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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE ADOBE: CONSTRUÇÃO DE ALVENARIA OLIVEIRA, Leila Bueno de. Professora Adjunta da Universidade Paulista – UNIP; pesquisadora do Cantoar/FAUUnB, Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo – EESC USP, Mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela PPG FAUUnB. End.: Projeto Cantoar / FAU - Prefeitura do Campus, Fundação Universidade de Brasília, Campus Universitário, Asa Norte 70.910-900 Brasília, DF Telefone: (61) 307 2044. E-mail: [email protected] RESUMO O adobe é um material de construção usado milenarmente em diversas partes do mundo, sendo, portanto, um material tradicional. Além disso, os insumos necessários para a sua produção (terra, fibra natural e água) podem ser encontrados localmente; a energia utilizada em sua manufatura é quase nula; e a mão de obra empregada pode ter pouca especialização, tornando o adobe um material apropriado do ponto de vista da sustentabilidade. Sendo assim, a pesquisa e o desenvolvimento desta técnica de construção poderão contribuir para que sua aplicação possa ser sistematizada e o seu uso resgatado. Este artigo, portanto, visa ao estudo do adobe utilizado na alvenaria, tendo-o como uma das soluções possíveis para as construções em zonas rurais e, também, urbanas. Palavras-chave: arquitetura, comunidade tradicional, sistema construtivo, sustentabilidade ABSTRACT The adobe is a material used for thousand years, in various places around the world. In Brazil, particularly, it is a traditional material used in rural communities or historical cities. Its manufacture needs earth, natural fibers and water. They can be found near the construction; the cost with energy for its production is nothing; and labor has very little specialization, making the adobe an appropriate material from the point of view of sustainability. So, the research and the development of this construction thecnique may contribute for the systematization and for its regular use. This work is an introduction to the adobe study, this material can be one of the solutions for construction in rural and, too, urban area. Keywords: adobe, architecture, traditional communities, building construction, manufacture 1. INTRODUÇÃO Pode-se dizer que um dos problemas de nossa atualidade consiste na dificuldade de acesso à moradia por grande parte da população, tanto em zonas rurais como em zonas urbanas ou suburbanas. O nosso país, assim como tantos outros, passa por problemas como falta de acesso à tecnologia, ao conhecimento e aos bens materiais, especialmente aos materiais de construção, e, para que a população em geral possa adquirir moradia adequada, com conforto e espaço, faz-se necessária uma solução que se sustente na própria comunidade, uma solução sustentada.

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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE ADOBE: CONSTRUÇÃO DE ALVENARIA

OLIVEIRA, Leila Bueno de.

Professora Adjunta da Universidade Paulista – UNIP; pesquisadora do Cantoar/FAUUnB, Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Escola de Engenharia de São Carlos da

Universidade de São Paulo – EESC USP, Mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela PPG FAUUnB. End.: Projeto Cantoar / FAU - Prefeitura do Campus, Fundação Universidade de Brasília, Campus Universitário, Asa Norte 70.910-900 Brasília, DF Telefone: (61) 307 2044.

E-mail: [email protected] RESUMO O adobe é um material de construção usado milenarmente em diversas partes do mundo, sendo, portanto, um material tradicional. Além disso, os insumos necessários para a sua produção (terra, fibra natural e água) podem ser encontrados localmente; a energia utilizada em sua manufatura é quase nula; e a mão de obra empregada pode ter pouca especialização, tornando o adobe um material apropriado do ponto de vista da sustentabilidade. Sendo assim, a pesquisa e o desenvolvimento desta técnica de construção poderão contribuir para que sua aplicação possa ser sistematizada e o seu uso resgatado. Este artigo, portanto, visa ao estudo do adobe utilizado na alvenaria, tendo-o como uma das soluções possíveis para as construções em zonas rurais e, também, urbanas. Palavras-chave: arquitetura, comunidade tradicional, sistema construtivo, sustentabilidade ABSTRACT The adobe is a material used for thousand years, in various places around the world. In Brazil, particularly, it is a traditional material used in rural communities or historical cities. Its manufacture needs earth, natural fibers and water. They can be found near the construction; the cost with energy for its production is nothing; and labor has very little specialization, making the adobe an appropriate material from the point of view of sustainability. So, the research and the development of this construction thecnique may contribute for the systematization and for its regular use. This work is an introduction to the adobe study, this material can be one of the solutions for construction in rural and, too, urban area. Keywords: adobe, architecture, traditional communities, building construction, manufacture 1. INTRODUÇÃO Pode-se dizer que um dos problemas de nossa atualidade consiste na dificuldade de acesso à moradia por grande parte da população, tanto em zonas rurais como em zonas urbanas ou suburbanas. O nosso país, assim como tantos outros, passa por problemas como falta de acesso à tecnologia, ao conhecimento e aos bens materiais, especialmente aos materiais de construção, e, para que a população em geral possa adquirir moradia adequada, com conforto e espaço, faz-se necessária uma solução que se sustente na própria comunidade, uma solução sustentada.

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Adotando-se os princípios da sustentabilidade, como, por exemplo, pensar globalmente e agir localmente, integrando-se os saberes – tradicionais e acadêmicos, ou científicos, essa solução pode buscas as condições locais, tais como: material, mão-de-obra e saber local (Oliveira, 2003). O conceito de sustentabilidade abarca não só a economia, os bens matérias e naturais, como também a cultura e a tradição da comunidade, que podem vir a ser resgatadas ou reafirmadas, em sua integridade ou essência, no caso de uma ação junto à mesma. Dessa forma, com respeito à construção, temos que uma solução possa ser a utilização de materiais da região, não sobrecarregados por manufaturas complicadas, além do emprego de mão-de-obra não especializada. Por conseguinte, uma matéria-prima presente em todo o país é a terra, que, juntamente com as fibras naturais (que também podem ser encontradas localmente) e a água, podem compor um material que responde a essas condições de sustentabilidade citadas anteriormente: o adobe. Sendo assim, este trabalho visa ao estudo do tijolo de adobe para a aplicação em paredes, dada a importância em se pesquisar esse material que é comum em cidades coloniais do interior do Brasil, especialmente dos Estados de Goiás e Minas Gerais, em construções do meio rural, e em comunidades étnicas, como os quilombolas. O adobe configura-se como uma tecnologia da cultura e da tradição de grande parte do povo brasileiro, podendo ser resgatada e reafirmada, através da pesquisa e aplicação sistematizadas. Esse estudo se dá, principalmente, no âmbito de revisão de literatura, sobre arquitetura de terra, destacando-se os aspectos técnicos relativos ao adobe empregado na construção de alvenaria de moradia. Esse trabalho está dividido em cinco partes, quais sejam: 1. O que é o adobe, esta seção traz o conceito de adobe como uma técnica de construção de terra crua, suas principais características e cuidados que se deve ter com seu uso, além da caracterização do solo e de seus componentes, a forma de sua análise e estabilização do mesmo; 2. Manufaturamento, onde se descreve o processo de produção do tijolo de adobe, desde o amassamento do barro, passando pela moldagem e desmoldagem do adobe, a secagem, até o armazenamento dos tijolos prontos; 3. Traço, esta parte do trabalho traz a mistura para o adobe e as equações do traço para o mesmo; 4. Assentamento, consiste na aplicação do tijolo de adobe, em como os diversos elementos construtivos se relacionam quando se utiliza esta técnica de terra crua na construção; e 5. Conclusão. 2. O QUE É O ADOBE 2.1 Características gerais Num dos mais antigos textos consultados, a Bíblia (na versão Bíblia, 1999), são encontradas referências a tijolos em oito capítulos de seus seis livros, tanto de tijolos de barro cozidos, como de tijolos de terra crua, com utilização de palha (fibra vegetal) e amassados com os pés. A data de tais relatos é de difícil precisão, mas, por se tratar de livros do Antigo Testamento, concluí-se que se situam antes da era cristã. A construção mostrada na figura 01, situada em Taos Pluebo, Novo México, é freqüentemente citada, segundo Faria (2002), como a mais velha casa de

