08 - ANJOS

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Cornelius a Lapide, sj (1597-1637) + ANJOS Traduzido por Uyrajá Lucas Mota Diniz Há anjos e eles existem em grande número A Sagrada Escritura testemunha a existência dos anjos. Muitas passagens, tanto do Antigo, como do Novo Testamento, comprovam-no. O número dos anjos é muito grande. Se alguém tem cem ovelhas, diz Jesus Cristo, e uma delas se extravia, não deixa as noventa e nove restantes na montanha e não corre a buscar a que se extraviou? (Matth. XVIII, 12). Pelas noventa e nove ovelhas, os Santos Padres entendem os anjos que perseveraram, e pela ovelha perdida, entendem o gênero humano. Quão grande é, pois, o número

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Texto de Cornélio à Lápide traduzido da Obra "TESOROS DE CORNELIO Á LÁPIDE" - Tomo I, por Uyrajá Lucas Mota Diniz.

Transcript of 08 - ANJOS

Cornelius a Lapide, sj (1597-1637)+ANJOS

Traduzido por Uyraj Lucas Mota Diniz

H anjos e eles existem em grande nmero

A Sagrada Escritura testemunha a existncia dos anjos. Muitas passagens, tanto do Antigo, como do Novo Testamento, comprovam-no.

O nmero dos anjos muito grande. Se algum tem cem ovelhas, diz Jesus Cristo, e uma delas se extravia, no deixa as noventa e nove restantes na montanha e no corre a buscar a que se extraviou? (Matth. XVIII, 12). Pelas noventa e nove ovelhas, os Santos Padres entendem os anjos que perseveraram, e pela ovelha perdida, entendem o gnero humano. Quo grande , pois, o nmero dos anjos, posto que so comparados com as noventa e nove ovelhas.H nove Coros Anglicos

H nove coros de anjos, nomeados e distintos na Escritura: os Anjos, os Arcanjos, os Tronos, as Dominaes, as Virtudes, os Principados, as Potestades, os Querubins e os Serafins.Os anjos esto justificados por sua f em Jesus Cristo.

Os anjos so tambm ovelhas do Filho do homem. Ele seu Salvador, mas no seu Redentor, como o dos homens, porque os anjos (bons) no pecaram. Porm, por Ele, mereceram os anjos todas as graas e toda a sua glria, isto , sua eleio, sua predestinao, sua vocao, todos os recursos suficientes, prevenientes, concomitantes e eficazes; Ele o princpio de seu mrito e o aumento de sua graa e de sua glria.

Havendo nos anjos uma f viva em Jesus Cristo feito homem, foram justificados por esta f. Assim falam alguns telogos.Formosura dos anjos

Tendo sado Tobias, encontrou-se com um jovem de deslumbrante formosura que levava cingidas as vestes como um viajante pronto a pr-se em caminho (Tob. V, 4).

Nos livros dos Macabeus, v-se tambm descrito o esplendor dos anjos. Vrias vezes, tendo aparecido os anjos na antiga Lei, os homens os tomavam pelo prprio Deus e queriam ador-los... to formosos eram eles!

No cu, os anjos formam a corte do Rei dos reis; esto rodeados de formosura e de glria como de uma esplndida veste.Felicidade dos Anjos

Os anjos das crianas veem sempre a face de meu Pai que est nos cus, disse Jesus Cristo (Matth. VIII, 10) .

Parecia que eu comia e bebia convosco, disse o anjo a Tobias (pai e filho); porm, eu uso de um alimento invisvel e uma bebida que os homens no podem ver: Videbar quidem vobiscum manducare et bibere sed ego cibo invisibili et potu qui ab hominibus videri non potest utor (Tob. XII, 19).

Funes o anjo da guarda

O ministrio dos Anjos da Guarda consiste:

1. em afastar-nos os perigos, seja do corpo, seja da alma;2. em iluminar, instruir e inclinar-nos a bons pensamentos, a piedosos desejos e a obras santas; 3. em impedir que os demnios sugiram-nos maus pensamentos, em afastar as ocasies de pecado e em ajudar a vencer as tentaes;4. em oferecer a Deus as oraes daqueles que eles protegem;

5. em rogar por estes;

6. em corrigir os homens, se pecam;

7. em assistir-lhes na morte, fortificar-lhes, ajudar-lhes, consolar-lhes etc.;

8. em conduzir suas almas ao cu, depois da morte, e, se vo ao Purgatrio, em acompanh-las ali, e consol-las at que se achem livres.

O universo tem um anjo da guarda, cada nao, cada cidade, cada parquia, cada casa, cada pessoa em particular tem tambm o seu.

