1. ♛♕A coroação da Princesa♛♕ - PerSe · uma mistura de piano e flauta. ... Para sua...
Transcript of 1. ♛♕A coroação da Princesa♛♕ - PerSe · uma mistura de piano e flauta. ... Para sua...
1. ♛♕A coroação da
Princesa♛♕
Ela espiava escondida pela fresta da
cortina, aguardando ansiosa a
oportunidade de se apresentar
publicamente. Desde que nascera seria a
primeira vez que todos a veriam. Não
conseguia esconder a tensão, e as
borboletas inconvenientes que rodopiavam
ao seu redor não estavam ajudando em
nada. Mesmo que as afastassem com as
mãos elas voltavam, talvez pelo cheio de
rosas que estava impregnado no castelo
inteiro.
O reino encantado de Aurora estava em
festa, o grande dia finalmente havia
chegado. A filha da rainha completara
dezesseis anos, sendo assim hoje seria
sua coroação de princesa, futura rainha
do reino.
Atrás da cortina o salão estava
totalmente decorado. Havia rosas
espalhadas irregularmente por todo o
chão. Fitas e estandartes da cor e do
brasão do reino de Aurora. E no meio uma
enorme mesa de mogno cheia de comida,
coberta por uma toalha de seda vermelha.
Tudo envolvido pela mais doce música;
uma mistura de piano e flauta.
— Melinda! Não fique tão perto do salão,
eles podem te ver. Aposto que os seus
pais não gostariam nada disso. — Melinda
foi repreendida pela voz doce da sua
dama e serva, Lúcia.
— Vai demorar muito? — perguntou com a
voz acelerada, limpando as mãos suadas
no vestido.
Lúcia esboçou um sorriso caloroso e
passou as mãos pelos ombros estreitos da
garota.
— Venha comigo... vou te arrumar para a
cerimônia. Logo os nobres de todos os
reinos estarão aqui, e você tem que
estar linda. Como uma verdadeira
princesa.
Melinda reparou o quanto sua serva
estava diferente dos outros dias. Lúcia
estava usando um vestido lilás, e seus
cabelos estavam em uma trança jogada por
cima do ombro direito. Seus olhos
estavam ainda maiores e azuis do que de
costume. Olhando para si mesma, a menina
percebeu que para uma princesa estava
muito mal vestida. O vestido simples e
cor de rosa estava todo sujo de terra, e
ainda estava usando as botas de
jardinagem. A natureza era a única coisa
capaz de tranquiliza-la num momento de
tensão como esse, por isso teimava em
contrariar sua mãe que dizia que essa
não era uma atividade para uma nobre.
As duas caminharam lentamente até o
segundo andar, desviando do salão e
passando pela cozinha. Antes que
chegassem ao quarto Lúcia parou
boquiaberta levando a mão à testa.
— Esqueci o seu vestido na sala de
costura! Eu vou buscá-lo. Vá na frente
sem mim e comece o seu banho. — Lúcia
saiu apressada pelo caminho oposto ao
que seguiam.
Melinda seguiu pelo enorme corredor que
se estendia à frente. Quando pretendia
virar para o lado esquerdo esbarrou com
alguém que era mais alto que ela, e caiu
no chão antes que pudesse ver o seu
rosto.
— Ai! — berrou.
Mãos quentes e fortes ajudaram-na a se
levantar. Estava começando a
falar: "Você não olha por onde...?", quando ergueu o olhar e sentiu um leve
reconhecimento. O garoto em que
esbarrara tinha cabelos loiros
perfeitamente alinhados. Os olhos
lembravam pedras de esmeralda, de tão
verdes e brilhantes. Sua aparência
harmonizava perfeitamente com a pele
clara e as feições rijas do maxilar e do
queixo.
— Tudo bem com você? — perguntou
preocupado.
— Quem é você?! Os convidados deveriam
estar lá embaixo. — Ela o afastou,
repreendendo suas mãos. Sua cabeça
estava latejando e o rosto começara a
corar.
— D-desculpe — gaguejou. O rapaz teve
que pigarrear antes de continuar. — Eu
me chamo Hordan.
— Me desculpe, mas estou atrasada!
Melinda desviou do garoto e saiu
correndo para o quarto, deixando-o
sozinho e atônito.