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apartamentos do mundo e um belo exemplo desta arquitetura de adobe ainda em uso.

Figura 01: Conjunto habitacional em Taos Pueblo, Novo México

Fonte: Faria (2002), p.51

Na época do descobrimento de nosso país, Milanez (1958) afirma que os índios desconheciam as técnicas de construção com terra crua, construindo suas habitações essencialmente com madeira roliça (para as paredes) e fibras vegetais (para a cobertura), nas mais diversas tipologias arquitetônicas: habitações isoladas ou agrupadas de formas variadas, mas, basicamente, orgânicas (formas curvas livres). Foram os portugueses que, com a colonização, introduziram as formas cartesianas e a própria terra crua (na forma de adobe, taipa-de-pilão e pau-a-pique). A arquitetura de terra surgiu no Velho Mundo e, com os descobrimentos e colonizações, se espalhou pelo mundo ocidental. Terra crua é a designação genérica que se dá aos materiais de construção produzidos com solo, porém, sem passar pelo processo de cozimento (queima). Por extensão, é empregada a denominação de arquitetura de terra a toda produção arquitetônica cujo principal material empregado seja a terra crua. Cada povo, com suas peculiaridades culturais, condições ambientais e características do solo disponível, em função das necessidades de abrigo, desenvolveu suas técnicas construtivas. Estas técnicas guardam muitas semelhanças de uma região par outra, mas, em cada local tem sua nomenclatura própria. Segundo CRATerre, a diversidade das técnicas de construção em terra cura pode ser agrupada em doze principais itens, como mostra a figura 02. De acordo com Les Techiniques (1999), por seu custo, sua abundância e o dato de que se endurece por secagem, a terra crua admite ser trabalhada por pessoas não qualificadas, permitindo assim uma economia importante (de energia e equipamentos) sem sacrificar a qualidade. Dentre as técnicas de terra crua destacam-se a terra-palha (material produzido com a mistura de palha e lama argilosa) e o adobe (tijolo de terra crua, secado ao sol).

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Figura 02: Doze tipos de construção com terra crua

Fonte: CRATerre in Faria (2002), p.50

O adobe é, portanto, uma técnica tradicional executada em terra cura. O processo de fabricação do tijolo de adobe consiste em amassar o barro, deixá-lo descansar por alguns dias e, ainda úmido, colocá-lo em fôrmas (geralmente de madeira de formato retangular), deixando-o secar ao sol (Vivas, s.d.). Segundo Gutierrez (1972), o adobe como sistema de construção, se pode descrever como a superposição de blocos de barro misturado com palha, secados ao sol, que se unem entre si com uma argamassa similar a sua constituição interna. As dimensões de tijolo variam muito de região para região. Milanez (1958), por exemplo, cita tijolos variando, na altura, largura e comprimento, respectivamente, desde 8 x 12 x 25 cm, até 10 x 30 x 46 cm. Na Região de Tiradentes, MG, por exemplo, é comum produzir-se tijolos nas dimensões de 10 x 12 x 25 cm. Martins (2004) diz que as construções encontradas em Goiás, em geral, apresentam estrutura em madeira formada por esteios, baldrames e frechais, porém, o adobe possibilita o levantamento de paredes estruturais à feição do tijolo cozido. A resistência desse material, ainda segundo Martins, pode ser verificada não só pela sua permanência no tempo, mas também pela dificuldade de desmonte e pela grande possibilidade de reaproveitamento. Ressalvamos, porém, que devem ser tomados cuidados, principalmente em

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relação à umidade nos tijolos em uma construção de adobe, para que não haja problemas com a mesma. Segundo Faria (2002), a terra crua, em qualquer de suas modalidades, se insere como excelente material no que diz respeito ao isolamento térmico/acústico e ao baixo, ou praticamente nulo, consumo de energia para a sua produção, em contraste com os materiais de construção convencionais, como, por exemplo, o tijolo cerâmico. O consumo de energia para a produção de materiais convencionais utilizado na construção civil é muito alto (Faria, 2002). Para a produção de tijolos cerâmicos, por exemplo, o consumo de energia, além de ser muito alto, o processo de produção possui várias etapas até a moldagem, e, depois dessa etapa, ainda há mais outras três: a primeira constitui na secagem; a segunda, na primeira queima; e, a terceira, na requeima, depois, há ainda o resfriamento, sendo que em todas essas etapas se consome energia. Além do fator energia, há, também, a extração de matéria-prima (argila) para a sua produção, o que provoca grandes impactos ambientais e degradação da paisagem. Somando-se a isso, há a perda de mais de 10% dos tijolos produzidos por má queima e quebra durante o processo como um todo. Já o “entulho” resultante da produção do adobe, por exemplo, e do seu emprego na construção, é completamente incorporado de volta ao meio ambiente: a terra crua volta para o solo e as fibras vegetais se decompõem naturalmente. Entretanto, a fabricação do adobe produz um impacto ambiental que deve ser considerado: o buraco produzido pela retirada de terra para a sua produção. Dentre as características principais do adobe, quando produzido em baixa escala, podemos destacar: a) baixo consumo energético – pouco ou nenhuma energia para transporte (material local), pouquíssima energia para a transformação e nenhuma energia para a reciclagem; b) recurso renovável, abundante e local – a argila, por exemplo, enquanto o produto da degradação última das rochas, onde a terra é transportada pelos cursos d´água das montanhas para os vales, e a natureza do material se mantém intacta após a utilização; c) longevidade, por sua natureza, o material não entra em ciclo de degeneração; d) ausência de toxidade; e) regulador térmico; f) regulador higroscópico; g) permeabilidade ao vapor d´água das paredes externas – climatização no verão, perspiração das paredes e boa difusão do vapor d´água; h) isolamento e correção acústica; i) absorção de odores e dissolução de gorduras – propriedade absorvente das argilas (que é um produto de desengorduramento); j) ausência de eletricidade estática – evita a aderência de poeira às paredes;

