09 guerras e 130 conflito em 2008 em 2009

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Dina Maria Rosário 09 guerras e 130 conflitos, em 2008. Em 2009… 09 Guerras e 130 conflitos no ano 2008 . Em 2009, até agora, temos conflitos assumidos e noticiados em Ruanda, Israel, República do Congo, Burundi, Palestina, Sri Lanka, Nigéria, Afeganistão, República Centro Africana, Colômbia, Chile, Birmânia, Paquistão, Panamá, Geórgia, Yemen, Índia, Peru, Brasil, Tailândia, Argélia, Filipinas, Chade, Sudão, Iraque, Etiópia, Somália, Yugoslávia... Temos medo... e o medo nos coloca na ação pendular ataque-defesa. Atacamos ao outro para estarmos defendidos; Rejeitamos ao outro para sermos aceitos; Empunhamos verdades para esconder nossas falácias; Submetemos muitos às nossas vontades para que não duvidemos delas Negamos-nos a ver possibilidades para permanecer na segurança das nossas previsibilidades. Cada um de nós e esse(s) outro(s) estranho(s), em mim, nos rejeitamos em nossas complementares e elementares contradições, divergências, diversidades. Criamos ciências absolutas, culturas absolutas, crenças absolutas, estados absolutos, famílias absolutas, educação absoluta. Absoluto e absurdamente não nos encontramos e não nos pertencemos. Não nos cabemos nas armaduras que criamos. Nos dizimamos. E a civita segue… segue como sinônimo de evolução

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Dina Maria Rosário

09 guerras e 130 conflitos, em 2008. Em 2009…

09 Guerras e 130 conflitos no ano 2008. Em 2009, até agora, temos conflitos assumidos e noticiados em Ruanda, Israel, República do Congo, Burundi, Palestina, Sri Lanka, Nigéria, Afeganistão, República Centro Africana, Colômbia, Chile, Birmânia, Paquistão, Panamá, Geórgia, Yemen, Índia, Peru, Brasil, Tailândia, Argélia, Filipinas, Chade, Sudão, Iraque, Etiópia, Somália, Yugoslávia... Temos medo... e o medo nos coloca na ação pendular ataque-defesa. Atacamos ao outro para estarmos defendidos; Rejeitamos ao outro para sermos aceitos; Empunhamos verdades para esconder nossas falácias; Submetemos muitos às nossas vontades para que não duvidemos delas Negamos-nos a ver possibilidades para permanecer na segurança das nossas previsibilidades. Cada um de nós e esse(s) outro(s) estranho(s), em mim, nos rejeitamos em nossas complementares e elementares contradições, divergências, diversidades. Criamos ciências absolutas, culturas absolutas, crenças absolutas, estados absolutos, famílias absolutas, educação absoluta. Absoluto e absurdamente não nos encontramos e não nos pertencemos. Não nos cabemos nas armaduras que criamos. Nos dizimamos. E a civita segue… segue como sinônimo de evolução

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O grupo é fonte de segurança, acolhimento, pertença… o grupo é fonte de impedimentos, negações, limites, rechaços… o grupo é fonte de ambigüidades. O grupo traz a garantia do amparo da manada... Paradoxalmente desejamos a fusão no grupo e a solitude, a unanimidade e a divergência, a liberdade e a regra - convivências possíveis, relações plausíveis. No entanto a civita funciona de maneira tal que quase ninguém possa se saber uno... A civita necessita da homogênica negação do eu. Ao civile cabe obedecer ao que os governantes, os líderes, os destacados definem como norma. O civile é o que a norma prediz. Na civilização a pertença nega a autonomia e a alteridade é construída entre os iguais e dentro dos muros (físicos e ideológicos) da polis. Ser civile é ser civilizado, e isto implica em frustrar desejos particulares em nome do grupo de pertença e em oposição a todos os outros grupos. Deste modo, cada sujeito frustradamente integrado a um determinado grupo, trata de atribuir grandeza e valor especial a este, de maneira tal que a interdição das glórias pessoais ao civile é compensada pela atribuição de grandezas especiais ao grupo de referência. O grupo passa a ser depositário das faltas de cada um de seus membros e defender os intereses do grupo passa a ser a forma de obturar faltas pessoais. A grandeza do grupo é a grandeza de cada um e os desejos do grupo passam a ser aquilo que todos os homens e mulheres mais desejam – espectro de beleza, solidariedade, união, intolerância, violência, conflitos, guerras. Freud (1930) nos recorda que “... o homem não é uma criatura terna e necessitada de amor, que só ousaria defender-se em caso de ataque, pelo contrário, é um ser que dentre as disposição instintiva inclui uma boa porção de agressividade. Desta maneira tal que o próximo não representa unicamente um possível colaborador e objeto sexual, mas também uma oportunidade para satisfazer sua agressividade, para explorar sua capacidade de trabalho sem retribuir, para aproveitar-se sexualmente sem consentimento, para apoderar-se dos seus bens, para humilhar-lo, para ocasionar-lhe sofrimento, martirizá-lo e matá-lo. Homo homini lúpus...”( El malestar de la cultura, 1930). Um grupo inteiro pode – e o faz amiúde – sacrificar sua vida em nome da construção de uma coletividade mais digna, justa, respeitosa... De igual maneira, um grupo inteiro pode – e o faz amiúde – considerar necessário e válido dizimar outro em nome dos seus valores, normas, interesses.

