(09) ELEY, Geoff. Forjando a Democracia - A História da Esquerda na Europa. pp. 73-113.pdf

22
ELEY,Geoff. A História da Esquerda na Europa. São Paulo: Abramo, 2005. pp.73-113 INDUSTRIALIZAÇÃO E FORMAÇÃO DA CLASSE TRABALHADORA DURANTE A "DUPLA REVOLUÇÃO" ENTRE AS décadas de 1780 e 1840 - a industrializa- ção na Grã-Bretanha e a agitação política na França -, classe passou a ser o nome moderno de divisões sociais. Assim como "indústria" ou "democracia", "classe" pas- sou a ser uma palavra-chave moderna. Os termos "socialismo", "classe trabalhadora" e "proletariado" apareceram na Grã-Bretanha e na França no início dos anos 1830 e, na Alemanha, uma década mais tarde. A terminologia então se polarizou em "operário" e "burguês" durante o terceiro quartel do século XIX na esteira das revoluções fracassa- das de 1848, quando o capitalismo iniciou seu primeiro boom mundial I. O aperfeiçoa- mento da maquinaria, o vapor como força motriz, as fábricas e ferrovias tornaram-se cada vez mais os sinais do progresso na Europa, e, como a primeira sociedade a se industrializar, a Grã-Bretanha apontava um futuro assustador, ainda que excitante e necessário. Ademais, as novas concentrações industriais pressagiavam uma presença nova e perigosa na sociedade, problemática e resistente ao controle social e político. A indústria trouxe o "problema social". N.QYªsJ~l]l1~_çler.el@lame~ão se fa-: ziam necessárias para áreas como s_aúdepública, moradia, educação, assistência aos _p_QQres, recreação e criminalidade. P~-;:-ailldustrial;;;-çio c~11tinh~um'àame;ç;;p;;Íí- I' tica, Ai-;-dÓstrtager~~;s~rgi;;rrto de uma classe trabalhadora que não tinha partici- pação na nova ordem emergente nem nas suas leis, Para a sociedade culta, a ação coletiva das massas trabalhadoras se tornou uma ansiedade constante e, para enfrentar esses medos, traçaram-se distinções entre os trabalhadores "respeitáveis" e os outros. Para essa forma de pensar, o trabalhador qualificado se desmoralizava num ambiente urbano insalubre, sendo corrompido pela indigência criminosa e seduzido para o radi- calismo pelos socialistas e outros agitadores. No entanto, os agitadores, por sua vez, chegavam a conclusões contrárias. Os advogados socialistas do proletariado dotado de consciência de classe viam nas comunidades trabalhadoras uma unidade essencial de I i I L, 73 I

Transcript of (09) ELEY, Geoff. Forjando a Democracia - A História da Esquerda na Europa. pp. 73-113.pdf

Page 1: (09) ELEY, Geoff. Forjando a Democracia - A História da Esquerda na Europa. pp. 73-113.pdf

ELEY,Geoff. A História da Esquerda na Europa. São Paulo: Abramo, 2005. pp.73-113

INDUSTRIALIZAÇÃO EFORMAÇÃO DA CLASSETRABALHADORA

DURANTE A "DUPLA REVOLUÇÃO" ENTRE AS décadas de 1780 e 1840 - a industrializa-ção na Grã-Bretanha e a agitação política na França -, classe passou a ser o nomemoderno de divisões sociais. Assim como "indústria" ou "democracia", "classe" pas-sou a ser uma palavra-chave moderna. Os termos "socialismo", "classe trabalhadora" e"proletariado" apareceram na Grã-Bretanha e na França no início dos anos 1830 e, naAlemanha, uma década mais tarde. A terminologia então se polarizou em "operário" e"burguês" durante o terceiro quartel do século XIX na esteira das revoluções fracassa-das de 1848, quando o capitalismo iniciou seu primeiro boom mundial I. O aperfeiçoa-mento da maquinaria, o vapor como força motriz, as fábricas e ferrovias tornaram-secada vez mais os sinais do progresso na Europa, e, como a primeira sociedade a seindustrializar, a Grã-Bretanha apontava um futuro assustador, ainda que excitante enecessário. Ademais, as novas concentrações industriais pressagiavam uma presençanova e perigosa na sociedade, problemática e resistente ao controle social e político.

A indústria trouxe o "problema social". N.QYªsJ~l]l1~_çler.el@lame~ão se fa-:ziam necessárias para áreas como s_aúdepública, moradia, educação, assistência aos

_p_QQres,recreação e criminalidade. P~-;:-ailldustrial;;;-çio c~11tinh~um'àame;ç;;p;;Íí- I'

tica, A i-;-dÓstrtager~~;s~rgi;;rrto de uma classe trabalhadora que não tinha partici-pação na nova ordem emergente nem nas suas leis, Para a sociedade culta, a açãocoletiva das massas trabalhadoras se tornou uma ansiedade constante e, para enfrentaresses medos, traçaram-se distinções entre os trabalhadores "respeitáveis" e os outros.Para essa forma de pensar, o trabalhador qualificado se desmoralizava num ambienteurbano insalubre, sendo corrompido pela indigência criminosa e seduzido para o radi-calismo pelos socialistas e outros agitadores. No entanto, os agitadores, por sua vez,chegavam a conclusões contrárias. Os advogados socialistas do proletariado dotado deconsciência de classe viam nas comunidades trabalhadoras uma unidade essencial de

IiIL,

73

I

Page 2: (09) ELEY, Geoff. Forjando a Democracia - A História da Esquerda na Europa. pp. 73-113.pdf

FOR.JANOO A DEivlOCRAClA

objetivos, sustentada pela lógica do crescimento capitalista. Este capítulo, ao traçar umesboço da classe trabalhadora que surgia para a história social, fornece uma estruturapara avaliar essas afirmações. Como se justificavam as esperanças socialistas?

UM MUNDO NOVO DA INDÚSTRIA

I.,

A desigualdade era essencial para a industrialização européia anterior a 1914. O capi-talismo raramente modificava por completo as velhas paisagens, transformando árvo-res em chaminés e campos em fábricas. O ritmo de desen volvimento era muito variado,tanto entre sociedades como em seu interior, gerando combinações complexas de pro-dução avançada, atrasada e híbrida em regiões contíguas, em geral mutuamente depen-

( dentes das respectivas formas de especialização. O dinamismo, na verdade, impunha o!! atraso a essa dialética de dependência, gerando mercados de trabalho ~ovos e turbulen-. tos, migrações em .!:f1.?.l'_S-,'Lggcampo e uma nova topografia urba~~, mas também gerava

j , - .- .. ' ,,- ,,_. ~-"--'--- - - ..-.,' "-"--"---

. il]~!is.açõ~~I1)uito.m_~~~ rica~ ~1~~~~~l~ú.s.t~i~.e'1.g~i~ltura, entre produção "moderna"e produção "tradicional" e entre empresas grandes e pequenas do que imaginaram as

'. previsões mais agressivas.Essa desigualdade de industrialização entre países e regiões e as variações resul-

tantes nas populações operárias criaram enormes problemas estratégicos para a esquer-da. Os partidos socialistas se apresentavam como partidos da classe trabalhadora que,em razão da industrialização, deveria supostamente estar se transformando na maioriaesmagadora da sociedade. Ainda assim, por toda parte na Europa, esses partidos en-frentavam populações mistas, em que milhões ainda estavam empregados na agricultu-ra e em outras ocupações "tradicionais". O operariado não tinha se tomado a esmaga-dora maioria da sociedade, embora uma grande quantidade de proletários se concen-trassem em determinados lugares e amiúde em regiões inteiras. Mesmo na Grã-Bretanha,onde a proletarização havia avançado mais, o pico foi atingido na Primeira Guerra

~\ ~ 1: Mundial: depois dela, o número de trabalhadores manuais se reduziu, passando de três

". 'j q~rt()s P~;,1_J!l.~~~_d.~_~nl!~!:çOdapop~l_a!~~,~p!.~fad~O ..Bssa foi a.tendên-/' 'ç"litg~r,!l çI,lS econqIIli.a.s,ÍIJlli!.w-iais. No momento mesmo em que a mão-de-obra chega-

va ao seu máximo, a reestruturação de longo prazo transferia os empregos para as: profissões de colarinho branco e outras atividades em serviços.

Essas tendências desafiavam as premissas da esquerda. Se a 16gica da formação de'classes desobedecesse às previsões de Marx, quais seriam as conseqüências para a polí-tica operária? Se a imagem típica do proletariado - o trabalhador manual nas fábricas,

. fundições e minas, nos estaleiros, docas e ferrovias - ficava cada vez mais diferente da: população realmente empregada durante o século xx, como era então a classe trabalha-idora nos períodos pioneiros anteriores? Como se poderia definir a classe trabalhadora?

De acordo com a mais simples das definições de Marx, a classe trabalhadora eraaquela que não detinha a propriedade nem o controle dos meios ou condições de pro-

74ft/t,rL.:~.

INDUSTRI,\LIZi\ÇÃO E FOR;VIAÇÃO DA CLASSE TRALlALHADOR/\

dução. Os trabalhadores eram uma classe de produtores diretos que - ao contrário doscamponeses agricultores ou artesãos qualificados - já não tinham mais meios indepen-dentes de subsistência, nem mesmo seus próprios instrumentos. Tudo o que tinham eraa capacidade de trabalho que vendiam ao empregador, um capitalista, em troca dosalário. J2.wu;.riaresses.operáriQ,s .•..G.fª!1.e,cess;íü:Hl P!:91~.tarizaçãQ.accl~-ª-qa. Era neces- -\sário roubar a independência dos pequenos produtores nas cidades e no campo - fosse ;na agricultura do camponês livre, no trabalho servil nas grandes propriedades, nascombinações de subsistência familiar de agricultura, criação e indústria doméstica, noartesanato rural, fosse nas pequenas oficinas urbanas. A força de trabalho precisava se . <.libertar de todas as tradicionais restrições legais, sociais e culturais, converter-se numamercadoria livremente negociada no mercado capitalista. Os produtores diretos tinhamde ser separados dos meios de produção e forçados ao trabalho dependente. O acessoaos meios de subsistência s6 seria assegurado pelo salário, num processo de trabalhocontrolado pelo capitalista. O trabalhador tinha de ser duplamente "libertado": dasvelhas obrigações feudais e de todas as bases da subsistência independente ligadas à ,/propriedade.

Marx deu a isso o nome de "acumulação primitiva". Ela criou as precondições daindustrialização capitalista na Grã-Bretanha de 1500 a 1800. Os camponeses foram ex-pulsos da terra e convertidos em trabalhadores sem terra: ou trabalhavam para o fazen-deiro capitalista ou migravam para as cidades em busca de trabalho. Simultaneamente, as

pequenas oficinas dos artesãos fªíran~,.!!!1_IJ.1~~~!r?~l!!!:.~~.!:.~~liza2a,controlada D~.~!1S~ir3-mente Q~l~~~.~lJ_~.<~lJççJl!rad_~m"-f)J ...e_sob..\!Jll.ú.!liC;9J~2!lasfá_b!Í:~ª~.~~~s~Ri1l.:~Ç~9_~<2EO-f!1~.m..dQ...f.:±_rr.:!P"?j~.~u.ªsubsistência_também. criou. novos mercadosde t

Rroduto.s,.~t!qJ_~.!:·ms!.º}}_!}.gr:i9!-!Jl:!!~_c;-ºm.e[ç@l.~!;LC~.r~~~!,r::~nt~,?~l,nd(j.slri.?'" ' .A transformação dó c'ámpo deu ímpeto à industrialização capitalistaSe a manufa- ,

tura dava aos capit~Ú~ta's-~·~~nt;ole dos m~ios de produção por nleiõ- das novas rela-ções de propriedade, a mecanização trouxe o controle do processo de trabalho ao com-pletar a subordinação do operário às suas necessidades técnicas. Substituir uma divi- ;são do trabalho baseada no trabalho manual por outra baseada em máquinas foi o pa;;sorealmente revolucionário. do progresso do capital, tornando a produção menos depen-dente das habilid;des manuais do trabalhador ~ aumentando-a enormemente? . 'Àéele-rou-se entãoa~~~~~~t;;ç5~ -~~~-fâb~Icas,-pel~;:eà·rganização do local déirabalho e

pela c,:?!1"'y"~~aç~9...da.S-I!e.sg.Y.a~_cl~__~~o-de~gEra Ji.J::~~adª-PE~eerda d_~Q~p~_e.g.lld.e_,ru,-..~~I~_Foi então possível desdobrar a lógica de longo prazo da industrialização capitalis-ta, desde a implacável polarização da estrutura de classes entre uma minoria de capita-listas e uma categoria em expansão de trabalhadores 9té.ap~(Jlet.azi,zaçãocontÍnua dosgnlQos intermediários, cçrno a dos pequenos proprietários de terra, artesãos e peque- i

l}ose-mp;;ãri~~:·;~'·~;es_c~~t~·h~~~~9g~n~i~?ç1í9dª d;s~e-tr~bªlh''!Çiqr~. Na ~sfera polí- \tica, isso g~~~~,?basedos movimentos Open}r.ig.s.,com o crescimento da consciência de )classe em tomo dos interesses coletivos dos trabalhadores. -' - -.-----

... ---.__ ._-_._--._---- ".__ ._--- -~.". - ..-._ ...• _.~.....~•.. - ....

~

....:.

75

I

Page 3: (09) ELEY, Geoff. Forjando a Democracia - A História da Esquerda na Europa. pp. 73-113.pdf

FORJANDO A DEM OCRACr A

Contudo, 1r.,,!ado COlTlO.<;les-'riÇ.~touJÜ.v.er~ªI, c. não.c.ümo._~~.!~~t~1!.a..~_~_n..~~i!u_aJ."pa-seada no caso britânico~ esse modelo apresenta dois grandes problemas. Primeiro, sim-plif;Cã"~~~isi~-;m~~ie· ()P~~~~~;o-:Máq~i-n;s--~ -iáb~i~·a;f~;·~~Jne·~õsimportantes do

que se supunha. ~_r.e.~?lução ind~.~tri(lLf~i f~i~il.~f!1_m!~d,!!!'<.~~c.u~uJ'!!b/'!~Jlão foiuin;i?ig~b.(/ng. &leçnQlogiaS_D1.!lJ1~?i~, e não a mecanização, bem como" prQdJl.s;Aoi~-siva elo.trabalho no campo, dispersa e em pequena esça.l~, e não a produção em massanas cidades, foram a norma. No início, o capitalismo explorou as fontes mais baratasde mão-de-obra que havia no campo, onde se podia usar 3S tecnologias mais simples eonde a contribuição das famílias rurais para a própria subsistência mantinha baixos ossalários. Talvez não houvesse incentivo suficiente para dar o salto para as fábricas. Eestas não eram resquícios "pré-industriais" que deveriam desaparecer com a marcha do

progresso. Em 1914, a indústria !ngles<! ilÍ1!çjªll.~<}v.~~.m!-li~º ~r'!º-ªl~~~_CJue o dasmáquinas, Il}ill1Jçnd'?::,.~p~lº.~s.fo..!.Ǻ--físic()_<J~_s~u~t!~~hal.h.a_d2r.:~~A produção de car-vão malchego~~dobraLf:ntre-J 8j~~, .\J.14~êmes.!iio·assi;; dobrando a mão-de-obra,com ~Iyaflço~ g<::J20l~01im2QI1.ª[)ÇÜUlQLJll~_~QºQ.s.A indústria inglesa evitou a mecani-zação, prefs:.!irldo usar maciçamente a mão-de-obra e reImando o uso de instrumentos....-' - _.~- ---, .... --.•, ....- .- ... -'--' , '.' ".., , .•._----

I !BaJ)u~i~. O processo de trabalho dependia "d..eJ:~sa, e h_abilic!~dc,rll2içl~.z_ecerteza dei toque..do_emplegaQçÜD~.ivi<l1!.,!I, e não das operações simultâneas e repetitivas da má-Lquina"3.

Daí seguem-se várias conclusões. Em primeiro lugar, como havia diversos carni-J~~.?SP.~.r~~.~~.l!.~!.i~lizaç.!!.o,as relações de classe entre capitalistaseoperários podiamassumir diversas formas. Em segundo lugar, nillL~~_p'Q.º~jdentificar.?-E..<1pitalismo in-qlJ.striéllélP'e!1~~_<::()1!lfábricasemáquinas. Não só persistiram velhos padrões de traba-lho manual e pequenas unidades. como também o capitalismo inventou continuamente

. novas formas.de.pequenaescala, entre as quais o trabalho'precarizadq'' ou ca~a; manufatura qualificada e especializada". Por fim, s.~_é),jnd.ústriasimplesmente não exi-i ..--_._-_

J' ~i~ '!rn.eçani~.aç"i!.~ a .r.euni~(? ~_E~~l]~._d~_0~0-de-o~·a ou um mercado eE:._e~~,

,tanto mais importante era então a rn~da'!.ça nas r~la.'<.i:>~s.n()sl()Caisc!~abalho. Não era; apenas uma questão de propriedade ou não dos meios de produção, ~;.-& todas as\,Jonnas elllJl!!~Sl:...re_aJi~aY~Lº-tn~~alho em si.

Isso levanta um segundo problemada abordagem marxista clássica. Modelos li-neares de il1;g.ustriali.~aç.ã9jãQ simp-l.ifi.Ç(lçQe~~~~c:!-~d~sda formaçã~'d~ classe operá-ria, pois implicam um ajuste muito próximo entre o prog~~'~~odo.s:ªQjt~liim9~-~s-

. ~[me.nJo da consciência de çJass~. À medida que um proletariado crescente se concen-trava cada vez mais nos novos centros urbano-industriais, a2 máquinas.eliminaY~!l:l_~sdistinções entre tipos de trabalhoe o sjsteJ!lil de._~alªri.º~..~If!i(oxmizava as condiçõ_é:~,?evidados trabalhadores, pensava Marx, a classe operária iria adquirindo consciênciaunificada. N~sse modelo, a exploração forçaria os trabalhadores à solidariedade, aprincípio defensiva, nos clubes locais ou daquela base industrial, em busca de ajudamútua, depois com maior confiança, nos sindicatos nacionalmente organizados, e, por

76

JNDtJSTRIALlZAÇÃO E FORMAÇÃO DA CLASSE TRABAl.HADORA

fim, politicamente, num partido revolucionário. Ao longo de todo o processo, adialética('!~ç1assç~º-e_consci_~.~~iª-d.~...fIª_~~ç_e.§'\'!f.iª)jga_d:ll,:its.)11 udanças .na .p~se econômica: as.l~i§.qll.~ goYemay_aPl.Q.!nºqº.9~2T9qllçã().capi~~li~.ta. tinham efeitos sociais que deter-minavarnosurgimento do movimento da classe trabalhadora. qs marxistas expressa-vam isso com a famosa frase que distinguia a classe "em si" da classe "para si". Dessamaneira, acreditavam eles, as formas de organização coletiva da classe trabalhadora (ea vitória final do socialismo)~-;;~~-am i';;C[ii.~s:-;q-~·P;o~~ss~s~rni~r;.;os de p;od~ção.

caI'ita}i~~. ~0J!l a expansão do capital, criavam-se também as condições para que aclasse trabalhadorase organizasse". .

Çomo guia para orientar o comportamento da classe trabalhadora nas sociedadesreais, ~s~~an:ál;~e~;l~~p:{~-f~i;~~~~:-Ã~i;ss~ trab~ih;;d~~~ s~ id-~~tir;cava m~ito f~cil.mente com a relação de salário em forma pura: o trabalhador autêntico, o verdadeiroproletário, era o operário de fábrica. De acordo com esse argumento, a desigualdade daindustrialização e seus diversos ambientes certamente eram importantes, mas, em últimaanálise, ainda mais importante era a produção em massa nas fábricas (e nas minas, noscanteiros de obras, nos sistemas de transporte, nas docas). Daí, os movimentos operáriosmais fortes se identificaram facilmente com a "indústria realmente moderna". De acordocom essa visão, as formas de produção em pequena escala, principalmente a indústriaartesanal em pequenas oficinas, ainda que mais duradouras do que se supunha, eramtransitórias e estavam condenadas a desaparecer. À medida que a indústria crescia, maisbaseada em máquinas e mais concentrada, a formação de classe tomava-se mais "avança-da" e o movimento operário, mais "maduro". O conjunto da classe trabalhadora nunca se .resumiria à relação proletária "pura" entre o trabalhador sem qualificação e posses e ocapitalista. Sempre haveria formas de produção auxiliar. Não obstante, os operários na

/

indústria seriam a vanguarda, e os OUl1'OS trabalhadores os seguiriam .A história provou que essa visão estava errada. Os trabalhadores eram recrutados I

por muitos meios diferentes' - acumulação ·pri;.;.;itTvae expulsão dos camponeses. da ,terra .eraI1!..-ª2~!as.9g!s..desse~.r~~ios.- Os· tr~b"aih;d·~res foram levados à dependência idos salários por muitos outros caminhos - agricultura comercial, indústria doméstica,artesanatos urbanos, densa economia de serviços da infra-estrutura urbana, trivializaçãodas profissões e do trabalho precarizado, bem como fábricas, minas e produção indus-trial estereotípica. Por toda a Europa, diferentes regimes de trabalho se misturavam. A ;

,. .. ...• .. . ... .....-_.-- - .. ... ...• . (\

Pnissia Oriental usava, em suas fazendas comerciais, o pequeno campesinato depen- :dente, bem como grandes massas de trabalhadores rnigrantes. As do Vale do PÓusavamtanto o trabalho assalariado como o sistema de meias. A indústria doméstica e a peque-na propriedade rural eram por definição interligadas. Ademais, alguns ambientes pro-letarizavam mais que outros. Os grandes sistemas agropecuários, a indústria dOJT1_~s_t!cae a gr.~nde p_~~~~ç.ão)Tldllst.r~~l.mplicavam necessariamente a criação de proletaria?os,mas "a agricultura especializada, a agricultura campesina e o artesanato urbano" nem /sempre",

77

I

Page 4: (09) ELEY, Geoff. Forjando a Democracia - A História da Esquerda na Europa. pp. 73-113.pdf

FORJANDO A DEMOCRACIA

~

Esses processos variavam muito conforme a região. N"a Saxônia, bem como emmuitas outras regiões, o proletariado era recrutado especialmente no campo entre pes-soas que já rese.l?illm..~.ªL<\rl.2~,e não entre pess oas recém-saídas de outras classes. Até1820, grande parte da indústria inglesa se desenvol veu assim, inclusive as primeirasindústrias têxteis. tloutros casQ~.e~nlentQ social era repentino e agudo, tantoI!l.lIis drástico quanto..roais..t.ar:dia....uáp.idaJ~ a.i.ijçlJlsJri.alizaçãn....A enorme ex pansão

das JlIi?~S2~.s.~fYjí.(),no finªl..9º~cuIQXI2C, 110Ruhr, na Silésia, no sul do País de Galese em partes da França se valeu, em grande parte, do recrutamento deJ?~~lações ruraisem migração, como também o fizeram as novas indústrias na Itália e na RúsSiã:E"SSes

-'-d',.., .••..•' "\ ~.,. ~~•.__ •.•~_u._. __.._._ , ._ ,_ ._._..... . . __ ._.,•.. __ _.__ ~ _

diferentes caminhos para a proletarização tiveram sem dúvida enormes implicações. para as específicas sociedades operárias que daí resultariam.

