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Resenha diária - OESC

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SÍNTESE DE JORNAIS E REVISTAS

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FAÇA PARTE DESSE TIME

ASSOCIE-SE (WWW.OESC.ORG.BR)

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Dilma virou a página e não voltará à ira

Fonte Jornal Folha de São Paulo CLÓVIS ROSSICOLUNISTA DA FOLHA04/07/2015 às 12h33

Se alguém espera uma reação do governo brasileiroàs novas informações sobre gramposamericanosidêntica à de 2013, quando surgiram as primeiras revelações de espionagem, vaiesperar o resto da vida.

Primeiro porque a espionagem revelada há dois anosatingia o mais alto nível da República, aprópria presidente.

Era um insulto que precisava ser respondido à altura, sob pena de desmoralizar Dilma Rousseffe o seu governo.

Dilma Rousseff passeia com Barack Obama pelo memorial a Martin Luther King em Washington

Se os Estados Unidos se dispunham ao máximo (vigiar a presidente), é evidente que tambémse disporiam a olhar para o andar abaixo dela (seus embaixadores, altos funcionários etc).

A reação agora terá, logicamente, que ser mais branda, à altura do menor nível dosespionados.

Mas, acima de tudo, à altura também ou principalmente de uma inflexão, embora sutil, napolítica externa, que passa a privilegiar os aliados mais tradicionais (caso específico dosEstados Unidos), sem desprezar os novos amigos, para usar a linguagem cautelosa doItamaraty.

Depois de que os dois governos declararam, há pouquíssimos dias, que o episódio daespionagem de 2013 é "página virada", que sentido teria retornar a ela agora?

Se a única "agenda positiva" para Dilma, nos últimos muitos meses, foi exatamente o bomresultado de sua viagem aos Estados Unidos, que sentido teria deletá-la com uma reaçãoirada?

Complicar o relacionamento com Washington contrariaria, além disso, dois dos ministros quemais estão trabalhando em agendas positivas, o do Desenvolvimento, Indústria e Comércio,Armando Monteiro, e a da Agricultura, Kátia Abreu.

São eles que mais empurram o governo para acariciar Washington. E podem, melhor ainda,exibir resultados positivos (a liberação da importação de carne e um acordo de facilitação docomércio).

Quem, internamente, aplaudiria Dilma se resolvesse engrossar de novo a voz com os EstadosUnidos? Só os setores de esquerda, inclusive os do PT, que, de todo modo, não aceitam apolítica econômica, o que os impede de reaproximar-se da presidente.

Não custa lembrar por fim que quase dois terços dos brasileiros (63% exatamente) confiam nasposições que o presidente Barack Obama adota em política internacional, conforme recentepesquisa do Pew Research Center.

É óbvio que espionagem faz parte dessa política.

Encrencar com ela, portanto, não faria bem para a popularidade da presidente, tão baixa nomomento que tudo que ela dispensa é atrito com quem quer que seja.

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Laços reatados

Fonte Jornal Folha de São Paulo EDITORIAIS [email protected] 04/07/15

O saldo da visita de quatro dias da presidente Dilma Rousseff (PT) aos Estados Unidos é semdúvida positivo, mesmo porque era difícil ser diferente. Dado o estado de paralisia em que seencontrava a relação bilateral nos últimos dois anos, qualquer gesto diplomático, ainda quesuperficial, ajudaria a recompor a parceria.

Tratava-se sobretudo de normalizar os canais de comunicação entre os dois países, seriamentecomprometidos desde a revelação, em 2013, de que cidadãos e empresas do Brasil tinham sidoespionados por uma agência de segurança dos EUA. Ainda mais grave, a própria presidente viu-se alvo do abuso.

Nesse aspecto, a visita foi um sucesso. Dilma declarou que sua ida a Washington representavao reatamento dos laços com o parceiro histórico. Na entrevista coletiva concedida em conjuntocom o presidente norte-americano, ouviu de Barack Obama que os Estados Unidos encaravamo Brasil como uma potência global, não regional.

A mesura, ainda que representativa do clima de amizade que pautou o encontro, não deixa deconter grãos de verdade. O Brasil é um "parceiro indispensável", como assinalou o líder norte-americano, nos esforços mundiais de promoção da saúde, redução da pobreza e preservaçãodo ambiente.

Para além desse apoio, de resto intangível, houve poucos resultados palpáveis. Destravaram-sedois acordos no setor da defesa, ambos assinados em 2010 e ratificados às pressas peloCongresso antes do embarque da presidente.

A vigência dos tratados deverá beneficiar a indústria militar dos dois países, pois os pactosampliam tanto a cooperação em pesquisa e desenvolvimento como as possibilidades decomercialização de produtos da área.

Confirmou-se, ademais, a liberação da entrada da carne brasileira in natura no mercado norte-americano, encerrando uma negociação que já durava mais de 15 anos.

Se algumas questões pendentes chegaram a bom termo, outras permaneceram estacionadas. Éo caso da dispensa de visto para turistas brasileiros e americanos. A facilitação do trânsitopoderia alavancar o turismo no Brasil.

Em uma agenda crucial como a da liberação do comércio, ambos os países ressaltaram aimportância de avançar na desburocratização, mas se limitaram a repetir os termos dedeclarações anteriores.

Além disso, onde o Brasil poderia dar um passo à frente, a presidente Dilma Rousseffdecepcionou. Num tema considerado prioritário pela Casa Branca, o da mudança climática, otímido anúncio brasileiro frustrou os norte-americanos, que vêm tentando costurar acordospara a Conferência do Clima de Paris, no final do ano.

Por falta de ambição e competência, o país perdeu, nos Estados Unidos, uma oportunidadeúnica de ampliar sua visibilidade e exercer maior liderança num assunto que ocupa cada vezmais a atenção das potências mundiais.

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Virada conservadora?

Fonte Jornal Folha de São Paulo ANDRÉ SINGER 04/07/15

Sob o cerco das três frentes --economia, Petrobras e presidência da Câmara-- que ameaçam osavanços da última década, o semestre chega ao fim com preocupante saldo de perdas sociais,graves denúncias de corrupção e retrocessos legislativos. Ao aprovar anteontem de madrugadaa redução da maioridade penal, em nova manobra suspeita, o deputado Eduardo Cunha(PMDB-RJ) produziu acorde final digno dos movimentos que se ouviram nos meses anteriores.

Caberá ao Senado, no próximo período, o protagonismo de avaliar as três medidas polêmicaspreparadas por Cunha. Refiro-me à terceirização das atividades fins, à constitucionalização dasdoações empresariais aos partidos, e à já referida alteração na idade mínima para oencarceramento. Com certeza, Renan Calheiros, à frente da Casa revisora, fará uso do espaçona mídia que lhe cabe, mas se o ambiente social permanecer como o de hoje, não se deveesperar mudanças substantivas.

Neste ponto, a ousadia oposicionista de Cunha, fonte da unidade construída entre deputadostucanos e peemedebistas, se entrelaça com a profunda crise que atinge o governo e o PT.Tendo perdido apoio da própria base em função da condução econômica, Lula, Dilma e oPartido dos Trabalhadores deixaram órfãos os setores da sociedade comprometidos com aagenda progressista. Nesta hora se percebe o quanto, apesar de todas as contradições, olulismo oferecia uma direção capaz de organizar maiorias.

Sem ela, a articulação entre PMDB e PSDB, muito bem urdida por Cunha, e que esteve na basedas três propostas aprovadas, ameaça tornar-se hegemônica. De maneira quase infantil, olulismo caiu na besteira de cometer estelionato eleitoral e agora, a cada aumento dodesemprego e queda da renda, vê aumentar o isolamento em que se meteu. Diante do custo alongo prazo, ter perdido a eleição de 2014 seria prejuízo menor.

Tem mais. A incapacidade de responder às acusações que emergem da Operação Lava Jatoameaça manchar o petismo por tempo indefinido. Conscientes da gravidade do quadro,inúmeros movimentos e partidos buscam formar frente ampla, de modo a suprir a ausência dealternativas à esquerda. Não se trata, como acusa a direita, de esconder o PT, mas de oferecersaídas que o PT, de maneira isolada, não pode apresentar.

O ex-governador Leonel Brizola gostava de dizer que ter ou não ter programa era o de menos.Bastava encomendar a algum intelectual e chegaria pelo correio. Para a frente que está emgestação vale o contrário. Se não conseguir formular alternativa viável e que dialogue com apopulação, a virada conservadora, que ainda não se deu, mas está anunciada na liderança deCunha, vai se consolidar.

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CPMF deve voltar a ser cobrada? NÃO

Fonte Jornal Folha de São Paulo PAULO RABELLO DE CASTRO 07/07/15

Admiro a perseverança do colega Marcos Cintra que insiste, há décadas, na tese de um únicoimposto para o Brasil. Ao indicar, entretanto, a adoção de um tributo sobre movimentaçõesfinanceiras --que entre nós é conhecido pela repudiada sigla CPMF--, o colega economista seatrapalha e confunde a todos na sua bem-intencionada ideia de simplificar a tributação noBrasil.

A razão da trapalhada é fácil de enxergar: basta calcular qual seria o tamanho da alíquota dessatal CPMF para ela se tornar o único tributo a ser pago pelos brasileiros.

A conclusão é que seria uma alíquota tão alta que destruiria qualquer incentivo ao uso detransações bancárias, motivando fuga em massa para o uso de dinheiro vivo e até para moedasde emissão privada, do tipo "bitcoin". Portanto reviver a CPMF como meio de se atingir anecessária e urgente simplificação tributária no país é como entrar numa rua sem saída.

Mais ardilosa é a proposta de alguns parlamentares de ressuscitar o monstrengo da CMPF, nãomais para a utópica eliminação de todos os demais tributos e, sim, para passar a ser mais umtributo empurrado sobre o castigado lombo dos burros de carga desta República.

Falo de todos nós que pagamos a carga tributária mais esdrúxula e menos eficiente do planeta,mais do que 35% do PIB --maior do que a norte-americana e quase igual à alemã-- e, pior, quenos retorna com serviços públicos abaixo da crítica, uma governança pública inconfiável enuma fraqueza de investimentos em infraestrutura que nos condena à estagnaçãopermanente.

Em tal cenário de desperdícios e incúria administrativa, que moral teria o governo ou oCongresso para ao menos cogitar uma nova CPMF, seja por que motivo for?

O ajuste fiscal correto deveria ser dentro do governo, "cortando na própria gordura" (nemprecisa chegar na carne). Nos últimos 20 anos, a despesa do governo tem crescido sempreacima do PIB. A sociedade paga a conta indigesta com mais carga tributária, também crescentetodos os anos pós-Real.

Portanto é rematada mentira que será com um próximo imposto, seja ele sobre cheques ousobre heranças ou grandes fortunas ou sobre novos serviços, como se especula em algunsmeios, que iremos recuperar o perdido equilíbrio fiscal.

O desequilíbrio tem origem exclusiva no excesso de despesa pública e na má gestão financeirae orçamentária, como está configurado no sóbrio (e sombrio) relatório do Tribunal de Contasda União sobre as contas do governo em 2014.

O que ali se aponta, de modo já admitido até pelos próprios gestores fazendários sobinvestigação, é um buraco de despesa pública em nível superior ao que ensejaria a novaarrecadação via CPMF. Propor qualquer inovação tributária nesse momento, muito mais a deum tributo repudiado, como a CPMF, é um afronta ética aos brasileiros.

Equilibrar receitas e despesas por meio de uma nova governança pública e mediante umaradical simplificação do nosso manicômio tributário é a tarefa que nos cabe implantar comurgência. Esse paradigma de eficiência nos gastos exige lei de contenção explícita docrescimento do gasto público, acompanhado por um conselho de gestão fiscal, prescrito noartigo 67 da Lei de Responsabilidade Fiscal.

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Adiar a criação desse conselho antidesperdício e anticorrupção é falta grave por omissão. Maisfunesto ainda seria empurrar a conta da quizumba fiscal para uma nova CPMF, zumbi tributáriono filme de horror da política financeira.

PAULO RABELLO DE CASTRO, 66, doutor em economia pela Universidade de Chicago, écoordenador do Movimento Brasil Eficiente. É autor de "O Mito do Governo Grátis" (Edições deJaneiro).

CPMF deve voltar a ser cobrada? SIM

Fonte Jornal Folha de São Paulo JANUARIO MONTONE 04/07/15

O movimento "volta, CPMF" começou a ensaiar seu enredo no início deste ano. Hoje tem oapoio, ainda que discreto, de governadores e prefeitos. A equipe econômica, tambémdiscretamente, apoia a ideia, apesar de o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ter ditorecentemente que "não há perspectiva" de que a contribuição volte a ser cobrada.

Um estudo da Unafisco (Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil)mostrou que em dez anos de CMPF o percentual médio destinado efetivamente à saúde foi de45%.

Já os Estados gastaram em média 18% a mais, em 2013, do que os 12% exigidos pelaConstituição. O Amazonas chegou quase a dobrar, atingindo 22,9%. Nas capitais, os gastosmédios foram 39% maiores que a vinculação de 15%. Campo Grande (MS) atingiu 31,2%.

Os municípios responderam por 30,7% dos gastos do SUS, em 2013, e os Estados, por 26,7%. AUnião, que em 2000 financiava quase 60% dos gastos, reduziu para 42,6%. Gastou R$ 83bilhões com o SUS e abriu mão de R$ 20,9 bilhões em deduções fiscais na área da saúde.

Uma visão desapaixonada sobre a saúde pública brasileira vai constatar que efetivamentefaltam recursos financeiros e de gestão. O setor de saúde suplementar contou com R$ 2.187per capita (2013) para atender seus 49,6 milhões de usuários.

O SUS (Sistema Único de Saúde), mais amplo, teve de operar com 44% desse valor, R$ 965 percapita. Além da distribuição gratuita de medicamentos e vacinas, o SUS responde pelavigilância epidemiológica e sanitária à população. Os gastos totais do SUS atingiram R$ 195bilhões em 2013. Se ajustados pela saúde suplementar deveriam ter atingido algo como R$ 440bilhões.

A estimativa é de que o retorno da CPMF nas mesmas bases renderia, em 2013, umaarrecadação de R$ 60 bilhões, ou 30% dos gastos do SUS. O SUS, porém, não precisa só de maisrecursos financeiros, precisa rediscutir seu modelo de gestão e também aí são os Estados emunicípios que estão na dianteira.

Enquanto a União faz intervenções importantes, porém pontuais, como as UPAs (Unidades dePronto Atendimento) e o Mais Médicos, Estados e municípios avançam na contratualizaçãocom as organizações sociais sem fins lucrativos, chamadas a gerenciar hospitais, redes deunidades de saúde e até as UPAs.

Recriar a CPMF como era não vai agregar valor às forças transformadoras do SUS, vai apenasaliviar os cofres federais. É importante, entretanto, lutar para que ela seja recriada de formadiferente para que venha colocar recursos adicionais onde eles podem fazer diferença.

Os secretários de Saúde deveriam liderar um movimento com a sociedade e o Congressodefendendo uma nova matriz de distribuição dos recursos. Os valores arrecadados pela CPMFseriam distribuídos republicanamente entre União, Estados e municípios em partes iguais.

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As parcelas dos Estados e municípios seriam rateadas a partir da população, mas apenas aosque estejam cumprindo a vinculação constitucional. A legislação teria que ser muito dura paraproibir a substituição de fontes, impedindo que a CPMF sirva apenas para reduzir os recursosgastos hoje.

Se tivesse sido implantada em 2013, a contribuição teria significado algo como R$ 100 percapita ao ano a mais para Estados e municípios. É claro que o ideal seria não aumentar a nossajá pesada carga tributária, mas lembro da anedota do sujeito que diante da ameaça de seratacado por um enorme touro, teria dito: "Que venha o touro, mas que venha em forma debife".

Que venha a nova CPMF, mas que venha para ajudar de verdade a melhorar o sistema públicode saúde e a vida das pessoas.