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e, k) oferece uma grande riqueza policromática do cinza escuro ao amarelo brilhante, passando por diversas nuances de rosa e de vermelho. Quanto ao conforto ambiental, temos o enfoque bioclimático como parâmetro para uma arquitetura agradável, ou, confortável para seus ocupantes. Segundo Oliveira (2003), bioclimatismo é um conjunto de princípios sobre o tratamento do espaço construído, desenvolvido em três bases fundamentais, a saber: a otimização do desenho arquitetônico dentro das relações energéticas com o entorno e o meio ambiente; a recuperação da influência do lugar caracterizada pela incorporação não só dos aspectos climáticos, mas também dos históricos e culturais do lugar; e a resposta local que resulta necessariamente na regional, em que a arquitetura deve responder a todas as exigências do entorno, através da observância de aspectos tecnológicos e culturais, dentre outros que compõe o ecossistema. Dentro dessa concepção, podemos incorporar como elementos que ordenam o espaço como estímulos dimensionais a serem considerados numa arquitetura bioclimática, o som, a temperatura, o clima, a luz e a cor, atribuindo interdependência entre forma, elementos materiais e físicos, ambiente e o ser humano que o percebe. Nesse sentido, as características do adobe - tanto do ponto de vista físico, por exemplo, sua capacidade de regulação térmica e acústica, permeabilidade, absorção odores e dissolução de gorduras, material renovável, sua variedade cromática, e, ainda, boa inserção no meio ambiente; quanto do ponto de vista cultural e tecnológico, por estar presente na nossa tradição vernacular - contribuem para que essa tecnologia possa resultar em uma arquitetura bioclimática bem adaptada e inserida, enfim, com potencialidades para um bom conforto ambiental. Quanto aos cuidados na construção com adobe, enfatizamos os seguintes: a) o principal é com a prevenção à infiltração da água – é preciso garantir boas fundações, do ponto de vista do isolamento da umidade do solo, que pode subir por capilaridade pelas paredes e deteriorá-las por fissuras, devido ao aumento de volume dos sais ao se solidificarem, principalmente, em regiões de águas mais salinas (Di Marco, 1984). Um recurso é também o de ser generoso nos beirais, para se lançar as águas pluviais o mais longe possível das paredes, ou, alternativamente, se pensar em detalhes construtivos que facilitem o escoamento imediato destas águas; b) para não se alojarem insetos, principalmente os barbeiros (Triatoma infestans), que é o vetor do parasita Tripanossoma crusi, que transmite a doença de Chagas. Deve-se ter cuidado com a manutenção das construções, fazendo-se a eliminação dos vazios (frestas) e a caiação periódica das paredes (Rocha, 2002). Outro recurso é o uso do enxofre como aglutinante do barro, que funciona como um repelente natural dos insetos (Martins, 2004); e, c) quanto aos sismos, o adobe se mostra bastante frágil, principalmente quando desempenha função estrutural. Esse problema pode ser sanado com sua associação com outros materiais (por exemplo, com a madeira) ou, adotando-se dispositivos construtivos, como, por exemplo, o uso de baldrame de concreto armado, funcionando como uma cinta de amarração do conjunto edificado.

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De acordo com McHenry (1984), o adobe tem mais vantagens que desvantagens: o maior benefício compreende a baixa transmissão sonora pelas paredes, e também o fato de que uma construção com esse material transmite aos ocupantes um sentimento de solidez e segurança, além de a energia investida na fabricação do material ser baixa e do adobe ser à prova de fogo. A maior desvantagem é quando se adiciona a largura das paredes com a pequena redução das taxas de temperatura ambiente, a melhor solução para baixar a temperatura seria, então, o uso de paredes duplas. Em resumo, o adobe é um tijolo cru, que não passa por processos mecânicos ou industriais de manufaturamento, e que apresenta diversas vantagens do ponto de vista da sustentabilidade e do conforto ambiental, tais como: ser um material renovável; produzido com insumos locais; e necessitar de uma mão-de-obra pouco especializada, podendo também ser local. 2.2 O solo A camada superficial (de 30 ou 40 cm) do terreno é chamada de terra vegetal e contém matéria orgânica em abundância, não sendo, desta forma, indicada para a construção, visto que, além de se deteriorar rapidamente, pode conter micro-organismos nocivos que comprometem a higiene da habitação. Abaixo desta camada, encontra-se o solo apropriado à construção, chamado de, simplesmente, terra. Quanto ao aspecto físico, o solo é formado por três tipos de partículas, classificadas de acordo com a dimensão dos grãos: areia, silte e argila; cada uma com características particulares que, em função da quantidade predominante em cada solo, irão definir, de acordo com Faria (2002), qual a melhor técnica de construção a ser empregada. A argila (partícula mais fina) tem a propriedade de contrair-se, ou seja, sofre considerável variação volumétrica com a redução do seu teor de umidade. Apresenta também o fenômeno de tixotropia (Caputo, 1978). Esse fenômeno é caracterizado pela capacidade que um solo argiloso, com muitas partículas coloidais (fração mais fina da argila) tem de adquirir maior resistência coesiva quando é amassado (misturado com água para obter plasticidade), e deixado em repouso até secar. Em seguida, se o solo é umedecido e amassado, perde novamente a resistência, mas a recupera se deixado de novo em descanso. Esta é uma característica típica das bentonitas (argilas extremamente finas) e um fator que pesa muito a favor da construção com terra crua, pois, como o barro (terra amassada com água) não é queimado, não sofre alterações químicas e pode ser reutilizado tantas vezes quanto se queira. A areia é o componente inerte do solo, constituindo suas partículas de maiores dimensões. Segundo Tango (2000), seu inchamento crítico (em torno de 30% do volume) se dá para teores de umidade próximos a 8%, bem baixos dos usuais para a produção de adobe (unidades acima de 30%). A areia apresenta maior resistência à compressão que a argila, no entanto, a argila pode funcionar como elemento aglutinante das partículas de areia, semelhante ao que ocorre entre a nata de cimento e os agregados (brita e areia) no concreto. O silte é a partícula intermediária entre a argila e a areia, com características mais próximas de uma ou de outra, dependendo das dimensões predominantes dos grãos.

