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1. A globalização como fábula

2. A globalização como perversidade

3. Uma outra globalização

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização.

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“Este mundo globalizado, visto como

fábula, erige como verdade um certo

número de fantasias, cuja repetição,

entretanto, acaba por se tornar uma base

aparentemente sólida de sua

interpretação.”

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Mito da aldeia global (fazendo crer na difusão instantânea de notícias, a que todas as pessoas têm acesso)

Encurtamento das distâncias - para aqueles que realmente podem viajar (difunde a noção de tempo e espaço contraído), como se o mundo estivesse ao alcance da mão de todos.

Mercado global capaz de homogeneizar o planeta; na verdade as diferenças locais são aprofundadas.

A uniformidade está a serviço dos atores hegemônicos, mas o mundo se torna menos unido, e o sonho da cidadania universal mais distante.

Culto ao consumo é estimulado.

Morte do Estado, ou fortalecimento para atender aos reclamos da finança e de interesses internacionais, em detrimento dos cuidados com as populações cuja vida de torna mais difícil.

Tudo para sustentar a “bondade” dos presentes processos da globalização, o que gera a ideologização maciça (discurso único) para sustentar o exercício de fabulações.

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A globalização é uma fábrica de perversidades para maior parte da humanidade.

O desemprego crescente torna-se crônico e o salário médio tende a baixar.

A fome e o desabrigo está em todos os continentes.

Novas enfermidades se instalam e as velhas doenças retornam com força total.

A mortalidade infantil permanece, apesar dos progressos médicos e da

informação. A educação de qualidade mais inacessível. Os males espirituais e morais alastram-se e aprofundam-se (os egoísmos,

os cinismos e a corrupção)

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News Corporation Viacom Time Warner Disney Bertelsmann Sony Prisa

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Globo do Brasil Televisa do México Cisneros da Venezuela Clarín da Argentina

60% do faturamento total dos mercados latino-

americanos.

Ex.: Clarín controla 31% da circulação dos jornais, 40,5% da receita da TV aberta e 23,2% da TV paga

Globo responde por 16,2% da mídia impressa, 54% da TV aberta e 44% da TV paga;

Televisa e TV Azteca formam um duopólio, acumulando 69% e 31,37% da TV aberta, respectivamente.

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Marinho, Civita, Frias, Mesquita, Sirotsky, Saad, Abravanel, Sarney, Magalhães e Collor (Brasil)

Cisneros e Zuloaga (Venezuela) Noble, Saguier, Mitre, Fontevecchia e Vigil (Argentina) Slim e Azcárraga (México) Edwards, Claro e Mosciatti (Chile) Rivero, Monastérios, Daher, Carrasco, Dueri e Tapia (Bolívia)

Ardila Lulle, Santo Domingo e Santos (Colômbia), Verci e

Zuccolillo (Paraguai), Chamorro e Sacasa (Nicarágua), Arias e González Revilla (Panamá), Picado Cozza (Costa Rica), Ezerski, Dutriz e Altamirano (El Salvador), Marroquín (Guatemala) e Canahuati, Roshental, Sikaffy, Willeda Toledo e Ferrari (Honduras)

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De acordo com a lista da Forbes divulgada em 2013, o Brasil tem 46 pessoas com fortuna acima de US$ 1 bilhão. Destes, seis são ligados aos meios de comunicação.

A lista dos bilionários da mídia é liderada por Roberto Irineu Marinho, João Roberto Marinho e José Roberto Marinho, os dois primeiros com US$ 8,7 bilhões e o terceiro com US$ 8,6 bilhões. Suas fortunas, somadas, alcançam US$ 26 bilhões, mais do que os US$ 17,8 bilhões de Jorge Paulo Lemann, dono da Ambev e homem mais rico do Brasil.

Atrás deles, aparecem Roberto Civita, dono da Abril, com US$ 4,9 bilhões, Silvio Santos, dono do SBT, com US$ 1,3 bilhão, e Edir Macedo, dono da Record, com US$ 1,1 bilhão. E isso sem falar em outras famílias, como os Frias, da Folha, e os Saad, da Band, que talvez tenham patrimônio bilionário, mas não foram mapeados pela Forbes.

A questão é: essa alta concentração de poder faz bem ao Brasil?