Com muito custo tirou o vestido e as
botas sujas de lama que causavam tanto
repudio em sua mãe. Caminhou até o
banheiro e colocou o dedo indicador na
água. Para sua sorte estava na
temperatura correta; morna como sempre
gostara. Depois colocou os pés dentro da
banheira, escorregando o resto do corpo
até imergir completamente. Ficou sozinha
consigo mesma. Os olhos fechados. Os
pensamentos sobre a coroação e, o som
irregular das batidas do próprio
coração.
— Melinda? — A voz calma de Lúcia a
tirou dos devaneios, então emergiu a
cabeça da água, permitindo a aproximação
da sua dama.
A mulher se sentou na beirada da
banheira, de frente para as costas da
sua senhora, e pegou o escovão que
estava ao seu lado. Começou a passar as
cerdas macias na pele de Melinda,
devagar e num ritmo contínuo de
movimentos circulares.
— Você acredita que havia um convidado
andando pelos corredores? — questionou
indignada.
— Pensei que os convidados estivessem
proibidos de subir e transitar nos
corredores. Você o conhecia?
— Meu pai colocou guardas na escadaria,
por isso estranhei. Não faço a mínima
ideia de quem era. Ele deve ter falado
seu nome, mas não me recordo. Era algo
exótico, mas forte...
Lúcia sorriu, e deixou escapar uma
risada contida.
— O que foi?
— Nada senhorita. Vamos!
Melinda se ergueu. As gotas de água
escorriam pelo seu estreito corpo nu. No
momento em que Lúcia a envolveu com uma
toalha as duas seguiram — estava na hora
de pôr o vestido.
O vestido da cerimônia havia sido feito
especialmente para ela. Os olhos de
Melinda brilhavam enquanto fitavam o
tecido cor de pérola em cima da enorme
cama.
— Pronta? — Lúcia puxou com cuidado a
toalha do corpo da princesa.
Melinda apenas acenou com a cabeça e
sorriu. As palavras sumiram, presas
dentro da sua garganta.
***
— Minha filha...? — O rei abriu a porta
devagar surpreendendo Melinda e Lúcia.
As duas se viraram, estavam sorrindo,
deveriam estar se divertindo antes da
chegada de Octavian.
— Papai! Assim o senhor me mata. — A
garota correu para abraçar o pai.
Octavian era alto e tinha cabelos negros
com algumas mexas grisalhas ao redor da
sua cabeça. Olhos castanho-claros e um
pouco cansados. Traços delicados e
algumas marcas faciais. Mesmo assim ele
ainda possuía músculos, percebidos por
baixo dos trajes reais excessivos. Por
um momento ele recordou da época que sua
filha era apenas uma menina. Agora
estava diferente, não era mais uma
criança. Foi aí que percebeu de vez que
sua princesa — como costumava chamá-la
na infância — estava crescendo e se
tornando uma mulher.
— Só vim ver se estava pronta, a
cerimônia deve começar. — Ele guiou a
filha até a cama, e ela se sentou no
pano macio de seda que cobria o colchão.
— Já está tudo pronto Vossa Majestade —
informou Lúcia.
— Ótimo! Eu vou descer com Melinda. —
Olhou para a filha e sorriu orgulhoso
antes de ordenar: — Lúcia vá na frente e
peça para que nos anunciem.
Lúcia assentiu, fez reverência, e saiu
do quarto com a cabeça baixa e as mãos
juntas ao colo.
— Ansiosa querida? — O sorriso do rei
ainda permanecia. Aberto e brilhante.
— Papai o senhor sabe o quanto eu odeio
que me chamem assim — observou
indignada.
Octavian soltou uma gargalhada e
corrigiu:
— Ansiosa minha... princesa?
— Bem melhor. — Ela esboçou um sorriso
fraco e suspirou. — Estou com medo de
não ser o que todos esperam.
O rei acariciou as bochechas da sua
filha com os dedos, deslizando
delicadamente a mão pelo rosto macio
dela.
— Melinda não tenha medo do que vão
achar. O que realmente importa é o seu
auto julgamento. E se quer saber, eu
acho que você será uma rainha incrível e
uma princesa fantástica.
Os dois sorriram um para o outro, e
ficaram sentados esperando o som das
trombetas.
