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CABPARR.A IMPAR.A ‘ESTOU SEMPRE MALHADA’ S usana Vieira nasceu Sonia Maria. Já foi Candinha, Ti- na, Nice, Branca, Maria do Carmo, Lara, Pilar e tantas outras. Há mais de 50 anos, entra nas nossas casas sem pedir licença, como uma pessoa da família. Talvez por isso, te- nha uma relação tão íntima com o público. E passar uma tarde ao lado dela dá a certeza de que este carinho é o combustível para que, aos 71 anos, a atriz tenha tamanho vigor, vi- vacidade, alegria e disposição. Acompanhar o ritmo da atriz não é tarefa fácil. Nas horas que fi- cou com a equipe do “Se Liga — No Meia Hora”, Susana deu a im- pressão de que parar um shopping, ser cercada pelos fãs, tirar mais de 50 fotos com eles, fazer outras cente- nas de poses para esta reportagem, subir em um carrossel, visitar a loja da mulher de um amigo, fazer uma propaganda gratuita em sua rede social pra ela, gravar vídeo em ita- liano para a mãe de um admira- dor, pegar um bebê no colo, receber galanteios de fãs assanhados e ain- da manter o sorriso e simpatia — ufa! — são atitudes mais do que na- turais para ela. E realmente são. E depois de tudoisso, com um vesti- do cheio de brilhos, declarou seu amor pelo jornal: “Os leitores do Meia Hora merecem.” Em seguida, ela sentou e conversoucom a gente so- bre tudo, das dificuldades da carreira à saudade do amigo José Wilker, que morreuno últimodia 5, vítima de en- farte. Sempre do jeito Susana Vieira de ser. Sem meias palavras, sem fazer média, falando a linguagem do po- vão, com a elegância de uma das maiores estrelas da nossa televisão. Se Liga! — No Meia Hora: Co- mo você explica essa relação que tem com o público, que te trata com tanto carinho? Susana Vieira - Eu não enganaria todo mundo por tanto tempo. Sou assim. Sou natural, de verdade. E o público sente is- so. Eles acham que sou uma irmã deles. Adoro. Se estou esperando um táxi, passa uma Kombi e gritam lá de dentro: “Va- mos, Susana”. Eu grito: “Pra onde?”. Sou assim. Não faço isso pra fazer tipo. Na Pa- rada Gay da Rocinha, quando vou, é por conhecer as pessoas. Falo com todo mun- do. Não sou humilde, sou feliz por viver. Quando vejo o brilho e admiração de uma pessoa por mim, tudo faz sentido. Às vezes, acho que a pessoa quer uma fo- to. Aí ela vem e pede um abraço. Isso é muito generoso. Tem preço isso? (Nesse momento, passa uma senhora que grita: “Tá linda, tá magra, Susana”. E ela res- ponde: “Isso é esteira, minha amiga!”) Ela tem toda razão. Você esta linda e magra. Qual a receita? Estou malhando muito. Uma hora de musculação, esteira. Todos os dias. Quando estamos fazendo novela, perdemos a nossa rotina e acabamos engordando. Aí, depois, preciso me disciplinar e está dando resulta- do. Emagreci bem depois do fim de “Amor à Vida” (a novela terminou em 31 de janeiro) Por falar nessa novela, foi um sucesso em termos de repercus- são. A que você atribui? Foi maravilhoso mesmo. E um dos fato- res do sucesso foi o entrosamento. Viaja- mos para o Peru (Susana, Antonio Fagun- des, Paolla Oliveira, Mateus Solano, Bár- bara Paz e Juliano Cazarré gravaram algu- mas das primeiras cenas da novela em Ma- chu Pichu) e formamos a família Khoury lá. E contracenar com o Mateus Solano foi precioso, com o (José) Wilker também. Essa parceria com