'f.'

~"'./

GÊNERO, QUALIFICAÇÃO E SOCIALISMO

,,'. .;,!Na verdade,ib':.l!!1lç1-ª.Q.e.~fhLçJ-ª~_setraQ.,tlh..illJ9ta.WU.!.m.ª_RL.ok~ ideal, uma abstração"' ~ ;ª_ P?~F_<!~l~_~.i~Jºri.<l1,-ç1.e.JIJ<!.Il$t.rL:)J.iJª~!l9_1!ÇÇJ!l.(L0!ZUIUe..~~.<!~~~J.1vol~i.am_de modo

d~~Qr.d~!}~9.oe desigua], e cuja concentração visível de operários pobres certamenteimpressionou os contemporâneos, mas ainda demandaria ação sustentada antes de ca-racterizar um padrão. A partir da década de 1830, novas coortes de intérpretes, arma-dos com as novas linguagens de "classe", começaram a organizar este mundo social.

-Cl ._; "Classe".p-<l~1Q.1U15er..uma.fQOl1ade_racionaliz.ar.os fatos di visórios.da.indust riillizaçãn, - os múltiplos regimes de acumulação do capitalismo, os mercados de trabalho, as

divisões do trabalho, as tecnologias de especialização, as relações no local de trabalho,os sistemas de salários e todas as formas de dividir e unir os trabalhadores. Tambémdescrevia os novos cenários sociais, tanto os p~'l<!rõesemergent~_.d.~.!:esid~ncia e segre-~ão urbal!!. como as ç1e"sjgm!!9ª4~cm.~~~~r_éW.iL'D ..~~.,ºPQ.ú!!!!i.çl.ades...oe.~sç!l!.0"~.I1!t:;sg!:,up,?-s..Quando práticas organizadas também se formaram em tomo dessasnovas interpretações, tais como ação governamental, trabalho religioso e de caridade,clubes políticos e, finalmente, partidos socialistas e sindicatos, as linguagens de classe

, ganharam um peso maior. Desse modo, "classe" oferecia um poderoso arsenal de defi-: nições, adaptando experiências díspares à forma de uma identidade social unificada.

À medida que os movimentos operários começaram a se formar na França, naBélgica, na Alemanha e na Grã-Bretanha, passaram a atrair um tipo particular de ope-

.: rários: trabalhadores qualificados. em oficinas pequenas ou médias, fortem~ut.e.j.Q.enti-,I ficadoscom seu ofício.Esses trabalhadores do sexo masculinoeram artesãos, com um

Senso proprietário. da eSI?~s(aJic!,ªge,._edas regras. dO.9fício, auton0rTli.~!:l~U!.~.~ edistinção da massa de pobres sem.qu<!Jjfjc:.aç~'p.Contudo, essa condição era ameaçadaem muitas frentes - perda de controle sobre os mercados locais; introdução deJILágui-nas e métodos de poup~~'nlKó=cle~obra;-s~P:àrãção'~~pr~sari;1 entre mestres.~_~~r:!!aistrabalhadores; produção emma~sa ~ b~ixo cu;t~' f~~~-d~;'ii;nites d~s r~g~i;~entos dos

78

INOUSTRJALIZAÇ.i\ü E rOI-uVii\C,.:i\o D.\ CLASSE TRA13/\I.Hi\OORA

alicias; e centralização em fábricas. Essas mudanças poderiam lançar os mestres con------_._--~---- ---, _ ..•.. _- ,.'." .._. -, - '.' "._~,._ ..-. -""'-".

tra~<:.~s_trabalhadores, ou lançar os ~oiscontra oS.~~I!!-!?~0.al1~es_~i!l.d_l!s_tJ:~!s.Uma vezque as economias eram afetadas pelas vicissitudes do ciclo de negócios, todos os ofíci-os sentiam a incerteza nos salários e empregos. Produtores especializados,camo ostecelões do Norte da Inglaterra com seus teares manuais ou os tecelões de seda deLyon, podiam ser fortemente atingidos pelas mudanças técnicas ou organizacionais. Osofícios de condição inferior, como sapateiros e alfaiates, ficaram por toda parte pres-sionados, e logo foram acompanhados de outros ofícios yulnerá."eis~r:..ápL~.(l~](p.ap.§odo mercado., O."artesão"._e~t_aya.se transformando 110"operário': que ainda podia _t~ralguma qualificação mas quemal controlava sua capacidadede trabalhar. A tradicionali!1cl~..Q~rgI~l1cj,t!êxistent<:!.!l~~ç-ºI!lPI~~~~h..i<erarqyiasde qualificaçãoJoi substi ruída Ptil~çresc_ente._Sl!ºQrcli!l.!lção.numa..diyisão_ capitalista dotrabalho. f

.AQ ºe!~n~~r.~.t.l~i~d~p~!.l.~~l1c.ia9.~~I!te..cla..tr.ª!ls.f()rl!l.açã2_~mproJetªriªdo,.os artesãos;galvanizaram as agitações radicais das décadas de 1830 e 1840, ajudaram a eclosãodas revoluções de 1848 e deram forma ao socialismo inicial. Essas agitações foramnaturalmente atraídas para a cooperação entre P.i.29y_t.ore~_embusc_a__~~alternativas aocapitalismo, adotando .i~é~a~_de_.'.'IT1.u,~ua!i.smO~1.l.9.ª~'çS)IJl~niçla9.~S..QQ..Qç:L~!!'y~Até1914, os movimentos de trabalhadores franceses recorreram ao ideal do "socialismodas fed(!(açº!'!~.g~.!r.êl;>ªlh?,~l.PJ~s",que imagil10u a pr.oprie~a~e c~leti~~õ;.g;~ii-;;-da.!tra-vés de urn~ federaçâo democrãrica de ofícios qualificados autogovemados e de cOITlUna.slocais. Esse "s9ciali.~ID9..4..tU!:::tbal~adores gualificado..;;" se inscreveu num "idioma deassociação" mais amplo, propagado em d~puls9!9.U~iç-ªli?-ªç.qo ..gITlI83º~~, 9ts:.I11P_:'~~5:~'!.Ç.ão':.!?i_~~l:~.::d.o_.de_s.el1_~ignificadoor.igjJ1.~.lde corporações de tra~~-lhadoresfsociedades de ajuda mútua adaptadas da tradição corporativa do ancienrégime) para. ai9.é.~ª_d~_?P~il~J.YJ!~.deo.Qr9Q.l!19!es, e daí para o projeto socialista deuma f~9.er~~ão m~LQfissional de todos os trabalhadores". Então, ~f!1..1&4~;:..5j, ele se--, --~- ....-.....- .

junt01! ..AQ.o.!W~a.r.t<y()I~~.iC!.n.~~_c:I~.~1~.~,?~if!l:~}~t,~.I?~EIl~' Esse idioma de associação

, ~ª':I1º~m_~~_e..adr9_~~~~~~ª~~I.i9_~Q.~0Pl'~r, por meio dos quais g§.~~~~~~~~!~::s:1 do sexo masculino inventaram urna esfera pública ~a.~ead~~.!>...~.~_~.9..fLclº(!naª.Jigas~ ~.lliº-'!..m.ill.u-ª.. IJla~9..1nundo q!l!.uI&~~i~d~dc::sçor~i,s ..~..c:lu.!?-~ssociais e na vida

,fi diárj.ªºç:_Ç>fieil)_~!.~<:Jsped.élr.ias,tavel"Dasec<l~~s_:. '.'Na primeira sociedade industrializada, a Grã-Bretanha, artesãos qualificados do

sexo masculino também p..!:QI2use.@!~_ªJ~~ia_<!~int.eress.Ut!ral.~_c:l~2.s!:.~~I?~J~<!~~.O construtor de navios John Gast, para os trabalhadores qualificados de Londres,Gravener Henson, para os que trabalhavam fora, nos distritos rnanufatureiros do Norte,e John Doherty, para os fiandeiros (um tipo novo de trabalhador qualificado semi-artesanal), representaramo __çJim-ª_x_c!Q.sir1...d!.C:!l!i§!1}gJ?jº!1~!rQÇ!lnJª_~~).1?O radicalis- .

_~~são seinseria em.!1!<:>yLn!e:!lt9~~p'op.lJt'l!..t<~LamQ)9,§.ffi1~,~I~.rn..da~e~~p"<:..,:~çãoso-cioeconôffiic~, l>.!LSS.~Y<l,f!!;~rp.~sp~çj?) .1!QW....rç:f.ºI!l.!ª-<J~D:..~ática~~r..~~saçl.a. de).~!O \ '"e a Lei de Reforma de 1832. às vezes em escala revolucionária. Depois de derrotas'

~-- _._ •• -._ ••••• ~--_._ •••••••• -.--_ •• ~.~# "-"'''- • "'0_- ." -" ""'-- •••• o ••••••• " •• _."'_.~_ ••

79

Page 5: (09) ELEY, Geoff. Forjando a Democracia - A História da Esquerda na Europa. pp. 73-113.pdf

FORJANDO A DEMOO:U\CIA

amargas em 1832-34, quando ~ ~.r:n~.reforma parlamentar antidemocrá\iç.a$g~liu-~ o. policiamento social da Lei dos Pobres de 1834, os radicais se reagruparam sob a ban-: deira do cartismo, englobando em ~ua ·ex.traordinária unidade as várias diferenças da

..\classe operária - artesãos e novos operários de fábrica; qualificados, semiqualificadose sem qualificação; organizados e desorganizados; homens e mulheres: nativos e

migrantes; de diferentes regiões, indústrias e credos religiosos.Entretanto, a cultura básica inglesa dos anos 1820 dependia muito dos artesãos do

sexo masculino nas "velhas profissões manuais especiais e não revolucionadas", inva-ria velmente os mais abastados "mecânicos", como eram chamados por seus contempo-râneos'", A expansão capitalista forçou os artesãos de Londres, em especial alfaiates,sapateiros, moveleiros e carpinteiros, a uma solidariedade entre profissões para exigirrenovação dos regulamentos tradicionais e reforma democrática, por meio de litígios,greves e pressão parlamentar com relação a tarifas, salários, maquinário e horas detrabalho. Lógica semelhante forçou as sociedades de ofícios de Birmingham a "redefinirsuas relações não só com seus empregadores, mas também com outros ofícios quepassavam pela mesma experiência de mudanças no local de trabalho" 11.Mas a grandemassa de operários assalariados proletarizados não se ajustava bem a essa culturaartesanal. Os artesãos "aristocratas" tratavam com desatenção, quando não com des-prezo, os empregados no campo, operários de fábricas e tarefeiros, emigrantes irlande-ses, os sem qualificação, os mendigos, biscateiros e vagabundos, levando a conflitosgraves. Essas tensões foram mais bem resolvidas _~~ ~<u.1i~~.o.~~.'ls os idea~s_d~~1ademocracia de produtores só começaram a desaparecer gradualmente diante das dou-

... trinas mais abrangentes do S?_~.!~i~~~·- .... . .--Com exceção dos seguidores de Robert Owen, Charles Fourier e de outros socia-

listas utópicos, a democracia dos primeiros movimentos radicais era também uma prer-rogativa masculina. QLSeis ?_9p,tQ~~~:Lcartis~opara a democratização daÇ9.I1stituiçãoinglesa em 18??~~8 excluíam expressamente o voto para as mulheres!". Essa discrimi-nação enfatizava repetidamente o lugar da mulher no lar e o ordenamento correto dadiferença sexual. Sem dúvida, as mulheres eram ativas no cartisrno e em outras agita-ções radicais, mas, quando falavam, só o faziam no interior da própria comunidadepopular em luta. Aos homens cabia falar ao mundo externo "na primeira pessoa para oconjunto da comunidade". O discurso público em si - inclusive sobre males sociocco-nômicos, campanhas pelas liberdades civis, lutas pelo direito e exigências de voto - era

fechado às mulheres!',Para os operários radicais - modestos mestres artesãos, trabalhadores domésticos

deslocados, artesãos e mecânicos, e trabalhadores qualificados das fábricas, os quaiscompunham a espinha dorsal do cartismo e de movimentos contemporâneos - a inte-gridade do lar era básica para a identidade política. Fossem quais fossem as recipro-

,'. cidades entre homens e mulheres na divisão de trabalho no lar, a família, como sistemade autoridade doméstica, estava centralizada no privilégio masculino. Assim, ao lutar

_~'

,O"~

80

tI

f .i

IHI:I!

I

lNDUSTlUALIZAÇilo E FOKMAÇ'/iü DA CLASSe TKABAUIAOORA

contra a indústria capitalista, que minava suas competências e colocava suas mulherese seus filhos nas fábricas, ()s artesãos radicaisestavam também defendendo seu próprioregime sexual e econômicopo âmbitodafamília. "Seu status como pais e chefes defamília estava indelevelmente associado C9mJijJ7.lÜ~_d~Q«lJdên.çiª_ªt.nlY,~.LçjQJ!:.@-ªlh9'honrado' e da suª .qy.alif.1ÇJ!Ç~.9..•qu e lhes era dl!d~ .~~.1aid_enti~ca~.ã~ c~IJ1_!:'lT!~tf:.io."As mulheres.nª.QÜni)-ªIJ.U!Çe.SS.Q_~qº~a i'!cl~P'<~D~t~nci!!:Eram excluídas da maioria dosofícios, só podendo praticar uma profissão í<..~.~~~~~p"are_l:t.~.sP2.c.o.ln_l:!.ln.h()mem:_A "qualificação" da mulher estava no lar, sua "propriedade, na virtude de sua pessoa".Contudo, "separada do lar, da família e das ocupações domésticas, ou fora dos laços domatrimônio, uma mulher não tinha garantia de nenhuma das duas"!'. A identidade po-lírica damulherestava subordinada à do homem. Os raros defensores do sufrágio femi-nino também limitavam seus argumentos às "solteiras ..e..viúva~", porque mulheres emaridos eram simplesmente considerados.um-só 15.

Essa maneira de pensar se ajustou facilmente à industrialização. Exigênci~~~'legislação "protct?ra" tornaram-se clamorosas durante a década de 18]0. Protegern]lIlher""e_~lja.l1ç~~_~omra. os efeitos degradantes do trabalho nas novas .fábricas sigqi-ficava defender urnanoção iºeali~ada de farnfliae Ia);, na qual um patriarcado benevo-lente e uma saudável autoridade paterna ordenavam a economia do lar por "diferençase capacidades naturais" de mulheres e homens. Quando mulheres e filhos eram força-dos a ir para as fábricas em virtude do desemprego e da perda de poder aquisitivo domarido-pai, essa ordem natural se alterava". A essa dissolução dos papéis morais - a"dessexualização do homem", nas palavras de 'E~gei~'~ -a·êi-es~eniavam-se os efeit;;s do

trabalho barato da mulher, cuja atração para os capitalistas representava perda de .ellf-pg!gos,g~~tat!!§ e de Çjllillific.nç.ãQ.para.os..hoIDÇ!Jl§.11. Essa fusão de ansiedades - X~~i.~-tência à reorganização capitalista da indústria, desejo de preservar o regime moral dafa~ília .. motivou p~derosa,~ent~-~s';;;b~lh;do~~sqüaiíticados, que tinh~m ~~~ posi-ção de barganha bastante forte. Depois de 18S0, ~-ºm a nova prosperidade e a maior.,estabilidade política da Grã-Bretanha, esses grupos se fortaleceram. I

O trabalho das mulheres era crucial para esse sistema de distinções. As mulheres:eram certamente uma presença forte - cerca de um terço dos empregados na Grã-jBretanha, na Alemanha, na França e na Itália por volta de 1914, um quinto na Suécia-Imas só apareciam em algumas indústrias, principalmente têxteis e confecções. Ao ba-lsear seus ideais de classe trabalh;dora não só nas sglidarie~a~e~_~~. ~ocal_d~tp.~.~l-'~oelna cooperação eptr.<?Q~Qf~s~2.es,mas também emnoções de respeitabilidade fort~m.e!1le \marcadas por gêneroe que fixavam a mulher em casa, os movimentos democráticos do i,

século XIX afirmaram modelos de dignificação da masculinidade que condenavam as)mulheres à dependênciaEsses modelos positivos de dornesticidade da classe operáriaforam também uma resposta direta aos ataques da burguesia à desordem e à degrada-ção moral dos pobres. Os radicais da classe operária responderam com a celebração ~eseus próprios ideais de masculinidade responsável e virtude feminina, Mas essa políti-

.. - ',-,~.~ ..- . . ~" ."--

II

IfI

!II•I.

i:/i,~•.

81

Page 6: (09) ELEY, Geoff. Forjando a Democracia - A História da Esquerda na Europa. pp. 73-113.pdf

FORJANDO A DEMOCAACIA

ca de respeitabilidade q~J.~ilav~con.!~a_~)g~.gda ~e de_gêne~~partici~1i~~~a.9.a.~_f!1..1:!l!~!~~,di fic u It-ª!.1s1-º-.2utr2.~U1.1.9c1~!QS._ d.t;_.lJlÇl.Qilizaç.ãa..cÍlli.C.a..Çjll.u.finnassem os

:\ .., J qi.r~i!g~.f~rnLrÜJ1Qs-A_º.ª,º-º@.Lç~rtas..e.sJmlégias_d1tçj~fe.$.a.da_cQmuni<iad~~.ên-

,:~ ~I';cia a ou.tras, o.s.radiC~.i.S~.dê. S:l..é[email protected]ª._q~!Jl_Ill.fºJmaª_l!m(uturad.oura ideologia de/' [domesticidade, limitando aos homens o direit,! a um~'y!!'çidaºª-ui1h--~---_._"""-""'----...•.~-----..__ ._....•.............-.- ...........•.•.•. ---'- ...•.-

'0 resultado f~i.o.re~!}l~~~~.i.!!l~!1~9..cJ.~y.!i':'il~gLom\lli:ulino, eorporificado naqueles!1Qp_~~~~_qu~Iifieél.~o.scuj.<? poder, qe_n~gQs:i ªç;i.QJlw.s.p~nnitia..s.usteD1aI:lU1!~os.Mercados de trabalho sazonais e irregulares significavam, invariavelmente, que os ga-nhos dos homens teriam de ser suplernentados por toda renda que o resto da famíliaconseguisse levantar, geralmente em trabalhos temporários, cansativos ou que pudes-sem ser feitos em casa ou na economia informal local, Contudo, se os artesãos qualifi-cados, capazes de manter a mulher no desemprego domesticado, eram, nesse sentido,uma minoria privilegiada, o sindicalismo inicial era baseado no sistema de exclusão da

Imulher, e º-1l2Y_o i@-ªL<!~m "salá~E ..ar" era um dos principais mecanismos que1separavam dos demais e~s~ pequena elite de artesãos, sindicalizados. Não só ~Ie forta-

-' : leceu as vantagens matenais daquela elite, mas lambem marginalizou normauvamente/.,f.iJ I.' o emprego feminino como algo excepcional e indesejável, limitando-o às áreas mal

.! t pagas, sem qualificação e amiúde ocultas do trabalho assalariado lH.

