09 - Caciporé Torres

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO ESTÉTICA E HISTÓRIA DA ARTE II CACIPORÉ TORRES Ingrid Neves Lorea Durana Marina Nicácio

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIEFACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

ESTÉTICA E HISTÓRIA DA ARTE II

CACIPORÉ TORRES

Ingrid Neves

Lorea Durana

Marina Nicácio

Patricia Putz

Renata De Sant’Anna

Victoria Magalhães

SUMÁRIO

1. Introdução.................................................................................................................p.2

2. Biografia....................................................................................................................p. 4

3. Obras........................................................................................................................p. 6

3.1 Características.............................................................................................p. 6

3.2 Obra metrô Santa Cecília............................................................................p. 8

3.3 Obra no Museu ao ar livre..........................................................................p.8

4. Conclusão.................................................................................................................p. 8

5. Referências Bibliográficas.........................................................................................p. 9

6. Anexos.....................................................................................................................p.10

1. INTRODUÇÃO

"Artista de forte personalidade, com uma linguagem escultórica própria, que se afasta desusadamente dos padrões que estamos acostumados a ver, Caciporé produz uma obra monumental, mesmo quando de dimensões menores, rigorosamente planejadas, que ora sintetizam um gesto torturado, um grito parado no ar, uma expansão controlada e bela em forma áspera e rude, ora as delicadas relações de forma, volume e espaço".

Enock Sacramento

Caciporé Torres é um artista inigualável e fundamental em se tratando da Arte

Moderna brasileira – a partir do final dos anos 40 até os dias de hoje. O presente

trabalho tem como objetivo situar o leitor quanto a quem é o artista, sua formação e

importância, por meio de sua produção artística.

Serão estudadas características de obras de Caciporé, para melhor entendimento

de seu modo de pensar e de sua poética. A pesquisa é sustentada por depoimentos de

artistas e críticos de arte, como Enock Sacramento, Jacob Klintowitz (1941), Walter

Zanini (1925 – 2013), José Geraldo Viera (1877 – 1977) e depoimentos do próprio

Caciporé Torres (1935).

"(...) Caciporé Torres é um dos escultores do monumento. Ele trabalha

com materiais industriais, brutos, coisas que parecem ter sido encontradas

num depósito. Objetos que não chamariam a atenção de nossos olhos

cansados e bombardeados por imagens incessantes. E, no entanto, tudo

adquire vida e significado, e o aço, os fios, o ferro, às vezes, o bronze,

formam um conjunto de signos reveladores. Linguagem da nossa época. É

uma obra feita de durezas, rigores e asperezas. E é tão inesperado isto, de

súbita doçura, referência à condição humana, lembranças do bicho homem,

da fragilidade e da perenidade de tudo. Uma superfície escolhida e

planejada, estendida e em desenvolvimento, erupções, cores, massas

ferozes e, no centro desse material larval da nossa sociedade, a lembrança

do torso, das pernas, da genitália. Em alguns momentos, Caciporé

interrompe essa ação vulcânica para elaborar sobre placas de bronze,

lembrar os tecidos ajustados por Fídias ao corpo grego, destacar uma

fímbria. Ele nos lembra de que o sonho tem face dupla, Janus. E o manifesto

integral da era inclui a face torturada da lua, as entranhas do metal

incandescente e o passo infantil do homem desligado da gravidade.

Caciporé Torres dedicou-se a marcar esse momento de erupção. Não

sabemos se ele é o vulcão ou a lava, a erupção ou Pompéia. É provável que

seja tudo e, neste mesmo momento, seja um espectador de si mesmo e de

nós todos. O que é verificável é que o seu trabalho se constituiu num dos

mais fortes testemunhos do nosso país, registro da transformação e aceno

das emoções e memórias básicas. Magma ardente".

Jacob Klintowitz

2. BIOGRAFIA

O escultor, desenhista e professor Caciporé de Sá Coutinho da Lamare Torres

nasceu em 1935, em Araçatuba, interior de São Paulo. Desde pequeno sempre teve

curiosidade e interesse pelo ramo das artes, além de ter tido a oportunidade de

aprender com mestres como o escultor Joaquim Figueira (1904-1943), o artista José

Cucé (1904-1961) e os desenhistas Di Cavalcanti (1897-1976) e Aldo Bonadei (1906-

1974). Época na qual adquiriu o conhecimento da anatomia humana, técnicas da

modelagem e do desenho para expressar fielmente a realidade.

“Nunca tive professor. Desde a idade de seis anos que

desenho e brinco com barro. Durante algum tempo frequentei o

atelier do escultor Figueira, que era amigo de minha família, mas

unicamente para vê-lo trabalhar.”

CACIPORÉ é uma revelação, Folha da Noite, São Paulo, 08 jan.1949.

Suas obras, a princípio figurativas, foram se distanciando progressivamente de

uma mera reprodução da realidade. Mas, diferente dos artistas da época, Caciporé as

fez com uma maestria peculiar ao representar as formas de uma maneira simplificada,

descuidando-se do acabamento, mas preservando a identificação do modelo.