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Os limites entre os quais se distribuem as dimensões dessas partículas, determinados pelas normas brasileiras, são os seguintes: argila, diâmetro das partículas abaixo de 0,005 mm; silte, diâmetro entre 0,005 e 0,05 mm; e areia, diâmetro entre 0,05 e 2,0 mm. A determinação da dimensão e a quantidade de partículas de cada elemento no solo (análise granulométrica) são feitas por ensaios normalizados, específicos de mecânica dos solos, constituídos basicamente de peneiramento, para a fração areia, e sedimentação, para os grãos finos, silte e argila. Segundo McHenry (1984), o ideal para o uso da terra na construção das paredes é o solo conter quatro elementos: areia grossa, areia fina, silte e argila. 2.3 Análise do solo Mchenry (1984) diz que a melhor prática para o teste de determinação do solo para os tijolos de adobe é fazer alguns exemplos de tijolo desse solo. Entretanto, há uma série de estudos do solo que se vai utilizar para a melhor precisão na produção do adobe, principalmente para a determinação do tipo de estabilização do solo que se vai fazer para se chegar em um tijolo com qualidade maior. Os principais ensaios, descritos por Farias (2002), são os seguintes: a) ensaios de determinação do teor de umidade natural do solo e da massa específica aparente do solo em estado solto; b) determinação da concentração de nutrientes e metais no solo; c) determinação da distribuição granulométrica; d) determinação do limite de liquidez e limite de plasticidade ou, ensaios de consistência; e) determinação do limite de contração; e, f) ensaio de absorção do azul de metileno. 2.4 Estabilização do solo Para se contornar os efeitos das propriedades da argila no uso da terra crua (por exemplo, variação volumétrica que pode ocasionar fissuras), podem ser acrescentadas substâncias estabilizadoras ao solo. Faria (2002) classificou em quatro categorias os tipos de estabilização do solo: a) estabilização por cimentação, onde se adiciona, por exemplo, cimento portland (formando o solo-cimento); a cal, virgem ou hidratada; uma mistura de cal e cimento; ou, ainda, uma mistura de cal com cinzas; b) estabilização por armação, consiste em agregar ao barro um material de coesão (fibra ou grãos), que permite assegurar, pelo atrito com as partículas de argila, uma maior firmeza ao material. Esse material funciona como a armadura de aço no concreto armado. Segundo Bardou & Arzouma (1979), a resistência do material é reduzida, entretanto, se ganha em estabilidade e durabilidade. Não há limitações para os materiais que podem ser utilizados, dependendo da disponibilidade e das adaptações locais; c) estabilização por impermeabilização, consiste em se envolver as partículas de argila por uma camada impermeável, tornando os compostos estáveis e livres da ação da água. O material mais conhecido utilizado para este fim é o asfalto (betume), além de outros materiais como, por exemplo, óleo de coco, algumas seivas oleaginosas, látex e azeite de oliva;

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e, d) estabilização por tratamento químico, consiste em se agregar à terra diversas substâncias capazes de formar compostos estáveis com os elementos de argila. Os compostos químicos variam de acordo com a própria composição da argila. Portanto, nesse caso, é preciso uma análise química da mesma. A própria cal pode funcionar como estabilizador químico, agindo com os silicatos e aluminatos da terra. Outros elementos de baixo custo podem ser, por exemplo, a soda cáustica e a urina de gado. Em suma, cada solo possui uma composição que o caracteriza como, por exemplo, arenoso ou argiloso, e, muitas vezes, para o uso da terra na construção, é preciso que se faça a correção desse solo, tendo em vista a sua composição granulométrica, seu teor de umidade, sua consistência e a relação de seus componentes. 3. MANUFATURAMENTO Segundo McHenry (1984), a princípio, qualquer área que tenha um clima que ofereça períodos de uma ou mais semanas sem chuva será adequada para o manufaturamento e o uso do tijolo de adobe. A terra, de preferência pouco argilosa e muito arenosa, é peneirada e misturada com água até a obtenção de uma mistura plástica, o barro, ao qual pode ser adicionada palha picada ou outras fibras. O amassamento é feito tradicionalmente com os pés, ou por animais; depois o barro é moldado, à mão, em fôrmas de madeira (ou metálicas), desenformados logo em seguida para serem os tijolos secados ao sol, ou meia-sombra. Para a mistura da massa para se produzir o adobe, o simples método é pela definição de um local, como uma caixa, para a mistura do material. Os misturadores mecânicos não são de custos elevados quando utilizados para produzir grande quantidade de material, mas, o processo de mistura manual de massa de assentamento com maior consumo de tempo, pode se a melhor escolha (McHenry, 1984). 3.1 Olaria O layout físico da operação de manufatura de tijolo de adobe deve ser cuidadosamente planejado para se evitar adicionais de movimento do material e dos tijolos produzidos (McHenry, 1984). Segundo Faria (2002), é aconselhável que se planeje a olaria da forma o mais racional possível: a terra a ser utilizada, por exemplo, deve estar próxima à área de trabalho; a produção de tijolos pode ser feita numa área coberta e com piso cimentado, porém, aberta, para melhor conforto dos trabalhadores; é bom que se tenha um ponto de água próximo; os tijolos podem ser montados em uma bancada, com altura adequada às operações de moldagem e desmoldagem; a existência de uma área externa para secagem, a pleno sol ou com meia sombra e possibilidade de proteção às intempéries, tanto como uma cobertura, quanto como um piso ou suporte para os tijolos para a proteção à umidade; e uma área fechada para o armazenamento dos tijolos prontos, principalmente quando em época de chuva. McHenry (1984) diz que como o solo é muito pesado, é melhor locar o canteiro de fabricação de adobe junto à obra, assim o transporte fica mais facilitado.