José Wilker vai fazer muita falta para o pú- blico e para você, né? Já contracenei com muita gente, mas com o Wilker, muito querido, era dife- rente. Vai fazer a maior falta. Foi o meu melhor parceiro, o meu marido preferi- do. Todos são maravilhosos. Mas com ele, toda vez que fazíamos uma novela, a gente acabava junto. Tínhamos quími- ca, sex appeal. Pensei que fosse acabar com ele em “Amor à Vida”. Não sei o que houve que não aconteceu. O público sentia isso com a gente. Profissionalmen- te, somos parecidos. Não íamos lá para decorar texto, chegávamos com tudo de casa. Temos essa disciplina. E senso de humor, ironia, cumplicidade. Quando algum ator reclamava de esperar pra gravar, a gente não concordava. Tem isso, é? Ator reclama que tem que esperar? Tem. Em vez de agradecer a Deus por ter um emprego, reclamam. Se recla- mar alto e eu ouvir, eu falo mesmo. Se temos de trabalhar das 10h, 11h às 21h, como reclamar por não ter grava- do cena às 16h? Que horas é minha ce- na? Não interessa. Eu não marco nada naquele horário que estou trabalhan- do. Fico à disposição. Agradeço por tu- do que eu tenho ao meu emprego. A TV Globo me coloca num patamar de pres- tígio, tudo que tenho ganhei com a pro- fissão, na Globo e no teatro. Adoro tra- balhar. Dei a sorte de ser escalada por todos os autores, isso é um privilégio. Acha que falta espaço pa- ra os atores com essa ex- periência hoje na TV? Hoje tem muita gente jo- vem, mas ainda temos o nos- so espaço. Qualquer novela, pra fazer sucesso, tem de ter seis atores da nossa geração. Quando vê Antonio Fagundes, Tony Ramos, Renata Sor- rah, eu e alguns outros, você para pra ver. Temos essa cultura de trabalhar pe- la arte, não pelo dinheiro. Mas o dinheiro é importante. Hoje, fazendo teatro e televisão, todos os atores têm carro do ano e casa. Mas nem sempre foi assim. No meu começo de carreira, atores que faziam tea- tro fizeram a TV por serem os úni- cos que tinham. Para minha gera- ção, TV foi consequência. O im- portante era ser ator. Hoje, não. Se não quiser fazer teatro, ok. Até quem não surgiu no teatro, como a Regina Duarte, que saiu do comer- cial pra TV, fez muito teatro depois. A gente não queria ser da moda, fazer sucesso. Era um grupo mambem- be, andávamos de ônibus e éra- mos felizes desse jeito. Queria ser atriz, é um dom, um prazer. Fala- vam que tinha cachê, nem sabia o que era isso. Eu era sustentada pelos meus pais. Ia ganhar 500 sei lá qual dinheiro, acho que ru- bras, do tempo do Dom Pedro II. Não tinha ideia de que viveria dis- so. Esse dom surge dentro da gen- te. Ganhar dinheiro para me sus- tentar estava de bom tamanho. O ator só precisa se sustentar. Você passou algum per- rengue ao longo da carreira? Em 1990, fizemos no teatro "A Parti- lha", do meu querido Miguel Falabe- lla. Eu, Arlete Salles, Natália do Vale, Tereza Piffer. Era uma época de AOS 71 ANOS E EM ÓTIMA FORMA, ATRIZ REVELA QUE ADORA FAZER CENAS MAIS PICANTES NA TELINHA Com Wilker em ‘Duas Caras’ (2007) RODRIGO MANDARINI [email protected] ‘’JOSÉ WILKER FOI O MEU MELHOR PARCEIRO. ELE VAI FAZER FALTA” AGNEWS TV GLOBO/WILLIAN ANDRADE MAÍRA COELHO Susana recebeu o título de diva dos LGBT Entrevista com: Susana Vieira ‘’AGRADEÇO POR TUDO QUE TENHO AO MEU EMPREGO NA GLOBO”

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