadas a seguir. Para isso, considere-

    se a interface entre os meios 1 e 2 conforme ilustrado na Fig.2.23. Nessa

    figura esto desenhados um cilindro imaginrio de altura h e rea de

    base S, bem como um caminho fechado C com segmentos de

    dimenses l e h. Ambas as figuras esto parcialmente contidas em cada meio. As grandezas de campo, na regio bem prxima interface, so

    representadas pelos vetores e , nos meios 1 e 2,

    respectivamente. O vetor unitrio tangente interface representado pelo

    parmetro , com representando o vetor unitrio normal interface,

    dirigido do meio 1 para o meio 2.

    Utilizando-se a lei de Gauss

    com correspondendo superfcie cilndrica mostrada na Fig.2.23, no limite

    em que h 0, obtm-se

  • No primeiro membro dessa ltima relao, utilizou-se o fato de a

    contribuio da superfcie lateral para o fluxo total tender a zero , no

    limite h 0. No segundo membro, admitindo-se a existncia de uma

    densidade superficial de carga , ento,

    resultando na condio de contorno para o vetor densidade de fluxo

    eltrico,

    (2.56)

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    A Eq.(2.56) indica que a componente normal do vetor densidade de

    fluxo eltrico descontnua se existir densidade superficial de carga na

    interface de separao dos meios. Essa situao pode ocorrer, por exemplo,

    na interface entre meios condutores, ou naquela entre um condutor e um no-

    condutor. Se ambos os meios so no-condutores, ento = 0, e da

    Eq.(2.52), conclui-se que a componente normal do vetor contnua.

    Aplicando-se a Eq.(2.24) para o caminho fechado mostrado na

    Fig.2.23, obtm-se

    uma vez que a contribuio para a integral de linha dos segmentos normais

    interface tende a zero no limite h 0. Assim,

  • Essa ltima relao indica que a componente tangencial do vetor

    campo eltrico contnua na interface entre dois meios quaisquer. Indica

    tambm que o vetor perpendicular ao vetor , ou

    equivalentemente, , i.e.,

    (2.57)

    Um caso particular importante para as condies de contorno dadas

    pelas Eqs.(2.56) e (2.57) ocorre quando a fronteira de interesse formada

    entre um meio condutor e um meio isolante. Como o campo no interior de um

    condutor nulo no regime esttico, no meio isolante, os campos assumem os

    seguintes valores na interface de separao,

    Se o meio isolante for linear, ento .

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    Problemas

    2.1) Um fio retilneo semi-infinito tem carga uniformemente distribuda

    com densidade (C/m). Defina um sistema de coordenadas apropriado e determine o vetor campo eltrico no plano perpendicular ao fio e que

    contenha uma de suas extremidades.

    2.2) Carga distribuda com densidade s = k (C/m2), na superfcie R = a ,

    , 0 2. Determine: a) a carga total na superfcie

    b) o vetor campo eltrico na origem.

    2.3) Carga distribuda com densidade s = kcos (C/m2), na

    superfcie R = a . Determine

    a) a carga total na superfcie.

    b) o vetor campo eltrico na origem.

    2.4) Uma carga puntiforme q est localizada na origem de um sistema de

    coordenadas. Considere o cubo com vrtices nos pontos:

    (-1,-1,-1); (1,-1,-1); (-1,1,-1); (1,1,-1); (-1,-1,1); (1,-1,1); (-1,1,1); (1,1,1)

    Determine o fluxo eltrico atravs da face do cubo definida por {z = 1, -1

    x 1, -1 y 1}.

    2.5) Uma carga q est localizada no ponto (0,0,0) e uma carga q, no ponto (0,2,0). Determine o fluxo eltrico atravs da superfcie definida pelas

    condies

    {y = 1, -1 x 1, -1 z 1}, admitindo que o vetor rea diferencial associado a essa superfcie aponte

    no sentido +y.

    2.6) Um plano infinitamente extenso tem carga uniformemente distribuda

    com densidade s = k(C/m2). Uma carga puntiforme q est localizada a uma

    altura h do plano. Admitindo que a carga puntiforme no distora a

    distribuio de cargas no plano, calcule a fora exercida pela carga sobre o

    plano.

    2.7) Dois fios retilneos, infinitamente longos e paralelos tm cargas

    distribudas e localizaes definidas pela tabela seguinte. Determine:

  • a) o vetor fora por unidade de comprimento exercida pelo fio 1 sobre o

    fio 2.

    b) o vetor campo eltrico resultante no plano y=0 para os

    casos 1 = 2 e 1 = 2.

    Fio Localizao Densidade linear de carga(C/m)

    1 x = 0, y=a 1

    2 x = 0, y = a 2

    2.8) Carga distribuda na regio {r a , < z < }, com

    densidade =k(r/a) (C/m3). Determine o vetor campo eltrico dentro e fora da regio de carga.

    2.9) Carga distribuda na regio a R b com densidade =k(R/b) (C/m3). Determine:

    a) a carga total na regio a R b. b) o vetor campo eltrico nas regies, 0 R a, a R b e R b.

    2.10) Considere a existncia de

    uma carga puntiformeQ imersa no

    vcuo e localizada no centro de um

    cilindro imaginrio de altura 2L e

    raio a. Determine o fluxo eltrico

    atravs da superfcie lateral do

    cilindro.

    2.11) Considere a existncia de

    uma distribuio uniforme de

    cargas no interior da esfera de

    raiob. Calcule a poro do fluxo

    eltrico para fora do cilindro

    imaginrio de raio a e altura 2L que

    atravessa suas tampas superior e

    inferior, admitindo o cilindro imerso

    no interior da distribuio, conforme

    ilustrado na figura.