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A mídia construiu um novo bios, o bios virtual ( midiático), uma nova forma de vida, que vêm competir com aqueles indicados por Aristóteles (Ética a Nicômaco) :

-bios theoretikos (vida contemplativa) - bios politikos (vida política) e - bios apolaustikos (vida prazerosa, do

corpo)

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“O ‘espelho’ midiático não é simples cópia, reprodução ou reflexo, porque implica uma forma nova de vida, com um novo espaço e modo de interpelação coletiva dos indivíduos, portanto, outros parâmetros para a constituição de identidades pessoais.” (Sodré, 2002)

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Marilena Chauí, em Simulacro e poder: uma análise da mídia (São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2006, pp. 52-53), fala de dois “efeitos que os meios de massa produzem em nossas mentes: a dispersão da atenção e a infantilização”.

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Para atender aos interesses econômicos dos

patrocinadores, rádio e televisão dividem a programação em blocos que duram de sete a dez minutos, sendo cada bloco interrompido pelos comerciais.

Essa divisão do tempo nos leva a concentrar a atenção durante os sete ou dez minutos de programa e a desconcentrá-la durante as pausas para a publicidade. Pouco a pouco, isso se torna um hábito.

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Um dos resultados dessa mudança mental transparece

quando crianças e jovens tentam ler um livro: não conseguem ler mais do que sete a dez minutos de cada vez, não conseguem suportar a ausência de imagens e ilustrações no texto, não suportam a ideia de precisar ler “um livro inteiro”.

A atenção e a concentração, a capacidade de abstração intelectual e de exercício do pensamento foram destruídas. Como esperar que possam desejar e interessar-se pelas obras de arte e de pensamento?

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Por serem um ramo da indústria cultural e,

portanto, por serem fundamentalmente vendedores de cultura que precisa agradar o consumidor, os meios infantilizam.

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Que fazem os meios de comunicação?

Prometem e oferecem gratificação instantânea. Como o conseguem? Criando em nós os desejos e oferecendo produtos (publicidade e programação) para satisfazê-los.

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O ouvinte que gira o dial do aparelho de rádio continuamente e o telespectador que muda continuamente de canal o fazem porque sabem que, em algum lugar, seu desejo será imediatamente satisfeito. Além disso, como a programação se dirige ao que já sabemos e já gostamos, e como toma a cultura sob a forma de lazer e entretenimento, os meios satisfazem imediatamente nossos desejos porque não exigem de nós atenção, pensamento, reflexão, crítica, perturbação de nossa sensibilidade e de nossa fantasia.

Em suma, não nos pedem o que as obras de arte e de pensamento nos pedem: trabalho da sensibilidade, da inteligência e da imaginação para compreendê-las, amá-las, continuá-las, criticá-las, superá-las. A cultura nos satisfaz se temos paciência para compreendê-la e decifrá-la. Exige maturidade. Os meios de comunicação nos satisfazem porque nada nos pedem, senão que permaneçamos para sempre infantis.

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1. O primeiro filtro - o da propriedade dos meios de comunicação - deriva do fato de que a maioria dos principais meios de comunicação pertencem às grandes empresas (isto é, às “corporations”).

2. O segundo - o do financiamento - deriva do fato dos principais meios de comunicação obterem a maior parte de sua receita não de seus leitores mas sim de publicidade (que, claro, é paga pelas grandes empresas). Como os meios de comunicação são, na verdade, empresas orientadas para o lucro a partir da venda de seu produto - os leitores! - para outras empresas - os anunciantes! - o modelo de Herman e Chomsky prevê que se deve esperar a publicação apenas de notícias que reflitam os desejos, as expectativas e os valores dessas empresas.

3. O terceiro filtro é o fato de que os meios de comunicação dependem fortemente das grandes empresas e das instituições governamentais como fonte de informações para a maior parte das notícias. Isto também cria um viés sistêmico contra a sociedade.

4. O quarto filtro é a crítica realizada por vários grupos de pressão que procuram as empresas dos meios de comunicação para pressioná-los caso eles saiam de uma linha editorial que esses grupos acham a mais correta (isto é, mais de acordo com seus interesses do que de toda a sociedade).

5. As normas da profissão jornalista, o quinto filtro, referem-se aos conceitos comuns divididos por aqueles que estão na profissão do jornalismo.

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Necessidade de abertura às narrativas transmidiáticas

A história é cultural, é política, é social, é econômica, é híbrida?

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Podemos pensar na construção de um outro mundo, uma globalização mais humana.

Bases materiais do período atual: Unicidade da técnica, Convergência dos momentos e o Conhecimento do Planeta.

Essas bases técnicas que o grande capital se apóia para construir a globalização perversa poderão servir a outros objetivos se forem postos ao serviço de outros fundamentos sociais e políticos.