Em 1951, participou da primeira Bienal de São Paulo, aos 16 anos, chamando a

atenção de críticos nacionais e internacionais. Foi contemplado com um período de

dois anos de estudo na Europa, que teve base principalmente em Roma e Paris. A

partir desse incentivo, o jovem artista construiu uma trajetória sólida, equilibrada,

dotada de personalidade própria e de constante aperfeiçoamento.

Ele permaneceu por lá até 1967, dividindo-se entre Europa e Brasil. No exterior,

fez amizade com notórios artistas como o escultor Marino Marini (1901-1980), o pintor

brasileiro Antonio Bandeira (1922-1967), dentre outros. Ainda em Paris, estudou

francês na Aliança Francesa, História da Arte e Cultura e Civilização Francesa na

Sorbonne, e desenho na academia Grand-Chaumière. Além de trabalhar em

renomados ateliês e como operário numa indústria metalúrgica em Bruxelas (1957)

para aprender métodos da fundição em bronze e ferro.

Essa oportunidade de viver entre Brasil e Europa entre 1952 e 1967, fez

Caciporé Torres absorver diferentes ideias. Assim sendo, o artista direciona sua antiga

linguagem estética com experiências que partem do figurativo para a abstração

formal. Caciporé conta que resolveu usar ferro por ser um material bem mais barato

que o bronze, embora sujeito a ferrugem e apresente coloração opaca.

Ao regressar ao Brasil, em 1967, Caciporé observou que a arquitetura brasileira,

graças à construção de Brasília, era admirada internacionalmente. E, aspirando levar

sua arte para um público cada vez maior, se inseriu entre os grandes projetos

arquitetônicos e urbanos. Segundo Flávia Rudge Ramos, “estes trabalhos de grandes

dimensões exigem um planejamento anterior, e com desenho e maquete. Depois que

a construção da obra com chapas metálicas é concluída, o acabamento consiste no

polimento do aço e na galvanização para evitar a corrosão. As emendas e as marcas de

solda são deixadas visíveis, como testemunho do processo construtivo, sendo possível

deste modo, conhecer todas as partes que formam o todo do trabalho.

São inúmeros prêmios conquistados pelo artista, dentre eles, quatro

premiações na Bienal de São Paulo, melhor escultor brasileiro pela APCA (Associaçãao

Paulista de Críticos de Artes), o Premio Nacional de Brasília de Escultura, durante o II

Salão de Arte Moderna do Distrito Federal (Brasília/DF), Prêmio Trayectoria, IV Salón

Internacional de Escultura Contemporánea, Museo Metropolitano (Buenos

Aires/Argentina), entre outros. Já expôs suas obras em museus renomados como

Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte de São Paulo, Museu de Arte

Contemporânea de São Paulo, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, entre

outros. Lecionou na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e na Universidade

Presbiteriana Mackenzie.

O artista já expôs suas obras em museus renomados do Brasil e do mundo,

como o Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte de São Paulo, Museu de

Arte Contemporânea de São Paulo, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, entre

outros. Caciporé possui obras expostas permanentes em marcos turísticos de São

Paulo, sendo a Praça da Sé e a Biblioteca Pública de São Paulo dois exemplos

relevantes.

3. OBRAS

3.1 CARACTERÍSTICAS

"Caciporé Torres, que nos anos 50 estudou na Europa (em Paris, sobretudo),

alcançou maturidade ao definir-se por construções maciças não-

representativas e expressionistas. Valeu-se do ferro fundido e, cogitando a

escultura como coisa pública, passou a elaborá-la em grandes volumes

articulados pela solda, usando o aço inox no estado de sucata. A forma

cilíndrica tem sido um elemento básico neste escultor do metal, de

concepção ´brutalista´, compenetrado de que sua arte possui destinação

social, objetivo escassamente observado em nosso meio. Quando, aliás, a

intenção ocorreu em larga escala, a exemplo da participação de escultores

na difícil espacialidade da nova Praça da Sé, em São Paulo, constatou-se não

raro carência de melhor adaptação entre obras e ambiente".

Walter Zanini

O artista tem uma visão de mundo bem definida e isso se reflete em suas obras.

Com materiais pouco convencionais, o ferro e o aço e, com uma plasticidade inata, os

transforma em pura sensação.

Quando questionado a respeito de seu estilo de criação – se é expressionista -,

Caciporé dá a entender que não liga para classificações¹.