Dependência do mercado interno deixou setor automotivofragilizado

Fonte Jornal Folha de São Paulo EDUARDO SODRÉ EDITOR-ADJUNTO DE "VEÍCULOS" 04/07/15

Os dez anos seguidos de crescimento do setor automotivo, entre 2003 e 2013, encobriramquestões que resultaram no colapso atual. O problema vai além da queda nas vendas. É precisovoltar no tempo para achar seu início.

No fim dos anos 1990, com a instalação de novas fábricas de montadoras como Renault,Honda, Toyota e PSA (Peugeot e Citroën), houve um crescimento no número de vagas dosegmento, incluindo aí as expansões de marcas já estabelecidas e dos fornecedores de peças.

Eram investimentos pesados, baseados no potencial futuro do mercado e aproveitandoincentivos para a industrialização.

Vale lembrar que o cenário não era bom quando a produção de boa parte dessas novasunidades teve início, entre os anos de 1998 e 1999. As montadoras, que trabalham comprojeções de longo prazo, apostaram no que estava por vir e acertaram.

Com as vendas em alta, o Brasil começou a subir no ranking dos maiores produtores deautomóveis. O mercado interno se bastava, e o real valorizado estimulava a importação decomponentes, ao mesmo passo que enfraquecia as exportações de veículos prontos.

Aí vieram os erros. Sem pensar no mercado externo e priorizando a produção de veículoscompactos, a indústria automotiva perdeu em competitividade global, enquanto outros paísesapostaram na internacionalização.

A dependência das vendas internas fez o setor sofrer fortes abalos diante de qualquer retração.Vieram as reduções pontuais de impostos, que estimulavam as vendas e ajudavam asmontadoras a recompor as margens de lucro.

Agora, sem auxílios fiscais ou um plano sólido para aproveitar a desvalorização do real e voltara exportar, o segmento não encontra alternativas para escoar seus carros diante dos receiosdos consumidores, que estão comprando menos.

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Em busca de produtividade

Fonte Jornal Folha de São Paulo MAURO ZAFALON [email protected] 04/07/15

O setor sucroenergético está no caminho certo, mas ainda deve ser feito muito esforço paraque haja rentabilidade e competitividade. Além de medidas de política pública, o setor deverátrabalhar fortemente em inovação.

Essa a avaliação de Luís Roberto Pogetti, presidente do Conselho Deliberativo da Unica (Uniãoda Indústria de Cana-de-açúcar).

Ele enxerga uma certa recuperação já neste ano, com uma participação maior do etanol nademanda de combustíveis. Mas esse cenário não é ainda suficiente para uma mudança dalógica do "não investimento" no setor.

"Estamos tentando fazer uma revolução para acelerar o processo de diversas linhas depesquisa que levam à inovação tecnológica e à ampliação da competitividade."

São projetos lentos, nos quais a indústria coloca "um bom dinheiro". Na composição com oBNDES, será R$ 1 bilhão em cinco anos, diz ele.

A cana ainda tem muito a oferecer. Ela teve ganho de produtividade de 20% em 20 anos. Omilho teve 70%.

As principais linhas atuais de pesquisa incluem três projetos. O mais maduro é o da cana Bt(transgênica). O segundo é o de aumentar o açúcar na cana --talvez para 2020. E o terceiro visaa busca de uma cana com tolerância à seca, para depois de 2020.

A diretriz de pesquisa do conselho de administração do CTC (Centro de Tecnologia Canavieira) éavançar com a biotecnologia, com a "hibridação" para a busca da "cana regional campeã" ecom o etanol de segunda geração.

Com esses avanços, o setor poderá obter bom aumento de produtividade. A cana já rende 30mil litros por hectare em laboratório, bem acima dos atuais 7.000 litros no campo. "É potencial,mas buscamos algo mais real. Uma produtividade de 20 mil litros em dez anos e de 10 mil emcinco."

Mas o ganho de produtividade tem de vir acompanhado de uma visibilidade de longo prazo,como uma definição clara do papel do etanol na matriz energética.

Além disso, o etanol é o caminho mais barato e mais efetivo para melhorias nas questõesambientais. Mas há um custo. A sociedade deve escolher se vai pagar a prazo, mais barato. Ouse vai pagar a conta toda de uma vez, via um desastre, segundo Pogetti.

Com relação ao açúcar, o presidente do conselho diz que o país tem de cuidar para que osmercados não se fechem, devido à criação de subsídios. Se não for feito nada agora, nãohaverá um processo de inibição.

A missão de Pogetti no conselho da Unica não se limita à busca de diretrizes para etanol,açúcar e bioeletricidade. Também é coordenar agendas dos diversos setores que compõem aUnica atualmente. Vão de tradings, produtores de cana, de etanol e de açúcar a distribuidorese revendedores de combustíveis.

Como administrar tantos interesses? "Temos uma convenção: a Unica só pode atuar emassuntos de interesse comum. Meu papel é criar uma pauta alinhada com a visão estratégicado setor e fazer com que ela esteja harmonizada com os associados", diz ele. Um assunto quetenha potencial conflito, e não seja acomodado no interesse comum, é excluído da pauta.

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A crise no setor trouxe algumas lições de casa. Há uma conscientização da necessidade dacompetitividade, o que faz com que o setor pague mais pelo material genético a ser utilizadono campo e gaste menos com insumos. Antes, agia-se de forma diferente, diz Pogetti.

Hoje, a visão é de longo prazo, o que inibe um pouco o investimento emocional. Não adiantacrescer de forma desordenada e depois administrar um problema, diz ele.

Em obra densa, economista desconstrói teses com ironia

Fonte Jornal Folha de São Paulo VINICIUS TORRES FREIRE COLUNISTA DA FOLHA 04/07/15

Quando se trata de dinheiro, nada é o que parece. "O dinheiro faz parte do mundo imaginário",escreve João Sayad. Além do mais, "como tudo o que é habitual, colado ao cotidiano, é difícilde ser compreendido", diz o economista na introdução desse seu "Dinheiro, Dinheiro: Inflação,Desemprego, Crises Financeiras e Bancos".

Sayad, 69, ensina economia na USP. Entre outros tantos postos de governo que ocupou, foiministro do Planejamento sob Sarney, tempos do Plano Cruzado, de 1986, primeiro do tumultoda estabilização.

O economista escreve periodicamente para jornais. Gosta de desconstruir a economia padrão,em particular as teses de seus praticantes mais estereotipados. Mostra intestinos eengrenagens da teoria, suas eventuais insuficiências e paradoxos, tratando os assuntos comuma nota de crônica sociológica e controvérsia irônica.

Sayad faz um pouco disso nesse livro no entanto denso. Apresenta o leitor aos debates dateoria monetária em breves palestras ou aulas: 300 páginas em 54 capítulos.

O texto é vazado em termos humanos, sérios, mas nada técnicos (não há modelos, deduções eequações). Começa com uma introdução veloz e idiossincrática a alguns princípios demacroeconomia (PIB, moeda, juros).

Está quase tudo explicado, mas se trata de uma apresentação didática para iniciados, ao menosescaldados por um manual de macroeconomia. A versão elementar da teoria quantitativa damoeda não é física de partículas, mas fica puxado apresentá-la em dois parágrafos, assim comoexplicar a evolução do monetarismo em duas páginas e, em outras duas, falar da crítica deTobin ou da teoria das metas de inflação.

Sayad é um economista dado às (outras) humanidades, consternado com a secura, a dureza oua pobreza da vida cultural e do debate econômico no Brasil. Não é surpresa que discuta a ideiade dinheiro como mito ou em termos de outras ciências sociais. Para tanto, recorre, porexemplo, a um inteligente embora linguisticamente controverso e antigo texto de RolandBarthes ("Mitologias") ou à brilhante e enorme obra de antropologia econômica de KarlPolanyi, também algo datada, porém.

Por falar em mito ou de suas proximidades, a discussão mais importante que atravessa o livrotrata da "ilusão monetária" (a existência da moeda dependeria "de fé, crença sem justificativa,em que o preço do dinheiro seja estável"). Sayad mostra como tal controvérsia divide campos ea relevância do conceito para o problema da indexação no Brasil, que até hoje nos assombra.

Além da maratona da teoria básica, ainda haverá espaço para tratar de hiperinflação alemã,Grande Depressão, crise de 2008 e do euro, além de uma criativa história da inflação e dastentativas de estabilização no Brasil a partir do pós-guerra. Não falta o debate do motivo deinflação e juros altos (causas ainda mal sabidas, mas em geral atribuídas pelo "pensamentohegemônico" ao governo perdulário).

Em um capítulo típico do seu estilo de controvérsia, Sayad diz que pode ser razoável colocarem xeque o sistema de metas de inflação com câmbio flutuante ou discutir a possibilidade de

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um sistema de câmbio fixo, com a taxa de juros regulando o equilíbrio no balanço depagamentos. Deve enervar alguns de seus colegas.

É premeditado, claro. "A economia não é uma ciência madura. Não existe um paradigmavencedor, ainda que em diversos momentos um paradigma seja hegemônico com relação aosdemais, que todavia sobrevivem e organizam a discussão contemporânea sobre qual a melhorregra de política monetária ou sobre qual melhor forma de organizar o sistema bancário efinanceiro."

Sayad, seguindo Deirdre McCloskey, duvida da capacidade de testar decisivamente a verdadede teorias econômicas com dados empíricos ou testes estatísticos. Assim, em tom meiopassadista, decidiu apresentar e contrapor as narrativas concorrentes de "monetaristas" e"keynesianos" (e seus descendentes) como guias no inferno do debate técnico, social e políticodo que fazer de moeda e de emprego.

Pedágio caro trava plano de concessões

Fonte Jornal Folha de São Paulo DIMMI AMORA e VALDO CRUZ DE BRASÍLIA 04/07/15

Preços elevados de pedágio e indefinição sobre taxas de retorno estão atrasando o início dequatro concessões de rodovias previstas na segunda fase do programa do governo, lançada emjunho.

A demora no processo de audiências públicas, que precede os leilões, praticamente inviabilizaque essas estradas sejam passadas à iniciativa privada ainda neste ano, conforme DilmaRousseff prometeu no lançamento do plano de concessões.

No empresariado, a demora já começa a ser interpretada como reflexo de mais uma ação dogoverno lançada de forma inconsistente e que terá poucos resultados práticos, como ocorreucom o programa de concessões de 2012. A expectativa é que apenas um trecho de rodovia noParaná possa ser leiloado neste ano.

A Folha apurou que, nas quatro concessões --trechos ligando Santa Catarina e Paraná; MatoGrosso e Goiás; Goiás e Minas; e Mato Grosso e Pará--, os estudos apontaram preço máximode pedágio a ser ofertado no leilão entre R$ 11 e R$ 14 por praça.

Como esse é o teto do leilão, significa que o preço final ao usuário deverá ser menor porquevence a concorrência quem oferece o menor pedágio. Ainda que o desconto seja elevado, aspraças poderão ficar com valores considerados altos, perto de R$ 10.

Isso faz com que a concessão seja considerada de maior risco: o pedágio elevado reduz o fluxode veículos, o que leva a um aumento na tarifa.

Nos últimos dois meses, os técnicos do Ministério dos Transportes estão tentando reduzir ovalor dos investimentos nas estradas para baratear o pedágio e as concessões ficarem maisatrativas.

No caso da ligação entre Santa Catarina e Paraná, essa tentativa está sendo mais bem-sucedidae é possível que o trecho tenha seu processo iniciado mais rapidamente, ainda neste ano.

Para os outros três, a tendência é que esse trabalho demore um pouco mais. Essas estradastêm volume de tráfego menor que o de concessões anteriores, o que gera poucas receitas paraa concessionária fazer as obras que o governo quer, como a duplicação de todo o trecho.

O governo também não decidiu que taxa de retorno vai ser aplicada como base para aremuneração dos investidores. Enquanto alguns técnicos falam em 8%, representantes dosetor privado dizem que, no atual cenário, não pode ficar abaixo de 10%.

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Essa taxa é uma espécie de estimativa de ganho com o negócio. A empresa, no entanto, nãotem garantia de que terá o retorno igual ao da taxa estimada. Ele pode ser maior ou menor, adepender da performance.

Os técnicos ainda discutem se aplicam uma taxa de retorno baixa, o que poderia dar umatarifa-teto também mais baixa, tornando o pedágio mais viável. Ou fazer uma taxa de retornoalta, compatível com as atuais condições da economia, e deixar um preço-teto alto, obrigandoas empresas a oferecer descontos sobre ele no leilão.

O Ministério dos Transportes informou que essas concessões "estão em fase de ajustes na áreatécnica", sem data definida para o início das audiências públicas. E mantém a previsão de osleilões serem realizados neste ano.

Robôs industriais não são ameaça, dizem especialistas

Fonte do "FINANCIAL TIMES" 04/07/15

A morte de um técnico por um robô industrial em uma fábrica da Volkswagen na Alemanhadeflagrou uma tempestade nas redes sociais nesta semana e causou temores sobre asegurança na era da robótica que se inicia.

Mas especialistas em inteligência artificial e automação dizem que o incidente deveria serentendido como acidente industrial extremamente raro, e não como alerta sobre futurasameaças.

O acidente, no qual o robô esmagou um homem contra uma placa metálica, ocorreu durante ainstalação da máquina e envolvia um robô de alta velocidade e de primeira geração projetadopara operar dentro de uma gaiola, bem separado dos trabalhadores humanos.

"Com a presente tecnologia, não podemos 'culpar' o robô", disse Blay Whitby, especialista eminteligência artificial da Universidade de Sussex. "Os robôs ainda não estão em um nível noqual seu processo decisório nos permita tratá-los como culpados. Esse infeliz acidente é técnicae moralmente comparável a um operador de máquina ser esmagado por não ter usado osistema de segurança", acrescentou.

"Esse caso é mais complexo e, portanto, mais perdoável, porque o sistema de segurança eraoferecido por software, e o trabalhador estava em meio à instalação."

A próxima geração da robótica foi projetada para que os robôs trabalhem fora de gaiolas e aolado de pessoas. Eles incorporam sensores e outros recursos de segurança para limitar a forçaque podem exercer e para impedir que escapem ao controle.

"Infelizmente, as pessoas têm expectativas e medos exagerados quanto aos robôs", disse oprofessor Alan Winfield, do Laboratório de Robótica de Bristol. "Sua sensibilidade foiexacerbada por filmes e histórias na mídia."

O professor Sandor Veres, diretor do Grupo de Pesquisa de Sistemas Autônomos e Robótica daUniversidade de Sheffield, apontou que houve poucos acidentes fatais com robôs industriaisinstalados em gaiolas desde que a indústria começou a utilizá-los, nos anos 1970.

Desde o primeiro incidente de morte causada por um robô, em uma fábrica da Ford nos EUA,em 1979, esses casos vêm ocorrendo em razão de menos de um ao ano o que responde poruma fração minúscula das mortes em acidentes industriais. E a automação via robóticaprovavelmente reduziu o número de mortes nas fábricas porque mais pessoas teriam sidomortas em uma série de outros acidentes se estivessem fazendo o trabalho no qual foramsubstituídas por robôs.

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Mas mortes continuam a ocorrer. "Eles se movimentam de maneira rápida e silenciosa", disseVeres.

"Se o sistema de segurança falhar e alguém estiver dentro da gaiola com um robô que nãotenha sido desativado da maneira devida, as consequências podem ser fatais."

A Federação Internacional da Robótica estima que um recorde de 225 mil robôs industriaistenham sido vendidos em 2014, 27% a mais do que em 2013. A indústria automobilísticacontinua a ser o maior usuário. Tradução de PAULO MIGLIACCI

Governo cria a ‘pedalada público-privada’

FONTE LU AIKO OTTA/ BRASÍLIA - O ESTADO DE S.PAULO 04 Julho 2015 às 16h 20

Sem caixa e com faturas atrasadas, governo joga para a frente pagamentos do Minha Casa edeve fazer o mesmo com obras do PAC

Sem dinheiro para manter em dia os pagamentos de programas que antes eram vitrine, como oMinha Casa Minha Vida e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o governo acumulafaturas em atraso e trabalha para empurrar os pagamentos para a frente. Na semana passada,foi proposto um acordo pelo qual as construtoras que trabalham no programa habitacionalreceberiam, até meados de agosto, R$ 1,6 bilhão devido pelo governo. Desses, R$ 600 milhõesforam depositados na quinta-feira.