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3.2 As fôrmas McHenry (1984) apresenta uma série de fôrmas das mais variadas formas e tamanhos: desde as menores, com a possibilidade de produção de apenas um tijolo, até as maiores, que possibilitam a produção de até 16 unidades de tijolo (figura 03). A vantagem de uma fôrma grande é, sem dúvida, a produção de uma grande quantidade de tijolos de uma só vez, entretanto, há também a desvantagem, que consiste na possibilidade de diminuir a qualidade do mesmo, visto que a fôrma deve ser colocada em terreno o mais nivelado e homogêneo possível para que o tijolo não tenha imperfeições. Entretanto, um grande número de tijolos por fôrma requer uma preparação mais cuidadosa do solo que uma fôrma menor (McHenry, 1984).

Figura 03: Moldes de adobe típicos. Vários tamanhos e configurações são usados em diferentes partes do mundo. Formatos especiais podem ser facilmente produzidos por moldes especiais.

Fonte: CRATerre in McHenry (1984), p.62

Faria (2002) propôs e executou em seu trabalho para a tese de doutoramento, uma fôrma que possibilita a produção de um tijolo ou, alternativamente, dois meios tijolos, com uma ranhura, próprios para serem utilizados na ligação entre paredes e colunas de madeira (figura 4a). Ele propõe também uma segunda fôrma para quatro tijolos (figura 4b), o que vem a reduzir o esforço físico do operário, melhorando seu rendimento e trabalho, bem como a qualidade no acabamento superficial do tijolo. Além disso, Faria faz o uso de material menos aderente (como, por exemplo, chapa de compensado de madeira plastificado), e sem fundo, além disso, Faria também passa óleo no interior da fôrma para o melhor desmolde do tijolo.

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Figura 04: Fôrmas utilizadas por Faria: a) fotografia da fôrma para um tijolo ou dois meios; b) fotografia da fôrma para quatro tijolos.

Fonte: Faria (2002), p.102-3

3.3 Homogeneização do solo e preparo da biomassa triturada A biomassa utilizada para a mistura do adobe consiste em fibras vegetais secas e trituradas. Essas fibras vegetais podem ser obtidas de várias espécies vegetais, como, por exemplo, a baqueara ou, de acordo com a proposta de Faria (2002), macrófitas aquáticas. Isso quer dizer que, a fibra vegetal que compõe a palha na mistura para a massa do adobe é um material que pode ser encontrado localmente, reforçando ainda mais o caráter sustentado do adobe. Segundo Faria (2002), após a coleta e acondicionamento das plantas (em sacos plásticos), devem-se lavar as mesmas (para remoção dos materiais aderidos) e espalhadas ao sol par perda do excesso de umidade e redução de volume, até que se torne viável o prosseguimento do processo de secagem em estufa, chegando-se à constância de peso. A temperatura da estufa (com ventilação interna) pode estar em torno de 60 graus Celsius. Após a secagem completa das plantas e o cálculo da biomassa, o material resultante deve ser fragmentado no triturador forrageiro (com peneira de Φ12 mm), para se conseguir fragmentos da ordem de 15 mm, evitando a orientação dos mesmos no processo de amassamento do barro e moldagem dos tijolos.

Figura 05: Peneiramento da terra; descanso do barro

Fonte: Gallaway (1963), p.77 e 79

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Quanto à homogeneização do solo, segundo a bibliografia, o ideal é que se passe a terra por uma peneira grossa (# 4 mm), para o seu destorroamento e homogeneização. Este procedimento, no entanto, requer que o solo esteja seco. No caso de o solo ser muito argiloso, Faria (2002) aconselha fazer a quebra dos torrões com os pés, protegidos com botas. 3.4 Amassamento e descanso do barro Segundo a tradição dos construtores de terra, ratificada tecnicamente por Minke (2000) e Barrios (1986), é necessário que se amasse o barro (mistura de solo, biomassa e água), o deixe em repouso por 48 horas (para melhor homogeneização da umidade e absorção pela biomassa – maceração). Após este repouso, antes da moldagem dos tijolos, o mesmo deve ser amassado vigorosamente, para se evitar que as lâminas de argila se ordenem segundo atrações elétricas, o que acarretaria redução na resistência mecânica dos tijolos. O amassamento do barro pode ser feito artesanalmente, com os pés ou em pipas rústicas (com tração animal), ou mecanicamente (em máquinas chamadas marombas ou betoneiras). A figura seguinte ilustra esses três tipos de amassamento.

a b c

Figura 06: Formas de amassamento do barro: a) pipa à tração animal; b) maromba ou betoneira; e, c) pés.

Fonte: Faria (2002), p.108

Segundo Milanez (1958), o barro deve ser amassado primeiro, para depois se acrescentar as fibras, embora não haja uma justificativa para tal procedimento. De acordo com Faria (2002), não existe teor de umidade pré-determinado para o amassamento do barro. O único parâmetro para se determinar o teor ótimo de umidade é a trababilidade e plasticidade do barro, ou seja, o mesmo deve ter uma consistência tal que seja possível moldar o tijolo (preenchendo totalmente a fôrma) e tirá-lo da fôrma sem deformação excessiva (popularmente, o tijolo não pode esborrachar). Após o molde ser cheio ele deve ser limpo com uma espátula (McHenry, 1984; Gallaway, 1963). Segundo Faria (2002), depois de tirar o tijolo do molde, deve-se colocá-lo para secar por um período de, aproximadamente, 30 dias, quando atingem um equilíbrio higroscópico. As figuras seguintes ilustram o processo de manufatura do adobe.

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c d

e f

Figura 07: Processo de manufatura do adobe: a) mistura do barro; b) colocação do barro nas fôrmas; c) assentamento do barro nas fôrmas; d) desmoldagem do adobe; e) lavagem das fôrmas para serem utilizadas em um novo ciclo; e, f) alisamento do adobe com espátula.

Fonte: Gallaway (1963), pp.81-85

O processo de manufatura do adobe pode ser feito manualmente ou, principalmente quando se quer uma produção maior, com ajuda de máquinas, como mostra a figura 8. Atualmente, em algumas regiões, como, por exemplo, na França, a produtividade dos tijolos é aumentada com a utilização de alguns equipamentos mecânicos. Dessa forma, cinco homens podem aumentar a produção, que no processo artesanal varia entre 300 e 500 tijolos, para cerca de 20.000 tijolos por dia (Faria, 2002). Sobre isso, McHenry (1984) diz que quando são feitos tijolos artesanalmente, com instrumentos simples como uma pá e uma fôrma, com duas pessoas manualmente, pode-se chegar a uma produção de 300 a 400 tijolos por dia. Se for colocada uma betoneira, com duas pessoas, pode-se chegar a 500 ou mais tijolos, e, se for com três pessoas e equipamento de processo mecanizado, pode-se chegar a 2.000 ou mais tijolos por dia.