Em depoimento dado na exposição Viver São Paulo (2009), Caciporé discorre

sobre seu engajamento social e sua coexistência na criação de suas obras:

“Quando voltei da Europa, onde vivi por quase 10 anos, fiz questão

de adaptar minha arte a uma coisa muito importante, que vem a ser a

arquitetura. E com isso, eu trabalho sempre com o espaço arquitetônico, o

espaço paisagístico e até o espaço decorativo. Integro minha obra a esse

espaço. Acho muito importante porque integra e da uma função social ao

trabalho, a obra em si. Com isso eu sou o escultor que tem o maior número

de obras em espaço aberto, do Brasil. Só em São Paulo, tem perto de 60

obras. Então, é uma integração plena e absoluta com o espaço urbano-

arquitetônico. Quando eu trabalho, trabalho em função disso”

Caciporé Torres

Em 2010, Caciporé Torres concedeu uma entrevista a revista “Cadernos e

Cidadania SESC”²i, onde mostrou que a poética de suas obras é a interação real com a

cidade:

"A escultura, a pintura, arte em geral, não deve só procurar a beleza

estética, decorativa. Arte é você transmitir sua sensibilidade criativa,

intuitivamente representar sua época. Julgo meu trabalho bonito dentro da

agressividade, e agora vou fazer de tudo para levar minha arte às favelas,

locais igualmente considerados violentos, brutos e esquecidos"

Caciporé Torres

3.2 OBRA METRÔ SANTA CECÍLIA (1991)

Como exemplo de suas obras de uso público, mas com uma gama de materiais

um pouco diferente de seu usual, Caciporé criou a obra do metrô Santa Cecília.

O artista usou o aço, pó de mármore e cimento branco e aplicou sua técnica de

fundição do aço para dar vida ao painel de 700 kg e dimensões de 12,00 m x 2,00m.

3.3 OBRA NO MUSEU AO AR LIVRE (1976)

A Fundação Armando Álvares Penteado teve uma iniciativa privada de criar um

conjunto de artes públicas e em 1970 criou-se o Museu ao ar livre. O museu é

localizado na quadra do bairro do Pacaembu, que fica na confluência das Rua Alagoas e

Armando Penteado e conta com uma área de aproximadamente 2540m².

A obra de Caciporé que foi exposta nesse museu ao ar livre é de aço inoxidável, 500 x

240 x 110 e possui um embassamento com a forma de uma metade de uma esfera, e a

partir disso, parte com uma sobreposição de discos e cilindros, buscando movimento

no espaço.

4. CONCLUSÃO

Podemos concluir após o desenvolvimento deste artigo que Caciporé Torres foi e

ainda é um dos grandes escultores brasileiros, tendo o seu reconhecimento afirmado

ainda mais com o passar dos anos.

Em suas obras percebemos a vontade de mostrar como tudo pode se

transformar, Caciporé tenta resgatar através de materiais rígidos, uma arte abstrata,

cheia de movimento e, mesmo que partindo de algo rígido, ao final mostra sua leveza.

Observamos também a preocupação de se criar uma obra de arte que chegue

aos nossos olhos de forma harmoniosa e, ao mesmo tempo, intrigante. Talvez suas

obras tenham um significado diferente para cada pessoa, ou talvez tenha um

significado que apenas o artista sabe. Mas o importante é saber que aquela obra de

arte esta despertando algum sentimento em você, que esteja mexendo com seus

sentidos. Sendo esse o principal objetivo de todo artista, mostrar que a obra de arte

esta ali, exposta na nossa em frente, passando-se despercebida, apenas esperando o

momento de ser descoberta.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMARAL, Aracy A. Artes Plásticas na semana de 22. Ed. 2001

KLINTOWITZ, Jacob. O ofício da arte: a escultura. São Paulo: Sesc, 1988. p. 196

MORAIS, Carolina Silveira Gomes de; MARTINS, Mirian Celeste Ferreira Dias. A arte

contemporânea e os professores de artes visuais. Sao Paulo, 2012

RUDGE, Flávia Ramos. Caciporé: A arte do aço. São Paulo, 2012.

TIRAPELI, Percival. Arte Brasileira: arte moderna e contemporânea figuração,

abstração e novos meios: século 20 e 21. São Paulo, 2006

ZANINI, Walter, org. História geral da arte no Brasil. Apres. Walther Moreira Salles. São

Paulo: Instituto Walther Moreira Salles: Fundação Djalma Guimarães, 1983. v. 2, p.

769.

http://www.art-bonobo.com/caciporetorres acessado em 10/03/2013

http://www.sampa.art.br/biografias/caciporetorres acessado em 10/03/2013

Cadernos de Cidadania SESC - Dia mundial do meio ambiente, 5 de junho de 2010

Ano I número II, disponível em http://www.sescsp.org.br/sesc/download/caderno-

cidadania-2.pdf acessado em 12/03/2013

i Depoimento do artista ao Jornal Folha da Noite, São Paulo, 08 de janeiro de 1949 “(...)Mario Pedrosa, que conhece o que faço, diz que sou expressionista. Pode ser que ele tenha razão, mas isso francamente não me interessa.”

² Vídeo digitalizado da exposição Viver São Paulo (2009)Disponível em: http://mais.uol.com.br/view/85r7d735pwrw/cacipore-torres-na-exposicao-viver-sao-paulo-04023464CCA18346?types=AData de acesso: 12/03/2013

6. ANEXOS

Figura 01: Obra no Metro Santa Cecília

http://paulinotarraf.wordpress.com/tag/cacipore-jardim-das-esculturas-metro-santa-cecilia/#jp-carousel-3126

Figura 02: Obra na Fundação Armando Álvares Penteado, no Museu ao ar Livre

RUDGE, Flávia Ramos. Caciporé: A arte do aço. São Paulo, 2012.