{'I Portanto, também sob esse aspecto, a classe trabalhadora era uma formação social

"

complexa. Apesar de baseada nas estruturas sociais comuns produzidas pela indústriacapitalista e pela urbanização, como identidade social ela se estruturava em tomo de

.' diferenças que dificilmente se estabilizavam numa unidade de _()bjel!YQS-.políticos. Àsr di visões já mencionadas - da indústria, da agri~~ii~;;-~- dos serviços; vários ramos da1 indústria; disparidades regionais; demografia diversificada de proletarização; o divisor

de águas da qualificação - é necessário acrescentar as diferenças oriundas do gêneroentre mulheres e homens da classe operária. Por toda a Europa industrializada, o ideal

. de um lar administrado pela mulher não-trabalhadora só era acessível a uma pequena, minoria. O salário das mulheres pode ter sido essencial para famílias operárias, mas'! seu status era prática e explicitamente desvalorizado. Assim, ao construir o ideal co-

letivo da classe operária - pela transformação dos fatos desordenados da industriali-\ zação numa base para a política -, os socialistas abraçaram somente algumas partes! da vida da classe operária, desprezando outras. N~s.~lltr-ªJi~1l.Ç~~9_~i~entidade de! <:1~s_s{!,algumas ex~(:~iê.!]~i.a~~~.:.I~~.~~..?p~rári~.fora_J1]va!9r.i~~d~.~.~.9!l!r.~~Lignoradas

ou apagadas!".À medida que os movimentos operários independentes começaram a se formar na

década de 1860, entre os quais sindicatos e partidos socialistas, eles herdaram essastradições de gênero. ~sprünejrª~.i~j~jativas, na onda de greves e levantes políticos de

.. 1_~~~.-:.Z_4na Europa, foram !>1:!§t,~!}tªç1.ªuorrepresentantes dos offc.~~"<lualifi.c~s. A.-., subseqüente expansão da indústria pesada - c&\yão, f~rro e aço, construç~o~al,

i transportes, química. construção mecânica pesada - gerou diretalnente poucos empre-.~. . ..~-~.~

82

I

IIl;,-:"

INDUSTRIMJ7AÇÃO E FORMAÇÃO DA CLASSE TRABALHADORA

gos para mulheres. Assim, os movimentos ,operários institucionalizararn exatamente ossistemas de distinção que tinham mínima probabilidade de conduzir a uma presença i v.',política da classe trabalhadora que fosse verdadeiramente inclusi va e não discriminatória , c

em relação aos gêneros. Apesar de invocar os interesses, a autoridade e a ação coletiva'da classe trabalhadora em seu todo, esses movimentos foram na verdade muito maisacanhados e excludentes,

A POLíTICA DE FORMAÇÃO DA CLASSE TRABALHADORA

A forma cQrn.il..~<:~!~_':ls~~seJ~a.i2.a.~b~<1.o!.~t.a~~~Il1Ae~niu. as forma.s p()ssí.~e!s ~.e.·política dessa classe. Onde a indústria cresceu lentamente, a partir de comunidadesproto-indüstrialscõrn longas histórias de emprego industrial ou serni-industrial, as pers-pecti vas do movimento operário diferiram daquelas onde a indústria fora recentementeintroduzida. Esse contraste foi dramaticamente ilustrado pelas cidades de Hamborn eRemscheid, no Oeste da Alemanha. Entre 1861 e 1910, Remscheid, um centrometalúrgico desde o século XVII, cresceu continuamente de uma população de 16 milhabitantes para 72 mil, recrutando trabalhadores da zona rural adjacente e preservandoa pequena escala de sua indústria de base artesanal, Em contraste, Hambom, que erauma aldeia de 6 mil habitantes em 1895, transformou-se numa enorme cidade indus-trial de 103 mil habitantes em 1910. À sua força de trabalho, recrutada longe e perto,foi brutalmente imposta uma nova vida proletária?".

Os novos ambientes'~'ã~p~der;amser-mãisa:iferentes: Remscheid, com sua lenta econtínua acumulação de cultura da classe trabalhadora, ofereceu terreno seguro para

<u:migª-cu.éti.Çglde autQ:.ªRerf~iÇ.Qanl~m9_Q9..s~~1~<?~'l~E-li0_~.~~52~;Hambom, com suamassa de proletariado desenraizada, forçada a se enfiar em minas c usinas de ferro eaço, apinhada em alojamentos precários de empresa, s~lT)a.digf.1.ida_d~do trabalhonemas reservas d_Cl.flll.mra.autoconfiante dos movimentosdetrabalhadores. Por vários cri-térios, tais como condições de moradia, saúde profissional, mortalidade infantil, ofertade educação, criminal idade violenta, embriaguez, níveis de pobreza e regimes de tra-balho, os operários de Hambom viviam uma vida muito pior" . Os operários extrema-mente desrespeitosos e violentos eram a própria síntese do proletariado fabril brutalizado . '.e explorado.

Todavia, os operários de Remscheid tinham lima consciência de classe mais de-senvolvida, medida por um sindicato forte e organizações partidárias. A partir de 1895,o representante parlamentar de Rernscheid foi sempre do SPO, e foi possível arrancarreformas liberais de sua Câmara de Vereadores. Em Hambom, o SPD era fraco e asrelações dos sindicatos com a maior parte dos trabalhadores da cidade eram carregadas

de suspeitas mútuas, ou até mesmo de desprezo. Bj)-,~_~~tr<:s~~!!!.~~!Js.Lu__vi~ÔQ<lInentelJ.,.1ReYoJ),!çãQ..ALemª.J!S:..1918_~J9~.O movimento operário de Remscheid assumiu opoder apoiando um programa socialista de esquerda ~e reivindicações políticas, porém

83

~.

\

I

Page 7: (09) ELEY, Geoff. Forjando a Democracia - A História da Esquerda na Europa. pp. 73-113.pdf

FORJANDO A DEMOCMCIA

I I

INDlJSTRL'\LlZAÇAO E FORJ'vlAÇ'ÃO DA CLASSE TRABALHADORA

.'.

R!!Ç.illc-o._Os operários de Hamborn demonstraram uma militância mais violenta, reuni-da em torno de r.e~yi~dicações econômicas de salários, trabalho e controledajndúsíria,mas, sem o apoio de nenhuma estrutura partidária socialista de esquerda, faltou-lhes

orientação política".Antes de 1914, nem os trabalhadores qualificados e sindicalizados, orgulhosos de

seus ofícios, nem os operários sem qualificação e desorganizados conseguiram formaruma classe trabalhadora "autêntica" na Europa". Um conjunto de condições aparente-mente facilitaria a organização socialista. Ainda assim, o outro conjunto de condiçõesgerou no local de trabalho uma militância à primeira vista mais radical - violenta,espontânea, menos respeitosa da autoridade e dos procedimentos estabelecidos, prontapara a confrontação. Ainda não está claro até que ponto condições diferentes determi-naram diretamente formas diferentes de ação, no sentido de recusar as alternativas, eaté que ponto elas deixaram os socialistas de esquerda sem margem de-manobra.

O que ficou claro é que os socialistas tinham um problema - como criar uma polí-tica P~~. 9s dois tipos de. trab:aJ!:l-ªd.Qrcs.Mas esse violento contraste também foi obser-

,..vado numa grande variedade de experiências da classe trabalhadora. Os trabalhadores"típicos" não se reduziam apenas aos metalúrgicqs..qualiJ"jÇad.Q5 de Remscheid ou aosproletários da indústria p<:.~~ç.'.l~deHamborn, mas incluíam também uma gama enormede ocupações manuais: estivadores, marinheiros, trabalhadores em transportes, operá-rios da construção, mecânicos qualificados e serniqualificados, tecelões, trabalhadoresnas indústrias química, de marcenaria, de alimentos e bebidas, de confecções, trabalha-dores qualificados em manufaturas especializadas, e todo tipo de artesãos tradicionais,inclusive gráficos, encadernadores, alfaiates, curtidores, sapateiros, carpinteiros, pe-dreiros, pintores, cerarnistas e assemelhados. Ainda outros ficaram marginalizados daimagem emergente da classe trabalhadora industrial, como os trabalhadores domésti-cos, agrícolas, vendedores, comerciários, trabalhadores uniformizados das ferrovias ecorreios estatais e, finalmente, mas não menos importante, as mulheres que trabalha-vam em casa, em tecelagem, confecção de roupas, processarnento de fumo e outrosofícios. Assim como áreas inteiras de trabalho - tais como o trabalho doméstico, amanutenção da farrúlia e a "ajuda" fornecida por mulheres e crianças ao chefe prove-dor da família - igualmente importantes mas que raramente eram consideradas "traba-

lho".Ademais, trabalhadores de todo tipo tinham toda uma vida fora do local de traba-

lho, ainda que sombreada pela preocupação diária de se recuperarem para enfrentar otrabalho do dia seguinte. Viviam em bairros, concentrações residenciais e outras for-mas de comunidade, apinhados com outros tipos de trabalhadores e grupos sociais.Tinham lares complicados que, às vezes, mas nem sempre, lembravam o núcleo fami-liar típico. Vinham de regiões diversas, falavam línguas ou dialetos diferentes e tinhamidentidades culturais profundamente diferentes, segundo a formação religiosa e as ori-gens nacionais?". Havia jovens e adultos maduros, e evidentemente de ambos os sexos.

84

Como tudo isso seria transformado em lima única identidade de classe trabalhadora eraa questão operacional que se apresentava aos socialistas.

O surgimento do bairro da classe trabalhadora urbana foi crucial para esse projeto .Inicialmente, .as lealdades das classes ..bai~~~. estavam incluídas dentro das estruturas~~lll<riºXl<~~_def~~n~i!l.~pa~erl2.~lis~~ geralmente impostas pela religião e cada vezmais dominadas pelos liberais. Por toda a Europa, políticas governamentais e açõespartidárias regulavam a cultura popular pela interação com as histórias sociais da urba-nização de formas cada vez mais ramificadas. A partir dos anos 1890, os Estados intcr- 'j

vieram com crescente intensidade na vida diária dos trabalhadores, assistidos por no- 'vos conhecimentos e profissões, visando a estabilidade social e a saúde nacional atra-v~s._d_~R.oderosas ..idéias de família. Nesse processo, as fortes imagens ideais do pait~:lºªLha.g~.~~_~~ responsável passarama perrncar a polftica de classe, Então ospartidos socialistas também começaram <1.. organizar os trabalhadores na ação políticac()letiva garaaléIJ}.da vizinhança e dolocal de trab.~!h~c0!!lJmpacto no governo locale municipal, em regiões e, finalmente, na nação. Todos esses processos ajudaram aforn~'~r iniÚtuc!õiiãJifiente as identidadesd'e (;1'!~5..e.

Mas não menos importantes foram as formas complexas com que responderam ereagiram as vizinhanças" . Se o local de trabalho foi uma fronteira de.resistªn.c;~i!., ondea ação cott:ttY.<12~i~imagináv:l, aJam~i~ - ou, mais propriamente, as solidariedadeslocais que as mulheres da classe operária formaram para sua sobrevivência - foi ~outra:

Os operários enfrentavam o capitalismo industrial [...] em longas e frias caminhadas até oemprego, trabalho exaustivo, acidentes e doenças do trabalho, e cruéis períodos de desempre-go. As esposas enfrentavam as forças do sistema industrial em outros pontos: às vezes nosseus próprios empregos remunerados, sempre na rua do mercado local, com ° senhorio, comas instituições de caridade e estatais, como hospitais e escolas, e autoridades sanitárias".

f!

II

II'r'

O desafio da esquerda era organizar-se em ambas as frentes da expropriação so-cial. As políticas práticas dos partidos socialistas inevitavelmente registraram a separa-ção.jnas geralmente peja adoção de premissas n()mHl:ttX~Sd.f.g~lJ~ro, em vez de buscarum foco crítico verdadeiramente democrático. Esse foi um dos mais duradouros errosde interpretação da esquerda: "movimentos de trabalhadores" il11plicav~mlum socialis-mo. que começava no local de trabalho, centrado nas gr~v..e~,e eram sustentadospormilitantes trabalhadores do sexo n~asculil1<?' Ainda assim, esses movimentos tinhamuma base mais ampla, que também demandava esforços das mulheres no lar, nos bair-ros e nas ruas. Mesmo onde se reconhecia essa dualidade, raramente se conseguiaevitar ;L primazia das. linguagens políticas. de classe de orientação masculina 27.

Por volta de 1900, as novas so~'iedad~~~;;ba;;; começavam a se';gi~ti;ar e solidi-'" : .ficar". Na Grã-Bretanha, cerca de 80% dos casamentos na classe trabalhadora tinham '

85

Page 8: (09) ELEY, Geoff. Forjando a Democracia - A História da Esquerda na Europa. pp. 73-113.pdf

FORJANDO A DEMOCRACIA

agora origem comum, ao passo que a segregação residencial incentivava redes familia-res extensivas de vida comunitária. A densa sociabilidade dos bares e ruas e a dissemi-nação de associações coletivas - sociedades de amigos, clubes masculinos de trabalha-dores, sociedades cooperativas - reforçaram a infra-estrutura de identidade comum,enquanto novos hobbies organizados, esportes de massa, apostas em cavalos e cachor-ros, a continuidade do lar na rua e as novas diversões comerciais separavam as pessoasda classe trabalhadora do resto. Era essa a "classe trabalhadora das finais de campeo-nato, das tabernas de peixe e batata, do palais-de-danse e do Trabalhismo com T maiús-

culo", reconhecível "p~ls> ~m,~ient<:Ji~~~.?~_~..9~~,v.i~i~l!I,u-I!:l.estilode vida e de lazer,por uma certa consciência de classe que cada vez mais se expressava por uma tendên-cia secular a se filiar a sindicatos e a se identificarcomo pa~ti,d<L<iaclasse trabalha~o:

!a:':~:, Essa aglutlnàçâosociopolítica urbana implicou certo tipo de comunidade interli-gada e administrável, "lugares onde o trabalho, o lar, o Iazer, as relaçõ~s.ill<htHriais, ogoverno local e a consciência da cidade d~orige~'s'e misturaram in~eQaravelmente"3n

•••• _ •• ,._'" A_ .••• _ ••••• _., ••••••• -o"" " ••••• _", ",_, __ •• 0'0. " •••••• _••••••• __ "---..

. QrgªI1L~il~_~_~.9_~~~iên<::~Jl~!r~icaera mais fácil em cidadesp'~qll,~JlaU;.QIILumaúnica ind,~~!!ia, como Rcmscheid ou Solingen, na Alemanha, e com uma cultura sindi-calmais antiga, ou suas equivalentesi~~l~~as, como Sheffield, ou a"'Címc;g~';Vermé-lha", Roubaix, Lille e Montluçon, onde os socialistas franceses conquistaram o gover-no municipal na década de 1890, ou as cidades socialistas do norte da Itália, possibili-tadas pelas leis municipais de 190331 , As instituições da classe trabalhadora tambémtomaram possíveis estruturas de ação presentes em toda a cidade, como as sociedadese os conselhos de amigos e os conselhos de profissões na Grã-Bretanha; as "Câmarasdo Trabalho" na Espanha, na Itália e na França; ou as secretarias do Trabalho do SPO naAlemanha, Elas tomaram possível alguma influência sobre o ambiente urbano, onde ostrabalhadores ainda careciam de completa democracia no voto. Os primeiros casos desocialismo municipal, como o breve governo do Labour Group no West Ham, em Lon-dres, em 1898-1900, transformaram moradia, saúde pú.!:?.licae rnelhoria social em pon·

_to_svitais deação. ~~.~,()P!i~,:i!_o..9.?1~~i~9,J?:i-don:linau::UD~rçª-çl.9_detrabalho informalçQmª~ljação de um departamento municipal de obras, o incentivo ªQ.inyestimento, osC;()!lt.r.aJº-~~pi~TIco~·~-~'·Qi?IÚiªçªQ:ilipigii~º~~':aTfu';;s.,estabelecidos pe\Q_!itndicata.:: 'Essa ação política foi fundamental para a formação de classe, pois os sindicatos e asorganizações de trabalhadores ainda tendiam a privilegiar as antigas sociedades deartesãos. -''-----' -. --',,---,---

Depois de a urbanização ter ultrapassado certo limiar, a vida diária da cidade -principalmente em relação a transportes e aluguel de moradias - transformou-se nainfra-estrutura prática de união dos trabalhadores, particularmente porque as adminis-t:açôes l:ef.ormistas.das ci~a~~s passaram a construir seus próprios sistemas de h:;~-=-porte de massa e projetos de moradia. As concentra@s resultantes de trabalhadores

1~~1.~~.!9~'?..tomaram-se um recur~o v~t.alp;aªs?qmL~~traçõ~,~Qq~ii§.~i.~i~!s de1918, aJ?_as(!,dosucessgeleit9,ra! s~c,i~l!~a, Viena Vermelha foi o mais imponente exern-

86

INDUSTRIALIZAÇÃO E fORMAÇÃO DA CLASSE TRABALHADORA

plo de um padrão geral em que projetos municipais de habitação, transporte público,trabalho direto e a folha de eaga~e~t~;d~-~u~l~{pi~fõi;';n-;b;~;d~'s'h~ge'~~ni;~~;b~~~~--~j'ae~9.u~~d;~o sé~~I~XX.No'p~riodõ· i'~H4'-45, a expansão da oferta de bens_. __ -r-•.,_.~.._"_ .• _ ....•.'.•. h",<.,,"'_" _,_.~""'''' •••••••.•.•

sociais pelo governo central, tais como seguro-desemprego, saúde, educação, habita-ção e seguro social, foi também garantida localmente, dando ao trabalhador pobre

i I incentivos importantes para se organizar, Passou a ser realmente importante saber quem!/iriéls~ s«ntm:.!1,<lcâmar\\_9,l.l.~eLQ prc(çit9.~·--·---· ...." '.,- .'., --" --- ---"'--

; Entretanto, a força local da classe trabalhadora de uma cidade nec<~~sitav~,,~() dj-reito ao voto p_<ll'a.sersen,tid,a: Foi somente depois de 1918, por meio de ÍI!g!~iç~es 'revolucionárias, t:1()~~S,Sº-Q!itjJJlj.0ese uma onda de direi\Q~çIe votoaopovq ..•.que ospartidossocialistas ~hega.ra_f!1.~()p.9qe.r.I<?~~I~Esse resultado impressionou pela rapidezno norte da Itália entre 1918 e 1921, antes que o fascismo decretasse violentamente oseu fim. Contudo, na Alemanha de Weimar, em muitas cidades na Escandinávia, naGrã-Bretanha e na França, e especialmente na Viena Vermelha, governos municipaissocialistas adotaram programas notáveis de reforma geral em favor da classe trabalha- ;dora, Esses programas tomaram oJegiQ.I!ªlis!l1Qmais.mal~Ó'yel, especialmente depois 'que a expansãosindical F().§t.~f!Or,_ª)9 j 8 finalmente relax.ou..Q_dQ_míni.QQQ.s..!E~~~!~~dQ.:res qualificados e das1P-,:j~Ç,õ.~s.g<a..S.,S.g.!].9.l~,çji~S,facilitando novas parcerias C0I11S!I1.-dicatos indu,striais ..e dosetor p~QIi,,~9.A ~.l<<:~U~!.~9~~?~~_~<?Il2~~ções era tambémcúmplice das ideologias de domesticidade que roubavam das mulheres a voz pública,e, portanto, 0.9~~,lJ_[J~delas potencialmen~e.~-ªmpétnenfra.qu,~E~u,a.lllllsculinidade_dasculturas políticas' .~Qçiâlis~Õ'~õêlaÚ;~~municipal, c.?J!l_~~?'Jl~I,l:~ão..ç~_i~~-.~PEi~ho9.~.~t':D;1.;:.e.§Jer,d~1t-ªs' Ip_Ul~e.!~.sp._º-V.a..~LQP.OI1unidadespOLtodaparte. mas na Escandiná-via e na Grã-Bretanha ele !~es ofereceu maior particjp?ç.ão l?..<?..!l~ica.Depois da emanci-pação de 1918, as mulheres forçaram o Partido Trabalhista, nos anos 1920, a adotar

uma agenda social mais forte (e:'.~':3:~~_p'~~~~_~lar, bem-esta,rm,ª~~11}2-i?X~~~U.~depfiblica), aJ~~~~do-Q}Jlai§..airLc!~.9.9_'!.~)b2-jc.rre.nQ_~!l1dicªl.Em meados da década de1920, as seções femininas do Partido Trabalhista tinham 200. mil membros, ,com.15,5mil em 1933':;;:io% ·dõt;;t~~i'34,---··-·- .- "~-'--~--"-'-"-

CONCLUSÃO

Portanto, ª-formaç-ªº-ºªçlasse trabalhadora.não foi simplesmente 9 resultado da, indus-S,-,.--- ...•. ,--.,_ .. -.---. __ .~--_._,-- - , '.. J

trialização. E certo que o capitalismo trouxe uma estrutura social distintiva por meio). I.-.. - ~.".,' • l.(

dos processos comuns de apropriação, exploração e subordinação, até que os trabalha-.' ,~ ..dores não tivessem outros meios para sobreviver senão a venda de sua força de traba-lho em troca do salário. Os regimes de acumulação do capital, as circunstâncias práti-cas da produção industrial ~ o~ r;ã'cir6es'cte urbanização t~mbém ~~idaram, d;modo

_ •• ~ -, "'. -._--' ""-""'._ - .'0 •••• '·,···· '._ •• _"._.,' ••• •.•• _~_._ ••••• _

notável, a vida da classe trabalhadora. A arquitetura espacial da presença da classetrabalhadora na sociedade - a geografia social da industrialização, o crescimento das

I!

IIl

87

Page 9: (09) ELEY, Geoff. Forjando a Democracia - A História da Esquerda na Europa. pp. 73-113.pdf

FORJANDO A DEMOCRACIA

cidades, {l.c.::mcen!raçãodetrabalhadores em áreas segrega~,as, a visível aglomeraçãode trabalhadores por todas essas formas - t?strutU!OUi~u.~l.~~~_~e_asten~~!!~i.?~s

(de p~cipação coletiva. A1>.C]lJl!![é~Lº~LCJª~.se.'ya~all1ad.or.~~'::!!l<?nstravam [Qr.tts..regu-. !arida~~~ un~fic:;?~ora~por todos os bairros, ocupações, indústrias, regiões, barreiras

", , lingüísticas e religiosas e através de todas as fronteiras nacionais da Europa. À luz,.' .y : desses processos convergentes, "a classe trabalhadora" passou a ser um termo.resso-

. nante e significati vo do discurso. polítiCQ.~SOCL1LPor volta de .1900, ele descrevia umairealidade palpáveldapolítica, da administração social e do cotidiano e~ropeus.