Em troca, elas concordariam em receber os pagamentos, de agora em diante, até 60 dias apóso serviço ser realizado.

O setor argumenta que, desde o início do programa, em 2009, a prática eram pagamentosimediatos. O Ministério do Planejamento informa, por outro lado, que os atuais contratos doprograma preveem pagamentos em 30 dias.

Na semana passada, governo acertou pagar R$ 1,6 bilhão devidos a construtoras do MinhaCasa Minha Vida

De qualquer maneira, o resultado prático é que o governo vai empurrar para 2016 pagamentosque ocorreriam em 2015, caso o cronograma original tivesse sido mantido.

É, nesse sentido, uma manobra cujo resultado é semelhante ao das célebres “pedaladas” quetanto ajudaram a melhorar o resultado das contas públicas entre o final de 2013 e meados de2014. Nelas, o governo retardou pagamentos de diversos programas para engordar o saldo doTesouro Nacional ao fim de cada mês. Os novos prazos de quitação das faturas do Minha CasaMinha Vida também produzirão esse efeito sobre o caixa.

A diferença é que, no passado, essa manobra era feita sem transparência e de forma ilegal,segundo indicam pareceres do Tribunal de Contas da União (TCU). Por causa disso, o governocorre o risco de ter suas contas rejeitadas.

Agora, os adiamentos são explícitos e acordados com quem tem a receber. Com isso, a áreatécnica procura dar respaldo legal aos novos prazos de pagamento. Além disso, o perigo dehaver contestação das medidas é muito menor, pois há um acordo envolvido. Nisso, o governoé ajudado pela própria constatação de penúria do caixa federal.

A dilatação do cronograma de desembolsos do governo não ficará restrita ao Minha CasaMinha Vida. Em reunião com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), quecongrega as construtoras, exceto as gigantes do setor, representantes do Ministério doPlanejamento disseram que a postergação do pagamento servirá de parâmetro para outrosinvestimentos do governo, como o PAC.

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Assim, deverá seguir os mesmos moldes a negociação prevista para ocorrer esta semana, agoracom as empreiteiras que trabalham nas rodovias do PAC, em obras a cargo do DepartamentoNacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Elas alegam ter perto de R$ 2 bilhões areceber e se queixam de atrasos médios de 120 dias.

Situação parecida enfrentam as construtoras contratadas para obras de saneamento emobilidade do PAC. A demora nos pagamentos chega à casa dos 100 dias, segundo executivosdo setor. Nesse caso, os empreendimentos estão a cargo de prefeituras, em parceria com ogoverno federal. Elas dizem que não têm recebido os repasses da União.

Abono. As negociações para empurrar para a frente os pagamentos devidos pelo governotampouco ficarão restritas aos investimentos. Na semana passada, o governo conseguiuaprovar, no Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat), propostaque adiará o pagamento dos abonos salariais. Com isso, jogará pagamentos de cerca de R$ 9bilhões para 2016.

Enquanto as construtoras de médio porte enfrentam dificuldades até para pagar salários porcausa dos atrasos do governo, as gigantes do setor, que não integram a base da Cbic, não sequeixam de dificuldades tão agudas. Elas possuem caixa para suportar alguma demora, deforma que não têm pressionado o governo. A cargo delas estão obras como a transposição doRio São Francisco.

Questionado, o Ministério da Integração Nacional informou que não há atrasos nospagamentos das obras da transposição. “Os pagamentos são feitos de acordo com a execuçãodas obras”, afirmou a pasta.

Reino de um homem só

FONTE JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO EDITORIAL [email protected]/07/2015 às 02h 00

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mais uma vez se mostroucapaz de desfazer, na última hora, uma derrota que pouco antes lhe parecia ter sido impostapela maioria de seus pares no plenário.

Já durante a votação da reforma política, quando se discutia a questão do financiamento àscampanhas eleitorais, Cunha conseguiu, em questão de 24 horas, reverter uma decisão daCasa.

Na madrugada de quinta (2), tratando de tema bem diverso, os deputados que não se aliam àsvisões de Cunha mais uma vez experimentaram a sensação de ver o tapete subitamentepuxado sob seus pés.

Tiveram pouquíssimo tempo para comemorar a rejeição da proposta de emenda constitucionalque baixava, de 18 para 16 anos, a idade para responsabilização penal de quem comete certoscrimes graves.

Puderam verificar que nenhuma causa está perdida quando Cunha se põe a defendê-la. Opresidente da Câmara reembaralhou as cartas, apresentando para análise, como se fosseproposta nova em folha, o que não passava da mesma matéria derrotada no dia anterior, comalguns aspectos suprimidos.

Refeita a votação, deu-se a reviravolta; dos 303 da véspera, insuficientes para aprovar aemenda, passou para 323 o número dos deputados que a apoiavam.

Intrincadas questões regimentais podem ser invocadas para justificar a manobra. Pareceevidente, de todo modo, a irracionalidade de uma prática em que, a cada tema relevante,votações são feitas e refeitas indefinidamente, só se encerrando o processo quando atendem àvontade individual de quem preside o mecanismo.

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Cunha pode argumentar que a redução da maioridade penal não é apenas um capricho seu.Trata-se, com efeito, segundo as mais diversas pesquisas de opinião, de um desejo da amplamaioria.

Há doses semelhantes de verdade e de demagogia nessa linha de raciocínio.Incontestavelmente, procura-se dar resposta a uma sensação generalizada de insegurança eaos casos, felizmente bem menos frequentes do que se acredita, de adolescentes envolvidosem episódios de extrema selvageria.

O que importa, entretanto, é retirar tais jovens das ruas, evitando que representem ameaça.

É este o sentido de proposta em trâmite no Senado, que assegura tempo maior de internação,em instituição própria, para o menor responsável por tais horrores. Seu afastamento dasociedade pode ser alcançado com uma política prisional séria, respeitosa dos direitoshumanos, sem ser concessiva nem complacente.

No mundo de Eduardo Cunha, porém, isso não importa. Importa estimular o encarceramento,o ressentimento e a vingança; importa agitar um lema eleitoreiro, posar de rigoroso, aumentaro próprio cacife e fazer da Câmara dos Deputados o reino de um homem só.

Cai outro muro

FONTE JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO EDITORIAL [email protected]/07/2015 às 02h 00

O anúncio de que Cuba e Estados Unidos vão reabrir suas embaixadas em 20 de julho derrubaum dos últimos símbolos da Guerra Fria.

No dia 3 de janeiro de 1961 --sete meses antes da construção do Muro de Berlim--, o entãopresidente norte-americano Dwight Eisenhower rompeu relações diplomáticas com o governocubano após uma escalada de confrontos na esfera comercial --que culminou na decretação deum embargo parcial.

A crise se agravou após a posse de John Kennedy, que deu apoio ostensivo à invasão da baíados Porcos, em 17 de abril. A desastrada tentativa de derrubar o ditador Fidel Castro pela forçaselou a aproximação do regime cubano com a União Soviética, e a economia da ilha terminoumoldada segundo dogmas marxistas-leninistas.

A estratégia norte-americana, de confrontação aberta, foi mantida ao longo das sucessivasadministrações, tanto democratas como republicanas. Seu objetivo era isolar a ilha dos demaispaíses ocidentais, do que resultaria a asfixia da economia cubana.

Todo esse esforço para induzir a população cubana a se rebelar contra sua elite dirigentefracassou, no entanto, e o embargo se converteu em uma justificativa verossímil para explicar aineficiência crônica do Estado.

Mais ainda, tornou-se uma bandeira bastante eficaz para mobilizar a população contra o ditoimperialismo americano e, sobretudo, contra os opositores da ditadura.

Devido a essas circunstâncias, o comunismo cubano conseguiu sobreviver ao fim de sua matriz,em 1991, até que a Venezuela veio a substituir a União Soviética no papel de provedor derecursos.

O reconhecimento de que essa estratégia belicosa estava equivocada constitui um méritoincontestável do governo Barack Obama.

Em 2013, o democrata começou a negociar um acordo com Raúl Castro para restabelecer oslaços diplomáticos entre os dois países, em uma jogada que, guardadas as proporções, fezlembrar a visita de Richard Nixon à China de Mao Tse-tung, em fevereiro de 1972.

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Obama vai na direção correta. A política de confrontação já produziu estragos em demasia. Anormalização das relações políticas e a abertura comercial constituem armas muito maispotentes para induzir a democratização de países autoritários do que coalizões militares ebloqueios comerciais.

Último ato da tragédia grega

FONTE JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO 05/07/15

O drama grego adquire contornos ainda mais dramáticos com o referendo de hoje, no qual ogoverno submete à população pacote de ajuda da União Europeia condicionado a ajusteseconômicos. É uma situação bizarra onde o premiê faz campanha pelo não ao acordo epromete que, se ganhar, fechará acordo em 48 horas. Já com a vitória do sim ao acordo, ogoverno promete renunciar.

É característica de governos populistas tentarem simplificar as questões à população,transformando problemas complexos e profundos em soluções fáceis e mágicas.

O problema vai muito além de gastar mais ou menos, aumentar ou diminuir a idade e o valordas aposentadorias. Ele passa por uma economia cartorial com alta proteção a setoreseconômicos e profissionais. Cada um tem e quer manter o seu privilégio. O dono de umafarmácia, por exemplo, é protegido por leis que restringem concorrentes na região mesmo quesejam mais capazes de atender aos consumidores. E passa também pelo não pagamento deimpostos por boa parte das empresas e da população, o que compromete programas sociaisrelativamente mais generosos que os dos países ricos do norte europeu.

Mas o governo populista grego passa ao largo dessas questões, centrando a discussão nanecessidade de gastos sociais e no sofrimento do povo, que é real.

A triste ironia aparece com força nas grandes filas de aposentados desesperados diante dosbancos fechados. Esse desespero não é causado pela imposição de programas de ajuste, maspelas atitudes do governo, que levam a um confronto com a União Europeia e ao risco de saídado euro, além de terem interrompido recuperação incipiente da economia. A populaçãosupostamente beneficiária dessa postura do governo teme suas consequências e fez saquesmaciços dos bancos quando pôde.

Há solução ao drama grego. Na própria zona do euro, países como Espanha, Portugal e Irlandaenfrentaram crises duríssimas, mas começam a retomar o caminho do crescimento sustentávelcom reformas por mais competitividade, austeridade e ajuda europeia. Já o Reino Unido adotareformas ambiciosas para reajustar o tamanho do governo e elevar a competitividade e acapacidade de crescer. Nos EUA, o caminho da recuperação foi o mesmo. Reformas pelacompetitividade e ajuste nos gastos públicos (na época, acusado de levar o país a um abismofiscal) recuperaram a força da maior economia do mundo.

As saídas para a crise existem e já foram testadas. O sofrido povo grego tem a chance de trilharesse caminho, mas são necessárias reformas para a economia poder crescer e criar empregos,abandonando o foco exclusivo em gastar ou não gastar recursos públicos.

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Sobre intolerâncias

FONTE JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO 05/07/15

A muito custo o Brasil conseguiu construir uma democracia sólida, com instituições fortes eampla participação popular. Na democracia convivem análises, percepções e posiçõesdiferentes. Essa é uma disputa entre forças que tonifica a política e engrandece a sociedade.

Manifestações e protestos são partes integrantes do regime democrático. O contraditório ésempre necessário e muito bem-vindo, estimula o debate e constitui um avanço para o país. Ademocracia criou mecanismos e instituições que permitem esse debate e garantem apluralidade de ideias, um pilar que vem sendo erguido há 30 anos.

O Brasil, no entanto, parece caminhar em terreno perigoso. Há algo diferente no ar. Algo queameaça essa pluralidade. Trata-se do fantasma do autoritarismo, raiz de golpes, que,infelizmente, se manifesta de forma corriqueira, sempre pronto a agir no dia a dia das pessoas.

Atitudes autoritárias podem ocorrer no trânsito, na porta de uma escola, num museu, numhospital ou num restaurante. Não é porque a democracia está consolidada que devemosdescuidar dela. Nós, cidadãos, temos que regar essa planta frágil todos os dias --o que nemsempre tem acontecido.

O aumento da intolerância tem provocado atitudes antidemocráticas praticadas por cidadãosque se acham acima do bem e do mal. Alguém escreveu esses dias que o brasileiro estádeixando de ser cordial. No Rio, uma pedra foi atirada na cabeça de uma menina de apenas 11anos por intolerância religiosa.

Eu mesmo, em episódios que nem de longe têm a mesma gravidade, tenho sido alvo de umaintolerância que extrapola o limite da convivência e o direito à liberdade.

Quem é a principal vítima? A menina? O ex-ministro? Não. A vítima é a democracia. Nãopodemos permitir que essa intolerância se instaure na sociedade brasileira, sob pena deestarmos nos descuidando do mais precioso dos bens.

É oportuna a advertência do teólogo protestante alemão Martin Niemöller diante da escaladado autoritarismo. "Primeiro perseguiram os socialistas, e não protestei porque não erasocialista. Então perseguiram os sindicalistas, e não protestei porque não era sindicalista. Entãoperseguiram os judeus, e não protestei porque não era judeu. Então vieram atrás de mim, enão tinha sobrado ninguém para falar por mim."

Não podemos nos permitir acordar tarde demais para essa realidade. Na França, o ataque aojornal satírico "Charlie Hebdo" fez com que as pessoas adotassem prontamente, em repúdio àintolerância, o lema "Je suis Charlie". Nos EUA, o presidente Barack Obama se engajou norepúdio ao massacre racista em um templo religioso.

Se deixarmos nos apedrejar, física ou moralmente, daqui a pouco estaremos diante de umEstado fascista. O fascismo, como bem definiu Hannah Arendt, nasceu muito antes de suaexistência formal.

Não podemos permitir que se instaure entre nós esse espírito autoritário. Atitudes como essassão perniciosas para o convívio democrático na sociedade brasileira.

Qualquer cidadão tem o direito de discordar do que fiz como ministro da Fazenda, mas noterreno das ideias, do debate. A agressão, a injúria, a difamação são inaceitáveis e devem serrespondidas dentro da lei.

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Em nove anos à frente do Ministério da Fazenda, esforcei-me para aumentar o emprego eexpandir a produção do país, mesmo num cenário de grave crise internacional, que aliás aindanão acabou.

O resultado foi que o PIB cresceu, a renda subiu e a situação dos brasileiros, ricos ou pobres,melhorou. Apesar dos problemas que nós e outros países enfrentamos, o Brasil deu um saltode qualidade e nos tornamos a sétima economia do mundo.

O Brasil passa hoje por problemas conjunturais que podem perfeitamente ser superados comdeterminação do governo e da classe política. O país continua sólido para enfrentar qualquerturbulência internacional, como a que pode ser provocada pela Grécia.

Temos US$ 370 bilhões em reservas, somos credores do FMI, nossa dívida externa é pequena,nosso sistema financeiro é saudável e temos um dos maiores mercados consumidores domundo, que continua atraindo investimento.

Ninguém é obrigado a concordar com essas análises e perspectivas, mas temos que nosmanifestar de acordo com as regras democráticas, além de dizer não ao autoritarismo.

GUIDO MANTEGA, 66, economista, é professor da Escola de Economia de São Paulo, da FGV.Foi ministro da Fazenda (governos Lula e Dilma) e ministro do Planejamento (governo Lula)

A uma "pedalada" da cassação

FONTE JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO 05/07/15

O TCU (Tribunal de Contas da União) foi protagonista de uma manifestação histórica deindependência e seriedade na fiscalização do Executivo ao exigir da presidente Dilma Rousseff,num prazo de 30 dias, esclarecimentos sobre 13 gravíssimas irregularidades cometidas pelogoverno nas contas de 2014.

Trata-se de um marco no relacionamento entre as instituições democráticas brasileiras, pois é aprimeira vez que tal exigência é feita. A rejeição das contas também seria algo inédito e feririade morte o governo da presidente Dilma, que estaria, assim, sujeita à cassação por crime deresponsabilidade.