O Senhor, diz o Salmista, mandou a seus anjos que os guardem em todos os vossos caminhos: Angelis suis mandavit de te, ut custodiant te in omnibus viis tuis (Psalm. XC, 11). Levar-te-o em suas mos, para evitar que teu p tropece em alguma pedra: In manibus portabunt te, ne forte offendas ad lapidem pedem tuum (Psalm. XC, 12).

Vede, diz o Senhor no xodo, que enviarei meu anjo para que vos preceda, guarde-os no caminho e os introduza no lugar que vos tenho preparado. Respeitai e escutai sua voz, e guardai-vos de desprez-lo.

Tobias disse a seu filho e a seu guia: Oxal seja feliz vossa viagem: Deus vele em vosso caminho e seu anjo vos acompanhe! Tobias disse a sua esposa desconsolada pela marca de seu filho: No chores; nosso filho chegar ao trmino de sua viagem com boa sade, voltar entre ns da mesma maneira, e seus olhos o vero; porque creio que o anjo de Deus o acompanha, que tudo dispor em seu favor e que, por conseguinte, voltar pleno de alegria (Tob. V, 26-27). Ache-se o anjo santo do Senhor em vosso caminho, e vos preserve de todo perigo, disse Raguel ao filho Tobias, quando este partiu para regressar casa de seu pai.

Os anjos, diz a Escritura, esto de p, ante o Senhor. Estar de p ante Deus significa:

1. que estes anjos se dirigem a Deus e pedem-lhe sua divina luz para conhecer sua Vontade em suas funes;

2. que lhe oferecem as boas obras, os sacrifcios, as esmolas e as oraes dos homens;

3. que esto prontos a obedecer ao Senhor, como soldados preparados ao combate e como seus servidores;

4. que assistem aos juzos de Deus defendendo a causa dos homens contra as acusaes dos demnios, e aguardando a sentena; e

5. que permanecem diante de Deus para O louvar, para contemplar sua divina Face e gozar com esta vista de uma felicidade suprema. Esto sempre diante do Senhor, porque no cessam de desfrutar de sua presena.

Observai:

1. a dignidade da alma, posto que se lhe foi destinado um anjo para guard-la;

2. a humildade do anjo ao baixar-se at ns;

3. sua caridade;

4. nossa felicidade; e

5. a bondade de Deus.

Felicidade e vantagens que nos proporcionam os anjos

A presena dos santos anjos, diz Santo Antnio, dupla e amvel: no riem, no gritam, no falam; seno que, silenciosos, com bondade e doura, apressam-se a derramar em nossos coraes a alegria, o entusiasmo e a confiana. Porque o Senhor, que o manancial de toda alegria, est com eles. Ento, nosso esprito, sem turbao, antes, ao contrrio, sereno e tranquilo, fica iluminado com seus resplendores. Ento, a alma, plena do desejo das celestiais recompensas, buscando romper, se o pudesse, o crcere de seu corpo, e gemendo sob o peso de seus membros, apressa-se a ir com os anjos ao cu. A bondade dos anjos to grande, que se algum, atendida a fragilidade da condio humana, fica deslumbrado por sua claridade, afastam, em seguida, este temor e todo terror.

O mesmo Santo indica os sinais pelos quais se pode reconhecer a presena dos anjos maus, que so os demnios. Quando os maus espritos esto presentes, diz:

1. os nossos rostos pem-se tristes;2. ouvem-se rudos horrveis; 3. somos assaltados por pensamentos abominveis; 4. somos vtimas de movimentos desordenados, e a alma tem e experimenta certo estupor;5. excitam o dio, o pesar, o desgosto;

6. trazem-nos memria a recordao do mundo;

7. despertam-nos o sentimento de hav-lo abandonado;

8. fazem-nos temer a morte;

9. inflamam-nos a concupiscncia e fazem-nos experimentar cansao na virtude;

10. embotam-nos o corao.

Porm, se depois do temor vem a alegria, a confiana em Deus e a caridade, sabei que vosso anjo bom est ali; ele quem vos socorre, quem vos inspira e dirige (In vita Patr.).

O Deus vivo -me testemunha, diz Judite depois de haver cortado a cabea de Holofernes, que seu Anjo me guardou quando sa da cidade, durante minha permanncia no campo, e ao meu regresso. O Senhor no permitiu que eu, servidora sua, fosse manchada, seno que me permitiu voltar a vs sem que tenha sofrido nenhuma mancha, plena de alegria pela vitria que me deu, por minha salvao e por vossa liberdade (Judith XII, 2).

Quando Judas Macabeu e os seus iam combater junto aos muros de Jerusalm, um cavaleiro saiu-lhe ao encontro: ia com sua veste branca, tinha armas de ouro e agitava sua lana. Ento todos bendisseram juntos misericrdia do Senhor, plenos de confiana e prontos a desafiar no somente aos homens, seno s bestas mais ferozes, desprezando os muros de ferro. Iam, pois, apressadamente ajudados pelo cu, e o Senhor, infinitamente bom, velava por eles. Precipitaram-se como lees sobre seus inimigos e os destruram (II Mach. XI, 8-40). Com efeito, no h obstculos insuperveis, seres invencveis, nada impossvel, nada difcil para um Anjo.