Ainda assim, os trabalhadores não eram a única classepClEill.<.Uda sociedade euro-p~!.~:E~.1.çs.cºexistiall1c.0.m..os çampon~se.s ~a.SI.a~~em~Q.iÚ~a, geraflj;êilíúm:!iiliDe-rosequivalentes e comequivalente força social. Ademais, as distinções no interior daclasse trabalhadora continuaram fortes não só fora do local de trabalho, mas tambémnas múltiplas diferenças existentes no próprio local de trabalho, em salários, garantiade emprego, tempo de serviço, controle do trabalho e, evidentemente, qualificação,bem como diferentes divisões seccionais de indústria para indústria e de empresa paraempresa. A despeito da lógica universalizante das relações salariais, a industrializaçãoinventou continuamente novas ~.~sti,?C;(jes,principalmente em tomo das n9vª.~..!.e.~nolo-gias. A divisão mais problemática, de formas variáveis mas persistentes, concentrava-se no gênero e no tra~~lho. Um número relativamente pequeno de trabalhadores obti-nha salários maiores e melhores condições de vida em razão de sua qualificação, emcomparação com os s~lários !2Eixos, o \fabillb9J~~~gll)':f e ,!subordi!).açã.9_mª-L~§~...Y~~a. massa de trabalhadores p()pr~~.E as mulheres operárias não só ficavam sempre nolado mais fraco dessa linha de qualificação como as estruturas predominantes de res-peitabilidade da classe trabalhadora também as silenciavam e marginalizavam atravésdas culturas da família, do lar eda masculinidade púJ2!ica.

As formas com que essas lógicas complexas e contraditórias de unidade e diferen-ça operavam, ora a favor umas das outras, ora contra, em épocas e lugares particulares,iriam depender crucialmente da política - da criação de organizações da classe traba-lhadora e da rivalidade entre inJ~~.v.ençõ~s_.~~~~giosas,fi~a.n~r6p'ic,:~s,j2ill.·Üçlárias..e g.o_ver-namentais que d~p.\.!Ja'yjll~.a.I5!.ªlçlª,c!e..dos.trªPa.l~1~~~.~s. Sob esse aspecto, a adl"l!iI}js-tração social, a saúde pública, a polícia, o direito e o mecanisrJ}()jQ.S.t~t.uE~~I~~1ramifica-do dos governos nacionais e locais, assim como as estruturas constitu~i.?n.ais e o ~aráterdas esferas públicas, determinaram o curso da formação da classe trabalhadora. À medidaque a classe trabalhadora fazia sua aparição coletiva na história européia, essas .._nãofraf!!_forças externas agindo sobre uma classe trabalhadora já pronta pela ecop'.Q]1liaepela so~i;iogi;, mas ~ma parte integrante daf~rmação da ~lasse trabalhadora fOl~t(:õllr;

.'

88

Capítulo 4

o SURGIMENTO DOSMOVIMENTOSTRABALH 1STAS:O avanço da história

A DÉCADA DE 1860 rOI PARA A ESQUERDA o principal divisor de águas. Antigas tradi-ções foram eclipsadas, enquanto outras, como o anarquismo, afastadas para as margensdo movimento internacional. Surgiu um novo ideal de partidos trabalhistas, ~cio~al-~ente orJ:;.anizados, cQncentradQ!iD.a_~~rlamentar. Esse constitucionalismo socia-lista resultou das dramáticas Iiberalizações de 1867-71, que permitiram a muitos movi-mentos trabalhistas sua primeira agitação legal em escala maior que a local. Ele foitambém muito promovido pela Primeira Internacional, cuja influência excedia em muitoo modesto quadro de sócios de seus afiliados. Suas perspectivas eram as de Marx eEngels, que assumiram durante aqueles anos seu duradouro papel de consultores prin-cipais dos movimentos socialistas europeus.

Os anos 1860 lançaram as sementes da organização. Algumas fundações partidá-rias se aglutinaram a partir de iniciativas anteriores, como na Alemanha, onde os doispartidos formadores do SPD já existiam desde 18631• Outras pressentiram os novostempos, como na Grã-Bretanha e no império czarista, onde fundações mais fortes sur-giram apenas por volta de 1900. Ainda outras levaram uma existência marginal ousemiclandestina antes de 1914, como se deu na península Ibérica, nos Bálcãs e namaior parte da Europa Oriental. Tratava-se porém, de partidos socialdemocratas, dis-tintos de outros integrantes da esquerda, como os movimentos anarquistas ou sindica-listas, os partidos democráticos radicais, os partidos camponeses ou o populista Parti-do Revolucionário Socialista, na Rússia (ver tabela 4.1). Eram partidos que se alinha-vam com a Segunda Internacional, formada em 1889, e se identificavam, consciente-mente, com o legado de Karl Marx '.

Esses movimentos representaram para a esquerda européia um novo rumo. Forameles os primeiros partidos socialistas nacionalmente organizados que chegaram a ter umaexistência contínua. Houve grupos menores, mas que não passaram de entidades locais e

89

Page 10: (09) ELEY, Geoff. Forjando a Democracia - A História da Esquerda na Europa. pp. 73-113.pdf

FOIUANDO A DEMOCRACIA

TABELA 4.1OS PRIMEIROS PARTIDOS SOCIALISTAS 1871-1905

1871 Partido Socialista Poríuquês (PSP)

1875 Partido Socialdemocrata Alemão (SPO)

1876 Associação Socialdemocrata Dinamarquesa (SOF)

1878 Partido Socialdemocrata Tcheco (csoso)

1879 Partido Socialista Operária Espanhol (PSOE)

1880 Partido Geral dos Trabalhadores Húnqaros (MSZP)

Federação do Partido Socialista dos Trabalhadores Franceses (FPTSF)

1881 liga Socialdemocrata Holandesa (SDAP)

1882 Partido Proletário Polonês

1883 Federação Socialdemocrata Britânica (SDF) I

Grupo Russo para a Emancipacão da Classe dos Trabalhadores

1885 Partido dos Trabalhadores Beloas (POS)

1887 Partido Trabalhista Noruecuês (ONA)

Partido Hanchak da Armênia

1888 Partido Socialdemocrata Suíço (SPS)

1889 Partido Socialdemocrata Austríaco (SPO)

Partido Social democrata dos Trabalhadores da Suécia (SAP)

1891 Partido Socialdemocrata dos Trabalhadores da Buloária (SWSDP)

1892 Partido Socialdemocrata Sérvio (SSDP)

Partido Socialista Italiano (PSI)

1893 Partido Socialista 'Polonês (Rússia) (PPS)

Partido Socialdemocrata do Reino da Polônia (Hússia) (SOKPiLl

Partido Socialdemocrata Romeno (PSR)

1894 Partido Socialdemocrata Croata (sere)

1896 Partido Socialdemocrata dos Eslavos da Eslovênia do Sul (JSDS)

1897 Partido Socialdemocrata Polonês da Galícia (pPSO)

Lioa Geral dos Trabalhadores Judeus da Rússia e Polônia (Bund)

1898 Partido Socialdemocrata dos Trabalhadores Russos (RSDRP)1899 Partido Socialdemocrata Ucraniano (Galícia Oriental) (USDP)1900 Partido Trabalhista Britânico (LP)1903 Partido Socialdemocrata Finlandês (SDP)1904 Partido Socialdemocrata dos Trabalhadores da Lituânia (LSDWP)1905 Partido Socialdernocrata dos Trabalhadores Ucranianos (Rússia) (USDRP)

~artidl?_Socialdemocrata Eslovaco (SSP) _-

90

o SURGJ...\1ENTO DOS MOVIMENTOSTRABALHISTAS

,"~o

efêmeras, e <,illraote os anos entre 1849 e 1860 a repressão.d..QEstª~tQ..ç:..?P..f~Çi!..r:i~~(\ºe.9"-scomunicações nacionais sufocaram tudo m~s. A despeito das associações de trabalhado-res baseadas nas profissões qualificadas, os esforços políticos persistiram até os anos1870 e pertenciam a tradições anteriores da esquerda. Isso não mudou da noite para o dia.Os novos partidos competiam com tendências rivais em alguns países e sofreram deser-ções e fragmentação em outros. No entanto, registraram um desvio qualitativo na ativida-de socialista, dando inicio a uma nova era da história da esquerda.

A GEOGRAFIA DO SOCIALISMO

".;"

Os novos partidos variavam enormemente em significância. Os mais fortes estavam naEscandinávia e nos países de língua alemã da Europa Central (inclusive nas regiõestchecas do Império Habsburgo); os mais fracos, no Mediterrâneo. Onde o progresso daindústria foi pequeno, o mesmo aconteceu com o socialismo, como na Europa do Su-deste. Mas a industrialização não é um guia infalível. O sucesso dos socialistas búlgarosnas eleições de 1913, ou dos social democratas ucranianos entre o campesinato da GalíciaOriental, e o avanço socialista na Finlândia, na Noruega e na Suécia mostram todospartidos socialistas que ganhavam apoio rural. Legalidade, uma constituição parla-mentar em operação e direitos democráticos tiveram tanta importância quanto a indus-trialização. A autocracia russa, ao contrário, conteve a expressão democrática damilitância popular, e um direito discriminatório de voto reduziu artificialmente o de-sempenho eleitoral dos socialistas belgas. Assim, as primeiras estruturas políticas libe-ral-democráticas foram capazes de compensar a ausência da indústria capitalista, as-sim como a ausência de liberalização foi capaz de tolher a progressão do movimentotrabalhista em direção a um modelo "alemão" ou "escandinavo" de sucesso socialde-mocrata nas economias mais industrializadas. Nes.se_.SJ';ll.tidQ,Qlator constitucional ou \ .~.Qntecipou ou impediu as conseqüências da formação da classe industrial . _,.- ..- , ". \-,~------_._.._--~._~.--...•-~~-_...._- ..

Houve mais dois complicadores nessa geografia do apoio socialista. Em primeirolugar, no Mediterrâneo Ocidental o quadro foi embaçado pelo anarquisrno e, depois de1900, pela política afim antiparlamentar, anticentralizadora e de ação direta geralmen-te chamada de sindicalismo revolucionário. Isso se aplicou mais à Espanha, onde osseguidores de Bakunin substituíram os de Marx no final da década de 1860 e onde oatraso econômico e a fragilidade do liberalismo tolheram os socialistas espanhóis. Mastambém se aplicou à Itália, onde o PSI foi incapaz de superar uma forte tradição anar-quista. Os anarquistas emprestaram uma violência localista e insurrecional à militãnciada classe trabalhadora do Norte da Itália nas grandes explosões populares entre os anos1890 c a vitória do fascismo. O caso mais anômalo foi o da França. Por volta de 1914,o republicanismo francês havia legado à esquerda um século de experiência dernocrá-tica parlamentar. numa economia em forte, ainda que desigual, processo de industriali-zação. Ainda assim, os votos socialistas continuaram surpreendentemente baixos se

91

~.!' •.

Page 11: (09) ELEY, Geoff. Forjando a Democracia - A História da Esquerda na Europa. pp. 73-113.pdf

FORJANDO 1\ DEMOCRACIA

.)

considerada a história dos trabalhadores franceses como vanguarda do radicalismoeuropeu em 1830,1848 e 187\.

Nos três países, o meio da ação trabalhista foi menos o diretório local do partidosocialista centralmente organizado do que a "Câmara dos Trabalhadores" - o centro dostrabalhadores na Espanha, as comere del lavoro italianas ou a bourse du travail francesa.Tratava-se de centros ativos de cultura socialista, que misturavam as funções de bolsa deemprego, sindicato, recurso educacional, instalação recreativa, local de reunião, centrode informações aos cidadãos, núcleo de agitação e fonte de rnoralidade socialista. Origi-naram-se das antigas tradições de auto-ajuda, ajuda mútua e cooperação. Mas essas câ-maras eram também novas, improvisadas coletivamente pelos assalariados proletarizadosurbanos ou rurais, formando um contraponto às democracias sociais que emergiram nasdécadas de 1860 e 1870. Na Espanha, as câmaras dos trabalhadores eram a base celularde um anarcossindicalismo que marginalizou os socialistas na Catalunha .industrial e naAndaluzia rural, confinando-os às regiões mineiras do Norte. Na Itália, pelo contrário,elas alimentaram o crescimento do socialismo, especialmente entre os trabalhadores agrí-colas do Vale do PÓ. Na França, ficaram no meio-termo.

A segunda complicação anterior a 1914 foi a GLi:l-Bretanha. Houve, neste caso, umparadoxo, pois a nação com o capitalismo mais avançado e a sociedade mais proletária

\ tinha um dos menores eleitorados socialistas. Ao contrário do resto da Europa, o ativismoda classe trabalhadora continuou a ser cjlEClEz.a.d?pelo Pat1ido Liberal, mantendo na

, marginalidade uma política especificamente socialista até pouco antes de 1914. Aindaassim, a começar do renascimento socialista dos anos 1880, vibrantes subculturas so-cialistas coexistiam localmente com a representação eleitoral liberal, particularmenteno Norte". Depois de 1900, foi o Comitê de Representação Trabalhista, inicialmentecomo um Iobby parlamentar dos sindicatos dentro da estrutura liberal, mas depois comoum partido propriamente dito, que erodiu o apoio dos trabalhadores ao Partido Liberal.A mudança para o Partido Trabalhista foi lenta e desigual, e s6 foi finalmente comple-tada pela Primeira Guerra Mundial. Mas já em 1906 e em duas eleições de 1910 oPartido Trabalhista reivindicava o lugar que era legitimamente seu".

Em nenhum outro lugar o trabalhismo se ajustou tão bem a uma estrutura liberalmais antiga. Com essa única exceção, houve três geografias distintas do socialismoantes de 1914: o "núcleo" socialdernocrata da Escandinávia e da Europa Central, ondeo novo modelo de parlamentarismo socialista e sindicalismo associados dominou osmovimentos de trabalhadores; o Mediterrâneo Ocidental, onde o anarcossindicalismoenfraqueceu os partidos socialistas e tomou mais volátil a política da classe trabalha-dora; e a orla Oriental da Europa, com a Rússia, os Bálcãs e grande parte da Áustria-

j Hungria, onde o atraso econômico e político imobilizou os partidos socialistas ou for-; çou-os à clandestinidade. .. .--'--"- ..

Os partidos socialistas surgiram em duas fases: a primeira ocupou a lacuna entre aPrimeira e a Segunda Internacionais, terminando com o partido italiano em 1892; a

92

o SlJRCJI:vlENTO DOS MOvrMENTOS TRAI3,\LIllSTAS

::.'

outra começou com as fundações balcânica e polonesa no início dos anos 1890 e termi-nou, em 1905, com a revolução na Rússia, Essa seqüência seguiu o gradiente de desen-volvimento europeu, em declive acentuado do Oeste para o Leste e do Norte para oSul. Com exceção do Partido Trabalhista Britânico, as fundações posteriores surgiramonde as condições haviam retardado a política popular, quer por ausência ou desigual-dade da industrialização, baixos níveis de alfabetização e cultura pública, quer por umsistema político repressivo. Entre os exemplos encontram-se não somente o Leste daRússia e do Império Habsburgo, mas também a periferia meridional de Espanha, Por-tugal e grande parte da Itália. No Leste, os socialistas foram mais bem-sucedidos onde '.a indust.rjal~aÇ!1.QJ.Qfal ou os r~~2_'!l~slocais meno~.E<::pr~~_siv.o~tornaram o ambientemenos hostil. Para que a atividade socialista pudesse deslanchar, necessitava-se ou dodesenvolvimento capitalista ou de tradições políticas liberais, por mais limitadas quefus;~~'-(;~~'t;b~lã4:i):-- . '.. ".._. ._.--

TABELA 4.2PROGRESSO DA SOCIAL-DEMOCRACIA ANTES DE 1914

--_."--- _. --País/Partido Fundação Pertormance eleitoral Militância máxima

máxima (%)

Finlândia (SDP) 1903 43,1 (1913) 85.027 (1906)

Suécia (SAP) 1889 36,5 (seI. 1914) 133.388 (1907)

Alemanha (SPD) 1875 34,8 (1912) 1.085.905 (1914)

Terras tchecas (CSDSD) 1878 32,2 (1911) 243.000 (1913)

Dinamarca (SDF) 1876 29,6 (1913) 57.115 (1914)

Noruega (ONA) 1887 26,3 (1912) 53.886 (1914)

Áustria (SPO) 1889 25,4 (1911) 89.628 (1913)

Itália (PSI) 1892 22,8 (1913) 47.098 (1901)

Bélgica (POB) 1885 22,5 (1900)

Bulgária (BWSDP) 1891 20,2 (1913) 6.168 (1912)

Suíça (SPS) 1888 20,0 (1913) 29.730 (1913)

Holanda (SOAP) 1881 18,6 (1913) 25.708 (1913)

França (SFIO) 1880 16,8 (1914) 93.218 (1914)

Grã-Bretanha (LP) 1900 7,0 (ian. 1910).'-- ... '- . .-. -

SOCIALISMO, GOVERNO PARLAMENTAR E O DIREITO DE VOTO

pesde os levantes constitucionais de 186"Z~]L_atLl..9l4,a Europa Central e do Nortefoi surpreendentemente estável. É evid~l;teque houve tensões - a violê~~ia ~ncÍêrrticada respostado -Està'do italiano aos protestos populares, as crises pelo direito de voto na

l>

!

I,

93

Page 12: (09) ELEY, Geoff. Forjando a Democracia - A História da Esquerda na Europa. pp. 73-113.pdf

FORJANDO A DEMOCRACIA

\,-(

Bélgica, a agitação trabalhista na Grã-Bretanha em 1911-13, a Semana Trágica na Es-panha em setembro de 1909 e toda a turbulência que envolveu a Revolução Russa de1905 -, mas as estruturas constitucionais dos anos 1860 se mostraram particularmenteelásticas. Durante essas décadas, a estabilidade exigiu grandes proezas de acomodaçãoconstitucional, tais como a Lei da Terceira Reforma Inglesa (1884), a Constituiçãobelga (1893), o voto masculino universal na Áustria (1907) e na Itália (1912), e asliberalizações escandinavas na Noruega (1898), na Dinamarca (1901), na Finlândia(1905) e na Suécia (1907). Mas esses acordos foram negociados exatamente atravésdos meios constitucionais disponíveis. As aspirações democráticas foram incorporadasà estrutura constitucional liberal. A estabilidade foi assegurada por intermédio das for-mas parlamentares existentes.

Os anos 1860 estabeleceram, para a vida política européia, normas constitucional-parlamentares duradouras, aceitas tanto pela esquerda como por seus adversários. De-pois de 1905, inspirados pelo Soviete de São Petersburgo e pelas agitações grevistas de

"massa na Europa, os radicais socialistas começaram a criticar essas perspectivas parla-mentares. Mas suas críticas só deram frutos no período entre 1917-23. Antes, a maioriados socialistas observava as normas parlamentares - e onde elas não existiam a agita-ção extraparlamentar deveria criá-Ias. Da mesma forma, com exceção da Rússia, dosBálcãs e da península Ibérica, cujas constituições parlamentares continuaram fracas, asclasses dominantes européias se mostraram relutantes em abandoná-Ias em favor desistemas reacionários de governo menos vulneráveis à pressão popular. Mesmo ondeserestringiram as liberdadesdo movimento trabalhista, como na Alemanha soba LeiAnti-socialista de 1878-90, as estruturas parlamentares continuaram intactas. Os socia-listas alemães sofriam pressões policiais e os sindicatos eram ilegais, mas, apesar detudo, a SPD ainda tinha permissão para disputar eleições.

. Para os novos partidos socialistas, havia um princípio axiornático: a política dosItrabalhadores exigia as formas parlamentares existentes, que poderiam ser usadas emI parte como plataforma para agitar as massas, em parte para conquistar reformas dei curto prazo. Ademais, as novas lutas pelo direito democrático de voto afetavam direta-

mente as relações da esquerda com o liberalismo, pois, enquanto os anciens regimesresistiram à reforma, os liberais geralmente se uniam às frentes de oposição com ossocialistas e outros radicais. Mas, uma vez conquistados os votos dos trabalhadores, asfrentes se rompiam. A democratização da constituição, ainda que modesta, abriu cami-nho para outros conflitos" Uma vez assegurado um direito de voto mais democrático,os socialistas assumiram a independência política.