Tanto o ministro-relator do processo no Tribunal de Contas, Augusto Nardes, como oprocurador do Ministério Público no TCU, Júlio Marcelo de Oliveira, foram enfáticos econtundentes ao afirmarem que Dilma é a responsável direta pelas irregularidadesencontradas.

Para eles, a presidente afrontou a Lei de Responsabilidade Fiscal, a Constituição, a Lei deDiretrizes Orçamentárias e o decreto que rege as aplicações dos recursos do Tesouro com oobjetivo de fraudar as contas públicas para beneficiar-se politicamente em pleno ano eleitoral.

Esse entendimento embasa representação assinada pelo PSDB e por outros partidos daoposição, entregue à PGR (Procuradoria Geral da República) no final de maio. No documento,solicitamos que a PGR apresente ao Supremo Tribunal Federal uma ação penal contra Dilma"pela prática continuada dos crimes contra as finanças públicas". Ainda aguardamos umposicionamento.

São tantas as atrocidades fiscais cometidas pela presidente que seria demasiado enfadonho aoleitor relacioná-las neste espaço. Mas, apenas para termos uma ideia da bandalheira, cito asduas principais ilegalidades: infringir a Lei de Responsabilidade Fiscal por causa das"pedaladas" e omitir dos resultados fiscais do seu governo as transações deficitárias da Uniãojunto ao Banco do Brasil, BNDES e FGTS.

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Por tudo isso, é grande a expectativa da oposição e dos brasileiros de bem com relação aoposicionamento do TCU. Caso as contas de Dilma sejam rejeitadas, não haverá outro caminhoque não seja um processo de cassação de seu mandato a ser conduzido no Congresso.

O impeachment da presidente Dilma é uma hipótese cada vez mais considerada entre osparlamentares. Fragilizada politicamente, ilhada pela corrupção em seu governo e pela crise naeconomia, pressionada pelas vozes das ruas e pela baixíssima popularidade, a presidente pode,sim, ser alvo de um irreversível processo de cassação.

Isso sem falar nos desdobramentos da Operação Lava Jato, que já começam a subir a rampa doPlanalto, com novas e reveladoras delações.

As "pedaladas" de Dilma podem marcar o fim melancólico de um governo que já entrou para ahistória como o mais corrupto, mentiroso e incompetente de que se tem notícia. A dependerda vontade esmagadora dos brasileiros, esse governo poderia muito bem terminar assim,numa "pedalada" e pronto!

CARLOS SAMPAIO, 52, procurador de Justiça licenciado, é deputado federal peloPSDB-SP e líderdo partido na Câmara dos Deputado.

Ela termina o mandato?

FONTE JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO 05/07/15

Desde que Ricardo Pessoa começou a colaborar com as autoridades, essa pergunta tornou-seum complemento rotineiro aos comentários para quaisquer fatos. Milton Pascowitch fechouseu acordo de colaboração e José Dirceu pediu um habeas corpus preventivo. Será que elatermina o mandato? Jorge Luiz Zelada, ex-diretor da Petrobras, está preso. Será que elatermina o mandato? O deputado Eduardo Cunha sugere que seu aliado Michel Temerabandone a coordenação política do governo porque, enquanto ele costura alianças de dia, oPT descostura-as à noite. Se o PMDB se afastar ainda mais do Planalto, será que ela termina omandato?

O regime democrático brasileiro elegeu quatro presidentes: Fernando Collor, FHC, Lula e Dilma.Um foi para casa antes de concluir o mandato. Se isso acontecer a outro, chega-se a uma taxade mortalidade de 50%. (A do vírus Ebola esteve em 70%.)

Indo aos mecanismos práticos existentes, Dilma Rousseff pode ser impedida pelo Congresso.Nesse caso, assume Michel Temer para concluir o mandato. Trocar Dilma por Temer vem a sero quê?

Dilma também pode ter o seu mandato anulado pelo Tribunal Superior Eleitoral e há processosque, algum dia, podem acabar dando nisso. Nesse caso, a vice de Temer vai junto e assumeAécio Neves. No país do futebol, entregar a taça a quem perdeu a final é uma coisa meio girafa.

Noutra hipótese, o TCU pode rejeitar as contas da doutora, enviar sua decisão ao Congresso evê-la referendada, o que provoca um impedimento com padrinho. É uma fórmula engenhosa,mas o Tribunal de Contas não chega a ser um tribunal e sua relação com as contas dospoderosos jamais encantou a plateia.

Nenhum desses três mecanismos fica de pé sem o ronco da rua. Não se pode dizer se ele virá,nem como virá. Quando se tratava de mandar Collor para casa, empossar Itamar Francopareceu uma boa ideia. E foi.

Presidente com um dígito de aprovação antes de completar um ano é coisa nunca vista. Quemlevou a doutora Dilma à situação em que está não foi a oposição, muito menos os moinhos devento que o PT vê a cada esquina. Foi ela mesma. Como sairá dessa, só ela poderá saber. Asrazões pela qual entrou nessa enrascada foram muitas. Talvez a maior delas, por desnecessária

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e megalomaníaca, tenha ocorrido dias depois de sua vitória no ano passado, quando o PTtentou atropelar o PMDB.

MAL DO BEM

Há males que vêm para o bem. As últimas maluquices aprovadas pela Câmara podem setransformar num fator de fortalecimento do Planalto junto aos mercados internacionais.Quanto mais clara for a percepção de que podem aprovar o que quiserem, mais a doutoraDilma canetará as doideiras com vetos, melhor para a batalha do ministro Joaquim Levy,tentando evitar um rebaixamento do crédito do país.

PAPÉIS AMERICANOS

Durante a visita da doutora Dilma a Washington, o governo americano anunciou que pesquisou2,5 milhões de páginas de documentos relacionados com o Brasil, produzidos entre 1964 e1985. Desse garimpo, extraíram 4.500 páginas que podem ser úteis para jogar luz sobre ahistória da ditadura e das suas transações com Washington. O material foi entregue ao governobrasileiro e, digitalizado, ficará acessível na base do Arquivo Nacional Americano.

Tomara que não se repita o vexame da entrega de 43 papéis velhos e inúteis pelo vice-presidente Joe Biden no ano passado. Alguns deles estavam na internet há anos.

LULA EM CAMPO

Nosso Guia tornou-se o principal articulador de uma reaproximação com o PMDB. Em 2003,ele implodiu uma costura de José Dirceu nessa direção e cevou os pequenos partidos. Deu nomensalão. Aos poucos, Lula percebe que seu trabalho será em vão se não costurar o PT.

CARDOZO

Repentinamente, o pedaço do comissariado que vinha atirando no ministro da Justiça, JoséEduardo Cardozo, deu-se de conta de que há uma hora em que é preferível sair do que ficar.

NABUCO E EUFRÁSIA

Até o fim do ano sairá um livro que tem tudo para cativar. É "Um Mapa Todo Seu", o décimoromance da escritora Ana Maria Machado. Conta a história de amor de dois grandespersonagens. Ele é Joaquim Nabuco, o charmeur dos salões como "Quincas, o Belo" e das ruascomo um campeão do abolicionismo na segunda metade do século 19. Nabuco tinha tudo,menos dinheiro. Ela é Eufrásia Teixeira Leite, rica herdeira de uma fortuna do café. Quandomorreram-lhe os pais, foi morar num palacete em Paris, onde multiplicou sua riqueza.

Os dois foram e vieram durante 14 anos, quase casaram. Ela morreu solteira. Ele casou-se edetonou a fortuna da mulher investindo em papéis de um banco inglês que quebrou naArgentina.

Há um enigma nesse romance. Por que não se casaram? Ela não queria sair de Paris? Oabolicionismo dele ofendia a origem da fortuna dela? Incompatibilidade patrimonial?

Ana Maria Machado construiu sua hipótese, mas para se chegar a ela será preciso esperar olivro. Uma coisa é certa: vai-se aprender mais sobre essa fantástica senhora que soube viver eacumular riqueza investindo o que tinha. Só não conseguiu dar-lhe um destino, pois deixouquase tudo para os pobres de Vassouras, e o pecúlio esfarelou-se em Lava Jatos desta vida.

ENGANO

A doutora Dilma disse que não demite ministro pela imprensa. Enganou-se. Demitiu GuidoMantega do Ministério da Fazenda pelos jornais e fez mais, mantendo-o no cargo, insepulto,por vários meses.

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O FASCÍNIO PETISTA PELO CAMINHO DO BREJO

Em oito meses aconteceram tantas coisas em torno do governo da doutora que algumas delasparecem esquecidas. Às vésperas do segundo turno da eleição de 2014, Dilma Rousseff, horasantes de uma reunião com o companheiro João Pedro Stedile e outros chefes de movimentossociais, anunciou que "a reforma política é a condição para o efetivo combate à corrupção". Ocomissariado propunha uma reforma plebiscitária com um receituário que poderia incluir ofamoso voto de lista.

Nesses dias os companheiros já sabiam que o Congresso não comprava sua reforma. Mais:sabia que Eduardo Cunha era candidato a presidente da Câmara. Inebriados pela vitória,resolveram atropelar. Enfrentariam Cunha e tocariam a agenda do rolo compressor. (Já tinhamescolhido um banqueiro para sequestrar o programa econômico de Aécio Neves mas, comopodiam tudo, isso era um detalhe.)

A reforma plebiscitária e o lançamento do petista Arlindo Chinaglia para disputar com EduardoCunha indicavam que o PMDB seria atropelado. Foram ao embate, tomaram uma sova,pulverizaram a liderança parlamentar do governo e acabaram entregando a coordenação aopríncipe do PMDB, Michel Temer. Era isso ou rolar escada abaixo. Queriam tudo, entregaram osanéis e alguns dedos.

Raivas, Europa, Grécia, Brasil

FONTE JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO 05/07/15 VINICIUS TORRES FREIRE

LEVOU MAIS de seis anos para que o desastre da finança de 2008 arranhasse o sistema políticoeuropeu. Mesmo assim, a Grande Recessão teve de ser coadjuvada por corrupções eincompetências grossas para abalar o centro político, para que partidos à margem ocupassemfrestas. Nos EUA, a política tradicional mal teve alergia; mesmo o berne do Tea Party minguouum tico.

Sim, trata-se aqui de Grécia e Syriza, de Podemos e Espanha, fascistas da França e em tantospaíses, mas não só. O colapso grego começa a inquietar a política italiana.

É pouco, mas algo acontece desde 2014. Convém prestar atenção. Também temos problemas,bidu.

Além de cansaço com a indiferenciação dos partidos, de seu alheamento da realidade e decorrupções, nossa degringolada tem outros motivos, mas é grave. Os melhores partidos quetivemos apodrecem; "algo" aconteceu em 2013; será ruim e longa a nossa crise partidária,representativa, policial e econômica.

De resto, não costumamos ser imunes a remelexos políticos euro-americanos. Importamosideias, aparências ou modas. No passado remoto e morto, o PT um dia pareceu mais original,mas não faz muito o PSDB era a "Terceira Via" brasileirinha.

Quem sabe ideias ultramarinas possam inspirar tanta gente que está farta dessa chusma deputrefatos e dessa caterva de medíocres que fazem o grosso desses partidos que um diativeram alguma força, direção e sentido.

Mas algo aconteceu na Europa, como se dizia. Na eleição parlamentar europeia de maio de2014, partidos "extremistas" e "populistas", no dizer do establishment europeu, venceram avotação em seus países ou se destacaram do nada ou da miudeza eleitoral criticando a"austeridade" ou a própria eurolândia.

Assustados com qualquer sinal de vida, os europeus chegaram a chamar a eleição de"terremoto", embora se sentisse de fato cheiro de queimado. A Frente Nacional fascista

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venceu a eleição europeia na França, o nacionalista Ukip no Reino Unido, "radicais" deesquerda e direita puseram a cabeça para fora em vários países.

Houve, porém, o Syriza, a esquerda grega que, salvo milagre, estará à beira da derrocada antesde completar meio ano de poder. Mas em particular houve o Podemos.

Na Espanha, partidos novos ou menos velhos lascaram um pedaço do quase bipartidarismocentrista de PP (à direita) e dos socialistas (PSOE, à esquerda).

O Podemos levou cidades importantes e é um partido emergente da crise espanhola, derivadodos "indignados" que acamparam no centro de Madri em 2011, das "ruas". Mais, ou menos,que um partido, são um aglomerado de improviso ou premeditadamente informe e mutante,dito de "esquerda", embora ainda não se saiba muito bem o que apite --e talvez isso seja bom.

O Podemos e associados, ressalte-se, saíram das "ruas". O Syriza nasceu dos caídos nas ruas, dacrise econômica horrenda, mas é uma geleia variada de esquerdistas mais históricos, como ex-comunistas, com gotas de hortelã de esquerda nova. Todos ainda têm ideias econômicasdestrambelhadas, mas são algo de novo.

Há muita gente farta aqui. Há alguma "rua". Haverá muitos caídos da crise. Falta partido paradar forma às revoltas.

Luzes no fim do túnel

FONTE JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO 05/07/15

Há duas semanas o IBGE divulgou a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) referente a maio. APME apura diversas estatísticas do mercado de trabalho nas regiões metropolitanas de PortoAlegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e Recife. O resultado da pesquisasugere que o ajuste do mercado de trabalho tem avançado mais rapidamente do que oprevisto há alguns meses.

A "boa notícia" foi a queda de 5% do rendimento médio real. Mais importante ainda, essaqueda foi fruto de aumento nominal do rendimento de 3,5% ante maio de 2014 e da elevaçãoda inflação de 8,5%. A "boa notícia", portanto, foi que os salários nominais têm crescido a taxascada vez menores. Após aumentarem 7,5% em fevereiro, o ritmo caiu para 5,3%, 5,4% e 3,4%,respectivamente, em março, abril e maio, sempre tomando como base de comparação omesmo mês do ano anterior.

Aqui aparece o lado negro da economia. Queda de salário real é boa notícia! O motivo é que acombinação entre queda de salário real e elevação da taxa de desemprego sugere que omercado de trabalho está sendo mais flexível do que se imaginava há alguns meses.

Até o momento, a queda de 5% do salário real ocorreu com elevação da taxa de desemprego(ante maio de 2014) de 1,8 ponto percentual, de 4,9% para 6,7%.

Quanto mais rápida for a queda do salário real, mais rapidamente a inflação --principalmente ainflação de serviços convergirá para a meta e, portanto, mais rapidamente o Banco Centralpoderá iniciar um ciclo de redução da taxa de juros, e menor portanto, será o aumento dodesemprego.

Analogamente, quanto mais rapidamente os salários reais se ajustarem à realidade daprodutividade do trabalho no Brasil, mais rapidamente caminharemos no ajuste externo.Provavelmente já reduziremos o déficit de transações correntes dos US$ 105 bilhões de 2014para US$ 85 bilhões em 2015.

Ou seja, tudo caminha para que, em um ano e meio, no início de 2017, divisemos inflação nameta e déficit externo de 2,5% do PIB. Se a economia conseguir retomar crescimento na casa

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de 2% a 2,5% ao ano, teremos obtido, após dois longos anos de ajustes, equilíbriomacroeconômico, mesmo que precário, a partir do qual poderemos pensar em voos mais altos.

O grande problema, e essa é a má notícia, é que, mesmo que tudo ocorra conforme esseroteiro, estaremos ainda vivenciando forte desequilíbrio nas contas públicas. Isto é, nãoconseguiremos nos próximos anos construir um superávit primário que estabilize a dinâmica dadívida pública, que faça com que a relação dívida-PIB pare de crescer.

Parece-me que a estratégia do ministro Levy hoje é tentar arrumar o que é possível da casa omais rapidamente, para que fique claro à sociedade o desequilíbrio da política fiscal.

A política fiscal está ajudando o combate à inflação. Temos hoje política fiscal contracionista. Oproblema é de nível. O desequilíbrio fiscal cresceu tanto que, sem forte elevação da cargatributária, sem uma forte desvinculação da receita da União e sem rever profundamente oscritérios de elegibilidade e valor dos benefícios de nosso Estado de bem-estar social, não serápossível chegarmos a um nível de superávit primário que estabilize a dívida pública.