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Figura 08: Manufatura com mecanização

Fonte: Gallaway (1963), p.84

Secagem do tijolo Deve ser levado em consideração o período (seco ou chuvoso) em que se está. Se no período chuvoso, deve-se ter certos cuidados, como proteção dos tijolos às águas da chuva. O ideal, entretanto, é que os tijolos sequem a pleno sol. A primeira etapa de secagem dos tijolos, que devem estar próximos à produção, pode se dar em uma área descoberta e com sol. Esse período deve ser suficiente para que os tijolos percam o excesso de umidade, ganhem resistência, ocorram as retrações iniciais (que são as mais expressivas) e possam ser levados à etapa de secagem final, que deve ocorrer em uma área com proteção dos tijolos contra intempéries (chuva, principalmente), para que não haja absorção de umidade. Sendo assim, uma solução é a de secar os tijolos sobre suportes de madeira. Esta fase pode durar em torno de, pelo menos, 30 dias, período em que os tijolos atingem o equilíbrio higroscópico. Segundo McHenry (1984) a secagem inicial do adobe, em temperatura quente de verão, leva de dois a três dias e, no inverno, várias semanas. Acreditamos que as condições climáticas é que determinam esse tempo de secagem, se estiver em um período quente e seco, as condições para a secagem serão melhores que num período chuvoso, mesmo que com temperaturas altas. Esse tempo, portanto, pode variar dependendo da intensidade do sol (temperatura), largura dos tijolos e umidade do ar. É aconselhável que, durante o processo de secagem, os tijolos sejam virados com determinada freqüência para que a mesma seja homogênea, evitando, assim, retrações diferenciais e, conseqüentemente, deformação dos tijolos.

a b

Figura 09: Armazenamento dos tijolos

Fonte: a) Gallaway (1963), p.86; b) Faria (2002), p.113

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McHenry (1984) sugere que, após os tijolos estarem aparentemente secos, eles podem ser testados quanto a sua secagem pela inserção de um canivete, pois a superfície pode estar seca, mas o interior molhado e diz que a cura do tijolo, que deve ser cuidadosamente transportado e manipulado, pode ser completada sobre um estrado. O armazenamento do tijolo pode ser feito em um local com proteção à umidade e às intempéries em geral, até poderem ser utilizados (Faria, 2002). Os tijolos que são guardados com cuidado necessitam somente proteção no topo (McHenry, 1984). 4. TRAÇOS OU MISTURA A mistura entre os componentes do adobe, solo e biomassa, expressa o traço desse material, pela porcentagem de biomassa com relação ao solo, podendo essa relação ser em massa ou em volume. Entretanto, é mais prático trabalhar com o traço em volume. Por exemplo, traço de 20% significa que o volume de biomassa é de 20% do volume do solo e é calculado pela seguinte equação: Tv= (Vm/Vs)x100% Onde: Tv: traço em volume;

Vm: volume da biomassa picada, à umidade Uhm (unidade de volume); Vs: volume do solo, à umidade natural (unidade em volume).

Como a massa contida na unidade de volume pode variar de acordo com a umidade, Faria (2002) utiliza também o traço para massa, sob a seguinte equação: Tm= (P ap fib seca / P ap solo seco) x Tv Onde: Tm: traço em massa (%);

P ap fib seca: massa específica aparente da fibra vegetal seca (g/cm³) P ap solo seco: massa específica aparente do solo seco (g/cm³); Tv: traço em volume (%).

Bardou & Arzouma (1979), recomendam para a produção do adobe, solos com, no máximo, 20% de argila em, pelo menos, 45% de areia e 25% de água. Ambos os trabalhos citam como reforço, no caso de solos argilosos, as fibras vegetais obtidas com o emprego de estrume fresco de animal. Outros autores refutam esse expediente, levando-se em consideração a presença de microorganismos neste material. A utilização das fibras contribui com a melhoria das características físicas dos tijolos como, por exemplo, a redução de massa específica, com conseqüente diminuição das cargas na estrutura da construção. 5. ASSENTAMENTO 5.1 Alicerces e cuidado com a umidade A construção em adobe inicia-se com a escavação em valetas. Nas quais se assentam os alicerces. Em São Paulo, de acordo com Martins (2004), Schmidt (1946) relata que estes eram feitos de terra socada e, alternativamente, em

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pedra. Na verdade, segundo Martins (2004), trata-se de adaptações propiciadas pela disponibilidade deste material.

Figura 10: Assentamento do adobe

Fonte: Gallaway (1963), p.102

As paredes de terra crua requerem como exigências básicas para a sua conservação, a adoção de meios de proteção contra as infiltrações de águas, sejam descendentes ou ascendentes. Contra as chuvas, além da proteção dos beirais dos telhados, as paredes podem ser recobertas por uma camada de reboco, composto de terra, areia e cal, e por uma camada de pintura seca à base de cal (Martins, 2004; Uemoto, 1993). Para se evitar a umidade proveniente do solo, uma solução adotada consiste na execução de embasamentos de pedra, tal como Martins (2004) verificou nos exemplares de muro encontrados em Goiás, e que, do mesmo modo, demandam a instalação de sistemas de drenagem para se evitar o “empoçamento” de água. Outra fonte de água que se há de considerar, são as águas usadas para a lavagem do interior das edificações. Para que esta água utilizada na lavagem do piso não consista em problemas futuros para a construção, é necessário que se faça uma proteção das paredes de adobe com o piso. Somente a execução de rodapés não resolve esse problema, visto que, mesmo com esse recurso ocorre a infiltração de água. Outro recurso que pode ser associado ao rodapé é que se inicie esta parede um pouquinho acima do piso, elevando-se o baldrame este tanto necessário. Pode-se, ainda, para solucionar o problema das soleiras das portas, fazer a primeira fiada de tijolos com o tijolo cozido, ressalvando o intervalo das portas, para não atrapalhar tais aberturas. Quanto ao assentamento dos tijolos de adobe, não deve ser deixado vazios ou frestas nas juntas e, quando houver, eles devem ser cheios de argamassa com auxílio de uma colher, deixando a sua superfície lisa e no mesmo nível da face do tijolo. Se houver buraco que exceda 0,03 m, ele deve ser encascado com fragmentos de tijolo ou pequenas lascas de pedra. 5.2 Os tijolos Segundo McHenry (1984), o tijolo ideal deve ter duas vezes o comprimento pela largura, e devem-se evitar quebras ou aparas para a fabricação de