A Grã-Bretanha foi um caso extremo, onde, dada a sua condição de noviço, otrabalhismo sobreviveu numa coalizão popular mais que em todos os outros locais. OPartido Liberal de Gladstone, transformado em movimento nacional na década de 1860,foi o clássico partido das reformas limitadas, liderando a classe trabaJbª.ºQJiue.$lli'Í.tá-vel ao longo d~ duas I,.cjs.~~1~t[9D1!-ª,._~jll l86i e 18~4>.~-~;bilizando-a .contra um

94

o SURGIMENTO DOS MOVL\1ENTOS TRABALHISTAS

~ema aristocrático visto c?mo corrupto. Ainda assim, os limites mesmos da reforma- e a negação prática do direito de voto à metade da classe trabalhadora masculina e àtotalidade da feminina - impediram a existência de um partido trabalhista separado.Foi isso que, acrescido do peso da tradição, justificou eficazmente a aliança liberal, atéque as condições de guerra e uma nova Lei de Reforma em 1918 tomaram possível acompleta independência do Partid~T;:;;b~ihi~t;:-··------------

A Alemanha foi o extremo oposto, onde a I:Upt!lD!.e;nW~Jr:aQa.l.hisJ}10_.eJiben!lis.!f1O'ocorreu excepcionalmente cedo, .@..,I).~década c!s~ª-~.Q.As razões foram complexas, !

envolvendo profundas divergências sobre as formas da unidade alemã. A inclusão do :voto universal masculino no Norte da Alemanha e as Constituições imperiais de 1867-71 libertaram o jovem Partido Socialista de sua primitiva dependência dos liberais.Passaram-se mais duas décadas até que o Partido Socialdemocrata Alemão se tomasseum partido de massa, mas as condições políticas da independência já estavam lançadas.

Comparados a esses extremos, a Escandinávia e os Países Baixos ficaram DO meio-termo. Nos anos 1890, o Partido Trabalhista da Noruega era uma federação frouxa deassociações locais de trabalhadores. Impelido pela questão nacional da separação no-rueguesa da Suécia, ele apoiou o partido liberal Venstre de base agrária e foi recom-pensado com o sufrágio masculino universal em 1898. Os socialdemocratas dinamar-queses também se uniram ao partido liberal Venstre numa aliança democrática contra aresistência do governo à responsabilidade parlamentar. A partir dos anos 1890, os so-cialistas e liberais suecos também se uniram contra os conservadores pela reforma dodireito de voto. Em todos os casos, a conquista do governo parlamentar pelo sufrágiomasculino alterou essas antigas alianças liberal-socialistas - na Noruega, depois daseparação da Suécia (1905); na Dinamarca, depois da refonma constitucional (1901);na Suécia, depois da reforma eleitoral de 19075. Uma vez resolvida a questão constitu-',:cional, o aumento da força parlamentar dos socialistas encorajou sua independência, e!.foi possível um realinhamento. Da mesma forma, os socialistas belgas geralmente setalinhavam com as coalizões liberais em tomo de políticas educacionais anticlericais e !reforma eleitoral, oscilando entre protestos da massa de trabalhadores (atos pelo voto !,

de 1886, 1893, 1899, 1902 e 1913) e a cooperação parlamentar com os liberais radi- i

cais. Mas depois de 1902, quando uma greve de massas foi derrotada, eles formaram \uma aliança liberal mais estável, como também o fizeram os socialistas holandeses"depois do fracasso de seu ato pelo voto em 19036 •

A questão constitucional tinha mais uma peculiaridade: uma coisa era o direito devoto; outra, a estrutura ampliada de responsabilidade parlamentar, que poderia levar ossocialistas ao governo. Também neste caso foram muitas as variações. A relação entre'os partidos e o Estado, e a resposta do Estado ao crescimento dos partidos, deu formaàs suas tendências radicais. Onde as tradições parlamentares eram "antigas e a ideologiaPopular identificava a democracia com a força dessas tradições, como na Grã-Bretanha,ou onde o Estado apoiavaasliberdades civis e a arbitração industrial, como na Suécia

~ •••• -.-._ •••• _~ •• _ ••••• '--'-~<O "'. 0'_ o'. .,_ •• _ • _.

. ::-:z:.

95

Page 13: (09) ELEY, Geoff. Forjando a Democracia - A História da Esquerda na Europa. pp. 73-113.pdf

fORJANDO A DEMOCRACIA

"

e na Dinamarca, os movimentos trabalhistas favoreceram.o gradualismo ou o refonnismo,-Onde os socialistas não tinham representação parlamentar e o Estado tinha um com-portamento repressivo - como na península Ibérica, na Itália antes de 1912, na metadehúngara do Império Habsburgo ou na Rússia imperial -, a militância trabalhadora setornou intransigente. Com a Lei Anti-socialista, a perseguição policial, a proibição doseu acesso ao emprego público, os socialistas foram demonizados como "antmacionais"_ na Alemanha essas condições ajudaram a solidificar a lealdade do SPD ao marxismorevolucionário. A-Y.isão de um Estado como instrumento da classe ,2.Q.!:ninante._quenã.Qpoderia ser r.~fQ[maJ!.9~ teriª--ºtê...§~..rdestD.lÜ;!Q,cresceu Cf)1Jazil.º_.9.Q;U!l-ª.us-tratosdiá-ri9sª_ql)eoo.ffiuvimentfr.era-.S.Uhme.tido, inç[usiyeporq].le S\m-Lo.rça eleitQrillsresce~teera negada PQfollmgo.Y§nlQJi.Y.L~,.çl,Q_COlltl:Qle_parlamenmrl.Esse sistema de governofacilitou a adoção de um programa marxista pelo SPD nos Congressos de Gotha (1875)e Erfurt (1891), silenciando, ao mesmo tempo, os esforços para mudá- lo. Mas isso nãoimpediu que se buscassem reformas muito menos ambiciosas que a derrota do capita-lismo. Os socialistas se adaptaram às instituições conhecidas do capitalismo alemão,no sindicalismo, no governo local e no trabalho em comitês parlamentiUes. À medida---_. ---_._ ..- . - '--que o movimento crescia burocraticamente, passou a prevalecer, depois de 1890, umconservadorismo organizacionaJ. Ao mesmo tempo, contudo, _~or~e.ressão do Estado

, manteve a linha revolucionária oficial do partido,~.~--UI;;e;~~plo opost-o-é"aDinãn1arca, que mostrou como um acordo anterior entre, Estado, capital e trabalhadores deu à política do movimento uma característica refor-

mista, Em 1899, uma disputa nacional de carpinteiros entre a Federação Dinamarquesados Sindicatos (LO) e a Associação de Empregadores Dinamarqueses (DA), ambas or-ganizadas nacionalmente no ano anterior, resultou num lockout geral de 16 semanas.No Acordo de Setembro, que deu fim à disputa, os empregadores ganharam o respeitopelas prerrogativas administrativas, mas também admitiram regras para greves e lockouts,além de tribunais de arbitragem mantidos por pessoas indicadas pelos dois lados e umjuiz presidente. Assim, os empregadores deram legitimidade essencial aos sindicatosdinamarqueses, inclusive o direito de organizar, negociar e fazer greve e o respeito aoprincípio fundamental da negociação coletiva. SeI?P!lralel?o_n~§.t1~?'p"~çO~?o~c<2.rpora.tivo~cional anteriº!_o~191~ o Ac()rd2.-º(!.~etembl.·od~f!n~l:I_a estrl:l~.0. dasrelações trabalhistasna Dinamarca para o século xx".

A França representou ainda ?utro.Ea_c!r.ão. A tradição republicana francesa impu-nha uma forte solidariedade P9ill!.I.ar,apesar de a Terceira República ter se orig)nado nomassacre contra-revolucionário de 20 mil trabalhadores -da Comuna de Paris. Quandoa República ficava em perigo, o movilnento dos trabalhaéi"o~es-f~-~~ce~~~~ci;va coali-zões para defendê-Ia. Apesar da repressão dos anos 1870, os trabalhadores tambémviam a república anticlerical como sua ªlLada natural contra os empregadores c~~e autoritãrios, enquanto os políticos repubiiZ;;;;-s~sfórçavãm éI; "apresentar a r~-

pública como outra coisa que não o cão dego~~~~~~.?~trões"9. Como resultado da

r:

96

o SURGIMENTO DOS MOVIMENTOS TRAl3ALHJSTAS

)~~ão d~.3i~o~m_la.§:t-, o incremento de reformas trabalhistas trouxe a..w~_s!.!.t§JriaLUJi2.Z).,a responsabilidade do empregador por acidentes indus-triais (1898) e um Ministério do Trabalho sob o comando de Alexandre Millerand(1900). Os governos não advogavam os interesses dos trabalhadores no sentido socia-lista do termo. Mas a tendência esquerdista da tradição republicana incentivou uma i

____ ,_ "--00' 00. o" __o 0000 o o . . . 00 o o... . Iambi"a~E.c:io~_~as~t~!!,'!~~~??_n:()'::~l!Ie~~()_.<l.<J~tr.abalhadoresfranceses com relação a<?0./Estado que não existiu nos antagonismos diretos na Alemanha .

.t-J:ae~a-dãfünda~ão <l.~demôcraciasocial, foi a dialéticada integração e exclusãoique favoreceu os maiores pal}i9-º~~m~9jdas suficielltesde governo parlamentar'para o •pártido poder deslanch~" mas medidas suficientes de repressão para manter sua força:radical. Par~(fscer, ~~opartidos socialistas não se apoiavam apenas nas instituições:p_arlame;tlares. O crescimento rápido dos partidos russo~j;;d~~',-~-Zrania~ e lit_ no .

Império Russo demonstrou a capacidade de adaptação do socialismo às condições dailegalidade. Era também possível adaptar os partidos para formar governos depois que

.\se ganhasse a democracia parlamentar: basta observar o impressio.l1ant(!pººe.r.d~,ill:r-· -,fJ)an.ê.nciMtªJ>.9.ci(ll~!!.t:n()çracia_~,~ogoye~ona Escandinávia eno~reas ?é~adas de !930_e :1970, Mas, na cultura de oposição da socialdemocracia anterior a 1914, era a situação'intermediária - democracia suficiente, t:!1'!.s.noãomuita - que dava fervor a0p19vim~llto,

, .Além disso, a capacidade dêSe-!dêií:iifiéaí- po~iti:;~ente com o Estado existente, como\;\ialg()~l!scetf~~lQ.~influêl)çiª, mudança ~O;t{rr;qm9:.fQ.Iltr.QJe, fQjúom,c!íYi~ºifü~d~i.t~n- "

I\t~para os.panidos.europeus. Onde essa capacidade de identificação era forte, mais I

.'~eformistas eram os partidos que surgiram; onde essa capacidade era fraca, maior o Jpotencial de uma atitude mais revolucionária.

SINDICALlSMO

Quase todos os partidos socialistas tiveram relações íntimas com as federações sindi-cais nacionalmente organizadas. De fato, eles colaboraram no lançamento dessas organi-zações nacionais, que, com exceção da Grã-Bretanha, vieram depois da fundação dopróprio partido socialista (ver tabela 4.3).

O crescimento e as formas de sindicalismo variaram muito em toda a Europa.Enquanto outros movimentos nacionais permaneciam embrionários, os sindicatos in-gleses tinham 674 mil membros em 1887, em comparação com os 139 mil na França eos 95 mil na Alemanha. Os sindicatos ingleses ;;1~bé~o~ram'reconhéClóostanto pela°leic~moo~~I~~'~~p;~g;d~reLA legislação econômica lib~ralizante eas'i-eformasocons-titucionais da década de 1860 tornaram legais as combinações de trabalhadores tam-bém em outros lugares, mas as políticas antitrabalhistas geralmente voltavam ~.(),~o~~-dicatos rarame_nte tiveral11 PIQteijiglegal fora da Grã-Bretajjjja, ,dos.P"ª{~~oso~alx.'?i>.~9.aE;sc:a'ldinávia._ Se, por volta de 1914, as leis já haviam sido aperfeiçoadas, o poder doEstado era rotineiramente usado con_tE.~J!aj:>aI)1~9or~~_~~ngoro~:'~Je os sindicatos eram

97

I

Page 14: (09) ELEY, Geoff. Forjando a Democracia - A História da Esquerda na Europa. pp. 73-113.pdf

FORJANDO A DEMüCRACJA

"TABELA 4.3SOCIALDEMOCRACIA E SINDICALlSMO

-País Federação Sindical Nacional

Grã-Bretanha (LP) 1(1900) 1868 Conqresso dos Sindicatos

Espanha (PSOE) 1679 1868 Sindicato Geral do Trabalhador Espanhol

Alemanha (s=o) 1675 1891 Comissão Geral dos Sindicatos Livres

Hungria (MSZP) 1680 1891 Conselho dos Sindicatos

Áustria (SPÓ) 1689 1893 Comissão dos Sindicatos

Terras tchecas (CSDSO) 1878 1897 Comissão dos Sindicatos

Bélgica (POS) 1885 1898 Federação Geral do Trabalhador Belga

Dinamarca (SOF) 1876 1898 Confederação dos Sindicatos

Suécia (SAP) 1889 1898 Confederação dos Sindicatos

Noruega (ONA) 1887 1899 Confederação dos Sindicatos

Bulgária (awso=) 1891 1904 Sindicato Geral dos Trabalhadores

Hotanda (SDAP) 1881 1906 Federação dos Sindicatos

Itália (PSI) 1892 1906 Confederação Geral do Trabalhador Italiano

geralmente submetidos a vigilância. Os níveis de filiação sindical ainda eram variá-veis, oscilando, em 1913, de 25% na Grã-Bretanha e 20% na Dinamarca, a 15-16% na

, Bélgica e na Alemanha, chegando a meros 10-11 % na Noruega, na França e na Itália 10.\ r De modo geral, o sindicalisrno era um problema de economia e se disseminava de;01 < acordo com as taxas e f?rmas __de industrialização. Houve três tipos de experiência

antes de 1914, começando pela Grã-Bretanha e pela Bélgica, os industrializadorespioneiros do início do século XIX. A industrialização começou então na Alemanha e naEscandinávia na segunda metade do século, acelerando em enorme escala depois dosanos 1890. Finalmente, a industrialização nos outros países foi mais fraca, apesar de aFrança, a Itália e a Rússia terem um conhecido desenvolvimento surpreendente decertos setores industriais mais avançados a partir da década de 1890, assim como sedeu na Boêmia, em Viena e Budapeste, no Império Habsburgo, e em Barcelona, naEspanha. Em todos esses casos, pequenos e exclusivos sindicatos de artesãos, basea-dos em certas profissões, deram espaço para o sindicalismo de massa que a indústriatornou possível.

Por toda parte, não foram tanto os operários de fábrica que forjaram os primeiros~.o~!~1~ntos trab.alhi~_t~~~.jl1à;;-ôstrabalbadoJ~~q.ualiHê~dós-qlJ~ lYaÉ-iiiliªyan):B~s pe-

:->' quenas oficinas. Os primeiros sindicatos ~e originaram das sociedades de amigos, dosê}_i.lf;es.d~_ir;b~lhado!.~_se d-ª-s_associaçêí~sed_uÇ.;çi.Q'uaIs~-~~~pando o espaço deixado

, pelas guihjas.N~-AI~manha, antes de 1890, as sociedades de arte~ã~s ~~t~;~~;;o~n-I{

98

o S(JRGIMENTO DOS :Vl0VfMENTOS TRABALHISTAS

tro do movimento trabalhista - gráficos, carpinteiros, pedreiros, luveiros, ferreiros,rnoldadores e outros, inclusive as especialidades locais, como carpinteiros navais emHamburgo ou cuteleiros em Soling.en. Esses artesãos homens possuíam conhecimento -Iespecializado da produção e capacidade de regular o mercado de trabalho pelo costu- !

JIle e pelo aprendizado. t{!?~~~;~~7ub~~~sa~-~i~~~~~Q~2~~~ari~~·ci~';encontra- i .?

do nos mercados de trabalho mais dominados por emJ2.~~1@.º-º~ que acaba!'ªI'!!.Eom :,Pf.?fi.ssões como as de alfaiate;:..sL~.-ªpateiro.Orgulhavam-se de uma organização coletiva)que os artesãos rurais ou'os ~pe~ários ~ão tinham. .

Os gráficos foram os pioneiros típicos, formando os primeiros sindicatos em mui-tos países: Suíça (1858), Boêmia (1862), Áustria (1864), Hungria (1865), Alemanha eHolanda (1866), Espanha (1868), Itália (1872), Noruega (1882) e Bulgária (1883)11.Quando o sindicalismo começou entre os artesãos de Lvov, na Polônia, no final dosanos 1860, os gráficos naturalmente já haviam sido os primeiros, competindo com asSociedades Progressistas em Viena, Praga, Budapeste, Bmo e Trieste, e organizandouma greve vitoriosa em janeiro de 1870, que detonou uma onda de greves gerais naGalícia. f~_~SJlta ~.1890, el~ ai.!J.9.lIlê1?lª-'!.ª-tItativos,agindQç9111º_º_f!Úcleq-ºQ~3!!!dog~I.t3~lb-ªQ.ºres d.ª._Gil!Í.çjaJpr~,Ç!lx~or.d_Q_f.a.r.!~cl5J...Socialgef!J9ç[email protected]."-_º~is:~12.

_~~sição desse sJ.!l_cl~S!.Ji~i)!!Qj..u:?~s, ~ÇJrã~Breta.~ha.X?i l!1!1caso únicSJ'-~Lá, os sindicatos surgiram de uma estruturaCQrflOr-ªliv~lj4_t<"iâtente e excepcionalmen-- --------- - ---_.--_._~.~

_~ Isso resultou d2}~tQs:x!,!..§.cim~I2.~~.~J~gll.s~ri.ªlização)!},glesa aT1t~ri2rª9â.~OS1860 - de pequena escala, não-mecanizada, dependente daabQndi\nciª.J!<:;_<ws;~illls .

-" -.-. _,_ ••••• '". o'" • __ • __ ,~_., ••• _ O" _ __ ." •

qualificados. Essa estrutura permitiu a estabilização das organizações de artesãos qua--"." .-----.-- . rlificados por meio do assim chamado _noY.Q.lJ.lQdelod_e...sindi~mo no P:!?ri9.Q.O_~~.~!:.e.1848 e 1875. Em nenhum outro país -º_s..~.in9!s:~~~.Qe ..~t~sãos_ ~_e._~xQ.~!1.dir~mpela: ","coloniz.açãu..das._ind0.~trtasb4si.c;fl.?.Ac:JJ.l,~0", não se deixando confinar às minorias.qualificadas de determinadas profissões. Na Grã-Bretanha, os sindicatos de artesãos .

foram !ll.Q,d.~'-º,'L!l!~para .9s trabalh~~o~.e.~.9.l,I~.!l~E.ad()scriados P~!1ll?19I1f~.if.1dl,lg!:tali-zação, como os fiandeiros de algodão, que então excluíram os menos qualificados.E~s~ do~nância t~~bé~~t~mo~'p~~'"sível, depois de 1899, outro fenômeno caracteris-

ticamente britânico: os sindiqJQ~_~!.~~ p~1]?:r??..9_u~ dOll1in;:t.r;),m_a~ind.ústriasigno-~~c!fls_p~[q,~r.a.di.ciolJalismodos ..~in9i.c:~[(?:>_d._~,!l.r.t~SãOS.~3.

Esses sindicatos gerais eram diferentes dos dois outros modelos no continente: ossindicatos industriais, que recrutavam todos de uma única indústria, independentemen-~~.de_gualiX~~.~ç~Qg!-,l.1}1.esmoda cor c!()E()J.~·~~~~·~ssindicatos ge;ais-dei;~b~had~-res, que reuniam tººos...OS_!tãº--.9.!:l~ILficadosexcluídos, quer por causa da exclusividadeda profissão, quer porque suas ocupações Q_~~_afiav.amas_<i<l.~'!!fl~~ç~t:_s_~!:~~_i~nais;quando um número suficiente desses trabalhadores não-qualificados havia sido recru-tado, eles eram fil~çlQL~ sindicato i!Wl~§.lri.ÇlL.ªPJ':"[email protected],geralrnenteincorporan-dO-se à~profJ~~esr~I<?Y_'!l'!t~~14 Q·~D~calj!'rno industrial se espalhou de mododesi-g~l~1.Na Ãle~anha, ele foi mais falte entre metalúrgicos e t~a-b~íha'dores ém mad~ira

I!,

>-"; ~ .:. f

Ib-~·,

99

Page 15: (09) ELEY, Geoff. Forjando a Democracia - A História da Esquerda na Europa. pp. 73-113.pdf

FORJANDO A DEMOCRACIA

(começando em 1891 e 1893), seguidos por trabalhadores na construção (que forma-ram seu sindicato em 1912, de pedreiros e serventes), trabalhadores em transporte, naindústria têxtil e mineiros". Mas, na Grã- Bretanha, a ubiqüidade do§2LnsiLcatos de~?osJ~.z_ql!.e o si~c!!call~l}~oindustrial demorasse a deslansh.,ar. Essa situação convi-dava a um sindicalismo geral mais amplo, que abrangesse desde os trabalhadores sem

.JO nenhuma especialização até os trabalhadores qualificados e semiqualificados esqueci-..,.dos de muitas indústrias - "um conglomerado mutável de diversos grupos regionais e

-,Iocais de trabalhadores em determinadas indústrias, ocupações e fábricas"!".Os sindicatos gerais surgiram na Grã-Bretanha com o novo sindicalismo em 1889-

92, que reorientou decisivamente o movimento para os não-qualificados e estabeleceuum padrão futuro duradouro. Dos dez maiores sindicatos em 1885, somente um semantinha em 1963 (maquinistas), ao passo que sete existentes em data mais recenteforam fundados durante o período entre 1880 e 1914: Transportes y Geral, Geral eMunicipal, Mineiros, Eletricistas (todos em 1888-89), Comércio e Distribuição (1891),Ferrovias (1889) e Governo Local (nos anos 1900) 17. Isso produziu o notá vel dualismodo crescimento do sindicalismo inglês: os sindicatos de artesãos, defendendo obstina-damente privilégios duramente conquistados no merca~.~_!:I_~U?~!abalho, e o

I sindiçaJismoº~~~~m~rgell.l.e_qu~ganhava fore· Este último floresceu ngs novo~/ r~~a,JIld~stria moderna, dos quais automóveis e armamentos são exemplos

emblemáticos.Nos países menos industrializados, as oportunidades mais reduzidas não evitaram

conflitos violentos em tomo de modelos opostos - como, por exemplo, no movimentosindical húngaro, concentrado em Budapeste, ou no pequeno mas vigoroso movimentosindical búlgaro, apaixonadamente divididos, depois de 1903, entre os defensorescentralistas do sindicalismo industrial revolucionário e os defensores reformistas de umfederalismo "apolítico" de base profissional. N.9E~~. da I!!!!~~!!l.i!.Espanh~os sindicatos seguiramcaminhosfederalistas e locaís - coalizões municipais de trabalha-dores em tom;;-d~ um núcleo profissionaJ,"baseadãS""em câmaras trabalhistas multifacetadase capazes de ações locais que abrangiam bem mais que os trabalhadores qualificadosregularmente sindicalizados. Nesses países, os sindicatos centralmente organizados afe-taram apenas o setor público, as ferrovias e as minas. Na Espanha e na Itália, os sindica-tos gerais se desenvolveram apenas no campo pesadarnente proletarizado. O enormeFederterra italiano (sindicato de trabalhadores agrícolas fundado em 1903) foi o único aconseguir organizar o proletariado do campo, embora o número de associados variasseenormemente: em 1913 havia 469 mil trabalhadores organizados no campo, em compa-ração com os 503 mil trabalhadores organizados na indústria!".