O ministro conseguirá ou não? Minha intuição é que, apesar das boas notícias com relação aoajuste no mercado de trabalho, na inflação e possivelmente no setor externo, nãoconseguiremos alcançar as condições de uma política fiscal sustentável.

SAMUEL PESSÔA, formado em física e doutor em economia pela USP, é pesquisador doInstituto Brasileiro de Economia da FGV. Escreve aos domingos nesta coluna.

Consumidor terá de cobrir rombo extra na conta de luz

FONTE JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO JULIA BORBA DE BRASÍLIA 05/07/2015 às 02h 00

Embora já tenha arcado com aumento extra na conta de luz de R$ 3,9 bilhões só de janeiro aabril com as bandeiras tarifárias, o consumidor deve acabar pagando por mais um rombo nesteano.

Segundo dados da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), o sistema de bandeirastarifárias, que eleva mensalmente as contas (veja quadro nesta página), não foi suficiente paracobrir os gastos extras das distribuidoras com o uso das térmicas e com a compra extra deenergia.

De janeiro a abril, as despesas somaram R$ 5,5 bilhões. A diferença, de R$ 1,6 bilhão, vemsendo absorvida pelo caixa das distribuidoras.

Segundo a Folha apurou, as elétricas foram à Aneel demonstrar preocupação com o cenário,uma vez que elas estimam só poder suportar descasamentos de até R$ 1 bilhão semcomprometer as atividades ou os investimentos.

Projeções feitas pelo setor, porém, apontam que a conta pendente é ainda maior: um deficitsuperior a R$ 4 bilhões.

Nesse cálculo, além do descasamento das bandeiras, as distribuidoras consideram quase R$ 2,5bilhões em aberto com despesas em 2014.

O valor foi gasto com a compra adicional de energia contratada em leilão e com o pagamentodas tarifas de transmissão que sofreram ajuste, ambos ainda não restituídos ao caixa dasempresas.

DESCOMPASSO

A consequência direta do descompasso deve ser o maior repasse de custos para as tarifas nasdatas dos reajustes ordinários anuais, que vão até dezembro de acordo com o aniversário docontrato de cada empresa.

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Oficialmente, a Aneel confirma que despesas do ano passado afetarão os reajustes atédezembro, mas diz que o deficit das bandeiras tarifárias será eliminado nos próximos meses(leia abaixo).

Fora as bandeiras tarifárias, o consumidor enfrenta neste ano outros dois aumentos. Oprimeiro, já aplicado, foi o reajuste extraordinário que elevou as contas em até 40%. Essesaumentos são atribuídos ao uso intensivo de usinas térmicas, mais caras.

O segundo, em aplicação, é o ordinário, que pode ser feito de fevereiro e a dezembro, adepender da empresa.

É nesse momento em que se espera o repasse do déficit atual para os consumidores.

Foi o que aconteceu neste sábado (5) com os clientes da Eletropaulo, em São Paulo, quandocomeçou a vigorar aumento de 17,03% percentual para residências.

No caso da distribuidora, o reajuste foi concedido na revisão tarifária, que ocorre a cada quatroanos e substitui o aumento ordinário anual.

Desde o início do ano, a conta para o consumidor residencial da Eletropaulo já subiu, emmédia, 74,71%.

Oficialmente, a Aneel diz que haverá um equilíbrio nas contas e que o déficit das bandeirastarifárias será eliminado até o fim do ano.

"Com a elevação do patamar da bandeira vermelha e com a redução do mercado por causa dadiminuição do calor, do efeito preço e da campanha de uso racional da energia, os custos aserem cobertos pelas bandeiras passaram a ser inferiores à receita gerada por elas a partir deabril", defende a agência.

Já para as pendências do ano passado, a reguladora confirma que haverá reflexo nas contasainda neste ano.

"Custos de 2014 não cobertos pelos empréstimos bancários serão repassados nos processostarifários deste ano, pois os repasses das bandeiras não os cobrem."

Dilma demonstra impaciência e passa a questionar Levy emreuniões

FONTE JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO NATUZA NERY DE BRASÍLIA 05/07/2015 às 02h 00

Joaquim Levy tem recebido pouca atenção da presidente. Recentemente, um funcionárionotou que nem os incontáveis e-mails diários ela anda respondendo.

Nas reuniões internas de governo, o ministro da Fazenda passou a ser constantementequestionado pelos colegas e pela própria chefe. A discordância aumentou à medida que a criseeconômica acelerou a queda na popularidade de Dilma Rousseff.

Auxiliares definem o "climão". Há apenas seis meses no cargo, Levy foi parar na "geladeira".Trata-se de um destino comum para quem convive com a presidente. Quando ela se aborrececom algo, manda o assessor para a "Sibéria", como se brinca no Planalto, até que sua paciênciaseja restabelecida.

Ministros explicam que tem sido difícil para ela renegar as suas próprias convicções paradevolver, com um ajuste fiscal que fatalmente condenaria em tempos normais, a estabilidadeeconômica. A situação política, dizem, acentua essa ansiedade.

Quem observa as discussões do Executivo afirma que Levy costumava ganhar a maioria dasdisputas internas. Agora, tem obtido bem menos vitórias.

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Recentemente, foi contrário a diversos pontos do plano de exportações. Não ganhou todos e,incomodado, não foi ao evento do anúncio. O comportamento turrão, contam assessorespresidenciais, não vem agradando.

Mais e mais, o ministro tem deixado reuniões de governo antes de elas terminarem. Não raro,aparece atrasado. O hábito surpreende aos que perseguem a pontualidade com medo de pitosda chefe.

Cansada de ouvir "não" do auxiliar, e envenenada por queixas de ministros classificando-o de"arrogante" e "solista", por nunca dividir a bola, Dilma começou a transparecer algumainsatisfação.

Nos bastidores, Levy já foi visto se referindo ao PT como "aquela agremiação". Também nãoesconde, por vezes, o aborrecimento com o partido do governo, contrário a várias medidas doajuste fiscal.

Em reunião de coordenação, grupo que reúne presidente, ministros e líderes do Congresso, ogoverno quebrava a cabeça sobre o que fazer com a criação de alternativa ao fatorprevidenciário, que terá forte impacto futuro sobre os cofres públicos.

Levy, como de hábito, reagiu às propostas. Dilma retrucou no ato. "Estou aqui tentandoencontrar uma solução. O que você quer que eu faça, Levy?", indagou ela ao ministro,conforme contaram três pessoas presentes.

Há meses, o titular da Fazenda repete em conversas reservadas que o governo precisa dar amensagem de dificuldade, e não de otimismo, pois o cenário é muito difícil.

"Aviso o que dá para ficar de pé e o que não adianta prometer", disse a um interlocutor ouvidopela reportagem.

PESCARIA

Dono de agenda cheia, Levy imprimiu um ritmo grande de trabalho à sua equipe. Outro dia,liberou os secretários do ministério às 4h. Duas horas depois, estava de volta.

Não por acaso, é frequentemente flagrado "pescando" em reuniões. No governo, há quemrelacione tal ritmo com a embolia pulmonar identificada na semana retrasada.

A "pescaria", contudo, não é a válvula de escape de Levy. Quando está no Rio, e estressado,costuma desaparecer por uma hora. Para encontrá-lo, basta ir à baía de Guanabara. Lá estará oministro, feliz, com seu "Fusquinha". Não, Levy não tem um Volks vintage, nem sua novaencarnação modernizada. "Fusquinha" é seu barco a vela.

Outro dia, reagindo a rumores de redução iminente da meta do superávit primário, o dono do"Fusquinha" apressou-se para alertar: "Não pode é deixar o barco bater nas pedras".

O que os EUA querem do Brasil?

FONTE JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO 05/07/15 THAIS BILENKY DE NOVA YORK

A lista de preocupações ocupou boa parte das conversas dos potenciais investidoresamericanos com a presidente Dilma Rousseff e os ministros que viajaram aos EUA na semanapassada.

Representantes de grupos de peso como Coca-Cola, Walmart e Citibank estiveram nosencontros, capitaneados, quando não por Dilma, por Nelson Barbosa (Planejamento), JoaquimLevy (Fazenda) ou Armando Monteiro (Desenvolvimento).

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O governo veio preparado. Nas diversas agendas que organizou para vender seu pacote deconcessão de infraestrutura, que soma R$ 198,4 bilhões, a equipe argumentou que conta comum novo ciclo de crescimento da economia brasileira a partir do ano que vem como resultadodo ajuste fiscal.

Dilma disse que quer o Brasil "com economia mais aberta e competitiva" e que a burocraciabrasileira é "infernal", segundo participantes de uma reunião fechada com banqueiros einvestidores. De acordo com eles, a presidente e sua equipe econômica estavam "em sintonia,pareciam ensaiados".

A presidente explicou as mudanças de rumo na política econômica brasileira ao grupo reunidono hotel St Regis, em Nova York, na manhã de segunda (29). Foi pouco interrompida porperguntas, no encontro que durou pouco mais de uma hora. E se antecipou ao dar explicaçõespara questionamentos previsíveis como escândalos de corrupção envolvendo empreiteiras e acrise na Petrobras.

"Isso gera algumas perguntas [dos investidores]. Mas tenho certeza de que, colocando projetosviáveis e atrativos, não faltará agente do mercado capaz de realizá-los", argumentou Barbosana quinta (2), depois da última rodada de conversas com americanos em Nova York.

Mas o que a sétima economia do mundo precisa fazer para ser mais que apenas o nonoparceiro comercial dos EUA? A Folha fez a pergunta a alguns dos participantes das conversasdesta semana.

As respostas, reproduzidas nesta página, podem ser resumidas por mais uma lista, desta vez desoluções: transparência, previsibilidade, infraestrutura, qualificação.

"Se as regras do jogo são claras, vai-se poder ver progresso em todo lugar", diz Carl Meacham,diretor do CSIS (centro para estratégias & estudos internacionais), que já esteve no Piauí e emPernambuco, além de Brasília, Rio e São Paulo.

O QUE O BRASIL PRECISA

FONTE JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO 05/07/15

AMBIENTE DE NEGÓCIOS

"Fomos encorajados por algumas das reformas que estão sendo realizadas no Brasil. Apresidente Dilma Rousseff também falou sobre o que está sendo feito para assegurar que sejasimples conduzir negócios no país"

DAVID CHEESWRIGHT presidente do Walmart

FUTURO PROMISSOR

"Temos escritório em São Paulo, contratamos funcionários brasileiros, fazemos ao menos noveeventos nas principais cidades do país. Estamos construindo nossa marca e o Brasil tem sidoum ótimo mercado, porque temos ótimos atletas. Se Anderson Silva ou Vitor Belfort vencem,isso faz a minha vida bem mais fácil. A recessão é uma preocupação, com certeza. Mas háestabilidade, e o futuro parece promissor"

LORENZO FERTITTA presidente do UFC

LIBERDADE PARA O SETOR PRIVADO

"Hoje só se pagam impostos, impostos e impostos para fazer negócios no Brasil. Isso é umgrande problema. O governo brasileiro deveria estabelecer um marco para o comércio entre osdois países, e o setor privado deve correr livre para investir no que quiser e fazer o produto quequiser, trabalhando às vezes com os brasileiros, às vezes não"

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CARL MEACHAM diretor do CSIS (Centro para Estratégias e Estudos Internacionais)

OTIMISMO NO PAÍS

"O que mais tem atingido nosso negócio no Brasil é a seca nos últimos três anos. Temos feitodiversos planos para reduzir os efeitos e enfrentar o problema. Somos investidores de longoprazo no Brasil, investimos R$ 12 bilhões desde 1997 e temos planos de investirpotencialmente mais. Continuamos otimistas"

ANDRÉS GLUSKI presidente do grupo AES, que administra a AES Eletropaulo

INVESTIMENTO EM INOVAÇÃO

"O que falamos para empresas e administradores brasileiros é a importância de encorajar oinvestimento em inovação. Nos EUA, você tem investimento privado na área, as pessoasconseguem fazer dinheiro com isso, em parte porque têm certeza de que se respeita o direitode propriedade intelectual. Seria fundamental ter um financiamento do Instituto Nacional daPropriedade Industrial [órgão do Ministério do Desenvolvimento que concede marcas epatentes]"

WILLIAM MORLEY presidente da consultoria Altrius

Em plebiscito, Grécia diz 'não' a condições impostas pela UniãoEuropeia

FONTE FERNANDO SCHELLER, ENVIADO ESPECIAL - O ESTADO DE S. PAULO 05 Julho 2015 | 17h25

Mais de 60% dos gregos que foram às urnas neste domingo se mostraram insatisfeitos com asmedidas de austeridade impostas em troca de ajuda ao país

ATENAS - Os gregos disseram um sonoro "não" nas urnas a seus credores. O plebiscitoconvocado pelo primeiro-ministro Alexis Tsipras para avaliar se a população concorda com ascondições impostas pela União Europeia para liberação de ajuda financeira ao país teve umaresposta clara: 61,31% da população se disse contrária às medidas de austeridade impostaspelo bloco econômico.

A vitória apontou uma rejeição bem mais ampla do que a esperada às políticas da UE. Aspesquisas feitas no sábado apontavam um resultado dentro da margem de erro.

Embora o plebiscito fizesse uma pergunta específica, por trás da negativa da população podeestar a chance de que, pela primeira vez, um país possa sair da zona do euro - uma situaçãoque coloca pressão sobre o Eurogrupo, a chanceler alemã Angela Merkel (que governa o paísque direciona a maior parte da ajuda à Grécia) e ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

Todos precisam decidir se o fluxo de dinheiro para o país seguirá aberto apesar do quedisseram as urnas. Na terça-feira, a Grécia se tornou a primeira nação desenvolvida a dar umcalote ao FMI. O país deixou de pagar uma dívida de € 1,6 bilhão.

O governo grego tenta dar outra interpretação à situação. Para o premiê, com o aval popular, aGrécia terá mais força para negociar acordos melhores. O objetivo de Tsipras é que o país nãoprecise cortar tantos custos e benefícios sociais em troca da ajuda que tanto precisa.

A rejeição da população grega ao acordo proposto pela UE tem razão de ser: nos últimos cincoanos em aceitou o plano de austeridade do bloco econômico, a economia do país recuou nadamenos do que 24%. O desemprego entre os jovens é superior a 50%.

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Segundo pesquisas de opinião divulgadas ao longo da semana e também neste domingo,embora a maioria da população tenha votado "não" neste referendo, cerca de 75% dapopulação grega é contrária à saída do país da UE.

Vitória. O resultado é uma vitória considerável para Alexis Tsipras. Na última semana, ele fezuma ferrenha campanha para que os gregos dissessem não às regras do pacote de ajudaimpostos pela UE. O objetivo do referendo, segundo ele, é conseguir condições mais favoráveisde negociação para que o bem-estar social grego não tenha de ser tão sacrificado. Ao votar,Tsipras afirmou que a democracia venceria o "medo" e a "chantagem" - recado direto para oque considera uma posição intransigente da UE.

Quase 10 milhões de eleitores na Grécia estavam aptos a votar no plebiscito. Pela lei, o voto éobrigatório no país, mas na prática o texto não é aplicado há bastante tempo - o que deixa aescolha livre para a população. O ministro do Interior grego, Nikos Voutsis, afirmou, emdeclaração à imprensa, que o governo considera o plebiscito um sucesso - com mais de 50%dos eleitores comparecendo às urnas. O ministro das Finanças, Iannis Varoufakis, já falandosobre a vitória do "não", disse que o resultado ajuda a Grécia a buscar uma solução mútua coma Comissão Europeia para seus problemas financeiros.

Depois de um verdadeiro duelo de protestos na sexta-feira, quando os que advogam pelo "sim"e pelo "não" reuniram milhares de pessoas em diferentes pontos de Atenas, o clima da cidadese acalmou entre sábado e este domingo. O clima era calmo na maioria dos locais de votação enão havia filas. A panfletagem, tão comum nos pleitos brasileiros, tampouco sujou as ruas dacapital grega. Como havia poucas seções eleitorais nas proximidades dos pontos turísticos, osturistas mal percebiam que este era um domingo vital para a economia grega.