Um anjo desceu at Azarias e seus companheiros na fornalha, e afastou as chamas. Fez soprar um vento fresco como a brisa da manh, e o fogo no alcanou nem lhes causou o menor mal (Dan. III, 49-50). Ento, Nabucodonosor, rompendo o silncio, exclamou: Bendito seja o Deus de Sidrac, de Misac e de Abdnago; Ele enviou seu anjo e libertou a seus servidores que creram Nele (Dan. III, 95).

O Deus a quem sirvo, disse Daniel na cova dos lees, enviou seu anjo, cerrou as bocas das feras, e no me fizeram dano algum (Dan. XI, 22).

So Pedro est aferrolhado: desce seu anjo, ilumina o crcere, rompe as cadeias do prncipe dos Apstolos, abre as portas e lhe diz: Levanta-te depressa. E no mesmo instante caram-lhe as cadeias das mos. Posto Pedro em liberdade e desaparecido de sua vista o anjo, caiu em si e disse: agora vejo que o Senhor me enviou seu anjo, libertou-me da mo de Herodes e da expectativa de todo o povo judeu.

O que devemos aos anjos da guarda.

Deus mandou a seus anjos que cuidem de vs (Psalm. XCIII). Quanto respeito e reconhecimento devem nos inspirar estas palavras, diz So Bernardo. Quanta confiana devem dar para o vosso Anjo da Guarda, quando respeito por sua presena, quanto reconhecimento por sua benevolncia e quanta confiana por seus desvelos! No faais diante dele o que no vos atreveis a fazer diante de mim. Quantum tibi debet hoc verbum infere reverentiam, affere devotionem, confere fiduciam! Reverentiam pro presentia, devotionem por benevolentia, fiduciam pro custodia tu ne audeas, illo praesente, quod, vidente me , non auderes (In Psalm. XC, Serm. XII).

Senhor, diz o Salmista, farei ouvir os cantos de vossa glria, na presena dos anjos: In conspectu angelorum psallam tibi (Psalm CXXXVII, 2).

Enviarei a meu anjo diante de vs, diz o Senhor, respeitai-o, escutai a sua voz e no o desprezeis, porque se fizeres algum mal, no o vos perdoar, e nele se acha o meu Nome. E se escutardes sua voz e observardes seus mandamentos, serei inimigo de vossos inimigos e afligirei aos que vos afligem (Ex. XXIII, 21-22).

Que vida devemos levar em sua presena

Como os anjos se ocupam em iluminar-nos, em purificar-nos e em fazer-nos perfeitos, devemos corresponder suas bondades... Devemos levar uma vida santa, ter costumes puros, viver em nosso corpo como em um corpo que no nos pertence, ser, em uma palavra, anjos na terra a fim de merecer estar reunidos com eles na manso de glria. So Paulo no-lo diz: J no sois estrangeiros nem migrantes, mas pertenceis cidade dos santos e casa de Deus: Jam non estis hospites et advenae, sed cives sanctorum et domestici Dei (Eph. II, 19).

preciso no perder de vista a presena de nossos Anjos Custdios; devemos rogar-lhes, falar-lhes frequentemente e dar-lhes graas...

preciso no lhes entristecer nem afligir-lhes com nossos pecados... os anjos da paz, diz Isaas, choravam amargamente: Angelis pacis amare flebant (Isai. XXXIII, 7). Evitemos-lhes essas lgrimas amargas, sejamos sua alegria.

Assim como a fumaa afugenta as abelhas, diz So Baslio, e o mal odor s pombas, assim o pecado, esta chaga miservel e asquerosa, afasta de ns o Anjo Custdio de nossa vida: Sicut fumus apes, et faetor columbas fugat, sic miserabile et putidum peccatum repellit vitae nostrae custodem angelum (In Psalm.). Fujamos, pois, do pecado, e evitemo-lo, j que inimigo mortal de Deus, dos anjos e dos homens.

Ecce ego mittam angelum meum qui praecedat te et custodiat in via et introducat ad locum quem paravi observa eum et audi vocem eius nec contemnendum putes (Ex. XXIII, 20, 21a).

Dixit bene ambuletis et sit Deus in itinere vestro et angelus eius comitetur vobiscum (Tob. 5, 20b).

Angelus Domini sanctus sit in itinere vestro perducatque vos incolomes (Tob. X, 11a).

Sentimento de tristeza ou pesar por haver abandonado o mundo e os seus vcios (Nota do tradutor).