A federação nacional, na CGT francesa (1895) e na CGL italiana (1906), produziuum impacto pequeno nesse localismo orgulhoso. Além do notável Federterra e do Sin-dicato dos Metalúrgicos (F10M) fundado em 1901, os socialistas italianos não foramcapazes de deslocar as sociedades de artesãos localmente enraizadas. A arena local das

~

-,

100

o SURGfMENTO DOS MOVIMENTOS TRABALHISTAS

câmaras de trabalhadores confundia a fronteira entre o sindicato e a política, de forma

que a hourse..du t.!:..avail::.~!ere_cj!llavoro ass~I:n!~~lU? }.ugar_'!.~~i~:~ó~?.~~}~~~-ta locaL ~.~!t~1.i~~9~.~0.s_se_~.0I]1J:lletavam, j.á que os socialistas locais trabalhavamnoamb~e~te ~!~:~~.n.!.P!.i~?o_ ~~~_~a.~1e.r.e.Por sua vez, a CGT francesa recusou toda asso-ciação política: indiferente às vantagens do centralismo, o sindicalismo.da CGT se.mo-bilizou em torno de militantes individuais que operavam através da bourse. No sindi-calismo, essa estratégia competia diretamente com o socialismo parlamentar, ~~E@!Isa ocupava l!n:Lni.çDº-.s_Qçioe-'~º!Iª-rillÇ..Q_JL!~gi9!1_~.I__e~Q..~çj[jEO.~9.Na Espanha,centralismo e localismo polarizaram-se em duas federações adversárias, a UGT (UniónGeneral de Trabajadores de Espana) socialista e a CNT anarcossindicalista, Essa formade organização era profundamente diferente do modelo nacional proposto por Marx,amplamente implantado no Norte, que combinava socialismo parlamentar com sindi-catos centralizados.

Se a Grã-Bretanha tinha uma mistura de sindicatos gerais e profissionais, nacional-mente organizados, enquanto França, Espanha e Itália produziram coalizões de baselocal, descentralizadas e heterogêneas, a Alemanha demonstrou o maior desenvolvi-mento, com as tradições artes anais sucumbindo ao sindicalismo industrial de massa. Omovimento alemão de trabalhadores também se iniciou pelas associações locais oumunicipais de artesãos. Mas os sindicatos alemães profissionais nunca ampliaram sual Jbase como os ingleses: sem a proteção legal que Ihes foi tirada pela Lei Anti-socialistal •.~•....

em 1878, eles foram superados pela velocidade e pela maior modernidade da industria- . \\lização alemã. Antes de a lei ter banido a atividade coordenada de sindicato e partido, .havia 27 sindicatos nacionais profissionais, desde pr_~~sad.2!·~~_çl~fº.l!l(). (com 8.100membros), ê:@~()~(5.696) e montadores (5.500) até seleiros (260), cesteiros (100) e

eS~!lltores (35). Depois de um-ãno, r~stavam apenas quatro: gráficos, litógrafos, luveiros li'~ chaPcleiros: A repressão estatal reduziu novamente o movimento às suas raízes'". ~

Depois da Lei Anti-socialista, o movimento se expandiu para fora à medida que a .

ra.'pida industrialização da Alemanh. a .superou a capoa.cidade das .soc.ie.dades pro....fi.lssio-1inais de integrar os novos tipos de trabalhadores. ~()_p..~IÍ2.~oentre 1892 e 191~?~~~i- .ca!OSllªcionais qlír'!.m de 57 Pi!.~~:lQ..l!!aso númerode tHiados.paSS9l! <!~~_I?_mi!para2,5.ITlil~º~.s. Esse crescimento refletiu duas alterações fundamentais. A influência da icorporação foi reduzida: em 1914, ~_~ ..!~e.ta~~..9.()s sindicatos de 1892 haviamcl..~sap~ecLc!º.à meçliQ.'!.qu~ m)nei!.Q.~,trabalhado.r.e~ernC:()I!s~~~São, f!.1.~q!1..!E!~ta~,traba-lhadores em transporte, P.r9c!,!s~ame!lto e manufaturaem ~e~~I.se o!g~lli~a~a.IE' §m.segundo lugar, o centralismo triunfou sobre o localismo. Em 1895,1.50/.9 dos operários~~di~~lfiãdos de-B~rlim ainda est~vam~;~··~'i;;di~-~í~~ lo~ais. -reUnidos na Aliança Li-;~~'(FvDG)~~llja~~~~~~~~5I;trabalhaciores-;~.~~;~~~!~~~~'~·_~;·ç.â~iiMa~, em 19Õ7-08, os.-metalúrgicos de Berlim foram finalmenie integrados iiõ'sf~dicat() nacional, e_deix~ude...exis.tiulJili.açli_Q}l FVDG21. Em 1914,~s sete grand~~-~sei; sindicatos indu~,

triais (metais, n}!!deira, co~~t~üção, tra_nsporte, têxteis e mi~~ração) mais o sindicato

II r

b~}·

101

Page 16: (09) ELEY, Geoff. Forjando a Democracia - A História da Esquerda na Europa. pp. 73-113.pdf

FORJANDO A DEMOCRACIA

geral dos operários de fábrica - tinham, cada um, uma filiação expressa em números des§,i~~lg~J>gl(),~,__C9rpPºlld_o70CfcJ:~;-tº~~i~ --.---,-- ,- -- -.'--- ---------

Pode-se suavizar as linhas nfiidasd.essa tipologia. Atéo§i,Il.giçalismo de massaposteIior ~~95, ~.9vin~I1!Q.~m~J~m!;[ªYL<LYill.Q.$.iIlliiçajismo" na Grã-Bretanhaall,te.ri()ra!~?2,,!!,!nb9_r.~ ~~!,il1ºiEª1Ç>JjlI9fj~§iQI1!l.ii.!lli!1gJiyessem a amplitude britâ!}i-

_~:. Ademais, os s~ndicatos pro~ss~onais alem~:~!ão chegaram a desaparecer ~tamente. Carpinteiros, pintores, pedreiros e asfalta dores resistiram todos à absorção nosi;dlcató dos trabalhadores em construção-'. Por sua vez, os sindicatos industriais defato podiam também surgir no interior dos sindicatos gerais ingleses, como se deu comos estivadores no Sindicato Geral de Empregados em Transportes (TGWU). Ademais,rdep<?is da Primeira Guerra M~~dial, o sindicalismo europeu convergiu geralmente para

I r.:!10Y!!!l~21~~gg}~~11~~~X~clc.~'~~s,operando corp_?~~~_am~nte emS.\lill\;.ãQJ e~~no-\ rii'íã'"eao Estado, '"'' ---,-; ,,~.., _..- .... _ I

: Surgem agora duas questões finais. De um lado, contextos políticos foram decisi-,lI'vos na formação das características nacionais do sindicalismo. Se o movimento alemão!\ foi diferente do inglês nos anos 1860, isso resultou menos da sociologia industrial que\, da repressão que os sindicatos alemães tiveram de enfrentar, Essa adversidade política

. ;i incentivou os militantes alemães a abraçar o socialismo, enquanto na Grã-Bretanha a,I

;! tolerância aos sindicatos e as leis de reforma parlamentar selaram o acordo com o\ •. \ liberalismo, Mais tarde, a repressão bismarckiana bloqueou uma evolução mais "ingle-'1\ ~'isa", A perda dos direitos sindicais sob a Lei Anti-socialista elevou a lealdade ao socia-I Ilismo à condição de prioridade prática, simplesmente porque, no parlamento, o SPD foi

i o único representante legal que restou. Quando os sindicatos nacionais ressurgiram~depois de 1890, sua militância socialista promoveu então o modelo de sindicalismo, industrial centralizado, Dessa forma, os contextos políticos nacionais definiram a for-!ma com que se organizaram e se comportaram os sindicatos".í Por outro lado, a economia também continuava vital. Os aspectos de concentraçãoi e a~~I~I:açãQ..clªjnc!t;Jstrialização alemã, acrescidos do caráter altamente organizado dof R' •.••. - - ~._ - _"0 o. ," •••• ' '.-."; ~.,~-~.~_ ••• _ , ••••••••• .,

, capitalismo alemão, foram as razões mais imperiosas dos sindicatos centralizados dagrande indústria, A i!:.dust~i~liz~ç~~~~e_m.ãg~_O~_!~9.~C!s_t!P9.ul~operários .Jlurn rinnç11..1Uitomais l'ápid9_9º_9.ue.a_s,5Qcjedades.c:!.eofício.lQglmente§ediaqas seriamcapazesdeabsorver. Ademais, a concentraçãc.do.capiíal fez surgir a cO,n~en.!ração do tral;mlho,pois era apenas pela mais determinada ~entralização de recursos que os trabalhadorespoderiam ter a esperança de enfrentar os grandes empregadores, No modo de pensardo SPD, isso estava ligado às visões mais amplas do desenvolvimento capitalista, emque a concentração, a racionalização e o progresso técnico promoveram, juntos, o ad-vento da economia centralmente plan~jac!.a_ISsojõi~óounecessária uma organizaçãoS!~,<l,ica.teq~iY-?L~!!.~- capaz de enfrentar o capital-~'-;~sUJ~;;~-'~õ~trõle~;:;-;~niadepois da revolução. Esses argumentos não eram relevantes nas economias menos de-senvolvidas, em que a indústria era de pe_qll§IJQ.PQr!~e estava gcografic_<i,rnente9isp'~r-

102

O SURGIMENTO DOS MOViMENTOS TRABALHISTAS

\t. ,

"'-, J sa. Nesses casos, a economia ainda precisava adquirir sua proeminência para negocia-r (, ções coletivas, e as formas localistas sobreviveram,I '

OS MOVIMENTOS TRABALHISTAS SE EXPANDEM

Qtitmg.s!~.P!2.gress?_<!~~~catos seIi~tanto ao ci~lo d~_~~~~~ão e_~~~ssã':.?~S'.n.egócios como à política. ~_~?!§!j~,Cl-,ci~J~ber:~]i~ação política e a expans~o _~~~~~o- ;,JJJigpropiciaram íI prjnwiraQlldapan:~Jlr.Qci'~ de grii~jiT~6g-73, qÜ~lIlãõã rrulitancia~-;-ampliou até a periferia subdesenvolvida, p_a,Espanha· ât~"ftalici!l.:.. A Iiberação

.interagiu então com o fim da deJ?'!:'~~§~Q~!.'!U]..22-9QJ_J2.~<i_?t~_~~r~_tr~~,sis~~,p,y'-ª--2_sindicalismo de massa. A política também lev~plosão do mo~imento europeu de :·~---s·- i'JJ2= Itrabalhadores de 1904-07, quando os sindicatos austríacos triplicaram, os alemães,'noruegueses e suecos mais que duplicaram, e os húngaros quase dobraram seus qua- .dros de filiados, sem falar na militância localizada na França, na Itália e na Espanha, .nem da turbulência revolucionária na Rússia, onde pela primeira vez os sindicatos seapresentaram legalmente. As questões do voto e a insillL~o revolucionária na Rússia '

t~~~m o í~peto, ~mPQr'!.Q~c.~<lipéií_ti~~2~~ç.QJ~,n.!J~~~n~P;_~;t~~çQlª~r;ct:Q. ~Um dos efeitos da depressão foi decisivo. Com exceção da Grã-Bretanha, ~F~_I

viu a lli!â§~wuJiL..GQro.~I~io livre para o protecionismo, atraindo_Q.gQYem9 __,\?,<,JIaa IeCS)l~.'?IE.ia-Na indústria pes~ e nos _se_tor.;i;;~;.g;~~,çle_CLllímica e engf<!!bmia·cié- It~ isso também fadiTtõ~"á-concentração, com n~eis importantes de inte~ação ver- \tic;al e horizontal dentro de setores e entre eles, ~.:'i~~nt~~g1:!l_as.ão cl.e.~~ por imeiode cartéis e novos lobqjf!._s empresariais paraiDtlue~@uL~o. Isso foi mais;c?IaçtçIÍJ;t!Ç,9_n!!.~.em,anha. Mas descreve os setores dinâmicos em outros 'par;,es;-ê'sta:- !_.~,--- ,

belecendo u~~ pa<!~.?~~_~s em fase de2~_u~tr!aJjz.a,Ç[email protected] :Rússia e na Escandinávia. O capitalismoera~~i_tQ!Il~li}LQrgan.i.z.,g;!o - ~~i.9..!:..~!!l_~~ala,'ma-i-;--i~~riigãdop(ir-meio da [email protected]~ional, mais poli~.i.?;ªç!Qe, c.Q!1lorativame~-te,

xmi~j~~i@º-º-~ºrn_()~;~i.~~:-!i~;n;.~~Qj~nte 9f\~.~~q-;~~ndicatos tínham.de>op~r~.!1.com grandes conseqüências para seu provável sucesso.

6..!JJptu,GlÍQLimpIeSsiQn;lJ\t~,lL?Iª ...Q__~,Ú!giç[email protected], Em 1913, ao seu qua-dro de associados do final da década de 188014, os sindicatos ingleses já haviam acres-centado cerca de 3,4 milhões, os alemães, pouco menos de 3,8 milhões e os franceses,cerca de 900 mil trabalhadores, ~ sindicatos finalmente invadiram o ch_~Ii9!,indo além dos canteiros de construção, das minas de carvão e da pequena oficina, ondejá se faziam presentes, Na Grã-Bretanha, no período entre 1911 e 1913, J ,5 milhão(66% da força anterior dos sindicatos) de trabalhadores no comércio, empregados dogoverno local, servidores públicos e professores, bem como trabalhadores em trans-portes e na manufatura, haviam sidoincluídos'".

Esses novos recrutas tinham qualificações específicas de sua indústria, ~as nãoti!!..~~<!~p~!l.~iza(!?_'?~EE?f~s_~o_flos se12~,_<r!~I~~:..a, P-(Q.<iIJt9S_alilJJ~J1tíci9§,e..,.!lQ~i

103ii ,t.:'-

Page 17: (09) ELEY, Geoff. Forjando a Democracia - A História da Esquerda na Europa. pp. 73-113.pdf

FORJANDO A DEMOCRACIA

./

I?~v.?~_.ra,~~s.~.a~~C_~!1~~~,~º-ª.Jabric:.açãQ_ d~.carrºs. ,e bicldetéjs, ondeJ;l sindicato_~~~frac2; Nos ramos mais antigos de mecânica, as demandas sindicais assumiam asformas conhecidas dos artesanatos, concentradas em aprendizado, demarcação e Q!2f.-

r~ão de mãauínas, além de nas questões mais amplas de tr~balpo por tarefa, horasextras e jornada de oito hor~s, Mas a fraqueza do sindicato profissional nos novossetores permitiu aos organizadores concentrar-se nos operadores de máquinassemiqualificados e qualificados, cuja função começava a ser criada pela mecaniza-

í çã026• Ademais, se na Grã-Bretanha essa expansão ocorreu fora dos sindicatos profis-

sionais existentes, que relutaram em organizar os menos qualificados, no continente o~ I sindicalismo metalúrgico ~~_Y!l.-ac,lélP~pd(Lexatamente.para aQuel~m. Mas nos dois

casos surgia uma 112.Yil.v.~&!:!Eda:o trabalhador de fábrica seITÚqualificado treinadoE.º-.IT-ª!J.al.!.w.: -----,.--.-.. - ----

----Xnegociação localizada tornou-se cada vez mais difícil de operar. Campanhascomo, por exemplo, a da jornada de oito horas exigiam coordenação nacional. Osempregadores também forçaram agressivamente o ritmo. O poder do grande capital na

"I Alemanha mobilizou um impre-ssionante repertório anti-sindical, desde a moradia ofe-,: recida pelo empregador e os esquemas de bem-estar até a operação de listas negras e

sindicatos "amarelos", aos quais se entregava agora essa nova coordenação política.Isso, por sua vez, fez uma enorme pressão para que os sindicatos se centralizassem. Ogoverno também teve interesse nos dissídios trabalhistas. Na Grã-Bretanha, desenvol-veu-se a conciliação industrial por meio do Departamento do Trabalho do Conselho doComércio, com a modesta cooperação da Lei de Conciliação de 1896. Os casos maisfortes foram o da Dinamarca, por meio do Acordo de Setembro (1899), e o da Suécia,através dos acordos para mecânica (1905) e têxteis (1909). Tendências semelhantesapareceram na França (legislação de arbitragem, em 1892, e Ministério do Trabalho,em 1900) e na Itália (Conselho Supremo do Trabalho, em 1902, e código de arbitra-gem, em 1905). A repressão estava sempre presente. Em 1901-04, quando o governoliberal italiano estava negociando com os socialistas reformistas, 40 grevistas forammortos pela polícia. Mas, naAlerr:.~~.~a, paralelamente à l~gislaç_~9Q.t<.~gur~ deque o país foi pioneiro ~!l2.s.~lli80, e à ~~s~ITÚnªçãQçlesjgQa.Lda __l1e..ggciaçã~eli-y-~,-prometeu-se um siste'"ii1á'Í1ãdonal de relações industriais que deveria reformar aestrutura dos sindicatos?". No final das contas, foi a Primeira Guerra Mundial que~ ~- --------,----- •..._------------~/ tornou tudo isso possível.---...---.,c ",',__,,'".-,__c-

A base de massa fez dQ sindicalisrnoum fator-chave na vida nacional. Na Grã-(" -_.~. "'- ."--_._- _ ... - -- _ .._-_.----_.-._ ..~.... - ---. Bretanha, a escala das greves Inll_<l.9!cl.:":'Enquantoo surto de 1889 consistiu em grande

parte de uma onda de greves locais, e geralmente não muito grandes, propagadas porreação em cadeia, a explosão de 1911 foi dominada por confrontos nacionais ou bata-

, lhas deliberadamente travadas pelos exércitos nacionais?". No ~g.f!.ti!1e.~t~o fll!cro foi!gr~~~~1ilitânciatrabalhista de 1904-07. Isso refletiu em parte a mudança da econo-mia nacional e suas estruturas corporativas integradas. Mas teve também motivações

"

104

o SUR(jjMENTO DOS MOVJ!l.illNTOS TRABALHISTAS

políticas, dramatizadas pelas agitações sufragistas e pela Revolução Russa de 1905.

~este caJiº-'--!llli<~Iº\!.~.n:;I.ª_Üyª~_ª.!!'~~a.l.h()_e.Q.e~QÇra<::.ié!..::-:-.~a!áriosecidadania -:--est~v~m : o' 1

lindiss.9.ciaYí:lm.~nte liWJ!s. Com o crescimento da esfera ~Ji~~_~~~~~~~~_S~!$..~- i~,}:.'J '!!lento dos partidos socialistas de massa, o sindicalísmo passou ª_cristalizar maiores \ \H ~~p~~anças e, receio~. Os co~~to~ __t.r_~??lh~t.?~l'_ª_s_s..arª_JJLa~i!l!~().1!~<lfp~~~íE!~~~~ais \;

'tI1\gfandl~Q.s. A medida que as lutas sindicais cresciam em escala, também crescia essa)'. \ -.'- "_~"_""_' _._ ••••• • __ ~ ••• -~.-_.,. __ ._. __ ,. ••••• _.,. • J _

\ \ q,imensão política nacional.O centralismo tinha seus custos. Os membros se.I1ti~ que p!O!,rdiamJ9.rça,qu~_do)

ful1cionários_p~I1E~_~'!~~Le __t<li~~~~A~ji~d~;;ubstituíarn as decisões _das a.ss~1]1.-1" ." '-' -- ,.- .,,,,.~..•.-,,,,,,,-- \

bl@ts_ge~~j~:_Agravaram-?t:!..as ten.sºe.s_t:l)tr~!I.9rga~i?~~çª()l1aci.onal e a iI!ic!!lti.~~.!5?cal\p~ causa das ~~~. Centr{lliz.ar.re.c.ursQs.er-'Le.s.~eJKL<llllli!'al!..!.l!~_"gJ!..t!:ª,9~l!!P~a-)dores, mª-~--ª-çQDs.ti.t_1JÇiollaH~ação_das_deçi~Qe~de grevesacrificava a democracia dos i : .1,.----- '- o' - -- - -- "- ••••• " ---_ •• __ I. ". -

n:e~.~~os ~.Q!iQª-d.~"q-ª.$-!!X~,,~ti_::-~s_J]a~i_~2is.Minimizaram-se as informações trans- \ ,,:. '-',/mitidas da base, fosse por voto, fosse em assembléia geral. Se trabalhadores de deter- :minado local, ramo industrial ou profissão quisessem entrar em greve, era difícil con-Í

seguir apoio oficial, pois a lideranç~p.riori~~'(.?,:ª,S9E;'!!..~~.~~ ..d.a_o!~a_ni.~ªçã_<?",ofere-Icendo facilidades e conservando recursos para o "verdadeiro" teste de força, que pela I

psicologia do sindicalismo responsável poderia ser ;d;;~efin;d~rr;-~-~t~. Ademais.jo peso do centralismo tomou-se um estímulo para a militância não-oficial.