Bancos. Depois de avaliar que não conseguiria aprovar em sua base legislativa as condiçõesimpostas pelos credores para as contrapartidas para a liberação de uma nova parcela da ajudaao país, Tsipras resolveu jogar a decisão para a população. O referendo foi convocado eorganizado em menos de dez dias.

Como o dinheiro novo não chegou - e para evitar uma corrida às agências bancarias parasaques -, o governo determinou feriado bancário até a próxima terça-feira e estabeleceu umteto diário de € 60, expondo a fragilidade do sistema bancário nacional.

Há relatos de que o dinheiro pode 'secar' nos caixas eletrônicos na segunda-feira caso o BancoCentral Europeu (BCE) não faça uma nova injeção de capital para que as máquinas possam serabastecidas. Embora o limite para saques não valha para turistas, o Estado ouviu no sábadorelatos de visitantes que tiveram dificuldade de sacar dinheiro e usar o cartão de crédito emilhas como Mykonos e Santorini. Uma reunião entre o Banco Central da Grécia e o BancoCentral da Europa (BCE) está marcada para a manhã de segunda-feira.

Cansaço. Entre os gregos que advogavam pelo voto contra a UE, um discurso comum era o"cansaço" de esperar por uma promessa de desenvolvimento que nunca se concretiza. É o casode Thanassis Negas, 60 anos, que trabalha com importação e exportação de tecidos. "Eu nãome enquadro na categoria 'desempregado' para o governo, mas essa é a minha real situação.Eu ganho muito pouco, menos do que o suficiente para me sustentar."

Para Negas, que pertence ao movimento Enam (uma espécie de resposta grega ao espanholPodemos), o voto no 'não' é uma alternativa para priorizar as pessoas em detrimento docapital. "Em toda a Europa, mesmo na Alemanha, há informações de que as camadas maispobres da sociedade estão sofrendo. Está claro que a receita econômica atual está trazendo sópobreza, e não desenvolvimento."

Em comentários sobre resultados da eleição, especialistas afirmaram que os jovens gregostiveram um papel fundamental no resultado do voto no "não". Este foi o caso do estudante deeconomia Grigorios Adamapoulos, de 26 anos, duas vezes na última semana.

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CRISE DA GRÉCIA

Manifestante com a palavra grega 'oxi', que significa 'não', durante protesto nesta sexta-feiracontra as medidas de austeridade exigidas pelos credores internacionais para o acordo com aGrécia

Na noite da última segunda-feira, ele era um dos últimos manifestantes a se desmobilizar emuma grande manifestação pelo voto contrário às condições impostas pela União Europeia pararenegociar a dívida e liberar mais ajuda financeira para a Grécia. Dentro de casa, ele vivia umadivisão: enquanto ele acreditava que era possível mandar um recado de insatisfação ao blocoeconômico, seus pais achavam que era melhor garantir a ajuda da UE e votar "sim".

Na sexta-feira, Grigorios parecia ter conseguido "virar" a tendência dos pais: "Pode escrever:toda a família de Helen (nome da mãe de Grigorios) vai votar não." Tanto o estudante deeconomia quanto seus amigos acreditam no discurso do governo de que uma vitória no "oxi"no plebiscito de hoje não deverá acarretar a saída da Grécia da União Europeia e a substituiçãodo euro pelo antigo dracma - apesar de esse ter o temor de muita gente no país.

Ele deixa claro: "Nós não somos contra o euro e nem contra a Europa, não importa o que osoutros digam." Na noite deste domingo, à medida que o voto no "não" ficava clara, areportagem recebeu uma mensagem de Grigorios. "Vencemos! Vamos para a Syntagma (praçado parlamento grego, no centro de Atenas)", referindo-se à festa da vitória do "oxi" (não, emgrego) no plebiscito.

Varoufakis, ministro das Finanças da Grécia, renuncia ao cargo

Fonte Jornal Folha de São Paulo FERNANDA GODOY ENVIADA ESPECIAL A ATENAS 06/07/2015às 09h40

O ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, 55, renunciou ao cargo na manhã destasegunda, com o objetivo de facilitar as negociações de um terceiro pacote de resgate com oslíderes da União Europeia.

O anúncio, feito no blog de Varoufakis, veio pouco mais de 12 horas após o encerramento davotação no plebiscito em que 61% dos eleitores disseram não a mais medidas de austeridadefiscal, como aumento do imposto sobre o consumo.

A substituição de Varoufakis parece ser o primeiro movimento do governo grego no tabuleirodas negociações que se reiniciam nesta semana sob intensa pressão. Sem nova ajuda do BancoCentral Europeu (BCE), os bancos gregos podem ver suas reservas evaporarem em poucashoras se as agências reabrirem nesta terça. Informações extra-oficiais colocam essas reservasagora em 500 milhões de euros, ou cerca de 45 euros por cabeça, neste país de 11 milhões dehabitantes.

O BCE se reúne nesta segunda para decidir se estenderá a assistência emergencial de liquidez(ELA, na sigla em inglês) aos bancos gregos. O BCE já injetou 89 bilhões de euros no sistemabancário da Grécia, mas a assistência foi suspensa na semana passada.

Desde a segunda-feira, 29, os gregos só podem sacar 60 euros por dia dos caixas automáticos.Os bancos foram fechados, e reabriram apenas para o pagamento de pensões de aposentados,com saques limitados a 120 euros semanais.

Grécia

Nesta segunda, as filas cresceram diante dos caixas automáticos, onde os gregos aceitaramcom resignação e alívio a saída de Varoufakis. O agora ex-ministro é uma figura controvertida

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na Grécia, mas até seus apoiadores acreditam que a saída do temperamental economista serápositiva.

A demissão de Varoufakis deve facilitar a retomada das negociações com os líderes dos demais18 países que integram a zona do euro. De estilo desafiador, Varoufakis ganhou a inimizade dosnegociadores alemães.

A chanceler alemã, Angela Merkel, estará em Paris na noite desta segunda para um encontrocom o presidente da França, François Hollande, na véspera da reunião do Eurogrupo.

O ministro da Economia da França, Michel Sapin, disse que o governo grego deve apresentarnovas propostas o mais rapidamente possível. O ministro das Finanças da Espanha, Luis deGuindos, afirmou que a economia da Grécia precisa voltar a crescer e, para isso, sãonecessárias reformas.

Varoufakis afirmou em seu blog que havia tomado conhecimento da "preferência de certosmembros do Eurogrupo e parceiros variados" por sua ausência nas negociações. Segundo ele,o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, concordou com a ideia de que sua saída seriapotencialmente benéfica para que se chegasse a um acordo.

"Considero meu dever ajudar Alexis Tsipras a explorar, como ele considere melhor, o capitalque o povo grego nos concedeu no referendo", disse Varoufakis.

Ele havia anunciado que renunciaria em caso de derrota no plebiscito, mas a saída após umavitória política contundente causou surpresa.

Economista marxista e especialista em teoria dos jogos, Varoufakis jogou duro contra a "troica"formada pelo BCE, pela Comissão Europeia e pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) desdesua nomeação, em 27 de janeiro, com a vitória do Syriza.

O principal motivo de irritação dos dirigentes do Eurogrupo durante as negociaçõesinterrompidas há dez dias, quando o primeiro-ministro Tsipras convocou o plebiscito, teria sidoa insistência de Varoufakis em um acordo para o perdão de parte da dívida grega.

Em seu discurso na noite de domingo, após a vitória, Tsipras adotou tom conciliatório,prometendo a retomada das negociações, mas voltou a falar que será necessária a redução dadívida, que já atingiu 177% do PIB do país.

A posição do governo grego foi reforçada pela divulgação de relatório do FMI na semanapassada afirmando que a dívida grega não tem sustentabilidade.

Espera-se que agora Tsipras nomeie uma equipe econômica com perfil menos controvertido,tentando avançar rapidamente na construção de um acordo que permita à Grécia continuar nazona do euro.

Tsipras se reuniu pela manhã com os líderes de todos os partidos no Parlamento para buscaruma solução de consenso.

BOLSAS

Os mercados operavam em baixa nesta segunda. O euro, no entanto, registrava alta após oanúncio do pedido de demissão de Varoufakis, cotado a US$ 1,108.

A Bolsa de Paris operava em baixa de 2,06%, Madri perdia 2,41%, Frankfurt estava em quedade 2,11% e Milão de quase 3%. Londres operava em queda de 1,07%.

Na Ásia, a Bolsa de Tóquio fechou em baixa de 2,08%, Seul perdeu 2,40% e Hong Kongregistrou forte queda de 3,18%.

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Na Oceania, Sydney caiu 1,14% e Wellington 1,10%.

Fonte Jornal Folha de São Paulo RENATA AGOSTINI e JOANA CUNHA DE SÃO PAULO 06/07/2015às 02h 00

Foi vasculhando as redes sociais que os executivos da Jive, firma paulista especializada emrecuperação de crédito, conseguiram encontrar o que há anos um devedor negava existir:dinheiro.

O empresário devia mais de R$ 40 milhões e jurava não ter de onde tirar. Seus filhos, noentanto, publicavam no Instagram fotos de passeios de lancha em Angra dos Reis, balneáriofamoso por reunir endinheirados do eixo Rio-SP.

Atrás da pista, a Jive identificou que a lancha estava em nome de uma empresa no Uruguai,cujo representante era advogado do devedor. Em Angra, o marinheiro da lancha disse que ocaloteiro em questão era seu patrão.

Empresas como a Jive, que se dedicam a caçar devedores, devem ter mais trabalho daqui parafrente. O mercado de venda de "créditos podres" avança no país.

Itaú, Bradesco e Caixa iniciaram o ano com planos de passar à frente carteiras que somambilhões em créditos não pagos por seus clientes.

Segundo apurou aFolha, o Bradesco está finalizando o processo de venda de cerca de R$ 400milhões em financiamentos feitos a empresas.

A ideia da Caixa é fazer ao longo do ano ofertas de créditos de pessoas físicas e empresas nototal de R$ 9 bilhões.

Já o Itaú estuda repassar, neste semestre, créditos de empresas que somam R$ 3,5 bilhões – aoperação deve ser coordenada pelo Itaú BBA.

Bradesco e Itaú não quiseram comentar. A Caixa afirmou, por meio de nota, que manterá nesteano a estratégia de cessão de créditos, mas "valores e condições" ainda não foram fechados.

INCENTIVOS

Ao contrário dos Estados Unidos, onde a venda de "créditos podres" é um negócio ativo, noBrasil, trata-se de um setor que engatinha diante da baixa oferta pelos grandes bancosnacionais.

Capitalizados, eles vinham preferindo manter os créditos após as tentativas de cobrança. Oaumento da inadimplência, porém, incentiva as instituições a repassarem o estoque dedevedores.

"Para os bancos faz mais sentido focar no negócio principal, que é dar crédito, e cuidar declientes que têm atraso curto", diz Alexandre Nobre, sócio da RCB, que desde 2008 atua nestemercado.

Com a operação, a remuneração é imediata para o banco, mas sempre menor do que o valortomado. A Jive, por exemplo, usou R$ 112 milhões desde 2010 para cobrar R$ 4,5 bilhões emcréditos cedidos por diferentes instituições (menos de 3% do valor emprestado).

O surgimento de empresas e fundos especializados como Jive, RCB e Recovery, do BTG Pactual,dá segurança aos bancos e impulsiona as operações. "É um mercado que está mais testado",diz Márcia Yagui, diretora da KPMG no Brasil.

A consultoria estima que sejam transacionados cerca de R$ 20 bilhões em créditos em 2015não há dados oficiais sobre a venda dessas carteiras no país.

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Calote brasileiro atrai a atenção de estrangeiros

Fonte Jornal Folha de São Paulo RENATA AGOSTINIDE SÃO PAULO 06/07/15

O movimento de venda de "créditos podres" por grandes instituições financeiras vem atraindoo interesse de investidores estrangeiros, segundo gestores e advogados ouvidos pela Folha.

"Se olhar como a economia está indo, com a perspectiva de recessão, sabemos que a taxa deinadimplência vai aumentar. Esse mercado ficará grande em algum momento e eles querem jáaprender a operar no Brasil", diz Renato Maggio, sócio da área financeira do escritórioMachado, Meyer, que assessora investidores interessados em entrar no mercado brasileiro.

Segundo ele, o número de consultas cresceu nos últimos meses.

A decisão final de investir, no entanto, ainda esbarra na oferta incipiente de carteiras.

"Para os grandes investidores estrangeiros, por exemplo, não vale a pena entrar aqui para fazeruma aplicação baixa", diz André Suguita, diretor-executivo do Bank of America Merill Lynch,responsável pela área de compra desse tipo de crédito na América Latina.

Mas há potencial de expansão. Segundo o Banco Central, em dezembro de 2014, havia pelomenos R$ 205 bilhões em financiamentos com atrasos de mais de 60 dias --mais que o dobrodo verificado em 2009.

O volume de "créditos podres" no mercado, porém, é maior, já que o BC não consolida osempréstimos com inadimplência superior a 360 dias, que aparecem no balanço dos bancoscomo prejuízo.

Entre os bancos públicos, que puxaram a concessão de financiamentos nos últimos anos, aCaixa iniciou a estratégia em 2014 e pretende mantê-la este ano.

O BNDES contratou, em 2013, a consultoria PWC para avaliar o que fazer com os empréstimosnão pagos, que somavam R$ 37 bilhões. Contudo, não lançou oferta nem anunciou seus planospara o estoque.

Já o Banco do Brasil optou por repassar os "créditos podres" a uma controlada, a Ativos,empresa criada justamente para cuidar da recuperação dos financiamentos com atrasos muitolongos.

Conflito político se agrava, economia para

Fonte Jornal Folha de São Paulo VINICIUS TORRES FREIRECOLUNISTA DA FOLHA 06/07/15

O colapso da Grécia pode começar hoje, caso o BCE (Banco Central Europeu) desligue osaparelhos que mantêm vivos os bancos gregos. Pode ser que a indefinição se arraste até dia 20,quando o governo grego deve pagar € 3,5 bilhões que não tem ao BCE. Discutia-se ontem atéuma "saída organizada" da Grécia, com ajuda humanitária e auxílio financeiro temporário abancos e governo.

Mas ninguém sabe como abrir fresta mínima no beco sem saída onde estão o governo deesquerda do Syriza e a União Europeia. As posições políticas se tornaram mais extremadas e asituação econômica muito mais grave nos últimos dez dias, desde a convocação do plebiscitoque deu talvez vitória de Pirro ao premiê Alexis Tsipras.

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Sem dinheiro extra do BCE, os bancos gregos não podem reabrir. Sem o crédito ainda restante,estarão quebrados, a não ser que o governo grego tome medidas heróicas para evitar odesastre imediato: confisco parcial de depósitos dos clientes e/ou injeção de dinheiro grego(que não pode criar euros), com o que a Grécia estaria logo fora da zona do euro.

Caso a Grécia não pague o que lhe deve no dia 20, em termos apenas técnicos o BCE não podemais dar crédito à banca grega. Fim.

Parecia ontem mais provável que o BCE não adotaria decisão drástica em sua reunião marcadapara hoje. Esperaria decisão política, praticamente nas mãos de Angela Merkel, chanceleralemã, que se encontra hoje com o presidente francês, François Hollande (aliado restante daGrécia, com os italianos).

Porém, no final de semana, a elite política e econômica da Alemanha deixou claro que a Gréciadeve sair, a não ser que se renda ao pacote econômico rejeitado faz dez dias. Quase todos osministros de finanças europeus ainda defendem um ultimato.

Tsipras disse ontem que vai negociar, mas que nenhum acordo será possível sem perdão dedívida e empréstimo novo, recomendado até pelos economistas do FMI, na sexta-feira (3).Mas, no curto prazo, um talho na dívida grega não é o maior dos problemas.