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tamanhos especiais, com o mínimo de cortes. Isso indicaria então, a fabricação de tijolos especiais. McHenry (1984) diz que o peso dos tijolos é um importante fator para a eficiência de seu assentamento, há limites de tamanho e de peso. Um ótimo peso seria em torno de 30 a 40 libras. Quanto mais fino e menor o adobe, mais rápido ele cura, pois a cura de tijolos é mais um processo físico do que químico e a velocidade de perda de água é determinada pela temperatura, umidade, ventilação e espessura. Muitos dos adobes dos Estados Unidos têm uma altura de 10 cm e um peso entre 30 e 35 libras (13,6 e 15,9 kg). Estes tijolos requerem um mínimo tempo de secagem, que pode chegar a ser, entre a manufatura e o depósito, no mínimo de sete dias. Esse processo leva de 4 a 6 semanas no inverno. No Oriente Médio, a dimensão comum dos tijolos é de 25 x 25 x 5 cm. Esse tijolo pesará em torno de 12 libras (5,5 kg) e terá em torno de 24 horas para cura. O que facilita também jogá-los de baixo do andaime. Além disso, este tijolo oferece flexibilidade para o desenho de cúpulas, facilitando também os desenhos dos cantos em “T” e em “cruz”. Para o cálculo da quantidade de tijolos a serem usados numa parede, considera-se o tamanho do tijolo (por exemplo, 25 x 10 x 35 cm), a espessura da parede (por exemplo, 25 cm), a média das juntas (2 cm). 5.3 Massa de assentamento Segundo McHenry (1984), o adobe absorverá umidade da massa de assentamento e secará mais lentamente porque a superfície em contato com a massa está menos exposta ao ar. Tijolos molhados não têm força de compressão e podem ruir estruturalmente, devido ao peso da parede acima. As paredes simples e estreitas secarão mais rápido, resolvendo, dessa forma esse problema. O uso de cal e cimento na massa de assentamento pode também resolver isso, pois essa mistura também absorve umidade, transmitindo menos umidade aos tijolos. Entretanto, este processo depende também de fatores climáticos, do grau de umidade da massa de assentamento, entre outros. Se for utilizar a massa de cal e cimento para assentamento, ela terá as mesmas características que a massa de adobe: aproximadamente, 8 partes de areia, 1 de cal e 2 de cimento por volume de massa. A massa utilizando-se somente o cimento e a areia será mais fácil para o assentamento que a massa feita de barro, permitindo assim, maior assentamento de tijolos em um dia. Porém, massa de assentamento feita com cimento custa mais e não é tão eficiente quanto à massa de barro. Já a massa de assentamento feita somente com cal e areia não é aconselhável, pois lhe falta o cimento. A cal é menos custosa que o cimento e dá maior plasticidade à massa. O que se recomenda é uma massa de assentamento composta da seguinte maneira: 10 partes de areia lavada, 2 partes de pasta de cal e 1 parte de barro por volume. Enquanto na Europa se utiliza muito a massa de assentamento com base na cal, nas áreas áridas do Oriente Médio usa-se o gesso (McHenry, 1984). 5.4 Estrutura Geralmente, as fundações ou alicerces da casa são diretos, do tipo sapata corrida de alvenaria de pedra em toda a extensão das paredes, ou de concreto ciclópico, executada com pedras de mão, juntadas e regularizada na sua face superior com argamassa de cimento e areia no traço de 1:2, em vala apiloada

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no braço. Alternativamente, a fundação pode ser coroada com uma cinta ou baldrame em concreto armado e estribado no sentido longitudinal, moldada em fôrma de madeira, no traço de 1:2:3 (cimento, areia e brita). O uso de fundações comuns garante apenas a resistência à compressão, com a opção de mais esse recurso de estrutura (a cinta), a resistência à tração também é garantida. A viga de amarração superior possui três objetivos: um, de função de distribuição uniforme das cargas do telhado sobre a parede; outro, de amarração do topo da parede contra as forças horizontais do telhado; e, o terceiro, e talvez menos significativo que os demais, de segurança para prevenir o colapso das paredes numa eventualidade perda de uma parte de baixo de uma das paredes (McHenry, 1984). 5.5 Aberturas Quanto às aberturas, essas devem ser feitas concomitantemente ao levantamento das paredes. Geralmente, os marcos e as esquadrias das aberturas são feitos de madeira. Os marcos das portas, por exemplo, também podem funcionar como estrutura das paredes e devem ser colocados antes das mesmas serem iniciadas. As esquadrias das janelas também podem exercer função estrutural, ajudando a suportar, por exemplo, as últimas fiadas da parede e a cobertura. Além disso, os marcos podem ajudar na amarração geral da estrutura, servindo como esteios de um sistema de amarração que pode ser feito com, por exemplo, arame farpado, funcionando como uma espécie de cinta interna das paredes.

a b c

Figura 11: a) marcos das aberturas feitos em madeira; b) e c) marcos das aberturas feitos em concretos e funcionando como viga

Fonte: Gallaway (1963), p.108, 110 e 111 São muitas as soluções para o assentamento dos marcos e esquadrias, e das interfaces entre marco e parede. Essas interfaces têm que garantir a fixação das paredes e das portas, as caixilharias podem ser fixadas por meio de travessas horizontais pregadas por dentro e sobre as folhas, ou ainda encaixadas pelo sistema macho-fêmea, entre outros. Outro elemento indicado por McHenry (1984) é o lintel, que fica entre o marco e a parede, garantindo a estabilização das portas. Para evitar que a vibração da porta na parede ocasione rachaduras no acabamento, recomenda-se colocar na junta feltro asfáltico e folha metálica. Pode ser usada também como base do revestimento a tela metálica utilizada em estuque.