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Convivência, experiência grupal, vivencia gregária... espelhamento. Cremos nos espelhos como verdade, como duplicata perfeita... Espelhos são canais, meros instrumentos culturais... um meio que adéqua, acomoda e escamoteia as informações ainda que sintoma da sua presença. A imagem refletida não é substantivo, a imagem só pode ser pronome já que se refere, é aliquid que stat pro aliquo (aquilo que equivale, que indica o outro). O outro, espelhamento no grupo, é pronome que se refere a mim. Espelhos um dos outros, reconhecemo-nos no outro... Estranhamento de si, rechaço, medo, violência... afasta de mim o cálice que me reflete, aparta o referente do que sou. Separa-me do especular para que me encante, narciso, com o meu inventado replicante - conveniente e intencionalmente moldado à minha imagem e semelhança. Como afirma Lino de Macedo (2005) “pertencemos a uma cultura de semelhança; a cultura da caixa, da gaiola; a cultura da cidade, da casa, do bairro, de nosso grupo e dos excluídos, da maioria dos excluídos sem casa, sem projetos, sem lugar, sem vez, sem trabalho, sem destino, sem respeito, porque o que eles são não cabe no que pensamos. (Macedo, 2005:15) Ainda não conseguimos assumir, aceitar e conviver com o fato de que somo possibilidades, de que somos múltiplos, de que somos eternamente projetos de si... E o outro ( o pobre, o negro, o estrangeiro, o indígena, o imigrante, o cigano, o deficiente, o vizinho, o diferente...) é a diuturna afirmação do que sou e do que não sou, do que posso ser, do que poderia ter sido, do que posso vir a ser.. e seguimos como se o outro fosse como a incomoda presenças de um gato em uma loja de cristais ( cristais-crenças, cristais-valores, cristais-conceitos, cristais-interesses, cristais-alienações). A manada segue em pax... Em comportamento gregário marchamos sem uma direção consciente y comungadamente planificada – exceto no que se refere a tentativa de redução do sentimento de desamparo. Tentamos, em grupo, diminuir o medo que temos da insignificância e fugacidade da nossa existência. Em grupo podemos mais, podemos tudo, fazemos qualquer coisa...Seguimos a ação dos demais a partir de ordens e decisões que não sabemos a origem, o objetivo e as conseqüências... rebanho de sapiens sapiens em nações, grupos religiosos, sindicatos,

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agremiações, sistemas educativos, partidos políticos... Grupos aguerridos... sinais de violência produzidos por relações e estruturas sociais presentes nas casas, ruas, Barrios, centros urbanos, cidades, países, vilas, regiões... Vínculos patologicamente constituídos e agudizados nos últimos cinqüenta anos – talvez sempre tenham estado, invisivelmente, presentes em todas as civilizações humanas. Fome, destruição do ecossistema planetário, miséria, concentração de riquezas, produção e tráfico de drogas, apartheid social, xenofobia, apartheid racial, produção e tráfico bélico, intolerância étnica, exclusão social, intolerância religiosa, concentração do poder mundial em um grupo de instituições financeiras, destino do planeta representado pelos interesses de um país ou de um bloco de países.