Aceitar acordo nos termos da União Europeia implica aceitar recessão adicional e abandono doprograma do Syriza. Isto é, aceitar mais sofrimento e, em tese, derrota política ou rachapartidário. Tsipras recorreu ao plebiscito também porque a ala esquerda do Syriza rejeitaria oacordo com os credores.

Do lado da União Europeia, render-se ao Syriza não faz sentido. O impasse se deveu, do pontode vista político, à decisão da elite europeia de matar no nascedouro movimentos"antiausteridade" e "antiestablishment" europeu.

Isto é, tratava-se de evitar que partidos de esquerda pela Europa se inspirassem em umavitória do Syriza nas negociações. Mais: de evitar revoltas contra os partidos de centro quedominam os governos dos países da eurozona (por "bancar os gregos malandros"); de evitar ofortalecimento de partidos antieuropa em si ou antieuropa tecnocrática.

Ainda que se negocie, a Grécia segue desmoronando. Ontem de noite, reunião de emergênciatratava dos bancos, que estão ficando mesmo sem cédulas, para não dizer fundo bastante, paraos saques de € 60 por dia, por cabeça. A Grécia está parando.

Insuficiente

Fonte Jornal Folha de São Paulo [email protected] 06/07/15

Desde o início do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff (PT) já se sabia que, ao longodo ano, a dívida do setor público brasileiro continuaria a crescer, a despeito das mudançasintroduzidas na política econômica do governo.

O programa de ajuste das finanças nacionais anunciado pelo ministro Joaquim Levy (Fazenda)prometia, por meio de aumentos de impostos e cortes de gastos, viabilizar uma desaceleraçãoprogressiva do avanço da dívida, até que ele fosse interrompido em 2016.

Os dados conhecidos até o momento, contudo, sugerem que esse roteiro não vem sendocumprido. Em maio, a dívida pública bruta chegou a 62,5% do PIB, o valor mais alto já

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registrado (pela metodologia de cálculo atual, sob a qual há dados desde 2006). Há um ano,estava em 54,3%.

O ritmo de expansão ainda excede aquele almejado e prometido pelo governo.

E isso significa que continua alta a possibilidade de que as agências de classificação de riscorebaixem a nota de crédito da dívida soberana brasileira, deixando de considerar o país uminvestimento seguro o que configuraria um revés não só para o governo, mas para a economianacional.

O fator principal que mantém o endividamento em trajetória perigosa é o decepcionanteresultado primário (excluídas despesas com juros) do setor público.

Os governos estaduais e municipais até têm conseguido poupar recursos para quitar suasdívidas numa proporção superior à que era esperada. Na esfera federal, no entanto, verifica-seo contrário.

O desempenho do governo Dilma Rousseff está aquém do necessário por diversos motivos,entre os quais se destacam dois.

Primeiro: o Congresso não tem aprovado integralmente as medidas de reforço de receitas e deredução de despesas propostas pelo Executivo. Isso, no entanto, já deveria estar na conta, poisocorreu em todos os episódios anteriores de ajuste das finanças.

Segundo, e mais importante: a arrecadação de tributos tem ficado muito abaixo da projetada,como reflexo da queda da atividade econômica, mais brusca do que antecipavam asautoridades.

Assim, a promessa de um superávit público consolidado de R$ 66 bilhões em 2015 fica menoscrível a cada dia que passa.

Poucos duvidam de que o governo terá de anunciar uma nova meta, mais realista. Asperguntas se concentram em saber quando isso será feito, qual será o novo objetivo e comoele repercutirá entre os agentes econômicos em especial as agências de classificação de risco.

Desafio

Fonte Jornal Folha de São Paulo 06/07/15

A retórica desconexa e o raciocínio enviesado da presidente Dilma brindaram os brasileirosrecentemente com o uso inapropriado de duas palavras duras delação e traição. Sobre aprimeira nem há o que falar o instrumento da delação premiada é legal e está inserido nasnormas democráticas.

Quanto à traição, ainda que não se discuta a legitimidade da presidente para tocar no assunto,afinal não se tem memória de um governante que tenha traído tão profundamente os que neleacreditaram, é preciso anotar a infelicidade da fala. Basta dizer que ao comparar o senhorRicardo Pessoa a Joaquim Silvério dos Reis, a presidente terminou por comparar o ex-tesoureiro do PT João Vaccari a Tiradentes, o que demonstra no mínimo o absurdo dopensamento.

Estamos vivendo um dos piores períodos de nossa história republicana. As contas públicas, ainflação, a produção industrial, o mercado de trabalho, as obras do PAC, nada resistiu aomonumental conjunto de erros protagonizados pelo governo petista. À incompetênciagerencial se soma o oportunismo político, a miopia ideológica e o desapreço pelatransparência, para temos pronta a receita do caos. Eis o Brasil do PT.

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É preciso, no entanto, reconhecer que o país tem hoje, a favor da preservação dagovernabilidade, um sólido aparato institucional. Instituições como o Congresso, o MinistérioPúblico, o STF e as demais instâncias do Judiciário atuam com independência eresponsabilidade para assegurar a plenitude do Estado de Direito e dos preceitosconstitucionais.

Esse é o avanço da democracia que devemos saudar e respeitar. Quando o PT tenta interferirnas ações da Polícia Federal, o partido dá um péssimo exemplo de como devem ser pautadasas relações institucionais no país. Não há mais como calar a sociedade, muito menos suasinstituições representativas.

A verdade é que vivemos tempos ruins, agravados a cada dia pelo atual governo, que mentiu eainda mente, aumentando o índice de desconfiança de empresários, investidores etrabalhadores.

É nesse contexto que o PSDB realizou no domingo (5) a sua convenção nacional, reafirmandocompromissos com os brasileiros. Em um encontro repleto de emoção, líderes e militantes detodos os cantos do país trouxeram a sua mobilização intransigente em favor da democracia, daluta por um país mais justo e igualitário, do compromisso com a ética e o interesse público.

A sociedade brasileira está ávida pela boa política. Os partidos da oposição têm o apaixonantedesafio de aprofundar a interlocução com a população e responder ao enorme desejo departicipação de milhões de cidadãos mobilizados e indignados. É esse o caminho a trilhar, comcoerência, transparência e respeito, sem desvios ou concessões.

Hora de os credores pagarem o preço do risco assumido

Fonte Jornal O Estado de S. Paulo José Paulo Kupfer06 Julho 2015 às 02h 02

Duas palavras de origem grega resumem o atual momento histórico vivido pela Grécia. Aodecidir pelo "não", no referendo popular sobre a negociação de suas dívidas com a UniãoEuropeia e o FMI, os gregos superaram o dilema em que se encontravam, mas não a criseeconômica em que estão envolvidos. Entre a descrença numa solução conhecida e a esperançade uma aposta no imprevisível, ficaram com a segunda opção.

Como em todo dilema da palavra grega que significa "duas premissas", nenhuma das duasalternativas oferecidas teria o condão de solucionar a crise - da palavra grega que significa"momento decisivo à espera de um desfecho". A bola agora está com os credores, a exemploda anedota clássica, segundo a qual, o devedor transfere o incômodo da insônia ao credorquando o avisa de que não pagará a dívida.

Não se trata de um problema meramente econômico, questão minimizada pelo baixo pesoespecífico da Grécia no conjunto das economias europeias. O que sempre esteve em jogo eagora exigirá respostas concretas das lideranças do continente é o alto "risco moral" vinculadoàs quebras recorrentes da economia grega desde a eclosão da grande crise global de 2008.

São duas as faces dessa moeda, que lançam a zona do euro em novos dilemas. De um lado, asconsequências de um "efeito demonstração" do calote grego para outros países altamenteendividados da União Europeia, considerando, inclusive, a hipótese do abandono da moedaúnica. De outro, os desdobramentos da eventual "premiação" de devedores supostamenteirresponsáveis com o perdão de parte das dívidas pendentes.

Depois do resultado do referendo grego, em meio a esse quadro complexo, desponta aconstatação de que, ao endurecer com a Grécia, os credores esticaram a corda das políticas deausteridade até o ponto de rompimento. A ascensão de partidos antiausteridade, nos paísesobrigados a executar duríssimos programas de contração fiscal, já deveria ter deixado claro quehá limites para políticas baseadas exclusivamente em cortes de despesas públicas.

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A evolução da crise grega leva à conclusão de que passou da hora de os credores pagarem opreço pelos riscos que assumiram na Grécia e aceitar organizar o calote.

De volta ao passado

Fonte Jornal O Estado de S. Paulo Affonso Celso Pastore 05 Julho 2015 às 03h 00

Nos últimos 50 anos, foram frequentes os períodos nos quais o País foi penalizado por suanegligência em relação à disciplina fiscal. Nas décadas de 1970 e 1980 não havia disciplinafiscal, e a dívida pública só não teve um crescimento explosivo devido à receita do “impostoinflacionário”, que frequentemente atingia níveis próximos de 3% do PIB, fazendo o papel queatualmente é exercido pelos superávits primários. O custo dessa estratégia foi um processo deinflação contínua e crescente que nos levou à hiperinflação. O Plano Real, em 1994, estabilizoua inflação e pôs um ponto final ao financiamento inflacionário dos déficits públicos. Depois dealguma hesitação, entre 1994 e 1998, o governo FHC reconheceu que seria necessáriointerromper o contínuo crescimento da relação dívida/PIB e comprometeu-se a cumprir metaspara os superávits primários em tamanho suficiente para estabilizá-la ou mesmo reduzi-la.

Um segundo capítulo dessa história desenrolou-se em 2002/2003. Naqueles anos, uma elevadaproporção da dívida pública era dolarizada, tornando-a altamente dependente docomportamento da taxa cambial. Ninguém sabia se Lula, uma vez eleito, seguiria a rota de FHCna política fiscal ou se colocaria em prática o discurso do PT que pregava o repúdio aopagamento da dívida pública. O medo de que caminhássemos para um default provocouintensa fuga de capitais, depreciando o real e elevando a relação dívida/PIB, aumentando aindamais o risco da insolvência do governo, provocando novas ondas de fugas de capitais e dedepreciação cambial.

Estava instalada uma crise com uma componente de profecia autorrealizável, e o círculo viciososó foi rompido quando a equipe que saía fechou um acordo de transição com o FMI com aanuência de Lula. Entre outras coisas, o novo governo se comprometia a realizar superávitsprimários suficientemente elevados para reduzir a relação dívida/PIB. Embora tal compromissofosse repetido à exaustão pelo novo ministro da Fazenda, não teria tido eficácia caso ficasseapenas em palavras. A crise só foi abortada porque o governo não teve nenhum pudor deromper com a pregação do PT, passando a executar uma política fiscal muito próxima àcolocada em ação por FHC no seu segundo mandato. O cumprimento das metas de superávitsprimários e o controle da inflação, permitido pelo regime de metas, juntamente com aacumulação de reservas internacionais, começou a reduzir os riscos, culminando com apromoção brasileira ao “grau de investimento”.

Fórmula mágica. Um terceiro capítulo dessa história teve início no segundo mandato de Lula.Gradualmente, o governo foi abandonando a disciplina fiscal, culminando na total indisciplinaque caracterizou o primeiro mandato de Dilma Rousseff. Inicialmente, a desculpa para oaumento de gastos e a redução de impostos foi a necessidade de realizar “ações contracíclicas”,que prosseguiram mesmo depois que o Brasil já havia superado completamente o contágio dacrise externa. O que havia, na realidade, era a crença de que uma dose suficientementeelevada de estímulos à expansão da demanda agregada faria o milagre de libertar o “espíritoanimal” dos empresários, e essa seria a fórmula mágica que provocaria o aumento dosinvestimentos e colocaria o País na rota do crescimento acelerado e sustentável. Invocava-se o“espírito de Keynes”, que, numa leitura tendenciosa e totalmente distorcida, teria nos ensinadoque o estímulo aos investimentos é apenas uma questão de vontade política. Levada aoexagero, essa crença fez a presidente Rousseff afirmar, repetidas vezes, que “gasto é vida”.Melhor seria reconhecer que, no curto prazo, gasto é voto!

O desarranjo fiscal teve também a faceta das transferências por fora do orçamento para osbancos oficiais, totalizando 10% do PIB, que destruiu a possibilidade de se utilizar a dívida

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líquida do setor público para aferir a solvência do governo. O milagre da aceleração docrescimento não ocorreu e, depois do benefício colhido nas urnas, sobrou o custo, previsível,de que a forte redução dos superávits primários colocou a dívida bruta em uma trajetória decrescimento contínuo. O ponto culminante dessa sequência de erros ocorreu em 2014,quando, em vez de um superávit primário, o governo entregou, em meio a um conjuntoenorme de “truques” da contabilidade criativa, um déficit primário recorrente de 1,5% do PIB,deixando pesada herança de gastos a serem pagos nos anos seguintes.

Dívida. Diante de uma dívida em crescimento contínuo, que ameaçava a perda do grau deinvestimento, era preciso retornar à austeridade fiscal, e os mercados festejaram “a mudançade Dilma” quando Joaquim Levy foi nomeado ministro da Fazenda. Mas um ajuste dessamagnitude não se resolve facilmente. Primeiro, porque, a menos que sejam realizadasreformas que elevem o crescimento econômico e baixem a taxa real de juros, os superávitsprimários que estabilizam a dívida bruta em relação ao PIB são bem maiores do que as metasde 1,1% e 2% do PIB propostas por Levy para 2015 e 2016. Com alguma dose de otimismo,precisaríamos manter – por vários anos – superávits de no mínimo 2,5% do PIB.

Segundo, porque nem mesmo no gradualismo proposto por Levy será possível cumprir a metaem 2015, e isso não se deve apenas à recessão, que reduziu as receitas, mas também àincapacidade de convencer o Congresso a aprovar, na íntegra e com rapidez, a totalidade daspropostas de cortes e de redução das desonerações tributárias.

Revelando o seu verdadeiro DNA, o PT se nega a apoiar abertamente as medidas fiscais enenhum partido político, quer da oposição quer da coalizão que suporta o governo, se dispõe aassumir o ônus do ajuste, principalmente porque não há como escapar da recessão, quedeverá ser longa. Um dos erros cometidos nos últimos anos foram ações que levaram aocrescimento dos salários reais muito acima da produtividade média, acarretando o fortecrescimento do custo unitário do trabalho medido em reais, que é o grande responsável peladestruição da competitividade da indústria e pela queda das exportações.

As alternativas são claras: ou o governo consegue executar uma agenda de reformas que elevea taxa de crescimento e reduza a taxa de juros, fazendo com que superávits primários como ospropostos levem à queda progressiva da relação dívida/PIB, ou terá de fazer um esforço fiscalainda maior do que o atual. Não vejo como fará o milagre de retomar a curto prazo ocrescimento acelerado, o que significa que o ajuste fiscal terá de ser aprofundado.

Embora as agências de classificação de risco silenciem diante da baixa probabilidade deretomada do crescimento e/ou da possibilidade política de elevação do esforço fiscal, o mesmonão ocorre com os mercados. As cotações do CDS brasileiro persistem significativamente acimada média de 2013 e 2014, quando, sob a orientação de Dilma, Mantega destruía o regimeeconômico herdado de FHC e do primeiro mandato de Lula, e colocando em seu lugar adesastrada “nova Matriz de política econômica”, criada pelo ministro Nelson Barbosa. Todosesses são sinais de que o Brasil está caminhando celeremente na direção de perder o “grau deinvestimento”.

O desafio fiscal

Fonte Jornal O Estado de S. Paulo Amir Khair 05 Julho 2015 às 03h 00

Quando Lula deixou o governo, a relação dívida/PIB estava em 51,8%. Quando encerrou oprimeiro mandato de Dilma, passou para 58,9%. Subiu 7,1 pontos. A nova equipe econômicaconseguiu a “façanha” de em apenas cinco meses elevá-la para 62,5% subindo 3,6 pontos!

Enquanto isso, o que domina o debate fiscal é se o governo vai conseguir atingir a meta de1,1% do PIB. Isso é enganoso, pois o que está gerando essa rápida deterioração é a forte subida

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das despesas com juros, fruto da política de manutenção da elevada Selic, que não para desubir.