Na A1emanha,~;-~~~;'r~~' d;R~h;---são·;;i~-b~~;;Xémpíõ.A~·g~~üdes greves de

mineiros de carvão de 1889, 1905 e 1912 fizeram a reputação de sua militância. Foramgreves decretadas em todas as minas da região, com alta participação: 80% nas duasprimeiras, 60% na terceira. Houve, nos anos intermediários, uma intensa militâncialocalizada - por exemplo, pelo menos 17 greves na região de Bochum entre 1889 e1914. Essa militãncía contrastava com a do outro grande setor de Ruhr - ferro, aço emecânica pesada -, onde houve poucas ações industriais e a filiação sindical era redu-zida". Mas as duas primeiras greves do carvão e a maioria das greves menores come-çaram espontaneamente 9!.D!m..aJ.i.çk:,Iança sindical, em ações não-oficiais em que os~p~~~os mais jovens, e não os mais veteranos.jissumiram a liderança. Olto Hué, líderdos mineiros a partir dos anos 1890, abominava esse tipo de militância, invocando asdesastrosas greves de 1889-93, quando o sindicato tentou em vão capitalizar o ímpetode 1889. A cautela de Hué se justificava pela fraqueza. Os~0eiros ~~ª-'B divididospela r.eJ.igillQ,.,epe~, sendo os católic\?§_U_8.24)_~,o~'pol<?~es Q(02) co~áJj.<?~ aosindicato .~?~.~"!?~.Dado o poder dos empregadores, que policiavam os trabalhadoresatravés do patemalismo da empresa, os sindicatos socialistas ficaram em enorme des-vantagem. Em resposta, Hué defendia um estilo cauteloso de liderança trabalhista, >i r-

enfatizando a disciplina, a ~ofltin~iq-ªd~~...Q.rganização., a "neutralidade" política e a j

c.?~s~E"::aç~-od(:!_:,,~~I!,r~~s..J2.~_~....<~uturo, rgt:ltan_do ~.9Lq~g~~~;:;-;i; agressivª,o fi r:Racionalmente, essa estratégia tinha sentido. '8~p.r~.§.~I}tªYSLUmayjsfuu:l:furmi~a, li

e não revolucionária, inas_~ã9j!:'1pli~a_~a.1aH_?cle:'~9.!l?fj~n~i.a de cl~" da parte de f

105

t

Page 18: (09) ELEY, Geoff. Forjando a Democracia - A História da Esquerda na Europa. pp. 73-113.pdf

FORJANDO A DEMOCRr\ClA

n?v.?~..r.at~OS.d.a fJ1_~c~I]~~~,9lI11º-ª_iabric_açãQ. de.car.!ps. .eJliçidetª~ndeJ? ~ndicato.~r~.frac2: Nos ramos mais antigos de mecânica, as demandas sindicais assumiam asformas conhecidas dos artesanatos, concentradas em ~rendizado, demilrcação e .Qpe_r~'ião de m.á.CU!i.ml~,além de nas questões mais amplas de ~~alho por tarefa, horasextras e jornada de D.!!'ql!2If!s. Mas a fraqueza do sindicato profissional nos novossetores permitiu aos organizadores concentrar-se nos operadores de máquinassemiqualificados e qualificados, cuja função começava a ser criada pela mecaniza-

í ção26. Ademais, se na Grã-Bretanha essa expansão Ocorreu fora dos sindicatos profis-

. /" ! sionais existentes, <{!lerelutaram em organizar os menos qualificados, no continente o-i> I sindicalismo metalúrgico estavª.ad(\p~.açjQ.exatamente..para aquele fim. Mas nos dois

" 'J ca..s.o.s su..rgia uma ~~~~~·~~·i~~da: ?n~~~balhador de fábrica semi~lificado treinadoAQ. .1nlh<\I!}p..: .- ··jÇnégociação localizada tomou-se cada vez mais difícil de operar. Campanhascomo, por exemplo, a da jornada de oito horas exigiam coordenação nacional. Os

:l empregadores também forçaram agressivamente o ritmo. O poder do grande capital nali Alemanha mobilizou um impressionante repertório anti-sindical, desde a moradia ofe-.; recida pelo empregador e os esquemas de bem-estar até a operação de listas negras e

sindicatos "amarelos", aos quais se entregava agora essa nova coordenação política.Isso, por sua vez, fez uma enorme pressão para que os sindicatos se centralizassem. Ogoverno também teve interesse nos dissídios trabalhistas. Na Grã-Bretanha, desenvol-veu-se a conciliação industrial por meio do Departamento do Trabalho do Conselho doComércio, com a modesta cooperação da Lei de Conciliação de 1896. Os casos maisfortes foram o da Dinamarca, por meio do Acordo de Setembro (1899), e o da Suécia,

, através dos acordos para mecânica (1905) e têxteis (1909). Tendências semelhantesapareceram na França (legislação de arbitragem, em 1892, e Ministério do Trabalho,em 1900) e na Itália (Conselho Supremo do Trabalho. em 1902, e código de arbitra-gem, em 1905). A repressão estava sempre presente. Em 1901-04, quando o governoliberal italiano estava negociando com os socialistas reformistas, 40 grevistas forammortos pela polícia. Mas, naAlem~~.~a, paralelamente à l~gislaç~ºQ~_~g~!~ deque o país foi pioneiro ~nºs.J.li80, e à ~ss~.!llinªç.ão..9~_~i.gu_il.Ld~.n~gºciaç..!í~eti-~~" prometeu-se um sist6-ffiá'iláCíonal de relações industriais que deveria reformar aestrutura dos sindicatos?". No final das contas, foi a Primeira Guerra Mundial que

r' tomou tudo isso possível. ~ .. -_.- ..._----------- ..._....-.__ .----... ---'-., ... __ ,'o:: ,.:_.--~-

r ~?:se de [l1ass.af~z _dº.sindicaljsmQ.u~iat~~::.cJ1.!:~.n~ ..vidanacional. Na Grã-. Bretanha, a escala das greves Ill11dg':l.:":'Enquanto o surto de 1889 consistiu em grande

parte de uma onda de greves locais, e geralmente não muito grandes, propagadas porreação em cadeia, a explosão de 1911 foi dominada por confrontos nacionais ou bata-

, lhas deliberadamente travadas pelos exércitos nacionais?". NI?.~.9.~ti!1~I?.t.~o f~!cro foi~~~~~~~1ilitâl~cia!rabalh(s.!Q..de 1904-07. Isso refletiu em parte a mudança da econo-mia nacional e suas estruturas corporativas integradas. Mas teve também motivações

104

o SUR(jjMENTO DOS MOVIMBNTOS TRABALHISTAS

políticas, dramatizadas pelas agitações sufragistas e pela Revolução Russa de 1905.N.~ste_~!I~9.>..ill!.~~lQ~.~.r~l_íl.t_i.Yª~t<ur.íl~.a-'h()_~geglQçra<:;ié!.::-:.!!.aláriosecidadania --:-estav~m ; r' I

,indisS9~l~!lté!l.~a.s. Com o crescimento da esfera Rública nacional e o surgi- i;, \."J !!p'ento dos partidos socialistas de massa, o sindicalismo pa~~º.\L:ª~~ri~t;i~~~;ai~~~s \ ' ,

ftI esp~~anças e receios. Os conflitos tra~lhis~?~ 'p-ª_s.s.<l!:ª~lL3~irTlb.()lizarprincfPio~-;~ \V{[email protected]§.Q.s.À medida que ~~'l~ta~'-~'i~d'ica~ cresciam em escala, t;~bé~-~~~s~iãessa)'i -.. ~.._._."~---'---'--'~'"-~_.-._.__._----..-._..___--..,,----_\ \ dim~~ão política nacio~

O centralismo tinha seus custos. Os membros sentiam que perdiam força quando':

funcionário~ ~en:g::~~'!~&-_e...el'~t_~~A9j~~d~;-;\Ib;ti~i~ ~s decisõesdasassem-ibléL~~.ger~j.~:.Agravaram-se JiS tensõesentre _é!.s>rga~i~é!ção[1acionale a iI!ic!.~ti~_a.!5?cal\por cau~ das 8E.~:,!::~.Centrªliz.ar.re.cursQs...era_eS_se.I)(::i'Ü12ªnLl!.1.l!_~_C:.9n_tIª.9~!!1'p~a-:dores, !!!l!.sJU;QDst.ltu.ciQ.naliz.<lção_das decisões de grevesacrificava a democracia dos! ~'. I.

~e~lbros à autpr.iQil.d.e_(hls_~;'(~.ç.utivasnacionais. Minimizara~-'s~ asinforrnaçõestrans- ii r·••• o •• ----- " ••••••••• ~ _ ••• " ••••• _~.. I

mitidas da base, fosse por voto, fosse em assembléia geral. Se trabalhadores de deter- iminado local, ramo industrial ou profissão quisessem entrar em greve, era difícil con- \seguir apoio oficial, pois a lideranç-ª....P.riori~~v.~_~~~.S!?!E'!.~S.~()_d.a_o!gapj.z~çã~",ofere-Icendo facilidades e conservando recursos para o "verdadeiro" teste de força, que pela!psicologia do sindicalisrno responsável poderia ;er ~di;d~definjdã;;;ê·~t~. Ademais)o peso do centralismo tornou-se um estímulo para a rnilitância não-oficial.~ Na Alemànhã~o;·~~~i~;~d-;i~·~sãéi--;;i~-b~~~-Xémpiõ. A~'gr~~es greves de

mineiros de carvão de 1889, 1905 e 19 J 2 fizeram a reputação de sua militância. Foramgreves decretadas em todas as minas da região, com alta participação: 80% nas duasprimeiras, 60% na terceira. Houve, nos anos intermediários, uma intensa militâncialocalizada - por exemplo, pelo menos 17 greves na região de Bochum entre 1889 e1914. Essa militância contrastava com a do outro grande setor de Ruhr - ferro, aço emecânica pesada -, onde houve poucas ações industriais e a filiação sindical era redu-zida". Mas as duas primeiras greves do carvão e a maioria das greves menores come-çaram espontaneamente ~lm...aJi~La.llça sindical, em ações não-oficiais em que os~p~~~ios mais jovens, e não os mais veteranos.jissumiram a liderança. Otto Hué, líderdos mineiros a partir dos anos 1890, abominava esse tipo de militância, invocando asdesastrosas greves de 1889-93, quando o sindicato tentou em vão capitalizar o ímpetode 1889. A cautela de Hué se justificava pela fraqueza. º~~0eiros ~stavam. divigiçlospela r~ll&®Le pel-ª$.~, sendo os católic()§. ..Lt~24).~.os .P.2!()!I~~~(!9-º~1~~~áJjg~ aosindicato .d.9_S.~~~~'Dado o poder dos empregadores, que policiavam os trabalhadoresatravés elo patemalismo da empresa, os sindicatos socialistas ficaram em enorme des-vantagem. Em resposta, Hué defendia um estilo cauteloso de liderança trabalhista, >1 r-

enfatizando a disciplina, a cOl1tin\!iqªd~-º~_..QríillDi~çãQ, a "neutralidade'tpolítica e a 'C.9l1s~E'Vaç~.od(:!:_~~l!r.s..~~.E.;a~~~, r~<:.it~_ci~~ ab.Q[(tag~~~ai; a.Nessi~ª-. + f~

Racionalmente, essa estratégia tinha sentido. g~P~~-,'i~l1!aYa.JJma'yjs.ãQ.rdQnni$Ja, \:)e não revolucionária, ma~.'.1ã.9 !!11plicaya_faltacJe"ç9.J)~~iên~i!l de cl~" da parte dei

f.:-'.~'

105

Page 19: (09) ELEY, Geoff. Forjando a Democracia - A História da Esquerda na Europa. pp. 73-113.pdf

FORJANDO A DEMOCRACIA

Hué e de outros líderes .. <?_~~~esso d~_greves de 1889 e 1905 ex.igia solidariedadeentre religiões e nacionalidades, e2!:.JmIk.dQ.sW.I:_dQUindiçalistas católicos e polo-

~a~jl~~9._q~~~eve. de 1912 foi convocacg-p'or urna coalizão de sindicalistas

. S?~J~.~~ta.~.:..poloneses5_0~~~~~j.c<t_~0.1i~e!~I._~?r:l!~".~_~p_~!s~o do sindicatocatólico, e veio abaixo em uma semana. Ainda assim, a racionalidade da estratégia nãofoi capaz de esconder a modéstia de seu sucesso. No pico de 1905, o sindicato do SPD

organizou apenas 29,4% dos mineiros de Ruhr, percentual que caiu para 15,8% em

1913. Elen~9.s:"º~~&!!tl!)~grar a_I1l1!i~ªI!S.i.a.A~J2!:1~local ~permitiu ao sindicatoo.~~~anç~s C?~q.u.ista51.()s.S0J.~.~n!.~h1.m:.O problema tampouco deixaria de existir casoo sindicato atingisse. sua ru.Ptyr~l~J.~0!1a, quer através de legislação pró-sindicatos,quer por a~().rd.q~utc__.negociaçiiº.foleIixa. C:9.'.!LC!~~es. Como revelou a PrimeiraGuerra Mundial, isso poderia facilmente levar à cooptação, imr,:,q,qll].indomais uma

. '. C';' \.. ' } cunha entre a burocracia siQdical e urna base al~~ Esse problema - conciliar a;' - Q defesa do centralismo com as demandas da democracia interna e da militância de base

- seria a fonte de enormes conflitos internos.Ele também levantaria qLl~stões vitais de princípio socialista, ~ deveria..!!!.,g-

plodirentr~uu.4 e l2.2~._Urna fonte de tensão foi o problema dos artesãos qualifica-dos pioneiros do sindicalismo, que foram o esteio das primeiras organizações socia-listas nas duras décadas de formação após os anos 1860. Em 1900, os movimentostrabalhistas já eram reformados pelos grandes sindicatos industriais, onde um nOY!2til2Q......d~.l!'.ªQ.lllhadoLdefi).Ü;uU...om, e muitos SQç;).illis.t~".~~~esãos.~ão gostaram dos\.l} r~~~. Tais conflitos não apenas refletiam d.i~e:!.~.nWl~.na_imagemdo socialismo,

í" mas também enfalizavam °grau em que o socialismo dependia das culturas locais de'trabalhadores. .-.--------.----

Na Alemanha, os amoladores de faca da indústria cuteleira de Solingen fornecemum exemplo excelente". Ao contrário dos ferreiros que preparavam o metal com quetrabalhavam, os amoladores preservaram sua profissão contra a mecanização enquantoc~lbi~IIIQS ~~~1~liciQ~_daJ.II,~)iJ9.ri.<!.d9-roía'gia,primeíro.pelo.vapor, depais..P.ela eletd-çi.9a4.~' Por volta de 1900, a diferença entre estágios de produção era gritante: nos anos1850 eram necessários dois ferreiros bem qualificados para cada três amoladores, masjá em 1908 um único ferreiro fornecia aço para seis amoladores, Enquanto o número deamoladores quintuplicou, o de ferreiros continuou praticamente o mesmo. Enquanto osferreiros viam alguns empreendedores enriquecerem à sua custa e martelos a vaporsubstituírem sua capacidade, os amoladores conservaram a própria independência. Emvez de centralizar sob seu controle a amoladura, os ~1~l!..?..!.~is._!=~t~I~iE~~.E~~~riamsubcontratar al~es~o.~..LTlC!~~QQ~D..t~s.qL!~.~e-llgrup,av(ll12~!l.1..~9.!",P~J,l!~.J~!5..~s. Osarnoladores conseguiram assim bloqueara rn<:,Çmli~~~ãoe impus~r.a.mª.t;.:x..çlu~jy.i.dil..dedos _~:~sã~s. No boom pós-1895, quando Solingen ultrapassou Sheffield no comérciomundial de cutelaria, esse acordo funcionava muito bem. Mas a r<:cessão de 1908-09~1?~l.oc'2ll,:-_o"'::~~.9ue_~~o.Os amoladores só haviam sido ame;;;d~~··;~; empres~;;~~

r

\.

106

o SGRGlMENTO DOS MOVIMENTOS TRABALHISTAS

ratas" como Gottlieb Hammesfahr, cujos esforços para levar a atividade de amoladuraP3!"ag .in.t~r.i()!..~~.êJA1;,>~i.~.~,~p.rQV.9ç;~W~v~~'"be~-~~c~d\das. e~.1 899. e ·i9bS.,"';nas

agorael~~_~~~a.y~~"y~~n~!t:,~.~s.,~.~t~qu~s ...Apesar de se defenderem contra a "desqualificação", os amoladores foram

flanqueados por um novo inimigo no campo mesmo do trabalho, o Sindicato de Meta-lúrgicos (DMV), que finalmente, a partir de 1900, começou a organizar os assalariadosda região de Solingen". Esses novos recrutas trabalhavam em oficinas menores à mar-gem da profissão de amolador propriamente dita - eram ajustadores, torneiros, ferrei-ros, funileiros, moldadores e, especialmente, operários de forja e fundição em geral,que agora pela primeira vez se sindicalizavam ..Ess.estrabal~a.??r~~_~u_~~~':~~.I~.~s~n-timento cQ!ltra..o.s...ar.istocráticosamoladores. Desenvolveram-se outros movimentos sin-dicªi~.;.Qs;unclª-dQ!:~~ü;~ili~ç;m~~tras .s.o.c·k~ºt:$.-'i;X:ais-P.r9f;§'~io!i~i§)Lo.~~-do a .A.s~oc.!,!ÇÉ9d()sJ):a.l~alh.~d.2T<:~.Industriais dç: ~()li!lgeI)" acomp.<lIl.hap9o..? .c~~;:i-I11.~.!:!!º.ç!.Q.l?l:.1'y'::'. Em 1905, a rivalidade se transformou em guerra aberta. Quando osamoladores entraram em greve contra o último truque da empresa Hammesfahr, o DMV

ofereceu apoio, retirando-o em seguida e decretando uma greve geral de ferreiros que.deixou os. amoladQ[~§:'i~mXâ-~~~~Pii~-.~ab;Iii~34~.'Fci·~~ tr;qü-;~[;Ú~~-p:;;~CJ.~.~~ar

,I,lla o~g~'!i~~S"ão?indic_~~_~~~_~_~~~~?~e:~~ fa~a, aParentemen.te em ~ol1l_uio~ol!l ~_~m-. .11.resa35.1 -_o