    2.12) Considere a existncia de um campo eltrico no espao

    tridimensional, dado por,

  • a) qual a carga total envolvida por um cilindro imaginrio de raio a e

    altura 2L , com eixo de simetria sobre o eixo z e existente na regio -L

    < z < L.

    b) que tipo de distribuio produziria este campo e qual a sua localizao

    no espao?

    2.13) Para a distribuio

    de carga definida por:

    a) determine o vetor

    campo eltrico em todo o

    espao.

    b) faa um esboo da

    dependncia em zda(s)

    componente(s) do vetor

    campo eltrico.

    2.14) Carga distribuda

    em todo o espao com

    densidade volumtrica

    dada por,

    , onde 0 (C/m3) e (1/m3) so constantes e R mede a distncia de um

    ponto no espao origem. Determine o vetor campo eltrico em todo o

    espao.

    2.15) Uma distribuio esttica de cargas est distribuda em todo o espao

    com densidade volumtrica dada por, , onde 0 (C/m3) ,

    (1/m3) e a (m), so constantes er mede a distncia de um ponto sobre o plano xy origem. Determine o vetor campo eltrico em todo o espao.

    2.16) Considere um fio finito de comprimento l, com densidade linear de

    carga constante em todo fio. Defina um sistema de coordenadas adequado

    e determine a funo potencial e o vetor campo eltrico produzidos por

    esta distribuio.

  • 2.17) Carga distribuda com densidade s = kcos (C/m2), na

    superfcie R = a . Determine:

    a) o potencial eletrosttico em um ponto sobre o eixo z, interior ou

    exterior a esfera.

    b) o vetor campo eltrico correspondente no eixo z.

    2.18) Considere um anel de cargas de raio a, com uma densidade linear

    uniforme . Calcule o trabalho realizado por um agente externo fictcio para trazer uma carga q de um ponto infinitamente distante at o centro do

    anel.

    2.19) Oito cargas puntiformes, cada uma com q coulombs, esto dispostas

    nos vrtices de um cubo de lado a. Determine a energia potencial eltrica

    desse sistema de cargas.

    2.20) Para a distribuio de cargas da questo anterior, qual seria o trabalho

    realizado por um agente externo fictcio para trazer uma carga q0 de um

    ponto infinitamente distante, at o centro do cubo?

    2.21) Carga distribuda uniformemente com densidade na regio

    definida pelas equaes, , onde e so as

    coordenadas radial e polar no sistema de coordenadas esfricas. Determine

    o potencial e o vetor campo eltrico sobre o eixo z. Qual a energia

    necessria para se trazer uma carga q de um ponto remoto at o ponto de

    coordenadas, R=a, ?

    2.22) Carga distribuda uniformemente com densidade no interior da

    regio definida pelas equaes, , onde r e z so as

    coordenadas radial e axial no sistema de coordenadas cilndricas.

    Determine o potencial e o vetor campo eltrico no eixo z.

    2.23) Para a distribuio de cargas do problema anterior, qual a energia

    necessria para se mover uma carga de teste q do centro da distribuio at

    o ponto de coordenadas, ?

    2.24) Considere uma casca esfrica limitada pelas superfcies R = a e R = b,

    com b>a. Nessa regio, carga distribuda uniformemente com densidade

    0 (C/m3). Admitindo o ponto de vista do campo, onde a energia

    eletrosttica considerada como distribuda no espao, determine:

    a) a densidade de energia eletrosttica nas regies R a, a R b e R b.

  • b) as respectivas pores de energia eletrosttica contidas nas

    regies R a, a R b e R b 2.25) Considere um cilindro de altura h e

    raio a, exibindo um vetor polarizao

    permanente dada por , conforme

    ilustrado na figura. Determine o potencial

    eletrosttico em um ponto sobre o eixo z, dentro

    ou fora do cilndro.

    2.26) Considere dois dipolos e ,

    separados por uma distnciad, e um vetor

    unitrio dirigido ao longo da linha de separao

    entre e . Dado que os dipolos esto

    alinhados sobre retas paralelas, determine os

    ngulos entre e de forma que a energia de

    interao seja nula.

    2.27) Para o cilindro polarizado do problema 2.25, determine o trabalho que

    seria realizado por um agente externo fictcio para transportar uma carga

    de teste q0 de um ponto no centro da tampa inferior at um ponto no centro

    da tampa superior.

    2.28) Uma esfera isolante de raio a, com centro na origem, polarizada

    permanentemente com vetor polarizao constante . Determine os

    vetores campo eltrico e densidade de fluxo eltrico na origem.

    2.29) O espao entre duas superfcies condutoras esfricas concntricas de

    raios a e b preenchido com um dieltrico de

    permissividade . Admitindo a esfera externa aterrada e a interna submetida a um potencial V, determine as densidades superficiais de carga

    de polarizao nas duas superfcies do dieltrico.

    2.30) Calcule os momentos de dipolo eltrico para o cilindro do problema

    2.25 e para a esfera do problema 2.28.

    2.31) Para um conjunto de cargas discretas qi (i=1,2,3,...N), localizadas nos

    pontos (i=1,2,3,...N), o momento de dipolo pode ser calculado da

    expresso

  • e para uma distribuio contnua de cargas definida pela funo

    densidade ocupando um volume V, o momento de dipolo pode ser

    calculado da relao

    Utilizando essas definies determine os momentos de dipolo para os

    sistemas de cargas mostrados na figura seguinte.

    Prob. 2.31

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