Infelizmente, o governo é refém da armadilha de querer controlar a inflação mediante Selicelevada. Isso causa despesa com juros que, nos últimos 12 meses até maio, atingiu R$ 409bilhões (7,2% do PIB) causando um déficit fiscal de R$ 447 bilhões (7,9% do PIB), recordehistórico. Assim, os juros foram responsáveis por 91,5% (!) do rombo fiscal. E o déficit primáriopor apenas 8,5%.

Diante dessa evolução, a ameaça de rebaixamento na classificação de risco cresce. Dois errosestão sendo cometidos pelo governo: a) subestimar o dano causado às finanças públicas pelarecessão que derruba a arrecadação da União, dos Estados e dos municípios e; b) sancionar oefeito devastador da ascensão dos juros.

O governo, ao acreditar que algum represamento de suas despesas aliado a um aumento detributos pode levar a algum resultado, só vai agravar o déficit fiscal.

Vale observar, como destaco em artigos anteriores, que o governo federal é responsável porapenas 36% da despesa não financeira do setor público, pois 64% dela é da competência dosEstados e municípios, que dispõem de autonomia para efetuá-la. Além do mais, existe umverdadeiro cipoal burocrático que engessa cerca de 90% da despesa do governo federal e os10% que restam tem sua maior parte constituída por investimentos.

Se quiser escapar do rebaixamento, é necessário estancar de imediato a subida da relaçãodívida/PIB. Isso só é possível se: a) substituir a emissão de títulos da dívida por emissãomonetária como fazem desde a crise de 2008 os principais países atingidos por ela comdestaque para os Estados Unidos, Europa e Japão; b) vender US$ 100 bilhões das reservasinternacionais, o que abate R$ 320 bilhões da dívida bruta de R$ 3.539 bilhões (final de maio),ou seja, 9% da dívida; c) implementar políticas com foco no crescimento econômico paraelevação do PIB e da arrecadação pública e; d) cumprir rigorosamente o artigo 9.º da Lei deResponsabilidade Fiscal, que prevê que no caso de frustração de receita haja reduçãoequivalente de despesa para efeito de compensação.

Base monetária. Os déficits fiscais devem ser compensados com emissão de moeda e não detítulos da dívida. Há sempre o receio de que a ampliação da base monetária vá levarnecessariamente à elevação da inflação e esse argumento é o que sempre prevaleceu napolítica econômica há décadas. Vários países ampliaram sua base monetária sem impactoalgum na inflação a partir da crise de 2008. Assim o fizeram para desvalorizar sua moedavisando estimular a exportação de suas empresas. A base monetária desses países se situanormalmente acima de 50% do PIB. A nossa nunca passou de 5,5% do PIB e está em 4,2% doPIB atualmente. É mais um freio imposto pelo Banco Central à atividade econômica.

Reservas internacionais. As reservas têm alto custo de carregamento. Foram constituídasmediante compra de dólares com a venda de títulos da dívida. Essas reservas são aplicadasfundamentalmente em títulos do Tesouro americano que rendem cerca de 2% ao ano e custamcerca de 14% ao ano ao Tesouro. A diferença de 12 pontos aplicada sobre o volume de reservasde US$ 373 bilhões dá US$ 45 bilhões ou R$ 143 bilhões ao ano, que é o custo docarregamento dessas reservas. O elevado nível existente das reservas é justificado pelos seusdefensores para proteger o País de especulação contra o real. Vale lembrar, no entanto, que noápice da crise de 2008 as reservas estavam em US$ 200 bilhões. Caso sejam vendidos US$ 100bilhões ainda sobrariam US$ 277 bilhões, 40% acima do nível da crise.

Crescimento. É com crescimento que se geram os empregos, lucros para as empresas earrecadação ao governo. Várias são as ações que podem contribuir para retomar ocrescimento: a) reduzir a tributação sobre o consumo, compensando parcialmente essaredução com a elevação da tributação sobre a renda de pessoas físicas e do patrimônio(herança e riqueza). Metade da carga tributária é devida ao consumo, o dobro da praticadapelos países desenvolvidos. Isso eleva em cerca de 40% o nível de preços da economia,reduzindo o poder aquisitivo da população e a competitividade das empresas; b) ampliar

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políticas de renda que resultam em maiores compras das camadas de menor renda,estimulando o comércio e a produção; c) reduzir as taxas de juros básica e ao tomador comreflexos favoráveis à oferta e ao consumo; d) deixar o câmbio flutuar.

Caso o Banco Central deixe o câmbio flutuar, este tenderia a superar R$ 4,00 por dólar, o quereduziria de imediato as importações e no médio prazo é poderoso estimulador dasexportações. O câmbio fora de lugar subtrai cerca de um ponto porcentual da evolução do PIB.Esse é um dos caminhos de maior impacto para elevar a produção e o crescimento econômico.

Equilíbrio fiscal. O objetivo a ser perseguido na política fiscal é o equilíbrio entre receitas edespesas. Isso é claro na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) pelos seus artigos 1.º e 9.º.

O artigo 1.º estabelece: “A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada etransparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio dascontas públicas...”.

Equilíbrio fiscal significa em termos simples gastar o que se arrecada, ou seja, déficit zero. Ébem diferente de superávit primário, que é apenas um componente da gestão fiscal e quedesconsidera os juros como despesa.

O artigo 9.º estabelece: “Se verificado, ao final de um bimestre, que a realização da receitapoderá não comportar o cumprimento das metas de resultado primário ou nominalestabelecidas no Anexo de Metas Fiscais, os poderes e o Ministério Público promoverão, porato próprio e nos montantes necessários, nos trinta dias subsequentes, limitação de empenhoe movimentação financeira, segundo os critérios fixados pela lei de diretrizes orçamentárias”.

Esse artigo obriga a segurar a despesa caso a receita não alcance a previsão orçamentária. Noentanto, essa obrigação é descumprida pela União e a maioria dos Estados e municípios e ostribunais de contas não acompanham isso. Caso fosse seguido este dispositivo, as correçõessão antecipadas e se evitam pedaladas e outras artimanhas fiscais.

As propostas aqui apresentadas de reversão da relação dívida/PIB podem ser implementadasde imediato e independem de aprovação do Congresso. Vale enfrentar esse desafio fiscal.

O PT entortou o Estado

FONTE O Estado de S. PauloSuely Caldas 05 Julho 2015 às 09h 38

Os Estaleiros Mauá (RJ) e Paraguaçu (BA) fecharam suas portas e dispensaram 7 miltrabalhadores. Só este ano, a indústria naval já demitiu 14 mil operários, condenando aorelento milhares de famílias. Outros estaleiros seguem o mesmo caminho, pois a Petrobrásparou de encomendar embarcações e a Sete Brasil empresa criada em 2010 para alugar sondase plataformas para o pré-sal enfrenta sério abalo financeiro, paralisou encomendas e contratose não paga dívidas a bancos e a estaleiros desde a descoberta de seu envolvimento comcorrupção pela Operação Lava Jato. O que têm a dizer Lula e Dilma, que bateram no peitocomo se fosse um troféu a criação dessa indústria, que agora tem 80 mil empregosameaçados?

A decadência da indústria naval é emblemática de um modelo de política industrial que osgovernos do PT ressuscitaram dos tempos da ditadura militar, em que Estado e empresasestatais são usados – em atos de força e autoritarismo para atender a desejos políticos eequivocados (por vezes megalômanos) de quem está no poder. A parcela maior da falênciafiscal que o Brasil vive hoje decorre justamente de erros grandes e menores cometidos por Lulae Dilma, ao desperdiçarem dinheiro público em projetos que não se sustentam sem a muletado Estado.

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No caso da indústria naval, além de obrigarem a Petrobrás a comprar aqui navios e plataformaspelo dobro do preço do produto importado, eles impuseram à força uma política de conteúdolocal que custa muito caro à estatal e ao País. É a repetição do erro dos governos militares, quederam vida aos estaleiros no ventre dos cofres públicos e decretaram sua morte quando odinheiro secou. Restaram demissões em massa e dívidas gigantescas espetadas na conta dobrasileiro que paga impostos. Exatamente como ocorre agora.

Governar, manejar dinheiro público, implica fazer escolhas. Em qualquer lugar do mundo háum consenso: os governos devem escolher saúde, educação, segurança, programas sociais bemavaliados e, em certos casos, saneamento e habitação para aplicar prioritariamente o dinheirodos contribuintes. Atendido o básico da população, os governos partem para investir dinheiroem escolhas não obrigatórias. Foi aí que Lula e Dilma erraram.

No tamanho. Projetos superdimensionados: 800 aeroportos, 6 milhões de moradias, 6 milcreches, 100 mil bolsas de estudo no exterior, milhões de universitários financiados, 20% dedesconto na conta de luz, etc. A hora do anúncio é uma apoteose numérica. Mas a da entrega,uma decepção: aeroportos, nenhum novo; o desconto na conta de luz virou aumento de 60%;creches não chegaram a 500; o programa Minha Casa, Minha Vida está parando por falta dedinheiro; o Ciência Sem Fronteiras gastou quase R$ 4 bilhões e foi interrompido; o Fiesfinanciou 4,5 milhões de universitários, consumiu R$ 13,5 bilhões e foi suspenso.

Na escolha. Os governos Lula e Dilma privilegiaram grupos conhecidos como campeõesnacionais (entre eles o de Eike Batista) com empréstimos bilionários e subsidiados do BNDES.Em vez de se tornarem players internacionais, eles responderam com inadimplência. Em nomede estimular o consumo e o crescimento, o governo deixou de arrecadar R$ 100 bilhões em2014 e R$ 38,3 bilhões até abril de 2015 em impostos de alguns setores industriais. O objetivofoi frustrado e, com a retirada da muleta do Estado, as indústrias automobilística eeletroeletrônica são hoje as que mais desempregam.

Os intervencionistas governos petistas erraram nas escolhas e exageraram em gastos.Gastaram sem limites, não calcularam até onde o dinheiro público suportaria, tampoucoavaliaram a eficácia de suas escolhas e decisões. E, quando tudo saiu do controle, inventaramas pedaladas fiscais e inflacionaram os restos a pagar, hoje um grande orçamento paralelo. Osdois somam cerca de R$ 250 bilhões esqueletos que nem começaram a ser pagos.

O PT passou a vida acalentando a ambição de comandar o Estado. Mas, ao chegar lá, provouser um fiasco.

Mercado reduz projeção para a inflação em 2016

FONTE CÉLIA FROUFE - O ESTADO DE S. PAULO06 Julho 2015 às 09h 08

BRASÍLIA - Após seis semanas consecutivas paralisada em 5,50%, a mediana das previsões domercado financeiro para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2016 passou para5,45%, segundo o Relatório de Mercado Focus, divulgado nesta segunda-feira, 6, pelo BancoCentral. As estimativas para o IPCA e para a queda do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015,entretanto, pioraram.

A mudança será comemorada pela instituição, que vinha enfatizando a inflexibilidade dasestimativas mesmo com a continuidade de alta da Selic e de discursos e pronunciamentos maisduros da instituição em relação ao combate à inflação.

Esse período é o foco da autoridade monetária neste momento, já que o BC promete entregara inflação no centro da meta (4,5%) no fim do ano. Pelos cálculos da instituição, o IPCA ficaráem 4,8% em 2016 no cenário de referência e em 5,1% no de mercado. A luta da instituição no

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momento é tentar convencer o mercado de que chegará ao centro da meta em 2016, daí aexpectativa de que as estimativas dos analistas para o final desse ano se reduzam.

Pela 12ª rodada consecutiva, porém, a estimativa para a inflação oficial deste ano avançou de9,00% da semana anterior para 9,04% agora. Há um mês, essa projeção estava em 8,46%. Noúltimo Relatório Trimestral de Inflação (RTI), o BC havia apresentado estimativa de 9% nocenário de referência e de 9,1% usando os parâmetros de mercado.

Impacto isolado. A conquista do BC em conseguir mexer com as estimativas dos analistas domercado financeiro para a inflação foi isolada para o ano de 2016. Para os períodos maislongos, que vinham apresentando ajustes para baixo semana a semana, todas as previsõesficaram congeladas de uma semana para outra desta vez.

De acordo com a série de estatísticas consolidadas do BC, a mediana das previsões para o IPCApermaneceu em 4,70% em 2017 e em 4,50% em 2018 e 2019. O BC vinha comemorando acada semana toda revisão para baixo que vinha ocorrendo, nas palavras de um diretor do BC,"de trás para frente".

A mudança de 5,50% para 5,45%, ainda que pequena, é uma luta que o BC vem travando com amanutenção do ritmo de alta da Selic em 0,50 ponto porcentual - atualmente está em 13,75%ao ano - e com discursos mais duros em relação ao combate à inflação.

Recentemente, entraram para o vocabulário dos documentos e apresentações dos porta-vozesda instituição as palavras "determinação" e "perseverança", além da já conhecida "vigilante".

PIB. As projeções de analistas do mercado para a economia em 2015 pioraram. Economistaspassaram a estimar que o Produto Interno Bruto (PIB) este ano deve ter retração de 1,50% antequeda de 1,49% verificada na edição anterior da pesquisa do BC. Com a nova previsão, foi asétima revisão para baixo consecutiva. Há quatro semanas, a mediana era de queda de 1,30%.A expectativa para a expansão da economia em 2016 segue em 0,50%.

O BC, apesar de também ter revisado para pior sua projeção, de queda de 0,60% para retraçãode 1,1%, segue mais otimista que o mercado.

Também no boletim Focus desta segunda-feira, a projeção para a produção industrial passoude queda de 4,00% em 2015 para baixa de 4,72%. Quatro edições da pesquisa atrás, a medianadas previsões para o setor fabril era de uma retração de 3,20%. Já para 2016, a mediana dasestimativas passou de expansão de 1,50% para crescimento de 1,35%. Um mês antes, amediana das previsões do mercado para esse indicador era de uma alta de 1,50%.

Câmbio. As projeções da pesquisa do Banco Central apontam uma tendência de alta para acotação do dólar tanto em 2015 quanto em 2016. Para este ano, a mediana das estimativaspassou de R$ 3,20 - na qual já se encontrava há quatro edições - para R$ 3,22. Para o próximoano, a mediana avançou de R$ 3,37 para R$ 3,40. Um mês antes estava em R$ 3,30.

Para parlamento europeu, saída de Varoufakis alivia

Fonte Da EFE às 09H 37

Berlim - O presidente do Parlamento Europeu (PE), Martin Schulz, afirmou nesta segunda-feiraque a renúncia do ministro de Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, representa um alívio para odiálogo com Atenas, mas ressaltou que nem por isso as negociações serão mais fáceis.

Schulz lembrou que o sucesso das futuras negociações entre a União Europeia(UE) e a Grécianão depende de pessoas concretas.

"Não depende de quem negocia, mas de sobre o que se negocia", especificou Schulz em umafala durante um evento na Escola Superior de Esportes de Colônia, no oeste da Alemanha.

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Ele indicou que houve 18 generosas ofertas sobre a mesa e a Grécia respondeu "não" à grandemaioria das propostas.

"O governo viu seu apoio fortalecido em casa, mas em nível europeu provavelmente não",assinalou o presidente do PE, que ressaltou que Atenas "deverá apresentar agora propostasque sejam convincentes para o resto (da EU)".

Schulz previu que "serão negociações difíceis", mas se mostrou favorável a mantê-las. Edestacou a necessidade agora de um programa humanitário para a Grécia, devido a cada vezmais difícil situação social.

Para ele, na reunião de amanhã os chefes de Estado e de governo da zona do euro deverãoabordar este tema, porque os bancos provavelmente não abrirão nem hoje nem terça-feira naGrécia e a consequência será que as crianças pequenas não terão o que comer nas creches e osaposentados não poderão comprar remédios.

"Penso que não deveríamos deixar o povo grego sofrer", afirmou Schulz, que se pronunciou afavor de um programa o mais preciso possível para poder enfrentar estas dificuldadesimediatas.

Os custos desse programa não devem preocupar os contribuintes, acrescentou, porque "aquestão de prestar socorro humanitário a crianças ou doentes é uma questão de solidariedadedentro da UE", ressaltou.

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