Isso foi mais que um choque de segmentos de trabalhadores. Ir:Qic-ªyª_a!!~1,!dEldial11_t:!r-ªLmente...op.o.stª~m relação~a2l?!çgT_e~so_indusJ.ti.al.~ visões contrãriasde.so- f

cialismo. Para ODMV, a resistência dos 'amolàd'~áquinas era ll;:~;-;;-;;entãndãde ;

~~~K~?!.~.?i~~le~~~~.º.~PQY.!l~giQl'..Ǻl])orativos prejudiciais.ao rest~te 911~I~~~e.:0\progr:esso técnico era o precursor do futuro socialista: "Não se pode fazer voltar a \ .histó;i~"'d~~~~d~-p~;-caus;ct~;~-;i~d;~es ·de·f~~â;;36. Mas para os artesãos que; Lconstruíram o movimento trabalhista de Solingen socialismo queria dizer "a utopia; r J.--:~.. -.".; \),'

concreta de uma.~.iJ1_QJJs.m,i:\JJg.~.8.~p'cooperativamente organizada;', ~'?~9a"~la "asso- i ~ J

cia,Ǫ-Q.d.e_!ll;?.qlll~~~~~~n_~~!.UJ~r~~J9.sa.iâ.ct~.Ç~2Hg~J!~l,l~~~~~n~)37. Os socialis-' \tas veteranos de Solingen eram indiferentes à economia centralmente planejada e ad-ministrada de Kautsky. Para os porta-vozes do DMV, pelo contrário, o objetivo final eraabstrato demais: o socialismo era projetado para além da maturação das forças produ-tivas, a cujas possibilidades técnicas os trabalhadores não poderiam deixar de se ajus-tar. Enquanto isso, os sindicatos deveriam organizar todos os membros da classe traba-lhadora, não apenas as suas seções aristocráticas, para promover "a melhoria social e arepresentação sindical de todos os trabalhadores no capitalismo?". e

Essas vis?~~.rivais desociali,sJllo abriram uma profunda divisão no SPD de Solingen,'. \.' ,-- ,,-,' .-' ,.~

a comecar da Lei Anti-socialista e durando até 191439• Isso também aconteceu ernóúirosba~~iõ~~"d~s ·Pri~~;;~;~~;~i~~ni;;~trabalhlsta~Ja Alemanha, inclusive nas vizinhasRemscheid, Lennep, Ronsdorf e Elberfeld-Barrnen e em áreas da Saxônia, da Turíngia e C\,

de Württemberg, Nos lugares onde certos grupos, tais como os amoladores de facas de;

107

Page 20: (09) ELEY, Geoff. Forjando a Democracia - A História da Esquerda na Europa. pp. 73-113.pdf

FORJANDO A DEMOCRACIA

Solingen, se agarravam aos antigos ideai§. de uma comunidade cooperativa de raízes~<?c~~,baseada na autonomia dos artesã0ê....os nOYQsestrateglitas do-ºM.Yf.omemoraramo progr~~so .téc;l1ico,..~ me lhoria materialdas ll1as.§.'l~1<...Q sindicalis.m.o. indl!strial ad~~d~à~~l!Uturas de um capitalismo ~.uac.ionalizaY.a...con1inuamente. Essa importantelacuna - que se repetiu mui tas vezes na indústria européia, onde quer que as.!!adiç~s-,J.9artesanato enfrentassem o ímpeto organizador do sndícalismo de massa - provocou amplo

Idebate entre o.s .ativ~stas trabalhistas. ~~s_es?~~~t::s~:~~feriam à capacidade dos tr~ba-

\ {lhadores de ~.~rcer c:ol1~~~eS9..p'~-ª-produ~º-epois do desaJ?are~'?d.~.~nteI " f~vºrávelda.oficina do.artesãç, às possibilidades de reforma imediata sob o capitalismol: em desenvolvimento e à natureza do projeto socialista em si.

SOCIALISMO, POLÍTICA NACIONAL E VIDA DIÁRIA

~

Em meados da década de 1890, os movimentos de trabalhadores europeus haviamchegado ao primeiro divisor de águas. Completara-se um ciclo de fundação de parti-dos, abrangendo a Europa do Norte e do Oeste; estava em andamento a segunda fase,iniciada com os partidos da Polônia e dos BáJcãs no início dos anos 1890, continuandono Império Russo e completada em 1905. Os Estadºs_Q.3r1am~s estabelecidos pe-los acordos constitucionais dos anos 1860 haviam se e.sJQl?i!izaio, com aç_x,~~9i~t!it9_º_e voto nos Países Baixos e na Escandinávia, O boom econômico posterior a1895-96 trouxe o primeiro período de sjI1_dic_a]i~aç-ª~~I,I§tentada.Os partidos socialis-tas do primeiro ciclo tiveram ganhos eleitorais firmes, estabelecendo uma presençaparlamentar, permeando a esfera pública e aprofundando suas raizes. Juntos, esses

< processos geraram o "núcleo socialdemocrata" europeu.Por volta de 1914, sete partidos controlavam pelo menos um quarto de seus eleito-

rados nacionais - os da Finlândia, da Suécia, Alemanha, das terras tchecas, da Dina-marca, da Noruega e da Áustria. O impressionante crescimento do SDP finlandês de-pois de 1903, beneficiando-se da Constituição conquistada por uma greve geral duran-te a Revolução Russa de 1905, transformou-o na voz da independência nacional, coma conquista de 37% dos votos nas primeiras eleições de 1907. Seu quadro de associa-dos subiu de 16.610 para 82.328 membros entre 1904 e 1907, numa população que nãopassava de 3 milhões". Depois da ampliação desenvolvirnentista da Constituição entre1898 e 1906, os socialistas noruegueses também começaram a ultrapassar seus rivaisliberais como força nacional. O SAP sueco registrou 133.388 membros no pico anteriorà guerra, em 1907, numa população de 5,5 milhões. Suas células locais eram as 427"cornunas de trabalhadores", coordenando a atividade sindical segundo as linhas dosconselhos de profissões ingleses e semeando a presença comunitária do partido. Fun-daram Centros Populares como locais de reunião do movimento, em tomo dos quais seaglutinavam a agitação, o trabalho educacional e a sociabilidade. Um movimento dejovens e clubes femininos foi lançado em 189241•

~

108

~

'~•• •••IV

• ,I.

~:."t

~

'~,i~:·~~f;"'~.'

·S.'· •• 01·

I!I

I~I i

II.~~,_.

?fic,,

o SURGIMENTO DOS MOVIMENTOS TRABALHISTAS

li':?; ",'~'.c-

~

O exemplo mais conhecido de subcultura socialista anterior a 1914 apareceu naAlemanha, onde o crescimento do SPD se seguiu a um surto de progresso das liberdades-civis?". O partido adotou uma nova constituição em 1903, criando sua primeira organí- .zação uniforme e uma burocracia central com funcionários permanentes. Por volta de .1910, com exceção de 16, todos os 397 distritos parlamentares já tinham comitês. Onúmero de membros do partido subiu de 384 mil para mais de 1 milhão entre 1906 e1914. Em 1898, o SPD tomou-se o maior partido em número de votos (27,2%) e, em1912, o que detinha o maior número de assentos parlamentares (110 num total de 397).O movimento se diversificou rapidamente, com organizações nacionais de Atletas Tra-balhadores, Saúde Popular, Cantores Trabalhadores, Ginastas Trabalhadores, CiclistasTrabalhadores, Nadadores Trabalhadores, Samaritanos Trabalhadores, União de Tem-perança dos Trabalhadores, Amantes da Natureza, União Teatral dos Trabalhadores eos Livre-pensadores Proletários. Sua presença cultural foi organizada mediante suaimprensa, atividades educacionais, bibliotecas, séries de conferências e congressospúblicos, sem falar nos folhetos e panfletos, cartazes e materiais mais substanciais deleitura. Construiu uma presença finamente ramificada nas vidas de seus militantes eseguidores em geral, As secretarias locais de trabalhadores já chegavam a 120 em1914, quando despacharam um total de 692 mil itens de informação e aconselhamentolegal".

Diante dessa imponente máquina de identificação e do aparentemente inexorávelprogresso dos partidos socialistas como movimentos populares, era fácil acreditar no"avanço dos trabalhadores". O constitucionalismo liberal, que surgiu normativamentea partir dos anos 1860, apoiava intensamente essa crença, pois, uma vez conquistado ovoto, as massas industriais logo perceberam as vantagens de um partido nacional, comoMarx havia previsto. A crescente integração da economia nacional dentro das estrutu-ras legais da década de 1860 acentuou ainda mais essa tendência. Ainda que longe dehomogênea, a população trabalhadora adquiriu razões importantes para se ver comouma classe, já que sua patente impotência na sociedade tomava extremamente valiosaa uma de votação, especialmente quando seu outro recurso coletivo, a associação emsindicatos no local de trabalho, continuou inatingível até os levantes de 1910-20. Aslutas pelo direito de voto entre 1890 e 1914 foram o motor da formação política declasse. Ademais, depois que os trabalhadores conquistaram esse direito, eles o usaram,como demonstra o extraordinário surto eleitoral socialista de 1907-14. A "nação poli-ticamente definida" tornou-se "a estrutura efetiva de sua consciência de classe?".

Argumentos estruturais em favor da inevitabilidade do conflito de classes reforça-ram ainda mais essa confiança na ação da classe trabalhadora, cuja dinâmica Marxhavia localizado no processo de trabalho da indústria capitalista. Fortes identidades declasse se formaram em certas indústrias, ocupações e comunidades residenciais, Osmineiros se tornaram um forte arquétipo desse processo. Vivendo em instalações isola-das e independentes, unidos pela solidariedade muscular do veio de carvão e endureci-

Ji'

l:~~~

,';"::'

·:'~"~f;",.

~,!.

:~1r

109

,\,

I:[I

Page 21: (09) ELEY, Geoff. Forjando a Democracia - A História da Esquerda na Europa. pp. 73-113.pdf

FORJANDO A DEMOCRACIA

dos pela dignidade de seu trabalho extremamente difícil, os mi neiros de carvão ev oca-vam associações heróicas da luta de classes. Uma cultura rude de coletivismo se desen-.volveu em torno da autonomia da equipe de trabalho no subsolo, que chegou mesmo aafetar as funções de superintendentes e capatazes no trabalho. A aplicação de um siste-ma de salários duramente imposto pela administração, ou a oferta social patemalista demoradia e de alojamentos da empresa, só fortaleceu mais ainda a união dos mineiros. Ébem conhecida a capacidade de ajuda mútua entre os membros das comunidades mi-neiras, quer pelo auxílio recíproco entre as famílias nos tempos difíceis, pelas disposi-ções de alojamentos e pelos clubes de bebidas, quer por intermédio de instituiçõesculturais. Os fatos da vida na mineração ajudavam a manter a coesão".

Em geral, a vida diária dos trabalhadores revelava muitas pequenas solidarieda-des. No local de trabalho, as brincadeiras rudes e a forma agradável de passar o tempo,as brincadeiras ritualizadas e o escárnio mútuo, além dos pequeno~ roubos e sabota-gens, eram tão vitais para o desenvolvimento de culturas de chão-de-fábrica quanto ossindicatos. Essas manifestações mundanas de auto-afirmação criaram um nicho de tempopara "gastar sozinho e com os companheiros" à custa do patrão. Também produziamresiliência e auto-respeito em circunstâncias em que a autoridade tomava dos trabalha-dores o controle imediato. Pequenos atos de auto-afirmação talvez não tenham expres-sado uma visão conscientemente política, mas, num nível mais básico, essa culturadiária lançou as bases da militância. Se os trabalhadores pareciam indiferentes à polí-tica organizada, isso não significava que não tivessem ideais de uma boa vida, masapenas que esses pensamentos geralmente careciam de uma economia "privada" dedesejos. Como libertá-Ios foi a questão a ser enfrentada pela política cultural da es-querda"',

Só uma minoria de trabalhadores eram membros dos partidos socialistas e de seussindicatos, e um número ainda menor conhecia os pontos mais sutis da teoria socialista.Mas a experiência da vida diária, onde na prática se encontravam relações arbitráriasde poder, gerava atitudes de independência com óbvio potencial político. Sob condi-ções de crise política e social generalizada, como os levantes europeus de 1904-07, osanos revolucionários de 1917-21 ou as mobilizações nacionais e locais particulares,essas culturas de resistência ganhavam um significado político mais completo. Entãoos mundos da política e da vida diária poderiam se mover em conjunto.

Não havia nada de natural ou predeterminado nessa união - na sincronia entre apolítica socialista e as culturas mais gerais da vida diária das classes trabalhadoras -,embora o paralelisrno entre os movimentos trabalhistas e a industrialização certamenteencorajasse essa crença. À medida que os partidos socialistas mais fortes instituíamburocracias permanentes e funcionários em tempo integral e as delegações parlamenta-res adquiriam autonomia, a política no sentido convencional se distanciava da partici-pação dos trabalhadores comuns, complicando as ligações com a vida diária. Era fácilpara os líderes socialistas e funcionários sindicais se fortalecerem contra as dernocra-

110

iI

Ii,1:

i

I

I

O SURGTMENTO DOS MOV1MENTOS TRABALHfSTAS

.ci~s elementares do chão-de-fábrica e da rua, especialmente quando conquistas impor-tantes -. uma reforma legislativa, uma vitória parlamentar, um contrato vantajoso _aconselhavam paciência e a contenção disciplinada da militância. Q§.QlineigJs,() pri-m~irº_.~ Jn,ªi§.l~!e exepQ!2 _<;l_~~l1dic~I~~moi.f!Q}l§tri.<l:.I,deJ.Il~)fis.u:ararnes.p~~~~~l11entebel1l.es.~a!.~n_s_ão_.~I!~_e_J!.~regi~_es.:'fol1l}el':~:)!l{9~~.~r_.da.açãº- C:.9l~!i_~!l'

A consciência de classe dos mineiros de Ruhr caracterizava uma poderosa contra-"dição. Na grande greve de 1905, e outra vez no ímpeto socializante do início de 1919,um onda de militância varreu toda a moderação do sindicato dos mineiros e do SPD.

Esses dois movimentos surgiram das estruturas informais de solidariedade, em que asexigências de propriedade pública e controle por parte dos trabalhadores expressavam

. i

as necessidades imediatas dos mineiros: "Socialização não era uma mera utopia ou !t.construção abstrata, era também a soma das experiências [dos mineiros]; não era ape- !. ,I,

nas projeção, mas também a tomada dos elementos e estruturas baseados no dia-a-dia;. "uma continuação do dia-a-dia'"? .AQreagiLª.essas_"çQ.~~QÍ!~~~, qs. líderes trabalhistas~ª-&.u~~~~rn~~ceios sociais. da.b.UIg!J~~i!!.g~!{~hr, acusando os}n!!I~.~E?_S_~~só def':\lta ded] ..~<:~.n.~~!Ip.!!t.E.ridade de c()!1_scJªE.S.~~,mas também de simplesfalta .d.(':':c:.ul-.,tu.@". Sob esse ponto de vista, tão logo o movimento trabalhista tivesse organizado.:educado e reformado os trabalhadores, os problemas destes estariam terminados. Ain-da assim, enquanto as lideranças do sindicato e do partido só conseguiam ver rudeza,turbulência e desordens, os mineiros já possuíam uma cultura de grande engenhosidade. ;

Os contextos da vida diária revelaram as deficiências da cultura socialista do mo-vimento de trabalhadores. O SPD de Gõttingen, por exemplo, era um pequeno partidonuma cidade provinciana semi-industrial, com 190 membros em 30 mil habitantes em1908. Sua subcultura era frágil- 40 sócios de um clube de ginástica, urna cooperativade consumo e pouca coisa mais. Em razão de sua marginalização política, ° partidolocal se concentrava pesadamente no trabalho educacional, dentro de uma molduraabsolutamente convencional de valores culturais.

..t:

lii.1

"Os ativistas do partido queriam ter uma vida digna, honrada, ética, moderada e disciplina-da: de um lado, para dar um bom exemplo aos trabalhadores que ainda não haviam seorganizado; de outro, para mostrar à sociedade burguesa que estavam prontos para o quedesse e viesse, que mereciam respeito e uma boa condição social."

O partido t~))tavase_apropri3Lda."alt.ª-f.!D!ur,!:.' existente. quer na literatura, querna arte, na música e no teatro clássicos, ou de maneira mais ampla em questões degosto e moralidade. Enquanto o SPD esteve politicamente excluído, essas atitudes fica-ram ligadas a objetivos de oposição. Mas quando ele se uniu ao sistema, depois de1918, o conservadorismo se tornou evidente - yal~r,t:!.s_dehierarquia e autoridade,Iin-gu_agem rnilitarizada, o fetichismo da disciplina, P_'!tri,<Jtisl11oe ati~udes patriarcais comrelação 'Ú'amilía, fi educação dos filhos e ao lugar das mulheres". '"''

111

Page 22: (09) ELEY, Geoff. Forjando a Democracia - A História da Esquerda na Europa. pp. 73-113.pdf

FORJANDO A DEMOCRACIA

Os valores hegemônicos não sofreram grandes desafios. Nos primeiros dias dopartido em Gõttingen, os membros eram apresentados à cultura do movimento atravésde leituras de artigos de jornais, transmissão de relatórios políticos e pelo uso de umacaixa de perguntas nas reuniões. Mas até mesmo isso se atrofiou, e mal houve umaúnica leitura coletiva anual entre 1904 e 1907, comparadas a oito em 1900 e 1901.Houve pouca agitação: reuniões públicas se realizavam em recinto fechado; as festivi-dades do Dia do Trabalho eram atividades do partido, não festividades públicas; oscomícios eram realizados em torno de palestras, com pequena participação espontâ-nea; as greves eram cuidadosamente despolitizadas, A política socialista tinha poucasligações com o cotidiano de seus militantes, menos ainda com o dos trabalhadores emgeral. A vida diária era avaliada em termos de certos preceitos estabelecidos para oordenamento racional do comportamento social, que deixava sem discussão áreas in-teiras do conservadorismo da classe trabalhadora, especialmente as atitu[descom rela-ção às mulheres e crianças, à sexualidade e à vida privada. Outros aspectos da culturados trabalhadores - a "dureza" que existia além do pequeno domínio do partido deGõttingen - eram atacados. Essa incapacidade de basear os ideais socialistas do parti-do ~~~or~.'lg.e~pr~fisu~~i,:,-a_~ vidadiária teve cons<::qü~nciasduradouras.

CONCLUSÃO

Assim, o crescimento impressionante dos partidos socialistas antes de 1914 continhaalguns limites bem definidos. Não só eles atingiram um teto do apoio eleitoral- quan-do muito algo em torno de um quarto e um terço do eleitorado -r-, mas estavam estrutu-ralmente excluídos da classe governante, e assim mantidostanto pela sua inconciliáveloposição ao sistema como pelo desejo desse sistema de os excluir. Nos poucos casosem que o sufrágio universal e o governo parlamentar pleno se estabeleceram antes daPrimeira Guerra Mundial, esses limites se afrouxaram. Mas, no resto, os partidos man-tiveram sua condição de intrusos, confiando na lógica de longo prazo de desenvolvi-

,.'mento e crise do capitalismo para chegarem ao poder. Quando surgiram os reformistas,como os possihilistas franceses na década de 1880 ou os ~ode.ractp.sdo SPD nos esta-dos mais liberais do Sudoeste da Alemanha depois dos anos 1890, elesJQgD:ldesautorizados. ~.nii.2~par~iciE~s~<?e.rA~:g~\fernosburgueses" continuou seI1çI9._~.E0r-ma da SegundaInternacional, Em 1913, a SDAP holandesa recusou um cargo no gover-no com base nessa justificativa.

Essa política de abstenção implicava enorme confiança no futuro, uma crença ina-balável na maioria inevitável da classe trabalhadora e no poder sempre crescente doapoio da classe trabalhadora ao socialismo. Esses partidos se construíram lentamenteapartir de seu núcleo artesãoinicial e das diversas -t~adiçõ~~~~iÇiis~ crescendo nosespaços legaisofereciclo~R~i9S acordos constitucionais ·do~·-~~o-sT~60.Como"O~·~~i-mentos trabalhistas baseavam sua presença eleitoral nas subculturas de certas cidades

112

o SURGlMENTO DOS MOVIMENlOS TRABALHISTAS

e determinados distritos urbanos e comunidades ocupacionais, cresceu o apelo do so-cialismo. A partir de 1890, ~i@l~C..2!l.QpÚ.casJavQrá.Y.c~sJ.Jdí.tensão dalegislaçâo~~<l.l<:ts~S~~~~s:uraba}EE>ta nacional e ofortalecimento gradativo dos sistemas~~!".esp~rm.i!irar!tc@~_~~p.~tidosse expandissem. Quer através do novo sindi-~s~_~ __l.l)~~, das recém-criadas !J1~ql!inCl~p_ani.dáriase ~~s atividades culturais,quer pelas c2Qq\listasiniciais.~~ociali~I1l<L.muJ1.~~h-eles se tornaram apêndices.poderosos de seus sistemas políticos.

Ainda assim, eles nunca chegaram perto de ter o apoio universal da classe traba- .lhadora. Muitas lealdades da classe trabalhadora eram condicionais, pragmáticas, vo- ,láteis e extremamente desiguais nas indústrias, profissões, regiões e diferenças cultu-rais. Lealdades foram contestadas - pelo liberalismo na Grã-Bretanha, pelo catolicis-mo organizado na Alemanha, na Bélgica, na França e no Sudeste da Europa, e pormuitos outros rivais. A capacidade do socialismo de harmonizar interesses heterogê-neos foi sempre insuficiente. Perpassando essas outras divisões havia as contradiçõesde gênero, porque os partidos socialistas evitavam as questões de igualdade entre mu-lheres e homens. De fato, aqueles partidos mobilizaramapenas cet!0~~jp()s ~e tr!~a-lhadores. A maior distinção de todas se deu entre aqueles trabalhadores que se uniramàcausa e todos aqueles que ficaram de fora, entre eles o supersticioso e devoto religio-so, o transgressor sexual, o jovem frívolo, o etnicamente diferente e outras minoriasmarginalizadas, bem como as violentas classes trabalhadoras das subcuIturas crimino-sas, os mercados informais de trabalho e o migrante urbano pobre. Ao concentrar tão'fervorosamente seu apelo ~~ ação política das classes traQalhac!~r~§j!l21:1stI:L~ls,os par-tidos socialistas ficaram mal equipados para enfrentar essas outras identidades, o que.levou muitos trabalhadores a resistir ao apelo socialista.

Quando a democracia voltou a se expandir depois da Primeira Guerra Mundial, ospartidos socialistas mais bem-sucedidos se afastaram dessa tradição política maisexcludente, buscando ampliar seu apelo. Começaram a falar para blocos progressistasmais extensos nas suas sociedades, atraindo as esperanças de massas maiores de traba-lhadores e também de outros grupos sociais, reduzindo a abrangência das definiçõesmais exc1udentes acerca da classe trabalhadora, que tinham estado em voga antes de1914. Essa ampliação foi mais evidente nos partidos socialdemocratas da Escandiná-via, no crescimento eleitoral do Partido Trabalhista inglês e no domínio da Viena Ver-melha pelo sro austríaco. Mas antes, quando os partidos da Segunda Internacionalconheceram a grande popularidadedo início dos_~n_osJ~~9,eles ainda representavamprincipalmente'§t;.tor.esp'arjjç]Jlar:.e.~da.sociedade. Eram os partidos da classe trabalha-dora masculina organizada e respeitável. Até 1914, eles ainda eram apenas parcialmen-teaceitos na política da Europa e ~_~luí~9~,çl~s.El:;'~_~~~.S(~Y"~:E.~llltes,sem perspectivasde romper seu isolamento político.Tratava-se de um iso~~n"l~~~Cl.(Jll~.eleshaviam abra-Ç~dodesafiadoramente.

113