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5.6 Acabamento das paredes (rebôco) De acordo com McHenry (1984) a finalidade dos acabamentos externos é evitar que a chuva danifique a superfície do adobe. A argila concorre para essa resistência da superfície (o conteúdo de argila no adobe varia de 10 a 20%, se esse conteúdo for abaixo disto, a superfície pode se desgastar facilmente, principalmente nas paredes voltadas para os ventos dominantes e as tempestades). Calcula-se que uma parede sem revestimento e sujeita às chuvas pode, em vinte anos, perder 2,5 cm de sua superfície, conseqüentemente, pode-se provocar problemas estruturais. Utiliza-se comumente para o revestimento das paredes de adobe o mesmo material dos tijolos. O revestimento inicial da parede não requer a colocação de tela metálica utilizada no estuque e é comparado com o chapisco. Aconselha-se que esse acabamento inicial seja reforçado com uma pequena quantidade de material fibroso, especialmente capins, as razões são duas: primeiro, no revestimento pode-se usar um alto percentual de argila (de 20 a 25%); e, segundo, tal acabamento torna possível a aplicação de uma camada mais grossa para o alisamento da superfície. Esse material produz uma superfície dourada, refletindo a luz do sol e criando um agradável efeito visual. Além disso, esse material reforça a superfície final da parede, dando-lhe uma maior proteção à chuva. O acabamento das paredes pode ser composto por uma argamassa de cimento e cal. Nessa primeira demão utiliza-se a tela de estuque, sendo o traço de 6 partes de areia, 1 parte de cimento e ½ de cal. Essa camada inicial normalmente é arranhada, para receber a camada final, cujo traço é de 10 partes de areia, 1 parte de cimento, e ½ de cal. Opcionalmente, pode ser utilizada uma camada colorida aplicada com broxa. A pintura também é utilizada para tais acabamentos e, principalmente, como repelente de água. As superfícies internas do adobe podem ser seladas e pintadas com maior sucesso que as externas. Observa-se, no entanto, que as superfícies naturais não pintadas continuarão desintegrando e jogando poeira nas roupas e nos móveis. Isso poderá ser prevenido com seladores, silicones, e outros agentes que solidificam a superfície do adobe. Materiais como óleos, vernizes e resinas líquidas podem ser utilizados efetivamente. Se forem pintados os tijolos, com tinta látex, a parede poderá ficar melhor selada. 6. CONCLUSÃO Temos que o adobe é uma técnica tradicional, adaptada, e com alto potencial de sustentabilidade, portanto, apropriada, visto que pode ser executada com materiais locais e mão-de-obra pouco especializada. Além disso, esta técnica está culturalmente inserida, por fazer parte dos costumes e da tradição de várias comunidades do nosso país dentre as suas práticas construtivas. De acordo com o que foi pesquisado, observamos que: do ponto de vista do consumo energético, o adobe oferece grande vantagem, pois utiliza pouquíssima energia em todo o seu processo de produção, se fizermos a comparação com o processo de manufaturamento e na construção das alvenarias de outros materiais; quanto ao conforto ambiental, possibilita, por exemplo, temperaturas amenas no verão e quentes no inverno, se trabalhado um sistema de parede dupla ou

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de parede grossa, ou se associado à ventilação (através de aberturas), além de oferecer excelente desempenho acústico, variação cromática, permeabilidade, absorção de odores, dissolução de gorduras; o insumo para a produção do adobe é de fácil aquisição, pois é local (a terra, a palha e a água) e não passa por nenhum processamento industrial, apenas alguns ajustes de composição para a estabilização do solo; seu manufaturamento, se executado com um mínimo de rigor e planejamento, possibilita um material de qualidade e durabilidade, ou seja, quanto à secagem do tijolo, deve ser verificado se houve a cura completa do material para que este possa ser utilizado com segurança, para isso, deve-se verificar o período de fabricação dos tijolos para que a olaria seja adequada aos espaços necessários para a produção do adobe, que se diferencia nos períodos de seca e chuva; e, quanto ao armazenamento, os cuidados com proteção à umidade, principalmente, devem ser considerados; uma boa composição do solo para o adobe é de 20% de argila, 45% de areia e 35% de água, o traço verificado para a mistura do barro para a produção do adobe deve obedecer à razão do volume da biomassa picada e seca sobre o volume do solo; sobre o tamanho do adobe notamos que a dimensão tradicionalmente usada no Brasil (aproximadamente de 10 x 12 x 25 cm) pode não ser a mais aconselhada (pela dificuldade em secar, em se manusear, e pela estabilidade estrutural), sendo mais indicada uma dimensão em torno de 5 x 35 x 25 cm (altura, comprimento e profundidade, respectivamente); quanto ao ataque de insetos, principalmente o barbeiro (Triatoma infestans), se houver acuidade na construção, por exemplo, não deixando frestas e nem buracos nas paredes, e, além disso, adicionar à mistura do adobe uma quantidade necessária de enxofre, que serve como repelente desses insetos, além de realizar manutenção constante na edificação, esse não se torna um problema para os seus usuários; quanto à manutenção, observamos que esta não é uma necessidade exclusiva das construções em terra, qualquer material utilizado em uma construção necessita de cuidados com sua manutenção, tanto preventivos quanto corretivos, e, com uma construção de adobe, isto não é diferente, visto que a má execução ou falta de manutenção podem vir a condenar uma edificação; notamos, finalmente, que o adobe, principalmente por ser um material tradicional, do saber local, pode ser utilizado principalmente adaptando-se sua técnica, aperfeiçoando e se associando a outros materiais para potencializar seu uso, qualificando ainda mais a edificação construída com alvenaria de adobe. Para isso, faz-se necessário, antes de se começar uma construção com adobe, o estudo da área em que se vai construir, compreendendo: a análise do solo, para a correção do mesmo para o uso na construção e a escolha da forma de estabilização do mesmo, se por cimentação, armação, impermeabilização, ou tratamento químico; o estudo das espécies vegetais nativas, para se escolher, por exemplo, qual a fibra vegetal local que se vai adicionar a terra para a composição do adobe;

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os períodos climáticos, para adequar o tempo de construção com as estações climáticas da região em que se vai trabalhar; a área de trabalho, para a escolha do melhor local para a olaria e para a implantação das edificações. A arquitetura de adobe propicia o sistema de autoconstrução de base familiar, podendo ser facilmente reproduzida pela comunidade, além disso, a utilização do adobe na construção mostra-se como um fator de afirmação cultural, portanto de inclusão da comunidade que o está utilizando dentro de uma prática, prática esta que se estende à identidade deste povo na sua região e, ainda, de integração da edificação com a paisagem natural. O estudo do adobe não pode se limitar a um trabalho essencialmente teórico, de revisão de literatura e de suposições e conclusões teóricas, ele deve se estender à prática, à aplicação, em que se reside o verdadeiro sentido deste trabalho: trazer ao campo científico a necessidade de pesquisas no campo prático, de ensaios e experimentações que possam contribuir com as comunidades que necessitam de um conhecimento técnico para suas edificações e, principalmente, estender a dimensão de cultura, de conhecimento e de sabedoria que estão guardados nas comunidades tradicionais à comunidade acadêmica e de pesquisa. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALEXANDER, C. Ensayo sobre la síntesis de la forma. Buenos Aires: Infinito, 1971.

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