***
O sol se punha atrás do gigantesco
castelo. O salão já estava repleto de
pessoas, todos conversando animadamente
e apreciando suas taças de champanhe.
A rainha Lydia entrou triunfante pelo
salão, com os cabelos castanhos caindo
como cascatas de cachos em volta dos
seus ombros. O vestido azul de cetim
rastejando pelo chão de mármore. Assim
que parou, ela fez reverência para os
nobres convidados que retribuíram do
mesmo modo. Logo atrás estava Lúcia, com
uma postura submissa e quieta.
Lydia acenou com a cabeça para Garden, o
anunciante, um homem alto e esguio que
começou a andar para o meio do salão
assim que recebeu o sinal enviado pela
rainha. Sua postura era ereta e
afeminada. A cada passo suas ancas
requebravam levemente de um lado para o
outro.
— Atenção! Senhoras e senhores.
Senhoritas e rapazes. Tenho a honra de
anunciar: Rei Octavian e sua filha, a
futura princesa e rainha, Melinda!
As trombetas soaram, e todos viraram
seus rostos em direção a enorme
escadaria no lado esquerdo do salão.
Havia um tapete vermelho estendido do
topo ao chão, e Melinda estava chegando
com o braço entrelaçado ao do seu pai. O
vestido volumoso se encaixara
perfeitamente no seu corpo, delineando a
curva da sua cintura com o volume da
parte inferior que cobria os seus pés.
Seus cabelos negros estavam presos em um
coque. Sua pele branca e as bochechas
rosadas contrastavam com os olhos negros
e penetrantes. Os dois sorriam, ela mais
tímida e ele orgulhoso. Uma chuva de
palmas tomou conta do salão, fazendo eco
nas paredes do castelo enquanto os dois
desciam as escadas.
Um rapaz alto e rechonchudo se aproximou
das escadas segurando uma almofada de
veludo rosa, em cima se encontrava uma
linda coroa feita com ouro branco e uma
safira brilhante no topo. A rainha
seguia na frente deste, sorrindo para os
dois que desciam os degraus.
Melinda seria a única princesa oficial
dos três reinos encantados. Celeste do
reino das fadas acabara de completar 15
anos assim como seu irmão gêmeo. Olivia
seria coroada daqui a dois meses como
princesa do reino de Pandora. Então por
ser a primeira Melinda recebeu como
presente a joia mais encantada de todos
os reinos.
A rainha pegou a delicada coroa com
cuidado. Suas mãos estavam um pouco
trêmulas, mas ela deixou isso de lado e
virou-se para o salão começando o
discurso:
— Hoje eu, Rainha Lydia Schrevelli junto
com o Rei Octavian Schrevelli, nomeio
oficialmente Melinda Schrevelli como
princesa, futura rainha do segundo reino
encantado, o reino de Aurora.
Terminando de falar ela virou-se e
colocou a coroa nos cabelos da agora
princesa, Melinda, que estava com
lágrimas no canto dos olhos.
— Que comece o baile! — Rei Octavian
anunciou com a voz branda.
A música alta e suave recomeçou a tocar,
e as pessoas gargalhavam e conversavam
novamente. Melinda abraçou seus pais e
correu de encontro a Celeste e Olivia
que acenavam do outro lado do salão. Ela
passou com dificuldade pela multidão,
recebendo abraços e tapinhas nas costas,
além de muitos "parabéns" até chegar
onde estavam suas amigas.
— A que devo a honra Vossa Alteza? —
brincou Celeste enquanto a reverenciava.
Celeste era pálida, com enormes olhos
negros. O cabelo era o motivo do seu
nome, a cor azul-celeste dos fios presos
atrás das orelhas pontudas era a parte
mais interessante da sua aparência.
Seria possível afirmar que ela era a
garota mais bonita do reino das Fadas.
— Oi para você também mocinha — Melinda
a abraçou apertado.
Quando se virou lá estava Olivia, com
seus cabelos tão loiros e brilhantes que
doíam à vista. Tinha olhos levemente
puxados de um tom de azul quase verde.
Era estreita e bonita.
— Olá Vossa Alteza — disse Olivia.
Melinda a abraçou como fez com Celeste.
A fada começou a rir de repente, e as
outras duas se soltaram do abraço,
atônitas com as gargalhadas.
— O que foi? — questionou Olivia.